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Contemporânea
PROFESSOR
Dr. Augusto João Moretti Junior
FICHA CATALOGRÁFICA
Lattes: http://lattes.cnpq.br/1242626722779768
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
9 2
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O SÉCULO XVIII E O SÉCULO XIX:
AS REVOLUÇÕES: RESISTÊNCIA E
A FORMAÇÃO DESENVOLVIMENTO
DE UMA NOVA
SOCIEDADE
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79 4 115
A TRANSIÇÃO A PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XIX PARA DO SÉCULO XX:
O XX: O PROGRESSO REVOLUÇÃO, CRISE E
E DESENVOLVIMENTO TOTALITARISMOS
NÃO SALVARAM
A CIVILIZAÇÃO
HUMANA
5
155
A TRANSIÇÃO
E A SEGUNDA
METADE DO
SÉCULO XX:
VELHOS E NOVOS
CONFLITOS
1
O Século XVIII e
as Revoluções:
A Formação de uma
Nova Sociedade
Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma
porta de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o
professor de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa
verde com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro,
veste um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a
porta. Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.
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UNIDADE 1
XVIII e ainda permanece como nosso período histórico?” pode ser facilmente
alterada para: “Por que estudar o século XVIII e o que esse século tem a ver
com a minha vida hoje?” Perceba que se trata de algo essencial para Dante,
compreender por que foi transportado ao século XVIII quando o que ele quer é
compreender a sociedade em que vive.
Sabendo da importância de tal questionamento, eis a resposta de nosso pro-
fessor de História Contemporânea para Dante:
- “Voltamos ao século XVIII, mais precisamente a segunda metade desse
século, pois é nesse período que dois dos maiores eventos de nossa sociedade
humana iniciaram-se. A saber, a Revolução Industrial e a Revolução France-
sa. Investigar esses dois eventos históricos nos ajuda a compreender a forma
como vivemos hoje, pois não é possível compreendermos a sociedade atual e
seu comportamento econômico sem as indústrias, a ampliação da produção,
do consumo e do capital, assim como a Revolução Francesa foi a responsável
por fundamentar a sociedade de direito que vivemos hoje, baseada em leis
igualitárias e democráticas. Perceba, Dante, esses dois eventos são os pilares
basilares da forma como você vive, pois transformaram a nossa sociedade”.
Agora é sua vez! Com base na resposta dada pelo professor a Dante, reflita,
com base em seus conhecimentos prévios, acerca da importância de estudarmos
a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Quais grandes contribuições esses
eventos históricos geraram para a sociedade e a forma na qual vivemos hoje?
Aproveite para fazer uma lista com os aspectos que você consiga elencar. Salve em
uma pasta, desta forma, você já começa a produzir materiais para a sua carreira
como professor de História. Pode acreditar que esses materiais serão extrema-
mente úteis para a sua docência. Os alunos irão adorar.
Agora que você já viu algumas das importâncias das revoluções do século
XVIII para a nossa sociedade atual, desafio você a registrar no Diário de Bordo:
quais dúvidas já surgiram em relação a esse tema? O que você já sabe e quais
principais questões já vieram a sua mente quando o tema é Revolução Industrial?
E a Revolução Francesa? Por último, mas não menos importante, como você uti-
lizaria esses conteúdos para trazer significado para a vida de seus futuros alunos?
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DIÁRIO DE BORDO
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UNIDADE 1
A partir de agora, viajaremos junto com Dante e seu professor para analisarmos me-
lhor o que foi a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, para que, assim, possamos
compreender a importância desses eventos e como eles influenciam em nosso dia a dia.
Exatamente,
meu caro
estudante.
Pelo o que
conversamos anteriormente,
nos encontramos na Grã-
Bretanha do século XVIII, Mais precisamente,
durante o processo conhecido estamos na segunda metade do século
como Revolução Industrial. XVIII. Aqui poderemos responder algumas
Estou certo? perguntas como: O que foi a Revolução
Industrial?; Quando começou e quando
terminou?; Quais as causas da
revolução industrial e por que sua
origem é na Grã-Bretanha?
Vamos nessa?
Figura 2 - Dante e seu Professor de História dialogando na Inglaterra da segunda metade do século
XVIII / Fonte: o autor.
Descrição da Imagem: na imagem encontra-se, no canto inferior esquerdo, o busto de Dante conversan-
do com seu professor. No canto inferior direito, encontra-se o busto do professor de história respondendo
à pergunta do Dante. Ele usa óculos, gravata e um colete por cima da camisa. Tem a mão levantada em
um sinal de explicação. Ao fundo da imagem, encontram-se cinco barracões de indústrias, com chaminés,
janelas e duas portas. Logo atrás de nossos personagens principais, situam-se dois trabalhadores. Mais
ao centro, um trabalhador pequeno, parece uma criança, que puxa uma manivela. Usa boné, luvas, cami-
seta e um macacão. Tem a expressão de tédio. Ao seu lado direito, encontra-se um homem forte e alto,
manipulando duas alavancas. Veste um boné, camiseta e luvas. Ao fundo, mas na frente dos barracões,
uma pessoa está caminhando.
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UNIDADE 1
avanço foi tão rápido que em menos de 200 anos, em 1969, o homem chegou à
Lua, fato antes inimaginável para nós. Para auxiliar em sua compreensão, analise
o infográfico a seguir.
OLHAR CONCEITUAL
Descrição da Imagem: o desenho mostra ao dois homens carregando uma taça de madeira. No próximo
desenho, um homem arando a terra com um boi, no próximo há tablete de terra com escrita cuneiforme
e no último desenho um trem em cima de uma ferrovia.
“
No século XVIII, uma série de invenções transformou a indústria
de algodão na Inglaterra e deu origem a um novo modo de pro-
dução - o sistema fabril. Durante esses anos, outros ramos da in-
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UNICESUMAR
Para o historiador, essas inovações podem ser agrupadas em três principais grupos:
“
[...] a substituição da habilidade e do esforço humano pelas máqui-
nas - rápidas, constantes, precisas e incansáveis; a substituição de
fontes animadas de energia por fontes inanimadas, em especial a
introdução de máquinas para converter calor em trabalho, propor-
cionando ao homem acesso a um suprimento novo e praticamente
ilimitado de energia; e o uso de matérias-primas novas e muito mais
abundantes, sobretudo a substituição de substâncias vegetais ou ani-
mais por minerais (LANDES, 2005, p. 43).
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
Por que atribuímos o conceito de Revolução para essa alteração dos modos de produção
da manufatura para a maquinofatura? O conceito de Revolução Industrial foi tardio, sur-
gindo apenas no final de sua primeira fase, por volta de 1820, quando socialistas ingle-
ses e franceses cunharam essa expressão, sendo provavelmente uma comparação com o
movimento político que havia acontecido na França nas décadas anteriores (HOBSBAWM,
2016, p. 58). Desta forma, o nome de Revolução lhe pode ser atribuído devido às grandes
consequências que gerou na civilização humana.
Diante desses fatos, novas perguntas devem ser realizadas: Quais as causas da revolu-
ção industrial e por que a sua origem é na Grã-Bretanha? O que levou a essa mudança
drástica na forma como produzimos? Por que aconteceu na Grã-Bretanha? A
explicação para essas perguntas é complexa e a realizaremos nas próximas páginas.
Primeiramente, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a origem da
revolução industrial na Inglaterra não está vinculada a fatores externos, como
exemplo, elementos vindos de outros países, foram as suas características internas
que possibilitaram a eclosão de tal acontecimento (HOBSBAWM, 2000).
Um primeiro aspecto a ser analisado é que, por mais rápido que a Revolução
Industrial tenha ocorrido, é importante levarmos em consideração que as suas
causas são longínquas (MANTOUX, 1994), sendo necessário analisá-las no longo
prazo para, de fato, compreendermos o que separou a Inglaterra do resto do mun-
do e lhe possibilitou dar início a esse processo. O processo histórico responsável
pelo surgimento da maquinofatura – e a revolução industrial – na Grã-Bretanha
do século XVIII iniciou-se alguns séculos antes. Caro(a) estudante, é importante
que você tenha em mente que os homens e as instituições humanas estão em
contínua transformação, contudo, as mudanças mais profundas, chamadas de
estruturais, precisam de muito tempo para serem formadas, praticadas e aceitas
em uma sociedade. Desta forma, a Inglaterra já desenvolvia características que
resultaram nesse processo histórico por mais de duzentos anos.
O primeiro aspecto que devemos investigar é a base de toda economia, a
agricultura. Não seria possível o desenvolvimento da grande indústria moderna
nas cidades, com seus milhares de trabalhadores, se não houvesse uma produção
suficiente de alimentos e matérias-primas que fossem capazes de abastecer esses
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grandes centros. Para isso, um fator determinante para a Revolução Industrial foi o
denominado “cercamento das terras comunais” ou, ainda, os enclosures. Do século
XII ao XIX, realizou-se um cercamento das terras, no qual as antigas terras comuns
do feudalismo foram entregues à gentry (nobreza) inglesa para a criação de grandes
pastos para as ovelhas. Nos séculos XVI ao XVIII, a Inglaterra, um Estado unificado,
passou a intensificar a eliminação da fragmentação territorial herdada do feudalis-
mo, gerando grandes propriedades e realizando uma grande concentração de terras
nas mãos de poucos indivíduos, que tinham como objetivo tornar esses territórios
mais produtivos. Mais do que apenas a privatização das terras comuns, os enclosu-
res (cercamentos) representaram o fim dos direitos de uso que eram baseados nos
costumes antigos e que garantiam o sustento de muitas pessoas (WOOD, 2000),
uma prévia da mudança da economia moral para a economia monetária que se
concretiza com a revolução das indústrias. Por fim, uma outra consequência desse
processo de cercamentos foi a expropriação dos camponeses de suas terras, que,
de forma progressiva, foram para as cidades, formando a grande massa que seria
utilizada como mão de obra na revolução industrial.
