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ANATOMIA

HUMANA APLICADA
À EDUCAÇÃO FÍSICA

PROFESSORA
Dra. Carmem Patrícia Barbosa

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ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância;


BARBOSA, Carmem Patrícia.
Anatomia Humana Aplicada à Educação Física. Carmem Patrícia Barbosa.
Maringá - PR.:Unicesumar, 2019.
204 p.
“Graduação em Educação Física - EaD”.
1. Anatomia . 2. Educação Física . 3. EaD. I. Título.

ISBN 978-85-459-1754-0 CDD - 22ª Ed. 613.7


Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2
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Wilson Matos da Silva
Reitor da Unicesumar

Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10
com princípios éticos e profissionalismo, não maiores grupos educacionais do Brasil.
somente para oferecer uma educação de qualidade, A rapidez do mundo moderno exige dos educadores
mas, acima de tudo, para gerar uma conversão soluções inteligentes para as necessidades de todos.
integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- Para continuar relevante, a instituição de educação
nos em 4 pilares: intelectual, profissional, emocional precisa ter pelo menos três virtudes: inovação,
e espiritual. coragem e compromisso com a qualidade. Por
Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia,
graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor
estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro do ensino presencial e a distância.
campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é
e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, promover a educação de qualidade nas diferentes áreas
com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. do conhecimento, formando profissionais cidadãos
Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais que contribuam para o desenvolvimento de uma
de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos sociedade justa e solidária.
pelo MEC como uma instituição de excelência, com Vamos juntos!
boas-vindas

Willian V. K. de Matos Silva


Pró-Reitor da Unicesumar EaD

Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à A apropriação dessa nova forma de conhecer


Comunidade do Conhecimento. transformou-se hoje em um dos principais fatores de
Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar agregação de valor, de superação das desigualdades,
tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores propagação de trabalho qualificado e de bem-estar.
e pela nossa sociedade. Porém, é importante Logo, como agente social, convido você a saber cada
destacar aqui que não estamos falando mais daquele vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a
conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas tecnologia que temos e que está disponível.
de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg
atemporal, global, democratizado, transformado pelas modificou toda uma cultura e forma de conhecer,
tecnologias digitais e virtuais. as tecnologias atuais e suas novas ferramentas,
De fato, as tecnologias de informação e comunicação equipamentos e aplicações estão mudando a nossa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o
informações, da educação por meio da conectividade conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância
via internet, do acesso wireless em diferentes lugares (EAD), significa possibilitar o contato com ambientes
e da mobilidade dos celulares. cativantes, ricos em informações e interatividade. É
As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram um processo desafiador, que ao mesmo tempo abrirá
a informação e a produção do conhecimento, que não as portas para melhores oportunidades. Como já disse
reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em Sócrates, “a vida sem desafios não vale a pena ser vivida”.
segundos. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer.
boas-vindas

Kátia Solange Coelho


Janes Fidélis Tomelin Diretoria de Graduação
Pró-Reitor de Ensino de EAD
e Pós-graduação

Débora do Nascimento Leite Leonardo Spaine


Diretoria de Design Educacional Diretoria de Permanência

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja,
iniciando um processo de transformação, pois quando estes materiais têm como principal objetivo “provocar
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta
profissional, nos transformamos e, consequentemente, forma possibilita o desenvolvimento da autonomia
transformamos também a sociedade na qual estamos em busca dos conhecimentos necessários para a sua
inseridos. De que forma o fazemos? Criando formação pessoal e profissional.
oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento
de alcançar um nível de desenvolvimento compatível e construção do conhecimento deve ser apenas
com os desafios que surgem no mundo contemporâneo. geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita.
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos
se educam juntos, na transformação do mundo”. fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe
Os materiais produzidos oferecem linguagem das discussões. Além disso, lembre-se que existe
dialógica e encontram-se integrados à proposta uma equipe de professores e tutores que se encontra
pedagógica, contribuindo no processo educacional, disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em
complementando sua formação profissional, seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe
desenvolvendo competências e habilidades, e trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória
aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, acadêmica.
autora

Dra. Carmem Patrícia Barbosa


Possui graduação em Fisioterapia pela Universidade Estadual de Londrina (1997).
Especialização em Morfofisiologia Aplicada à Educação Corporal e à Reabilitação
pela Universidade Estadual de Maringá (2000). Mestrado (2003) e doutorado
(2013) em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Maringá - Área de
Concentração em Biologia Celular. Foi professora das disciplinas de Anatomia
Humana, Fisiologia Humana, Cinesiologia e Biomecânica e Bases Neurofuncionais
do Movimento no Unicesumar (Centro de Ensino Superior de Maringá) de 2002
a 2013. Professora adjunta de Anatomia Humana na Universidade Estadual de
Maringá desde 2012. Tem experiência com os cursos de Medicina, Educação
Física, Odontologia, Ciências Biológicas, Enfermagem, Nutrição, Biomedicina e
Estética. Foi membro do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Unicesumar e
faz parte do corpo editorial da Revista Saúde e Pesquisa, Revista de Iniciação
Científica do Unicesumar e da Revista Arquivos do MUDI-UEM.
Link: <http://lattes.cnpq.br/9374304100882579>.
apresentação do material

Anatomia Humana Aplicada à Educação Física


Dra. Carmem Patrícia Barbosa

A Anatomia Humana (que do grego significa “cortar Ao se comparar diferentes pessoas, no entanto, po-
em partes”) estuda a constituição e o desenvolvimento de-se observar que existem várias diferenças entre
do ser humano. O seu desenvolvimento esteve dire- elas. Quando estas não prejudicam a função da es-
tamente relacionado ao ato de dissecar, por meio do trutura, diz-se que são apenas “variações anatômi-
qual o corpo é metodicamente exposto por incisões cas”. No entanto quando atrapalham a função, são
cirúrgicas, mantendo a sua organização natural e pos- ditas “anomalias” e, inclusive, podem ser chamadas
sibilitando a associação entre forma e função. O surgi- de “monstruosidades” se impedirem que o indivíduo
mento do microscópio favoreceu estudos específicos permaneça vivo (WATANABE, 2000). Os diferentes
e desenvolveu a embriologia, a citologia e a histologia tons de pele são variações anatômicas, um olho míope
(ramos da Anatomia). é uma anomalia e gêmeos siameses (xifópagos) repre-
Embora o estudo anatômico fosse, inicialmente, feito sentam uma monstruosidade. Fatores como idade,
por comparação com animais (Anatomia Compa- sexo, grupo étnico e biótipo podem gerar variações
rativa), na atualidade, ele é realizado em cadáveres corpóreas. É normal, por exemplo, que um japonês
humanos considerados “normais”, uma vez que as tenha cabelos lisos e pele clara, mas não são normais
doenças são estudadas pela patologia e outras ciências. tais características em uma pessoa negra; é normal que
O conceito de normalidade em Anatomia deve con- um bebê não tenha dentes, mas não é normal que isto
siderar variações anatômicas individuais e diferenças ocorra em um adulto.
morfológicas em decorrência da passagem do estado Uma das maiores dificuldades encontradas no estudo
vivo ao cadavérico. Assim, é necessário considerar os da Anatomia Humana é a nomenclatura anatômica.
conceitos idealístico e estatístico. Enquanto o primeiro Isto porque cientistas e profissionais da área da saúde
considera normal aquilo que é melhor para o desem- usam uma linguagem própria ao se referirem às estru-
penho da função da estrutura anatômica, o segundo turas do corpo humano e à forma como a dissecção
afirma ser normal aquilo que ocorre com a maioria das é feita. Essa nomenclatura engloba termos normal-
pessoas (WATANABE, 2000). Por exemplo, conside- mente originados do grego, do latim e de outras lín-
ra-se normal ter cinco dedos em cada mão para que a guas e, em conjunto, recebe o nome de Terminologia
função de pinça fina seja possível (conceito idealístico) Anatômica. O seu objetivo é padronizar os nomes
e porque quase todos têm esta quantidade de dedos dados às estruturas do corpo nos diversos centros
na mão (conceito estatístico). de estudos e pesquisas no mundo (DI DIO, 2002).
Ela consta de mais de 6 mil termos esporadicamente revistos e atualizados, os
quais podem ser abreviados para facilitar o seu uso prático e que são traduzidos
pelas sociedades de Anatomia de cada país. No Brasil, a terminologia é traduzida
pela Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia
(SBA) (CFTA, 2001). Os termos relacionam-se à forma da estrutura (músculo
deltoide, por exemplo), à sua situação (artéria vertebral), à sua função (glândula
lacrimal) e outras peculiaridades (FREITAS, 2004; TORTORA et al., 2010).
A fim de evitar erros em relação à nomenclatura e ao posicionamento do corpo,
a posição anatômica de descrição, ou posição de referência, foi instituída. Nela,
supõe-se que o cadáver está em posição ortostática (em pé), com a cabeça em
nível horizontal, olhos para frente, pés apoiados no chão e voltados à frente,
membros superiores ao lado do corpo com as palmas voltadas para frente (MO-
ORE et al., 2014).
As várias regiões do corpo são denominadas como cabeça, pescoço, tronco, mem-
bros superiores e inferiores. A cabeça apresenta o crânio facial (viscerocrânio) e
o crânio neural (neurocrânio). Enquanto o facial é anterior, menor, constituído
por 14 ossos e cujas funções incluem abrigar e proteger os órgãos dos sentidos e
possibilitar a fonação e a mastigação, o crânio neural é posterior, maior, constituído
por oito ossos, os quais se relacionam à proteção do sistema nervoso (TORTORA
et al., 2010). A parte posterior do pescoço é chamada de nuca, e o tronco é subdi-
vidido em tórax (superiormente ao músculo diafragma), abdome (entre o músculo
diafragma e a abertura superior da pelve) e pelve (entre os ossos do quadril). Os
membros superiores e inferiores subdividem-se em cíngulo (região conectada
ao tronco) e parte livre. O cíngulo do membro superior é a cintura escapular e a
sua parte livre inclui braço, antebraço e mão (sendo palma a sua parte anterior,
e dorso, a posterior). O cíngulo do membro inferior é a cintura pélvica e a sua
parte livre inclui coxa, perna e pé (sendo o dorso a sua parte superior, e planta, a
inferior) (FREITAS, 2004).
A partir da posição anatômica de descrição, supõe-se a existência de planos imagi-
nários que tocam externamente o corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). Os
planos superior (cranial), inferior (podálico), laterais (direito e esquerdo), anterior
(ventral) e posterior (dorsal) auxiliam a denominar estruturas. Por exemplo, as
clavículas são estruturas superiores ao joelho, pois se localizam mais próximas ao
plano superior; o osso occipital é posterior em relação ao osso frontal, uma vez
que está mais próximo ao plano posterior. Complementarmente, planos de secção
(sagital, transversal e coronal) foram adotados (FREITAS, 2004). Enquanto o pla-
no sagital divide estruturas em porções direita e esquerda (antímeros), o coronal
divide em porção anterior e posterior (paquímeros), e o transversal divide em
porção superior e inferior (metâmeros).
Termos anatômicos como flexão, extensão, abdução, adução, rotação medial
e lateral, supinação e pronação descrevem movimentos (MOORE et al., 2014;
TORTORA et al., 2010). Tais movimentos ocorrem em um plano (sagital, coronal
ou transversal) e por meio de linhas imaginárias denominadas eixos, as quais são
perpendiculares aos planos. A flexão e a extensão, por exemplo, ocorrem no plano
sagital e no eixo coronal; a abdução e a adução ocorrem no plano coronal e no
eixo sagital; as rotações medial e lateral ocorrem no plano transversal e no eixo
longitudinal (GRABINER et al., 1991).
Embora a Anatomia possa ser estudada do ponto de vista radiológico, antropo-
lógico, de imagem, artístico, regional, clínico e outros, neste livro, estudaremos a
Anatomia sistêmica (de cada sistema do corpo) e a Anatomia voltada ao movimento.
Em cada unidade, será apresentada uma introdução (apresentando inicialmente
o tema), um desenvolvimento (em que o conteúdo programático será abordado),
considerações finais (que resumirão os estudos teóricos e práticos do tema) e ati-
vidades de estudo (para reforço e memorização do conteúdo apresentado).
Desejo que você se apaixone pela Anatomia Humana e que tenha a consciência
de que é impossível ser um bom profissional de Educação Física sem conhecê-la
profundamente. Esta ciência está diretamente relacionada à constituição e ao fun-
cionamento do corpo humano. De igual modo, desejo que você descubra que é
possível gerar modificações benéficas no corpo e minimizar as maléficas a partir dele.

Bom estudo!
sum ário

UNIDADE I UNIDADE IV
APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO APARELHO LOCOMOTOR
16 Sistema Circulatório 122 Sistema Esquelético
28 Sistema Circulatório Linfático 134 Sistema Articular
36 Sistema Respiratório 140 Sistema Muscular
45 Considerações finais 157 Considerações finais
51 Referências 162 Referências
52 Gabarito 163 Gabarito

UNIDADE II UNIDADE V
SISTEMAS DIGESTÓRIO E ENDÓCRINO NEUROANATOMIA APLICADA AO MOVIMENTO
58 Sistema Digestório 168 Tecido Nervoso
70 Sistema Endócrino 172 Sistema Nervoso Central
78 Considerações finais 182 Sistema Nervoso Periférico
83 Referências 190 Sistema Nervoso Autônomo
84 Gabarito 195 Considerações finais
200 Referências
UNIDADE III 201 Gabarito
APARELHO UROGENITAL
90 Sistema Urinário 202 Conclusão geral

96 Sistema Genital Masculino


104 Sistema Genital Feminino
111 Considerações finais
116 Referências
116 Gabarito
APARELHO CARDIORRESPIRATÓRIO

Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Sistema circulatório
• Sistema linfático
• Sistema respiratório

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema circulatório: sangue, coração
e vasos sanguíneos.
• Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema linfático: linfa, capilares,
vasos, ductos e troncos linfáticos, linfonodos, baço, timo e
tonsilas.
• Descrever os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema respiratório: nariz, faringe,
laringe, traqueia, brônquios/árvore brônquica, pulmões/
alvéolos pulmonares, pleuras, divisões do sistema
respiratório, cavidade torácica e mediastino.
unidade

I
INTRODUÇÃO

A
vida, de fato, é um milagre, e a sua continuidade depende da manutenção
das células em perfeito equilíbrio. Assim, para que a homeostasia corpó-
rea seja possível, todos os sistemas do corpo agem em conjunto, desem-
penhando funções específicas e coordenadas. Neste contexto, o aparelho
cardiorrespiratório e o sistema nervoso se destacam, pois permitem que nutrientes e
oxigênio sejam encaminhados às células ao mesmo tempo em que delas são retirados
materiais residuais produzidos pelo metabolismo normal (como metabólitos e gás
carbônico), mantendo o meio intracelular constante.
Para tanto, o sistema nervoso controla as condições intracelulares e possibilita
adaptações no aparelho cardiorrespiratório. Coração, vasos sanguíneos e pulmões
agem em conjunto, enviando sangue oxigenado ao corpo e reoxigenando o sangue
vindo do corpo por meio da hematose que ocorre no pulmão.
O objetivo desta unidade é estudar detalhadamente as estruturas anatômicas
que compõem o aparelho cardiorrespiratório, pormenorizando as suas funções.
Este conhecimento preparará você para compreender as alterações desencadea-
das pela prática de exercícios físicos, ou seja, entender conceitos específicos que
você verá posteriormente na Fisiologia do Exercício.
De maneira geral, o aparelho cardiorrespiratório é composto pelos sistemas
circulatório e respiratório. No entanto o sistema circulatório é subdividido em
sistema circulatório sanguífero (destinado à circulação do sangue e composto
pelo sangue, pelo coração e pelos vasos sanguíneos) e sistema vascular lin-
fático (destinado à circulação da linfa e composto pela linfa, pelos órgãos
linfoides e vasos linfáticos).
Nosso objetivo é que você se conscientize de que o(a) professor(a) de
Educação Física precisa ter amplo conhecimento sobre esses sistemas,
uma vez que a contração muscular efetiva e, consequentemente, a rea-
lização de movimentos harmônicos e precisos necessários à prática do
exercício físico dependem integralmente da atuação de tais sistemas.
Portanto, aproveite bem os conhecimentos aqui oferecidos, dedique-se
e tenha um ótimo estudo.
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Circulatório

Caro(a) aluno(a), o sistema circulatório possibilita a las. Além disso, o sangue contribui para o controle da
circulação dos líquidos, também chamados humo- temperatura corpórea, relaciona-se à defesa imunoló-
res corpóreos. Assim, quando o líquido é represen- gica (por meio das células brancas), à coagulação san-
tado pelo sangue, denomina-se sistema circulatório guínea (pelas plaquetas), à distribuição de hormônios
sanguíneo; quando o líquido é representado pela pelo corpo e à administração de medicações endove-
linfa, denomina-se sistema circulatório linfático. nosas (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

FUNÇÕES COMPONENTES
Sangue
O sistema circulatório sanguíneo está relacionado a O sangue apresenta uma coloração avermelhada
diversas funções, como nutrição, oxigenação e dre- devido, principalmente, à hemoglobina presente
nagem de substâncias tóxicas produzidas pelas célu- em uma de suas células, as hemácias. Assim, ele é

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EDUCAÇÃO FÍSICA

constituído por uma parte líquida chamada plasma


sanguíneo e uma parte celular formada pelas hemá-
cias (eritrócitos ou glóbulos vermelhos), leucócitos
(glóbulos brancos) e plaquetas (trombócitos).
Enquanto as hemácias realizam o transporte de
gases pela corrente sanguínea, os leucócitos possibi-
litam a defesa imunológica, pois realizam fagocito-
se ou produzem substâncias capazes de inviabilizar
células invasoras ( por exemplo, vírus, bactérias ou
mesmo células anômalas). Por sua vez, as plaquetas
atuam na coagulação do sangue (FREITAS, 2004).

Coração
Embora saibamos que a função de controle geral
do corpo é de responsabilidade do cérebro, mui-
tas pessoas ainda cometem o equívoco de atribuir
ao coração funções relacionadas às emoções (como
amor, ódio e perdão). Na verdade, este órgão estu-
dado pela cardiologia desempenha apenas a função
de atuar como uma “bolsa” ou um “saco” capaz de se
dilatar para se encher de sangue e de se contrair para
mandar o sangue contido em seu interior a regiões Figura 1 - Posição e forma do coração

específicas.
É um órgão ímpar, localizado no centro da cavi- O coração apresenta três camadas: endocárdio (in-
dade torácica, entre os dois pulmões (em uma região ternamente), pericárdio (externamente) e mio-
chamada mediastino). Ele fica posterior ao osso es- cárdio (entre as anteriores). O endocárdio forra as
terno e às cartilagens costais, anterior às vértebras cavidades e as válvulas do coração. O pericárdio,
torácicas e superior ao músculo diafragma. constituído por tecido conjuntivo fibroso e subdivi-
A sua constituição é predominantemente mus- dido em pericárdio fibroso e seroso, tem por função
cular e ele é oco. Apresenta 12 cm de comprimento, fixar e proteger o coração. O miocárdio é o tecido
9 de largura e 6 de espessura, e pesa 250 gramas nas muscular estriado cardíaco e a sua espessura varia
mulheres e 300 gramas nos homens. Tem forma de de acordo com a câmara cardíaca avaliada. Assim, é
uma pirâmide, com o ápice apontando para baixo mais fino nos átrios e mais espesso nos ventrículos.
e para a esquerda, e a base apontando para cima e Dele emergem os septos cardíacos, os músculos pec-
para a direita. Os principais vasos sanguíneos que tíneos e os músculos papilares pelos quais as cordas
chegam e saem do coração o fazem pela base do ór- tendíneas se prendem (TORTORA; DERRICKSON;
gão (DI DIO, 2002). WERNECK, 2010).

17
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Os septos cardíacos dividem o coração em qua- O sangue circula entre as câmaras cardíacas, passan-
tro câmaras cardíacas. Os átrios são superiores e do por orifícios chamados óstios, os quais apresen-
menores; os ventrículos são inferiores e maiores. Na tam dispositivos orientadores da corrente sanguínea,
face anterior dos átrios estão localizadas as aurícu- chamados valvas cardíacas. As principais são as val-
las, cuja função é aumentar ligeiramente a capacida- vas atrioventricular direita, atrioventricular esquer-
de de armazenamento de sangue do órgão. da, valva do tronco pulmonar e valva da aorta. Tais
O septo atrioventricular é horizontal e divide o estruturas, por sua vez, são constituídas por lâminas
coração em parte superior e inferior. Os septos in- de tecido conjuntivo chamadas válvulas, folhetos ou
teratrial e interventricular são verticais e dividem, cúspides. Elas impedem o refluxo de sangue e se não
respectivamente, os átrios e os ventrículos direitos e estiverem em perfeito funcionamento, podem de-
esquerdos. A face externa do coração apresenta uma sencadear sopro cardíaco (WATANABE, 2000).
quantidade variável de gordura e de sulcos que mar-
Valva átrioventricular Valva átrioventricular
cam o limite externo entre estas câmaras cardíacas. direita esquerda
É importante destacar que o treinamento físi-
co pode modificar a espessura do miocárdio, assim
como as doenças podem alterar a sua estrutura exi-
gindo, inclusive, transplante cardíaco (DÂNGELO;
FATTINI, 2011).

Músculos papilares
Septo interventricular
Cordas tendíneas
Figura 3 – Valvas cardíacas, músculos papilares e cordas tendíneas

Figura 2 – Coração em corte coronal

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EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS pulmonares e é lançado no ventrículo esquerdo. A


segunda é chamada de grande circulação, ou cir-
Bulhas cardíacas e sopro culação sistêmica, e tem por objetivo distribuir o
O barulho característico do coração (“tum-tá, sangue oxigenado e rico em nutrientes ao corpo e
tum-tá, tum-tá”...) ocorre devido aos fecha- dele remover o CO2 e os produtos residuais. Para
mentos consecutivos das valvas do coração.
Durante a sístole, os ventrículos se contraem tanto, o sangue sai do ventrículo esquerdo pela ar-
comprimindo o sangue que, devido à pressão téria aorta, se dirige aos tecidos do corpo e retorna
no ventrículo, tende a refluir do ventrículo ao coração pelas veias cavas que desembocam no
para o átrio. Assim, o sangue turbilhona-se
contra as valvas atrioventriculares, as quais se átrio direito do coração, de onde o sangue é dirigido
fecham fortemente para impedir tal refluxo. O ao ventrículo direito (TORTORA; DERRICKSON;
fechamento dessas valvas gera uma vibração, WERNECK, 2010).
que é convertida em som pela caixa torácica.
Este som é chamado de primeira bulha car-
Em rosa, notar a circulação de sangue arterial
díaca (é o “tum”). No entanto os ventrículos na grande circulação ou circulação sistêmica
continuam a se contrair até que a pressão
em seu interior seja maior do que a pressão
dentro do tronco pulmonar e da artéria aorta.
Isto faz com que as valvas semilunares pul-
monares e aórticas se abram. À medida que
o sangue vai saindo dos ventrículos para as
artérias, elas se distendem para acomodar
o sangue, e isto aumenta a pressão dentro
delas ao mesmo tempo em que diminui a
pressão no ventrículo. Então, para impedir
que o sangue reflua das artérias para o ven-
trículo, ocorre o forte fechamento das valvas
semilunares. Este fechamento gera a segunda
bulha cardíaca (é o som do “tá”).

Fonte: Pazin-Filho, Schmidt e Maciel (2004).

A circulação do sangue (ou seja, sua passagem


pelo coração e vasos sanguíneos) se faz por meio
de duas correntes que partem ao mesmo tempo do
coração. A primeira é chamada de pequena circu-
lação, ou circulação pulmonar, e tem por objeti-
vo oxigenar o sangue. Para tanto, o sangue sai do
ventrículo direito pelo tronco pulmonar e se diri- Em azul, notar a circulação de sangue venoso
ge aos pulmões, onde ocorre a hematose. O san- na pequena circulação ou circulação pulmonar
gue oxigenado volta ao átrio esquerdo pelas veias Figura 4 – Tipos de circulação

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ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

A inervação do coração é diferente daquela em ou- camada de células que possibilitam o deslizamento
tros órgãos do corpo, uma vez que ela se dá por duas do sangue (FREITAS, 2004).
maneiras: pela inervação extrínseca e pela inervação Os vasos sanguíneos apresentam particularidades
intrínseca. A inervação extrínseca é realizada pelo estruturais diretamente relacionadas às funções que
sistema nervoso autônomo (SNA) por meio de seus desempenham na mecânica circulatória. Grande par-
componentes simpáticos (que lhe causam taquicar- te destas diferenças se devem ao fato de que o sangue
dia) e parassimpáticos (que lhe causam bradicardia). que circula pelas artérias transita com maior pressão
Essa inervação é necessária às demandas do dia a do que o sangue que circula no sistema venoso. As
dia, pois, por ela, o SNA possibilita ao coração adap- veias, por exemplo, têm paredes mais finas e maior luz
tações e reações conforme ocorrem modificações do (ou seja, o espaço para o sangue circular é maior) por
ambiente (WATANABE, 2000). que por elas deve retornar ao coração o mesmo volu-
A inervação intrínseca (sistema de condução do me de sangue que saiu pelas artérias. Na circulação
coração ou complexo estimulante do coração) não é venosa, todavia, a pressão é praticamente irrelevante,
feita por elementos nervosos, e sim, por fibras mus- e o retorno venoso ocorre de modo passivo, ou seja,
culares cardíacas especiais que formam o tecido no- sem um órgão análogo ao coração para mandá-lo de
dal capaz de gerar impulsos eletroquímicos que, por volta para bombeá-lo contra a ação da gravidade.
sua vez, se propagam pelo coração, causando a con- As artérias são tubos cilíndricos, elásticos, de
tração deste. Esta inervação é considerada o marca- direção centrífuga (pois levam sangue para fora do
-passo do coração. coração) e responsáveis por transportar sangue rico
É interessante salientar que a atividade elétrica do em O2 e nutrientes para as células. Todavia as artérias
coração gera uma corrente elétrica que pode ser de- pulmonares representam uma exceção, pois condu-
tectada na superfície do corpo e registrada pelo ele- zem sangue venoso aos pulmões (DI DIO, 2002).
trocardiograma (ECG). Alterações neste exame po- São menos numerosas do que as veias, têm pul-
dem diagnosticar doenças cardíacas. Estas doenças sação, normalmente são mais profundas para fica-
também podem ser previamente identificadas por rem protegidas e evitar que uma ruptura cause um
meio da aplicação de um teste de esforço, avaliando, fluxo ininterrupto de sangue ou uma hemorragia.
assim, a resposta do coração ao exercício físico. No entanto podem apresentar parte do seu trajeto
superficialmente (como a artéria radial).
Vasos sanguíneos Podem ser acompanhadas por veias satélites, se
As artérias, as veias e os capilares possibilitam o comunicar entre si por anastomoses e se ramificar
transporte de sangue pelo corpo e, por isto, cons- emitindo ramos terminais (quando a artéria deixa
tituem os vasos sanguíneos. Artérias e veias têm de existir) ou ramos colaterais (quando a artéria
suas paredes formadas por três camadas sobrepos- continua a existir, mas emite um ramo com direção
tas. A mais externa, chamada de túnica adventícia, oblíqua ou a 90º; quando o ramo forma um ângulo
dá resistência ao vaso; a média apresenta músculo obtuso, é chamado de ramo recorrente). Assim, as
liso, possibilitando vasoconstrição e vasodilatação; artérias, geralmente, começam de grande calibre e
a túnica íntima (ou endotélio) é formada por uma diminuem de diâmetro à medida que se ramificam.

20
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os capilares sanguíneos têm diâmetro microscó- xo do sangue e o leito venoso é praticamente o do-
pico e ligam as arteríolas às vênulas. As suas paredes bro do leito arterial. Vale lembrar que veias, artérias
são muito delgadas e, por isso, permitem a passagem e nervos se unem formando feixes vásculo-nervosos
de substâncias através de suas paredes, ou seja, per- (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
mitem trocas entre sangue e tecido por meio do lí-
quido intersticial (microcirculação), sendo, por isso,
conhecidos como vasos de troca.
Os capilares apresentam vasomotricidade, ou
seja, fazem vasodilatação e vasoconstrição de ma-
neira influenciada por substâncias químicas libe-
radas pelas células endoteliais (óxido nítrico, por
exemplo). São considerados os vasos mais numero-
sos do corpo, mas dependendo da atividade meta-
bólica do tecido, pode haver mais deles ou menos.
Assim, nos músculos, no fígado, nos rins e no SNC,
os quais têm alta atividade metabólica, há mais ca-
Figura 5 – Diferenças entre artérias e veias
pilares do que nos tendões e ligamentos. Ademais,
eles podem apresentar poros (sendo chamados de
SAIBA MAIS
fenestrados), podem ter interrupções em suas pare-
des (sendo chamados de sinusoides) ou podem ter
parede sem poros ou interrupções (sendo chamados O sangue não se distribui igualmente a todos
de contínuos) (TORTORA; DERRICKSON; WER- os órgãos do corpo, pois o fluxo sanguíneo
depende da demanda funcional. Desta for-
NECK, 2010). ma, em repouso, a maior parte do volume de
As veias conduzem o sangue em direção centrí- sangue (64%) permanece nas veias e vênulas
peta, ou seja, por elas o sangue chega ao coração. Ex- sistêmicas. As artérias sistêmicas têm 13%, os
capilares sanguíneos têm 7%, os vasos pulmo-
ceto pelas veias pulmonares, que conduzem sangue nares, 9% e o coração, 7%. Todavia este estado
arterial para o coração, as demais fazem a drenagem pode ser totalmente alterado em condições
(ou retorno venoso) coletando sangue rico em CO2 específicas, como exercício físico e estresse.
Como visto, veias e vênulas sistêmicas atuam
e metabólitos dos tecidos. como reservatório de sangue a partir do qual
Estes vasos não têm pulsação, normalmente são este sangue pode ser rapidamente redirecio-
menos espessos do que as artérias e, por isso, não re- nado em casos, por exemplo, de hemorragia
ou de atividade muscular intensa. Para tanto,
sistem a pressões muito altas e tendem a colabar (as ocorre venoconstrição para ajudar a contraba-
suas finas paredes ficam aderidas). As veias podem lancear a queda na pressão arterial. As prin-
ser superficiais ou profundas, as quais se comunicam cipais veias e vênulas do corpo que realizam
tal função são as do fígado, do baço e da pele.
por meio das veias comunicantes ou perfurantes. O
calibre das veias pode aumentar gradativamente, Fonte: Moore et al. (2014).

elas podem apresentar válvulas para impedir o reflu-

21
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Principais vasos sanguíneos do corpo via direita. As artérias carótida comum esquerda
Coração e subclávia esquerda surgem do próprio arco da
De maneira geral, o coração é irrigado pelas artérias aorta. As artérias carótidas comuns se bifurcam em
coronárias, ramos da parte ascendente da artéria artéria carótida interna (que entra no crânio irri-
aorta. Geralmente, a coronária esquerda é mais ca- gando estruturas como a retina e o encéfalo) e arté-
librosa e tem maior área de distribuição de sangue. ria carótida externa (que irriga estruturas da face e
A drenagem do coração é feita por várias veias do couro cabeludo). A região posterior do encéfalo
cardíacas que se abrem no seio coronário (a prin- é irrigada pelas artérias vertebrais (ramos das arté-
cipal veia do coração), o qual desemboca no átrio rias subclávias).
direito (WATANABE, 2000). O retorno venoso da cabeça e do pescoço depen-
de dos seios venosos da dura-máter e de veias su-
Cabeça e pescoço perficiais que desembocam na veia jugular interna.
A vascularização da cabeça e do pescoço depende Esta veia se une à veia subclávia, formando a veia
das artérias carótidas comuns e subclávias, as quais braquiocefálica. As veias braquiocefálicas direita e
se originam do arco da aorta. O tronco braquio- esquerda se anastomosam formando a veia cava su-
cefálico (localizado à direita desse arco) emite a perior que, por sua vez, desemboca no átrio direito
artéria carótida comum direita e a artéria subclá- do coração (DANGELO; FATTINI, 2011).

Figura 6 – Vascularização venosa da cabeça e do pescoço.

22
EDUCAÇÃO FÍSICA

Tórax intercostais posteriores. As artérias subclávia e axilar


A irrigação do tórax é feita pela parte torácica da ar- também participam da irrigação da parede torácica.
téria aorta por meio de ramos viscerais e parietais, A drenagem do tórax é feita por várias veias que
como as artérias esofágicas, pericárdicas, medias- drenam para a veia ázigo, a qual conduz sangue ve-
tinais, bronquiais, frênicas superiores, subcostais e noso até a veia cava superior (MOORE et al., 2014).

Figura 7 – Vascularização arterial da cabeça e do pescoço

Abdome
A irrigação do abdome é feita pela parte abdominal prarrenais médias, renais, gonadais e ilíacas comuns.
da artéria aorta que emite ramos viscerais e parietais, Estas últimas se ramificam em artérias ilíacas externas
como as artérias epigástrica superficial, epigástrica in- (que vão aos membros inferiores) e ilíacas internas
ferior, musculofrênica, 10ª e 11ª artérias intercostais (que irrigam bexiga urinária, útero e próstata).
posteriores, subcostal, circunflexa ilíaca profunda, cir- A drenagem venosa das vísceras abdominais é
cunflexa ilíaca superficial, frênicas inferiores, tronco feita, principalmente, pela veia porta e pela veia cava
celíaco, mesentérica superior, mesentérica inferior, su- inferior (DI DIO, 2002).

23
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Pelve
A parede e vísceras da pelve são irrigadas pela arté- Veias profundas e superficiais drenam o membro
ria ilíaca interna. As principais artérias da pelve são superior. Por exemplo, as veias cefálica, basílica, ra-
umbilical, obturatória, sacral mediana, retal supe- dial e ulnar. Por fim, e como já visto anteriormente,
rior, gonadal, do ducto deferente, ramos prostáticos, as veias subclávias se unem às jugulares formando as
vesical superior e inferior e uterina. veias braquiocefálicas, as quais se unem formando
Os plexos venosos pélvicos são formados por a veia cava superior (TORTORA; DERRICKSON;
veias que circundam as vísceras pélvicas (plexo re- WERNECK, 2010).
tal, vesical, prostático, uterino, vaginal). As veias
iliolombares, sacral mediana e sacrais laterais tam- Membro inferior
bém são importantes nesta drenagem. Em última Os membros inferiores são irrigados pelas artérias
instância, as veias ilíacas interna e externa se unem ilíacas externas, as quais atravessam o ligamento
na pelve para formar a veia ilíaca comum. As veias inguinal e passam a ser chamadas de artérias femo-
ilíacas comuns direita e esquerda se anastomosam rais. Estas passam à região poplítea (posterior ao
formando a veia cava inferior, que recebe outras joelho) e recebem o nome de artérias poplíteas, as
tributárias e desemboca no átrio direito do coração quais se bifurcam em artérias tibial anterior, tibial
(FREITAS, 2004). posterior e fibular.
Veias profundas e superficiais drenam o membro
Membro superior inferior, como as veias tibial anterior, tibial poste-
Os membros superiores são irrigados pelas arté- rior, fibular, safena magna e safena parva. Em última
rias subclávias, as quais, na região axilar, passam a instância, drenam para a veia femoral, atravessam o
ser chamadas de artérias axilares, e no braço, são ligamento inguinal e passam a ser chamadas de veias
chamadas de artérias braquiais. As braquiais se ilíacas externas. Estas se unem às veias ilíacas inter-
ramificam em artérias ulnar e radial (na altura da nas formando as veias ilíacas comuns, as quais se
fossa cubital). unem formando a veia cava inferior (DI DIO, 2002).

24
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 8 – Ilustração esquemática das principais veias

25
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 9 – As principais artérias do corpo humano


Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 164-165).

26
EDUCAÇÃO FÍSICA

CURIOSIDADES

O retorno venoso dos membros inferiores ocorre


contra a ação da gravidade. É possibilitado por fato-
res como o gradiente de pressão entre a cavidade to-
rácica e a abdominal durante a respiração, a ação de
“esponja venosa” das plantas dos pés, a ação massa-
geadora dos músculos do membro inferior sobre os
vasos e a pulsação das artérias adjacentes, transmi-
tindo o pulso para a parede da veia acompanhante
(veia satélite). Além disso, as veias dos membros in-
feriores têm válvulas que ajudam no direcionamento
do sangue. No entanto permanecer em pé por muito
tempo pode fazer com que o sangue se acumule nas
veias, causando dilatação, insuficiência valvular e
varizes. Tal fato faz com que haja refluxo do sangue,
estase sanguínea e edema.
A ressuscitação cardiopulmonar (compressão
cardíaca associada à ventilação artificial dos pul-
mões) é útil para manter o sangue oxigenado até que
o coração volte a bater. Isto porque o coração fica
posicionado entre a coluna vertebral e o osso ester-
no, ou seja, duas estruturas rígidas que podem ser
comprimidas, ajudando o coração a bombear san-
gue para a circulação sistêmica (FREITAS, 2004).
O envelhecimento altera progressivamente o sis-
tema circulatório gerando, por exemplo, a diminui-
ção no tamanho das fibras musculares cardíacas, a
perda de força muscular do coração, a redução da
frequência cardíaca máxima, o aumento da pressão
sistólica e a diminuição da complacência arterial. O
exercício físico tem sido apontado como capaz de
minimizar tais ocorrências e, por isto, ele é mun-
dialmente visto como uma das melhoras formas de
prevenção às doenças cardiocirculatórias.

27
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Circulatório
Linfático

28
EDUCAÇÃO FÍSICA

Como visto anteriormente, o sistema linfático per-


tence ao sistema circulatório. O que o diferencia do
sistema circulatório sanguíneo é o fato de que a linfa
é o líquido circulante no sistema linfático enquanto
o sangue é o líquido circulante no sistema sanguí-
neo. Como o sistema sanguíneo foi estudado na aula
anterior, a presente aula enfatizará os componentes,
as funções e os principais detalhes do sistema circu-
latório linfático.

DEFINIÇÃO

O sistema linfático auxilia o sistema venoso a dre-


nar a linfa dos tecidos para a circulação sanguínea.
É constituído por uma vasta rede de vasos (capila-
res, vasos e ductos linfáticos) que se distribuem por
todo o corpo captando líquido tecidual que não re-
tornou aos capilares sanguíneos. Assim, além da
linfa, esse sistema apresenta tecidos e órgãos lin-
foides, como baço, timo, linfonodos e tonsilas, os
quais estão distribuídos por praticamente todo o
corpo (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014; MO-
ORE et al., 2014).

FUNÇÕES

A principal função do sistema linfático é drenar o


excesso de líquido intersticial para os vasos linfá-
ticos mantendo, assim, a homeostasia dos fluidos
do corpo, e também participar ativamente da imu-
nidade corpórea, uma vez que esse sistema está
relacionado à produção e à maturação de células
imunológicas. Figura 10 – Visão geral do sistema linfático

29
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Adicionalmente, o sistema linfático se relaciona permeabilidade do que os capilares sanguíneos


à absorção e ao transporte das gorduras dos alimen- (são fenestrados, pois apresentam espaço entre as
tos por meio dos capilares lácteos, os quais recebem suas células; não têm membrana basal e as bordas
todos os lipídios e vitaminas lipossolúveis absorvi- de suas células endoteliais ficam em posição dife-
dos pelo intestino. Após essa absorção, o quilo (linfa renciada como uma porta vaivém unidirecional).
drenada do intestino delgado com aparência leitosa) Além disso, para garantir um fluxo unidirecional
é conduzido pelos vasos linfáticos viscerais para o da linfa em direção ao capilar sanguíneo, eles ter-
ducto torácico e o sistema venoso. Em outros teci- minam em fundo cego e dispõem de válvulas que
dos, a linfa é um líquido amarelo-claro translúcido os estreitam, dando-lhes o aspecto de “rosário” ou
(DANGELO; FATTINI, 2011). “colar de conta”.
Os capilares linfáticos são abundantes na pele e
COMPONENTES nas mucosas, mas não existem nos dentes, nos ossos,
Linfa na medula óssea vermelha, no sistema nervoso cen-
A linfa é um líquido incolor presente no espaço in- tral, nos tecidos avasculares (cartilagem, epiderme e
tersticial, resultante das trocas entre o sangue dos córnea do bulbo) e no músculo estriado esquelético
capilares e o tecido. Em termos de composição, ela (mas existem no tecido conjuntivo que os envolve).
se parece com o plasma sanguíneo, porém é mais Eles se unem para formar os vasos linfáticos.
rica em água, tem menos proteínas e não tem hemá- Os vasos linfáticos podem ser superficiais ou pro-
cias ou plaquetas. fundos. Os superficiais anastomosam-se livremente e
Como o sistema linfático não dispõe de um ór- drenam para os profundos, que também recebem a
gão central bombeador de linfa (como o coração), drenagem dos órgãos internos. Eles tornam-se pro-
a sua circulação depende dos mesmos mecanismos gressivamente maiores e atravessam os linfonodos
que auxiliam o retorno venoso e, por isto, o seu fluxo antes de desembocar nos troncos linfáticos.
é lento nos períodos de inatividade física, mas au- Os principais troncos linfáticos são: intestinal
menta com o exercício, o peristaltismo e os movi- (recebe linfa dos órgãos abdominais), lombar (drena
mentos respiratórios (TORTORA; DERRICKSON; membros inferiores e alguns órgãos pélvicos), subclá-
WERNECK, 2010). vio (drena membros superiores, parte do tórax e do
dorso), jugular (drena cabeça e pescoço) e broncome-
Capilares, vasos e ductos linfáticos diastinal (drena tórax). Estes troncos drenam para o
Quando a linfa intersticial é recolhida pelos ca- ducto linfático direito ou para o ducto torácico.
pilares linfáticos, ela passa a ser chamada de lin- O ducto linfático direito é um pequeno vaso (1,0
fa circulante. Embora estes capilares sejam os de cm de comprimento) formado pela união dos tron-
menor calibre do sistema linfático, eles são muito cos subclávio, jugular e broncomediastinal direito.
importantes, pois recolhem também diversas mo- Ele desemboca na junção da veias subclávia direita
léculas do líquido intersticial que não retornam aos e jugular interna direita. Já o ducto torácico é maior
capilares sanguíneos (como proteínas, por exem- (45 cm de comprimento) e recebe a linfa dos troncos
plo). Para tanto, são mais calibrosos e têm maior lombares e intestinal, atravessa o músculo diafragma

30
EDUCAÇÃO FÍSICA

e recebe vasos linfáticos que drenam a metade es- Baço


querda do tórax. Também recebe o tronco subclávio
esquerdo e o tronco jugular esquerdo e desemboca
na veia subclávia esquerda. Assim, o ducto torácico
recolhe a linfa de todo o corpo, menos do membro
superior direito e da metade direita da cabeça, do
pescoço e do tórax (que é recolhida pelo ducto lin-
fático direito). Por fim, a linfa é direcionada às veias
e passa a circular junto com o plasma, retornando à
corrente sanguínea (FREITAS, 2004).

