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na Educação Infantil
Indaial – 2022
2a Edição
Elaboração:
Prof. Luciana Fofonka
a
F654l
Fofonka, Luciana
ISBN 978-85-515-0486-4
CDD 370
Impresso por:
APRESENTAÇÃO
“Se uma criança ouve boa música desde o dia de seu nascimento
e também aprende a tocar, desenvolve sensibilidade, disciplina e
perseverança. Conquista, assim, um bom coração” (SUZUKI, 1994, p.93).
Durante a leitura você irá perceber que a música anda lado a lado com o lúdico,
sendo considerada uma arte e uma forma de linguagem, com inúmeras representações,
permitindo que a criança expresse suas emoções e sentimentos, contribuindo assim
para a sua formação social, cognitiva, afetiva, cultural, facilitando a integração social e
a inclusão.
Na Unidade 1 desta disciplina que tem como título “A Criança, suas Infâncias
e a Educação Infantil”, estudaremos sobre as infâncias e a origem desse conceito.
Veremos que a criança não tinha voz, nem era respeitada. Também perceberemos que as
infâncias, como se vê hoje, passaram por uma construção histórica. O desenvolvimento
infantil passou despercebido em grande parte da história. É fundamental compreender
o desenvolvimento humano, já que existem formas de perceber, compreender e se
comportar diante do mundo, próprias de cada fase de vida. Quem é a nossa criança hoje?
Quais suas necessidades? Qual o papel da Educação Infantil? Essas foram questões que
procuramos pontuar ao longo desta unidade para ressaltar que a criança precisa ser
vista como um ser atuante, de direitos e deveres, com suas necessidades específicas,
curiosidades e desejos, ela é protagonista de sua história.
Na Unidade 2, que tem como título “Lúdico e Musicalização: Um Convite
para o Protagonismo Infantil” vamos sintonizar no mundo da ludicidade e da música,
compreendendo o porquê de ambas serem tão importantes para a Educação Infantil.
Nesta unidade estudaremos o contexto histórico da ludicidade refletindo sobre a história
do lúdico no Brasil, bem como conheceremos as contribuições de três dos principais
pesquisadores sobre o papel do brincar na sala de aula e no desenvolvimento infantil,
além de estar promovendo um diálogo entre suas teorias.
QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você – e
dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, nós disponibilizamos uma diversidade de QR Codes
completamente gratuitos e que nunca expiram. O QR Code é um código que permite que você
acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar
essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só
aproveitar essa facilidade para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!
LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.
REFERÊNCIAS........................................................................................................78
REFERÊNCIAS......................................................................................................184
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!
Acesse o
QR Code abaixo:
2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
NEM TODA CRIANÇA TEM INFÂNCIAS
1 INTRODUÇÃO
Criança Feliz, que vive a Cantar
Alegre a Embalar seu Sonho infantil.
Oh, Meu Bom Jesus, que a Todos Conduz,
olhai as Crianças do Nosso Brasil! (FRANCISCO ALVES)
Caro acadêmico! Você se lembra da sua infância? Que memórias você tem
desse período? Lembra de algum fato em particular? O que a infância representa em
sua vida? Sabe como foi a infância de seus pais? De seus avós? E como foi/está sendo
a infância dos seus filhos, caso os tenha?
3
NOTA
Você já tinha ouvido falar em puerícia? Segundo o dicionário on-line
Michaelis (2015), puerícia significa período da vida, compreendido entre a
infância e a adolescência, conjunto dos indivíduos que estão na fase pueril.
Boa leitura!
2 CONCEPÇÕES DA INFÂNCIA
A infância é carregada de significados e sofreu ao longo dos anos inúmeras
modificações. Para entendermos o conceito atual de infância precisamos fazer
uma rápida viagem no tempo, começando pela Idade Média, quando foi construída
a primeira definição de infância. Conforme Mello et al. (2013), a infância passou por
quatro momentos importantes que foram chamados de Concepções da Infância.
Vamos ver?!
4
• 1ª Concepção (séculos V ao XII) – Entende a infância apenas como uma fase ou
etapa da vida, ou seja, a transição que toda criança faz para a vida adulta. Acreditava-
se que a criança nesse período não possuía a habilidade de se comunicar através da
fala, de expressar seus sentimentos, era um ser anônimo na sociedade. “Essa visão
não leva em conta os aspectos sociais, econômicos que faz com que muitas crianças
sejam arrancadas da sua infância antes de se “tornarem” adultas” (MELLO et al.,
2013). É importante ressaltar que essa situação de crianças trabalhando enquanto
deveriam brincar ou estar na escola, ainda persiste em nossa sociedade.
INTERESSANTE
Etimologicamente, a palavra infância provém do latim e significa infante – o que (in) não
(fante) fala, ou seja, incapacidade de falar, a chamada primeira infância. Essa fase se
estendia até os sete anos de idade, tempo que representava a passagem para a idade
considerada da razão. Juntava-se ao mundo adulto a partir do momento que conseguia
destreza para andar, falar e desempenhar sozinha algumas atividades.
Quando as crianças eram representadas através de pinturas, elas eram
frequentemente retratadas em uma perspectiva de um adulto em
miniatura. Inclusive quando a criança fazia 7 anos, recebia uma carteira de
identidade jurídica, informando que agora ela era capaz de tomar decisões,
e principalmente de trabalhar (KUHLMANN JÚNIOR, 2010). O pai nesse
período tinha sobre o filho o direito de vida ou de morte, direito de castigá-
lo, de condená-lo à prisão, de excluí-lo da família (BADINTER, 1985).
5
FIGURA 2 – INFÂNCIA DA IDADE MÉDIA
2a 2b
6
• Quarta Concepção (a partir do século XIX) – Esta é a visão atual da infância, quando
a criança é entendida como um ser histórico-social-cultural de direitos e deveres e não
apenas um ser biológico, que passa pelas faixas etárias até a fase adulta.
Para Arroyo (2012) apud Mello et al., (2013), a infância está relacionada ao papel
da mulher na sociedade e quando ela ingressa no mundo do trabalho, a infância se
constitui como categoria social, e, consequentemente, a criança se torna um sujeito
público e social de direitos. O conceito de infância é uma construção que vai surgindo a
partir do século XIX e o início do século XX em que a representação da infância começa
a ter maior visibilidade (NEVES, 2005).
Tudo que foi visto até aqui nos permite afirmar que o significado de criança é
dado pela representação que o adulto tem sobre ela, em seus aspectos sociais, culturais,
psicológicos e biológicos. No Brasil, século XIX tivemos, a criação de leis e políticas
que asseguram direitos de proteção às crianças, preocupação com a saúde através
de campanhas de vacinação e projetos de educação da criança em todos os níveis,
levando a infância a ocupar um maior lugar de destaque nos meios de comunicação.
7
FIGURA 3 – LINHA DO TEMPO SOBRE A CONCEPÇÃO DA INFÂNCIA
FONTE: A autora
8
DICA
Basta ler o QR Code ao lado ou entrar no link através do
link: https://www.youtube.com/watch?v=7muGDWAkY90.
Arroyo (1994) afirma que a infância não é algo estático, é algo que está em
permanente mudança a depender do contexto social, político, econômico em que está
inserido. Por tais motivos não é aconselhável referir-se à “infância” como única, devemos,
sim, compreender as “infâncias” diversas em seu tempo e sua realidade.
IMPORTANTE
É importante ressaltar que existem variadas e diversas formas de
viver ou não viver a infância. “Sendo importante ter sempre presente
que a infância não é singular, nem é única. A infância é plural: infâncias”
(BARBOSA, 2000, p. 101).
9
de infâncias” (PROUT; JAMES, 1991, p. 8 apud PINTO, 1997, p. 68, grifo nosso). Nesse
contexto, podemos ressaltar que as representações de infância variam conforme o
tempo, classe social, a colocação da criança no espaço familiar, a questão de
gênero, etnia, bem como na sociedade em geral.
IMPORTANTE
Você conhece o RCNEI? É um documento muito importante para a
Educação Infantil. Constitui-se em um conjunto de referências e orientações
pedagógicas para auxiliar a implantação ou implementação de práticas
educativas de qualidade que possam promover e ampliar as condições
necessárias para o exercício da cidadania das crianças.
Ótima leitura!
10
E assim também acontece com as crianças em condições econômicas diferentes
e em países diferentes. Por exemplo, a infância de uma criança de classe baixa (pobre)
no Brasil é bem diferente da infância de uma criança americana de classe alta e ambas
são respectivamente diferentes da infância de seus pais e avós.
11
DICA
Quer saber mais sobre a construção do conceito de infância? Então assista ao vídeo/
documentário “A Invenção da Infância”! Basta ler o QR Code a seguir ou entrar no link:
https://www.youtube.com/watch?v=8Q9FgGYBtzg
Para fazer o download do livro basta ler o QR Code ou entrar no link: https://site.cfp.org.
br/wp-content/uploads/2021/05/Catalogo_Olhares_Das_Infancias.pdf.
12
4 QUAIS SÃO AS FASES DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL?
No Artigo 2º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fica
estabelecida a idade cronológica da criança: “Considera-se criança, para os efeitos
desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente entre
doze e dezoito anos de idade” (BRASIL, 2008, p. 9).
FONTE: <https://jornal.usp.br/universidade/investir-na-primeira-infancia-e-como-uma-vacina-
para-o-desenvolvimento-humano-diz-pesquisadora-da-usp/>. Acesso em: 29 nov. 2021.
13
Já Cardoso (2017) divide a infância em três fases de acordo com a faixa etária:
primeira infância, segunda infância e terceira infância (FIGURA 5).
Fonte: A autora
14
NOTA
Você já ouviu falar no Plano Nacional pela Primeira Infância (PNPI)?
É um documento político e técnico que orienta decisões, investimentos e
ações de proteção e de promoção dos direitos das crianças na primeira
infância. O foco nos primeiros seis anos é coerente com o relevante
significado desse período no conjunto da vida humana e é a forma de
assegurar os direitos da criança com a necessária especificidade e com a
prioridade que lhe atribui a Constituição Federal (Art. 227). Descurar, por
omissão, ignorância ou displicência, o tempo da infância é um crime contra
as crianças e contra a sociedade (RNPI, 2020, p.11).
NOTA
Neuroplasticidade ou plasticidade neural “refere-se à capacidade do
cérebro de mudar, se adaptar e desenvolver novas conexões sinápticas
entre os neurônios” (ANDRADE, 2020, s.p.).
15
É importante ressaltar que apesar de ser possível a criação de novas conexões
neuronais em indivíduos adultos, o cérebro é mais plástico nos primeiros anos
(ANDRADE, 2020).
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RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A concepção de infância dos dias de hoje é bem diferente de alguns séculos atrás.
• O conceito de infância foi historicamente construído, por isso variou muito no decorrer
dos anos.
• Segundo o Plano Nacional pela Primeira Infância (RNPI, 2020) o período que
compreende a primeira infância é de o nascimento até a criança completar
seis anos de vida.
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AUTOATIVIDADE
1 A concepção de infância dos dias de hoje é bem diferente de alguns séculos atrás,
assim, sofreu algumas variações no decorrer dos anos. A infância passou por quatro
momentos importantes que foram chamados de Concepções da Infância. Sobre as
características da Segunda Concepção, nos séculos XIII ao XVI, assinale a alternativa
CORRETA:
I- A infância consiste apenas em uma fase ou etapa da vida, algo que toda criança
realiza para alcançar a vida adulta.
II- Nessa fase, a criança possui a habilidade de falar, expressar seus sentimentos, não
era um ser anônimo na sociedade.
III- As crianças e adultos conviviam sempre juntos, compartilhavam da mesma
linguagem e espaços, as vestimentas eram idênticas.
18
3 As crianças vivenciam experiências diferenciadas ao longo dos anos e a infância
apresenta diferenças de entendimentos, visto que, cada geração passou por
influências do meio social que determinaram seu modo de ser e viver. De acordo
com as características do atual conceito de infância, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
4 O RCNEI (BRASIL, 1998) consiste no documento que visa contribuir com as políticas
e programas de educação infantil, subsidiando o trabalho educativo de professores e
demais profissionais da educação infantil e apoiando os sistemas de ensino estaduais
e municipais. Disserte sobre o proposto no Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil referente à Educação Infantil.
19
20
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
A IMPORTÂNCIA DOS DOMÍNIOS, MARCOS E
ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento infantil passou despercebido em grande parte da história
da humanidade. Entretanto, como já destacado no capítulo anterior, a criança não é
uma pequena versão do adulto, ela apresenta características próprias de sua idade.
Ter essa compreensão é fundamental para compreender a importância do estudo
do desenvolvimento humano, pois, existem formas de perceber, compreender e se
comportar diante do mundo, próprias de cada fase de vida.
Saber o que está acontecendo com a criança permite entender melhor suas
necessidades e dificuldades. Conhecer os marcos e estágios do desenvolvimento
infantil é necessário tanto para os médicos, como para os professores e pais, ou seja,
para todos que trabalham ou convivem com crianças. Com tais informações é possível
perceber se a criança está com algum atraso, problema no seu desenvolvimento e se
for o caso, já buscar ajuda profissional adequada, bem como pensar em estratégias que
contribuam para sua evolução. Conhecer as etapas do desenvolvimento infantil e os
domínios permite uma preparação para os desafios que vão surgindo em cada fase.
21
2 QUAIS OS DOMÍNIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL?
Papalia, Olds e Feldman (2001) classificam os aspectos do desenvolvimento
infantil em três domínios: domínios do desenvolvimento físico-motor, cognitivo
e psicossocial.
22
FIGURA 6 – DOMÍNIOS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL
FONTE: A autora
23
Todos os domínios/aspectos do desenvolvimento infantil têm os primeiros
anos de vida como um período de importância fundamental. Segundo Thompson
e Nelson (2001), mesmo após o nascimento, na infância o cérebro segue em
intensa organização neurofisiológica propiciando um período de grande riqueza e
potencialidade para o desenvolvimento.
24
NOTA
O desenvolvimento global é um conjunto de habilidades responsável
pela autonomia de um indivíduo. E quando algo não está bem ocorre um
atraso chamado de Atraso no Desenvolvimento Global ou Transtorno
Global de Desenvolvimento (TGD) – que é um atraso significativo em
duas ou mais áreas voltadas para o aspecto progressivo da criança (seja ela
a linguagem, a cognição, as competências sociais e comportamentais; além
da motricidade fina e grossa) (BRITES, 2018).
25
QUADRO 1 – MARCOS DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA DO NASCIMENTO ATÉ OS SEUS
CINCO ANOS DE IDADE
27
O desenvolvimento da criança está centrado nos seus processos de mudança
e de estabilidade. Para uma melhor compreensão desse desenvolvimento, é necessário
observar a forma como a criança muda desde o nascimento até à sua adolescência,
assim como prestar atenção às características que nela permanecem relativamente
estáveis (CARDOSO, 2017).
Até agora, durante esta unidade do nosso livro didático, falamos bastante de
crescimento e desenvolvimento da criança. Você sabe qual é a diferença entre eles?
IMPORTANTE
Crescimento é o processo responsável pelas mudanças em tamanho
e sujeito às modificações que dependem da maturação. Já o
desenvolvimento é caracterizado como as mudanças em complexidade
ou o plano geral das mudanças do organismo por meio das influências
do processo de maturação ambiental e da aprendizagem (PINHEIRO,
1997). O desenvolvimento consiste no surgimento e aperfeiçoamento das
habilidades motoras, cognitivas e psicossociais (FUJIMORI; OHARA, 2009).
28
FIGURA 7 – CADERNETA DE SAÚDE DA CRIANÇA (CSC) PARA MENINO (DA ESQUERDA) E PARA MENINA
29
30
FIGURA 8 – INSTRUMENTO DE VIGILÂNCIA DO DESENVOLVIMENTO DA CADERNETA DE SAÚDE DA CRIANÇA
DICA
Quer conhecer a Caderneta de Saúde?
Esta aqui é a versão menino.
Só ler o QR Code ao lado ou entrar no link:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/caderneta_
saude_crianca_menino_11ed.pdf.
31
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
32
AUTOATIVIDADE
1 A construção da concepção da infância influenciou os estudos sobre o desenvolvimento
infantil. Assim, sua compreensão é fundamental para o entendimento sobre a
importância da percepção e compreensão de cada fase da vida. Sobre os domínios
do desenvolvimento infantil, assinale a alternativa CORRETA:
33
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.
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UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
O TRIPÉ DAS TEORIAS DO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento infantil é cercado de muitas dúvidas e teorias. Qual pai/
mãe não se perguntou por que de seu filho/filha fazer “isso ou aquilo”, ou então o por
que ele ainda não está fazendo tal “coisa”. Por que meu filho/filha, estudante tem este
comportamento? Será que tal comportamento está relacionado à idade, tem alguma
influência familiar, das tecnologias ou seria da sua personalidade? Será que ele não
deveria falar? Por que meu filho só quer brincar sozinho? São muitas dúvidas, angústias,
inquietações que passam na cabeça dos pais e, também dos professores.
2 PIAJET
Vamos começar conhecendo o ilustre Piaget (Figura 9) e a sua perspectiva
cognitiva do desenvolvimento infantil.
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FIGURA 9 – JEAN PIAGET
• Sensório-motor: de 0 a 2 anos
Nessa etapa a criança começa a controlar seus reflexos. Há que se
ressaltar que o pequeno reage apenas de maneira motorizada, não
podendo ainda raciocinar plenamente, em função de existir conceitos
práticos em sua mente. Seu aprendizado de mundo se dá de maneira
bem gradual. A criança começa a generalizar os acontecimentos
à sua volta. Como resultado, as ideias passam a se cruzar em sua
cabeça. O final dessa fase é marcado pelo surgimento da fala.
• Pré-operatório: de 2 a 7 anos
Nesse estágio a criança já demonstra a habilidade de trabalhar
algumas competências, como a capacidade de semiótica.
Essa fase é caracterizada também pelo egocentrismo em seus
pensamentos. Ela não consegue distinguir o que é objetivo do
subjetivo nem o físico do psíquico. Sendo assim, o ato de pensar
é totalmente autocentrado. A criança é capaz de entender os
estados, mas não o processo de transformação da matéria.
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• Operatório concreto: de 7 a 12 anos
Uma das principais características dessa etapa é a construção
de uma lógica de classes e relacionamentos, mas que não esteja
ligada a dados perceptivos. Isso significa que a criança está
compreendendo as mudanças ocorridas no ambiente, assim como
a ordem dos acontecimentos; o raciocínio está mais amadurecido.
• Operatório formal: a partir dos 12 anos
Aqui é a última etapa, ela é marcada pelo amadurecimento total do
desenvolvimento cognitivo da criança. Um dos pontos principais é
o pensamento científico adquirido por ela. É uma fase de transição
onde a pessoa passa a analisar possibilidades hipotéticas. Além
disso, ela tem a aquisição de outras habilidades, mecanismos e
conhecimentos que fortalecerão ainda mais a sua autonomia
cognitiva. Importante ressaltar também que a capacidade mental
da pessoa fica mais rápida e mais crítica.
Estágios de
desenvolvimento
cognitivo
Piaget
FONTE: <https://www.drafernandamonteiro.com.br/fase-de-desenvolvimento-cognitivo-segundo-
piaget/>. Acesso em: 30 nov. 2021.
37
Para Piaget cada estágio está relacionado a certas necessidades e
potencialidades, e, portanto, demandaria estímulos específicos. “[...] Para Piaget era
preciso que um aspecto cognitivo estivesse completamente desenvolvido para que
a criança passasse à próxima fase. Sua teoria, portanto, pressupõe uma espécie de
escalada evolutiva fixa e irreversível” (FERRAZ, 2020, s.p.). Importante também ressaltar
que a visão da infância de Piaget é questionada por novas abordagens:
E por fim, é necessário destacar as contribuições de Piaget, uma vez que seus
estudos derrubaram paradigmas relacionados à aprendizagem. Ele teve uma influência
muito grande na educação brasileira, pensando com um novo olhar, buscando uma
nova prática para a educação, na busca de formar pessoas criativas, reflexivas e críticas
que tenham autonomia no processo de aprendizagem
FIGURA 11 - VYGOTSKY
38
• Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), russo, estudou história, literatura, filosofia
e psicologia e apesar da morte prematura contribuiu muito com a educação.
Vygotsky ressalta que a relação das pessoas com o mundo não acontece
de forma direta, mas mediada por símbolos. A linguagem é muito importante, pois,
possibilita a relação entre as pessoas, é através dela que o sujeito consegue abstrair e
abranger o pensamento (OLIVEIRA, 1993).
NOTA
Você sabe o que são funções de ordem superior? São as funções psíquicas
mediadas pelo uso dos signos existentes na cultura e que são imprescindíveis
para o desenvolvimento dos indivíduos (MARTINS; RABATINI, 2011).
39
Na concepção de Vygotsky, a aprendizagem é um processo social, ou seja, é
através da interação com as outras pessoas, das relações e trocas que a aprendizagem
acontece, por meio da compreensão do indivíduo sobre o mundo.
IMPORTANTE
Lev Vygotsky criou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal
– ZDP (ZDP porque em inglês é zone proximal development). Esse conceito
explica a importância do convívio das crianças em sala de aula, onde se
encontram aquelas que já estão em um estágio mais autônomo com as
que têm mais dificuldades, que precisam ainda de apoio para realizar
determinadas tarefas.
A ZDP “é a lacuna entre o que uma pessoa pode fazer com ajuda e o que ela pode
fazer sozinha” (FREITAS, 2021, s.p.). O auxílio, o suporte das outras pessoas, do professor
em sala de aula, e até mesmo dos colegas é fundamental para que os demais sigam
aprendendo e assim aumentem suas habilidades e possibilidades de compreensão.
40
FIGURA 12 – RELAÇÃO ENTRE A ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL E NÍVEIS DE
DESENVOLVIMENTO REAL E POTENCIAL
FONTE: A autora
Vejamos um exemplo:
Uma criança de um ano, que ainda não sabe andar sozinha, só vai
conseguir andar com a ajuda de um adulto que segure nas suas
mãos, significa ela tem um nível de desenvolvimento potencial.
Tendo em vista que, aos três meses de idade, mesmo com a ajuda,
41
ela não conseguiria realizar a mesma tarefa. Para Vygotsky (1978), o
adulto tem um papel importante a desempenhar no desenvolvimento
da aprendizagem da criança, o de auxiliar no seu desenvolvimento
ajudando a realizar tarefas que ainda não conseguem desempenhar
sozinha e com autonomia (FREIRE, 2019, p. 3).
Embora Vygotsky não tenha formulado uma teoria pedagógica pensou bastante
na aprendizagem e na importância da escola para esse processo.
42
Nesse contexto é importante destacar que o papel do professor consiste
em intervir na zona de desenvolvimento proximal dos estudantes, possibilitando
avanços, que não ocorreriam de forma espontânea, através da criação de ambientes
que proporcionem novos desafios e possibilitem a participação e a colaboração de todos.
DICA
Quer saber mais sobre Vygotsky e Piaget?
4 HENRI WALLON
Henri Wallon (1879-1962) (Figura 13), era médico francês e realizou vários estudos
na área da neurologia, enfatizando a plasticidade cerebral.
FIGURA 13 – WALLON
Wallon era um militante apaixonado pela política e pela Educação). Não era
favorável a reprovação do estudante “dizia que reprovar é sinônimo de expulsar, negar,
excluir, ou seja, a própria negação do ensino” (BATISTA, 2014, p. 14).
44
• 2ª etapa – Estágio Sensório-Motor e Projetivo – do 1º ao 3º ano de vida.
Apresenta aproximação gradativa do mundo externo, objetiva. Fase centrífuga do
desenvolvimento, exterior, com predomínio da atividade relacional, exteroceptiva.
Apresenta atenção aos objetos, movimentos coordenados que permitem o andar,
e início de inserção no mundo dos signos, com condutas representativas. O
pensamento é projetado através de movimentos motores. O domínio funcional é
cognitivo, exteroceptivo, voltado para o meio social. Desenvolvimento da linguagem
e predomínio das funções cognitivas (SILVA, 2017).
NOTA
Você sabe o que é exteroceptivo? A emoção é determinante na evolução da
criança: Ela responde a estímulos musculares (sensibilidade proprioceptiva),
viscerais (sensibilidade interoceptiva) e externos (sensibilidade exteroceptiva).
Em outras palavras, a exterocepção, significa que os estímulos são
recebidos pelos receptores externos da pessoa, ou seja, pelos órgãos dos
sentidos. São sensações em nível tátil, auditivo, gustativo, olfativo ou visual.
Já na interocepção, se responde aos estímulos em níveis viscerais, sendo
manifestadas sensações de dor ou prazer pelo organismo (TEIXEIRA, 2020).