Por conseguinte, a Inglaterra do século XVIII já havia concentrado as suas terras
nas mãos de um número pequeno de proprietários preocupados não com os costu-
mes, mas com o mercado e o comércio. De acordo com Eric Hobsbawm (2016, p. 63),
“
[...] as atividades agrícolas já estavam predominantemente dirigidas
para o mercado [...] A agricultura já estava preparada para levar a
termo suas três funções fundamentais em uma era de industrializa-
ção: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar
uma população não agrícola em rápido crescimento; fornecer um
grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as ci-
dades e as indústrias; e fornecer um mecanismo para o acúmulo de
capital a ser usado nos setores mais modernos da economia.
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
“
O país tinha uma sólida tradição marítima e, ao contrário da maio-
ria de seus rivais no continente, não desviou suas energias para a
manutenção de exércitos dispendiosos e para a expansão territorial.
Em vez disso, concentrou-se em garantir privilégios comerciais e
um império colonial, à custa, em grande parte, de seus principais
rivais continentais, a França e os Países Baixos. Essa política, menos
dispendiosa do que no território europeu, a longo prazo foi mais
vantajosa.
O governo inglês estava disposto, quando não motivado, a utilizar de todo seu
poder para subordinar os aspectos políticos do país para conseguir vantagens
comerciais. Como exemplo desses elementos, podemos citar a Guerra do Ópio
na China e a Revolta dos Cipaios na Índia, eventos que nos aprofundaremos
na Unidade 2. Outro fator importante é que, além de conseguir o monopólio
comercial ao redor do mundo, o próprio Estado britânico foi um importante
cliente de produtos, como ferro, e que consequentemente colaborou para eclosão
e desenvolvimento da Revolução Industrial (HOBSBAWM, 2000).
NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 1
“
(1) uma oportunidade de aperfeiçoamento em razão da inadequa-
ção das técnicas vigentes, ou uma necessidade de aprimoramento
criada por aumentos autônomos dos custos dos fatores; e (2) uma
superioridade de tal ordem que os novos métodos fossem compen-
satórios para cobrir os custos das mudanças (LANDES, 2005, p. 44).
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Descrição da Imagem: imagem é uma fotografia de um canal na Grã-Bretanha com alguns barcos. Na
esquerda da foto, tem uma grama que faz uma curva para a esquerda acompanhando o canal de água
à direita. Mais à esquerda da grama há um caminho para pedestres de terra clara, onde há uma pessoa
de pé no fundo da imagem e à esquerda do caminho há uma mata com árvores. Na direita da grama, há
alguns barcos, os da frente nas cores azul, ao fundo na cor verde, estacionados ao longo do canal, com
cordas amarradas em pontos fixos na grama à esquerda. Na direita do canal, há uma vegetação com
grama e alguns arbustos.
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UNIDADE 1
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“
A Revolução industrial britânica não foi apenas algodão, ou Lan-
cashire, ou mesmo tecidos, e o algodão perdeu sua supremacia pas-
sadas umas duas gerações. No entanto, o algodão deu o tom da
mudança industrial e foi o esteio das primeiras regiões que não
teriam existido se não fosse a industrialização e que expressaram
uma nova forma de sociedade, o capitalismo industrial, baseada
numa nova forma de produção, as fábricas.
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UNIDADE 1
Figura 5 - Na foto tirada em 1909 por Lewis Hine, temos um garoto chamado Raoul Julien, operando
uma spinning mule em Chace Cotton Mill, Burlington, Vermont
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
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dor. Com a indústria, surgem “mestres” que diferentemente dos séculos anteriores
não possui qualquer autoridade ou obrigação baseada na tradição, assim como o
trabalhador é reduzido a uma condição de “instrumento”, a um rompimento na
economia familiar tradicional e à criação de uma economia monetária na qual va-
lores e costumes antigos são perdidos. De fato, as principais revoltas e movimentos
operários desse período não foram realizados, apenas, por falta de alimento, mas
sim de uma luta pela preservação de seus valores tradicionais (THOMPSON, 1987).
Essas reivindicações somadas à pobreza e miséria levaram à formação dos
importantes movimentos operários conhecidos como o Ludismo, “destruidores
de máquinas”, no início do século XIX e o, talvez, mais famoso o Cartismo: “[...]
a forma condensada da oposição à burguesia” (ENGELS, 1986, p. 256). Ocorrido
entre as décadas de 1830 e 1840, ficou assim conhecido pela carta escrita por
William Lovett, em 1838, que reivindicava mudanças políticas que pudessem
beneficiar os trabalhadores. Essa carta possuía seis pontos principais: “1) Sufrágio
Universal para todos os homens adultos; 2) Renovação anual do parlamento; 3)
Fixação de uma remuneração parlamentar; 4) Eleições secretas; 5) Representa-
ções equitativas; 6) Abolição da lei que permitia apenas aos proprietários de terra
serem eleitos” (ENGELS, 1986, p. 257). Apesar do movimento cartista a princípio
não ter as suas reivindicações atendidas, o movimento foi muito importante para
os movimentos trabalhistas, pois indicava a nova sociedade que estava por vir.
Por fim, gostaríamos de apresentar uma consequência econômica da Revo-
lução industrial, de acordo com David Landes, os aperfeiçoamentos da indústria:
“
Geraram um aumento sem precedentes na produtividade e, por
conseguinte, uma elevação substancial da renda per capita. Além
disso, esse crescimento foi auto sustentado, ao passo que em épocas
anteriores, a melhoria das condições de vida, ou seja, de sobrevi-
vência, sempre foram acompanhadas por um crescimento demo-
gráfico que, por fim, consumiu os lucros obtidos. Nesse momento,
pela primeira vez na história, tanto economia como saber evoluíram
com rapidez suficiente para produzir um fluxo contínuo de investi-
mentos em inovações tecnológicas; um fluxo que levou para além
dos limites visíveis o marco das estimativas positivas de Malthus.
Desse modo, a Revolução Industrial inaugurou uma era nova
e promissora. Ainda transformou o equilíbrio de poder dentro das
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UNIDADE 1
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UNICESUMAR
Para responder
Consigo a essa questão é preciso nos
compreender com muito transportar para outro local.
mais clareza esses aspectos! Vamos nessa?
Muito Obrigado.
Contudo uma
coisa me perturba, como o
século XVIII foi definitivo para a
formação do estado de direito
individual e da igualdade
entre as pessoas?
Descrição da Imagem: na imagem encontra-se, no canto inferior esquerdo, o busto de Dante conver-
sando com seu professor. No canto inferior direito, encontra-se o professor de História respondendo à
pergunta do Dante. Ele usa óculos, gravata e um colete por cima da camisa. Tem a mão levantada em um
sinal de explicação. Ao fundo da imagem, observa-se a fortaleza da Bastilha, um castelo alto que está sendo
ocupado por várias pessoas. Na frente do castelo, dezenas de pessoas, com armas em mãos, invadem
o castelo pela porta da frente. Uma pessoa encontra-se morta no chão. No topo desta fortaleza, alguns
soldados atiram contra a multidão que está no chão. Em baixo no castelo, é possível identificarmos fumaça
advinda do conflito e dos tiros disparados. À esquerda do castelo, encontra-se o telhado de uma casa.
Nesse momento, os nossos viajantes do tempo são levados para o seu segundo
destino, ainda no século XVIII, dessa vez eles são transportados para a França, um
dos países mais desenvolvidos desse contexto e que foi lar de um dos principais
eventos políticos de toda história humana: a Revolução Francesa. A partir de
agora, juntamente a Dante e seu professor de História, faremos uma análise his-
toriográfica desse grande acontecimento histórico com o objetivo de responder
algumas perguntas principais:
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UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
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UNICESUMAR
“
‘feudalidade’, como se dizia então, ou ‘feudalismo’, que remete a uma
codificação de inspiração marxista para caracterizar o modo de
produção; ‘sociedade de ordens’, que define uma estrutura global;
e ‘absolutismo’, que caracteriza um sistema político e um modo de
governo. Sem cair na armadilha das palavras, essas são as três refe-
rências que podem nos guiar para compreender o que o povo queria
derrubar (VOVELLE, 2012, p. 5).
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UNIDADE 1
REI
Burguesia e povo
(saint-culottes e camponeses)
TERCEIRO ESTADO Mais de 24 milhões de pessoas
Descrição da Imagem: a imagem é um desenho de uma pirâmide que ilustra a divisão social da França
por Estados durante o Antigo Regime. Na base e em maior quantidade, estava o Terceiro Estado, forma-
do por camponeses, citadinos e burgueses que sustentavam economicamente a França. Há uma seta
vermelha apontando para um texto à direita: Burguesia e povo (saint-culottes e camponeses), mais de
vinte e quatro milhões de pessoas O Segundo Estado, ao centro da pirâmide, era formado pela nobreza e
isento de qualquer obrigação. Há uma seta azul apontando para um texto à direita: Nobreza de sangue e
nobreza de espada, trezentos e cinquenta mil pessoas. O Primeiro Estado era formado pelo clero também
isento das obrigações fiscais. Há uma seta amarela à direita: Alto Clero e Baixo Clero com cento e vinte
mil pessoas. No topo da pirâmide, ficava o rei absoluto.
Essa estrutura social, muito parecida com a feudal, permaneceu até a eclosão
da revolução. Essa divisão social carregava os privilégios e, consequentemente,
as desigualdades do sistema feudal. Isso é algo que deve ficar claro, não existia
igualdade na França pré-revolucionária. O alto clero era formado cem por cento
pela nobreza e detinha aproximadamente dez por cento das terras. Os aristocra-
tas, o Segundo Estado, eram proprietários de aproximadamente 25% a 30% das
terras e possuíam privilégios fiscais, como, por exemplo, a isenção no pagamento
de impostos. A aristocracia era um resquício do feudalismo da época medieval,
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UNICESUMAR
Uma outra causa importante está relacionada às ideias. O século XVIII é conhe-
cido como o século das Luzes. É nesse contexto que se propagou um movimento
conhecido como Iluminismo, do qual importantes filósofos e pensadores fran-
ceses fizeram parte, por exemplo: Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Diderot.
