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Textual I
PROFESSORES
Dr. Gelson Martins de Souza
Me. Valéria Adriana Maceis
FICHA CATALOGRÁFICA
Reitor
Wilson de Matos Silva
Gelson Martins de Souza
http://lattes.cnpq.br/4510256275612442
Valéria Adriana Maceis
http://lattes.cnpq.br/1692932269275245
PRODUÇÃO TEXTUAL I
Neste livro, você encontrará um conteúdo bastante relevante e que aborda a intrínse-
ca relação que se materializa com a leitura e a escrita. Como você pensa as questões
referentes a essas duas práticas de linguagem? Eu, particularmente, quando entrei no
curso superior de Letras, nunca realizei uma reflexão sobre a leitura e a escrita. Quero
que saiba que, quando ingressei no curso de Letras, não tinha uma prática significativa
de escrita, nem de leitura. Talvez, você pense “eu não vou conseguir fazer o curso de
Letras”. Posso te garantir que conseguirá! Mantenha a calma que tudo dará certo! Você
será colocado(a) em situações comunicativas em que precisará da leitura e da escrita
frequentemente, então, conseguirá desenvolver ambas. Eu consegui!
Encontraremos, ao longo deste livro, alguns aspectos que se referem aos elementos
de comunicação e às funções da linguagem. Pensaremos sobre os processos comunica-
tivos em que você se envolve. Você será convidado(a) a se comunicar por meio de textos
escritos e orais. Será que a sua comunicação é eficiente? Será que os seus interlocutores
conseguem te entender na essência? Esse é o momento de refletir sobre a temática!
Quando estamos em um processo de comunicação em nossas práticas sociais,
precisamos pensar sobre a intencionalidade que se materializa na construção de um
determinado texto. Como futuro(a) professor(a), você precisará ensinar os seus alunos
a construírem a intertextualidade com outros textos. Você faz uso da intertextualidade
nos diferentes gêneros que articula todos os dias? Quais? Pense sobre isso! Será que
as informações que são postas em seus textos são aceitas pelos seus interlocutores?
Qual é o nível de aceitabilidade? Ao escrever os seus textos, você considera a situacio-
nalidade? Todos os gêneros discursivos que produzimos em nosso dia a dia precisam
ser pensados a partir do contexto de produção. Outro fator que nos dedicaremos a
estudar é a informatividade. Após terminar a leitura desta unidade do livro, quero que
me responda: esta parte tem uma alta carga de informatividade? Por quê?
Em relação aos fatores de textualidade, ainda, quero te provocar sobre os fatores
linguísticos! Se eu te convidasse para me substituir em uma aula de gramática do
Ensino Médio e escolhesse o tema “coesão e coerência”: como você ministraria essa
aula? Lembre-se: comecei a ser professor antes de ingressar no curso superior. Registre
isso. Como você faria?
Neste livro, você se deparará com uma abordagem significativa ao redor das tipolo-
gias textuais e dos gêneros discursivos. Como professor(a) de Língua Portuguesa, você
precisará trabalhar com os tipos textuais que são formados por um conjunto finito de
textos, incluindo narrativa, dissertação, descrição, exposição e injunção. Você precisa
diferenciar tipos textuais de gêneros discursivos/textuais, pois os primeiros obedecem
a um paradigma. Por exemplo, o texto narrativo necessita de personagem, tempo, es-
paço, narrador e de uma situação conflituosa. Somente se esses itens se materializarem
é que teremos uma narrativa. Por outro lado, os gêneros discursivos são formados por
um conjunto infinito de textos que não obedecem a paradigmas, tendo em vista que
estão presos às situações comunicativas.
Quero lembrá-lo(a) de que os gêneros “resumo”, “resenha” e “paráfrase” não apenas
perpassarão a nossa vida como estudantes do curso de Letras, mas também a nossa
vida profissional, tendo em vista que teremos que ensinar os nossos alunos a escrever
esses três gêneros discursivos. Todos os estudantes dos diferentes cursos de gradua-
ção e pós-graduação escrevem resumo, resenha e paráfrase. Por isso, decidi descrever
as principais marcas de cada um desses gêneros, para que consiga produzi-los de
forma eficiente. Quando você for professor(a), precisará não apenas ensinar seguindo
as marcas prototípicas de cada gênero, mas também corrigir os textos de seus alunos
com critérios e empatia.
Como futuro(a) professor(a) de Língua Portuguesa e Inglesa, desejo que faça a lei-
tura deste livro e pense na aplicabilidade dele em sua futura prática docente.
Bons estudos!
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
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O TEXTO E A INVESTIGAÇÃO
CONSTRUÇÃO DOS FATORES DE
DE SENTIDOS TEXTUALIDADE
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101 4 147
UMA REFLEXÃO TIPOS TEXTUAIS
SOBRE A E GÊNEROS
COESÃO E A DISCURSIVOS/
COERÊNCIA TEXTUAIS NAS
PRÁTICAS
SOCIAIS
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ESTUDO DOS
GÊNEROS:
RESUMO,
RESENHA E
PARÁFRASE
1
O Texto e a
Construção de
Sentidos
Dr. Gelson Martins de Souza
Me. Valéria Adriana Maceis
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
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final da história, percebemos que o galo que, até então, era o perdedor, tornou-se
o ganhador. O tema é: a soberba pode conduzir o indivíduo ao fracasso.
Perceba, caro(a) aluno(a), que os discentes tiveram acesso a uma fábula. Ela não
faz parte, na maioria das vezes, das práticas sociais deles. Diante disso, provavelmen-
te, o processo de comunicação foi difícil, o que exigiu a interferência do professor.
Agora, quero que registre uma experiência vivenciada por você. Exponha
aquela em que o processo comunicativo se materializou de forma pouco eficiente.
Como você resolveu essa falha no processo de comunicação?
DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 1
O texto é uma sequência verbal de escrita coerente que constitui um todo aca-
bado, definido e publicado, de acordo com a perspectiva de Geraldi (1997). Para
reiterar a própria definição, o autor apresenta alguns apontamentos. Portanto,
essa sequência verbal (o texto):
a) Constrói-se em uma relação entre um eu e um tu.
b) Opera com elementos que, sozinhos, são insuficientes para produzir um
sentido fixo.
c) Inevitavelmente, tem um significado, o qual é construído na produção
e na leitura. É resultado das múltiplas estratégias de interpretação com-
partilhadas por uma comunidade linguística e que apelam tanto o autor
quanto o leitor.
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UNICESUMAR
Frente a essas características apresentadas por Koch (2003, p. 30), opta-se por
destacar a seguinte propriedade definidora de um texto:
“
O texto se constitui enquanto tal no momento em que os parceiros
de uma atividade comunicativa global, diante de uma manifestação
linguística, pela atuação conjunta de uma complexa rede de fatores
de ordem situacional, cognitiva, sociocultural e interacional, são
capazes de construir, para ela, determinado sentido.
Para a autora, essa concepção de texto está submetida à visão de que o sentido
não está no texto, mas se constrói a partir dele, no processo de interação.
Segundo Costa Val (1991), um texto será bem compreendido quando ava-
liado sob três aspectos:
a. O pragmático: relaciona-se com o funcionamento em termos de atua-
ção informacional e comunicativa.
b. O semântico-conceitual: aspecto cuja coerência é dependente.
c. O formal: diz respeito à coesão.
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UNIDADE 1
“
O outro é a medida: é para o outro que se produz o texto. E o outro
não se inscreve no texto apenas no seu processo de produção de
sentidos na leitura. O outro insere-se já na produção, como con-
dição necessária para que o texto exista (GERALDI, 1997, p. 102).
NOVAS DESCOBERTAS
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UNICESUMAR
A cultura é cada vez mais letrada e mais envolta em textos e mensagens escritas.
Além disso, é cada vez mais dependente do conhecimento alfabético. Essa cultura
e o fato de a maioria de nós ter aprendido a ler e a escrever ainda pequenos difi-
cultam a imaginação de um mundo sem textos. Dessa maneira, Cagliari (1999, p.
163) afirma que, “para quem sabe ler, a escrita parece algo fácil e simples”. Contu-
do, ressalva que essa é uma impressão equivocada, já que foram necessários mui-
tos séculos para que as letras e os algarismos adquirissem uma forma adequada ao
uso geral entre pessoas das mais diferentes camadas sociais. É por isso que, “para
quem não sabe ler, o mundo da escrita é um mistério” (CAGLIARI, 1999, p. 163).
Cagliari (1999, p. 163) ainda explica que, “na História da Humanidade, sempre
foi mais importante saber ler do que saber escrever, mas, para saber ler, é preciso
conhecer como funcionam os sistemas de escrita”, de modo que as duas atividades
estão intrinsecamente relacionadas desde à origem.
A escrita surgiu por volta de 3100 a.C., na Suméria, um país que existia, mas
que, hoje, encontram-se o Irã e o Iraque. Trata-se de uma região chamada, na
época, de Mesopotâmia. Segundo Kenneth Goodman (1991), a língua escrita foi
criada à medida que o comércio e as estruturas políticas emergiram. O objetivo
inicial dela era a contabilidade. A escrita era bastante ideográfica, ou seja, retra-
tava, de forma imagética, os objetos aos quais se referia, além dos números que
quantificavam esses objetos (Figura 1). O importante era registrar os objetos sem
pretensões culturais ou filosóficas. Essas pretensões surgiram apenas posterior-
mente, com a expansão da cultura para além da esfera da tradição oral e a preo-
cupação com a preservação dessa cultura e da transmissão às gerações seguintes.
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UNIDADE 1
Descrição da Imagem: a fotografia apresenta duas tabelas cuneiformes em exposição atrás de um vi-
dro. A tabela à esquerda é a maior das duas. Ela é quadrada, aparenta ser de mármore e tem coloração
bege. Ela também tem desgastes causados pelo tempo e a estrutura frontal dela é toda entalhada com
símbolos. Já a tabela à direita tem as mesmas características, porém é menor e a fotografia está cortada,
o que não permite vê-la na íntegra.
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“
[...] reconheça o valor dos conhecimentos ou experiências trans-
mitidos pela palavra impressa. Nessa situação, ser analfabeto ou
não leitor significa marginalização cultural e privação de direitos.
Apropriar-se da palavra impressa corresponde a alcançar um grau
mais abstrato de pensamento e, com isso, apossar-se do saber que a
experiência empírica não concede, aquele que se cria e veicula pela
linguagem verbal, e transcende a passagem do tempo pelo registro
escrito. O indivíduo, ao fazer-se leitor, não só compreende a sua
sociedade com maior alcance intelectual, mas pode ampliar a sua
visão do mundo como um todo, se percebe no texto escrito o que
está além da letra e constitui o legado da história humana (CEN-
TRO DE PESQUISAS LITERÁRIAS PUCRS, 1989, p. 28).
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UNIDADE 1
Não é válido defender que o trabalho com a descrição e a estrutura da língua não
seja importante. Ele é, aliás, muito importante, uma vez que o aprendizado das
regras que formam a norma-padrão funciona como um instrumento de inclusão
na sociedade, de modo a possibilitar igualdade nos âmbitos social, político e eco-
nômico (POSSENTI, 1998). Assim, o ensino “técnico” da língua é uma forma de de-
mocratizar a cultura dominante, que é uma das funções da escola (LERNER, 2006),
e não questionar esse pressuposto. O pressuposto explorado é a forma como esse
ensino, mais especificamente, a leitura e a escrita são trabalhadas em sala de aula.
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• o conhecimento
linguístico implícito, não
verbalizável e responsável pela • o conhecimento • o conhecimento
diferenciação entre um falante nativo textual, como conjunto de mundo, que se refere
e um que aprende uma língua como de conceitos sobre o aos conceitos e relações que
segunda língua. Envolve questões de texto em si, suas subjazem ao texto,
pronúncia e vocabulário, bem como estruturas e organizados de acordo com
regras oficiais e não oficiais sobre o tipos de discurso a visão pessoal e crenças
uso da língua; do leitor
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UNIDADE 1
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imaginava que você já soubesse, de modo que fizesse referência a esse conhecimento
anterior para se aprofundar naquela leitura, ampliando o campo cognitivo.
Faz-se necessário pensar: o que é “função”? Uma das definições que constam
no Dicionário Priberam indica que função é o “uso especial para que algo é conce-
bido” (FUNÇÃO..., [2022], on-line). Assim, é perceptível que a palavra é sinônimo
de “funcionalidade” e “utilidade”. A escrita tem um “uso especial” para o qual foi
concebida, ou seja, uma utilidade, que é social. Se é uma utilidade social, trata-se
de uma utilidade compartilhada pelos indivíduos de um grupo. Para esclarecer,
se os indivíduos de um grupo são os utilizadores de uma determinada língua,
assim como é em relação a outras habilidades, alguns podem ter maior ou menor
domínio dela, o que varia de acordo com diversos fatores, tais como idade, esco-
laridade e nível de consciência dessa característica social da linguagem: quanto
mais se é consciente de que a língua (e a escrita) não é meramente um código,
mas uma ferramenta social, mais se domina os usos e as possibilidades dela.
O quanto importa, neste momento, saber que a escrita é uma ferramenta
social? Muito. Você precisa ter em mente que a língua e, consequentemente, a
escrita e a leitura têm uma função social e socializadora. Isso é o que fará a dife-
rença entre você ensinar enfocando no “babá, bebê, bibi”, ou seja, na mera listagem
de vocabulários e regras, ou ensinar sabendo que essa diferenciação de sons não
tem significado algum sem uma experiência social.
EXPLORANDO IDEIAS
O texto não pode ser definido apenas como uma unidade linguística ou uma unidade con-
tida em si mesma. O texto deve ser considerado um evento (em que algo se materializa,
quando é processado). Contudo, também não pode ser considerado um artefato linguísti-
co pronto e que se mede com os critérios de textualidade. O texto se realiza quando está
em processo. Ele não é constituído por regras de boa formação. É possível afirmar que o
texto é a convergência de três ações: linguísticas, cognitivas e sociais.
Diante dessa perspectiva, é perceptível que o texto tem uma função de caráter social,
perpassando uma série de atividades produzidas pelos indivíduos de uma determinada
comunidade linguística. É importante enfatizar que locutor e interlocutor interagem por
meio de textos verbais e não-verbais. Essas interações são construídas e reconstruídas
constantemente, tendo, por base, o texto e as situações de produção.
Fonte: adaptado de Marcuschi (1988).
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UNIDADE 1
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usa sinais não verbais, mas em uma quantidade muito superior. Estima-se que
são usados, em média, cerca de 150 a 200 sinais enquanto se comunica, além da
linguagem verbal, da qual o ser humano é o único usuário entre todos os animais.
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UNIDADE 1
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Serra (2007, p. 71), todavia, enfatiza outras duas “escolas” durante o estudo
da comunicação:
“
i) A processual, que concebe a comunicação como “transmissão de
mensagens” através da qual se procura produzir um determinado
“efeito” sobre os receptores, se centra nas questões da eficácia e da
exatidão da comunicação e se relaciona, sobretudo, com as ciências
sociais, nomeadamente a sociologia e a psicologia;
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UNIDADE 1
canal
código
Mensagem
referente
ruído
Emissor Receptor
feedback
Descrição da Imagem: trata-se de um fluxograma que apresenta, como título, “Elementos da comuni-
cação”. Do lado esquerdo há um bonequinho com um megafone, abaixo dele lê-se: "Emissor". Uma seta
saí dele e passa por um retângulo ao centro da imagem, com o dizer:“Mensagem”. Acima dele, encon-
tra-se “Canal código” e, embaixo, “Referente ruído”. A seta indicativa sai da palavra “Mensagem” e segue
ao lado direito, onde há outro bonequinho com um papel na mão, e abaixo dele lê-se: “Receptor”. Da
palavra receptor, saí uma seta indicativa segue para baixo e, depois, para a esquerda, passando por um
retângulo, onde se lê: “Feedback”. A seta indicativa continua o percurso até retornar ao lado esquerdo,
onde está a palavra "Emissor”.
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Suponha que o nosso remetente seja brasileiro (conhecedor apenas da língua por-
tuguesa) e o nosso destinatário seja chinês (conhecedor apenas do mandarim).
Eles poderiam se comunicar nas línguas nativas? Teríamos um remetente, uma
mensagem e um destinatário, mas não haveria comunicação. Isso, porque outro
fato importante para que dois indivíduos se comuniquem é a exigência de que
o código seja comum, isto é, tanto o remetente quanto o destinatário precisam
dominar um mesmo sistema linguístico para que a mensagem seja codificada e
decodificada propriamente. Outro elemento bastante importante é o contexto.
A importância dele é tamanha que ele pode diferir um acidente doméstico de
uma catástrofe econômica. Observe:
Resta apenas o contato ou canal, que identifica o meio usado para a transmissão
da mensagem, que pode ser a fala, a escrita, uma carta, um e-mail, um telefonema,
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UNIDADE 1
Na verdade, não. Aliás, podemos afirmar que a comunicação nunca será comple-
tamente efetiva. Isso, porque os indivíduos são diferentes, têm histórias de vida
diferentes e conhecimentos e crenças diferentes. Tudo isso afeta a forma como os
indivíduos decodificam uma mensagem recebida. Além desses detalhes mais sutis
que afetam a comunicação, há as chamadas interferências, também chamadas
de ruídos. Essas interferências ou ruídos podem ser de diversos tipos. Entretanto,
são, no mínimo, de três tipos: físicos, culturais ou psicológicos.
As interferências físicas são aquelas que atrapalham fisicamente a codificação
ou a decodificação da mensagem. Pode ser um chiado no telefone, uma ligação de
celular falhando por falta de torre, a má grafia das palavras, a dificuldade visual do
leitor (ou auditiva do interlocutor) (Figura 3), o cansaço, a falta de iluminação etc.
Já as interferências culturais se referem a algum tipo de desnível cultural entre
o remetente e o destinatário, incluindo crenças diferentes, desnível cognitivo e frases
complicadas ou ambíguas, por exemplo. Por fim, as interferências psicológicas são
relacionadas ao estado de espírito do remetente e do destinatário. Elas envolvem tanto
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: trata-se de uma fotografia que apresenta um livro aberto e, sobre ele, está uma
armação prata de óculos. As lentes dos óculos estão com gotículas de água. Ao fundo, há um vidro mo-
lhado e embaçado com luzes que refletem as cores amarelo, vermelho e azul.
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UNIDADE 1
Figura 4 - Placa de sinalização que indica que o condutor deverá prosseguir à esquerda
Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração de uma placa de sinalização de trânsito. Nela, há um
círculo em vermelho e, dentro dele, há uma seta na cor preta, que se direciona à esquerda. O círculo é
preenchido com a cor branca, assim como o fundo da imagem.