45
pensa e opera sobre o que não está ao alcance da visão. Período de descoberta de
diferenças e semelhanças entre as coisas e ideias. A criança desenvolve a capacidade
de operar conceitualmente, acentuando o potencial da memória voluntária e do
raciocínio associativo.
• 5ª etapa – Estágio da Puberdade e Adolescência – dos 11 anos a seguir. Fase
marcada pelas mudanças químico-físicas que acentuam os conflitos internos
de caráter afetivo. Período de estruturação do raciocínio lógico-matemático, da
autoafirmação de si, de predomínio da afetividade, centrípeta, em que o adolescente
rompe com a barreira temporal. Fase marcada pela contraposição de valores dos
adultos com quem vivem, de muitos conflitos.
Para termos um maior detalhamento dos estágios propostos por Wallon, vamos
analisar o quadro elaborado por Clanet e Laterrasse (1979) (Quadro 3):
46
QUADRO 3 – ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO HUMANO PROPOSTOS POR WALLON
FONTE: <https://pt.scribd.com/doc/19206314/Clanet-e-Laterrasse-Quadro-dos-estagios-de-
desenvolvimento-segundo-Henri-Wallon#>. Acesso em: 30 nov. 2021.
47
A partir do exposto, é importante salientar que a teoria de Henri Wallon ainda é
um desafio nas famílias e nas nossas escolas. Que bom se a valorização das emoções
estivesse sempre presente. Que as escolas tivessem um olhar mais humanizado, que
o desempenho em sala de aula, que as notas dos estudantes não fossem a prioridade.
Por fim, veremos um quadro comparativo das principais ideias do tripé dos
autores que contribuíram para o estudo da inteligência, da aprendizagem e do
desenvolvimento humano (Quadro 4).
48
E agora, para finalizarmos, você seria capaz de pontuar o que esses
pensadores têm em comum? Quais as principais semelhanças e diferenças
entre Piaget, Vygotsky e Wallon? Qual deles você acredita estar mais correto nas
suas percepções? Teria algum desses autores que você não concorda? E por quê?
Essas são apenas algumas questões importantes para você refletir sobre os três
pensadores apresentados.
49
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Vygotsky ressalta que a relação das pessoas com o mundo não acontece de forma
direta, mas mediada por símbolos.
• Henri Wallon (1879-1962), era médico francês e realizou vários estudos na área da
neurologia, enfatizando a plasticidade cerebral.
50
AUTOATIVIDADE
1 Jean Piaget foi um biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos
mais importantes pensadores do século XX. Foi um dos precursores da teorização
das fases do desenvolvimento infantil e conseguiu identificar os processos do
amadurecimento cognitivo que acontecem durante as primeiras duas décadas de
vida de um indivíduo. Sobre os domínios do desenvolvimento infantil, assinale a
alternativa CORRETA:
a) ( ) A criança aprende nas relações com as pessoas e o mundo, sendo que não
ocorrem de forma direta, mas mediada por símbolos.
b) ( ) A criança desenvolve a inteligência dependendo das experiências que vivenciou
no meio onde está inserida e do grau de apropriação que faz disso.
c) ( ) As crianças passam por estágios de desenvolvimento cognitivo sucessivos e, em
cada um deles, determinadas habilidades são desenvolvidas.
d) ( ) As crianças por meio dos aspectos físicos do espaço, das pessoas com quem
convivem, a linguagem e a cultura, influenciam seu desenvolvimento.
51
3 Lev Semenovich Vygotsky (1896-1934), russo, estudou história, literatura, filosofia e
psicologia e apesar da morte prematura contribuiu muito com a educação. De acordo
com as percepções e contribuições de Vygotsky, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:
5 Henri Wallon (1879-1962), era médico francês e realizou vários estudos na área da
neurologia, enfatizando a plasticidade cerebral. Suas contribuições estavam pautadas
no estudo integrado do desenvolvimento infantil em quatro elementos básicos que se
comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento (motricidade), a inteligência e a
formação do eu como pessoa. Disserte sobre o conceito de afetividade na concepção
de Wallon.
52
UNIDADE 1 TÓPICO 4 -
CRIANÇA, INFÂNCIAS E A
EDUCAÇÃO INFANTIL
1 INTRODUÇÃO
Compreendemos ao longo da Unidade 1, que não existe apenas uma infância,
que existem infâncias e que elas vêm se transformando através dos tempos e dos
diferentes contextos sociais. Também entendemos que para interpretar o significado
atribuído à infância, precisamos compreender sua trajetória dentro da história, quais
os tratamentos ela recebia e qual a relação das crianças com a sociedade para então
entender o conceito de infância(s), criança e educação infantil. É importante considerar
que a infância muda com o tempo e com os diferentes contextos socioeconômicos e
geográficos. As crianças de hoje não são iguais às do passado, nem serão as mesmas
que virão.
53
Conforme Fontes (2008), a educação infantil começou de forma assistencialista
especialmente para as crianças pertencentes à classe popular no século XIX. No início,
elas eram filantrópicas ou mantidas pelos próprios usuários e, somente mais tarde, elas
se tornaram públicas.
A proposta básica, a ser passada para os filhos dos operários era o ensino, a
obediência, a moralidade e a devoção do valor do trabalho. Essas propostas de
trabalhos eram realizadas em grandes turmas, muitas delas com cerca de 200 crianças
que precisavam obedecer aos comandos dos adultos dados por apitos.
54
O jardim de infância ou Kindergarten destinava-se à educação
de crianças de três a sete anos, nesses espaços as crianças
desenvolveriam atividades que envolviam cuidado com o corpo,
observação da natureza, aprenderiam poesia e canto, trabalhos
manuais, receberiam formação moral e religiosa, dentre outras
atividades. Tais atividades tinham por objetivo estimular o
desenvolvimento integral da criança, ajustando-se aos princípios
educativos, priorizando o lúdico, uma proposta exclusivamente
pedagógica para o atendimento da criança (CAMPOS; PEREIRA,
2015, p. 5).
IMPORTANTE
Quem foi Frederico Guilherme Froebel (Figura 14)?
FROEBEL
De origem alemã, foi um dos primeiros educadores a considerar a primeira infância como
uma fase de importância decisiva na formação das pessoas. Foi o fundador dos jardins de
infância, destinados aos menores de sete anos. O nome reflete um princípio
de que a criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo
cuidados periódicos para que cresça de maneira saudável. As técnicas
utilizadas até hoje em Educação Infantil devem muito a Froebel. Para ele,
as brincadeiras são o primeiro recurso no caminho da aprendizagem. Não
são apenas diversão, mas um modo de criar representações do mundo
concreto com a finalidade de entendê-lo.
FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/96/friedrich-froebel-o-
formador-das-criancas-pequenas>. Acesso em: 30 nov. 2021.
O jardim de infância, criado por Froebel, seria, segundo Kuhlmann Júnior (1999,
p. 73, grifo nosso), “a instituição educativa por excelência, enquanto a creche e as
demais escolas [...] seriam assistências e não educariam para a emancipação,
mas à subordinação”.
55
O Jardim de Infância da Escola Froebeliana caracteriza-se por envolver muito o
lúdico: canto, jogos, pinturas, palestras, jardinagem, modelagem, olhar gravuras e ouvir
histórias. Froebel criou um material pedagógico bem interessante (LIMA, 2008):
56
FIGURA 14 – OS 6 “DONS” ORIGINAIS ELABORADOS POR FRÖBEL
1. Novelos 4. Prismas retangulares
Voltado para os bebês, vêm em um conjunto em seis cores Voltados para crianças de 2 a 3 anos, é um conjunto
diferentes: vermelho, amarelo, azul (cores primárias), laranja, de 8 pequenas pranchas de madeira. Semelhante ao
verde e roxo (cores secundárias). São de um tamanho fácil para terceiro dom, em vez de cubos quadrados são blocos
as crianças e seus responsáveis manusearem, e têm objetivo de retangulares. A partir deles as crianças podem criar e
estimular a observação de cor e de movimentos. construir objetos que observam em seus cotidianos,
como casinhas ou mesas.
6. Blocos de construção
3.0 cubo dividido Voltados para crianças de 4 a 5 anos, é um conjunto
Voltado para crianças de 2 a 3 anos, é um conjunto de 8 pequenos de blocos de madeira que inclui 18 pranchas, 6 colunas
cubos de madeira. É o primeiro de uma série de 4 conjuntos de e 12 quadrados chatos, apresentando maior grau de
blocos de madeira que ficam cada vez mais complexos. O objetivo complexidade. Com eles, as crianças podem descobrir
do brinquedo é demonstrar a relação das partes com o todo. A noções de proporção, simetria e equilibrio.
partir disso, as crianças podem ser apresentadas aos conceitos
matemáticos de soma, subtração, multiplicação e divisão.
57
A teoria Froebeliana concebe o brincar não apenas como atividade livre e
espontânea da criança, mas um suporte para o ensino, permitindo a variação do brincar,
ora como atividade livre, ora orientada. O brincar é responsável pelo desenvolvimento
físico moral, cognitivo, emocional, e os dons ou brinquedos, como objetos que
subsidiam atividades infantis (MOREIRA, 2019).
58
3 CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO
INFANTIL NO BRASIL
No Brasil a educação infantil, como Política Pública desponta somente no
século XX, demonstrando a falta de prioridade com a infância brasileira. Por outro lado,
as discussões ao longo dos anos sobre a educação infantil, trouxeram importantes
resultados, como a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), o Referencial Curricular
Nacional para Educação Infantil (RCNEI), a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI),
entre outros.
59
FIGURA 15 – CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO INFANTIL BRASILEIRA
FONTE: A autora
60
Em 1875 foi fundado o primeiro Jardim de infância no Rio de Janeiro.
O Jardim de Infância do Colégio Menezes Vieira era uma instituição particular de
atendimento às crianças da elite carioca. Dois anos depois, em 1877, foi fundada na
escola americana, o primeiro jardim de infância em São Paulo, instituição também
particular referenciada pelo modelo educacional norte-americano, Kindergarten. Os
primeiros Jardins de Infância brasileiros estavam pautados na concepção froebeliana
na organização de suas práticas pedagógicas (CAMPOS; PEREIRA, 2015)
O Art. 24 da LDB diz: “As empresas que tenham a seu serviço mães de
menores de sete anos serão estimuladas a organizar e manter, por iniciativa própria
ou em cooperação com os poderes públicos, instituições de educação pré-primária”
(BRASIL,1961, p. 5).
Chegando em 1988, nós temos uma nova Constituição Federal, que pela
primeira vez na história da educação infantil brasileira, garante o direito das
crianças de 0 a seis anos a frequentarem creches e pré-escolas gratuitamente
(no Artigo 208, inciso IV) (BRASIL, 1988).
61
Graças à Constituição de 1988, a criança foi colocada no lugar de sujeito
de direitos e a educação infantil foi incluída no sistema educacional. Segundo
Domiciano (2009), antes da Constituição Federal de 1988, o financiamento da educação
não apreciava a educação infantil no campo legislativo. Sendo que a manutenção dessa
etapa educacional ficava a cargo de órgãos de assistência social.
62
Em 2009 foram apresentadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para
a Educação Infantil (DCNEI) para orientar o planejamento curricular das escolas.
Propõem a organização por eixos de interações e brincadeira. Além disso, reforça o
marco conceitual da indissociabilidade entre o cuidar e educar.
Assim, no Art. 1º, os incisos I e VII do Art. 208 da Constituição Federal, passam a
vigorar com as seguintes alterações:
DICA
Quer conhecer na íntegra a atualização da BNCC de 2017?
63
E para finalizar nossa linha do tempo, no dia 10 de junho de 2021, foi alterada a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996 pela Lei nº 14.164/2021,
onde foi incluído conteúdo sobre a prevenção da violência contra a mulher nos
currículos da educação básica e instituída a Semana Escolar de Combate à
Violência contra a Mulher na luta contra o feminicídio.
NOTA
Você sabe qual é a faixa etária que compreende a educação infantil?
64
Podemos começar falando da importância da Educação Infantil para o
desenvolvimento das crianças. Nessa fase a escola tem um papel fundamental na
estimulação precoce das crianças uma vez que a plasticidade neural é muito maior na
primeiríssima/primeira infância. Assim, a Educação Infantil tem a estimulação precoce
como porta de entrada para aprendizagens futuras.
DICA
Assista esse bate papo da TV Cultura no programa “Papo
de Mãe” onde é abordada a parceria entre a família
e escola na Educação Infantil. Como combinar o
desfralde, por exemplo, para que ele aconteça nos dois
ambientes? E a alimentação? Participaram a psicanalista e
psicopedagoga Izi Pozzi, a mamãe Aline Muniz e a professora
Tatiana Welche. Só ler o QR Code ao lado ou entrar no link:
https://www.youtube.com/watch?v=shWsThDD92o&t=18s.
65
Obviamente, o lúdico não deve ser explorado apenas como recreação, mas
também como recurso enriquecedor para promover a aprendizagem (ADAMUZ; BATISTA;
ZAMBERLAN, 2000). Para Piaget (1974), a educação infantil deve possibilitar na criança
um desenvolvimento amplo e dinâmico no período sociomotor. Todos os estímulos e
interações que ela receber vão construir a sua personalidade complementando o seu
desenvolvimento para a vivência em sociedade.
Se pararmos para refletir, no mundo atual, onde a maior parte das mães/
dos responsáveis trabalham fora, ou seja, fazem dupla jornada, onde, quando e como
a criança vai receber todos os estímulos necessários? E como a criança vai
compreender regras, limites, saber compartilhar? E as crianças de baixa renda, que
nem ao básico têm acesso, sendo a escola o único lugar onde fazem uma refeição
completa? E as crianças que têm suas infâncias roubadas, que são exploradas,
escravizadas, violentadas, que sofrem todo o tipo de abuso e tortura e que a escola é o
único refúgio de paz, amor e esperança?
A resposta todos sabemos. Se não for a escola não imaginamos outro lugar
ideal para todas essas oportunidades e de forma democrática. Além de tudo que
foi reportado anteriormente, na escola a criança também aprende a lidar com as
frustrações, acreditar que é capaz, ser autoconfiante, a esperar a sua vez,
respeitar as diferenças, desenvolver a criticidade, conviver em sociedade,
conquistando a sua autonomia e a ser protagonista da sua história.
IMPORTANTE
Temos ouvido bastante nas discussões sobre educação a palavra
protagonismo. Você sabe o que isso significa? A origem etimológica
do termo vem do grego, “protagonistés”, que significa o ator principal de
uma peça de teatro, ou aquele que ocupava uma posição de destaque,
principal em um acontecimento (FERREIRA, 2004). Transpondo para a
educação, Coletti (2021) explica que o protagonismo acontece quando
o professor possibilita que o estudante seja o personagem principal do
processo de ensino-aprendizagem, participando de todas as fases:
o planejar, o realizar (executar) e o avaliar.
66
O professor pode tornar-se o principal obstáculo ao desenvolvimento de uma
criança autônoma e participativa. Conforme Pires e Branco (2007), isso pode ocorrer
quando o nível de controle exercido pelos adultos e a pouca influência que as crianças
possuem sob seus próprios ambientes se tornaram impedimentos para a participação infantil.
São muitos os desafios que a Educação Infantil tem pela frente, muitas barreiras
e muitas batalhas. Entre os desafios também está o abandono da concepção de
Educação Infantil apenas como uma etapa de preparação para o ensino fundamental.
Como já dizia Malaguzzi (1999, p. 101, grifo nosso): “Se a escola de crianças
pequenas precisa ser preparatória e oferecer continuidade com a escola
elementar, então nós, como educadores, já somos prisioneiros de um modelo
que termina como um funil”.
Na primeira etapa da Educação Básica, por exemplo, a base elaborou seis direitos
de aprendizagem e desenvolvimento para as crianças: conviver, brincar, participar,
explorar, expressar e conhecer-se (BRASIL, 2018).
DICA
E por fim, gostaríamos também de sugerir um livro muito
especial para leitura: Infâncias, Crianças, Educação
Infantil – Diferentes Olhares, organizado por Ana Maria
Monte Coelho Frota Rosalina Rocha
Araújo Moraes Juliana de Brito Cysne.
Esperamos que você tenha gostado dessa primeira unidade, que tenha
compreendido as infâncias das nossas crianças e quanto a educação infantil é
importante para elas. Preparado para novas aprendizagens?
68
Aguardamos você na Unidade 2, e até lá não se esqueça de fazer as
autoatividades, assistir aos vídeos sugeridos, entrar no AVA e aproveitar todo o material
elaborado com muito carinho para você se apropriar do conteúdo desta disciplina.
69
LEITURA
COMPLEMENTAR
Nossa leitura complementar é o recorte de um livro que sugerimos para leitura
nesta Unidade 1 (o capítulo 12). Esperamos que gostem! Ótima leitura!
Castro (2013, p. 23) afirma, ademais, que, “[...] por via da infância, é possível
recuperar o que se perde ao se tornar adulto; é, então, através dela que se pode
recuperar a potência inicial da ação criadora e inventiva”. Essa possibilidade defendida
por Castro (2013) remete-nos e encoraja-nos à busca de diferentes formas de olhar
para as crianças e suas infâncias e de com elas reconstruir também a nós mesmos.
70
Nessa busca, que também é um convite, muitas áreas do conhecimento
têm aceitado o desafio de repensar a(s) infância(s) ou de se repensar com base na(s)
infância(s). Muitas são as áreas do conhecimento que olham as crianças e suas infâncias.
Mediante essas suas formas de ver, essas fontes plurais por vezes convergem, por vezes
divergem, mas sempre podem contribuir para a construção ou reconstrução, ou até
transformação, de nosso próprio olhar, ampliando nossas possibilidades não apenas de
ver, mas também de ser e de viver a(s) infância(s).
71
No diálogo com essas ciências que interrogam o aprender humano, o
pensamento pedagógico tem a possibilidade de se enriquecer, porém, ao fechar-se
para ele, empobrece-se e cai na teia do didatismo, o que gera um descompasso com
as vivências e o modo de viver das crianças, imprimindo ao fazer a lógica centrada no
adulto (ARROYO, 2008).
Mas quem é esse sujeito e a serviço de que está essa formação? Por meio
do ensino e da educação, os processos gerenciais e didáticos ocultaram a dimensão
própria da infância. Nesse sentido, “[...] a infância civilizada passa a ser valorizada como
possibilidade do projeto de civilização através do adulto civilizado. Não valorizada em
função da própria infância” (ARROYO, 2008, p. 124).
72
“[...] a consciência da particularidade infantil pode ser identificada desde a Antiguidade
e nas mais diversas culturas” (KUHLMANN JÚNIOR, 2012, p. 29). Com essa constatação,
sugere que as crianças precisam ser compreendidas dentro das relações em que vivem,
dados os seus grupos socioculturais.
Esse olhar converge para a ideia da criança produtora de cultura, que guarda
singularidades em relação ao adulto, diferenças, para Cohn (2005, p. 34), não quantitativas,
uma vez que “[...] os significados elaborados pelas crianças são qualitativamente
diferentes dos adultos, sem por isso serem menos elaborados ou errôneos e parciais”.
Conforme a referida estudiosa, as crianças, além de serem produzidas pela cultura,
também são dela produtoras em coparticipação com o adulto, pois:
73
Essas relações sociais que se dão na infância têm um sentido dentro do
universo social, que, segundo a antropóloga, valem para a vida toda, dadas as condições
de construção e significado a que estão sujeitas. Pensar a educação das crianças pelo
que se espera delas no futuro é, na visão de Kohan (2011), um traço platônico, no qual se
retrata uma imagem da infância que ainda acompanha o pensamento educacional. Na
análise desse autor, “[...] a princípio, essa visão de infância parece extraordinariamente
positiva”, mas “[...] esconde, como contrapartida, uma negatividade em ato, uma visão
não afirmativa da infância [...]. O ser tudo no futuro esconde um não ser nada no
presente” (KOHAN, 2011, p. 40).
Assim, o encontro com a infância, a aproximação entre uns e outros, cada vez
desenha algo novo, pinta um quadro diferente no contexto das relações entre crianças
e adultos, entre professores e estudantes, entre pessoas, enfim. Pessoas que guardam
peculiaridades, singularidades que se aproximam em subjetividades, em desejos
de conhecer-se, descobrir-se, relacionar-se, livres das amarras do determinado, do
esperado, do preexistente, lançando-se ao desafiante caminho que se abre à exploração,
à descoberta. Uma imagem do outro é uma contradição.
Talvez nos reste uma imagem do encontro com o outro. Nesse sentido, não seria
uma imagem da infância, mas uma imagem a partir do encontro com a infância. E isso na
medida em que esse encontro não é nem apropriação, nem um mero reconhecimento
em que se encontra aquele que já sabe e que já tem, mas um autêntico cara a cara
com o enigma, uma verdadeira experiência, um encontro com o estranho e com o
desconhecido, o qual não pode ser reconhecido nem apropriado.
Faz-se necessária uma atenção à forma como a criança experimenta seu viver,
como vive a infância com suas potencialidades, bem como com as possibilidades que
lhe são oferecidas. É preciso considerar o olhar das crianças sobre as experiências da
infância, território desconhecido em que se encontra uma ação que pode ser diferente,
que pode considerar não apenas a infância, mas as infâncias. Protagonistas de suas
histórias, construtoras socioculturais em correlação com os adultos, em estado de
equilíbrio entre a condição de vulnerabilidade e a potencialidade de suas ações,
interações, descobertas e construções.
74
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Com o tempo surgiram outras formas para o atendimento de crianças fora das famílias,
em instituições de caráter filantrópicos, com objetivos de organizar as condições para o
desenvolvimento infantil.
• No Brasil, a educação infantil, como Política Pública desponta somente no século XX,
demonstrando a falta de prioridade com a infância brasileira.
• Em 1961 foi criada a Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº
4.024/61. No seu Art. 23 faz uma menção na forma de organização do ensino pré-
primário e sua forma de atuação.
75
AUTOATIVIDADE
1 A Revolução Industrial revolucionou o mundo e fez diferença na vida das mulheres,
pois, muitas começaram a ganhar seu espaço no mercado de trabalho. Sobre a oferta
da educação infantil à classe popular no século XIX, assinale a alternativa CORRETA:
76
3 No Brasil a educação infantil, como Política Pública, desponta, somente no século
XX, demonstrando a falta de prioridade com a infância brasileira. Por outro lado, as
discussões ao longo dos anos sobre a educação infantil, trouxeram importantes
resultados, como a Constituição Federal de 1988, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), a Lei de Diretrizes e Bases (LDB), o Referencial Curricular Nacional
para Educação Infantil (RCNEI), a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI). De acordo com a
BNCC, em relação à Educação Infantil, classifique V para as sentenças verdadeiras e
F para as falsas:
77
REFERÊNCIAS
ADAMUZ, R. C.; BATISTA, C. V. M.; ZAMBERLAN, M. Ap. T. Você gosta de brincar? Do quê?
Com quem. Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico, v. 7, p. 157-167, 2000.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
BADINTER, E. Um amor conquistado: o mito do amor materno. 8. ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1985.
78
BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 e julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Brasília, DF: Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 13 jul. 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
leis/l8069.htm. Acesso em: 1 dez. 2021.
79
COLETTI, S. Nova Escola, c2021. Protagonismo do aluno: conheça 6 práticas para
desenvolver no dia a dia. Disponível em: https://novaescola.org.br/conteudo/20150/
colunas-pedagogicas-21-selene-coletti-protagonismo-do-aluno-conheca-6-
praticas-para-desenvolver-no-dia-a-dia. Acesso em 13 de julho de 2021.
PUERÍCIA. In: Dicionário Michaelis: Ed. Melhoramentos Ltda., 2015. Disponível em:
https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues-brasileiro/
puer%C3%ADcia. Acesso em: 10 jun. 2021.
EQUIPE SEB. Sistema Educacional Brasileiro S.A. Brinquedos: saiba como usar no
desenvolvimento cognitivo e motor das crianças. Blog Novos alunos, 2021. Disponível
em: https://novosalunos.com.br/brinquedos-saiba-como-usa-no-desenvolvimento-
cognitivo-e-motor-das-criancas/. Acesso em 08 de novembro de 2021.
FERRARI, M. Nova Escola, 2008. Lev Vygotsky, o teórico do ensino como processo
social, 2008. Disponível em:
https://novaescola.org.br/conteudo/382/lev-vygotsky-o-teorico-do-ensino-como-
processo-social. Acesso em: 22 jul. 2021.
80
FERRAZ, A. O poder das cores, 2020. O guia do desenvolvimento infantil: conheça as
etapas. . Acesso em: 11 abr. 2021.
FERREIRA, Aurélio. Novo dicionário da língua portuguesa. 3. ed. Rio de Janeiro: Régis
Ltda., 2004.