Esse movimento, de uma forma geral, se posicionou contra o absolutismo, a in-
tolerância religiosa e o sistema “feudal” que a sociedade ainda vivia, defendendo
principalmente a liberdade e uma política em que os indivíduos tivessem parti-
cipação do Estado e fossem protegidos por um documento jurídico, como uma
constituição (VOVELLE, 2007). Sendo assim, suas principais ideias são liberdade,
igualdade e governo representativo, que no contexto de 1789 encontraram um
contexto excepcional para se impor (VOVELLE, 2012).
Esse tipo de ideologia propagou-se principalmente no ambiente urbano, onde
a revolução, assim como no campo, se propagou de uma forma rápida e potente.
De acordo com o Eric Hobsbawm, a revolução:
“
[...] não foi feita ou liderada por um partido ou movimento orga-
nizado, no sentido moderno, nem por homens que estivessem ten-
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UNIDADE 1
Sendo assim, a burguesia seria o grupo detentor das ideias que impulsionaram
a revolução. Contudo, um debate historiográfico se apresenta em relação a isso.
Para Michel Vovelle (2012), trata-se de uma discussão historiográfica, para alguns
historiadores a burguesia na concepção que possuímos hoje não existia. Seria
ilusão acreditar em um bloco homogêneo e monolítico. Temos que levar em
consideração que, na França pré-revolucionária, apenas 15% da população era
urbana, sendo que muitos dos “burgueses” continuavam obtendo a maior parte
de suas rendas de rendas fundiárias e não de empreendimentos urbanos como
podemos ser levados a acreditar. A burguesia no sentido moderno se concentrava
em atividades urbanas ligadas, principalmente, ao comércio marítimo. Por fim,
existiam, ainda, os profissionais liberais (médicos, tabeliães e advogados) que
apesar de viverem do sistema existente possuíam uma ideologia independente
do Antigo regime e colaboraram a travar a revolução (VOVELLE, 2012).
Uma outra causa importante para a eclosão da revolução francesa foi a péssima
situação econômica que o país vivia. Com um sistema fiscal, administrativo
e tributário atrasado a economia do país sofria muito tanto por causa dos altos
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UNICESUMAR
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UNIDADE 1
OLHAR CONCEITUAL
1789
Abertura dos Estados-gerais em 5 de Maio
Formação da Assembleia Nacional Constituinte pelo
Terceiro Estado Tomada da Bastilha pela
população parisiense em 14 de Julho "O Grande
Medo" se espalha pela França
1791
Fuga do rei Luís XVI Promulgação da
Constituição francesa
1792
Luís XVI preso sob a acusação de ajudar o
movimento contrarrevolucionário Instauração
da "Convenção" a Primeira República da França
Promulgação de uma nova constituição.
1793
Execução de Luís XVI Tomada do poder da
Convenção pelos Jacobinos
1794
Thermidor e queda de Robespierre do poder
1795
Promulgação de uma nova constituição
Tomada do poder pelo Diretório
1799
Golpe 18 Brumário e fim do Diretório
Constituição do Ano VIII e criação do Consulado
sob o poder de Napoleão Bonaparte que duraria
até 1804 quando se tornaria imperador da França
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UNICESUMAR
Nessa crise, entre aristocracia e monarquia, os nobres viram uma “brecha” para
tentar recapturar o estado que estava em mãos absolutistas há vários séculos. Diante
desses diversos elementos, que faziam da França em 1789 um verdadeiro barril de
pólvora, o monarca Luís, XVI, que por sinal não possuía as habilidades necessá-
rias para lidar com tal situação, forneceu a brecha que a nobreza tanto esperava e
convocou a Assembléia dos estados Gerais, que não era convocada desde 1614.
Contudo, essa tentativa da aristocracia de retomar o Estado foi frustrada por duas
questões principais. Primeiramente, não levou em consideração a péssima situação
socioeconômica que a França vivia e, segundo, não deu a devida importância ao
Terceiro Estado que também participaria dessa assembleia (HOBSBAWM, 2016).
De acordo com Robert Palmer (2014, p. 350),
“
[...] se o povo francês — ou muitos deles — estava em um estado
de espírito radical no início de 1789, eles foram levados a ele por
seus próprios superiores até então aceitos. O próprio rei, e Calon-
ne, haviam lançado as palavras ‘abuso’, ‘privilégio’, ‘aristocracia’. Os
parlamentos lançaram de volta o epíteto de ‘despotismo’. Cada um
havia minado a confiança na boa-fé do outro. Ambos criaram
grandes expectativas. O rei havia falado da necessidade de equaliza-
ção de impostos e de assembleias eleitas com base na representação
igualitária dos proprietários de terras. Os parlamentares haviam
divulgado a necessidade de uma constituição, da participação pú-
blica no governo e da segurança dos direitos individuais. Ambos
tinham dado a impressão de que algo estava radicalmente errado
com o país, que existiam grandes males, e que estes deviam e logo
poderiam ser corrigidos.
Por conseguinte, essa disputa entre aristocracia e monarquia fizeram com que o
próprio povo francês aumentasse as suas reivindicações e radicalismo, tendo em
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UNIDADE 1
vista que as instituições de poder daquele país estavam atacando uma à outra,
abrindo espaço para a desconfiança e ação da grande massa popular.
Ao somarmos tudo isso, no verão de 1789, pode-se afirmar que ocorreu não
uma, mas, sim, três revoluções: “uma revolução institucional ou parlamentar na
cúpula; uma revolução urbana ou municipal; e uma revolução camponesa” (VO-
VELLE, 2012, p. 20). Pobres ou ricos, os camponeses têm uma conta a acertar com o
sistema feudal – ou aquilo que sobrou dele – e a revolução camponesa irá convergir,
ao menos durante certo tempo, com a dos burgueses da cidade (VOVELLE, 2007).
Reunir a Assembléia dos Estados Gerais era uma forma dos monarcas
absolutistas consultarem os representantes dos três estados. A criação dessa as-
sembleia possibilitou o povo francês de se manifestar. Várias dolências retratando
a situação do povo francês foram levadas até a monarquia por seus representantes
do Terceiro Estado. Este, aproveitando-se da situação, conseguiu, junto ao rei e a
seu ministro, o direito de ter o mesmo número de deputados que os dois outros
estados juntos. A ideia era que os votos fossem realizados individualmente por
cada deputado. Contudo, diante de tamanha representatividade do terceiro Es-
tado, o Primeiro e Segundo Estado juntamente à monarquia recusaram o pedido
de voto por deputado e deliberaram que o voto ocorresse por estado, dando ao
povo apenas 1 ⁄ 3 dos votos e a impossibilidade de vencer. Diante disso, repre-
sentando os trabalhadores pobres das cidades, o campesinato, assim como a
minoria militante instruída das cidades, o Terceiro Estado, após seis semanas, se
recusou a participar desse modelo de Assembléia Geral e deu início à Revolução
ao implementar uma Assembléia Nacional Constituinte com o direito de criar
uma constituição (VOVELLE, 2007; HOBSBAWM, 2016).
Caro(a) estudante, é importante você perceber que ao declarar uma Assembleia
Nacional Constituinte o Terceiro Estado estava declarando o fim do absolutismo,
afinal, o próprio rei estaria submisso a essa constituição. Inicialmente, o rei pareceu
concordar com tal decisão e inclusive mandou os outros dois Estados a se juntarem
a essa assembleia. No entanto, nesse meio tempo, ele reuniu tropas para realizar uma
contrarrevolução e derrotar a revolução. Contudo, o povo estava se mobilizando para
combater o rei e defender a Assembleia Constituinte. Quando o Luís XVI demitiu o
seu ministro Necker no dia 11 de julho, a revolução oficialmente estourou, pois no
dia 14 de julho de 1789 ocorreu um dos principais acontecimentos da Revolução
Francesa: os parisienses realizaram a tomada da Bastilha (VOVELLE, 2007).
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UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura que representa a queda da Bastilha em 1789 pela po-
pulação parisiense. Na imagem, é possível observar a população em conflito com o exército e destruindo
a fortaleza ao atear fogo e derrubar seus muros. Na esquerda da imagem, podemos observar uma cons-
trução grande com muros altos e duas torres, uma mais à frente e outra mais ao fundo ao centro. Abaixo
à esquerda, há destroços de um pequeno muro com algumas pessoas com roupas da época com pedras
na mão. No centro da imagem e abaixo, há mais pessoas com baionetas nas mãos, há também alguns
homens com roupas militares azul da época. Na direita da imagem, há mais homens com baionetas,
barris de madeiras deitados e outros em pé. Na direita abaixo e acima da imagem, há muita fumaça cinza.
A queda da Bastilha representa a queda não apenas de uma fortaleza onde o povo
encontrou armas para combater a monarquia, trata-se da tomada de
“
[...] uma prisão estatal que simbolizava a autoridade real e onde
os revolucionários esperavam encontrar armas. Em tempos de re-
volução nada mais poderoso do que a queda de símbolos. A queda
da Bastilha, que fez do 14 de julho a festa nacional francesa, ratificou
a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como o
princípio de libertação (HOBSBAWM, 2016, p. 109-110).
A partir desse evento, o rei teve que aceitar a nova situação iminente de proclama-
ção de uma monarquia constitucional, assim como teve que aceitar a nova insígnia
41
UNIDADE 1
tricolor, “um símbolo dos novos tempos” (VOVELLE, 2012, p. 23). Esse evento ob-
teve um forte impacto em outras regiões da França e, também, nos campos. Só por
terem o conhecimento da Queda da Bastilha, iniciaram-se revoltas camponesas. De
acordo com Robert Palmer (2014, p. 357), “em alguns lugares eles foram tomados
por um tempo pelo pânico chamado Grande Medo, acreditando que seus campos
e aldeias estavam prestes a ser assaltados por bandidos a soldo de aristocratas”.
Sendo assim, no fim de julho e início de agosto de 1789, os camponeses de di-
versas regiões como Marselha, Lyon e Rennes deram início a uma série de ataques,
saques e incêndios. Os camponeses também atacaram diversas regiões senhoriais,
fazendo com que muitos aristocratas fugissem de suas terras. Esse evento ficou co-
nhecido como “O Grande Medo” (La Grande Peur) e foi o responsável pela queda do
feudalismo rural francês (HOBSBAWM, 2016, p. 110). Nesse contexto, a Assembléia
Nacional aboliu os privilégios feudais, contudo, fez uma separação entre direitos
irrevogavelmente abolidos e aqueles que poderiam ser resgatados.