Entretanto, muitos códigos usados no dia a dia são, na verdade, abertos. Mesmo
em relação às horas, por exemplo, é possível confundi-las, especialmente, quan-
do não se utiliza o sistema de 24 horas. O bilhete utilizado por Izidoro Blikstein
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(2005) para estruturar um livro é bastante feliz. A seguir, é exposta uma adaptação
de um trecho do bilhete, com a finalidade de ilustrar os códigos abertos.
Maria, quero que você me reserve um lugar, à noite, no trem das 8 para o Rio.
Blikstein (2005) conta a história do bilhete anterior, que foi deixado pelo gerente
de uma empresa para a nova secretária. O estudioso afirma que o gerente perdeu
o trem, pois a secretária foi, à noite, até a estação ferroviária e apenas reservou um
lugar no trem das 8 horas da manhã do dia seguinte (havia outro detalhe: o chefe
só viajava em cabine com leito, e não em um lugar convencional). A falha, em
nenhum momento, foi da secretária. A falha foi do gerente, que não foi suficiente-
mente claro em relação àquilo que desejava, especialmente sabendo que a funcio-
nária era nova e não estaria acostumada com a rotina e as vontades do gerente.
Dentre todos os problemas existentes no bilhete, gostaria que se atentasse es-
pecialmente ao horário apontado. Dizer oito horas, sem maiores esclarecimentos,
é algo, no mínimo, arriscado, por ter duas interpretações possíveis. Ao contrário
disso, teria sido mais interessante anotar 20 horas, se o chefe pretendia viajar à noi-
te ou, pelo menos, anotar, na sequência do horário, a indicação do período do dia:
8 h da noite. A colocação feita pelo chefe não deixou a informação clara, uma vez
que, se fosse para comprar a passagem da manhã, a secretária necessariamente te-
ria que passar pela estação à noite ou não conseguiria reservar/comprar um lugar.
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UNIDADE 1
Outro ponto ambíguo da mensagem é o uso do termo “lugar”. Dizer que deseja
um “lugar” no trem não especifica que tipo de lugar seria esse. Não dá para sa-
ber, apenas com essa informação, se seria um lugar convencional ou uma cabine
com leito. Aliás, a própria ausência dessa informação favorece a escolha de um
lugar convencional, uma vez que o fato de não haver uma especificação faz que
imaginemos que a opção seja por aquilo que é mais tradicional ou convencional.
O código aberto é aquele que pode ser decodificado de maneiras diferentes e
que, consequentemente, leva a respostas diferentes pelo destinatário. Como não
podemos evitar o aspecto aberto de determinados códigos, resta-nos cercá-los com
o máximo de informações possível, evitando ao máximo interpretações diferentes
daquela intencionada e orientando a interpretação do destinatário da forma mais
próxima daquilo que foi desejado pelo remetente ao enviar a mensagem.
Lembre-se, ainda, de que cada indivíduo tem um repertório, ou seja, cons-
truções simbólicas, ideológicas, religiosas e intelectuais. É a partir delas que ele
interpreta o mundo. Leve isso em consideração ao enviar uma mensagem, a fim
de evitar contratempos. Agora, entenderemos as formas que podemos classificar
as funções da linguagem, enfatizando a classificação realizada a partir dos ele-
mentos trabalhados, considerando as concepções de Jakobson.
Enfatizamos bastante o quanto a linguagem se relaciona com o mundo. As pala-
vras nunca estão sozinhas, nunca são puro sentido, pura forma ou puro significado.
Toda palavra real está envolta de uma entonação, uma intenção ou em um conjunto de
gestos e traços que nos colocam imediatamente em um sistema concreto de significa-
ções sociais. Portanto, qualquer discussão sobre a linguagem, o sentido ou a natureza
deverá, obrigatoriamente, discutir as condições reais em que ela existe.
Anteriormente, delimitamos os elementos que são comumente considera-
dos partícipes do processo de comunicação. Agora, estudaremos as funções ou
usos da linguagem. Isso, porque, assim como estamos constatando, as palavras
estão sempre atreladas aos usuários e às situações reais, ou seja, são usadas para
algum fim, objetivo ou função específica. Contudo, antes de explorarmos o que é
comumente chamado de “funções da linguagem” a partir da estrutura da comu-
nicação proposta por Jakobson, abordaremos outras possibilidades de atribuição
de funções para a linguagem, considerando os objetivos aos quais ela é usada.
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UNICESUMAR
Outra possibilidade de organização das funções seria reunir esses tipos de texto
sob quatro (ou cinco) funções fundamentais, sendo elas:
■ Função de organização: rótulos, crachás, placas etc.
■ Função de comunicação: jornais, cartas, cartazes, convites etc.
■ Função de registro: agendas, receitas, listas de compras etc.
■ Função de lazer: revistas, livros, histórias em quadrinhos e literatura. No en-
tanto, é viável ressaltar que a literatura também poderia ser considerada uma
função à parte, a qual poderia ser chamada de função artística da escrita.
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UNIDADE 1
Várias dessas funções podem estar presentes em uma mesma mensagem, embora
haja, frequentemente, uma predominante. Isso se dá, visto que, ao atualizar con-
cretamente as possibilidades de uso do código, entrecruzam-se diferentes níveis de
linguagem: “a emissão, que organiza os sinais físicos em forma de mensagem, colo-
cará ênfase em uma das funções – e as demais dialogam em subsídio” (CHALHUB,
2002, p. 8). Exploraremos as possibilidades das funções da linguagem a seguir.
A função referencial tem, como objetivo, apresentar o referente, ou seja, o assunto
enfocado de forma clara, definida, transparente e sem ambiguidades. Essa função é a
predominante no discurso científico, técnico e em alguns tipos de discursos jornalís-
ticos mais neutros. A intenção é transmitir conhecimentos ou informações sobre um
objeto específico com neutralidade, geralmente, utilizando a terceira pessoa do discurso.
Além desses usos, a arte realista apresenta um enfoque considerável no referente, bus-
cando, também, neutralidade na maneira de retratá-lo. Contudo, em muitas produções
artísticas, há a miscigenação da função referencial com a emotiva ou a poética, de modo
que a referencial, por vezes, é transferida para o segundo ou o terceiro plano.
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UNICESUMAR
Assim como é perceptível, o exemplo anterior tenta ser o mais imparcial possível.
Em nenhum momento, é marcada a presença do emissor da mensagem: o mais
importante é a mensagem em si. O jornalista se expressa de maneira impessoal,
ao informar apenas dados e pesquisas. Além disso, sustenta a importância da
mensagem a partir da menção a pessoas ou grupos que têm conhecimento abali-
zado. O foco é no objeto que serve de referência para a mensagem e o objetivo do
emissor é traduzir a realidade, visando à informação. Observe mais um exemplo.
Cultura na tela
O portal domínio público, biblioteca digital do Ministério da Educação, rece-
beu 6,2 milhões de acessos em pouco mais de um mês de funcionamento.
Nela, o internauta pode ler gratuitamente 699 obras literárias com mais
de 70 anos de existência, ou seja, já de domínio público; 166 publicações
de ciências sociais e uma de exatas. Há também partituras de Beethoven,
pinturas de Van Gogh e de Leonardo da Vinci, como a Monalisa, hinos e
músicas clássicas contemporâneas.
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UNIDADE 1
Assim como é possível perceber, o trecho anterior relata a quantidade de visitas que o
portal recebeu e explica o que o site oferece. Não há emotividade e o foco é o objeto ob-
servado, o que faz que a função referencial seja bastante diferente da função emotiva.
A função emotiva se centraliza ao redor do emissor/remetente e os pensamentos,
os sentimentos e as opiniões dele. Por consequência, uma mensagem produzida com
essa função é frequentemente construída na primeira pessoa e, em diversas vezes, na
primeira pessoa do singular. Também são característicos dessa função os seguintes
usos: interjeições (expressão emotiva da linguagem), adjetivos (juízo de valor/ponto
de vista do emissor em relação aos objetos observados) e signos de pontuação (como
exclamação, uso de várias exclamações seguidas, reticências, espaços em branco etc.).
Considere um texto de Clarice Lispector. Caso o leia, você se defrontará com o
uso constante das funções emotiva e poética, que veremos na sequência. Há reticên-
cias, pausas, vazios e exclamações: todos envolvem o que as personagens sentem e
desejam transmitir. Isso se dá, porque essa função implica sempre um envolvimento
emocional do emissor, que imprime, em sua mensagem, a própria marca subjetiva.
Frequentemente, envolve-se também o destinatário na mensagem, uma vez que os
sentimentos do remetente podem ser direcionados ao destinatário.
Esse uso é perceptível na letra de música a seguir, “Eu não sou da sua rua”, de
Arnaldo Antunes / Branco Mello, interpretada por Marisa Monte ([2022], on-line):
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: trata-se de uma fotografia que apresenta várias flores chamadas “crisântemos”.
Elas alternam as cores entre rosa e lilás. Há uma flor, à esquerda, que tem o foco da fotografia. As demais
flores estão desfocadas. Ao fundo, há uma paisagem verde-clara.
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UNIDADE 1
Objetivos Exemplos
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Os movimentos afirmativos que fazemos com a cabeça para indicar a outra pessoa
que estamos acompanhando e as expressões “está entendendo?”,“né?”,“certo?” e “está
me ouvindo?” (especialmente quando estamos testando se uma ligação de telefone
está funcionando de forma adequada) são outros exemplos de linguagem sendo
utilizadas em sua função fática. Há a necessidade de confirmação do funcionamento
efetivo do canal, o que não se caracteriza como uma verdadeira comunicação.
Até mesmo o “oi, tudo bem?” com o qual cumprimentamos as pessoas é muito
raramente comunicativo de fato. Isso, porque, na maioria das vezes, ele funciona
apenas para “conectar” o canal de comunicação entre duas pessoas, de modo que
não há o verdadeiro interesse em saber como a outra pessoa realmente está. Isso
é tão verdadeiro que é muito difícil que a outra pessoa responda outra coisa além
de “bem, e você?”. Nesse tipo específico de situação, seria muito constrangedor se
a pessoa respondesse de outra forma, por exemplo, levando a pergunta a sério e
respondendo que não, não está muito bem e que gostaria de desabafar.
Pela própria estrutura da linguagem e pela forma como nós a utilizamos na
prática, a resposta anterior seria constrangedora e deixaria a pessoa que pergun-
tou sem reação. Há a possibilidade de que ela (A) levasse para o lado pessoal,
imaginando que aquela pessoa (B) que ela cumprimentou tem algum problema
consigo (A). Provavelmente, nesse momento, a pessoa (A) começaria a se ques-
tionar se, em algum momento, fez algo de ruim para a outra pessoa (B) ou se já
fofocou sobre ela ou alguma pessoa do círculo dela, por exemplo.
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UNICESUMAR
O que imediatamente salta aos olhos na estrutura da letra é o fato de que as palavras
parecem ser interrompidas no final do verso. Ler a letra sem conhecer a música ou
sem entender a lógica interna que rege a estrutura pode ser bastante difícil e nos
deixar sem entender a maior parte dos versos. Todavia, assim que se percebe que a
primeira sílaba de um verso completa a última palavra do verso anterior, a leitura
se torna mais fácil e podemos fruir o aspecto artístico da letra. Embora nem todos
os textos que tendem à função poética levem o jogo com as palavras a esse nível, a
letra anterior ilustra, de maneira clara, o que é um texto com ênfase nessa função.
Quando usamos a linguagem priorizando a função poética, o enfoque é le-
vado à própria mensagem, isto é, à forma como ela foi construída, como foi “em-
belezada”. Entretanto, apesar de ser a função mais relacionada ao uso artístico da
linguagem, não podemos dizer que ela é apenas utilizada em textos artísticos.
Assim como já dissemos, textos publicitários também utilizam essa função com o
objetivo de conquistar o receptor da mensagem. A importância, portanto, é dada
especialmente à palavra, em toda materialidade, sonoridade etc.
A produção do texto poético enfatiza, diante disso, principalmente, os efeitos de
deslocamento e condensação do sentido, que equivalem às figuras poéticas da metáfo-
47
UNIDADE 1
ra e da metonímia. Isso, porque o uso que o poeta faz da linguagem não é o uso tradi-
cional. Ele aproxima elementos díspares para simbolizar um terceiro elemento, ainda
ausente. A mensagem se volta para si mesma, enfatizando as características físicas dos
signos, além do próprio estatuto sonoro e visual, o que concorre para um sentido não
previsto em uma mensagem de teor puramente convencional, por exemplo.
Disso decorre que o texto poético, assim como os sonhos, a partir da concepção de
Freud, devem ser desvendados. É preciso vasculhar a estrutura, as aproximações e a lógi-
ca interna que os compõem para, assim, alcançar a mensagem que está sendo veiculada.
Além do uso poético da linguagem escrita, a função poética também pode ser
encontrada em filmes, pinturas e fotografias, tendo em vista que o trabalho de com-
posição de cores, a organização das formas, o encaixe das cenas e outros aspectos
estilísticos também são preocupações com a estrutura da mensagem, sendo, conse-
quentemente, formas de utilizar a linguagem (ou uma linguagem) de forma poética.
A função metalinguística é, segundo Chalhub (2002, p. 48), “um sistema de
símbolos com significação fixada, convencional, para representar e transmitir a
organização dos seus sinais na mensagem, circulando pelo canal entre a emissão
e a recepção”. O código, desse modo, é a “caixinha de ingredientes” da qual ti-
ramos o que precisamos para compor a nossa mensagem. Se tiramos dela os
elementos relacionados ao eu do emissor, colocaremos em uso a função emotiva
da linguagem. Se escolhermos cuidadosamente os ingredientes, analisando-os e
combinando-os, como um cozinheiro extremamente gourmet, colocaremos em
uso a função poética da linguagem.
48
UNICESUMAR
Todavia, nada nos impede de tirar dessa “caixinha de ingredientes” aqueles ele-
mentos que se referem à própria caixinha de ingredientes, de modo a explicá-la.
Nesse caso, estaremos utilizando a função metalinguística. Essa função implica
em uma seleção operada no código que combina os elementos que retornam ao
próprio código, ou seja, que remetem de volta para ele mesmo.
A metalinguagem, portanto, é a função que utilizamos quando falamos do pró-
prio código. Em outras, na língua portuguesa, usamos a metalinguagem quando
falamos da própria língua portuguesa (em definições, explicações etc.). Filmes
que falam sobre a produção de filmes são metalinguísticos e uma fotografia de
alguém fotografando também pode ser considerada metalinguística. A ideia da
metalinguagem é a de usar o próprio código para falar sobre o código.
Apesar de não parecer, a metalinguagem tem uso bastante cotidiano. Toda vez
que consultamos um dicionário, estamos lidando com a metalinguagem. Os subtítu-
los de filmes e os trabalhos científicos são uma espécie de metalinguagem. Toda vez
que reformulamos a frase de alguém para confirmarmos nosso entendimento (“Ah,
então você quer dizer que...”), estamos colocando em uso a função metalinguística.
Chalhub (2002, p. 51) explana que “a moda, e seu objeto roupa também operam
metalinguisticamente no círculo de sua história”. O estudioso pondera, nesse
sentido, que as roupas compõem um sistema de sinais que, consequentemente,
constituem uma mensagem, “uma vez que, no suporte corpo do usuário, há um
recorte da seleção do código (mesmo quando não selecionada para combinar, a
displicência informa a displicência...)” (CHALHUB, 2002, p. 51).
Nesse sentido, todos os sistemas de sinais podem ser usados com função
metalinguística. A crítica literária, por exemplo, tem um comportamento meta-
49
UNIDADE 1
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UNICESUMAR
51
1. Suponha que você é um professor do Ensino Fundamental II. No primeiro dia de
aula, você deve explicar aos seus alunos o que é um texto. Quais estratégias serão
empregadas? Como você fará essa definição? Você terá exemplos? Quais?
I - A decodificação não pode ser considerada leitura quando não é realizada a com-
preensão daquilo que foi lido.
II - O processo de leitura é dinâmico, tendo em vista que necessita da participação ativa
do leitor e dos conhecimentos prévios dele para a construção dos sentidos do texto.
III - A leitura não é considerada um processo preciso, pois as interações possíveis
entre escritor e leitor não resultam em um único significado.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
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a) F, F, F.
b) F, V, F.
c) V, F, F.
d) F, F, V.
e) V, V, V.
4. Roman Jakobson defende que a estrutura comunicativa se dá por meio dos seguin-
tes elementos: emissor, receptor, mensagem, código, canal e referente. Observe, a
seguir, uma carta do leitor direcionada ao editor da revista Veja:
Empregador.
SOUZA, G. M. Tipologia e gêneros textuais: teoria e prática. [S. l.]: Almeida, 2016.
53
Considerando os elementos de comunicação que constituem a carta apresentada,
analise as assertivas a seguir:
a) I, II e III, apenas.
b) I, II, III e IV, apenas.
c) I, III, IV e V, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I, II, III, IV e V.
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2
Investigação
dos Fatores de
Textualidade
Dr. Gelson Martins de Souza;
Me. Valéria Adriana Maceis
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UNICESUMAR
Brad lutou bastante para conquistar um emprego de professor (que era o grande
sonho da vida dele). Após mais de 20 entrevistas, ele conseguiu um emprego em
uma das escolas e começou a lecionar para o 2° ano.
No final do ano de 2019, o tema da redação do ENEM foi: “A democratização
do acesso ao cinema no Brasil”. Quando cheguei à sala de aula, na segunda-feira
após o processo seletivo, meu aluno da 2ª série, cujo nome fictício é “João”, falou-me:
O aluno me explicou o que fez no Enem. Ele disse que o tema era: “A demo-
cratização do acesso ao cinema no Brasil”. Assim, buscou estabelecer uma in-
tertextualidade com o filme “O primeiro da classe”, pois, em uma das cenas, o
personagem Brad foi ao cinema com a futura namorada dele. Quando começou
a se movimentar e a fazer barulhos de forma involuntária, as pessoas que estavam
na sessão se incomodaram com a situação, o que fez que o personagem abando-
nasse o espaço sem assistir ao filme. Meu aluno demonstrou, na exposição dele,
que o cinema, muitas vezes, não é democrático às pessoas que têm necessidades
especiais, como as que têm a Síndrome de Tourette.