Figura 12 - Localização in situ dos órgãos do sistema digestório

O baço é o maior órgão linfoide (10 cm), com forma


elíptica e cor vermelho-escura. Localizado à esquer-
da da cavidade abdominal, fica quase completamen-
te recoberto pelo estômago e é envolto pelo peritô-
nio visceral e por uma cápsula de tecido conjuntivo
fibroso. Internamente, apresenta polpa vermelha
(mais abundante) e branca (por dentro da vermelha,
Figura 11 – Capilares, vasos e ductos linfáticos com grande quantidade de linfócitos e macrófagos).
Ele atua produzindo linfócitos e plasmócitos,
Linfonodos maturando linfócitos B, armazenando plaquetas,
Os linfonodos são pequenas porções de tecido linfoi- destruindo células sanguíneas velhas (hemocatere-
de localizadas ao longo dos vasos linfáticos de todo o se), produzindo células sanguíneas (hemopoiese)
corpo. Eles são envoltos por uma cápsula fibrosa, se e como reservatório de sangue (é capaz de liberar
apresentam em grupos superficial e profundo e atuam cerca de 200 ml para a circulação sistêmica em si-
como órgãos filtradores da linfa antes de esta adentrar tuações de emergência, como uma hemorragia, por
o sistema venoso. Isto porque dentro deles existem exemplo). Normalmente, esse sangue fica na polpa
células imunológicas (como macrófagos e linfócitos) vermelha e é liberado pela contração das células
hábeis em destruir microrganismos, toxinas, células musculares lisas presentes em sua cápsula.
anômalas e partículas estranhas (WATANABE, 2000). Este órgão pode aumentar de tamanho em de-

31
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

corrência de algumas doenças infecciosas (esple- Timo


nomegalia), pode ser rompido devido a traumas O timo é uma massa linfoide envolta por uma cáp-
abdominais, obrigando a realização de sua remo- sula de tecido conjuntivo, localizada, em parte, na
ção cirúrgica (esplenectomia) a fim de evitar san- região inferior do pescoço (anterior e lateralmente à
gramento intraperitoneal e morte por hemorragia. traqueia) e em parte na cavidade torácica (posterior-
Nesta situação em específico, fígado, medula óssea mente ao osso esterno, no mediastino). Linfócitos T
vermelha, linfonodos e tonsilas podem assumir as necessitam dele para amadurecer e, quando madu-
suas funções, embora as funções imunes possam ros, o deixam e são transportados aos linfonodos,
permanecer debilitadas por algum tempo. ao baço e aos outros tecidos linfáticos. Este órgão
Quando se faz exercício físico extenuante sem também produz o hormônio timosina, que estimula
um bom preparo físico, o baço pode causar dor o crescimento de linfócitos nos tecidos linfáticos do
na região lateral esquerda do abdome. Isto porque corpo, atuando, assim, como glândula endócrina.
durante o exercício, ele necessita cumprir várias Embora algumas de suas células continuem a
de suas funções ao mesmo tempo, ou seja, realizar se proliferar durante toda a vida, o timo é maior na
hemocaterese, hemopoiese e liberar sangue extra à infância, pois, gradativamente, é substituído por
circulação periférica para suprir a necessidade dos tecido conjuntivo e gordura, de forma que as suas
músculos em exercício. Todavia a continuidade do funções são assumidas por outros órgãos. Este
exercício muda a constituição do sangue (aumen- fato justifica o pouco conhecimento que a maioria
tando, por exemplo, a quantidade de eritrócitos e das pessoas tem a respeito deste órgão (FREITAS,
otimizando o transporte de O2 para os músculos). 2004).
Respirar intensamente e diminuir a intensidade do
exercício podem ajudar a melhorar o desconforto
(DI DIO, 2002).

Figura 13 – Baço Figura 14 – Timo

32
EDUCAÇÃO FÍSICA

Nódulos linfáticos ao óstio faríngeo da tuba auditiva (tonsila tubária),


Nódulos linfáticos são massas de tecido linfático na raiz da língua (tonsila lingual), na fossa tonsilar
não revestidas por tecido conjuntivo. Enquanto al- (tonsila palatina) e na laringe (tonsila laríngea). O
guns deles são pequenos e solitários, outros formam conjunto destas é conhecido como anel linfático, o
grandes agregações (tonsilas, nódulos linfáticos do qual se relaciona à imunidade, representando a pri-
íleo e do apêndice vermiforme). meira defesa do organismo.
Nos segmentos gastrointestinais, eles são conhe- Quando as tonsilas são ativadas, elas intensi-
cidos como placas de Peyer e podem estar espalhados ficam a produção de anticorpos, ficam dolorosas
pela mucosa que reveste os sistemas genital, digestó- e hipertrofiadas. A hipertrofia da tonsila tubária e
rio, urinário e respiratório. Neste caso, são chama- faríngea, por exemplo, recebe o nome de adenoi-
dos de tecido linfático associado à mucosa (MALT) de e pode dificultar o funcionamento da tuba au-
(TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010). ditiva, da qualidade da voz e da respiração nasal.
Assim, o indivíduo desenvolve respiração bucal e
Tonsilas passa a roncar enquanto dorme. A hipertrofia da
Tonsilas são pequenas massas de tecido linfoide lo- tonsila palatina (popularmente chamada de ami-
calizadas em várias regiões do corpo, por exemplo, dalite) também dificulta a deglutição (WATANA-
na parte nasal da faringe (tonsila faríngea), próximo BE, 2000).

Tonsila
faríngea

Tonsila
palatina

Tonsila
lingual

Figura 15 – Tonsilas

33
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS LINFONODOS DO CORPO


Cabeça
Incluem os linfonodos occipital, mastoideos, pré-auriculares, parotídeos e linfo-
nodos da face (infra-orbitais, mandibulares e bucinatórios) (MOORE et al., 2014).

Figura 16 – Principais linfonodos do corpo humano

34
EDUCAÇÃO FÍSICA

Pescoço mais comum de propagação de sarcomas (tumores


Incluem os linfonodos submandibulares, submen- mais malignos que ocorrem predominantemente no
tuais, cervicais superficiais, cervicais profundos su- fígado e nos pulmões). A disseminação linfática é
periores, cervicais inferiores e cervicais superiores a via mais comum de disseminação de carcinomas
(FREITAS, 2004). (tumores menos malignos).
Quando a metástase ocorre por via linfática,
Tórax os linfonodos cancerosos ficam aumentados, mais
Os linfonodos do tórax podem ser parietais ou vis- firmes, são insensíveis (pouco dolorosos) e fixos às
cerais. Os parietais incluem os linfonodos paraester- estruturas próximas. É importante diferenciar tais
nais, estercostais e frênicos. Os viscerais incluem os alterações daquelas que ocorrem em decorrência de
mediastinais anteriores e posteriores e os traqueo- quadros infecciosos, em que os linfonodos tornam-
bronquiais (MOORE et al., 2014) -se aumentados, no entanto, moles, móveis e muito
dolorosos (MOORE et al., 2014).
Abdome e pelve
Os linfonodos do abdome e da pelve também LINFANGITE, LINFADENITE E LINFEDEMA
podem ser parietais ou viscerais. Os parietais in-
cluem os linfonodos ilíacos comuns, ilíacos ex- Linfangite é caracterizada como a inflamação secun-
ternos e internos, sacrais e lombares. Os viscerais dária dos vasos linfáticos. Linfadenite é a inflamação
incluem os celíacos, mesentéricos e inferiores secundária dos linfonodos (conhecida popularmen-
(FREITAS, 2004). te como íngua). Linfedema é um tipo de edema que
ocorre quando a linfa não é drenada adequadamen-
Membros superiores te (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
Os principais linfonodos dos membros superiores
são os supratrocleares, deltopeitorais e axilares) (DI
DIO, 2002). REFLITA

Membros inferiores
Você sabia que o envelhecimento pode al-
Os principais linfonodos dos membros inferiores terar o funcionamento do sistema linfático?
são os poplíteos, os inguinais superficiais e profun- É comum, por exemplo, que a produção de
dos (DANGELO; FATTINI, 2011). células imunológicas diminua e que a produ-
ção de anticorpos contra o próprio organismo
aumente, fazendo com que haja, respectiva-
DISSEMINAÇÃO DO CÂNCER mente, debilidade imunológica e maior índice
de doenças autoimunes.

Células cancerígenas podem se disseminar pelo cor-


po por proximidade ou por metástase (neste caso,
por meio do sangue ou da circulação linfática). A
disseminação pelo sangue (hematogênica) é a via

35
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Respiratório

36
EDUCAÇÃO FÍSICA

Neste último conteúdo da unidade, o sistema respi-


ratório será abordado de maneira correlacionada aos
sistemas sanguíneo e linfático. Assim, será realizada
uma abordagem bem direcionada referente à sua de-
finição, função e divisão, aos seus componentes e às
suas relações com o exercício físico. Também serão
citadas algumas de suas aplicabilidades práticas. Será
muito bom se você puder realizar a leitura do mate-
rial complementar presente no final da unidade a fim
de enriquecer o seu aprendizado.

DEFINIÇÃO E FUNÇÃO Figura 17 - Sistema respiratório

O sistema respiratório é um conjunto de estruturas


anatômicas as quais, em conjunto, captam o ar do Adicionalmente, as estruturas anatômicas do siste-
meio ambiente e o transportam ao órgão respirató- ma respiratório podem ser agrupadas em via aérea
rio para que a hematose ocorra (o O2 do ar inspirado superior (do nariz à laringe) e via aérea inferior (da
difunde-se dos alvéolos pulmonares para as células, traqueia aos pulmões) (FREITAS, 2004).
e o CO2 resultante do metabolismo celular é trazido
das células aos pulmões para ser eliminado com o ar COMPONENTES
expirado) (DANGELO; FATTINI, 2011). Nariz
Como a primeira estrutura do sistema respiratório, a
DIVISÃO sua função é captar o ar do meio ambiente, filtrá-lo,
As estruturas anatômicas que compõem o sistema aquecê-lo e umidificá-lo. Além disso, o nariz permi-
respiratório podem ser dividas em porção de te o olfato, recebe e elimina as secreções dos seios
condução e porção respiratória. A porção de paranasais e do ducto lacrimonasal.
condução é formada por órgãos tubulares que levam Está localizado no plano mediano da face, aci-
o ar inspirado até a porção respiratória e o trazem ma do palato duro, e é composto por uma parte
de volta para ser expirado. Ela é composta por nariz, externa e pela cavidade nasal. Apresenta estrutura
faringe, laringe, traqueia, brônquios e todas as suas ósteo-cartilagínea, sendo que os seus ossos exter-
ramificações. Já a porção respiratória é representada nos incluem os nasais e as maxilas, e os seus ossos
exclusivamente pelos pulmões, pois é onde ocorrem internos incluem o etmóide, o vômer e as conchas
as trocas gasosas ou hematose. nasais inferiores.

37
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Externamente, o nariz é subdividido em raiz região respiratória (inferiormente) e região olfató-


(superiormente), base (inferiormente), ápice (ponto ria (concha nasal superior e terço superior do septo
projetado mais anteriormente), dorso (entre a raiz e nasal). A cavidade nasal é dividida pelo septo nasal
o ápice), asa (lateralmente) e narinas (aberturas se- em porções direita e esquerda. Este septo apresenta
paradas por um septo que fazem a comunicação da uma parte cartilagínea (cartilagem do septo nasal)
cavidade nasal com o meio externo). e uma parte óssea (formada pelos ossos etmóide
A cavidade nasal pode ser dividida em vestíbu- e vômer). O termo cavidade nasal pode ser usado
lo (anteriormente e com pelos chamados vibrissas), para toda a cavidade ou para cada parte.

Figura 18 – Cavidade nasal


Fonte: Colicigno et al. (2009, p. 172).

38
EDUCAÇÃO FÍSICA

Dentro da cavidade nasal existem as conchas nasais, de timpânica da orelha média. Esta comunicação
que delimitam espaços chamados meatos. Toda esta serve para igualar a pressão do ar atmosférico à
região é muito vascularizada e nela, a ruptura de va- pressão do ar de dentro da cavidade timpânica.
sos pode causar sangramento nasal, também conhe- Também serve para drenar muco e perilinfa dos ca-
cido como epistaxe. nais semicirculares (TORTORA; DERRICKSON;
Os seios paranasais, ou seios da face, desem- WERNECK, 2010).
bocam nos meatos, lançando neles as suas secre-
ções. Esses seios são cavidades que alguns ossos do
crânio (frontal, maxila, esfenoide, etmoide) apre-
sentam e, por isto, são chamados de pneumáticos.
Cada osso pneumático apresenta o seu próprio
seio (seio frontal, seio maxilar, seio esfenoidal e
seio ou células etmoidais). Eles tornam a cabeça
mais leve, estão relacionados à ampliação da voz
e ajudam a aquecer e a umidificar o ar. Os seios
contêm ar e são recobertos por mucosa respirató-
ria (DI DIO, 2002).

Faringe
É uma estrutura músculo-membranácea que se
inicia na base do crânio e termina ao nível da 6ª
vértebra cervical, onde continua com o esôfago e
mantém contato com a coluna vertebral. Como a
faringe fica localizada posteriormente à cavidade
nasal, à cavidade oral e à laringe, ela apresenta três
partes sem limites precisos entre elas: a parte nasal
(que se comunica com a cavidade nasal), a parte
oral (que se comunica com a cavidade oral) e a par-
te laríngea (que se comunica com a laringe). Assim,
a faringe se associa aos sistemas respiratório e di-
gestório, sendo um canal comum à passagem de ar
e alimento. Inclusive, os músculos da faringe apre-
sentam movimentos peristálticos, possibilitando a
deglutição dos alimentos.
Na porção nasal da faringe existe uma aber-
tura chamada óstio faríngeo da tuba auditiva, que
comunica a parte nasal da faringe com a cavida- Figura 19 – Faringe e seus principais acidentes anatômicos

39
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Laringe da laringe durante a deglutição. As suas nove cartila-


A laringe é um órgão que se localiza no plano me- gens são ímpares (como a cartilagem tireoidea, a cri-
diano e anterior do pescoço, à frente da faringe, en- coidea e a epiglótica) ou pares (como a aritenóidea, a
tre a 3ª e a 6ª vértebras cervicais. Ela dá continuidade corniculada e a cuneiforme). A cartilagem tireoidea
à traqueia e serve como via aerífera, permitindo a é a maior delas. Ela é constituída por duas lâminas
passagem do ar da faringe para a traqueia. Além dis- que se unem, formando, assim, a proeminência la-
so, é considerada o órgão da fonação, uma vez que ríngea (popularmente conhecida como “gogó” ou
dentro dela estão as pregas vocais. “pomo-de-Adão”). A cartilagem epiglótica lembra
Ela é constituída por cartilagens, ligamentos, uma folha e protege a entrada da laringe contra a
membranas e músculos estriados esqueléticos que entrada de alimentos durante a deglutição (WATA-
atuam sobre as pregas vocais ou na movimentação NABE, 2000).

SISTEMA RESPIRATÓRIO HUMANO

Figura 20 – Sistema Respiratório Humano

40
EDUCAÇÃO FÍSICA

Traqueia Antes de se dividir nos brônquios principais


A traqueia é uma estrutura mediana no pescoço direito e esquerdo, a traqueia sofre um leve des-
que representa a continuação direta da laringe. A vio à direita, fazendo com que o brônquio prin-
sua função é servir como via aerífera, conduzindo cipal esquerdo seja mais longo do que o direito.
ar da laringe até os brônquios principais. Ela inicia No ponto de sua bifurcação, a traqueia apresenta
na região cervical, mas segue em direção ao tórax, uma crista interna chamada carina. Internamen-
passando anteriormente ao esôfago. te, este órgão é revestido por mucosa e apresenta
A sua estrutura cilíndrica é fibrocartilagínea células ciliadas que auxiliam na limpeza das vias
(anéis incompletos de cartilagem em forma de “C” aéreas. O cigarro faz com que as células ciliadas
se sobrepõem e se ligam por meio dos ligamentos percam a mobilidade de seus cílios e que as glân-
anulares). Enquanto tais anéis lhe dão rigidez e im- dulas traqueais se tornem hiperativas e passem
pedem que as suas paredes colabam, o seu tecido a secretar muco em excesso. Por isso, fumantes
elástico lhe possibilita a mobilidade e a flexibilidade crônicos têm muita secreção e dificuldade em fa-
necessárias à respiração e à deglutição. A sua pare- zer a boa higiene traqueobrônquica (DANGELO;
de posterior (parede membranácea) é formada por FATTINI, 2011).
músculo liso (músculo traqueal) e tecido conjuntivo.

Figura 21 – Traqueia, brônquios e pulmões

41
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Brônquios mediastinal (voltada ao mediastino e com uma


Os brônquios possuem estruturas e funcionamen- abertura chamada hilo pulmonar, por onde entram
to semelhantes à traqueia, porém ao invés de anéis e saem estruturas como brônquios, artérias, veias e
cartilagíneos, eles apresentam placas irregulares vasos linfáticos).
de cartilagem. O pulmão direito é maior, mais pesado, mais
Após a sua origem, são chamados de brônquios curto e mais largo do que o esquerdo devido à po-
principais. As suas primeiras ramificações são os sição do coração (o pulmão esquerdo chega a ser
brônquios lobares (os quais ventilam os lobos pul- 10% menor do que o direito). Além disso, o pulmão
monares) e depois os brônquios segmentares (que direito apresenta três subdivisões chamadas lobos
vão até os segmentos broncopulmonares, sofrem (superior, médio e inferior) enquanto o esquerdo
várias divisões e terminam nos alvéolos, formando apresenta apenas duas (lobo superior e inferior). A
a árvore brônquica). O brônquio principal direito é separação dos lobos pulmonares ocorre por fendas
mais vertical, mais calibroso e mais curto do que o profundas chamadas fissuras (no pulmão direito
esquerdo, de forma que ele é mais facilmente obstru- existem as fissuras oblíqua e horizontal, e no pulmão
ído por corpos estranhos que passam pela traqueia esquerdo existe apenas a fissura oblíqua). Por fim, o
(MOORE et al., 2014). pulmão esquerdo apresenta uma projeção chamada
língula do pulmão (DI DIO, 2002).
Pulmão
Os pulmões são os principais órgãos da respiração,
pois é dentro deles que ocorre a hematose. In vivo,
são esponjosos, macios, leves e elásticos. Ao nasci-
mento, são rosados, embora se tornem acinzentados
e com manchas devido à inalação de diversas partí-
culas durante a vida.
Eles ficam alojados na cavidade torácica e en-
tre eles há uma região central chamada mediastino,
onde se localizam importantes estruturas anatômi-
cas, como o coração e os seus grandes vasos, a tra-
quéia,o esôfago, o timo, os brônquios principais etc.
Este órgão tem forma cônica, com uma região
superior chamada ápice e uma região inferior cha-
mada base (como esta se apoia sobre o múscu-
lo diafragma, pode também ser chamada de face
diafragmática). Além dessa, o pulmão tem a face
costal (em contato com as costelas) e a medial ou Figura 22 – Pulmão direito e esquerdo

42
EDUCAÇÃO FÍSICA

Pleura e cavidade pleural tórax e o músculo diafragma. Ambas são contínuas


Pleura é um saco seroso que reveste os pulmões. entre si por meio de um espaço chamado cavida-
É constituída por dois folhetos, a pleura pulmonar de pleural, onde existe uma pequena quantidade
ou visceral e a pleura parietal. A primeira reveste de líquido que permite o deslizamento entre elas
a superfície do pulmão, penetrando, inclusive, as durante os movimentos respiratórios (MOORE et
suas fissuras. A segunda recobre a face interna do al., 2014).

Figura 23 – Pleuras e cavidade pleural

43
ANATOMIA HUMANA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

MECÂNICA RESPIRATÓRIA

Para que a respiração normal em repouso ocorra, a


contração do músculo diafragma é a única necessá-
ria. Ele se contrai, se projeta em direção à cavidade
abdominal comprimindo as vísceras ali localizadas e
aumentando a pressão nesta região. Por outro lado, a
pressão no tórax diminui, fazendo com que o ar en-
tre, a favor do gradiente de pressão, do meio externo
(onde é maior a pressão) para a cavidade torácica
(onde a pressão é menor). Assim ocorre a inspira-
ção. A expiração normal ocorre na sequência e não
necessita da contração de nenhum músculo respira- Figura 24 – Principais músculos da respiração

tório, pois a própria elasticidade do tecido pulmonar


faz com que o ar saia quando a pressão interna e ex-
SAIBA MAIS
terna se igualarem.
Se a inspiração ou a expiração forem forçadas
(por exemplo, em exercício físico intenso ou em Os problemas respiratórios são responsáveis
pela má qualidade de vida de muitas pessoas
caso de doença respiratória), vários outros músculos no mundo (no Brasil, estima-se que um em
passam a agir, como os intercostais externos e alguns cada cinco brasileiros possui alguma doença
músculos do pescoço, a exemplo do esternocleido- respiratória). Dentre as mais comuns estão
a asma alérgica, a bronquite crônica, a rinite
mastoideo e dos escalenos (ajudando na inspiração) e o enfisema pulmonar. Embora a maioria
e dos músculos intercostais internos e dos abdomi- das pessoas com disfunção respiratória pen-
nais (ajudando na expiração). se que não pode fazer exercícios físicos, o
exercício supervisionado e bem orientado
O sistema nervoso (controle nervoso) e os es- ajuda a diminuir o cansaço, a indisposição e
tímulos químicos (controle químico) controlam a fadiga. Desta forma, a adoção de um estilo
a mecânica respiratória. O controle nervoso de- de vida mais ativo é importante para evitar o
agravamento dessas doenças.
pende da medula espinal e do tronco encefálico;
o controle químico se baseia na concentração dos Fonte: a autora.

gases O2 e CO2. Assim, modificações sobre a fre-


quência e o volume respiratório são responsáveis
por ajustes essenciais da mecânica respiratória Assim finalizamos o nosso estudo sobre o sistema
que, por sua vez, depende das condições do in- respiratório em termos anatômicos e funcionais.
divíduo (como temperatura ambiental, esforço Lembre-se de que sua atuação é essencial ao fun-
físico e doenças) (TORTORA; DERRICKSON; cionamento do corpo como um todo e determina a
WERNECK, 2010). efetividade da prática do exercício físico.

44
considerações finais

A manutenção das adequadas oxigenação e nutrição tecidual, e a drenagem efe-


tiva das células dependem do funcionamento do sistema circulatório em atuação
conjunta com o sistema respiratório e sob o rigoroso controle do sistema nervoso.
Embora tais sistemas possam ser acometidos por diversas doenças, pesquisas
têm comprovado que a prática de exercícios físicos específicos e supervisiona-
dos têm minimizado os danos morfofuncionais que esses sistemas podem sofrer
em decorrência da inatividade física. Todavia é essencial que os profissionais di-
retamente ligados ao condicionamento físico desses sistemas ( por exemplo, o
profissional de Educação Física e o fisioterapeuta) tenham pleno conhecimento
histológico, anatômico e fisiológico a fim de prevenir e tratar disfunções incapa-
citantes desses sistemas.
Ademais, faz-se necessário que tais profissionais tenham total conhecimento
acerca das modificações que o exercício físico é capaz de gerar sobre tais estrutu-
ras. O coração é um bom exemplo de órgão que pode ser modificado pelo treina-
mento. Ele se fortalece, aumenta a sua força de contração, ejeta maior quantidade
de sangue a cada batimento cardíaco (aumenta o volume de ejeção), podendo, in-
clusive, bater menos vezes por minuto mantendo a mesma quantidade de sangue
ejetado (atletas, por exemplo, têm menor frequência cardíaca e maior volume de
ejeção). Ao contrário, pessoas sedentárias têm elevada frequência cardíaca para
manter o volume de ejeção, pois o miocárdio é menos forte.
O exercício físico também está relacionado às modificações que ocorrem no
funcionamento do sistema linfático. Os movimentos e as contrações musculares
estimulam a circulação da linfa, ao passo que esta é lentificada pelo imobilismo.
Por isso, as contrações musculares são ditas auxiliares da drenagem linfática e
favorecedoras da homeostasia corpórea.
O sistema respiratório é grandemente otimizado pela prática regular do exer-
cício. Tal fato pode ser visto ao se comparar atletas e indivíduos sedentários no
que se refere aos volumes e às capacidades pulmonares, os quais são avaliados
por um exame chamado espirometria. Neste exame, é possível mensurar as quan-
tidades de ar que entram e saem dos pulmões a cada inspiração e/ou expiração
normais ou forçadas. Além disso, todos os músculos respiratórios são fortaleci-
dos pelo exercício físico. Portanto, um(a) bom(a) professor(a) de Educação Física
deve conhecer em profundidade o aparelho cardiorrespiratório.

45
atividades de estudo

1. Em relação ao sistema circulatório, leia as afirma- 2. O sistema respiratório é essencial à manutenção


ções a seguir: da vida e, por isso, conta com estruturas especia-
I) A irrigação do membro superior depen- lizadas responsáveis pelas funções de condução
de das artérias carótidas comuns direita do ar e de trocas gasosas. Com base nesta afir-
e esquerda. mação, leia as afirmações a seguir:
II) A irrigação do membro inferior depende I - É prática relativamente comum a nível
da artéria aorta (parte descendente abdo- hospitalar a realização de traqueostomia
minal), a qual se bifurca originando a arté- em pacientes que apresentem importante
ria ilíaca comum (direita e esquerda). As condição clínica impossibilitadora da res-
artérias ilíacas comuns se ramificam origi- piração (o edema de glote é um exemplo).
nando as artérias ilíacas externa e interna. Em caso de traqueostomizar o paciente,
A externa passa o ligamento inguinal e, na um dos problemas que este apresenta é a
coxa, passa a ser chamada de femoral. Na impossibilidade de fonação em decorrên-
altura da fossa poplítea, recebe o nome de cia das pregas vocais serem seccionadas
artéria poplítea, a qual se bifurca em tibial durante o procedimento cirúrgico.
anterior, tibial posterior e fibular. Tais arté- II - As tonsilas linguais, faríngeas, palatinas,
rias irrigam todo o membro inferior (inclu- tubárias e laríngeas têm por função pro-
sive os pés). duzir anticorpos para proteger o corpo
III) Na grande circulação, o sangue sai do ven- contra microrganismos que possam cau-
trículo esquerdo pela artéria aorta e transi- sar malefícios. Juntas, elas formam o anel
ta pelo corpo oxigenando todas as células. linfático, uma importante estrutura do
Em contrapartida, capilares teciduais cap- sistema linfático, que se posiciona próxi-
tam o CO2 produzido pelo metabolismo mo às cavidades nasal e oral, e à farínge
das células, se anastomosam, originam e à laringe.
vênulas e veias de calibre cada vez maior III - Em ordem, as estruturas anatômicas que
até retornarem ao átrio direito do coração o ar percorre dentro do sistema respira-
pelas veias cavas superior e inferior. tório são: vestíbulo do nariz, cavidade na-
IV) O vaso que mantém relação com o ventrí- sal, laringe, faringe, traqueia, brônquios
culo esquerdo do coração é o tronco pul- principais, brônquios segmentares, brô-
monar. Já o vaso que mantém relação com nquios lobares, bronquíolos e alvéolos
o ventrículo direito do coração é a artéria pulmonares.
aorta. IV - As pleuras revestem e protegem os pul-
V) A irrigação da cabeça depende das artérias mões. Enquanto a pleura pulmonar é mais
subclávias direita e esquerda. externa e mantém contato com a parede
do tórax, a pleura parietal fica bastante
É correto o que se afirma em: aderida ao parênquima pulmonar, pene-
a) I e II, apenas. trando, inclusive, as fissuras do pulmão.
b) I e IV, apenas. V - O pulmão direito é maior do que o pulmão
esquerdo.
c) II e III, apenas.
d) II e V, apenas.
e) III e IV, apenas.

46
atividades de estudo

É correto o que se afirma em: 4. O sistema linfático é auxiliar do sistema venoso,


a) I e II, apenas. uma vez que ambos realizam a drenagem celu-
lar. Com base nesta afirmação, leia as afirmações
b) I e IV, apenas. a seguir:
c) II e III, apenas. I - O pulmão direito apresenta apenas dois
d) II e V, apenas. lobos e uma única fissura.

e) IV e V, apenas. II - Ao contrário do proposto anteriormente,


o pulmão esquerdo apresenta apenas
3. O sistema circulatório depende da ação de bom- dois lobos e uma única fissura.
ba do coração e da capacidade dos vasos em III - Os linfonodos são estruturas de filtragem
conduzir sangue arterial e venoso pelo corpo. da linfa. Eles dispõem de células imuno-
Assim, artérias e veias participam da grande e da lógicas (como os linfócitos), as quais são
pequena circulação. Com base nesta afirmação, capazes de destruir microrganismos,
leia as afirmações a seguir: células anômalas ou mesmo moléculas
I - A pequena circulação manda sangue aos grandes e inúteis.
pulmões a fim de possibilitar a hematose. IV - Apesar de existir poucos vasos linfáti-
II - As principais artérias que irrigam o cora- cos dispersos pelo corpo, eles são muito
ção são as coronárias (direita e esquerda). abundantes nos ossos e nas cartilagens.

III - A principal veia que drena a cabeça e o V - O ducto linfático direito e o ducto torácico
pescoço é a veia subclávia. drenam a linfa para as principais artérias
que chegam ao coração. Assim, o sistema
IV - Os átrios são as maiores câmaras cardí- linfático auxilia a irrigação que o sistema
acas. A sua função é ejetar sangue para arterial realiza.
fora do coração e, por isso, são chamados
de câmaras de ejeção. É correto o que se afirma em:

V - A pequena circulação tem por objetivo a) I e II, apenas.


oxigenar e nutrir as células do corpo e b) I e IV, apenas.
delas remover todo o gás carbônico e as
impurezas. c) II e III, apenas.

É correto o que se afirma em: d) II e V, apenas.

a) I e II, apenas. e) III e V, apenas.

b) I e IV, apenas.
c) II e III, apenas.
d) II e V, apenas.
e) III e IV, apenas.

47
atividades de estudo

5. Observe a imagem a seguir, leia as afirmações e


assinale a alternativa que contém as proposições
corretas:

a) A região representada pelo número 1 é


responsável pelo olfato.
b) O número 2 representa a parte laríngea da
faringe.
c) O número 3 representa a faringe.
d) O número 4 representa o brônquio princi-
pal esquerdo.
e) O número 5 representa o brônquio princi-
pal direito.

48
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo a seguir que trata da influência do exercício físico sobre os parâmetros respi-
ratórios de pacientes submetidos à hemodiálise.
RESUMO
Modelo do estudo: Estudo experimental. Introdução: A Doença Renal Crônica (DRC) refere-se
a um diagnóstico sindrômico de perda progressiva e irreversível da função renal. O paciente
submetido à hemodiálise pode apresentar limitações na capacidade funcional, função pulmo-
nar e força muscular respiratória, com consequentes prejuízos na qualidade de vida.
Objetivo: Avaliar os efeitos de um programa de exercício físico sobre a função pulmonar,
capacidade funcional, qualidade de vida e dor, em pacientes que realizam hemodiálise.
Metodologia: Participaram do estudo 28 pacientes de ambos os sexos, com idade entre 40
e 60 anos, em programa de hemodiálise no Instituto do Rim da Santa Casa de Misericórdia
de Presidente Prudente-SP. A força muscular respiratória foi avaliada pela manovacuometria,
a capacidade funcional, pelo TC6’, a qualidade de vida, pelo questionário KDQOLSF, a função
pulmonar, pela espirometria e a dor, pela EVA. Após as avaliações, os pacientes iniciaram o
programa de exercícios, que foi desenvolvido três vezes por semana, durante 40 minutos
em hemodiálise, por oito semanas. Ao final do programa, os pacientes foram reavaliados.
Resultados: Não houve diferença significativa dos valores da CVF e VEF1 pré e pós-programa
de exercícios, assim como do Índice de Tiffenau. O valor da PImax pós-programa foi signifi-
cativamente maior que o obtido na avaliação pré-programa. Para a variável PEmax, não foi
encontrada diferença significativa. As avaliações da capacidade funcional inicial e final não
apresentaram diferenças significativas (p>0,05). A avaliação da qualidade de vida, quanto aos
domínios das áreas específicas da DRC, mostrou que houve significância estatística, ao com-
parar a lista de sintomas e problemas com a sobrecarga da DRC e papel profissional. Os indi-
cadores relativos à dor foram reduzidos, após o programa (p<0,05).
Discussão: O DRC enfrenta situações complexas de dependência física, social e financeira.
Apesar de não apresentar resultados estatisticamente significativos em todas as variáveis
avaliadas, este estudo, corroborando outros encontrados na literatura, sugere um programa
de exercício físico, com aspectos positivos para essa população.
Conclusão: Embora a capacidade pulmonar e a capacidade funcional (TC6’) não tenham apre-
sentado alterações ao final do experimento, os níveis reduzidos de dor, cansaço e dispneia
sugerem melhora do desempenho funcional, após programas de exercício físico para DRC.
Palavras-chave: Hemodiálise. Atividade Física. Espirometria. Qualidade de Vida.
Boa leitura!

Fonte: Lima et al. (2013).

49
material complementar

Indicação para Assistir

A Vida Por Um Fio


Ano: 2008
Sinopse: Clayton Beresford (Hayden Christensen) tem tudo o que poderia sonhar.
Está noivo da bela Sam Lockwood (Jessica Alba), tem um trabalho bem-sucedido,
não enfrenta problemas financeiros e se relaciona muito bem com sua mãe, Lili-
th (Lena Olin). Porém a vida de Clayton muda quando ele descobre que precisa
passar por um transplante de coração. Jack Harper (Terrence Howard) é o médico
encarregado de sua cirurgia, tendo acompanhado o caso de Clayton desde que os
seus primeiros sintomas surgiram. Enquanto eles não encontram um doador que
seja compatível com o raro tipo sanguíneo de Clayton, Jack o aconselha a aprovei-
tar a vida ao máximo. Sam passa então a pressioná-lo para que se case logo com
ela, o que faz com que Lilith lhe ofereça dinheiro para que fique longe de sua famí-
lia. Clayton e Sam decidem se casar às escondidas, mas neste mesmo dia, o pager
de Clayton dispara: foi encontrado um doador compatível e a sua cirurgia precisa
ser realizada o quanto antes.
Comentário: é um filme emocionante que mostra como a sobrevivência do ser
humano depende totalmente do adequado funcionamento do sistema circulató-
rio. Muito bom!

50
referências

COLICIGNO, P. R. C.; SACCHETTI, J. C. L.; MORAES, C. A.; ARAÚJO, A. B.


Atlas Fotográfico de Anatomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica aplicada - princípios básicos e
sistêmicos: esquelético, articular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002.
FREITAS, V. Anatomia conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
LIMA, F. F.; MIRANDA, R. C. V.; SILVA, R. C. R.; MONTEIRO, H. L.; YEN, L.
S.; FAHUR, B. S.; PADULLA, S. A. T. Avaliação funcional pré e pós-programa
de exercício físico de pacientes em hemodiálise. Medicina, Ribeirão Preto, n. 46,
v. 1, p. 24-35, 2013. Disponível em: <http://www.periodicos.usp.br/rmrp/article/
view/62380/65181>. Acesso em: 19 nov. 2018.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
PAZIN-FILHO, A.; SCHMIDT, A.; MACIEL, B. C. Ausculta cardíaca: Bases fi-
siológicas - fisiopatológicas. Medicina, Ribeirão Preto, n. 37, p. 208-226, jul./dez.
2004.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo: Athe-
neu, 2000.

51
gabarito

1. C.
2. D.
3. A.
4. C.
5. A.

52
UNIDADE
II
SISTEMAS DIGESTÓRIO E ENDÓCRINO

Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Sistema digestório
• Sistema endócrino

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema digestório: boca/cavidade
oral, faringe, esôfago, estômago, intestino delgado,
intestino grosso, órgãos anexos do sistema digestório,
divisões do sistema digestório, cavidade abdominal e
peritônio.
• Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema endócrino: glândula hipófise,
glândula tireoide, glândulas paratireoides, glândula pineal,
glândula suprarrenal, pâncreas, função endócrina do
testículo e do ovário, controle do sistema endócrino.
unidade

II
INTRODUÇÃO

C
ertamente você já se perguntou sobre os detalhes de como ocorrem os pro-
cessos de digestão e de liberação hormonal. Isto porque tanto a metaboliza-
ção do que comemos quanto a forma como o nosso corpo se comunica por
meio dos hormônios são assuntos relevantes que influenciam diretamente
a nossa qualidade de vida.
Como o ser humano não é capaz de produzir os seus próprios alimentos (é he-
terótrofo), para se manter vivo, ele necessita receber constante suprimento de ma-
terial nutritivo. Para que tais nutrientes se tornem utilizáveis pelo corpo, deve haver
um adequado processo digestivo, ou seja, ocorrem inúmeras modificações químicas
realizadas por enzimas específicas. Assim, os alimentos ingeridos devem percorrer
as estruturas do canal alimentar, permanecendo nelas o tempo suficiente para se-
rem submetidos às secreções que tais estruturas produzem. Várias transformações
físicas e químicas transformam os alimentos em pequenas porções, que são ab-
sorvidas (caem na corrente sanguínea) e levadas às células para serem utilizadas
durante o metabolismo celular normal. Este complexo mecanismo dependente
do controle feito pelos sistemas endócrino e nervoso, os quais regulam glândulas
localizadas em diversos locais do corpo e cujas secreções são lançadas na cor-
rente sanguínea (sendo, por isso, chamadas de hormônios).
Por isso, esta unidade tem por objetivo realizar um estudo específico dos
sistemas digestório e endócrino, direcionando a sua atenção para as modifi-
cações relacionadas aos exercícios físicos e a disfunções como anorexia, bu-
limia, hiper ou hipossecreção hormonal. Assim, serão descritos os aspectos
mais relevantes dos sistemas digestório e endócrino, bem como as suas inte-
rações com os outros sistemas do corpo, principalmente o muscular.
Neste contexto, é importante que você não se esqueça de que o(a) pro-
fessor(a) de Educação Física precisa ter amplo conhecimento sobre esses
sistemas, uma vez que sem o perfeito funcionamento desses, nem mesmo
a contração muscular é possível. Portanto, aproveite bem os conheci-
mentos transmitidos e tenha um ótimo período de estudo!
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Digestório

58
EDUCAÇÃO FÍSICA

Caro(a) aluno(a), nesta unidade, o estudo do siste-


ma digestório será feito apresentando a função geral
dele, as suas subdivisões, os seus componentes e os
principais aspectos funcionais de cada estrutura que
o compõe.

FUNÇÃO

O sistema digestório realiza a digestão (suprindo de


nutrientes os seres vivos) e a eliminação de substân-
cias inúteis ao organismo (como restos do metabo-
lismo celular).
Para tanto, apresenta estruturas anatômicas
que realizam a apreensão do alimento (colocan-
do-o em contato com a boca), a mastigação (por
meio dos dentes), a deglutição (da qual a língua
participa), a digestão (que se dá na boca, no es- Figura 1 – Órgãos do sistema digestório (canal alimentar e órgãos anexos)

tômago e no duodeno), a absorção dos nutrien-


tes e da água dos alimentos (com a atuação dos COMPONENTES
intestinos) e a expulsão dos resíduos sob a forma Boca
de fezes (ação do intestino grosso) (DANGELO; O canal alimentar tem início na boca, cujas funções
FATTINI, 2011). incluem apreensão do alimento, mastigação, deglu-
tição, percepção dos sabores, digestão e fonação. A
DIVISÕES apreensão é realizada pelos lábios. A mastigação de-
pende dos dentes, os quais exercem ação mecânica
O sistema digestório divide-se em canal alimentar sobre o bolo alimentar, modificando-o fisicamente
e em órgãos anexos. O canal alimentar é um con- para aumentar a sua superfície de contato a fim de
junto de órgãos situados na cabeça, no pescoço, no expô-lo às enzimas. Enquanto a deglutição e a per-
tórax, no abdome e na pelve, pelos quais o alimento cepção dos sabores dependem da língua, a digestão
transita enquanto sofre o processo de digestão. In- depende da enzima amilase salivar (MIRANDA
clui órgãos como boca, faringe, esôfago, estômago, NETO; CHOPARD, 2014).
intestino delgado e intestino grosso. A boca comunica-se anteriormente com o meio
Órgãos anexos são estruturas pelas quais o ali- externo e, posteriormente, com a parte oral da farin-
mento não passa, mas que são essenciais ao processo ge. As bochechas representam o seu limite lateral, o
de digestão, pois sintetizam secreções com enzimas palato duro e mole representam o seu limite supe-
digestivas. São eles: as glândulas salivares, o fígado e rior, e os músculos do assoalho da boca representam
o pâncreas (DANGELO; FATTINI, 2011). o seu limite inferior.

59
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

A boca é dividida em vestíbulo e cavidade oral. Bochechas


O vestíbulo é o espaço anterior que fica entre os lá- As bochechas são estruturalmente semelhantes aos
bios, as bochechas e os dentes. A cavidade oral é re- lábios, pois são compostas por pele, músculo (buci-
presentada pelo restante da boca, ou seja, é o espaço nador) e mucosa, sendo, por isto, consideradas cutâ-
onde a língua se aloja e onde as glândulas salivares neo-músculo-mucosa. Entre o músculo bucinador e
lançam a saliva. a mucosa existem várias pequenas glândulas bucais
e acima dele existe tecido adiposo (corpo adiposo da
bochecha), o qual é maior em crianças, recebendo o
nome de bola de “Bichat” (FREITAS, 2004).

