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LOGÍSTICA

REVERSA

PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

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O SEU LIVRO
NA VERSÃO
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EXPEDIENTE

DIREÇÃO UNICESUMAR
Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de
Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de Ensino
de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação
Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional Paula Renata dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de
Metodologias Ativas Thuinie Medeiros Vilela Daros Head de Tecnologia e Planejamento Educacional Tania C.
Yoshie Fukushima Gerência de Planejamento e Design Educacional Jislaine Cristina da Silva Gerência de
Tecnologia Educacional Marcio Alexandre Wecker Gerência de Produção Digital Diogo Ribeiro Garcia Gerência de
Projetos Especiais Edison Rodrigo Valim Supervisora de Produção Digital Daniele Correia

FICHA CATALOGRÁFICA
Coordenador(a) de Conteúdo
Silvio Silvestre Barczsz
Projeto Gráfico e Capa
Arthur Cantareli, Jhonny Coelho C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.
e Thayla Guimarães Núcleo de Educação a Distância. PARDO, Paulo.

Editoração LOGÍSTICA REVERSA.


Lavígnia da Silva Santos Paulo Pardo.
Maringá - PR.: UniCesumar, 2021.
Design Educacional
200 p.
Patrícia Ramos Peteck
“Graduação - EaD”.
Revisão Textual
1. Logística 2. Reversa 3. Sustentabilidade. EaD. I. Título.
Cindy Mayumi Okamoto Luca
Ilustração
Andre Luis Azevedo da Silva
Fotos
Shutterstock CDD - 22 ed. 658.78
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Impresso por:
ISBN 978-65-5615-465-7

Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
BOAS-VINDAS

A UniCesumar celebra os seus 30 anos de história


avançando a cada dia. Agora, enquanto Universida-
de, ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos Tudo isso para honrarmos a nossa missão,

diariamente para que nossa educação à distância que é promover a educação de qualidade

continue como uma das melhores do Brasil. Atua- nas diferentes áreas do conhecimento,

mos sobre quatro pilares que consolidam a visão formando profissionais cidadãos que

abrangente do que é o conhecimento para nós: o in- contribuam para o desenvolvimento de

telectual, o profissional, o emocional e o espiritual. uma sociedade justa e solidária.

A nossa missão é a de “Promover a educação de


qualidade nas diferentes áreas do conhecimento,
formando profissionais cidadãos que contribuam
para o desenvolvimento de uma sociedade justa
e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um
gênio importante para o cumprimento integral
desta missão: o coletivo. São os nossos professo-
res e equipe que produzem a cada dia uma inova-
ção, uma transformação na forma de pensar e de
aprender. É assim que fazemos juntos um novo
conhecimento diariamente.

São mais de 800 títulos de livros didáticos como


este produzidos anualmente, com a distribuição
de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamen-
te para nossos acadêmicos. Estamos presentes
em mais de 700 polos EAD e cinco campi: Marin-
gá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Corumbá),
o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos
educacionais do país.

Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima


história da jornada do conhecimento. Mário Quin-
tana diz que “Livros não mudam o mundo, quem
muda o mundo são as pessoas. Os livros só mu-
dam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportunidade
de fazer a sua mudança!

Reitor
Wilson de Matos Silva
TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

Me. Paulo Pardo


Doutorando em Engenharia da Produção pela Universidade Metodista de Piraci-
caba (UNIMEP). Mestre em Administração pela Universidade Estadual de Londrina
(UEL). Atualmente, é diretor geral de EaD na Universidade de Marília (UNIMAR),
responsável pelo planejamento, execução e gestão do projeto de EaD da IES. Foi
diretor de operações na Faculdade Católica Paulista e coordenador dos cursos de
Gestão Pública, Negócios Imobiliários e Gestão Hospitalar do Núcleo de Educação
a Distância (NEAD) da Unicesumar. Também trabalhou na coordenação geral dos
polos de educação a distância da Unicesumar, celebrando convênios de parceria
entre os polos e a IES, além de atuar na gestão de relacionamento com os polos
próprios e os parceiros. Trabalhou na coordenação do projeto de novos cursos
de pós-graduação na Unicesumar e foi professor no Centro de Ciências Humanas
e Sociais Aplicadas (CHSA) da mesma instituição. É professor de pós-graduação na
área de Administração da Unicesumar. É autor de livros didáticos para a EaD nas
áreas de logística, teoria geral da administração, mercado financeiro e de capitais,
marketing e gestão ambiental. É consultor na área de marketing com foco em
pesquisa de mercado para rede de varejo de eletrodomésticos. Tem experiência
na área de Administração, com ênfase em Administração de Empresas, atuando
principalmente nos seguintes temas: sistema financeiro nacional, bolsa de valores,
mercado de ações e logística.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/8141003354179820.
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA

LOGÍSTICA REVERSA

O tema “logística reversa” ganhou notoriedade nas últimas décadas por um motivo que é,
ao mesmo tempo, simples e relevante: trata da sobrevivência das organizações e do próprio
ser humano no planeta. Questões sérias para serem colocadas em uma única frase, não
concorda? No entanto, diz respeito a exatamente isso.

Em seus estudos, talvez, você já tenha considerado os aspectos da sustentabilidade e da


responsabilidade social das organizações. Caso não tenha pesquisado sobre o assunto, é
importante que você entenda que as ações que realizamos enquanto indivíduos, sociedade
e responsáveis pelas organizações nos colocam no centro de uma discussão em relação ao
uso daquilo que a natureza nos fornece para as nossas vidas, que foi classificado pelo homem
como “recurso” natural.

A retirada desses recursos da natureza em forma de matéria-prima para os produtos que uti-
lizamos não pode ser feita de forma desenfreada, assim como estamos assistindo atualmente.
A natureza está sobrecarregada com essa velocidade de utilização dos recursos, a ponto de
não conseguir se recuperar e reciclar com o mesmo ritmo do homem. O resultado tem sido
desastroso. Embora muito se discuta as causas do aquecimento global, um aspecto que é
consenso nessas discussões é voltado ao papel do homem em relação ao impacto ambiental.

As questões que dizem respeito ao impacto ambiental englobam tanto a retirada dos recursos
naturais quanto o despejo dos resíduos produzidos pelo consumo no meio ambiente. Se, por
um lado, consumimos recursos a uma velocidade superior ao reparo natural do planeta, por
outro lado, também o sobrecarregamos com materiais de difícil decomposição.

Diante disso, a ação gerencial é focada nesse elemento, pois as organizações são as prin-
cipais responsáveis pela produção dos itens de consumo humano e, como tais, devem ser
chamadas para apresentar soluções à degradação ambiental. Em resposta a essa demanda,
as instituições passaram a rever os seus processos de fornecimento e a vida útil de seus pro-
dutos, e adotaram estratégias para tratar os materiais resultantes do consumo e os produtos
que retornam para a cadeia de distribuição. É, assim, lançada a base para a logística reversa.
A P R E S E N TA Ç Ã O DA DISCIPLINA

Ao longo deste livro, você terá a oportunidade de conhecer os conceitos de logística reversa
e a sua aplicabilidade nos processos logísticos organizacionais. Observará que, apesar de, em
um primeiro momento, apresentar-se como um desafio, a logística reversa também pode ser
uma grande oportunidade para as empresas firmarem a sua marca perante os seus clientes
e, quando possível, obter resultados financeiros positivos com as estratégias adotadas.

Na Unidade 1, estudaremos os desafios da sustentabilidade e as questões logísticas voltadas


à competitividade organizacional. Também explicaremos os conceitos e os custos em logística
reversa.

Na Unidade 2, compreenderemos a formatação de um canal de distribuição reverso de


pós-consumo.

Na Unidade 3, analisaremos os canais de distribuição reversa de pós-venda, entenderemos


como a seleção e a destinação dos produtos em devolução são procedidos e trabalharemos
os mercados secundários para os produtos de pós-venda.

Na Unidade 4, focaremos na questão legal, com respeito à logística reversa. Também explica-
remos como as organizações podem ganhar mercados, ao adaptarem os seus processos às
certificações ambientais. Para tanto, consideraremos a Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS), uma legislação que realmente causa impactos profundos em relação ao modo como o
poder público, a iniciativa privada e a sociedade em geral lidam com os produtos de consumo.

Finalmente, na Unidade 5, estudaremos as questões pontuais relacionadas à logística reversa


em algumas cadeias e segmentos específicos, como a construção civil, as embalagens e os
pneus. Também consideraremos alguns aspectos no que diz respeito aos impactos sociais
da logística reversa, os quais são importantes em um país com as desigualdades que o Brasil
contempla.

Espero que você aproveite os conteúdos considerados em sua formação enquanto um gestor
realmente capacitado para os desafios das organizações do século XXI. Bons estudos!
ÍCONES
pensando juntos

Ao longo do livro, você será convidado(a) a refletir, questionar e


transformar. Aproveite este momento!

explorando ideias

Neste elemento, você fará uma pausa para conhecer um pouco


mais sobre o assunto em estudo e aprenderá novos conceitos.

quadro-resumo

No fim da unidade, o tema em estudo aparecerá de forma resumida


para ajudar você a fixar e a memorizar melhor os conceitos aprendidos.

conceituando

Sabe aquele termo ou aquela palavra que você não conhece? Este ele-
mento ajudará você a conceituá-lo(a) melhor da maneira mais simples.

conecte-se

Enquanto estuda, você encontrará conteúdos relevantes


on-line e aprenderá de maneira interativa usando a tecno-
logia a seu favor.

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do aplicati-
vo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CONTEÚDO

PROGRAMÁTICO
UNIDADE 01
10 UNIDADE 02
52
CONCEITOS DE CANAIS DE
LOGÍSTICA DISTRIBUIÇÃO
REVERSA REVERSOS DE
PÓS-CONSUMO
(CDR-PC)

UNIDADE 03
80 UNIDADE 04
116
CANAIS DE QUESTÕES LEGAIS,
DISTRIBUIÇÃO ECONÔMICAS E
REVERSOS AMBIENTAIS
PÓS-VENDA EM PÓS-CONSUMO E
(CDR-PV) EM PÓS-VENDA

UNIDADE 05
152 FECHAMENTO
199
A LOGÍSTICA CONCLUSÃO
REVERSA NO BRASIL:
O CENÁRIO ATUAL E
AS PERSPECTIVAS
FUTURAS
1
CONCEITOS DE
LOGÍSTICA
REVERSA

PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O desafio da sustentabilidade: qual
é a sua relação com a temática? • As questões logísticas e a competitividade empresarial • Entendendo
o conceito de logística reversa • Custos em logística reversa: o que avaliar?

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender os desafios da sustentabilidade. • Entender as questões logísticas e a competitividade
organizacional. • Apresentar o conceito de logística reversa. • Estudar os custos na logística reversa..
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a),
Em pleno século XXI, com um desenvolvimento técnico tão acentuado
como o que temos vivenciado, muitas pessoas acreditam que somos os
donos de nosso ambiente. Os humanos, enquanto espécie dominante do
planeta, realmente evidenciam, em várias de suas atitudes, uma despreo-
cupação com o meio em que habitam, como se não dependessem de nada
ou de ninguém para continuar vivendo nesse planeta.
Quem mora nas grandes cidades, por exemplo – muito observável en-
tre as crianças –, aparentemente, desvinculou-se dos espaços naturais e,
em consequência de viver em um ambiente artificial, não percebe como os
espaços urbanos são frágeis e insustentáveis. Muitas crianças nunca viram
a produção de leite em uma fazenda, não sabem como a água é captada
nos rios e nos lagos, e nunca sujaram os pés na terra, de tão elevado que é
o nível de concreto nas grandes cidades.
Essa triste constatação de que somos antropocêntricos, ou seja, de que acre-
ditamos que o universo gira em torno do homem, não é nova. Na verdade, uma
linha importante de pensadores e estudiosos, há muito tempo, percebeu que
as estruturas sociais não respeitam uma verdade básica: nós somos frutos do
meio e só conseguimos sobreviver se esse meio continuar existindo.
Assim, quando assistimos a algum documentário que mostra espaços
degradados, poluição, rios mortos, oceanos com ilhas de plástico, animais
morrendo por ingestão de resíduos, chocamo-nos em um primeiro momen-
to, mas continuamos a levar as nossas vidas assim como sempre fizemos.
Pois bem, esse modo de agir e de viver chegou a um momento crítico
e, pela primeira vez na história, coloca em risco a própria continuidade da
vida humana na terra. Se você não acredita nisso, explicaremos, a partir de
agora, os desafios ambientais que se colocam e entenderemos qual é a sua
relação com a temática.
1
O DESAFIO DA
UNIDADE 1

SUSTENTABILIDADE:
QUAL É A SUA
RELAÇÃO COM
A TEMÁTICA?

Quando você ouve a palavra “sustentabilidade”, o que lhe vem à mente? Essa pa-
lavra, originária do verbo “sustentar”, tem, nos dicionários, vários significados. Os
que mais nos interessam são “manter”,“alimentar” e o próprio termo “sustentável”, o
qual pode significar “que pode se sustentar; que se defende” (KLEIN, 2015, p. 515).
Perceba que, nos vários significados oferecidos, alguns relacionam “sustentar”
com “manter a vida”. É esse o foco que daremos a partir de agora. Olhe à sua volta:
você consegue notar quantos seres, além dos humanos, habitam essa esfera azul
chamada Planeta Terra? Há insetos, cães, gatos, pássaros e uma variedade de
outras criaturas. Se você mora em uma pequena cidade ou tem facilidade de se
deslocar até uma área aberta e desabitada, perceberá que esse número só aumenta.
Quando os seres humanos abandonaram a sua vocação extrativista e passa-
ram a cultivar o solo e a fabricar utensílios, o que se intensificou com o advento
recente da Revolução Industrial, houve a produção de produtos para consumo em
massa. Assim, a lógica da relação entre homem e natureza foi totalmente alterada.
Ao utilizar aquilo que a natureza oferece – minerais, animais e vegetais – em
uma velocidade cada vez maior, a fim de atender a demanda por produtos, a
capacidade de regeneração do planeta foi vencida. Basta observar a quantidade
das espécies de animais que conseguimos extinguir por meio da caça predatória
e as plantas que eliminamos antes mesmo de termos a oportunidade de conhe-
cê-las! Isso evidencia que a maneira como nos relacionamos com o ambiente
não é saudável.
12
Em um modelo econômico em que tudo se torna recurso – o que extraímos

UNICESUMAR
do planeta se torna recurso natural, as pessoas são recursos humanos, os equi-
pamentos são recursos tecnológicos, dentre tantos outros exemplos –, nivelamos
o nosso ambiente à simples função de fornecer aquilo que precisamos, sem nos
preocuparmos com a velocidade de reposição natural. Desrespeitamos os ciclos
da vida. Agora, focaremos em nossa vida moderna.
Olhe à sua volta: o modo de viver das pessoas requer o constante suprimento
dos itens de consumo, desde a sua comida industrialmente processada, o seu
transporte, que é realizado com veículos de propulsão à explosão (tecnologia que
já tem mais de 100 anos), o seu cuidado com a saúde, o seu lazer e os seus hobbies,
os quais, muitas vezes, envolvem produtos químicos. As empresas, exemplos de
organizações com fins lucrativos, suprem as necessidades e os desejos das pessoas,
que, ao se depararem com tanta variedade, não conseguem comprar tudo aquilo
que consideram merecer. Para os negócios, o consumo é o meio de se manter eco-
nomicamente. Já para as pessoas, o consumo não atende apenas às necessidades
legítimas e básicas, como se alimentar, mas também aos desejos criados pelo seu
próprio modo de vida, como o de status e reconhecimento social.
A população do planeta, por outro lado, cresceu vertiginosamente nos últi-
mos séculos, especialmente no século XX. Estatísticas feitas pela Organização das
Nações Unidas (ONU) evidenciam que a população mais que triplicou no último
século: somos, agora, quase oito bilhões de pessoas utilizando os “recursos” natu-
rais. A produção de alimentos no mundo seria o suficiente para todas as pessoas
se alimentarem com dignidade, porém, devido à má distribuição de renda, um
contingente importante da população – uma em cada oito pessoas – passa fome.

conecte-se

O aumento populacional do planeta pode ser acompanhado em tempo real.


Para isso, acesse:
É impressionante como os números se alteram, não é mesmo?

13
Você ainda pode estar se perguntando: qual é a minha relação com essa proble-
UNIDADE 1

mática? O que estudamos até agora tem outras implicações. Se consumimos os


recursos do planeta em uma velocidade maior do que a de seus ciclos de recu-
peração, o que acontece com o nosso modo de vida e de consumo? Não há como
manter uma estrutura de exploração e de consumo como a que temos. Contudo,
essa discussão não é recente. No século XVIII, o reverendo britânico Thomas
Malthus emitiu um prognóstico sombrio: enquanto a produção de alimentos
aumentaria de forma aritmética ou linear, a população cresceria de forma geo-
métrica ou exponencial. Em algum momento, a fome se instauraria no mundo
e, por via de consequência, o caos.
As teorias malthusianas não se confirmaram com o tempo, porém há uma
corrente de pensamento que alerta que o consumo de recursos, de fato, aumentou
de forma acentuada (não só de alimentos, mas de tantos outros insumos naturais).
O responsável por isso seria o modo de consumo, que é alimentado pelo sistema
capitalista e consumista pregado principalmente na sociedade ocidental.
No século XX, as preocupações com o aumento populacional, o consumo
e os consequentes impactos ao meio ambiente ganharam força devido a vários
acontecimentos e eventos marcantes: a ocorrência de chuvas ácidas na Europa, o
mercúrio na baía de Minamata, no Japão, que originou uma nova doença (Doen-
ça de Chisso Minamata), o lançamento, em 1962, do livro Primavera Silenciosa,
de Rachel Carson, que é considerado o marco do nascimento do movimento am-
bientalista, além da realização de um estudo que teve origem improvável: grandes
capitalistas, aliados a cientistas e políticos, compuseram o chamado “Clube de
Roma”. Esse organismo encomendou uma pesquisa junto ao renomado Massa-
chusetts Institute of Technology (MIT) sobre os possíveis impactos ambientais
causados pelas atividades econômicas.
O MIT produziu um documento que ficou conhecido como “Relatório Mea-
dows” ou “Os Limites do Crescimento”, em português. Nele, é nítida a inspiração
de Malthus sobre o risco do aumento populacional. Por essa razão, os adeptos às
conclusões do relatório ficaram conhecidos como neomalthusianos e passaram
a pregar um freio ao crescimento populacional na tese da chamada “Teoria do
Crescimento Zero”. De acordo com esses estudiosos, a única saída seria uma
paralisação do desenvolvimento, para que se preservassem os recursos naturais.
Em suas conclusões, constava o seguinte:

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É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma

UNICESUMAR
condição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser man-
tida até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá
ser planejado de modo que as necessidades materiais básicas de
cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades
iguais para que todos realizem seu potencial humano individual. O
resultado será um declínio súbito e incontrolável, tanto da popula-
ção quanto da capacidade de produção industrial.

É preciso mudar essas tendências de crescimento e formar uma con-


dição de estabilidade ecológica e econômica que possa ser mantida
até um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser pla-
nejado de modo que as necessidades materiais básicas de cada pes-
soa na Terra sejam satisfeitas, oferecendo-se oportunidades iguais
para que todos realizem seu potencial humano individual (CURI,
2011, p. 24).

A discussão voltada à complexa relação entre economia e ecologia continuou ao


longo dos anos. Em 1972, foi realizada a Conferência de Estocolmo, que discutiu
novamente a preservação ambiental e a industrialização. Esse debate é considera-
do um marco, pois o elemento político foi incluído, afinal, é a política que dirige
o mundo. Diplomatas de diversos países estiveram presentes e, junto a cientistas,
aprovaram uma declaração sobre o meio ambiente humano, com 110 recomen-
dações e 26 princípios (CURI, 2011).
Em Estocolmo, também foi iniciado um embate entre os países desenvolvi-
dos e os em desenvolvimento. Enquanto os primeiros defendiam a preservação
total do meio ambiente, o bloco dos países em desenvolvimento se opôs, pois ele
defendia a ideia de que não era justo privá-los dos benefícios que o crescimento
econômico poderia trazer às suas populações. Aliás, o crescimento econômico
permeia as discussões ambientais até hoje. Afinal, é possível ter crescimento eco-
nômico e, ao mesmo tempo, preservar a natureza? Essa dicotomia alimenta outra
discussão: uma corrente muito forte defende que os maiores impactos sobre o
meio ambiente advêm da pobreza das nações, enquanto outra linha assevera que
os impactos são provocados pelos países industrializados.

15
UNIDADE 1

conceituando

Dicotomia: termo que se refere a dois conceitos opostos.

No entanto, é em 1987, sob a batuta da ONU, mais especificamente da Comis-


são Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMDMA), após as
discussões realizadas quando houve a constituição da referida comissão em
1983, que foi produzido um documento divisor de águas no que diz respeito
ao tema “sustentabilidade”. Esse documento, conhecido como “Nosso Futuro
Comum” ou “Relatório Brundtland” (em razão de a CMDMA ter sido lide-
rada por Gro Brundtland, então primeira-ministra da Noruega), propôs uma
conceituação para o que se convenciona chamar de desenvolvimento sus-
tentável: “é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade das gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades
(BARBIERI, 2007, p. 93).
Diante desse raciocínio, seria perfeitamente possível atender às necessidades
das gerações atuais – em termos de consumo – e, ao mesmo tempo, preservar
os recursos, de modo que as futuras gerações também possam ter acesso a esses
recursos. Esse pensamento permeia a forma como políticos, ambientalistas de
uma linha mais positivista, empresários e uma corrente importante da academia
visualizam a realidade econômica e social atual.
Proposições vindas, posteriormente, de conferências internacionais, como a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio
92), feita no Rio de Janeiro, e de eventos posteriores, tais como os que origina-
ram o Protocolo de Kyoto, em 1997, o Pacto Global, em 1999, a Declaração do
Milênio, a Rio+20 e o Acordo de Paris, em 2015, têm, em comum, a preocupação
mundial com a preservação ambiental, o desenvolvimento dos países pobres, a
distribuição de renda, o combate às desigualdades sociais e a realização de ações
de Responsabilidade Social Empresarial (RSE). São propostas e metas louváveis
em si mesmas, não acha?

16
Certamente, à medida que há a crença de que o desenvolvimento sustentável

UNICESUMAR
é uma realidade possível, também há a consideração da união dos povos e da
solidariedade, por exemplo. Assim, o desenvolvimento sustentável é entendido
como uma espécie de valor humano.

conecte-se

VOCÊ SABE O QUE SÃO OS OBJETIVOS DO MILÊNIO?


Os objetivos do milênio são os esforços conjuntos de diversas nações com o
objetivo de promover a melhoria das condições de vida da população mun-
dial, especialmente a das pessoas mais vulneráveis.
Conheça esses objetivos ao clicar no QR-code.

Contudo, não devemos ter uma visão tão simplista do mundo. A grande verdade
é que o próprio conceito de sustentabilidade e a definição de desenvolvimento
sustentável são controversos. Críticos afirmam que os termos “desenvolvimento” e
“sustentável” já são um paradoxo, ou seja, mutuamente excludentes. Como desen-
volver e crescer indefinidamente – já que não foi estabelecido nenhum limite para
isso – em um espaço limitado, que é o planeta? Essa crítica faz sentido, não acha?
De fato, devemos aprofundar a nossa visão e termos ciência de que o discurso
preservacionista não é tão inocente assim como pensamos. Muitas propostas do
desenvolvimento sustentável parecem ser uma maquiagem, para que a exploração
dos recursos continue, mas com a bênção de uma população alienada por uma
propaganda consumista. Fique atento(a) a esses discursos! Há uma frase muito
interessante, a qual foi atribuída ao príncipe de Salina na obra O Leopardo, de
Giuseppe Tomasi di Lampedusa, que afirma que “é preciso mudar se quisermos
que tudo fique como está” (BARBIERI, 2007, p. 95).
Você está envolvido(a) nisso, pois essa problemática afeta a sua vida, a sua
forma de fazer gestão, o seu consumo e o seu futuro. Podemos ignorar a discussão
e continuar a fazer tudo assim como sempre fizemos. Também podemos realizar
mudanças cosméticas para preservar o modelo de exploração ou, ao contrário,
pensar e agir de forma mais crítica em relação ao planeta.

17
2
AS QUESTÕES LOGÍSTICAS E
UNIDADE 1

A COMPETITIVIDADE
EMPRESARIAL

Depois de realizarmos uma discussão sobre sustentabilidade, é importante obter-


mos uma visão sobre as questões empresariais, que são a mola-mestre de grande
parte do desafio voltado à preservação ambiental.
Já sabemos que a nossa vida é dependente de produtos originados das ativida-
des de organizações empresariais. Alimento, vestuário, moradia, saúde, transpor-
te: tudo é produzido por empresas para o consumo das pessoas. Nesse contexto,
há muitas instituições de todos os portes e segmentos econômicos agindo em
busca de mais consumidores para os seus produtos. O ambiente empresarial,
muitas vezes, é comparado a um campo de batalha, um espaço em que somente
os mais habilidosos e capazes conseguem sobreviver.
Essa competitividade empresarial é encarada com naturalidade pelos pró-
prios empreendedores.“Quem não tem competência não se estabelece”, diz o bor-
dão. Assim, os mecanismos que tornam a organização cada vez mais preparada e
competitiva são buscados, a fim de enfrentar a concorrência.
Nesse cenário, as empresas investem intensamente em Tecnologia da Infor-
mação (TI), em treinamentos, em sistemas de auditoria e em outras ferramentas
gerenciais que possibilitam um acompanhamento efetivo dos custos e dos ganhos
de eficiência. Todavia, mesmo com esse esforço, talvez, o ganho de competitivida-
de não seja tão expressivo quanto os gestores gostariam. Isso se deve, porque as
ferramentas gerenciais são utilizadas por praticamente todas as empresas cujos
18
administradores são dotados de competência para guiar os negócios. No entanto,

UNICESUMAR
há uma variável que está, de fato, fazendo a diferença em relação à concorrência:
os processos logísticos.
Peter Drucker (1995 apud BATALHA, 2001, p. 163), um dos grandes gurus
de administração, afirma que a “logística é última fronteira gerencial que resta
ser explorada para reduzir tempos e custos, melhorar o nível e a qualidade de
serviços, agregar valores que diferenciem e fortaleçam a posição competitiva da
empresa”. Pode parecer uma expectativa exagerada, mas há fundamentos sóli-
dos para essa afirmação. Considere a seguinte situação: os produtos fornecidos
e disponibilizados para consumo ao redor do mundo são cada vez mais pareci-
dos. Pequenos atributos não são o suficiente para classificarmos uma quantidade
muito grande de itens como “exclusivos”, pelo menos, não no que se refere aos
produtos de massa. Dessa forma, um aparelho de TV é um aparelho de TV, in-
dependentemente de sua marca, embora, assim como afirmamos, possa ter um
ou outro atributo distinto.
Portanto, os produtos se tornaram verdadeiras commodities, ou seja, são
praticamente idênticos. Os preços também são muito alinhados, tendo em vis-
ta que os componentes são disponibilizados às fábricas do mundo todo e uma
parte importante desses componentes é produzida em países asiáticos. Se não é
possível competir em relação aos produtos (muito parecidos) e ao preço (muito
alinhados), o que diferencia as empresas? A eficiência logística, que é expressa de
acordo com a capacidade de prestar um nível de serviço considerado superior
com custos que sejam reconhecidos como justos pelos consumidores.
Além disso, em detrimento de a logística envolver fluxos de materiais, valores
e informações, o fluxo de informações logísticas é um item que pode diferenciar
a empresa, por ela agir proativamente frente às necessidades e às expectativas
de seus stakeholders. Para obter esse desempenho superior, a logística evoluiu
naturalmente para um conceito de administração em rede ou em cadeia, o qual
é amplamente conhecido como Gestão da Cadeia de Suprimentos ou, em inglês,
Supply Chain Management (SCM).
No que diz respeito à Gestão da Cadeia de Suprimentos, interessa-nos a de-
finição de Razzolini Filho e Berté (2013, p. 42), que sustentam que ela pode ser
entendida como a:


Administração sinérgica dos canais de abastecimento de todos os
participantes da cadeia de valor, através da integração de seus pro-
19
cessos de negócios, visando sempre agregar valor ao produto final,
UNIDADE 1

em cada elo da cadeia, gerando vantagens competitivas ao longo


do tempo.

Essa moderna visão dos processos logísticos em redes ou em cadeias vem ao


encontro da administração estratégica, em que os objetivos organizacionais são
traçados com base no potencial de cada componente organizacional e convergem
para que o resultado seja atingido. Em outras palavras, as funções logísticas não
são “soltas”, dispersas, mas fazem parte do planejamento estratégico empresarial.
Essa é uma mudança de paradigma, pois, até o momento, em grande parte
das organizações, o que se percebe é uma atitude reativa em relação às funções
logísticas, com planejamento a curto prazo. O que se pretende com a vinculação
das funções logísticas a partir do planejamento estratégico é ampliar a visão a
longo prazo.
No Quadro 1, é possível entender mais claramente essa mudança de ótica das
estratégias logísticas (de curto prazo) para a logística estratégica (de longo prazo).

Enfoque Estratégia logística Logística estratégica

Dominação de Redução dos custos logís- Redução de todos os custos


custos ticos através da logística

Qualidade dos serviços A logística como fator de


Diferenciação
logísticos diferenciação

A logística é o suporte para A logística é a fonte/motor


Inovação
a inovação para a inovação

Logística como um meio A logística como a fonte/mo-


Alianças
para alianças tor para as alianças

Logística como um suporte Logística como um novo


Profissão
para integração produto

Logística como um suporte Logística ordenada para


Missão
para extensão conquistar novos clientes

Diversificar por meio da


Diversificação Uso das sinergias logísticas
logística

Quadro 1 - Enfoque da logística estratégica


Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 45).

20
Para ilustrar essa evolução, Razzolini Filho e Berté (2013) descrevem a seguinte

UNICESUMAR
situação: uma empresa pretende terceirizar uma etapa do processo logístico. Se-
gundo a visão tradicional de estratégia logística, que é de curto prazo, um Presta-
dor de Serviço Logístico (PSL) poderia ser contratado para realizar o ofício por
meio de um contrato de curto prazo que abrange uma única ou poucas atividades.
Por outro lado, sob a ótica da logística estratégica, que é de longo prazo, a opção
seria contatar um operador logístico, que terá um contrato de longo prazo e
prestará múltiplas atividades de forma integrada.
Sem dúvida, diante desse quadro, tanto com a estratégia logística quanto com
a logística estratégica, a empresa pode obter vantagem competitiva. Entretanto,
caso a logística estratégica seja optada, a vantagem seria sustentável a longo prazo.

3
ENTENDENDO O CONCEITO
DE LOGÍSTICA
REVERSA

Já sabemos que a preocupação com as questões ambientais toma um espaço cada


vez maior na pauta das discussões governamentais, empresariais e sociais. Eviden-
temente, os reflexos dessas discussões chegariam ao nível de ações, o que aconteceu
de forma global. A legislação e as normativas se tornaram abundantes tanto em
países desenvolvidos quanto em países em desenvolvimento, incluindo o Brasil.

21
De qualquer modo, conheceremos alguns fatores motivaram o movimento
UNIDADE 1

dos empresários em direção ao tratamento de seus produtos após o cumprimento


do seu ciclo de vida.

conceituando

Ciclo de vida de produto: uma de suas definições é a de que se trata de um período que
envolve todas as fases do produto, desde a sua concepção, introdução no mercado, curva
de crescimento de vendas, estabilização de participação, até a sua retirada do mercado.
No contexto, é aplicado desde o uso do produto até o seu descarte, que é feito pelo con-
sumidor.

Na década de 1970, exatamente em 1973, houve um evento catastrófico para a


economia que ficou conhecido como “Crise do Petróleo”. Os países membros
da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em um movi-
mento de altas sucessivas, reajustaram os preços do precioso óleo em 400%.
Isso desencadeou crises econômicas avassaladoras nos países desenvolvidos,
que eram dependentes do petróleo para as suas atividades produtivas. Os custos
de transporte e de produção foram seriamente afetados. As matérias-primas
tiveram aumentos de preço muito acentuados. Esse fenômeno forçou a busca
por alternativas, a fim de obter matérias-primas para as indústrias. De acordo
com Razzolini Filho e Berté (2013), ao contrário do que afirmam os ambien-
talistas, foi o fator econômico que fez com que os empresários voltassem a sua
atenção para o reaproveitamento da matéria-prima.
Além desse fator econômico, os consumidores mais críticos se conscienti-
zaram de que as empresas são as responsáveis pelos produtos que fabricam em
todo o seu ciclo de vida e, por conseguinte, passaram a exigir que essas institui-
ções também se encarregassem da fase em que o produto estaria inservível para
consumo. Esse foi um fator determinante para o movimento de tratamento dos
produtos produzidos por parte das organizações.
O poder público também entrou em cena após a comprovação dos danos ao
meio ambiente por descartes inadequados e a necessidade de intervenção nos
espaços degradados, com o consequente dispêndio de recursos públicos. Essa
situação fez com que os países desenvolvessem leis que cobram ações e penalizam
as empresas não atendem aos ditames legais.

22
Diante disso, o que as empresas deveriam fazer, considerando todas as va-

UNICESUMAR
riáveis apresentadas? A concepção de fornecimento de produtos teve que ser
repensada. Até então, assim como já foi frisado, o consumidor se constituía
como o elo final da cadeia de suprimentos. Uma representação dessa ideia você
percebe na Figura 1.
FLUXO DE INFORMAÇÕES

Fornecedor Indústria Distribuição Varejo Consumidor

FLUXO FINANCEIRO E DE PRODUTO

Figura 1 - Fluxos da cadeia de suprimentos / Fonte: adaptada de Ballou (2006).

Descrição da Imagem: a figura demonstra um fluxo logístico. Nele, o início se dá no fornecedor da ma-
téria-prima, passa pela indústria, pela distribuição e pelo varejo, até chegar ao consumidor.

Razzolini Filho e Berté (2013, p. 68), ao confirmarem esse entendimento, o am-


pliam e afirmam que os produtos podem seguir três caminhos distintos dentro
de um fluxo logístico. São eles:
1. Da fábrica até o armazém ou centro de distribuição.
2. Do centro de distribuição até o autosserviço ou varejo.
3. Do autosserviço ou varejo até o consumidor.

Diante das exigências e das variáveis expostas, as quais exigem que a empresa
tenha ações consistentes para o tratamento dos produtos, o que vai além do
seu uso por parte do consumidor, surge um quarto fluxo: o fluxo inverso ou a
logística reversa.
Entenda que, para conceituarmos o que é logística reversa, precisamos visua-
lizar um ciclo contrário ao fluxo tradicional de fornecimento. Nesse contexto,
consideramos o retorno dos produtos (ou partes dele) em direção à fonte de pro-
dução. No processo logístico convencional – pelo menos, na abordagem histórica
23
–, não há uma indicação clara sobre o fluxo cliente-empresa. Essa abordagem só
UNIDADE 1

ganha destaque com o desenvolvimento do conceito de logística reversa.


Isso fica mais claro quando observamos a Figura 2.

Materiais
Novos

Processo Logístico Direto

Suprimento Produção Distribuição

Materiais
Reaproveitados Processo Logístico Reverso

Figura 2 - Representação esquemática dos processos logísticos direto e reverso / Fonte:


Lacerda (2002, [s.p.]).

Descrição da Imagem: a figura é uma representação das cadeias logísticas direta e reversa. Assim,
parte-se de um balão, que ilustra os materiais novos entrando no processo logístico direto, incluindo o
suprimento, a produção e a distribuição. Depois, há uma seta que aponta o processo logístico reverso e
um balão, que representa os materiais reaproveitados, os quais podem ser reintroduzidos no processo
logístico direto.

Considerando a ideia apresentada, desde a concepção do conceito de logística


reversa, há uma referência ao fluxo inverso. O Council of Logistics Management
(CLM), que, posteriormente, teve o seu nome alterado para Council of Supply
Chain Management Professionals (CSCMP), definiu, em 2001, o conceito de
logística reversa como:


[...] a parte do processo da cadeia de suprimentos que planeja,
implementa e controla de forma eficiente e eficaz o fluxo direto e
reverso e o estoque de bens, serviços e informação entre o ponto
de origem e o ponto de consumo com o propósito de atender os
requisitos dos clientes (SANTOS et al., 2013, p. 233).

24
Observe que, na definição anterior, é introduzido o conceito de retorno (fluxo

UNICESUMAR
reverso) até o ponto de origem. Rogers e Tibben-Lembke (1999, p. 2 apud LEITE,
2009, p. 16) reforçam essa ideia, ao definirem a logística reversa como:


O processo de planejamento, implementação e controle da eficiên-
cia e custo efetivo do fluxo de matérias-primas, estoques em pro-
cesso, produtos acabados e informações correspondentes do ponto
de consumo ao ponto de origem com o propósito de recapturar o
valor ou destinar à apropriada disposição.

Nesse conceito, já é inserida a valoração dos materiais retornados, importante


destaque no planejamento da logística reversa, o qual estudaremos oportuna-
mente. O CSCMP, em 2006, retomou o conceito de logística, agora, inserindo a
dinâmica da logística reversa, ao afirmar que:


Supply Chain Management compreende o planejamento e gerencia-
mento de todas as atividades envolvidas com a aquisição, conversão
e o gerenciamento logístico. Inclui principalmente a coordenação e
colaboração com os parceiros dos canais, que podem ser fornecedo-
res, intermediários, provedores de serviços terceirizados e clientes.
Em essência, o Supply Chain Management integra o gerenciamento
do suprimento e da demanda, internamente e ao longo da cadeia de
suprimentos. Logística empresarial é a parte do Supply Chain Ma-
nagement que planeja, implementa e controla o eficiente e efetivo
fluxo direto e reverso, a estocagem de bens, serviços e as informa-
ções relacionadas entre o ponto de origem e o ponto de consumo,
no sentido de satisfazer as necessidades do cliente (CSCMP, 2006
apud LEITE, 2009, p. 17).