Observamos, frente ao relato do meu aluno, que a intertextualidade pode ser
construída a partir de diferentes perspectivas, quando são considerados os dife-
rentes gêneros e tipologias discursivas que perpassam as diversas práticas sociais
em que nos envolvemos. Nossos alunos precisam ser incentivados a construir a
intertextualidade e a fazer uso de outros fatores textuais a partir das práticas de
leitura e de escrita dos diversos gêneros, tais como: os textos propagandísticos,
os poemas, os artigos de opinião, os filmes, os cartuns, os editoriais, as tirinhas,
as músicas, as charges, as obras literárias, dentre outros.
Todos os dias, eu e você nos deparamos com diferentes gêneros discursi-
vos em nossas práticas sociais. Será que efetivamente refletimos sobre os fatores
de textualidade que envolvem esses textos? Ou esses fatores não são analisados
por nós, que somos pesquisadores na área dos Estudos Linguísticos? Quando
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UNIDADE 2
“
[...] a atividade da escrita é, então, uma atividade interativa de ex-
pressão, (ex-, “para fora”) de manifestação das ideias, informações,
intenções, crenças ou dos sentimentos que queremos partilhar com
alguém, para, de algum modo, interagir com ele. Ter o que dizer é,
portanto, uma condição prévia para o êxito da atividade de escre-
ver. Não há conhecimento linguístico (lexical ou gramatical) que
supra a deficiência do “não ter o que dizer”. As palavras são apenas
a mediação, ou o material com que se faz a ponte entre quem fala e
quem escuta, entre quem escreve e quem lê. Como mediação, elas se
limitam a possibilitar a expressão do que é sabido, do que é pensado,
do que é sentido. Se faltam as ideias, se falta a informação, vão faltar
as palavras. Daí que nossa providência maior deve encher a cabe-
ça de ideias, ampliar nosso repertório de informações e sensações.
[...] Aí as palavras virão, e a crescente competência para a escrita
vai ficando por conta da prática de cada dia, do exercício de cada
evento, com as regras próprias de cada tipo e de cada gênero de texto
(ANTUNES, 2003, p. 45-46).
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
DIÁRIO DE BORDO
Você se lembra do primeiro texto que você escreveu? A grande maioria das pes-
soas, provavelmente, não se recorda, mas, sem dúvidas, ele foi escrito para fazer
sentido em um determinado contexto, afinal, todo texto corresponde a uma in-
teração social. Nela, o emissor sempre tem algo a dizer ao receptor. O texto, de
modo geral, é entendido como um evento comunicativo.
Para Marcuschi (2008), a nossa comunicação não se realiza mediante pala-
vras soltas ou em decorrência de unidades linguísticas isoladas: ela acontece por
meio de textos. Segundo o autor, “o texto é o resultado de uma ação linguística
cujas fronteiras são em geral definidas por seus vínculos com o mundo no qual
ele surge e funciona” (MARCUSCHI, 2008, p. 72).
O estudioso também ressalta que todo sentido de um texto é um sentido si-
tuado. Por que situado? Uma vez que, para que haja uma comunicação coerente
entre o emissor e o receptor de um texto, é preciso que o último seja inserido em
um contexto situacional pertinente a ele, ou seja, em um contexto em que possam
ser estabelecidas relações entre o texto e a situacionalidade ou a inserção social,
cultural, histórica e cognitiva dele. Todas essas relações envolvem os conheci-
mentos individuais e coletivos do receptor/leitor de um texto.
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UNICESUMAR
Intencionalidade
Aceitabilidade
Coesão Textual
Situacionalidade
Coerência Textual
Informatividade
Intertextualidade
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UNIDADE 2
Mendigo faminto
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UNICESUMAR
Há, também, ocorrências nas quais o nosso interlocutor não tem conhecimentos
prévios necessários para que a mensagem seja compreendida por ele. Aconselha-se,
portanto, que, ao escrevermos, usemos uma linguagem clara, a fim de que não tenha-
mos problemas em relação ao entendimento daquilo que escrevemos. Essa orienta-
ção precisa ser transmitida e trabalhada com nossos alunos nos bancos escolares.
Na escrita, diferentemente da fala, não dispomos de mecanismos de correção
imediata. Logo, é preciso detalhar mais a nossa mensagem, dar mais pistas para
que o outro nos compreenda. De acordo com Marcuschi (2008), ao se estudar a
intencionalidade de um texto, considera-se a intenção do autor como fator re-
levante para a textualização, que é o processo utilizado pelo leitor/receptor com
a finalidade de compreender um determinado texto. Marcuschi (2008) também
afirma que esse fator de textualidade não costuma ser trabalhado nos textos.
Acredita-se que é preciso ter cuidado com a questão da intencionalidade,
uma vez que identificá-la não parece ser tarefa fácil. “O problema maior no caso
da intencionalidade acha-se no conceito de sujeito que ela subentende. Tudo
se passa como se o sujeito fosse o dono do conteúdo e como se ele fosse uma
fonte independente e a-histórica” (MARCUSCHI, 2008, p. 127). Segundo Koch
e Travaglia (2011), tanto a intencionalidade quanto a aceitabilidade podem ser
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UNIDADE 2
66
UNICESUMAR
“
Como se pode perceber, a intencionalidade e a aceitabilidade, sobre-
tudo em sentido restrito, são as duas faces constitutivas do princípio
de cooperação e, neste sentido, definitórias da coerência no sentido
aqui proposto, de um princípio de interpretação segundo a qual
sempre se julga que o texto faz sentido, é coerente e se faz tudo para
calcular esse sentido (KOCH; TRAVAGLIA, 2011, p. 80).
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UNIDADE 2
Koch e Travaglia (2011) afirmam que, assim como ocorre com o fator intencio-
nalidade, a aceitabilidade, em sentido amplo, está relacionada à argumentação.
Marcuschi (2008) alerta para a importância de não se confundir a noção de
aceitabilidade enquanto um critério da textualidade com o mesmo termo usado
na gramática gerativa. Um texto, com objetivos específicos e em determinados
contextos, pode ser considerado aceitável, apesar de, muitas vezes, apresentar
frases malformadas. Observe o exemplo citado por Marcuschi (2008):
“Hoje levantei
cedo e tomei um
banho, um café
e um táxi para a
universidade”.
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração que apresenta várias placas de sinalização que encontra-
mos em nossas práticas sociais. Uma indica que é proibido parar e outra estacionar; há uma que afirma que
se deve parar e outra que indica que o sinal está verde. Também há outras placas com outras indicações.
69
UNIDADE 2
Você, provavelmente, conhece todas essas placas ou, então, grande parte delas. Se
for motorista, sobretudo, há de concordar que, se essas ferramentas de organiza-
ção do trânsito apresentassem textos longos, explicativos, com argumentações e/
ou explicações, certamente, não seriam lidas, porque, inclusive, em muitos casos,
não haveria sequer tempo para isso.
Portanto, as placas de trânsito são apropriadas à situação comunicativa espe-
cífica em que são utilizadas. Para outras situações de uso, elas, talvez, não seriam
coerentes. Verifica-se, dessa forma, que é necessário considerar as características
do processo enunciativo em que um texto é criado.
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UNICESUMAR
Marcuschi (2008) nos alerta, ainda, que não se pode confundir situacionali-
dade com contextualidade. A noção de contexto é um dos aspectos centrais
da construção da situacionalidade. No entanto, é diferente dela. O fator de
textualidade em questão corresponde a um modo particular de o texto se
adequar não apenas aos próprios contextos, mas também aos usuários.
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: thá 16 fotos do tipo 3x4 de uma mesma moça. Ela é branca e tem cabelos longos
e levemente ondulados na cor castanho-escuro. Ela veste blusa de alça fina na cor azul-marinho. Nas
fotografias, a moça faz expressões faciais distintas, tais como: espanto, felicidade, tristeza, apreensão,
nervosismo, tédio e outras. As fotografias estão dispostas em quatro colunas e quatro linhas.
Qual seria o grau de informatividade dos textos que você já produziu? Baixo, mé-
dio ou alto? Segundo, Koch e Travaglia (2011), quanto menor for a previsibilidade
de um texto por parte do leitor, maior será o grau de informatividade. Em outras
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UNICESUMAR
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: trata-se de uma ilustração da personagem Mona Lisa, bastante semelhante à
pintura original de Leonardo da Vinci. Há, desse modo, uma mulher de pele branca. Ela usa um vestido
escuro que tem um acessório que lembra um agasalho em cor escura. Ao fundo, há uma coloração em
verde que sugere ser vegetação.
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UNICESUMAR
Na Figura 3, há a imagem da personagem Mona Lisa, que foi desenhada pelo Leonar-
do da Vinci. Ela é conhecida por uma parte significativa das pessoas e, muitas vezes,
a imagem dessa personagem é recriada com adereços diferenciados, buscando uma
releitura da imagem. Isso conduz os leitores a estabelecerem a intertextualidade.
Certamente, você, em uma simples conversa entre amigos, assistindo a uma propaganda,
ouvindo uma música ou navegando pela internet, por exemplo, já deve ter se deparado com
fragmentos os quais você já tinha lido ou ouvido antes, certo? Pois bem, culturalmente, somos
inclinados a promover “diálogos” entre textos, ou seja, fazemos o uso da intertextualidade,
fenômeno linguístico que também é considerado um fator de textualidade.
Grosso modo, podemos afirmar que a intertextualidade é, de fato, uma “conversa”
entre textos; um texto “abraça” outro texto e compartilha elementos que lhe são pró-
prios. Marcuschi (2008) define a intertextualidade como o fator que abrange as rela-
ções entre um texto e outros textos relevantes encontrados em experiências anteriores,
com ou sem mediação. Atualmente, é possível afirmar, segundo o autor, que todos os
textos comungam com outros textos, ou seja, não existem textos que não mantenham
algum aspecto intertextual, pois nenhuma produção textual é isolada e solitária.
PENSANDO JUNTOS
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: Mona Lisa (a moça que tem traços da personagem de Leonardo da Vinci)
aparece com uma máscara cobrindo nariz, boca e bochechas. A personagem é ilustrada em preto
e branco. Ao fundo, há um círculo amarelo com vários riscos em amarelo e preto em toda a figura
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Descrição da Imagem: trata-se de uma fotografia que apresenta uma mulher que lembra a pintura Mona
Lisa. Portanto, há uma mulher com um cartão de crédito na mão esquerda. O braço esquerdo dela está
pousado em cima da mão direita. As unhas dela estão pintadas na cor azul-claro e o vestido dela é escuro
com linhas cruzadas em dourado.
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UNIDADE 2
Descrição da Imagem: Mona Lisa segura um celular com a mão direita. Ela olha fixamente para o ce-
lular e faz uma pequena careta, o que sugere que ela está tirando uma selfie, isto é, uma fotografia do
próprio rosto.
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UNICESUMAR
Provérbios populares:
“Quem espera
“Uma boa noite de sono combate os males”. sempre alcança”
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UNIDADE 2
Agora, leia a letra da música Bom Conselho, de Chico Buarque ([2022], on-line).
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UNICESUMAR
1 Coríntios 13
1. Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como
o metal que soa ou como o sino que tine.
2. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência,
e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse
amor, nada seria.
3. E ainda que distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que en-
tregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.
4. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece.
5. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
6. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
7. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8. O amor nunca falha; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessa-
rão; havendo ciência, desaparecerá;
9. Porque, em parte, conhecemos, e em parte profetizamos;
10. Mas, quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado.
11. Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como me-
nino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.
12. Porque agora vemos por espelho em enigma, mas então veremos face a face; agora co-
nheço em parte, mas então conhecerei como também sou conhecido.
13. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor, estes três, mas o maior destes é o
amor.
Disponível em: http://www.bibliaonline.com.br/acf/1co/13. Acesso em: 18 maio 2021.
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UNIDADE 2
É perceptível que Renato Russo, ao escrever a música Monte Castelo, firma uma forte
relação intertextual com os dois textos anteriores, os quais exploram o tema “amor”,
ainda que de modo diverso. Além disso, o compositor da banda Legião Urbana, ao
lançar a música, obteve sucesso da crítica por trazer para os jovens dos anos 80 (quan-
do a música foi lançada) duas personalidades tão distantes da época: o primeiro diz
respeito ao apóstolo Paulo (século I d.C.) e o segundo se refere a Camões (século XVI).
Ao analisarmos ainda mais os exemplos de intertextualidade, constatamos que,
para se realizar um diálogo entre textos, é preciso ter um conhecimento cultural am-
plo, dado que o leitor precisa reconhecer obras ou trechos delas em outros textos, a fim
de que uma produção intertextual faça, então, sentido para esse leitor. Se, por exemplo,
não conhecêssemos os provérbios referidos por Chico Buarque na letra da música,
sem dúvidas, o sentido construído após a nossa leitura não seria o mesmo e os objeti-
vos do compositor, ao escrever o texto daquela maneira, talvez, não se concretizassem.
Com base em uma citação de Barthes, Koch (2008, p. 59) explana que “todo texto
é um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical de seu interior com seu ex-
terior; e, desse exterior, evidentemente, fazem parte outros textos que lhe dão origem,
que o predeterminam, com os quais dialoga, que retoma, a que alude, ou a que se opõe”.
Koch e Travaglia (2011) retomam a definição de Beugrande e Dressler para conceituar
a intertextualidade. Segundo os autores, esse fenômeno compreende as maneiras pe-
las quais a produção e a recepção de um dado texto dependem do conhecimento de
outros textos por parte dos interlocutores, isto é, diz respeito aos fatores que tornam
a utilização de um texto dependente de um ou de mais textos previamente existentes.
Para que fique ainda mais claro para você esse fator tão importante na cons-
trução da coerência de um texto, na sequência, aprofundaremos a definição de
intertextualidade, ao expormos esse conceito em sentido amplo e em sentido
restrito com base em Koch (2008).
Intertextualidade em sentido amplo: mais voltada ao discurso, é considerada
uma condição de existência do próprio discurso. Aproxima-se da interdiscursivida-
de ou da heterogeneidade. Um discurso remete a outro e o que se tem a dizer traz
consigo algo já dito. É, nesse sentido, de acordo com Koch (2008), que Maingueneau
(1976), pesquisador da Linguística e da Análise do Discurso de linha francesa, afir-
ma ser o intertexto um componente decisivo das condições de produção discursiva.
É válido expor uma clássica citação de Kristeva (1969, p. 64), pesquisadora que in-
troduziu essa noção de intertextualidade. A estudiosa afirma que “qualquer texto cons-
trói-se como um mosaico de citações e é a absorção e transformação de outro texto”.
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UNIDADE 2
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UNICESUMAR
parafrasear é simplesmente expor o que já foi dito utilizando outras palavras. Esse
tipo de intertexto está presente na maioria dos trabalhos acadêmicos. Nos termos
de Koch (2008), a paráfrase está mais para a intertextualidade implícita e para a
intertextualidade das semelhanças.
Analise um exemplo citado por Affonso Romano Sant’Anna (2007, p. 23):
Alguns estudiosos inserem a tradução na lista dos tipos de intertexto. Isso, porque
ela pode ser considerada uma forma de recriação de um texto-fonte em outra
língua. Optamos, no entanto, por não discutir esse tipo neste material. Observe,
a seguir, outro exemplo retirado da obra de Sant’Anna (2007, p. 23).
Fragmento II (paráfrase)
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos
Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’.
Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!
(Carlos Drummond de Andrade – Europa, França e Bahia)
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UNIDADE 2
Fragmento II (paródia)
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar,
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá.
(Oswald de Andrade – Canto de Regresso à Pátria)
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UNIDADE 2
Acreditamos que Marcuschi (2008), talvez, tenha inserido a epígrafe, com o intuito
de fazer uma relação com o receptor (Tu) e o emissor (Eu) de um texto, já que o livro
trata da produção textual e o produtor de um texto, assim como sabemos, sempre
precisa considerar quem será o leitor da produção, ou seja, quem será o “Tu”. Nin-
guém escreve para não ser lido. Sempre é pensado em um interlocutor.
A citação é um tipo de intertexto que já foi utilizado várias vezes neste livro.
É realizada, direta ou indiretamente, a transcrição de parte do texto original.
Esse recurso intertextual é, geralmente, utilizado em trabalhos científicos, com o
objetivo de validar o ponto de vista do produtor do texto, seja para a aprovação,
seja para a reprovação de uma determinada ideia.
Esse intertexto atribui, pelas referências citadas, maior credibilidade ao novo
texto. Em consonância às denominações de Koch (2008), ele seria mais um caso
de intertextualidade explícita, tal qual a epígrafe. Observe dois exemplos de cita-
ção já utilizados nesta unidade:
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É perceptível que, na citação direta, utilizamos aspas (regra que se aplica ao exem-
plo utilizado. Entretanto, há outras, de acordo com as prerrogativas da Associação
Brasileira de Normas e Técnicas - ABNT). Além disso, mantemos as palavras do
autor citado e são indicados o ano da publicação e a página da obra pesquisada.
Já na citação indireta, as aspas não são utilizadas. Insere-se somente o ano da
publicação e não são mantidas as palavras do autor citado, assim como acontece
na citação direta. Nesse caso, o produtor do novo texto escreverá com as próprias
palavras, mas, de qualquer modo, permanecerá fiel às ideias contidas no texto
original. Arriscamos asseverar que, nesse caso, configura-se mais um caso de
intertextualidade das semelhanças, além da explícita, nos termos de Koch (2008).
Alusão: refere-se, de modo implícito, a uma obra de arte, a um fato histórico
ou a uma celebridade, para servir de termo de comparação. É preciso, todavia, que
o leitor consiga associar as ideias contidas no texto por meio do conhecimento
prévio. Sem ele, o sentido não pode ser alcançado. Segue um exemplo:
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UNIDADE 2
Nota: O respectivo Imposto de Selo deverá ser pago por meio de guia, de
acordo com a Lei n.º 150/99, de 11 de setembro.
Pastiche: este tipo de intertexto já foi visto com certa depreciação por estudiosos,
que o encaravam, por vezes, como plágio de outras obras. Talvez, seja o intertexto
menos conhecido. Modernamente, abrange a intertextualidade em que se imita
o estilo de outros autores, sejam escritores, sejam pintores, sejam músicos, por
exemplo. Esse recurso intertextual, aparentemente, mistura estilos e pode ser
usado até mesmo com sarcasmo em certas situações. Contudo, essa não é, em
geral, a função dele, assim como ocorre no caso da paródia.
Oração do Bebum
Whisky e Vodka que estão no bar
Alcoolatrado seja o nosso fígado
Venha a nós o copo cheio
nunca apenas pelo meio.
Seja feita a nossa cachaçada
Assim no buteco como na calçada.
O mé nosso de cada dia nos dai hoje
Perdoai as nossas bebedeiras
Assim como nós perdoamos
A quem não tenha bebido
Não nos deixai cair na Coca Diet
E livrai-nos da água gasosa
Barman...