Figura 2 – Boca (vestíbulo e cavidade oral)

Lábios Figura 3 – Bochecha

Os lábios são compostos por músculo (orbicular da


boca) e cobertos por pele (fina e sensível), sendo, por Palato
isto, considerados pregas músculo fibrosas. São mui- O palato se posiciona entre a cavidade nasal e a ca-
to irrigados, apresentam glândulas salivares labiais e vidade oral (a sua face superior é voltada ao nariz
embora os seus frênulos limitem parcialmente a sua e a sua face inferior é voltada à boca, onde apre-
mobilidade, são muito móveis a fim de permitir a senta várias glândulas palatinas). Anteriormente,
mastigação e a fonação. a sua constituição é predominantemente óssea e
A junção dos lábios superior e inferior forma an- imóvel, sendo chamada de palato duro. Posterior-
teriormente uma fenda chamada rima da boca e, la- mente, a sua constituição é predominantemente
teralmente, as comissuras labiais ou ângulos da boca muscular e com relativo movimento, sendo cha-
(WATANABE, 2009). mada de palato mole.

60
EDUCAÇÃO FÍSICA

O palato duro é formado pelas maxilas e pelos Istmo das fauces


ossos palatinos, os quais se unem por meio das su- O istmo das fauces é o espaço entre a úvula palatina,
turas palatina mediana e palatina transversa. A sua os arcos palatoglossos, o dorso da língua e a carti-
coloração é rósea devido à vascularização menos ex- lagem epiglótica da laringe. Ele representa o limite
pressiva do que a do palato mole (que é vermelho). posterior da boca (ou seja, onde esta acaba e onde
A sua mucosa é intimamente aderida ao periósteo, começa a faringe) (MADEIRA, 2001).
podendo ser chamada de mucoperiósteo e apresen-
ta processos alveolares (onde os dentes da maxila se
fixam) e importantes forames (pelos quais vasos e
nervos passam).
O palato mole é constituído por músculos que
atuam na deglutição elevando o palato para que
o alimento não reflua em direção à cavidade na-
sal. Em sua região mediana e posterior, se localiza
a úvula palatina (conhecida como “campainha” ou
“sininho”), lateralmente a qual se encontra a tonsila
palatina (conhecida como “amídala” ou “amígdala”) Figura 5 – Istmo das fauces

(MADEIRA, 2001).
Língua
A língua é um órgão importante para a mastigação e
a deglutição, e atua como órgão gustativo e fonador.
Localiza-se parcialmente na cavidade oral e parcial-
mente na faringe, mantendo-se presa à cartilagem
epiglótica.
É muscular e revestida por mucosa. Os seus mús-
culos podem ser intrínsecos (os quais lhe dão forma)
ou extrínsecos (os quais lhe permitem movimento).
A sua mucosa apresenta receptores gustativos cha-
mados de papilas linguais (circunvaladas, folhadas,
filiformes e fungiformes), as quais lhe dão um aspec-
to rugoso, além de serem relacionadas à percepção
sensitiva da língua (inclusive dos sabores).
A extremidade anterior da língua é chamada de
ápice, as suas regiões laterais são as margens laterais,
a sua região inferior é a face inferior, e a sua face
Figura 4 – Palato duro e mole superior é chamada de dorso da língua. O dorso é

61
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

marcado pelo sulco mediano, que a divide em me- Gengiva


tades direita e esquerda. Além desse sulco, a língua A gengiva é constituída por tecido fibroso e é cober-
apresenta o sulco terminal, que a divide em corpo ta por mucosa. A gengiva livre é vermelha e a aderi-
da língua (anterior ao sulco) e raiz da língua (poste- da é rósea (MADEIRA, 2001).
rior ao sulco). Ela apresenta um septo visível quando
cortada transversalmente.
Embora apresente o frênulo da língua, a língua
tem importante mobilidade necessária à mastigação
e à fonação, e é bastante inervada (em relação a tato,
dor, temperatura, pressão, propriocepção, gustação
e em relação à sua capacidade contrátil) (MADEI-
RA, 2001).

Figura 7 – Gengiva

Dentes
Os dentes ficam implantados em cavidades (cha-
madas alvéolos dentais) da maxila e da mandíbula.
São rígidos, esbranquiçados, muito vascularizados e
inervados. Apresentam três partes: raiz (implantada
no alvéolo), coroa (parte mais evidente) e colo (re-
gião entre a raiz e a coroa, circundada pela gengiva).
Enquanto a criança apresenta 20 dentes (oito
incisivos, quatro caninos e oito molares), o adulto
apresenta 32 (oito incisivos, quatro caninos, oito
pré-molares e 12 molares). A substituição da denti-
ção primária (da criança) pela dentição permanente
(do adulto) começa a partir dos seis ou sete anos e
pode durar até os 25 anos de idade.
Eles servem para triturar os alimentos, dei-
xando-os acessíveis às enzimas digestivas. Para
tanto, cada dente tem uma função específica na
mecânica da mastigação. Enquanto os incisi-
vos cortam o alimento e os caninos o rasgam, os
pré-molares e os molares fazem a sua trituração
Figura 6 – Língua (MADEIRA et al., 2014).

62
EDUCAÇÃO FÍSICA

FARINGE

A faringe é uma estrutura músculo-membranácea lo-


calizada posteriormente à cavidade nasal, à cavidade
oral e à laringe. Ela se inicia na base do crânio e termi-
na ao nível da sexta vértebra cervical. Apresenta, em
sua constituição, músculos estriados esqueléticos (re-
lacionados aos movimentos peristálticos) e mucosa.
Ela se associa tanto ao sistema respiratório quanto
ao digestório, atuando como um canal comum à pas-
Figura 8 – Dentes sagem do ar e do alimento. Assim, apresenta três par-
tes sem limites precisos entre si: parte nasal, oral e la-
Assoalho da boca ríngea da faringe. Enquanto a parte nasal tem função
O assoalho da boca é constituído, principalmente, respiratória, a oral tem função digestória, e a laríngea,
por músculos como o platisma e os supra-hióideos função respiratória e dá continuidade ao esôfago.
e representa o limite inferior da boca (MADEIRA, Na parte nasal da faringe existe um importante
2001). acidente anatômico chamado óstio faríngeo da tuba
auditiva, o qual marca a desembocadura desta(ou
Anel linfático seja, a tuba auditiva comunica a parte nasal da faringe
É um conjunto de tonsilas (palatinas, linguais, fa- com a cavidade timpânica da orelha média). Esta co-
ríngeas e tubárias) localizado na parte posterior municação permite que a pressão dentro da cavidade
da cavidade oral e na parte oral da faringe. Ele di- timpânica e a do ar externo se igualem, permite que
minui a contaminação dos alimentos ingeridos a muco e perilinfa dos canais semicirculares sejam dre-
partir da produção de células imunológicas (MA- nados, mas possibilita também que uma infecção da
DEIRA, 2001). faringe se propague à orelha média (DI DIO, 2002).

Figura 9 – Anel linfático Figura 10 – Faringe

63
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

ESÔFAGO SAIBA MAIS

O esôfago é um tubo fibromuscular que dá continu- Você já ouviu falar de refluxo gastroesofágico?
ação à faringe e desemboca no estômago. Assim, ele O texto que segue é parte do artigo intitu-
atravessa o músculo diafragma (pelo hiato esofági- lado “Doença do refluxo gastroesofágico:
co) e apresenta uma parte cervical, uma parte torá- uma afecção crônica”, do autor Ethel Zim-
berg Chehter, disponível na revista Arquivos
cica e uma parte abdominal. Médicos do ABC, de 2004.
Com 25 cm de comprimento e 2 cm de diâme- “A doença do refluxo gastroesofágico
tro, ele não apresenta função digestiva, produzin- (DRGE) pode ser definida como uma afecção
crônica decorrente do refluxo retrógrado de
do apenas muco para garantir que o bolo alimentar parte do conteúdo gastroduodenal para o
passe por meio de suas contrações (movimentos esôfago ou órgãos adjacentes a ele, acar-
peristálticos, peristaltismo ou peristalse), inde- retando um espectro variável de sintomas
e/ou sinais esofagianos e/ou extra-esofa-
pendentemente da ação da gravidade (MOORE et
gianos, associados ou não a lesões teci-
al., 2014). duais”. Para saber mais, acesse: <https://
www.portalnepas.org.br/amabc/article/
view/313/294>.

Fonte: adaptado de Chehter (2004, p. 12).

ESTÔMAGO

O estômago é uma dilatação do canal alimentar que


segue o esôfago e dá continuidade ao intestino. Lo-
calizado abaixo do músculo diafragma, com a sua
maior porção à esquerda do plano mediano, a sua
principal função é realizar a digestão química (por
meio de enzimas) e mecânica (por meio de movi-
mentos circulares e peristálticos) dos alimentos.
Além disso, ele pode atuar como um reservatório
para até três litros de alimento e é capaz de absorver
algumas substâncias.
Internamente, o estômago apresenta pregas gás-
tricas que se distendem ao receber o alimento. A sua
forma e posição podem variar com a idade, com o
tipo constitucional e a posição do indivíduo, com a
Figura 11 – Esôfago alimentação e o estado fisiológico do órgão.

64
EDUCAÇÃO FÍSICA

A sua comunicação com o esôfago se dá por SAIBA MAIS


meio da parte cárdia. O seu fundo é superior e
acima da junção com o esôfago. O seu corpo é a Você sabia que o estômago pode dilatar se
maior parte do órgão. A parte pilórica é a sua por- a quantidade de alimentos ingeridos for ex-
ção terminal que, por sua vez, se comunica com o cessiva? Você sabia que o estômago pode
regredir de tamanho se uma reeducação ali-
duodeno. Apresenta face anterior e posterior, uni- mentar for feita?
das pelas curvatura gástrica maior (à esquerda) e A melhor maneira de evitar uma dilatação
menor (à direita). gástrica é estar sempre atento à quantidade
de alimentos ingeridos e manter uma dieta
Tanto na parte cárdica quanto no piloro existem balanceada e na quantidade ideal para o seu
orifícios chamados óstio cárdico e óstio pilórico, nível de atividade física e biótipo.
onde feixes musculares se condensam, permitindo Fonte: a autora.
um mecanismo de abertura e fechamento que regula
o trânsito do bolo alimentar. Normalmente, o piloro
só se abre para o quimo passar quando o duodeno
está vazio e pronto para digerir mais conteúdo gás- INTESTINOS
trico (DI DIO, 2002). Intestino delgado
Em relação ao intestino grosso, o intestino delgado
tem menor calibre e é mais longo (mede de 4 a 6 me-
tros de comprimento). Ele se estende do piloro ao
ceco, e é subdividido em três segmentos: duodeno,
jejuno e íleo.
Ele age sobre o alimento de maneira mecânica
(misturando e propulsionando o quimo por meio
de movimentos peristálticos) e de maneira química
(por meio de enzimas). Assim, embora represente o
principal local de absorção dos alimentos, ele tam-
bém participa da digestão.
No intestino, agem secreções do próprio intesti-
no (suco entérico), do pâncreas (suco pancreático)
e do fígado (bile) sobre o quimo, formando o quilo
na fase final da digestão (quando substâncias podem
ser absorvidas). Para tanto, desembocam no duode-
no os ductos do fígado e do pâncreas.
O duodeno mede 25 cm de comprimento e é a
primeira porção do intestino delgado. Ele começa
no óstio pilórico, termina na flexura duodeno-je-
Figura 12 – Estômago junal e mantém íntimo contato com a cabeça do

65
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

pâncreas. O jejuno mede 2,5 metros, e o íleo, 3,5 É subdividido em ceco, colo ascendente, colo
metros. Não há nítida divisão anatômica entre transverso, colo descendente, colo sigmoide, reto e
estas duas porções, podendo, assim, serem cha- canal anal. Do ceco destaca-se o apêndice vermifor-
madas, em conjunto, de jejuno-íleo (DANGELO; me, um prolongamento cilindroide alongado com
FATTINI, 2011). cerca de 6 a 10 cm de comprimento, formado no
ponto de encontro das tênias. O apêndice é rico em
folículos linfáticos.
O reto tem 15 cm de comprimento e possui uma
parte dilatada (ampola do reto) que armazena tem-
porariamente as fezes. O canal anal é uma parte es-
treita que se abre para o meio externo por meio do
ânus (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

SAIBA MAIS

Você sabia que apendicite é grave e trata-se


da inflamação do apêndice vermiforme? Os
sintomas associados a esta condição clíni-
ca são vários e, se ela não for prontamente
tratada, pode ocasionar a morte. Para saber
mais, acesse: <https://www.tuasaude.com/
apendicite/acesso>.

Fonte: a autora.

Figura 13 – Intestino delgado e grosso

Intestino grosso PERITÔNIO E CAVIDADE PERITONEAL


O intestino grosso mede 1,5 metros de comprimen- As cavidades abdominal e pélvica, bem como as
to e difere-se do intestino delgado por apresentar vísceras nelas localizadas são revestidas por uma
faixas de músculo liso longitudinal (tênias do colo), membrana serosa transparente e brilhante chamada
gordura na serosa (apêndices omentais do colo) e peritônio. Ele é formado por duas lâminas contínu-
dilatações limitadas por sulcos transversais (sacula- as, o peritônio visceral (que envolve as vísceras) e
ções do colo). o peritônio parietal (que reveste as paredes dessas
Ele fica ao redor do intestino delgado e repre- cavidades). Entre essas lâminas existe a cavidade pe-
senta a porção terminal do canal alimentar, respon- ritoneal, a qual contém uma pequena quantidade de
sável pela absorção de água e eletrólitos do quilo, líquido peritoneal.
determinando, assim, a consistência do bolo fecal. Alguns órgãos (como rins e pâncreas) se posi-
Ademais, atua na formação, transporte e expulsão cionam atrás do peritônio (são retroperitoneais) e,
das fezes. por isto, ficam aderidos à parede posterior do abdo-

66
EDUCAÇÃO FÍSICA

me (são fixos). Outros se destacam da parede abdo- SAIBA MAIS


minal e são acompanhados pelo peritônio de modo
que, entre eles e a parede do abdome, se forma uma Você sabia que os alimentos que ingerimos
lâmina peritoneal chamada mesentério, meso ou li- podem melhorar ou atrapalhar os nossos mo-
gamento. Às vezes, essas pregas se estendem entre vimentos peristálticos? Além disso, você sabia
que os exercícios físicos estimulam muito a
dois órgãos por uma lâmina do peritônio chamada nossa peristalse? Pois é! Vale a pena estar in-
omento (o omento maior sai do estômago, recobre formado(a) para garantir uma dieta adequada
os intestinos e se fixa ao colo transverso do intestino e um bom padrão de funcionamento intes-
tinal. Para saber mais, acesse: <http://www.
grosso; o omento menor vai do estômago ao fígado).
revistapenseleve.com.br/nutricao-destaque/
Alguns órgãos podem ser intraperitoneais (TOR- alimentos-estimulam-o-intestino>.
TORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010).
Fonte: a autora.

ÓRGÃOS ANEXOS
Fígado
O fígado se localiza abaixo do diafragma e fica uni-
do à parede abdominal anterior, ao estômago e ao
duodeno. Ele é considerado a maior glândula do
corpo e, depois da pele, é considerado o maior ór-
gão, pesando 1,5 kg.
Este órgão atua no metabolismo de carboidrato,
de gordura e de proteína. Além disso, armazena gli-
cogênio, sintetiza vários compostos orgânicos, meta-
boliza e excreta substâncias tóxicas (medicamentos e
alimentos, por exemplo), participa dos mecanismos
de defesa do corpo e secreta a bile.
A bile é um líquido produzido pelo fígado e ar-
mazenado na vesícula biliar. De cor esverdeada e
de gosto amargo, tem ação detergente sobre gor-
duras e favorece a absorção de ácidos e vitaminas
lipossolúveis (sem bile, cerca de 40% da gordura se-
ria excretada pelas fezes, assim como as vitaminas
A, D, E e K).
O fígado apresenta uma face diafragmática (que
mantém contato com o músculo diafragma) e uma
Figura 14 – Peritônio e cavidade peritoneal face visceral (que mantém contato com as vísceras

67
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

abdominais). Ele divide-se em dois lobos anatômi- Glândulas salivares


cos (direito e esquerdo) e dois lobos acessórios (qua- As glândulas salivares produzem e liberam saliva na
drado e caudado) (WATANABE, 2009). cavidade oral. A saliva é um líquido viscoso, transpa-
rente, insípido e inodoro que desempenha diversas
funções como prevenção de cáries, lubrificação do
bolo alimentar, facilitação de seu transporte e digestão
do amido. Além disso, mantém a cavidade oral limpa
e com pH adequado, permite a percepção dos sabores
e possibilita a excreção de algumas substâncias.
Glândulas salivares menores localizam-se nas
bochechas, nos lábios, no palato e na mucosa da
Figura 15 – Fígado língua. Glândulas salivares maiores incluem as pa-
rótidas, as submandibulares e as sublinguais. A pa-
Pâncreas rótida fica na porção lateral da face e apresenta o
O pâncreas localiza-se atrás do estômago e se divide ducto parotídeo, que perfura a bochecha e se abre
em cabeça (extremidade dilatada à direita), colo (en- na boca. Ela pode ser infectada por vírus, causando
tre a cabeça e o corpo), corpo (em posição transver- parotidite (caxumba). A submandibular fica abaixo
sal) e cauda (extremidade afilada à esquerda). da mandíbula e o seu ducto submandibular se abre
Este órgão é considerado uma glândula mista, pois na boca abaixo da língua. A sublingual é a menor e a
secreta insulina e glucagon de maneira endócrina (no mais profunda delas, apresentando vários pequenos
sangue) e suco pancreático de maneira exócrina (no ductos, os quais se abrem no assoalho da boca (MA-
duodeno para auxiliar a digestão) (FREITAS, 2004). DEIRA, 2001).

Figura 16 – Pâncreas Figura 17 – Glândulas salivares

68
EDUCAÇÃO FÍSICA

69
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Endócrino

O sistema endócrino será abordado nesta unidade canais excretores, mas lançam os seus produtos
apresentando as suas generalidades, as principais (hormônios) na corrente sanguínea, fazendo com
glândulas e os seus hormônios, assim como as prin- que eles sejam distribuídos ao corpo todo para agir
cipais disfunções advindas de seu mau funciona- em células-alvo de vários órgãos. Estas glândulas
mento. Também será realizada uma correlação entre de secreção interna diferem das glândulas exócri-
o seu funcionamento e a prática de exercícios físicos. nas, uma vez que estas últimas secretam para fora
da corrente sanguínea (como as glândulas lacrimais,
GENERALIDADES salivares, sudoríparas, sebáceas e mamárias).
O sistema endócrino apresenta como principais
Os hormônios são essenciais ao funcionamento do glândulas a hipófise, a tireoide, as paratireoides, as
corpo, e se as suas concentrações estiverem altera- suprarrenais, a pineal e as porções endócrinas do
das, disfunções severas podem aparecer. Para que pâncreas e das gônadas. Todavia alguns órgãos po-
isto seja evitado, o sistema endócrino apresenta vá- dem apresentar função endócrina, como é o caso da
rias glândulas macroscópicas, as quais não possuem placenta, do timo, do coração, dos rins, do duodeno

70
EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS GLÂNDULAS E OS SEUS HOR-


MÔNIOS
etc. Ademais, existem várias glândulas endócrinas Glândula hipófise
microscópicas representadas por células secretoras A glândula hipófise fica alojada na fossa hipofisial
de hormônios que ficam isoladas ou organizadas do osso esfenoide e está ligada ao hipotálamo, de
em pequenos agregados, os quais se distribuem pelo forma que existe uma íntima relação entre o sistema
corpo, como na mucosa do trato gastrointestinal. endócrino e o sistema nervoso.
Alguns hormônios são esteroides derivados do Esta pequena glândula (com cerca de 1 cm de di-
colesterol, alguns são proteicos e outros são derivados âmetro e 1 g de peso) pode ser dividida em lobo an-
de aminoácidos. Eles podem agir na célula de várias terior (adeno-hipófise) e lobo posterior (neuro-hi-
maneiras. Por exemplo, modificando a permeabilida- pófise). Os hormônios da adeno-hipófise incluem
de da membrana, agindo sobre segundos mensagei- o hormônio de crescimento (popularmente conhe-
ros, influenciando o material genético, agindo sobre cido como GH), a corticotropina, a tireotropina, a
enzimas etc. (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). prolactina, o hormônio folículo estimulante e o hor-
mônio luteinizante. Os hormônios da neuro-hipófi-
se incluem o hormônio antidiurético e a ocitocina.
O hormônio de crescimento influencia a sínte-
se de proteína e causa multiplicação e diferenciação
celular. A corticotropina e a tireotropina controlam,
respectivamente, a secreção de hormônios do cór-
tex da glândula suprarrenal e da glândula tireoide.
A prolactina desenvolve as glândulas mamárias e es-
timula a produção do leite, e os hormônios folículo
estimulante e luteinizante controlam o crescimento
das gônadas e as suas atividades reprodutivas. Por
fim, enquanto a ocitocina ajuda na liberação de leite
pelas glândulas mamárias e no trabalho de parto, o
hormônio antidiurético (ou vasopressina) regula a
excreção de água pelo corpo.
Devido à atuação abrangente de seus hormô-
nios, a disfunção da glândula hipófise pode causar
severos prejuízos (como no caso de hiper ou hipo-
tireoidismo) e ser tão severa a ponto de ocasionar
óbito. Além disso, os seus hormônios são determi-
nantes para a boa prática de exercícios físicos, pois
estão relacionados ao metabolismo e à homeostasia
Figura 18 - Visão geral do sistema endócrino corpórea (MOORE et al., 2014).

71
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 19 - Glândula hipófise

72
EDUCAÇÃO FÍSICA

Glândula pineal Glândula tireoide


A pequena glândula pineal (com cerca de 150 mg de A glândula tireoide está localizada na região ante-
peso) está localizada no epitálamo. Seu nome se deve rior do pescoço, próximo à traqueia. Ela sintetiza os
ao seu formato de uma pequena pinha, e o hormônio hormônios calcitonina, tiroxina (T4) e triiodotironi-
que ela produz é a melatonina. Este hormônio está na (T3) usando o iodo como substrato. A calcitonina
relacionado ao ciclo de sono e vigília, atuando nos reduz os níveis de cálcio e fosfato no sangue, e os
relógios circadianos (que ocorrem durante o dia). hormônios T3 e T4 aceleram o metabolismo de car-
Por isto, a sua disfunção pode causar, por exemplo, boidratos, estimulam a síntese de proteínas e a de-
alteração do ciclo sono-vigília. Adicionalmente, vale gradação de gorduras, aumentam o metabolismo da
destacar que a melatonina tem relação direta com o água, de sais minerais e de vitaminas.
exercício físico e com o repouso após a sua prática. Quando T3 e T4 são secretados de modo ex-
A sincronização do ciclo sono-vigília depende da cessivo, ocorre uma doença chamada hipertireoi-
intensidade da luz do ambiente. Variações nos níveis dismo. Neste caso, há perda de nitrogênio pela
de luz são detectadas por receptores localizados na urina, redução do colesterol circulante, agitação
retina dos quais partem neurônios que chegam ao psicomotora, perda de peso corporal, insônia,
hipotálamo. De maneira geral, a ativação dos fotor- instabilidade afetiva, tremor nas mãos, taquilalia
receptores da retina reduz a produção de melatonina (fala rápida), taquicardia, palpitação, hipertensão
e causa o despertar. Ao contrário, a ausência de luz arterial, dispneia, hiperfagia, fraqueza muscular e
e a consequente redução de ativação desses fotorre- osteoporose.
ceptores fazem com que a glândula pineal aumente a Ao contrário, a falta desses hormônios causa
síntese e a liberação de melatonina na corrente san- hipotireoidismo. Neste caso, ocorre aumento do co-
guínea, causando sono (a sua síntese atinge o nível lesterol circulante, desaceleração do metabolismo
máximo entre 2 e 4 horas da manhã) (MIRANDA corpóreo, cansaço, alterações menstruais e defici-
NETO; CHOPARD, 2014). ência cardíaca. Adicionalmente, crianças com hipo-
tireoidismo têm atraso na maturação do esqueleto,
podem desenvolver nanismo, hipotonia muscular
e deficiência mental, uma vez que os hormônios
tireoidianos são fundamentais para o crescimento
e o desenvolvimento físico e mental. Em conjunto,
estes sinais caracterizam uma doença conhecida
como cretinismo, a qual pode se dar por ausência
congênita da glândula, por defeito genético em sua
função ou por falta de iodo na dieta. Por isto, Mi-
randa Neto e Chopard (2014) afirmam que gestan-
tes devem ingerir iodo diariamente na quantidade
mínima necessária (em torno de 100 microgramas
Figura 20 - Glândula pineal de iodo/dia).

73
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Outro fato que merece destaque é que a ausência do corpo. A glândula hipófise controla tal secreção
de iodo faz com que a glândula tireoide fique ede- conforme a concentração de cálcio nos fluidos cor-
maciada (inchada), formando um “papo” na região porais (a diminuição dessa concentração aumenta a
anterior do pescoço (esta condição é chamada de secreção de PTH, e o contrário é verdadeiro).
bócio). Tal fato ocorre com maior incidência em lo- Quando o PTH é liberado, ele ativa os osteoclas-
cais onde o solo é pobre em iodo (em locais longe do tos, os quais retiram cálcio dos ossos aumentando a
mar, por exemplo). sua concentração no plasma sanguíneo e diminuin-
Desde 1955 iniciaram-se programas de adição do a sua excreção na urina. Além disso, a síntese de
de iodo no sal de cozinha no Brasil por recomenda- vitamina D pelos rins é aumentada, melhorando a
ção da Organização Mundial de Saúde (OMS). No absorção de cálcio no trato gastrointestinal.
entanto iodo em excesso pode causar hipertireoidis- Enquanto o PTH retira cálcio dos ossos aumen-
mo induzido por iodo (principalmente em idosos) e tando a sua concentração no plasma, a calcitonina
a elevação do número de pessoas com doenças au- age antagonicamente levando cálcio do plasma para
toimunes da glândula tireoide (WATANABE, 2000). os ossos. Assim, o hiperparatireoidismo faz com que
haja excesso de PTH no sangue, causando descalcifi-
cação óssea, fraturas, deformidades, osteoroporose e
calcificação de tecidos moles. Ao contrário, a defici-
ência de PTH diminui o cálcio do sangue e aumenta
a excitabilidade do sistema nervoso, causando câim-
bras e espasmos (MOORE et al., 2014).

Figura 21 - Glândula tireoide

Glândulas paratireoides

As glândulas paratireoides localizam-se na face pos-


terior da glândula tireoide e têm a função de produzir
o hormônio paratireoidiano (PTH) ou paratormô-
nio. Desta forma, estas quatro pequenas glândulas
atuam no controle dos níveis dos íons cálcio e fósforo Figura 22 - Glândulas paratireoides

74
EDUCAÇÃO FÍSICA

Glândulas suprarrenais ralocorticoides (como a aldosterona) controlam


As glândulas suprarrenais recebem este nome por- os eletrólitos (como sódio e potássio) dos líquidos
que se localizam acima dos rins. São revestidas por extracelulares. Os androgênios são hormônios se-
uma cápsula de tecido conjuntivo e gordura, e pas- xuais secretados em pequenas quantidades e que
sam posteriormente ao peritônio. causam os mesmos efeitos da testosterona. Os
Têm forma piramidal e enquanto a sua parte glicocorticoides (como o cortisol e a cortisona)
central é chamada de medula, a sua parte periférica podem agir com ação anti-inflamatória e anties-
é chamada de córtex. A medula (20% da glândula) tressante. Todavia o estresse crônico eleva demais
secreta epinefrina e noraepinefrina para ajudar o or- o nível de cortisol, predispondo disfunções como
ganismo a regular funções que lhe permitam adap- acúmulo de gordura na face e no pescoço, depres-
tação a situações de emergência (como em casos de são imunológica e debilidade mental. Adicional-
hemorragia, hipoglicemia, hipóxia, dor, exercícios mente, o aumento nos níveis de adrenalina e de
intensos, medo e raiva). cortisol pode gerar sobrecarga cardíaca e inibir o
O córtex, por sua vez, secreta mineralocorti- crescimento e a renovação dos tecidos (WATA-
coides, androgênios e glicocorticoides. Os mine- NABE, 2000).

Figura 23 - Glândulas suprarrenais

75
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Pâncreas Gônadas
O pâncreas atua como uma glândula mista, uma vez Os testículos e os ovários são, respectivamente, as
que ele é responsável pela secreção de hormônios (in- gônadas dos sistemas genitais masculino e feminino.
sulina e glucagon) e do suco pancreático (lançado como Tais órgãos, além de produzirem gametas, são tam-
secreção exócrina no duodeno). Este órgão se localiza bém responsáveis pela síntese de hormônios sexuais
atrás do estômago, interposto ao baço e ao duodeno. testosterona, estrógenos e progestinas (o estrógeno
Enquanto as suas células alfa produzem gluca- mais importante é o estradiol, e a progestina mais
gon e as células beta produzem insulina, as células importante é a progesterona).
delta produzem uma substância chamada somatos- A testosterona é responsável pelas características
tatina, que atua como um neurotransmissor inibitó- sexuais secundárias masculinas, como a formação
rio da liberação dos dois hormônios anteriores. de pelos dispersos pelo corpo, o aumento da laringe,
A insulina é liberada em estado alimentado e a sua a espessura da pele e os desenvolvimentos ósseo e
função é estimular o transporte de glicose do sangue muscular. De igual modo, ela atua na formação do
para as células a fim de que esta seja utilizada e arma- pênis, da bolsa escrotal, da próstata, das glândulas
zenada em forma de glicogênio. A glicose exceden- seminais, dos ductos genitais masculinos e participa
te é convertida em gordura e armazenada no tecido da descida dos testículos para a bolsa escrotal. A sua
adiposo. Adicionalmente, a insulina reduz o uso de atuação é bastante importante na puberdade, pois
gorduras e de proteínas e estimula a síntese proteica. aumenta o tamanho do pênis, da bolsa escrotal e dos
O glucagon age antagonicamente à insulina, testículos.
uma vez que diminui a quebra da glicose, promove Os estrógenos (ou também conhecidos como
a hiperglicemia, estimula a degradação do glicogê- estrogênios) são responsáveis pelo crescimento dos
nio hepático e a liberação de glicose para a corrente órgãos sexuais. Estimulam a síntese de colágeno e a
sanguínea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). renovação da pele, das mucosas e dos tecidos con-
juntivos de suporte. Têm a sua produção reduzida
após a menopausa, fazendo com que a renovação
dos tecidos e a síntese de colágeno sejam diminuí-
das. Assim, sinais de envelhecimento (como perda
do vigor da pele, da massa muscular e óssea etc.)
passam a ser facilmente identificáveis. Ademais, fu-
mar diminui a produção estrogênica e, desta forma,
antecipa, prolonga e agrava os sinais característicos
da menopausa.
A progesterona prepara o útero para a implanta-
ção do blastocisto, estimula o desenvolvimento das
mamas e aumenta a secreção mucosa das tubas ute-
rinas, ajudando na nutrição do ovo em desenvolvi-
Figura 24 - Pâncreas mento (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

76
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 25 - Ovários e testículos

SAIBA MAIS

Você quer saber como o cigarro pode modi-


ficar a sua produção hormonal e antecipar a
menopausa? Pois bem! Todos os profissionais
da saúde deveriam saber disto em detalhes
para fins de orientação e prevenção. Para
tanto, sugiro que você leia o artigo intitulado
“Tabagismo e antecipação da idade da me-
nopausa” dos autores José Mendes Aldrighi,
Israel Nunes Alecrin, Paulo Rogério de Olivei
e Henrique O. Shinomata, de em 2005. Para
saber mais, acesse: <http://www.scielo.br/
pdf/ramb/v51n1/a20v51n1.pdf>.

Fonte: a autora.

Ao término desta unidade, você deverá ser capaz de


associar as diversas glândulas do corpo aos hormô-
nios por elas produzidos. Lembre-se sempre de que
o exercício físico é capaz de causar efeitos benéficos
na produção hormonal.

77
considerações finais

O sistema digestório está diretamente relacionado à manutenção da vida, pois


dele depende a obtenção de energia para o metabolismo celular e, consequen-
temente, para todas as atividades do corpo (como crescimento, locomoção e re-
produção). Tal fato pode ser dito, pois, sem o adequado suprimento energético,
atividades diárias como contração muscular, pensamento, aprendizado e diversas
outras funções cognitivas não seriam possíveis.
Complementarmente, o sistema endócrino se encarrega de manter a home-
ostasia corpórea, uma vez que ele é responsável pela produção e liberação hor-
monal. Assim, o controle necessário à manutenção da vida é feito pelos sistemas
nervoso e endócrino, os quais apresentam atuação conjunta e sincrônica, influen-
ciando, desta forma, os outros sistemas.
Muitas doenças, no entanto, podem acometer esses sistemas e desregular o
equilíbrio interno do corpo. Como exemplo podem ser citadas gastrite, esofagite,
acalasia, doença de Crohn, colite ulcerativa, hiper e hipotireoidismo e muitas
outras. A prevenção e o tratamento para tais males depende do pleno conheci-
mento morfológico e funcional desses. Por isso, o estudo anatômico é essencial
aos profissionais da área da saúde.
Como várias dessas doenças podem ser evitadas por meio de uma vida fisi-
camente ativa e pelo desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis (como a
ingestão diária e adequada de líquidos e de alimentos pré e probióticos), o pro-
fissional de Educação Física deve ter o conhecimento pleno desses sistemas. Por
isso, o estudo pormenorizado deles e a sua integração com o restante do corpo
é essencial. Além disso, o profissional de Educação Física comumente necessita
responder a questionamentos referentes ao corpo humano e ao seu funciona-
mento, e, enquanto educador, pode contribuir para minimizar muitos distúrbios
alimentares (como anorexia e bulimia) e realizar a detecção precoce de disfun-
ções endócrinas. Sendo assim, ótimo estudo para você!

78
EDUCAÇÃO FÍSICA

1. O sistema digestório consta de um tubo de 10 a e) Os órgãos infradiafragmáticos incluem to-


12 metros de comprimento, localizado adiante dos os órgãos do tubo digestório.
da coluna vertebral e aberto em suas duas ex-
3. Imagine uma refeição contendo pão francês,
tremidades. Em relação a este sistema, leia as
hambúrguer de carne bovina e fatias de bacon.
afirmações a seguir:
Analise as afirmações a seguir e assinale aquela
I - O fígado produz a bile e a vesícula biliar a
que contém a descrição dos locais onde ocorre-
armazena.
rá a digestão de cada um destes alimentos:
II - A bile é produzida pela vesícula biliar e é a) A digestão do pão ocorrerá na faringe e no
armazenada no fígado. esôfago. A carne será digerida no estôma-
III - São órgãos supradiafragmáticos do siste- go. O bacon será digerido no duodeno.
ma digestório: boca, faringe, laringe, esô- b) O pão (constituído principalmente por
fago e glândulas salivares. proteína) será digerido no duodeno; a car-
IV - São órgãos anexos do sistema digestório: ne bovina (constituída principalmente por
baço, fígado e glândulas salivares. carboidrato) será digerida no estômago; o
bacon (constituído principalmente de gor-
V - São órgãos anexos do sistema digestório:
dura) será digerido no duodeno.
pâncreas, fígado e glândulas salivares.
c) O pão (constituído principalmente por
É correto o que se afirma em:
carboidrato) será digerido na boca e no
a) I e IV, apenas. duodeno; a carne bovina (constituída prin-
cipalmente por proteína) será digerida no
b) I e V, apenas.
estômago; o bacon (constituído principal-
c) I e III, apenas. mente de gordura) será digerido na boca.
d) II e IV, apenas. d) O pão (constituído principalmente por
e) II e V, apenas. carboidrato) será digerido na boca e no
duodeno; a carne bovina (constituída
2. Considerando que existem órgãos do sistema principalmente por proteína) será dige-
digestório acima e abaixo do músculo diafragma, rida no estômago; o bacon (constituído
assinale a alternativa que corresponde apenas principalmente de gordura) será digerido
aos órgãos infradiafragmáticos desse sistema: no duodeno.
a) Esôfago (parte cervical, torácica e abdomi- e) A digestão da carne ocorrerá no esôfago.
nal), estômago, intestino delgado, intesti- O pão será digerido no estômago. O ba-
no grosso, fígado e pâncreas. con será digerido na faringe.
b) Esôfago (parte torácica e abdominal), estô- 4. Imagine a seguinte situação hipotética: você re-
mago, intestino delgado, intestino grosso, cebe em sua academia uma senhora de 65 anos
fígado e pâncreas. de idade que, embora sempre tenha sido seden-
c) Esôfago (parte abdominal), estômago, in- tária, te procurou porque está interessada em
testino delgado, intestino grosso, fígado e iniciar um programa de treinamento físico dire-
pâncreas. cionado. Em sua avaliação inicial, você constatou
d) Esôfago (parte abdominal), estômago, in- que ela encontra-se em menopausa desde os 45
testino delgado, intestino grosso, fígado, anos, que nunca fez terapia de reposição hor-
pâncreas e glândulas salivares. monal e apresenta várias alterações endócrinas.

79
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Considere os seus estudos sobre o tema e anali- vez que ela já apresenta idade avançada,
se as proposições a seguir: está na menopausa há 20 anos e nun-
I - Se a senhora apresentar hipertireoidismo, ca fez reposição hormonal. Dentre tais
a concentração de hormônio tireoidiano hormônios, pode-se citar o hormônio de
calcitonina poderá estar alta, predispon- crescimento (GH), o luteinizante (LH), o fo-
do a descalcificação óssea. Isto pode ser lículo estimulante (FSH) e os androgênios
dito considerando o fato de que esse hor- (produzidos pela glândula suprarrenal).
mônio ativa os osteoclastos e aumenta a Tal diminuição se relaciona a disfunções,
calcemia a fim de manter a concentração como aumento na pressão arterial, insô-
fisiológica de cálcio para os neurônios, o nia, dificuldade na coagulação sanguínea
miocárdio e o diafragma. Consequente- e instabilidade emocional.
mente, é bastante provável que essa se- É correto o que se afirma em:
nhora apresente ou venha a apresentar
a) I e IV, apenas.
severa osteoporose.
b) II e V, apenas.
II - Se essa senhora apresentasse disfunção
das glândulas suprarrenais, seria possível c) III e IV, apenas.
que esta tivesse um aumento na dosagem
d) III e V, apenas.
do cortisol e da adrenalina. Neste caso, é
certo que haveria contínua reabsorção e) IV e V, apenas.
óssea, uma vez que o hormônio cortico-
trófico (ACTH) produzido pela glândula 5. As glândulas endócrinas são glândulas especia-
hipófise estaria aumentado. lizadas na secreção dos hormônios na corrente
sanguínea, sendo as principais: pineal, hipófise,
III - Se de fato essa senhora apresentasse dis-
tireoide, paratireoide e suprarrenais. Há glându-
função das glândulas suprarrenais, seria
las mistas que possuem uma parte endócrina e
possível que esta tivesse sinais e sintomas
outra exócrina, como o pâncreas e as gônadas,
relacionados ao sistema circulatório, uma
vez que o excesso dos hormônios produ- ou seja, os ovários e os testículos. Sobre esse sis-
zidos por essas glândulas (como o cortisol tema, assinale a alternativa correta:
e a adrenalina) poderiam causar sobrecar- a) São hormônios da adeno-hipófise o hor-
ga cardíaca e hipertensão arterial. Tal fato mônio antidiurético (ADH) e a ocitocina.
é preocupante se você prescrever para b) São hormônios da glândula tireoide o pa-
a senhora exercícios aeróbios, os quais ratormônio e a melatonina.
tendem a aumentar o funcionamento do
aparelho cardiorrespiratório. c) São hormônios da glândula suprarrenal o
hormônio do crescimento e a prolactina.
IV - Se o paratormônio ou hormônio parati-
reoidiano (PTH) estiver aumentado, pode- d) A melatonina é produzida pela glândula
rá haver aumento da calcemia, da reab- pineal.
sorção óssea e dentária. Isto porque, em e) O hormônio do crescimento é produzido
casos de hiperparatireoidismo, os osteo- pela glândula tireoide.
clastos são ativados.
V - É bem provável que alguns hormônios
dessa senhora estejam em concentra-
ções abaixo dos níveis fisiológicos, uma

80
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado a seguir que trata da influência do


exercício físico sobre o sistema endócrino.

INTRODUÇÃO
Todas as funções do corpo humano e dos vertebrados mônios funcionam como intermediários entre a elabo-
de uma maneira geral são permanentemente controla- ração da resposta pelo sistema nervoso e a efetuação
das em estado fisiológico por dois grandes sistemas que desta resposta pelo órgão-alvo. Por isso, considera-se o
atuam de forma integrada: o sistema nervoso e o siste- sistema hormonal o outro controlador das funções cor-
ma hormonal (Guyton & Hall, 1997). porais (Guyton & Hall, 1997; Wilson & Foster, 1988).
O sistema nervoso é responsável basicamente pela ob- Para entendermos melhor o funcionamento desse sis-
tenção de informações a partir do meio externo e pelo tema e o conceito de órgão-alvo, torna-se importante
controle das atividades corporais, além de realizar a o conhecimento do que é um hormônio. Um hormônio
integração entre essas funções e o armazenamento de é uma substância química secretada por células espe-
informações de memória. A resposta aos estímulos (ou cializadas ou glândulas endócrinas para o sangue, para
informações provenientes do meio externo ou mesmo o próprio órgão ou para a linfa em quantidades nor-
do meio interno) é controlada de três maneiras, a sa- malmente pequenas e que provocam uma resposta
ber: 1) contração dos músculos esqueléticos de todo fisiológica típica em outras células específicas. Os hor-
o corpo; 2) contração da musculatura lisa dos órgãos mônios são reguladores fisiológicos - eles aceleram ou
internos e 3) secreção de hormônios pelas glândulas diminuem a velocidade de reações e funções biológicas
exócrinas e endócrinas em todo o corpo (Berne & Levy, que acontecem mesmo na sua ausência, mas em ritmos
1996; Guyton & Hall, 1997). diferentes, e essas mudanças de velocidades são funda-
Diferentemente dos músculos, que são os efetores finais mentais no funcionamento do corpo humano (Schotte-
de cada ação determinada pelo sistema nervoso, os hor- lius & Schottelius, 1978).