Observe que, no conceito exposto, a questão da informação relacionada com o


processo é claramente inserida no fluxo reverso (assim como já é consolidado
no fluxo direto) enquanto insumo para a logística reversa.
O Grupo de Trabalho Europeu de Logística Reversa (REVLOG), em 2005,
expressou que:


A logística reversa é uma área/função bastante ampla que envolve
todas as operações relacionadas com a reutilização de produtos e
25
materiais como as atividades logísticas de coletar, desmonte e pro-
UNIDADE 1

cesso de produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar


uma recuperação sustentável dos mesmos e que não prejudiquem
o meio ambiente (REVLOG, 2005 apud CHAVES; ALCÂNTARA;
ASSUMPÇÃO, 2008, p. 4).

O conceito do REVLOG é interessante, pois pressupõe as atividades especí-


ficas da logística reversa, tais como a coleta, o desmonte e a recuperação de
materiais e peças usadas. Essas atitudes que buscam recuperar o valor são
visualizadas na Figura 3.

Reprocessar

Revender Retorno ao
ciclo de Expedição Seleção Coleta
negócios
Recondicionar

Reciclar
Descarte

PROCESSO LOGÍSTICO REVERSO

Figura 3 - Atividades relacionadas ao processo de logística reversa / Fonte: Chaves, Alcân-


tara e Assumpção (2008, p. 4).

Descrição da Imagem: a figura representa as atividades do processo logístico reverso, que é ilustrado
por uma seta a qual aponta para a esquerda. Em cima, estão, no mesmo sentido, a coleta, a seleção e a
expedição dos materiais recolhidos, os quais podem ir, por um lado, para o descarte e, por outro, para
o retorno ao ciclo de negócios, que envolve reprocessar, revender, recondicionar e reciclar os materiais.

Robles e La Fuente (2019) asseveram que a própria legislação ambiental brasileira


também define logística reversa. A Lei nº 12.305/2010, em seu art. 3º, inciso XII,
sustenta que a logística reversa é:


Um instrumento de desenvolvimento econômico e social caracteri-
zado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados
a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor em-
presarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada
(ROBLES; LA FUENTE, 2019, p. 42).

26
Assim, a própria legislação estabelece que a logística reversa precisa ser um ins-

UNICESUMAR
trumento adequado do ponto de vista social, econômico e ambiental.
Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES; ALCÂNTARA; ASSUMP-
ÇÃO, 2008) elencam as atividades que são consideradas o núcleo do processo
logístico reverso, assim como é demonstrado no quadro a seguir:

Material Atividades da Logística Reversa

Retornados ao fornecedor
Revendidos
Vendidos via Outlet
Salvados
Recondicionados
Produtos
Renovados
Remanufaturados
Recuperação de materiais
Reciclados
Aterro sanitário

Reutilização
Renovação
Embalagem
Recuperação de materiais
Reciclagem

Quadro 2 - Atividades comuns na logística reversa


Fonte: Rogers e Tibben-Lembke (1998 apud CHAVES; ALCÂNTARA; ASSUMPÇÃO, 2008, p. 5).

Não detalharemos, neste momento, as atividades listadas no quadro anterior, mas


é importante explicarmos que, assim como os processos logísticos tradicionais,
os quais formam um canal de distribuição, no caso da logística reversa, também
há a constituição de um Canal de Distribuição Reverso (CDR).
Para relembrarmos a ideia de canal de distribuição, eles:


[...] são constituídos pelas diversas etapas pelas quais os bens produ-
zidos são comercializados até chegar ao consumidor final, seja uma
empresa, seja uma pessoa física. A distribuição física dos bens é a
atividade que realiza a movimentação e disponibiliza esses produtos
ao consumidor final (KOTLER, 1996 apud LEITE, 2009, p. 6).

27
Ao considerar o sentido contrário, Leite (2009, p. 6) salienta que os Canais de
UNIDADE 1

Distribuição Reverso (CDRs) incluem:


[...] as formas e os meios em que uma parcela dos produtos com
pouco uso após a venda, com ciclo de vida útil ampliado ou após a
extinção de sua vida útil, retorna ao ciclo produtivo ou de negócios,
readquirindo valor de diversas naturezas, no mesmo mercado origi-
nal, em mercados secundários, por meio de seu reaproveitamento,
de seus componentes ou de seus materiais constituintes.

Além disso, os Canais de Distribuição Reversos (CDRs) são, geralmente, classi-


ficados de acordo com determinados aspectos característicos dos bens comer-
cializados. Na categorização clássica dos bens em função de sua durabilidade,
Razzolini Filho e Berté (2013) listam dois tipos de produtos, os quais podem ser
visualizados no Quadro 3.

Classificação Características

Aqueles que têm sua duração avaliada pela sua


Produtos duráveis vida útil, como automóveis, fogões, refrigeradores,
entre outros, geralmente medida em anos.

Aqueles que são consumidos imediatamente ou


Produtos não duráveis
em prazos muito curtos, tais como alimentos.

Quadro 3 - Classificação de produtos em função de sua durabilidade


Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 93).

Após a realização de diversos estudos e o desenvolvimento do conceito de logís-


tica reversa, os CDRs foram classificados em dois tipos:
■ Canais de distribuição reversos de pós-venda.
■ Canais de distribuição reversos de pós-consumo.

28
Esses diferentes tipos de canais serão trabalhados em nossa disciplina. Você, tal-

UNICESUMAR
vez, tenha se perguntado: por que os Canais de Distribuição Reversos (CDRs)
não adquirem o mesmo destaque que os canais de distribuição tradicionais? A
resposta não poderia ser a mais simples: por razões econômicas, ou seja, a repre-
sentação monetária dos dois processos. Os CDRs movimentam valores muito
inferiores aos movimentados em canais tradicionais.

4
CUSTOS EM LOGÍSTICA
REVERSA: O
QUE AVALIAR?

Ao considerarmos os processos logísticos, de forma geral, é evidente que os custos


estão envolvidos. Um dos temas logísticos mais difíceis de se tratar é justamente
o de custos logísticos.
Os dados disponíveis são resultados de estimativas, mas, no caso do Brasil,
podemos ter uma noção interessante dos elementos que compõem os custos
logísticos no Gráfico 1, que é exposto a seguir:

29
UNIDADE 1

11,54%

Transporte de Longa Distância 9,54%

Armazenagem
43,88%
Distribuição Urbana 8,79%
(curtas distâncias)

Custos Portuários

17,79%
Custos Administrativos

Outros
19,06%

Figura 4 - Distribuição percentual dos custos logísticos no Brasil / Fonte: Holanda et al.
(2020, p. 580).

Descrição da Imagem: o gráfico, que é em formato de pizza, representa a distribuição percentual dos
custos logísticos no Brasil. O maior percentual (43,88%) se refere ao transporte de longas distâncias. Assim,
o gráfico demonstra a distribuição dos custos da seguinte forma: 43,88% são voltados ao transporte de
longa distância, 19,06% são vinculados à armazenagem, 19,79% dizem respeito à distribuição urbana de
curta distância, 8,79% são relacionados aos custos portuários, 9,54% são voltados aos custos administra-
tivos e 11,54% são relacionados a outros custos logísticos.

É muito complexo ter esses custos atualizados, uma vez que os processos logís-
ticos podem ser mais ou menos custosos, dependendo da própria demanda por
produtos, das condições de infraestrutura e do aumento ou da redução da im-
portação e da exportação, por exemplo. O fato é que eles são custos significativos
nos processos organizacionais.
Devido à sua importância, várias fórmulas têm sido oferecidas, a fim de
proporcionar métricas para a apuração dos custos. Uma delas é proposta por
Faria e Costa (2007), que consideram o custo logístico total o resultado da
seguinte expressão:
CLT = CAM + CTRA + CE + CMI + CTI + CTRI + CDL + CDNS + CAD
Nessa fórmula:
CAM = Custos de Armazenagem e Movimentação de Materiais.
CTRA = Custos de Transporte (incluindo todos os modais ou operações
intermodais).

30
CE = Custos de Embalagens (utilizadas no sistema logístico).

UNICESUMAR
CMI = Custos de Manutenção de Inventários (MO, PP e PA).
CTI = Custos de Tecnologia de Informação.
CDL = Custos Decorrentes de Lotes.
CTRI = Custos Tributários (tributos não recuperáveis).
CDNS = Custos Decorrentes do Nível de Serviço.
CAD = Custos da Administração Logística.

Ainda é possível apurar o custo logístico total por meio dos seus processos, cuja
fórmula de cálculo é:
CLT = CLOGAba + CLOGPla + CLOGDis
Na qual:
CLOGAba = Custos Logísticos do Abastecimento.
CLOGPla = Custos Logísticos da Planta.
CLOGDis = Custos Logísticos de Distribuição.

Também há um modelo mais simplificado, o qual é adotado por muitos autores:


CLT = CA + CPP + CE + CT
Em que:
CA = Custos de Armazenagem.
CPP = Custos de Processamento de Pedidos.
CE = Custos de Estocagem.
CT = Custos de Transporte.

Os estudos que contemplam os custos da logística reversa no custo logístico total


ainda são incipientes. Paulo Roberto Leite (2009), um dos pioneiros da logística
reversa no Brasil, oferece a possibilidade de associação de três tipos de custos às
atividades de logística reversa:

31

1) Custos apropriados pela contabilidade: custos diretos, indiretos,
UNIDADE 1

fixos e variáveis.

2) Custos relacionados à gestão de operações de diversas naturezas:


normalmente apropriados pelos administradores ou pela contro-
ladoria das empresas, tais como “custos de oportunidade”, custos
“ocultos”, entre outros.

3) Custos de imagem corporativa ou de marca (LEITE, 2009, p. 27).

Detalhemos um pouco mais cada um desses custos. No caso dos custos apro-
priados pela contabilidade, somaríamos os custos de transporte, de armaze-
nagem, de consolidação e dos sistemas de informação dos canais reversos, assim
como fazemos para os canais tradicionais.
Leite (2009) frisa que, devido às operações adicionais que os canais de dis-
tribuição reverso agregam, os custos relacionados tendem a ser maiores. Essas
atividades incluem a seleção, a separação e a redistribuição dos produtos da lo-
gística reversa. O autor destaca que o número de transações logísticas no retorno
dos produtos é de cinco a dez vezes maior, o que gera custos que são de três a
cinco vezes maiores em relação ao de envio dos produtos originais ao mercado.
Os custos relacionados à gestão, de forma semelhante aos custos da gestão
logística tradicional, são vinculados aos custos de oportunidade, irrecuperáveis,
dentre outros. Finalmente, os custos de imagem corporativa ou de marca dizem
respeito à preocupação da empresa com a sua imagem, que deve ser intocável pe-
rante a comunidade e aos seus consumidores. Especialmente na logística reversa,
a imagem está relacionada com as boas práticas de sustentabilidade empresarial.
Os custos, na logística reversa, também precisam ser avaliados sob outra pers-
pectiva: a da recuperação de valor, ou seja, o quanto a empresa pode ganhar com
os materiais retornados. A lógica é razoavelmente simples: dependendo do ponto
em que o produto for recapturado, é possível obter maior ganho – ou recuperação
de perdas, no caso de garantia – com o item. Na figura a seguir, você visualizará
como esse processo ocorre.

32
Matéria-prima Manufatura Distribuição Varejo Cliente

UNICESUMAR
Aquisição
Produto novo

Avaliação
Componentes retorno
recuperados

Remanufaturados Descarte
Mercado secundário

Figura 5 - Pontos de recuperação de valor na logística reversa / Fonte: Garcia (2006).

Descrição da Imagem: a figura descreve os pontos de recuperação de valor na cadeia de logística reversa.
Assim, há as etapas da logística tradicional, que passam pela matéria-prima, manufatura, distribuição,
varejo e cliente. Nos pontos da cadeia que representam o cliente e o varejo, após a aquisição do produto
recuperado, ele é direcionado para uma avaliação do seu destino, que pode ser o descarte, o mercado
secundário de remanufaturados ou o lançamento enquanto produto novo para uma nova distribuição.
Ele pode, ainda, ser direcionado para a recuperação de componentes que podem ser introduzidos como
matéria-prima ou para uma nova manufatura.

É evidente, na Figura 5, como ocorre o ciclo de vida de um produto, já que a


imagem abrange desde a aquisição de matérias-primas, a fase de manufatura,
a distribuição, a comercialização e o retorno (originário do pós-venda ou pós-
-consumo). Assim, é possível afirmar que o ciclo de vida de um produto tem fim
apenas quando o seu descarte final é feito de forma segura. Em seu ciclo de vida,
ele pode ter sido recuperado, remanufaturado e ter retornado ao mercado inteiro
ou em partes. Pode, ainda, ter tido as suas partes reaproveitadas ou recicladas
(GARCIA, 2006).
Dessa forma, uma conclusão lógica que podemos obter é a de que, quanto
maior for o percentual de retorno e o valor envolvidos do produto, mais impor-
tante será a gestão do ciclo de retorno do produto, de modo a capturar o valor
(GARCIA, 2006). No Quadro 4, há uma comprovação numérica dos impactos
do retorno dos materiais para a indústria.

33
Indústria Percentagem
UNIDADE 1

Revistas 50%

Editoras de livros 20-30%

Distribuidores de livros 10-12%

Catálogos 18-36%

CD-ROM 18-25%

Impressoras 4-8%

Eletrônicos de consumo 4-5%

Quadro 4 - Impacto econômico do retorno dos materiais para a indústria


Fonte: Roger e Tibben (1999 apud GARCIA, 2006).

Indústrias de revistas e jornais têm um retorno muito grande de produtos, devido


à sua elevada obsolescência e, em consequência disso, precisam ter um processo
de logística reversa muito bem estruturado. Atualmente, há uma tendência ao
desaparecimento de periódicos (revistas e jornais) em papel. Títulos importan-
tes do mundo editorial, agora, só existem de forma digital. O que essa tendência
provocará, só o tempo dirá.
Para atribuirmos o valor de um produto retornado, precisamos analisar o
seu processo de retorno do ponto de vista do tempo e do próprio processo de
remanufatura (caso o item seja destinado ao mercado novamente). O valor se
deprecia com o tempo. Você deve ter uma noção clara desse fato, principalmente
se considerarmos os produtos de tecnologia, tais como computadores, tablets,
celulares, dentre outros. Se houver uma demora no reprocessamento desses pro-
dutos, quando eles retornarem ao mercado, já não terão o apelo dos produtos de
ponta, o que é um fator importante para a atração de compradores.

34
UNICESUMAR
pensando juntos

A cultura do descarte está cada vez mais internalizada na sociedade. A cultura de con-
sertar um aparelho quebrado se perdeu muito com o passar do tempo. Como você se
comporta em relação à temática?

Dessa forma, para os produtos com as características expostas (alto valor e rápida depre-
ciação), o tempo de retorno é fundamental para a recuperação de valor. Nesse sentido,
os custos de retorno envolvem os custos no processo da logística reversa e a perda de
valor devido ao tempo gasto entre a sua introdução na cadeia reversa e o seu retorno ao
mercado (GARCIA, 2006).
Matematicamente, a ideia exposta seria representada da seguinte forma:
Custo de Retorno para Produtos Pós-Venda = Valor de Retorno + Custo LR
– Valor Recuperado.
Em que:
■ Valor de retorno: valor do produto no mercado, considerando o efeito de de-
preciação com o tempo.
■ Custo LR: custo da logística reversa. Envolve todo o processo necessário, a fim
de torná-lo disponível ao mercado novamente.
■ Valor Recuperado: valor que o mercado aceita pagar pelo produto retornado,
considerando a depreciação no momento de seu retorno.

Em um estudo realizado pelo RLSC, foi constatado que o custo de um Original


Equipment Manufacturer (OEM) pode ser reduzido em 35%, considerando que
10% a 20% dos computadores ou produtos eletrônicos retornam e se depreciam
a uma taxa de 3% por semana.
Outro aspecto a ser considerado é o de que os atrasos no retorno dos produtos
deixam os clientes insatisfeitos e podem proporcionar impactos na participação
de mercado das empresas (GARCIA, 2006). O gráfico da Figura 6 demonstra o
impacto do fator “tempo” na possibilidade de retorno de valor no processo de
logística reversa.

35
Valor do Produto
Retornado
UNIDADE 1

$
Retorno do
Produto Tempo de
Processamento t

Custo de
Processamento
$

Retorno ao
Estoque

Remanufatura

Valor após
Remanufatura

Início do Processo Início do Produto Tempo


após Remanufatura

Figura 6 - Valor de retorno em função do tempo / Fonte: Blackburn et al. (2004)

Descrição da Imagem: há um gráfico cartesiano que mostra, no eixo X, o tempo transcorrido e, no eixo
Y, o valor do produto retornado. A reta de valor do retorno do produto é descendente, ou seja, quanto
maior é o tempo transcorrido, menor é o valor recuperado do bem.

Perceba, no gráfico, que há uma relação direta entre a variável tempo e o valor do
produto retornado para o mercado. Evidentemente, esse valor é cada vez menor
quanto maior for o tempo decorrido desde a entrada do material no processo
logístico, a sua adequação e disponibilização novamente ao mercado.
Outro fator importante a ser considerado na composição dos custos da lo-
gística reversa é o reaproveitamento do material (ou parte dele) em forma de
reciclagem. A reciclagem possibilita o ingresso de numerário para as empresas
e pode ser contabilizado como receita ambiental nas contas de resultados, nas
receitas (vendas de resíduos) e na redução de custos e despesas ambientais (re-
cuperação de resíduos).
Na atuação da logística reversa, desde o início do processo de fabricação, já
são estabelecidas algumas medidas que visam evitar ou diminuir a quantidade
de material descartável. Esse objetivo abrange algumas ações, tais como redução
dos resíduos em sua origem, reutilização dos materiais, maximizando o nível de
36
rotação, e implementação de sistemas de recuperação. Os números podem ser

UNICESUMAR
impactantes:


Reciclar uma tonelada de plástico economiza 130 quilos de petró-
leo; para uma tonelada de vidro, se gasta 70% menos energia do que
fabricar, e para cada tonelada de papel reciclado, poupa-se 22 árvo-
res, e consome-se 71% menos energia, além de poluir 74% menos
que fabricar o produto (IARIA, 2002 apud GARCIA, 2006, [s.p.]).

Impressionante, não é? Há, ainda, outros fatores a serem considerados. No que diz
respeito aos custos, o gestor deve decidir a modelagem logística mais adequada
para lidar com os diferentes tipos de material. Isso se deve, pois, dependendo do
tipo de material, o tempo é o fator mais importante. Para os produtos de menor
valor, o custo do retorno deve ser considerado.
Leite (2009) e Felizardo et al. (1999 apud GARCIA, 2006) expõem os fatores
essenciais para a realização de projetos de Cadeia de Distribuição Reversa (Re-
verse Supply Chain) e os principais elementos que podem modificar a estrutura
e a organização desses canais reversos:
■ Custos: ainda não são bem definidos e são de difícil avaliação.
■ Oferta: materiais reciclados, o que permite a continuidade industrial necessária.
■ Qualidade: deve ser adequada ao processo industrial e constante, a fim de ga-
rantir rendimentos operacionais economicamente competitivos.
■ Tecnologia: a tecnologia e o teor de determinada matéria-prima podem variar
em função do produto de pós-consumo utilizado, redundando em custos dife-
rentes e orientando o mercado de pós-consumo para aquele que se apresenta
mais conveniente.
■ Logística: a característica logística das matérias de pós-consumo, em particular,
a transportabilidade, tem enorme importância para a estruturação e a eficiência
dos canais reversos.
■ Mercado: é necessário que haja, quantitativa e qualitativamente, mercado para
os produtos fabricados com materiais reciclados.
■ Ecologia: novos comportamentos passam a exigir novas posições estratégicas
das empresas sobre o impacto de seus produtos e processos industriais.
■ Governo: é preciso fomentar a legislação com subsídios que afetam o interesse
da área dos materiais reciclados.

37
■ Responsabilidade social: obter a valorização social e a possibilidade de produção
UNIDADE 1

e consumo de produtos ecologicamente corretos.

Em relação ao valor dos produtos que têm origem na logística reversa, um concei-
to com o qual você se deparará é o de Marginal Value of Time for Returns (MVT),
que, em português, significa “Valor Marginal do Tempo de Retorno”. Esse conceito
é explicado por Blackburn et al. (2004), que destacam que, em detrimento de
grande parte da perda recuperável de ativos no fluxo de retorno ser devido aos
atrasos no processamento, os administradores devem ser sensíveis ao valor do
tempo de retorno de produtos e usá-lo como uma ferramenta para o (re)desenho
da cadeia de suprimentos reversa, a fim de conquistar a recuperação de ativos.
Portanto, uma simples, mas eficaz métrica para medir o custo da demora é
o valor marginal do produto no tempo, ou seja, a perda de valor por unidade de
tempo de espera para a conclusão do processo de recuperação.
Ainda em relação à modelagem logística, basicamente, há duas alternativas
apresentadas por Garcia (2006):
1. Cadeia eficiente: desenhada para entregar o produto a baixo custo.
2. Cadeia responsiva (ágil): desenhada para dar velocidade de resposta.

Blackburn et al. (2004) sugerem a seguinte matriz de decisão para a modelagem


logística:
Matriz de Decisão

Cadeia eficiente Cadeia responsiva

Produto Baixo MVT Corresponde Não corresponde

Produto Alto MVT Não corresponde Corresponde

Figura 7 - Matriz de decisão / Fonte: Blackburn et al (2004).

Descrição da Imagem: a figura mostra uma matriz com quatro quadrantes. Assim, há duas colunas:
uma de cadeia eficiente e outra de cadeia responsiva. Também há duas linhas: uma de produto com
baixo MVT e outra de produto com alto MVT. No cruzamento entre as colunas e as linhas, temos duas
correspondências, ou seja, melhores situações: a primeira é de produto com baixo MVT em uma cadeia
eficiente e a outra é de produto com alto MVT em uma cadeia responsiva.

38
Também devemos considerar que um produto não pode entrar no processo

UNICESUMAR
de logística reversa sem uma prévia inspeção. Suponha que existem muitos
produtos a serem inspecionados: forma-se, naturalmente, uma fila para a ins-
peção, para o teste e para a destinação final que se dará ao material, assim como
a Figura 8 demonstra.

Estoque de
reposição

Reparação ou
reforma
Devolução de
produtos no Fila para Inspeção,
campo e canal inspeção, teste teste e
de retorno e disposição disposição

Componentes
salvos
~2 meses ~ 40 dias

Sucata

Figura 8 - Destinação final dos materiais da logística reversa / Fonte: Blackburn et al. (2004).

Descrição da Imagem: a figura retrata o ciclo de retorno do produto, que considera a sua introdução no
canal de retorno e o tempo decorrido na fila de inspeção até ser destinado a um fim possível, o que abran-
ge o estoque de reposição, a reparação ou reforma, o destino dos seus componentes salvos e a sucata.

Percebeu, na figura anterior, o tempo decorrido desde a chegada do material


até a sua entrada na inspeção? Inacreditáveis 100 dias. Dependendo do tipo de
material, esse tempo pode determinar o grau de retorno que a empresa terá com
a volta do material ao mercado ou partes dele ao processo produtivo.
Também podemos transpor o processo presente na figura em forma de equa-
ção matemática:
TDD = (TPL + TINSP)
Em que:
TDD: Tempo de Tomada de Decisão da Destinação.
TPL: Tempo dos Produtos no Funil de Retorno (pipeline) até a Chegada da
Inspeção.
TINSP: Tempo na Fila de Inspeção + Tempo dos Testes

39
Assim, no exemplo, temos:
UNIDADE 1

TPL = 2 meses (ou 60 dias)


TINSP = 40 dias.
Diante disso, pela fórmula: TDD = (60 + 40).
TDD = 100 dias.
Não é tão complicado, não é mesmo?
Na Figura 9, em um exemplo hipotético proposto por Blackburn et al. (2004),
podemos constatar as perdas no processo de logística reversa, considerando um
fluxo de 1.000 unidades monetárias. Você notará que alguns materiais e produtos
podem voltar como novos ao mercado (algo em torno de 20%). Existe uma perda
aceita de aproximadamente 45%.
Perceba, também, que sempre há alguma forma de retorno, seja qual des-
tino for dado ao produto/material retornado. O funil serve para representar o
fator tempo, que é muito importante no processo, assim como você já constatou.
Quanto maior for o tempo (ou seja, mais próximo do final do funil), menor será
o valor, o qual pode ser igual a zero, quando o produto/material for transformado
em sucata e não tiver uma destinação determinada.
~2 meses
O impacto desse fato no canal reverso também pode ser visualizado na Figura 9,
que demonstra o fluxo reverso com as possíveis recuperações de valor. Observe um
detalhe interessante na figura: o seu formato. Ele atribui a noção de afunilamento, ou
seja, quanto mais próximo do final do fluxo, há menos chances de recuperação.

20% como novos, retorno ao estoque

Perda no valor do ativo: >45%

Fluxo de retorno 15% sucata


($ 1000)

10% componentes salvados

10% remodelado 45% conserto e


com baixo uso remanufatura

Figura 9 - Funil de retorno dos materiais no fluxo reverso / Fonte: Blackburn et al. (2004).

Descrição da Imagem: a figura ilustra um funil de retorno de materiais em um fluxo reverso. Na entrada
do funil, há o fluxo de retorno e, no final, o que resta como sucata. No corpo do funil, existem saídas.
Uma é destinada aos produtos novos que retornam ao estoque e outra é voltada aos materiais que serão
remodelados com baixo uso de conserto e manufatura. Também há outra saída, a qual é relacionada aos
componentes salvos. Em cada uma delas, há uma indicação do valor percentual recuperado no processo.

40
A figura anterior ilustra a ideia de que, se compararmos um produto retornado

UNICESUMAR
em relação ao valor do produto novo, há uma perda no valor do ativo de mais de
45% e somente 20% pode retornar enquanto produtos novos. Entretanto, con-
siderando o fato de que, se não houver nenhuma ação gerencial sobre o retorno
dos itens na cadeia reversa, o prejuízo é total, há que se considerar que a empresa
recupera valor, ou seja, tem entrada de recursos em seu caixa pelo tratamento
correto de produtos retornados.

conecte-se

No Brasil, o Ministério do Meio Ambiente (MMA) é o principal responsável


pelas políticas ambientais do país. No portal do MMA, encontramos algumas
informações muito úteis sobre a logística reversa.

Por fim, é interessante observarmos alguns apontamentos quanto aos custos da lo-
gística reversa, os quais são destacados por Leite ([2021], on-line), que afirma que:


Embora os custos de reaproveitamento, realizados com escala,
qualidade e com processos adequados sejam compensadores de
uma forma geral, os custos de Logística Reversa propriamente
dita, ou seja, os custos operacionais de coleta, transporte, ma-
nuseio etc. são por natureza altos, quando comparados com a
logística direta. Neste sentido, embora se saiba que alguns dos
desafios acima mencionados sejam de longo prazo, algumas
oportunidades existem, como por exemplo:

■ Adequação dos projetos dos produtos às necessidades de reaproveitamento


reduzindo os custos envolvidos. Isto envolve uniformização de materiais,
redução de soldas e ligações permanentes, identificação das partes, uso dos
conceitos de rastreabilidade etc.
■ Organização eficiente da rede de atividades da Logística Reversa: formas
de coleta, transportes, localização destas atividades, processamentos in-
termediários etc.

41
■ Aumento das escalas de atividades em todas as áreas das cadeias reversas de
UNIDADE 1

pós-consumo propiciando melhores tecnologias, consistência e qualidade


nas atividades.
■ Implantação tecnologias de tratamento de resíduos sólidos com alto de-
sempenho para escalas maiores.
■ Destinação de recursos adequados para capacitação de mão de obra qua-
lificada e recursos em equipamentos.
■ Adequação de soluções e incentivos governamentais para áreas industriais
e comerciais que estejam envolvidas com a execução de programas de Lo-
gística Reversa. Este aspecto é de vital importância na medida em que, além
das conhecidas tributações redundantes que oneram muito os produtos
reaproveitados e o seu uso posterior, seriam necessários incentivos em for-
ma de financiamentos para melhorias tecnológicas, condições especiais de
transporte, entre outras providencias e inovações necessárias a esta área, que
poderá gerar um PIB de economia reversa considerável, além de apreciável
quantidade de empregos.

Assim, prezado(a) aluno(a), é evidente que o gerenciamento dos custos da logísti-


ca reversa está implícito no planejamento das ações dos gestores organizacionais.

42
Prezado(a) aluno(a),

UNICESUMAR
As questões ambientais estão presentes no dia a dia das organizações empre-
sariais e na nossa rotina. Nosso modelo econômico é baseado em produção e em
consumo. O impacto que esse fato causa no meio ambiente é evidente e obter
um equilíbrio nessa difícil equação não é simples. Felizmente, você, eu e a maior
parte da sociedade já se despertou para a noção de que o consumo é necessário,
mas precisa ser consciente. Por outro lado, as empresas precisam entender que
os seus processos de produção estão diretamente ligados à essa conscientização.
A perda de valor econômico das instituições que falharam nas boas práticas
ambientais pode ser medida com alguns casos, tais como os da Samarco e da Vale,
que aconteceram no Brasil. No mundo, esses casos se multiplicam, assim como
o desastre da Usina de Fukushima, no Japão, em 2011 (era evitável?), o derrama-
mento de milhões de litros de óleo na costa do Alasca pelo navio Exxon Valdez,
em 1989, dentre tantos outros.
A sociedade se choca com as imagens dos desastres ambientais noticiados e
o seu reflexo nas bolsas de valores, locais em que as empresas têm ações a serem
comercializadas, é imediato. Nenhuma empresa deseja ver o seu valor no mer-
cado ser reduzido drasticamente em consequência desses impactos ambientais.
Por isso, os processos de compliance das grandes organizações já contemplam as
boas práticas de prevenção e a mitigação de riscos ambientais.
Contudo, somente isso não basta. É preciso que a sociedade fique sempre
em alerta. Saber lidar com as questões ambientais não é só uma questão de so-
brevivência empresarial, mas de sobrevivência da própria raça humana sobre o
planeta. Pense nisso!

43
na prática

1. Os governos procuram promover, por meio de suas ações, uma melhor qualidade de
vida às suas populações, especialmente àquela parcela mais vulnerável. Acredita-se
que o crescimento econômico é um caminho natural para alcançar esse objetivo.
O crescimento econômico é traduzido em maior consumo de recursos naturais. A
discussão sobre o quanto nós podemos consumir de recursos naturais sem compro-
meter a sobrevivência da humanidade foi abordada por um documento conhecido
como “Nosso Futuro Comum”.

Em relação a uma conclusão importante contida no relatório Nosso Futuro Comum,


assinale a alternativa correta:

a) É possível crescer economicamente sem a necessidade dos recursos naturais.


b) O crescimento da população acontece em progressão aritmética, enquanto a
produção de alimentos acontece em progressão geométrica.
c) É possível propor o desenvolvimento sustentável para as gerações atuais e para
as gerações futuras.
d) O combate à pobreza e o desenvolvimento sustentável são incompatíveis.
e) Considerando que as gerações futuras precisarão de recursos, a geração atual
não pode utilizá-los para si.

44
na prática

2. Em um estudo promovido pelo Clube de Roma, algumas conclusões são alinhadas ao


pensamento Malthusiano, o que tornou os prognósticos desse relatório conhecidos
como neomalthusianos.

Considerando o relatório do Clube de Roma e o pensamento malthusiano, analise


as afirmativas a seguir:

I - 100 anos é o prazo estimado para que os recursos da Terra não deem mais
conta de sustentar a vida humana no planeta, de acordo com o relatório “Os
Limites do Crescimento”.
II - Thomas Malthus afirmou que, enquanto a produção de alimentos aumentaria
de forma aritmética, a população cresceria de forma geométrica.
III - Uma das conclusões do relatório “Os Limites do Crescimento” é o de que a ca-
pacidade de produção de alimentos da Terra dará conta de qualquer população
humana no planeta.
IV - Uma das propostas do relatório “Os Limites do Crescimento” é a de que os países
ricos acumulem cada vez mais riquezas, a fim de sustentar os países pobres.

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

45
na prática

3. A logística não é mais entendida apenas como um apêndice dos processos organi-
zacionais. Na verdade, a logística é compreendida como estratégica e faz a diferença
na competitividade empresarial. É uma evolução que trouxe ganhos importantes,
especialmente no tocante ao atendimento do cliente.

No que diz respeito à evolução da logística, leia as afirmativas a seguir:

I - Uma evolução nítida na logística tradicional em relação à logística estratégica


se dá no fato de que a logística estratégica é vista como um suporte para a
integração.
II - O SCM envolve a administração sinérgica dos canais de abastecimento e todos
os participantes da cadeia de valor, integrando os seus processos de negócios,
a fim de gerar vantagens competitivas.
III - Na administração estratégica, o potencial de cada componente da cadeia é le-
vado em consideração, de modo convergir os esforços para que os resultados
sejam atingidos.
IV - Na visão de longo prazo da logística estratégica, o PSL pode ser contratado a
curto prazo ou para uma única tarefa.

É correto o que se afirma em

a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II, III e IV.

46
na prática

4. A evolução da logística tradicional, que estabeleceu fluxos eficientes de produtos


e serviços da origem até o consumidor, fez com que as empresas ganhassem
eficiência e reduzissem os seus custos. Com a introdução do conceito de logística
reversa, o planejamento e a arquitetura dos canais logísticos tiveram, necessaria-
mente, que ser repensados.

Sobre a logística reversa, analise as asserções a seguir e a relação proposta entre elas:

I - Os canais logísticos que contemplavam um fluxo em direção ao consumidor


final tiveram que ser alterados.

Porque

II - Na logística reversa, o movimento dos materiais se dá em direção à cadeia, que


pode envolver, ou não, todos os membros do canal de distribuição.

A respeito das asserções, assinale a alternativa correta:

a) As duas asserções são verdadeiras e a segunda é um complemento da primeira.


b) As duas asserções são verdadeiras, mas a segunda não complementa a primeira.
c) A primeira asserção é verdadeira e a segunda é falsa.
d) A primeira asserção é falsa e a segunda é verdadeira.
e) As duas asserções são falsas.

47
na prática

5. Os estudos voltados à logística reversa avançaram com o passar do tempo e já é


possível encontrar um acervo importante de obras de diversos autores sobre o tema.
Nessas obras, é possível identificar aspectos em comum.

Assinale a alternativa que melhor contemple o conceito de logística reversa:

a) A logística reversa se ocupa da forma como os materiais depositados em lixões


podem ser separados e reinseridos no processo produtivo, recuperando as áreas
degradadas.
b) A logística reversa planeja, implementa e controla de forma eficiente e eficaz os
fluxos diretos e reversos que envolvem as matérias-primas, os produtos aca-
bados, os serviços e as informações entre o ponto de origem e o ponto de
consumo, buscando a recuperação de valor e o atendimento às expectativas
dos stakeholders.
c) A logística reversa estabelece um fluxo reverso no qual os produtos que não são
consumidos pelos clientes podem voltar à cadeia de suprimentos e ser nova-
mente vendidos como produtos novos.
d) A logística reversa trata do planejamento, da implementação e do controle dos
fluxos reversos, unicamente do ponto de origem ao ponto de consumo, de modo
a atender às necessidades dos clientes.
e) A logística reversa se ocupa do planejamento, da implementação e do controle
das matérias-primas que não são utilizadas no processo produtivo e podem ser
novamente inseridas na produção, mediante o recolhimento adequado.

48
aprimore-se

ACORDO DE PARIS

Na 21ª Conferência das Partes (COP21) da UNFCCC, em Paris, foi adotado um novo
acordo com o objetivo central de fortalecer a resposta global à ameaça da mudança
do clima e de reforçar a capacidade dos países para lidar com os impactos decor-
rentes dessas mudanças.
O Acordo de Paris foi aprovado pelos 195 países Parte da UNFCCC para reduzir
emissões de gases de efeito estufa (GEE) no contexto do desenvolvimento sustentá-
vel. O compromisso ocorre no sentido de manter o aumento da temperatura média
global em bem menos de 2°C acima dos níveis pré-industriais e de envidar esforços
para limitar o aumento da temperatura a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Para que comece a vigorar, necessita da ratificação de pelo menos 55 países
responsáveis por 55% das emissões de GEE. O secretário-geral da ONU, numa ce-
rimônia em Nova York, no dia 22 de abril de 2016, abriu o período para assinatura
oficial do acordo, pelos países signatários. Este período se encerrou em 21 de abril
de 2017.
Para o alcance do objetivo final do Acordo, os governos se envolveram na cons-
trução de seus próprios compromissos, a partir das chamadas Pretendidas Con-
tribuições Nacionalmente Determinadas (iNDC, na sigla em inglês). Por meio das
iNDCs, cada nação apresentou sua contribuição de redução de emissões dos gases
de efeito estufa, seguindo o que cada governo considera viável a partir do cenário
social e econômico local.
Após a aprovação pelo Congresso Nacional, o Brasil concluiu, em 12 de setembro
de 2016, o processo de ratificação do Acordo de Paris. No dia 21 de setembro, o ins-
trumento foi entregue às Nações Unidas. Com isso, as metas brasileiras deixaram
de ser pretendidas e tornaram-se compromissos oficiais. Agora, portanto, a sigla
perdeu a letra “i” (do inglês, intended) e passou a ser chamada apenas de NDC.