Disponível em: http://pessoaordinaria.blogspot.com.br/2009/02/oracao-do-bebum.html. Aces-
so em: 18 maio 2022.
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
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UNIDADE 2
94
1. Em nossas práticas sociais, deparamo-nos com inúmeras campanhas que buscam
conscientizar a população sobre diferentes temas. Diante disso, quero que você
pense a respeito dos seguintes fatores de textualidade: intencionalidade e aceitabi-
lidade. Aparentemente, esses fatores estão interligados. Acredita-se que, em sentido
restrito, há uma espécie de atitude cooperativa, na qual o emissor sempre deseja
produzir um texto que faça sentido e o receptor sempre visualiza a produção do
emissor como algo que ele fez para ter sentido. Portanto, escolha uma campanha
publicitária que dialogue com outro gênero discursivo e organize um texto expositivo,
a fim de explicar como trabalhar esses fatores de textualidades ou outros que julgar
pertinentes. O texto deve ter de 10 a 20 linhas.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Murilo Mendes
95
Disponível em: http://www.horizonte.unam.mx/brasil/murilo1.html. Acesso em:
18 maio 2022.
a) Intertextualidade.
b) Aceitabilidade.
c) Situacionalidade.
d) Informatividade.
e) Intencionalidade.
Kell Smith
Dava pra ser herói no mesmo dia em que escolhia ser vilão
96
É que a gente quer crescer
Dá pra viver
97
A intencionalidade se refere ao modo com que os produtores dos diferentes gêneros
discursivos e tipos textuais usam a linguagem para a materialização das intenções
comunicativas. Eles produzem textos que se adequam à obtenção dos próprios obje-
tivos. Assim, é possível defender o princípio de que não há neutralidade no discurso,
isto é, todo texto se desenvolve por meio da mediação de nossas crenças, convicções,
perspectivas e propósitos. É pressuposto que há uma intencionalidade subjacente
ao uso da linguagem.
Outro aspecto significativo é o fato de que os textos são produzidos para que as
pessoas consigam se comunicar com outras pessoas. Nessa perspectiva, a aceitabi-
lidade se relaciona ao interlocutor (ouvinte/leitor), uma vez que indica a expectativa
do receptor em relação à compreensão da mensagem do texto. O sentido não é
articulado apenas à intenção do autor, mas também à abertura e ao conhecimento
do mundo do leitor. Dessa forma, esse fator interfere diretamente na compreensão
de um produto como texto.
98
3
Uma Reflexão
Sobre a Coesão e
a Coerência
Dr. Gelson Martins de Souza
Me. Valéria Adriana Maceis
102
UNICESUMAR
práticas sociais. Agora, quero que você faça alguns questionamentos: quando você
organiza um texto, você tem consciência de que ele é constituído por unidade
central? Você sabe o que é uma unidade central?
Esta unidade apresenta o tema que motiva a escrita de um determinado gênero
discursivo. Na maioria das vezes, a unidade central se encontra na porção inicial
dos gêneros. Na pesquisa que fiz em meu doutorado, cujo objetivo foi investigar a
estrutura retórica do gênero editorial, constatei que a unidade central se posiciona
com maior ocorrência na porção da definição/introdução, trazendo uma síntese do
sentido global do texto. Isso permite que o leitor desenvolva interesse pelo texto. É
importante pontuar que, muitas vezes, mais de um parágrafo pode compor a parte
introdutória dos textos argumentativos, pois muitos desses textos são muitos frag-
mentados em detrimento do próprio estilo de cada gênero discursivo. Quando você
for escrever um texto, pense: qual é a unidade central do texto que escrevi? Quais são
as informações secundárias que se relacionam à unidade central? Fiz, ou não, uma
finalização do meu texto? Reflita sobre esses aspectos na próxima produção textual!
Quero te propor o seguinte desafio: suponha que você é o(a) professor(a)
de Língua Portuguesa da primeira série do Ensino Médio. Você escolheu, para
trabalhar em sala de aula, um artigo de opinião que discute os aspectos relativos
à educação financeira no espaço escolar. Ele foi escrito por Rosely Sayão. Quando
você e seus alunos terminam a leitura do texto, um deles levanta a mão e diz:
— Professor(a), quero saber uma coisa: como faço para construir um pará-
grafo coeso e coerente?
Como você responderá essa questão ao seu aluno e aos demais colegas de sala?
Você falará, especificamente, apenas da construção do parágrafo? Você mostrará que
coesão e coerência são fatores de textualidade? Você utilizará o texto que fizeram a
leitura para exemplificar? Quero que tenha a consciência de que indagações como
essas farão parte de sua vida profissional. Como professor, ministro aulas no Ensino
Fundamental II, Ensino Médio e Superior, e sou questionado com frequência. Como
você conduzirá esse trabalho como professor(a)? Trata-se de um grande desafio!
Agora, quero que você pense sobre a organização do gênero resposta argu-
mentativa, o qual deve ser materializado preferencialmente em um parágrafo.
Qual é a porção textual que representa o tópico frasal? Em que etapa se inicia e
termina o desenvolvimento do gênero resposta argumentativa? Qual é a porção
que representa a conclusão?
103
UNIDADE 3
Desejo que você leia uma resposta argumentativa que foi escrita por um candi-
dato ao vestibular da Universidade Estadual de Maringá (UEM). O candidato
deveria responder ao seguinte questionamento: a internet é nociva?
“
Apesar de subordinada à internet, devo admitir: ela é nociva. Sou su-
bordinada porque, mesmo com uma biblioteca municipal ao lado de
casa, recorro à internet quando necessário, e na sua ausência, não sei
nem por onde começar uma pesquisa, o que é um fato comum entre
os jovens. Além disso, imperceptivelmente ela se torna sua inimiga:
aqueles que a utilizam quando necessário, ao se darem conta, já pas-
saram horas nela sem estar fazendo o que a princípio era seu objetivo.
Causando frequentes dores de cabeça, a tela do computador prejudica
os nervos ópticos, principalmente se utilizados à noite. Para muitos,
ela se tornou um instrumento de trabalho, mas é fato muito comum
em ambientes de trabalho, pessoas fugirem de suas responsabilidades
profissionais entrando em sites de jogos, eróticos e de relacionamen-
tos. Estudos alegam que uma pessoa deve desligar-se da internet pelo
menos 2 horas antes de dormir, do contrário, ela ativa o metabolismo,
podendo desencadear em problemas sérios de insônia. Portanto, não
nego que a internet seja útil, mas fugindo do nosso controle, ela se
torna nociva e prejudicial à saúde (SANTOS, 2012, p. 119).
104
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
105
UNIDADE 3
106
UNICESUMAR
107
UNIDADE 3
“
Assim, em muitos tipos de textos – científicos, didáticos, expositi-
vos, opinativos, por exemplo – a coesão é altamente desejável, como
mecanismo de manifestação superficial da coerência. [...] o conceito
de coesão textual diz respeito a todos os processos de sequencializa-
ção que asseguram (ou tornam recuperável) uma ligação linguística
significativa entre os elementos que ocorrem na superfície textual.
Acreditamos que textos bem construídos, coesos e, por consequência, coerentes são aque-
les que apresentam, no interior dos períodos, os elementos gramaticais ou coesivos (con-
junções, pronomes, preposições e advérbios) adequados. Se esses elementos de ligação
forem empregados de maneira inadequada, o texto não apresentará noção de conjunto
ou a linguagem dele se tornará ambígua e incoerente. Analise os exemplos a seguir.
Exemplo 1
Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida hu-
mana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 21. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 18.
108
UNICESUMAR
Exemplo 2
Brasil do B
Josias de Souza
Brasil Biafra. Breu. Barbárie boçal. Barraco barrento. Barata. Bacilo. Bacté-
ria. Bebê buchudo, borocoxô. Bolso banido. Boca banguela. Barriga baldia.
Barbeiragem. Bastaria bóia, baião-de-dois.
Brasil Bélgica. Brancura. Black-tie. Badalação brega. Boa brisa. Bens. Ban-
quetes. Brindes. Brilho besta. Bonança bifocal. BMW: blindagem. Bolsa
balofa: babau, baby.
109
UNIDADE 3
Segundo Koch (2009), textos como esses, mesmo não apresentando recur-
sos coesivos, podem ser considerados coerentes. A compreensão desses
textos, sobretudo no que se refere ao segundo exemplo (“Brasil do B”),
clama pelos conhecimentos de mundo do leitor, não exigindo, portanto,
assim como ocorre em muitas produções escritas, a presença de marcas
linguísticas concretas para que a coerência se estabeleça. Em outras pala-
vras, há uma coesão, cuja textualidade ocorre no nível de coerência.
110
UNICESUMAR
Exemplo 3
O dia está bonito, pois ontem encontrei seu irmão no cinema. Não gosto
de ir ao cinema porque lá passam muitos filmes divertidos.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 21. ed. São Paulo: Contexto, 2009. p. 18.
Exemplo 4
111
UNIDADE 3
autor do texto tanto para trás (por meio de anáfora) quanto para frente
(por meio de uma catáfora). Observe os exemplos a seguir.
Exemplo 5
Aos 51 anos, Oscar Magrini, que vive o Coronel Heraldo Nunes em ‘Salve
Jorge’, está em plena forma física. Ele pratica vários esportes e disse se
sentir bem mais jovem que sua atual idade. (Anáfora)
Exemplo 6
112
UNICESUMAR
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UNIDADE 3
Formas remissivas
Exemplos Comentários
gramaticais livres
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UNICESUMAR
Formas remissivas
Exemplos Comentários
gramaticais livres
Formas
remissivas Exemplos Comentários
lexicais
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UNIDADE 3
Formas
remissivas Exemplos Comentários
lexicais
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UNICESUMAR
Formas
remissivas Exemplos Comentários
lexicais
No que se refere à coesão sequencial, Koch (2009) pontua que ela diz res-
peito aos procedimentos linguísticos em que são estabelecidos, dentre os
segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e se-
quências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmáticas
à medida que o texto progride. Essa progressão do texto pode ocorrer com
elementos recorrentes (sequenciação parafrástica) ou sem o uso deles
(sequenciação frástica).
117
UNIDADE 3
Exemplo 7
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem.
Exemplo 8
Canção do exílio
118
UNICESUMAR
Exemplo 9
Tiê Lima, 33, um dos cofundadores, diz que a empresa fez adaptações no
plano de negócios. No meio do ano passado, foi decidido usar o C2C (de
cliente para cliente, em inglês), ou seja, a empresa passou a atuar como
uma intermediária nas vendas entre os internautas”.
Exemplo 10
119
UNIDADE 3
Exemplo 11
VERÍSSIMO, L. F. Histórias Brasileiras de Verão. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. [s. p.].
Progressão temática
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UNICESUMAR
Relação Exemplos
De temporali- “(...) quando você passa / meu olhar decora cada mo-
dade\ vimento (...)”. Quando você passa - Maria Gadú.
Espero estar colaborando com o seu conhecimento acerca da coesão textual. Muitas
informações importantes já foram estudadas até aqui, certo? Contudo, é preciso que
você busque outras fontes de conhecimento, sobretudo no que se refere à coesão
sequencial. A investigação da coesão e da coerência textual nos oferece um amplo
campo de estudos. Muitos trabalhos já foram desenvolvidos sobre esses temas. Há,
portanto, muitas opções de pesquisa para você! Aprofunde os seus conhecimentos!
121
UNIDADE 3
122
UNICESUMAR
“
A coerência é algo que se estabelece na interação, na interlocução,
numa situação comunicativa entre dois sujeitos. Ela é o que faz com
que o texto faça sentido para os usuários, devendo ser vista, pois,
como um princípio de interpretabilidade do texto. Assim, ela pode
ser vista também como ligada à inteligibilidade do texto numa si-
tuação de comunicação e à capacidade que o receptor do texto (que
o interpreta para compreendê-lo) tem para calcular o seu sentido.
123
UNIDADE 3
124
UNICESUMAR
Além dos fatores citados, Koch e Travaglia (2011) acreditam que a coerência
depende da observação de certas convenções sociais e da maneira como devem
ser feitos certos atos de fala. Ademais, de acordo com os autores, a focalização, a
relevância e a consistência presentes em uma produção escrita também podem
auxiliar no estabelecimento das relações de sentido.
O que precisa ficar claro para você, prezado(a) aluno(a), é que a coerência depende
de vários fatores para ser estabelecida e que ela não corresponde a uma propriedade
empírica da produção escrita em si. Ela diz respeito ao trabalho do leitor em relação
às possibilidades de interpretação do texto e à compreensão das relações de sentido.
Portanto, a coerência não é subjetiva, mas, assim como explica Marcuschi
(2008), ela está muito mais na mente e no ponto de vista do receptor do texto
que no interior das formas textuais, caracterizando-se, assim, como um processo,
apesar de interligado, distinto da coesão, a qual, como vimos, apresenta-se mais
marcada visualmente no texto.
125
UNIDADE 3
126
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Para melhor definir o parágrafo, recorremos a Garcia (2010, p. 203), que explica
que “o parágrafo é uma unidade de composição constituída por um ou mais de
um período, em que se desenvolve determinada ideia central, ou nuclear, a que
se agregam outras, secundárias, intimamente relacionadas pelo sentido e logica-
mente decorrentes dela”.
Garcia (2010) afirma que essa definição se aplica a um tipo de parágrafo
considerado padrão, uma espécie de modelo que vem sendo seguido frequen-
temente por escritores consagrados. O estudioso ressalta, no entanto, que, na
verdade, há vários outros processos diversificados de desenvolvimento de ideias
e estruturação de parágrafos, porque há alguns aspectos que podem interferir na
construção, tais como: o assunto a ser trabalhado no texto, a sua complexidade
do tema, o gênero textual em questão, o propósito da produção escrita, a com-
petência do autor e o tipo de leitor que se quer atingir.
Na introdução do livro A redação pelo parágrafo, Luiz Carlos Figueiredo
(1999, p. 13) apresenta uma interessante comparação a respeito do assunto:
“
Quando vamos ao supermercado, vemos prateleiras ou locais es-
pecíficos para bebidas, frutas, verduras, latas de óleo ou bolachas;
a divisão de produtos facilita o trabalho do freguês. Se todos os
produtos estivessem misturados, seria difícil encontrá-los. Os pa-
rágrafos são como “prateleiras” que dividem uma sequência de in-
formações ou pensamentos. Servem para facilitar a compreensão e
a leitura do texto, dar folga ao leitor, que acompanha, passo a passo,
a linha de raciocínio desenvolvida pelo escritor.
127
UNIDADE 3
formação de uma sequência unida, coerente e consistente das ideias associadas en-
tre si. O autor enfatiza que um parágrafo bem construído é aquele que contém uma
ideia central ligada a todas as outras ideias secundárias. Além disso, defende que:
“
Cada parágrafo deve se relacionar com o parágrafo anterior. O pri-
meiro parágrafo apresenta o raciocínio geral, com uma ideia princi-
pal e introdutória; o segundo parágrafo relaciona-se com o primeiro,
o terceiro relaciona-se com o segundo, numa cadeia de raciocínios. O
último parágrafo fecha o ciclo de raciocínios e constitui a conclusão.
O entrelaçamento de um parágrafo com outro, ou a ligação de um ra-
ciocínio com outro, dá coesão ao texto (FIGUEIREDO, 1999, p. 14).
Não podemos discorrer sobre o parágrafo sem citar o tópico frasal. Você já deve
ter ouvido alguém falar dele, certo? De acordo com Garcia (2010), ele tem essa
denominação por equivaler à topic sentence do inglês. Esse tópico também é
conhecido como período tópico e é constituído por um ou dois períodos curtos
iniciais. O tópico frasal encerra, de modo geral e conciso, a ideia-núcleo do pará-
grafo e pode ser visto como um meio muito eficaz de expor ou explanar as ideias.
Garcia (2010) afirma que o modo de expor as ideias com o tópico frasal bem ex-
plícito pode ser considerado um modo dedutivo, pois parte de uma generalização
do assunto (tópico frasal) para possíveis especificações contidas no desenvolvi-
mento do parágrafo, ou seja, vai-se do geral para o particular.
O tópico frasal pode se apresentar de inúmeras formas. Não citaremos todas,
mas apresentaremos as principais, quais sejam:
■ Declaração inicial: o autor afirma ou nega algo inicialmente, para, de-
pois, justificar, fundamentar e comprovar a declaração por meio de exem-
plos, comparações, depoimentos, oposições e outros meios. Essa forma de
tópico frasal é a que tem sido mais comumente usada nos textos. Observe
o exemplo a seguir.
128
UNICESUMAR
Exemplo 12
Rosely Sayão
Só mais um exemplo: a história das drogas. Então quer dizer que são ape-
nas os adolescentes que se encantam com as diversas possibilidades e os
benefícios -mesmo que de curta duração- que uma droga oferece, sem dar
a mínima para os riscos? Sei. Quero ver quem busca a excelência da forma
física, a diminuição de peso, a alegria permanente, a ausência de dor, a fuga
da ansiedade etc. afirmar isso com convicção. “Ah, mas droga ilícita é outra
história”, podem dizer alguns. Sim, mas a lição dos usos das drogas é a mesma.
129
UNIDADE 3
Essa posição por parte de muitos educadores não passa despercebida pelos
filhos e alunos e, claro, provoca efeitos. Alguns deles são o descrédito, a falta
de confiança, a insegurança quanto ao próprio futuro e o absoluto cinismo na
relação com eles. Se pensarmos bem, essa reação nada mais é do que pura
reciprocidade na forma de tratamento.
130
UNICESUMAR
Exemplo 13
ANEMIA FALCIFORME
131
UNIDADE 3
Exemplo 14
132
UNICESUMAR
Segundo Figueiredo (1999), para escrever um bom parágrafo, o autor precisa levar em conta cinco
qualidades relevantes, são elas: unidade, coerência, consistência, concisão e ênfase. Sem isso, é bem
possível que o parágrafo apresente-se confuso e atrapalhe ou até mesmo irrite o leitor.
Vejamos, então, algumas considerações acerca de cada uma destas qualidades:
Unidade:
diz respeito à ligação existente entre
as ideias inseridas no parágrafo. A Coerência:
unidade, em resumo, seleciona uma tal qualidade organiza a sequência
forte ideia-núcleo (o tópico frasal) dessas ideias selecionadas pela unidade,
e esta, por sua vez, coordena as mais para que, assim, o leitor consiga
importantes ideias secundárias
presentes no interior do parágrafo. compreender como elas são importantes
Assim, se a ideia-núcleo for fraca, as para o desenvolvimento do parágrafo.
ideias secundárias, provavelmente,
também serão, já que elas se
encontram interligadas.