81
KARNAL, L. Não existiam crianças antes do século XX. Band Jornalismo, 2017. 1
vídeo (2:58 min.). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=7muGDWAkY90.
Acesso em: 29 nov. 2021.
KUHLMANN JÚNIOR, M. Infância: construção social e histórica. In: VAZ, A. F.; MOMM,
C. M. (org.). Educação infantil e sociedade: questões contemporâneas. Nova
Petrópolis: Nova Harmonia, 2012. p. 21-38.
LEITE FILHO, A. G. Políticas para a educação da infância no Brasil nos anos 1950/1960.
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82
MARAFON, D.; MATTOS, T. N. Infância, criança e educação infantil, as concepções
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MAHONEY, A. A. (org). Henri Wallon: Psicologia e Educação. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
THOMPSON RA, NELSON CA. Developmental science and the media: early brain
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McGraw-Hill, 2001.
PINTO, Manuel. A infância como construção social. In: PINTO, Manoel; SARMENTO,
Manoel Jacinto (Coord.). As crianças: contextos e identidades: processos de
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84
POSTMAN, Neil. O desaparecimento da Infância. Rio de Janeiro: Graphia, 2011.
RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA. Plano Nacional Primeira Infância: 2010-
2022 | 2020-2030. ANDI Comunicação e Direitos. 2. ed. Brasília, DF: RNPI/ANDI, 2020.
VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
85
86
UNIDADE 2 —
LÚDICO E MUSICALIZAÇÃO:
UM CONVITE PARA O
PROTAGONISMO INFANTIL
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
87
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 2!
Acesse o
QR Code abaixo:
88
UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: DO
BRINCAR AO APRENDER
"Quando olho uma criança ela me inspira
dois sentimentos, ternura pelo que é, e
respeito pelo que possa ser"
(PIAGET, 1969)
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Que beleza, chegamos à Unidade 2, que está repleta de
oportunidades de aprendizagem relacionadas ao lúdico e à musicalização. Espero que
esteja gostando desta caminhada!
Também vimos que as infâncias como se veem hoje, passaram por uma
construção histórica. Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação
Infantil (BRASIL, 2010), a criança é um sujeito histórico e de direitos que, nas interações
e prática cotidiana que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva.
89
2 LUDICIDADE: LABORATÓRIO PARA O
DESENVOLVIMENTO INFANTIL
No Brasil, o brincar, brinquedo e a brincadeira são vistos como a mesma
coisa, de forma indistinta, “demonstrando um nível baixo de conceituação e um
desconhecimento do delineamento histórico em que esses termos foram construídos,
que englobam valores, modos de vida, num dado espaço que traduz uma cultura e
expressa uma linguagem própria” (UJIIE, 2007, p. 2).
Piaget (1971) ressalta que o lúdico não envolve apenas uma forma de
entretenimento para gastar energia das crianças, mas um meio que contribui e
enriquece o desenvolvimento intelectual. O lúdico também pode ser considerado uma
forma de linguagem, um modo de expressão. O lúdico permite que as crianças se
expressem, descubram coisas novas, explorem e deem significados ao seu mundo.
Assim, através da ludicidade, a criança comunica-se consigo mesma e com o mundo a
sua volta. É brincando que ela satisfaz as suas necessidades de uma forma prazerosa.
Através do brincar ela se expressa, ordena seus pensamentos, se organiza e desorganiza,
construindo e reconstruindo o seu mundo (KISHIMOTO, 2010).
90
A brincadeira é indispensável para o desenvolvimento infantil. Kishimoto
(2010) ressalta que o brincar é tão importante que sempre fez parte da vida humana,
todos nós brincamos um dia, mesmo que de forma inconsciente o brincar sempre fez
e fará parte de nossas vidas. Ujiie (2007) utilizou o termo laboratório do pensamento
infantil para se referir ao brincar, constituído por uma linguagem simbólica. O lúdico
está apoiado em brinquedos, objetos de uso cotidiano, jogos e baseado em regras
que estejam diretamente associadas à infância. “O brincar funciona como cenário no
qual a criança se constitui como sujeito que atua e cria a partir de seu potencial de
desenvolvimento, elaborando seu próprio conhecimento” (UJIIE, 2007, p. 4).
A criança precisa de um tempo livre para brincar, quando ela cria suas
experiências de mundo a partir do faz de conta, ou seja, da brincadeira simbólica.
Entretanto, também é importante que o adulto esteja acompanhando esse brincar,
mesmo que de longe para perceber se existe algum atraso de desenvolvimento, um
comportamento diferente e estranho que mereça um olhar diferenciado.
91
FIGURA 1 – DICAS DE COMO POTENCIALIZAR O BRINCAR EM CASA
92
FIGURA 2 – TRÍADE DA LUDICIDADE
FONTE: A autora
DICA
Está gostando de estudar a ludicidade? Quer saber mais? Vamos deixar uma super
dica: um bate papo sobre a importância do brincar no desenvolvimento infantil –
no programa Conexão – Canal Futura Brincar. Participaram dessa entrevista a Giovana
Barbosa de Souza, conselheira da Aliança pela Infância e a Sônia Teixeira, orientadora
educacional. Apresentação: Eliane Benício Exibição: 24 de maio de 2017.
93
3 O LÚDICO E O PAPEL DO PROFESSOR: SABERES
E DESAFIOS
A escola é lugar de brincadeira? Vamos iniciar nossa conversa a partir desse
questionamento.
Nesse brincar com objetos ou quando utiliza os jogos, por exemplo, a criança
aprende a lutar pelos seus interesses, ficando motivada a superar os obstáculos que
muitos jogos proporcionam. Também aprende que na vida nem sempre se ganha,
que o importante é participar. E que a participação do outro é indispensável para a
realização da atividade, onde cada um terá a sua vez de jogar e que essa ordem precisa
ser respeitada.
94
Ao brincar, a criança passa a compreender as características
dos objetos, seu funcionamento, os elementos da natureza e os
acontecimentos sociais. Ao mesmo tempo, ao tomar o papel do outro
na brincadeira, começa a perceber o papel do outro na brincadeira,
começa a perceber as diferentes perspectivas de uma situação, o
que lhe facilita a elaboração do diálogo interior característico de seu
pensamento verbal (OLIVEIRA, 2005, p. 164).
Conforme Piaget (1975, p. 29), “o brincar implica uma dimensão evolutiva com as
crianças de diferentes idades, apresentando características específicas, apresentando
formas diferenciadas de brincar”. E como fica o brincar no ambiente escolar? Brincar
tanto na escola como em outros lugares, deve proporcionar alegria, prazer, vivência e
oportunidades de aprendizagem. A principal diferença é que a brincadeira na escola
acontece em um ambiente planejado e enriquecido que proporciona a aprendizagem de
diversas atividades: física, cognitiva, social e afetiva (MACARINI, 1994).
O lúdico deve estar presente na rotina diária da educação infantil, seja na sala
de aula, no pátio ou até mesmo em uma brinquedoteca, que pode ser organizada
pelo professor para favorecer mais a interação entre as crianças, criando inúmeras
possibilidades de aprendizagem. Já em casa, muitas vezes, esse brincar acontece mais
livremente, sem a interferência do adulto.
ESTUDOS FUTUROS
Você sabe o que é uma brinquedoteca? Já viu uma? Prepare-se,
que no Subtópico 4 vamos conhecer o universo das Brinquedotecas!
Aguarde aí!
95
IMPORTANTE
"Portanto, brincar é coisa séria e deve ser
vivenciado diariamente pela criança!"
96
FIGURA 3 – ATIVIDADES PARA EDUCAÇÃO INFANTIL
FONTE: A autora
97
DICA
Pessoal, superdica de leitura para aprofundar nossos estudos!
99
E para finalizar seguem algumas sugestões para aprofundar os estudos:
DICA
Para ter acesso ao livro “Atividades e brincadeiras” basta ler o QR Code,
100
“Apprendendo” é uma plataforma que oferece dicas de atividades e brincadeiras simples
que podem ser feitas com as crianças em distintos ambientes e momentos da rotina
diária. Potencializar a aprendizagem das crianças é responsabilidade dos adultos. Por
isso, aqui você encontrará sugestões para incorporar novas possibilidades de interação
nos momentos do dia a dia. Além de fortalecer o vínculo com as crianças, situações
cotidianas passam a ser oportunidades para favorecer o desenvolvimento infantil. Só
baixar o aplicativo na Google Play Store e na Apple Store. É possível criar um álbum para
registrar as situações vivenciadas junto às crianças por meio de fotos e pequenos textos,
construindo uma memória do processo de aprendizagem.
4 BRINQUEDOTECA: A IMPORTÂNCIA DE UM
ESPAÇO LÚDICO
Brinquedoteca "é um espaço preparado para estimular a criança a brincar,
possibilitando o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente
especialmente lúdico" (CUNHA, 1998, p. 40). Trata-se de um lugar totalmente planejado
para a criança brincar livremente e aprender a jogar desenvolvendo sua criatividade e
fortalecendo o vínculo com as demais crianças.
101
Segundo a Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBRI, 2021), “a
brinquedoteca é um espaço estruturado para estimular a criança a brincar, possibilitando
o acesso a uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente
lúdico”. A brinquedoteca é preparada para estimular a criatividade, a brincadeira de faz
de conta, a dramatização, a construção, a solução de problemas, a socialização, o desejo
de inventar, de desenvolver habilidades como as de expressão e o trabalho em equipe.
Tem como objetivos principais:
Conforme a ABBRI (2021), por volta de 1934, em Los Angeles, durante a depressão
econômica norte-americana o dono de uma loja de brinquedos comentou ao diretor da
Escola Municipal que algumas crianças estavam furtando os brinquedos. Concluíram
que essa situação estava relacionada à falta de brinquedos nas famílias. Então foi criado
um serviço de empréstimo de brinquedos comunitário, “Los Angeles Toy Loan”, que
existe até hoje. Contudo, essa iniciativa foi aprimorada na Suécia, em 1963, por duas
professoras, mães de crianças com deficiência, que fundaram a Lekotek (ludoteca,
em sueco), em Estocolmo. “O objetivo era emprestar brinquedos e dar orientação às
famílias de crianças com deficiência sobre como poderiam brincar com seus filhos para
melhor estimulá-los” (ABBRI, 2021, s.p.).
102
necessidade de se criar uma associação que abarcasse a demanda.
Desde então, a Associação Brasileira de Brinquedotecas – ABBri vem
trabalhando em prol da divulgação do brincar, bem como formando
brinquedistas e auxiliando na montagem de brinquedotecas por todo
país (ABBRI, 2021, s.p.).
DICA
Superdica para as famílias/cuidadores/ responsáveis:
Livro “Brinquedoteca: Famílias Brincantes” com várias
sugestões. Só ler o QR Code ao lado,
ou através do link:
http://www.ce.ufpb.br/ce/contents/documentos/GuiaFamliasBrincantes_CE_UFPB.pdf.
103
É importante ressaltar que a brinquedoteca é um lugar onde se promove
a brincadeira, e não um espaço onde apenas se brinca e são guardados brinquedos
(FORTUNA, 2011), pois, se não tiver crianças brincando esse espaço não terá vida, pois,
é “[...] a ação de brincar que faz um objeto ser brinquedo” (FORTUNA, 2011, p. 163,
grifo nosso).
104
FIGURA 4 – TIPOS DE BRINQUEDOTECA
105
Caso no seu Polo não tenha esse espaço, ou esteja fazendo a disciplina
de forma on-line, você pode desenvolver a dinâmica com alguma criança de seu
convívio: filhos, sobrinhos, vizinhos.... Filmar e depois compartilhar com a gente. Não
esquecendo que independentemente da estratégia utilizada, é necessário fazer um
relatório dessa prática. Todas as orientações da dinâmica, bem como do relatório se
encontram no manual de Brinquedoteca que está disponível no AVA dentro da trilha
de aprendizagem da respectiva disciplina. Temos certeza de que será um momento
muito prazeroso para você e para as crianças! Boa prática!
A fim de facilitar a identificação visual, tanto pelas crianças como pelos adultos,
os brinquedos na brinquedoteca são divididos conforme a classificação elaborada pelo
International Council of Children’s Play (ICCP) (MACARINI; VIEIRA, 2006, s.p.).
106
DICA
O livro “Notas sobre o brincar: experiências na constituição de uma brinquedoteca”
é uma riqueza de obra, direcionado para os profissionais da área da educação,
principalmente os que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.
As discussões aqui trazidas os auxiliarão a refletirem sobre o brincar em sua interlocução
com a docência e as práticas pedagógicas. Vale a pena conferir! Basta entrar no link:
https://ifrs.edu.br/farroupilha/wp-content/uploads/sites/12/2021/03/Notas-sobre-o-
brincar_versao-digital.pdf.
Até o Tópico 2!
107
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O lúdico deve estar presente na rotina diária da educação infantil, seja na sala de
aula, no pátio ou até mesmo em uma brinquedoteca, que pode ser organizada
pelo professor para favorecer mais a interação entre as crianças, criando inúmeras
possibilidades de aprendizagem.
108
AUTOATIVIDADE
1 Segundo a Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBRI, 2021), “a brinquedoteca
é um espaço estruturado para estimular a criança a brincar, possibilitando o acesso a
uma grande variedade de brinquedos, dentro de um ambiente especialmente lúdico”.
Cite os principais objetivos da brinquedoteca elaborados pela ABBRI:
Fonte: CUNHA, N.H.S. Brinquedoteca: definição, histórico no Brasil e no mundo. In: FRIEDMANN,
A. (org) O direito de brincar. 4. ed. São Paulo: Edições Sociais: Abrinq, 1998, p.37-52.
109
c) ( ) Para melhor organização das brincadeiras para a criança, a brinquedoteca deve
ser dividida em quatro áreas diferentes e separadas, sendo elas Área 1: brinquedos
para primeira idade e para atividades sensório-motoras, Área 2: brinquedos para
o desenvolvimento afetivo e relações sociais, Área 3: brinquedos que reproduzem
o mundo técnico e para atividades criativas, Área 4: brinquedos para atividades
físicas e intelectuais.
d) ( ) Não existe forma correta de organizar a brinquedoteca por ser um ambiente
destinado à criança. A brinquedoteca deve ter a identidade das mesmas e ser
organizada de acordo com suas preferências.
e) ( ) Para facilitar a identificação visual, os brinquedos na brinquedoteca são divididos
conforme a classificação elaborada pelo International Council of Children’s Play
(ICCP), dividida em cores. Verde: brinquedos para primeira idade e para atividades
sensório-motoras, Azul claro: brinquedos para atividades físicas, Amarelo:
brinquedos para atividades intelectuais, Laranja: brinquedos que reproduzem o
mundo técnico, Rosa: brinquedos para o desenvolvimento afetivo, Azul escuro:
brinquedos para atividades criativas, Cinza: brinquedos para relações sociais
3 O lúdico deve estar presente na rotina diária da educação infantil, seja na sala de
aula, no pátio ou até mesmo em uma brinquedoteca, que pode ser organizada
pelo professor para favorecer mais a interação entre as crianças, criando inúmeras
possibilidades de aprendizagem. Qual é o papel do professor no desenvolvimento
das brincadeiras?
a) ( ) O professor deve ser a pessoa que apenas fica ao lado da criança, enquanto a
mesma escolhe os brinquedos e brincadeiras, sem levar em conta a faixa etária e
suas necessidades, possibilitando a autonomia da criança em realizar suas próprias
escolhas e o promover o desenvolvimento no seu tempo. Assim, é disponibilizado
todos os dias um horário específico para a realização dessas brincadeiras.
b) ( ) Cabe ao professor oferecer os recursos, o tempo e os espaços planejados de
acordo com a faixa etária das crianças e suas necessidades para a promoção
do desenvolvimento global de cada uma delas, possibilitando uma vivência de
diversidades de experiências, em que as crianças possam interagir uma com
a outra, dentro de uma rotina em que o lúdico seja inserido diariamente com
horários para brincar de forma livre ou realizar atividades dirigidas, direcionadas.
c) ( ) Cabe ao professor oferecer os recursos, o tempo e os espaços planejados, não
sendo necessário levar em conta a faixa etária e necessidades da criança, assim
promove um desenvolvimento global dos alunos, possibilitando autonomia, já
que os mesmos escolheriam suas próprias brincadeiras e brinquedos.
d) ( ) O professor não tem papel de grande importância no desenvolvimento das
brincadeiras, deve ficar ao lado do aluno, apenas para supervisionar e não ter
riscos de o mesmo se machucar.
110
4 Brincar na escola é muito mais que diversão! Conforme Kishimoto (2011, p. 36), “o uso
do brinquedo e do jogo educativo com fins pedagógicos remete para a relevância
desse instrumento para situações de ensino-aprendizagem e do desenvolvimento
infantil”. Nesse contexto, reflita e responda: Qual é o papel do professor nesse
processo, ou seja, como o professor deve trabalhar o lúdico na educação infantil?
FONTE: KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira, e a educação. 14. ed. São Paulo: Editora
Cortez, 2011.
FONTE: BURGER, E. Elos Educacional, 2018. O brincar na educação infantil alinhado à base
nacional comum curricular. Disponível em: https://eloseducacional.com/educacao/o-brincar-na-
educacao-infantil-alinhado-a-base-nacional-comum-curricular/. Acesso em: 2 nov. 2021.
111
112
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
O CONTEXTO HISTÓRICO DA LUDICIDADE
1 INTRODUÇÃO
A origem etimológica da palavra lúdico é latina, vem de “ludus”, que tem por
tradução a palavra “jogo” e significa brincar. Teve seu reconhecimento como fator
essencial de psicofisiologia do comportamento humano, fazendo com que sua definição
deixasse de ser compreendida como o simples sinônimo de jogo (CORBALÁN, 1994).
Segundo Kishimoto (2014), existem registros de que a origem das atividades lúdicas
tenha milhares de anos e suas primeiras referências são de aproximadamente 3.000 a.C.
O lúdico se apresenta desde a era primitiva, onde as crianças aprendiam por meio
da imitação das atividades anteriormente realizadas como a caça e a pesca, por exemplo.
Platão afirmava que os primeiros anos de vida da criança deveriam ser ocupados com jogos.
Contudo, a partir do cristianismo a significação dos jogos foram deixados de lado passando
a ser vistos como algo estranho pela religião (ANTUNES, 2008).
113
O nascimento das primeiras reflexões em torno da importância do
brincar educativo origina-se na antiguidade greco-romana, surge
ligada a ideia de relaxamento, necessário a atividades que exigem
esforço físico e intelectual. Por um lado, Platão apontava a importância
de se aprender brincando em oposição à violência e a opressão. Por
outro, Aristóteles sugeria que a criança aprendia brincando com os
jogos que imitavam atividades adultas como forma de preparo para
a vida futura. Entretanto, não se discutia nessa época o emprego do
jogo no ensino da leitura e do cálculo. Só posteriormente, no período
da renascença, essa preocupação aparece, quando escritores
como Horácio e Quintiliano, apresentam jogos de leitura, com letras
feitas de guloseimas por doceiras romanas, espécie do que hoje
denominamos alfabeto móvel, utilizado por eles no ensino da leitura
e ingerido pelas crianças como forma de introdução e digestão do
conhecimento das primeiras letras (UJIIE, 2007, p. 2).
Para compreender a história do lúdico foi traçada uma linha do tempo, partindo
da pré-história até os dias atuais (Figura 5), desde que o brincar era considerado
apenas diversão, até ser compreendido como uma importante estratégia para auxiliador
o processo de ensino- aprendizagem.
FONTE: A autora
Vamos conhecer como o lúdico se fazia presente em cada uma das eras?
114
2.1 O LÚDICO NA PRÉ-HISTÓRIA
A era pré-histórica é o período compreendido entre o aparecimento dos
primeiros homens, há mais ou menos um milhão de anos e os primeiros registros
escritos, aproximadamente em 4.000 a.C. Estudos sobre o homem primitivo, baseados
em análises de pinturas e desenhos encontrados nas paredes das cavernas ou
através dos elementos que esse homem usava para fabricar ferramentas, armas
e utensílios, confirmam que o ser primitivo já brincava, pois registros de brinquedos
infantis provenientes de várias culturas que remontam a épocas pré-históricas, foram
encontrados, ratificando a ação (MODESTO, 2009).
a) b)
115
2.2 O LÚDICO NA ANTIGUIDADE
A antiguidade é marcada pelo surgimento das primeiras civilizações do oriente,
as civilizações Egípcia, Grega e Romana.
FONTE: A autora
116
Acredita-se que os dados foram os primeiros jogos durante a história da
civilização. Os primeiros dados cúbicos de que se tem notícias foram encontrados no
Egito com datas de antes de 2000 a.C. e em escavações chinesas datadas de até 600
a.C. (JAMILLE, 2020). Na Figura 7 podemos observar um exemplar datado do Período
Greco-Romano.
Outro brinquedo daquele período era o gato de madeira (Figura 8), ou talvez
uma leoa, pois, não tem como afirmar. Com dentes de bronze, tinha a mandíbula
articulada graças a uma corda que atravessa a parte superior da sua cabeça
(VEREDASDOTEMPO, 2021).
Também tinha o cavalo com rodinhas (Figura 8), feito de madeira que era
puxado por uma cordinha, a julgar pelos orifícios que se encontram na área da sua
boca. Essa peça foi datada como sendo do Período Romano (BRITISH MUSEUM, 2021).
117
FIGURA 8 – LÚDICO NA ERA ANTIGA
FONTE: A autora
118
FIGURA 9 – BONECO DE MADEIRA EGÍPCIO
FONTE: A autora
INTERESSANTE
A título de curiosidade: parecido com a raposa, o chacal é um animal da família do cão.
À noite, os chacais uivam para se comunicar entre si. O uivo pode ser bastante cansativo
para as pessoas, pois, lembra um grito alto ou uma sirene.
FONTE: <https://mundo-animal.fandom.com/pt/wiki/Chacal>.
Acesso em: 7 dez. 2021.
119
Além dos brinquedos e jogos, a civilização grega deixou outras contribuições,
como: a história, a música, a filosofia, o teatro, e o amor ao esporte. “Na cidade
da Grécia foi onde se iniciaram os jogos olímpicos, e não dispensavam a música, dança
e ginásticas na formação dos jovens, sendo tais, formas de manifestações do lúdico”
(ALMEIDA; RODRIGUES, 2015, p. 26).
INTERESSANTE
Algo curioso sobre a numeração gravada nos dados clássicos é que o
número resultante da soma dos lados opostos é igual ao maior valor do
dado + 1, ou seja, a soma de dois lados opostos sempre é igual ao
número de faces mais um. Como exemplo, para um dado de seis lados,
se de um lado temos o número 5, o outro lado deverá ser 2, que somaria
7. Essa regra é válida para qualquer outro dado. Sendo assim, um D10
somaria 11, um D12 somaria 13, e um D20 somaria 21 nos lados opostos
(JAMILLE, 2020, s.p.).
120
2.3 O LÚDICO NA IDADE MÉDIA
A Idade Média é o período da história europeia, que inicia na queda do Império
Romano do Ocidente e se estende até o século XV. Nessa era houve um período que
as atividades lúdicas, como, jogos, brincadeiras e exercícios físicos foram abandonados
já que o objetivo da educação era elevar a alma.
O artista Pieter Bruegel (1560) pintou uma tela (Figura 11) para identificação dos
jogos tradicionais. Percebe-se que as atividades lúdicas são realizadas por crianças
pouco expressivas – “como se nem as brincadeiras permitissem que se afastasse,
mesmo das mentes infantis, um certo imaginário temido, sempre presente na cultura
da Idade Média” (SEGREDOS DA IDADE MÉDIA, 2021, s.p.).
FONTE: A autora
121
Durante o Renascimento, o jogo serviu para divulgar princípios de moral,
ética e conteúdo de áreas como história e geografia, compreendendo que o lúdico
facilitava o estudo. Entende-se que a brincadeira é uma atividade livre que favorece
o desenvolvimento da inteligência e facilita o estudo, divulga princípios de moral, ética
e contempla os conteúdos de história, geografia e outras áreas (UJIIE, 2007). “No
Renascimento surgem outras concepções pedagógicas, [...] assim, reabilita-se o
brincar e o jogo, e os incorpora ao cotidiano dos jovens, como tendência natural do ser
humano a fim de desenvolver o corpo” (UJIIE, 2007, p. 7).
122
Importante considerar que o sentimento lúdico existia entre as crianças, mas
pouco demonstrado. Na sociedade do século XVII, as crianças ainda eram tratadas de
forma igual ao do período anterior, sem muita importância, independentemente de seu
status social. Além disso, como as crianças eram tratadas como adultas, convivendo
muito com pessoas mais velhas, acabavam representando muitas das atividades do
cotidiano adulto em seus brinquedos. E também é importante salientar que eram as
crianças que criavam seus próprios brinquedos.