49
aprimore-se

A NDC do Brasil comprometeu-se a reduzir as emissões de gases de efeito estufa


em 37% abaixo dos níveis de 2005, em 2025, com uma contribuição indicativa sub-
sequente de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 43% abaixo dos níveis
de 2005, em 2030. Para isso, o país se comprometeu a aumentar a participação de
bioenergia sustentável na sua matriz energética para aproximadamente 18% até
2030, restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, bem como alcan-
çar uma participação estimada de 45% de energias renováveis na composição da
matriz energética em 2030.
A NDC do Brasil corresponde a uma redução estimada em 66% em termos de
emissões de gases efeito de estufa por unidade do PIB (intensidade de emissões)
em 2025 e em 75% em termos de intensidade de emissões em 2030, ambas em
relação a 2005. O Brasil, portanto, reduzirá emissões de gases de efeito estufa no
contexto de um aumento contínuo da população e do PIB, bem como da renda per
capita, o que confere ambição a essas metas.
Fonte: MMA ([2021], p. 1-2).

50
eu recomendo!

livro

Logística reversa: em busca do equilíbrio econômico e am-


biental
Autora: Patrícia Guarnieri
Editora: Clube de autores
Sinopse: diversos são os motivos que tornam a logística reversa
um assunto tão relevante nos dias atuais. Dentre eles, estão: a
redução do ciclo de vida mercadológico dos produtos, o surgi-
mento de novas tecnologias e de novos materiais em suas constituições, a sua
obsolescência precoce, a ânsia descontrolada dos consumidores por novos lan-
çamentos e os altos custos de reparos dos bens diante do seu preço de mercado.
Comentário: o livro explica a logística reversa e as suas principais vantagens e difi-
culdades. Não só, mas também expõe o impacto da Política Nacional de Resíduos
Sólidos para os atores envolvidos na geração dos resíduos, o seu planejamento
e a sua mensuração. Além do mais, fornece detalhes dos processos de logística
reversa dos resíduos de eletroeletrônicos, eletrodomésticos, eletrônicos, pilhas,
baterias e lâmpadas. No último capítulo, são apresentados dois estudos de caso
que envolvem os resíduos das indústrias automobilística e madeireira, a fim de
ilustrar os conceitos apresentados.

filme

A era da estupidez
Ano: 2009
Sinopse: “A era da estupidez” mostra o nível que a destruição
ambiental chegou no mundo e alerta para a responsabilidade de
cada indivíduo em impedir a anunciada catástrofe global. Mis-
turando documentário com ficção, o filme é estrelado pelo ator
indicado ao Oscar, Pete Postlethwaite, que interpreta um velho
sobrevivente no devastado mundo de 2055. Ao analisar as cenas
das muitas tragédias ambientais ocorridas no início do século 21, o personagem
se pergunta o motivo pelo qual os seres humanos não se salvaram quando ainda
tinham a chance.

51
2
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
REVERSOS DE
PÓS-CONSUMO
(CDR-PC)
PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • de Distribuição Reversos de Pós-
-Consumo (CDR-PC) • A descartabilidade na logística reversa • A disposição dos bens de pós-consumo
• Os objetivos econômicos da logística de pós-consumo. • A classificação dos bens de pós-consumo
e os Canais

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender a classificação dos bens de pós-consumo. • Entender a dinâmica de funcionamento
dos Canais de Distribuição Reversos de Pós-Consumo (CDR-PC). • Conhecer os aspectos da descarta-
bilidade e a disposição de bens na logística reversa. • Estudar os objetivos econômicos da logística de
pós-consumo.
INTRODUÇÃO

Quando consideramos os impactos ambientais provocados pela huma-


nidade, certamente, o que nós lembramos, de imediato, são as imensas
pilhas de lixo espalhadas pelas cidades, pelos rios, pelas matas e pelos
mares, as quais produzem todo o arsenal de imagens que causam repulsa,
revolta e indignação.
No entanto, nesses montantes de lixo, está presente o lixo que geramos
em nossas casas, em nossas empresas e em nossos carros. Somos os prin-
cipais responsáveis pela geração daquilo que desprezamos, porque é o ser
humano que, com o seu modo de consumo cada vez mais “descartável”,
provoca os impactos que destroem a paisagem, contaminam o lençol freá-
tico, poluem o ar e matam os peixes nos rios e nos mares.
O modo “fast” de vida, em que tudo é consumido rapidamente e as em-
balagens e os restos são descartados tão rapidamente quanto o produto con-
sumido, não parece ter uma solução a curto prazo. Diante dos resíduos e dos
lixos gerados pelo consumo, há a grande questão: o que fazer com tudo isso?
Já sabemos que a sociedade, os clientes e os governos têm exigido uma
postura ambientalmente responsável por parte das empresas que são as fa-
bricantes dos produtos descartados. As empresas são motivadas por ques-
tões econômicas (para não perder mercado ou para não perder dinheiro
com o pagamento de multas) e, nos mais recentes casos, por assumirem,
em seu código de ética e valores, que devem cuidar do seu entorno e dos
impactos de suas atividades.
De qualquer forma, para os gestores logísticos, é preciso conhecer exata-
mente as implicações desse tipo de material, que é conhecido como “material
de pós-consumo”. É esse o tema principal desta unidade. Bons estudos!
1
A CLASSIFICAÇÃO E OS CANAIS
UNIDADE 2

DE DISTRIBUIÇÃO
REVERSOS DE
PÓS-CONSUMO

Antes de explicarmos propriamente o que são os Canais de Distribuição Reversos


de Pós-Consumo (CDR-PC), é importante afirmarmos que as empresas forma-
tam os seus canais de distribuição por razões objetivas. Elas são elencadas por
ordem de importância, o que inclui:
1. Aumentar a competitividade;
2. “Limpar” o canal através da redução de estoques parados;
3. Respeitar legislações existentes;
4. Revalorização econômica; e
5. Recuperar valor de ativos (ROGERS; TIBBEN-LEMBCKE, 1998 apud
RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 80).

Perceba que, dentre os motivos listados, a maior parte é voltada aos aspectos
econômicos, seja pelo aumento da receita, seja pela recuperação de valor. A
revalorização econômica acontece quando o bem retornado no processo de
logística reversa pode ser destinado aos canais reversos alternativos. Dessa
forma, são gerados os valores chamados de “residuais”, que podem ser impor-
tantes para a companhia.
Isso acontece em virtude de, apesar de sempre imaginarmos a logística reversa
enquanto um movimento montante na cadeia de suprimentos, ou seja, como um
movimento contrário ao fornecimento, nem sempre é assim que acontece na prá-
tica. Por vezes, o bem retornado pode, de fato, ser inserido novamente no processo
54
produtivo, por exemplo, tornando-se novamente matéria-prima no processo da

UNICESUMAR
própria empresa. Nem sempre isso é possível, mas ainda há a possibilidade de
gerar receitas pela venda a outras empresas que poderiam absorver o material
como matéria-prima ou componente de seus processos.
Além disso, quando falamos da logística de pós-consumo, evidentemente,
trataremos dos materiais que são, na maioria das vezes, descartados como lixo.
Para nós, o que é considerado lixo pode ter potencial econômico. Portanto, ele-
varemos esses materiais do nível de lixo ao nível de resíduos. Não é apenas uma
mudança semântica. Trata-se de uma alteração na visão gerencial. Só chama-
remos de lixo o que, de fato, não puder ser aproveitado de alguma maneira nos
processos produtivos.
Na Unidade 1, estudamos o ciclo de vida dos produtos e constatamos que
uma classificação possível é quanto à sua durabilidade. Em outras palavras, um
produto, apesar de ser durável, em certo momento, cumpre o seu propósito ao
se tornar inútil ao usuário (você se lembra do três em um?) ou ao apresentar um
defeito após o período de garantia, cujo conserto não compensa o gasto. Soman-
do-se a esse tipo de produto, temos, ainda, as embalagens nas quais os itens foram
acondicionados e os resíduos industriais provenientes dos processos produtivos.
Assim, é constituído o cenário para a atuação de um Canal de Distribuição
Reverso de Pós-Consumo. Para fins de conceituação, usaremos a definição de
Leite (2017, p. 100), que assim classifica os Canais de Distribuição Reversos de
Bens de Pós-Consumo (CDR-PV):


Constituem-se nas diversas etapas de comercialização e industriali-
zação pelas quais fluem os resíduos industriais e os diferentes tipos
de utilidade ou seus materiais constituintes, até sua reintegração ao
processo produtivo, por meio de subsistemas de reuso, remanufa-
tura ou reciclagem.

Há uma similaridade global a respeito da estrutura básica dos canais reversos, ape-
sar de serem delineadas algumas especificidades em determinados países, devido às
suas legislações e às diferentes fontes de resíduos de pós-consumo (LEITE, 2017).
Para que você tenha noção da constituição dos bens de pós-consumo, recomendo
uma visita a área destinada ao lixo urbano de sua cidade. Será uma experiência
muito rica, pois você terá um verdadeiro laboratório diante de você. Trabalharemos
o assunto legal relacionado ao lixo urbano e ao descarte na Unidade 4.
55
Algumas constatações, contudo, podemos fazer desde já. A Associação Bra-
UNIDADE 2

sileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) expõe


alguns dados preocupantes em seu relatório sobre os Resíduos Sólidos Urbanos
(RSU) do período de 2018/2019:


Os dados revelam que, em 2018, foram geradas no Brasil 79 milhões
de toneladas, um aumento de pouco menos de 1% em relação ao
ano anterior. Desse montante, 92% (72,7 milhões) foi coletado. Por
um lado, isso significa uma alta de 1,66% em comparação a 2017: ou
seja, a coleta aumentou num ritmo um pouco maior que a geração.
Por outro, evidencia que 6,3 milhões de toneladas de resíduos não
foram recolhidas junto aos locais de geração.

A destinação adequada em aterros sanitários recebeu 59,5% dos


resíduos sólidos urbanos coletados: 43,3 milhões de toneladas, um
pequeno avanço em relação ao cenário do ano anterior.

O restante (40,5%) foi despejado em locais inadequados por 3.001


municípios. Ou seja, 29,5 milhões de toneladas de RSU acabaram
indo para lixões ou aterros controlados, que não contam com um
conjunto de sistemas e medidas necessários para proteger a saúde
das pessoas e o meio ambiente contra danos e degradações (ABEL-
PRE, 2019, p. 11).

A situação da coleta dos resíduos sólidos urbanos também é bastante irregular no


Brasil, se considerarmos as suas regiões. Observe, na Figura 1, como se apresenta
a realidade desse serviço público.

56
UNICESUMAR
NORDESTE
NORTE
2017 22,4%
2017 6,5% 2018 22,0%
2018 6,6%

CENTRO SUDESTE
OESTE
2017 52,9%
2017 7,3%
2018 53,2%
2018 7,5%

SUL
2017 10,9%
2018 10,8%

Figura 1 - Panorama da coleta de RSU no Brasil por regiões / Fonte: ABRELPE (2019, p. 13).

Descrição da Imagem: a figura mostra o mapa do Brasil. Ele é dividido por regiões e, em cada uma, há
um círculo indicando o percentual da coleta de Resíduos Sólidos Urbanos, que compara o ano de 2017
com o de 2018. O Norte, em 2017, teve 6,5%, enquanto, em 2018, teve 6,6%; o Nordeste, em 2017, teve
22,4%, enquanto, em 2018, teve 22,0%; o Centro-Oeste, em 2017, teve 7,3%, enquanto, em 2018, teve 7,5%;
o Sudeste, em 2017, teve 52,9%, enquanto, em 2018, teve 53,2%; o Sul, em 2017, teve 10,9%, enquanto,
em 2018, teve 10,8%.

Há, sem dúvida, um longo caminho a ser percorrido. O fato é que todos os ma-
teriais que são classificados como bens de pós-consumo (duráveis, semiduráveis,
descartáveis ou resíduos industriais) podem ser descartados ou disponibilizados
aos consumidores, a fim de, dessa forma, dar início aos processos no CDR-PV.
Alguns fluxos possíveis, após o ingresso do item na cadeia reversa, estão ilus-
trados na Figura 2.

57
Fabricante de matérias-primas novas
UNIDADE 2

Resíduos Fabricante de produtos Materiais


(duráveis/descartáveis) reciclados
industriais

Consumidor final Mercados


(empresa/pessoa física) secundários

Bens de pós-consumo

Descartáveis/semiduráveis Duráveis/semiduráveis

Coleta Coleta Coleta do Desmanche Reuso


informal seletiva lixo

Sobras Componentes
Intermediários (sucateiros)

Remanufatura
Indústrias de reciclagem Incineração

Figura 2 - Canais de distribuição de pós-consumo direto e reverso / Fonte: Leite (2017, p.


102).

Descrição da Imagem: a figura retrata, por meio de caixas com etapas, o fluxo da logística reversa, o que
abrange desde o fabricante das matérias-primas novas, passando pela fabricação, até chegar ao descarte
dos produtos, dos componentes, das sobras e das peças.

Leite (2017) classifica os canais de distribuição reversos em dois tipos:


1. Canais de distribuição reversos de ciclo aberto.
2. Canais de distribuição reversos de ciclo fechado.

Observe, no Quadro 1, as principais características de cada tipo de canal reverso.

58
Tipo Características Exemplos de materiais

UNICESUMAR
Metais (ferro, alumínio, co-
Foco na matéria-prima. As
bre etc.), plásticos (políme-
matérias-primas novas são
Ciclo aberto ros, tais como polietilenos
substituídas na fabricação de
e polipropilenos), vidros e
diferentes produtos.
papéis.

Foco no produto. Os mate-


Latas de alumínio, baterias
Ciclo riais constituintes são extraí-
de automóveis e óleos lubri-
fechado dos para a fabricação de um
ficantes.
produto similar ao de origem.

Quadro 1 - Características dos canais reversos de ciclo aberto e fechado / Fonte: adaptado
de Leite (2017).

Na Figura 3, há exemplos de ciclo reverso aberto.

Automóveis / Navios / Pontes / Extração do Chapas / Vergalhões / Barras /


Máquinas / Eletrodomésticos / material ferroso Lingotes / Etc.
Etc.

Embalagens / Tambores / Sacos de lixo / Potes e vasos /


Utensílios Domésticos / Extração do Móveis / Peças mecânicas / Peças
Brinquedos / Computadores / material plástico elétricas / Etc.
Etc.

Figura 3 - Exemplos de ciclo reverso aberto / Fonte: Leite (2017, p. 89).

Descrição da Imagem: a figura retrata dois exemplos de ciclo reverso aberto. No primeiro, são mostrados
os bens duráveis, tais como os automóveis, os navios e as pontes, dos quais se extrai o material ferroso
que comporá alguns bens, como chapas, vergalhões, barras e lingotes. No segundo exemplo, há alguns
bens, tais como embalagens, utensílios domésticos, brinquedos e computadores, dos quais se extrai
o material plástico para a criação de sacos de lixo, potes, vasos, móveis e peças mecânicas e elétricas.

59
No que diz respeito aos canais reversos de ciclo fechado, o quadro a seguir de-
UNIDADE 2

monstra a lógica desse processo:


Produto de origem Principais materiais
Novo produto
de pós-consumo extraídos

Eliminação de impu-
Óleos lubrificantes Óleos lubrificantes
rezas e acréscimo de
usados novos
aditivos

Baterias de veículos Plástico e extração do Baterias de veículos


descartadas chumbo novas

Latas de alumínio de
Extração da liga de
embalagens descar- Latas de alumínio novas
alumínio
táveis

Quadro 2 - Canais reversos de ciclo fechado / Fonte: Leite (2017, p. 90).

Uma pontuação relevante que Leite (2017) faz é em relação ao equilíbrio entre o
fluxo direto e o fluxo reverso. Entendemos que o fluxo direto se dá em direção ao
mercado, enquanto o fluxo reverso é o retorno do bem após o seu ciclo de vida.
Nessa lógica, o autor destaca que há um equilíbrio quando o fluxo direto é igual ao
fluxo reverso. Podemos visualizar essa relação na Figura 4, que é exposta a seguir:

RETORNO AO
CICLO PRODUTIVO
CANAIS
DIRETOS
F(D)/F(R)
CANAIS
REVERSOS
F(D)
FLUXO DIRETO F(R) LOGÍSTICA
FLUXO REVERSA DE
REVERSO PÓS-CONSUMO

PRODUTOS DE PÓS-CONSUMO
FR = FD -> Equilíbrio -> F(R) = F(D)
FR < FD -> Poluição -> F(R) < F(D)

Figura 4 - Relação entre o fluxo direto e o fluxo reverso / Fonte: Leite (2017, p. 85).

Descrição da Imagem: a figura retrata um esquema que mostra, por intermédio de uma balança, a
busca pelo equilíbrio entre os materiais provenientes dos canais diretos e os materiais provenientes dos
canais reversos. Quando essas duas grandezas são iguais, o sistema está em equilíbrio. Por outro lado,
quando os produtos dos canais diretos são maiores que os produtos dos canais reversos, há poluição.

60
Assim como é demonstrado na Figura 4, a balança teria um equilíbrio se o fluxo

UNICESUMAR
reverso fosse igual ao fluxo reverso. Esse seria o melhor dos mundos, visto que
os materiais de pós-consumo estariam sendo integralmente reaproveitados em
novos processos produtivos. Outra situação possível é a de que fluxo direto seja
maior que o ciclo reverso. Nesse caso, há a formação de depósitos (nem sempre
adequados) de sucatas e resíduos, ocasionando, muitas vezes, poluição.

conecte-se

A cadeia de recuperação das embalagens PET se tornou robusta no Brasil


nos últimos anos. O retorno das embalagens possibilitou a alimentação de
processos produtivos importantes, tais como os da indústria têxtil. Cerca
de 1/3 do faturamento da indústria de PET, no Brasil, advém do retorno de
materiais.

Em detrimento de os países desenvolvidos terem uma taxa de substituição de


produtos maior, em decorrência do maior poder aquisitivo, a sua produção de
produtos em descarte também tende a ser maior. A recuperação econômica dos
produtos para os canais de logística reversa de pós-consumo não é capaz de
abranger todo o material produzido, o que gera um movimento de troca inter-
nacional de materiais secundários entre países (LEITE, 2017).
A realização da troca internacional é duramente criticada por movimentos
ambientalistas. O argumento dos integrantes desses movimentos é o de que os
países mais ricos “se livram” de seus entulhos, transferindo-os para os países pe-
riféricos (países pobres), que não conseguem fazer o aproveitamento adequado
desses materiais, acumulando-os em montanhas de sucatas e de lixos eletrônicos.
De qualquer forma, precisamos encarar a situação: trata-se de um desafio
aos gestores logísticos que precisa, de alguma maneira, ser enfrentado. Em con-
sequência disso, a partir de agora, analisaremos com atenção a descartabilidade
na logística reversa.

61
2
A DESCARTABILIDADE
UNIDADE 2

NA LOGÍSTICA REVERSA
E A DISPOSIÇÃO
DE BENS DE
PÓS-CONSUMO

Já sabemos que vários itens, os quais podemos classificar como “bens de pós-con-
sumo”, muitas vezes, são simplesmente descartados. Diante da evolução tecno-
lógica, que é cada vez mais rápida, e da filosofia da obsolescência programada
– estratégia de lançamento de produtos com obsolescência conhecida antecipa-
damente, porque o outro item já está programado para ser lançado e substituirá
o anterior – adotada por um número cada vez maior de empresas, os produtos
deixam de ser úteis aos clientes com uma velocidade espantosa.
Um bem durável, como um aparelho de TV, que, na época de nossos pais, era
praticamente para a vida toda, é rapidamente substituído por modelos mais mo-
dernos e com mais funcionalidades. A cultura do conserto de aparelhos eletroele-
trônicos está se desfazendo. Como resultado, é muito comum encontrarmos esses
tipos de aparelhos abandonados em caçambas de lixo ou em lixões a céu aberto.

conceituando

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem sede em Nova York, nos Estados Unidos, e
é composta por 193 países-membros. Em sua composição, diversos programas são pa-
trocinados e gerenciados. Dentre eles, está o Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (PNUMA).

62
Ao traçarmos um panorama do chamado “lixo eletrônico” no Brasil e no mun-

UNICESUMAR
do, os números são assustadores. Estudos realizados pelo Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostram que a China e os Estados
Unidos são os dois maiores produtores de lixo eletrônico no mundo. O mundo
todo produziu 53,6 milhões de toneladas de lixo eletrônico em 2019 e esses dois
países foram os responsáveis, respectivamente, por 10,1 milhões de toneladas e
6,9 milhões de toneladas. Ainda de acordo com o referido relatório:


[...] o mundo gerou 53,6 mega toneladas de lixo eletrônico, uma
média de 7,3 kg por pessoa. O total do lixo eletrônico gerado au-
mentou 9,2 milhões de toneladas desde 2014 e deve crescer para
74,7 milhões de toneladas em 2030. Esse crescimento corresponde
a quase o dobro em 16 anos (ONU NEWS, 2020, on-line).

Esse crescimento é preocupante. A grande incógnita é justamente o retorno des-


ses itens aos processos reversos, ou seja, se há algum tipo de aproveitamento a
ser aplicado nesses materiais. Veremos algumas possibilidades de benefícios mais
adiante.
Para as empresas, esse retorno não deve ser tratado com amadorismo. Diante
disso, no desenvolvimento dos processos da logística reversa, foi instaurado um
mecanismo de gestão em relação aos produtos retornados. Trata-se do Product
Recovery Management (PRM), que, em português, significa “Administração da
Recuperação de Produtos”. Todavia, o que é PRM?
De acordo com Daher, Silva e Fonseca (2006, p. 59), o PRM pode ser definido
como “o gerenciamento de todos os produtos, componentes e materiais usados e
descartados pelos quais uma empresa fabricante é responsável legalmente, con-
tratualmente ou por qualquer outra maneira”.
É importante frisarmos que o PRM trabalha com diversos problemas admi-
nistrativos, dentre os quais está a logística reversa. Na Tabela 1, você conhecerá
as seis principais áreas do PRM.

63
ÁREA ABRANGÊNCIA
UNIDADE 2

Desenho do produto, tecnologia de recuperação e adap-


Tecnologia
tação de processos primários.

Criação de boas condições de mercado para quem des-


Marketing
carta o produto e para os mercados secundários.

Previsão de oferta e demanda, e adaptação dos sistemas


Informação
de informação nas empresas.

Distribuição de tarefas aos vários membros da organi-


Organização zação de acordo com a sua posição na cadeia de supri-
mentos e na estratégia de negócios.

Financiamento das atividades da cadeia e avaliação dos


Finanças
fluxos de retorno.

Logística Reversa Definição dos fluxos independentes para a logística


e Administração reversa.
de Operações Integração ao Supply Chain Management (SCM).

Tabela 1 - Abrangência das áreas do PRM / Fonte: adaptada de Daher, Silva e


Fonseca (2006).

Qual seria o principal foco da PRM? Parece claro, mas convém destacar que ele
está na recuperação máxima dos valores econômico e ecológico dos produtos,
componentes e materiais.
Essa é a proposta de Krikke (1998 apud DAHER; SILVA; FONSECA, 2006),
que estabelece quatro níveis em que os materiais e os produtos retornados po-
dem ser recuperados: nível de produto, módulo, partes e material. Considerando
esses níveis, a reciclagem é a recuperação ao nível de material, que é considerado
o nível mais baixo.

64
Seguindo a sua linha de raciocínio, Krikke (1998 apud DAHER; SILVA; FON-

UNICESUMAR
SECA, 2006) descreve o seguinte esquema para a recuperação de materiais:

Nível de Exigências de Produto


Opções de PRM
desmontagem qualidade resultante

Restaurar o pro- Algumas partes


Reparo Produto duto para pleno reparadas ou
funcionamento. substituídas.

Inspecionar e Alguns módulos


Renovação Módulo atualizar módu- são reparados
los críticos. ou substituídos.

Inspecionar Módulos/partes
todos os mó- usados e novos
Remanufatura Parte
dulos/partes e em um novo
atualizar. produto.

Algumas partes
Dependência do reutilizadas, ou-
Recuperação se-
Canibalização uso em outras tras descartadas
letiva de partes
opções de PRM. ou destinadas a
reciclagem.

Dependo do uso Materiais utili-


Reciclagem Material em remanufa- zados em novos
tura. produtos.

Quadro 3 - Opções de PRM aplicadas aos materiais recuperados / Fonte: adaptado de Krikke
(1998 apud DAHER; SILVA; FONSECA, 2006).

Razzolini Filho e Berté (2013) destacam que há ganhos significativos durante o


gerenciamento da cadeia de suprimentos com a adoção das estratégias do PRM.
Dentre as principais vantagens, estão:
■ Práticas de comércio colaborativo, possibilitando aumento de vendas;
■ Melhor gerenciamento dos canais diretos e reversos;
■ Relacionamentos de confiança entre os membros do canal, pela melhoria
dos processos de comunicação;
■ Aumento da rentabilidade pela recuperação de valor econômico;
■ Ganhos de imagem pela recuperação de valor ecológico (RAZZOLINI FILHO;
BERTÉ, 2013, p. 99).
65
Perceba que são estratégias bastante claras e distintas, a depender do tipo de
UNIDADE 2

material recebido no tratamento a ser realizado na logística reversa, a fim de


recuperar valor econômico no processo.
Você, talvez, tenha percebido, ao analisar a Tabela 1, que, por abranger várias
áreas que impactam o resultado econômico final do processo de retorno de ma-
teriais, não é possível que essa gestão seja feita sem um sistema gerenciamento
informatizado. Isso é o que chamamos de PRMS (Sistema de Gerenciamento de
Recuperação de Produtos). Na Figura 5, você visualizará como esse sistema é
constituído.
Processo de
Recuperação

Desmontagem Reparo/ Montagem/ Atualizações


Pré-inspeção Inspeção Recondicionamento de engenharia
e Reciclagem Produção
Identificação de Produto Instrução de Instrução de desmontagem Programa de peças Instrução de Resultado da
Detecção de dados inspeção e resultado Propriedades do montagem remanufatura
material reciclável

Produto Remanufaturado

PRMS

INFRAESTRUTURA DE INFORMAÇÃO

Base de Dados Base de Dados Base de Dados Base de Dados


Manufaturados Distribuidor Clientes Assistência Técnica

Figura 5 - Sistema de gerenciamento de recuperação de produtos / Fonte: Bernardo, Souza


e Demajorovic (2020, p. 250).

Descrição da Imagem: a figura retrata um sistema de gerenciamento de recuperação de produtos que é


composto pelas bases de dados dos setores de manufatura, de distribuição dos clientes e da assistência
técnica, os quais exigem as informações dos processos de recuperação, a fim de realizar o seu efetivo
gerenciamento.

Perceba que o PRMS integra as informações provenientes de diversas fontes em


uma infraestrutura de informações que baliza a tomada de decisões de acordo
com o ciclo de vida do produto retornado. Sugere-se, inclusive, o uso de tags (eti-
quetas) eletrônicas para a leitura por meio do equipamento de Radio Frequency
Identification (RFID), que, em português, significa “Identificação por Rádio Fre-
quência”. Segundo Bernardo, Souza e Demajorovic (2020, p. 251):

66

O uso de tecnologia RFID, para fazer o acompanhamento, começa

UNICESUMAR
definindo em qual estágio do ciclo de vida se encontra o produto,
se está em Beginning of Life (BOL) – Começo da vida do produto,
Middle of Life (MOL) – Meia-vida do ciclo, ou End of Life (EOL)
– Fim de vida do produto. Essa definição sobre o ciclo de vida do
produto possibilita selecionar sua destinação entre as alternativas
de reúso, remanufatura ou reciclagem. Se um produto está no BOL,
provavelmente pode ser encaminhado ao reúso, bastando que seja
consertado. Se está no MOL, a destinação provável é a remanufatura,
e, em EOL, seria destinado a reciclagem.

Perceba que a decisão voltada à destinação tem relação com o estado do produto
e com o seu ciclo de vida. Entretanto, de qualquer modo, algum valor econômico
é recuperado, cumprindo, assim, a principal função da logística reversa.

3
OBJETIVOS ECONÔMICOS
DA LOGÍSTICA DE
PÓS-CONSUMO

Quando explicamos os objetivos econômicos da logística de pós-consumo, é


necessário retomarmos a abordagem das condições para que um canal reverso
possa ser viável. Muitas vezes, a questão econômica deverá ser tratada unicamente
pelo seu aspecto legal e pela possibilidade de sanções, se não implementado o
67
canal reverso. Nesse caso, não há nenhuma recuperação de valor no processo,
UNIDADE 2

mas o simples fato de não ser imputadas multas à organização já é considerado


um ganho financeiro.

pensando juntos

A produção de materiais que serão descartados parece natural nos atuais processos de
produção. Todavia, e se fosse possível pensar no reaproveitamento dos materiais desde
o momento de concepção/projeto do produto?

Ao ampliarmos o nosso campo de visão, o desejável seria que, além de evitar as


aplicações de sanções legais, também houvesse ganhos financeiros oriundos dos
próprios itens de pós-consumo. Leite (2017) desenvolveu um modelo relacional
que apresenta as condições para que um fluxo reverso de materiais de pós-con-
sumo se estabeleça.

Reintrodução ao ciclo
produtivo/negócios
Objetivo estratégico
• Econômicos
• Legais
• Serviços
• Ecológicos
• Imagem
Condições essenciais Fluxo Reverso
• Logística reversa
• Custo-benefício
• Tecnologia
• Mercado de destino

Fatores modificadores
• Ecológicos
• Legais
Produtos de
pós-consumo

Figura 6 - Condições para o fluxo reverso de pós-consumo / Fonte: Leite (2017, p. 132).

Descrição da Imagem: a figura tem, ao centro, uma balança com a legenda “Fluxo reverso” e, no rodapé,
a legenda “Produtos de pós-consumo”. Apontando para essa balança, há três setas que indicam as con-
dições, os fatores e os objetivos estratégicos para a reintrodução dos itens ao ciclo de negócios.

68
Observe que diversos fatores afetam o estabelecimento dos fluxos reversos, inclusive,

UNICESUMAR
os aspectos ecológicos e legais que trabalharemos mais à frente em nossa disciplina.
No entanto, um elemento em evidência na Figura 12 é a remuneração dos
participantes do fluxo reverso. Esse, talvez, seja um dos maiores desafios, pois
garantir que os atores sejam pagos por sua atividade não é um processo simples,
especialmente se considerarmos os diversos tipos de materiais que podem ser
inseridos em um fluxo reverso.
No caso das matérias-primas, a indústria tem a possibilidade de utilização
de duas origens:
1. Matérias-primas primárias: extraídas diretamente da fonte, muitas vezes,
da própria natureza.
2. Matérias-primas secundárias: obtidas por meio de processos de logística
reversa.

A opção mais lógica, do ponto de vista econômico, sem dúvida, é utilizar a maté-
ria-prima que apresenta menor custo de aquisição. A matéria-prima secundária
será uma alternativa interessante, caso haja uma escala de fornecimento, ou seja,
a garantia de que o abastecimento não será interrompido e que os custos com-
pensam a sua adoção em substituição à matéria-prima nova. O escasseamento
da matéria-prima primária também é um fator relevante em muitos processos.
No que diz respeito à remuneração dos participantes da cadeia reversa, Leite
(2017, p. 150) destaca que:


Tratando-se de uma cadeia de distribuição no sentido reverso, cons-
tituída pela coleta de pós-consumo, pelos processamentos diversos
de consolidação e separação, pela reciclagem ou remanufatura in-
dustrial, pela reintegração ao ciclo produtivo ou de negócios por
meio de um produto aceito pelo mercado, torna-se necessário que
esses objetivos econômicos sejam obtidos em todas as etapas rever-
sas para a existência do fluxo reverso. A falta de ganho em um ou em
alguns dos elos da cadeia reversa provocará interrupção ou simples-
mente não haverá fluxo reverso, resultando em desequilíbrios entre
os fluxos diretos e reversos e suas consequências, já examinadas.

Perceba a importância da remuneração dos participantes do canal reverso, sob


pena de inviabilizar o processo. Considerando o fator remuneração, é uma con-
clusão lógica que os materiais que proporcionem maior retorno financeiro aos
69
membros do canal reverso sejam os preferidos e que, dependendo dos partici-
UNIDADE 2

pantes do canal (cooperativas de catadores, catadores individuais ou empresas de


reciclagem), será estabelecida uma concorrência para a obtenção desses materiais.
A facilidade de obtenção e extração dos materiais a serem retornados ao canal
também contribui para o aumento desse interesse.

conecte-se

Um drama em muitas famílias é voltado ao que fazer com os medicamen-


tos que sobram nas cartelas. É muito comum descartar os remédios no lixo
doméstico ou jogá-los no vaso sanitário. Será que esses são os melhores
destinos? Conheça a destinação correta dos medicamentos descartados em:
http://www.descarteconsciente.com.br/

Leite (2017) assevera que as condições de mercado favoreceram o desenvolvi-


mento expressivo de canais de certos materiais cuja demanda e remuneração
são relevantes no mundo todo. É o caso dos metais ferrosos e não ferrosos, dos
papéis e das sobras de gorduras de restaurantes, por exemplo. Nesses casos, foi
quase exclusivamente a possibilidade de obtenção de ganhos financeiros aos
participantes do canal que incentivou o estabelecimento do fluxo reverso, e não
necessariamente uma exigência legal ou ambiental.
Henion (1995 apud LEITE, 2017, p. 170) afirma que:


mantendo constantes os demais fatores, a demanda por reciclados é
função dos preços de mercado [...] Historicamente, o desempenho
dos sistemas de canais reversos para pós-consumo recicláveis tem
sido impedido pelos altos custos, pobres lucros projetados.

A precificação de um material de pós-consumo até chegar à etapa final de inser-


ção no ciclo produtivo segue uma lógica clara e aplicável a quase todos os itens,
com exceção de algum material que tenha alguma especificidade. Essa lógica
pode ser visualizada na Figura 7.

70
Etapa de coleta Etapa do sucateiro Etapa de reciclagem

UNICESUMAR
Custo de coleta = custo de Custo do sucateiro = custo de Custo da reciclagem = custo
posse + custo de aquisição da etapa da coleta + de aquisição da etapa do
beneficiamento inicial custo próprio sucateiro + custo próprio
Preço de venda ao sucateiro = Preço de venda do sucateiro = Preço de venda do reciclador
custo de coleta + lucro do custo do sucateiro + lucro do = custo da reciclagem + lucro
coletor sucateiro do reciclador

Figura 7 - Formação de preços de materiais recuperados de pós-consumo / Fonte: adaptada


de Leite (2017).

Descrição da Imagem: a figura retrata, por intermédio de caixas, as três etapas de formação dos preços
dos materiais recuperados de pós-consumo. Na primeira caixa, há a etapa de coleta. Na segunda, há a
etapa do sucateiro e, na terceira etapa, está a reciclagem.

Quanto maior for o nível de aproveitamento do material coletado, maiores serão


os benefícios, seja em relação à remuneração dos agentes participantes do canal
reverso, seja para a indústria que aproveitará os itens para a constituição de outras
matérias-primas ou para a transformação em outros produtos.

conecte-se

Logística verde versus logística reversa


Uma expressão que, talvez, você se deparará em seus estudos sobre logís-
tica e sustentabilidade é a “logística verde”. Há um questionamento sobre o
quão esse conceito se aproxima da logística reversa.
Para entender melhor a logística verde, recomendo a leitura de um interes-
sante artigo sobre o tema, intitulado: “Reflexões sobre a logística verde na
redução dos impactos ambientais”.

71
Prezado(a) aluno(a),
UNIDADE 2

O consumo sustenta a economia na atualidade. Pelo consumo, gera-se pro-


dução, que gera empregos, que gera renda e que possibilita o consumo. Dessa
forma, o ciclo se perpetua.
No entanto, esse modelo econômico traz vários riscos à própria sobrevivên-
cia humana. A exaustão dos recursos naturais é um deles. De qualquer modo, as
empresas – principais responsáveis pelo processamento dos recursos naturais
em itens de consumo – são chamadas à responsabilidade, para que abranjam os
materiais descartados após o consumo.
Com isso, há a formação dos Canais Reversos de Pós-Consumo (CDR-PC).
Dentre os vários aspectos desse tipo de canal, estão a classificação dos bens de
pós-consumo, a descartabilidade e a disponibilização dos produtos de pós-con-
sumo, além, é claro, dos próprios objetivos econômicos presentes na logística
reversa de pós-consumo.
Forçadas a trabalharem esses itens de pós-consumo, as empresas buscam
obter retorno econômico com essa atividade, nem que esse retorno se constitua
com a ausência de penalização por parte dos órgãos ambientais. A prática e a
pesquisa acadêmica relacionadas a essas questões estão avançando muito nos
últimos anos, visto que os materiais de pós-consumo são os que apresentam
maior representatividade em relação aos impactos ambientais. Todas as ações
que estão sendo implementadas proporcionam um benefício direto na redução
desses impactos, embora o principal incentivador ainda seja o fator econômico.
Os empresários precisam visualizar as vantagens econômicas na adoção da
logística reversa e no estabelecimento de canais reversos. Isso pode trazer algumas
oportunidades interessantes para os profissionais com visão empreendedora,
pois, em todo desafio, podem surgir alternativas de novos negócios e, nesse caso,
serão os chamados “negócios verdes” ou “empreendimentos ecológicos”. Que tal
pensar sobre isso?

72
na prática

1. A logística reversa preconiza que a organização pode estabelecer um Canal de Dis-


tribuição Reverso de Pós-Consumo (CDR-PC). As razões que levam a essa medida
podem ser diversas. Dentre elas, estão:

a) Desvalorização econômica do material recuperado.


b) Aumentar o estoque nos canais de distribuição.
c) Recuperação do valor dos ativos.
d) Descumprimento das legislações ambientais.
e) Aumentar a eficiência do canal de distribuição convencional.