Consistência:
esta qualidade deve estar presente tanto na
forma quanto no conteúdo da produção escrita. a. Concisão:
Segundo Figueiredo (1999), no que diz respeito to acredita-se que, em respeito ao leitor, o
à forma, quer dizer que o escritor precisa manter
man escritor deve ser breve. Com isso, ao
um mesmo tom ou estilo durante toda a apresentar as ideias já escolhidas e
apresentação do texto, sem variar do o sério
sé para o organizadas sequencialmente, o escritor
debochado, por exemplo. No que ue tange
ta ao
conteúdo, para Figueiredo o (1999),
(199 não se pode
precisa esforçar-se para escrever somente
criar contradições de id
ideias no interior do o necessário.
parágrafo - se, em um período, o escritor declara
que é a favor do casamento gay, por exemplo,
e, em outro posterior, afirma que é contra,
isso torna o parágrafo inconsistente.
Ênfase:
é preciso que o produtor do texto enfatize as
principais ideias de cada parágrafo. Para tanto,
ele dispõe de certas técnicas, tais como: escolha
cuidadosa de uma palavra e/ou expressão forte
e adequada para representar uma ideia; posição
das orações no período; o tamanho das orações
e dos parágrafos; repetição da ideia principal.
Segundo Figueiredo (1999), lançando mão de
recursos como estes, o escritor consegue
aprimorar o estilo e abrilhantar seu texto.
133
UNIDADE 3
Tipos de
Comentários gerais
parágrafo
134
UNICESUMAR
Tipos de
Comentários gerais
parágrafo
135
UNIDADE 3
Acreditamos que você tenha ampliado os seus conhecimentos acerca das carac-
terísticas de uma paragrafação eficiente. A construção do parágrafo nem sempre
recebe, por parte do produtor do texto, a atenção que merece.
Frente às abordagens construídas, discutiremos as concepções de inferência,
de pressuposto, de subentendido e de ambiguidade que contribuem tanto no pro-
cesso de escrita quanto no processo de leitura dos diferentes gêneros discursivos.
O processo de leitura, segundo os pressupostos das teorias pragmáticas, deve levar
em consideração os implícitos e as inferências que podem ser percebidos a partir de de-
terminado texto. Quando se fala de implícitos, é necessário pensar sobre os pressupostos
e os subentendidos. Diante desses princípios pragmáticos, reflita: o que é leitura?
Entendemos que a prática de leitura não se materializa apenas naquilo que é
dito (no posto), mas também naquilo que não está dito (nos implícitos), que são
ativados por meio dos pressupostos e dos subentendidos, a partir de elementos
linguísticos e pragmáticos. A ideia de implícito envolve o conteúdo que se mate-
rializa à margem das informações que foram explicitadas pelo texto.
Na perspectiva de Orlandi (2000), o implícito se refere àquilo que não está
dito e que é constituído de significado:
136
UNICESUMAR
As inferências, por sua vez, são representadas pelos sentidos que são construí-
dos a partir das informações que foram trazidas por determinado texto, isto é, o
conteúdo inferido se materializa com base naquilo que foi dito, mas que não está
diretamente explicitado no texto. Ele pode ser percebido por meio da análise dos
elementos linguísticos, gramaticais, semânticos e discursivos.
As inferências são informações propositivas que não necessitam ser explici-
tadas durante a organização de um texto, tendo em vista que são nominadas de
subentendidas, ou seja, “inferências são proposições que derivam, por alguma
regra específica, de outra proposição” (MOURA, 2007, p. 33).
De acordo com Moura (2007, p. 33), as inferências podem ser tanto “baseadas
no conhecimento linguístico (situadas, portanto, no campo da semântica)” quan-
to “no conhecimento do mundo (situadas, portanto, no campo da pragmática)”. O
autor ainda defende que “as inferências semânticas obedecem a regras muito ri-
gorosas, que os falantes aprendem de forma inconsciente” (MOURA, 2007, p. 34).
A implicatura simboliza um sentido derivado que se atribui a um enunciado
depois de constatar que o sentido literal dele é irrelevante à situação. Na pers-
pectiva de Moura (2007, p. 35), “uma implicatura é uma inferência de natureza
puramente pragmática, ou seja, depende de conhecimentos do mundo e pode
ser anulada”. Nem as implicaturas, nem as pressuposições constituem o conteúdo
explicitado. A diferença entre ambas está no fato de que, em relação às pressupo-
sições, a estrutura linguística oferece os elementos que permitem compreendê-
-las. Já nas implicaturas isso não acontece: o suporte linguístico é menos óbvio
e, portanto, elas dependem, principalmente, do conhecimento da situação, que
é compartilhado pelo falante e pelo ouvinte. As pressuposições fazem parte do
sentido literal das frases, enquanto as implicaturas são estranhas.
Caro(a) aluno(a), agora, discorreremos sobre o pressuposto, que se enquadra
na categoria dos implícitos. Eles podem ser pragmáticos, como as implicaturas
conversacionais e os atos de linguagem, ou linguísticos. Gostaríamos de enfatizar
os pressupostos linguísticos, tendo em vista que eles são ativados por intermédio
de elementos linguísticos presentes na estrutura linguístico-discursiva do texto.
Na concepção de Ducrot (1987, p. 33), esse tipo de pressuposto “pertence antes
de tudo à frase: ele é transmitido da frase ao enunciado na medida em que deixa
entender que estão satisfeitas as condições de emprego da frase da qual ele é a
realização”, isto é, “o pressuposto está inscrito na língua”.
137
UNIDADE 3
“
[...] articulação entre conhecimentos prévios e informações tex-
tuais, inclusive as que dependem de pressuposições e inferências
(semânticas e pragmáticas) autorizadas pelo texto, para dar conta
de ambiguidades, ironias e expressões figuradas, opiniões e valores
implícitos, bem como das intenções do autor” (BRASIL, 1997, p. 56).
“
Dizer que pressuponho X, é dizer que pretendo obrigar o destinatário,
por minha fala, a admitir X, sem por isso dar-lhe o direito de prosseguir
o diálogo a propósito de X. O subentendido, ao contrário, diz respeito
à maneira pela qual esse sentido é manifestado, o processo, ao término
do qual deve-se descobrir a imagem que pretendo lhe dar de minha fala.
138
UNICESUMAR
“
As repetidas menções ao termo gramática requerem necessariamente
uma explicação, ainda que breve, dos sentidos em jogo nas diferentes
concepções. Evidentemente não caberia aqui um aprofundamento do
tema; apenas não se pretende omitir o recobrimento de interpretações
contidas numa noção ambígua como é a noção de gramática.
139
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
Concluímos mais uma unidade. Nela, estudamos processos de grande relevância para
a produção textual de qualidade: a coesão e a coerência. Esses fenômenos linguísticos
estão sempre vinculados, mas precisam ser encarados como noções distintas. Assim,
conhecemos os tipos de coesão utilizados nos textos que lemos e escrevemos, e os
fatores que auxiliam no estabelecimento da coerência em uma produção escrita.
Em se tratando de coesão, espero que tenha ficado nítido para você que, na
grande maioria dos casos, refere-se à forma ou à superfície de um texto. Ela é
mantida por meio de procedimentos gramaticais, isto é, pela escolha de um co-
nectivo adequado à conexão dos diversos enunciados que compõem um texto. O
140
UNICESUMAR
uso de elementos coesivos torna o texto mais legível e esclarece, para o leitor, os
tipos de relações estabelecidas entre os elementos linguísticos que os compõem.
Quanto à coerência, ela não se encontra materializada no texto, mas é es-
tabelecida graças a uma multiplicidade de fatores. Cabe, em muito, ao leitor, a
captação da coerência de uma produção escrita, já que será ele quem interpre-
tará e buscará as relações de sentido presentes no texto. Além da coesão e da
coerência, estudamos algumas postulações referentes à construção do parágrafo
e à correção de textos.
No que tange à paragrafação, destacamos o estudo do tópico frasal, as qualida-
des que um bom parágrafo precisa ter e alguns tipos de parágrafos que utilizamos
para produzir bons textos. Em relação às concepções de inferências, pressupostos,
subentendidos e ambiguidade, elas podem contribuir para o processo de ensino
e aprendizagem em nossas práticas sociais como professores de Língua Portu-
guesa/Inglesa, tendo em vista que devemos mostrar aos nossos alunos o quanto
a nossa língua é dinâmica e viva. Ela está, portanto, em constante movimento.
Com as informações contidas nesta unidade, você poderá auxiliar os seus
alunos no uso dos elementos coesivos na busca pelas relações de sentido de um
texto, na construção de parágrafos adequados e em diferentes situações de leitura.
141
1. Leia o texto a seguir, que representa o ponto de vista de três pesquisadores reno-
mados no universo dos estudos linguísticos:
Ainda nesse sentido, a falsa democratização do ensino, de acordo com Geraldi (1991),
ampliou inconsequentemente o quadro escolar e a solução encontrada diante do
despreparo docente foi o acesso ao livro didático, quase na condição de substituto de
cursos necessários, ou seja, como um manual que por si só ensinasse ao professor
como ensinar e outro que ensinasse ao aluno tudo que fosse possível. Ambos agen-
tes do processo educativo são transformados em meras máquinas reprodutoras, de
sujeitos agentes ideais passam a sujeitos pacientes reais.
Diante dos avanços nas pesquisas que investigam a língua(gem) é possível desvendar
as diversas concepções de língua(gem) e de gramática(s) que estão presentes nas
diferentes práticas teóricas e educacionais da contemporaneidade. E diante dessas
novas perspectivas, superar uma concepção tradicional de língua e de ensino de
língua vai ao encontro de uma concepção de língua(gem) capaz de subsidiar não só
novas metodologias, mas, principalmente, capaz de remodelar o próprio conteúdo
ensinado”.
142
Considerando as informações presentes no texto e os seus conhecimentos sobre a
linguagem, faça o que os itens a seguir solicitam.
“A internet pode ser nociva à medida que traz uma gama de informações sobre um
tema em poucos minutos de busca. Embora isso pareça ser positivo, é justamente
o excesso de informações numa visão simplificada que pode reduzir o grau de inte-
resse no aprofundamento de um assunto. Antes da internet se pesquisava em livros
e sabia-se da necessidade do silêncio para a concentração e melhor aproveitamento
do estudo, entretanto, o universo virtual trouxe a ideia de que é possível concentrar-
-se em várias tarefas ao mesmo tempo, realizar assim o conjunto delas num tempo
reduzido. Isso trouxe uma maior abrangência quanto ao conhecimento do número
de temas, mas uma significativa perda na profundidade com que se conhece um
assunto. Outro lado nocivo da internet é do universo criado por aqueles que, por
carência afetiva ou excesso de timidez, deixam-se levar por sites que oferecem uma
sensação efêmera de prazer por sentirem-se agora inseridos num contexto de per-
sonagens caricaturais, tal como o faz o universo dos otakus, adolescentes japoneses
que vivem mergulhados num mundo fantástico de desenhos, fantasmas, videogame
e internet. Ironicamente, a superexposição proporcionada pela internet facilitou para
investigações policiais identificar alguns grupos de criminosos que querem também
a fama da internet. Assim, a internet não é apenas vilã do conceito maniqueísta que
a julga, mas transita entre ser nociva ou positiva”.
143
3. Leia o texto a seguir:
Água é vida
Renata Souza
Quase um ano depois da crise de 2020, e mais uma vez em pleno verão, parte da
população do Rio voltou a sofrer ou com água de baixa qualidade, ou sem água.
Em especial, pelo fato de nos últimos anos a Cedae ter sofrido sistematicamente
com sucateamento e inviabilização dos seus serviços, cujo propósito óbvio foi o de
desprestigiá-la e transformá-la em “única culpada”, para ser presa fácil em um pro-
cesso de privatização.
Essa é a chave da questão à qual a população deve estar atenta. O fato é que, mais
recentemente, suas administrações passaram a valorizar a geração de lucro na casa
do R$1 bilhão ao ano, sem associá-lo ao investimento em sua operação.
Uma falsa visão que desconhece que a missão de uma empresa pública precisa ser
a de levar água à população e não de gerar dividendos.
144
SOUZA, R. Água é vida. Brasil de Fato, 22 mar. 2021. Disponível em: https://www.
brasildefato.com.br/2021/03/22/artigo-agua-e-vida. Acesso em: 19 maio 2022.
I - O texto Água é vida pode ser classificado como um artigo de opinião, já que o
objetivo dele é discutir a falta de água na sociedade do Rio de Janeiro.
II - Compreende-se que a unidade central do texto se encontra no seguinte trecho:
“Quase um ano depois da crise de 2020, e mais uma vez em pleno verão, parte da
população do Rio voltou a sofrer ou com água de baixa qualidade, ou sem água”.
III - O texto é expositivo, visto que apresenta informações sobre a falta de água na
sociedade de forma direta e objetiva.
É correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) III, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.
145
4
Tipos Textuais
e Gêneros
Discursivos/
Textuais nas
Práticas Sociais
Dr. Gelson Martins de Souza
Me. Valéria Adriana Maceis
Reflita: quando você estava no Ensino Médio, você produziu mais textos que
se enquadram nas tipologias textuais ou nos gêneros discursivos/textuais?
Quando cursei o Ensino Médio, eu produzi poucos gêneros discursivos/tex-
tuais no espaço escolar. Na verdade, recordo-me de produzir apenas a tipo-
logia dissertativa, visto que os vestibulares da região de Maringá, em que
morava, apenas exigiam, nos processos seletivos, o texto dissertativo. Faça
outra reflexão: os professores que ministram aulas para o Ensino Fundamen-
tal e Médio ensinam mais as tipologias ou os gêneros discursivos? Houve
mudanças em relação à produção dos textos escritos ou falados na escola?
Quero que você esteja consciente de que, como futuro(a) professor(a) de
Língua Portuguesa/Inglesa, deverá desenvolver um trabalho que aborde não
apenas os tipos textuais, mas também os gêneros discursivos/textuais. Quando
é analisado o contexto social dos anos de 1980, é perceptível que os diferentes
processos seletivos exigiam a escrita de tipos textuais, como a narração e a dis-
sertação. Quando são analisados os anos 2000, por exemplo, é perceptível que
uma infinidade de processos continua a exigir a escrita de um texto dissertativo.
Todavia, várias organizações já passaram a solicitar os gêneros discursivo/textuais
que circulam em nosso dia a dia.
148
UNICESUMAR
É válido enfatizar que, no Brasil, o estudo das teorias dos gêneros discursivos/
textuais se tornou mais pontual principalmente a partir de meados da década
de 1990, graças aos novos referenciais de língua/linguagem ditados pelos docu-
mentos norteadores, que defenderam que a unidade básica do ensino é o texto,
que deve ser analisado em consonância às naturezas temática, composicional e
estilística. Elas são pertencentes a este ou àquele gênero.
Desse modo, a perspectiva de gênero, constitutiva do texto, precisa ser pensada
como objeto de ensino. Nesse sentido, as atividades de ensino devem contemplar
uma diversidade de gêneros, considerando sua relevância social e os diferentes
gêneros que se materializam em nossas práticas sociais. Evidencia-se, assim, nos
documentos norteadores de língua portuguesa, que o texto deve se constituir
como a unidade de ensino e o gênero enquanto objeto de ensino, destacando as
particularidades dos gêneros tanto na leitura quanto na produção de texto.
Agora é com você! No curso de graduação, você produz diversos textos que
podem ser tipos textuais ou gêneros discursivos/textuais? Certo! Então, quero
saber: você produz mais tipos textuais ou gêneros? Outro aspecto: você entende
que os gêneros discursivos/textuais são apenas escritos ou orais? Quando você for
professor de Língua Portuguesa ou Língua Inglesa, você fará um trabalho com os
gêneros textuais apenas? As tipologias não devem ser trabalhadas na escola? Por
quê? Você entende que as tipologias se materializam nos gêneros textuais? Então,
quero que faça essas reflexões, levando em conta os seus conhecimentos sobre o
ensino de tipologias e gêneros dentro do espaço escolar e também os conceitos
teóricos descritos em documentos oficiais.
Sabendo que você se comunica de diversas formas, estabeleça as principais
formas de comunicação empregadas em suas práticas sociais. Será que essas for-
mas utilizadas por você serão as mesmas empregadas por seus futuros alunos?
Você ensinaria os gêneros discursivos que se materializam nas redes sociais a
seus alunos? Por quê? Os textos que você produz sempre são eficientes? Há fa-
lhas no seu processo comunicativo? Quero que pense sobre uma conversa pelo
Whatsapp, o seu interlocutor sempre consegue compreender integralmente o que
você deseja comunicar? Por que isso não se desenvolve? E você consegue sempre
entender o que o seu emissor deseja comunicar? Muitas vezes, eu tenho dúvidas
sobre o que as pessoas desejam me comunicar. Então, precisamos refletir sobre
o processo comunicativo, levando em consideração os aspectos de leitura, de
escrita, dos elementos de comunicação e das funções da linguagem.
149
UNIDADE 4
150
UNICESUMAR
DIÁRIO DE BORDO
151
UNIDADE 4
“
[...] fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos eles
são marcados pela especificidade de uma esfera de comunicação. Qual-
quer enunciado considerado isoladamente é, claro, individual, mas cada
esfera de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis
de enunciados, sendo isso que denominamos gêneros do discurso.
No Brasil, o estudo das teorias dos gêneros discursivos e textuais se tornou mais
pontual principalmente a partir de meados da década de 1990, devido aos novos
referenciais de língua/linguagem ditados pelos documentos norteadores, que
defendem que:
152
UNICESUMAR
“
[...] a unidade básica do ensino só pode ser o texto. Os textos orga-
nizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza temática,
composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes
a este ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva
do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. Nessa perspec-
tiva, é necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade
de textos e gêneros, e não apenas em função de sua relevância social,
mas também pelo fato de que textos pertencentes a diferentes gê-
neros são organizados de diferentes formas (BRASIL, 1997, p. 23).
153
UNIDADE 4
De acordo com Rodrigues (2005), a primeira dimensão pode ser entendida como
o objetivo do discurso. Já a segunda dimensão se relaciona à estrutura formal pro-
priamente dita, que, em alguns gêneros, segundo Bakhtin (1992), pode ser mais
padronizada, assim como é desenvolvida em documentos oficiais. O estilo, por
sua vez, está associado às questões individuais, às escolhas lexicais, às estruturas
sentenciais e às outras preferências de viés linguístico-gramatical.