Além disso, entre 1789 e 1791, essa mesma As-
sembleia Nacional preparou uma constituição
que pudesse representar e reger a nação france-
sa. Antes mesmo da sua promulgação, em 26 de
agosto foi publicado os Direitos do Homem e
do Cidadão, que já antecipavam as principais ca-
racterísticas que seriam apresentadas na constitui-
ção, a saber: “a liberdade, igualdade, propriedade e
segurança” (VOVELLE, 2012, p. 25). Trata-se da:
“[...] primeira etapa de um gigantesco trabalho
de transformação e renovação da França que essa
Assembleia irá realizar” (VOVELLE, 2007, p. 41).
Figura 9 - Representação dos “Direitos do homem e do
cidadão” (1789) / Fonte: Le Barbier (1789, on-line) e Wikimedia (1789, on-line).
Descrição da Imagem: na imagem é uma pintura em que há os dezessete artigos que compõem o Di-
reito do homem e do cidadão, que está escrito em amarelo com um fundo preto. No topo da imagem à
esquerda, há uma mulher com o joelho esquerdo no chão, ela usa roupa vermelha e um manto azul, ela
está segurando correntes quebradas nas duas mãos. Na direita e no topo da imagem, encontra-se uma
mulher com asas, ela usa roupa branca e um manto rosa; ela segura um pequeno bastão dourado na sua
mão direita que aponta para cima e, no centro da imagem, para um sol em forma de triângulo com um
olho aberto no meio, do sol onde saem raios de luz amarelo. Em volta do sol, há nuvens em um céu azul.
42
UNICESUMAR
43
UNIDADE 1
44
UNICESUMAR
“
[...] controlar o movimento popular dos sans-culottes, suprimir as
assembléias e afastar seus líderes mais destacados, os hebertistas
[...] foram acusados de conspiração e executados [...] Para conse-
guir isso, Robespierre teve de contar com o apoio dos “Indulgentes”,
um grupo que, ao contrário, considerava que a Revolução tinha ido
longe demais, era preciso pôr fim ao Terror. O mais famoso deles,
Danton, acabará, por sua vez, sendo julgado pelo Tribunal revolu-
cionário e depois executado [...] O mecanismo do terror acelera-se;
a guilhotina faz um número cada vez maior de vítimas, enquanto
muitos desejam o fim da Revolução (VOVELLE, 2007, p. 81-82).
45
UNIDADE 1
46
UNICESUMAR
Com certeza
algo transformador!
Perfeito!
A partir dessa compreensã
podemos continuar a nossa
viagem para responder a suas
outras perguntas.
47
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que
você obteve nessa primeira unidade sobre a importância das revoluções do século
XVIII para a formação da sociedade que vivemos hoje.
Chegou a hora de colocar a mão na massa e descobrir o que de fato você pode
aprender nesta unidade. Desta forma, convido você a realizar um Mapa mental.
Esse tipo de produção, além de lhe ajudar a compreender as suas ideias acerca
do conteúdo, devido à sua capacidade de ilustrar conteúdos, também lhe permite
organizar melhor essas ideias em sua mente, fazendo com que o aprendizado per-
maneça de uma forma duradoura em sua memória. Por isso, convido-lhe agora a
realizar um mapa mental apresentando cinco causas da Revolução Industrial na
Grã-Bretanha. Você pode realizá-lo aqui mesmo no livro, ou ainda, na ferramenta
GoConqr - www.goconqr.com.
2
O Século XIX:
Resistência e Desenvolvimento
Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma
porta de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o
professor de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa
verde com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro,
veste um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a
porta. Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.
52
UNIDADE 2
Posso
perguntar porque permanecemos
na França em nossa viagem pelo
século XIX?
53
UNIDADE 2
54
UNIDADE 2
DIÁRIO DE BORDO
55
UNIDADE 2
o que está
acontecendo nesse momento
que torna tão importante
a nossa permanência
na França?
A Coroação
daquele homem!
56
UNIDADE 2
Desta forma, a entrada de Napoleão como cônsul foi capaz, a partir de suas gran-
des habilidades, de resolver os principais problemas da França, consequentemen-
te, a partir de articulações políticas, Bonaparte foi capaz de conseguir se eleger
imperador da França em dezembro de 1804.
De acordo com Georges Lefebvre (2011), um dos motivos que colaboraram
para que o povo apoiasse Napoleão como um imperador foi a quebra do Tratado
de Amiens (1801) pelos britânicos por volta de 1803. Esse acordo tinha selado a
paz entre França e Inglaterra e finalizado um conflito que durava anos. Contudo,
as ações de Napoleão a partir de 1799, como Cônsul, e a sua expansão pela Europa
trouxeram as hostilidades de volta. A quebra do acordo permitiu que Napoleão
colocasse a culpa total da guerra nos britânicos, concedendo-lhe a oportunidade
de ser visto pela nação francesa como uma pessoa forte e determinada capaz
de vencer esse conflito. Ou seja, possibilitou-lhe conseguir o título imperial e a
hereditariedade de sucessão (LEFEBVRE, 2011).
Após uma série de articulações políticas, no dia 02 de dezembro de 1804,
com a presença do Papa, na Catedral de Notre Dame, Napoleão recebeu do sumo
pontífice o cetro, no entanto, Bonaparte foi até o altar pegou a coroa e a colocou
sobre a sua própria cabeça, em um ato simbólica de seu poder, de que ele próprio
teria conseguido se tornar imperador com seus próprios méritos. Em seguida,
o agora imperador realizou um juramento de liberdade e igualdade. Sua esposa,
Josephine, também foi coroada pelas mãos do próprio marido.
57
UNIDADE 2
Figura 2 - Napoleão coroa sua esposa, Josephine, como imperatriz da França em 1804
Fonte: David (1807, on-line)
Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura, tendo ao fundo a nobreza sentada ou em pé com um
olhar de satisfação. Ao centro e em destaque, temos Napoleão Bonaparte, que é coroado Imperador da
França, vestindo branco e vermelho com detalhes em ouro. Napoleão está com os braços erguidos segu-
rando uma coroa prestes a coroar Josephine. Esta está ajoelhada e vestida nas mesmas cores e modelo
que Napoleão. A imperatriz assume uma posição de oração enquanto espera ser coroada, atrás dela duas
mulheres seguram a ponta de seu grande manto. Atrás de Napoleão, encontra-se o Papa sentado e ao
seu lado membros do clero observam o ato de coroação. À frente da imagem à direita, encontram-se dois
nobres de costas para o observador ricamente vestidos com detalhes em dourado.
Como imperador da França, podemos afirmar que Napoleão acabou com a Re-
volução na França, no entanto, espalhou os seus ideais por toda a Europa. Com
base em seu poderio militar, impôs à Europa continental a ideia de liberdade e
igualdade, pregadas na França revolucionária.
Com o novo conflito com a Inglaterra, várias batalhas e conquistas napoleônicas
se seguiram na Europa continental. O imperador teve que enfrentar diversas coalizões
europeias ao longo de seu governo, formadas por países absolutistas que lutavam
contra as ideias propagadas pela França, entre eles devemos citar a Prússia, Rússia,
Áustria, Suécia e Reino Unido. Em determinados momentos com participações de
países como Portugal e Espanha, que também foram ocupados por Napoleão I.
De acordo com o historiador Eric Hobsbawm (2016a, p. 147):
58
UNIDADE 2
“
A Áustria foi derrotada em 1805 na batalha de Austerlitz, na Mo-
rávia, e a paz lhe foi imposta. A Prússia, que declarou guerra tarde
e separadamente, foi destruída nas batalhas de Iena e Auerstedt,
em 1806. A Rússia, embora derrotada em Austerlitz, espancada em
Eylau (1807) e derrotada novamente em Friedland (1807), perma-
neceu intacta como potência militar. O Tratado de Tilsit (1807) tra-
tava-a com justificável respeito, embora estabelecendo a hegemonia
francesa sobre o resto do continente.
Muito vinculado à sua família, conforme foi conquistando os países na Europa conti-
nental, Napoleão distribuiu o poder dos países conquistados aos seus irmãos. Por exem-
plo, a José foi dado o reino da Espanha, a Luís, o reino da Holanda e Jerônimo, o reino
da Vestfália. Por volta de 1812, o império Napoleônico atingiu a sua expansão máxima.
Contudo, o sucesso militar do império francês não se reproduziu no mar. Os
franceses, já em 1805, foram derrotados na batalha de Trafalgar, destruindo qual-
quer chance de Napoleão invadir a Grã-Bretanha pelo canal da Mancha. Dian-
te dessa situação, Napoleão buscou derrotar os britânicos por meio de sanções
econômicas e, por isso, em 1806, criou o Bloqueio Continental (HOBSBAWM,
2016a). Conhecido, também, como sistema continental, Napoleão proibiu que os
países da Europa Continental realizassem comércio com a Grã-Bretanha.
No entanto, alguns países, mesmo sob ameaça de serem invadidos, mantiveram
relações comerciais com os britânicos, como foi o caso de Portugal, invadida pelas
tropas napoleônicas em 1807 e da Rússia. A quebra do Tratado de Tilsit pelos
russos levou Napoleão a invadir a Rússia, em 1812, medida que daria início ao fim
do primeiro Império Francês. As dificuldades de manter o seu exército abastecido,
somado ao inverno russo, fizeram que, dos 610 mil homens que invadiram Moscou,
apenas 100 retornassem dessa malograda campanha (HOBSBAWM, 2016a, p. 148).
Nesse momento, diante do enfraquecimento do poder napoleônico, foi for-
mada a colisão final contra os franceses, composta pelos antigos inimigos, prin-
cipalmente as potências absolutistas como Áustria, Prússia e Grã-Bretanha.
Neste momento, caro(a) estudante, você pode estar se perguntando: se a aliança
contra Napoleão era feita por absolutistas, por que a Grã-Bretanha, uma monarquia
liberal, burguesa, desde o final do século XVII, estava lutando ao lado dos países
absolutistas? Por que não estava ajudando Napoleão a propagar os ideais de liber-
dade e igualdade? A resposta é bastante pragmática. A França era a única potência
europeia capaz de concorrer economicamente e militarmente contra os britânicos.