123
2.5 O LÚDICO NA IDADE CONTEMPORÂNEA
A Idade Contemporânea inicia no final do século XVIII e vem até os dias
atuais. É marcada pela Revolução Industrial, o desenvolvimento econômico, o
surgimento de grandes indústrias, grandes cidades, a substituição de trabalhos manuais
por máquinas e do modo de produção doméstico pelo modo de produção fabril.
Com a industrialização, muitas famílias saíram das áreas rurais para as grandes
cidades à procura de emprego (êxodo rural), surgindo a classe trabalhadora formada por
camponeses e a sociedade de baixa renda, havendo a necessidade de todos os componentes
da família, inclusive as crianças, trabalharem para aumentar a renda familiar.
124
Para Ujiie (2007) o brinquedo industrializado transforma o brincar em uma
atividade solitária para criança, em função do apelo ao consumo de brinquedos.
Benjamin (1984, p. 70) indica que “quanto mais atraentes forem os brinquedos, mais
distantes estarão de seu valor como instrumentos de brincar; quando ilimitadamente a
imitação anuncia-se neles, tanto mais se desviam da brincadeira viva”.
NOTA
Geração Y ou “Millenials” é o nome da geração das pessoas que nasceram
entre os anos de 1980 e 1995, ou seja, são aqueles que vieram ao mundo
na época da virada do milênio, aí essa denominação faz bastante sentido.
Essa é uma geração da era digital, formando o primeiro recorte etário que
inclui pessoas que já nasceram envolvidas por tecnologias atuais, como o
videogame e a internet. Os millennials representam, hoje, cerca de 25% da
população brasileira.
FONTE: <https://meusucesso.com/artigos/pessoas/quem-sao-os-
millenials-1892/>. Acesso em: 7 dez. 2021.
125
O autor também alerta que, atualmente, antes mesmo do processo
de alfabetização, ainda na primeira infância, as crianças vivem o processo de
“alfabetização digital” e memorizam com muita facilidade gestos, expressões
faciais, sons e diversos outros recursos utilizados para garantirem a interação com
os recursos e aplicativos oferecidos pelas tecnologias digitais (SOUZA, 2017). Assim,
o tempo de uso diário ou a duração total por dia do uso de tecnologia digital deve
ser limitado e proporcional às idades e às etapas do desenvolvimento das crianças
e adolescentes. “Equilibrar as horas de jogos on-line com atividades esportivas,
brincadeiras, exercícios ao ar livre ou em contato direto com a natureza é garantir
insumos para o crescimento e desenvolvimento com afeto e alegria” (SOCIEDADE
BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2016, p. 3).
Os jogos e brincadeiras que temos hoje são originários dessa miscigenação que
ocorreu nesse período, mas é incerto afirmar de qual povo exatamente seriam suas
origens. Os índios sempre se fizeram valer de seus costumes para ensinar seus filhos
a caçar, pescar, brincar, dançar; uma maneira lúdica do aprendizado e que representa
a cultura, a educação e a tradição de seus povos. Seus filhos constroem seus próprios
brinquedos com materiais extraídos da natureza; caçam e pescam com o olhar diferente
dos adultos e seus objetivos são sempre o de brincar e se divertir sem que de fato o
façam para sua real necessidade de sobrevivência.
126
Os negros também trouxeram seus costumes, semelhantes aos dos índios,
pois as crianças desde pequenas tinham que construir seus próprios brinquedos, além
de saber pescar, nadar e caçar. Os filhos dos portugueses quando vieram para o Brasil
não tinham seus contatos com a ludicidade como atos para a sobrevivência, o tinham
como ato de lazer, e para seu enriquecimento intelectual. Seus costumes, trazidos de
Portugal, eram totalmente diferentes dos que existiam no Brasil, tanto dos índios, como
dos trazidos pelos negros, em suas bagagens, nos navios negreiros da África até aqui
(SANT’ANNA; NASCIMENTO, 2011).
FIGURA 12 – PE’TEKA
127
Você já brincou de Pe’teka enquanto criança? Sabe fazer esse brinquedo? Que
tal aprender um modelo bem simples e de baixo custo para brincar com seus filhos ou
alunos?!
◦ feltro ou pano;
◦ retalhos de tecido;
◦ arroz;
◦ tesoura;
◦ cola instantânea;
◦ lã;
◦ fitas de cetim;
◦ EVA.
128
• Amarelinha: de origem francesa, a amarelinha (Figura 14) chegou ao Brasil e se
tornou popular.
FONTE: <https://www.soescola.com/wp-content/uploads/2018/03/infancia-brincadeiras.jpg>.
Acesso em: 7 dez. 2021.
Brincar realmente só traz benefícios para a criança, tanto para a saúde física
como mental. Você já parou para pensar quanto brincar de amarelinha faz bem para as
crianças (Figura 15)?
129
FIGURA 15 – 10 MOTIVOS PARA A CRIANÇA BRINCAR DE AMARELINHA
130
• Pipa/pandorga ou papagaio: cerca de 1000 anos antes de Cristo, a pipa (Figura
16) era utilizada como forma de sinalização, mas ao chegar ao Brasil, trazida pelos
portugueses, a pipa se tornou somente uma forma de diversão.
DICA
Quer aprender a fazer uma pipa?
• Ciranda: a ciranda (Figura 17), que é muito famosa do Brasil, foi trazida de Portugal
como dança adulta, mas logo sofreu transformações e passou a alegrar as brincadeiras
infantis. É bastante utilizada ainda hoje em escolas, parques e espaços que prezam
as brincadeiras antigas, passando-as às novas gerações, mostrando sua importância
folclórica e cultural.
131
FIGURA 17 – LETRA DA MÚSICA CIRANDA E O COMO BRINCAR
• Pular corda: enquanto dois jogadores tocam a corda, cada um do grupo pula
cantando a cantiga: “Um homem bateu na minha porta e eu abri. Senhora e senhores
pulem num pé só. Senhoras e senhores ponham a mão no chão. Senhora e senhores,
deem uma rodadinha. E vão, para olho da rua”! Quem conseguir chegar primeiro ao
final, sem errar no pulo, será o vencedor (Figura 19) (SAMPAIO, 2010).
132
FIGURA19 – BRINCADEIRA DE PULAR CORDA
• Dança das cadeiras: você precisa para a dança das cadeiras (Figura 20) ter uma
cadeira a menos do número das pessoas que estiverem brincando (SAMPAIO, 2010).
• Batata quente: sentados no chão, com um objeto na mão vai passando e cantando:
“Batata que passa quente, batata que já passou, quem ficar com a batata, coitadinho,
se queimou”! Quando disser queimou, quem estiver com o objeto na mão, sai da roda
(SAMPAIO, 2010) (Figura 21).
133
• Ovo choco: as crianças em círculo acocorados, fora da roda uma criança porta uma
bola de papel, uma pedra ou outro objeto qualquer, simbolizando o ovo (Figura 22)
SAMPAIO (2010).
• Esconde-esconde: quem será que tem mais agilidade e perspicácia para descobrir
um esconderijo rápido? Aqui, vamos começar definindo uma pessoa que terá o papel
de buscar os amigos, enquanto eles se escondem. O objetivo? Não se deixar encontrar,
porque o primeiro a ser pego será o próximo a buscar! A resistência à frustração também
entra no jogo, ensinando que perder faz parte da diversão (Figura 24).
134
FIGURA 24 – CRIANÇAS BRINCANDO DE ESCONDE-ESCONDE
• Cinco Marias: essa é uma ótima ideia para quando não há tanta meninada reunida –
e só vamos precisar de cinco pedrinhas ou saquinhos. As capacidades treinadas são
agilidade e concentração (Figura 25).
135
DICA
Você já brincou de cinco Marias? Já fez esse jogo?
Sabe como brincar? Não? Então vamos ajudá-lo!
DICA
Sugestão 1:
Conheça Flávio Pacheco e sua belíssima coleção de brinquedos antigos.
136
Sugestão 2:
Livro Jogos e brincadeiras das culturas populares na primeira infância, elaborado
pelo Ministério da Cidadania Brasileiro.
Só ler o QR Code.
FONTE: <https://bit.ly/3Gk9puX>.
Acesso em: 7 dez. 2021.
Sugestão 3:
Conheça o Programa Território do Brincar.
Em cada encontro surgiam intensas trocas e diálogos, por meio de gestos, expressões
e saberes que foram cuidadosamente registrados em filmes, fotos, textos e áudios.
Um intercâmbio onde pesquisadores e crianças se encontraram no fazer e no brincar,
sempre aprendendo um com o outro.
O trabalho do Território do Brincar se amplia ainda mais pela parceria firmada com
o Instituto Alana, que é o correalizador do programa, pelas escolas que acreditam no
valor dessa pesquisa e são nossas parceiras, pelo apoio da Aliança pela Infância e outras
pessoas e organizações que muito enriquecem essa história.
Esse intenso trabalho de pesquisa foi sistematizado, dando origem a diversas produções
culturais: um filme de longa-metragem, dois livros e duas séries infantis para TV, filmes
de curta metragem, artigos, além de uma exposição itinerante que, entre 2014 e
2015, percorreu o Brasil para levar um pouquinho do Território do Brincar para escolas,
festivais, praças etc.
137
FONTE: <https://territoriodobrincar.com.br/brincadeiras-pelo-brasil/>. Acesso em: 7 dez. 2021.
O ser humano em todas as etapas da sua vida produz cultura. Então podemos
dizer que a criança também é produtora de cultura? “Dentre as inúmeras
possibilidades de produzir cultura, um dos meios mais presentes na vida da criança é
o brincar. É brincando que a criança recria o que entende do mundo e transforma em
cultura lúdica” (LOMENSO, 2008, p.16).
A cultura lúdica é formada a partir das ações realizadas pelos indivíduos, que
se encontram em um processo constante de construção através de suas relações.
Assim, a concepção de cultura lúdica, segundo Antunes (2008, p. 34), “é uma noção
construída historicamente com o passar do tempo, apresentando mudanças conforme
as sociedades e as épocas”.
138
criança assiste e interpreta a brincadeira) até sua prática (quando
a criança reproduz, ressignificando essa brincadeira) são modos de
a criança inscrever-se na cultura. Não só na cultura geral, de sua
sociedade, mas também na cultura que vivencia entre seus pares –
outras crianças da mesma ou de diferentes idades (MONTEIRO; COLL
DELGADO, 2014, p. 112).
Monteiro e Coll Delgado (2014, p. 112) definem a cultura lúdica como sendo “o
conjunto de regras e significações próprias do jogo que o jogador adquire e domina
nesse contexto”. Assim, podemos afirmar que a cultura lúdica corresponde às
aprendizagens que as crianças têm ao brincar com seus pares.
Carneiro (1995, p. 66) explica que “todos possuem uma cultura lúdica, que nada
mais é do que um conjunto de significações”. Brincando a criança constrói sua cultura
lúdica que são experiências lúdicas vivenciadas e adquiridas através das interações
sociais, começando pelas primeiras brincadeiras enquanto bebê, participação em
jogos com outros participantes, pela observação de outras crianças e, também, pela
manipulação maior de jogos.
Nas palavras de Würdig (2007, p. 69), “[...] a cultura lúdica é diferente na praça,
na praia, em grandes e pequenas cidades, no centro e na periferia, em regiões mais
pobres e mais ricas, em regiões mais ou menos arborizadas, em espaços públicos e
privados”. Podemos, assim, perceber que a cultura lúdica é uma construção individual,
onde cada um a constrói de acordo com suas experiências, com o lugar onde vive, com
as pessoas que convive.
139
lúdica e a cultura do meio onde a criança vive “permite identificar o modo como ela está
compreendendo o mundo e as relações, e também como está utilizando os elementos
dessa cultura nas interações com os outros, sejam adultos ou crianças” (MONTEIRO;
COLL DELGADO, 2014, p. 112).
E por fim, Chateau (1987, p. 14, grifo nosso) traz um alerta para refletirmos um
pouquinho mais sobre a construção da cultura lúdica: "Uma criança que não sabe
brincar é uma miniatura de velho, será um adulto que não saberá pensar".
140
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A origem etimológica da palavra lúdico é latina, vem de “ludus”, que tem por
tradução a palavra “Jogo” e significa brincar. Existem registros que a origem das
atividades lúdicas, tenham milhares de anos e suas primeiras referências são de
aproximadamente 3.000 a.C.
• Lúdico na idade média: na Idade Média, os jogos eram basicamente destinados aos
homens, uma vez que as mulheres e as crianças não eram consideradas cidadãos e,
por conseguinte, não participavam de todas as atividades organizadas pela sociedade.
A Idade Média foi um período muito importante quando surgiu o Renascimento e com
ele a inserção do lúdico na educação como estratégia importante para o processo de
ensino-aprendizagem.
• A partir do final do século XVIII começou a surgir uma nova percepção em relação à
criança. A sociedade passou a dar mais importância a ela. Paralelo a isso, também
houve uma mudança de postura dos adultos em relação aos jogos e brincadeiras
das crianças. Importante ressaltar que o século XVIII é marcado pela popularização
das brincadeiras e dos jogos educativos. Foi um período com o predomínio da
produção de bens rurais e teve o brincar coletivo como uma atividade comum a
adultos e crianças.
141
• O lúdico na idade contemporânea: as famílias operárias, mesmo apesar das
adversidades, preservavam a relação entre as pessoas através de festas, jogos e
brincadeiras comuns a todos. Não havia separação para crianças e adultos. Os jogos
e brincadeiras representavam um elo entre os indivíduos e sua comunidade.
142
AUTOATIVIDADE
1 Conforme Modesto (2009) na idade contemporânea, junto a era da industrialização
vem a ruptura do brinquedo. O brinquedo perde a sua essência. Sobre o que isso
significa, assinale a alternativa CORRETA:
2 Carneiro (1995, p. 66) explica que “todos possuem uma cultura lúdica, que nada mais
é do que um conjunto de significações”. Sobre a forma que a criança constrói sua
cultura lúdica, analise as proposições a seguir:
I- Brincando a criança constrói sua cultura lúdica, que são experiências lúdicas
vivenciadas e adquiridas através das interações sociais, começando pelas primeiras
brincadeiras enquanto bebê, participação em jogos com outros participantes, pela
observação de outras crianças e também pela manipulação maior de jogos.
II- Através de jogos e observação a cultura lúdica também é desenvolvida, tanto pela
interação com outras crianças, quanto por observar os mais velhos antes de se
inserir nas brincadeiras.
III- A cultura Lúdica é universal, encontrada da mesma forma em diversos lugares pelo
mundo todo.
143
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Apenas I está correta.
b) ( ) I, II e III estão corretas.
c) ( ) Apenas I e II estão corretas.
d) ( ) Nenhuma das alternativas está correta.
144
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
O LÚDICO E SEUS PRINCIPAIS TEÓRICOS
1 INTRODUÇÃO
São vários os estudiosos que buscam compreender o lúdico como meio para
o desenvolvimento e a aprendizagem na infância. São áreas variadas na Educação,
na Psicologia, na Biologia, na Neurociência. Dentre os estudiosos, abordaremos as
concepções de lúdico para os dois autores clássicos, Piaget e Vygotsky e a autora
mais contemporânea, Kishimoto.
A brincadeira para Piaget é vista como uma forma de a criança expressar sua
conduta, de forma livre e espontânea, por sua própria vontade. O jogo é visto como algo
natural da vida da criança. Jogo e brincadeira, para Piaget, são excelentes formas de
conhecer o mundo e entrar em contato com elementos de sua cultura (BACELAR, 2009).
145
A primeira conduta da brincadeira aparece na fase da inteligência
sensório-motora (zero−dois anos) e consiste na ativação “sem
nenhum resultado imediato”, mas por puro prazer funcional e fora de
qualquer necessidade adaptativa, de esquemas de ação já adquiridos
pela criança. Esse “jogo funcional” ou “de exercício” tem seu
percurso evolutivo, que Piaget declina em relação ao proceder do
desenvolvimento intelectual.
Em sua estreia, no segundo estágio da inteligência sensório-motora
(um−quatro meses), em correspondência com as reações circulares
primárias (repetição de um esquema de ação com base inata apenas
“acomodado”), o jogo funcional é o jogo com o corpo. A sucção
da língua ou das mãos, os movimentos dos dedos e das mãos, as
vocalizações são todos esquemas de ação que se tornam jogo no
momento que são ativados pelo puro prazer de realizá-lo (PIAGET,
1974, p. 129, grifo nosso).
No terceiro estágio (quatro−oito meses), com reações circulares
secundárias (os esquemas de ação repetidos não têm bases
“instintivas” e envolvem os objetos), o jogo funcional torna-se jogo
com objetos, ou seja, a aplicação de esquemas de ação sobre as
“coisas” por prazer funcional e pelo “prazer de ser causa” sem fins
de compreensão (por exemplo, bater em um objeto para se “divertir”,
para vê-lo balançar depois de ter executado a mesma ação para
“estudar” os efeitos) (PIAGET, 1974, p. 135).
No quarto estágio (oito−doze meses) e no quinto (doze−
dezoito meses), com reações circulares terciárias (repetições de
coordenações de ações, com distinção entre meios e fins: por
exemplo, como deslocar-se em meio a um obstáculo para pegar
finalmente um objeto), o jogo funcional se desenvolve como
“ativação de esquemas conhecidos em sucessão” (por exemplo,
agitar uma boneca, em seguida, juntar as mãos e agitá-las, depois
pegar um travesseiro, agitá-lo e na sequência castigá-lo) e a criação
de combinações fixas de gestos, “rituais” que se mantém no tempo,
por pura diversão (PIAGET, 1974, p. 137, grifo nosso).
O símbolo lúdico aparece totalmente no sexto estágio (dezoito−
vinte e quatro meses) com o “esquema simbólico”, isto é, quando a
criança ativa um ou mais esquemas de ação por brincadeira em relação
a objetos incomuns: por exemplo, apoia a cabeça e fecha seus olhos
sobre um bicho de pelúcia que lembra o seu travesseiro, revelando
uma clara distinção entre significante (os gestos esboçados no sono
sobre um objeto incomum presente) e significado (a representação
mental de sono de verdade em um travesseiro) (PIAGET, 1974, p. 139,
grifo nosso).
146
IMPORTANTE
A evolução do jogo inicia com o jogo de exercício, após segue com o jogo
simbólico até chegar no jogo de regras. O jogo simbólico significa que a
criança assimilou o mundo externo para o mundo interno. No jogo simbólico
“a criança vai além do jogo motor: há um sentimento de “como se”, “uma
assimilação fictícia de um objeto qualquer ao esquema, e exercício desse
sem acomodação” (BACELAR, 2009, p. 39).
Nesse contexto, Piaget (1971) explica que existem três formas básicas de
atividade lúdica que caracterizam a evolução do jogo na criança, de acordo com a fase
do desenvolvimento em que aparecem. Assim, o autor menciona três tipos de jogos, são
eles: os de exercício, os simbólicos e os de regras (BACELAR, 2009, p. 133). Vamos
conhecer?
147
sistemas lúdicos independentes e construtivos, como ocorre nos jogos simbólicos
e de regras. Quando os jogos de exercício sensório-motor se convertem em
combinações, transformam-se em construções, vão adquirindo regras mais claras
até chegarem aos jogos de regras (NEGRINE, 1994) (Figura 26).
148
Também cabe salientar que o jogo simbólico atinge seu ápice entre os dois e
os quatro anos, sendo que após essa idade começa a declinar. Conforme Piaget (1978),
existem três razões principais que explicam o declínio do simbolismo lúdico com a idade:
FONTE: <http://blogpaulamarchesini.blogspot.com/2016/05/tresgrandes-classes-de-jogos-
segundo.html>. Acesso em: 7 dez. 2021. 2021.
149
• Jogos de regra (a partir dos sete anos, até os doze aproximadamente):
Nessa fase que faz parte do período operatório, as crianças sentem necessidade
de que os jogos tenham regulamentação. De certa forma, o jogo de regras pressupõe
que a criança deseja saber como funciona a vida em grupo, como são as relações sociais
(SILVA, 2019) (Figura 26).
O professor, nesse contexto, tem os jogos de regras como um forte aliado, que
podem ser utilizados nas aulas como um importante recurso pedagógico. Através desse
tipo de jogo é possível explicar algum conteúdo específico, bem como desenvolver
atitudes que são necessárias não apenas para o momento do jogo, mas para a
aprendizagem da criança, pois através das regras a criança aprende a prestar mais
atenção, resolver problemas, cooperar com o grupo, interpretar e classificar.
150
Assim, é importante salientar que os jogos de regras possibilitam o
desenvolvimento cognitivo, social e afetivo, ou seja, há uma integração de funções e de
diversas áreas cerebrais (OLIVEIRA; BRENELLI, 2008).
Para Piaget (1975), o prazer que resulta do jogo motiva a aprendizagem, pois o jogo
possui estreita relação com a construção da inteligência. Cabe destacar que, através dos
jogos de regras, existem também ganhos importantes para a socialização e as relações
interpessoais entre os participantes. Veja o que diz Taboada (2009) a respeito:
FONTE: A autora
151
E, por fim, podemos destacar que os jogos de regras podem ser redutores de
tensões do grupo, permitindo a participação, integração negociada e, ao mesmo
tempo, a manutenção das tradições (PIAGET, 1975).
FONTE: A autora
152
3 O LÚDICO SEGUNDO LEV VYGOTSKY
Na perspectiva de Vygotsky (1998), o jogo infantil e as brincadeiras são
resultados de processos sociais. Segundo o autor, através do brincar a criança imagina
e interage, criando assim novas formas de relações sociais com outros sujeitos. Para
Vygotsky, a brincadeira, na fase pré-escola, é atividade de suma importância, porque
favorece a socialização do indivíduo e promove as mais importantes mudanças
no desenvolvimento psíquico e na personalidade da criança (UJIIE, 2008).
O autor enfatiza, ainda, a questão de o brinquedo não ser sempre uma atividade
que dá prazer, podendo existir outras atividades que agradem mais as crianças. Para
as crianças nem todas as atividades lúdicas são atraentes, por exemplo, os jogos
esportivos que podem causar um desprazer quando o resultado é negativo.
IMPORTANTE
O jogo da criança para Vygotsky deve ser analisado como processo e não
como resultado. Você já observou que as crianças quando começam a
praticar jogos competitivos (de ganhar ou perder), mesmo sabendo
por antecipação que não domina ainda o jogo e que seu adversário
é superior, que certamente perderá, ela participa mesmo assim do
jogo? Sabe por quê? Porque o fundamental é compartilhar do jogo.
Portanto a fonte de prazer está em participar e o resultado é apenas
decorrência. (NEGRINE, 1995).
153
Outro ponto relevante que o autor nos lembra é a questão de que, a criança muito
pequena tem a tendência de querer que seus desejos sejam realizados rapidamente,
porém, quando vai se desenvolvendo ela vai mudando seu comportamento. Segundo
Vygotsky (1984), isso é mais frequente no início da idade pré-escolar, e quando a
criança percebe que o seu desejo não poderá ser realizado imediatamente
acaba criando um mundo imaginário, onde seus desejos possam ser realizados
por meio do brinquedo.
“Encorajar a brincadeira de faz de conta pode ser uma das atividades mais
importantes na educação da primeira infância, especialmente para as crianças cujas
habilidades de faz de conta estão apenas emergindo” (CHLINDWEIN; LATERMAN;
PETERS, 2017, p. 58).
Outro ponto que merece ser ressaltado é que a brincadeira simbólica, além
de ser uma situação imaginária, também é uma atividade regida por regras. Você já
parou para pensar que o jogo simbólico mesmo sendo uma brincadeira de faz de
conta tem regras? Analise este exemplo: uma criança brinca de compras no mercado,
ela imagina ser sua mãe e começa a brincar conforme as regras de comportamento que
ela aprendeu de como deve ser o ato de comprar. Ela escolhe os produtos e antes de
levar para casa, passa cada um no “caixa” e paga por eles, ou seja, a representação da
criança tem origem a partir das regras de comportamento social.
Para ajudar nessa análise, elaboramos o quadro comparativo a seguir (Quadro 3).
155
QUADRO 3 – CONCEPÇÃO DE JOGO DE PIAGET E VYGOTSKY
FONTE: A autora
IMPORTANTE
"O lúdico liberta das amarras
da realidade" (VYGOTSKY, 2077, p.84).
156
4 O LÚDICO SEGUNDO TIZUKO KISHIMOTO
Tizuko Morchida Kishimoto é professora titular da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP). Kishimoto dá aulas na graduação e pós-graduação,
nas áreas do brinquedo, educação infantil e formação do professor. Também exerce
as funções de coordenadora do Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos
(Labrimp) e do Museu da Educação e do Brinquedo (MEB). É pedagoga, com doutorado e
pós-doutorado em educação, tem vários livros publicados sobre assuntos relacionados
a jogos, brincadeiras e educação infantil.