Na concepção de Bakhtin (1997), nem todos os gêneros representam a indi-
vidualidade. O estudioso pontua que os gêneros literários são propícios a repre-
sentações mais subjetivas. Para Bakhtin (1997, p. 284), “o estilo é indissociavel-
mente vinculado a unidades temáticas determinadas e, o que é particularmente
importante a unidades composicionais: tipo de estruturação e de conclusão de
um todo, tipo de relação entre o locutor e os parceiros da comunicação verbal”.
Ao analisar essas dimensões, é necessário considerar as condições sócio-his-
tóricas (tempo e espaço) e o conjunto de participantes que estão envolvidos no
enunciado. Também é preciso observar que o enunciado não é neutro, dado que
revela as intenções dos participantes. Desse modo, os gêneros discursivos, sob
a perspectiva bakhtiniana, são práticas sociocomunicativas elaboradas histori-
camente e que são influenciadas por questões sociais e pelas situações comu-
nicativas em que se materializam. Para Bakhtin, só é possível se comunicar por
meio de gêneros. Isso significa que, no momento da interação, seja escrita, seja
oral, recorre-se a um gênero.
O gênero se organiza a partir de uma situação discursiva. Os participantes
estão envolvidos nessa situação e é denotada a vontade do enunciador, a intenção
do produtor textual. O gênero discursivo é determinado pela esfera discursiva e
154
UNICESUMAR
“
[...] encontra-se uma gama de gêneros que atende a um propósi-
to comunicativo que justifica sua veiculação. Porém, nem sempre
a questão de identificação de um gênero através de seu propósito
comunicativo é simples. Exemplos têm comprovado que se pode
criar uma fronteira nebulosa quando há uma fusão entre os gêneros,
quando esses assumem uma configuração híbrida, ou seja, quando
um gênero adquire a forma (ou objetivo) de outro gênero. Essa con-
figuração intergenérica (...) através da identificação dos traços lin-
guísticos pertinentes aos recursos utilizados em textos (...), em nível
macro e micro estrutural, quanto a sua composição argumentativa:
dimensão pragmática, esquemática global e linguística de superfície.
155
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
156
UNICESUMAR
que se faz e se diz por meio da língua[gem] é um produto da ação dos indivíduos
que se manifestam de um determinado lugar social, cultural e histórico.
Sobre essa distinção, uma das mais significativas é a proposta por Marcuschi
(2002). Para o estudioso, os tipos textuais se desenvolvem por meio de atos de locu-
ção, os quais são organizados de acordo com a situação sociocomunicativa e consi-
derando a ação e a reação dos envolvidos nesse processo. Werlich (1979) classifica
os tipos textuais em: descritivo, narrativo, expositivo, argumentativo e instrutivo.
Já os gêneros textuais se inserem em uma relação de interdependência com
as atividades humanas, constituindo um conjunto infinito de textos que são múl-
tiplos. Cabe lembrar que os gêneros se materializam em um período histórico,
social e cultural. Além disso, trazem uma infinidade de contribuições às lingua-
gens escrita e oral. Em geral, as manifestações verbais se efetivam em textos orais
ou escritos, que se enquadram nos gêneros textuais.
Bronckart (1999) faz uma retomada das teorias de Vygotsky e de Bakhtin sob
uma perspectiva diferente, ao adotar, como princípio, o interacionismo sociodis-
cursivo, no qual a linguagem é concebida a partir da diversidade e da comple-
xidade das diferentes práticas, o que demanda adaptações da linguagem e gera
uma gama expressiva de textos.
157
UNIDADE 4
Para Bronckart (2003, p. 72),“os textos são produtos da atividade humana e, como
tais, estão articulados às necessidades, aos interesses e às condições de funciona-
mento das formações sociais no seio das quais são produzidos”. Essa produção
ocasiona a ocorrência de textos de diferentes espécies, devido às várias situações,
que, em alguns casos, podem propiciar a ocorrência de textos similares que cons-
tituem os gêneros.
Tendo em vista que as produções de linguagem se relacionam diretamente
à atividade humana em geral, é significativo delimitar as ações de linguagem
na atividade coletiva. Bronckart (2003) defende que a ação de linguagem exige
a mobilização dos gêneros de textos. Devido aos aspectos variáveis do texto,
Brockart (2003) não considera os gêneros como o objeto de análise, mas o
texto. Para explicar a organização interna do texto, o estudioso faz uso da
metáfora do folhado textual.
Segundo Bronckart (2009), todo texto segue um princípio organizacional que
pode ser denominado de folhado textual. Ele é formado por três camadas super-
postas: a infraestrutura textual, os mecanismos textuais e os mecanismos enuncia-
tivos. Esses aspectos organizacionais são constatados no gênero textual editorial.
Na primeira camada, há a infraestrutura do texto, que é formada pelo plano
geral do texto, pelos tipos de discurso que se concretizam, pela modalidade de arti-
culação entre os diferentes discursos e pela sequencialização dos fatos apresentados.
Ao seguir os conceitos defendidos por Bronckart (2009), é evidente que o plano
geral de um texto explicita um conjunto
de informações que revelam o con-
teúdo temático, que é perceptível
por meio de uma leitura e pode ser
codificado em resumo. O discurso,
por sua vez, faz referência à refle-
xão do discurso teórico. Já
os modos de articulação e a
sequencialização são consti-
tuídos por uma abordagem de
cunho argumentativo, como
premissa, argumentos, contra-
-argumentos, dentre outros.
158
UNICESUMAR
159
UNIDADE 4
“
[...] fundem-se indissoluvelmente no todo do enunciado, e todos
eles são marcados pela especificidade de uma esfera de comunica-
ção. Qualquer enunciado considerado isoladamente é, claro, indi-
vidual, mas cada esfera de utilização da língua elabora seus tipos
relativamente estáveis de enunciados, sendo isso que denominamos
gêneros do discurso.
160
UNICESUMAR
Apesar de serem denominados “textuais”, esse nome se refere tanto aos gêneros
orais quanto aos escritos. Enfocaremos, entretanto, principalmente nos gêneros
escritos. Isso, porém, não impede que você, aluno(a), como futuro(a) docente,
trabalhe em sala a produção de textos orais.
Uma vez que há inúmeras esferas de comunicação e socialização humanas, há,
como consequência, o fato de que a variedade de gêneros do discurso é infinita.
Cada esfera da atividade humana se comporta como “um repertório de gêneros
do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria
esfera se desenvolve e fica mais complexa” (BAKHTIN, 1997, p. 279).
Além de serem infinitos, é interessante pensar o quanto os gêneros do dis-
curso são heterogêneos, incluindo, ao mesmo tempo, os textos (orais e escritos),
como: a réplica do diálogo cotidiano, o relato familiar, a carta, os documentos
oficiais, as declarações públicas, as cartas abertas, os artigos científicos, os textos
literários (em todas as variedades) etc.
Embora esses enunciados sejam extremamente diferentes entre si, de modo
que sequer imaginamos uma possibilidade de que eles sejam estudados a partir
de um ponto de vista comum, o que perdemos de vista é que, apesar de todos eles
diferirem muito, todos têm algo em comum: a natureza verbal (linguística).
Sendo assim, havendo algo que aproxima todos os gêneros discursivos, não
haveria a necessidade de desconsiderar a extrema heterogeneidade das possíveis
construções comunicativas humanas. Entretanto, segundo Bakhtin (1997, p. 281),
é importante levar em consideração “a diferença essencial existente entre o gênero
de discurso primário (simples) e o gênero de discurso secundário (complexo)”. Este
último englobaria os tipos de discursos originários de uma comunicação cultural
mais complexa, artística, científica e/ou sociopolítica, e corresponderia a alguns
discursos, como o romance, o teatro, o discurso científico e o discurso ideológico.
Os gêneros do discurso primário se originam de contextos mais cotidianos.
Eles têm uma relação mais imediata com a realidade e se estabelecem de forma
mais espontânea que os outros. Dentre eles, encontram-se a carta e a réplica do
diálogo cotidiano, por exemplo. Importa notar que essas estruturas se entrelaçam
e é comum encontrar traços ou elementos de um tipo de discurso (especialmente
do primário) no outro (secundário). Isso pode acontecer, por exemplo, quando
um autor insere uma estrutura de carta em um romance ou nos diálogos simu-
lados pelo autor para os personagens: a estrutura é a estrutura básica do diálogo,
mas a situação é imaginada pelo escritor.
161
UNIDADE 4
IMPLICAM SUPÕEM
PRIMÁRIOS SECUNDÁRIOS
PRIMÁRIOS SECUNDÁRIOS
162
UNICESUMAR
“
Durante minha graduação, aqui em Maringá, em uma das aulas de
produção textual, meu professor pediu para que todos os alunos
da turma (algo em torno de vinte alunos) preparassem um texto
sobre um assunto escolhido por ele. O detalhe é que todos os textos
deveriam ser entregues digitados, com uma mesma fonte e tamanho,
e sem identificação. Não me lembro exatamente qual era o assunto
que estudávamos à época, mas creio que fosse alguma questão de
estilística. E qual não foi a surpresa da turma quando, depois de
algum tempo, ele trouxe de volta todos os textos, com identificação.
E, mais do que isso, com todas as identificações corretas.
163
UNIDADE 4
Apesar de o estilo individual estar sempre presente, nem sempre ele entra na
intenção do enunciado. Em outras palavras, com exceção dos gêneros artísti-
co-literários, o estilo individual não serve às finalidades da maioria dos gêneros
discursivos, sendo, apenas, incidental.
Além do estilo individual, há outro estilo que incide sobre a produção de um
discurso: o estilo linguístico. Ele consiste no estilo socialmente aceito para um
determinado gênero de uma determinada esfera da comunicação humana. Ba-
khtin (1997, p. 284) afirma que “uma dada função (científica, técnica, ideológica,
oficial, cotidiana) e dadas condições, específicas para cada uma das esferas da
comunicação verbal, geram um dado gênero, ou seja, um dado tipo de enuncia-
do, relativamente estável do ponto de vista temático, composicional e estilístico”.
Quando fala sobre estabilidade composicional, Bakhtin (1997) está falando
de outro elemento de fundamental importância para que possamos classificar um
determinado discurso como um ou outro gênero. Isso, porque, embora maleabili-
dade em alguns deles, geralmente, cada gênero pressupõe um tipo de estruturação
e conclusão, isto é, um tipo de relação com o interlocutor/leitor ou discursos
ideológicos alheios, e um tipo de linguagem a ser usada, que pode ser coloquial,
técnico-científica, culta-padrão, oral, familiar, vulgar, chula, da gíria, dialetal etc.
As estruturas partícipes do processo de estruturação do gênero não são está-
veis. Aliás, nem os gêneros discursivos, nem a quantidade de gêneros discursivos,
nem a forma como eles se estruturam é estável. Tudo isso é indissociável das
mudanças históricas e, assim como já pontuamos, tecnológicas. Mesmo a língua
escrita, que nos parece, a partir de um primeiro olhar, muito mais rígida, também
é extremamente complexa e dinâmica, estando em contínua mudança.
Para acompanhar esse desenvolvimento histórico, é fundamental observar
os gêneros do discurso, especialmente os primários, pois, por refletirem imedia-
tamente as menores mudanças na vida social, será nesses gêneros que as novas
estruturas linguísticas serão longamente “testadas” antes de serem assumidas no
conjunto de padrões da língua.
A comunicação humana, assim como toda comunicação, é dialógica. Todo
enunciado pressupõe, no mínimo, um remetente e um destinatário, mesmo falando
sozinhos, já que, nesse caso, temos em nós mesmos os nossos destinatários. Quando
anotamos algo “para não nos esquecer”, o destinatário somos nós, em uma poste-
rior leitura. Quando rezamos, o destinatário é alguma entidade superior. Toda e
qualquer comunicação humana sai de alguém com o objetivo de chegar a alguém.
164
UNICESUMAR
165
UNIDADE 4
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UNICESUMAR
Romance
Gênero Secundário
Diálogo
Gênero Primário
Figura 1 – Ilustração dos gêneros primário e secundário / Fonte: adaptada de Pretti (2015).
Descrição da Imagem: há uma elipse grande. Nela, encontra-se o gênero romance, descrito como um
gênero secundário. Dentro da elipse maior, há outra elipse menor, com a presença do gênero diálogo,
utilizado com frequência em nossas práticas sociais, caracterizando-se como um gênero primário, devido
à perspectiva mais informal.
Assim, os enunciados produzidos dentro dos vários gêneros das ciências e das
artes, apesar de tudo o que os diferencie do diálogo, são também, por sua natu-
reza, unidades da comunicação verbal, igualmente delimitadas pela alternância
dos sujeitos falantes e o fato de que o remetente (autor da obra) manifesta sua
individualidade e visão do mundo, em cada uma das escolhas realizadas para a
produção de seu enunciado.
“
A obra, assim como a réplica do diálogo, visa à resposta do outro
(dos outros), uma compreensão responsiva ativa, e para tanto adota
todas as espécies de formas: busca exercer uma influência didática
sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação crítica, influir
sobre êmulos e continuadores, etc. A obra predetermina as posições
responsivas do outro nas complexas condições da comunicação
verbal de uma dada esfera cultural. A obra é um elo na cadeia da
167
UNIDADE 4
Assim, um enunciado é sempre uma resposta que manifesta uma relação não
apenas com o enunciado do outro, mas com todos os enunciados anteriores,
considerados em conjunto para a elaboração daquela resposta. A resposta varia de
acordo com o destinatário, que pode ser mais ou menos íntimo, amigo, inimigo,
subalterno ou superior etc. Além disso, o enunciado se altera de acordo com a
forma como o remetente percebe e imagina o destinatário.
O estudo dos gêneros de qualquer espécie é, portanto, um estudo comuni-
cacional. Estudar os diferentes textos produzidos pelo ser humano a partir da
perspectiva dos gêneros do discurso é analisá-los a partir daquilo que guardam de
comunicacional. Isso, porque um texto só existe na medida em que ele comunica.
É importante manter isso em mente ao trabalhar com o ensino de leitura e/ou pro-
dução de texto. O querer-dizer do remetente é aquilo que ele deseja transmitir. A
partir desse desejo, o remetente escolhe um gênero do discurso que seja adequado a
esse querer-dizer em função da temática, do destinatário enfocado, do objetivo etc.
Essa escolha raramente é feita conscientemente. Não paramos para pensar
“vou escolher escrever uma carta porque...” ou “neste momento, devo usar um
relato familiar”. Nossas próprias escolhas anteriores (temática, objetivo, destinatá-
rio) nos levam a, automática e organicamente, escolher o gênero específico (desde
que, sendo do tipo secundário, nós, como remetentes, tenhamos conhecimento
do gênero necessário). Em outras palavras, sabemos deles na prática, sem que
precisemos conhecê-los teoricamente. A partir dessa escolha, “o intuito discursi-
vo do locutor, sem que este renuncie à sua individualidade e à sua subjetividade,
adapta-se e ajusta-se ao gênero escolhido, compõe-se e desenvolve-se na forma do
gênero determinado” (BAKHTIN, 1997, p. 301). Diante disso, a individualidade
do falante molda o gênero ao próprio uso.
Os gêneros discursivos são aprendidos de forma tão orgânica. Da mesma
forma, a identificação de um enunciado como sendo de um, ou de outro gênero,
é bastante simples. Além do gênero, ao ouvirmos/lermos um texto, não demo-
ramos muito a pressentir a estrutura, os objetivos e a extensão dele. Em outras
168
UNICESUMAR
palavras, “desde o início, somos sensíveis ao todo discursivo, que, em seguida, [...]
evidenciará suas diferenciações” (BAKHTIN, 1997, p. 302).
Apesar dessa “organicidade”, é importante conhecer os gêneros para que o uso
e a compreensão deles sejam mais naturais. Nesse sentido, é comum que alguém,
ainda que domine bem a língua, sinta-se desamparado em certas esferas da co-
municação, não por não conhecer bem a língua, mas por não estar familiarizado
com o gênero em uso. Nesse sentido, Bakhtin (1997, p. 303-304) explica que:
“
[...] não é raro o homem que domina perfeitamente a fala numa es-
fera da comunicação cultural, sabe fazer uma explanação, travar uma
discussão científica, intervir a respeito de problemas sociais, calar-se
ou então intervir de uma maneira muito desajeitada numa conversa
social. Não é por causa de uma pobreza de vocabulário ou de estilo
(numa acepção abstrata), mas de uma inexperiência de dominar o
repertório dos gêneros da conversa social, de uma falta de conheci-
mento a respeito do que é o todo do enunciado, que o indivíduo fica
inapto para moldar com facilidade e prontidão sua fala e determina-
das formas estilísticas e composicionais; é por causa de uma inexpe-
riência de tomar a palavra no momento certo, de começar e terminar
no tempo correto (nesses gêneros, a composição é muito simples).
169
UNIDADE 4
Convencer o destinatário da
Estabelecimento de
validade de posicionamento do
premissas, de supor-
produtor diante de um objeto
ARGUMENTATIVA te-argumentativo, de
de discurso visto como con-
contra-argumentação
testável (pelo produtor e/ou
e de conclusão.
destinatário).
170
UNICESUMAR
Apresentação de
Fazer o destinatário agir de um situação-inicial, de
INJUNTIVA certo modo ou em uma deter- ações encadeadoras,
minada direção. de resolução e de
situação final.
171
UNIDADE 4
172
UNICESUMAR
liar o(a) aluno(a) a perceber a relação existente entre diversos textos produzidos,
ainda que essa relação não se dê de forma linear ou explícita.
O aprendizado dos gêneros auxilia o sujeito a utilizar a língua de modo varia-
do, produzindo diversos efeitos de sentido e adequando o discurso às diferentes
situações comunicacionais. Nesse aprendizado, não é possível enfocar unidades
básicas, como letras, fonemas, sílabas, palavras, sintagmas ou frases, pois eles,
descontextualizados, não levam o(a) aluno(a) a desenvolver a competência co-
municativa. Esses elementos só têm sentido quando em contexto, aplicados nos
gêneros que satisfazem às demandas sociais da atualidade.
Além disso, é interessante que os alunos tenham em mente a relação entre ora-
lidade e escrita no contexto dos gêneros. Eles precisam entender quando e como
são utilizados os elementos de cada um desses dois tipos. É, inclusive, importante
que os alunos saibam que há alguns gêneros, como a notícia, que são produzidos
de forma escrita, mas são recebidos pelos destinatários por meio da oralidade.
Perceber essas nuances da heterogeneidade dos gêneros ajuda o(a) discente a
diferenciar os gêneros e a entender quando cada um deles será mais apropriado.