2. Para que haja um gerenciamento eficiente e eficaz do CDR-PC, normalmente, é


proposta a classificação desses canais em dois tipos: canais de ciclo aberto e de
ciclo fechado. Cada um tem as suas próprias características e, portanto, estratégias
de gestão.

Sobre a temática, leia as afirmativas a seguir:

I - Quando produzimos um vergalhão para a construção a partir da carcaça de um


navio, estamos nos referindo a um exemplo de ciclo aberto.
II - Exemplos de materiais classificados no canal de ciclo aberto são as baterias de
automóveis e os óleos lubrificantes.
III - As latas de alumínio dos refrigerantes podem ser totalmente reutilizadas como
novas, após a extração da liga metálica. Portanto, pertencem ao ciclo fechado.
IV - No ciclo aberto, o foco é a matéria-prima, que substitui as matérias-primas novas
na fabricação de diferentes produtos.

É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas
b) II e III, apenas.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, III e IV, apenas.

73
na prática

3. A produção de lixo no mundo atingiu proporções preocupantes. Os países buscam


soluções diversas, mas não há um modelo que dê conta de todos os problemas
que as nações enfrentam. No caso específico das empresas, há a responsabilidade
sobre os materiais oriundos dos processos produtivos e que chegam às mãos dos
consumidores pelos canais de distribuição. Assim, ferramentas gerenciais têm sido
desenvolvidas para tratar esses materiais.

Sobre as ferramentas expostas no enunciado, leia as afirmativas a seguir:

I - Para gerenciar os materiais pelos quais a empresa é responsável foi concebido


o Product Recovery Management (PRM).
II - Dentre as principais áreas de atuação do PRM, está a integração da logística
reversa com o Supply Chain Management.
III - O PRM, para que gere o melhor resultado possível, requer apoio da área de
tecnologia no que se convenciona classificar como PRMS.
IV - O PRM tem como foco principal a máxima recuperação dos valores econômico
e ecológico dos produtos, componentes e materiais.

Está correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas
b) III e IV, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, II, III e IV.

74
na prática

4. A recuperação de valor é um dos objetivos a serem perseguidos pela logística rever-


sa, incluindo os materiais de pós-consumo. Muitas vezes, a empresa implementa o
canal reverso de pós-consumo unicamente para não sofrer sanções, o que já pode
ser considerado um ganho.

Com base no enunciado, leia as afirmativas a seguir:

I - Uma das condições essenciais para o fluxo reverso de materiais de pós-consumo


é a de que todas as etapas reversas sejam remuneradas pela atividade.
II - Para que a adoção de materiais recuperados enquanto matéria-prima seja viável
para uma indústria, é necessária uma escala de fornecimento, ou seja, que o
fornecimento não seja interrompido.
III - Dentre os fatores necessários para o estabelecimento do fluxo reverso de ma-
teriais de pós-consumo, encontram-se os fatores ecológicos e econômicos.
IV - As cooperativas de catadores e os catadores individuais optam por coletar os
materiais que são mais abundantes para a coleta, independentemente do seu
valor de comercialização.

É correto o que se afirma em:

a) I e II, apenas.
b) III e IV, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I, III e IV, apenas.

75
na prática

5. O Canal de Distribuição Reverso de Pós-Consumo (CDR-PC) gera impactos impor-


tantes na operação das empresas. Dentre os impactos positivos, pode-se listar a
recuperação econômica de valor dos materiais de pós-consumo recuperados.

No que diz respeito aos CDR-PC, analise as asserções a seguir e a relação proposta
entre elas:

I. O CDR-PC sempre prevê o retorno do material de pós-consumo à sua origem, ou


seja, ele sempre retorna à empresa que o colocou no mercado.

PORQUE

II. Não é possível, no CDR-PC, que o material recuperado tenha outro destino que
não seja o retorno ao seu ponto de origem.

Considerando as asserções apresentadas, pode-se afirmar que

a) As duas asserções são verdadeiras e a segunda complementa a primeira.


b) As duas asserções são verdadeiras, mas a segunda não complementa a primeira.
c) A primeira asserção é verdadeira e a segunda é falsa.
d) A primeira asserção é falsa e a segunda é verdadeira.
e) As duas asserções são falsas.

76
aprimore-se

As empresas têm assumido, no Brasil, de forma cada vez mais ativa, em todas as
suas instâncias, o seu papel no processo de logística reversa. Não podemos afirmar
que esse ato já se tornou uma prática empresarial consolidada no país, mas é ine-
gável que houve avanços. Talvez, você se pergunte o motivo pelo qual um número
maior de empresas não se engaja nesse processo.
A resposta para a pergunta exposta é uma combinação de fatores. Primeiramen-
te, precisamos fazer uma constatação: a maioria das empresas, no Brasil, é consti-
tuída por micro e pequenas empresas. Essa característica já traz um desafio, afinal,
para o micro e pequeno empreendedor, estabelecer-se e se manter no mercado já
é uma tarefa complexa, não é verdade? Além disso, uma parcela importante desses
empreendedores não tem a formação necessária para a sua atividade no que se
refere aos aspectos de gestão: podem ser excelentes profissionais, mas gerir um
negócio vai além da capacidade de “colocar a mão na massa”. É preciso entender
os aspectos gerenciais, contábeis, financeiros e tributários. O número expressivo
de pequenos negócios que morrem nos primeiros anos de funcionamento é uma
prova que ainda faltam muitas competências aos empreendedores (apesar de não
lhes faltar vontade).
Outro aspecto que consideramos oportuno é a própria questão tributária da lo-
gística reversa, que se torna um obstáculo quanto tributa novamente os processos
de recuperação de materiais. Há várias propostas para mudar esse cenário, mas
não avançamos com a velocidade que essa demanda exige.
Teremos que esperar e acompanhar com interesse os desdobramentos das con-
dições negociais no Brasil, tanto no que se refere a uma melhor preparação dos
empreendedores quanto em relação à questão fiscal em um país onde a carga tri-
butária é elevada e de apuração complexa.
Fonte: o autor.

77
eu recomendo!

livro

Logística reversa e sustentabilidade


Autores: André Luis Pereira, Cláudio Bruzzi Boechat, Hugo Fer-
reira Braga Tadeu, Jersone Tasso Moreira Silva e Paulo Március
Silva Campos
Editora: Cengage Learning
Sinopse: o tema “logística reversa e sustentabilidade”, normal-
mente está associado às funções de pós-venda e pós-consumo.
Logo, essa área do conhecimento está voltada a temas já conhecidos pelo públi-
co-alvo desta obra.
No entanto, o objetivo deste livro é apresentar a logística reversa, ao alinhar o seu
conteúdo à sustentabilidade e ao controle de resíduos nas organizações. Além
disso, propõe o pensamento e a exposição dos conhecimentos sobre a logística
reversa e a sustentabilidade de forma inovadora, com a adoção de novos concei-
tos, a fim de instigar os leitores a gerir as organizações em geral, em busca dos
melhores resultados e benefícios para a sociedade.

78
eu recomendo!

filme

A conspiração da lâmpada
Ano: 2010
Sinopse: a história não contada sobre a obsolescência plane-
jada: a algum tempo atrás, os bens de consumo eram cons-
truídos para durar. No entanto, em 1920, um grupo de em-
presários percebeu que, quanto mais tempo durasse o seu
produto, menos dinheiro eles fariam. Assim nasceu a obsoles-
cência planejada e os produtos começaram a falhar desde então.
Comentário: documentário imperdível. Vivemos nesse mundo e nos inserimos na
sociedade, às vezes, sem pensar no modo como somos manipulados pelo status
quo. Para quem é mais novo, então, a situação se torna mais complicada. Para a
minha geração ou a dos meus pais, adquirir produtos com alta durabilidade era
comum. Em contrapartida, sem percebermos, hoje, vivemos a era do descartável.
Há os lados da economia e do capitalismo, mas essa era precisa ser tão selvagem,
a ponto de perdermos nossos valores mais importantes? O mundo é grande o
suficiente para satisfazer às necessidades de todos, mas sempre será pequeno
demais para satisfazer à ganância individual

79
3
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
REVERSOS
PÓS-VENDA
(CDR-PV)
PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • Canais de Distribuição Reversos de
Pós-Venda (CDR-PV) • Objetivos estratégicos da logística reversa de pós-venda • Seleção e destinação
dos produtos em devolução • Mercados secundários para os produtos de pós-venda

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender a formatação dos canais reversos de pós-venda. • Estudar os objetivos estratégicos da
logística reversa de pós-venda. • Conhecer a forma de seleção e destinação dos produtos em devolução.
• Descrever a dinâmica dos mercados secundários de produtos de pós-venda.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a),
Na Unidade 2, consideramos o canal reverso de pós-consumo. Diante
disso, você foi apresentado a um dos maiores desafios empresariais e lo-
gísticos das últimas décadas: os materiais de pós-consumo, que crescem
cada vez mais em relação ao volume e à diversificação. No entanto, não há
apenas esse enorme desafio. Nesta unidade, constataremos que também
devemos considerar outro tipo de item: os materiais oriundos da logística
reversa de pós-venda.
Ao contrário dos materiais de pós-consumo, que são naturalmente des-
cartados, os materiais de pós-venda seguem outro fluxo, ou seja, carregam
outra lógica de tratamento. Nesse caso, também estão envolvidos alguns
aspectos legais e relevantes, especialmente aqueles relacionados aos direi-
tos do consumidor. Além disso, a empresa fornecedora deseja preservar a
sua imagem perante o público comprador, o que exige o oferecimento de
garantia dos seus produtos.
Dessa forma, nesta unidade, consideraremos a formatação dos canais
reversos de pós-venda, os objetivos estratégicos da logística reversa de pós-
-venda, a seleção e a destinação dos produtos em devolução e as oportuni-
dades em mercados secundários para os produtos de pós-venda.
Aqui, também se aplica a máxima de que, assim como é em todo de-
safio, há a possibilidade de surgimento de oportunidades interessantes.
Atente-se a elas à medida que estudar o conteúdo proposto! Bons estudos!
1
CANAIS DE DISTRIBUIÇÃO
UNIDADE 3

REVERSOS DE
PÓS-VENDA
(CDR-PV)

Para explicarmos os Canais de Distribuição Reversos de Pós-Venda (CDR-PV),


é necessário entendermos ou relembrarmos alguns fundamentos relacionados à
importância da logística para a competitividade empresarial na atualidade.
Talvez, você já tenha lido ou ouvido sobre a necessidade de se diferenciar, ao
oferecer um nível superior de serviços aos clientes. Dentre os fatores que compõem
esse nível de serviço superior, sem dúvida, estão as políticas de flexibilidade, a oferta
de assistência técnica e a rapidez e a confiabilidade na entrega, por exemplo.
Quando pensamos em flexibilidade, entendemos que as necessidades e as prefe-
rências do cliente podem mudar, fato que deve ser acompanhado pelos fornecedo-
res, que se adaptarão a essas novas circunstâncias. Assim, pode ser preciso alterar o
prazo de entrega, o local onde os produtos serão disponibilizados, os fracionamen-
tos exclusivos de cargas, dentre tantas outras demandas que podem ser exigidas.
Pense, por exemplo, em uma rede de lojas de varejo que compra grandes
quantidades de um produto eletrônico de um determinado fabricante. Para am-
bos, é importante que essa parceria seja sólida e, ao mesmo tempo, flexível, ou
melhor, é necessário que a indústria tenha o canal de distribuição de seus produ-
tos funcionando de forma saudável, ao oferecer os seus itens aos clientes finais e
ao alimentar a indústria de informações quanto à demanda e às preferências dos
clientes, anunciando os seus produtos em mídias diversas, a fim de demonstrar
os seus atributos de forma correta.

82
Para a rede de varejo, é importante ter o produto para a venda a um preço

UNICESUMAR
competitivo. Também é viável estabelecer parcerias, realizar investimentos em
mídia, fazer um treinamento quanto a sua força de vendas pela indústria e ter
flexibilidade de entregas, a fim de atender as demandas que não são previstas.
A expectativa da rede é completa quando a indústria oferece assistência técnica
aos clientes, tem um Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC), a fim de sanar as
dúvidas sobre as operações dos produtos, recebe os produtos devolvidos pelos
clientes que se arrependem da compra dentro do prazo legal ou até mesmo em
detrimento de um grande interesse comercial.
Embora sejam cada vez mais raros, há casos em que os despachos da indústria
aos distribuidores são efetuados de forma incorreta quanto às especificações do
pedido em termos de quantidade, modelos e cores, por exemplo. Nesse caso, é
esperado que não haja dificuldade em relação ao retorno desses produtos à in-
dústria. Estabelece-se, assim, um fluxo reverso de produtos de pouco ou nenhum
uso, em bom estado ou com defeitos de fabricação, que forma o que se entende
por logística reversa de pós-venda.
Para Leite (2017, p. 276), a logística reversa de pós-venda pode ser enten-
dida como:


A área específica de atuação da logística reversa que se ocupa do
planejamento, da operação e do controle do fluxo físico e das infor-
mações logísticas correspondentes de bens de pós-venda, sem uso
ou com pouco uso, que por diferentes motivos retornam pelos elos
da cadeia de distribuição direta. [...] os produtos denominados de
pós-venda em seu retorno entrarão nos canais reversos pelos canais
diretos, mas poderão ser dirigidos para canais de pós-consumo após
selecionados os seus destinos. Seu objetivo estratégico é agregar va-
lor a um produto logístico devolvido por razões comerciais, erros no
processamento de pedidos, garantia dada pelo fabricante, defeitos
ou falhas de funcionamento do produto, avarias no transporte, entre
outros. Esse fluxo de retorno se estabelecerá entre os diversos elos
da cadeia de distribuição direta, dependendo do objetivo estratégico
ou do motivo do retorno.

83
Diante da explicação exposta, é evidente que o objetivo da logística reversa de
UNIDADE 3

pós-venda é proporcionar condições de fidelização aos clientes, o que permite


o retorno dos produtos à cadeia logística em quaisquer pontos disponíveis de
contato. Talvez, os produtos retornados não cheguem até o momento em que
voltam fisicamente ao ponto de origem. Muitas situações preveem a realização
do tratamento por outras vias, como o direcionamento dos produtos a outros
aproveitamentos, que podem ser, inclusive, canais de pós-consumo, a serem tra-
tados diretamente pelos membros da cadeia ou por terceirizados. O importante
é que o tratamento seja eficiente e eficaz, com o objetivo de satisfazer os clientes,
sejam eles pessoas físicas, sejam eles pessoas corporativas.
Com o propósito de complementar o conceito de logística reversa de pós-
-venda, Robles e La Fuente (2019, p. 105-106) sustentam que:


A logística reversa de pós-venda busca agregar valor a produtos
devolvidos pelos consumidores. Por agregar valor entendemos o
processo de valorização do produto descartado, que passa a ter valor
comercial, mesmo que não na forma original de comercialização.
São exemplos: devolução de produtos com defeitos, devolução de
produtos após comunicações de venda irreais ou em razão de reda-
ção pouco clara dos manuais de funcionamento. Além desses casos,
há os bens comercializados em consignação, o retorno de pontas
de estoque (sobras de estação, introdução de novos modelos) para
comercialização de produtos novos.

Perceba que, tanto em relação à logística reversa de pós-consumo quanto no que


diz respeito à logística reversa de pós-venda, objetiva-se retornar valor à cadeia
de suprimentos. O tratamento que é dado aos bens, no entanto, é diferente e a
forma de agregar valor também segue outra lógica.
A Figura 1 demonstra o modo como a logística reversa de pós-venda pode
agregar valor aos clientes.

84
UNICESUMAR
Cadeia de
Logística reversa distribuição direta Logística de
de pós-consumo pós-venda

• Reaproveitamento • Liberação de área


de componentes Consumidor de loja
• Reaproveitamento • Redistribuição de
de materiais estoque
• Incentivo a nova • Fidelização de
Bens de pós-venda clientes
aquisição
• Revalorização • Níveis de serviços
• Feedback de
ecológica Bens de qualidade
pós-consumo

• Imagem corporativa
• Competitividade
• Redução de custos

Figura 1 - Agregando valor por meio da logística reversa / Fonte: Leite (2009, p. 188).

Descrição da Imagem: a figura mostra um esquema representado por caixas. Ele indica o modo como os
serviços da logística reversa de pós-consumo e da logística reversa de pós-venda impactam positivamente
a imagem corporativa, a competitividade e a redução de custos nas organizações.

Perceba, na Figura 1, que os objetivos da logística reversa de pós-consumo e


da logística reversa de pós-venda são semelhantes, tendo em vista que buscam
melhorar a imagem corporativa e a competitividade, além de reduzir os custos
da instituição. Entretanto, na coluna da direta, é visível que os ganhos para os
clientes da cadeia de suprimentos, no caso da logística reversa de pós-venda, são
diferentes dos ganhos da logística reversa de pós consumo.
O que diferencia um canal de distribuição reverso de pós-venda de um canal
de distribuição reverso de pós-consumo é o fato de que, neste, há a presença de
diversos agentes especificamente dedicados aos canais reversos, tais como as em-
presas de reciclagem, as cooperativas de catadores e os revendedores de sucatas,
por exemplo. Já para o canal reverso de pós-venda, na grande maioria dos casos,
são os próprios participantes do canal direto (ou alguém contratado) que fazem
o tratamento ou o manuseio dos materiais de pós-venda.

85
Já sabemos que são várias as possibilidades de destinação dos produtos retor-
UNIDADE 3

nados de pós-venda. Na Figura 2, essas probabilidades são evidenciadas.

Reciclagem Mercado secundário Mercado secundário


industrial de produtos de componentes Fornecedor

Remanufatura Fabricante

Fluxo de retorno
Desmanche
Seleção e destino
Reparo ou consertos Distribuidor
Fases reversas

Consolidação
Retorno ao Varejo
consumidor final
Coletas
Consumidor

PRODUTOS DE PÓS-VENDA

Figura 2 - Fluxos reversos de pós-venda / Fonte: Leite (2017, p. 279).

Descrição da Imagem: a figura retrata, por meio de caixas que representam etapas, o fluxo de retorno dos
produtos de pós-venda. O fluxo tem início com a coleta e finaliza nas possíveis destinações dos materiais.

Na Figura 2, é evidente que os produtos de pós-venda podem ter destinos distin-


tos, dependendo de sua constituição, estado ou interesse econômico. Leite (2017)
amplia esse entendimento, ao categorizar os retornos de pós-venda, assim como
é demonstrado na Figura 3.

86
BENS DE PÓS-VENDA

UNICESUMAR
Comerciais Garantia/qualidade Substituição de componentes

Contratuais Não contratuais Validade de Remanufatura


produtos de componentes
Conserto
reforma

Retorno ao Manufatura
ciclo de Disposição Remanufatura reversa/desmanche
negócios final de produtos

Reciclagem

Mercado Mercado Mercado


primário de secundário secundário de
bens de bens componentes

Mercado secundário de matérias-primas

Figura 3 - Categorias de retorno de pós-venda / Fonte: Leite (2017, p. 283).

Descrição da Imagem: a figura retrata, por meio de caixas que representam etapas, os possíveis desti-
nos dos bens de pós-venda, que podem ser de origem comercial, para a garantia da qualidade e para a
substituição de componentes. Os possíveis destinos finais são o mercado primário de bens, o mercado
secundário de bens, o mercado secundário de componentes e o mercado secundário de matérias-primas.

A Figura 3 demonstra que pode haver vários motivos para a devolução dos pro-
dutos classificados como “pós-venda”. Essas justificativas foram agrupadas nas
seguintes categorias:
■ Comerciais: os produtos foram devolvidos por interesse comercial, em
detrimento do interesse de manter/estreitar os laços entre parceiros, tais
como indústria e varejo.
■ Garantia/qualidade: agrupa os produtos que apresentaram alguma dis-
função em seu funcionamento.
■ Substituição de componentes: acontece no momento em que há a subs-
tituição de um ou mais componentes dos produtos. Dessa forma, é
concedida uma extensão à vida útil do produto, que é vendido em canais
reversos de remanufaturados.

87
Uma visão muito próxima ao esquema apresentado por Leite (2017) é a que vin-
UNIDADE 3

cula as categorias de retorno aos motivos de retorno. Ela é expressa no Quadro 1.


Categoria comercial Motivo de retorno

Erros de expedição do pedido e na re-


Retornos não contratuais
cepção.

Retornos comerciais contratuais Retorno de produtos em consignação.

Excesso de estoque no canal, baixa


Retorno de ajuste de estoques
rotação do estoque, introdução de novos
de canal
produtos, efeitos sazonais de produtos.

Categoria garantia /qualidade Motivo de retorno

Produtos na garantia, defeituosos ou


Qualidade intrínseca
danificados.

Validade de produto Expiração da validade.

Fim de vida do produto Expiração da utilidade.

Manutenção e recolhimento de produto


Recall de produtos
no mercado.

Quadro 1 - Principais motivos de retorno de produtos de pós-venda / Fonte: adaptado de


Leite e Brito (2005).

Observe, no Quadro 1, que, quando falamos de devolução das categorias “co-


mercial” e “garantia/qualidade”, os motivos de retorno dos bens de pós-venda são
muito claros. Todavia, a destinação dos bens retornados depende da etapa em que
esse bem está na cadeia de suprimentos. Essa noção é empregada no Quadro 2.

88
Retorno de produtos

UNICESUMAR
Origem Causas Destinação

>> Matérias-primas fora de


>> Devolução ao fornecedor
especificação
Etapa de
fabricação >> Produtos fora de especi-
do produto ficação >> Reprocessamento ou reci-
>> Sobras do processo clagem
produtivo

>> Reparos e retorno para


>> Recalls (garantia de
comercialização primária ou
venda)
secundária
>> Danos no transporte
>> Reciclagem

>> Retornos por acordos


comerciais (B2B): produ-
tos não comercializados; >> Venda no mercado secun-
Etapa da sobras/ajustes de estoque; dário
distribuição liberação dos canais de
venda

>> Devolução de embala- >> Limpeza e reuso


gens e contentores retor- >> Reciclagem dos materiais
náveis das embalagens

>> Preenchimento errado >> Inspeção e retorno aos


do destino canais de venda

>> Produtos para teste de >> Competitividade e política


clientes de vendas

>> Reembolsos e garantias


(B2C) >> Reparos e retorno para
Consumi- >> Retornos por garantias comercialização primária ou
dores legais secundária
>> Retornos por assistência >> Reciclagem
técnica

Retornos pelo fim da vali- >> Legislação


dade >> Reciclagem

Quadro 2 - Destinação dos produtos de pós-venda de acordo com a sua etapa na cadeia de
suprimentos / Fonte: Robles e La Fuente (2019, p. 109-110).
89
No Quadro 2, é perceptível que até mesmo uma matéria-prima pode ser conside-
UNIDADE 3

rada um item de pós-venda (pense, por exemplo, em uma indústria metalúrgica


que é cliente do fornecedor de metais para processamento). Até o produto chegar
ao consumidor final, vários são os destinos possíveis, mas todos devem ser igual-
mente tratados, para que seja cumprido o objetivo da revalorização, haja o aten-
dimento à legislação e obtida a satisfação dos clientes do canal de distribuição.
Leite e Brito (2005, p. 219) reconhecem que:


Embora não possa cobrir os custos decorrentes de produtos não
vendidos, o gerenciamento do processo de logística reversa pode
ter resultados significativos. A importância econômica da logística
reversa deve-se à oportunidade de recuperação de parte do valor
empregado no processo de produção, proporcionando economias
de custo.

A cobertura parcial dos custos dos processos de produção já seria um grande


incentivador para a adoção de mecanismos da logística reversa, pois cada centavo
economizado representa um aumento da competitividade da empresa no merca-
do. Para os eventuais agentes que participam exclusivamente dos canais reversos,
os produtos retornados representam 100% das possibilidades de faturamento e
mantêm uma cadeia de apoio relevante em relação à oferta de emprego e renda,
assim como veremos mais adiante neste livro.
Na Figura 4, de forma bastante simplificada, é expresso o fluxo do produto e
da informação nas cadeias reversas de pós-venda.

90
UNICESUMAR
Coleta e
Destinações, Classificação consolidação
disposições Coleta nos Cliente
e tomada de dos produtos devolve o
dos pontos de
decisão de em locais produto
produtos dedicados venda
disposição
(CDs)

Informação de devolução
Fluxo de produtos ao centro de distribuição
Fluxo de informações (CD)

Figura 4 - Fluxo do produto e da informação nas cadeias reversas de pós-venda / Fonte:


Robles e La Fuente (2019, p. 111).

Descrição da Imagem: a figura mostra um fluxo que contém caixas e setas. Elas partem do cliente, que
devolve o produto até a disposição final. Na primeira caixa, a legenda é: “Cliente devolve o produto”. Na
caixa seguinte, a legenda é: “Coleta nos pontos de venda”. Em seguida, há uma caixa com a legenda: “Co-
leta e consolidação dos produtos em locais dedicados (CDs)”. Na penúltima, a legenda é: “Classificação
e tomada de decisão de disposição” e, na última, está escrito: “Destinações, disposições dos produtos”.
Embaixo de todas, há uma caixa com a legenda: “Informação de devolução ao centro de distribuição (CD)”.
Ela está ligada na primeira e na penúltima caixa.

É observável, na Figura 4, que a informação deve acompanhar o fluxo reverso,


para que os gestores possam ter mecanismos de atuação em caso de desvios, o
que exige o estabelecimento de indicadores de desempenho, os quais auxiliarão
na tomada de decisão, de forma a tornar o fluxo mais efetivo.

91
2
OBJETIVOS ESTRATÉGICOS
UNIDADE 3

DA LOGÍSTICA
REVERSA DE
PÓS-VENDA

Já temos ciência de que as empresas que instituem canais reversos o fazem por
diversas exigências, sejam elas comerciais, legais ou ecológicas. Evidentemente,
esse fato produz algumas vantagens diretas e indiretas. Enquanto vantagem di-
reta, podemos citar a recuperação econômica no processo logístico reverso. Por
outro lado, enquanto vantagem indireta, há ganhos de imagem às organizações.
Detalharemos ainda mais, a partir de agora, o que incentiva as ações da logís-
tica reversa, especialmente as de pós-venda. Qualquer empresa precisa se posicio-
nar estrategicamente para ganhar competitividade. Assim, a adoção da logística
reversa deve fazer parte dessa estratégia.
Leite (2009) explica uma forma de entendermos como essa estratégia se aplica
na prática, ao classificá-la por objetivos. O primeiro objetivo seria o econômico, o
segundo seria a competitividade, o terceiro seria a competitividade pela prestação
de serviços pós-venda e o quarto seria o objetivo legal do retorno de produtos
de pós-venda.

92
Objetivo econômico no fluxo reverso de pós-venda

UNICESUMAR
Já compreendemos que os canais reversos visam à recuperação econômica de
valor nos materiais de pós-venda. Agora, precisamos entender como isso acon-
tece. Primeiramente, é preciso ter em mente que o fator tempo é fundamental
no processo. Já sabemos que, no canal de retorno, quanto mais tempo se passa,
menos valor é possível recuperar.
No Quadro 3, podemos visualizar as três possíveis destinações aos produtos
de pós-venda.

DESTINO DETALHAMENTO

Possibilidade de inserção dos produtos re-


tornados em outros mercados nas mesmas
Revenda no mercado condições da oferta original. É possível realizar
primário tentativas no mercado interno e até em merca-
dos estrangeiros. Aplicável especialmente para
bens duráveis ou com vendas em consignação.

Vendas em outros canais fora dos canais ori-


Venda no mercado
ginais. São exemplos: outlets, lojas de preços
secundário
populares e pontas de estoque.

Semelhantes aos bens de pós-consumo, bus-


Desmanche, manufatura, cam mercados de segunda mão, recuperação
reciclagem e destinação de valor dos componentes do bem, destinação
final à reciclagem industrial ou destinação final para
a produção de energia.

Quadro 3 - Possibilidades de destinação nos produtos de pós-venda


Fonte: baseado em Leite (2017).

Ainda sobre as destinações possíveis, a Figura 5 apresenta visualmente as possi-


bilidades de destino tanto dos produtos de pós-venda quanto dos produtos de
pós-consumo.

93
Fabricante Varejo Consumidor
1 2 3 4 5 6 1 3 4 5 6 7 8 9 10
Fabricante Varejo Consumidor
UNIDADE 3

1 2 3 4 5 6 1 3 4 5 6 7 8 9 10

Lojas de Mercado Remanufatura/


R$ Lojas
1,99 de Mercado
Intermediários Multimarcas Leilões Outlets Caridade Reciclagem
Remanufatura/Penhor
Intermediários Multimarcas Leilões Outlets de pulgas
Caridade Conserto Reciclagem Penhor
R$ 1,99 de pulgas Conserto
Posição no ciclo
de vida Motivadores para a realização da logística reversa
Posição no ciclo
deSem
vida
consumo Motivadores
1 Liquidação de itenspara a realização
não vendidos (estoque próprioda logística
ou de parceiros) reversa
2 Retorno referente ao fim da "temporada"/"estação"
1 Liquidação de itens não vendidos (estoque próprio ou de parceiros)
Sem consumo 3 Retorno devido a defeitos
24 Retorno referente
Retorno devido a danosao fim da "temporada"/"estação"
de transporte

Pós-venda 35 Retorno
Retorno devido a erros
devido de separação de pedido
a defeitos
6 Retorno devido a políticas de garantia
4 Retorno devido a danos de transporte
7 Recall
Pós-venda 5 Retorno devido a erros de separação de pedido
8 Retorno referente ao fim do ciclo de vida do produto
Pós-consumo 69 Retorno devido
Questões legais a políticas de garantia
de descarte

710 Recall
Questões ambientais de eliminação e destinação

8 Retorno referente ao fim do ciclo de vida do produto


Pós-consumo 9 Questões legais de descarte
10 Questões ambientais de eliminação e destinação

Figura 5 - Origens e destinos dos produtos da logística reversa / Fonte: Oliveira e Sousa
(2014, p. 69).

Descrição da Imagem: a figura descreve um fluxo de fornecimento que abrange o fabricante, passa
pelo varejo e chega até o consumidor final. Além disso, indica, por intermédio de números e caixas, os
possíveis destinos relacionados aos motivos que acionaram a logística reversa em cada etapa do processo
de distribuição do bem.

Perceba, na Figura 5, que as origens dos produtos estão relacionadas com a posi-
ção que o produto se encontra no ciclo de vida. As destinações podem ser equi-
valentes, independentemente das origens.
No que diz respeito aos objetivos econômicos, a relação estabelecida entre
parceiros é um destaque importante. Diversos formatos de parceria são possíveis,
tais como os destacados a seguir:

94
1. Contrato de parceria que prevê a compra de produtos remanescentes pelo

UNICESUMAR
fornecedor: ocorre quando o fornecedor garante a recompra de produtos
remanescentes no estoque do distribuidor a um preço maior que o custo
residual das mercadorias.
2. Contrato de flexibilidade nas quantidades: possibilita que o comprador
altere as quantidades dos produtos a serem adquiridos, em detrimento
das oscilações de demanda, porém não garante a recompra ou devolução.
3. Contrato de gerenciamento do estoque do cliente, também conhecido
como Vendor Managed Inventories (VMI): o gerenciamento do estoque
do cliente é feito pelo fornecedor, a fim de evitar faltas ou excessos (LEI-
TE, 2017).

Normalmente, as empresas – especialmente as grandes fornecedoras que focam


no varejo e as grandes cadeias de varejo – preveem os contratos que permitem
devolução, flexibilização de quantidades e gerenciamento de estoques, visto que
a parceria entre essas instituições não é momentânea, ou seja, pontual, mas du-
radoura e de ganhos mútuos.

Objetivo estratégico da competitividade

A busca pela preferência do cliente em ambientes de extrema competição faz com


que as empresas tentem encontrar maneiras de marcar o seu posicionamento
diferenciado. Essa ação não é fácil em relação aos produtos, que podem ser muito
parecidos, tampouco no que diz respeito a uma eficaz logística direta, que pode
ser alcançada por muitos competidores ao mesmo tempo.
Resta, então, a busca pela competitividade por meio dos canais reversos, em
que os serviços agregados são ofertados tanto para os clientes corporativos quan-
to para os consumidores finais. Quando se oferece a possibilidade de retorno
de excedentes de estoque aos parceiros do canal, esse fato tende a aumentar o
estreitamento das parcerias de longo prazo e a reduzir os custos de inventário
aos distribuidores. Além disso, o parceiro distribuidor terá mais espaço em seus
depósitos para os produtos de alto giro. Para os clientes que são pessoas físi-
cas, algumas políticas, tais como “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”,

95
são estratégias adotadas por algumas empresas. Alguns negócios americanos
UNIDADE 3

estabelecem a política de devolução sem perguntas, ou seja, o consumidor pode


simplesmente devolver o produto, que será aceito sem qualquer questionamento
(LEITE, 2009).
Duas pesquisas realizadas entre empresas que adotam a logística reversa
como prática comprovaram que a competitividade é o fator mais importante
no estabelecimento dos canais reversos. Por exemplo, uma pesquisa promovida
por Rogers e Tibben-Lembke (1999 apud LEITE, 2009) e feita entre empresas
norte-americanas destaca esse fato. Ela pode ser visualizada na Tabela 1.
Motivo estratégico Porcentagem de empresas que a adotaram

Aumento da competitividade 36,8%

Cumprir a lei 21,1%

Ecologia 19,3%

Limpeza do canal 17,5%

Recuperação de valor 17,5%

Tabela 1 - Objetivos estratégicos de empresas que operam canais reversos


Fonte: Leite (2017, p. 305).

Competitividade por meio da prestação de


serviços de pós-venda

Especificamente quando falamos de serviços de pós-venda, referimo-nos àqueles


que são oferecidos pelas empresas, com o objetivo de dar assistência aos clientes
em caso de defeitos ou mau funcionamento. Nesse sentido, os clientes podem
acionar o sistema de garantia da companhia dentro ou fora do prazo contratual.
A Figura 6 apresenta esquematicamente o modo como esse processo acontece.

96
UNICESUMAR
Aparelho com defeito
Centros de assistência técnica
Cliente ou operadora (seleção por nível de defeitos e
de comunicação
distribuição eventual a outros centros)
Retorno ao consumidor

Defeitos complexos

Centros de reparos
Fabricante
especializados (laboratório)

Alimentação de peças novas a substituir


Retorno de peças defeituosas substituídas

Figura 6 - Retorno dos produtos ao sistema de pós-venda (garantia ou assistência técnica)


/ Fonte: Leite (2017, p. 307).

Descrição da Imagem: a figura retrata o processo de serviço de pós-venda. Ele tem início com a comu-
nicação do defeito do aparelho, passa pelos centros de assistência e chega até o fabricante, que tem
centros especializados de reparos.

É importante reconhecermos que nenhuma empresa está isenta de algum tipo de


mau funcionamento ou defeito em seus aparelhos. O consumidor também sabe
disso. É na resposta rápida da empresa, a fim de solucionar as possíveis disfunções,
que residirá o diferencial de satisfação (ou insatisfação) do cliente. Na prática, o
cliente não pode encontrar nenhum tipo de dificuldade para acionar os meca-
nismos de garantia ou de assistência técnica. Portanto, a rede de prestadores de
serviço deve ser facilmente encontrada em manuais ou em portais na Internet.
Os relatos de mau atendimento, descaso ou de serviços deficientes na rede de
assistência técnica têm se acumulado no Brasil. Alguns portais tentam demons-
trar aos consumidores as empresas que são consideradas ruins em termos de
oferta de serviços de pós-venda, o que proporciona um impacto extremamente
negativo na imagem da organização e na comercialização de seus produtos.

97
UNIDADE 3

pensando juntos

O Serviço de Atendimento ao Cliente e/ou Consumidor (SAC) tem sido adotado por em-
presas de diversos segmentos. A ideia é que o cliente tenha um mecanismo para acionar
os canais responsáveis por dar informações ou solucionar os problemas que os consumi-
dores possam ter. Em sua opinião, o SAC está cumprindo esse propósito?

Objetivos legais de produtos de pós-venda

A facilidade em adquirir produtos de qualquer lugar do mundo, a velocidade das


comunicações, a popularização das redes sociais: tudo isso trouxe uma espécie
de “supervisão” às atividades empresariais, pois qualquer desvio no atendimento
aos clientes pode ser imediatamente socializado a milhares de pessoas e fragilizar
de forma muito intensa a imagem da organização. Essa já seria uma grande arma
nas mãos dos clientes, mas, felizmente, não é a única.
As demandas da sociedade por qualidade nos serviços e nos produtos tam-
bém acionam mecanismos legais em forma de regulamentações que buscam
atribuir segurança jurídica à relação empresa-cliente. No Brasil, desde 1990, a
Lei nº 8.078/1990 está em vigor. Ela foi promulgada em 11 de setembro de 1990
e procura regulamentar as relações de consumo no país.
Um grande avanço que a legislação estabeleceu foi a composição do Procon.
O Procon é um órgão público e estadual de proteção e defesa do consumidor,
com o objetivo de garantir os direitos do consumidor contra abusos e prejuízos
por práticas comerciais lesivas. Se você acessar o portal do Procon do seu estado,
provavelmente, encontrará algumas estatísticas muito interessantes, como as que
explanam o número de atendimentos e os tipos de reclamações mais comuns.
Você constatará que as reclamações relacionadas aos produtos e aos serviços
quase sempre lideram essas listas.
Ainda em relação à Lei nº 8.078/1990, em seu capítulo III, Art. 6º, há a seguinte
redação:

98

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

UNICESUMAR
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados
por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados
perigosos ou nocivos;

II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos pro-


dutos e serviços, asseguradas à liberdade de escolha e a igualdade
nas contratações;

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e


serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre
os riscos que apresentem;

IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos


comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláu-
sulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam pres-


tações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos superve-
nientes que as tornem excessivamente onerosas;

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,


individuais, coletivos e difusos;

VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas


à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, indivi-
duais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, adminis-
trativa e técnica aos necessitados;

VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a in-


versão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipos-
suficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

IX - (Vetado);

X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral


(BRASIL, 1990, on-line).