59
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
Título: Napoleon
Autor: Georges Lefebvre
Editora: Routledge
Sinopse: nesta obra do famoso historiador francês Georges Lefeb-
vre, encontramos um trabalho monumental acerca da vida e trajetória de
um dos principais personagens da história, Napoleão Bonaparte. No livro,
é possível estudarmos desde o seu processo de ascensão como jovem mi-
litar da França revolucionária, passando pela sua chegada ao poder como
primeiro Cônsul da França até o seu governo como imperador nos anos de
1804 a 1815.
60
UNIDADE 2
61
UNIDADE 2
“
[...] foi tanto um sentimento quanto um corpo de ideias coerentes.
No entanto, pode ser identificado como o herdeiro da Contra-
-revolução. Em última análise, os ultra-monarquistas eram de-
fensores da soberania real livre de qualquer noção de soberania
nacional. Isso não significava necessariamente que sua devoção
à dinastia Bourbon não tivesse limites; viam na monarquia o
meio de aumentar sua dominação social, cultural e política. De
um modo geral, os ultra-monarquistas estavam dispostos a ver
o Antigo Regime como uma idade de ouro em que a monarquia
dependia dos elementos ‘superiores’ da sociedade (principalmente
a nobreza e o clero) para proporcionar um bom governo basea-
62
UNIDADE 2
Com a morte de Luís XVIII, sem deixar herdeiros, os ultra-realistas obtiveram seu
maior sucesso, quando o líder deste grupo, o conde de Artois, irmão de Luís XVIII,
em 1824 se tornou o rei da França, com o nome de Carlos X. O monarca agiu
de acordo com a sua ideologia de defender o Antigo Regime. Junto ao ministro,
também ultra-monarquista, Jean-Baptiste de Villèle, o conde de Villèle, passaram a
recuperar o status da Igreja Católica, perdida ao longo do processo revolucionário,
criou leis para indenizar a nobreza que teve suas terras confiscadas pela revolução,
ou, ainda, a apresentação de um projeto de lei que censurava a imprensa.
Diante dessa busca pelo Antigo Regime, o governo de Carlos X será du-
ramente combatido pela oposição liberal. É válido lembrar que a busca pelo
poder da aristocracia e a busca pelos setores democráticos de derrubar essa
restauração monárquica, vista como uma ameaça à revolução, colocou a bur-
guesia entre essas duas grandes forças (OLIVEIRA, 2000).
Em meio a tudo isso, Carlos X foi derrubado pela segunda onda revolucionária
liberal que assolou a Europa entre 1829 e 1834. No dia 28 de julho de 1830, barricadas
foram levantadas na cidade de Paris e um ataque aconteceu contra a sede do governo,
o Hôtel de Ville. Ao longo de três dias, ocorreu uma luta entre as forças militares reais
e a população. De acordo com Robert Alexander, ao longo dos trois glorieuses (três
gloriosos dias de luta), 800 insurgentes e 200 soldados morreram. Desta forma, em
“
[...] 2 de agosto, Carlos X decidiu abdicar em favor de seu neto, o
duque de Bordeaux, antes de partir para seu exílio final. Havia pouca
escolha, dada a rapidez com que a França provincial se aliara a um
governo provisório parisiense. Depois disso, um parlamento de 252
deputados e 114 pares rejeitou Bordeaux e estabeleceu uma nova
monarquia constitucional sob o duque de Orleans. Em 9 de agosto,
Louis-Philippe I tornou-se rei dos franceses, estabelecendo assim
o princípio da soberania nacional (ALEXANDER, 2003, p. 287).
Esse evento, conhecido como a Revolução Liberal de Julho de 1830, colocou Luís
Felipe de Orleans para servir ao interesse dos banqueiros, de acordo com Karl
63
UNIDADE 2
Marx, o banqueiro liberal, Jacques Laffitte teria dito “De agora em diante reinarão
os banqueiros” (MARX, 2012, p. 37).
Descrição da Imagem: ao centro da pintura, em destaque, uma mulher branda uma bandeira da França.
Essa mulher está com os seios de fora e detém uma postura de liderança de uma grande massa que a
segue. Ao seu lado direito, uma criança vestindo um boné, camisa branca, colete escuro, calça marrom
segura duas pistolas em suas mãos. Uma apontada para cima e outra para baixo. À frente, no chão, en-
contram-se três homens mortos, dois, mais à direita, são claramente soldados, outro à esquerda veste
uma camisa branca e está sem as suas calças. Uma pessoa de camisa azul e lenço vinho na cabeça está
de joelho em uma posição de adoração à frente da mulher que segura a bandeira. Ao lado esquerdo da
mulher, de pé, um homem segura a espingarda, ele veste calça marrom, camisa branca, colete e terno
preto e em seu pescoço um lenço preto. Mais ao fundo, encontram-se pessoas bradando armas e espadas
seguindo a mulher com a bandeira. O céu mostra que estão em um local de guerra urbana. No fundo à
direita, construções aparecem em meio a fumaça.
É fácil considerarmos que a partir de 1830 com o governo de Luís Felipe inicia-
va-se um governo da burguesia na França. Contudo, Karl Marx faz uma ressalva
em relação a isso, tendo em vista que:
“
Quem reinou sob Luís Filipe não foi a burguesia francesa, mas uma
facção dela: os banqueiros, os reis da bolsa, os reis das ferrovias,
os donos das minas de carvão e de ferro e os donos de florestas
em conluio com uma parte da aristocracia proprietária de terras, a
64
UNIDADE 2
Desta forma, governou a França uma facção da burguesia mais rica com o apoio
de uma aristocracia proprietária de terras, formando uma aristocracia financeira.
Sendo assim, com o passar dos anos, o monarca adotou uma política de endivida-
mento do estado, por interesse do grupo burguês que governava. O grande déficit
público que a França entrou e que a enfraquecia era o mesmo que enriquecia os
burgueses financeiros que a lideravam. A nível de comparação, os gastos públi-
cos na época da Monarquia de Julho foram o dobro dos gastos realizados pelo
imperador Napoleão (MARX, 2012, p. 39).
Politicamente, o governo de Luís Felipe não foi tão flexível quanto deveria, sen-
do que governava, ou mesmo, representava apenas os interesses de uma parcela da
classe média e, como já vimos, uma parcela da burguesia. Os camponeses e a pe-
quena burguesia estavam excluídos do poder político. O povo estava cansado dessa
situação e um forte movimento revolucionário começa a se formar na França, de
uma maneira muito parecida com o que havia acontecido no final do século XVIII
com a Revolução Francesa. As facções não dominantes da burguesia incitavam o
povo a combater a corrupção que a Monarquia de Julho realizava junto à burguesia
financeira e industrial, o povo, por sua vez, começava a pedir o fim deste governo.
A essa situação política insustentável, somou-se uma catástrofe social e eco-
nômica. O início da década de 1840 foi marcada por uma grande depressão em
todo o continente europeu. As colheitas, principalmente de batata, foram um de-
sastre, deixando sociedades inteiras como a da Irlanda a ponto de morrer de fome.
Como consequência, na França houve um aumento no preço dos alimentos. Além
disso, outro fator contribuiu: no mesmo período ocorreu uma grande depressão
na indústria, o que gerou um elevado número de desempregados (HOBSBAWM,
2016a). Percebe, caro(a) estudante, as pessoas estavam perdendo seu emprego,
que já pagava pouco, em um momento em que o preço para sobreviver subiria e
a França passava por um saque das elites financeiras.
Todo esse contexto tornou a Monarquia de Julho insustentável. Aprovei-
tando-se desse contexto, a burguesia que não fora beneficiada por esse governo
passou a realizar banquetes nas ruas e incitava a população a se revoltar em busca
de mudanças políticas e uma reforma eleitoral. O resultado não tardou em chegar.
65
UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
As jornadas de fevereiro de 1848 deram início a uma onda revolucionária contra os regi-
mes autoritários de várias regiões da Europa e que ficaram conhecidas como “Primavera
dos Povos (1848)”. Após a França, o movimento de caráter liberal, nacionalista e socialista
se espalhou rapidamente pelo sudoeste alemão, a Bavária, Viena, Hungria, Milão, e di-
versas regiões europeias. Para Eric Hobsbawm (2016b, p. 32), “[...] em poucas semanas,
nenhum governo ficou de pé em uma área da Europa que hoje é ocupada completa ou
parcialmente por dez Estados”. É válido lembrar que essa foi a primeira revolução global,
influenciando movimentos no Brasil e Colômbia. O autor explica que: “a revolução de
1848 [...] foi, ao mesmo tempo, a mais ampla e a menos bem sucedida revolução desse
tipo. No breve período de seis meses de sua explosão, sua derrota universal era segura-
mente previsível; 18 meses depois, todos os regimes que derrubou, com exceção de um,
foram restaurados” (HOBSBAWM, 2016b, p. 33).
De acordo com Karl Marx, em sua obra As Lutas de Classe na França, após a queda
de Carlos X foi criado um governo provisório, sob a liderança de Jacques-Charles Du-
pont de l’Eure para comandar a França. Contudo, existia um problema. Esse governo
era composto pelas diversas classes sociais e partidos que participaram da jornada,
a burguesia possuía os principais representantes, sendo que a classe operária tinha
apenas dois representantes Louis Blanc e Albert. Entretanto, diferentemente de 1830,
os trabalhadores não permitiriam que os burgueses os utilizassem como massa de
manobra para trocar o poder e colocassem no poder alguém que eles quisessem como
fizeram em 1830. No dia 25 de fevereiro, a república ainda não havia sido proclamada,
todavia, os ministérios já haviam sido distribuídos entre os burgueses, os trabalhadores
66
UNIDADE 2
estavam dispostos a proclamar uma república pela força das armas se necessária. E
foi com essa ideia que um operário Raspail, em nome dos operários de Paris, foi até o
Hôtel de Ville e ordenou que fosse proclamado a república no prazo máximo de duas
horas, caso não fosse realizado, ele voltaria com 200 mil homens e tomaria o poder.