Outra percepção importante é a adequação dos gêneros discursivos às normas
sociais de determinado local. Isso não é uma questão de etiqueta, trata-se de uma
adequação lógica às necessidades de uma dada situação, que considera:
■ A natureza da informação veiculada.
■ O nível de linguagem (formal, informal, culta, técnica etc.).
■ A situação em que o gênero se está (pública, privada, íntima, solene etc.).
■ A relação entre os participantes (conhecidos, desconhecidos, nível social,
formação acadêmica etc.).
■ Os objetivos das atividades.
173
UNIDADE 4
cordel) e a finalidade (entreter, informar), por exemplo. Com tantas variações, mesmo
que o(a) professor(a) desejasse explorar todos, isso seria impossível, de modo que a
solução seria selecionar aqueles que devem ser priorizados.
De acordo com os documentos norteadores de Língua Portuguesa, a ênfase deve
recair sobre os gêneros relacionados ao uso público da linguagem, com vistas a assegu-
rar ao aluno o exercício pleno da cidadania. A partir disso, seria interessante que a sele-
ção dos textos fosse feita com o objetivo de estimular a reflexão crítica, o exercício do
pensamento abstrato e elaborado, e a fruição estética dos usos artísticos da linguagem.
Em outras palavras, uma vez que o(a) aluno(a) está imerso na linguagem (e,
consequentemente, nos gêneros discursivos) o tempo todo, a tarefa da escola seria
facilitar o contato dele(a) com os gêneros importantes e com os quais têm pouco
contato cotidiano, tanto os artísticos quanto os de interesse político e social, por
exemplo. Trata-se daqueles com maior importância para uma participação plena
em uma sociedade letrada.
Nesse sentido, os documentos norteadores sugerem alguns gêneros específicos
para o trabalho em sala de aula. Eles são apresentados na tabela a seguir.
Conto;
Cordel, causos e Novela;
similares; Romance;
LITERÁRIOS LITERÁRIOS
Texto dramático; Crônica;
Canção. Poema;
Texto dramático.
Notícia;
Editorial;
Comentário
Artigo;
radiofônico;
Reportagem;
DE IMPRENSA Entrevista; DE IMPRENSA
Carta do leitor;
Debate;
Entrevista;
Depoimentos.
Charge;
Tirinha.
Quadro 4 - Gêneros privilegiados nas práticas escolares / Fonte: adaptado de Brasil (1997).
174
UNICESUMAR
Por que gêneros orais? Será que precisamos fazer que os alunos falem em sala
de aula? Mas eles já falam tanto! Sim, gêneros orais. Sim, precisamos colocar os
alunos para falar. E, sim, os alunos falam muito, mas não sabem falar de acordo
com as situações que enfrentarão fora da escola.
Ainda que cheguem à escola com grande domínio da atividade da fala e com
competência discursiva suficiente para se comunicar com os colegas em situações
cotidianas, os alunos não estão preparados para inúmeras situações sociais de
exercício da cidadania que enfrentarão fora dos muros da escola, como a busca
por serviços, as tarefas profissionais, os encontros institucionalizados, a defesa dos
próprios direitos e opiniões etc. Fora dos muros da escola, os alunos serão avalia-
dos e julgados a partir das capacidades comunicativas que têm. Eles poderão ser
aceitos ou discriminados de acordo com a capacidade de responder às diferentes
exigências da fala e de se adequar aos diferentes gêneros orais.
Assim, cabe à escola o ensino da utilização da linguagem oral para situações
públicas, realização de entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais
etc. Contudo, é importante que sejam propostas atividades didáticas que, de fato,
façam sentido e possam ser colocadas realmente em uso, pois, caso contrário, será
um treino vazio e, consequentemente, não haverá um real aprendizado.
A partir do treino com textos orais, é esperado, de acordo com os documen-
tos norteadores, que o aluno:
■ Desenvolva um conjunto de conhecimentos discursivos ao longo da vida
escolar.
■ Reconheça a contribuição dos elementos não verbais nas diferentes si-
tuações comunicativas.
■ Faça uso da linguagem escrita em diferentes contextos comunicativos.
■ Perceba as intenções comunicativas do produtor textual, podendo con-
cordar ou discordar das posições ideológicas que perpassam um deter-
minado discurso.
175
UNIDADE 4
176
UNICESUMAR
177
UNIDADE 4
– Seja receptivo aos textos que rompam com o universo de expectativas, por
meio de leituras desafiadoras para condição atual, apoiando-se em marcas
formais do próprio texto ou em orientações oferecidas pelo professor.
– Troque impressões com outros leitores a respeito dos textos
lidos, posicionando-se diante da crítica, tanto a partir do próprio
texto quanto a partir da prática enquanto leitor.
– Compreenda a leitura em suas diferentes dimensões (o dever de ler, a
necessidade de ler e o prazer de ler).
– Seja capaz de aderir ou recusar as posições ideológicas que reconhecer
nos textos que lê.
EXPLORANDO IDEIAS
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) concebe a leitura a partir de um sentido mais
abrangente. O documento faz referência não apenas ao texto escrito, mas também às
imagens estáticas, às imagens em movimento e aos sons (musicais), que acompanham
e ressignificam muitos gêneros discursivos. A seguir, são expostos estratégias e proce-
dimentos de leitura que podem contribuir em sala de aula para o processo de ensino/
aprendizagem.
• Estabelecer os objetivos da leitura.
• Relacionar os textos com os conhecimentos prévios, experiências, valores sociais
e crenças.
• Observar tanto as informações implícitas quanto as explícitas.
• Identificar os contextos linguísticos e semânticos em que os textos se materializam.
• Compreender os sentidos globais do texto.
• Reconhecer a temática que constitui o texto.
• Considerar as características do gênero e o suporte do texto.
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UNICESUMAR
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UNIDADE 4
– Periodização.
– Pontuação (ponto, vírgula, ponto-e-vírgula, dois-pontos, ponto de ex-
clamação, ponto de interrogação, reticências).
– Outros sinais gráficos (aspas, travessão, parênteses).
■ Na utilização de recursos gráficos orientadores da interpretação do in-
terlocutor, possíveis aos instrumentos empregados no registro do texto
(lápis, caneta, máquina de escrever, computador):
– Fonte (tipo de letra, estilo – negrito, itálico –, tamanho da letra, subli-
nhado, caixa alta, cor).
– Divisão em colunas.
– Caixa de texto.
– Marcadores de enumeração.
■ Na utilização dos padrões da escrita em função do projeto textual e das
condições de produção.
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UNIDADE 4
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UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Quando nós produzimos determinado gênero discursivo, escrito ou oral, quais são os
aspectos que devemos levar em consideração? O que dizer, a quem dizer e como dizer.
Assim, quero que pense em uma atividade escrita que pode ser proposta a uma turma
do primeiro ano do Ensino Médio. O intuito é estimular o desenvolvimento dos aspectos
relacionados às condições de produção.
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UNIDADE 4
Nesta unidade, objetivamos fazer uma exposição teórica sobre os tipos tex-
tuais e os gêneros discursivos, sanando as possíveis confusões existentes entre
essas duas categorias. Essas definições servem como base teórica para o traba-
lho do professor em sala de aula. Ainda que nos pareça óbvia, essa distinção
se faz significativa, pois, ainda hoje, podemos encontrar materiais didáticos
e professores que apresentam concepções distorcidas a respeito dos tipos tex-
tuais e gêneros discursivos/textuais.
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1. Leia o excerto a seguir:
a) Escolha um(a) autor(a) ou texto que poderia ser usado nesta atividade e justifique
a sua escolha apresentando dois argumentos.
b) Descreva a atividade a ser desenvolvida pelo professor, explicando as estratégias
adotadas para motivar, envolver e avaliar os estudantes.
3. Como aluno(a) do curso de Letras Português/Inglês, conte como tem sido a sua expe-
riência com os gêneros textuais/discursivos durante a graduação. Quero que registre
os gêneros que mais produz no seu dia a dia como acadêmico(a). Os professores
das outras disciplinas solicitam atividades que envolvem quais gêneros? Como você
se sente em relação à escrita dos textos argumentativos? Já fez a publicação de um
artigo científico em uma revista da área de Letras, Linguagem ou Educação?
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5
Estudo dos
Gêneros: Resumo,
Resenha e
Paráfrase
Dr. Gelson Martins de Souza
Me. Valéria Adriana Maceis
Quando comecei a organizar minha tese, em 2016, fiz a leitura de várias disser-
tações e teses que abordavam a mesma temática que desenvolveria em minha
pesquisa. Uma situação que chamou a minha atenção foi o fato de que alguns
trabalhos tinham parágrafos integralmente iguais a outros, ou seja, o pesquisador
que fez a pesquisa posterior realizou uma cópia literal do trabalho que foi publi-
cado primeiro. Isso pode? Não pode! Isso é considerado plágio! Quando vamos
realizar um trabalho científico, podemos parafrasear. Todavia, copiar não! Você
sabe o que é uma paráfrase? Se a sua resposta for não, você aprenderá ao decorrer
desta unidade. Continue a leitura!
Quando ingressei no curso de graduação em Letras-Português, em 2002, não
sabia diferenciar resumo, paráfrase e resenha. No período em que cursei o Ensino
Médio, as aulas de Língua Portuguesa estavam voltadas ao ensino e à aprendiza-
gem das tipologias textuais, ou seja, a focalização era a produção da dissertação
e da narrativa, tendo em vista que eram esses os textos que eram cobrados nos
vestibulares da região de Maringá.
Consequentemente, ao entrar no curso superior, eu particularmente não sabia
fazer um resumo, uma paráfrase e uma resenha. Na verdade, penso que nunca
tinha ouvido esses termos na vida. O primeiro texto que elaborei foi um resumo.
Eu não sabia que resumo acadêmico, por exemplo, deveria ser organizado em
apenas um parágrafo. Tive bastante dificuldade, porém, ao longo do primeiro
ano do curso de Letras, produzi uma dezena de resumos e o gênero se tornou
corriqueiro em minha vida acadêmica.
O gênero paráfrase foi o segundo que tive contato. Eu pensava que era neces-
sário apenas alterar alguns conectivos que o texto estava pronto. Descobri que
precisava refletir sobre as informações que foram transmitidas no texto original
e que necessitava reproduzir as ideias do autor com as minhas palavras, mas que
não havia a necessidade de uma redução na extensão textual, assim como nor-
malmente se realiza no resumo.
Depois do contato com esses gêneros, tive que fazer várias resenhas. A minha
professora gostava que fizéssemos a resenha crítica, pois nos dizia que desejava muito
mais do que as informações que estavam dispostas no texto original (porque essas,
ela já sabia). Ela desejava que nós nos posicionássemos sobre o que tínhamos lido.
Agora, quero saber: qual é o gênero que você já conhece na essência?
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UNICESUMAR
Querido(a) aluno(a) você já fez um resumo, uma paráfrase e/ou resenha este
ano? Espero que você já tenha realizado, pelo menos, uma das três atividades, tendo
em vista que os três gêneros discursivos fazem parte das nossas práticas acadêmicas.
Você faz resumo em suas práticas sociais? Quais são os textos podem ser re-
sumidos? Artigos científicos, dissertações, teses, livros, filmes, séries, telenovelas?
Você terá que ensinar resumo aos seus alunos, quando estiver ministrando as aulas
de Língua Portuguesa? Sim! Agora, desejo que você escolha um livro que já leu
integralmente e faça um resumo. Você não pode se esquecer de citar o nome do
livro, o nome do autor, o espaço de divulgação e as informações centrais da obra, de
forma que eu e outros leitores possamos nos interessar em lê-la. Agora, é com você!
Quero que faça algumas reflexões: o resumo tem parágrafo? Paráfrase pode
copiar fragmentos integrais do texto de apoio, sem fazer alterações lexicais? Re-
senha pode ter opinião? Você já pesquisou sobre os três gêneros? Quais desses
gêneros você já produziu ao longo de sua vida estudantil? Você sabe escrevê-los?
Se você fosse convocado para ministrar uma aula sobre um desses três gêneros,
qual escolheria? Por que fez essa escolha? Reflita sobre os três gêneros!
DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 5
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Para Lima (1994, p. 35), “espera-se que o resumo seja um texto modificado
pela retirada de palavras e/ou segmentos verbais, comprovando-se a compreen-
são do texto lido por quem o fez, e criando-se, nos outros leitores, o desejo de
buscar a fonte para que possa usufruí-la em sua singularidade”. Os resumos, nor-
malmente, são utilizados em duas situações: como estratégia pessoal de estudo
por parte de alunos em geral ou como avaliação da compreensão de um texto
indicado por um professor, desde o Ensino Fundamental até o Ensino Superior.
Lima (1994) propõe uma divisão para os resumos. A autora os classifica em
esquemáticos e não esquemáticos. Os primeiros se referem àqueles constituídos
por tópicos onde são identificados, dentre os elementos ou as unidades, relações
de coordenação. Nos resumos considerados esquemáticos, a apresentação dos
conteúdos pode ser realizada em forma diagramática, alfabética, numérica ou
alfanumérica. Sumários, esquemas, esboços, planos ou roteiros são exemplos
de resumos esquemáticos. No que tange aos resumos não esquemáticos, para
Lima (1994), eles correspondem aos resumos mais difíceis de se elaborar. Eles
apresentam os pontos mais relevantes de um texto. Nesse grupo de resumos, en-
contram-se a sinopse, a síntese e o gênero de maior interesse para nós: o resumo
escolar/acadêmico.
Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004) proferem alguns apontamentos
relevantes para serem levados em consideração antes de se ler, resumir ou se
produzir qualquer texto. Observe-os no quadro a seguir.
Todo o texto tem um autor que teve um objetivo para a escrita daquele
texto.
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UNIDADE 5
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UNIDADE 5
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NOVAS DESCOBERTAS
Caro(a) aluno(a), assista ao vídeo indicado. Ele trata das principais caracterís-
ticas do resumo acadêmico, discutindo os aspectos relacionados aos objeti-
vos geral e específicos, aos resultados e às citações, por exemplo.
Agora, prossiga com a sua leitura! Conheceremos um pouco mais a resenha. Você
sabe qual é a diferença entre o resumo e a resenha? O resumo sumariza e apresenta
as informações essenciais de determinado texto. A resenha também apresenta essas
informações, mas, além disso, o último gênero expõe comentários e opiniões pro-
feridas pelo próprio autor da resenha a respeito do conteúdo do texto resenhado.
É importante lembrar que ainda há muitas divergências, entre os estudiosos, em
relação à classificação e à definição de resenha. Defendemos que, ela é, na verdade,
uma espécie de resumo crítico, porque ela também sintetiza e reúne as informações
195
UNIDADE 5
centrais de um texto, tal qual o resumo, mas se diferencia dele por apresentar avalia-
ções e ponderações pessoais do responsável pela resenha. Nem todos os estudiosos
compartilham dessa mesma opinião ao definirem a resenha. Portanto, é possível,
caro(a) aluno(a), que você se depare, em algum momento, com textos como aqueles
que são aqui entendidos como resenha, mas publicados com outro nome.
Em se tratando especificamente do gênero resenha escolar/acadêmica, Ma-
chado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004) ressaltam que, quando estamos escre-
vendo uma resenha, não podemos nos esquecer de que o destinatário dela será
o nosso professor, leitor que, certamente, conhece o texto-objeto da resenha.
“Portanto, ele avaliará não só sua leitura da obra, através do resumo que faz par-
te da resenha, mas também sua capacidade de opinar sobre ela” (MACHADO;
LOUSADA; ABREU-TARDELLI, 2004, p. 31).
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UNICESUMAR
RREEVV
açaç
otot
rr
Autoto
o oe e Au
ulul
TítTít
es
açõ
texto espera encontrar? Sobre o que você acha que o texto trata?
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UNIDADE 5
Depois de ter feito o seu diário de leitura, você pode confirmar se compreendeu
bem o texto a ser resenhado, ao avaliar, dentre outros aspectos: se o autor domina,
de fato, o assunto tratado no texto; se o texto está adequado ao público para o qual
se destina; quais são os objetivos do autor do texto e se ele conseguiu atingi-los;
se o autor permanece firme na posição que defende ou se acaba se contradizendo
ao longo do texto.
A partir de então, você partirá para a escrita, de fato, da sua versão final da
resenha. Neste momento, é válido lembrar que, assim como no resumo, na rese-
nha, precisamos fazer uso de organizadores textuais, ou seja, de conectivos, que
são importantes elementos de coesão no texto. Esses conectivos, quando bem
utilizados, além garantirem a organização das palavras e das frases, guiam o leitor
e estabelecem relações entre as ideias, os parágrafos e os períodos que compõem a
produção escrita. Toda a “ajuda” que os organizadores textuais dão ao texto torna
a resenha mais clara e coerente para o leitor.
Assim como já foi afirmado, um recurso característico das resenhas são as
afirmações e os pareceres pessoais do “resenhista”. Em relação ao tema, Machado,
Lousada e Abreu-Tardelli (2004, p. 53) acrescentam que:
“
Quando se faz uma resenha sobre a obra de alguém, é importante
seguir algumas regras de polidez, para evitar agredir o autor da obra
resenhada. Para tanto, podemos usar vários recursos linguísticos.
Dentre eles, temos: 1) o uso de expressões que atenuam as opiniões,
como: “parece-me”; 2) o uso de alguns tempos verbais que também
têm a função de atenuar o que está sendo dito, como: futuro do
pretérito; 3) o uso de adjetivos, substantivos e mesmo advérbios
para expressar a opinião do resenhista.
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Nível 2: predicação
Nível 3: proposição
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Ao tratar dos satélites, Pezatti passa ao segundo tópico de seu artigo “Uma
tipologia de satélites”. Atesta que eles podem ser considerados opcionais, como
já definido acima, porque podem ser retirados sem afetar a gramaticalidade da
sentença; e lexicais porque se opõem a categorias gramaticais tais como tem-
po, modo e aspecto. São ainda portadores de informação adicional, porque a
informação principal pertencente a uma camada particular está contida na
estrutura à qual o satélite é acrescentado. Segundo a autora, essa estrutura em
camadas dispõe de diversas unidades funcionais às quais satélites podem estar
ligados, tendo tais camadas, portanto, quatro tipos de satélite. E, após descrever
cada um destes tipos de satélite, Pezatti informa ao leitor que aqueles que mais
interessarão para o seu estudo são os satélites de Proposição denominados sa-
télites de nível 3, os quais ela expõe com maiores detalhes no tópico seguinte
de seu artigo: “Satélites de Proposição”.
A autora explica, nesse tópico, que esses satélites de proposição represen-
tam os mecanismos lexicais por meio dos quais o falante avalia (parte de) o
conteúdo proposicional que ele apresenta em um ato-de-fala. Podem, então,
estar condicionados à atitude proposicional (satélites Atitudinais) ou à vali-
dade da proposição (satélites Fonte, Evidência, Motivação).