Fonte: Canali e Kruel (2001).

81
material complementar

Indicação para Ler

To the Bone
Ano: 2017
Sinopse: uma jovem está lidando com um problema que afeta muitos outros no
mundo, ou seja, a anorexia. Sem perspectivas de se livrar da doença e ter uma
vida feliz e saudável, a moça passa os dias sem esperança. Porém, quando ela
encontra um médico não convencional que a desafia a enfrentar a sua condição e
a abraçar a vida, tudo pode mudar.
Comentário: é um filme que todo profissional de Educação Física deveria assistir.
Ele trata de uma das desordens mais agressivas que têm acometido muitos ado-
lescentes e jovens atualmente, os quais, inclusive, optam pela prática desenfreada
e abusiva de exercícios físicos. Você deve assistir!

82
referências

ALDRIGHI, J. M.; ALECRIN, I. N.; OLIVEI, P. R.; SHINOMATA, H. O. Tabagis-


mo e antecipação da idade da menopausa. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v.
51, n.1, p. 51-53, jan./fev. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ramb/
v51n1/a20v51n1.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2018.
CANALI, E. S.; KRUEL, L. F. M. Respostas hormonais ao exercício. Rev. Paul.
Educ. Fis., São Paulo, v. 15, n. 2, p. 141-153, jul./dez. 2001. Disponível em: <ht-
tps://www.revistas.usp.br/rpef/article/viewFile/139895/135145>. Acesso em: 19
nov. 2018.
CHEHTER, E. Z. Doença do refluxo gastroesofágico: uma afecção crônica. Ar-
quivos Médicos do ABC, Santo André, v. 29, n. 1, p. 12-18, 2004. Disponível
em: <https://www.portalnepas.org.br/amabc/article/view/313/294>. Acesso em:
19 nov. 2018.
DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.
ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica aplicada - princípios básicos e
sistêmicos: esquelético, articular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002.
FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
MADEIRA, M. C. Anatomia da face: bases anátomo-funcionais para a prática
odontológica. 3. ed. São Paulo: Sarvier, 2001.
MADEIRA, M. C.; RIZZOLO, R. J. C.; CARIA, P. H. F.; CRUZ, R. S. M.; LEI-
TE, H. F.; OLIVEIRA, J. A. Anatomia do dente. 7. ed. rev. e ampl. São Paulo:
Sarvier, 2014.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia humana. 9. ed. São Paulo:
Atheneu, 2000.

83
gabarito

1. B.
2. C.
3. D.
4. C.
5. D.

84
UNIDADE
III
APARELHO UROGENITAL

Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Sistema urinário
• Sistema genital masculino
• Sistema genital feminino

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes dos sistema urinário: rim, ureter, bexiga
urinária e uretra.
• Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema genital masculino: testículos,
epidídimos, ductos deferentes, glândulas seminais,
ducto ejaculatório, próstata, pênis, uretra, glândulas
bulbouretrais e bolsa escrotal.
• Abordar os principais aspectos morfológicos e funcionais
dos componentes do sistema genital feminino: ovário, tuba
uterina, útero, vagina, estruturas do pudendo feminino:
monte do púbis, lábio maior do pudendo, lábio menor do
pudendo, vestíbulo da vagina, bulbo do vestíbulo, óstio da
vagina, glândula vestibular maior e glândulas vestibulares
menores. Cavidade pélvica e peritônio, períneo e mamas.
unidade

III
INTRODUÇÃO

O
aparelho urogenital é constituído pelos sistemas urinário, genital mascu-
lino e genital feminino. Enquanto os sistemas genitais agem em conjunto
para possibilitar a continuidade da vida humana, o sistema urinário ga-
rante a manutenção da homeostasia dos líquidos corpóreos.
O sistema urinário, por exemplo, garante que produtos residuais gerados pelo
metabolismo corpóreo sejam eliminados para o meio externo evitando danos ce-
lulares como alterações de pH e mesmo morte celular. Ele é constituído pelos rins,
ureteres, bexiga urinária e uretra. Os rins são considerados órgãos uropoiéticos, pois
produzem a urina a partir da filtragem do plasma. Os ureteres e a uretra são chama-
dos de órgãos urocondutores pelo fato de conduzirem a urina. Já a bexiga urinária é
um órgão uroarmazenador, pois dela depende a estocagem da urina até o momento
da micção ou diurese (ou seja, o ato de urinar).
Os sistemas genitais possuem estruturas anatômicas específicas que podem ser
agrupadas em órgãos gametógenos ou gônadas (os quais produzem gametas e hor-
mônios sexuais), órgãos gametóforos ou vias espermáticas (os quais permitem o
deslocamento dos gametas), órgãos de cópula (os quais entram em contato duran-
te a cópula ou coito, ou seja, o ato sexual propriamente dito), estruturas eréteis (as
quais aumentam de volume em decorrência da retenção de sangue e melhoram,
assim, o acoplamento entre eles durante a cópula), glândulas anexas (as quais
produzem secreções que facilitam o coito ou a progressão dos gametas nas vias
genitais) e órgãos externos (os quais são visíveis à superfície do corpo). Além
disso, apenas no sistema genital feminino há um órgão que abriga o novo ser
em formação até que o período gestacional seja cumprido (o útero) .
O objetivo desta unidade é descrever os aspectos mais relevantes dos
sistemas urinário e genitais, bem como apresentar as suas inter-relações
e dependência com os outros sistemas do corpo. Não se esqueça que o
profissional de Educação Física precisa ter conhecimento sobre esses sis-
temas, pois ele será solicitado a responder questões sobre o corpo hu-
mano. Assim, aproveite a oportunidade de entendê-los e bom estudo!
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Urinário

90
EDUCAÇÃO FÍSICA

Caro(a) aluno(a), o sistema urinário será abordado


nesta unidade de forma a oferecer a você uma vi-
são geral das funções desse tão importante sistema
em relação ao corpo humano como um todo. Além
disso, serão apresentados todos os seus componen-
tes anatômicos e serão pontuados os seus principais
aspectos funcionais.

FUNÇÕES

O aparelho urogenital é composto pelos sistemas


urinário, genital masculino e genital feminino, os
quais, apesar de apresentarem algumas semelhanças
entre si, diferem bastante em relação às suas estru-
turas e funções.
O sistema urinário, ao contrário do que muitas
pessoas pensam, não serve apenas para sintetizar
urina. Ele é vital, pois a sua atuação está diretamente
relacionada à manutenção da homeostasia corpórea
(o que justifica o grande número de pessoas em he-
modiálise e as intermináveis filas de transplante por
conta de graves doenças renais).
O sistema urinário é considerado um sistema
osmorregulador que controla a composição do
sangue e dos líquidos intra e extracelular, moni-
torando não só a quantidade de água, mas tam-
bém de sais minerais, toxinas, excretas nitrogena-
das (ureia e ácido úrico, por exemplo), produtos
da degradação da hemoglobina, ácido carbônico,
metabólitos de hormônios etc. Para tanto, o sis-
tema urinário possibilita a excreção de algumas
substâncias e a reabsorção de outras. Ademais,
influencia o volume de sangue do corpo e, con-
sequentemente, a pressão arterial (TORTORA;
DERRICKSON; WERNECK, 2010). Figura 1 – Órgãos do sistema urinário

91
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

COMPONENTES
Rim
O rim é o principal órgão do sistema urinário, pois
é ele que filtra o plasma sanguíneo e forma a urina
(realiza a uropoiese). Além disso, é responsável pela
síntese da forma ativa da vitamina D, de glicose em
casos de jejum prolongado, de eritropoetina (gli-
coproteína que atua na medula óssea estimulando
a produção de hemácias) e de renina (uma enzima Figura 2 – Rim

produzida por fibras musculares das artérias quan-


do a pressão arterial cai). Em corte, o rim apresenta uma porção central es-
De cor avermelhada, o rim é um órgão par que cura chamada medula renal e outra periférica mais
apresenta a forma de um grande feijão e se localiza clara chamada córtex renal. O córtex se projeta em
na cavidade abdominal. Ele pesa de 125 a 170 g e direção à medula formando as colunas renais que,
apresenta cerca de 10 cm de comprimento, 2 de es- por sua vez, separam porções da medula chamadas
pessura e 5 de largura. Todavia o rim esquerdo ten- pirâmides renais. As pirâmides se estreitam inferior-
de a ser um pouco mais comprido e estreito do que mente originando as papilas renais, as quais apre-
o direito, que fica ligeiramente mais baixo devido à sentam forames para lançar a urina nos cálices re-
posição do fígado. nais menores (tais cálices se encaixam nas papilas à
Por fora, ele é revestido por uma cápsula fibrosa semelhança de uma taça, justificando o seu nome).
de tecido conjuntivo e uma cápsula adiposa. Ambas Os cálices renais menores se unem formando cálices
auxiliam na proteção e na fixação do rim à cavidade renais maiores e estes se abrem na pelve renal.
abdominal. Todavia os rins podem se deslocar du- Dentro de cada rim há cerca de 1 milhão de né-
rante os movimentos respiratórios e ao mudarmos a frons, os quais servem para filtrar o sangue e formar a
posição corpórea. urina. Eles atuam como filtros, separando o que deve
Apresentam uma face anterior e outra poste- ser excretado ou reaproveitado pelo corpo. Esta es-
rior, uma margem medial e outra lateral e um polo trutura microscópica tem a forma de um tubo sinuo-
superior e outro inferior. O polo superior é mais so e é formada por diversas porções (glomérulo renal,
espesso, arredondado e próximo da linha media- cápsula glomerular, túbulo contorcido proximal, tú-
na. Na margem medial existe um fissura chamada bulo reto, túbulo contorcido distal e ducto coletor). O
hilo renal por onde passam os vasos, os nervos e ducto coletor recebe a urina formada e a encaminha
a pelve renal. ao ureter, possibilitando que os cerca de 1.500 ml de
urina produzidos ao dia cheguem à bexiga urinária
(TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010).

92
EDUCAÇÃO FÍSICA

Ureter
O ureter é um tubo muscular estreito e longo (de
25 a 30 cm de comprimento) que apresenta ca-
pacidade contrátil (movimentos peristálticos).
Como a sua função é conduzir a urina produzida
no rim até a bexiga urinária, ele tem origem no
hilo renal e deixa de existir ao desembocar na be-
xiga urinária.
Em seu trajeto do rim à bexiga, ele se justapõe
às paredes abdominal e pélvica, passando atrás do
peritônio. Assim, apresenta uma parte abdominal,
uma parte pélvica e uma parte intramural (quando
adentra a parede da bexiga urinária).
Os ureteres atravessam a parede muscular da
bexiga urinária de maneira oblíqua, formando
uma válvula unidirecional que impede o refluxo da
urina em direção ao ureter. Além disso, a pressão
interna que o enchimento da bexiga causa e as suas
contrações atuam como um esfíncter, impedindo,
assim, tal refluxo (WATANABE, 2000).

Figura 3 – Néfron

Os cálculos renais (“pedras nos rins”) podem se for-


mar nos cálices, na pelve, no ureter e até na bexiga
urinária, obstruindo o fluxo de urina, provocando a
contração dos músculos do ureter e desencadeando
fortes dores e sangramento ao urinar (hematúria).
Isto ocorre principalmente em pessoas que tenham
predisposição genética e que ingerem pouca água,
mas muita carne, leite, queijo, vitaminas C e D ou que
tenham alteração na reabsorção de cálcio. Além dis-
so, podem desenvolver doenças como o hiperparati-
reoidismo, que obriga o repouso prolongado. O uso
excessivo de antiácidos que tenham cálcio pode au-
mentar a incidência (DANGELO; FATTINI, 2011). Figura 4 – Ureter (suas partes)

93
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

BEXIGA URINÁRIA URETRA

A bexiga urinária é um órgão ímpar que se loca- A uretra é um tubo muscular ímpar e mediano
liza na cavidade abdominal (no feto e no recém- que conduz a urina até o meio externo. Este ór-
-nascido) ou na cavidade pélvica (após a puberda- gão difere em relação aos sexos. Assim, enquanto
de). Ela é constituída por músculo liso capaz de se a uretra feminina é curta (cerca de 4 cm) e desti-
distender e possibilitar a sua função de armazena- na-se apenas à passagem de urina, a masculina é
mento de urina (pode armazenar de 350 a 1.500 longa (cerca de 20 cm) e destina-se à passagem de
ml de urina). Por isto é um órgão oco (MOORE urina e de sêmen durante a ejaculação. Desta for-
et al., 2014). ma, a uretra masculina pertence tanto ao sistema
A idade, o sexo e as fases de vacuidade (se está urinário quanto ao sistema genital masculino.
cheia ou vazia) podem influenciar a sua forma, o seu A uretra se abre para o meio externo por meio
tamanho e a sua relação com órgãos vizinhos. No adul- do óstio externo da uretra, um pequeno orifício
to, por exemplo, quando vazia, ela fica achatada contra que, na mulher, se localiza entre os lábios meno-
a sínfise púbica e, quando cheia, fica ovóide e se salien- res do pudendo (próximo ao clitóris e ao óstio da
ta na cavidade abdominal. No homem, ela localiza-se vagina), e no homem, se localiza na região central
à frente do reto, e na mulher, o útero fica interposto da glande.
entre essa bexiga urinária e o reto (FREITAS, 2004). No homem, ela é sinuosa e dividida em quatro
partes: uretra pré-prostática ou intramural, uretra
prostática, uretra membranácea e uretra esponjosa.
A uretra prostática é completamente circundada
pela próstata, a qual nela lança a sua secreção. A
uretra membranácea penetra a membrana do pe-
ríneo e termina ao entrar no pênis. As glândulas
bulbouretrais pertencentes ao sistema genital mas-
culino se localizam próximas a esta parte da uretra.
A uretra esponjosa é longa, envolta pelo corpo es-
ponjoso do pênis e nela as glândulas bulbouretrais
Figura 5 – Bexiga urinária se abrem (DI DIO, 2002).

94
EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS

Você certamente já ouviu falar e se preocupou com o câncer de próstata. Mas você sabia que, no Brasil,
esse câncer é o segundo mais comum entre os homens (atrás apenas do câncer de pele não-melano-
ma)? Para saber mais, acesse: <http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/tiposdecancer/site/home/
prostata/definicao>.

Fonte: a autora.

95
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Genital Masculino

96
EDUCAÇÃO FÍSICA

Neste tópico, serão apresentadas as funções, a divi- do escroto. Esta migração obrigatoriamente deve se
são e os componentes anatômicos do sistema genital completar antes da puberdade para que a sua fun-
masculino. Para cada componente, serão destacados ção na produção de gametas possa ser viável. Isto
a localização, as principais características morfoló- porque a temperatura intra-abdominal (36 a 37 °C)
gicas e os aspectos funcionais mais relevantes. é maior do que a ideal para a espermatogênese (que
deve ficar em torno de 35 °C). Inclusive, quando o
FUNÇÕES testículo não migra para a bolsa escrotal (criptor-
quidia) é necessária uma intervenção cirúrgica. Vale
O sistema genital masculino atua junto com o femi- lembrar que, além da função de produção contínua
nino, possibilitando a manutenção do número de de gametas a partir da maturidade sexual, os testí-
indivíduos da espécie humana. O masculino é res- culos também produzem hormônios sexuais como
ponsável pela formação de gametas, pela passagem a testosterona.
destes pelos genitais, pelo encontro deles (por meio Os testículos esquerdo e direito são separados
da cópula) e pela produção de hormônios (especial- por um septo de tecido conjuntivo (septo do es-
mente a testosterona) que garantem as característi- croto) visível externamente como uma espécie de
cas sexuais secundárias. “costura” mais escura no escroto (rafe do escroto).
Esta região é extremamente inervada e, portanto,
DIVISÃO muito sensível.
Internamente, a superfície do testículo é re-
O sistema genital masculino apresenta órgãos ge- vestida por uma cápsula muito resistente de tecido
nitais externos e internos. Os externos são visíveis conjuntivo (túnica albugínea) e por um saco seroso
à superfície do corpo e incluem pênis e escroto. Os (túnica vaginal) que emite septos para o seu interior,
internos não são visíveis à superfície do corpo e, na dividindo-o em lóbulos. Nos lóbulos, os espermato-
maioria da vezes, ficam dentro da cavidade pélvica e zoides são formados e deles tais gametas saem em
incluem testículo, epidídimo, ducto deferente, glân- direção à cabeça do epidídimo.
dula seminal, ducto ejaculatório, próstata, uretra e Como o testículo fica externo à parede da pelve
glândula bulbouretral (MIRANDA NETO; CHO- e os outros órgãos do sistema genital masculino es-
PARD, 2014). tão em seu interior, várias estruturas entram e saem
da bolsa escrotal, formando o funículo espermático.
COMPONENTES Este funículo percorre o canal inguinal, uma espé-
Testículo cie de túnel através da parede do abdome, o qual
Os testículos são órgãos pares, de forma oval e acha- pode apresentar hérnias inguinais. Dentre as estru-
tados no sentido látero-lateral. Eles se desenvolvem turas que percorrem o canal inguinal, destacam-se
dentro do abdome (perto aos rins), mas à medida as veias testiculares, as quais podem apresentar va-
que a gestação da mãe avança, os testículos do bebê rizes (varicocele), levando ao acúmulo de sangue no
de sexo masculino descem e se posicionam dentro testículo e diminuindo a espermatogênese. Assim,

97
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

dentro da bolsa escrotal não fica apenas o testículo, Ducto deferente


mas também o epidídimo, parte do ducto deferente O ducto deferente é um órgão par, em forma de um
e do funículo espermático (MOORE et al., 2014). longo tubo (tem cerca de 30 cm de comprimento),
constituído de músculo liso e, portanto, capaz de se
contrair, facilitando a expulsão dos espermatozoides
no momento da ejaculação.
A sua função é permitir que os espermatozoi-
des amadurecidos passem da cauda do epidídimo
à próstata, sendo considerado o canal excretor do
testículo. Assim, ele se une aos ductos das glândulas
seminais e penetra a próstata, originando o ducto
ejaculatório (DANGELO; FATTINI, 2011).
Figura 7 – Testículo

Epidídimo
O epidídimo é um órgão par que se estende da borda
posterior do testículo até o ducto deferente. Apresen-
ta a forma de tubo enovelado e se divide em cabeça
(região dilatada que fica na extremidade superior do
testículo), cauda (parte inferior, contínua ao ducto
deferente) e corpo (entre as outras duas partes). A
sua função é armazenar temporariamente os esper- Figura 9 – Ducto deferente

matozoides e permitir a sua maturação (MIRANDA


NETO; CHOPARD, 2014). SAIBA MAIS

A vasectomia é um procedimento cirúrgico


que impede que os espermatozoides subam
pelo ducto deferente e cheguem até o ducto
ejaculatório. Desta forma, ocorre a esterili-
zação do homem, assim como a laqueadura
na mulher.
É importante pontuar que após a realização
da vasectomia, o homem ainda ejacula nor-
malmente, porém eliminando apenas líquido
seminal, sendo os espermatozoides reabsor-
vidos. Para saber mais, acesse: <https://www.
tuasaude.com/vasectomia>.

Fonte: a autora.

Figura 8 – Epidídimo

98
EDUCAÇÃO FÍSICA

Glândula seminal Por exemplo, ao nascimento, ela é pouco desenvolvi-


A glândula seminal tem por função (como o próprio da; na puberdade, ela aumenta de tamanho e cresce
nome sugere) secretar líquido seminal. Este líquido até em torno dos 30 anos; após os 40 anos, ela dimi-
é espesso, alcalino, rico em nutrientes (frutose, prin- nui gradativamente.
cipalmente) e serve para nutrir os espermatozoides e A sua função é secretar líquido prostático para
ativar o movimento destes. Em termos de quantida- ativar o movimento dos espermatozoides e neutra-
de, ele equivale a cerca de 60% do conteúdo líquido lizar a acidez do líquido proveniente do ducto de-
eliminado durante a ejaculação. ferente e da vagina. Este líquido representa cerca de
Esta glândula par tem cerca de 5 cm de com- 30% do volume ejaculado e dá o odor característico
primento e se localiza atrás da bexiga urinária, do sêmen.
acima da próstata, sendo constituída por músculo Este órgão é envolto por uma cápsula fibrosa
liso e tecido conjuntivo fibroso. Ela apresenta uma neurovascular e é constituído por músculo liso, teci-
extremidade inferior estreita (ducto da glândula do conjuntivo fibroso e glândulas (apresenta de 30 a
seminal), que se une ao ducto deferente forman- 50 glândulas). Assim, o músculo liso e a cápsula que
do, assim, o ducto ejaculatório dentro da próstata o reveste se contraem, forçando o líquido prostático
(WATANABE, 2000). em direção à parte prostática da uretra. Vale desta-
car que, como a uretra atravessa a próstata, a secre-
ção das glândulas prostáticas é lançada diretamente
na porção prostática da uretra.
A próstata se localiza na pelve, abaixo da bexiga
urinária, em posição mediana. Como ela fica pró-
xima ao reto, pode ser apalpada por meio do toque
retal a fim de diagnosticar hiperplasia de próstata
(DI DIO, 2002).

Figura 10 – Glândula seminal

Próstata
A próstata é a maior glândula acessória do sistema
genital masculino (tem aproximadamente 3 cm de
comprimento, 4 de largura e 2 de profundidade).
Todavia o seu tamanho varia de acordo com a idade. Figura 11 – Próstata

99
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

SAIBA MAIS Glândula bulbouretral


A glândula bulbouretral é um órgão par que se lo-
Quando o homem é diagnosticado com câncer caliza à direita e à esquerda da uretra membranosa,
de próstata e necessita ser submetido a uma junto ao bulbo do pênis. Embora seja bastante pe-
prostatectomia (tratamento convencional da quena, essa glândula desempenha uma importante
doença que consiste na retirada do órgão), as
chances de haver impotência sexual realmen- função, pois produz uma secreção mucosa e alca-
te existem. Todavia quando o diagnóstico é lina durante o período de excitação sexual (antes
precoce e a cirurgia é bem-sucedida, os riscos da ejaculação). Esta secreção, além de lubrificante,
de disfunção erétil são bem menores. Desta
forma, a prevenção é o melhor recurso. Para ajuda a neutralizar o pH da uretra e a eliminar resí-
saber mais, acesse: <https://www.andrologia. duos de urina (TORTORA; DERRICKSON; WER-
com.br/cancer-de-prostata-causa-impoten- NECK, 2010).
cia-sexual>.

Fonte: a autora.

Ducto ejaculatório
O ducto ejaculatório tem aproximadamente 2 cm de
comprimento (é o menor segmento das vias esper-
máticas). Este órgão ímpar se forma pela união do
ducto da glândula seminal com o ducto deferente,
atravessa a próstata e desemboca na parte prostática
da uretra (FREITAS, 2004).

Figura 13 – Glândula bulbouretral

Uretra
A uretra masculina é um tubo sinuoso, mediano e
longo (cerca de 20 cm de comprimento), constitu-
ído por tecido conjuntivo, músculo liso e mucosa.
Apresenta uma parte pré-prostática (ou intramu-
ral), uma parte prostática, uma parte membranácea
e uma parte esponjosa. No homem, esta estrutura
anatômica é comum tanto ao sistema urinário quan-
Figura 12 – Ducto ejaculatório to ao sistema genital masculino.

100
EDUCAÇÃO FÍSICA

A uretra prostática se localiza na próstata e dela O pênis apresenta três regiões principais. A raiz
recebe secreção prostática e sêmen. A uretra mem- é a sua porção fixa, que representa onde esse órgão
branácea penetra a membrana do períneo e termina se origina. O corpo é a sua parte livre e móvel onde
ao entrar no pênis. A uretra esponjosa começa na os corpos cavernosos e o corpo esponjoso estão. A
extremidade distal da uretra membranácea, termina glande é a sua extremidade distal dilatada onde o ós-
no óstio externo da uretra, é longa e se localiza den- tio externo da uretra se abre.
tro do corpo esponjoso do pênis. Nela se abrem as A glande é coberta por uma pele fina (chama-
glândulas bulbouretrais (MOORE et al., 2014). da prepúcio) que forma uma prega retrátil e cuja
mobilidade é limitada pelo frênulo do prepúcio
(localizado inferiormente). Nela existem glândulas
prepuciais produtoras de esmegma (uma secreção
sebácea de odor característico que lubrifica a glan-
de). Se a abertura do prepúcio for estreita a ponto de
impedir a exposição da glande (fimose), ocorre des-
conforto durante o coito e a higienização do pênis
fica comprometida. Tal fato é maléfico, pois devido
à glande apresentar inúmeras glândulas sebáceas e
prepuciais, as secreções podem se acumular, fazen-
do com que haja proliferação de microrganismos e,
provavelmente, infecção (aparece odor desagradável
e prurido/coceira) (WATANABE, 2000).

Figura 14 – Comparação entre as uretras masculina e feminina

Pênis
O pênis é um órgão ímpar cuja principal função é
penetrar o sistema genital feminino (por meio da
vagina) e assim permitir o coito para que os esper-
matozoides possam ter contato com os gametas fe-
mininos.
É constituído por três longas massas cilíndricas
de tecido erétil (dois corpos cavernosos e um corpo
esponjoso), os quais apresentam pequenos espaços
onde o sangue fica retido, possibilitando a ereção.
Além desses corpos, o pênis também apresenta mui-
tos vasos sanguíneos e linfáticos, e é revestido por
uma pele fina, sensível, elástica e lisa. Figura 15 – Pênis

101
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

EREÇÃO E EJACULAÇÃO

Escroto ou bolsa escrotal A ereção é caracterizada pelo enrijecimento do pê-


O escroto é um órgão ímpar que se localiza inferior- nis, o qual passa do estado de flacidez para o de ri-
mente à sínfise púbica, atrás do pênis, ficando pen- gidez a fim de possibilitar o coito. A ejaculação é a
dente na região urogenital. Esta bolsa fibromuscular eliminação do sêmen (espermatozoides e líquido
cutânea tem por função principal conter o testículo seminal) pelo óstio externo da uretra, o que ocorre
fora da cavidade pélvica, o que mantém a tempera- habitualmente no momento do orgasmo ou durante
tura ideal para a espermatogênese (35 ºC). o sono (polução noturna).
A pele do escroto é muito pigmentada, com pou- A ereção é desencadeada por estímulos físicos
cos pelos e muitas glândulas sebáceas e sudoríferas, (com o toque, por exemplo) e estímulos psíquicos
cuja sudorese ajuda a eliminar o calor. Ela é marca- (por meio de um pensamento relacionado à sexu-
da externamente por uma “costura” chamada rafe do alidade). Isto porque tais estímulos geram uma res-
escroto. Internamente, o septo do escroto o divide posta do sistema nervoso autônomo parassimpático
em dois compartimentos onde o testículo, o epidídi- que desencadeia a secreção de óxido nítrico (NO),
mo e a parte inferior do funículo espermático, bem o qual causa relaxamento dos músculos das artérias
como seus envoltórios, ficam contidos. do pênis e, consequentemente, a vasodilatação. Tal
Aderida à pele do escroto está a túnica dartos, fato faz com que o sangue flua rapidamente para o
formada por fibras musculares lisas fundamentais à pênis, ocupando o tecido erétil de seus corpos caver-
termorregulação. A contração dessas fibras gera um nosos e esponjoso.
aspecto enrugado na pele, ajudando os músculos A ejaculação é desencadeada pelo sistema ner-
cremásteres a manterem os testículos mais próxi- voso autônomo simpático, o qual causa a vasocons-
mos do corpo a fim de reduzir a perda de calor. Isto trição arterial e a redução do fluxo de sangue para os
ocorre com o frio, por exemplo (MIRANDA NETO; corpos cavernosos, fazendo com que o pênis volte
CHOPARD, 2014). ao estado de flacidez.
O desempenho sexual pode ser afetado por pro-
blemas psicológicos, tensões emocionais e insufici-
ências vasculares (comum em idosos, diabéticos,
hipertensos, sedentários e fumantes). O fumo se
destaca por afetar diretamente a função erétil, uma
vez que apresenta poderoso efeito vasoconstritor.
Além disso, quando associado à predisposição ge-
nética, o fumo pode estar envolvido em várias do-
enças degenerativas da parede arterial (MOORE et
al., 2014).

Figura 16 – Bolsa escrotal

102
EDUCAÇÃO FÍSICA

103
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Genital Feminino

104
EDUCAÇÃO FÍSICA

De igual modo ao sistema genital masculino, o sis- órgão par e de forma oval apresenta consistência
tema genital feminino será apresentado nesta aula firme (inclusive, esta aumenta com a idade) e a sua
com destaque para as suas funções gerais, a sua di- função é produzir gametas femininos (ovócitos) e
visão e os seus componentes. Para cada estrutura hormônios (estrógeno e progesterona) a partir da
anatômica que o forma, serão pontuados localização puberdade.
anatômica, principais características morfológicas e O ovário é envolto por uma cápsula de tecido
aspectos funcionais mais relevantes. conjuntivo chamada túnica albugínea. Nas mulheres
pré-púberes, a sua superfície externa é lisa e rosada,
FUNÇÕES porém as sucessivas ovulações lhe causam fibrose e
distorções por cicatrizes, além de lhe conferir um
O sistema genital feminino atua junto ao masculino, aspecto branco/acinzentado e rugoso (DANGELO;
possibilitando a manutenção do número de indiví- FATTINI, 2011).
duos da espécie humana. O feminino é responsável
pela formação de gametas, pela passagem destes
pelos genitais, pelo encontro deles (por meio da có-
pula) e pela produção de hormônios (especialmente
estrógeno e progesterona) que garantem as caracte-
rísticas sexuais secundárias. Complementarmente, o
sistema genital feminino possibilita o período gesta-
cional e o trabalho de parto.

DIVISÃO

O sistema genital feminino apresenta órgãos genitais Figura 17 – Ovário

externos e internos. Os externos são visíveis à super-


fície do corpo e incluem as estruturas da vulva ou pu- Tuba uterina
dendo feminino. Os internos não são visíveis à super- A tuba uterina é um órgão tubular com cerca de 10
fície do corpo, na maioria da vezes, ficam dentro da cm de comprimento e uma luz bastante estreita. A
cavidade pélvica e incluem ovário, tuba uterina, útero sua extremidade medial se comunica com o útero e a
e vagina (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014). sua extremidade lateral se comunica com a cavidade
peritoneal.
COMPONENTES Ela apresenta quatro partes principais: infundí-
Órgãos internos bulo, ampola, istmo e parte uterina. O infundíbulo
Ovário é a sua extremidade distal, alongada, justaposta ao
O ovário é um órgão alojado na fossa ovárica que ovário, móvel e com franjas (fímbrias). A ampola é
mede cerca de 4 cm na vida adulta, embora tenda a a sua parte mais longa e larga, móvel e onde nor-
diminuir de tamanho com o envelhecimento. Este malmente a fecundação ocorre. Istmo é uma porção

105
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

estreita, de parede espessa e que penetra o útero. A com a idade, com o estado gestacional e a vacuidade
parte uterina atravessa a parede do útero e se abre na da bexiga e do reto.
cavidade uterina. Este órgão cavitário é eminentemente muscular
Internamente, a tuba apresenta pregas longitudi- e apresenta aproximadamente 7 cm de comprimen-
nais (pregas tubárias) que lhe dão um aspecto labi- to, 5 de largura e 90 g de peso. Embora de dimen-
ríntico útil para a captação e o transporte do ovócito sões pequenas, ele pode aumentar o seu tamanho
e do espermatozoide por meio de seu comprimento. para abrigar o feto, inclusive gêmeos, trigêmeos etc.
Assim, a sua principal função é transportar os ovóci- Assim, as suas principais funções são alojar o em-
tos e os espermatozoides (FREITAS, 2004). brião para que este se desenvolva durante o período
gestacional e, por meio de fortes contrações de suas
paredes musculares, possibilite o parto natural ou
normal (via vaginal).
O útero apresenta corpo (a sua parte principal,
em cujo interior está a cavidade uterina) e colo (que
inferiormente se projeta para a vagina). Estas partes
são separadas pelo istmo do útero.
Perimétrio, miométrio e endométrio são as três
camadas da parede do corpo do útero. Enquanto o
perimétrio é externo, o miométrio forma a maior
Figura 18 – Tuba uterina (externa e internamente) parte de sua parede (constituído de músculo liso),
e o endométrio é sua camada mucosa interna que
SAIBA MAIS
participa do ciclo menstrual. Mensalmente, o endo-
métrio se prepara para receber o zigoto, tornando-
A laqueadura é um procedimento voluntário -se espesso e rico em capilares. Se a fecundação não
de esterilização definitiva da mulher. Esta téc- ocorrer, este espessamento se descama, fazendo com
nica promove a obstrução das tubas uterinas,
impedindo o processo de fecundação. Para que o sangue seja eliminado pelo óstio da vagina
saber mais, acesse: <https://minutosaudavel. (menstruação).
com.br/laqueadura/>. O útero e a vagina formam entre si um ângulo de
Fonte: a autora. cerca 90º, e ele se flete anteriormente em relação ao
seu próprio colo. Este posicionamento é importante
para possibilitar o período gestacional sem inter-
corrências, e é mantido por ligamentos. Todavia o
Útero envelhecimento e a menopausa podem tornar esses
O útero tem a forma de uma pera invertida, se lo- ligamentos menos resistentes e mais flácidos (devi-
caliza na pequena pelve (entre a bexiga urinária e o do a menor produção de estrógeno e à redução na
reto), onde é envolto pelo ligamento largo do útero. síntese de colágeno), fazendo com que haja prolapso
A sua forma, o seu tamanho e a sua posição variam uterino e/ou vesical (ou seja, útero e bexiga urinária

106
EDUCAÇÃO FÍSICA

podem sair de suas posições e migrarem a favor da A vagina é constituída por uma túnica externa
gravidade). Em alguns casos, cirurgias corretivas são de tecido conjuntivo, uma média de músculo liso e,
necessárias (DI DIO, 2002). internamente, por uma mucosa. A camada mucosa
é resistente, elástica, apresenta glândulas produto-
ras de muco e nela existem células que, sob a ação
do estrógeno, sintetizam glicogênio e partículas de
gorduras que são utilizados por lactobacilos da flora
vaginal para a produção de ácido lático. Este ácido
baixa o pH da vagina protegendo-a contra microrga-
nismos e paralisando os espermatozoides. Além dis-
so, na mucosa existem rugas vaginais que melhoram
a adesão ao pênis durante o coito. Todavia tais rugas
tendem a desaparecer com o envelhecimento e com
a fraqueza do músculo liso que forma a sua camada
Figura 19 – Útero e vagina média (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

Vagina ÓRGÃOS EXTERNOS


A vagina (cujo significado é “bainha”) é o órgão de As estruturas anatômicas externas do sistema genital
cópula, pois a sua função é abrigar o pênis durante feminino recebem o nome de vulva ou pudendo femi-
o coito. Adicionalmente, a vagina é um tubo muscu- nino. São elas: o monte do púbis, os lábios maiores e
lomembranáceo que forma um canal de passagem menores do pudendo, o clitóris, o bulbo do vestíbulo e
para os produtos menstruais e representa a parte in- as glândulas vestibulares maiores e menores. Essas es-
ferior do canal de parto. truturas orientam o fluxo da urina, evitam a entrada de
A vagina é um órgão interno, ímpar, mediano, material estranho no aparelho urogenital e atuam como
que mede aproximadamente 8 cm de comprimento tecido sensitivo e erétil para a excitação e a relação se-
e cujas paredes normalmente ficam colabadas (ade- xual (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK, 2010).
ridas). Localizada à frente do reto e atrás da bexiga
urinária e da uretra, ela tem direção oblíqua para
baixo e para frente e, por isto, a sua parede anterior
é mais curta do que a posterior.
A sua comunicação com o meio externo ocorre
por meio do óstio da vagina, e nas mulheres virgens,
ele é parcialmente fechado pelo hímen. O hímen é
uma fina membrana de tecido conjuntivo pouco vas-
cularizado, cuja ruptura não é dolorosa e nem provo-
ca hemorragia. Após a sua ruptura, permanecem pe-
quenos fragmentos chamados carúnculas himenais. Figura 20 – Vulva

107
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Monte do púbis Clitóris e bulbo do vestíbulo


O monte do púbis é uma região anterior à sínfise O clitóris e o bulbo do vestíbulo são formados por
púbica, contínua à parede abdominal, constituída tecido especial capaz de se ingurgitar de sangue (ou
principalmente de tecido adiposo e de pelos es- seja, estas estruturas podem se dilatar, tornando-se
pessos. Os pelos se formam após a puberdade e a eréteis) e, por isto, são considerados análogos aos
quantidade de tecido adiposo apresentada é signi- corpos cavernosos do pênis. Tal ingurgitamento con-
ficativamente maior na puberdade, tendendo a di- fere à mulher uma sensação de edema ou peso na re-
minuir após a menopausa. gião pudenda durante o período de excitação sexual.
Em termos funcionais, o clitóris é uma estrutura
Lábio maior do pudendo sensível e ligada à excitabilidade sexual. Em termos
O lábio maior do pudendo é um prega cutânea alon- constitucionais, ele apresenta duas extremidades
gada no sentido ântero-posterior, cuja principal (ramos do clitóris) que se unem formando o corpo
função é dar proteção indireta ao clitóris, ao óstio do clitóris. Este, por sua vez, termina em uma dila-
da uretra e ao óstio da vagina. Ele é constituído de tação conhecida como glande do clitóris (visível à
tecido conjuntivo frouxo e músculo liso, e após a pu- frente dos lábios menores).
berdade, apresenta-se hiperpigmentado, com glân- O bulbo do vestíbulo, em termos funcionais, está
dulas sebáceas e pelos (exceto em sua face interna, relacionado à melhora do contato entre o pênis e a va-
que permanece sempre lisa e rosada). gina durante o coito devido ao seu ingurgitamento de
sangue e à sua consequente dilatação. Em termos cons-
Lábio menor do pudendo titucionais, ele é formado por duas massas de tecido
O lábio menor do pudendo também é uma prega erétil, alongadas e dispostas como uma ferradura ao re-
cutânea alongada no sentido ântero-posterior e dor do óstio da vagina (não é visível à superfície externa
que se posiciona medialmente aos lábios maiores do corpo, pois é profundo e recoberto por músculos).
do pudendo. Entre os lábios menores do pudendo
direito e esquerdo (região chamada de vestíbulo da Glândulas vestibulares maiores e menores
vagina) se localizam o óstio externo da uretra, o ós- As glândulas vestibulares maiores são duas glându-
tio da vagina e os orifícios dos ductos das glândulas las profundas cujos ductos se abrem entre os lábios
vestibulares. menores do pudendo. Elas produzem uma secreção
Esses lábios são constituídos de tecido con- mucosa que lubrifica esta região e a parte inferior
juntivo esponjoso contendo tecido erétil, diversos da vagina durante o período de excitação sexual e o
vasos sanguíneos pequenos, glândulas sebáceas e coito (devido à sua compressão).
terminações nervosas sensitivas. A sua pele é lisa, As glândulas vestibulares menores apresentam-
úmida e vermelha, e em crianças e idosas, tendem -se em número variável, e os seus minúsculos ductos
a ser mais volumosos do que os lábios maiores de- se abrem entre o óstio da uretra e o óstio da vagina.
vido a uma grande quantidade de tecido adiposo É importante enfatizar que as secreções das glându-
em sua estrutura. las vestibulares maiores e menores tornam as estru-
turas da vulva úmidas e propícias à penetração.

108
EDUCAÇÃO FÍSICA

MAMAS

As mamas não pertencem ao sistema genital femi- com que as aréolas se tornem pedunculadas devido
nino, e sim, ao sistema tegumentar (que estuda es- à perda de elasticidade das estruturas de sustenta-
truturas como pele e unha). Todavia as mamas se ção, causando ptose mamária.
desenvolvem junto com os órgãos do sistema genital Embora os homens apresentem mamas, elas ten-
feminino, influenciadas pelos hormônios sexuais dem a ser pouco desenvolvidas em condições nor-
femininos e tendo o seu desenvolvimento mais ex- mais. Todavia, em caso patológico, a ginecomastia
pressivo durante a puberdade. faz com que as mamas se desenvolvam, o que neces-
Assim, as mamas são anexos de pele situados à sita, por vezes, de cirurgia reparadora. É importante
frente dos músculos da região peitoral. São consti- pontuar que o termo “seios” não deve ser usado para
tuídas por glândulas mamárias, tecido conjuntivo se referir às mamas.
(inclusive tecido adiposo) e pele. As suas glândulas
são especializadas na produção de leite após a ges-
tação. O tecido conjuntivo dá sustentação à mama
e o tecido adiposo está diretamente relacionado ao
tamanho e à forma dela. A sua pele é fina e apre-
senta glândulas sebáceas e sudoríparas (TORTORA;
DERRICKSON; WERNECK, 2010).
Anatomicamente, elas apresentam dois aci-
dentes anatômicos principais, a papila e a aréola.
A papila mamária é uma projeção composta prin-
cipalmente de fibras musculares lisas onde desem-
bocam os ductos lactíferos. Ela é muito inervada
e pode se tornar rija em decorrência da contração
de seus músculos. A aréola da mama é uma região
bastante pigmentada que fica ao redor da papila e
contém grande número de glândulas sudoríparas e
sebáceas. Nela existem pequenas saliências visíveis
e palpáveis (chamadas tubérculos) que marcam
o ponto onde os ductos lactíferos desembocam
(MOORE et al., 2014).
Durante a gravidez, é comum que a aréola fique
mais escura e que o volume da mama triplique em
função dos hormônios liberados neste período (pro-
lactina e ocitocina, por exemplo). Sucessivas gesta-
ções e amamentações e o envelhecimento fazem Figura 21 – Mama (vista anterior e lateral)

109
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

PERÍNEO

Períneo é o conjunto de partes moles (de forma lo-


sângica) que fecha inferiormente a pelve óssea, auxi-
liando na sustentação das vísceras pélvicas. Na mu-
lher, ele é atravessado pela uretra, pela vagina e pelo
reto; no homem, ele é atravessado apenas pela uretra
e pelo reto (DI DIO, 2002).
Considerando que o períneo está relacionado à
sustentação das vísceras, é importante que ele seja
fortalecido a fim de evitar prolapso visceral. Portan-
to, contrair o períneo ao caminhar, ao fazer exercí-
cios físicos ou ao levantar é essencial.