Para Kishimoto (2003), o jogo tem muitos aspectos para ser analisado, cada
jogo tem sua especifidade, portanto, é muito difícil estabelecer uma definição pronta e
acabada. Contudo, alerta que não se pode considerar tudo a mesma coisa: “não se pode
confundir jogo com brinquedo e brincadeira, os quais se relacionam diretamente com a
criança” (KISHIMOTO, 2016, p. 111).
157
Segundo Kishimoto (2003), o brincar deve ser a atividade principal do
cotidiano da criança, isso porque é um momento de dar a ela o poder de tomar decisões,
expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros e o mundo ao seu redor; de
repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade e identidade através
de diferentes linguagens; de usar o corpo, os sentidos os movimentos e de solucionar
ou criar problemas. Ao brincar, a criança experimenta o poder de explorar o
mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para compreendê-lo e
expressá-lo por meio de variadas linguagens. É no plano da imaginação que o brincar se
destaca pela mobilização dos múltiplos significados.
Outro ponto muito relevante que a Kishimoto (2011) aborda é em relação ao que é
realmente jogo. Conforme a autora, muitos professores confundem jogo com trabalho
escolar o que é um equívoco conforme sua concepção. É preciso considerar dois pontos
fundamentais: a livre escolha e o controle interno. Perceba o que ela explica:
IMPORTANTE
*Quanto à livre escolha – só se considera jogo infantil quando ele é
escolhido pela criança de forma espontânea, de outra forma, é considerado
trabalho ou ensino.
Assim, o brincar infantil deve ser livre, espontâneo, divertido, sem preocupação
em adquirir conhecimento, ou em ter um resultado, pois o foco é no processo do
jogo. Ao utilizar o jogo em sala de aula, o professor deve ter o cuidado para não o
transformar em trabalho. “Quando o professor não dá oportunidade de escolha e
ação sobre o jogo para a criança isso se torna um trabalho”, destaca Kishimoto
(2011, p. 30, grifo nosso).
DICA
Quer conhecer mais a educadora Tizuko Morchida
Kishimoto?
159
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• São vários os estudiosos que buscam compreender o lúdico como meio para o
desenvolvimento e a aprendizagem na infância. Dentre os estudiosos, abordamos as
concepções de lúdico para os dois autores clássicos, Piaget e Vygotsky e a autora
mais contemporânea, Kishimoto.
• Lúdico, segundo Piaget – a brincadeira na visão de Piaget é vista como uma forma
de a criança expressar sua conduta, de forma livre e espontânea, por sua própria
vontade. O jogo é visto como algo natural da vida da criança.
• Piaget (1971) explica que existem três formas básicas de atividade lúdica que
caracterizam a evolução do jogo na criança, de acordo com a fase do desenvolvimento
em que aparecem: os de exercício, os simbólicos e os de regras. A evolução do jogo
inicia com o jogo de exercício, após segue com o jogo simbólico até chegar no jogo
de regras.
• Outro ponto que merece ser ressaltado é que a brincadeira simbólica, além de ser
uma situação imaginária, também, é uma atividade regida por regras.
160
AUTOATIVIDADE
1 Segundo Piaget (1978), o processo de construção da consciência das regras pela
criança está dividido em três estágios. Diante disso, analise as sentenças a seguir:
2 Conforme Kishimoto (2011), muitos professores confundem jogo com trabalho escolar
o que é um equívoco conforme sua concepção. Para definir o que é jogo é preciso
considerar dois pontos fundamentais: a livre escolha e o controle interno. A partir do
exposto, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:
FONTE: KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira, e a educação. 14. ed. São Paulo: Editora
Cortez, 2011.
( ) Quanto à livre escolha – só se considera jogo infantil quando ele é escolhido pela
criança de forma espontânea, de outra forma, é considerado trabalho ou ensino.
( ) Quanto ao controle interno – quando o professor utiliza um jogo educativo em sala
de aula, de modo coercitivo, não oportuniza aos alunos liberdade e controle interno.
Predomina, nesse caso, o ensino, a direção do professor.
( ) O brincar infantil deve ser não deve ser livre, somente divertido, mas com
preocupações em adquirir conhecimento, ou em ter um resultado. Ao utilizar o jogo
em sala de aula o professor deve deixar claro os resultados a serem obtidos.
161
Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:
a) ( ) V – V – V.
b) ( ) F – V – F.
c) ( ) F – F – V.
d) ( ) V – V – F.
3 Piaget (1971) explica que existem três formas básicas de atividade lúdica que
caracterizam a evolução do jogo na criança, de acordo com a fase do desenvolvimento
em que aparecem. Assim, o autor menciona três tipos de jogos: os de exercício, os
simbólicos e os de regras. Com relação à idade adequada para cada tipo de jogos,
assinale a alternativa CORRETA:
4 Vygotsky (1991) enfatiza que o brinquedo nem sempre é uma atividade que dá prazer,
podendo existir outras atividades que agradem mais as crianças. Na concepção de
Vygotsky, quando um brinquedo não é prazeroso para uma criança?
5 Segundo Vygotsky (1998), uma situação imaginária também é uma atividade regida
por regras. Explique e exemplifique essa afirmativa do autor.
162
UNIDADE 2 TÓPICO 4 -
MUSICALIZAÇÃO E LUDICIDADE: A
IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NAS INFÂNCIAS
1 INTRODUÇÃO
“E se me derem a oportunidade de transformação, que eu seja
como uma música, capaz de despertar as mais diversas sensações,
nas mais diversas personalidades” (CYBELLE DE SOUZA).
É sobre essa temática que vamos nos debruçar neste Tópico 4. Vamos juntos?
Ótima leitura!
163
2 MUSICALIZAÇÃO NA ESCOLA
A relação da criança com os sons e com a música inicia-se muito antes do
seu nascimento. A criança entra em contato com os sons ainda no útero da mãe, pois,
durante a gestação ela já é exposta aos sons intrauterinos. A voz materna também
constitui material sonoro especial e referência afetiva para ela, daí a certeza de que a
música está presente desde antes do nascimento até a hora da morte do ser humano.
A música nos acompanha durante a vida inteira, seja através de uma cantiga
de ninar quando ainda um bebê, os “parabéns a você”, um hino de Igreja, uma música
tocada em um velório, enfim, algumas músicas marcam muito as nossas vidas, tanto as
experiências boas, como as ruins. As crianças gostam de acompanhar as músicas com
movimentos do corpo, tais como palmas, dança, pulos etc. E é a partir dessa relação
entre o gesto e o som que a criança, ouvindo, cantando, imitando, dançando, constrói
seu conhecimento sobre a música.
Suzuki (1994) explica que todos nós temos potencial para falar e fazer música.
Entretanto, a criança não vai aprender sozinha, ela precisa do adulto estimulando e
oferecendo um terreno fértil para essa aquisição. O autor afirma que a música precisa
ser importante para os adultos que criam a criança, pois, eles serão os produtores da
musicalização dos pequenos.
164
De acordo com os documentos do Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil (RCNEI) a música representa:
Houaiss apud Bréscia (2003, p. 25) acrescenta, ao dizer que a música é a “[...]
combinação harmoniosa e expressiva de sons e como a arte de se exprimir por meio de
sons, seguindo regras variáveis conforme a época, a civilização etc.”
Conforme Med (1996, p. 11, 20) a música é constituída pelas seguintes partes:
Olhe que interessante o que Willems apud Gainza (1988, p. 36) explica:
165
FIGURA 27 – BENEFÍCIOS MÚSICA
166
IMPORTANTE
A musicalização é um processo de construção do conhecimento,
que tem como objetivo despertar e desenvolver o gosto musical,
favorecendo o desenvolvimento da sensibilidade, criatividade,
senso rítmico, do prazer de ouvir música, da imaginação, memória,
concentração, atenção, respeito ao próximo, da socialização e
afetividade, também contribuindo para uma efetiva consciência
corporal e de movimentação (BRÉSCIA, 2003).
Outra questão que vale salientar é que quando nos referimos à música ou
musicalização na escola, muitas pessoas já relacionam com um “dom”, talento, algo que
as pessoas ganham ao nascer. Essa ideia exclui a maior parte da população de aprender
música, sugerindo que apenas podem fazer música quem tem esse talento.
DICA
Reportagem muito interessante e inspiradora sobre os benefícios da musicalização
para o desenvolvimento da criança (JORNAL FUTURA – CANAL FUTURA, 2019). Só entrar
no link: https://www.youtube.com/watch?v=y2XL1B6Xgyw.
167
Considerando a importância do lúdico e da musicalização na educação
infantil vamos destacar alguns olhares e perspectivas de autores importantes para
esse processo.
Fonterrada (2008) também alerta que não bastam apenas leis bem elaboradas
para a musicalização na escola, são necessários professores preparados, motivados,
com clareza do que é a musicalização e sua importância para as crianças. Outra questão
que a autora aponta é em relação a infraestrutura das escolas, pois, sabe-se da realidade
de muitas escolas no Brasil.
Então, por mais que não tenhamos um espaço físico adequado, nem os
equipamentos necessários, podemos usar da criatividade, de muito lúdico,
para adaptar os materiais, ter empenho, estudar bastante, fazer um bom
planejamento com objetivos claros, para que seja possível realizar aulas de
música de qualidade aos alunos de qualquer escola brasileira.
FONTE: A autora
169
É necessário que a musicalização aconteça efetivamente nas escolas e que não
seja mais vista como uma atividade extracurricular, “útil apenas para a manutenção de
rituais cristalizados no contexto escolar (dia das Mães, Páscoa, dia das Crianças, e assim
por diante) (FIGUEIREDO, 2005, p. 28).
Fonterrada (2008, p. 10) alerta que é fundamental ter clareza dos objetivos que
se deseja alcançar através da música.
170
O professor que realmente estiver disposto a trabalhar com a música na
escola deverá ter consciência de que o primeiro passo é entender da sua importância,
compreender a música como uma linguagem, se inteirar do assunto, buscando
informações atualizadas do que diz a legislação a respeito, bibliografias de qualidade e
exemplos práticos e lúdicos do que está sendo feito nas escolas e dando certo quanto
à musicalização na educação infantil.
Para Figueiredo (2005) a música está sendo trabalhada nas escolas de forma
superficial, os professores não se sentem preparados para a musicalização. E assim,
como os demais componentes do currículo, trabalhar com a linguagem musical
requer um planejamento que envolve: organização do tempo, espaço, fontes sonoras,
conteúdos, atividades do que se quer trabalhar, o que “exige do docente uma prática
com intencionalidade pedagógica, por meio de um planejamento específico, de acordo
com os níveis e faixa etária que se pretende trabalhar” (PEDROZA, 2019, p. 22).
171
Outro ponto importante relacionado à musicalização na educação infantil e que
merece muita atenção é o que Pedroza (2019) aborda sobre o repertório musical:
É importante que o professor valorize o repertório musical da criança, pois, ela leva
para a escola o repertório que faz parte do seu mundo, o que vivencia na sua casa.
Isso não significa fechar os ouvidos para qualquer tipo de música, principalmente se na
letra tiver alguma apologia ao crime, pornografia etc. O professor precisa analisar os
discursos presentes em todas as músicas trabalhadas na escola. Entretanto, não pode
julgar o estilo musical da criança, dizendo que ela não deve ouvir esse ou aquele estilo,
ou dizendo que essa é boa ou não.
172
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL, 1998, p. 58)
traz algumas ideias de como trabalhar a música na escola: “[...] as canções de ninar
tradicionais, os brinquedos cantados e rítmicos, as rodas e cirandas, os jogos com
movimentos, as brincadeiras com palmas e gestos sonoros corporais, assim como
outras produções do acervo cultural infantil [...]”. Além dessas aqui citadas, o RCNEI
sugere muitas outras atividades simples e lúdicas que desenvolvem a linguagem
musical, como: brincadeiras que envolvam os sons do ambiente, de brinquedos, objetos
ou instrumentos musicais; jogos de imitação de sons vocais e gestos, rodas cantadas,
“jogos de direção sonora para percepção da direção de uma fonte sonora; e jogos de
memória, de improvisação etc.” (BRASIL, 1998, p. 72).
Cabe salientar que é muito importante deixar a criança sentir a música e expressar
seus sentimentos através do seu corpo, dos seus movimentos, de forma independente,
voluntária e improvisada. “A criança comunica-se principalmente através do corpo e,
cantando, ela é ela mesma, ela é seu próprio instrumento” (ROSA, 1990, p. 22).
O RCNEI alerta do cuidado que o professor precisa ter para que jogos e
brinquedos não se tornem uma imitação mecânica e repetitiva que, muitas vezes,
causam aversão na criança (BRASIL, 1998). Permita que as crianças “criem gestos, que
observem e imitem os colegas e que, principalmente, concentrem-se na interpretação
da canção, sem a obrigação de fazer gestos comandados durante o tempo todo” [...]
(BRITO, 2003, p. 93).
173
E por fim:
Até que se descubra o real papel da música, até que cada indivíduo,
em particular, e a sociedade, como um todo, se convençam de que
ela é uma parte necessária, e não periférica, da cultura humana, até
que se compreenda que seu valor é fundamental, ela terá dificuldades
para ocupar um lugar proeminente no sistema educacional
(FONTERRADA, 2008, p. 349).
Segundo Melchior (2013, p. 64) “[...] a música deve ser entendida primeiramente
como uma linguagem, um veículo para expressar sentimentos e emoções das mais
variadas”. A música comunica emoções, sensações, sentidos, estando presente nas
mais diversas situações do cotidiano humano. Gonçalvez (2009) ressalta a importância
da compreensão da música enquanto linguagem e forma de conhecimento, pois através
dela é possível perceber a criança não como um ser estático e sim como alguém que
interage ativamente com o meio e que nesse processo organiza seus pensamentos.
É com base no dia a dia com a música na sala de aula, com as atividades
desenvolvidas pelos professores no cotidiano da Educação Infantil e
das experiências pessoais com a música, que nascerá uma prática
pedagógica que contemple a música como elemento importante que
venha a colaborar com o trabalho e o desenvolvimento da criança
(GODOI, 2011, p. 32).
A música precisa ser entendida como uma linguagem, portanto, precisa ser
sentida, vivenciada sem estar condicionada a outras áreas de conhecimento ou projetos
escolares. A música tem um grande potencial como estratégia de ensino, podendo
auxiliar a aprendizagem de outras disciplinas (ROMANELLI, 2009). “Ela participa da
formação artística, cultural e estética das crianças e, nesse horizonte, defendo que a
linguagem musical necessita ser apreciada, fruída e vivenciada em suas diversas
vertentes estéticas” (SPOHR, 2016, p. 24, grifo nosso).
174
NOTA
Conforme o Dicionário On-line Português (2021) fruir significa desfrutar;
apreciar, deleitar-se com alguma coisa; fazer o uso de alguma coisa com prazer.
FONTE: <https://www.dicio.com.br/fruir/>. Acesso em: 7 dez. 2021.
FONTE: A autora
• Aprendizagem – de acordo com Gainza (1988, p. 34) apud Carvalho (2006, p. 4), “a
aprendizagem se concretiza com a aquisição – consciente ou não – de uma série de
capacidades ou destrezas no campo sensorial, motor, afetivo e mental”.
• Socialização – “é na socialização que a criança encontra o outro, o mundo do
outro, e aprende a conviver, a respeitar, a repartir. É um momento de orientação das
vivências, que refletirão por toda a vida” (CARVALHO, 2006, p. 4).
• Afetividade – Gainza (1988, p. 27) apud Carvalho (2006, p. 4) nos diz que “para
Piaget o afeto é o principal impulso motivador dos processos de desenvolvimento
mental da criança”.
175
• Expressão – como manifestação das ideias, dos sentimentos, nos dando voz,
movimento. Segundo Gainza (1988, p. 28) apud Carvalho (2006, p. 4), todo o processo
de recepção leva a uma resposta ativa do sujeito, ou seja, “quando ele adquire a
capacidade de emitir respostas musicais face aos estímulos sonoros é que se
completa o processo de musicalização”.
176
SUGESTÃO
Se você já é professor, como acontece a musicalização na sua escola?
Existe um professor de música? Conte para nós da sua experiência! Se
você não é, que tal fazer uma pesquisa em uma escola de educação infantil
de sua preferência sobre o processo de musicalização, questionando as duas
perguntas anteriores.
177
LEITURA
COMPLEMENTAR
OUVINDO AS MÚSICAS DAS CULTURAS DE PARES: UMA PESQUISA COM
CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Kelly Werle
Cláudia Ribeiro Bellochio
178
As crianças apreciavam muito cantar e explorar sonoridades enquanto
estavam todas sentadas em volta da mesa para lancharem, era um momento de
partilha, de troca, de diálogo em que todos da turma se sentavam próximos e ouviam-
se, enxergavam-se uns aos outros, partilhando um ritual, cujo significado estava além
de apenas realizar o lanche.
Nesse contexto, o fazer musical nas culturas de pares da infância está relacionado
a relações de grupo, amizade, poder, liderança e proteção do espaço interativo, que
dizem respeito às diferentes formas como as crianças se relacionam e constituem pares
para criação de suas brincadeiras e construções. Fazer música com alguém, para as
crianças também assume um sentido de ser amigo de alguém e, portanto, partilhar
rotinas e rituais cotidianos juntos.
Assim, as culturas da infância são constituídas por meio das produções culturais
dos adultos para as crianças e das produções culturais geradas pelas próprias crianças
com seus pares. Nesse sentido, as músicas nas culturas de pares são resultantes dos
processos interativos intra e intergeracionais (SARMENTO, 2003), de modo que as
crianças não apenas reproduzem as músicas as quais tem contato, mas recriam as
experiências musicais vivenciadas, exercendo o processo de reprodução interpretativa
(CORSARO, 2011).
179
Em suma, a criança faz música e exerce seu brincar musical como uma extensão
da atividade/brincadeira que está fazendo. De modo que, a experiência com a música
na infância relaciona-se às diferentes formas como as crianças agem e interagem
por meio dos movimentos dos seus próprios corpos em contato com os diferentes
espaços, materiais, nas relações que estabelecem com seus pares, “corpos lançados
à sensibilidade de soar” (LINO, 2010, p. 99). Assim, a música faz parte do ser e estar
da criança no mundo, de sua existência, com seus muitos sons, cores, movimentos e,
também, silêncios.
FONTE: Adaptada de BELLOCHIO, C. R.; WERLE, K. Ouvindo as músicas das culturas de pares:
uma pesquisa com crianças da educação infantil. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente
Prudente, SP, v. 28, n. 3, p. 247-261, set/dez, 2017. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/
index.php/Nuances/article/view/4538. Acesso em: 11 nov. 2021.
180
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Por via da música, a criança descobre o mundo através dos seus sentidos e tem a
possibilidade de se desenvolver melhor globalmente, aprendendo com mais facilidade.
• O professor da educação infantil precisa trabalhar a musicalização para evitar a falsa ideia
de que música não é para todos. Assim, é necessário que a musicalização aconteça,
efetivamente, nas escolas e que não seja mais vista como uma atividade extracurricular.
• A Lei nº 11.769, que foi sancionada em 18 de agosto de 2008, determina que a música
seja obrigatória em toda a Educação Básica, não com o objetivo de formar músicos,
mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos.
181
AUTOATIVIDADE
1 A música precisa ser entendida como uma linguagem, “ela participa da formação
artística, cultural e estética das crianças e, nesse horizonte, a linguagem musical
necessita ser apreciada, fruída e vivenciada em suas diversas vertentes estéticas”
(SPOHR, 2016, p. 24). Sobre o que significa fruir a música, assinale a resposta CORRETA:
a) ( ) Para efeitos de recurso lúdico não interessa se a pessoa tem ou não esse
dom, porque na educação a música é considerada uma importante forma de
linguagem e aprendizagem.
b) ( ) Independente da atividade lúdica relacionada, é importante que esse dom
esteja presente na criança, pois assim facilita o desenvolvimento da linguagem
e aprendizagem.
c) ( ) Não é necessário que a pessoa tenha esse dom, no entanto é de grande
importância, pois o que mais vale nessa atividade lúdica, é que no resultado haja
uma boa qualidade musical.
d) ( ) Não interessa se a pessoa tem ou não esse dom, visto que a intenção é apenas
que a criança interaja com outras pessoas, não tendo outro objetivo específico.
182
3 Ao propor atividades de música na Educação Infantil, a escola está contribuindo com
diferentes facetas do desenvolvimento infantil (GIRARDI, 2004). Sobre os benefícios
da musicalização para a educação infantil, assinale a alternativa CORRETA:
FONTE: GIRARDI, G. Nova Escola, 2004. Música para aprender e se divertir. São Paulo, Jun. 2004.
Disponível em: www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 16 maio 2021.
a) ( ) Ajuda para que o aluno tenha melhor afinidade com artes em geral, fazendo com
que desenvolva um senso artístico muito mais aguçado.
b) ( ) Desenvolve a independência do aluno, em que aprenderá a escolher as músicas
de sua preferência.
c) ( ) Ocorre o desenvolvimento cognitivo ou linguístico ajudando a desenvolver os
sentidos e coordenação motora; psicomotor, pois o ritmo ajuda no equilíbrio do
sistema nervoso; e socioafetivo, pois ajuda a liberar as emoções, dando uma
sensação de segurança.
d) ( ) Ocorre o desenvolvimento artístico, psicomotor e socioafetivo do aluno.
4 Os gostos musicais são muito particulares e refletem o meio social, a cultura em que
a criança está inserida. Nesse contexto, Pedroza (2019) traz um tema para discussão
que merece muita atenção na musicalização da educação infantil: o repertório
musical. Como deve ser a postura do professor diante do estilo musical que as
crianças levam para a sala de aula?
183
REFERÊNCIAS
ABDALLA, M. F. B. Da formação dos professores de Música. Jornal da ABRAORFF,
Ano 5, n. 5, p. 7, dez. 2010.
ARIÈS, P. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
BELLOCHIO, C. R.; WERLE, K. Ouvindo as músicas das culturas de pares: uma pesquisa
com crianças da educação infantil. Nuances: estudos sobre Educação, Presidente
Prudente, SP, v. 28, n. 3, p. 247-261, set/dez, 2017. Disponível em: https://revista.fct.
unesp.br/index.php/Nuances/article/view/4538. Acesso em: 11 nov. 2021.
184
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília:
Ministério da Educação, 2018.
185
CHIARELLI. L. K. M. A música como meio de desenvolver a inteligência e a integração
do ser. Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Revista Recre@rte, n. 3, Jun. 2005.
ISSN: 1699-1834.
FORTUNA, T. R. Por uma brinquedoteca “suficientemente boa” Alguns valores para que
as brinquedotecas da América Latina nos encontrem no futuro. In: OLIVEIRA, V. B. de.
(org.) Brinquedoteca Uma Visão Internacional. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. p.162-182.
FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL. Fmcsv, 2021. Guia de brincadeiras para
famílias com crianças do nascimento aos 6 anos. Disponível em: https://www.fmcsv.
org.br/pt-BR/guia-atividades-familias-criancas-0-6-anos/. Acesso em: 27 nov. 2021.
GIRARDI, G. Nova Escola, 2004. Música para aprender e se divertir. São Paulo, Jun.
2004. Disponível em: www.revistaescola.abril.com.br. Acesso em: 16 maio 2021.
186
GODOI, L. R. A importância da música da educação infantil. 2011, 36 p. TCC
(Graduação em Pedagogia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.
187
KISHIMOTO, T. M.; ONO, A. T. Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca. Pro-
Posições, [s.l.], v. 19, n. 3, p. 57, set./dez. 2008b. Disponível em: https://www.scielo.
br/j/pp/a/XN7yv7jS8vTq99xLhRC7vtJ/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 23 out. 2021.
ABRA, J. Tudo o que você precisa saber sobre musicalização na infância. Blog
Leiturinha, 2019. Disponível em: https://leiturinha.com.br/blog/musicalizacao-na-
infancia/. Acesso em: 7 nov. 2021.
MELCHIOR, C. V. (org). Vamos construir uma escola? Ideias para atuar sem sala de
aula. Ijuí: ed. Unijuí, 2013.
188
MONTEIRO, C. M. V. R.; COLL DELGADO, A. C. Crianças, Brincar, Culturas da Infância
e Cultura Lúdica: uma análise dos estudos da infância. Saber & Educar, [s.l.], n. 19,
p. 106-115, dez. 2014. Disponível em: http://revista.esepf.pt/index.php/sabereducar/
article/view/80/56. Acesso em: 10 Nov. 2021.
189
PESSANHA, M. A revista da Mulher, 2015. As antigas brincadeiras de crianças
ainda têm lugar na era digital? Disponível em: https://www.arevistadamulher.com.br/
faq/23095-as-antigas-brincadeiras-de-criancas-ainda-tem-lugar-na-era-digital.