Antes que o tempo acabasse foram proclamados: République français! Liberté, Egalité,
Fraternité! (República francesa! Liberdade, Igualdade, Fraternidade!) (MARX, 2012).
Não se engane, caro(a) estudante, a república criada em 1848 não possuía
caráter operário, mas, sim, burguês. Os poucos direitos que foram conquistados
pelos trabalhadores, a princípio, foram retirados em junho daquele mesmo ano,
1848. Um deles, as Oficinas Nacionais, que empregavam mais de 100 mil operá-
rios, foram fechadas. Diante dessa situação, os operários não tiveram escolha a
não ser iniciar, novamente, um movimento armado contra a república burguesa
instaurada, a estes novos movimentos deram o nome de Jornadas de Junho,
“
[...] para os insurgentes, as Jornadas de Junho foram diferentes de
todas as revoltas anteriores. Essa batalha não foi travada por uma
confiança montanhesa de que eles carregavam o futuro com eles;
era, antes, uma defesa sem esperança que eles tinham de empreen-
der, a fim de permanecerem homens e não vítimas de outra revo-
lução roubada. Le Tocsin des Travailleurs culpou o governo por
seguir uma política social e econômica mais destrutiva do que a de
Louis-Philippe: une mâle et sombre résignation. Melhor morrer a
tiros, diziam, do que de fome (HARSIN, 2002, p. 295).
Para Karl Marx: “o proletariado parisiense foi forçado à Insurreição de Junho pela
burguesia” (2012, p. 48). Nas Jornadas de Junho, lideradas por Auguste Blanqui,
novas barricadas foram erguidas em Paris, os trabalhadores exigiam uma repúbli-
ca democrática e social. Os revoltosos foram combatidos pelas tropas do general
Louis- Eugène Cavaignac. Com ajuda de forças vindas da província, Cavaignac
esmagou a revolução dos trabalhadores. Durante quatro dias, de mil e quinhentos
a três mil insurgentes foram mortos. Aqueles que não morreram, foram conde-
nados à prisão ou à deportação, cerca de quinze mil foram deportados (MARX,
2011b). Consolidava-se assim, uma república burguesa.
67
UNIDADE 2
“
[...] Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes
personagens da história mundial são encenados, por assim dizer,
duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa. Caussidière como Danton, Luís
68
UNIDADE 2
Para Karl Marx, o primeiro golpe 18 de brumário feito por Napoleão Bonaparte
foi uma tragédia para os franceses, contudo, o de seu sobrinho foi uma farsa. Ao
se estabelecer no poder, Napoleão III progressivamente centralizou o poder em
suas mãos, promulgando uma nova constituição em 14 de janeiro de 1852, au-
mentando os poderes do presidente, de forma que pode encaminhar um processo
político que instaurou o Segundo Império Francês no dia 02 de dezembro de
1852. Sob o título de imperador Napoleão III, governou entre 1852 e 1870.
De acordo com o historiador Roger Price, o segundo império da França pro-
moveu mudanças estruturais na economia e na sociedade, assim como inovações
no sistema de governo. Seu governo coincidiu com um desenvolvimento eco-
nômico mundial, sendo que muitas de suas conquistas podem ser consideradas
por muitos como coincidências, todavia, os impactos da economia internacional
foram reforçados pelos fatores internos do governo que buscou aumentar os
investimentos em infraestrutura, como rodovias, ferrovias e telégrafo elétrico,
promovendo na França uma revolução nos transportes (PRICE, 2001).
O segundo império francês durou de 1852 a 1870, quando Napoleão III foi
derrotado na batalha de Sedan contra os prussos liderados por Otto von Bismarck,
na chamada Guerra Franco Prussiana (1870-1871). O colapso desse regime foi
causado justamente devido à incompetência da política externa. Ao ser derrotado e
capturado em Sedan no dia 2 de setembro de 1870, juntamente a cem mil soldados,
as notícias da humilhante derrota francesa se tornaram pública em Paris no dia
seguinte. O império havia perdido todo o crédito e sua derrota destruiria a sua legi-
timidade de poder. Diante disso, na cidade de Paris, deputados republicanos exigem
a troca do governo e o fim do império francês, recebendo o apoio das multidões, em
4 de setembro, invadiram o palácio Bourbon, não houve resistência alguma nem
derramamento de sangue. Os republicanos mais moderados viram a oportunidade
de estabelecer um Governo provisório de Defesa Nacional, sob a liderança de
Adolphe Thiers e Jules Favre, tendo em vista que a França estava sob ataque e a ci-
dade de Paris sitiada (PRICE, 2001). Iniciava-se a Terceira República da França.
69
UNIDADE 2
“
[...] enviou tropas com ordem de retirar à Guarda Nacional a arti-
lharia que lhe pertencia, pois fora construída e paga por subscrição
pública durante o assédio de Paris. A tentativa não conseguiu êxito.
Paris levantou-se como um só homem, declarando-se a guerra entre
Paris e o governo francês instalado em Versalhes. A 26 de março foi
eleita, e a 28 proclamada, a Comuna de Paris, O Comité Central da
Guarda Nacional, que até então havia exercido o poder, renunciou
em favor da Comuna, depois de decretar a abolição da escandalosa
‘polícia de costumes’ de Paris. A 30, a Comuna suprimiu o serviço
militar obrigatório e o exército permanente, reconhecendo a Guarda
Nacional como a única força armada, à qual deviam pertencer todos
os cidadãos válidos (MARX, 2011a, p. 14-15).
70
UNIDADE 2
OLHAR CONCEITUAL
1804 a 1814
Primeiro Império da França sob a liderança
de Napoleão Bonaparte
1814 a 1830
Restauração - Volta do governo monárquico com a dinastia
Bourbon, possuindo Luís XVIII entre 1814 a 1824, com
uma breve interrupção em 1815 com o Governo dos
"Cem Dias" do próprio Napoleão Bonaparte, e posteriormente
o comando de Carlos X de 1824 a 1830.
1830 a 1848
Monarquia de Julho. Início de uma Monarquia
Burguesa com o reinado de Luís Felipe I
de Orléans
1848 - 1852
Segunda República da França
1852 - 1870
Segundo Império da França - Napoleão III
1870 - 1940
Terceira República da França
1871
Comuna de Paris
Fonte: David (1801, on-line), Gerard (1825a; 1825b, on-line), Winterhalter (1841, on-line), Dopter (1849,
on-line), Pyle ([s.d.], on-line) e Richebourg (1871, on-line).
71
UNIDADE 2
72
UNIDADE 2
Figura 4 - Foto das famosas barricadas da Comuna de Paris. Essa situou-se na Rua Voltaire durante
a Semana Sangrenta em 1871 / Fonte: Braquehais (1871, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem é uma foto preto e branco que representa uma barricada em 1871,
construída pela população parisiense durante a Semana Sangrenta da Comuna de Paris. Na foto, é possível
observar dezenas de homens fardados e armados. O uniforme é composto por boné, calças, botas, cintos
e uma espécie de sobretudo. A maioria dos homens usam barba ou bigode. Eles estão em volta de uma
barricada. Trata-se de um muro erguido com paralelepípedos de pedra da própria rua Voltaire. Atrás do
muro, em um buraco, está um canhão apontado e direção de quem vê a foto. Ao fundo é possível vermos
uma construção de esquina com provavelmente quatro andares de arquitetura típica da cidade de Paris
no século dezenove. Ao lado do canhão, encontra-se um jovem erguendo um instrumento responsável
por empurrar as balas de canhão. No extremo canto direito, é possível ver um adolescente posando para
a foto de uma forma que aparenta ser escondida. À frente do muro, é possível ver uma pá que utilizaram
para levantar as pedras das ruas.
73
UNIDADE 2
PENSANDO JUNTOS
Lutando nas linhas de frente e gerindo as oficinas, as mulheres obtiveram um papel fun-
damental na Comuna de Paris. Contudo, isso não impediu que as mulheres sofressem
com o machismo. Dessa forma, as mulheres enfrentaram uma luta dupla. Uma pela Co-
muna e a outra contra o machismo, pois enfrentavam problemas como falta de instrução,
salários menores e a falta de direitos iguais.
Diante do ganho de força dos comunardos, Thiers pediu ajuda à Prússia que detinha
uma grande quantidade de soldados franceses como prisioneiros. Com medo do
crescimento dos ideais da comuna, a Prússia liberal dezenas de milhares de sol-
dados franceses que foram utilizados por Thiers para destruir a comuna de Paris.
De acordo com Claude Willard, o processo foi feroz, trinta mil homens, mulheres
e crianças foram mortos, dos 35 mil prisioneiros muitos foram deportados para a
Nova Calcedônia no oceano Pacífico (WILLARD, 2001). Com isso encerrava-se a
Comuna de Paris e entrava em vigor, novamente, a Terceira República da França.
Dante,
conseguiu acompanhar toda
essa discussão? São muitas as
mudanças políticas,
não é mesmo?
74
UNIDADE 2
- Dante: Entendi. Logo, posso afirmar que o século XIX na França deixou como
legado para a história europeia e mundial que o povo possui a força necessária para
fazer as alterações políticas necessárias em sua sociedade?
- Professor de História: Perfeito, Dante. É isso mesmo. Esses movimentos
populares mostraram ao mundo a força da sociedade civil quando se une em
favor de um ideal. A história que analisaremos em seguida na nossa viagem no
tempo foi marcada por essas ideias populares, podemos afirmar que o mundo
nunca mais foi o mesmo. O receio de uma revolução popular tornou-se frequente
ao longo do século XX. Continuaremos a nossa investigação a seguir!
Caro(a) estudante, uma vez alerto que as descobertas desta unidade serão
extremamente importantes para a sua futura profissão docente. Ensinar os mo-
vimentos políticos populares aos alunos lhe ajudará a mostrar o poder político
que a sociedade civil, principalmente, a classe trabalhadora possui para mudar
a sua condição política. Isso ajuda os alunos a perceberem a importância que a
política possui no dia a dia, consequentemente os ajuda a perceber a importância
de possuírem uma participação política ativa.