Figura 22 – Períneo

Ao término desta unidade, você deve estar apto(a)


para listar todas as estruturas anatômicas que com-
põem o sistema genital feminino, as suas localiza-
ções, inter-relações e funcionalidades. Além disso,
é importante que você tenha em mente que, para a
manutenção do número de indivíduos da espécie, o
sistema genital masculino deve agir em conjunto.

110
considerações finais

A manutenção adequada da composição dos líquidos do corpo é um proces-


so complexo que deve garantir que não haja perdas desnecessárias ou acúmulos
excessivos de água, eletrólitos e não eletrólitos (como colesterol, glicose, ureia,
ácido lático, ácido úrico, creatinina, bilirrubina e sais biliares, por exemplo).
Desta forma, a homeostasia depende diretamente da ação do sistema uriná-
rio, o qual realiza sucessivas filtragens do plasma para formar e eliminar a urina
por meio da micção quando necessário, mantendo, assim, valores normais de
pressão arterial. Por isto, anormalidades nesse sistema podem causar a morte e
justificar a quantidade de pessoas dependentes de hemodiálise ou no aguardo de
um transplante de rim. Desta forma, o sistema urinário exerce função vital.
Os sistemas genitais masculino e feminino são responsáveis por manter o
número de indivíduos da espécie. Embora o sistema genital feminino seja mais
complexo do que o masculino (pois apresenta o útero para abrigar o ser vivo em
formação), as funções do sistema genital masculino são mais longínquas e apre-
sentam ação sinérgica e interdependente.
A integridade das estruturas anatômicas que compõem esses sistemas in-
fluencia diretamente na viabilidade da reprodução natural. Por isto, doenças
vasculares, disfunções hormonais, má formação de órgãos, endometriose, ovário
policístico, doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e etc. podem inviabilizar
a reprodução.
O pleno conhecimento anatômico e fisiológico das estruturas que compõem
tanto o sistema urinário quanto os sistemas genitais garante não só o tratamento
adequado para tais males, mas a prevenção destes. Por isto, todo o(a) profissio-
nal/professor(a) de Educação Física deve ser exímio(a) conhecedor(a) dos aspec-
tos de normalidade e anormalidade de tais sistemas a fim de garantir orientação
adequada. Neste contexto, o(a) profissional de Educação Física deve se mostrar
apto(a) a dar esclarecimentos sobre DSTs, prevenção gestacional e vários outros
aspectos importantes desses sistemas.
Portanto, bom estudo para você!

111
atividades de estudo

1. “Vários produtos nocivos para o organismo são b) Ao contrário do proposto anteriormente,


levados aos rins por meio do sangue. Esses rins as glândulas bulbouretrais são conside-
os retiram da circulação e os expulsam pelas vias radas as principais glândulas do sistema
urinárias. Rins e vias urinárias constituem o siste- genital masculino, pois produzem a maior
ma urinário, o qual é de grande eficácia na depu- quantidade de líquido seminal eliminado
durante a ejaculação.
ração do organismo. Sobre este sistema, assinale
a alternativa correta: c) Contrariando as alternativas anteriores, a
a) A uretra feminina e a uretra masculina per- principal glândula do sistema genital mas-
tencem tanto ao sistema urinário quanto culino é a próstata, pois ela produz a maior
ao sistema genital feminino e masculino, quantidade de líquido seminal eliminado
respectivamente. durante a ejaculação.

b) A uretra é considerada uma estrutura d) A vasectomia é uma cirurgia na qual o duc-


urocondutora, ou seja, faz parte das vias to deferente é seccionado bilateralmente.
urinárias. Embora este procedimento seja de fato útil
para a esterilização do homem, pacientes
c) O ureter pertence tanto ao sistema uri- submetidos a tal prática perdem a capaci-
nário quanto ao sistema genital masculi- dade de ejaculação, embora a sensação de
no, pois é por ele que passam a urina e o orgasmo seja mantida.
sêmen.
e) A parte esponjosa da uretra percorre o cor-
d) A bexiga urinária é considerada uma es- po esponjoso do pênis. Além deste corpo,
trutura uropoiética, pois apresenta relação o pênis apresenta outros dois (os corpos
direta com a produção da urina. cavernosos), os quais estão diretamente
e) O rim é considerado uma estrutura uro- relacionados à capacidade de percepção
condutora e, por isto, faz parte das vias do orgasmo masculino.
urinárias.
3. O sistema genital engloba os órgãos que produ-
2. O sistema genital é um conjunto de órgãos res- zem, transportam e armazenam as células germi-
ponsáveis pela produção de gametas e hormô- nativas, que são as responsáveis por originar os
nios sexuais secundários, cuja finalidade é a gametas. Sobre esse sistema, assinale a alterna-
reprodução da espécie. Sobre esse sistema, as- tiva correta:
sinale a alternativa correta: a) As secreções das glândulas vestibulares
a) As glândulas seminais são consideradas maiores e menores são lançadas no mon-
as principais glândulas do sistema genital te do púbis.
masculino, pois produzem a maior quanti- b) Clitóris, óstio da vagina e óstio externo da
dade de líquido seminal eliminado durante uretra são estruturas da vulva ou puden-
a ejaculação. do feminino. Em ordem, se posicionam se-
quencialmente no sentido ântero-posterior.

112
atividades de estudo

c) Clitóris, óstio externo da uretra e óstio da 5. Ainda em referência ao sistema genital masculi-
vagina são estruturas da vulva ou puden- no, faça a associação correta entre as colunas a
do feminino. Em ordem, se posicionam seguir:
sequencialmente no sentido ântero-pos- I - Parte prostática da uretra.
terior.
II - Ducto deferente.
d) Estrógeno (ou estrogênio) e a progeste-
rona são os principais hormônios sexuais III - Parte esponjosa da uretra.
femininos, pois determinam vários acon- IV - Glândula seminal.
tecimentos dos ciclos femininos, além das
características sexuais secundárias. A pro- V - Glândula bulbouretral.
dução desses hormônios é realizada pelo ( ) Produz uma secreção liberada previamente
útero. à ejaculação a fim de limpar a uretra de resíduos
e) A produção dos hormônios sexuais femini- de urina e ajustar o pH deste canal.
nos é realizada pela tuba uterina. ( ) Recebe as secreções prostáticas que consti-
tuirão o sêmen.
4. Ainda em referência aos sistemas genitais mas-
culino e feminino, assinale a alternativa correta: ( ) Conduz os espermatozoides em direção ao
ducto ejaculatório.
a) O monte do púbis, os lábios maiores e os
lábios menores do pudendo são constituí- ( ) Recebe as secreções das glândulas bulbou-
dos principalmente por tecido ósseo. retrais.
b) A manutenção do pH vaginal básico é im- ( ) Produz grande quantidade do líquido elimi-
portante, pois evita a proliferação de mi- nado durante a ejaculação.
crorganismos patogênicos.
A sequência correta para a resposta da questão é:
c) Durante o parto natural, é necessário que
a) I, II, III, IV e V.
o bebê passe pelo ovário, pela tuba uteri-
na, pelo útero e, posteriormente, pela va- b) V, I, II, III e IV.
gina. c) II, I, IV, V e III.
d) A produção de esmegma é realizada pelas d) V, II, I, IV e III.
glândulas prepuciais. Tal secreção é impor-
tante, pois possibilita a adequada lubrifica- e) IV, I, II, III e V.
ção da glande.
e) O bulbo do vestíbulo e o clitóris não apre-
sentam ereção.

113
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado que aborda como a prática regular e bem orientada de exercícios físi-
cos pode beneficiar doentes renais submetidos ao tratamento de hemodiálise em relação
ao controle da hipertensão arterial, da capacidade funcional, da função cardíaca, da força
muscular e, consequentemente, da qualidade de vida.
Pacientes portadores de doença renal crônica (DRC) submetidos a tratamento dialítico apre-
sentam alterações físicas e psicológicas que predispõem ao sedentarismo. Nesta população, a
prescrição rotineira de exercícios físicos não é uma prática frequente, especialmente no nosso
país. No entanto, alguns autores têm demonstrado que um programa de exercícios para estes
pacientes contribui para o melhor controle da hipertensão arterial, da capacidade funcional,
da função cardíaca, da força muscular e, consequentemente, da qualidade de vida. Além dos
benefícios relacionados ao sistema cardiovascular, a realização do exercício traz benefícios se-
cundários, pois quebra a monotonia do procedimento, melhora aderência e pode aumentar a
eficácia da diálise. Na presente revisão, os autores discutem aspectos da realização de exercí-
cios físicos em pacientes portadores de DRC em diálise e apresentam dados iniciais de sua ex-
periência com a aplicação de exercícios supervisionados durante as sessões de hemodiálise.
O número de pacientes com doença renal crônica (DRC) em todo o mundo tem aumenta-
do em proporções alarmantes, ocasionando um importante problema de saúde pública. No
Brasil, de 1994 a 2005, o número de pacientes em hemodiálise (HD) e diálise peritoneal ele-
vou-se de 24.000 para 65.121. Como conseqüência, do número crescente de doentes renais
crônicos, os gastos do Ministério da saúde com a terapia renal substitutiva são de aproxima-
damente 1,4 bilhão de reais por ano, quantia esta correspondente a cerca de 10% do orça-
mento global desse ministério.
Nessa população, as doenças cardiovasculares (DCV) representam a principal causa de morbi-
dade e de mortalidade. Além disso, contribuem sobremaneira para a diminuição da capacidade
funcional, para a baixa tolerância ao exercício e, conseqüentemente, para a dificuldade de rea-
lização das atividades da vida diária. Além das DCV, também contribuem para a diminuição da
capacidade funcional em pacientes renais crônicos, a uremia, a anemia, a fraqueza muscular,
o sedentarismo, a desnutrição, entre outros. Utilizando o consumo máximo de oxigênio (VO2
máx) para avaliação da capacidade funcional, Painter et al. verificaram que pacientes em HD
possuem um valor médio de 64% do VO2 máx da média de indivíduos sadios, sedentários e da
mesma faixa etária. Outros autores demonstraram que o índice de mortalidade nestes pacien-
tes aumenta quando o VO2 máx atinge valores menores do que 17,5mL/kg/min(4).

Fonte: Reboredo et al. (2007).

114
material complementar

Indicação para Acessar

O link do vídeo apresenta o processo de ovulação, de fecundação e as primeiras divisões mitóticas res-
ponsáveis pela formação do embrião. De igual modo, apresenta o processo de implantação do embrião
no endométrio uterino. É um filme curto (tem menos de dois minutos de duração), porém muito didático,
pois retrata visualmente o milagre da concepção e do início do desenvolvimento da vida. Espero que você
assista e goste! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AvYFm3MXpQM>.

115
referências

DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana REBOREDO, M. M.; HENRIQUE, D. M. N.; BAS-
sistêmica e segmentar. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 2011. TOS, M. G.; PAULA, R. B. Exercício físico em pa-
DI DIO, L. J. A. Tratado de anatomia sistêmica apli- cientes dialisados. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 13, n.
cada - princípios básicos e sistêmicos: esquelético, arti- 6, p. 427-430, nov./dez. 2007. Disponível em: <http://
cular e muscular. 2. ed. v. 1. São Paulo: Atheneu, 2002. www.scielo.br/pdf/rbme/v13n6/14.pdf>. Acesso em:
FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. 20 nov. 2018.
Porto Alegre: Artmed, 2004. TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK,
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Ana- A. L. Princípios de anatomia e fisiologia. 12. ed. Rio
tomia humana: aprendizagem dinâmica. Maringá: de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
Clichetec, 2014. WATANABE, L. Erhart: elementos de anatomia hu-
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; mana. 9. ed. São Paulo: Atheneu, 2000.
ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orientada para a clíni-
ca. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

gabarito

1. B.
2. A.
3. C.
4. D.
5. B

116
UNIDADE
IV
APARELHO LOCOMOTOR

Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
• Sistema esquelético
• Sistema articular
• Sistema muscular

Objetivos de Aprendizagem
• Estudar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes do
sistema esquelético: generalidades dos ossos, funções do esqueleto, divisões
do esqueleto, tipos de ossos quanto à forma, à constituição e à arquitetura dos
ossos, crescimento ósseo, nutrição e inervação óssea, processo de ossificação,
fratura e reparo ósseo, acidentes anatômicos dos ossos e principais ossos do
corpo humano.
• Entender os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes
do sistema articular: definição, funções e classificação das articulações, tipos
e movimentos das articulações sinoviais, vascularização e inervação das
articulações, fatores que afetam o contato e a amplitude de movimento das
articulações sinoviais e envelhecimento articular.
• Elucidar os principais aspectos morfológicos e funcionais dos componentes
do sistema muscular: funções musculares, tipos de músculos com ênfase
no músculo estriado esquelético (MEE), tipos de contração e classificação
funcional do MEE, vascularização e inervação muscular, generalidades do
sistema muscular, órgãos anexos do sistema muscular e principais músculos
do corpo humano.
unidade

IV
INTRODUÇÃO

O
s sistemas esquelético, articular e muscular constituem o cha-
mado aparelho locomotor. Eles agem de maneira coordenada
e dependente do sistema nervoso para possibilitar os movi-
mentos voluntários e involuntários, as correções posturais e o
equilíbrio do corpo.
Ossos e cartilagens formam o sistema esquelético, o qual é estudado
pela osteologia. Por sua vez, o sistema articular é formado pelas articula-
ções (ou junturas), as quais são estruturas que fazem a conexão entre duas
ou mais partes rígidas do esqueleto (como ossos, cartilagens e dentes),
sendo este sistema estudado pela artrologia. Por fim, o sistema muscular
é constituído pelos músculos do corpo e os seus órgãos anexos (fáscias de
revestimento, bolsas sinoviais, bainhas fibrosas e sinoviais que revestem
os tendões dos músculos) e é estudado pela miologia. Os movimentos do
corpo humano são estudados pela cinesiologia.
Quando ocorre a adequada atuação desses três sistemas, é possível
que ossos, articulações e músculos se complementem a fim de que o de-
sempenho funcional seja garantido. Adicionalmente, os ossos suportam
e dão forma ao corpo, protegem os órgãos internos, são movimentados
pelos músculos que neles se inserem, armazenam íons (como cálcio e fos-
fato), fabricam células do sangue (por meio da medula óssea) e absorvem
toxinas (evitando danos hepáticos e renais, por exemplo). A maioria das
articulações relaciona-se aos movimentos. Já os músculos (que consti-
tuem quase metade do peso corporal do indivíduo), além de gerarem ati-
vamente movimentos por meio da tração óssea exercida nas articulações,
atuam na coordenação motora, no tônus muscular, no peristaltismo e na
produção de calor pelo corpo.
Nesta unidade, abordaremos os principais aspectos dos sistemas for-
madores do aparelho locomotor relacionando-os à prática do exercício
físico. Assim, fique atento(a) ao conteúdo programático e aproveite. Bom
estudo!
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Esquelético

122
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os ossos, em conjunto, pesam 12 kg no homem (crânio), pescoço (osso hioide e vértebras cervicais)
adulto, em média. Eles têm formatos variados, e em- e tronco (osso esterno, costelas, vértebras e sacro).
bora rígidos, os ossos são plásticos (se adaptam a es- O esqueleto apendicular é formado por ossos
truturas vizinhas). A sua quantidade varia conforme localizados nas extremidades do corpo (membros
a idade. Na criança, por exemplo, existem 350 ossos, superiores e inferiores), incluindo os ossos dos cín-
os quais se fundem com o tempo, fazendo com que o gulos (escápula, clavícula e ossos do quadril) (MO-
adulto apresente apenas 206. Exemplo dessa junção ORE et al., 2014).
ocorre no sacro, no osso do quadril e no osso fron-
tal. No entanto pode haver variações se o indivíduo
tiver dedos ou costelas a mais ou a menos e se os
critérios de contagem forem diferenciados.
Além dos ossos convencionais existem alguns
ossos especiais, por exemplo, os suturais, que se po-
sicionam entre as suturas do crânio, e os ossos hete-
rotópicos, que se formam em meio a tecidos moles,
como os músculos (MOORE et al., 2014).

FUNÇÕES DO ESQUELETO

Os ossos desempenham funções importantes, in-


clusive algumas vitais. Assim, o esqueleto possibi-
lita movimentos (são tracionados pelos músculos),
suporta o peso corporal, dá forma aos diferentes
segmentos do corpo, protege os órgãos internos,
armazena íons (como cálcio, fosfato e magnésio, os
quais são essenciais à sinapse e à contração muscu-
lar), sintetiza células sanguíneas (por meio da me-
dula óssea vermelha que se localiza em seu interior)
e absorve toxinas, diminuindo os efeitos deletérios
destes compostos em outros tecidos, como fígado e
rins (DANGELO; FATTINI, 2011).

ESQUELETO AXIAL E ESQUELETO APEN-


DICULAR

O esqueleto axial é formado por ossos localizados


na região central do corpo como os ossos da cabeça Figura 1 – Esqueleto axial e esqueleto apendicular

123
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

TIPOS DE OSSOS QUANTO À FORMA

Considerando o comprimento, a largura e a espes- ou seios paranasais, pois drenam o seu conteúdo
sura dos ossos, eles podem ser classificados como mucoso para a cavidade nasal (WATANABE, 2000).
longos (tubulares), curtos (cuboides), laminares
(planos), irregulares, sesamoides ou pneumáticos.
Os longos têm o comprimento maior em rela-
ção à largura e à espessura, para abrigar a medula
óssea, têm uma cavidade central chamada cavidade
medular e apresentam uma parte central chamada
diáfise e duas extremidades chamadas epífises. A
epífise proximal fica próxima ao cíngulo do mem-
bro, e a distal se localiza longe deste. Entre as epífises
e a diáfise está a metáfise. Fêmur, rádio, ulna, tíbia e
fíbula são alguns exemplos deste tipo de osso. Vale
destacar que ossos cujo comprimento predomina,
mas que não têm cavidade medular, são chamados
de alongados.
Ossos curtos têm os diâmetros equivalentes. É
o que ocorre, por exemplo, com os ossos carpais e
tarsais. Por outro lado, os ossos laminares são largos
e finos, e geralmente têm função protetora como al-
guns ossos do crânio (parietal, por exemplo).
Os irregulares têm formatos variados e nenhum
diâmetro predomina. É o caso das vértebras e de al-
Figura 2 – Comparação entre os tipos de ossos: a) exemplo de osso irre-
guns ossos da face. Já os sesamoides (também cha- gular b) exemplo de osso sesamoide c) exemplo de osso longo
mados intratendíneos ou periarticulares) são encon-
trados onde os tendões cruzam as extremidades dos
ossos longos a fim de protegê-los contra desgastes, CONSTITUIÇÃO E ARQUITETURA DOS
podendo, inclusive, mudar o seu ângulo de inserção OSSOS
(a patela é um exemplo característico, mas algumas
pessoas podem apresentar outros ossos sesamoides Os ossos são vivos, dinâmicos e têm um metabolis-
nas mãos e nos pés como variação anatômica). mo muito ativo. Na verdade, eles se renovam, em
Os ossos pneumáticos localizam-se no crânio média, a cada dois anos. Assim, podemos inferir que
(frontal, maxila, esfenoide e etmoide), apresentam o fêmur que te sustenta hoje não é o mesmo que te
cavidades (seios) revestidas por mucosa e contendo sustentava há dois anos nem será o mesmo que te
ar. Esses seios podem ser chamados de seios da face sustentará daqui a dois anos.

124
EDUCAÇÃO FÍSICA

O tecido ósseo é constituído por três componen- e não resistam à tensão e à tração que os músculos
tes principais: água, matriz óssea orgânica e matriz lhes impõem. A matriz inorgânica (cerca de 50% da
óssea inorgânica. A proporção de água é maior em estrutura óssea) é constituída por minerais como
recém-nascidos e crianças e diminui à medida que fosfato de cálcio e carbonato de cálcio, os quais dão
ocorre o envelhecimento, de forma que equivale a resistência à compressão. Assim, a deficiência dessa
25% no adulto (esta é uma das causas de os ossos matriz poderá fragilizá-los.
serem mais frágeis em idosos). A matriz orgânica As trabéculas ósseas podem se dispor bem próxi-
(também 25%) é rica em proteínas (proteoglicanas mas ou mais distantes umas das outras. No primeiro
e colágeno). Ela dá resistência à tensão e à tração às caso, forma-se o tecido ósseo compacto ou cortical,
quais os ossos estão sujeitos, ou seja, é responsável que é bem resistente e, por isto, tem alta capacidade
pela maleabilidade destes. Se não estiver presente, de sustentação de peso. No segundo caso, forma-se o
doenças como a dos ossos de vidro podem surgir, tecido ósseo esponjoso ou trabecular, que é altamen-
fazendo com que os ossos sejam frágeis, quebradiços te poroso e adaptado à absorção de impacto.

Figura 3 – Osso compacto e esponjoso

125
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

A distribuição de substância óssea compacta e es- As principais células ósseas são os osteoblastos, os
ponjosa não é uniforme para todos os ossos, pois osteócitos e os osteoclastos. Os osteoblastos são cé-
depende das solicitações biomecânicas, ou seja, lulas jovens que sintetizam e secretam fibras colá-
varia com a função do osso, com a tração e com a genas e outros componentes orgânicos necessários
pressão a que está sujeito. Assim, embora os ossos à matriz extracelular. Tais células iniciam a calcifi-
tenham uma fina camada externa de tecido compac- cação e, à medida que são recobertas por matriz, fi-
to e uma massa central de tecido esponjoso, ossos cam presas em suas secreções e se transformam em
longos que suportam peso têm maior quantidade de osteócitos. Os osteócitos são células maduras que
tecido compacto próximo à parte média da diáfise, mantêm o tecido ósseo. Osteoclastos são células re-
onde tendem a se curvar (diferentemente do que sultantes da fusão de até 50 monócitos, os quais libe-
acontece em outros ossos longos que não recebem ram enzimas e dissolvem as matrizes ósseas, estan-
grandes descargas de peso, ou nos ossos carpais e do, por isto, diretamente relacionadas à renovação
tarsais). Tal fato deve ser considerado ao prescrever óssea. A sua ação excessiva pode causar osteopenia e
exercícios físicos para pessoas tetraplégicas que per- osteoporose (MOORE et al., 2014).
deram a capacidade de manter o ortostatismo. Por
outro lado, atletas têm estrutura óssea diferenciada
em relação a indivíduos sedentários, pois são cons-
tantemente submetidos à descarga de peso e à tração
óssea (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).
Vale destacar que os ossos planos do crânio têm
a sua arquitetura adaptada à proteção do encéfalo
alojado em seu interior. Assim, entre as duas lâmi-
nas de substância óssea compacta que esses ossos
apresentam, existe uma camada de substância óssea
esponjosa interposta (chamada díploe) para absor-
ver impactos. Na díploe, estão presentes a medula
óssea vermelha e os vasos sanguíneos (DANGELO;
FATTINI, 2011).

Figura 5 – Células ósseas

Fatores como idade, hereditariedade, nutrição, do-


ença, trauma, gravidez, esforço funcional e influ-
ência hormonal influenciam a ação das células ós-
seas. Por exemplo, os ossos são influenciados pelo
hormônio do crescimento (GH), pelos hormônios
Figura 4 – Díploe sexuais (testosterona, estrógeno e progesterona),

126
EDUCAÇÃO FÍSICA

pela calcitonina (hormônio tireoidiano) e pelo para-


tormônio (ou hormônio paratireoidiano). Exceto o
paratormônio, que estimula a degradação óssea por
ativar os osteoclastos, os outros hormônios citados
são osteogênicos, pois ativam os osteoblastos.

SAIBA MAIS
Figura 6 – Tipos de medula óssea

A osteoporose é uma doença que torna os os-


sos progressivamente mais porosos. É comum Os elementos do esqueleto são revestidos por ca-
na velhice e em mulheres após a menopausa, madas de tecido conjuntivo fibroso nominadas pe-
pois ocorre redução do estrógeno e da reno- ricôndrio, periósteo e endósteo. O pericôndrio re-
vação da matriz orgânica. A ação excessiva
dos osteoclastos causa osteólise, aumen- veste as cartilagens, nutrindo-as; o endósteo reveste
tando o nível de cálcio no sangue e gerando o interior da cavidade medular e contém células for-
complicações como depósito do cálcio nas madoras de osso; o periósteo reveste externamente
articulações e nos rins, além de hipercoagula-
ção sanguínea (causando embolia pulmonar, os ossos, protegendo e ajudando em sua nutrição
acidente vascular encefálico isquêmico etc). e inervação, atua na consolidação de fraturas e no
Para saber mais, acesse: <http://www.scielo. crescimento ósseo e também ajuda na fixação dos
br/pdf/aob/v9n2/v9n2a07.pdf>.
tendões e ligamentos (MIRANDA NETO; CHO-
Fonte: a autora. PARD, 2014).

A medula óssea está presente no interior de prati-


camente todos os ossos do feto e em alguns ossos
adultos (costelas, esterno, crânio, ossos do qua-
dril e dos membros). Esta medula pode ser ver-
melha ou amarela. Quando vermelha, a medula
é um órgão hematopoiético, pois produz células
sanguíneas. Quando amarela, torna-se gorduro-
sa e perde esta função (tal fato está normalmente
associado ao envelhecimento). Se a medula ós-
sea tornar-se anormal ou cancerosa, ela pode ser
substituída por meio de um transplante de medula
óssea a fim de restabelecer as contagens normais Figura 7 – Pericôndrio, periósteo e endósteo

das células sanguíneas (MIRANDA NETO; CHO-


PARD, 2014).

127
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

CRESCIMENTO ÓSSEO

O crescimento ósseo depende do periósteo e da lâ-


mina epifisial. Enquanto o periósteo atua no cresci-
mento em largura e espessura dos ossos, a lâmina
epifisial atua no crescimento em comprimento (esta
é uma fina camada de cartilagem hialina localizada
na metáfise). Quando o crescimento em compri-
mento cessa (por volta de 18 anos nas mulheres e 21
anos nos homens), as células da lâmina epifisial pa-
ram de se dividir, permanecendo apenas uma linha
epifisial (WATANABE, 2000).

Figura 9 – Artérias ósseas

ACIDENTES ANATÔMICOS

Acidentes anatômicos são os elementos descritivos


utilizados no estudo dos ossos. Surgem, por exem-
Figura 8 – Periósteo e lâmina epifisial plo, onde tendões, fáscias e ligamentos se inserem,
ou onde vasos e nervos penetram os ossos.
Podem ser do tipo saliência, depressão ou aber-
NUTRIÇÃO E INERVAÇÃO ÓSSEA tura. Processos, tubérculos, eminências, cristas e
espinhas são alguns exemplos de acidentes do tipo
Os ossos são muito vascularizados e inervados. Por saliência. Fossas, sulcos e incisuras são alguns exem-
isto, em caso de fratura, eles sangram e doem bas- plos de acidentes do tipo depressão. Forames e ca-
tante. Tanto os vasos sanguíneos quanto os nervos nais são alguns exemplos de acidentes do tipo aber-
penetram o osso a partir do periósteo. tura (WATANABE, 2000).
Os principais vasos dos ossos incluem as artérias
e as veias periosteais, metafisárias, epifisiárias e nu- PRINCIPAIS OSSOS DO CORPO HUMANO
trícias. Os nervos acompanham os vasos sanguíne- Ossos da cabeça
os, destacando-se os nervos periostais sensitivos (al- Os ossos da cabeça são chamados de crânio. Ele
guns responsáveis pela dor) e os nervos vasomotores protege o encéfalo, abriga e protege os órgãos dos
que possibilitam a vasoconstrição e a vasodilatação, sentidos, os quais ficam alojados em cavidades, e
regulando o fluxo sanguíneo para a medula óssea possibilita a mastigação e a fonação por meio dos
(MOORE et al., 2014). movimentos da mandíbula.

128
EDUCAÇÃO FÍSICA

A parte superior do crânio é chamada de calvá- Todos os ossos do crânio se articulam entre si por
ria, e o seu assoalho é chamado de base. Ele apresen- meio de suturas (exceto a mandíbula e o osso tempo-
ta 22 ossos, os quais apenas a mandíbula é móvel. ral, que formam a articulação temporomandibular).
Dentro dos ossos temporais, localizam-se os três os- Tais suturas não estão presentes desde o nascimento,
sículos da audição (martelo, bigorna e estribo). mas surgem com o desenvolvimento, uma vez que
A maioria dos ossos do crânio (14 deles) for- existe, no crânio fetal, entre os ossos, um tecido con-
mam o crânio facial ou visceral: mandíbula, vômer, juntivo fibroso, o qual forma espaços popularmente
nasais, palatinos, maxilas, zigomáticos, lacrimais e chamados de “moleiras” e anatomicamente nomi-
conchas nasais inferiores. O restante (oito ossos) nados de fontículos. Os fontículos permitem que o
forma o crânio neural: osso frontal, occipital, esfe- crânio fetal cresça sem compressão e, após o cresci-
noide, etmoide, parietais e temporais. De forma ge- mento cessar, o tecido conjuntivo sofre ossificação
ral, o crânio apresenta muitos forames pelos quais (DI DIO, 2002).
vasos e nervos passam. A maxila e a mandíbula se
destacam por apresentar estruturas (os processos
alveolares) para a sustentação dos dentes (DANGE-
LO; FATTINI, 2011).

Figura 10 - Crânio Figura 11 – Fontículos

129
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Ossos do pescoço Ossos do tronco


Os ossos do pescoço incluem o osso hioide, as vér- O esqueleto do tronco é formado por osso esterno, cos-
tebras cervicais, o manúbrio do esterno e as claví- telas, vértebras torácicas, lombares, sacrais e coccígeas.
culas. O manúbrio do osso esterno e as clavículas O osso esterno se localiza na região anterior e
serão descritos, respectivamente, com o esqueleto central do tórax. É um osso ímpar, plano, consti-
do tronco e do membro superior. tuído por três partes antes da sua ossificação, que
O osso hioide se localiza na parte anterior do ocorre até a meia idade: manúbrio, corpo e proces-
pescoço. Ele é móvel, pois fica suspenso por mús- so xifoide. O manúbrio é a sua parte mais larga e
culos e ligamentos. Assim, fixa músculos da região superior e também onde as incisuras claviculares e
anterior do pescoço e ajuda a manter as vias aéreas a incisura jugular podem ser identificadas. O corpo
abertas. O hioide não se articula com nenhum outro é central, mais longo e estreito, e onde as incisuras
osso do corpo. costais estão presentes. O processo xifoide é a sua
As vértebras cervicais são chamadas, respectiva- parte inferior, menor e mais variável.
mente, de C1 (ou atlas), C2 (ou áxis), C3, C4, C5, C6 e As costelas são ossos curvos, de alta resiliência e
C7 (ou vértebra proeminente) (MOORE et al., 2014). que contêm medula óssea. Os 12 pares de costelas se
agrupam em costelas verdadeiras, falsas ou flutuantes.
As verdadeiras (do primeiro ao sétimo par) conectam-
-se diretamente ao osso esterno por meio de suas pró-
prias cartilagens costais. As falsas (do oitavo ao décimo
par) conectam-se indiretamente ao osso esterno, pois
as suas cartilagens costais são unidas, formando a mar-
gem costal. As flutuantes (décimo primeiro e décimo
segundo par) não se articulam com o osso esterno.
As vértebras torácicas (T1 ,T2 , T3 ,T4 ,T5 , T6 ,
T7 , T8 , T9 , T10 , T11 a T12), as lombares (L1 , L2 , L3 ,
L4 a L5), as sacrais (S1 , S2 , S3 , S4 a S5) e as coccígeas
(Co1 , Co2 , Co3 a Co4) formam a parte inferior do
esqueleto do tronco. As sacrais e as coccígeas têm
seus discos intervertebrais ossificados, originando,
respectivamente, o sacro e o cóccix.
As lombares são grandes e resistentes, apresen-
tam processos espinhosos largos e espessos para a
fixação dos músculos do dorso. O sacro se articula
aos ossos do quadril e apresenta morfologia diferen-
ciada em relação ao sexo do indivíduo para favore-
Figura 12 – Ossos do pescoço cer o parto natural (DI DIO, 2002).

130
EDUCAÇÃO FÍSICA

É importante salientar que embora a coluna verte-


bral (CV) deva ser retilínea (ou seja, sem curvaturas
lateralmente), ela deve apresentar curvaturas fisioló-
gicas ântero-posteriores a fim de melhor distribuir o
peso corpóreo e dar equilíbrio.
Tais curvaturas começam a se formar desde a
vida embrionária, o que se segue durante o desen-
volvimento corpóreo. Nas regiões cervical e lombar
surgem curvaturas côncavas chamadas de lordose
cervical e lombar, respectivamente. Nas regiões to-
rácica e sacral, as curvaturas são convexas e chama-
das de cifoses torácica e sacral, respectivamente. O
aumento dessas curvaturas (hipercifoses e hiperlor-
doses) é patológico, assim como o desvio látero-late-
ral da CV (escolioses).

Figura 13 – Ossos do tronco

SAIBA MAIS

Entre os corpos das vértebras ficam inter-


postos os discos intervertebrais. Estes discos
são constituídos pelo anel fibroso de fibro-
cartilagem (externamente) e núcleo pulposo
(internamente). Este é altamente hidratado e,
por isto, capaz de absorver impactos impostos
à coluna vertebral e permitir movimentos.

Fonte: Kapandji (2000).

Figura 14 – Curvas normal e patológica da CV

131
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Ossos do membro superior


O membro superior tem 32 ossos. O seu cíngulo é
composto pela clavícula e pela escápula. A sua par-
te livre apresenta um osso no braço (úmero), dois
no antebraço (rádio e ulna), 13 nas mãos (oito ossos
carpais e cinco ossos metacarpais) e 14 ossos nos de-
dos (cinco falanges proximais, quatro falanges mé-
dias e cinco falanges distais).
A clavícula se articula com o osso esterno e
com a escápula, e serve como ponto de fixação
para alguns ligamentos. A escápula é um osso
grande localizado posteriormente, de formato
plano e triangular, que se articula com a clavícula
e com o úmero.
O úmero se articula com a escápula, o rádio e
a ulna. Enquanto a ulna se localiza medialmente, Figura 15 – Ossos do membro superior

o rádio se localiza lateralmente no antebraço. O


rádio e a ulna se articulam entre si pela membra- Ossos do membro inferior
na interóssea do antebraço, e o rádio se articula O membro inferior permite postura, suporte de
com três ossos do carpo (semilunar, escafoide e peso, mobilidade e equilíbrio do corpo. Os ossos do
piramidal). quadril constituem o seu cíngulo, e a sua parte livre
Os oito ossos carpais se dispõem em duas filei- apresenta um osso na coxa (fêmur), dois ossos na
ras de quatro ossos cada. Na fileira proximal estão perna (tíbia e fíbula), um osso no joelho (patela), 12
os ossos escafoide, semilunar, piramidal e pisiforme; ossos no pé (sete ossos tarsais e cinco ossos metatar-
na fileira distal estão os ossos trapézio, trapezoide, sais) e 14 ossos nos dedos (cinco falanges proximais,
capitato (maior) e hamato. quatro falanges médias e cinco falanges distais).
Os cinco ossos metacarpais são numerados de I O osso do quadril do recém-nascido é formado
a V a partir da posição lateral. Consistem em uma por três ossos: ílio, ísquio e púbis, os quais se unem
base (proximal), um corpo (médio) e uma cabeça completamente por volta da segunda década de vida.
(distal). Os ossos metacarpais articulam-se proxi- O anel ósseo formado pelos dois ossos do quadril e
malmente com os ossos do carpo e distalmente com pelo sacro compõe a pelve óssea que dá suporte à
as falanges. CV e aos órgãos pélvicos.
As falanges apresentam base, corpo e cabeça e O fêmur é o maior, mais pesado e mais resistente
são chamadas de proximal, média e distal. O polegar osso do corpo. Articula-se com o osso do quadril e
tem apenas as falanges proximal e distal (MIRAN- com a tíbia e a patela. A patela é um osso triangular
DA NETO; CHOPARD, 2014). que se desenvolve no tendão do músculo quadríceps

132
EDUCAÇÃO FÍSICA

femoral, aumentando a sua força de alavanca, man-


tendo a posição de seu tendão na flexão do joelho e
protegendo a articulação.
A tíbia é o osso medial e sustentador de peso do
membro inferior que, por sua vez, se articula com o
fêmur, com o osso tálus e com a fíbula (pela membrana
interóssea da perna). A fíbula é paralela e lateral à tíbia.
Os ossos tarsais (tálus, calcâneo, navicular,
cuboide, cuneiforme medial, cuneiforme lateral e
cuneiforme intermédio) unem-se pelas articulações
intertarsais. Os metatarsais são numerados de I a V
a partir da posição medial e apresentam base (proxi-
mal), corpo (média) e cabeça (distal). Articulam-se
com os ossos tarsais e com as falanges.
As falanges apresentam base, corpo e cabeça, e
as articulações que formam entre si são chamadas de
interfalângicas. Vale lembrar que o hálux (popular-
mente chamado de “dedão”) apresenta apenas falan-
ges proximal e distal (DANGELO; FATTINI, 2011).

Figura 16 – Ossos do membro inferior

133
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Articular

134
EDUCAÇÃO FÍSICA

O sistema articular será trabalhado nesta unidade de A classificação estrutural se baseia nas caracte-
forma a contemplar a sua definição, funções e clas- rísticas anatômicas da articulação. Por exemplo, a
sificações, assim como os seus tipos. Também será presença ou a ausência de um espaço (cavidade arti-
realizados um detalhamento em relação às articula- cular) entre os ossos da articulação e no tipo de te-
ções sinoviais (pois são estas as mais móveis do cor- cido que une os ossos. Assim, as articulações podem
po) e uma abordagem em relação aos movimentos ser do tipo fibrosa, cartilagínea ou sinovial (GRABI-
do corpo humano. NER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991).
A articulação fibrosa permite apenas pequenos
DEFINIÇÃO deslocamentos e movimentos vibratórios, não têm
cavidade articular entre os ossos e alguns destes são
As articulações ou junturas são definidas como o unidos por tecido conjuntivo fibroso. A articulação
conjunto de estruturas anatômicas que conectam cartilagínea tem ossos unidos por cartilagem hiali-
duas ou mais peças do esqueleto. Se a articulação na ou fibrocartilagem, também permite apenas pe-
ocorrer entre apenas dois ossos, ela é chamada de quenos deslocamentos e movimentos vibratórios e
simples, e se acontecer entre mais de dois ossos, ela é também não tem cavidade articular entre os ossos.
chamada de composta (WATANABE, 2000). Já a articulação sinovial permite vários tipos de mo-
vimentos, tem cavidade articular, os seus ossos são
FUNÇÕES unidos por tecido conjuntivo em forma de cápsula
articular e apresenta elementos característicos e ou-
A função da maioria das articulações é possibilitar tros especiais.
os movimentos, uma vez que os ossos se movem As articulações fibrosas podem ser do tipo sutu-
tracionados pelos músculos ao redor dos pontos de ra, sindesmose ou gonfose. As suturas são funcional-
junturas entre eles. Todavia algumas articulações mente classificadas como sinartroses, existem entre
dão estabilidade às zonas de união entre os vários os ossos do crânio e podem ser planas (quando os
segmentos do esqueleto, ou seja, estão mais rela- ossos se encaixam de forma retilínea, como no caso
cionadas à postura e ao equilíbrio (MOORE et al., da sutura internasal), serrilhada (quando os ossos se
2014). encaixam um no outro, como na sutura sagital) ou
escamosa (quando os ossos se sobrepõem um ao ou-
CLASSIFICAÇÃO tro, como ocorre entre o parietal e temporal). A ossi-
ficação das suturas se inicia, geralmente, na segunda
Segundo a classificação funcional, deve-se conside- década de vida e termina após os 80 anos, recebendo
rar o grau e o tipo de movimento que a articulação o nome de sinostose.
permite. Assim, as articulações podem ser chama- A sindesmose é classificada funcionalmen-
das de sinartrose (quando a articulação é fixa, sem te como anfiartrose. Ela apresenta uma distância
movimento), anfiartrose (a articulação permite maior entre os ossos, os quais são unidos por mais
pouco movimento) ou diartrose (a articulação é tecido conjuntivo fibroso interposto entre eles. É o
muito móvel). caso, por exemplo, da membrana interóssea da per-

135
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

na (sindesmose tibiofibular) e do antebraço (sindes- na, fibrosa e bem resistente, tem a função de fazer a
mose radioulnar). coaptação articular, ou seja, unir os ossos. Já a sua
A gonfose é classificada funcionalmente como membrana interna é chamada de sinovial, pois faz a
sinartrose. Ocorre na junção das raízes dos dentes síntese do líquido sinovial.
com os processos alveolares da maxila e da man- Este líquido é constituído principalmente por
díbula. Apresenta movimentos discretos de rebai- ácido hialurônico, proteoglinas e glicosaminoglica-
xamentos ao sofrer fortes compressões (durante a nas. A sua consistência é viscosa e de cor amarelo-
mastigação), suavizando impactos e evitando que os -clara. A sua função é reduzir o atrito por meio da
dentes se partam. lubrificação da articulação, absorver os impactos
As articulações cartilagíneas podem ser do tipo mantendo os ossos levemente afastados e eliminar
sincondrose ou sínfise. A sincondrose é classificada o calor produzido nas articulações durante os mo-
funcionalmente como sinartrose e tem cartilagem vimentos. Além disso, ele nutre e oxigena a carti-
hialina entre os ossos. Algumas dessas articulações lagem articular e dela remove o CO2 e os resíduos
podem ser temporárias, uma vez que sofrem ossifi- metabólicos. É importante destacar que esse líquido
cação no decorrer da vida (sincondrose esfenoccip- é produzido quando ocorre movimento articular e,
tal e lâmina epifisial são exemplos). Outras podem por isto, a imobilização torna-o escasso. Se for pro-
ser permanentes (articulações entre o osso esterno e duzido em excesso (durante uma inflamação, por
as 10 primeiras cartilagens costais). exemplo), causa dor e deve ser aspirado para que a
A sínfise é classificada funcionalmente como an- pressão intra-articular diminua (FREITAS, 2004).
fiartroses. É uma articulação onde os ossos são uni- Os lábios são estruturas de fibrocartilagem que
dos por um disco de fibrocartilagem (como ocorre ampliam a cavidade e conferem maior estabilidade
nas sínfises púbica, manubrioesternal e interverte- à articulação. Os discos articulares e os meniscos
bral). também são de fibrocartilagem e estão presentes em
As articulações sinoviais têm elementos caracte- articulações muito requisitadas, como a temporo-
rísticos (como superfície articular, cartilagem articu- mandibular e o joelho. Os discos e os meniscos dão
lar, cápsula articular e líquido sinovial) e elementos estabilidade, melhoram a coaptação articular, dimi-
especiais (como lábios, discos articulares, meniscos, nuem o atrito e os danos por impactos e distribuem
ligamentos acessórios, bolsas e bainhas tendíneas). o líquido sinovial.
A superfície articular é a porção óssea que faz Os ligamentos acessórios podem ser extracap-
parte da articulação. Ela é coberta por uma fina car- sulares quando presentes fora da cavidade articular
tilagem articular do tipo avascular, lisa e escorrega- (ligamentos colaterais do joelho) ou intracapsulares
dia. Assim, ela é capaz de reduzir o atrito entre os quando dentro da cápsula, mas fora da cavidade ar-
ossos e absorver impactos. Essa cartilagem é nutrida ticular (ligamento cruzado anterior do joelho). Eles
pelo líquido sinovial. aumentam a coaptação articular.
A cápsula articular é uma dupla membrana de As bolsas se localizam entre a pele e o osso, entre
tecido conjuntivo muito vascularizada e inervada o tendão e o osso, entre o músculo e o osso ou entre
e que reveste a articulação. A sua membrana exter- o ligamento e o osso. Elas reduzem o atrito em arti-

136
EDUCAÇÃO FÍSICA

culações muito requisitadas e, quando inflamadas, ocorre na articulação carpometacarpal do pole-


causam bursite (bolsite). São sacos de tecido conjun- gar. Articulações esferoides têm superfície esférica
tivo revestidos por membrana sinovial e preenchidos articulando-se em uma cavidade correspondente.
por uma pequena quantidade de líquido semelhante Um exemplo ocorre nas articulações do quadril e
ao líquido sinovial. Por último, as bainhas tendíneas do ombro.
são bolsas que envolvem tendões que sofrem atrito.