Acesso em: 19 out. 2021.
ROMANELLI, G. A música que soa na escola: estudo etnográfico nas séries iniciais do
ensino fundamental. Educar em Revista, Curitiba, n. 34. 2009.
SNYDERS, G. A escola pode ensinar as alegras da música? 3. ed. São Paulo: Corte, 1992.
190
SILVA, D.F. da. A Importância da Brincadeira na Educação Infantil. 2019, 48 p.
Monografia (Especialista em Psicopedagogia educacional) AVM – Faculdade Integrada
Pós-Graduação Lato Sensu, 2019. Disponível em: http://www.avm.edu.br/docpdf/
monografias_publicadas/K238624.pdf. Acesso em: 15 ago. 2021.
191
TEIXEIRA, S. R. de O. Jogos, brinquedos, brincadeira e brinquedoteca:
implicações no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Wak
Editora, 2012.
192
UNIDADE 3 —
MUSICALIZAÇÃO E
EDUCAÇÃO INFANTIL: DA
TEORIA À PRÁTICA
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:
• analisar a evolução das legislações sobre o ensino de música com destaque para a BNCC;
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.
CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.
193
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 3!
Acesse o
QR Code abaixo:
194
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL E
A VIVÊNCIA DO CANTO ORFEÔNICO
NO BRASIL
1 INTRODUÇÃO
É impossível saber quando surgiu a música na humanidade? Conforme
Mendonça (2018), atualmente, podemos dividir a história da música em períodos
específicos, porém, cabe salientar que é um processo difícil, uma vez que a passagem
de um período para o outro é lenta, gradual e com sobreposição.
Neste tópico, vamos viajar no tempo e traçar uma linha cronológica apresentando
como se deu a evolução da música desde a era primitiva até os tempos atuais. Na
sequência, vamos compreender como aconteceu a evolução da educação musical no
Brasil, conhecendo a disciplina de Canto orfeônico, um projeto de educação musical
que tinha como objetivo difundir uma cultura genuinamente brasileira para todo o
território nacional. Nesse momento, a música passou oficialmente a integrar as políticas
de educação pública, em nível federal.
Quer saber mais? Então vamos começar a montar a nossa orquestra; cada
tópico foi regido com muito amor e respeito pela musicalização, pela educação infantil
e por você, caro acadêmico.
2 A HISTÓRIA DA MÚSICA
A separação dos períodos musicais segue a uma evolução histórica: Música
Pré-histórica (das origens do homem a 4000 a.C.); Música da Antiguidade (4000 a.C.
a 476 d.C.); Música Medieval (476 a 1453); Música Renascentista (1453 a 1600); Música
Barroca (1600 a 1750); Música Clássica (1750 a 1810); Música Romântica (1810 a 1900);
Música Moderna (1900 em diante) (MENUHIN, 2015, p. 2).
195
Primitiva (relativa aos povos primitivos) – que compreende os
inícios das atividades laborais de adaptação da natureza as suas
necessidades, realizadas pelo homem pré-histórico.
Cultural (relativa ao domínio de técnicas rudimentares para
manipulação dos metais) – que compreende a chamada música
antiga realizada por povos denominados de média cultura tais como:
caçadores, agricultores, pastores etc. E os de alta cultura como os
chineses, indianos, egípcios e gregos.
Científico-cultural – que compreende os períodos medieval,
renascença, barroco, clássico, romântico, pós-romântico,
nacionalismo e contemporâneo (MOURÃO, 2017, p. 9, grifo nosso).
NOTA
Apesar de utilizarmos a divisão do contexto histórico da música de Mourão
(2017), a fim de estudos, a divisão mais utilizada da história da música é Música
Pré-histórica; Música da Antiguidade; Música Medieval; Música Renascentista;
Música Barroca; Música Clássica; Música Romântica; Música Moderna.
Na pré-história a música era usada para várias situações, por exemplo: “para
celebrar a caça, para realizar rituais de agradecimento, para aplacar a fúria ou fazer
pedidos aos deuses. Nesse sentido a música era usada como um meio de comunicação
com o divino” (FONTOURA, 2019, s.p.).
196
Pesquisadores americanos e canadenses descobriram em 1998, no noroeste
da Eslovênia (Europa), no sítio arqueológico de Divje Babe, uma flauta primitiva
confeccionada com pedaço de fêmur de uma espécie de urso, com quatro orifícios
(Figura 1). A flauta recebeu o nome de “flauta de Divje Babe”. A idade aproximada da
flauta é de 45 mil anos, estabelecida a partir da análise de cinco dentes de um urso das
cavernas encontrados perto da flauta. “O Homem de Neandertal é o provável criador
do mais antigo instrumento musical já descoberto no mundo” (FREDERICO, 1999
apud MOURÃO, 2017, p. 9, grifo nosso).
197
Cordófonos – têm cordas esticadas. Podiam ser de tripas de macaco
ou de baleia.
Aerófonos – a Flauta (de cana, osso humano ou chifre de
veado) e a Trombeta (feita de madeira e uma concha de caracol
como boquilha) (SAMPAIO, 2016, p. 42, grifo nosso).
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 2, nós estudaremos as características do som e da música,
nos aprofundando na classificação dos instrumentos musicais. Muito
conhecimento pela frente!
198
Dos povos antigos, os que mais apresentam registros históricos são os egípcios,
que deixaram desenhos, afrescos e esculturas de instrumentos musicais e tocadores.
Já os gregos foram os povos primitivos que mais se destacaram na produção dos
valores estéticos da nossa sociedade atual no mundo ocidental.
INTERESSANTE
O afresco é uma técnica de pintura em paredes ou tetos de gesso ou
revestidas com argamassa ainda fresca, e, geralmente, assumem a forma de
mural. Muitas vezes, inclusive, o termo é utilizado para referir-se a pintura
mural em geral. Por conta do estado fresco do gesso ou da argamassa, os
pigmentos precisam ser diluídos apenas em água e, conforme a superfície
pintada for secando, secam também o desenho, que passa a integrar a
superfície, e a fixação é bastante duradoura. O afresco foi utilizado na arte
medieval, renascentista e barroca (PORTO, 2021, s.p.).
FONTE: <http://www.todosinstrumentosmusicais.com.br/conheca-o-instrumento-citara.html>.
Acesso em: 30 mar. 2022.
NOTA
Os caldeus eram povos semitas que viviam no sul da Mesopotâmia à
margem oriental do rio Eufrates. Essa região era conhecida como Caldeia,
atual Iraque, Turquia e Síria. Na Bíblia são citados como os destruidores
da Tearra Sagrada, Jerusalém, a mando do rei Nabucodonosor. Era um
povo politeísta, cultuando diversos deuses relacionados aos animais e à
natureza (BUNDE, 2021).
200
Na Ásia, há 3.000 a.C., a música se desenvolveu expressivamente nas culturas
chinesa e indiana fortemente ligada à espiritualidade. Os chineses acreditavam no
poder mágico da música, como um espelho fiel da ordem universal. A cítara era o
instrumento mais utilizado pelos músicos chineses, ele era formado por um conjunto
de flautas e percussão. O sistema musical era a escala pentatônica (cinco tons). Na
Índia, por volta de 800 anos a.C., consideravam a música como vital. “Possuíam uma
música sistematizada em tons e semitons, e não utilizavam notas musicais, cujo sistema
denominava-se “ragas”, que permitiam o músico utilizar uma nota e exigia que omitisse
outra” (ARAÚJO, 2006, s.p.).
NOTA
A cultura musical na Grécia Antiga funcionava como uma espécie de elo
entre os homens e as divindades. “Tanto que a palavra música provém do
termo grego mousikē, que significa a arte das musas. As musas eram as
deusas que guiavam e inspiravam as ciências e as artes” (AIDAR, 2021, s.p.).
201
FIGURA 4 – APOLO E SUA CÍTARA
A música era usada pelos gregos nos rituais religiosos, nos jogos olímpicos,
nas festas cívicas e nas atividades de lazer através de uma variedade de instrumentos
musicais bem interessantes (Figura 5). Importante considerar que os gregos foram
fundamentais para a arte e a cultura ocidental, desenvolvendo, também, a arte da
dramaturgia, da dança, da escultura e da arquitetura.
202
FIGURA 5 – INSTRUMENTOS MUSICAIS DA ANTIGA GRÉCIA
Não podemos sair da história da música antiga, sem falar na referência romana.
Conforme Aidar (2021), na Roma Antiga, muitas manifestações artísticas foram
heranças da cultura grega, como a pintura, a escultura e a música. “Entretanto, diferente
dos gregos, os romanos usufruíam dessa arte de maneira mais ampla e cotidiana”
(AIDAR, 2021, s.p.).
203
A Salmodia (canto de Salmos) foi um canto desse período, considerada o mais
antigo canto cristão. Era um “canto monótono e silábico que se recitava sobre uma
mesma nota” (FREDERICO, 1999, p. 59 apud MOURÃO, 2017, p. 16). A música religiosa
dessa época era conhecida como Cantochão, “uma monotonia rítmica imposta pelo
fato de, ainda, não haver uma forma de escrita que se pudesse registrar as durações de
notas, deixando o Canto Planus, canto chão” (MOURÃO, 2017, p. 16).
DICA
Vamos conhecer um cantochão?! Assista o Benedicamus
Domino em latim, que traduzindo para português significa
“Bendito seja o Senhor”. É lindo demais! Basta ler o QR Code
ou entrar no link: https://www.youtube.com/watch?v=_
BxXwDvMAVE.
BENEDICAMUS DOMINO
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=_BxXwDvMAVE>.
Acesso em: 30 mar. 2022.
204
DICA
Conheça o Canto Gregoriano. Vale a pena conferir! Só ler o
QR Code a seguir ou entrar no link do YouTube: https://www.
youtube.com/watch?v=RfhiNUKVUD8.
Você já assistiu alguma ópera? Depois de conhecer mais sobre esse tipo de gênero
artístico que tal conhecer a Ópera Orfeu?! É um lindo e emocionante espetáculo, vale
muito a pena assistir! Basta ler o QR Code a seguir, ou entrar no link: https://www.youtube.
com/watch?v=0mD16EVxNOM.
Ópera Orfeu no YouTube
FONTE: <https://www.youtube.com/
watch?v=0mD16EVxNOM>. Acesso em: 31 mar. 2022.
DICA
Quer saber mais sobre a origem da ópera?
Então é só ouvir o podcast “Conheça algumas
características da ópera, no Caderno de Música da
Rádio MEC”. Basta ler o QR Code a seguir ou entrar
neste link: https://radios.ebc.com.br/caderno-
de-musica/2019/08/conheca-mais-algumas-
caracteristicas-da-opera-no-caderno-de-musica.
207
E a partir do desenvolvimento da orquestra surge, então, o Concerto, um
novo estilo musical. “A palavra concerto tanto pode ter vindo do italiano, no sentido de
"consonância", como também ter guardado seu significado original latino, isto é, "disputa"
(BENNETTI, 1986, p. 52). Considerando o sentido de oposição e contraste acentuado,
foi criado o concerto grosso barroco, tendo como referência os compositores Corelli,
Handel e Bach. O concerto grosso, foi uma das formas mais utilizadas na música barroca.
DICA
Ficou interessado na música barroca?! Quer conhecer a obra
de Johann Sebastian Bach? Então te convido a ouvir o concerto
de violoncelo de Bach. Basta ler o QR Code a seguir ou entrar
no link da imagem do YouTube.
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=xzN6VwiZYMo>.
Acesso em: 31 mar. 2022.
Entre o século XVIII até o início do século XIX, destaca-se o período Clássico
– Classicismo (música clássica), que corresponde ao período em que a música se
torna mais objetiva, equilibrada e com clareza formal, conceitos já utilizados na Grécia
Antiga. Importante ressaltar que “a ópera do período Clássico, começa a limitar as
extravagâncias a que a ópera chegou no período Barroco” (BENNETT, 1986, p. 53).
208
A palavra “clássico” tem origem latina – classicus, – que significa cidadão da
mais alta classe, de estilo galante. “Com certeza, o século XVIII abriu as portas para o
que viria ser a sociedade como a conhecemos atualmente” (MOURÃO, 2017, p. 29).
DICA
Você quer saber mais sobre esses dois ícones da música
clássica, semelhanças e diferenças? Então dá uma espiada
no canal “Lord Music Academy”! Basta ler o QR Coder
a seguir ou entrar no link: https://www.youtube.com/
watch?v=ExBASbx6U0s&list=RDCMUC6_0TodTfmjbDA9m_
rjGiIw&start_radio=1.
209
A primeira sugestão é do Mozart, intitulada “Eine kleine Nachtmusik” (Pequena
Serenata Noturna), basta entrar no link: https://www.youtube.com/watch?time_
continue=46&v=CNRQ-DW7064&feature=emb_logo.
INTERESSANTE
Existem várias teorias e estudos sobre os benefícios que a música clássica traz para a
saúde. Já ouviram falar no famoso Efeito Mozart? Conforme essa teoria a música clássica
estimula a inteligência.
O assim chamado “Efeito Mozart”, veio a público em 1993, em um artigo publicado na revista
científica Nature. Nele se informava que uma equipe de neurobiologistas da Universidade
da Califórnia afirmava que, ao se proporcionar dez minutos diários de audição de sonatas
de Mozart a estudantes, eles demonstravam uma melhora evidente nas suas capacidades
de raciocínio espaço-temporal. A notícia fez furor e correu o mundo, estimulando Don
Campbell, um professor de música do Texas, a capitalizar a ideia e escrever um best-seller,
The Mozart Effect (1997).
Hoje os estudos ampliaram e afirmam que ouvir boa música, seja de Mozart
ou outro artista, estimula a produção e a liberação de dopamina, e isso
melhora as funções cognitivas e psíquicas. Então basta que a música seja
agradável aos ouvidos de quem a escuta.
FONTE: <https://www.brasil247.com/oasis/efeito-mozart-ouvir-boa-musica-
faz-bem-ao-cerebro-e-ao-coracao>. Acesso em: 31 mar. 2022.
210
algum poema ou romance que lera. Imaginação, fantasia e espírito
de aventura são ingredientes fundamentais do estilo romântico.
Dentre as muitas ideias que exerceram enorme fascínio sobre os
compositores românticos, temos: as terras exóticas e o passado
distante; os sonhos, a noite e o luar; os rios, lagos e florestas; a
natureza e as estações; as alegrias e tristezas do amor (especialmente
o dos jovens); as lendas e os contos de fadas; o mistério, a magia e o
sobrenatural (BENNETTI, 1986, p. 57).
INTERESSANTE
Você conhece alguma música desse período com algum desses
compositores citados?
Não lembrou da música? Então é só ler o QR Code a seguir ou entrar no link: https://www.
youtube.com/watch?v=_mVW8tgGY_w.
211
Um outro exemplo é a Sonata Nº 2 de Frédéric Chopin,
popularmente conhecida como Marcha Fúnebre, apesar de
“arrepiar a alma” é uma das músicas eruditas mais conhecidas.
Você já deve ter ouvida essa música na trilha sonora de alguma
cena triste de um filme. Vamos te ajudar a lembrar da música,
é só ler o QR Code a seguir ou entrar no link: https://www.
youtube.com/watch?v=hZY5DBmgC_A.
FONTE: <https://www.youtube.com/watch?v=hZY5DBmgC_A>.
Acesso em: 31 mar. 2022.
212
Já no final do século XIX, em meio a uma diversidade de manifestações e
rupturas com a tradição musical, surge a Música Contemporânea que segue até os
dias atuais. Chegamos no século XX, e aqui a música ganha nova roupagem e uma
grande transformação vai surgindo, principalmente, com o advento do rádio.
A Música no Século XX resultou na criação de novos sons, foi “um dos períodos
mais empolgantes da história da música. À medida que aparece uma nova tendência,
um novo rótulo surge para defini-la, daí resultando [...] em nomes terminados em "ismos"
e "dades" (BENNETTI, 1986, p. 64).
213
“Hoje a música é a forma de arte mais consumida no mundo e é conhecida
por sua diversidade, quebra de rótulos e formação cultural” (BENNETTI, 1986, p. 65).
Acompanhamos as muitas transformações que a música passou desde o período
medieval ao atual. Já não lembra mais a ordem cronológica e os nomes de cada período?
Vamos rever!? O autor Bennetti (1986) organizou um quadro resumo sinóptico, acredito
que vai ajudar muito (Quadro 1).
214
Hino de São João
Ut queant laxis
Resonare fibris
Mira gestorum
Famuli tuorum
Solve polluti
Labii reatum
Sancte Iohannes
Traduzindo para nossa língua, a canção faz uma homenagem ao santo católico:
“Para que teus servos / Possam, das entranhas / Flautas ressoar / Teus feitos admiráveis
/ Absolve o pecado / Desses lábios impuros / Ó São João” (SOUSA, 2021, s.p.).
Em 1808, com a chegada da família real ao Brasil, a música sai da Igreja e vai para
os teatros, “porém, quanto ao ensino de música, não há indícios de grandes alterações
metodológicas em relação ao período anterior, uma vez que esses ensina mentos
mantinham-se presos a métodos progressivos com grande ênfase na memorização”
(LEMOS JUNIOR, 2012, p. 68).
215
país, “como os defensores da escola nova no Brasil: “Anísio Teixeira e Fernando
de Azevedo” (LEMOS JUNIOR, 2012, p. 69, grifo nosso). Além dessas duas figuras
importantes, na década seguinte, temos o maestro Heitor Villa-Lobos que lutou para
a reformulação do ensino de música no Brasil.
Um ano após, em 1933, esse serviço (SEMA) passou a ser chamado de “[...]
Superintendência de Educação Musical e Artística e a partir de 1936 Serviço de Educação
Musical e Artística do Departamento de Educação Complementar do Distrito Federal”
(LISBOA, 2005, p. 22 apud PEDROZA, 2019, p. 15).
Importante ressaltar que nesse período havia uma preocupação com a formação
dos professores para o ensino de música, tanto que em 1933, foram criados e desenvolvidos
por Villa-Lobos quatro cursos para professores: “Curso de Declamação Rítmica; Curso de
Preparação ao Ensino do Canto Orfeônico; Curso Especializado de Música e Canto Orfeônico
e Curso de Prática do Canto Orfeônico” (PEDROZA, 2019, p. 15).
216
Villa-Lobos manteve uma posição de destaque no ensino de canto
orfeônico do país, sendo citado em diversos livros didáticos da
disciplina, como por exemplo, na obra: Noções de música e canto
orfeônico, voltada para a 1ª série do curso ginasial, de Maria Elisa
Leite Freitas, no ano de 1941 (LEMOS JUNIOR, 2012, p. 77).
Com o fim do Estado Novo em 1945, a Educação Musical vai perdendo a força
e “[...] pouco a pouco, as escolas, principalmente as públicas, foram calando o seu
canto” (FUKS, 1991, p. 124). Após alguns anos, chegando em 1961, quando é criada
a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 4.024/61, o
canto orfeônico foi “[...] substituído pela disciplina educação musical” (LISBOA,
2005, p. 12 apud PEDROZA, 2019, p. 68, grifo nosso).
217
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• A separação dos períodos musicais segue uma evolução histórica: Música Pré-
histórica (das origens do homem a 4000 a.C.), Música da Antiguidade (4000 a.C. a
476 d.C.), Música Medieval (476 a 1453); Música Renascentista (1453 a 1600); Música
Barroca (1600 a 1750), Música Clássica (1750 a 1810), Música Romântica (1810 a 1900)
e Música Moderna (1900 em diante.
• Mourão (2017), a partir da linha do tempo organizada por Menuhn (2015), dividiu o
contexto histórico da música em três eras, primitiva, cultural e científico-cultural.
• Na pré-história, a música era usada para várias situações, como por exemplo, para
celebrar a caça, para realizar rituais de agradecimento, para aplacar a fúria ou
fazer pedidos aos deuses. Nesse sentido, a música era usada como um meio de
comunicação com o divino.
• Na música cultural, graças ao domínio do fogo, o ser humano descobre que é possível
manipular os metais e, assim, construir ferramentas. Além das ferramentas começam
a produzir instrumentos musicais que vão se tornando mais elaborados, ampliando
a cultura daquele povo de acordo com a região, aumentando as relações entre as
comunidades próximas.
• A música era usada pelos gregos nos rituais religiosos, nos jogos olímpicos, nas festas
cívicas e nas atividades de lazer através de uma variedade de instrumentos musicais
bem interessantes.
• Dos povos antigos, os que mais apresentam registros históricos são os egípcios, que
deixaram desenhos, afrescos e esculturas de instrumentos musicais e tocadores.
Já os gregos foram os povos primitivos que mais se destacaram na produção dos
valores estéticos da nossa sociedade atual no mundo ocidental.
218
• No Egito, em 4.000 a.C., a música ocupava um espaço muito importante,
principalmente na religião. Era utilizada nos rituais sagrados, bem como na
agricultura. Preservavam muito a agricultura, mantendo um ritual musical onde
cantavam e batiam discos e paus uns contra os outros, além de utilizarem harpas,
percussão, diferentes formas de flautas e cítara, que é um instrumento de cordas
derivado da lira. Esse costume se estendeu às cerimônias religiosas quando os
sacerdotes ensaiavam os coros para os rituais sagrados. Também utilizavam
trompetes e tambores nas solenidades militares oficiais.
• A Música no Século XX resultou na criação de novos sons, foi “um dos períodos
mais empolgantes da história da música. Também é importante ressaltar que neste
século tivemos grandes avanços na área tecnológica, com uma maior liberdade
técnica e artística, resultando em novas tendências e técnicas musicais, desde o
Impressionismo até a Música Eletrônica. “Os próprios músicos e artistas deixaram
rótulos e regras de lado para desenvolver estilos próprios e novos” (BENNETTI, 1986).
219
AUTOATIVIDADE
1 O movimento literário alemão do século XIX, denominado Sturm und Drang (tempestade
e ímpeto), marcado pelo combate à influência francesa, ficou conhecido pela oposição ao
período clássico, permitindo uma criação mais irracional, sentimentalista. De acordo com
essa nova estética romântica, é CORRETO afirmar que:
2 A música teve várias funções diferentes, conforme sua evolução, seu surgimento tem
relação com as primeiras emissões sonoras humanas feitas de forma intencional,
como gritos e grunhidos. Com relação à classificação dos instrumentos musicais das
culturas primitivas, assinale a alternativa CORRETA:
3 Mourão (2017), a partir da linha do tempo organizada por Menuhn (2015), dividiu o
contexto histórico da música em três grandes eras. Dado o exposto, relacione a
primeira coluna de acordo com a segunda coluna:
FONTE: MOURÃO, S. L. História da música erudita e popular. Goiás: Rede Itego, 2017.
1- Primitiva.
2- Cultural.
3- Científico-cultural.
220
Assinale a alternativa que apresenta a relação CORRETA:
a) ( ) 1-a; 2-b; 3-c.
b) ( ) 1-c; 2-a; 3-b.
c) ( ) 1-b; 2-a; 3-c.
d) ( ) 1-b; 2-c; 3-a.
221
222
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
O SOM, A MÚSICA, A ESCUTA E O
MOVIMENTO: DESENVOLVIMENTO
INTEGRAL DA CRIANÇA
1 INTRODUÇÃO
A musicalização é som, movimento, linguagem, sentimento, diversão e também
é silêncio. É preciso ter a clareza de que a musicalização não está preocupada com a
formação de músicos ou com ensinar a criança a tocar algum instrumento musical,
mas sim em contribuir com o desenvolvimento integral da criança, ampliando seu
repertório musical.
Boa leitura!
223
• Timbre – É a característica típica de cada som. Podemos dizer
também que é a personalidade de cada material ou fonte sonora.
Por exemplo, percebemos que o timbre da flauta é diferente do
timbre do cavaquinho, a voz de uma criança é diferente da voz de
um adulto, ou então podemos perceber, nitidamente, a diferença
entre o som da buzina e o do latido de um cachorro.
FONTE: A autora
224
Já “as vozes infantis, tanto de meninos quanto de meninas, sob o ponto de vista
musical, não apresentam muita diferença e, por isso, são simplesmente classificadas
como vozes infantis” (JUNQUEIRA; LAUTÉRIO, 2020, p. 95).
INTERESSANTE
Você sabia que, no Brasil, a voz feminina mais comum é a Soprano? Exemplos conhecidos é
a voz da cantora Sandy e da Marisa Monte. A Contralto é o tipo mais raro de voz no mundo
todo, inclusive muitas cantoras que representam a contralto são na verdade mezzo-soprano.
Temos como exemplo dessa categoria as cantoras Carolina, Adele e Amy Winehouse. De
mezzo-soprano podemos citar Daniela Mercury, Madonna, Beyoncé e Katy Perry.