99
Outro artigo que merece destaque é o Art. 8º, que preconiza:
UNIDADE 3


Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo
não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, ex-
ceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua
natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hi-
pótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

§ 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar


as informações a que se refere este artigo, através de impressos apro-
priados que devam acompanhar o produto (BRASIL, 1990, on-line).

Observe que, no cerne da Lei nº 8.078/1990, estão a informação enquanto di-


reito básico e o adequado tratamento de produtos colocados à disposição dos
consumidores. Não há como as empresas não darem atenção a essas demandas
comerciais e legais que se apresentam.

conecte-se

A prática do recall (ou chamamento), no Brasil, foi instituída legalmente no


Código de Defesa do Consumidor (CDC). É muito comum nos depararmos
com recalls na indústria automobilística, mas ele não é exclusivo a esse seg-
mento. Recentemente, até as indústrias farmacêuticas e de cadeiras para
bebês, por exemplo, o publicaram.
Saiba mais sobre o assunto ao fazer o download de um interessante manual
publicado pelo Ministério da Justiça.

100
3
SELEÇÃO E DESTINAÇÃO

UNICESUMAR
DOS PRODUTOS
EM DEVOLUÇÃO

Um grande desafio aos gestores é justamente tomar decisões assertivas em re-


lação aos produtos retornados. Mesmo com as imposições legais, econômicas e
ecológicas sendo consideradas, as quais dão pouca margem para a empresa se
esquivar da absorção do produto na cadeia de suprimentos, há de se considerar
as opções que tornem esse processo viável e, se possível, ainda produzam resul-
tados positivos.
Dessa forma, implementar processos de seleção e destinação dos produtos em
devolução se torna um requisito para determinar o sucesso dos fluxos reversos.
Teremos a oportunidade de estudar com mais detalhes os produtos específicos
na Unidade 5, mas já podemos, neste momento, resumir os possíveis destinos dos
materiais de pós-venda retornados aos canais logísticos.
Para isso, faremos uso de uma classificação proposta por Leite (2009), que
está condensada no Quadro 4.

101
DESTINAÇÃO DETALHAMENTO
UNIDADE 3

Os produtos de retorno, devido aos ajustes nos canais


de distribuição diretos, normalmente, possuem condi-
Venda no
ções gerais de reenvio ao mercado primário, ou seja,
mercado primário
ao mercado original, com a marca do fabricante e por
meio de redistribuição.

Os produtos de retorno serão destinados às repara-


Reparações e ções necessárias e poderão ser comercializados no
consertos mercado primário ou, mais frequentemente, no secun-
dário.

É a opção quando existe interesse em fixar a imagem


por parte do fabricante e, em geral, é associada a
produtos com certo grau de obsolescência. É muito
Doação comum acontecer com os produtos de informática,
que, por natureza, têm o seu ciclo de vida curto, mas
podem ser úteis a alguns públicos no país ou em países
periféricos.

Ocorre quando o produto não tem mais funcionamen-


to para o propósito original, mas contém componentes
de valor. Nesse caso, empresas especializadas podem
comprar produtos individuais ou lotes desses produtos
Desmanche em leilões ou diretamente e, na sequência, destiná-los
(canibalização) ao mercado secundário de peças de reposição ou de
módulos (subconjuntos) ou enviá-los para os proces-
sos de remanufatura. Um exemplo muito marcante no
Brasil e em muitos países são os veículos retirados de
seguradoras.

Peças ou subconjuntos de bens recuperados são


refeitos e destinados ao mercado secundário. São
Remanufatura exemplos: transformadores elétricos para sistemas de
distribuição de energia e peças de reposição de auto-
móveis.

Partes dos produtos ou o produto inteiro são destina-


Reciclagem dos aos processos de reciclagem industrial, visando à
industrial retirada de materiais que se tornarão matérias-primas
ou insumos em processos industriais.

102
Não havendo outra solução para agregar valor de qual-

UNICESUMAR
quer natureza ao produto retornado, às suas partes
Disposição final ou aos materiais constituintes, eles são destinados aos
aterros sanitários ou ao processo de incineração, de-
pendendo das peculiaridades de cada país ou região.

Quadro 4 - Possíveis tratamentos dos produtos de pós-venda / Fonte: adaptado de Leite


(2009).

Quaisquer que sejam os destinos possíveis, é importante que os gestores encar-


regados pelos canais reversos verifiquem o atendimento às legislações aplicáveis,
sob o risco de sofrer sanções que colocarão todo o planejamento em risco.

4
MERCADOS SECUNDÁRIOS
PARA OS
PRODUTOS DE
PÓS-VENDA

Já sabemos uma destinação possível aos produtos retornados (tanto de pós-venda


quanto de pós-consumo) é o mercado secundário. Entretanto, como é constituído e
como opera esse mercado? Leite (2009) destaca que é possível identificar a presença
de diversas atividades no mercado secundário, tais como as realizadas por atacadistas
especializados, exportadores, intermediários, liquidadores e varejistas. Os produtos
negociados podem ser novos, mas que, por alguma razão, não podem mais ser comer-
103
cializados no mercado primário. Também é possível haver produtos com pouco ou
UNIDADE 3

muito uso, mas que ainda são funcionais, e itens não-funcionais, mas que carregam
valor em detrimento de seus componentes ou materiais constituintes.
Os negociadores do mercado secundário adquirem os seus materiais e itens de
diversas maneiras: uma possibilidade é adquirir restos de processos de produção junto
às indústrias. O varejo também pode ser fonte de materiais, quando disponibiliza
excessos de estoque, produtos fora de estação e itens obsoletos. As seguradoras tam-
bém são fonte para os negociadores, que adquirem produtos resgatados de acidentes.
As empresas interessadas em formar um canal reverso podem se valer desses
negociantes para destinar os seus materiais recuperados. Grandes organizações
preparam lotes com características definidas, a fim de serem comercializados por
venda direta, leilões virtuais (ou presenciais) ou intermediadores.
Alguns cuidados devem ser tomados nesse mercado. Por exemplo, o mercado
de peças usadas para automóveis no Brasil é muito aquecido, assim como pode ser
observado em qualquer cidade de porte médio ou grande nas lojas especializadas.
Contudo, vale destacar que alguns estados brasileiros, com o objetivo de coibir
o mercado ilegal de peças, estabeleceram algumas exigências para essas lojas,
como é o caso do estado de São Paulo, que tem a Lei nº 15.276, de 02 de janeiro
de 2014, a qual preconiza, em seu Artigo 1º, inciso III § 1, que os “[...] veículos
em fim de vida útil definidos nos incisos I a III deste artigo somente poderão ser
destinados aos estabelecimentos credenciados pelo DETRAN-SP, nos termos do
artigo 2º desta lei” (SÃO PAULO, 2014, p. 1).
A Lei nº 15.276/2014 do estado de São Paulo também disciplina mais detalha-
damente o credenciamento obrigatório das empresas que comprarão os veículos
para fins de obtenção de partes ou peças. Outros estados têm uma legislação
semelhante. Tanto o consumidor quanto o lojista têm a obrigação de zelar pela
transparência durante o processo de compra e venda desses produtos.
Já no que diz respeito ao mercado de veículos usados, historicamente, o Brasil
sempre teve números muito expressivos. Isso talvez seja decorrente do fato de que
os veículos novos eram inacessíveis a uma parcela importante da população. Se
analisarmos os dias atuais, os veículos nacionais são muito caros em relação aos
similares vendidos em outros países, mesmo os ditos “carros populares”. Apesar
de haver um aumento nas vendas em consequência da facilitação do crédito, o
mercado de usados, mesmo com oscilações pontuais, ainda é muito forte.
De acordo com as associações de classe do setor automotivo e as revistas es-
pecializadas do setor, o mercado de usados é cerca quatro vezes maior do que o de
104
carros novos. Em outras palavras, para cada carro novo vendido, quatro veículos

UNICESUMAR
usados trocam de proprietário. Aliás, a facilidade de revenda é um dos fatores de
atração dos consumidores até para comprar um carro novo.
Outro mercado existente no Brasil e, muitas vezes, não reconhecido com a de-
vida sua importância é o chamado “ferro velho”. A presença desse tipo de empresa
nas cidades é uma realidade marcante. As pessoas, em geral, ignoram essa atividade,
mas, para se ter ideia de sua pujança, saiba que, no Brasil, são produzidas mais de 35
milhões de toneladas de aço todos os anos. Estima-se que nove milhões de toneladas,
ou seja, cerca de 26% de toda a produção, é proveniente de sucatas. Evidentemente,
essa atividade tem problemas e o mais grave é o ambiental. Sucatas a céu aberto são
um criadouro natural para o mosquito da dengue e para a proliferação de insetos e
roedores. Todavia, se bem cuidadas, são uma importante fonte de renda.
Também é interessante observar a representatividade dos mercados secun-
dários brasileiros, se comparados aos países em que a prática é consolidada. Para
fins ilustrativos, analise, na Figura 7, uma comparação entre o mercado no Brasil
e nos Estados Unidos.
Representatividade dos Mercados (2012)

3% 1%
4% Intermediários
4%
10% Leilões
11%
8% Mercado de pulgas

Multimarcas
10% 39% Lojas de 1,99
19%
Outlets
8%
Penhor
53%
3% Caridade
27%

US$ 424 BI US$ 5,7 BI

Figura 7 - Potencial de mercados da logística reversa no Brasil e nos EUA / Fonte: Oliveira
e Souza (2014, p. 72).

Descrição da Imagem: a figura retrata o potencial dos mercados da logística reversa, ao comparar os
percentuais dos Estados Unidos em um círculo e os percentuais do Brasil em outro. Nos Estados Unidos,
o mercado de intermediários é bem maior que no Brasil, que, por sua vez, tem um mercado de leilões
bem maior que o norte-americano.

105
A figura comprova o grande potencial de aumento dos mercados para os produ-
UNIDADE 3

tos da logística reversa no Brasil.

conceituando

Mercado de pulgas: derivado de uma prática francesa de bazar a céu aberto de roupas
usadas (que, muitas vezes, vinham com um “mimo” de infestação de pulgas), esse tipo de
venda de usados em feiras e em estabelecimentos se popularizou nos Estados Unidos e,
especialmente, no Sul do Brasil. Trocam-se roupas, brinquedos, gibis, materiais escolares
e figurinhas, por exemplo. Muitas crianças gostam de fazer isso nos Estados Unidos nas
famosas “vendas de garagem”, que estimula o desapego e a não acumulação de bens.

Outro mercado muito forte em países europeus e nos Estados Unidos é o de


produtos refurbished. Você já ouviu falar desses produtos? Um amigo foi ao
Paraguai há algum tempo, pois estava interessado em comprar um notebook
para uso doméstico. Ao entrar em uma loja bem-conceituada, foi apresentado a
diversos produtos novos com garantia e a um preço razoável (acredito que não
seja tão vantajoso em relação a um produto comprado no Brasil). Contudo, o que
causou surpresa ao meu amigo foi quando o vendedor disse que teria um modelo
idêntico por um preço bem menor: tratava-se de um equipamento refurbished.
Meu amigo nunca tinha ouvido essa palavra na vida e você talvez também
não. Por isso, em detrimento de estarmos tratando de logística reversa de pós-
-venda, achei interessante resgatar esse caso e apresentá-lo a você. Azevedo Filho
e Costa (2007, p. 5-6) afirmam que:


A tradução para um equipamento considerado refurbished aproxi-
ma-se da ideia de recondicionado ou renovado. Há interpretações
de que pejorativamente poderia ser traduzido como “maquiado” ou
“lustrado”. Trata-se de um procedimento de readequação e reapro-
veitamento de itens eletrônicos, praticado por várias empresas que
fabricam ou montam eletrônicos.

106
Existem dois tipos de procedimento refurbished, denominados in-

UNICESUMAR
company e return to company. O primeiro tipo ocorre ainda no
processo de montagem, quando são detectados problemas de co-
locação de hardware que desqualificam as máquinas segundo os
padrões de qualidade ISO, estabelecidos pela indústria da infor-
mática. Diante da desqualificação, tais equipamentos são retirados
da linha de montagem e passam por uma minuciosa revisão com
técnicos altamente capacitados, sendo ajustados ao mesmo padrão
que os demais inicialmente aprovados pelo controle de qualidade.

Porém, as normas ISO não permitem que um aparelho retirado no


meio da linha de montagem receba a mesma certificação que os de-
mais, tendo estabelecido a denominação refurbished (sigla RB) para
diferenciar produtos submetidos a essa espécie de “revisão extra” e
respectivos reajustes de montagem.

Já o tipo RB return to company refere-se a equipamentos que con-


cluíram o processo normal de montagem e chegaram a ser expedi-
dos como produtos aprovados, mas que por algum motivo tiveram
que retornar à empresa para um novo processo de revisão. As razões
podem ser muitas: devolução após permanência em estoque du-
rante período de consignação; insatisfação do consumidor com o
produto gerando devolução no varejista que o comercializou; entre
outras. Qualquer aparelho que volta para o fabricante depois de ser
expedido uma primeira vez também deve receber a sigla RB quando
expedido novamente.

Sobre a conveniência da aquisição de produtos refurbished, é importante que


você saiba que o maior atrativo são os preços. Nos Estados Unidos, a oferta desse
tipo de produto é bastante comum. Os próprios fabricantes costumam oferecer,
em seus portais, produtos de suas linhas como refurbisheds. No Brasil, existe
pouca oferta pelas indústrias e poucos sites especializados. A maior parte das
compras feitas por brasileiros acontecem em sites estrangeiros. Você deve ter
cuidado no que diz respeito à confiabilidade do fornecedor (assim como é em
qualquer compra pela Internet) e verificar se há assistência (mesmo reduzida).
Também convém constatar a existência de alguma lei que restringe ou proíbe a
importação desse tipo de produto. Nesse caso, o barato pode sair caro.

107
Nesta unidade, trabalhamos assunto extremamente importante para as empresas:
UNIDADE 3

a logística reversa de pós-venda. A configuração de canais reversos de pós-venda


é fundamental para garantir a satisfação de consumidores finais ou corporati-
vos, porque dá a esses atores a certeza de que eventuais distorções em relação ao
processamento de pedidos ou a existência de possíveis disfunções dos produtos
serão tratadas com a tempestividade que merecem.
A diferenciação proporcionada pela logística reversa de pós-venda pode ser
um fator de escolha por parte dos clientes. Também entendemos que as deman-
das pela arquitetura do canal reverso de pós-venda podem ser originadas in-
ternamente à empresa, na busca pela redução de seus custos operacionais: cada
centavo recuperado nesse processo é uma vantagem adicional na composição
dos custos totais da instituição. Além disso, as demandas legais estão presentes e,
especialmente no Brasil, desde 1990, o Código de Defesa do Consumidor estabe-
leceu amplamente os direitos dos consumidores, que não hesitam em exercê-los.
Assim, antes de ter a sua imagem “manchada” por reclamações, a empresa deve
agir proativamente, ao dar respostas rápidas às queixas que recebe em diversos
canais de comunicação com o consumidor.
No que diz respeito ao aspecto ecológico, o retorno de produtos aos canais re-
versos significa a satisfação de consumo por parte significativa da sociedade, sem
a necessidade da exploração de matérias-primas primárias. A cadeia do mercado
secundário pode ser muito extensa, proporcionando oportunidades de colocação
e renda para muitas famílias.
O fato é que os produtos de pós-venda estão cada vez mais presentes na vida
organizacional, quer por exercício do direito do consumidor, quer por interesses
comerciais. Assim, o gestor precisa traçar estratégias bem definidas para que pos-
sa atender aos interesses do mercado e aos interesses de sua própria organização,
com a obtenção de receitas e a redução de seus custos.

108
na prática

1. As empresas buscam competitividade e, por isso, aumentam o nível de serviços aos


seus consumidores. Uma forma de realizar essa ação é assegurar bons processos
de pós-venda, incluindo os de logística reversa.

De acordo com o conteúdo apresentado no enunciado, avalie as asserções a seguir


e a relação proposta entre elas:

I. Um canal de distribuição reverso de pós-venda deve ser estabelecido para atender


aos produtos sem ou com pouco uso, os quais apresentam inconformidades.

PORQUE

II. Nenhuma empresa pode garantir que os seus produtos não apresentarão defeitos
de fabricação.

Considerando as asserções apresentadas, pode-se afirmar que:

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta


da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

109
na prática

2. O foco de atuação dos canais reversos de pós-consumo e de pós-venda são dis-


tintos. Portanto, entender a dinâmica de cada um é essencial para a atuação do
gestor logístico.

No que diz respeito aos focos de atuação dos canais reversos de pós-consumo e de
pós-venda, leia as afirmativas a seguir:

I - O reaproveitamento de embalagens de papelão, ao destiná-las à reciclagem, é


objeto de tratamento pelo canal reverso de pós-venda.
II - Tanto no canal reverso de pós-consumo quanto no canal reverso de pós-venda,
entende-se que as ações contribuem para a imagem corporativa, para a com-
petitividade e para a redução de custos.
III - O canal reverso de pós-venda se interessa pelo feedback de qualidade e pela
fidelização dos clientes.
IV - Uma diferença importante entre os canais reversos de pós-consumo e de pós-
venda reside no fato que, no canal reverso de pós-consumo, é possível identificar
agentes especificamente dedicados, tais como sucateiros.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I e II.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

110
na prática

3. Os produtos de pós-venda podem ter destinos distintos, dependendo de sua consti-


tuição, estado ou interesse econômico. Além disso, é possível classificá-los de acordo
com o motivo de sua devolução.

De acordo com o conteúdo exposto no enunciado, leia as afirmativas a seguir:

I - As categorias de retorno de materiais de pós-venda podem ser comerciais, por


garantia/qualidade e por substituição de componentes.
II - Quando um produto tem um componente substituído e volta a apresentar con-
dições de uso, ele pode ser vendido como remanufaturado.
III - Recolher materiais novos em estoque no ponto de venda pode ser classificado
como retorno por motivo de garantia da qualidade.
IV - Quando um produto retorna por vencimento de validade, podemos classificar
o retorno como de interesse comercial.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I e II.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

111
na prática

4. O Código de Defesa do Consumidor (Lei nº 8.078/1990), promulgado em 11 de se-


tembro de 1990, procura regulamentar as relações de consumo no país. Ele impôs
algumas obrigações aos fabricantes e aos fornecedores de produtos e serviços.

A respeito da regulamentação do Código de Defesa do Consumidor, leia as afirma-


tivas a seguir:

I - A Lei nº 8.078/1990 assegura ao consumidor o direito de saber os riscos que o


produto porventura pode apresentar durante o seu consumo/utilização.
II - Um benefício que a Lei nº 8.078/1990 trouxe ao consumidor é o direito à repa-
ração de danos patrimoniais ou morais com o devido amparo judicial.
III - O único fornecedor que não se enquadra no Código de Defesa do Consumidor
é o Poder Público, pois os serviços públicos não têm garantia de qualidade
durante a sua prestação.
IV - O fabricante de um produto industrial também deve prestar informações so-
bre o item de maneira impressa, em um documento que deve acompanhar o
produto.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I e II.
b) III e IV.
c) II e III.
d) I, II e IV.
e) I, III e IV.

112
na prática

5. Gerenciar os produtos retornados pode ser um desafio, porém há vários destinos


possíveis a esses materiais. Algumas finalidades têm a possibilidade de recuperação
de valor econômico, o que pode ser muito interessante para o fluxo de caixa de
uma empresa.

Sobre os possíveis destinos dos produtos de pós-venda, leia as afirmações a seguir:

I - A reciclagem industrial possibilita a retirada de materiais que poderão ser ma-


térias-primas ou insumos em processos industriais.
II - Uma ação que pode trazer ganhos de imagem é a doação de produtos para
entidades ou para outros públicos carentes, sempre envolvendo itens de última
geração.
III - Um veículo recuperado de uma seguradora pode ser fonte de peças ou de
componentes em bom estado. Eles têm valor comercial no mercado de peças
usadas.
IV - Na remanufatura, peças ou subconjuntos de bens podem refeitos e destinados
ao mercado secundário.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I e II.
b) III e IV.
c) I, II e III.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

113
aprimore-se

Os consumidores, quando pensam em produtos para a aquisição, geralmente, pen-


sam em produtos novos. O “gosto” do veículo zero km, com o seu cheiro caracte-
rístico, empolga e atrai muitos compradores. No entanto, dependendo do produto
que estamos considerando, pode haver uma cadeia imensa de pós-venda para que
o consumidor tenha satisfação durante o usufruto do produto comprado, além de
assegurar um valor de revenda interessante quando o comprador original decide
fazer essa ação.

Esse é o caso dos automóveis, um exemplo prático de como o ciclo de vida de um


produto pode ser estendido. Consumidores que estão habituados a comprar carros
“zero km”, programam-se para a troca desse bem enquanto ele ainda não requer
constantes manutenções corretivas e enquanto conseguem obter um retorno par-
cial do valor despendido no momento da compra, a fim de que seja compensatório
pela troca por outro carro novo. Assim, surge um ciclo de trocas e um abastecimen-
to de bens para o mercado de usados.

Para você ter ideia do tamanho desse mercado, somente entre 2008 e 2018, 28,6 mi-
lhões de automóveis e 13,7 milhões de motocicletas foram acrescentados à frota de
veículos no país. Isso significa que a grande maioria desses veículos estão rodando
e boa parte não estão mais sob a tutela de seus compradores originais.

O mercado associado a essa cadeia de usados é enorme. De seguros a autopeças,


de oficinas mecânicas à venda de acessórios, são centenas de milhares de pessoas
envolvidas no atendimento a essa verdadeira paixão nacional. Quando pensamos
em produtos duráveis, será que poderíamos avançar em outros segmentos, para
que possamos ter uma cadeia realmente sólida? Qual é a sua opinião a respeito?

Fonte: o autor.

114
eu recomendo!

livro

Logística reversa: sustentabilidade e competitividade


Autor: Paulo Roberto Leite
Editora: Saraiva
Sinopse: atualmente, quantidades crescentes de produtos com
ciclos de vida cada vez menores e com variedade capaz de satis-
fazer aos diferentes microssegmentos fluem para mercados de
todas as partes do mundo. Também é crescente a quantidade de
produtos usados ou não consumidos, os quais requerem a atividade da logística
reversa equacionando o seu retorno. Assim, recuperam-se os valores de natureza
econômica, de prestação de serviços e de cumprimento a legislação, garantindo
um posicionamento de sustentabilidade ambiental e de competitividade frente às
empresas envolvidas, ao reforçar imagem corporativa junto ao mercado. Elabo-
rada por Paulo Roberto Leite, um dos maiores especialistas do assunto no país, a
terceira edição dessa obra passou por uma criteriosa revisão do autor e reúne as
suas recentes pesquisas. Leite apresenta as atualizações e os mais novos pontos
de vista da logística reversa no Brasil e no mundo.

filme

Efeito Reciclagem
Ano: 2012
Sinopse: do universo informal da reciclagem, muitas vezes, visto
como o limite da sociedade, surgiu a tocante história do senhor
Claudinei e da sua família. O filme revela o cotidiano das pessoas
que fazem dos materiais recicláveis o seu sustento e meio de
integração social. Responsável por uma família com mais de 25
filhos, senhor Claudinei rotineiramente vai até o bairro Santa Efi-
gênia, no centro da cidade, em sua Kombi verde-limão, e coleta materiais que po-
dem ser vendidos em depósitos de recicláveis. Por ser frequentador do bairro há
mais de cinco anos, senhor Claudinei é conhecido por boa parte dos comerciantes
e habitantes da região, que, muitas vezes, entregam-lhe não apenas papelão ou
plástico, mas também peças velhas de computadores, as quais, posteriormente,
são “recicladas” – remontadas e vendidas.
Comentário: senhor Claudinei e a sua família mostram que estimular a recicla-
gem é mais do que uma simples atitude comercial: é um modo de vida digno e
responsável.

115
4
QUESTÕES LEGAIS,
ECONÔMICAS E AMBIENTAIS
EM PÓS-CONSUMO
E EM PÓS-VENDA
PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • O fator legal como motivador
da logística reversa • Tendências regulatórias nas questões ambientais • A legislação internacional
relacionada aos aspectos ambientais • A legislação ambiental e o seu impacto na logística reversa • As
bases para a economia circular: uma nova fronteira para o consumo.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Compreender as implicações da legislação voltada à logística reversa. • Avaliar o cenário regulatório para
as questões ambientais. • Conhecer a legislação internacional relacionada aos aspectos ambientais. •
Descrever os impactos da legislação ambiental sobre a logística reversa. • Apresentar os conceitos pre-
liminares da economia circular enquanto fator relevante para a sustentabilidade.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a),
Até o momento, estudamos os imperativos da logística reversa que fo-
ram provocados por movimentos sociais e ambientais. Essas articulações,
por sua vez, tiveram desdobramentos mediante a imposição de legislações
específicas e relacionadas ao tratamento dos impactos provocados pelas
atividades empresariais e pelos seus produtos.
A legislação é pertinente em nossos estudos e deve receber a sua devida
atenção, pois um gestor não pode alegar ignorância quanto à aplicação das
leis que regulamentam a sua atividade, ao mesmo tempo em que as sanções
previstas em muitos códigos legais são significativas e podem comprometer
seriamente a estabilidade financeira da empresa.
O objetivo desta unidade é considerar os aspectos legais da logística
reversa. Para tanto, entenderemos as principais leis e regulamentos do se-
tor, além de compreendermos o cenário que está sendo desenhado para o
futuro. Espero que você se mantenha atualizado sobre essa temática, uma
vez que, a qualquer momento, em esferas diferentes do poder, é possível
que uma norma seja editada e afete diretamente a sua atividade, podendo,
inclusive, inviabilizar o seu empreendimento. Atentar-se aos sites, às pu-
blicações e às reportagens que veiculam esse tema deve fazer parte de sua
agenda enquanto gestor.
As empresas mais bem estruturadas, geralmente, de porte médio ou
grande, têm consultorias jurídicas que lhes auxiliam em suas questões legais
e, por conseguinte, conseguem atuar com mais assertividade e preventiva-
mente. As micro e pequenas empresas, por outro lado, mesmo não tendo
essa facilidade, não devem acreditar que estão isentas de responsabilidade.
Uma recomendação é que você pesquise o teor completo da legislação
que trabalharemos nesta unidade. Isso se deve, pois a legislação é extensa
e não é possível e nem o nosso propósito reproduzi-la em um material de
graduação. Contudo, estudar ou, ao menos, tomar conhecimento desse
arcabouço legal é muito importante. Bons estudos!
1
O FATOR LEGAL COMO
UNIDADE 4

MOTIVADOR DA
LOGÍSTICA REVERSA

Em um sistema capitalista como o em que vivemos, é natural que os empresários


queiram total liberdade para as suas atividades, ao promoverem a filosofia que o
mercado se autorregula, ou seja, se deixado livre, o mercado encontra as soluções
para os seus próprios desequilíbrios.
Essa premissa, infelizmente, tem se mostrado falha quando o assunto é o
impacto das atividades empresariais sobre o meio ambiente. É só observarmos o
nosso redor que comprovaremos os imensos desequilíbrios entre o fluxo direto
de produtos e o retorno desses itens às cadeias logísticas, fato que ocasiona o
acúmulo indesejado e inapropriado de sobras e descartes.
Muito tempo já se passou desde que a atividade industrial se tornou o mo-
tor da economia mundial e o que assistimos é uma busca cada vez maior por
lucros sem uma contrapartida em relação aos cuidados com o meio ambiente.
Em razão desses desequilíbrios, a sociedade (representada por setores, tais como
os ambientalistas e a academia) se mobilizou para que o poder público, que de-
tém a legitimidade enquanto representante do povo, intervisse nas relações dos
agentes de mercado produtores e consumidores visando ao bem maior, que é a
sustentabilidade ambiental.

118
Na maioria dos países democráticos do mundo, a legislação ambiental pas-

UNICESUMAR
sou a regulamentar as relações dos agentes de mercado, ao estimular as ações de
tratamento, descarte e destinação dos produtos. Não só, mas também passou a
exercer coerção contra aqueles que não se adequarem ao que são consideradas
boas práticas socioambientais.
Um dos grandes avanços da legislação em âmbito mundial (caso que não é
diferente no Brasil) é a imposição de pagamento do ônus dos impactos ambientais
aos seus causadores, o que ficou conhecido como “princípio do poluidor-paga-
dor”. Essa ação parece mais justa do que impor o ônus à sociedade inteira, quando
o benefício pela atividade produtiva em forma de lucro ficou restrito a poucos.
Assim, quem tem o bônus do lucro e o usufruto do bem ou serviço (inclusive, o
consumidor) também deve arcar com o ônus ambiental provocado.
Quando o governo intervém nas atividades produtivas, algumas consequên-
cias lógicas podem ser percebidas. Dentre elas, estão as ações das empresas com
o objetivo de evitar punições. Assim, projetos de tratamento são colocados em
prática para tratar os materiais ou os grupos de produtos de pós-consumo. Geral-
mente, nesses casos, são criadas oportunidades de negócio para os agentes pres-
tadores de serviço, os quais, em parceria com indústrias e distribuidores, passam
a fazer parte da cadeia reversa e assumem tarefas que não são economicamente
ou administrativamente viáveis aos outros participantes.
O procedimento mais indicado para as organizações é o de que se antecipem
às eventuais legislações que, porventura, estejam em estudo pelos órgãos gover-
namentais. Ainda no que diz respeito ao impacto da legislação sobre as atividades
empresariais, Leite (2009, p. 138) explica que:


A revalorização legal dos bens de pós-consumo, operacionaliza-
da pela logística reversa, é entendida como o equacionamento das
condições dos canais reversos, de modo que se garanta o retorno
ao ciclo produtivo ou de negócios dos bens em fim de vida e obe-
decendo às leis vigentes. Empresas fabricantes de produtos que, de
alguma maneira, impactem negativamente o meio ambiente serão
certamente afetadas por legislações que de algum modo restrinjam
suas operações, contabilizando novos custos de origem ecológica
aos seus produtos, em cumprimento às novas legislações.

119
Considerando o ambiente extremamente mutável em que as organizações estão
UNIDADE 4

inseridas e as crescentes exigências voltadas ao correto tratamento das questões


ambientais pelas empresas, pela sociedade e pelo mercado, em particular, é con-
veniente que as instituições se engajem em ações, em cumprimento às legislações
em vigor ou que estejam em processo de aprovação.
A atual legislação ambiental brasileira é considerada uma das mais modernas
do mundo. Essa afirmativa não é exagero, principalmente se compararmos a nos-
sa legislação com a de alguns países, como a China, que, além de ser o motor do
mundo em relação à produção, também é uma das principais responsáveis pela
emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e pela poluição do ar e da água.
A história do Brasil em relação à legislação ambiental teve início nas últimas
décadas, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, que prevê um
tratamento abrangente às questões ambientais. Por exemplo, em seu Capítulo I,
que trata dos direitos e dos deveres individuais e coletivos, o Art. 5, em seu inciso
LXXIII, defende que:


[...] qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que
o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente
e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo compro-
vada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência
(BRASIL, 1988, on-line, grifo nosso).

Por outro lado, no Art. 23 da Constituição Federal de 1988, é determinado que é


competência comum da União, dos estados, dos municípios e do Distrito Federal,
dentre outras obrigações, o que está contido nos incisos VI e VII, que exigem “[...]
proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas” e
“[...] preservar as florestas, a fauna e a flora” (BRASIL, 1988, on-line).
Com o objetivo de complementar o Art. 24, é definido que:


Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concor-
rentemente sobre:

[...]

120
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do

UNICESUMAR
solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle
da poluição;

[...]

VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumi-


dor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico (BRASIL, 1988, on-line).

No que diz respeito aos princípios gerais da atividade econômica, a Constituição


Federal de 1988 expressa que:


Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho
humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos exis-
tência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios:

VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento di-


ferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
e de seus processos de elaboração e prestação (BRASIL, 1988, on-
-line).

Observe que o legislador não deixou simplesmente a autonomia de defender o


meio ambiente ao mercado, até mesmo porque se essa prerrogativa fosse esta-
belecida, deveríamos contar com a boa vontade do empresariado em promover
ações de conservação ambiental. Considerando que nem todos têm essa elevada
índole, já se previu que a atividade econômica deve defender o meio ambiente e
tratar os impactos ambientais.
No Capítulo VI da Constituição Federal de 1988, intitulado “Do meio am-
biente”, há, no Art. 225, o princípio norteador de toda a legislação ambiental bra-
sileira. Trata-se de:


Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equi-
librado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (BRA-
SIL, 1988, on-line).

121
Perceba que, no Art. 225, é possível extrair a filosofia expressa no próprio conceito
UNIDADE 4

de sustentabilidade presente no Relatório Brundtland, o qual nós estudamos na


Unidade 1. Friso a importância da leitura de, ao menos, o inteiro teor do Capítulo
VI da Constituição Federal de 1988.
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve a aprovação de
outras leis com objetivos específicos, mas todas inseridas no escopo da preservação e
da sustentabilidade ambiental. Por exemplo, a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998,
tipifica os crimes ambientais e ficou conhecida como “Lei de Crimes Ambientais” ou
“Lei da Natureza”. Ela é um marco, pois, a partir de então, tornou-se possível imputar
penas aos infratores, as quais vão desde multas até a prisão.
De qualquer forma, é importante que você saiba que a legislação visa regula-
mentar a relação complexa do ser humano com o meio ambiente, especialmente
no que concerne ao modo de exploração dos recursos naturais e à destinação dos
resíduos produzidos pelas próprias pessoas.

2
TENDÊNCIAS REGULATÓRIAS
NAS QUESTÕES
AMBIENTAIS

Ao avaliarmos o teor da legislação em vigor e as discussões sobre o tema “regula-


mentação”, podemos concluir que o acompanhamento por parte do Estado e da
sociedade tende a se intensificar ainda mais, à medida que os modos de consumo
e de produção se consolidaram como descartáveis. Assim como estudamos nas
122
unidades anteriores, o modo de vida “fast”, em que tudo é rápido, e a evolução

UNICESUMAR
tecnológica, que promove ciclos de vida dos produtos cada vez menores, levam
à produção crescente de materiais que, em um curto período de tempo (às vezes,
poucos minutos), são jogados fora.
Leite (2009) salienta que a tendência é que a responsabilidade seja atribuída aos
fabricantes, direta ou indiretamente. A legislação se volta a regulamentar a reciclagem
e o reaproveitamento dos materiais, a promover proibições de destinação indevidas
dos inservíveis e a incentivar o cuidado com as embalagens e a estruturação de canais
reversos. Essa regulamentação vem ao encontro do princípio de Extensão da Respon-
sabilidade do Produtor ou Extended Producer Responsability (EPR).

conceituando

O Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro) descreve o que são


os organismos certificadores. Eles desempenham um papel fundamental na obtenção
das certificações da família ISO, principalmente no que diz respeito à família ISO 14000,
que exige os Organismos de Certificação de Sistema de Gestão Ambiental (OCA). Portan-
to, coordenam e conferem “a certificação de conformidade com base na norma NBR ISO
14001. Os critérios adotados pelo Inmetro para a acreditação desses organismos são os
baseados no ABNT ISO/IEC Guia 66 e suas interpretações pelo IAF e IAAC” (AMBIENTEBRA-
SIL, [2021], on-line)¹.
Fonte: Ambientebrasil ([2021], on-line)¹.

Sobre o EPR, Lopes (2011 apud LUZ; BOOSTEL, 2018, p. 127) explana:


Princípio da Extensão da Responsabilidade do Produtor estabelece que
os atores envolvidos na cadeia produtiva devam compartilhar responsa-
bilidade pelos impactos ambientais decorrentes de todo o ciclo de vida
do produto, incluindo nesse sentido os impactos compreendidos pela
seleção dos materiais de tais produtos, os impactos provocados pelo
processo de produção em si e os impactos gerados pela destinação dos
produtos após o consumo. Com fulcro em tal princípio, poder-se-ia não
apenas determinar que o produtor receba o seu produto fabricado após
o consumo, mas, também, metas de reciclagem.

Vejamos, na Figura 1, algumas tendências de legislações aplicadas aos resíduos


sólidos que são encontradas na literatura internacional.
123
Proibição de aterros sanitários e incineradores

1
Visa impedir a instalação de novos aterros sanitários e incineradores de
lixo, partindo do pressuposto de que a sociedade não deseja ter, nas
UNIDADE 4

vizinhanças, esses tipos de instalações, em detrimento do risco de


proliferação de doenças, mau cheiro, roedores e outros inconvenientes.

Implantação da coleta seletiva

2
Forma de reduzir a quantidade de materiais
destinados aos aterros e incineradores,
tornando obrigatórias as coletas seletivas
domiciliar e empresarial. Cria condições para
o estabelecimento de novas atividades
empresariais nas comunidades e promove
uma grande quantidade de parcerias entre
empresas.

Responsabilização do fabricante

3
sobre o canal reverso dos produtos
TIPO DE LEGISLAÇÃO: (product take back)
Normalmente, é dirigida aos produtos
COLETA E DISPOSIÇÃO FINAL duráveis e embalagens. Tem como objetivo
fomentar ações na cadeia produtiva desses
bens, de modo a permitir o retorno após a
sua vida útil. Permite a realização de
progressos importantes no reverse supply
chain (cadeia de suprimentos reversa).

4
Proibição da disposição de certos produtos
em aterros sanitários
Visa coibir a destinação de produtos que podem
ser danosos aos aterros sanitários. São exemplos:
pilhas e baterias, óleos lubrificantes, eletro-
domésticos, dentre outros.