TIPOS DE ARTICULAÇÕES SINOVIAIS

A forma dos ossos determina quais movimentos a


articulação realizará e como as articulações sinoviais
serão nomeadas. Assim, essas articulações podem
ser: plana, gínglimo, trocoide, elipsoide, selar ou es-
feroide (TORTORA; DERRICKSON; WERNECK,
2010).
Articulações planas, como o nome sugere, têm
faces planas e permitem movimentos de desliza-
mento de uma superfície sobre a outra. Um exemplo
ocorre entre os ossos carpais e tarsais, nas articula-
ções sacroilíaca, acromioclavicular, esternoclavicu-
lar, esternocostais e vertebrocostais.
Articulações do tipo gínglimo apresentam faces
cilíndricas como depressão em carretel em um osso
e saliência correspondente no outro. Um exemplo
ocorre nas articulações interfalângicas do cotovelo
e do joelho.
Articulações trocoides permitem movimento de
rotação, pois têm faces ósseas semicilíndricas com-
pletadas por ligamentos. Um exemplo ocorre nas ar-
ticulações radioulnar proximal e distal, e na articu-
lação atlantoaxial. Nas articulações elipsoides, uma
das superfícies ósseas é oval e convexa, e a outra é
oval e côncava. Um exemplo ocorre nas articulações
radiocarpal e metatarsofalângica.
As articulações selares têm superfície côncava
em uma direção e convexa em outra, com encaixe
recíproco em outra superfície óssea. Um exemplo Figura 17 – Tipos de articulações

137
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES SI-


NOVIAIS

Os movimentos são pares de opostos e apresentam ex- (exceto o do polegar). Na articulação radiocarpal, a
trema relevância ao profissional de Educação Física. abdução também recebe o nome de desvio radial, e
Eles ocorrem em um dos planos (sagital, coronal ou a adução, de desvio ulnar.
transversal) e por meio de linhas imaginárias denomi- Na circundução, ocorre um movimento de cír-
nadas eixos, as quais são perpendiculares aos planos culo quando se observa a extremidade distal do
(GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). segmento corpóreo que se move. Representa o re-
Alguns fatores afetam a amplitude de movimen- sultado de uma sequência de movimentos: flexão,
to articular. É o que ocorre, por exemplo, com a for- extensão, abdução e adução.
ma dos ossos, a resistência das estruturas articulares, Na rotação, o osso gira em torno do seu próprio
a tensão muscular, o contato de partes moles próxi- eixo longitudinal. Na rotação medial, a face anterior
mas, a ação de alguns hormônios e o próprio desuso do segmento é girada em direção à linha mediana
(GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). do corpo. Na rotação lateral, esta face é girada para
As articulações sinoviais podem apresentar movi- longe da linha mediana.
mento de deslizamento, dos tipos angular e de rotação, Alguns movimentos são chamados de especiais.
ou ainda, movimentos especiais. No deslizamento, as fa- Na elevação, por exemplo, uma parte do corpo se
ces planas dos ossos se movimentam sem alterar signi- move para cima, e no abaixamento, para baixo (ocor-
ficativamente o ângulo entre eles, sendo a amplitude de re na mandíbula, nas costelas, nos ombros, no osso
movimento limitada. Nos movimentos angulares (fle- hioide etc.). Na protração (ou protrusão), há o mo-
xão, extensão, flexão lateral, abdução, adução e circun- vimento anterior de uma parte do corpo no plano
dução), o ângulo entre os ossos da articulação é alterado transversal, e na retração (ou retrusão), ocorre o mo-
(GRABINER; GREGOR; VASCONCELOS, 1991). vimento de retorno (possível na mandíbula, na claví-
Na flexão, o ângulo entre os ossos é reduzido, e cula etc.). Inversão e eversão ocorrem nas articulações
na extensão, aumentado. Ambos ocorrem no plano intertarsais de forma que, na inversão, as plantas se
sagital por meio do eixo coronal (exceto o do po- movimentam medialmente, e na eversão, lateralmen-
legar). Alguns autores consideram a continuação te. Na flexão dorsal (ou dorsiflexão), o dorso do pé se
da extensão para além da posição anatômica como move em direção à face anterior da perna, e na flexão
hiperextensão. Na flexão lateral (que ocorre, por plantar (ou plantiflexão), a planta se move em direção
exemplo, no tronco), o segmento corpóreo se des- à face posterior da perna. A supinação e a pronação
loca em direção ao plano lateral. Ocorre no plano ocorrem nas articulações radioulnar proximal e dis-
coronal por meio do eixo sagital. tal. Na supinação, a palma é girada anteriormente, e
Na abdução, o segmento corpóreo se move para na pronação, a palma gira posteriormente. Oposição
longe da linha mediana do corpo enquanto que, na é o movimento do polegar na articulação carpometa-
adução, ele retorna em direção a esta linha. Ambos carpal para tocar as falanges dos dedos no movimento
ocorrem no plano coronal por meio do eixo sagital de pinça. Reposição é o movimento oposto.

138
EDUCAÇÃO FÍSICA

VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO ARTI-


CULAR

As articulações são muito inervadas e vasculariza- sentam meniscos e discos em decorrência do fato
das. Recebem sangue dos ramos das artérias que de receberem descarga de peso e de serem constan-
passam ao redor da cápsula articular e são drenadas temente requisitadas. Por outro lado, embora não
por veias que acompanham as artérias. A maioria sejam adaptadas à descarga de peso, as articulações
dos nervos articulares deriva de nervos que suprem do tórax são aptas à realização dos constantes movi-
os músculos ao redor das articulações. A cápsula e mentos respiratórios.
os ligamentos articulares têm vários tipos de sensi- Como anteriormente mencionado, todas as
bilidade, como a dolorosa e a proprioceptiva (MI- articulações se movem ao redor de eixos de mo-
RANDA NETO; CHOPARD, 2014). vimento, os quais são linhas imaginárias que atra-
vessam as articulações de maneira perpendicular
ENVELHECIMENTO ARTICULAR ao plano realizado pelo movimento. Assim, quanto
mais móvel for a articulação, mais eixos de movi-
O envelhecimento pode afetar as articulações de mento passarão por ela e mais movimentos essa
maneira individual e, principalmente, pela heredita- articulação realizará em diferentes planos. As arti-
riedade e pelo uso. É comum, por exemplo, o enve- culações do quadril e do ombro, por exemplo, são
lhecimento desencadear menor produção de líquido extremamente móveis, pois realizam movimentos
sinovial, fragilidade na cartilagem articular, perda em três planos e por meio de três eixos, ou seja,
de flexibilidade ligamentar, aumento do peso corpo- são triaxiais. As articulações do joelho e do coto-
ral e tendência a deformidades corpóreas (principal- velo são menos móveis, pois são monoaxiais (ou
mente na coluna vertebral e nos joelhos) (GRABI- seja, realizam movimento em apenas um plano, e
NER; GREGOR; VASCONCELOS, 2001). por elas passa apenas um eixo de movimento). Já as
É importante, no entanto, enfatizar que os efei- articulações do punho e do tornozelo são biaxiais
tos do envelhecimento podem ser atenuados pela e intermediárias em relação aos movimentos que
prática regular e supervisionada de exercícios físicos elas realizam quando comparadas às articulações
e por meio de cuidados alimentares, como as inges- tri e monoaxiais.
tões proteica e hídrica adequadas. Normalmente, os movimentos de flexão e exten-
são ocorrem no plano sagital por meio do eixo coro-
PARTICULARIDADES DE ALGUMAS ARTI- nal. Já os movimentos de abdução e adução ocorrem
CULAÇÕES DO CORPO no plano coronal por meio do eixo sagital. As rota-
ções ocorrem no plano transversal por meio do eixo
Algumas articulações apresentam características longitudinal (GRABINER; GREGOR; VASCONCE-
anatômicas diferenciadas, as quais são influencia- LOS, 2001).
das pelas demandas funcionais. As articulações do
joelho e a temporomandibular, por exemplo, apre-

139
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Muscular

140
EDUCAÇÃO FÍSICA

Nesta aula, você será direcionado(a) ao estudo da conforme a vontade do indivíduo ou involuntário
miologia no que se refere às funções dos músculos, se a sua contração ocorrer de maneira indepen-
aos seus tipos e aspectos anatômicos (como iner- dente deste controle. O músculo pode apresentar
vação e vascularização). Um enfoque especial será estrias transversais e ser classificado como estria-
dado aos músculos estriados esqueléticos. do ou não apresentá-las e ser dito liso. Por fim, o
músculo pode se localizar na parede do corpo ou
FUNÇÕES nos membros e ser chamado de somático ou pode
se localizar nos órgãos ocos e nos vasos sanguíneos
A partir da contração muscular, o músculo pode e ser dito visceral.
realizar várias funções, como manter a postura Assim, de maneira geral, os músculos podem
e o tônus muscular, possibilitar a respiração, os ser: estriado esquelético, estriado cardíaco ou liso.
movimentos cardíacos e peristálticos. Adicional- Enquanto o estriado esquelético move ou estabiliza
mente, os músculos dão forma ao corpo, produ- ossos e estruturas como os olhos, o estriado cardíaco
zem calor e permitem movimentos voluntários forma a maior parte das paredes do coração e dos
(MOORE et al., 2014). grandes vasos, e o liso forma a parede da maioria
dos vasos sanguíneos e dos órgãos ocos. O primeiro
TIPOS DE MÚSCULOS é somático e voluntário, e os outros dois são visce-
rais e involuntários.
Os diferentes tipos de músculos do corpo apresen- O músculo diafragma é um caso especial, pois
tam variações em relação ao controle voluntário, à embora ele seja involuntário, pode ter a sua con-
presença de estrias em suas fibras (quando vistas ao tração influenciada voluntariamente, permitindo,
microscópio) e à localização. Por exemplo, o mús- assim, alterações na frequência e na intensidade da
culo pode ser voluntário se a sua contração ocorrer respiração (FREITAS, 2004).

Músculo estriado cardíaco Músculo estriado esquelético Músculo liso

Figura 19 – Tipos de músculos

141
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

MÚSCULO ESTRIADO ESQUELÉTICO

Os músculos estriados esqueléticos, além de extre- e inserção, sendo a origem a extremidade proximal
midades que servem para fixá-los, apresentam uma que permanece fixa durante a contração muscular, e
parte central carnosa, avermelhada e contrátil cha- a inserção, a extremidade distal que se move durante
mada de cabeça ou ventre muscular. Tais extremi- a contração muscular.
dades são compostas principalmente por colágeno, A maioria dos músculos estriados esqueléti-
têm coloração esbranquiçada, não são contráteis e cos está fixada a ossos, cartilagens, ligamentos ou
são chamadas de tendões ou aponeuroses conforme fáscias, mas alguns deles podem se fixar a órgãos
o seu aspecto morfológico (enquanto os tendões são (como os olhos), à pele (como os músculos da
finos e longos, as aponeuroses têm aspecto laminar). face) ou à mucosa (como os músculos intrínsecos
Tais fixações costumam ser descritas como origem da língua).

Figura 20 – Ventre, tendão e aponeurose

142
EDUCAÇÃO FÍSICA

O músculo é envolto por uma membrana de tecido cular é envolta por outra membrana de tecido con-
conjuntivo chamada epimísio. Desta, septos (peri- juntivo chamada endomísio e, por fora, o músculo
mísio) penetram o interior do músculo envolvendo como um todo é revestido por mais uma camada de
pequenos grupos de células musculares. As células tecido conjuntivo, a fáscia muscular. Todos estes re-
do músculo são chamadas de fibras musculares e o vestimentos se prolongam para além das fibras mus-
seu conjunto forma os fascículos. Cada fibra mus- culares e formam as extremidades dos músculos.

Figura 21 – Perimísio, Epimísio, Endomísio e Fáscia muscular

A fáscia sustenta o músculo, assim como os seus vasos cessos inflamatórios ou traumáticos), fazendo com
e nervos, também preserva a sua anatomia funcional, que os músculos tenham o seu poder de contração
permite o deslizamento de músculos próximos e for- diminuídos. Por isso, atualmente, a liberação miofas-
ma septos intermusculares que compartimentalizam cial tem sido prescrita em casos de extremo encur-
grupos musculares adjacentes. A aderência da fáscia tamento muscular ou em casos de treinamento de
pode ocorrer devido a diversos fatores (como pro- hipertrofia (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

143
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

TIPOS DE CONTRAÇÃO DO MÚSCULO


ESTRIADO ESQUELÉTICO

A contração fásica ou ativa dos músculos pode ser tecido muscular, bem como a drenagem do gás car-
isométrica ou isotônica (GRABINER; GREGOR; bônico e dos produtos residuais produzidos durante
VASCONCELOS, 1991). Na contração isométrica, o próprio metabolismo deste tecido. Ademais, por
embora o músculo se contraia, o comprimento dele meio dos nervos ocorrem a contração e os estímulos
não é alterado (não há movimento visível), mas é sensitivos dos músculos, sendo os estímulos doloro-
importante para a manutenção da postura. Na con- sos e proprioceptivos os mais importantes (MOORE
tração isotônica, o músculo produz movimento e, et al., 2014).
por isto, o seu comprimento é alterado.
A contração isotônica pode ser concêntrica ou CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO MÚS-
excêntrica. No primeiro caso, o movimento gera CULO ESTRIADO ESQUELÉTICO
encurtamento do músculo (por exemplo, ao con-
trair os músculos flexores do cotovelo para levar Os músculos podem ser classificados como ago-
até a boca um copo d’água que se encontra apoiado nista, antagonista, sinergista ou fixador. Agonista
em uma mesa); no segundo caso, o movimento está ou motor primário é o mais importante músculo
associado ao alongado do músculo (por exemplo, na realização de um movimento (como o músculo
fazer o caminho inverso do movimento anterior, reto femoral na extensão do joelho). Antagonista é
ou seja, levar o copo d’água da boca para a mesa o músculo que atua de maneira contrária à ação de
pela contração dos mesmos músculos flexores do outro músculo (como o músculo bíceps femoral na
cotovelo). extensão do joelho).
O tipo de contração que o músculo exercerá de- Sinergista é o músculo que ajuda o agonista na
pende da influência da gravidade. Por isto, o profis- realização de um determinado movimento (como
sional de Educação Física precisar analisar biomeca- o músculo vasto medial na extensão do joelho). Ele
nicamente como a gravidade é capaz de influenciar também pode estabilizar uma articulação interme-
cada músculo durante a execução de um determina- diária para que o agonista aja de maneira eficaz.
do movimento. Fixador ou postural é o músculo que estabiliza
as partes proximais de um membro por meio de
VASCULARIZAÇÃO E INERVAÇÃO MUS- contrações isométricas enquanto ocorrem movi-
CULAR mentos nas partes distais desse membro. O mús-
culo deltoide, por exemplo, fixa a articulação do
Tanto a vascularização quanto a inervação dos mús- ombro em abdução enquanto o movimento das
culos são abundantes. Por meio dos vasos sanguíne- mãos pode ser realizado (GRABINER; GREGOR;
os ocorrem as adequadas nutrição e oxigenação do VASCONCELOS, 1991).

144
EDUCAÇÃO FÍSICA

ÓRGÃOS ANEXOS DO SISTEMA MUS-


CULAR

Os órgãos anexos do sistema muscular são estrutu-


ras que mantêm a integridade dos músculos e/ou fa-
cilitam a ação deles. Incluem as bolsas sinoviais, os
retináculos, as bainhas fibrosas e sinoviais.
As bolsas sinoviais são sacos fibrosos revestidos
de membrana sinovial que contêm líquido sinovial
em seu interior. Posicionam-se em regiões de atrito
(como entre um músculo e um osso, entre dois mús-
culos, entre um músculo e a pele suprajacente etc.).
Tais bolsas podem inflamar ou lesionar por esforço
repetitivo, desencadeando um quadro clínico que
inclui edema e dor, popularmente conhecido como
bursite (bolsite).
As bainhas fibrosas são constituídas de tecido
conjuntivo, revestem tendões e fáscias de revesti- Figura 23 – Órgãos anexos do sistema muscular

mento e se inserem nos ossos, formando canais que


mantêm em posição os tendões de músculos longos GENERALIDADES SOBRE O SISTEMA
que passam no interior desses canais. MUSCULAR
As bainhas sinoviais ficam dentro das bainhas
fibrosas. Elas localizam-se, geralmente, na região Segundo Moore et al. (2014), o corpo humano
dos ossos carpais e tarsais e têm por função pro- apresenta 656 músculos estriados esqueléticos
duzir um líquido semelhante ao líquido sinovial nominados, cuja nomenclatura depende de crité-
para, desta forma, facilitar o deslizamento dos rios como forma (deltoide e trapézio), localização
tendões durante os movimentos. Essas bainhas (intercostais e subescapular), forma e localização
são formadas por uma camada interna (aderida (quadrado da coxa e orbicular da boca), ação (ere-
ao tendão) e por uma camada externa (voltada à tor da espinha e extensor dos dedos), ação e forma
bainha fibrosa). (pronador quadrado e adutor longo), ação e loca-
Os retináculos são constituídos por tecido con- lização (flexor superior dos dedos e flexor radial
juntivo e representam espessamentos das fáscias do carpo), origem e inserção (esternocleidomas-
musculares. Eles servem para manter os tendões toideo) etc.
bem posicionados ao cruzarem as articulações Outras classificações dos músculos consideram
(FREITAS, 2004). a função que eles desempenham, a aparência deles, a

145
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

direção de suas fibras, a localização que apresentam, oblíquas (glúteo máximo, por exemplo) têm mui-
o número de pontos de origem, de inserção e de ven- ta força, mas pouca amplitude de movimento e
tres musculares que possuem. podem ser do tipo unipenados (extensor longo
Quanto à função, os músculos podem ser fle- dos dedos), bipenados (reto da coxa) ou multipe-
xores, extensores, abdutores, rotadores etc. Quan- nados (deltoide).
to à direção das fibras, eles podem ser de fibras Alguns músculos (como o peitoral maior) têm
paralelas ou oblíquas. Normalmente, músculos fibras que convergem de uma larga faixa de origem
de fibras paralelas (sartório, por exemplo) têm para um estreito e único tendão de inserção, fazendo
bastante amplitude de movimento articular, mas com que o músculo tenha um arranjo em forma de
pouca força. Ao contrário, músculos de fibras leque ou apresente um aspecto triangular.

Figura 24 – Músculos de fibras paralelas e oblíquas, músculos longos, curtos, planos e fusiformes

146
EDUCAÇÃO FÍSICA

Quando a aparência é considerada, os músculos na derme, sendo, desta forma, chamados de múscu-
podem ser curtos (como os da mão), longos (como o los dérmicos, como os da expressão facial) ou pro-
sartório, que apresenta forma de fita), planos/chatos fundos (se não tiverem inserções na derme, como é
(localizados, normalmente, no abdome ou no dorso; o caso dos músculos profundos do antebraço).
o trapézio é um deles), fusiformes (como o bíceps Bíceps, tríceps e quadríceps são classificados
braquial, que tem uma região central de maior di- quando à nomenclatura considera o número de
âmetro do que as suas extremidades) ou circulares/ pontos de origem. Se o número de pontos de inser-
esfincterianos (como o orbicular do olho, que cir- ção for o critério, os músculos são chamados de bi-
cunda uma abertura ou um orifício do corpo). caudado ou policaudado. Por fim, se o número de
Se a localização for o critério de classificação, ventres musculares for o fator em questão, os mús-
eles podem ser superficiais (se ficarem logo abaixo culos são chamados de digástrico (biventre) ou poli-
da pele e tiverem, pelo menos, uma de suas inserções gástrico (poliventre).

Figura 26 – Músculos bíceps, tríceps, quadríceps, bi e policaudado, digástrico e poligástrico

147
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO CORPO HU-


MANO
Principais músculos da cabeça e do pescoço dor do lábio superior e da asa do nariz, levantador
Músculos da cabeça e do pescoço podem ser da ex- do lábio superior (levanta este lábio fazendo eversão
pressão facial, da língua, do palato mole e da faringe, ou “bico” do lábio superior), levantador do ângulo
mastigatórios, relacionados ao osso hioide, superfi- da boca (atua na risada, tracionando o ângulo da
ciais do pescoço e relacionados à coluna vertebral. boca obliquamente para cima), zigomáticos maior e
Os músculos da expressão facial são responsá- menor (tracionam o ângulo da boca obliquamente
veis por expressar emoções por meio de suas con- para cima na risada), risório (traciona o ângulo da
trações. Incluem os músculos occipitofrontal (com boca horizontalmente no sorriso), orbicular da boca
seus ventres frontal e occipital, os quais se unem pela (fecha a rima bucal), abaixador do ângulo da boca
aponeurose epicrânica; a sua função é elevar os su- (abaixa este ângulo dando a expressão de tristeza),
percílios e enrugar a pele da fronte em uma expres- abaixador do lábio inferior (abaixa este lábio fazen-
são de atenção), corrugador do supercílio (que en- do a eversão ou “bico” do lábio inferior), mentual
ruga a pele entre os supercílios dando a expressão de (protrai o lábio inferior e enruga a pele do mento),
braveza), prócero (sinergista do corrugador do su- bucinador (contrai a bochecha no assopro, no asso-
percílio), orbicular do olho (fecha a rima palpebral), vio e no bocejo, e puxa o ângulo da boca lateralmen-
nasal (abre a asa do nariz, como ocorre, por exem- te) e platisma (abaixa a mandíbula, traciona o ângu-
plo, em situações de esforço respiratório), levanta- lo da boca para baixo e enruga a pele do pescoço).

Figura 27 – Músculos da expressão facial

148
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os músculos da mastigação movimentam a man-


díbula durante a mastigação e a fala. São o tempo-
ral, o masseter, o pterigóideo lateral e o pterigói-
deo medial.

Figura 29 – Músculos supra e infra-hioideos

O músculo esternocleidomastoideo (ECM) tem


localização superficial no pescoço. Quando ele se
contrai bilateralmente, possibilita a flexão da cabe-
ça; quando se contrai unilateralmente, faz a flexão
lateral da cabeça para o mesmo lado do músculo que
se contraiu, associada a uma rotação da face para o
lado contrário deste músculo.

Figura 28 – Músculos da mastigação

Os músculos relacionados ao osso hioide podem


ser supra ou infra-hioideos. Os supra-hioideos ele-
vam este osso durante a primeira fase da deglutição
e abaixam a mandíbula contra a resistência (são o
digástrico, o estilo-hioideo, o milo-hioideo e o gê-
nio-hioideo). Os músculos infra-hioideos abaixam
o hioide durante a segunda fase da deglutição (são
eles o omo-hioideo, o esterno-hioideo, o esternoti-
reoideo e o tíreo-hioideo). Figura 30 – Músculo ECM

149
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO DORSO

A coluna vertebral apresenta músculos pré, para e O dorso apresenta músculos fortes que se fixam às
pós-vertebrais conforme as suas localizações. Os vértebras. Eles podem movimentar os membros su-
pré-vertebrais se posicionam anteriormente à coluna periores (trapézio, latíssimo do dorso, levantador da
e estão relacionados à flexão da cabeça e do pescoço. escápula e romboides, por exemplo), participar dos
São eles: os músculos longos da cabeça e do pescoço, movimentos respiratórios (serrátil posterior supe-
reto anterior da cabeça e reto lateral da cabeça. rior e serrátil posterior inferior), sustentar a postura
Os paravertebrais localizam-se lateralmente à ou mover a coluna (como os esplênios da cabeça e
coluna e realizam a flexão lateral (inclinação lateral) do pescoço, o eretor da espinha, o seminespinal, os
da cabeça e do pescoço. São eles: os escalenos ante- multífidos e os rotadores) (DI DIO, 2002).
rior, médio e posterior.
Os pós-vertebrais ficam posteriormente à coluna
e fazem a extensão da cabeça e do pescoço. Incluem
os músculos esplênio da cabeça, esplênio do pesco-
ço, semiespinal da cabeça, semiespinal do pescoço,
multífidos e suboccipitais (músculos reto posterior
maior da cabeça, reto posterior menor da cabeça,
oblíquo superior da cabeça e oblíquo inferior da ca-
beça). Músculos multífidos também fazem rotação
da coluna vertebral (FREITAS, 2004).

Figura 32 – Músculo do dorso

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO TÓRAX

No tórax existem músculos que unem o esqueleto


axial ao apendicular, músculos da parede anterola-
teral do abdome, do pescoço, do dorso e alguns que
agem na respiração. Os verdadeiros músculos do
tórax são os levantadores das costelas (fazem a ins-
piração), o transverso do tórax (fazem expiração),
os intercostais externos (fazem a inspiração), os in-
tercostais internos (fazem expiração), os intercostais
íntimos (sinergistas dos intercostais internos) e os
Figura 31 – Músculos para e pós-vertebrais subcostais (sinergistas dos intercostais internos).

150
EDUCAÇÃO FÍSICA

O diafragma separa o tórax do abdome e é o ma, movem o tronco, ajudam a manter a postura e
principal músculo da inspiração. A sua parte central atuam em diversas atividades diárias, como tossir,
é aponeurótica e chamada de centro tendíneo; a sua espirrar, vomitar, assoar o nariz, defecar e reali-
parte muscular é dividida em parte esternal, costal e zar um parto normal (MIRANDA NETO; CHO-
lombar, de acordo com as suas fixações. O diafrag- PARD, 2014).
ma é atravessado pela veia cava inferior, pelo esôfago Na parede abdominal posterior do abdome es-
e pela artéria aorta, os quais passam, respectivamen- tão os músculos psoas maior, psoas menor, ilíaco
te, pelo forame da veia cava, pelo hiato esofágico e e quadrado do lombo. O psoas maior fica lateral
pelo hiato aórtico (WATANABE, 2000). à coluna vertebral e parte de suas fibras se juntam
ao tendão do ilíaco, formando o músculo iliopsoas,
considerado o principal flexor do quadril. Ademais,
ele é flexor lateral do tronco e ajuda a manter a lor-
dose lombar.
O psoas menor é uma variação anatômica, pois
ele pode não existir. O ilíaco estabiliza a articulação
do quadril, e o quadrado do lombo faz a flexão late-
ral e a extensão do tronco.

Figura 33 – Músculos do tórax

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO ABDOME

Na parede anterolateral do abdome existem cin-


co pares de músculos: reto do abdome, piramidal,
oblíquo externo, oblíquo interno e transverso do
abdome. Pelo fato de apresentarem fibras com
diferentes direções, tais músculos formam uma
forte sustentação e, juntos, sustentam e protegem
as vísceras abdominais e comprimem o conteúdo
abdominal. Além disso, eles se opõem ao diafrag- Figura 34 – Músculos do abdome

151
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO


SUPERIOR

Os músculos do membro superior incluem peitoral


maior, peitoral menor, subclávio, serrátil anterior,
levantador da escápula, romboide maior, romboide
menor, deltoide, redondo maior, redondo menor,
supraespinal, infraespinal, subescapular e vários
músculos do braço, do antebraço e da mão.
O peitoral maior é um músculo em forma de
leque que possibilita adução, rotação medial, flexão
e extensão do braço a partir da flexão. O peitoral
menor fica abaixo do peitoral maior e age estabili-
zando a escápula e ajudando a elevar as costelas no Figura 35 – Músculos relacionados à escápula

movimento de inspiração profunda. O subclávio


estabiliza a clavícula nos movimentos do membro Os músculos do braço incluem os flexores do coto-
superior. Enquanto o serrátil anterior é protrusor velo (bíceps braquial, braquial e coracobraquial) e
da escápula, o levantador da escápula a eleva, e os os seus extensores (tríceps braquial e ancôneo). Os
romboides maior e menor fazem a sua retração e a flexores são mais fortes e, por isto, é mais fácil puxar
rotação inferior. do que empurrar (MOORE et al., 2014).
O deltoide é um músculo forte que envolve o om- O bíceps braquial é um músculo longo que apre-
bro, dando-lhe uma forma arredondada. Ele apre- senta uma cabeça longa e outra curta. É triarticular,
senta partes clavicular, acromial e espinal, as quais pois atravessa as articulações do ombro, cotovelo e
fazem, respectivamente, flexão, abdução e extensão radioulnar proximal. Ele realiza a flexão do ombro,
do ombro. Além disso, ele estabiliza esta tão impor- a supinação da articulação radioulnar e a flexão do
tante articulação. O redondo maior também estabili- antebraço em supinação. Profundamente a ele está o
za o ombro e faz a sua adução e rotação medial. O re- músculo braquial, que é o principal flexor do ante-
dondo menor faz a rotação lateral desta articulação. braço. O coracobraquial auxilia na flexão, adução e
A escápula apresenta muitos músculos cujos estabilização da articulação do ombro.
tendões se fundem, reforçando, assim, a cápsula ar- O tríceps braquial também ajuda a estabilizar a
ticular do ombro, protegendo-o e estabilizando-o. articulação do ombro. Ele é um músculo longo com
Enquanto o supraespinal começa a abdução do om- três cabeças (longa, curta e medial). A longa atraves-
bro e o infraespinal faz a sua rotação lateral, o subes- sa o ombro, e a medial é a mais importante na ex-
capular é o seu rotador medial. Em conjunto, supra- tensão do cotovelo, sendo recrutada principalmente
espinal, infraespinal, redondo menor e subescapular em atividades de contrarresistência. O ancôneo fica
formam o “manguito rotador”, pois, exceto pelo su- na face póstero lateral do cotovelo e é sinergista do
praespinal, os outros são rotadores desta articulação. tríceps braquial na extensão do antebraço.

152
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 37 – Músculos do antebraço e da mão

Os músculos da mão incluem abdutor curto do po-


legar, flexor curto do polegar, oponente do polegar,
abdutor do dedo mínimo, flexor curto do dedo mí-
nimo, oponente do dedo mínimo, lumbricais, in-
terósseos e adutor do polegar (DI DIO, 2002).
Figura 36 – Músculos do braço

PRINCIPAIS MÚSCULOS DO MEMBRO IN-


No antebraço existem 17 músculos que cruzam a FERIOR
articulação do cotovelo e agem nas articulações do
punho e dos dedos. O pronador redondo faz prona- Os músculos do membro inferior permitem o equi-
ção do antebraço; o flexor radial do carpo faz flexão líbrio, a sustentação do peso corpóreo, a manuten-
e abdução do punho; o palmar longo faz flexão do ção da postura bípede, os movimentos diversos e
punho; o flexor ulnar do carpo faz flexão e adução a marcha. Agrupam-se em músculos anteriores e
do punho; o flexor superficial dos dedos flexiona as posteriores da coxa, mediais da coxa, músculos da
articulações interfalângicas proximais dos quatro região glútea, músculos da região anterior da perna,
dedos mediais; o flexor profundo dos dedos flexio- músculos da região posterior da perna, músculos da
na as articulações interfalângicas distais dos dedos região lateral da perna e músculos do pé.
mediais; o flexor longo do polegar faz a flexão das Na região anterior da coxa, localizam-se os mús-
articulações do polegar; o pronador quadrado é o culos flexores do quadril e/ou extensores do joelho
agonista da pronação do antebraço e ajuda a mem- (pectíneo, sartório, iliopsoas, quadríceps femoral e
brana interóssea a unir o rádio e a ulna. articular do joelho). O pectíneo faz adução, flexão e
Os extensores do antebraço podem fazer exten- rotação medial do quadril. O sartório é superficial,
são e abdução ou adução do punho (extensor radial parece uma fita e é o músculo mais longo do corpo.
longo do carpo, extensor radial curto do carpo e ex- Ele é flexor das articulações do quadril e do joelho.
tensor ulnar do carpo, por exemplo), podem esten- O iliopsoas é o principal flexor do quadril e, em con-
der os quatro dedos mediais (como o extensor dos tração bilateral, é flexor do tronco sobre o quadril,
dedos, extensor do indicador e extensor do dedo podendo aumentar a lordose lombar e agir na cami-
mínimo) ou podem fazer a extensão ou abdução do nhada em declive.
polegar (extensor longo do polegar, extensor curto O quadríceps femoral é um dos músculos mais
do polegar e abdutor longo do polegar). fortes do corpo. Ele é formado pelos músculos reto

153
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

femoral, vasto lateral, vasto medial e vasto intermé- sua vez, extensora desta articulação. O grácil cru-
dio, os quais se unem formando um tendão único za as articulações do quadril e joelho e se une aos
(tendão do músculo quadríceps femoral), cuja con- músculos sartório e semitendíneo para formar uma
tinuação é o ligamento da patela que se prende à tu- inserção tendínea conhecida como “pata de ganso”.
berosidade da tíbia. Ele dá estabilidade ao joelho estendido e é flexor do
O reto femoral é biarticular (percorre as articu- joelho e rotador medial da perna quando o joelho
lações do quadril e joelho), sendo mais eficiente em está flexionado. Por fim, o obturador externo faz a
movimentos que associam a flexão do quadril e a rotação lateral do quadril (DI DIO, 2002).
extensão de joelho a partir da hiperextensão do qua- Na região glútea estão os músculos glúteo máxi-
dril e da flexão do joelho (como ao cobrar um pênal- mo, glúteo médio, glúteo mínimo, tensor da fáscia
ti no futebol). O quadríceps femoral como um todo lata, piriforme, obturador interno, gêmeo superior
faz a extensão do joelho e, individualmente, ajuda os e inferior e quadrado femoral. O glúteo máximo é
vastos medial e lateral a manterem a patela alinhada. extensor e rotador lateral do quadril e a sua paralisia
O articular do joelho é um músculo pequeno, deri- não afeta a marcha em superfície plana, mas a afeta
vado do vasto intermédio que, por sua vez, traciona em aclive (principalmente ao subir escadas). Os glú-
a membrana sinovial na extensão da perna. teos médio e mínimo estabilizam a pelve, aduzem e
rodam medialmente o quadril.
O tensor da fáscia lata, além de flexor do quadril,
tensiona a fáscia lata. Piriforme, obturador interno,
gêmeo superior, gêmeo inferior e quadrado femoral
estabilizam a articulação do quadril e a rodam late-
ralmente.

Figura 38 – Músculos anteriores e mediais da coxa

Os músculos adutor longo, adutor curto, adutor


magno, grácil e pectíneo localizam-se na região
medial da coxa. Todos eles são adutores do quadril.
Todavia o adutor magno também tem uma parte fle-
xora do quadril e uma parte do jarrete que é, por Figura 39 – Músculos da região glútea

154
EDUCAÇÃO FÍSICA

Na região posterior da coxa localizam-se os mús- O gastrocnêmio apresenta cabeça lateral e medial, as
culos semitendíneo, semimembranáceo e bíceps fe- quais se unem no tendão do calcâneo (o mais forte e
moral. Todos são extensores do quadril e flexores do espesso tendão do corpo). Este músculo é muito for-
joelho, exceto a cabeça curta do bíceps femoral, que te, forma a parte mais proeminente da panturrilha e
não passa pela articulação do quadril e, por isto, age é biarticular. Assim, embora ele faça flexão do joe-
apenas na flexão do joelho. lho e plantiflexão do tornozelo, ele não pode exercer
toda a sua força concomitantemente nas duas arti-
culações, sendo mais eficaz com o joelho estendido
e, principalmente, quando a extensão do joelho é
associada à dorsiflexão.
O sóleo fica abaixo do gastrocnêmio e é o prin-
cipal músculo da flexão plantar do tornozelo. Isto
se deve ao fato de ele ser monoarticular, podendo
atuar intensamente apenas na articulação do tor-
nozelo. Além disso, é um músculo antigravitacio-
nal importante para manter a postura ortostática e
o equilíbrio, além de possibilitar a marcha. Embora
ele seja de contração lenta, é forte e capaz de se con-
trair por bastante tempo. O sóleo se une às cabeças
do gastrocnêmio, formando o tríceps sural. As dife-
renças morfofuncionais entre gastrocnêmio e sóleo
Figura 40 – Músculos da região posterior da coxa permitem afirmar que “se passeia com o sóleo, mas
se ganha o salto à distância com o gastrocnêmio”
Os músculos tibial anterior, extensor longo dos de- (MOORE et al., 2014).
dos, extensor longo do hálux e fibular terceiro situ- O plantar é um músculo pequeno, de ventre cur-
am-se na região anterior da perna. O tibial anterior to e tendão longo, que é ausente em cerca de 10% das
é dorsiflexor do tornozelo e inversor do pé. O exten- pessoas. É sinergista do gastrocnêmio e, adicional-
sor longo dos dedos estende os quatro dedos laterais mente, é considerado um órgão de propriocepção,
e faz dorsiflexão do tornozelo. O extensor longo do devido aos seus muitos fusos neuromusculares. O
hálux estende esse hálux e faz dorsiflexão do torno- seu tendão pode ser usado em cirurgias de enxertia
zelo. O fibular terceiro faz dorsiflexão do tornozelo e (para reconstrução dos tendões da mão, por exem-
auxilia na eversão do pé. plo) e a sua retirada não causa incapacidade.
Na região lateral da perna estão os músculos fibu- Durante a flexão do joelho, o poplíteo ajuda a
lar longo e fibular curto, os quais são eversores do pé. tracionar o menisco lateral posteriormente. Além
Na região posterior da perna estão os músculos disso, quando em pé e com o joelho parcialmente
gastrocnêmio, sóleo, plantar, poplíteo, flexor longo flexionado, ele se contrai para ajudar o ligamento
dos dedos, flexor longo do hálux e tibial posterior. cruzado posterior, prevenindo o deslocamento an-

155
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

terior do fêmur. Em pé, com os joelhos estendidos,


o poplíteo faz a rotação lateral do fêmur, liberando o
joelho para fazer flexão.
Os flexores longos do hálux e dos dedos são, res-
pectivamente, flexores das articulações do hálux e
dos dedos. Por fim, o tibial posterior é inversor do
pé e plantiflexor do tornozelo.

Figura 42 – Músculos do pé (planta e dorso)

O sistema muscular é de fato fascinante, e o mais


incrível é que ele pode ser modificado em função de
seu uso. Assim, o exercício físico tem a capacidade
de moldá-lo e a ausência dele pode causar atrofia.
Portanto, o conhecimento específico sobre os mús-
culos estriados esqueléticos é essencial ao profissio-
nal de Educação Física.
Figura 41 – Músculos da perna: a) região anterior b) posterior c) lateral

Os vários músculos do pé atuam na fase de suporte


da marcha, mantendo os arcos do pé em posição ide-
al e produzindo supinação e pronação para permitir
ajustes ao solo. Incluem abdutor do hálux, adutor do
hálux, flexor curto do hálux, abdutor do dedo míni-
mo, flexor do dedo mínimo, flexor curto dos dedos,
quadrado plantar, lumbricais, interósseos dorsais e
plantares, extensor curto dos dedos e extensor curto
do hálux (FREITAS, 2004).