No caso dos homens, a voz mais aguda é o Tenor, que na ópera, por exemplo,
adquire outras especificidades, como Tenor Dramático, Heldentenor, Ligeiro,
entre outros. Como exemplos de tenores famosos podemos citar Andrea
Bocelli, Axl Rose e Michael Jackson. Entre os Barítonos, Chico Buarque, Jim
Morrison, Eddie Veder e Frank Sinatra são representantes bem conhecidos.
E por fim, o Baixo é a voz masculina mais rara, com pouca ocorrência no
Brasil e maior quantidade na Rússia e nos países nórdicos. O Baixo Profundo
é o tipo de voz com menos registros, tendo como exemplos Tim Maia e
Arnaldo Antunes, além dos estrangeiros Johnny Cash e Louis Armstrong
(PONTES, 2017).
225
FIGURA 8 – ALGUNS TIPOS DE INSTRUMENTOS MUSICAIS
226
NOTA
A organologia é a ciência dos instrumentos musicais, baseada em uma metodologia
científica iniciada na Europa no século XIX, Nicholas Bessaraboff (VIDILI, 2017). Podemos
descrevê-la como a ciência que estuda a descrição e a classificação de qualquer
instrumento musical, levando em consideração o material que o instrumento foi
confeccionado, sua forma, o modo de produção do som, o timbre, a qualidade do som
produzido, entre outros.
FONTE: A autora
227
INTERESSANTE
Quer saber mais sobre a classificação dos instrumentos musicais e conhecer o som
de alguns?
228
FIGURA 10 – INSTRUMENTOS MUSICAIS QUE PODEM SER USADOS PELAS CRIANÇAS
FONTE: A autora
NOTA
Você sabe a diferença entre um xilofone e um metalofone? É comum,
as pessoas se referirem ao metalofone como xilofone, ou xilofone de metal,
o que é na verdade um equívoco. A palavra 'xilofone', que tem origem grega,
significa "som da madeira", ou "voz da madeira". Já o metalofone possui as
barras sonoras feitas de metal, seja alumínio, aço, ou outros metais.
FONTE: <https://www.construindoosom.com.br/metalofone.htm>.
Acesso em: 31 mar. 2022.
Brito (2003) ressalta que o instrumento musical não precisa ser industrializado,
e pode ser confeccionado pela criança ou pelo educador, de qualquer material seguro
e que produza um som interessante. Cabe destacar, que não é necessário que o
instrumento tenha a aparência de um instrumento musical tradicional, podem ser
apenas objetos que produzam sons ao serem manuseados.
229
As crianças e as famílias/responsáveis podem pesquisar em casa por objetos
sonoros e juntos explorarem os materiais, com certeza será muito divertido para os
pequenos. Uma outra dica, é incentivar e valorizar os instrumentos da cultura local, pois,
normalmente, as crianças já tiveram contado com eles em algum momento.
ESTUDOS FUTUROS
No Tópico 4 vamos aprender a confeccionar instrumentos musicais com
material alternativo, de sucata. Temos muitas sugestões interessantes,
aguarde mais um pouquinho!
230
Há muitas canções infantis cuja música poderia ser de uma canção
para adultos, como aquelas que reconhecemos como tais somente
porque a letra se refere ao universo infantil. Também há outros casos
de canções em que a letra e a música são para adultos, no entanto,
ao permitirem jogos musicais nos arranjos e na interpretação, podem
ser assimiladas pelo mundo infantil (PESCETTI, 2005, p. 26 apud
BEINEKE, 2011, p. 11).
Beineke (2011), alerta que as músicas das crianças só fazem sentido quando
incluem todo o contexto do brincar. Contudo, na escola isso não é considerado na
maioria das vezes, quando, por exemplo, se ensina canções folclóricas. “Cantar canções
tradicionais, no ensino de música, muitas vezes, significa cantar temas melódicos,
desconsiderando a música e o brincar como produções culturais” (BEINEKE, 2011, p. 11).
Brito (2003), também lembra que a criança, por natureza, gosta de música,
brinquedo, poesia. Então, é importante levar para a sala de aula atividades que sejam
interessantes a ela e que já sejam do seu convívio, que ela conheça, como as cantigas de
ninar, parlendas, brincadeiras de roda, canções da música popular brasileira, entre outras.
231
• O Ratinho – caso de uma música composta durante uma aula,
sobre um ratinho que a turma conheceu, e por sugestão do próprio
aluno. A música que no início foi um improviso, teve opinião do
grupo para definição e após aprovação do grupo, foi escrita;
• O burro Barnabé – partiu da sonorização de uma história
com efeitos sonoros, e passou à criação de uma música. Esta
experiência se mostrou diferente da anterior, pois já ficou pronta
na mesma aula, sem preocupação de muitos detalhes;
• Gasparzinho – neste caso, a turma inventou a letra para uma
canção que já faziam, usando como tema a porta que se abria
sozinha (elas achavam que era o Gasparzinho) (BRITO, 2003, p. 137,
grifo nosso).
232
Um outro tipo de atividade que a professora Teca Alencar de Brito (2003) traz é
o jogo de estátua:
DICA
Olhem que sugestão bacana da prof.ª Karliene
da Escola Municipal Professora Maria Nosidia em
Goiânia! Musicalização envolvendo movimentos,
escuta, sentidos, expressão corporal e socialização. As
crianças adoram, é pura diversão. Acesse através do
QR code a seguir ou do link: https://www.youtube.com/
watch?v=q1zEWBrw8m4.
233
5 SONS, MÚSICA E MOVIMENTO
Aprender a cantar e a tocar algum instrumento musical é algo fantástico, muitas
pessoas têm esse sonho, mas apesar de ser muito lindo e prazeroso, esses não são os
objetivos da musicalização na educação infantil.
235
INTERESSANTE
François Delalande é compositor, educador e pesquisador francês.
Nasceu em Paris no ano de 1941. É um dos nomes mais importantes
do Grupo de Pesquisa Musical (INA-GRM Paris), do qual é diretor do
Programa Ciência da Música. Seu pensamento sobre educação musical
parte da teoria de Jean Piaget. Faz música para os pequenos e vê na
criança o mesmo interesse de um compositor de música contemporânea.
Segundo Delalande, a criança deve ser colocada em contato com os
instrumentos musicais ou fontes sonoras e incentivá-los a produzir
som com movimentos espontâneos de criação. É contra a reprodução
e a favor da novidade. Cada criança faz sua música e deve-se criar uma
motivação para ouvir música.
236
FIGURA 11 – CONDUTAS DA PRODUÇÃO SONORA INFANTIL PROPOSTA POR
FRANÇOIS DELALANDE
FONTE: A autora
237
A partir do exposto, é importante considerar que é fundamental para a
musicalização na educação infantil observar como as crianças exploram o universo
sonoro e musical ao seu redor, para potencializar a experiência sonora dos alunos,
direcionando e aplicando suas várias possibilidades.
238
FIGURA 12 – MUSICALIZAÇÃO POR IDADE
FONTE: A autora
239
6 PAISAGEM SONORA E A PERCEPÇÃO DOS SONS
Você já ouviu falar em paisagem sonora? Não ainda? Então vamos lá!
240
Interessante! Vamos ver na prática como trabalhar nessa perspectiva?!
Terto (2020) traz uma sugestão para trabalhar com a educação infantil o campo
de experiência: traços, sons, cores e formas por meio da produção de uma galeria sonora
com o conceito de paisagem sonora e com o uso das novas tecnologias.
2ª AULA
1º) Nessa aula, o professor irá resgatar o que é uma paisagem sonora
e quais sons foram identificados pelas crianças. Retome também o
conceito de galeria como espaço de exposição artística.
2º) Peça que eles pensem em um som da paisagem e escolha um
para gravar. Diga a eles que vão precisar da ajuda de um adulto para
isso. Pode ser o miado do gato, o latido do cachorro, o barulho dos
carros passando, o som da chuva entre outros. Escreva a lista de
sons que serão gravados.
3º) Marque um dia para recebimento desses materiais, pois é uma
atividade que precisa de ajuda de um adulto.
4º) Professor, com o material recebido, produza um podcast com
os sons enviados pelas crianças, formando a ideia de galeria como
um espaço de produção artística. Com a galeria pronta mostre aos
pequenos como ficou a produção deles.
241
5º) É muito divertido ver como ficou a galeria sonora de paisagem
sonora! É uma excelente atividade para pensar a arte como elemento
integrador e de estabelecer relações entre as diferentes linguagens
e suas práticas.
Cabe salientar, que quando nos referimos à alteração da voz, estamos falando
do distúrbio da comunicação chamado “Disfonia”. Conforme Rosado (2020), a disfonia
infantil é caracterizada pela alteração de alguns parâmetros vocais que resultam em
alterações na qualidade do som, no timbre, na intensidade. E quais os sintomas de
uma disfonia?
A disfonia pode apresentar-se por rouquidão, voz fraca, palavras ou sílabas que
saem sem som, cansaço ao falar, dor ao falar, quando a voz fica muito fina ou grossa,
entre outros.
242
Uma vez que determinadas crianças têm maior predisposição à disfonia
decorrentes de alergias (como a rinite), à sensibilidade às mudanças climáticas ou, até
mesmo, ao mau uso ou abuso da voz.
São muitos os fatores que podem levar à disfonia. A Clínica Otorrino Paulista
(2020, s.p.) corrobora com o autor citado, reforçando os principais fatores que colaboram
para a disfonia e dando outras orientações:
Hábitos inapropriados
Práticas vocais inapropriadas, como gritar e pigarrear, afetam as pregas
vocais. Portanto, uma criança rouca, em geral, abusa da voz, sendo
importante educá-la para o bom uso, a fim de cessar o problema.
Alergias respiratórias
O problema pode ser decorrente, também, de alergias respiratórias,
como a rinite. Trata-se de uma inflamação infecciosa que afeta a
mucosa nasal, provocada por vírus ou por substâncias alérgenas —
poeira, ácaros, fungos, pelos de animais, fumaça, entre outras.
Mudanças na temperatura
Em alguns casos, a voz rouca na infância está relacionada com
as mudanças na temperatura. Tal situação deixa as crianças
suscetíveis a resfriados e gripes, por exemplo. Portanto, quem é
mais sensível tende a ser acometido com esse tipo de disfonia, o que
requer cuidados extras dos pais.
Fator genético
A voz rouca na infância também pode ser congênita. Logo, há crianças
que nascem com alguma alteração nas cordas vocais, a mesma
observada no pai ou na mãe. Contudo, o problema só é identificado
quando elas começam a falar. O quadro requer análise e tratamento.
Outras razões
A presença do popular calo nas pregas vocais é outro fator que gera
alteração na voz, que pode ser provocada também por refluxo, tosse
crônica, danos aos nervos vocais, fraqueza nos músculos localizados
na região da laringe e, até mesmo, câncer de tireoide ou pulmão,
entre outros motivos.
Como percebemos, dada sua origem, a rouquidão infantil exige
cuidados. Sendo assim, ao contrário do que muitos pais pensam ou
dizem, o problema está longe de ser um charme. É importante ficar
alerta e buscar ajuda médica quando esse tipo de disfonia dura por
mais de 15 dias ou melhora, mas volta com frequência.
Cabe destacar, que a disfonia não se trata apenas de uma voz rouca, mas trata-
se de um modelo de comunicação ineficiente que acaba interferindo nas diversas
atividades da criança, principalmente as sociais, gerando situações de embaraço e
constrangimento (AZEVEDO, 2010).
243
A Dra. Sônia Rosado (2020, s.p.), que é terapeuta da fala, compartilha algumas
orientações aos pais e educadores:
• Falar num tom calmo e de intensidade mais baixa para a criança, assim
ajudará a criança a perceber que conversar é uma atitude agradável;
• Prestar atenção ao que a criança quer dizer, ensinando-lhe a
esperar pela sua vez e a participar nas conversas;
• Controlar a sua atitude vocal: não use o grito para chamar, deste
modo a criança imitará esse comportamento;
• Incentivar as crianças a beber muita água;
• Estimular as crianças a comerem maçã porque possui propriedades
que ajudam na limpeza da boca e da faringe;
• Dizer às crianças para olharem para as pessoas quando estão a falar;
• Estar atentos às alterações na voz da criança e se notarem alguma
alteração por um tempo prolongado procurar um terapeuta da fala;
• Evitar ambientes frios, com ar-condicionado, pó, pois secam a
laringe e irritam-na.
DICA
Quer saber mais sobre os problemas relacionados à voz
infantil? Então assista a fonoaudióloga Camila Loiola! Ela
traz informações valiosas sobre a voz das crianças!
244
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Os pequenos idiofones são adequados para crianças pequenas, pois, produzem sons
a partir de movimentos que podem ser feitos desde cedo.
• Os xilofones e metalofones são indicados para crianças maiores, uma vez que
necessitam de maior coordenação motora. São muito interessantes por estimularem
a criança a criar e a improvisar.
• A escuta dos sons e das músicas é fundamental para a percepção auditiva. Nesse
contexto Brito (2003, p. 188) ressalta a importância do aprender a escutar “os sons
da rua, da voz, do corpo, dos instrumentos musicais e da produção musical da cultura
humana”. Sem silêncio é impossível decifrar os sons.
• François Delalande compara o fazer musical de todas as idades com aspectos lúdicos
presentes nos jogos. Ele relaciona a música às formas de atividade lúdica propostas
por Jean Piaget (LEVY, 2020): Jogo sensório-motor: que corresponde à exploração do
som e do movimento, jogo simbólico: relacionado ao valor expressivo e à significação
do discurso musical, e jogo de regras: corresponde à organização e à construção da
linguagem musical.
245
• A paisagem sonora é um conceito criado pelo músico canadense Murray Schaffer,
que se caracteriza pelo estudo e análise do universo audível que nos rodeia. Em
suas pesquisas, Schafer trabalhava com a “percepção de sons de diversos
ambientes e usava estratégias para sensibilizar o ouvido de seus estudantes,
como realizar, por exemplo, um passeio por um bosque de olhos vendados” (TERTO,
2020, s.p., grifo nosso).
• O educador deve estar atento à vocalização das crianças e, até mesmo, se alguma
está com atraso de fala, pois existem algumas doenças, distúrbios ou transtornos que
podem afetar a fala, desde causas emocionais, problemas de audição, Transtorno do
Espectro Autista (TEA), entre outras.
246
AUTOATIVIDADE
1 Baseado no sistema de classificação de Hornbostel & Sachs, os instrumentos
musicais são classificados em cinco categorias distintas: Idiofones, Aerofones,
Membranofones, Cordofones e Eletrofones (VASCONCELOS, 2002). Com relação à tal
afirmação, assinale a alternativa CORRETA:
FONTE: BRITO, T. A. de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
247
3 A exploração vocal deve ser um dos objetivos para a educação infantil. Brito (2003, p.
87, grifo nosso) ressalta que “ao falar e cantar com as crianças, atuará como modelo,
sendo necessário cultivar bons hábitos, como não gritar, não forçar a voz, apresentar
tessitura mais adequada para que as crianças cantem, respirar tranquilamente,
manter-se relaxado e ter boa postura”. Dito isso, em relação à exploração vocal,
assinale a alternativa INCORRETA:
FONTE: BRITO, T. A. de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
a) ( ) A música vocal é uma das maiores fontes de expressão musical do bebê, porém
não representa uma fonte de comunicação entre eles e os outros a seu redor,
não são todos os sons que eles absorvem a sua volta.
b) ( ) Se o educador cantar sem gritar, as crianças perceberão a diferença entre
cantar e gritar.
c) ( ) Segundo Brito (2003), a criança, por natureza, gosta de música, brinquedo,
poesia. Então é importante levar para a sala de aula atividades que sejam
interessantes a ela e que já sejam do seu convívio, que ela conheça, como as
cantigas de ninar, parlendas, brincadeiras de roda, canções da música popular
brasileira, entre outras. Tem cuidado na hora de escolher o repertório.
d) ( ) A partir de três a quatro anos, as crianças costumam inventar canções (BRITO,
2003, p. 135), então cabe ao educador possibilitar essas construções.
FONTE: BRITO, Teca Alencar de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
5 A exploração vocal deve ser um dos objetivos para a educação infantil. Quanto às
músicas a serem cantadas em sala de aula, o educador deve ter muita atenção na
escolha desse repertório musical. Dado o exposto, disserte sobre como devem ser as
canções para a educação infantil.
FONTE: BRITO, T. A. de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
248
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
MUSICALIZAÇÃO, BNCC E EDUCAÇÃO
INFANTIL: REFLEXÕES E CAMINHOS
1 INTRODUÇÃO
A criança, enquanto sujeito social e histórico, é detentora de direitos sociais e,
portanto, a educação infantil é uma exigência social e legal. Para que a criança tenha
um desenvolvimento integral é importante que a musicalização se faça presente na
educação infantil, porém até chegarmos à obrigatoriedade do ensino de música na
escola foram necessários muitos anos de luta, uma longa caminhada.
É sobre esse universo que vamos explorar agora – com toda a sensibilidade que
musicalizar exige.
249
Em 1971, na segunda versão da LDB, a Lei nº 5.692/1971, o ensino de música foi
extinto (no Art. 7º) e substituído pela Educação Artística e a partir daqui a música perdeu
o seu destaque na escola, passando a fazer parte das outras artes.
NOTA
Vale aqui explicitar que a Educação Básica no Brasil compreende a
Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio (LOPARDO,
2018 p. 19).
250
prática, o que se observa é que essa realidade ainda não faz parte de muitas escolas.
É importante frisar que essa lei não está afirmando que somente o ensino de música
deve ganhar espaço na escola, em detrimento das outras linguagens, mas desde a
disciplina Educação Artística e, mesmo depois, com a nomenclatura de Artes, vimos
que a linguagem de Artes Visuais ganhou destaque nas escolas, enquanto as demais
linguagens foram “esquecidas”. Essa lei teve a intenção de garantir que o ensino de
música, retornasse às escolas, assim quem tivesse a formação em Licenciatura em
Música poderia lecionar de acordo com a sua área de formação, e não mais ter que “dar
conta” de um ensino polivalente.
251
como de outros profissionais vocacionados à prática de ensino; V -
promover a formação continuada de seus professores no âmbito da
jornada de trabalho desses profissionais; VI - estabelecer parcerias
com instituições e organizações formadoras e associativas ligadas
à música, visando à ampliação de processos educativos nesta área;
VII - desenvolver projetos e ações como complemento das atividades
letivas, alargando o ambiente educativo para além dos dias letivos e da
sala de aula. § 2º Compete às Secretarias de Educação: I - identificar,
em seus quadros de magistério e de servidores, profissionais
vocacionados que possam colaborar com o ensino de Música nas
escolas, incluindo-os nas atividades de desenvolvimento profissional
na área de música; II - promover cursos de formação continuada
sobre o ensino de Música para professores das redes de escolas
da Educação Básica; III - apoiar a formação dos professores e dos
demais profissionais da educação em cursos de segunda licenciatura
em Música; IV - criar bancos de dados sobre práticas de ensino de
Música e divulgá-las por meio de diferentes mídias (BRASIL, 2016).
NOTA
As escolas de ensino médio que ficam sob a responsabilidade dos estados já não estão mais
obrigadas a oferecer o ensino de artes. “A flexibilização ocorreu após a aprovação da Medida
Provisória nº 746, de 2016, que tornou o ensino de artes
compulsório apenas na educação infantil e no ensino
fundamental” (UBC, 2018, s.p.). Essa é uma lei polêmica,
pois com isso é como se o ensino de artes
não tivesse importância.
252
2.1 LEGISLAÇÃO E A MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
As orientações curriculares e os planos de ação para a educação infantil foram
elaborados a partir das Diretrizes Curriculares Nacionais de Educação Infantil –
DCNEI (do ano de 1999 e de 2010), do Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil (RCNEI), de 1998, e do Plano Nacional de Educação (PNE), de 2001.
Nas DCNEI, a música faz parte das manifestações artísticas, mas não é apontada
como conteúdo próprio de aprendizagem e, normalmente, está incorporada ao currículo
de Educação Artística.
253
O RCNEI recomenda a iniciação musical na pré-escola e dá ênfase à escolha
do repertório para a Educação Infantil com os seguintes objetivos para desenvolver
capacidades musicais nas crianças de zero a três anos: “Ouvir, perceber e discriminar
eventos sonoros diversos, fontes sonoras e produções musicais; brincar com a música,
imitar, inventar e reproduzir criações musicais”. E para as crianças de quatro a seis
anos: “Explorar e identificar elementos da música para se expressar, interagir com
os outros e ampliar seu conhecimento de mundo; perceber e expressar sensações,
sentimentos e pensamentos, por meio de improvisações, composições e interpretações
musicais” (BRASIL, 1998).
254
2.2 BNCC E O DESENVOLVIMENTO AFETIVO E
COGNITIVO MUSICAL
Quanto à Educação Infantil e a musicalização a nova BNCC ressalta que o
aprendizado da música é um dos direitos da criança na educação infantil, destacando os
sons, no Campo da Experiência – “Traços, Sons, Cores e Formas”, além do movimento,
no Campo da Experiência – “Corpo, Gestos e Movimentos” (BRASIL, 2018).
256
Educador, abandone o currículo engessado, pois, "não se pode ensinar Música
a partir de uma visão utilitarista. Estamos falando de arte. É preciso explorar
as sensibilidades", afirma a especialista Teca Alencar de Brito (2010, s.p., grifo nosso).
Para Teca Alencar de Brito (2003, p. 53), a música contribui para o crescimento geral do
educando e “se dá através de vivências e reflexões orientadas, onde todos têm o direito de
desfrutar, mesmo não tendo aptidão musical, pois o fazer, o praticar se encarregam pelo
desenvolvimento das competências do indivíduo”.
Será que tem relação ao tamanho da base (BNCC)? Um documento com 600
páginas, seria esse o problema? Os professores não estão conseguindo ler o documento
para compreender como deve ser a musicalização em sala de aula?
257
Quando nos atemos às matrizes sem questioná-las e sem as devidas
ressalvas, endossamos seus aspectos negativos, que não são
poucos. Os OADs e as Habilidades para música, além de repetitivos
e restritivos, apresentam problemas conceituais e metodológicos
importantes, alguns dos quais representam retrocessos significativos
para a área [...]. Listagens de objetivos, habilidades, competências
e outros enunciados dos documentos educacionais se prestam
a sintetizar, organizar e padronizar a prática. Tais matrizes são
abstrações de práticas. Nascem, a princípio, da observação e
sistematização daquilo que fazemos em sala de aula e – quero crer –
para ela retornam, nela repercutem e com ela se retroalimentam. Mas
também são impregnadas pelas crenças pessoais e ideologias, sejam
elas explícitas ou não (FRANÇA, 2020, p. 33).
Conforme França (2020), cada professor de acordo com sua realidade irá
desenvolver um OAD ou uma habilidade por meio de suas estratégias, ou seja,
teremos muitas propostas diferentes, mas estarão dentro do mesmo OAD ou a mesma
habilidade. Vejamos um exemplo dado por França (2020), de um dado descritor do
ensino fundamental, dos anos iniciais:
258
Apesar de todas as diferenças entre essas turmas de alunos, tanto geográficas,
como culturais, o código segundo a BNCC, será o mesmo. Além de ler e compreender
o que é a BNCC, precisamos compreender que ela é uma base, ou seja, permite que
o educador organize seus planejamentos, propostas de acordo com seus alunos, das
vivências dos alunos e de forma reflexiva. “[...] quem constrói o currículo e decide
a respeito dos fazeres musicais são os educadores diretamente envolvidos nas
respectivas escolas (FRANÇA, 2020, p. 38).
A cultura do estudante e do lugar onde ele mora passa a ser valorizado com a
nova versão da BNCC, e é nas vivências diárias que a BNCC passa a ser ressignificada.
“A mudança realizada da 2ª para a 3ª versão não é simplesmente uma substituição de
palavras: representa o embate entre a visão da música que ganha forma e se constrói
no dia a dia da cultura [...]” (FRANÇA, 2020, p. 38).
E por fim, “tudo o que foi pensado, dito e escrito será tonalizado pelas
peculiaridades de cada turma, pelos humores dos alunos e até pelas efemérides e os
noticiários do dia, ou seja, a Base que saiu de Brasília é uma, e a que chega a cada
canto do país é outra” (FRANÇA, 2020, p. 32, grifo nosso).
259
LEITURA
COMPLEMENTAR
Nossa leitura complementar é um recorte de um artigo da professora Cláudia
Ribeiro Bellochio, uma pesquisadora e escritora de grande relevância na nossa educação
musical brasileira. Espero que gostem! Ótima leitura!