Índices mínimos de reciclagem


Exigência a certos
produtos com quanti-
dade determinada de
constituintes reciclados.
6 5 Depósito de valor antecipado por embalagem
Regulamenta os pagamentos por disposição de
embalagem e por depósito antecipado por embala-
gem (uma espécie de caução) até a sua devolução.

6
Incentivo ao conteúdo de reciclados nos produtos
Geralmente, é utilizado pelo governo em suas compras junto
aos fornecedores como forma de incentivar o uso de reciclados
e a fim de dar exemplo à sociedade.

7
Proibição de venda ou de uso de produtos
Quando há a impossibilidade de controle e
melhoria no equilíbrio dos fluxos reverso e
direto de certos produtos, o governo promulga
leis que impedem a sua comercialização ou o
seu uso.

TIPO DE LEGISLAÇÃO:
MARKETING 8 Proibição de embalagens descartáveis
O governo pode exigir o uso de embala-
gens retornáveis para evitar excessos de
pós-consumo.

9
Rótulos ambientais
Normatiza os diversos tipos de rótulos de
produtos, tais como “biodegradáveis”, “amigável”,
“reciclável”, dentre outros.
Redução na fonte
Incentivos de diversas

11 10
naturezas para as empresas IIncentivos
Inc
Ince
Incen
ncent
entiv
ntivo
ntiv
ivo
vos
os fi
fiscais
que reduzem o consumo de Tra
Trata-se
Trata-s
Trata
Trat
rata-se de isenções em relação à utilização de produtos de pós-con-
ta-se d
recursos não renováveis ou sumo. Busca-se incentivar a produção por meio de uma tributação
sumo
sum
que modificam produtos diferenciada para os produtos com conteúdo reciclado, promover a
para gerar condições menos eliminação de incentivos tributários a certas matérias-primas e delimi-
impactantes ao meio tar a extinção de subsídios para a produção de determinadas
ambiente. matérias-primas, por exemplo.

Figura 1 - tendências de legislações aplicadas aos resíduos sólidos / Fonte: adaptada de Leite (2017).

Descrição da Imagem: A figura apresenta um infográfico colorido mostrando as tendências de legislações


aplicadas aos resíduos sólidos. Primeiramente, temos legislação da coleta e disposição final e suas vertentes,
sendo elas a Proibição de aterros sanitários e incineradores, Implantação de coleta seletiva, Responsabilização
do fabricante sobre o canal reverso dos produtos, Proibição de disposição em aterros sanitários de certos
produtos, Depósito de valor antecipado por embalagem e Índices mínimos de reciclagem. Em seguida, temos
a Legislação de Marketing, com o Incentivo ao conteúdo de reciclados nos produtos, Proibição de venda ou uso
de produtos, Proibição de embalagens descartáveis, Rótulos ambientais, Incentivos fiscais e Redução na fonte.

124
Sobre a legislação especificamente aplicada à logística reversa, há, no mundo todo

UNICESUMAR
e, em particular, no Brasil, uma discussão muito intensa sobre a legislação tributá-
ria aplicada aos materiais da logística reversa. Uma das queixas dos empresários é
que, ao reinserirem materiais no canal reverso (mesmo que a origem tenha sido o
canal direto da empresa), há a incidência de impostos, constituindo, assim, uma
bitributação. Muitos empresários, defronte a esses tributos, são desestimulados ao
reaproveitamento dos materiais, pois, em vários casos, os materiais reabsorvidos
no processo precisam passar por beneficiamentos prévios antes de adquirirem
condições para se equiparar com a matéria-prima original, onerando o processo.
Desde 2014, tramita, no Congresso Nacional, uma proposta da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) que apresenta alternativas a esse modelo de tributa-
ção sobre o material oriundo da logística reversa. Basicamente, as propostas são:


Harmonização e ampliação do diferimento na cobrança do ICMS;

Ampliação da suspensão da incidência de PIS/CONFINS;

Crédito presumido sobre uso de resíduos sólidos como matéria-prima:


é mais fácil conceder um crédito presumido, com base nas aquisições
de material reciclado pela indústria, do que identificar a porcentagem
efetivamente utilizada de material proveniente da reciclagem na fabri-
cação de cada produto da indústria.

Serviços de terceiros: Desonerar de ICMS, ISS e PIS/COFINS os


serviços de gestão da logística reversa, transporte e processamento
de resíduos, prestados por terceiros.

Incentivo direto ao investimento e financiamento da logística re-


versa: parte dos gastos das empresas com logística reversa poderia
ser abatida do imposto de renda devido, a exemplo de incentivos já
existentes para a cultura e o esporte.

Desoneração da folha de pagamento das cooperativas de catadores


(ROBLES; LA FUENTE, 2019, p. 326-327).

É preciso acompanhar essa discussão com muita atenção, pois a promoção de


um avanço na legislação que desonere os produtos retornados de impostos pode
ser um ponto de alavancagem para os empreendimentos relacionados à logística
reversa.
125
3
LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL
UNIDADE 4

RELACIONADA
AOS ASPECTOS
AMBIENTAIS

As grandes corporações e até mesmo as pequenas companhias que são bem es-
truturadas, além de quererem conquistar e manter os mercados nos quais estão
as suas matrizes, expandem essa guerra para muito além de suas fronteiras, em
um processo de globalização que já é bastante estabelecido.
Evidentemente, os governos dos países em que essa competição se intensi-
ficou desejam que as suas empresas conquistem mercados estrangeiros, mas, ao
mesmo tempo, impõem medidas protecionistas para as suas próprias institui-
ções e mercados. Os governos buscam, mediante diversas medidas, preservar
empregos em seus respectivos países. Dentre essas medidas, está a imposição de
barreiras aos produtos estrangeiros que não atendem às normas de qualidade
tanto no que diz respeito aos processos quanto no que se refere ao atendimento
aos requisitos de responsabilidade social, ambiental, trabalhista e de riscos.
O Reino Unido é um grande exemplo de mercado protegido contra a entrada
de produtos concorrentes, visto que somente aqueles que atendem a sua rígida
legislação têm espaço para comercialização. É digno de nota que o Reino Unido
tem sido pioneiro no estabelecimento de normas gerenciais pela British Standard
Institution (BSI). Como exemplo, temos a norma BS 5750, que dispõe sobre a
gestão da qualidade e provocou um movimento em outros países, estimulando-os
a estabelecerem as suas próprias normas nesse campo.

126
Fato é que a imposição de diversas barreiras pelos países prejudica o fluxo de

UNICESUMAR
produtos e promove divisas, penalizando especialmente os países mais pobres.
O comércio entre países é uma condição importante para o desenvolvimento de
algumas nações e, a fim de promoverem essas transações, associam-se a outros
países em forma de blocos econômicos, como é o caso da União Europeia, do
Mercosul e do NAFTA.
Todavia, embora promovam o comércio entre os países participantes do blo-
co, as barreiras persistem para aqueles que não fazem parte dos tratados. Em uma
simples análise, você pode concluir o quão difícil é, para uma empresa que deseja
exportar, vencer as barreiras comerciais de naturezas diversas, já que cada país
impõe o seu extenso conjunto de regras. Por outro lado, precisamos entender que
os países precisam ter garantias mínimas de que os produtos comercializados em
seus territórios atendam aos requisitos de qualidade, de responsabilidade social
e ambiental, por exemplo.
Legislações sérias barram a entrada de produtos manufaturados sob condi-
ções desumanas e de produtos nocivos e produzidos por indústrias poluidoras, a
fim de inibirem essas práticas deletérias por parte de nações cujo único objetivo
é a geração de lucro. Então, como vencer esses desafios? Capitaneada sobretudo
pela Organização Mundial do Comércio (OMC), houve a necessidade de estabe-
lecer padrões internacionais que possam servir de referência aos países quanto ao
atendimento de requisitos em diferentes mercados. Na prática, um produto que
não atende a uma norma internacional não tem a sua comercialização proibida,
mas é praticamente impossível inseri-lo no mercado internacional.
A adoção dessas normas facilitou a vida das empresas, que passaram a ter
um referencial de produção e de práticas organizacionais que, se atendidas, po-
dem proporcionar a entrada de seus produtos em mercados com altos níveis de
proteção legal. As normas reguladoras, em sua maioria, se atendidas, geram uma
certificação que tem validade nacional e internacional, e é reconhecida por me-
canismos certificadores aceitos internacionalmente. Isso significa que as normas
reguladoras se tornaram um instrumento gerencial e estratégico para as organi-
zações que querem expandir e manter os seus mercados.
Entretanto, quais certificações a empresa pode buscar e quais são os organis-
mos envolvidos? Ao contrário do que muitos pensam, existem vários organismos
certificadores, dependendo do campo que consideramos. São exemplos: para a
área elétrica e eletrônica, há a International Electrotechnical Commission (IEC);
para a área de telecomunicação, há a International Telecommunication Union
127
(ITU); e, sem dúvida, a mais conhecida é a International Organization for Stan-
UNIDADE 4

dardization (ISO).
Embora todos esses organismos tenham grande relevância, estudaremos, nes-
se momento, a ISO. Essa entidade foi criada em 1947, com o objetivo de:


Desenvolver a normalização e atividades relacionadas para facilitar
as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a coope-
ração entre países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas.
Historicamente, a ISO esteve direcionada ao desenvolvimento de
normas técnicas sobre produtos, processos produtivos e métodos
de testes e ensaios. Foi somente no final da década de 1970 que
começou a produzir as primeiras normas de gestão, as conhecidas
normas da série ISO 9000, todas relacionadas com a implementa-
ção e a operação de sistemas de gestão da qualidade (BARBIERI;
CAJAZEIRA, 2012, p. 168).

No que diz respeito às questões socioambientais, seguindo a iniciativa de alguns


países (como o Reino Unido, por meio da norma BS 7750, que normaliza o sis-
tema de gestão ambiental no território britânico), a ISO instituiu, no final dos
anos 80, Comitês Técnicos (especificamente o Comitê 207) para a elaboração de
uma norma de certificação ambiental internacional. O resultado é estabelecido
em 1996, momento em que são editadas as primeiras normas sobre os sistemas
de gestão ambiental, as quais foram publicadas nas séries ISO 14001 e ISO 14004
(BARBIERI; CAJAZEIRA, 2012).
De acordo com Dias (2011, p. 105):


As normas ISO 14000 são uma família de normas que buscam es-
tabelecer ferramentas e sistemas para a administração ambiental de
uma organização. Buscam a padronização de algumas ferramen-
tas-chave de análise, tais como a auditoria ambiental e a análise do
ciclo de vida.

Observe, na Figura 2, as especificações das diversas normas da série ISO 14000,


que, no Brasil, receberam a classificação “NBR ISO 14000”.

128
3
2

UNICESUMAR
Norma ISO 14010
Norma ISO 14004 Guias para Auditoria

4
Sistema de Gestão Ambiental – Diretrizes
Ambiental – Gerais
Diretrizes Gerais

Norma ISO 14001* Norma ISO 14011


Sistema de Gestão Diretrizes para

1
Ambiental (SGA) – Auditoria Ambiental
Especificações para e Procedimentos
implantação e guia para Auditorias

Norma ISO 14012


Diretrizes para
Auditoria Ambiental –
Norma ISO 14022
Rotulagem Ambiental
– Simbologia para
8
Critérios de Qualificação Rótulos

5
* Normas passíveis de certificação
Norma ISO 14021
Norma ISO 14020 Rotulagem Ambiental
Rotulagem Ambiental – Termos e Definições

7
– Princípios Básicos

6
14
Norma ISO 14041
Análise do Ciclo de
Norma ISO 14042
Análise do Ciclo de
15
13 Vida – Inventário Vida – Análise dos
Impactos

Norma ISO 14043


Norma ISO 14040* Análise do Ciclo de
Análise do Ciclo de Vida – Migração dos
Vida – Princípios
Gerais
* Normas passíveis de certificação
Impactos
16
9 Norma ISO 14023
Rotulagem Ambiental –
Norma ISO 14032
Avaliação da Performance
Ambiental dos Sistemas
Testes e Metodologias de Operadores
de Verificação

12
Norma ISO 14024
Rotulagem Ambiental – Norma ISO 14031
Guia para Certificação Avaliação da Performance

10
com Base em Análise Ambiental
Multicriterial

11
Figura 2 - Detalhamento das normas NBR ISO 14000 / Fonte: Dias (2019, p. 111).

Descrição da Imagem: Na figura, temos um infográfico colorido apresentando o detalhamento das nor-
mas NBR ISO 14000, sendo elas 14001 Sistema de Gestão Ambiental (SGA) – Especificações para implanta-
ção e guia, 14004 Sistema de Gestão Ambiental – Diretrizes Gerais, 14010 Guias para Auditoria Ambiental
– Diretrizes Gerais, 14011 Diretrizes para Auditoria Ambiental e Procedimentos para Auditorias, 14012
Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios de Qualificação, 14020 Rotulagem Ambiental – Princípios
Básicos, 14021 Rotulagem Ambiental – Termos e Definições, 14022 Rotulagem Ambiental – Simbologia
para Rótulos, 14023 Rotulagem Ambiental – Testes e Metodologias de Verificação, 14024 Rotulagem
Ambiental – Guia para Certificação com Base em Análise Multicriterial, 14031 Avaliação da Performance
Ambiental, 14032 Avaliação da Performance Ambiental dos Sistemas de Operadores, 14040 Análise do
Ciclo de Vida – Princípios Gerais, 14041 Análise do Ciclo de Vida – Inventário, 14042 Análise do Ciclo de
Vida – Análise dos Impactos e 14043 Análise do Ciclo de Vida – Migração dos Impactos.

129
Por que as normas ISO são consideradas instrumentos gerenciais? Todas as nor-
UNIDADE 4

mas da série ISO são baseadas no que ficou conhecido como “ciclo PDCA” (em
seus primórdios, também era conhecido como “ciclo de Deming” ou “ciclo de
Shewhart”, em homenagem aos seus criadores e desenvolvedores), que promove
um ordenamento lógico, a fim de guiar as ações de um gestor em qualquer área
de atuação. “PDCA” é uma sigla em inglês para as palavras “plan”, “do”, “check” e
“act”, que, em português, significam “planejar”, “fazer”, “verificar” e “agir”.
Analise, na Figura 3, o princípio de funcionamento do ciclo PDCA:

P
Definir as metas
Métodos para
atingir as metas

A Agir
corretivamente
Educar e treinar

Verificar os resultados

D
da tarefa executada
Executar a tarefa

C
Figura 3 - Ciclo PDCA / Fonte: Carpinetti (2016, p. 39).

Descrição da Imagem: a figura retrata um círculo que é dividido em quatro partes, denominadas P, D,
C, A. Em cada uma das partes, está descrito ao que ela se relaciona. A parte P representa a definição das
metas e dos métodos para atingir os objetivos. A parte D significa educar, treinar e executar a tarefa. A
parte C simboliza a verificação dos resultados da tarefa executada, enquanto a parte A diz respeito ao
agir corretivamente.

130
Ao aplicarmos esse conceito especificamente em nossos estudos de logística re-

UNICESUMAR
versa, teríamos a seguinte proposta para as fases do PDCA, de acordo com Bar-
bieri e Cajazeira (2012, p. 170):
■ Planejar (Plan): estabelecer os objetivos e processos necessários para pro-
duzirem resultados em conformidade com a política de logística reversa
das organizações;
■ Fazer (Do): implementar os processos;
■ Verificar (Check): monitorar e medir os processos em relação à política
de logística reversa e aos objetivos, metas, requisitos legais e outros, e
reportar os resultados; e
■ Atuar (Act): tomar ações para melhorar continuamente o desempenho
ambiental, econômico e social do sistema de gestão.

Perceba que a ideia é bastante simples, porém poderosa. Nada se faz sem pla-
nejamento e sem o envolvimento e o comprometimento das pessoas (desde a
alta direção até os níveis operacionais). Nada se consegue sem mensuração, ou
seja, sem medidas de desempenho que reflitam sobre a situação atual e a sua
conformidade (ou não) com o planejado. O mais interessante é que a última fase
(atuar – “act”) preconiza que a empresa sempre deve buscar a melhoria, o que os
japoneses conhecem como kaizen, a filosofia da melhoria contínua que preconiza
que tudo pode ser melhorado.

131
4
A LEGISLAÇÃO AMBIENTAL E
UNIDADE 4

O SEU IMPACTO
NA LOGÍSTICA
REVERSA

Neste tópico, gostaria de discutir um dos principais avanços quando se fala em


legislação aplicada à logística reversa. O ano de 2010 marcou a introdução de
uma nova legislação que considera especificamente o papel da logística reversa no
Brasil. Essa legislação era bastante aguardada, pois vários especialistas apontavam
um “vazio” de legislação quando se falava sobre esse assunto. Ela ficou conhecida
dentro do Plano Nacional de Resíduos Sólidos e foi comemorada por alguns e
criticada por outros. O fato é que a legislação está vigente e deve direcionar as
ações dos agentes econômicos no território brasileiro.
Vamos conhecer os principais aspectos dessa legislação? Trata-se da Lei nº
12.305, de 02 de agosto de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sóli-
dos. Ela foi regulamentada pelo Decreto nº 7.404, de 23 de dezembro de 2010, que
foi extremamente importante, pois não é válido ter uma lei, se não há um decreto
regulamentador, o que foi providenciado por meio do Decreto nº 7.404/2010.
Já no primeiro artigo da Lei nº 12.305/2010, é observável que:


Art. 1o Esta Lei institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, dis-
pondo sobre seus princípios, objetivos e instrumentos, bem como
sobre as diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento
de resíduos sólidos, incluídos os perigosos, às responsabilidades
132
dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos

UNICESUMAR
aplicáveis.

§ 1‘ Estão sujeitas à observância desta Lei as pessoas físicas ou jurí-


dicas, de direito público ou privado, responsáveis, direta ou indireta-
mente, pela geração de resíduos sólidos e as que desenvolvam ações
relacionadas à gestão integrada ou ao gerenciamento de resíduos
sólidos (BRASIL, 2010, on-line).

Observe que a legislação inclui como responsáveis pelo cumprimento da legisla-


ção todas as pessoas físicas ou jurídicas que tenham alguma ação na geração de
resíduos sólidos, ou seja, a responsabilidade não recai somente nas empresas. O
“cidadão comum” pode ser penalizado pelo descumprimento da lei.

pensando juntos

A Política Nacional de Resíduos Sólidos demorou quase 20 anos para ser instituída, desde
a sua proposta enquanto projeto de lei até a sua aprovação em forma da Lei nº 12.305,
que aconteceu em 2010. Quais razões podem ter contribuído para o dispêndio de um
tempo tão longo para a aprovação de uma lei com essa importância?

A ideia da Lei nº 12.305/2010 é levar a responsabilidade a todos os setores da


sociedade e vincular os órgãos normatizadores e fiscalizados ao processo. Em seu
Art. 3º, inciso XII, encontramos o conceito de logística reversa:


XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico
e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e
meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos
sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo
ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambien-
talmente adequada (BRASIL, 2010, on-line).

É perceptível a integração da noção de logística reversa com a “destinação final


ambientalmente adequada”, não é? Isso constitui um grande avanço. Ainda no
Art. 3º, agora, em seu inciso XIII, é feito um resgate da noção de desenvolvimento
sustentável, a qual foi definida pela ONU e avalizada pela maioria das nações:

133

XIII - padrões sustentáveis de produção e consumo: produção e
UNIDADE 4

consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades das


atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem com-
prometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades
das gerações futuras (BRASIL, 2010, on-line).

Há um conceito que não devemos ignorar: o do atendimento às necessidades


atuais e das gerações futuras. Esse pode parecer um conceito muito abstrato, afi-
nal, as gerações futuras ainda não existem, portanto, seria muito fácil esquecê-las,
não é verdade?
Note, ainda, nos demais incisos do Art. 3º da Lei nº 12.305/2010, outras defi-
nições muito importantes, tanto do ponto de vista ambiental quanto da logística
reversa:


XIV - reciclagem: processo de transformação dos resíduos sólidos
que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas
ou biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos
produtos, observadas as condições e os padrões estabelecidos pelos
órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa;

XV - rejeitos: resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as


possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnoló-
gicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra
possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada;

XVI - resíduos sólidos: material, substância, objeto ou bem descar-


tado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja destina-
ção final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a pro-
ceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos
em recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o
seu lançamento na rede pública de esgotos ou em corpos d’água,
ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível (BRASIL, 2010, on-line).

Muito interessante, não acha? As definições expostas vão ao encontro de tudo o


que estudamos até agora e demostram a conjunção dos esforços governamentais
com as iniciativas das empresas.

134
A partir da Lei nº 12.305/2010, todos são envolvidos no processo, desde os

UNICESUMAR
fabricantes até os consumidores. Os consumidores têm obrigações claras e defi-
nidas em lei. O Decreto nº 7.404/2010, do 5º ao 7º artigo, estabelece a responsa-
bilização dos fabricantes, importadores, distribuidores, consumidores e titulares
de serviços públicos, e obriga os consumidores a acondicionarem corretamente
os resíduos sólidos quando a lei municipal estabelecer esse serviço.
Um dos fragmentos mais importantes do Decreto nº 7.404/2010 é a seção II,
que determina os instrumentos e a forma de implantação da logística reversa, ao
orientar a formação de acordos setoriais, termos de compromisso, dentre outras
medidas. Os acordos setoriais têm sido utilizados com muita frequência, espe-
cialmente em segmentos econômicos que geram resíduos contaminantes, como
é o caso de lâmpadas e tintas.
A legislação também previu e incluiu em seu texto a necessidade de serem
estabelecidas as diretrizes para a educação ambiental no país, talvez, o grande
segredo para as mudanças significativas da nossa realidade. O capítulo que trata
dessa temática no Decreto nº 7.404/2010 é intitulado “XI: Da Educação ambiental
na Gestão dos Resíduos Sólidos”. Leia esse capítulo, que está disponível na In-
ternet, e você constatará a importância dada à formação cidadã em preservação
ambiental, iniciando pela ação mais básica, que é educação.

explorando Ideias

Como implementar a logística reversa


Um dos principais desafios da logística reversa é implementá-la em setores específicos
da economia. Os interesses não são coincidentes. Na verdade, na maior parte, são mui-
to conflitantes. Mesmo com uma legislação abrangente, como a Política Nacional de Re-
síduos Sólidos (PNRS), instituída por meio da Lei nº 12.305/10, é preciso orquestrar as
discussões para que possam ser feitos acordos setoriais com os integrantes das diversas
cadeias. Por isso, como resultado do PNRS, diversos grupos de trabalho foram constituí-
dos, a fim de discutir e implementar acordos com os setores envolvidos. São grupos de
trabalho relacionados ao descarte de medicamentos, eletroeletrônicos, embalagens em
geral, recipientes de óleos, de lubrificantes e dos seus resíduos, e de lâmpadas fluorescen-
tes, de mercúrio e de luz mista.
Fonte: o autor.

135
Ao examinarmos o teor da Lei nº 12.305/10 e o Decreto Regulamentador nº
UNIDADE 4

7.404/10 na íntegra, é perceptível que o avanço regulamentar foi gigantesco. Con-


tudo, uma lei pode se tornar inócua, ou seja, sem efeito, com muita facilidade.
Cabe também à sociedade se inteirar sobre esse tema e cobrar a efetiva aplicação
da legislação no dia a dia. Somente assim teremos, de fato, ganhos em relação à
preservação ambiental.

conecte-se

O rol de leis ambientais no Brasil é extenso, o que dá margem para elogios


por parte de alguns e críticas por parte de outros. Algumas leis são de impor-
tância central. Por isso, recomendo que você acesse o QR-code a seguir para
conhecer as principais leis ambientais.

5
AS BASES PARA
A ECONOMIA
CIRCULAR: UMA
NOVA FRONTEIRA
PARA O CONSUMO

Já sabemos que a forma como foi estabelecido o nosso modelo econômico, forte-
mente baseado no consumo, determinou a maneira como os sistemas produtivos
foram planejados. De acordo com o processo de transformação da matéria-prima
em produto, que é utilizado pelo consumidor até o seu momento de descarte, é
estabelecida uma forma linear de consumo.
136
Essa ideia está intimamente ligada ao conceito chamado “ciclo de vida” dos

UNICESUMAR
produtos. Nós temos esse conceito tão internalizado que, na maior parte do tem-
po, não nos lembramos. Um exemplo é quando descartamos um monitor de
computador do tipo “tubo”. Você se lembra? De quantos aparelhos desse tipo você
já se desfez? Esse produto cumpriu o seu ciclo de vida. Qual é o destino do item
que deixa de ter utilidade para o consumidor? Ele provavelmente será descartado.
O ciclo de vida e as exigências dos consumidores conscientes (ambientalmen-
te falando) geraram uma preocupação às empresas produtoras, pois, de acordo
com a legislação ambiental dos países, não é permitido simplesmente depositar
um produto inservível em qualquer lugar. Origina-se, então, o que ficou conhe-
cido como Análise do Ciclo de Vida (ACV), proveniente da expressão em inglês
Life Cycle Assesment (LCA). O objetivo da ACV é:


[...] minimizar os impactos ao meio ambiente gerados pelos pro-
dutos das organizações. Sob essa perspectiva, é necessário que tudo
seja considerado para que os impactos ambientais sejam mínimos,
ou de preferência, nulos (RAZZOLINI FILHO; BERTÉ, 2013, p. 80).

Todo produto provoca impactos no meio ambiente, em maior ou em menor grau.


Talvez, o produto em si não seja poluente, mas o seu processo de produção pode
ser. Um exemplo é o gelo, que é vendido para diversos fins e, basicamente, é feito
de água limpa (a qual não é poluente), mas consome, por exemplo, a energia que
vem das usinas, que são poluentes. Não há como fugir dessa realidade.
A noção de ciclo de vida dos produtos é, de fato, muito semelhante ao ciclo de
vida dos organismos. Um produto nasce, tem um período de demanda e, depois,
morre. No caso dos produtos, houve um refinamento desse conceito, que ficou
conhecido como “do berço ao túmulo”. Nele, não se expira a responsabilidade da
empresa no momento da venda ao cliente final, mas ela se estende literalmente
até o túmulo, ou seja, até o momento em que o produto não tem mais utilidade
para o consumidor e precisa ter uma destinação final. Na Figura 4, essa ideia é
mais facilmente visualizada.

137
Reciclagem
UNIDADE 4

ou recuperação

Definição de novos Fabricação


produtos pelo
marketing (berço)

Extração de Consumo ou
matérias-primas Embalagem
utilização

Pesquisa e
desenvolvimento Destinação final
Transporte
(P&D) (túmulo)

Figura 4 - Conceito “do berço ao túmulo” dos produtos / Fonte: adaptada de Razzolini Filho
e Berté (2013).

Descrição da Imagem: Na figura, temos uma ilustração de um fluxograma ilustrando o conceito “do berço
ao túmulo” dos produtos. O Fluxograma inicia com a ilustração de um recém-nascido representando a
definição de novos produtos pelo Marketing (berço). A próxima etapa é a Pesquisa e desenvolvimento
(P&D), seguida pela Extração de matérias-primas, a Fabricação, Embalagem e Transporte. A etapa do
Consumo ou utilização se divide em dois caminhos, o da Destinação Final (túmulo) e a Reciclagem ou
recuperação, que joga o produto novamente para a etapa de Fabricação do ciclo.

Perceba que, após o consumo ou a utilização, o produto pode ir diretamente à


destinação final (túmulo) ou voltar ao processo econômico por meio da reci-
clagem ou da recuperação, tornando-se novamente parte de um ciclo, por “n”
vezes, até que, finalmente, não terá mais utilização. Portanto, será direcionado a
destinação final.
No entanto, apesar de a conceituação ser uma evolução no tratamento do
produto e de seus componentes, ainda estamos consumindo os recursos natu-
rais em uma velocidade que não permite a reposição desses itens pelos próprios
ciclos da natureza. Diante disso, muitos governos e empresas iniciaram, no final
do século XX e início do século XXI, um movimento para mudar a lógica linear
a economia e estabelecer uma economia com lógica circular: a economia circular.
Berardi e Dias (2018, p. 35) destacam que:


Em 2015, a União Europeia adotou a economia circular (EC) como
modelo a suportar e viabilizar o alcance das metas estabelecidas até
2050. Também na China, desde o início dos anos 2000, a EC vem
sendo incorporada nos planos governamentais.

138
A Economia Circular (EC) é uma nova forma de considerar a economia e os

UNICESUMAR
modos de produção. Lembre-se de que a humanidade foi profundamente impac-
tada com o advento da Revolução Industrial, que alterou a lógica de produção
artesanal para uma de produção massificada, a qual temos até hoje. No entanto,
esse modo de produção é insustentável, visto que muitos recursos naturais não
são renováveis. Também temos os recursos naturais renováveis, mas os ciclos de
reposição não estão conseguindo atender às nossas necessidades. Desse modo,
a EC propõe uma mudança nessa relação de consumo das matérias-primas e na
forma como os produtos são desenhados. É uma mudança cultural e tanto, não
concorda?
Entretanto, perceba que as muitas pessoas já não sonham mais “ter”, como se
a posse de um produto fosse uma realização. As gerações mais jovens, especial-
mente, pensam no valor de utilização do bem, e não no bem em si. Por exemplo,
em uma cidade abarrotada de carros e constituída de um trânsito caótico, se o
transporte público fosse eficiente e confiável, muitos estariam dispostos a abando-
nar o seu carro e a usar essa modalidade. A “posse” do carro, para esses indivíduos,
não é importante, mas a mobilidade que ele proporciona. Isso ajuda a explicar o
aumento vertiginoso dos serviços de transporte por aplicativo e os aluguéis de
bicicleta como um serviço. Essa tendência é chamada de “servitização”.
A servitização acontece quando o serviço tem um valor maior que o bem em
si para aquele que o desfruta ou consome. As empresas mais focadas no consu-
midor já entenderam essa ideia, ou seja, que não podem mais vender somente
o produto, mas a gama de serviços a ele atrelada até o momento em que passa a
ser um serviço. Dentro dessa lógica de uso consciente, a EC propõe a mudança
da linearidade da economia (extração – transformação – descarte) para uma
economia em que todo o processo é pensado para maximizar o uso dos produtos,
ou seja, aumentar a sua vida útil e preparar esse produto (e os seus componentes)
para uma nova finalidade. Os três pilares da EC são visualizados na Figura 5:

139
UNIDADE 4

111 222 333


Preservar
Preservar
Preservar eeaumentar
aumentar
e aumentaroocapital
capitalnatural,
natural,
o capital natural, Otimizar
Otimizar oouso
Otimizar uso de
o usodede
recursos
recursos
recursosna
nana
produção,
produção,
produção, Fomentar
Fomentar
Fomentaraaeficácia
eficáciado
dodo
a eficácia sistema
sistema por
sistemapormeio
meio
por meio
sendo
sendo
sendo fundamental
fundamental
fundamental controlar
controlar estoques
estoques
controlar estoques em
emem
que
que aaênfase
que ênfase se
a ênfasesese

dádá
em
ememcircular.
circular.
circular. dada
da percepção
percepção
percepção eeda
da eliminação
eliminação
e da eliminação das
dasdas
finitos
finitos eeequilibrar
finitos equilibraroouso
e equilibrar uso dede
de
o uso recursos
recursos
recursos Produtos
Produtos
Produtoseemateriais
materiais têm
e materiaistêm oomáximo
têm máximo
o máximo de
dede externalidades
externalidades
externalidades negativas
negativas
negativas dos
dos processos.
processos.
dos processos.
renováveis.
renováveis.
renováveis. utilização
utilização (ciclo
utilização(ciclotécnico
técnico
(ciclo eeciclo
técnico ciclo biológico).
biológico).
e ciclo biológico).

Figura 5 - Os princípios da Economia Circular / Fonte: Berardi e Dias (2018, p. 35-36).

Descrição da Imagem: a figura demonstra os três pilares da economia circular. O primeiro é ilustrado em
forma de árvore e contém a legenda: “Preservar e aumentar o capital natural, sendo fundamental controlar
estoques finitos e equilibrar o uso de recursos renováveis”. O segundo pilar é representado pelo símbolo
da reciclagem, que são setas verdes formando um triângulo ao apontarem umas para as outras. Ele tem a
seguinte legenda: “Otimizar o uso de recursos na produção, em que a ênfase se dá em circular. Produtos
e materiais têm o máximo de utilização (ciclo técnico e ciclo biológico)”. O terceiro pilar é representado
por uma figura em forma de seta em sentido crescente, com a legenda: “Fomentar a eficácia do sistema
por meio da percepção e da eliminação das externalidades negativas dos processos”.

A Figura 5 representa a ideia de que os recursos naturais são finitos, ao expor a


otimização dos recursos de produção, a fim de fomentar a eficácia do sistema e a
eliminar os efeitos negativos das externalidades dos processos.

conceituando

Externalidades: são eventos ou decisões que têm origem em terceiros, ou seja, em atores
que não são participantes diretos do processo, mas que o afetam quer positiva, quer
negativamente.

É verdade que os processos organizacionais tradicionais e que dão origem a ca-


deia de suprimentos convencional já prevê o princípio dos 3R’s, que são explica-
dos por Viet (2012 apud ABDALLA; SAMPAIO, 2018, p. 87, grifos nossos):


REDUZIR: Utilizar técnicas de gerenciamento para diminuir a
quantidade de material consumido para determinado fim (ex. água,
energia, minerais, etc.);

140
REUTILIZAR: Utilizar novamente um material, no mesmo uso

UNICESUMAR
para o qual foi projetado, ou em outro uso compatível, aumentando
assim a vida útil do material, antes de ser descartado ou enviado
para a Reciclagem;

RECICLAR: Reciclagem é um conjunto de técnicas que tem por


finalidade aproveitar os resíduos e colocá-los novamente no ciclo de
produção de que saíram. É o resultado de uma série de atividades,
pelas quais materiais que se tornariam lixo, ou estão no lixo, são
desviados, coletados, separados e processados para serem usados
como matéria-prima na manufatura de novos produtos.

Contudo, a pretensão da EC é bem mais ambiciosa. Trata-se de uma mudança so-


cial, tendo em vista que altera o cerne da cultura do consumo, impactando toda a
cadeia produtiva. Não é uma proposta de simples implantação. Na verdade, é bem
complexa e as iniciativas para a sua adoção têm partido de países que têm uma
cultura ambiental mais apurada, como certos países europeus e algumas partes
da China. A expectativa é que cada vez mais setores da sociedade se sensibilizem
com os seus preceitos e venham a adotá-la. O ideal da EC é, segundo Bonciu
(2014, apud ABDALLA; SAMPAIO, 2018, p. 88, grifos nossos), é apresentar:


[...] três princípios fundamentais, na defesa da melhoria dos pro-
cessos produtivos e da permanência mais duradoura dos materiais,
como estimulo a geração de ativos numa cadeia de valor. Portanto,
propõe: “o fim da sociedade do descarte” por meio da “renún-
cia do padrão fazer, usar, descartar” como forma alternativa de
organizar a produção e a transição para uma abordagem “reuso e
reciclagem”.

A Figura 6 demonstra um modelo esquemático do que se pretende alcançar com


a EC.

141
UNIDADE 4

RECURSOS NATURAIS MATÉRIA-PRIMA MANUFATURA USO/CONSUMO

REPARO/REUSO

REMANUFATURA

UPCYCLE (SUPERCICLAGEM)

Figura 6 - Modelo do sistema circular de produção para o ciclo técnico: reuso, reciclagem
e upcycle / Fonte: Abdalla e Sampaio (2018, p. 89).

Descrição da Imagem: a figura mostra um ciclo de produção. Ela abrange desde os recursos naturais até
o uso ou o consumo dos produtos resultantes desse ciclo. No entanto, aponta os princípios da EC inseridos
em todas as fases, de modo a propiciar o reparo ou reuso, a remanufatura e o upcycle (superciclagem).

Com a EC, pretende-se avançar do conceito “do berço ao túmulo” para o conceito
“do berço ao berço” (Cradle to Cradle ou C2C), em que três princípios se des-
tacam, a saber: os resíduos são considerados nutrientes, alimentando outros
processos. Usam-se fontes de energia ilimitadas, como a energia solar, e há a
celebração da diversidade na biodiversidade, em que os espaços se harmoni-
zam com o meio ambiente, tornando-os mais saudáveis, menos poluídos e mais
divertidos. Também existe diversidade em relação às culturas e às soluções, a qual
parte da premissa de que não há um único jeito certo de fazer as coisas ou uma
solução única para os problemas, respeitando-se, dessa forma, contextos e cultu-
ras locais (GEJER; TENNENBAUM, 2017 apud ABDALLA; SAMPAIO, 2018).
Lembre-se de que estamos falando de dois ciclos quando abordamos a EC:
o ciclo técnico e o ciclo biológico. Em ambos, há uma preocupação de não haver
uma restrição quanto ao ganho de eficiência propalado pelos processos de gestão
da qualidade, como as certificações ISO, que são encaradas como “atrasar o ine-
vitável” pela ótica da EC. Na verdade, esses ciclos buscam soluções efetivas, com
ganhos para as gerações atuais e futuras, princípio basilar do desenvolvimento
sustentável. Na Figura 7, essa proposta é visível.

142
UNICESUMAR
fabricação produtos
manufaturada produtos
fabricação
montagem
animais

CICLO BIOLÓGICO CICLO TÉCNICO


produtos de consumo produtos de serviço
consumo uso

plantas

materiais
nutrientes do solo decompositores
reuso

Figura 7 - Os ciclos técnico e biológico da Economia Circular / Fonte: Abdalla e Sampaio


(2018, p. 91).