75
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que você
obteve nessa segunda unidade sobre a importância das revoluções do século XVIII
para a formação da sociedade que vivemos hoje.
“[...] Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da
história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de
acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Caussidière
como Danton, Luís Blanc como Robespierre, a Montanha de 1848-51 como a Mon-
tanha de 1793-95, o sobrinho como o tio. E essa mesma caricatura se repete nas
circunstâncias que envolvem a reedição do 18 de brumário”.
O trecho pertence ao sociólogo Karl Marx, nele é criticado um fato histórico. Assinale
o fato histórico ao qual o sociólogo se refere.
2. Com base em sua análise e reflexões acerca das informações acerca do Segundo
Império Francês, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.
PORQUE
76
Com medo da Comuna de Paris, Napoleão III foi obrigado a desenvolver a economia
do país, para, assim, evitar novas convulsões sociais e tomada de poder como ocorreu
em 1871. Essa proposta fez com que o imperador fizesse um longo reinado de paz.
77
3
A Transição
do Século XIX
Para o XX:
O Progresso e Desenvolvimento Não
Salvaram a Civilização Humana
Dr. Augusto João Moretti Junior
Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.
80
UNICESUMAR
Dante,
Posso saber, você sempre me
porque viemos para a África surpreende com
se estamos estudando o suas perguntas
desenvolvimento da Histórica sagazes.
Contemporânea, muito ligada,
ainda, aos países
Europeus.
Não se
preocupe, a hora
é agora!
81
UNIDADE 3
82
UNICESUMAR
Chegou a sua hora de tentar responder à dúvida de Dante. Com base na resposta
apresentada pelo professor de História e nos seus conhecimentos prévios, convido
você a refletir sobre: por que os processos históricos na transição do século XIX para
o XX demonstraram que as tecnologias industriais não necessariamente levaram
a civilização humana ao progresso? Quais processos históricos demonstram um
possível retrocesso nesse período? E avanço, quais processos históricos foram res-
ponsáveis pela melhoria? Aproveite para fazer uma lista com as ideias que você con-
seguiu refletir e guarde em um lugar de fácil acesso, afinal, pouco a pouco estamos
construindo um material que lhe será útil quando se tornar professor de História.
Agora que você já teve a oportunidade de fazer uma lista e já iniciou o seu processo
de aprendizagem sobre os processos históricos do final do século XIX e início do XX,
convido você a registrar em seu Diário de Bordo: quais são as suas principais dúvidas
acerca desse tema apresentado? O que você já sabe e quais questões vieram à sua mente
acerca do Imperialismo e Primeira Guerra Mundial? Por fim, como esses conhecimen-
tos podem ajudar o seu aluno a compreender melhor o mundo em que vive?
DIÁRIO DE BORDO
83
UNIDADE 3
“
1 Forma de governo em que a nação é um império que tem por di-
rigente um imperador ou uma imperatriz.; 2 Designação que, no Se-
gundo Reinado brasileiro, era dada pelos liberais à ação pessoal de
Dom Pedro II no exercício do poder moderador, espécime de quarto
poder privativo do monarca que lhe assegurava também as atribui-
ções de chefe do Executivo e de primeiro representante da nação.;
3 ECON, POLÍT Expansão ou tendência para a expansão do
poder político e econômico de uma nação ou Estado sobre ou-
tro.;4 ECON, POLÍT Sistema de governo que busca expandir-se
e dominar países mais fracos sob o ponto de vista econômico,
político, administrativo, cultural etc.; expansionismo.; 5 FIG
Influência decisiva exercida por alguém ou algo (p ex, uma teoria,
instituição, doutrina ou concepção); hegemonia, soberania, suprema-
cia: O imperialismo da razão neoliberal. O imperialismo linguístico
constitui séria ameaça à liberdade cultural. O imperialismo dos meios
de comunicação (MICHAELIS, [2022], on-line, grifo nosso).
Como sabemos o termo império é utilizado há milhares de anos pelos povos das
mais diferentes regiões do globo. Contudo, o que utilizamos aqui está vinculado
às definições três e quatro apresentadas pelo dicionário. A partir de agora, uti-
lizaremos o conceito de imperialismo para identificar um conjunto de ações e
ideologias ocorridas no século XIX e XX, no qual alguns países industrializados,
principalmente europeus, realizaram uma expansão e dominação econômica,
política, cultural e territorial sobre outros povos e civilizações.
84
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Apenas para você ter uma dimensão, caro(a) estudante, essa obra influenciou
Vladimir Ilyich Ulyanov, popularmente conhecido como Lenin, na escrita, às
vésperas da Revolução Russa, de sua obra Imperialismo: Fase Superior do Ca-
pitalismo (1916). Na obra, Lênin explica o Imperialismo como uma das fases do
capitalismo, mais especificamente: [...] em sua essência econômica o imperialis-
mo é o capitalismo monopolista (LENIN, 1999, p. 119).
Em relação ao seu período e local de acontecimento, de acordo com o histo-
riador britânico, Eric Hobsbawm (2016), a era do imperialismo ocorreu, prin-
cipalmente, entre os anos de 1875/1880 e 1914, em um movimento de divisão
formal do globo pelas potências industriais europeias juntamente ao Japão e
Estados Unidos da América. Com exceção da Europa e da América, o globo fora
85
UNIDADE 3
dividido entre eles e as duas principais regiões que sofreram com isso foram a
África e o Oceano Pacífico como um todo. Em 1914, a África estava inteiramente
dividida entre o império britânico – que se tornará o maior império de toda a
história da humanidade com 35,5 milhões de quilômetros quadrados, aproxima-
damente 23,84% de toda área terrestre do planeta – franceses, alemães, belgas,
portugueses e espanhóis. Apenas a Etiópia conseguiu resistir e se manter indepen-
dente. Já a região do Oceano Pacífico não restou nem um estado independente,
sendo distribuídos, por sua vez, entre britânicos, franceses, alemães, holandeses,
estadunidenses e japoneses (HOBSBAWM, 2016).
A América, de forma geral, não foi dividida entre os países imperialistas. A
esse fato atribui-se como fator o aumento da força e do poder dos Estados Unidos
da América, que impôs o seu domínio econômico, militar e político sobre qua-
se todo continente, contudo, sem uma conquista formal, como estava sendo
realizado na África, por exemplo. Nenhum país europeu desafiou a chamada
Doutrina Monroe – América para os americanos – na qual os estadunidenses
adotaram para si a missão de impedir o domínio europeu aqui no continente.
Esta doutrina fora expressa pelo presidente estadunidense James Monroe
em uma mensagem ao congresso americano no dia dois de dezembro de 1823.
Abaixo traduzimos uma das partes fundamentais deste discurso.
“
[...] como princípio em que estão envolvidos os direitos e interesses
dos Estados Unidos, que os continentes americanos, por a condição
livre e independente que eles assumiram e mantêm, não devem,
doravante, ser considerados como sujeitos para futura colonização
por quaisquer potências européias [...] Devemos-lhe, pois, à fran-
queza e às relações amigáveis existentes entre os Estados Unidos
e essas potências para declarar que devemos considerar qualquer
tentativa de sua parte de estender seu sistema a qualquer parte deste
hemisfério como perigosa para nossa paz e segurança. Com as colô-
nias ou dependências existentes de qualquer potência européia, não
interferimos e não devemos interferir. Mas com os Governos que
declararam sua independência e a mantêm, e cuja independência
temos, por grande consideração e por princípios justos, reconhe-
cida, não poderíamos ver qualquer interposição com o propósito
de oprimi-los ou controlar de qualquer outra maneira seu destino,
86
UNICESUMAR
por qualquer poder europeu sob qualquer outra luz que não seja
a manifestação de uma disposição hostil em relação aos Estados
Unidos [...] (MONROE, 1823, on-line).
Descrição da Imagem: imagem preta e branca. Nela temos uma paisagem separada em dois planos.
Esses planos são divididos por um rio, que representa o Oceano Atlântico. À direita do rio, encontra-se uma
placa escrita: “Não ultrapassar. América para os americanos. Tio Sam” Atrás dela encontra-se o Tio Sam,
símbolo dos Estados Unidos da América. Ele carrega um rifle com baioneta, usa um boné, com cabelos
compridos e barba. Usa uma roupa militar e uma calça listrada. Ele se posiciona de forma a dar a impressão
que está protegendo três pessoas ao fundo. Dois estão de pé e um ajoelhado, representando os países
Nicarágua e Venezuela. Do outro lado do rio, que seria a Europa, encontram-se cinco figuras europeias,
vestidas a caráter de sua cultura. São elas: Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha. Em baixo
na imagem está escrito: Mantenha distância! A Doutrina Monroe deve ser respeitada.
87
UNIDADE 3
Tendo realizado essas primeiras definições podemos nos perguntar agora: quais
foram as causas do Imperialismo? Se levarmos em consideração a análise dos
já mencionados Hobson (1902) e Lenin (1916), sabemos que o Imperialismo é
uma fase do capitalismo resultante da Revolução Industrial. Isso mesmo, a Re-
volução Industrial, estudada na primeira unidade deste livro, tem uma ligação
direta com o Imperialismo, sendo uma de suas principais causadoras. Mas por
que essa afirmação é correta? Veja, quando analisamos o imperialismo e o porquê
das potências se lançarem e dividirem o globo entre si, perceberemos que pos-
suíam dois objetivos principais: primeiro a busca por matérias-primas e
segundo, mercado consumidor. Com essas informações, a reflexão fica simples.
Quais regiões do planeta eram ricas em recursos naturais ao mesmo tempo que
possuíam uma grande densidade populacional? Isso mesmo, a África como um
todo e os Estados do oceano Pacífico. Lembre-se que a América não fora atingida
devido, principalmente, à Doutrina Monroe.