156
considerações finais

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o sistema esquelético tem um meta-


bolismo bastante ativo. A formação desse sistema tem início a partir do segundo mês
de vida intrauterina, período no qual os ossos começam a ser formados.
O sistema esquelético (estudado pela osteologia), junto aos sistemas articular
(estudado pela artrologia) e muscular (estudado pela miologia) constituem o apare-
lho locomotor. Desta forma, a atuação conjunta desses três sistemas, em concordân-
cia com os comandos deflagrados pelo sistema nervoso (estudado pela neurologia),
garante a realização de movimentos voluntários harmônicos e coordenados.
Enquanto o sistema esquelético representa o elemento passivo do movimento,
pois além de suportar e dar estrutura ao corpo, é tracionado pelos músculos, o sis-
tema muscular representa o elemento ativo do movimento, uma vez que é ele quem
traciona ossos como alavancas, movendo-os nas regiões onde estes se conectam, ou
seja, nas articulações. Já o sistema nervoso é considerado o idealizador, o realizador e
o corretor do movimento, pois a programação motora, a ativação de áreas executoras
e das áreas de controle estão a seu encargo.
A falha de qualquer um destes sistemas, todavia, poderá implicar em graves dis-
túrbios motores, como hipertonia ou hipotonia muscular, paralisias ou paresias, dis-
cinesias, dentre outros. E isto acontecendo, as atividades fundamentais do ser huma-
no podem ser prejudicadas, levando o indivíduo à perda da independência funcional
(incapacidade de realizar cuidados pessoais, de se alimentar e até de deambular).
Cuidados diários relativamente simples podem garantir o pleno funcionamento
dos sistemas esquelético, articular, muscular e nervoso. Uma dieta adequada rica
em colágeno, cálcio, vitamina B, C e D, por exemplo, é essencial. Adicionalmente, a
prática regular e supervisionada de exercícios físicos, uma boa qualidade de sono e a
reposição hormonal (quando necessária) fazem toda a diferença.
Para tanto, é essencial que se tenha pleno conhecimento anatômico e fisiológico
das estruturas que compõem tais sistemas a fim de incentivar procedimentos preven-
tivos e curativos adequados. Como o profissional/professor de Educação Física atua
na área da saúde, ele deve conhecer profundamente esses sistemas, pois a sua ação
profissional pode estimulá-los. Desta forma, boa capacitação para você!

157
atividades de estudo

1. Leia atentamente o texto a seguir sobre o siste- c) Estrutura média é a que se posiciona en-
ma esquelético e analise as afirmativas. tre uma estrutura lateral e outra estrutura
O sistema esquelético envolve os ossos e carti- medial.
lagens que compõem o corpo humano. Ele faz a
d) Estrutura intermédia é aquela entre uma
sustentação e auxilia na forma do corpo, além de
estrutura lateral e outra estrutura medial.
proteger os órgãos internos. Permitir que o cor-
po se movimente é a sua principal função e, ainda e) Estrutura intermédia é a que se posiciona
assim, também produz células sanguíneas e atua sob o plano sagital mediano.
como reserva de minerais (por exemplo, do cálcio).
3. O estudo anatômico se preocupa em elucidar a
a) O crânio é constituído por 22 ossos. Estes morfologia (constituição), a localização e as fun-
se articulam por meio das suturas e da ar- ções desempenhadas pelas diversas estruturas
ticulação temporomandibular. A maioria
que compõem o corpo humano. Ele considera o
deles tem grande mobilidade e forma o
fato de que cada indivíduo pode apresentar pe-
crânio neural.
quenas variações anatômicas, as quais podem
b) Todos os ossos dos membros superiores ser causadas por diversos fatores. Sobre este
são classificados como longos, exceto os tema, analise as afirmativas a seguir:
ossos carpais, que são curtos.
I - A sinostose do crânio é exemplo de varia-
c) Todos os ossos dos membros inferiores ção anatômica causada pela idade.
são classificados como longos, exceto os
II - O biótipo e a etnia são fatores causado-
ossos tarsais, que são curtos.
res de variação anatômica. Enquanto in-
d) Todos os ossos dos membros superiores divíduos longilíneos apresentam tórax
e inferiores são classificados como longos, arredondado, membros curtos em rela-
exceto ossos carpais, escápula, clavícula, ção ao tronco e baixa estatura corpórea,
ossos tarsais e patela, que são, respecti- indivíduos brevilíneos têm tórax alongado,
vamente, curtos, plano, alongado, curtos e membros longos em relação ao tronco
sesamoides. e maior estatura corpórea. Em relação à
e) A escápula e a clavícula pertencem ao es- etnia, é importante salientar que as dife-
queleto axial, pois se localizam no tronco. renças anatômicas entre grupos raciais
são apenas externas (cor de pele, cor de
2. O estudo dos planos de secção e tangenciamen- olhos, aspecto do cabelo, do nariz etc.),
to do corpo humano é essencial à Anatomia Hu- nunca internas.
mana uma vez que auxilia no corte anatômico e III - A variação anatômica também pode ser
na nomenclatura das estruturas estudadas. So- causada pelas diferenças em relação ao
bre este tema, está correta a seguinte alternativa: sexo. O crânio masculino, por exemplo,
a) Estrutura mediana é a que está próxima do apresenta a fronte mais inclinada, tem aci-
plano sagital mediano, mas não exatamen- dentes anatômicos mais salientes (devido
te sob o mesmo. a maior força muscular) e a pelve desen-
volvida no sentido longitudinal.
b) Estrutura mediana é aquela mais próxima
ao plano anterior.

158
atividades de estudo

IV - A anatomia legal se utiliza do fato de o A sequência correta para a resposta da questão é:


sexo ser um fator causador de variação
a) V, V, V.
para identificar cadáveres. O crânio fe-
minino, por exemplo, apresenta a fronte b) F, F, F.
mais inclinada, acidentes anatômicos mais c) V, F, V.
salientes devido aos hormônios femininos
(estrógeno e a progesterona) e a pelve d) F, V, F.
mais desenvolvida no sentido transversal. e) F, F, V.
V - Uma criança que nasce sem o encéfalo
5. Considerando os seus conhecimentos referentes
(anencefálica) é exemplo de variação ana-
à miologia, analise as proposições a seguir:
tômica.
I - O miocárdio é classificado como músculo
É correto o que se afirma em: estriado cardíaco. Ele apresenta várias es-
a) I e II, apenas. trias transversais e a sua contração é invo-
luntária. Portanto, ele é classificado como
b) I e III, apenas.
músculo somático.
c) II e III, apenas.
II - O músculo estriado esquelético tem con-
d) I e IV, apenas. tração do tipo voluntária e não apresenta
estrias transversais (sendo classificado
e) III e V, apenas.
como músculo liso).
4. Considerando os seus conhecimentos em miolo- III - Os músculos tríceps braquial e tríceps su-
gia, analise as afirmativas a seguir e identifique-as ral apresentam três ventres musculares e
como verdadeiras (V) ou falsas (F). se inserem por meio de um único tendão.
( ) Músculos digástricos (ou biventres) têm dois ven- IV - Um músculo policaudado tem apenas um
tres musculares separados por um tendão interme- ventre muscular e vários tendões de inserção.
diário. O estilo-hioideo é um músculo assim. V - O tendão de origem é a extremidade do
( ) Músculos bíceps (como o bíceps braquial), tríceps músculo que permanece mais fixa duran-
(como o tríceps braquial) ou quadríceps (como o qua- te o movimento. O tendão de inserção é a
dríceps femoral) apresentam, respectivamente, dois, extremidade do músculo que se move du-
rante o movimento.
três ou quatro ventres musculares.
É correto o que se afirma em:
( ) Músculos mímicos são voluntários, uma vez que
são classificados como estriados esqueléticos. Além a) I e III, apenas.
disso, são dérmicos, pois estão aderidos à camada b) II e III, apenas.
profunda da pele. Assim, a proximidade deles à pele
c) III e IV, apenas.
faz com que as suas contrações marquem a pele, ori-
ginando rugas de expressão com o passar dos anos. d) IV e V, apenas.
e) II e V, apenas.

159
LEITURA
COMPLEMENTAR

O artigo intitulado “Modelo didático aplicado ao estudo de conceitos introdutórios à Ana-


tomia Humana” de autoria de Itamar Cossina Gomes, Juliana Vanessa Colombo Martins
Perles e Carmem Patrícia Barbosa Lopes, publicado na revista Arquivos do MUDI, aborda
a utilização prática dos planos que tangenciam e seccionam o corpo humano,
bem como os eixos que permitem os diversos movimento do corpo humano.
Como toda ciência, a Anatomia Humana tem sua linguagem própria a qual, em
conjunto, recebe o nome de Nômina Anatômica. Instituída a partir de 1955, esta
terminologia teve por objetivo evitar que estruturas do corpo humano recebes-
sem diferentes denominações em diversos centros de estudos e pesquisas em
Anatomia Humana do mundo (DANGELO; FATTINI, 2011).
A Nômina Anatômica atualizada, publicada com o nome de Terminologia Ana-
tômica, foi aprovada pelas Associações de Anatomia de todo o mundo e tor-
nou-se oficial a partir do ano de 1998 e é válida até a próxima edição revisada.
Considerada um documento oficial que deve ser obedecido pelos professores
e alunos da disciplina de anatomia humana, é constituída de cerca de 6.000
termos que são expressos em latim e traduzidos pelas sociedades de anatomia
de cada país para a língua vernácula. No Brasil, a terminologia é traduzida pela
Comissão de Terminologia Anatômica da Sociedade Brasileira de Anatomia e o livro
conta um uma seção de termos gerais e outras organizadas por sistemas. O
sistema ósseo, por exemplo, apresenta termos anatômicos próprios que são
empregados na osteologia (DI DIO, 2002; SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATO-
MIA, 2001; FREITAS, 2004).
O estudo anatômico é sempre realizado a partir da padronização dos termos de Figura 1 - Representação da boneca em
descrição anatômica a fim de se possibilitar uma comunicação sem ambiguida- posição anatômica de descrição
des entre os estudiosos desta ciência. Neste contexto, a posição anatômica de
descrição ou referência foi instituída e tornou-se de grande valia para evitar er-
ros na nomenclatura e no posicionamento do corpo humano a ser estudado. Em tal posição
(Figura 1), supõe-se que o cadáver está ereto, com a cabeça em nível horizontal, olhos volta-
dos para frente, pés plantados no chão e direcionados para frente, membros superiores ao
lado do corpo com as palmas das mãos voltadas para frente (MOORE, 2001; TORTORA, 2010).
Após sua leitura, sugere-se que a atividade prática proposta seja realizada. Você aprenderá
muito com esta vivência. Boa leitura!

Fonte: Gomes, Perles e Lopes (2014).

160
material complementar

Indicação para Acessar

Por meio deste documentário, é possível entender um pouco sobre a realidade das pessoas que nas-
cem com osteogênese imperfeita, a doença dos ossos de vidro, bem como a vida de seus cuidadores.
Etiologia, tratamentos e vida diária são abordados por especialistas e familiares. De igual modo, são
valorizados os sonhos e as perspectivas daqueles que precisam sobreviver com esta rara doença. É um
filme curto que retrata sobre a realidade de portadores de osteogênese imperfeita e os seus familiares.
Grande lição de vida! Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=2YiYMJRNeJM>.

161
referências

DANGELO, J. G.; FATTINI, C. A. Anatomia Humana sistêmica e segmentar. 3.


ed. São Paulo: Atheneu, 2011.
DI DIO, L. J. A. Lançamento oficial da Terminologia Anatômica em São Paulo:
um marco histórico para a medicina brasileira. Rev. Ass. Med. Brasil., v. 46, n. 3,
p. 191-193, 2000.
FREITAS, V. Anatomia: conceitos e fundamentos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
GALI, J. C. Osteoporose. Acta Ortop. Bras., v. 9, n. 2, p. 3-12, abr./jun. 2001.
Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/aob/v9n2/v9n2a07.pdf>. Acesso em:
20 nov. 2018.
GOMES, I. C.; PERLES, J. V. C. M.; LOPES, C. P. B. Prática de Laboratório: Mo-
delo Didático Aplicado ao Estudo de Conceitos Introdutórios à Anatomia Hu-
mana. Arquivos do MUDI, Maringá, v. 18, n. 1, p. 5-17, 2014. Disponível em:
<http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ArqMudi/article/view/24739/pdf_49>.
Acesso em: 20 nov. 2018.
GRABINER, M. D.; GREGOR, R. J.; VASCONCELOS, M. M. Cinesiologia e
anatomia aplicada. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1991.
KAPANDJI, A. I. Fisiologia articular: esquemas comentados de mecânica huma-
na. v. 3. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem
dinâmica. Maringá: Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia
orientada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
SBA. Sociedade Brasileira de Anatomia. Terminologia anatômica. São Paulo:
Manole, 2001.
TORTORA, G. J.; DERRICKSON, B.; WERNECK, A. L. Princípios de anatomia
e fisiologia. 12. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

162
gabarito

1. C.
2. D.
3. B.
4. E.
5. D.

163
NEUROANATOMIA APLICADA
AO MOVIMENTO

Professora Dra. Carmem Patrícia Barbosa

Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta
unidade:
• Tecido nervoso
• Sistema nervoso central
• Sistema nervoso periférico
• Sistema nervoso autônomo

Objetivos de Aprendizagem
• Compreender a constituição do tecido nervoso.
• Estudar as principais correlações do sistema nervoso
central com o movimento humano: medula espinal, tronco
encefálico, cerebelo, diencéfalo, telencéfalo, meninges,
ventrículos encefálicos e líquido cerebrospinal.
• Descrever as principais correlações do sistema nervoso
periférico com o movimento humano: nervos espinais,
nervos cranianos, plexos nervosos, terminações nervosas e
gânglios nervosos, lesões nervosas.
• Entender as principais correlações do sistema nervoso
autônomo (SNA) com o movimento humano: apresentar
a função geral do SNA. Estudar, do ponto de vista
morfológico e funcional, o SNA simpático e o SNA
parassimpático em função do movimento.
unidade

V
INTRODUÇÃO

Q
uando movemos qualquer parte do nosso corpo, devemos ter
em mente que este movimento começou bem longe de onde ele
de fato ocorreu. Assim, um atleta que executa um arremesso
ou um chute preciso deve entender que este ato motor pode ser
aperfeiçoado ainda mais, pois depende do planejamento, da atuação, da
correção e do refinamento do sistema nervoso que o desencadeou. Isto
explica por que os atletas repetem tantas vezes os mesmos movimentos
que já praticam há tempos .
Uma das áreas estudadas pelas neurociências enfoca detalhes acer-
ca de como o movimento humano é planejado, executado, corrigido e
aperfeiçoado. Assim, a neuroanatomia que será descrita aqui intencio-
nará aplicar o conhecimento da anatomia e da fisiologia do sistema ner-
voso à prática do movimento corpóreo. Para tanto, serão abordadas as
diversas estruturas formadoras desse tão precioso sistema no sentido de
relacioná-las ao tema. A medula espinal, o tronco encefálico (composto
pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo), o cerebelo, o diencéfalo e o
telencéfalo serão abordados anatômica e fisiologicamente, objetivando
entender em profundidade o desenrolar do movimento.
Temas básicos que substanciam o entendimento desse complexo sis-
tema deverão ser previamente trabalhados a fim de prepará-los para o
pleno aproveitamento desta temática. Desta forma, serão apresentadas
as células formadoras do sistema nervoso (os neurônios e as células da
glia), os mecanismos de comunicação entre o sistema nervoso e o corpo
(por meio das sinapses) e a constituição estrutural básica desse sistema.
Considerando que o controle das funções orgânicas, a realização
de funções voluntárias (como fonação e deambulação) e involuntárias
(como salivação e respiração) dependem diretamente da atuação do sis-
tema nervoso, o qual controla e coordena as funções dos demais sistemas
do organismo e permite que o corpo reaja a modificações do ambiente
interno e externo a fim de manter a homeostasia, justifica-se a sua rele-
vância e a importância de seu estudo. No contexto profissional de atuação
do profissional de Educação Física, onde o movimento, a coordenação
motora, o equilíbrio, o tônus muscular, a aprendizagem motora e outras
aptidões são essenciais, este estudo é fundamental. Portanto, aproveite
para entendê-lo e dedique-se ao seu estudo!
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Tecido Nervoso

168
EDUCAÇÃO FÍSICA

Caro(a) aluno(a), o movimento humano depende Os neurônios são constituídos por partes caracte-
da atuação precisa e coordenada das estruturas que rísticas com funções específicas. Os dendritos, por
compõem o sistema nervoso (SN). Assim, as estru- exemplo, são vários pequenos prolongamentos que
turas formadoras do sistema nervoso central (SNC), surgem do corpo do neurônio e que servem para re-
do sistema nervoso periférico (SNP) e do sistema ceber o estímulo e enviá-lo a esse corpo.
nervoso autônomo (SNA) atuam em conjunto para No corpo está localizado o núcleo do neurônio,
que a mobilidade seja garantida de maneira harmô- ou seja, é onde o seu material genético está armaze-
nica. Além disso, todas as células que constituem o nado. Por isto, o corpo é considerado o “centro me-
tecido nervoso devem desempenhar as suas funções tabólico” do neurônio, já que representa uma região
de modo preciso e coordenado para que nada ocorra de grande importância funcional. Inclusive, uma le-
de maneira indesejada. Neste contexto, esta unidade são na região do núcleo normalmente causa a morte
abordará, além das células do tecido nervoso, cada desse neurônio.
porção do SNC, do SNP e do SNA. Do corpo (mais especificamente de uma região
Como anteriormente mencionado, as funções chamada cone de implantação) emerge um prolon-
do SN estão diretamente relacionadas às células que gamento maior e único denominado axônio, em cuja
constituem o próprio tecido nervoso, ou seja, os extremidade final ocorre uma extensa ramificação
neurônios e as células gliais. chamada terminação axônica. A função do axônio é
Os neurônios são as principais células nervosas, conduzir o impulso nervoso até a terminação axôni-
haja vista serem eles os responsáveis pela comunica- ca para que este seja passado a outra célula durante
ção intercelular, conhecida como sinapse (do grego a sinapse. Nos neurônios mielinizados, o axônio é
synapsis, que significa conexão). Existem vários ti- envolto pela bainha de mielina, a qual é constituída
pos morfologicamente diferentes de neurônios. por gordura, proteínas e vitamina B12. Ela é formada
por células especiais chamadas células de Schwann
(no SNP) e oligodendrócitos (no SNC). A bainha de
mielina é interrompida esporadicamente, deixando
pequenos espaços denominados nódulos de Ran-
vier, onde essa bainha não existe. Por isso, ela serve
para aumentar a velocidade de condução dos impul-
sos nervosos, haja vista que a gordura atua como um
isolante elétrico e obriga o impulso a “saltar” pelos
nódulos de Ranvier. Assim, ao invés de o impulso
ter que percorrer toda a extensão do axônio, ele sal-
ta de nódulo em nódulo, acelerando, assim, a trans-
Figura 1 - Diferentes tipos de neurônios presentes no corpo humano missão elétrica.

169
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

e uma célula muscular é chamada de junção neuro-


muscular (ou placa motora), e o neurotransmissor
liberado nesta situação é a acetilcolina.

Figura 3 - Fenda sináptica. Observe os neurônios pré e pós-sinápticos,


as vesículas sinápticas localizadas no neurônio pré-sináptico e a libera-
Figura 2 - Dendritos, corpo celular, núcleo, axônio, célula de Schwann,
ção do neurotransmissor na fenda sináptica
terminação axônica, nódulo de Ranvier, bainha de mielina

As sinapses podem ser entendidas como ordens ou Uma disfunção grave chamada epilepsia pode
comandos que ocorrem entre os neurônios, ou entre ocorrer quando a sinapse é, de alguma maneira,
um neurônio e uma célula efetora (que pode ser, por perturbada. Em grande parte das vezes, a pessoa
exemplo, um músculo ou uma glândula). Em verte- em crise de epilepsia apresenta, dentre vários aco-
brados, esses comandos dependem da liberação de metimentos, alterações motoras. É comum, por
uma substância química chamada neurotransmis- exemplo, haver espasticidade (contração muscular
sor, que fica armazenada em vesículas (as vesículas exacerbada) durante a crise, seguida de hipotonia
sinápticas) localizadas no neurônio pré-sináptico. (relaxamento muscular exagerado) após o episó-
Assim, para que o impulso seja propagado, o neu- dio epilético.
rotransmissor deve ser liberado na fenda sináptica Depois de compreender como são e como atuam
(um espaço existente entre as células que realizam a os neurônios, é de igual importância entender como
sinapse). Para isso, o íon cálcio adentra o neurônio as células da glia agem. Estas células também podem
pré-sináptico e sinaliza às vesículas sinápticas para ser chamadas de neuroglia, células neurogliais ou
que ocorra a exocitose do neurotransmisor. neurogliócitos. Embora cinco vezes mais abundan-
Dependendo de alguns fatores (por exemplo, o tes do que os neurônios, as células da glia não são
tipo de neurotransmissor liberado na fenda sináp- excitáveis, ou seja, não fazem sinapses. Todavia elas
tica), as sinapses podem ser excitatórias ou inibitó- desempenham funções importantes como sustenta-
rias. Vale ressaltar que a sinapse entre um neurônio ção, isolamento e nutrição dos neurônios.

170
EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 4 - Aspectos morfológicos das principais células da glia: oligoden-


drócitos, micróglia, células ependimárias, células de Schwann e astrócitos

Existem quatro tipos de células da glia no SNC (as- posta é total e, se você considerar que as funções dos
trócitos, micróglia, células ependimárias e oligoden- astrócitos, da micróglia e das células satélites são
drócitos) e dois tipos no SNP (células de Schwann essenciais à sobrevivência dos neurônios, fica ainda
e células satélites ou anfícitos). Os astrócitos con- mais fácil concordar com isso. Complementarmente,
trolam a nutrição dos neurônios. A micróglia é res- os oligodendrócitos e as células de Schwann garan-
ponsável pela defesa imunológica desses neurônios, tem a rápida comunicação nas sinapses por meio da
uma vez que ela é um fagócito. As células ependimá- bainha de mielina. Por isso, doenças desmielinizan-
rias produzem líquido cerebrospinal. Os oligoden- tes (como a esclerose lateral amiotrófica, a adreno-
drócitos produzem a bainha de mielina no SNC, e as leucodistrofia e tantas outras) são tão incapacitantes
células de Schwann a produzem no SNP. As células e maléficas. Além disso, se as células ependimárias
satélites protegem os neurônios. produzirem líquido cerebrospinal demais ou de me-
Você pode estar se perguntando qual é a corre- nos, a pressão intracraniana pode ser afetada, e os
lação entre as células da glia e o movimento. A res- movimentos, comprometidos.

171
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Nervoso Central

172
EDUCAÇÃO FÍSICA

FUNÇÕES GERAIS DO SISTEMA NERVO-


SO CENTRAL

É considerado sistema nervoso central (SNC) o tecido De maneira geral, o SNC recebe, analisa e integra
nervoso localizado na região central do corpo, ou seja, informações advindas do meio ambiente (meio ex-
na cabeça e no tronco (o próprio termo SNC enfatiza a terno) e do meio interno (o próprio corpo do indiví-
sua localização). Assim, o SNC é constituído pela me- duo). Assim, ele representa o local onde os estímu-
dula espinal (abrigada no canal medular formado pelas los chegam e são interpretados, bem como o local
vértebras) e encéfalo (abrigado na cavidade craniana). onde as decisões ocorrem, desencadeando ordens à
A maioria das pessoas chama o encéfalo de cére- periferia do corpo. No entanto é importante ressal-
bro. Este termo está incorreto, pois o cérebro é ape- tar que o SNC age em conjunto e de maneira depen-
nas uma parte do encéfalo. Isto porque o encéfalo dente à ação do SNP (MOORE et al., 2014).
apresenta várias partes: tronco encefálico (formado
pelo bulbo, pela ponte e pelo mesencéfalo), cerebelo, CONSTITUIÇÃO DO SISTEMA NERVOSO
diencéfalo e telencéfalo. O cérebro nada mais é do CENTRAL
que o diencéfalo e o telencéfalo juntos. Desta forma,
se você disser que o cérebro é o que está localizado na Tanto o encéfalo quanto a medula espinal apresen-
cavidade craniana, você está negligenciando a exis- tam corpos celulares e fibras nervosas (axônios). O
tência das outras partes do encéfalo, ou seja, o tronco aglomerado de corpos celulares origina a substân-
encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo) e o cerebelo. cia cinzenta, e a junção das fibras nervosas origina a
O objetivo desta unidade é abordar a relação en- substância branca. As células da glia estão presentes
tre cada uma destas estruturas formadoras do SNC tanto na substância cinzenta quanto na branca.
com o ato motor. Adicionalmente, temas como as Na medula espinal, a substância cinzenta fica lo-
meninges, os ventrículos encefálicos e o líquido ce- calizada por dentro da substância branca e se parece
rebrospinal serão abordados devido à importância com uma borboleta ou com a letra H. No encéfalo,
funcional que apresentam. essa substância fica localizada predominantemente
por fora da substância branca, constituindo, assim,
o córtex cerebral. A substância branca do encéfalo é
chamada de centro branco medular do cérebro. Vale
ressaltar que parte da substância cinzenta do encé-
falo se localiza em meio à substância branca, cons-
tituindo os núcleos da base (MIRANDA NETO;
CHOPARD, 2014).
Embora os núcleos da base também tenham
funções não motoras (cognitiva, emocional, de mo-
tivação e seleção de informações sensitivas para o
Figura 5 - Sistema nervoso central e sistema nervoso periférico controle motor), eles atuam principalmente no con-

173
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

trole do movimento. Por isto, as suas lesões podem O seu calibre não é uniforme, pois ela é mais ca-
causar vários distúrbios motores, como coréia, ate- librosa onde as raízes nervosas que formam os ple-
tose, balismo, distonia, tiques, síndrome de Tourette xos braquial e lombossacral fazem conexão. Estes
(tiques motores e vocais) e distúrbios hipocinéticos plexos são aglomerados de nervos (neurônios) que
(como o Parkinsonismo). inervam os membros superiores e inferiores.
Dentre tais núcleos, pode-se citar o caudado, o A ME se comunica superiormente com o bul-
lentiforme (putame e glóbulo pálido), o claustro, o bo (ao nível do forame magno do osso occipital) e,
corpo amigdaloide (parte do sistema límbico, é um inferiormente, ela termina afilando-se para formar
importante centro regulador do comportamento se- o cone medular, o qual continua com um delgado
xual e da agressividade), o núcleo basal de Meynert filamento meníngeo, o filamento terminal, ao nível
e o núcleo accumbens. da segunda vértebra lombar. Assim, no adulto, a me-
dula não ocupa todo o canal vertebral, tendo 45 cm
no homem e 42 cm na mulher.
Tal fato tem importância clínica, pois, abaixo
da segunda vértebra lombar, o canal vertebral não
tem mais ME, todavia, contém apenas as meninges
e as raízes nervosas dos últimos nervos espinais que
formam a cauda equina. Isto porque ME e vértebras
crescem em ritmos diferentes.

Figura 6 - Núcleos da base do cérebro e centro branco medular do cérebro

MEDULA ESPINAL

Sem dúvida, a medula espinal (ME) é imprescindível


ao movimento. Por isto, quando ela é lesionada, qua-
dros de paraplegia ou de tetraplegia podem ocorrer.
Segundo Machado e Haertel (2014), a ME é uma
massa cilíndrica de tecido nervoso que fica localizada
dentro do canal vertebral. O seu nome (medula) sig-
nifica justamente aquilo que fica por dentro, o miolo. Figura 7 - Medula espinal e os seus limites

174
EDUCAÇÃO FÍSICA

ENCÉFALO

A ME apresenta sulcos longitudinais onde se conec- Como vimos anteriormente, o encéfalo é composto
tam os filamentos radiculares que formam as raízes por tronco encefálico (bulbo, ponte e mesencéfalo),
dos nervos espinais. Estes nervos trazem à medula cerebelo, diencéfalo e telencéfalo. Estudaremos a
informações sensitivas da periferia do corpo para partir de agora cada uma destas porções, relacionan-
serem conduzidas ao encéfalo, e levam as ordens do do-as ao movimento sempre que possível.
encéfalo à periferia do corpo. Isto explica porque
uma lesão na ME pode causar perdas sensitivas e/ Tronco encefálico
ou motoras. O tronco encefálico fica acima da ME, abaixo do
Para dar maior proteção à ME, membranas fi- diencéfalo e à frente do cerebelo. Ele é composto
brosas chamadas meninges fazem o revestimento pelo bulbo (inferiormente), mesencéfalo (supe-
externo. A dura-máter é a mais externa das menin- riormente) e ponte (entre o bulbo e o mesencéfa-
ges, a mais espessa e a mais resistente. A pia-máter lo). A sua grande importância é, em parte, atribu-
é a mais delicada e interna, e adere intimamente ao ída ao fato de 10 dos 12 pares de nervos cranianos
tecido nervoso. Já a aracnoide-máter se dispõe entre estarem conectados a ele. Por isto, lesões bulbares
as outras duas, formando um emaranhado de trabé- podem ser muito graves e com sintomas bastante
culas aracnóideas. variados. Todo o texto que segue foi escrito a partir
das considerações de Afifi e Bergman (2007), Ma-
chado e Haertel (2014) e outros autores importan-
tes da área.

Figura 8 - Sulcos da medula espinal e meninges

É importante ressaltar que além das lesões medula-


res de origem traumática (como acidentes automo-
bilísticos, quedas, tiros, facadas etc.), a ME também
pode ser acometida por doenças neoplásicas (cân-
cer) e degenerativas, as quais são tão incapacitantes
quanto as traumáticas. Figura 9 - Visão geral do tronco encefálico

175
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Bulbo Ponte
O bulbo fica abaixo da ponte e acima da ME (acima A ponte fica entre o mesencéfalo e o bulbo e à frente
do forame magno). A sua superfície também apre- do cerebelo. Em relação às suas funções, ela ajuda a
senta sulcos longitudinais como a medula espinal. formar o IV ventrículo e apresenta amplas conexões
De cada lado do bulbo existe uma eminência com o cerebelo, o que é essencial para a execução e o
alongada chamada pirâmide, que é formada por um refinamento do movimento.
feixe de fibras nervosas, as quais, por sua vez, des-
cem das áreas motoras do cérebro até os neurônios Mesencéfalo
motores localizados na ME. Assim, as pirâmides do O mesencéfalo fica entre a ponte e o diencéfalo. Ele é
bulbo são essenciais ao movimento e nelas ocorre atravessado em toda a sua extensão por um estreito
um cruzamento parcial dessas fibras, formando a canal chamado aqueduto do mesencéfalo, que une o
decussação das pirâmides. Isto explica o fato de uma III ao IV ventrículo, permitindo, assim, a drenagem
lesão do lado direito do encéfalo causar perda mo- do líquido cerebrospinal.
tora do lado esquerdo do corpo (ou seja, o déficit Além disso, o mesencéfalo apresenta uma área
motor é contralateral à lesão). escura chamada substância negra, onde existem
Complementarmente, o bulbo tem diversas ou- neurônios ricos em melanina e diretamente relacio-
tras funções. Ele é considerado um importante cen- nados ao movimento. Ele também participa das vias
tro nervoso, pois se relaciona às funções respiratória da audição e da visão.
e cardiovascular, à tosse, ao vômito, à deglutição e ao
bocejo. Além disso, ele ajuda a formar o IV ventrícu- CEREBELO
lo, e em sua área posterior estão os fascículos grácil
e cuneiforme, os quais são constituídos por fibras O cerebelo situa-se atrás do bulbo e da ponte e re-
nervosas ascendentes. pousa sobre o osso occipital. Ele se conecta à ME, ao
bulbo, à ponte e ao mesencéfalo.
A sua porção mediana e ímpar é chamada de
verme, e as suas massas laterais são os hemisférios
cerebelares. Tanto o verme quanto os hemisférios
apresentam sulcos transversais que delimitam finas
lâminas, estas chamadas de folhas. Os sulcos mais
profundos são chamados de fissuras.
À semelhança do cérebro, o cerebelo é constitu-
ído por um centro de substância branca (corpo me-
dular do cerebelo) e revestido por uma fina camada
de substância cinzenta (córtex cerebelar). Dentro do
corpo medular existem quatro pares de núcleos de
substância cinzenta (os núcleos centrais do cerebe-
Figura 10 - Bulbo, ponte e mesencéfalo lo): denteado, emboliforme, globoso e fastigial.

176
EDUCAÇÃO FÍSICA

O cerebelo deve ser bem conhecido pelos profis-


sionais de Educação Física devido aos seus aspectos
funcionais. Isto porque ele está diretamente relacio-
nado ao equilíbrio, à coordenação dos movimentos
e à aprendizagem motora. Todavia é importante res-
saltar que estudos recentes têm sugerido que o ce-
rebelo também apresenta funções não motoras. Por
exemplo, função autônoma, de comportamento e de
cognição, além de ajudar a formar o IV ventrículo.
Adicionalmente, é descrito que autistas apresentam
hipoplasia cerebelar e que lesões cerebelares podem
causar síndromes com diferentes sintomas (GAR-
CIA; MOSQUERA, 2011).
Figura 12 - Diencéfalo e cérebro

O pequeno volume ocupado pelo diencéfalo não re-


flete a sua importância funcional, pois ele desempe-
nha inúmeras e importantes funções. O diencéfalo
se relaciona ao III ventrículo e compreende quatro
regiões principais: tálamo, hipotálamo, epitálamo e
subtálamo.
O tálamo é uma grande massa de substância cin-
zenta, disposta uma de cada lado do diencéfalo (es-
tas massas são unidas pela aderência intertalâmica).
Figura 11 - Cerebelo inteiro Ele recebe impulsos motores e sensitivos vindos da
periferia do corpo (exceto o olfato) e os encaminha
DIENCÉFALO ao córtex cerebral. Relaciona-se intimamente com a
dor e, por isto, uma lesão talâmica pode causar a sín-
Como já mencionado, o diencéfalo, junto com o drome talâmica dolorosa, o déficit de memória e de
telencéfalo, formam o cérebro, o qual representa a linguagem e vários outros sintomas.
porção mais desenvolvida e importante do encéfa- O hipotálamo fica abaixo do tálamo e as suas
lo e que ocupa cerca de 80% da cavidade craniana. funções se relacionam principalmente com o con-
Enquanto o telencéfalo se desenvolveu mais nos trole da atividade visceral. Ele é considerado um
sentidos lateral e posterior, formando, assim, os he- grande centro autônomo e endócrino, atuando em
misférios cerebrais, o diencéfalo ficou quase comple- processos como alimentação, ingestão de líquidos,
tamente encoberto pelo telencéfalo, permanecendo, comportamento sexual e emocional, regulação da
assim, em situação ímpar e mediana. temperatura, memória e crescimento.

177
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

O epitálamo fica acima do sulco hipotalâmico. Ele possui duas cavidades chamadas ventrícu-
A glândula pineal é o seu elemento mais evidente, los laterais onde o líquido cerebrospinal se aloja.
atuando, portanto, no controle do ritmo circadiano Também apresenta três pontos projetados (polos
e na função gonadal. Por isto, uma lesão nesta região frontal, occipital e temporal), cinco lobos (frontal,
pode retardar ou adiantar a puberdade, ou mesmo parietal, temporal, occipital e da ínsula) e três faces
alterar o ritmo circadiano. (superolateral, medial e inferior ou base do cére-
O subtálamo, que fica abaixo do tálamo, é bem bro). Estudaremos os principais aspectos de cada
importante ao profissional de Educação Física, pois uma destas regiões.
o seu elemento mais evidente é o núcleo subtalâmi-
co, cuja função é controlar e modular o movimento
voluntário. Por isto, quando esse núcleo é lesionado,
pode haver hemibalismo (uma doença cujos movi-
mentos violentos e involuntários ocorrem na meta-
de do corpo contralateral ao subtálamo lesado).

Telencéfalo
O telencéfalo compreende os dois hemisférios cere-
brais e uma pequena parte mediana situada na por-
ção anterior do III ventrículo. Tais hemisférios são
parcialmente separados pela fissura longitudinal do Figura 14 - Polos, lobos e faces

cérebro, cujo assoalho é formado pelo corpo caloso


(o principal meio de união entre eles). A superfície do cérebro humano apresenta vários
sulcos e, assim, delimitando vários giros. Os giros
aumentam a superfície do cérebro sem aumentar o
seu volume, pois dois terços da área do córtex cere-
bral estão “escondidos” nos sulcos (o encéfalo hu-
mano é, por isto, chamado de girencéfalo; encéfalos
sem giros são chamados de lisencéfalos).
Enquanto muitos sulcos são inconstantes e
não recebem nomes, outros são constantes e rece-
bem nomes especiais. É importante salientar que
o padrão dos sulcos e dos giros pode ser diferente
nos dois hemisférios de um mesmo indivíduo, e
não existe nenhum sulco ou giro que seja carac-
terístico de uma determinada raça, sendo, assim,
impossível a identificação da raça pelo estudo do
Figura 13 - Telencéfalo, dois hemisférios e fissura longitudinal do cérebro cérebro.

178
EDUCAÇÃO FÍSICA

Os dois sulcos mais importantes são o lateral e Admite-se que o menor encéfalo compatível com a
o central. O lateral separa os lobos frontal e parietal inteligência normal deve pesar cerca de 900 g.
do lobo temporal. O sulco central separa os lobos
frontal e parietal e é ladeado por dois giros paralelos, Aspectos funcionais das principais áreas en-
o giro pré-central (anterior ao sulco) e o pós-central cefálicas
(posterior a ele). Estes giros relacionam-se, respecti- Algumas áreas encefálicas têm funções especiais.
vamente, à motricidade e à sensibilidade do corpo. Mencionaremos a seguir as mais importantes.
Os giros frontal superior e frontal médio rela-
cionam-se à cognição, ao raciocínio lógico e mate-
mático, e à memória recente. O giro frontal inferior
do lado esquerdo do cérebro é chamado de giro de
Broca e é onde se localiza o centro da palavra falada.
Enquanto no giro pré-central se localiza a área
motora primária do cérebro, no giro pós-central se
localiza a área sensitiva deste.
No giro temporal superior está a área de Werni-
cke, envolvida na compreensão da linguagem fala-
Figura 15 - Sulco lateral e central, giro pré e pós-central da. O giro temporal inferior está envolvido na per-
cepção visual de cor e de forma. No giro temporal
Dos cinco lobos cerebrais, quatro recebem a sua de- transverso anterior se localiza o centro cortical da
nominação de acordo com os ossos do crânio com audição (área acústica primária).
os quais se relacionam: frontal, temporal, parietal O lóbulo parietal superior está envolvido na in-
e occipital. Todavia o quinto lobo situa-se profun- teração do indivíduo com o seu meio e, por isto, a
damente, não se relacionando diretamente com os presença de lesões, principalmente no hemisfério
ossos do crânio, sendo chamado de lobo da ínsula. não dominante, causam negligência em relação a
Este lobo associa-se a funções autônomas. partes do corpo. Nele existem os giros supramargi-
É importante ressaltar que o peso do encéfalo nal e angular, os quais estão envolvidos na integração
depende do peso corporal do indivíduo, da comple- de diversas informações sensoriais quanto à fala e à
xidade do encéfalo (coeficiente de encefalização; K) percepção. Assim, lesões, principalmente no hemis-
e não tem relação com os estados cultural ou de in- fério dominante, causam distúrbio na compreensão
teligência do indivíduo (o encéfalo de Einstein, por da linguagem e no reconhecimento de objetos.
exemplo, pesava 1.230 g). O K é quatro vezes maior O corpo caloso une áreas simétricas do córtex
no ser humano do que em um chimpanzé. cerebral de cada hemisfério. O giro do cíngulo faz
No homem adulto brasileiro normal, o encéfalo parte do sistema límbico e, por isto, afeta o funcio-
pesa cerca de 1.300 g (1.200 g na mulher). O maior namento visceral, as emoções e o comportamento.
encéfalo humano registrado até hoje pesou 2.850 g No lobo occipital está localizada a área visual primá-
e o seu dono tinha um nível normal de inteligência. ria, e o giro reto está relacionado ao olfato.

179
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Ventrículos encefálicos e líquido cerebrospinal A pia-máter é a mais interna, aderindo intima-


Nesta unidade, por várias vezes, os termos “III ven- mente à superfície do encéfalo, acompanhando sul-
trículo”, “IV ventrículo” e “ventrículos laterais” fo- cos, giros e vasos que penetram o tecido nervoso.
ram mencionados. Eles são cavidades do encéfalo.
Os ventrículos laterais (direito e esquerdo) locali-
zam-se nos hemisférios cerebrais; o III ventrículo
fica no diencéfalo; o IV ventrículo fica entre o bulbo,
a ponte e o cerebelo.
Eles produzem líquido cerebrospinal e se comu-
nicam entre si, permitindo que este líquido circule.
Ele é absorvido pelas granulações aracnoideas e é
drenado para as veias que drenam o encéfalo. Desta
forma, o líquido se mistura ao sangue e sofre os mes-
mos processos de filtragem que ele.
O líquido cerebrospinal é um fluido aquoso e
incolor que protege o sistema nervoso central, redu-
zindo, desta forma, o risco de traumas. Além disso,
ele torna o encéfalo mais leve, fazendo com que este
flutue, e impede que o seu peso comprima as raízes
dos nervos cranianos e dos vasos sanguíneos contra
a superfície interna do crânio. O seu volume total é
de 400 a 500 ml/dia, mas algumas pessoas podem Figura 16 - Meninges encefálicas

apresentá-lo em maior quantidade (hidrocefalia).


Ele se renova completamente a cada oito horas. Vascularização da cabeça e do pescoço

Meninges Embora o encéfalo represente apenas uma pequena


Meninges são membranas conjuntivas que envolvem parte do corpo, ele recebe muito sangue e muito oxi-
o sistema nervoso central, protegendo-o. Todavia elas gênio. Isto por que as suas estruturas nobres e espe-
podem ser acometidas por processos patológicos, como cializadas exigem suprimento constante de glicose e
infecções (meningites) ou tumores (meningiomas). oxigênio para o seu metabolismo. Por isto, a parada
A dura-máter é a mais externa. Ela é muito vas- da circulação cerebral por mais de sete segundos
cularizada e inervada (quase toda a sensibilidade in- leva à perda da consciência, e após cinco minutos,
tracraniana depende dela, a qual é responsável pela aparecem lesões irreversíveis.
maioria das dores de cabeça). O fluxo de sangue tende a diminuir durante o
A aracnoide-máter é intermediária e se relacio- sono e é maior em áreas com mais sinapses. Assim, a
na à absorção do líquido cerebrospinal por meio das falta de oxigênio faz com que áreas diferentes sejam
granulações aracnóideas (como já mencionado). lesadas em tempos diferentes.