Descrição da Imagem: a figura mostra os ciclos biológico e técnico da EC. No ciclo biológico, os produtos
de consumo são decompostos e se tornam nutrientes para o solo, que alimentam plantas e animais, os
quais, por sua vez, dão origem a manufatura e a novos produtos de consumo. No ciclo técnico, os pro-
dutos de serviço são decompostos em materiais para reuso, dando origem a outros produtos em novos
processos de manufatura.

Aonde conseguiremos chegar com a implementação gradativa da filosofia da


EC? Só tempo dirá. Algumas propostas envolvem setores que requerem maior
uso de tecnologia, impactando no design dos produtos, a fim de proporcionar
o seu reaproveitamento de forma mais rápida, a sua adaptação ou atualização
tecnológica por meio da troca de módulos. Enfim, é um mundo novo e cheio de
possibilidades.

143
As responsabilidades de um gestor são amplas, variadas e complexas. As organi-
UNIDADE 4

zações têm uma capacidade enorme de impactar a vida das pessoas e, quando se
trata de impacto ambiental, os reflexos de uma ação danosa podem ser sentidos
por anos. Talvez, você se lembre de tragédias ambientais cujos efeitos nunca foram
totalmente revertidos.
Em consequência desse risco potencial e, na maioria das vezes, evitável, o
poder público, valendo-se de sua legitimidade enquanto representante da so-
ciedade, usa mecanismos de regulação, fiscalização e punição contra os agentes
econômicos (incluídas, nesse rol, as empresas e as pessoas físicas) que não se
adequarem às boas práticas ambientais.
Sem dúvida, falar de legislação não é simples. A própria legislação é complexa
e conhecê-la pode demandar tempo e esforço, além, é claro, de exigir um pare-
cer técnico de consultores da área. O fato é que temos uma legislação ambiental
mundial muito abrangente e, no Brasil, isso não é diferente. Muitos questionam
o motivo pelo qual nós temos uma legislação avançada, mas os problemas am-
bientais persistem. Essa pergunta não carrega uma resposta simples, mas podem
ser levantadas algumas hipóteses: falta de fiscalização, ausência de compromisso
ético de alguns empresários, falta de educação ambiental da sociedade como um
todo, modo de consumo não sustentável e assim por diante.
O enfoque que demos à legislação deve reforçar, em você, a atuação do ges-
tor, figura responsável pelas decisões organizacionais e que pode ser o grande
diferencial para que, de fato, trabalhemos sério quando nos referimos às questões
ambientais. Sem esforço empresarial, não há logística reversa, não há mudança
de hábitos e não há educação ambiental. O governo, por si só, não conseguirá
produzir as mudanças exigidas por legislação em comportamentos que estão
profundamente arraigados. O desafio está lançado. Você quer participar da so-
lução ou do problema?

144
na prática

1. Várias certificações estão disponíveis para as mais diversas atividades econômicas,


visando derrubar barreiras comerciais e proporcionar algum tipo de segurança ao
mercado consumidor quanto às boas práticas de fabricação, qualidade e respon-
sabilidade socioambiental. Dentre as mais conhecidas, estão as certificações pela
norma ISO, sob a condução da International Organization for Standardization.

Sobre as normas da ISO, analise as afirmativas a seguir:

I - As normas ISO 14000 são uma família de normas que buscam estabelecer fer-
ramentas e sistemas para a administração ambiental de uma organização.
II - Nem todas as normas ISO são certificáveis. Entretanto, exemplos de normas que
são certificáveis na área ambiental são as ISO14001 e a ISO14040.
III - As normas ISO são baseadas no ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), também conhe-
cido como ciclo de Deming, cujo objetivo é proporcionar melhorias constantes
nos processos.
IV - As normas da série ISO14000 são de aplicação obrigatória a qualquer empresa
que pretenda exportar os seus produtos, pois dão a garantia de que a organi-
zação tem boas práticas ambientais.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I.
b) II.
c) I e II.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

145
na prática

2. A legislação ambiental procura regular a relação da sociedade com o meio ambiente.


As empresas, enquanto as principais responsáveis pela exploração econômica da
natureza, têm um papel fundamental nessa preservação e as suas atividades preci-
sam atender às determinações legais.

Sobre a temática exposta no enunciado, assinale a alternativa correta:

a) Os consumidores se importam exclusivamente com os custos dos produtos co-


mercializados, independentemente do modo de produção.
b) Considerando que o ambiente é mutável, a empresa nada pode fazer para se
antecipar em relação às legislações que ainda estão em discussão.
c) Novas legislações podem impactar as operações das empresas, ao contabiliza-
rem novos custos de origem ecológica em seus processos.
d) A legislação brasileira é bastante leniente em relação ao meio ambiente, o que
dá grande liberdade para as empresas explorarem o meio ambiente.
e) A legislação brasileira é tímida quando se trata da regulação dos agentes econô-
micos em seus impactos ambientais.

3. Nossa Carta Magna já continha os princípios que orientariam o arcabouço legal para
o tratamento ambiental no Brasil. Algumas leis, inclusive, são anteriores à Constitui-
ção Federal (CF) e disciplinam setores específicos de exploração econômica.

Sobre a legislação ambiental, leia as afirmativas a seguir:

I - A legislação reserva o direito de denúncia de abusos ao meio ambiente às or-


ganizações não governamentais e à polícia ambiental.
II - A obrigação de proteger o meio ambiente, de acordo com a CF, é de responsa-
bilidade exclusiva da União.
III - Ao legislar sobre danos ao meio ambiente, um município está amparado pelo
artigo 24 da CF.
IV - O livre exercício da atividade econômica é garantido pela CF, desde que obser-
vado, dentre outros requisitos, a defesa do meio ambiente.

146
na prática

É correto o que se afirma apenas em:

a) I, III e IV.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) III e IV.
e) II, III e IV.

4. A legislação nacional e a internacional parecem convergir para alguns pontos em


comum e essas tendências precisam ser compreendidas pelas organizações, tendo
em vista que as suas atividades podem ser impactadas.

Sobre as tendências regulatórias, leia as afirmativas a seguir:

I - Existe uma tendência no mercado internacional de se estender a responsabili-


dade do fabricante para as fases finais do produto.
II - A tendência da legislação é a de regulamentar a reciclagem e o reaproveitamento
dos materiais com proibições de destinação indevidas.
III - Em alguns países europeus, cobra-se um imposto das empresas fabricantes de
embalagens domésticas, que é variável em função do peso, volume, material e
reciclagem.
IV - O princípio do poluidor-pagador é aplicado exclusivamente no Brasil, cujas di-
retrizes já foram estabelecidas na Constituição Federal de 1988.

É correto o que se afirma apenas em:

a) I, III e IV.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) III e IV.
e) II, III e IV.

147
na prática

5. Os processos produtivos consomem recursos naturais a tal ponto que se questio-


na, atualmente, se o planeta conseguirá suprir esses processos indefinidamente. A
conclusão que a maioria dos estudos chega é a de que o planeta tem capacidade
finita de exploração. Assim, são propostos novos conceitos de produção, de maneira
a reduzir ao máximo o uso dos recursos naturais nos processos produtivos.

Diante da premissa exposta no enunciado, analise as asserções a seguir e a relação


proposta entre elas:

I - O modelo de produção tradicional busca adotar os princípios dos 3Rs (reduzir,


reutilizar, reciclar), que são considerados suficientes para o abandono do uso
dos recursos naturais.

PORQUE

II - Os princípios dos 3Rs atendem à pretensão da produção tradicional, mas não


são o suficiente para a proposta da EC, que implica em mudança social e impacta
toda a cadeia produtiva.

A respeito das asserções, assinale a alternativa correta:

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II é uma justificativa correta


da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

148
aprimore-se

APLICANDO A TEORIA NA PRÁTICA

Você pode ter considerado os princípios da ISO muito interessantes e, talvez, até es-
teja pensando em implantar sistemas de gestão em sua empresa (seja um sistema
de garantia da qualidade da série ISO 9000, seja um sistema de gestão ambiental,
como os da série ISO 14000). Todavia, como funciona o pedido de certificação?
A adesão a uma certificação da série ISO é voluntária, ou seja, deve ser uma
decisão da empresa, após uma análise dos possíveis benefícios (inclusive, financei-
ros) que essa certificação poderá proporcionar. Saiba que há custos envolvidos e,
dependendo do porte da organização, eles podem ser bastante significativos. Por
isso, a decisão em relação a adotar, ou não, uma certificação deve ser estratégica,
visando um resultado maior em termos de retorno de investimento e ganhos de
mercado, além, é claro, de um intangível, mas valioso ganho em termos de imagem
corporativa.
Depois de tomada a decisão, é preciso buscar uma empresa especializada em
consultorias de certificação. Essa consultoria auxiliará a organização a adequar os
seus processos às normas, ao promover os treinamentos necessários e ao orientar
a delimitação do que a empresa, de fato, faz. Isso, porque as certificações respeitam
as estruturas e os processos da organização, desde que estes estejam alinhados aos
princípios da norma para a qual se buscará a certificação. Em outras palavras, as
normas especificam o que fazer, mas não a maneira como se deve fazer. Então, um
princípio básico, nesse assunto, é: escrever o que se faz e fazer o que está escrito.
Simples, não?
Caso a empresa que busca a certificação seja de pequeno porte, é possível dis-
pensar a contratação de uma consultoria (que envolve custos). Nesse caso, todas
as adequações ficarão ao encargo de seus gestores. Uma vez que a empresa tenha
adequado os seus processos ao que a norma certificadora preconiza, é preciso con-
tratar um organismo certificador (conhecido como “organismo de terceira parte”,

149
aprimore-se

por não ter qualquer vínculo com a organização a ser certificada). Esse organismo
deve ser acreditado por um órgão oficial que lhe dê poderes para emitir a certifi-
cação. No Brasil, o órgão acreditador dos organismos certificadores é o INMETRO
(mais especificamente, a sua Coordenação Geral de Acreditação – CGCRE), cujos po-
deres executivos foram estabelecidos por lei (Decreto nº 6.275/07).
Uma vez realizada a auditoria pelo organismo certificador e estando os processos
em conformidade com os princípios da norma, a organização passa a ser certificada
e pode exibir o seu selo de certificação perante o mercado. Um alerta importante:
se a intenção da empresa é somente comprovar as suas boas práticas no mercado
local, um organismo certificador nacional é o suficiente para a sua demanda, com
custos acessíveis até para as pequenas empresas. No entanto, se o objetivo for o
mercado internacional, uma recomendação é que a entidade certificadora tenha re-
presentação nos países em que se pretende exportar ou que seja reconhecida inter-
nacionalmente, para que não seja questionada a legitimidade da certificação obtida.
Fonte: o autor.

150
eu recomendo!

livro

Gerenciamento da logística reversa: um modelo conceitual


Autor:a Cecília Toledo Hernandéz
Editora: Edgard Blucher
Sinopse: com o surgimento do novo modelo de gerenciamento
empresarial baseado na competitividade, a logística empresarial
e a logística reversa, em especial, têm-se tornado um assunto de
prioridade nos negócios da empresa. Nesse sentido, a formula-
ção de modelos gerais que permitem entender as características da logística re-
versa e avaliar os resultados obtidos em suas práticas tem se tornado um aspecto
prioritário ao se conduzir pesquisas na temática. Foi a proposta desse trabalho
desenvolver um modelo conceitual com ampla base descritiva, a fim de propiciar
uma orientação sobre as ferramentas a serem utilizadas para a tomada de de-
cisão em logística reversa. O modelo foi concebido segundo os julgamentos de
valor, as experiências e os conhecimentos dos gerentes e especialistas entrevista-
dos. De maneira geral, foi demonstrado que o uso do modelo é factível e oferece
alternativas de como intervir nas atividades da logística reversa, com o objetivo
de alinhá-la aos objetivos estratégicos das empresas. O modelo complementa um
conjunto de indicadores que permitem a avaliação do desempenho dessa ativida-
de nas organizações.

filme

Lixo extraordinário
Ano: 2010
Sinopse: filmado ao longo de dois anos, “Lixo extraordinário”
acompanha o trabalho do artista plástico Vik Muniz em um dos
maiores aterros sanitários do mundo: o Jardim Gramacho, na
periferia do Rio de Janeiro. Lá, o artista fotografa um grupo de
catadores de materiais recicláveis, com o objetivo inicial de re-
tratá-los. No entanto, o trabalho com esses personagens revela
a dignidade e o desespero que enfrentam quando sugeridos a imaginar as suas
vidas fora daquele ambiente. A equipe tem acesso a todo o processo e, no final,
revela o poder transformador da arte e da alquimia do espírito humano.

151
5
A LOGÍSTICA
REVERSA NO BRASIL:
O CENÁRIO ATUAL
E AS PERSPECTIVAS
FUTURAS
PROFESSOR
Me. Paulo Pardo

PLANO DE ESTUDO
A seguir, apresentam-se as aulas que você estudará nesta unidade: • A logística reversa na construção
civil • A logística reversa dos pneus • A logística reversa das embalagens • A logística reversa do alumínio
• Aspectos sociais da logística reversa no Brasil

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Conhecer os processos de logística reversa nas áreas da construção civil, de pneus, de embalagens e
de alumínio. • Compreender os impactos sociais da logística reversa no Brasil.
INTRODUÇÃO

Prezado(a) aluno(a),
Nesta última unidade, direcionaremos o nosso foco a alguns segmentos
econômicos cujas atividades de logística reversa são fundamentais, seja
pelos aspectos econômicos, seja pelos imperativos ambientais.
O estudo em que é realizada a análise de setores específicos precisa ser
continuamente atualizado, pois a própria dinâmica desses setores faz com
que os números se alterem continuamente.
Um aspecto importante, contudo, destaca-se: a necessidade de serem
feitas ações conjuntas por parte da sociedade (destino dos produtos) e do
poder público, visando encontrar soluções que sejam economicamente
viáveis, ambientalmente corretas e socialmente justas, vertentes que cons-
tituem o pilar do chamado “desenvolvimento sustentável”.
No Brasil, nem tudo é ruim quando se trata de logística reversa. Em
alguns setores, somos campeões mundiais, assim como é em relação às
embalagens de agroquímicos e às latas de alumínio. Em outros, ainda temos
campos nos quais podem realizados grandes avanços.
Espero que esse estudo desperte em você uma visão crítica acerca dos
processos da logística reversa e das ações que estão em execução. Ele tam-
bém pode ser um estimulador para a execução de novos empreendimentos
que tragam soluções inovadoras e proporcionem ganhos a todos. Bons
estudos!
1
A LOGÍSTICA REVERSA
UNIDADE 5

NA CONSTRUÇÃO
CIVIL

A construção civil é um setor que recebe atenção especial por parte do governo e
da própria sociedade. De fato, esse segmento econômico tem uma cadeia muito
extensa e é o responsável pelo giro econômico de bilhões de reais todos os anos,
não só com a comercialização de materiais de construção, mas por meio da pró-
pria absorção de mão de obra, ao oferecer oportunidades até para quem não tem
grande qualificação.
O planejamento urbano da maioria das cidades prevê novos loteamentos,
que, por consequência, incentivarão mais construções residenciais e comerciais
e, em locais específicos, a edificação de barracões industriais. A verticalização das
cidades também é um fato: até mesmo os pequenos municípios já têm os seus
“arranha-céus”.
Essa pujança esconde um fato preocupante: a construção civil é um dos seg-
mentos que mais produz resíduos em toda a cadeia produtiva. Em seu portal, o
Ministério do Meio Ambiente publicou a seguinte informação:


O Conselho Internacional da Construção – CIB aponta a indús-
tria da construção como o setor de atividades humanas que mais
consome recursos naturais e utiliza energia de forma intensiva, ge-
rando consideráveis impactos ambientais. Além dos impactos rela-
cionados ao consumo de matéria e energia, há aqueles associados
154
à geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos. Estima-se que

UNICESUMAR
mais de 50% dos resíduos sólidos gerados pelo conjunto das
atividades humanas sejam provenientes da construção. Tais
aspectos ambientais, somados à qualidade de vida que o ambiente
construído proporciona, sintetizam as relações entre construção e
meio ambiente (MMA, [2021], on-line, grifos nossos)¹.

Outro dado interessante é proveniente de uma estimativa que sustenta que, do


total de recursos naturais consumidos pela sociedade, o setor da construção civil
é o responsável por 14% a 50%. De acordo com Santos e Marchesini (2018, p. 70),
“no Brasil, a quantidade estimada de geração de RCD por ano é de 100 milhões
de toneladas, sendo que apenas 20% são reciclados”
Uma estatística defendida pelo setor e pelos órgãos oficiais do governo evi-
denciam que 75% de toda a população do Brasil é urbana e, destes, 35% se con-
centram nas cinco maiores regiões metropolitanas. Essas constatações nos levam
a reflexões importantes: se, por um lado, precisamos de moradias em um número
cada vez maior, por outro, a cada vez que construímos, tornamos a vida na ter-
ra mais insustentável. Talvez, você esteja questionando o motivo pelo qual há
tanto impacto por parte da construção civil e qual é a relação estabelecida entre
esse fato com a logística reversa. Nesta unidade, estudaremos mais a fundo essas
questões.
Primeiramente, explicaremos o motivo pelo qual a construção civil produz
um impacto ambiental tão acentuado. Em uma construção típica, há a presença
de materiais que empregam, em essência, matérias-primas retiradas do meio
ambiente. Um exemplo é a argila, que é usada em grande quantidade para a pro-
dução de tijolos a partir de um processo de queima. Esse tijolo pode ter a forma
de paralelepípedo ou ser furado, com quatro, seis ou oito furos.
Outro exemplo é o cimento, que, basicamente, diz respeito a uma mistura de
argila e calcário aquecida a uma temperatura de 1450º. Depois, acresce-se gipsita
(matéria-prima proveniente do gesso) e os elementos são moídos. Para uso, água
também é adicionada, a fim de formar uma pasta, a qual costuma quebrar com
facilidade. Em detrimento disso, areia é acrescentada, a qual evita essa ruptura
na maioria dos casos. Desse processo, resulta a argamassa. Quando o volume
é grande, pedra brita também é utilizada na mistura, o que forma o concreto
(MUNDO ESTRANHO, 2018).
No século XVIII, o ferro também passou a ser utilizado com intensidade na
construção civil, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. No fim do sécu-
155
lo XIX e início século XX, esse uso se acentuou ainda mais e grandes estruturas
UNIDADE 5

foram construídas à base desse material. Com a adição do carvão e do cal, temos
o aço, que forma os vergalhões (uma barra de ferro com nervuras), os quais são
amplamente utilizados para formar as estruturas de concreto.

Figura 1 - Vergalhão de aço

Descrição da Imagem: na figura, há uma fotografia colorida de um depósito de barras de aço, com
nervuras, conhecidas como vergalhões.

A areia é um importante componente da construção civil e é composta por grâ-


nulos de quartzo. O impacto ambiental da extração da areia é intenso e as áreas
para a retirada estão, muitas vezes, distantes dos centros consumidores, o que faz
com que a maior parte do custo desse produto seja voltado ao transporte (alguns
calculam que 2/3 do custo seja em decorrência desse custo logístico). No Brasil,
segundo dados do setor, a área com maior extração de areia natural é a Sudeste,
assim como indica a Figura 2.

156
UNICESUMAR
Figura 2 - Produção de areia estimada para a construção civil no Brasil / Fonte: Lira (2016,
on-line).

Descrição da Imagem: a figura mostra um mapa do Brasil. Ele é dividido por regiões e indica o maior
percentual de extração de areia natural na região Sudeste, que é seguida pelas regiões Sul, Nordeste,
Centro-Oeste e Norte.

Especialistas afirmam que é praticamente impossível haver a extração de areia


natural sem proporcionar impacto ambiental. Em consequência disso e devido
aos custos de extração e de frete, a indústria de construção civil tem se movimen-
tado para substituir a área natural por outra industrializada, a chamada “areia de
brita”, resultado de um processo de aproveitamento de sobras da brita de pedras
para o próprio setor.
A “areia de brita” carrega algumas vantagens, tais como granulometria uni-
forme (os grãos são do mesmo tamanho, um resultado do processo industrial),
ausência de elementos contaminantes e homogeneidade, além de não exigir pe-
neiramento, o que promove ganhos de mão de obra e reduz o frete. No momento
em que este material didático foi produzido, a viabilidade econômica da produção
da “areia de brita” ainda não estava totalmente consolidada, mas especialistas
apontam o uso desse material como um caminho sem retorno.
Há outros materiais que também são utilizados, como o plástico (em tubos
e em conexões), os metais (em fios e em cabos) e as misturas químicas, o que in-
157
clui tintas e solventes. Diante dessa rápida análise, é fácil concluir que a retirada
UNIDADE 5

desses materiais do meio ambiente muda paisagens e produz resíduos de queima


em processos que não são renováveis. Outro âmbito da construção civil que traz
grandes problemas ambientais é a produção de resíduos em forma de entulhos.
Mas, afinal, o que são entulhos?
De acordo com Razzolini Filho e Berté (2013, p. 129):


O entulho é o conjunto de fragmentos ou restos da construção civil,
provenientes de reformas ou da demolição de estruturas (prédios,
residências). Na formação do entulho entram os restos de grande
variedade de materiais de construção, possivelmente todos aqueles
utilizados pela indústria da construção civil. Entre eles: tintas, tijo-
los, pedras, pedra brita, plásticos, papéis, metais, madeiras, materiais
cerâmicos, argamassas e areia.

A produção do entulho exposto chama à atenção, não é mesmo? Entretanto,


uma conclusão é óbvia: se os materiais fossem racionalmente utilizados na fase
da construção, uma parte importante dos entulhos não seria produzida. Resta-
riam apenas os entulhos das demolições e das reformas. Será que desperdiçamos
muitos materiais durante a fase da construção? Os dados sobre a temática não
são precisos. Trabalhos mais antigos defendem que o Brasil, a cada três prédios
construídos, já produziu um número de materiais desperdiçados equivalente a
um edifício inteiro. Além disso:


Segundo levantamento do Sindicato da Construção Civil do Paraná
(SINDUSCON-PR), o setor da Construção Civil é responsável pela
geração de uma média de 200 quilos de resíduos para cada m² de
área construída, destes, 25% são produzidos pela construção formal,
outros 25% pela informal e 50% oriundos pelas reformas (SILVA;
PIMENTEL, 2019, p. 22).

Atualmente, esse cenário não é aceito, tampouco reconhecido pelo segmento, princi-
palmente no que diz respeito às construções conduzidas pelas grandes construtoras
do Brasil. Além do mais, os programas de moradias populares do Governo Federal,
os quais exigem o cumprimento de orçamentos rígidos, pressionaram as empresas a
ganharem em relação à produtividade e a reduzirem perdas de materiais.
158
A partir dos anos 90, uma filosofia bastante consolidada na indústria de au-

UNICESUMAR
tomóveis e em demais segmentos foi aplicada na construção civil: os modelos
japoneses de gestão, cujos princípios são o TQM (Gerenciamento pela Qualidade
Total) e o Just in Time, que formavam a base da Lean Production ou “Produção
Enxuta”, em português. Na construção civil, o termo cunhado para essa prática é
Lean Construction ou, em português, “Construção Enxuta”, que busca reduzir e,
preferencialmente, eliminar desperdícios.
Apesar de todos esses avanços (principalmente na construção civil de grande
porte), o desperdício e a produção de entulhos ainda permanecem. Para comprovar
essa afirmativa, Razzolini Filho e Berté (2013, p. 135) expõem os seguintes dados:

Figura 3 - Estimativa da quantidade de entulhos gerados pela construção civil / Fonte: Razzolini
Filho e Berté (2013, p. 135).

Descrição da Imagem: A imagem corresponde ao mapa geopolítico do Brasil, divididos em seus res-
pectivos estados. Os estados do São Paulo, Minas Gerais, Distrito Federal e Paraná estão destacados por
cores atrativas. Os demais estados estão com coloração cinza. Próximo aos estados em destaque, um
ícone de localização aponta a capital do estado com a estimativa da quantidade de entulhos produzidos
pela construção civil, sendo: São Paulo (372000 toneladas/mês), Belo Horizonte (102000 toneladas/mês),
Brasília (85000 toneladas/mês) e Curitiba (74000 toneladas/mês).

159
Em razão disso, um grande esforço, que foi proveniente tanto do próprio setor quanto
UNIDADE 5

dos órgãos ambientais do poder público, foi empreendido para formular uma política de
gestão dos resíduos da construção civil. Algumas políticas promovidas por vários estados
da federação são muito abrangentes e instituem indicadores de acompanhamento de
gestão de resíduos, assim como é o caso do estado de São Paulo, que adotou o Índice de
Gestão de Resíduos Sólidos (IGR).
Em nível normativo, a Resolução Conama nº 307, de 05 de julho de 2002,
é considerada um marco legal na gestão de resíduos da construção civil. Já no
preâmbulo dessa resolução, entendemos o que moveu a sua formulação, ao ex-
por a necessidade de implementação de diretrizes para a redução dos impactos
ambientais gerados pelos resíduos da construção civil e ao discorrer sobre a dis-
posição incorreta desses materiais, com a consequente degradação ambiental. A
resolução, em seu preâmbulo, também procura orientar os potenciais benefícios
do manejo correto desses materiais.
A constatação da importância do tema levou a formulação de diretrizes es-
pecíficas para o setor, conforme podemos deduzir logo no início do texto da
Resolução. Um importante Artigo incluído nesta Resolução é o que especifica os
tipos de resíduos da construção civil, agrupando-os por classes:
No Art. 3º da Resolução Conama nº 307/02, é afirmado que:


I - Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agre-
gados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação


e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de
terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações:


componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revesti-
mento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas


em concreto (blocos, tubos, meio-fios etc.) produzidas nos canteiros
de obras;

II - Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais


como plásticos, papel, papelão, metais, vidros, madeiras, embalagens
vazias de tintas imobiliárias e gesso; (Redação dada pela Resolução
nº 469/2015).
160
III - Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvi-

UNICESUMAR
das tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permi-
tam a sua reciclagem ou recuperação; (Redação dada pela Resolução
n° 431/11).

IV - Classe D - são resíduos perigosos oriundos do processo de


construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles
contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, re-
formas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e
outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que conte-
nham amianto ou outros produtos nocivos à saúde. (Redação dada
pela Resolução n° 348/04).

§ 1º No âmbito dessa resolução consideram-se embalagens vazias de


tintas imobiliárias, aquelas cujo recipiente apresenta apenas filme
seco de tinta em seu revestimento interno, sem acúmulo de resíduo
de tinta líquida. (Redação dada pela Resolução nº 469/2015)

§ 2º As embalagens de tintas usadas na construção civil serão


submetidas a sistema de logística reversa, conforme requisitos da
Lei nº 12.305/2010, que contemple a destinação ambientalmente
adequados dos resíduos de tintas presentes nas embalagens. (Re-
dação dada pela Resolução nº 469/2015) (BRASIL, 2002, on-line).

A classificação apresentada permite uma ação gerencial mais efetiva, a qual es-
tabelece o vínculo definitivo da logística reversa com a busca por soluções ino-
vadoras para toda a cadeia da construção civil. Para complementar essa ideia, a
Resolução Conama nº 307/02 delimita as destinações dos resíduos de acordo com
a classificação dos materiais exposta no Art. 3º. Essa destinação se encontra no
Art. 10º. Recomendo fortemente que você o leia, a fim de conhecer a destinação
elencada na referida legislação.
Perceba, a partir das ações elencadas na Resolução Conama nº 307/02, que a
logística reversa está fortemente ligada às soluções expostas em atividades vol-
tadas aos Resíduos da Construção Civil (RCC), tais como a triagem, o armaze-
namento, o transporte, a reciclagem, dentre outras. A inovação e a tecnologia
auxiliam nas soluções apresentadas.
Na Figura 4, é exposta uma demonstração do papel da logística reversa no
segmento da construção civil.

161
UNIDADE 5

AMBIENTAL
Objetivos:
• Mitigar o impacto ambiental dos resíduos de fabricação
• Economizar recursos naturais
Benefícios:
• Redução do volume de disposições tanto
seguras quanto ilegais
• Atendimento/antecipação às exigências
de regulamentações legais/legislações
• Economia de energia na fabricação de novos produtos
• Melhoria de imagem corporativa |
Consciência ecológica |

ECONÔMICA
Objetivos:
• Formalizar negócios existentes, arrecadando
mais impostos SOCIAL
• Aumentar o volume de negócios • Gerar novos postos de trabalho
• Reduzir custos por meio da substituição de Benefícios:
matérias-primas primárias por secundárias
•Melhoria do desempenho de negócios já existentes
• Economizar energia e custos de disposiçã de resíduos
Benefícios: • Diminuição dos riscos de saúde e higiene advindos
• Facilidade no escoamento de produtos "encalhados" de aterros
no canal de distribuição direto • Custos menores de produtos com conteúdo reciclado
• Obtenção de recursos financeiros por meio da
• Melhoria da imagem corporativa
comercialização de resíduos industriais
• Incentivo a criação de novos negócios | Responsabilidade Social |
na cadeia produtiva
- Redução de investimento
em fábricas

Figura 4 - Papel da logística reversa na construção civil sob o aspecto da sustentabilidade


/ Fonte: Marcondes e Cardoso (2005, p. 7).

Descrição da Imagem: a figura apresenta uma ilustração que destaca o papel da logística reversa na
construção civil sob o aspecto da sustentabilidade, levando em consideração as perspectivas ambiental,
econômica e social. Assim, há três círculos coloridos interligados. No círculo voltado ao aspecto ambien-
tal, temos, por objetivo, “mitigar o impacto ambiental dos resíduos de fabricação” e “economizar recur-
sos naturais”. Como benefícios, temos “redução do volume de disposições tanto seguras quanto ilegais,
“atendimento/antecipação às exigências de regulamentações legais/legislações”, “economia de energia
na fabricação de novos produtos” e “melhoria de imagem corporativa – consciência ecológica”. No círculo
relacionado ao aspecto econômico, temos, por objetivo, “formalizar negócios existentes, arrecadando mais
impostos”, “aumentar o volume de negócios”, “reduzir custos por meio da substituição de matérias-primas
primárias por secundárias” e “economizar energia e custos de disposição de resíduos”. Como benefícios,
temos “facilidade no escoamento de produtos ‘encalhados’ no canal de distribuição direto”, “obtenção
de recursos financeiros por meio da comercialização dos resíduos industriais”, “incentivo a criação de
novos negócios na cadeia produtiva” e “redução de investimento em fábricas”. No último círculo, que
diz respeito ao aspecto social, temos, por objetivo, “gerar novos postos de trabalho”, enquanto, como
benefícios, temos “melhoria do desempenho de negócios já existentes”, “diminuição dos riscos de saúde e
higiene advindos de aterros”, “custos menores de produtos com conteúdo reciclado, “melhoria da imagem
corporativa – responsabilidade social”.

As soluções geralmente estão ligadas ao reaproveitamento dos materiais e a re-


ciclagem é uma parte importante desse processo. Os objetivos da reciclagem são
relevantes econômica e ecologicamente. Pinto (1994 apud RAZZOLINI FILHO;
BERTÉ, 2013, p. 137) elenca as metas em questão:

162

Melhorar o meio ambiente por meio da redução do número de áreas

UNICESUMAR
de depósitos clandestinos, o que resultará em uma diminuição dos
gastos da administração pública com gerenciamento de entulho;

Aumento de vida útil de aterros por uma disposição dos resíduos,


que podem ser utilizados futuramente;

Aumento da vida útil das jazidas de matéria-prima, na medida em


que são trocadas por materiais reciclados;

Materiais de construção reciclados de baixo custo e excelente de-


sempenho sendo produzidos.

Se você pesquisar em sites especializados, conhecerá algumas propostas muito


interessantes, como as casas ecológicas, as ecovilas e os edifícios verdes. Há uma
tendência de várias construtoras, principalmente em empreendimentos maiores,
de buscarem a certificação ambiental ofertada por um sistema de origem norte-
-americana: o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design). A ideia
dessa certificação é reconhecer boas práticas, o que abrange a fase do projeto, o
uso de luz natural, a ventilação, o emprego de materiais reciclados e não impac-
tantes, e a utilização racional de energia, água e materiais.

conceituando

Poderíamos definir de Casa Ecológica uma casa ecologicamente saudável, economica-


mente viável e que responde às necessidades básicas de seus habitantes, integrando tec-
nologias modernas a velhos conhecimentos, com o máximo possível de conexão com o
ambiente e menor impacto possível.
Fonte: Razzolini Filho e Berté (2013, p. 138-139).

A casa ecológica deve ter alguns detalhes básicos, tais como:


■ Dispor as janelas de forma que se aproveite a luz ambiente.
■ Reduzir e gerenciar os resíduos gerados.
■ Aproveitar a água das chuvas e reutilizar a água da pia por meio do uso de filtros.

163
Qual é o diferencial das casas ecológicas? Por que “casas ecológicas”? Segundo
UNIDADE 5

Razzolini Filho e Berté (2013), nas ecovilas, temos:


a) Edificações (casas) autônomas de baixo consumo energético: são casas solares
voltadas para o norte, com paredes e vidros duplos, dutos de ventilação e de
convecção do ar da lareira para haver um maior conforto térmico. Também há
um sistema de energia solar somado ao aquecimento a gás e serpentinas ligadas
à lareira para o aquecimento de água.
b) Infraestrutura ecológica: poço artesiano, reuso das águas e das cinzas. Baixo
índice de ocupação mediante a maximização de jardins, a preservação de áreas
verdes e a minimização de ruas.
c) Paisagismo produtivo: implantação de hortas, mandalas e espirais de ervas e
temperos, as quais, além da ornamentação, produzem alimentos saudáveis para
o consumo das famílias, compensando o custo das equipes de manutenção e
segurança, o que chamamos de “jardineiros produtivos protetores”.

Talvez, você tenha observado outras iniciativas, como a utilização de embala-


gens do tipo Tetra Pak para efetuar o isolamento térmico e as casas construídas
à base de garrafas PET ou mediante o uso de tijolos ecológicos. Provavelmente,
um dos maiores impeditivos para a popularização desses tipos de construções
seja o preconceito em relação aos materiais alternativos e a própria questão eco-
nômica, pois muitos temem não conseguir vender os imóveis fabricados com
esses materiais.
Novas tecnologias construtivas, contudo, estão sendo desenvolvidas, mesmo
para prédios de alto padrão, como a das lajes protendidas, que reduzem a utiliza-
ção de pilares e a mão de obra. Também estão sendo criados novos equipamentos
de tecnologia, como os projetores de argamassa, que substituem o método tradi-
cional de reboco (com as famosas “colheres” de pedreiro) e reduzem o desperdício
no canteiro de obras. A própria escassez de mão de obra faz as construtoras bus-
carem as soluções para o aumento da produtividade e a redução de desperdícios.
Acompanhemos o desenvolvimento dessas iniciativas.

164
UNICESUMAR
conecte-se

Várias pesquisas e iniciativas acontecem tanto no meio empresarial quanto


na academia, visando ao reaproveitamento dos materiais de construção. Co-
nheça uma dessas iniciativas no QR-code.
Trata-se de um tipo de tijolo ecológico que se propõe a reduzir os custos de
produção a partir do uso dos entulhos da construção civil.

2
A LOGÍSTICA
REVERSA
DOS PNEUS

O mundo se move sobre rodas e as rodas se movem sobre pneus. Você pode achar
essa afirmação exagerada, mas não é. De fato, no mundo, uma parte importante
do transporte de pessoas é feita sobre rodas e os automóveis e os ônibus são os
meios largamente utilizados.
A história dos pneus com a humanidade é relativamente nova, visto que tem
cerca de dois séculos. Foi Charles Goodyear, um americano, que, no século XIX,
aprimorou a borracha de tal forma que ela pudesse ser utilizada para a constru-
ção de um objeto o qual revolucionou o transporte: o pneu, uma abreviatura de
“pneumático”, embora ninguém use essa palavra no dia a dia.
165
Se o pneu foi e é tão importante para a humanidade, principalmente no trans-
UNIDADE 5

porte de pessoas e cargas, por que foi alçado à condição de vilão do meio ambien-
te? A culpa, é claro, cabe mais uma vez ao próprio homem. À medida que o pneu
se torna inservível, ou seja, deixa de ser útil para rodar em veículos, tem início a
saga de prejuízo à natureza. Alguns números são surpreendentes. Por exemplo,
Christófani et al. (2017) destacam que, no Brasil, estima-se que 100 milhões de
pneus velhos estão espalhados em aterros, terrenos baldios, rios e lagos.
Quais são os malefícios dessa prática? Veja algumas:
■ os pneus por apresentarem baixa compressibilidade, associado a sua degradação
muito lenta, ao serem aterrados inteiros, podem provocar o escorregamento das
células de lixo, bem como reduzir a vida útil dos aterros sanitários;
■ devido a sua forma, se for aterrado inteiro, poderá reter ar e outros gases no seu
interior, tornando-se volumoso, e podendo vir a flutuar para superfície, quebran-
do a cobertura do aterro. Quando isso ocorre, ocasiona a exposição do aterro a
micro e macro vetores, a fauna, além de possibilitar que os gases escapem para
a atmosfera, bem como haja o vazamento de líquidos;
■ os pneus ficam sujeitos à queima acidental ou provocada, ocasionando prejuízos
na qualidade do ar, face à liberação de fumaça contendo alto teor de substâncias
tóxicas;
■ do ponto de vista da saúde pública, o descarte de pneus em terrenos baldios são
igualmente danosos, pois devido o seu formato, tende a reter a água de chuva
criando um ambiente propício a proliferação de vetores, como por exemplo, o
mosquito “Aedes aegypti” que é transmissor da dengue (CHRISTÓFANI et al.,
2017, p. 4-5).