Outras possibilidades poderiam ser apontadas, mas quero enfatizar algo que
julgo relevante. O professor, compreendendo e potencializando o ensino de Música na
escola, poderá e deverá trabalhar colaborativamente com os professores especialistas
da área, ou seja, os educadores musicais. Entendo que uma das grandes perdas do
processo de atuação em ensino de Música, nos anos iniciais de escolarização, realizada
exclusivamente por professores especialistas, é que, atualmente, grande parte dos
professores unidocentes/generalistas/multidisciplinares, sequer sabe entender, avaliar
e dar prosseguimento aos outros tantos minutos semanais nos quais permanecem
frente aos alunos.
260
Questiono então: bastam 45 minutos de aula de música semanais, de modo
desarticulado dos demais conhecimentos que estão sendo trabalhados pelos
professores, para potencializar a educação musical na escola? Uma possibilidade que
vejo é a da articulação mais consciente, crítica e madura entre o professor atuante
nos anos iniciais de escolarização e os profissionais especialistas no ensino de Música.
Longe de pensar que o professor desses anos poderá substituir o professor especialista,
acredito na construção de um trabalho mais colaborativo, que possa articular melhor a
atuação desses profissionais da educação na escola.
Assim: O importante não é discutir "música nas escolas: para quê?" Ou "para
que fins a educação musical nas escolas ainda seria necessária", mas sim, para onde
a educação musical deve conduzir. A intenção seria tomar a questão do seu objetivo
educacional em seu sentido mais fundamental, ou seja, entendida como educação que
não quer a modelagem de pessoas [...], mas a produção de uma consciência verdadeira
(Souza, 1998, p. 65).
261
É claro que é preciso redimensionar conceitualmente e investir na formação
musical do professor que atua em SIEF e na ação reflexiva no e para o ensino de Música
na escola. Tal transformação implica não só passar pelo trabalho dos professores, mas
também pelas equipes diretivas que coordenam os espaços escolares. As transformações
são produzidas coletivamente, e não de modo isolado ou por imposições.
262
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• Em 1961 foi criada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº
4.024/61, o canto orfeônico foi “[...] substituído pela disciplina educação musical”.
• Em 1971, na segunda versão da LDB, a Lei nº 5.692/1971, o ensino de música foi extinto
(no Art. 7º) e substituído pela Educação Artística e a partir daqui a música perdeu o
seu destaque na escola, passando a fazer parte das outras artes.
• A terceira versão da LDB, a Lei nº 9.394/1996, no Artigo 26º § 2º estabelece que “[...]
o ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos níveis
da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”
(BRASIL, 1996).
• Em 2013 veio a criação das Diretrizes Nacionais para o ensino de música na Educação
Básica dadas pelo Conselho Nacional de Educação, que seguia com a mesma
autonomia aos estados e municípios quanto à música no contexto escolar.
• A Lei nº 13.278/2016 acrescenta teatro, dança e artes visuais junto à musica, como
substituindo a anterior, a Lei nº 11.769/2008, que mencionava exclusivamente a
música. As escolas tiveram cinco anos para se adaptarem ao currículo, prazo esse
que encerrou no ano 2021.
263
• Nas DCNEI, a música faz parte das manifestações artísticas, mas não é apontada
como conteúdo próprio de aprendizagem e, normalmente, está incorporada ao
currículo de Educação Artística.
• Apesar das orientações da nova BNCC valorizarem a música como uma importante
ferramenta capaz de formar educandos críticos e participativos, percebe-se que a
música ainda é compreendida mais como uma atividade didática do que de formação.
264
AUTOATIVIDADE
1 A LDB apresenta três versões, sendo que na terceira versão, a Lei nº 9.394/1996, no
Artigo 26º § 2º fica estabelecido algo muito importante quanto ao ensino de arte.
Dado o exposto, assinale a alternativa CORRETA do que ficou estabelecido na última
versão da respectiva lei:
FONTE: BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. LDB: Lei de diretrizes e bases da
educação nacional. 2. ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação de Edições Técnicas, 2018. 58
p. Brasília, DF. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/544283/
lei_de_diretrizes_e_bases_2ed.pdf. Acesso em: 3 maio 2021.
265
3 Conforme Brito (2003) a música vem seguindo presa a concepções
_____________________________ que consideravam a música como
uma “bengala” para auxiliar a aprendizagem de conhecimentos gerais, contribuindo
com formação de bons hábitos e atitudes, disciplina, para manter rotinas, para
apresentações em datas comemorativas etc. Dado o exposto assinale a sentença
que completa CORRETAMENTE a frase:
FONTE: BRITO, T. A. de. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
a) ( ) Pedagógicas tradicionais.
b) ( ) Culturais pedagógicas.
c) ( ) Pedagógicas contemporâneas.
d) ( ) Didáticas modernas.
4 Embora ainda não tenha sido amplamente implantada em todas as escolas, tanto
públicas como privadas, devido a entraves do próprio sistema de políticas públicas
do país, a música está cada vez mais presente. Dito isso, disserte sobre o valor da
música dentro do contexto escolar.
5 Com relação à Base Nacional Comum Curricular, França (2020, p. 32) destaca que
“a Base que saiu de Brasília é uma, e a que chega em cada canto do país é outra”
(FRANÇA, 2020, p. 32). O que a autora quis dizer através dessa frase sobre a BNCC?
Disserte a respeito:
FONTE: FRANÇA, C. C. BNCC e educação musical: muito barulho por nada? Música na Educação
Básica, [s.l.], v. 10, n. 12, 2020. Londrina: Associação Brasileira de Educação Musical, 2020.
266
UNIDADE 3 TÓPICO 4 -
MUSICALIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:
UM MUNDO DE POSSIBILIDADES
1 INTRODUÇÃO
Chegamos ao último tópico do nosso livro didático. Que prazer termos
acompanhado você até aqui! Para finalizarmos a disciplina de Lúdico e Musicalização
na Educação Infantil não podíamos deixar de falar de inclusão. Como trabalhar de forma
inclusiva a musicalização? Como planejarmos aulas de música para todos os alunos?
Como vou incluir na aula de musicalização meu aluno com deficiência auditiva? E o meu
aluno autista?
Esperamos que você tenha gostado da nossa disciplina e que quando estiver
em sala de aula, não esqueça da importância e do poder da musicalização. “A música
não deve ser colocada a serviço de outras disciplinas consideradas prioritárias porque
ela é importante por si mesma, para a vida” (BRITO, 2012, p. 3).
267
A escola é lugar de todas as crianças, tendo elas alguma deficiência ou não. E
para que seja de todos, precisa ser pensada para todos. Eis um grande compromisso
e desafio das escolas e dos professores, planejar aulas de musicalização que
abarquem todas as crianças.
“Incluir significa não apenas colocar todos juntos, mas ter atitudes de respeito
pelas diferenças, olhar para o outro, valorizar as potencialidades e, principalmente,
reconhecer a diversidade como algo inerente ao ser humano” (LOURO et al., 2009, p. 18).
Segundo Padilha (2008, p. 47), “[...] a experiência musical provoca uma série de
processos neurofisiológicos e psicológicos identificáveis e desenvolve atitudes motoras,
perceptivas e cognitivas que ativam processos afetivos e de socialização”.
268
Lembrando que a música não envolve apenas objetos sonoros e musicais, mas
também outros signos. “Dela emergem formas, cores, intensidades, temporalidades,
gestos, movimentos, imagens, pensamentos, palavras. Assim, “o objeto da música não
se restringe ao som, mas a uma cadeia sígnica que tem, entre outros, o som por motor”
(BERTOLUCHI, 2021, s.p.).
FONTE: A Autora
269
Louro et al. (2006, p. 33) pontuam algumas dicas de como estar preparado para
trabalhar de forma inclusiva:
Dado o exposto, não resta dúvida que o educador é peça chave para que a
musicalização seja para todos, bem como para a promoção da interação na diversidade
escolar, reforçando que “ser diferente é normal”.
DICA
Como o deficiente auditivo vai participar das atividades de musicalização?
Ficou com essa dúvida? Então deixe eu ajudar você. Caso tenha na aula
alguma criança com essa dificuldade, aqui vão dois materiais bem bacanas
para ajudar a planejar as aulas de musicalização para todos os estudantes.
270
CAPA E-BOOK
FONTE: <https://www.nepedeees.ufscar.br/arquivos/como-tornar-atividades-musicais-
acessiveis-para-criancas-e-jovens-surdos>. Acesso em: 31 mar. 2022.
271
A exploração vocal deve ser um dos objetivos da musicalização em bebês e
crianças. Teca Alencar de Brito (2003, p. 91) traz algumas sugestões:
Conforme Barba (2013, p. 40), “cada pessoa tem um corpo sonoro único
e um ritmo próprio de conhecê-lo. Aprender um som corporal é um processo que
envolve curiosidade, prática, adaptabilidade, concentração e observação tanto de si
como do outro”.
272
FIGURA 14 – SONS CORPORAIS – 1º EXEMPLO
palma estalada
palma costas de mão
palma pingo
estalo de dedos
coxa
273
FIGURA 15 – SONS CORPORAIS – 2º EXEMPLO
lábios bochecha
274
2– Faça novamente a chuva e agora com todo o grupo de olhos fechados. Não
haverá mais um condutor, o grupo irá mudar as palmas em conjunto e em
consenso através da escuta. Repasse a ordem das palmas e certifique-se de
que as crianças memorizaram a sequência. Enfatize que o mais importante é a
escuta e que a chuva poderá crescer e diminuir conforme o grupo quiser.
3– Como opção acrescente sons de boca na sonorização da chuva. Através de
sopros e respirações em “S” e “X” ou “A” e “O” as crianças imitarão o som do
vento que dará início e fim a essa chuva. Acrescente, durante a chuva, outros
sons de boca que remetam à água, como batida das mãos nos lábios e estalo
de língua.
• Jogo da flecha
O jogo da flecha é um jogo de comunicação através do som e do gesto. É útil no
início de aula para despertar a atenção e a interação no grupo. Nessa dinâmica uma
pessoa “lança” um som na direção de outra pessoa do grupo, como se passasse uma
bola ou lançasse uma flecha. Os participantes devem estar em pé, formando uma
roda, e em contato visual para que possam receber e repassar o som entre eles à
vontade. Caso as classes sejam numerosas, organize duas ou três rodas e realize o
exercício simultaneamente com elas. O ideal é que cada roda tenha até 12 pessoas
no máximo.
• Sonorizando histórias
Explore com os seus alunos quais sons do mundo a voz ou o corpo podem imitar.
Inicie a partir de temas específicos, tais como: sons de instrumentos musicais, sons
de animais, sons da natureza, sons da cidade, sons do ambiente familiar, outros. É
possível criar com o corpo ambientes sonoros estimulando o imaginário dos alunos
e incentivando-os a pesquisar, criar e reconhecer diferentes timbres. Experimente
esses sons e texturas como elementos ativos de sonorização de histórias. Como
experimento crie um roteiro com os alunos ou escolha com eles uma história já
existente. Definida a narrativa, determine com o grupo quais timbres serão utilizados
como sonoplastia. Estabeleça esse roteiro sonoro coletivo e, também, quem fará sons
específicos. Investigue com os participantes se existirão momentos de sonorização
individual ou quais os momentos mais coletivos, etc. Grave essa sonorização e mais
tarde ouça o resultado com seus alunos, estimulando seus depoimentos sobre
percepções e avaliações da sonorização.
275
• A proposta de uso da percussão corporal nos processos de educação musical
tem, ao lado de objetivos específicos, a intenção de contribuir para uma formação
mais ampla e consistente dos alunos.
• Aula 1
Campo de experiência: traços, sons, cores e formas; espaço, tempo,
quantidade, relações e transformações; corpo, gestos e movimentos.
Conteúdo: brincadeira com os sons do corpo
Objetivo: ampliar a possibilidade de trabalho com a música,
mostrando que é possível fazê-la com o nosso corpo
Recursos: Notebook, revistas ou encartes, tesoura e cola.
Habilidade da BNCC –. (EI02TS01) criar sons com materiais, objetos
e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
(EI02ET01) explorar e descrever semelhanças e diferenças entre as
características e propriedades dos objetos (textura, massa, tamanho).
(EI02CG01) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no
cuidado de si e nos jogos e brincadeiras.
Instrumentalização: Iniciar a aula perguntando aos pequenos se
sabem o que é necessário para produzir uma música (instrumentos,
voz). Perguntar qual música gostam, qual o instrumento preferido,
se é possível produzir música sem nenhum instrumento. Convide-os
para assistir o vídeo Peixinhos no Mar do grupo Barbatuques. Segue
o link: https://youtu.be/xV1KB1iQsWM
Deixe que eles vejam, interajam. Depois da exibição, pergunte o que
acharam, qual som acharam mais engraçado e convide-os para
tentar reproduzir essa ou outra música utilizando os sons do corpo.
• Aula 2
Campo de experiência: traços, sons, cores e formas; espaço, tempo,
quantidade, relações e transformações; corpo, gestos e movimentos.
Conteúdo: brincadeira com os sons do corpo
Objetivo: ampliar a possibilidade de trabalho com a música,
mostrando que é possível fazê-la com o nosso corpo
Recursos: Notebook, revistas ou encartes, tesoura e cola.
Habilidade da BNCC –. (EI02TS01) criar sons com materiais, objetos
e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
(EI02ET01) explorar e descrever semelhanças e diferenças entre as
características e propriedades dos objetos (textura, massa, tamanho).
(EI02CG01) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no
cuidado de si e nos jogos e brincadeiras.
Instrumentalização: reproduzir o vídeo Que Som? do grupo Barba-
tuque. Link: https://www.youtube.com/watch?time_continue=33&-
v=NLkHdATPsXM&feature=emb_logo
276
Depois que assistirem, eles podem tentar reproduzir os mesmos
passos do vídeo.
Depois dessa atividade, conversar com eles, perguntando quais
partes do corpo foram utilizadas na reprodução do som. No caderno,
eles farão colagem de figuras que representam as partes do corpo
humano com as quais podemos reproduzir sons.
• Aula 3
Campo de experiência: traços, sons, cores e formas; espaço, tempo,
quantidade, relações e transformações; corpo, gestos e movimentos.
Conteúdo: brincadeira com os sons do corpo
Objetivo: ampliar a possibilidade de trabalho com a música,
mostrando que é possível fazê-la com o nosso corpo
Recursos: Notebook, revistas ou encartes, tesoura e cola.
Habilidade da BNCC –. (EI02TS01) criar sons com materiais, objetos
e instrumentos musicais, para acompanhar diversos ritmos de música.
(EI02ET01) explorar e descrever semelhanças e diferenças entre as
características e propriedades dos objetos (textura, massa, tamanho).
(EI02CG01) Apropriar-se de gestos e movimentos de sua cultura no
cuidado de si e nos jogos e brincadeiras.
Instrumentalização: dispor na sala diversos objetos, como caixas,
baldes, bacias, chocalhos; os alunos usarão como instrumentos
musicais, para acompanhar músicas que serão executadas na caixa
de som.
Objetivos
• apreciar a música;
• acompanhar a música com o próprio corpo;
• desenvolver a percepção sonora e auditiva;
• acompanhar a música cantando e improvisando.
Desenvolvimento Metodológico
277
Acordar
É a mão direita, mão direita, mão
Direita agora,
(refrão)
É o ombro direito, é o ombro direito,
É o ombro que eu vou acordar.
É o ombro esquerdo, é o ombro
Esquerdo
Os dois juntos que eu vou acordar
(refrão)
É o cotovelo direito, é o cotovelo
Direito
É o cotovelo que eu vou acordar
É o cotovelo esquerdo, é o cotovelo
Esquerdo
Os dois juntos que eu vou acordar
(refrão)
É o braço direito, é o braço direito
É o braço que eu vou acordar
É o braço esquerdo, é o braço
Esquerdo
Os dois juntos que eu vou acordar
(refrão)
É o joelho direito, é o joelho direito
É o joelho que eu vou acordar
É o joelho esquerdo, é o joelho
Esquerdo,
Os dois juntos que eu vou acordar
278
(refrão)
É o pé direito, é o pé direito, é o
Pé direito agora
É o pé direito, que eu vou acordar
É o pé esquerdo, é o pé esquerdo
É o pé esquerdo agora
Os dois juntos que eu vou
Acordar
(refrão)
É a cabeça, os ombros, as mãos,
Cotovelos e braços
Que eu vou acordar
A cintura, a barriga, o bumbum,
Os joelhos
Tudo junto que eu vou acordar
2º- Instigar as crianças a refletirem sobre as partes do corpo que podem utilizar para
produzir sons.
3º– Pedir que cada criança explore seu corpo, buscando nele sons que ele pode
produzir.
279
Conteúdo:
- percepção e qualificação de sons;
- sons de fora e sons de dentro da sala de aula;
- registro sonoro.
Você vai precisar de:
- sala para concentrar as crianças;
- duas folhas de cartolina, canetas coloridas ou lápis de cor.
Procedimento:
- Orientar os alunos para que, durante a atividade, ouçam com atenção as
sonoridades exteriores ao ambiente em que se encontram.
- Todos deverão ficar em silêncio, de olhos fechados e “ouvidos abertos” por dois
minutos.
- Após esse tempo, conversar com as crianças sobre os sons que ouviram.
- Em seguida proceder da mesma maneira, só que agora os alunos deverão atentar-
se com os sons de dentro da sala de aula.
- Após a experiência de percepção, entregar à turma duas folhas de cartolina, uma
para registrar os sons de fora da sala de aula e outra os sons de dentro da sala de
aula.
- As crianças registrarão nos cartazes o que ouviram para que todos possam
compartilhar os resultados.
- Observar as diversas maneiras de registros (grafismos, desenhos...).
- Após a atividade, conversar com o grupo sobre os sons que ouvimos no dia a dia
e suas características positivas e negativas.
280
Atividade 3 – A voz dos animais
Conteúdo
- Altura.
- Intensidade.
- Duração.
- Timbre.
Procedimento
- propor às crianças que façam uma roda e se sentem no chão.
- o(a) professor(a) inicialmente declamará a estrofe a seguir, estimulando o grupo a
respondê-la com o som do animal em questão.
- as crianças deverão reproduzir o som que o animal perguntado emite.
- após a resposta, o(a) professor(a) declama a estrofe e o(a) professor(a) novamente
escolhe o próximo animal que será emitido.
Conteúdo
- Ritmo.
- Melodia.
281
Você vai precisar de:
- Ambiente espaçoso.
Procedimento
- Formar uma roda.
- Inicia-se a canção com todas as crianças voltadas para o centro da roda.
- Quando a cantiga citar o nome da criança (primeira estrofe), ela deverá virar-se
de costas para o centro, mantendo seu lugar na roda, de mãos dadas com os
vizinhos. Assim acontecerá sucessivamente, seguindo a canção somente na
primeira estrofe e citando o nome de cada uma das crianças.
- Após todas terem sido chamadas, agora de costas para o centro, inicia-se a
segunda estrofe, que será contada tantas vezes quantas forem as crianças. Estas,
à medida que forem citadas, voltarão à posição inicial, ou seja, de frente para o
centro.
A canoa
A canoa virou
Por deixar ela virar
Foi por causa de “fulano(a)”
Que não soube remar.
Se eu fosse um peixinho
E soubesse nadar
Eu salvava “fulano(a)”
Lá do fundo do mar
- na socialização;
- no trabalho com a lateralidade no exercício da concentração e no desenvolvimento
da capacidade improviso;
- no desenvolvimento da autoestima.
Conteúdo
- contato com sons.
- ritmos.
- melodias.
Você vai precisar de:
- Ambiente espaçoso.
282
Procedimento:
- organizar o grupo de alunos em pé, formando uma roda.
- todos de mão dadas, a ciranda girará numa pulsação lenta e constante.
- na ciranda, cada participante, alternadamente, recitará seu nome, separando as
sílabas e encaixando-as no andamento do ritmo.
- após o participante recitar, o grupo repetirá da mesma forma e no mesmo ritmo,
como um eco.
- assim a atividade seguirá até todos participarem.
FONTE: <https://arquivomusical.org/como-trabalhar-com-musicalizacao-infantil/#>.
Acesso em: 4 abr. 2022.
283
FIGURA 17 – QUINZE IDEIAS CRIATIVAS PARA FAZER INSTRUMENTOS MUSICAIS COM CRIANÇAS
FONTE: <https://www.tempojunto.com/wp-content/uploads/2015/10/15-ideias-criativas-para-
fazer-instrumentos-musicais-com-criancas-xilofone-de-lapis.jpg>. Acesso em: 4 abr. 2022.
FONTE: <https://soloinfantil.com/brinquedos/instrumentos-musicais-reciclados/>.
Acesso em: 4 abr. 2022.
Procedimento
- Colocar água no recipiente, ocupando aproximadamente ¼ do seu espaço.
Emissão do som
- Encostar o bocal ou bico da garrafa um pouco abaixo do lábio inferior, soprando
para baixo.
- Caso nas primeiras tentativas não se consiga a produção do som, procurar mudar
o ângulo do sopro ou até mesmo o ângulo da garrafa, levantando-a um pouco na
diagonal.
- A flauta aquática funciona como uma flauta de êmbolo, em virtude da flexibilidade
do recipiente, como também produz interessantes efeitos sonoros.
285
Atividade 2 – Mangueira sonora
Procedimento
- Girar a mangueira em alta velocidade, segurando-a em uma das extremidades.
Procedimento
- Coloque no recipiente o recheio de sua preferência (para sons mais agudos, use
grãos menores como arroz ou areia; para sons mais graves, use grãos maiores
como feijão e lentilha etc.).
- Coloque pouco recheio e experimente o som que ele produzirá. Vá dosando a
quantidade de acordo com o som desejado.
Procedimentos
- Separar os recipientes em pares.
- Colocar a mesma quantidade de recheio em cada par para que obtenham a mesma
sonoridade.
- Tampar todos os potinhos.
Procedimento
- Prender os clipes nos orifícios da escumadeira.
286
Atividade 6 – Móbiles sonoros
Procedimento
- Amarre os objetos com fio de náilon ou barbante e pendure-os no suporte que
achar melhor.
- Construir móbiles com variação de materiais, pois cada um terá um som especial.
Atividade 7 – Lixa-lixa
Emissão do som
Abraços.
Professora Luciana Fofonka
287
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:
• O Artigo 2º da Lei nº 13.146/15 define pessoa com deficiência como alguém que
apresenta impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual
ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua
participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as
demais pessoas.
• A escola é lugar de todas as crianças. Para que seja de todos, precisa ser pensada para
todos. É preciso planejar aulas de musicalização que abarquem todas as crianças.
• Incluir não significa somente colocar todos juntos, mas ter atitudes de respeito
pelas diferenças, olhar para o outro, valorizar as potencialidades e, principalmente,
reconhecer a diversidade como algo inerente ao ser humano.
288
AUTOATIVIDADE
1 A musicalização na escola é fundamental para o processo de _________, pois,
tem caráter lúdico, de livre expressão, sem pressões por cobranças de resultados,
permite “aliviar e relaxar a criança, auxiliando na desinibição, contribuindo para o
envolvimento social, despertando noções de respeito e consideração pelo outro, e
abrindo espaço para outras aprendizagens” (CHIARELLI; BARRETO, 2005, p.26). Dado
o exposto, assinale a alternativa CORRETA que completa a frase:
a) ( ) Recuperação.
b) ( ) Inclusão escolar.
c) ( ) Avanço escolar.
d) ( ) Alfabetização.
2 Segundo Padilha (2008, p. 47), “[...] a experiência musical provoca uma série
de processos ____________________ e _________________
identificáveis e desenvolve atitudes motoras, perceptivas e cognitivas que ativam
processos afetivos e de socialização”. De que processos o autor está se referindo?
Assinale a alternativa CORRETA:
a) ( ) Neurofisiológicos – fisioterápicos.
b) ( ) Neurofisiológicos – psicológicos.
c) ( ) Linguísticos – psicológicos.
d) ( ) Neuropsicológicos e orgânicos.
289
3 Conforme Barba (2013, p.40) “cada pessoa tem um ________________
único e um ritmo próprio de conhecê-lo. Aprender um som corporal é um processo
que envolve curiosidade, prática, adaptabilidade, concentração e observação
tanto de si como do outro”.
a) ( ) Gosto musical.
b) ( ) Repertório musical.
c) ( ) Corpo sonoro.
d) ( ) Corpo musical.
FONTE: STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão: um guia para educadores. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1999.
290
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, L. M. de (2020). Disfonia infantil: sinais de alerta. Terapeuta da Fala
Hospital Lusíadas Lisboa. Disponível em: https://www.atlasdasaude.pt/artigos/
disfonia-infantil-sinais-de-alerta. Acesso em: 10 jan. 2022.
ALVES, R. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.
291
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF:
MEC, 2018.
BRITO, T. de. A. Música na pré-escola para ouvir, cantar e tocar, ed. 249. Nova
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