180
EDUCAÇÃO FÍSICA

A irrigação do encéfalo depende dos ramos das camente desprovidas de músculos. Os sistemas venosos
artérias carótida interna e subclávia. As suas veias não superficial e profundo se comunicam e desembocam
acompanham as artérias, são maiores, mais calibrosas, na veia jugular interna, a qual desemboca na veia sub-
têm paredes muito finas, não têm válvulas e são prati- clávia e, posteriormente, no átrio direito do coração.

Círculo arterial
do encéfalo

Figura 17 - Artérias do encéfalo

SAIBA MAIS

Você já ouviu falar de neuroplasticidade? Você sabia que a prática de atividades motoras (exercícios
físicos específicos) estimulam o nosso cérebro de maneira fantástica, causando, inclusive, mudanças
estruturais? Para saber mais, acesse: <http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2009/RN%20
17%2002/14.pdf>.

Fonte: a autora.

181
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Nervoso Periférico

182
EDUCAÇÃO FÍSICA

Estudaremos as principais correlações do sistema Terminações nervosas


nervoso periférico (SNP) com o movimento huma- As terminações nervosas são ramificações das ex-
no. Para tanto, abordaremos todas as estruturas que tremidades das fibras nervosas dos nervos. Elas
o constituem e, adicionalmente, discutiremos o que podem ser sensitivas ou aferentes (chamadas de
ocorre nas lesões nervosas. Todo o texto a seguir receptores) e motoras ou eferentes (chamadas de
será baseado nas considerações de Afifi e Bergman junção neuroefetora).
(2007), Machado e Haertel (2014) e outros autores Os receptores são estimulados por uma forma de
importantes da área. energia (calor, luz, pressão etc.) e então originam um
impulso nervoso que segue até atingir o SNC para
FUNÇÃO DO SISTEMA NERVOSO PERIFÉ- ser interpretado em áreas cerebrais próprias (como
RICO o giro pós-central ou as áreas 3, 2 e 1 de Brodmann).
As terminações nervosas motoras fazem a contração
O SNP, de maneira geral, conduz estímulos da pe- muscular ou a secreção glandular, pois trazem as or-
riferia do corpo ao SNC e leva comandos deste aos dens do SNC até os órgãos efetores.
órgãos efetores (que podem ser músculos ou glân- Existem receptores especiais e gerais. Os espe-
dulas) (MOORE et al., 2014). ciais são mais complexos, estão ligados a um neu-
roepitélio (como retina e órgão de Corti) e estão
ESTRUTURAS DO SISTEMA NERVOSO PE- presentes nos órgãos dos sentidos (visão, audição,
RIFÉRICO equilíbrio, olfato, gustação). Os gerais são mais
simples, espalham-se pelo corpo e podem ser li-
O SNP é formado por neurônios localizados fora vres ou encapsulados, conforme tenham ou não
do SNC. De acordo com Miranda Neto e Chopard uma cápsula de tecido conjuntivo que os envolva.
(2014), ele se organiza em quatro estruturas prin- Assim, enquanto os receptores gerais livres não
cipais: terminações nervosas, gânglios (espinais e têm essa cápsula, os receptores gerais encapsula-
autônomos), nervos espinais e nervos cranianos. As dos são mais complexos, pois se ramificam dentro
terminações nervosas são estruturas especializadas de uma cápsula de tecido conjuntivo. Os simples
em captar os estímulos da periferia do corpo; os são mais abundantes, ramificam-se na pele e re-
gânglios são constituídos por corpos de neurônios; lacionam-se ao tato e às sensibilidades térmica e
os nervos unem a parte central do SN às estruturas dolorosa.
periféricas do corpo.

183
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Figura 18 - Tipos de receptores

Dentre os receptores gerais encapsulados destacam- no tecido subcutâneo das mãos e dos pés, nos septos
-se o órgão tendinoso de Golgi (OTG), o fuso neu- intermusculares e no periósteo).
romuscular (FNM) e os corpúsculos sensitivos da O FNM e o OTG são muito importantes para
pele. Os corpúsculos sensitivos incluem o corpúscu- a contração e o alongamento muscular e, por isto,
lo de Meissner (receptor de tato e pressão, localizado devem ser bem compreendidos por você, en-
principalmente na pele espessa das mãos e dos pés), quanto diretamente relacionados ao movimento.
de Ruffini (receptor de tato e pressão, presente prin- O FNM é um receptor proprioceptivo composto
cipalmente na pele espessa das mãos e dos pés e na por feixes de fibras musculares modificadas cha-
parte pilosa do corpo) e de Vater-Paccini (receptor madas fibras intrafusais, uma vez que ficam loca-
de sensibilidade vibratória, presente principalmente lizadas dentro de uma cápsula de tecido conjun-

184
EDUCAÇÃO FÍSICA

tivo fibroso. Ele fica paralelo às fibras musculares e os seus impulsos podem ser conscientes ou in-
extrafusais e se liga ao tendão do músculo. É ati- conscientes.
vado quando o comprimento das fibras muscu- Por fim, a terminação nervosa motora pode ser
lares varia (o que ocorre, por exemplo, durante somática ou visceral. A somática estimula o mús-
a contração e o alongamento muscular). Assim, culo estriado esquelético, formando a placa motora
é importante para a manutenção do tônus mus- onde há liberação do neurotransmissor acetilcolina.
cular e para o reflexo miotático (por exemplo, o As viscerais terminam no músculo liso, no estriado
reflexo patelar). cardíaco ou nas glândulas, pertencem ao sistema
O OTG também é um receptor proprioceptivo nervoso autônomo e o seu neurotransmissor pode
que se localiza na junção da fibra muscular com o ser a acetilcolina ou a noradrenalina.
tendão do músculo esquelético. Ele permite ao SNC
avaliar a força do músculo e é muito sensível à alte- Gânglios
ração na tensão deste (ao contrário do FNM, que é Os gânglios são aglomerados de corpos de neurô-
mais sensível à alteração do comprimento muscular). nios localizados fora do sistema nervoso central, os
De maneira geral, os receptores podem ser quais são protegidos pelas células satélites. Existem
classificados de acordo com o tipo de estímulo que gânglios espinais e autônomos.
os ativa. Quimiorreceptores, por exemplo, são ati- Os espinais são formados por neurônios sensiti-
vados por estímulos químicos como os do olfato, vos e estão ligados à raiz dorsal do nervo espinal. Os
da gustação e da artéria carótida; osmorreceptores autônomos pertencem ao sistema nervoso autônomo
detectam variações na pressão osmótica; fotor- e podem ser constituídos por corpos de neurônios
receptores são ativados pela luz (bastonetes e co- simpáticos (gânglios simpáticos) ou parassimpáticos
nes da retina); termorreceptores são ativados por (gânglios parassimpáticos). Enquanto os gânglios
estímulos térmicos (terminações nervosas livres); simpáticos estão localizados predominantemente
nociceptores são ativados por estímulos nocivos nas cavidades torácica e abdominal, os gânglios pa-
(terminações nervosas livres); mecanorreceptores rassimpáticos estão localizados principalmente no
são ativados por estímulos mecânicos (audição, interior dos órgãos (gânglios intramurais).
equilíbrio, tato, pressão, vibração, barorreceptores
da carótida, OTG e FNM).
Além disso, os receptores também podem ser
classificados de acordo com o local onde estão.
Ínteroceptores ou vísceroceptores estão nas vísce-
ras e vasos, e permitem sensações viscerais pouco
localizadas, como fome, prazer sexual, sede e dor
visceral. Exteroceptores estão na superfície exter-
na do corpo e são ativados por calor, frio, tato,
pressão, luz e som. Proprioceptores estão nos mús-
culos, tendões, ligamentos e cápsulas articulares, Figura 19 - Gânglios

185
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Nervos ao telencéfalo e ao diencéfalo, e o nervo acessório


Nervos são feixes de fibras nervosas envoltas por te- que se origina na parte superior da medula espinal).
cido conjuntivo e que se localizam fora do SNC. Os Os nervos olfatório (I par) e óptico (II par) são
nervos unem este sistema aos órgãos periféricos e a sensitivos, pois são responsáveis, respectivamente,
sua função é conduzir impulsos nervosos eferentes pelo olfato e pela visão. Os nervos oculomotor (III
do SNC à periferia do corpo, além de fazer o trajeto par), troclear (IV par) e abducente (VI par) são mo-
contrário, ou seja, conduzir impulsos nervosos afe- tores, pois são responsáveis pelos movimentos dos
rentes da periferia do corpo ao SNC. músculos extrínsecos do olho.
Alguns nervos têm apenas fibras nervosas sensi- O nervo trigêmeo (V par) é misto e recebe este
tivas (nervos sensitivos), outros, fibras nervosas mo- nome porque as suas fibras originam três nervos:
toras (nervos motores) e outros podem ter ambos os oftálmico, maxilar e mandibular. De maneira geral,
tipos (nervos mistos). Geralmente, os motores são ele dá a sensibilidade exteroceptiva (temperatura,
profundos, e os sensitivos, superficiais. dor, tato e pressão) de grande parte da cabeça (face,
Em um mesmo nervo podem existir fibras ina- dentes, boca, cavidade nasal e dura-máter craniana),
tivas, já que estas apresentam funcionamento inde- a sensibilidade exteroceptiva e proprioceptiva dos
pendente. Os nervos podem rearranjar as suas fibras músculos mastigatórios e da articulação temporo-
se anastomosando ou se bifurcando, e próximo à sua mandibular, inerva os músculos mastigatórios, o
terminação, se ramificam muito. São muito vascula- milo-hioideo, o ventre anterior do digástrico, o ten-
rizados, mas quase não têm sensibilidade (estímulos sor do véu palatino e o tensor do tímpano. Se este
dolorosos causam dor no trajeto do nervo e não no nervo for acometido (nevralgia ou neuralgia do tri-
ponto onde o estímulo foi feito). gêmeo), pode haver dor intensa no couro cabeludo,
A velocidade de condução do impulso nervo- na mandíbula, na fronte, nos olhos, nariz e lábios.
so varia dependendo do calibre das fibras nervosas O nervo facial (VII par) também é misto. Os
que formam os nervos (em média, de 1 a 120 m/s). seus ramos motores incluem o temporal, o zigomá-
Os nervos são fortes, pois três membranas de teci- tico, o bucal, o marginal da mandíbula e o cervical,
do conjuntivo sustentam e protegem as suas fibras: os quais inervam os músculos da expressão facial,
o endoneuro envolve cada fibra nervosa; o perineu- da orelha, do ventre posterior do digástrico, do es-
ro envolve um fascículo destas fibras; o epineuro tilo-hioideo e do músculo estapédio. O nervo facial
une os vários fascículos. Eles podem ser espinais inerva as glândulas lacrimais e as glândulas salivares
ou cranianos. sublingual e submandibular. Adicionalmente, ele dá
sensibilidade gustativa aos dois terços anteriores da
Nervos cranianos língua, ao palato mole e a uma pequena área de pele
São 12 pares de nervos cranianos ligados ao encéfa- da orelha.
lo, nominados e enumerados por algarismo romano. O nervo vestibulococlear (VIII par) permite o
Eles entram e saem do crânio por forames. A maioria equilíbrio, a orientação espacial e a audição. A sua
deles se conecta ao tronco encefálico (exceto os ner- lesão pode causar enjoo, desequilíbrio, nistagmo,
vos olfatório e óptico que ligam-se, respectivamente, vertigem e hipoacusia.

186
EDUCAÇÃO FÍSICA

O nervo glossofaríngeo (IX par) é misto. Ele dá Nervos espinais


movimento ao músculo estilofaríngeo, permite a São 31 pares de nervos espinais ligados à medu-
inervação da glândula parótida e dá sensibilidade ao la espinal e que inervam o tronco, os membros, o
terço posterior da língua e da faringe. pescoço e parte da cabeça. Eles são identificados
O nervo vago (X par) é o nervo mais longo e o por uma letra (que identifica a região da medula à
de distribuição mais extensa do corpo e, por isto, ele qual pertencem) e um número (que identifica a sua
recebeu este nome (derivado do latim vagari, que ordem). Por exemplo, o nervo T4 é o quarto nervo
significa “errante”). Inerva palato, faringe, laringe, da região torácica. Assim, existem oito nervos cer-
esôfago, brônquios, pulmões, coração, estômago e vicais, 12 torácicos, cinco lombares, cinco sacrais e
intestinos. Ele é misto. um coccígeo.
O nervo acessório (XI par) é formado por uma
raiz craniana (bulbar) e outra espinal. Ele é motor e
inerva músculos da laringe e das vísceras torácicas e
os músculos trapézio e esternocleidomastoideo.
O nervo hipoglosso (XII par) é motor e dá movi-
mento aos músculos da língua. A sua lesão pode cau-
sar desvio lateral da língua quando se faz a protrusão.

Figura 20 - Nervos cranianos Figura 21 - Nervos espinais

187
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

As raízes ventrais e dorsais unem-se e formam o


tronco do nervo espinal, que é misto e com com-
ponentes viscerais e somáticos. O tronco se divide
em ramos dorsal e ventral. O dorsal inerva pele,
músculos da região occipital, nuca, região dorsal do
tronco e articulações sinoviais da coluna vertebral.
São separados uns dos outros e não formam plexos
nervosos (são unissegmentares).
O ramo ventral inerva pele, músculos, ossos, ar-
ticulações e vasos da região ântero-lateral do pesco-
ço, tronco e membros. Na região torácica, os ramos
ventrais têm trajeto paralelo às costelas (são unisseg-
mentares), mas em outras regiões, se anastomosam
e formam plexos plurissegmentares (com fibras de
mais de um segmento medular).
Os principais plexos são: cervical, braquial, lom-
bar e sacral. No entanto também é descrito o plexo
coccígeo, que inerva a articulação sacrococcígea, o
músculo coccígeo e parte do músculo levantador do
ânus. Dele se originam os nervos anococcígeos, que
inervam uma pequena área de pele entre o cóccix e
o ânus.
Resumidamente, o plexo cervical inerva a pele
e os músculos da cabeça, do pescoço, ombro e tó-
rax, e tem um ramo de cada lado (o nervo frênico),
que inerva o músculo diafragma. O plexo braquial
inerva o membro superior. O plexo lombar inerva
Figura 22 - Formação dos nervos espinais os músculos abdominais, as regiões inguinal e pú-
bica e os membros inferiores. O plexo sacral inerva
Os nervos espinais emergem da medula espinal por as vísceras pélvicas e o membro inferior. Este ple-
meio de radículas que saem dos sulcos da medula e xo emite, além de vários outros nervos, o nervo is-
formam as raízes ventral e dorsal. Enquanto a raiz quiático. Este é popularmente chamado de ciático
ventral tem axônios de neurônios motores e inerva e é considerado o mais calibroso e longo nervo do
órgãos efetores (músculos e glândulas), a raiz dorsal corpo (chega aos dedos dos pés). O isquiático não
tem axônios de neurônios sensitivos vindos das ter- inerva estruturas da região glútea, mas sim, os mús-
minações sensitivas da periferia e cujos corpos estão culos posteriores da coxa, da perna e do pé, a pele da
nos gânglios espinais. maior parte da perna e do pé e todas as articulações
do membro inferior.
188
EDUCAÇÃO FÍSICA

LESÃO NERVOSA
Uma lesão nervosa pode ocorrer por diversas causas
(trauma, facada, tiro etc.) e pode gerar graves danos,
principalmente aos movimentos e à sensibilidade,
pois quando uma lesão ocorre, é comum que o axô-
nio se degenere.
Em casos específicos, todavia, pode haver a re-
generação dos axônios e a reversão dos sintomas.
Um fator que pode contribuir para a regeneração do
neurônio é a presença de uma glicoproteína chama-
da laminina, produzida pelas células de Schwann no
SNP (no SNC, a laminina não é produzida). Ela atua
como um fator neurotrófico que estimula o cresci-
mento neuronal.
É possível, no entanto, que essa regeneração não
ocorra espontaneamente, podendo, inclusive, ocor-
rer formação de neuroma (um crescimento desorde-
nado dos axônios, formando uma estrutura sensível,
comum após amputações). Neste caso, uma inter-
venção cirúrgica pode ser necessária.

Figura 23 - Plexos

189
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

Sistema Nervoso Autônomo


Para finalizarmos esta unidade, estudaremos os bém chamado de SN de vida de relação) permite ao
principais aspectos do sistema nervoso autônomo organismo se relacionar com o meio ambiente que o
(SNA), apresentando as suas características gerais cerca, o SN visceral (ou SN de vida vegetativa) per-
do ponto de vista morfológico e funcional, as prin- mite ao organismo manter o seu controle interno
cipais diferenças entre SNA simpático e parassimpá- (homeostasia corporal).
tico, fazendo, quando possível, a correlação de todo Para isto, tanto o SN somático quanto o visce-
este conteúdo com o movimento humano. ral apresentam vias sensitivas (aferentes) e motoras
(eferentes). A via sensitiva no SN somático origina-
CLASSIFICAÇÃO FUNCIONAL DO SN -se em exteroceptores e, no SN visceral, origina-se
em ínteroceptores ou vísceroceptores. Exterocep-
Funcionalmente, o SNA pode ser classificado em SN tores são receptores sensitivos localizados na parte
visceral e somático. Enquanto o SN somático (tam- externa do corpo e cuja função é levar informações

190
EDUCAÇÃO FÍSICA

da periferia ao SNC. Já os vísceroceptores são re- O SNA simpático é considerado toracolombar,


ceptores sensitivos localizados nas vísceras e cuja pois os seus neurônios pré-ganglionares estão locali-
função é levar informações da parte interna do cor- zados nos segmentos torácicos e lombares da medula
po ao SNC. espinal. As suas fibras pré-ganglionares geralmente
A via motora no SN somático traz comandos do são curtas e fazem sinapse com neurônios pós-gan-
SNC ao músculo estriado esquelético e a sua função glionares localizados em gânglios simpáticos verte-
é possibilitar movimentos voluntários. Já a via moto- brais e pré-vertebrais. As suas fibras pós-ganglionares
ra do SN visceral leva comandos do SNC aos órgãos geralmente são longas, indo até os órgãos efetores.
(constituídos de músculo liso ou estriado cardíaco), O simpático é responsável por: constrição dos vasos
às glândulas e aos adipócitos, possibilitando, assim, sanguíneos, dilatação da pupila, secreção das glându-
ações involuntárias como batimentos cardíacos, mo- las sudoríparas, ereção dos pelos, aumento do ritmo
vimentos peristálticos e secreção glandular. cardíaco, dilatação dos brônquios, diminuição do
Em resumo, se os aspectos funcionais desempe- peristaltismo, fechamento dos esfíncteres do tubo
nhados pelo SN forem voltados à sobrevivência do in- digestório, estimulação da secreção da glândula su-
divíduo no meio que o cerca, estamos falando do SN prarrenal, aumento da contração da musculatura lisa
somático. Mas se os aspectos funcionais desempenha- do sistema genital masculino e feminino e ejaculação.
dos pelo SN forem voltados ao controle do ambiente O SNA parassimpático é considerado cranios-
interno do corpo, estamos falando de SN visceral. sacral, pois os seus neurônios pré-ganglionares
localizam-se em núcleos do tronco encefálico,
REFLITA anexos aos nervos cranianos (III, VII, IX e X pa-
res) e nos segmentos sacrais da medula espinal.
Afinal, o que é o SNA? Ele nada mais é do que As suas fibras pré-ganglionares geralmente são
a via motora (eferente) do SN visceral. Desta muito longas e fazem sinapse com os neurônios
forma, a sua função é levar os comandos do pós-ganglionares dos gânglios motores viscerais,
SNC às vísceras para manter a homeostasia.
Ele é subdividido em SNA simpático, paras- que estão localizados próximos ou dentro das vís-
simpático e SN entérico. ceras. Quando estimulados, fazem as glândulas la-
crimais e salivares secretarem e causam constrição
da pupila e dos brônquios, acomodação visual,
SNA SIMPÁTICO E PARASSIMPÁTICO bradicardia, ativação dos movimentos peristálti-
cos, relaxamento dos esfíncteres do tubo digestó-
As vias eferentes do SNA simpático e parassimpático rio, estimulação da secreção das glândulas anexas
apresentam dois neurônios. Um deles tem o corpo dos genitais e ereção.
no SNC (neurônio pré-ganglionar), e o outro tem o Fatores como tabagismo e estresse emocional es-
corpo em gânglios motores do SNP (neurônio pós- timulam exageradamente o SNA simpático, predis-
-ganglionar). pondo à elevação da pressão arterial, à impotência

191
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

sexual e aos distúrbios do sistema digestório. Por


isto, se estes estímulos forem persistentes ou fre-
quentes, pode haver sobrecarga em vários órgãos, in-
clusive no coração. Tal fato é extremamente maléfico
e está associado às alterações comumente presentes
no estresse, como taquicardia, “frio na barriga”, dor
no estômago, alterações respiratórias e tantas outras
relacionadas à ativação do SNA simpático.
Os neurônios centrais do SNA constituem nú-
cleos viscerais na medula espinal e tronco encefáli-
co, e obedecem a centros superiores do diencéfalo,
cerebelo e córtex cerebral. Os gânglios vertebrais
localizam-se ao lado da coluna vertebral, são uni-
dos entre si por feixes nervosos e formam o tronco
simpático (direito e esquerdo), e estes se ligam aos
nervos espinais por meio dos ramos comunicantes.
Enquanto os gânglios pré-vertebrais ficam à frente Figura 25 - Sistema parassimpático

da coluna vertebral, os gânglios periféricos ficam


muito próximos ou dentro dos órgãos.
SN ENTÉRICO

O SN entérico é constituído por neurônios locali-


zados entre as células da parede do tubo digestório.
Ele é formado por neurônios sensitivos, motores e
interneurônios. Os seus principais componentes são
o plexo submucoso e o mioentérico.
A maior parte dos neurônios motores são neurô-
nios pós-ganglionares do SNA parassimpático. Os
neurônios sensitivos são estimulados por alterações
na tensão da parede dos intestinos e por alterações
químicas na luz intestinal. Assim, pode-se dizer que
o SN entérico é fundamental para o controle da mo-
tilidade do intestino, da tonicidade dos vasos san-
guíneos intestinais, da velocidade de proliferação
das células de revestimento epitelial do tubo diges-
tório, da secreção de hormônios e para a absorção de
Figura 24 - Sistema simpático nutrientes (MIRANDA NETO; CHOPARD, 2014).

192
EDUCAÇÃO FÍSICA

importante que façamos uma correlação de como


o SNA age em situações de realização do exercício
físico. Em primeiro lugar, é importante pontuar que
o SNA simpático está mais relacionado ao exercício,
uma vez que este, de maneira geral, é responsável
pela estimulação dos nossos órgãos, enquanto que o
SNA parassimpático tende a diminuir tal estímulo.
Assim, enquanto o SNA parassimpático tende a agir
Figura 26 - Sistema nervoso entérico em situações de relaxamento (como quando dormi-
mos, por exemplo), o SNA simpático tende a agir em
situações em que nosso corpo é exigido com maior
RELAÇÃO SNA E MOVIMENTO HUMANO intensidade (como durante o estresse físico e psico-
lógico e a prática de exercícios físicos).
Inicialmente, nesta unidade, abordamos as subdi- Isso acontece porque, durante o exercício físico,
visões do sistema nervoso, as suas funções gerais, o nosso coração deve se contrair mais rapidamen-
a sua constituição em termos microscópicos (es- te e com maior força para permitir que um volume
tudando as células que o formam e as funções que maior de sangue seja encaminhado aos músculos
desempenham) e a sua constituição em termos ma- que estão se contraindo. Para tanto, o calibre dos
croscópicos (estudando cada estrutura que o forma, vasos sanguíneos deve ser ajustado a fim de que o
bem como os seus aspectos funcionais). Além disso, fluxo sanguíneo seja remanejado das vísceras para o
foi apresentada uma visão geral de como o sistema aparelho locomotor. Vale pontuar que a taquicardia
nervoso é capaz de controlar o funcionamento do inicialmente observada na prática do exercício ten-
corpo ao mantê-lo em constante homeostasia. de a diminuir à medida que o indivíduo ganha con-
Em um segundo momento, esta unidade enfa- dicionamento físico. Assim, em alguém sedentário,
tizou que o SN somático dedica-se à interação do ocorre grande aumento da frequência cardíaca. Já
indivíduo com o meio que o cerca, possibilitando em alguém com melhor preparo físico, a taquicardia
movimentos voluntários e sendo, por isto, denomi- é compensada pelo aumento da força de contração
nado sistema nervoso de vida de relação. Por outro do coração. Este passa a se contrair menos vezes,
lado, o SN visceral se encarrega de manter o ade- porém, com maior volume de ejeção (ou seja, de
quado funcionamento dos nossos órgãos, sendo, por sangue ejetado pelo coração quando este se contrai).
isto, chamado de sistema nervoso de vida vegetativa. Isto justifica o fato de um indivíduo com bom nível
Ademais, é importante lembrar que a parte eferente de treinamento aeróbio, por exemplo, não ficar tão
ou motora do SN visceral é o chamado sistema ner- taquicárdico quanto um indivíduo sedentário.
voso autônomo (SNA). Ademais, os pulmões passam a ter que oxigenar
Agora considerando o seu entendimento sobre uma quantidade maior de sangue a fim de deixá-
todos os tópicos descritos anteriormente e a sua -lo arterial (já que recebem grande quantidade de
capacidade de perceber a integração entre eles, é sangue venoso advindo dos músculos). Para tanto,

193
ANATOMIA APLICADA À EDUCAÇÃO FÍSICA

ocorre broncodilatação (os brônquios relaxam). SAIBA MAIS


Complementarmente, como o exercício físico é
considerado um fator que modifica a homeostasia A prática de modalidades específicas de es-
corpórea e causa certo estresse físico (tanto maior porte requer um treinamento também es-
quanto maiores forem a sua intensidade e duração), pecífico. Um exemplo pode ser dado ao se
trabalhar o condicionamento de atletas de
outras alterações ocorrem. As pupilas dilatam, e a surfe: o planejamento do treino físico deve ser
salivação, o peristaltismo e a contração da bexiga baseado nas exigências cardiorrespiratórias e
urinária são inibidos. Todavia, a fim de que haja um metabólicas impostas ao organismo durante
as diferentes fases que compõem uma bateria
fornecimento rápido de energia para possibilitar a competitiva de surfe.
contração muscular, o fornecimento de glicose é Assim, é essencial ao profissional de Educa-
estimulado, assim como a secreção de adrenalina e ção Física (por estar diretamente envolvido
neste planejamento) compreender todas as
noradrenalina. adaptações cardiorrespiratórias e metabóli-
Ao término da prática do exercício, no entanto, cas ocorridas durante os diferentes eventos
faz-se necessário que haja uma atuação mais acen- que compõem uma bateria competitiva desta
modalidade.
tuada do SNA parassimpático para que o organismo A mediação das adaptações cardiorrespirató-
retorne às suas condições basais de funcionamento. rias e metabólicas depende diretamente da
Assim, parte daquela sensação agradável que senti- contribuição do sistema nervoso autônomo.
Portanto, o seu conhecimento em termos
mos após um treino deve-se ao relaxamento induzi- morfológicos e funcionais é essencial.
do pelo parassimpático. Para saber mais, acesse: <http://
books.scielo.org/id/tb94w/pdf/cam-
pos-9788523212209-08.pdf>.

Fonte: a autora.

194
considerações finais

O estudo desta unidade permitiu a visão geral sobre as divisões didáticas do SN e os


seus principais aspectos morfológicos e funcionais. No desenvolvimento deste estu-
do, foi enfatizado que as três principais partes do sistema nervoso (sistema nervoso
central, sistema nervoso periférico e sistema nervoso autônomo) agem em conjunto
para possibilitar o controle e a integração das atividades sensitivas, motoras, visce-
rais, cognitivas e comportamentais do indivíduo.
Certamente, o estudo específico das estruturas que o formam, das funções que
cada uma de suas estruturas desempenham e das formas de organização do sistema
nervoso como um todo são pré-requisitos essenciais a quem trabalha com o movi-
mento corpóreo, uma vez que este importante sistema está diretamente envolvido
no planejamento, na execução, na correção e no aprimoramento deste movimento.
É exatamente por isto que um atleta, mesmo sabendo como se faz um arremesso ou
um chute e já tendo praticado isso inúmeras vezes, continua fazendo indefinidamen-
te até conseguir a perfeição do ato motor.
Além disso, é essencial entender como ocorre a conectividade do sistema nervo-
so com os outros sistemas do corpo humano para que se tenha uma visão geral dos
mecanismos que possibilitam a manutenção da vida em condições adequadas. pois
embora o sistema nervoso de fato seja responsável pelos principais ajustes necessá-
rios à homeostasia, ele não o faz de maneira isolada, mas sim na base da dependência
e da coparticipação em relação aos outros sistemas.
Por fim, este conhecimento aplicado ao sistema nervoso, além de ser apaixo-
nante, é extremamente relevante à prevenção, ao diagnóstico e ao tratamento das
mais diversas desordens desse sistema. Por isto, o seu estudo histológico, anatômico
e fisiológico é imprescindível a todo profissional da saúde. Portanto, sugiro que você
se aplique em conhecê-lo e, quem sabe, goste tanto do sistema nervoso a ponto de
seguir nesta área.

195
atividades de estudo

1. As diferentes estruturas do sistema nervoso, em- ( ) Nervo misto cuja função é complementada
bora ajam em conjunto, desempenham funções pelo VII par de nervo craniano, uma vez que au-
específicas. Considere os seus conhecimentos xilia na inervação sensitiva da face. Além disso, é
sobre o tema e faça a associação correta entre responsável pela inervação motora dos músculos
estrutura nervosa e função. mastigatórios.
a) Medula espinal ( ) Nervo motor responsável pela inervação dos
músculos esternocleidomastoideo e trapézio.
b) Hipotálamo
( ) Inerva importantes órgãos do corpo, como o
c) Corpo caloso
coração e os intestinos.
d) Bulbo
( ) Nervo misto que dá parte da inervação sen-
e) Cerebelo sitiva à face e a inervação motora dos músculos
mímicos (da expressão facial).
( ) Une partes semelhantes do telencéfalo.
A sequência correta para a resposta da questão é:
( ) Contém o segundo neurônio da via motora.
a) III, I, IV, II.
( ) É responsável pelo equilíbrio, pela coordenação e
b) IV, III, II, I.
aprendizagem motoras e pelo tônus muscular.
c) II, III, I, IV.
( ) Relaciona-se ao controle endócrino.
d) I, II, III, IV.
( ) Nele se localizam importantes centros nervosos,
como o da respiração e o vasomotor. e) III, IV, II, I.
A sequência correta para a resposta da questão 3. A imagem a seguir mostra um fragmento do te-
é: cido nervoso com algumas de suas células. Con-
a) c, a, e, b, d. siderando que neurônios e células da glia coe-
xistem tanto no sistema nervoso central (SNC)
b) a, c, e, b, d.
quanto no sistema nervoso periférico (SNP), e
c) b, d, e, c, a. que desempenham funções específicas, preen-
d) d, b, e, a, c. cha o quadro com as funções específicas das cé-
lulas da glia:
e) e, c, a, b, d.

2. Os nervos cranianos podem ser motores, sensiti-


vos ou mistos e exercem funções específicas. Es-
tão elencados a seguir os nomes de alguns pares
de nervos cranianos. Associe tais nomes às suas
definições.
I - I. Nervo facial
II - II. Nervo vago
III - III. Nervo trigêmeo
IV - IV. Nervo acessório

196
atividades de estudo

Célula Função Estrutura Nome Função


Astrócito 1
Micróglia 2
Células ependimárias 3
Células satélites 4
Células de Schwann 5

4. Anos de pesquisa em neurologia têm mostrado 5. Enquanto o sistema nervoso somático cuida da
que cada área do encéfalo desempenha funções relação do indivíduo com o meio, o sistema ner-
específicas, o que explica o fato de que sintomas voso visceral é responsável pelo funcionamento
diferentes podem aparecer em indivíduos que dos órgãos. Considerando que o sistema nervo-
sofreram traumatismo crânio encefálico (TCE) so autônomo (SNA) representa a parte eferente
em diferentes regiões. Alguns importantes pes- ou motora do sistema nervoso visceral, assinale
quisadores, como Paul Pierre Broca, Karl Werni- a alternativa correta:
cke e Brodmann, identificaram alguns dos vários a) O SNA simpático causa a diminuição do di-
centros nervosos atualmente conhecidos. Preen- âmetro da pupila.
cha a tabela a seguir com os nomes das áreas en-
b) O SNA parassimpático causa taquicardia.
cefálicas numeradas de 1 a 5 e explique as suas
principais funções: c) O SNA simpático e parassimpático agem
em concordância para possibilitar a home-
ostasia corpórea.
d) Durante o período que antecede e prepara
o organismo para o sono, o SNA simpático
age de maneira expressiva.
e) O exercício físico ativa principalmente o
SNA parassimpático.

197
LEITURA
COMPLEMENTAR

Leia o artigo indicado a seguir que trata de como o exer- No repouso prevalece a atividade vagal (parassimpáti-
cício físico pode modificar o funcionamento do SNA. Nes- ca), que é progressivamente inibida com o aumento do
te estudo, os autores apresentam avaliações dos níveis exercício onde passa a prevalecer a atividade simpática.
de atividade do sistema nervoso autônomo simpático e Imediatamente após o exercício o que se encontra ainda
parassimpático em atletas de alta performance pratican- é uma prevalência de atividade simpática e uma inibição
tes de atletismo. A avaliação dos atletas do estudo foi parassimpática.
feita considerando a análise de variabilidade da frequ- O treinamento esportivo utilizado neste estudo foi o
ência cardíaca. A leitura vale a pena. Apaixone-se pela treino metabólico, que se caracteriza por um estresse
neurologia! ao metabolismo energético de forma geral e/ou sistema
cardiorespiratório. Exemplo, trabalhos que estimulem a
COMPORTAMENTO DO SISTEMA NERVOSO geração de energia via sistemas aeróbicos ou anaeróbi-

AUTÔNOMO EM ATLETAS DE ALTA cos láticos ou aláticos.


Este estudo teve como objetivo analisar o comporta-
PERFORMANCE
mento do sistema nervoso simpático e parassimpático
O exercício físico regular está associado com uma taxa
em atletas de alta performance praticantes de atletismo
de mortalidade global diminuída. Os efeitos benéficos do
através da variabilidade da frequência cardíaca por sis-
exercício físico regular contribuem para a saúde de uma
tema informatizado específico, verificando-se também
forma global e para reduzir a mortalidade cardiovascu-
a possibilidade de utilização deste tipo de análise como
lar incluindo, por exemplo, influências no metabolismo
um teste de screening para a presença de distúrbios au-
lipídico, melhora da resistência à insulina, e tem também
tonômicos que possam interferir na fisiologia e conse-
efeitos na função do sistema nervoso autônomo.
quentemente na performance dos atletas.
A variabilidade da frequência cardíaca significa a oscila-
O estudo se justifica pelos seguintes motivos: importân-
ção no intervalo entre sucessivos batimentos cardíacos
cia da quantificação dos níveis de recuperação do atleta
como também a oscilação entre sucessivos batimentos
após treinamento, necessidade de individualização de
cardíacos instantâneos e intervalos R–R.
prescrição de treinamento e recuperação após esforço
A modulação cardíaca autonômica é o principal regula-
e necessidade de praticidade para aferição de condições
dor da Variabilidade da FC (VFC), sendo assim, a variabili-
de recuperação.
dade da FC é um indicador indireto, qualitativo e quanti-
tativo da função do sistema nervoso autônomo. Fonte: Valio et al. (2005).
A FC é primariamente controlada pela atividade direta
do sistema nervoso autônomo na ritmicidade própria
do nódulo sino-atrial, pelos seus dois ramos (simpático
e parassimpático).

198
material complementar

Indicação para Assistir

Diário de uma paixão


Ano: 2004
Sinopse: na década de 40, na Carolina do Sul, o operário Noah Calhoun e a rica
Allie estão desesperadamente apaixonados, mas os pais da jovem não aprovam
o namoro. Quando Noah vai para a Segunda Guerra Mundial, parece ser o fim
do romance. Enquanto isso, Allie se envolve com outro homem. Quando Noah
retorna, anos mais tarde, perto da data do casamento de Allie, logo se torna claro
que a paixão ainda não acabou. A história é narrada a partir da atualidade por um
homem idoso a uma senhora portadora de um tipo de demência senil e residente
em um lar de idosos.
Comentário: é um lindo e emocionante filme que você não pode deixar de assis-
tir. Nele pode-se entender como uma degeneração do sistema nervoso pode de
fato destruir a memória de uma vida toda. Ao mesmo tempo, é possível ver como
o amor verdadeiro não abandona o incapaz. É uma valorosa lição de vida!

199
referências

AFIFI, A. K.; BERGMAN, R. A. Neuroanatomia funcional: texto e atlas. São Paulo:


Roca, 2007.
BORELLA, M. P.; SACCHELLI, T. Os efeitos da prática de atividades motoras sobre
a neuroplasticidade. Rev. Neurocienc., v. 17, n. 2, p. 161-169, 2009. Disponível em:
<http://www.revistaneurociencias.com.br/edicoes/2009/RN%2017%2002/14.pdf>.
Acesso em: 22 nov. 2018.
GARCIA, P. M., MOSQUERA, C. F. F. Causas neurológicas do autismo. O Mosaico –
Revista de Pesquisa em Artes da Faculdade de Artes do Paraná. n. 5, jan./jun. 2011.
MACHADO, A. B. M.; HAERTEL, L. M. Neuroanatomia funcional. 3. ed. São Pau-
lo: Atheneu, 2014.
MIRANDA NETO, M. H.; CHOPARD, R. P. Anatomia humana: aprendizagem di-
nâmica. Maringá: Clichetec, 2014.
MOORE, K. L.; DALLEY, A. F.; AGUR, A. M. R.; ARAÚJO, C. L. C. Anatomia orien-
tada para a clínica. 7. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.
PALMEIRA, M. V.; WICHI, R. B.; CAMPOS, H. J. B. C.; MIRANDA, J. M. Participa-
ção do sistema nervoso autônomo nas alterações cardiorrespiratórias e metabólicas
durante a prática competitiva do surfe. Práticas investigativas em atividade física e
saúde, Salvador, p. 153-164, 2013.
VALIO, M. A.; PASTRE, C. M.; NETTO JR, J.; SERILO, T. B.; OLIVEIRA, L. V. F.
Comportamento do sistema nervoso autônomo em atletas de alta performance. Re-
vista Univap, São José dos Campos, v. 12, n. 23, 2005.

200
gabarito

1. A.
2. E.
3. Astrócitos: controlam a nutrição neuronal e o influxo de eletrólitos aos
neurônios.
Micróglia: são células fagocíticas envolvidas na defesa do sistema nervo-
so central e na eliminação de invasores (vírus, bactérias etc.).
Células ependimárias: estão relacionadas à produção do líquido cere-
brospinal.
Células de Schwann: sintetizam a bainha de mielina no sistema nervoso
periférico.

4.
1 - Giro pré-central: Nesta área, localiza-se a área primária do movimento.
Uma lesão pode causar plegia ou paralisia.
2 - Giro pós-central: nesta área, localiza-se a área somestésica responsável
pela sensibilidade do corpo. Uma lesão pode causar alterações sensitivas.
3 - Giro frontal inferior (área de Broca): nesta área, localiza-se a área mo-
tora da fala (do lado esquerdo do cérebro). Uma lesão pode causar afasia
motora.
4 - Giro temporal superior (área de Wernicke): nesta região, localiza-se a
área da compreensão da linguagem. A sua lesão causa afasia sensitiva,
cujo indivíduo ouve, mas não compreende o significado da mensagem.
5 - Lobo occipital: neste lobo, localiza-se a área primária da visão. A sua
lesão pode causar danos à acuidade visual.
5. C.

201
conclusão geral

Neste momento, eu espero que você esteja feliz e sa- sabe como o movimento humano é planejado, exe-
tisfeito(a) consigo mesmo(a), afinal, você acabou de cutado, corrigido e otimizado. Parabéns! Sinta-se
conhecer os principais aspectos anatômicos e fun- orgulhoso(a)!
cionais de todos os sistemas que constituem o corpo Desejo que você bem utilize todas as descobertas
humano. Também acredito que, depois de adquirir feitas sobre o corpo humano em sua vida profissio-
todo este conhecimento tão específico, você já esteja nal e, muito mais do que isso, que você as transmita
concordando comigo quando eu afirmo que a cons- àqueles que não puderam desfrutar dos mesmos pri-
tituição e o funcionamento do nosso corpo é perfei- vilégios em relação às oportunidades de aprendiza-
to. De fato, um milagre! do. Isto é, estenda o seu conhecimento!
Hoje você é capaz de entender como os siste- Ademais, espero sinceramente que você seja pro-
mas circulatório e respiratório agem em conjun- fissionalmente muito bem-sucedido(a). A meu ver,
to para possibilitar que as nossas células recebam o segredo para isto é nunca perder de vista que o
sangue oxigenado e rico em nutrientes, ao mesmo ser humano, embora muito complexo, deve ser vis-
tempo em que delas retiram os seus produtos re- to com base em sua constituição e funcionabilidade.
siduais. Com o seu conhecimento adquirido, você Para isto, a sua dedicação e o seu estudo em relação à
pode compreender como ocorre o processo de di- sua “matéria-prima” nunca deve parar. Nunca sabe-
gestão e como o sistema endócrino atua em con- remos tudo. Nunca poderemos parar de estudar e de
cordância com o sistema nervoso para coordenar nos dedicarmos integralmente ao que fazemos. As-
todas as funções do corpo. De igual modo, você é sim, certamente exerceremos a nossa profissão com
capaz de entender a interação e as particularidades excelência e de maneira grandiosa.
entre os sistemas urinário e genital. E o melhor de
tudo: você pode afirmar, sem medo de errar, que Grande abraço!

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