O satélite Atitudinal (At), dependendo da parte da proposição com que
se relaciona, pode ser classificado em satélite Atitudinal (a) orientado para o
conteúdo, satélite atitudinal (b) orientado para o evento e satélite atitudinal
(c) orientado para o participante.
Pezatti faz uma boa exemplificação e exposição de cada um destes satélites
atitudinais, bem como daqueles que se referem à validade da proposição, são
eles: Fonte (Fo) – que especifica uma terceira parte apresentada como sendo
responsável pela informação contida no conteúdo proposicional; Evidência
(Evi) - o qual especifica um EsCo cuja ocorrência fornece a evidência em que
se baseia o conteúdo proposicional; Motivação (Mot) que vem a especificar
um fato que dá suporte a outro fato representado pelo conteúdo proposicio-
nal no ato-de-fala.
Quanto à posição dos satélites Proposição de um modo geral, a autora tece
uma afirmação importante: eles manifestam preferência por colocar-se em
posição inicial e são, geralmente, marcados com relação ao restante da oração
por inflexões prosódicas, que sugerem serem eles menos integrados à oração.
203
UNIDADE 5
A seguir, a autora debruça-se sobre o satélite o qual ressalta ser o que mais
se interessa em investigar neste estudo: o satélite proposicional Fonte. Do
corpus selecionado foram extraídas e analisadas 53 ocorrências, de acordo
com a forma de expressão, a posição que ocupa na oração, a complexidade
estrutural, o traço {+/-} humano e a definitude.
Ao tratar especificamente dos aspectos gramaticais do satélite Fonte, no
tópico de nome homônimo, a autora já apresenta os resultados obtidos com
a pesquisa. Ela confirma a estrutura deste satélite, o qual, segundo a autora,
vem sempre marcado por um sintagma nominal, exposto mediante prepo-
sições como “para”, “segundo” e a locução prepositiva “de acordo com”, sendo
“segundo” a preposição mais usada para introduzir o satélite Fonte, seguida
por “para” e só depois por “de acordo com”. Ainda com relação à estrutura
deste satélite, a autora verificou que a constante presença da vírgula na escrita
é feita a fim de destacá-lo, já que, no que se refere à fala, quando um satélite
Fonte é usado, há uma inflexão prosódica diferente, que deve ser marcada na
escrita e, neste caso, por meio da vírgula.
Utilizando-se de tabelas e fundamentação calcada na Gramática Funcional,
Pezatti traz informações acerca da ordem e posição do satélite Fonte em um
enunciado. Ela afirma que a ordem dos constituintes serve como um dos meios
pelos quais relações e funções da estrutura subjacente podem ser formalmente
expressas.
Acreditamos, assim como evidenciado pelos resultados da pesquisa da
autora, que não há rigidez nas escolhas de ordenação, isto é, a colocação dos
satélites pode ocorrer em posição inicial, intercalada e final. Os resultados
obtidos demonstram que a grande maioria dos usos de satélite Fonte é feita
no início da oração, ou seja, em posição inicial, precedendo toda a predicação
estendida. Entendemos que a posição do satélite Fonte está relacionada à
quantidade de informações passadas ao leitor; ao que é dado e ao que é novo
ao leitor. E que, quando a posição apresentada é a intercalada, parece haver
uma motivação pela mudança de sujeitos e enumeração de causas e pelo uso
dos verbos no futuro do pretérito.
A autora destaca ainda dois princípios relacionados a esta posição do
satélite Fonte: Princípio de Ordenação Icônica – quando o conteúdo da ex-
pressão linguística reflete iconicamente o conteúdo semântico da expressão
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205
UNIDADE 5
seu trabalho, antes das considerações finais, o tópico: “Implicações para uma
Gramática Funcional do Discurso”.
Nesse tópico, a autora expôs o que Dik (1997) postula acerca da Gramáti-
ca Funcional do Discurso, a qual o estudioso holandês acredita que deva ver
o discurso sob três perspectivas, diferentes, mas complementares: da perspec-
tiva de sua construção, de sua organização e de sua coerência. A seguir, após
tecer explicações acerca de cada uma destas perspectivas, a autora dá destaque
à primeira delas, que se relaciona às decisões que o falante toma para construir
seu discurso. Tais decisões discursivas tomam o discurso inteiro (ou parte
dele) como escopo. No caso específico da atuação do satélite Fonte, observa-se
que o propósito comunicativo é determinante para a correta interpretação
do discurso como um todo.
Analisando diversos gêneros discursivos em que o satélite Fonte pode
ser empregado, com sua pesquisa, Pezatti verificou que o gênero que mais
permite a voz do outro é notícia, já que, ao veicular uma notícia, o autor do
texto tenta mostrar o máximo de veracidade do conteúdo, apoiando-se em
opinião alheia.
Em suas considerações finais, a autora retoma conceitos e resultados já
relatados aqui, os quais foram obtidos por meio de sua pesquisa. Ela enfatiza
que o satélite Fonte denota a origem/fonte da informação contida na propo-
sição; introduz, portanto, uma segunda voz no discurso, evidenciando, assim,
a avaliação do falante sobre a validade da proposição com base no que ele
ouviu de outrem.
Por fim, consideramos de grande valia a leitura e compreensão deste texto
de Pezatti, sobretudo, para os pesquisadores funcionalistas que se interessam
pelo estudo do comprometimento ou descomprometimento do falante com
a verdade da proposição.
Com a leitura desta resenha, podemos verificar que, no começo do texto,
o leitor já encontra informações que o situam e ajudam-no a entender o que
lê. São apontamentos referentes ao conteúdo da resenha, detalhando o que o
texto resenhado apresenta.
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UNIDADE 5
PENSANDO JUNTOS
208
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A paráfrase não pode ser confundida com a paródia. Ambas são modos de
intertextualidade, mas se referem a conceitos diferentes. A primeira condensa,
reforça o texto original e mantém o sentido. Já a paródia o desloca, deforma-o,
inverte o sentido do texto-fonte. Na paráfrase, temos um desvio mínimo do texto
original; na paródia, temos um desvio total. Apesar de serem conceitos diferentes,
tanto a paráfrase quanto a paródia, por serem intertextuais, dependem do recep-
tor para que possam ser compreendidas. Em geral, o leitor precisa dispor de um
repertório ou memória cultural e literária para perceber os textos superpostos
nas paráfrases e nas paródias.
Sant’Anna (2008) afirma que, atualmente, a linguística tem aproximado a
paráfrase da tradução. Baseando-se em Ducrot (1974), o autor acredita que “a
compreensão de uma língua supõe que se possa fazer corresponder a cada enun-
ciado outros enunciados desta mesma língua considerados sinônimos e seman-
ticamente equivalentes (ao menos em certos pontos de vista): induzi-los para a
mesma língua em que estão formulados” (SANT’ANNA, 2008, p. 20).
Adentrando um campo mais filosófico, Sant’Anna (2008) também destaca que a
paráfrase é usada como um instrumento de divulgação na ciência, na arte e na religião.
No que se refere à ciência, para o autor, a paráfrase é usada como recurso formal, que
esclarece afirmações e fórmulas. Já na arte e na religião, é utilizada para a propagação
de valores ou para a conservação da vigência ideológica de uma linguagem.
209
UNIDADE 5
Frase original:
“A confiança é como um cristal: depois que se quebra jamais vai ter o mesmo
valor que possuía antes de ser quebrado”.
(Ana Flávia)
Paráfrase:
“Tanto a confiança quanto o cristal, após quebrados, nunca mais consegui-
rão ter valor igual ao que tinham antes”.
210
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MATOS, G. de. Poemas escolhidos. São Paulo: Companhia das Letras, 2010. p. 24.
Paráfrase:
Triste Bahia, quão diferente estamos de nosso estado antigo. Hoje te vejo pobre e
tu me vês empenhado, mas já te vi rica e tu me viste abundante. O que te empobre-
ceu foram os navios comerciais que têm entrado em tua barra; o que me fez pobre
foram os negócios e os negociantes. Trocaste muito açúcar de alta qualidade pelas
drogas inúteis que, presunçosa (metida), aceitas do esperto estrangeiro. Quisera
Deus que um dia amanhecesses tão sensata, que o teu capote fosse de algodão.
Esses exemplos nos mostram que, na reescrita, muitas palavras são alteradas, mas
o sentido continua o mesmo, tanto no caso da frase quanto no caso do soneto.
Em relação aos recursos linguísticos citados, os quais auxiliam na realização da
paráfrase, é preciso ter cuidado com a inversão de ordem dos elementos da ora-
ção, pois, muitas vezes, essa mudança de posição altera o sentido de uma frase
ou de um texto. Observe os exemplos a seguir:
O homem pobre acabou de sair (trata-se de um homem sem dinheiro; alguém
que passa por dificuldades financeiras).
O pobre homem acabou de sair (trata-se de um homem que está passando
por alguma dificuldade, não necessariamente financeira. Ele pode estar doente,
ter perdido um ente querido, ter sido roubado etc.).
Nesses exemplos, fica claro que a posição do adjetivo “pobre” altera o sentido
da frase, exigindo, com isso, bastante atenção do produtor da paráfrase ao utilizar
vocábulos como aqueles no texto. A pontuação também é algo que requer cuida-
dos ao se escrever uma paráfrase. Verifique os exemplos a seguir.
A professora deixou a sala animada.
A professora deixou a sala, animada.
Observamos que, nos casos apresentados, a vírgula altera todo o sentido do
período em questão. Na primeira oração, quem está animada é a sala, enquanto,
na segunda, a vírgula informa ao leitor que o adjetivo “animada” está se referindo
à professora, ou seja, é a professora que está animada.
211
UNIDADE 5
Texto original:
“Os cidadãos da comunidade cívica não têm que ser altruístas. Mas, na comu-
nidade cívica, os cidadãos buscam o que Tocqueville chamava de ‘interesse pró-
prio corretamente entendido’, isto é, o interesse próprio definido no contexto das
necessidades públicas gerais, o interesse próprio que é ‘esclarecido’ e não ‘míope’, o
interesse próprio que é sensível ao interesse dos outros” (PUTNAM, 1996, p. 102).
Plágio:
Conforme venho argumentando, os cidadãos da comunidade cívica não pre-
cisam ser propriamente altruístas, mas eles devem procurar o que Tocqueville, em
seu livro A Democracia na América, denominava “interesse próprio corretamente
entendido”, ou seja, o interesse próprio definido no contexto das necessidades
públicas gerais, o interesse próprio que é sensível aos interesses dos outros.
212
UNICESUMAR
Aquino (2001), houve uma paráfrase “malsucedida”. Note que não há qualquer
indicação de fonte e, por intermédio do segmento “Conforme venho argumen-
tando [...]”, o plagiador parece querer reforçar ao leitor que as ideias seguintes são
dele, quando, na verdade, não o são.
Para Aquino (2001), o trecho poderia não ser considerado plágio se o autor
tivesse mencionado a fonte e colocado as aspas corretamente. Para concluirmos
os nossos estudos, exporemos algumas considerações exigidas na produção de
uma paráfrase coerente. Elas te ajudarão no momento em que você precisar re-
criar um texto. Ao parafrasear um texto, devemos:
213
UNIDADE 5
EXPLORANDO IDEIAS
214
1. Leia o texto a seguir:
BOSI, Alfredo. Literatura e resistência. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. In:
Cap. 10: A escrita do testemunho em Memórias do Cárcere.
Cassildo Souza
No texto, o narrador das Memórias parece não ser analisado não como um revolu-
cionário que discute as ideologias do país (segundo o próprio capítulo alude), mas
como um indivíduo que, em detrimento a uma interpretação sistematizada e articu-
lada das ideias que o levaram à ruína, apenas observa surpreso as situações. Não há
preocupações mais críticas ou que o levem a pormenorizar todo o tipo de questão.
O ensaio de Bosi chama a atenção para que, a despeito de coisas negativas que
são referidas, o narrador de Memórias do Cárcere não transcende o limite da com-
preensão desses mesmos aspectos negativos, inclusive pelo desinteresse observado
quanto ao Partido Comunista. O Capítulo 10 grita para o caráter problemático do
narrador e o compara com outra obra de Graciliano Ramos, São Bernardo. Chama
ainda a atenção para o fato de que As memórias são mais uma autoanálise que não
se usa da percepção apurada e do espírito lúcido para fazer relações, ocorrendo
interrupções na possibilidade dessas conexões.
215
próprias versões como das alheias, e a pergunta, como reflexão, persegue o longo
das memórias expostas pelo narrador. No ensaio do literato, a intenção principal é
focar-se no texto de Graciliano Ramos como sendo um testemunho de situação vivida
que é contada de forma mais fidedigna possível.
Assim, pode-se dizer que a tônica da análise é que a literatura de Graciliano, nas
Memórias do Cárcere tem um cunho menos ideológico e mais realista, sem perder
a consciência do que se passa, mas também, sem ultrapassar muito as barreiras
daquilo que aconteceu e, nessa trajetória, altos e baixos são visíveis, mas nada que
contradiga o sentido próprio de testemunhar, de descrever as lembranças de alguém
que se viu num ambiente peculiar e de repercussão considerável em sua vida.
SOUZA, C. Na ponta dos dedos e na ponta da língua. Central das Letras, 9 mar.
2011. Disponível em: https://centraldasletras.blogspot.com/2011/03/modelo-de-re-
senha-critica.html. Acesso em: 23 maio 2022.
Agora, explique, em até 10 linhas, com base nas informações estudadas nesta uni-
dade, se o texto pode ser considerado um resumo ou uma resenha.
216
sidade Estadual de Maringá, Maringá, 2019.
A partir da leitura do texto apresentado, realize uma paráfrase com base nas carac-
terísticas do gênero em questão.
“Um novo caminho científico é construído todos os dias em nossa sociedade, bus-
cando negar as teorias linguísticas que defendiam visões unificadas e diferentes
acerca de um objeto e que apresentavam esses conceitos como o mais coerente.
Diante de um número significativo de falhas que se configuram devido aos fenôme-
nos linguísticos, pode-se afirmar que não há uma teoria linguística unificada, mas,
sim, uma teoria que conta as contribuições outras teorias pertencem a diferentes
áreas do conhecimento.
O CLG aborda dois fatores significativos, a língua é concebida como objeto de estudo
da Linguística e tal estudo é abordado sob uma perspectiva sincrônica. Na primeira
dicotomia, Saussure defende o conceito de que a língua é constituída de um sis-
tema de signos - formada de significante e significado -, podendo ser considerada
como fruto de uma convenção social, dessa forma, homogênea, coletiva, imutável
e exterior ao indivíduo. Para o teórico em questão, essa exterioridade se dá devido
a não organização lógica da língua, para ele a língua é um sistema transmitido por
217
gerações em que o falante/sujeito não tem plena consciência dos aspectos linguís-
ticos empregados.
A fala, por sua vez, configura-se como heterogênea e assistemática, pois está centrada
no uso individual pelos falantes. Embora a fala tenha sido excluída dos Estudos da
Linguagem, é possível se constatar a interdependência existente entre língua e fala,
pois esta é responsável pelas mudanças na língua, pois ao ouvir um aos outros os
falantes modificam seus hábitos linguísticos, desenvolvendo, assim, a linguagem em
uso. Saussure reafirma a distinção entre língua e fala, demonstrando que é neces-
sário estudos diversificados”.
218
UNIDADE 1
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222
UNIDADE 4
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Editorial, 2005. p. 184-207.
223
UNIDADE 5
SANT’ANNA, A. R. Paródia, paráfrase & CIA. 8. ed. São Paulo: Ática, 2008.
224
UNIDADE 1
1. Espera-se que o(a) futuro(a) professor(a) informe aos alunos que há uma infinidade
de textos que circulam em nossas práticas sociais e que, de maneira efetiva, as pes-
soas comunicam os discursos por meio dos distintos gêneros discursivos. Também
é vislumbrado que o graduando do curso de Letras/Inglês traga exemplos de textos
que façam parte das práticas sociais dos alunos, tais como mensagens de WhatsApp,
comentários do Twitter, notícias etc.
3. E.
4. C.
UNIDADE 2
225
res de textualidade no texto escolhido e a justificativa do trabalho a ser desenvolvido.
UNIDADE 3
226
b) O(a) estudante do curso de Letras Português/Inglês deve destacar que é importante
que os alunos sejam expostos às práticas voltadas ao processo de leitura e de escrita de
diferentes gêneros textuais que circulam nas práticas sociais. Também é recomendado
que o(a) graduando(a) defenda que o ensino de gramática deve ser contextualizado.
3. C .
O texto é um artigo de opinião. Nele, a deputada Renata Souza argumenta sobre a temática,
a fim de convencer o leitor a concordar com o posicionamento dela sobre a falta de água.
UNIDADE 4
1. a) O(a) aluno(a) tem a liberdade de escolher o próprio objeto de trabalho. Por exemplo,
eu, como aluno, posso escolher o conto “O Cururu”, de Jorge de Lima. Depois da escolha, é
necessário justificá-la. Por exemplo, posso dizer que escolhi o texto “O Cururu”, dado que
o texto trabalha com o tema central: “o fascínio pode conduzir o indivíduo ao fracasso”.
b) O(a) estudante pode escolher a atividade que desejar, desde que consiga propor estratégias
de realização da atividade. É necessário explicar a maneira como avaliará os futuros alunos.
227
2. O(a) aluno(a) deve demonstrar que as pessoas, durante as práticas comunicativas, sejam
orais, sejam escritas, constroem a comunicação por meio dos gêneros textuais/discur-
sivos. Além disso, precisa enfatizar que os documentos oficiais que regem o ensino de
Língua Portuguesa no Brasil, por exemplo, os documentos norteadores, sustentam que
o processo de ensino e aprendizagem de língua se manifesta nos gêneros.
UNIDADE 5
1. O texto é uma resenha crítica. Além dos aspectos centrais da obra, em várias situações,
o produtor textual realiza uma avaliação do texto, quando afirma que Bosi “chama a
atenção” a despeito das coisas negativas que são referidas ao longo da obra. Outra
porção que evidencia esse fato é quando pontua que “Memórias do Cárcere” tem um
cunho menos ideológico e mais realista.
2. Há liberdade de organização do texto, desde que não faça cópias literais do texto
original e apenas alterações relacionadas ao uso de conectivos. O objetivo é expressar
as ideias do autor do texto original, mas com as próprias palavras.
3. Há liberdade de organização do texto, desde que não faça cópias literais do texto original.
228