Nessa mesma linha de pensamento, Razzolini Filho e Berté (2013, p. 155) desta-
cam as dificuldades para o reuso dos pneus:


Os resíduos dos pneus ocupam grandes espaços para armazena-
mento temporário, o que dificulta o seu manuseio, além disso, é
grande a quantidade gerada;

Existem os problemas sanitários e de saúde pública, pois, quando


não armazenados adequadamente, os pneus se tornam dissipadores
de patologias e, principalmente,“berços de reprodução” para agentes
epidemiológicos, como é o caso do mosquito da dengue, o aedes
aegypti.
166
É perceptível que os problemas voltados aos pneus ainda incluem a possibilidade

UNICESUMAR
de contaminação da água quando são queimados de forma imprópria, pois eles
liberam um material oleoso que, em contato com a água, torna-a inapropriada
para uso.
O poder público também se preocupou com a destinação correta dos pneus
inservíveis e elaborou uma normativa específica para esse material. A proposta
concreta foi dada por meio da Resolução Conama nº 258, de 26 de agosto de
1999. Em seu preâmbulo, ela expõe os seus objetivos, ao reconhecer que os pneus
abandonados ou dispostos inadequadamente se tornam uma fonte de poluição e
podem ser criadouros de insetos transmissores de doenças. Entretanto, ao mesmo
tempo, o pneu pode ser objeto de reciclagem.
A Resolução Conama nº 258/99 previa ações conjuntas por parte da ini-
ciativa privada (em especial) e do poder público (em particular), a fim de dar
a destinação correta aos pneus inservíveis. No entanto, algumas ações também
eram previstas antes de os pneus se tornarem inservíveis. Na referida resolu-
ção, previa-se, desde o início, a responsabilização por parte dos fabricantes e
dos importadores em relação à destinação correta dos pneus inservíveis. Nessa
normativa, publicada em 1999 e alterada pela Resolução n° 301/02, as empresas
envolvidas na fabricação/importação receberam, em anos específicos, uma maior
carga de responsabilidade.
O Art. 1º da Resolução n° 301/02 determinava que os fabricantes e os im-
portadores deveriam prover a destinação adequada aos pneus inservíveis em
proporções dadas pela própria normativa. A determinação da resolução era a de
que as empresas recolhessem os pneus inservíveis e propiciassem a destinação
correta em proporções pré-determinadas no que diz respeito aos pneus fabri-
cados/importados ou montados em veículos importados. A referida resolução
ainda estabelecia marcos no tempo para que os fabricantes e os importadores
incorporassem o tratamento adequado de inservíveis até chegar a um número
próximo de um pneu novo/importado para cada pneu recolhido, com as devidas
compensações por desgaste do pneu inservível.

167
Em 2009, a Resolução nº 258/99 foi revogada pela Resolução nº 416, de 30
UNIDADE 5

de setembro de 2009. Essa alteração foi lógica, visto que o horizonte de tempo
previsto na Resolução nº 258/99 já havia sido transcorrido. Assim, a partir da
Resolução nº 416/09, é determinado que:


Art. 3° A partir da entrada em vigor desta resolução, para cada pneu
novo comercializado para o mercado de reposição, as empresas fa-
bricantes ou importadoras deverão dar destinação adequada a um
pneu inservível.

§ 1º Para efeito de controle e fiscalização, a quantidade de


que trata o caput deverá ser convertida em peso de pneus
inservíveis a serem destinados.
§ 2º Para que seja calculado o peso a ser destinado, aplicar-se-á
o fator de desgaste de 30% (trinta por cento) sobre o peso do
pneu novo produzido ou importado.
Art. 4º Os fabricantes, importadores, reformadores e os destinadores de
pneus inservíveis deverão se inscrever no Cadastro Técnico Federal - CTF,
junto ao IBAMA.

Art. 5º Os fabricantes e importadores de pneus novos deverão de-


clarar ao IBAMA, numa periodicidade máxima de 01 (um) ano, por
meio do CTF, a destinação adequada dos pneus inservíveis estabe-
lecida no Art. 3º desta Resolução (BRASIL, 2009, p. 65).

Os direcionamentos delineados pela Resolução nº 416/09 podem ser visualizados


na Figura 5.

168
Consumo

UNICESUMAR
Recapagem

Pneus em
condições Reforma

Remoldagem
Pós-consumo

Co-processamento

Pneus Laminação
inservíveis
Asfalto

Artefatos

Figura 5 - Possíveis destinações dos pneus no Brasil / Fonte: Gonçalves et al. (2019, p. 118).

Descrição da Imagem: a figura é um fluxograma que retrata as possíveis destinações do pneu no Brasil.
Inicia-se pelo consumo, passa pelo pós-consumo e, depois, o produto pode ter várias destinações depen-
dendo de sua condição de uso. Se o pneu estiver em condições, ele pode passar pela recapagem, por uma
reforma ou pela remoldagem, retornando ao mercado consumidor. Agora, se estiver inservível, ele poderá
passar pelo coprocessamento, pela laminação ou ser utilizado na pavimentação de asfalto ou em artefatos.

Além do que a Figura 5 demonstra, a Resolução Conama nº 416/09 determina


a obrigatoriedade da instalação de um ponto de coleta de pneus por parte de
fabricantes e de importadores em municípios com mais de 100 mil habitantes. A
referida lei está em vigor, porém, diante das montanhas de pneus presentes em
locais inadequados, ainda há um grande trabalho a ser feito, sobretudo com o
legado de pneus depositados em locais inadequados em um período anterior à
legislação regulamentadora.
Gardin, Figueiró e Nascimento (2010, p. 233) asseveram que:


De acordo com a ANIP (Associação Nacional da Indústria de Pneu-
máticos), entidade que representa os fabricantes de pneus novos
no Brasil, pneus inservíveis são aqueles que não podem mais rodar
em veículos automotivos, mesma terminologia utilizada para este
estudo. A ausência de dados sobre o destino de pneus inservíveis no
Brasil não permite determinar com exatidão o passivo ambiental ge-
rado. No entanto, uma estimativa baseada na frota de veículos indica

169
que são geradas mais de 44 milhões de carcaças de pneus anualmen-
UNIDADE 5

te e que existem mais de 100 milhões de pneus abandonados em


todo o país. Já nos EUA, considerado o país que mais produz pneus
inservíveis, estima-se que sejam dispostos 273 milhões de pneus
por ano, o que representa mais de um pneu por habitante ao ano.

Alguns números da logística reversa dos pneus, no entanto, são animadores. De


acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos
Especiais (ABRELPE), entre 1999 e 2017:


[...] cerca de 4,5 milhões de toneladas de pneus inservíveis foram
coletadas e corretamente destinadas, um volume equivalente a 916
milhões de pneus de carro de passeio. Os pontos de coleta de pneus
inservíveis nos municípios brasileiros eram 85 em 2004, e atingiram
1.718 estabelecimentos em 2017 (INSTITUTO ESTRE, [2021], p.
11).

Algumas propostas para os pneus inservíveis são destacadas pela Fundação de


Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, 2008, on-line)²:


Combustível para fornos de cimenteiras, cal, papel e celulose - O
pneu é um grande gerador de energia, seu poder calorífico é de 12
mil a 16 mil btus por quilo, superior ao do carvão.

Pisos industriais, solados, tapetes de automóveis e borracha de ve-


dação – Depois do processo de desvulcanização e adição de óleos
aromáticos resulta uma pasta, a qual pode ser usada para produzir
estes produtos entre outros.

Recauchutagem ou fabricação de novos pneus – O pó de pneu é


reutilizado como parte da formulação de bandas de rodagem.

Compostagem – O pneu não pode ser transformado em adubo, mas


sua borracha cortada em pedaços de 5 cm pode servir para adição
de compostos orgânicos.

170
Pavimentação de estradas – Pó gerado pela recauchutagem e os res-

UNICESUMAR
tos de pneus moídos podem ser misturados ao asfalto aumentando
sua elasticidade e durabilidade.

Contenção de erosão do solo – Pneus inteiros associados a plantas


de raízes grandes podem ser utilizados para ajudar na contenção
da erosão do solo.

Equipamentos para playground – Balanços e protetores de brinque-


dos para amenizar as quedas e evitar acidentes.

Reprodução de animais marinhos – No Brasil é utilizado como es-


truturas de recifes artificiais no mar para criar ambiente adequado
para reprodução de animais marinhos.

Na reciclagem dos pneus, por meio de processos físicos e químicos, é feita a sepa-
ração dos seguintes componentes: borracha, nylon e aço. A utilização da borracha
granulada tem proporcionado bons resultados em misturas asfálticas. Perceba
que um produto que, na natureza, provoca tantos danos pode ser utilizado como
insumo em outro ciclo produtivo, como o da construção civil. Esse é um dos mais
relevantes princípios da logística reversa.
Enquanto outra alternativa aos pneus, está o seu reuso por intermédio de
técnicas de reforma ou de renovação. Razzolini Filho e Berté (2013, p. 159) des-
crevem duas possibilidades para esse tipo de aproveitamento:


1) Remoldagem: conhecida também como pneu-remold, que é a
substituição da banda de rodagem e de toda a superfície do pneu.

2) Recauchutagem: o processo ocorre por meio de substituição


apenas da banda. Nesse caso, o pneu pode ser reaproveitado, desde
que não apresente falhas como cortes, furos, deformações, sulcos
etc. A recauchutagem não pode ser feita por mais de duas vezes.

No Brasil, o mercado de pneus remold e recauchutados é bastante expressivo.

171
UNIDADE 5

conecte-se

A economia proporcionada pelo uso de pneus reformados, especialmente


no transporte de cargas no Brasil, cuja matriz de transporte é primariamen-
te baseada no modal rodoviário, é significativa. Veja mais sobre o assunto
acessando o QR-code.

3
A LOGÍSTICA
REVERSA DAS
EMBALAGENS

A maior parte do que consumimos chega até as nossas mãos em embalagens. O


cumprimento de duas funções logísticas, que é a de levar o produto certo e nas
condições corretas ao consumidor, também é proporcionado pelas embalagens.
O Brasil carrega um aspecto positivo no que se refere à indústria de em-
balagens: 18 das 20 maiores indústrias mundiais do segmento de embalagens
atuam no país (MESTRINER, 2018). A pujança desta indústria é revelada por
números expressivos:
Em 2013, a receita líquida dos fabricantes de embalagens foi de R$ 51,08
bilhões, maior que os R$ 46,7 bilhões obtidos em 2012. A perspectiva de cres-
cimento é de 1,5% em 2014 (ABRE, 2014, on-line)³. Xavier (2014, p. 74) explica
que esse cenário rentável é possível, uma vez que:
172

Os cinco maiores consumidores de embalagens do mundo – Esta-

UNICESUMAR
dos Unidos, China, Japão, Alemanha e França – gastaram US$ 361
bilhões em acondicionamento dos produtos em 2011. Para 2016,
as projeções indicam um valor de US$ 439,6 bilhões. No Brasil,
esses gastos atingiram US$ 25 bilhões em 2011 no composto geral
de embalagens, com uma projeção de US$ 30,8 bilhões para 2016,
segundo a pesquisa Datamark/Brasil, Food Trends 2020, promovida
pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL).

Na Figura 6, é visível a composição das matérias-primas presentes na indústria


de embalagens brasileira.
Têxteis para Embalagens
R$ 2,30 Madeira
Metálicas R$ 0,93 Papel
R$ 3,87
R$ 15,21 3% 1%
5%
Cartolina / Papel Cartão
19% R$ 7,41
9%
Vidro
R$ 4,48 Papelão Ondulado
6% R$ 13,30
16%

41%

Material Plástico
R$ 32,69

Figura 6 - Segmentação por tipo de matéria-prima em embalagens / Fonte: ABRE (2019,


on-line)4.

Descrição da Imagem: a figura mostra um gráfico em formato de pizza que indica o percentual de em-
balagem por tipo de material. O material feito de plástico representa o maior percentual (41%), seguido
pelo papel, pela cartolina/papel cartão e pelo papelão ondulado, com 30%. Depois, há o metal, com 19%,
o vidro, com 6%, os têxteis para embalagens, com 3%, e a madeira, com 1%.

Ainda em relação ao setor de embalagens, é escancarada uma realidade incô-


moda: ao mesmo tempo em que as embalagens são absolutamente necessárias
aos processos logísticos e à disponibilização dos produtos aos consumidores,
elas provocam um problema ambiental muito sério. Leia o comentário de
Mestriner (2014, p. 68):
173

Um fabricante de cereal matinal produz 45 milhões de caixas por
UNIDADE 5

mês, ou um milhão e meio de embalagens por dia, uma única marca


de sabonete consome mais de 200 toneladas por mês de papel cartão
para suas caixinhas e um fabricante de doces coloca no mercado
mensalmente 4,5 milhões de quilos de balas embaladas uma a uma.

A esse fato, somam-se as garrafas PET e de vidro, as latas de alumínio e as embala-


gens de produtos farmacêuticos e hospitalares, por exemplo. As embalagens com-
põem o rol dos materiais classificados como Resíduos Sólidos Urbanos (RSU),
cujo tratamento impacta diretamente o poder público municipal, pelo fato de
serem destinadas, na maior parte, ao lixo urbano.
Mestriner (2014) traça um mapa da reciclagem e destaca que:
a) 202.275.587 brasileiros produzem 190.000 toneladas de lixo por dia, nas quais:
1) 87% são coletadas.
2) 13% são jogadas na rua.
b) Do que é coletado, a composição desse lixo é de:
1) 51,4% resíduos orgânicos.
2) 16,7% outros resíduos.
3) 28,9% de embalagens.
c) Das embalagens recolhidas:
1) 34,7% vão para o lixão.
2) 65,3% voltam para as fábricas.

Um fato que chama a atenção e que é, de certa forma, animador, é que a indústria
de embalagem tem interesse na reciclagem desses materiais e procura, por meio
de diversas ações, incentivar essa prática. Embalagens de vidro, papéis, alumínio:
tudo pode ser reaproveitado. Por exemplo, o vidro é considerado um material que
tem a possibilidade teórica de reciclagem infinita, assim como ilustra a Figura 7.

174
UNICESUMAR
Trituração Matéria-prima

Limpeza e seleção

Indústrias vidreiras

CICLO
INFINITO
Coleta

Envasadores

Consumidores Embalagens

Distribuição

Figura 7 - Ciclo de reciclagem do vidro / Fonte: Toneto Júnior, Saiani e Dourado (2014, p.
283).

Descrição da Imagem: a figura mostra o ciclo de reciclagem do vidro, que, enquanto matéria-prima, é
destinado às indústrias vidreiras, a fim de ser revendido aos envasadores como embalagem. O vidro é
distribuído em todo o país, adquirido pelos consumidores e, depois, coletado após o consumo. Ele é limpo,
triturado e se torna novamente matéria-prima.

Um dos grandes problemas voltados à obtenção da efetividade do retorno das


embalagens em processos reversos é relacionado ao custo de coleta desses ma-
teriais. Os programas de coleta seletiva das prefeituras municipais custam, em
média, quatro vezes a mais que a coleta convencional. Mestriner (2014) comprova
essa dificuldade ao informar que, no Rio de Janeiro, apenas 1% do lixo coletado se
dá pelo método de coleta seletiva, enquanto, em São Paulo, cerca de 2%. Números
insignificantes, não acha?
Alguns setores específicos, devido à própria legislação, adquirem números
mais expressivos no que diz respeito ao retorno das embalagens. No Brasil, um
caso de sucesso é o das embalagens de agrotóxicos. Sobre esse setor, Xavier (2014,
p. 75) destaca que:
175

Atualmente, o Brasil ocupa o posto de país que mais recolhe emba-
UNIDADE 5

lagens vazias de agrotóxicos. Em 2013, o mercado brasileiro bateu


novo recorde na categoria, ao promover o recolhimento de 94% das
embalagens devolvidas pelos agricultores. Enquanto isso, a França,
por exemplo, recolheu 77% de suas embalagens vazias. Na Alema-
nha, o índice foi de 67% (nota do autor: pelo menos nisso ganhamos
da Alemanha!). No Japão, o retorno gira em torno de 50%. Já nos
EUA, a média é de 33%.

A legislação estabelece a obrigação de o produtor rural devolver, em até um ano,


as embalagens dos defensivos agrícolas adquiridos. Assim, o resultado dos pro-
gramas de recolhimento de embalagens tem sido promissor. De acordo com da-
dos do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos
(SINIR, 2021, on-line)5:
■ 550 mil toneladas destinadas desde 2002, 45.563 apenas em 2019;
■ 94% das embalagens plásticas primárias comercializadas no Brasil têm destina-
ção ambientalmente adequada;
■ 411 unidades de recebimento no país (304 postos e 107 centrais) – dados do
ano de 2019;
■ 4,5 mil ações de recebimento itinerantes em 2019.
■ Ecoeficiência do sistema (2012 a 2019)
■ Energia economizada: o suficiente para abastecer 4 milhões de casas durante
um ano;
■ Evitou o correspondente à 14 mil viagens em torno da terra realizadas por um
caminhão;
■ Emissões evitadas: 752 mil t CO2.

Em materiais, como as embalagens PET (Tereftalato de Etileno), a cadeia re-


versa está bem estabelecida. Xavier (2014) sustenta que o índice de reciclagem
das embalagens PET no Brasil já atingiu a casa dos 59%. Há uma preocupação
em relação à falta de matéria-prima para as indústrias de reciclagem, pois nem
sempre o preço pago aos participantes dessa cadeia, especialmente os catadores
e as cooperativas, é compensador.
A cadeia reversa do PET é muito abrangente, assim como você pode perceber
na Figura 9.

176
Produtores de resina PET Fabricantes de embalagem PET

UNICESUMAR
Engarrafadores de bebidas

Cadeia Direta Distribuidor: supermercados, padarias, outros

Cadeia Reversa Consumidor: iniciador

Coleta convencional:
porta a porta
Coleta seletiva: porta a porta, PEV
(Posto Entrega Voluntária), catador
Lixão Aterro Sanitário Ruas,
lagos,
Etapas rios
[1]
Recuperação: Catadores, Cooperativas, Centros de triagem
- coleta
- seleção
- compactação
Sucateiros
[2]
Revalorização
Recicladores

[3]
Transformação Aplicadores: Fibras têxteis, cordas, embalagens não alimentícias, outros

“Caminho” “Descaminho”

Figura 9 - Cadeias das embalagens PET no Brasil / Fonte: Formigoni, Santos e Medeiros
(2014, p. 119).

Descrição da Imagem: a figura mostra as cadeias direta e reversa das embalagens PET. Na cadeia reversa,
há três etapas: recuperação, revalorização e transformação. A figura evidencia o importante papel do
consumidor em dar uma destinação a esse tipo de embalagem.

Note, na Figura 9, as várias possibilidades de destino para esse tipo de embalagem


tão utilizada pelas indústrias e que, de certa forma, é considerada prática pelos
próprios consumidores.

177
4
A LOGÍSTICA REVERSA
UNIDADE 5

DAS EMBALAGENS
DE ALUMÍNIO

Um material que atrai um contingente muito grande de interessados é a embala-


gem de alumínio. A expressão máxima desse material são as latinhas de alumínio,
tão populares em bebidas, tais como refrigerantes, sucos e cervejas.
O que atrai tanto interesse nesse material é a sua facilidade de recuperação
de valor e os preços pagos aos participantes da cadeia reversa. De acordo com
Farha (2010, p. 4):


Devido às suas propriedades, o alumínio tornou-se um material ver-
sátil e é utilizado de diversas formas na indústria. Seus diferencias
ou vantagens veem fazendo com que o alumínio seja explorado cada
vez mais nas indústrias de bebidas devido ao fato de ser leve, atóxico,
ter condutibilidade térmica, levando em conta que geralmente, as
bebidas são consumidas geladas acaba sendo uma conveniência
ao consumidor, facilita para o consumidor, a impermeabilidade e
opacidade que faz com que o material não permita a passagem de
umidade, luz e oxigênio de forma que não deteriore o produto, pois
é um metal nobre e limpo e permite aplicações de diferentes tipos
de tintas podendo, assim, caracterizar da forma que preferir, possui
também uma enorme durabilidade. A principal característica é o

178
poder de reciclagem reaproveitando praticamente todo o alumínio,

UNICESUMAR
pois a perda é insignificante, ou seja, é considerado que 100% do
alumínio pode ser reaproveitado.

Acompanhe, na Figura 10, a dinâmica do ciclo reverso das latas de alumínio.

9 1
RETORNO AO COMPRA
CONSUMO

8 2
NOVAS CONSUMO
LATAS O PROCESSO COMPLETO
DA RECICLAGEM

7
LAMINAÇÃO
3
COLETA

6
LINGOTAMENTO 4
5 PRENSAGEM
FUNDIÇÃO

Figura 10 - Ciclo completo das latas de alumínio / Fonte: Farha (2010, p. 4).

Descrição da Imagem: a figura mostra, em forma de círculo, as diversas etapas do processo de recicla-
gem das embalagens de alumínio. Parte-se da etapa da compra pelo consumidor e, depois, seguem as
seguintes fases: consumo, coleta, prensagem, fundição, lingotamento, laminação e a produção de novas
latas. O ciclo se encerra com o retorno ao consumo.

179
Esse processo é extremamente compensador para a indústria, que gasta apenas
UNIDADE 5

5% da energia necessária para produzir a mesma quantidade de material em


relação à matéria-prima primária. Na Figura 11, é medida a eficiência da cadeia
reversa das latas de alumínio.
100

80

60

40

20

0
1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2013 2015 2017
1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016
X
Japão Argentina EUA Brasil Europa

Figura 11 - Índice de reciclagem da lata de alumínio para bebidas - 1991 a 2017 / Fonte:
Abralatas ([2021], on-line)6.

Descrição da Imagem: a figura mostra um gráfico de linhas que indica a evolução da reciclagem das latas
de alumínio para bebidas. Assim, compara a performance do Brasil, em relação ao Japão, à Argentina, aos
EUA e à Europa. O Brasil tem a linha com maior performance entre essas regiões.

Nesse segmento, estamos em uma direção positiva, assim como é o caso das
embalagens de agroquímicos, não concorda?

180
5
ASPECTOS SOCIAIS

UNICESUMAR
DA LOGÍSTICA
REVERSA
NO BRASIL

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) prevê, assim como sabemos, a


inserção e a participação da sociedade nos processos de tratamento dos resíduos
produzidos pelas próprias pessoas. Alguns segmentos são destacados, como a
participação dos catadores e das suas cooperativas na logística reversa dos resí-
duos sólidos.
Em seu Art. 7º, a PNRS preconiza que os processos devem estimular a “XII
- integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que
envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos”
(BRASIL, 2010, on-line).
É evidente que, assim como qualquer atividade produtiva, a viabilidade da
inserção de pessoas e de organizações (mesmo pequenas, como as cooperativas)
acontece quando há uma justa remuneração dos participantes. O mercado tam-
bém costuma impor as suas regras nesse caso. Dependendo da demanda pelos
materiais reciclados, eles podem ter valores mais ou menos compensadores.

181
No caso dos materiais coletados, no que diz respeito aos preços, que são,
UNIDADE 5

portanto, variáveis, não há a possibilidade de estabelecer um único referencial.


É interessante observamos o tamanho da cadeia reversa na coleta seletiva, que é
exposto por Xavier (2014):
1. 86% da coleta vai para lixões e aterros.
2. 14% dos municípios brasileiros têm coleta seletiva.
3. Há 800.000 catadores no Brasil.
4. No país, existem 1200 cooperativas.
5. Temos 34.400 cooperados nas cooperativas de catadores no Brasil.
6. Foi de R$10 bilhões o faturamento com reciclagem em 2012.

A participação de um contingente de cerca de 800.000 pessoas institui um movi-


mento social que não pode passar despercebido pelo poder público e pela própria
sociedade. Esses trabalhadores buscam se organizar em entidades representativas,
como o Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Reciclados (MNCR),
que já tem 12 anos de história.
Algumas prefeituras se aproximam desses movimentos e buscam, por inter-
médio de parcerias, proporcionar condições para que a geração de renda possa
realmente ser um fator modificador das condições de vida dessas pessoas. Muitas
prefeituras têm feito um excelente trabalho nesse sentido, ao ponto de viabilizar
a geração de renda suficiente para sustentar um número expressivo de famílias
que vivem dessa atividade.
Alguns dados chamam a atenção em relação ao trabalho realizado pelos tra-
balhadores que coletam materiais no Brasil. No Gráfico 1, pode ser visualizado o
volume coletado pelas cooperativas e pelas associações de catadores.

182
52.742
62,6%

UNICESUMAR
43.571
65,0%

14.442
17,1%
11.308
10.015
16,9%
11,9%
6.738 5.892
10,0% 7,0% 4.469
6,7%
625 434 587 528
0,7% 0,6% 0,7% 0,8%

PAPÉIS PLÁSTICO VIDROS OUTROS METAIS ALUMÍNIO ORGÂNICOS


E OUTROS
MATERIAIS

2017 2018

Gráfico 1 - Volume total coletado pelas cooperativas e pelas associações de catadores por
tipo de material (toneladas e % do total) / Fonte: Abrelpe (2020, p. 56)

O gráfico mostra que o trabalho realizado realmente é relevante, mas uma ampla
discussão deve ser realizada em relação a essas iniciativas, as quais, de forma
alguma, são uma unanimidade. Se, por um lado, considera-se louvável que o
poder público e a própria sociedade reconheçam o papel fundamental dos cata-
dores nos processos de logística reversa, por outro, há que se pensar em outros
caminhos para essas famílias que não envolvam o contato com materiais peri-
gosos, poluentes e contaminantes. Embora, enquanto pesquisador da área, tenha
a minha posição sobre o assunto, gostaria que você pensasse seriamente nessa
problemática e formasse o seu próprio juízo de valor.

183
Nesta última unidade, tivemos a oportunidade de estudar os aspectos da logística
UNIDADE 5

reversa aplicados em diversos segmentos econômicos. Todavia, de forma alguma,


esgotamos o assunto. Há outros materiais que você precisa conhecer em relação
aos seus impactos ambientais e à logística reversa disponível para a mitigação dos
efeitos indesejados. Esse é o caso do plástico, cuja utilização se tornou um símbolo
da sociedade moderna de consumo. Utilizamos o plástico para quase tudo e o
impacto desse material no meio ambiente ainda não é plenamente entendido.
Outro aspecto importante é quanto à inserção das pessoas nos processos. No
Brasil, temos problemas sociais muito sérios e complexos. Os catadores precisam
ter a consideração da sociedade e dos seus representantes. Também é preciso
haver uma consideração mais pragmática, oportunidade que surge por inter-
médio da logística reversa. Para um gestor bem preparado, é possível visualizar
inter-relações lucrativas em vários âmbitos do processo reverso. Pense sobre isso!

184
na prática

1. Há uma discussão que ocorre em diversas instâncias sobre o papel social da logística
reversa e o modo como a legislação pode contemplar a inserção de trabalho para
as famílias que sobrevivem da catação de materiais recicláveis.

Sobre o tema exposto no enunciado, leia as afirmativas a seguir:

I - É possível identificar algumas iniciativas de aproximação entre o poder público


e as associações de catadores, visando proporcionar condições de geração de
renda.
II - Não há consenso sobre a inserção de catadores nos processos de coletas pelo
poder público, pois vários setores criticam a formalização de um trabalho peri-
goso como é a coleta de inservíveis.
III - Felizmente, no Brasil, o número de catadores é considerado baixo, com menos
de 10 mil pessoas envolvidas na coleta de materiais reciclados em todo o país.
IV - Os milhares de catadores de reciclados no Brasil atuam de forma isolada, sem
coordenação, tampouco associações.

É correto o que se afirma em:

a) I, III e IV, apenas.


b) I e II, apenas.
c) I, II e III, apenas.
d) III e IV, apenas.
e) II, III e IV, apenas.

185
na prática

2. As latas de alumínio são muito utilizadas para envasar diversos produtos, em de-
trimento de suas propriedades conservadoras. Esse tipo de embalagem também
apresenta benefícios ecológicos e econômicos.

Sobre as latas de alumínio, assinale a alternativa correta:

a) As embalagens de alumínio sempre são produzidas a partir de matérias-primas


novas, as quais são retiradas da natureza.
b) As embalagens de alumínio apresentam restrição para alguns líquidos, por não
terem boa condutibilidade térmica.
c) Os Estados Unidos, por terem processos de logística reversa mais maduros, são
os campeões mundiais na reciclagem de latas de alumínio.
d) Dentre os materiais recicláveis, a lata de alumínio apresenta uma grande facili-
dade para a recuperação de valor e tem preços atrativos para a cadeia reversa.
e) Um problema na logística reversa da lata de alumínio é a baixa procura por parte
dos recicladores.

3. Leia o fragmento a seguir:

“Anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de tone-


ladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido
superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quanti-
dade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil
toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos
de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78%
nesse período”.

AMBIENTE BRASIL. Agrotóxicos. Ambiente Brasil, [2021]. Disponível em: https://am-


bientes.ambientebrasil.com.br/agropecuario/artigo_agropecuario/agrotoxicos.
html. Acesso em: 20 abr. 2021.

Sobre o assunto em evidência no enunciado, analise as asserções a seguir e a relação


proposta entre elas:

186
na prática

I. Um exemplo de fracasso da política reversa no Brasil é o setor de agronegócios.

PORQUE

II. As embalagens de agrotóxicos se acumulam no campo e provocam sérios danos


ambientais.

Considerando as asserções apresentadas, é possível afirmar que:

a) As duas asserções são verdadeiras e a segunda complementa a primeira.


b) As duas asserções são verdadeiras, mas a segunda não complementa a primeira.
c) A primeira asserção é verdadeira e a segunda é falsa.
d) A primeira asserção é falsa e a segunda é verdadeira.
e) As duas asserções são falsas.

4. Não podemos desprezar a importância do setor de construção civil no Brasil. Esse


setor tem importância estratégica, não só pela melhoria das condições de vida da
população em relação à moradia, mas também pelo impacto econômico na geração
de emprego e renda que proporciona. Contudo, os problemas ambientais também
seguem esse setor da economia.

Sobre o setor de construção civil no Brasil, leia as afirmativas a seguir:

I - O setor da construção civil evoluiu muito nas últimas décadas, ao aplicar princí-
pios de outros setores, como o que gerou a Lean Construction.
II - Um dado preocupante e ainda válido no Brasil é que, de cada três prédios cons-
truídos, um vai para o lixo, em detrimento dos desperdícios no canteiro de obras.
III - De todos os materiais utilizados na construção civil, somente a areia, por ser de
origem mineral, não impacta negativamente o meio ambiente em sua extração.
IV - Os resíduos classificados como Classe A são os mais impactantes no meio am-
biente, por serem extremamente tóxicos e poluentes.

187
na prática

É correto o que se afirma em:

a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) I e II, apenas.
d) II e III, apenas.
e) II, III e IV, apenas.

5. A logística reversa, especialmente no Brasil, depende muito do trabalho dos co-


letores, os quais exercem as suas atividades de maneira informal, na maioria dos
casos. Entretanto, muitas iniciativas estão sendo tomadas, de modo a dar alguma
segurança aos envolvidos, especialmente por meio de associações e cooperativas.

Sobre o tema em evidência no enunciado, leia as asserções a seguir e a relação


proposta entre elas:

I. O poder público não conseguiu obter resultados importantes, em termos de par-


cerias, com as organizações ligadas aos catadores, o que inviabilizou a geração
de renda por parte das famílias relacionadas à atividade de coleta.

PORQUE

II. No Brasil, o número de cooperativas e associações de catadores é tão inexpressivo


que não atrai a atenção do poder público para a realização de ações formais com
esses trabalhadores.

Considerando as asserções apresentadas, é possível afirmar que:

a) As duas asserções são verdadeiras e a segunda complementa a primeira.


b) As duas asserções são verdadeiras, mas a segunda não complementa a primeira.
c) A primeira asserção é verdadeira e a segunda é falsa.
d) A primeira asserção é falsa e a segunda é verdadeira.
e) As duas asserções são falsas.

188
aprimore-se

PRIMEIRO MERCADO DE CRÉDITOS DE LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALA-


GENS DO BRASIL ENTRA EM OPERAÇÃO

Segundo a definição do Ministério do Meio Ambiente (MMA), logística reversa é um


“instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjun-
to de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição
dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou
em outros ciclos produtivos, ou outra destinação.”
Com a promessa de ajudar na implementação desse conceito, o Movimento Na-
cional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), em parceria com a Bolsa Ver-
de do Rio de Janeiro (BVRio), começa a comercializar [...] os primeiros créditos de
logística reversa de embalagens do Brasil.
A intenção desse novo mercado é aproximar os catadores das empresas que
precisam cumprir metas na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
De acordo com a PNRS, criada em 2010, companhias devem promover a logística
reversa de embalagens pós-consumo, envolvendo neste processo os catadores bra-
sileiros, que hoje são mais de 800 mil pessoas.
O mercado funcionará distribuindo créditos para os catadores depois de uma
análise de suas atividades, sendo que a quantidade e o valor deles variarão confor-
me o material dos resíduos trabalhados. Em seguida, os créditos podem ser ven-
didos para as empresas, facilitando assim a relação entre a iniciativa privada e as
cooperativas.

189
aprimore-se

[...]
A primeira empresa interessada no mercado foi o Grupo Boticário, que a partir
de hoje e durante os próximos dois meses deverá adquirir o equivalente em 1.200
toneladas em créditos.
“Estamos alavancando o mercado de Créditos de Logística Reversa no país. Esta
ação está conectada ao nosso plano estratégico de longo prazo em sustentabilida-
de. Nosso objetivo é contribuir, de forma efetiva, com o desenvolvimento da socie-
dade e a proteção do meio ambiente. E acreditamos que uma das etapas impor-
tantes para a redução do impacto ambiental é a destinação correta de embalagens
pós-consumo”, disse Artur Grynbaum, presidente do Grupo Boticário.
O valor total das transações do Boticário não foi divulgado, mas pelo portal da
BVRio é possível ver a cotação dos vários tipos de créditos, que estão atualmente
avaliados na faixa de R$ 100 a unidade.
Fonte: Consulting (2014, on-line).

190
eu recomendo!

filme

Alimentos S.A.
Ano: 2008
Sinopse: o documentário “Alimentos S.A.” apresenta a realidade
por trás das indústrias de alimentos, que dificultam ao máximo a
possibilidade de os consumidores saberem a verdadeira origem
do que estão comprando ou ingerindo. A realidade que a indús-
tria pretende esconder a todo custo é baseada em um cenário
perverso: uma vida de sofrimento, tortura e confinamento de ani-
mais que são explorados para o consumo humano.

191
referências

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gabarito

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UNIDADE 2 UNIDADE 5

1. C. 1. B.

2. E. 2. D.

3. E. 3. E.

4. C. 4. A.

5. E. 5. E.

UNIDADE 3

1. A.

2. E.

3. A.

4. D.

5. D.

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conclusão geral

conclusão geral

Prezado(a) aluno(a),
Chegamos ao final desta disciplina e, certamente, após serem consideradas
todas as temáticas abordadas, você deve ter muitos questionamentos, pois não há
respostas simples e únicas aos desafios que apresentamos.
Cada organização tem a sua própria dinâmica e atua em regiões e em mercados
próprios. A estratégia desenvolvida para atender a missão e a visão de longo prazo
também é singular a cada empresa. Portanto, há uma necessidade vital de estudar,
analisar e se atualizar constantemente no que se refere às novas tecnologias que
se apresentam, à regulamentação, que está sujeita às alterações periódicas, e aos
movimentos e às tendências de mercado. Sem esse preparo, dificilmente o gestor
terá condições de tomar decisões assertivas. Basear-se em dados ultrapassados não
é uma boa postura dos gestores modernos.
Sempre costumo dizer aos meus alunos que não há obra acabada de nenhum
assunto relacionado ao conhecimento humano. As obras e as pesquisas produzidas
até o momento em forma de livros e artigos científicos são um retrato atual, mas
novos conhecimentos e pesquisas serão produzidos. Por isso, recomendo que você
adote um senso de inquietação e sempre leia materiais de fontes confiáveis para a
sua formação. Não esgotamos o assunto, de forma alguma, neste livro.
Aproveito para recapitular alguns temas que consideramos nas cinco unidades
deste livro. Na Unidade 1, estudamos os desafios da sustentabilidade e as questões
logísticas voltadas à competitividade organizacional. Além disso, explicamos os
conceitos e o tema “custos” em logística reversa.
Na Unidade 2, compreendemos a formatação de um canal de distribuição
reverso de pós-consumo, além de trabalharmos a classificação dos bens de pós-
-consumo e os objetivos econômicos da logística reversa de pós-consumo.

199
conclusão geral

conclusão geral

Na Unidade 3, analisamos os canais de distribuição reversa de pós-venda e


entendemos como se procede a seleção e a destinação dos produtos em devolu-
ção. Não só, mas também estudamos os mercados secundários para os produtos
de pós-venda.
Na Unidade 4, focamos na questão legal com respeito à logística reversa. Tam-
bém entendemos como as organizações podem ganhar mercados, ao adaptarem
os seus processos às certificações ambientais, assim como avaliamos a PNRS, uma
legislação que você precisa conhecer, pois há elementos punitivos às organizações
que não cumprem os requisitos emanados.
Para finalizar os nossos estudos, na Unidade 5, trabalhamos questões pontuais
da logística reversa em algumas cadeias e em segmentos específicos, como a cons-
trução civil, as embalagens e os pneus. A cadeia reversa contempla a participação
de muitos atores que dependem do resultado financeiro das atividades de coleta,
seleção e destinação de materiais de pós-consumo. Nesse contexto, conseguimos
entender, em parte, os impactos sociais dessa atividade para a logística reversa.
Assim, prezado(a) aluno(a), finalizamos mais esta disciplina. Espero que você
consiga, por intermédio dela, obter resultados cada vez melhores em relação à sua
atividade profissional.
Desejo a você muito sucesso e realizações!
Um grande abraço!

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