Com a Revolução Industrial e o aumento da produção, novos problemas ou
oportunidades se apresentaram: para aumentar a produção, é preciso matéria-pri-
ma, assim como do que adianta aumentar a produção se não temos para quem
vender? Percebe, caro(a) estudante, a Revolução Industrial influenciou de forma
determinante na busca por esses dois objetivos, que, por sua vez, colaboraram nesse
processo histórico – bastante negativo, um retrocesso do ponto de vista humano –
que conhecemos como Imperialismo. De acordo com Hobsbawm (2016, p. 102):
“
Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia
global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens
do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas,
comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando
os países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido. Sem
isso não haveria um motivo especial para que os Estados europeus
tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questões, digamos,
da bacia do rio Congo, ou tivessem se empenhado em disputas di-
plomáticas em torno de algum atol do Pacífico. Essa globalização
da economia não era nova, embora tivesse se acelerado considera-
velmente nas décadas centrais do século.
88
UNICESUMAR
“
[...] era ‘gerenciar’ o processo de colonização em curso na África [...]
para evitar a eclosão do conflito armado entre potências coloniais
rivais. Seu resultado foi a conclusão de um Ato Geral ratificado por
todas as principais potências coloniais, incluindo os EUA. Entre
outras coisas, o Ato Geral estabeleceu as condições sob as quais o
território pode ser adquirido na costa da África; internacionalizou
dois rios (o Congo e o Níger); orquestrou uma nova campanha para
abolir o comércio terrestre de escravos; e declarou como “neutra”
uma vasta faixa da África Central delimitada como a “bacia conven-
cional do Congo”. Um evento paralelo foi o reconhecimento dado
ao incipiente Estado Livre do Congo do rei Leopoldo, que emergiu
misteriosamente das atividades científicas e filantrópicas da Asso-
ciation internationale du Congo (CRAVEN, 2015, p. 32)
Para além da divisão formal do continente, devemos, ainda, analisar dois aspec-
tos principais, presentes na citação apresentada, que são fundamentais para o
movimento imperialista. Primeiramente, o reconhecimento do Estado livre do
Congo como território do rei da Bélgica, Leopoldo II. Com a mentira de que
suas intenções eram científicas e filantrópicas na região, o rei belga “enganou” a
todos, e iniciou no Congo um dos governos mais violentos de todo período im-
perialista. Em busca de explorar seus recursos naturais, estima-se que os belgas
assassinaram entre 5 e 10 milhões de africanos, além de mutilarem, violentarem e
sequestraram outros milhões, principalmente com a decepação de uma das mãos,
como uma punição pela baixa produtividade (HOCHSCHILD, 1999).
89
UNIDADE 3
Figura 3 - Um pai encara a mão e o pé de sua filha de cinco anos, que foi punida por colher pouca
borracha para os belgas no Congo / Fonte: Harris e Harris (1904, on-line).
Descrição da Imagem: imagem é uma fotografia em preto e branco. No plano principal e ao centro da
imagem, temos um homem negro de perfil voltado para a esquerda com apenas uma tanga, sentado
na frente de um jardim contendo quatro palmeiras e dois jovens negros usando apenas tangas, que
estão atrás de uma planta babosa em um vaso à direita, o observam. O homem observado está sentado
apoiando seu braço esquerdo em seu joelho esquerdo. Tem um olhar contemplativo e triste para um pé
e uma mão que estão colocadas na sua frente. Ao fundo, há uma criança negra usando uma tanga atrás
de uma palmeira à direita.
90
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: na imagem, possuímos um mapa mundi cinza claro. O fundo branco representa os
oceanos e mares. No mapa, está pintado de uma cor vinho todas as regiões que faziam parte do Império
Britânico no seu auge, contendo principalmente a atual região do Canadá, ilhas no Caribe, a Guiana na
América do Sul, todo o extremo sul da África, grande parte da região leste da África, o nordeste e o sul da
península árabe, região continental da Índia, ilhas na Oceania e a Austrália.
Como vimos anteriormente que ela possuía 35,5 milhões de quilômetros quadra-
dos, aproximadamente 23,84% de toda área terrestre do planeta, ¼ da população
mundial estava sob o seu poder.
91
UNIDADE 3
Onde e Potência
Conflito Motivos Desfecho
Envolvida
A proibição da venda
do ópio pelo governo
Os britânicos
chinês em 1839 e a ma-
vencem e obrigam
Guerra do Ásia/China nutenção do comércio
a China a abrir
Ópio Potência envolvi- pelos britânicos fez
os seus portos e
(1839/1842 e da: Grã-Bretanha com que os chineses
a ceder a ilha de
1856-1860) Vs Chineses afundassem navios
Hong-Kong aos
britânicos, fornecendo o
britânicos.
motivo para o início do
conflito.
O governo britânico
se envolveu para
Ásia/Índia
proteger os inte-
Potência envolvi-
Levantes armados con- resses das compa-
Revolta dos da: Grã-Bretanha
tra a ocupação britânica nhias de comércio,
Sipaios e Companhia das
e medidas tomadas pela venceu o Império
(1857) Índias Orientais
Companhia das Índias. Mogol e transfe-
vs Índia/Império
riu o governo da
Mogol
Índia para a Coroa
Britânica.
África/África do Sul
Guerra dos Potência envolvi- O Exército britânico que-
Vitória britânica que
Bôeres da: Grã-Bretanha ria se apossar das minas
passou a controlar
(1880/1881 e vs colonos de de ouro e diamante
esse território.
1899-1902) origem holandesa presentes nesta região.
e francesa (bôeres)
92
UNICESUMAR
Figura 5 - Potências imperialistas dividem a China entre si / Fonte: Meyer (1898, on-line).
93
UNIDADE 3
“
Assim sendo, a sensação de superioridade que uniu os brancos oci-
dentais - ricos, classe média e pobres - não se deveu apenas ao fato
de todos eles desfrutarem de privilégios de governante, sobretudo
quando efetivamente estavam nas colônias. Em Dacar ou Mom-
baça, o mais modesto funcionário era um amo e era aceito como
gentleman por pessoas que nem teriam notado sua existência em
Paris ou Londres; o operário branco era um comandante de negros
(HOBSBAWM, 2016, p. 115).
94
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: uma charge colorida. Existe uma montanha composta por diversas pedras gran-
des. No topo da montanha, está uma estátua escrita civilização. As pedras que compõe o caminho pos-
suem palavras escritas como: ignorância, opressão, superstição, canibalismo brutalidade, barbarismo,
escravidão, crueldade. Escalando as pedras, rumo ao topo, encontram-se dois homens. O primeiro, mais
a frente, é um senhor com jaqueta vermelha, calça e camisa branca. Usa uma cartola preta. Apoia-se
na pedra com a ajuda de um cajado. Esse homem carrega em suas costas um cesto de palha com cinco
homens dentro. São homens das colônias da qual é possível ler o nome de 3: China, Zulu, Índia. Atrás,
encontra-se a representação do Tio Sam, símbolo dos EUA. Ele usa uma cartola com listras brancas e
vermelhas, estrelas brancas sobre um fundo azul. Uma jaqueta azul com calça listrada em branco e ver-
melho, sapatos pretos. No braço esquerdo, uma faixa branca com uma cruz vermelha. Em suas costas,
encontra-se um cesto de palha com cinco homens também representando homens das colônias, é possível
ler os nomes Cuba, Hawai, Filipinas.
95
UNIDADE 3
Caro(a) estudante, se refletirmos por um instante, fica evidente que tal ideia, do
fardo do homem branco, é evidentemente racista, tendo em vista que colocava os
europeus e estadunidenses como as únicas nações desenvolvidas que possuíam a
missão e a capacidade de “salvar” os outros povos levando-os até o que denomina-
vam de civilização. Um segundo aspecto que gostaríamos de analisar, em relação
ao racismo, está vinculado ao denominado Darwinismo Social. Essa teoria lhe
ajudará, também, a compreender o “fardo do homem branco”.
Em 24 de novembro de 1859, foi publicado, pela primeira vez, o livro A Ori-
gem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou Preservação das Raças Fa-
vorecidas na Luta pela Vida, do naturalista Charles Darwin. Trata-se de um
livro revolucionário para a civilização humana que, se formos explicar de uma
forma bastante simplista, realizava uma análise do desenvolvimento das espécies
a partir da teoria da evolução. Nesta, as espécimes passaram por um processo
de seleção natural de acordo com a capacidade que os seus indivíduos possuem
de se adequar ao seu ambiente e, consequentemente, sobreviver e se reproduzir.
A partir da obra de Darwin, alguns autores a distorceram a ponto de ela ficar
irreconhecível. De acordo com Niall Ferguson: “pseudocientistas do século XIX
dividiam a humanidade em ‘raças’ com base nas características físicas externas,
ordenando-as segundo diferenças hereditárias não só físicas, mas também de
caráter. Anglo-saxões estavam obviamente no topo, africanos no último lugar”
(FERGUSON, 2017, p. 277). Uma dessas pseudociências foi criada por George
Crombe em seu livro de 1825: Um sistema de frenologia. Nele, Crombe buscava
explicar as diferenças entre as raças a partir de uma análise dos crânios das pes-
soas. A frenologia: “era apenas uma de uma série de falsas disciplinas que tendiam
a legitimar as suposições sobre diferenças raciais que, havia muito tempo, eram
correntes entre colonizadores brancos” (FERGUSON, 2017, p. 278).
Em relação ao chamado darwinismo social, de acordo com Arno Mayer
(1987, p. 276):
“
Proporcionou um apoio pseudocientífico para as antigas classes domi-
nantes e governantes que vinham se reafirmando. O darwinismo social se
adequava à sua mentalidade elitista, onde a ideia de desigualdade estava
profundamente enraizada. Em sua concepção, os homens eram desiguais
por natureza, e o mesmo ocorria quanto à estrutura da sociedade, para
sempre destinada a ser dirigida pela minoria dos mais aptos a governá-la.
96
UNICESUMAR
Sendo assim, a deturpação das ideias de Charles Darwin, serviram para que os
imperialistas justificassem o processo violento e criminoso que realizavam nas
colônias, tanto na África quanto no oceano pacífico, sob a justificativa de que esta-
vam levando a civilização, fardo do homem branco, ou que eram uma raça superior
destinada, pela natureza, a governar as raças inferiores. Em conclusão, o imperia-
lismo se utilizou de ideias racistas para se beneficiar de seu processo de expansão.
Acerca das ideias racistas, recomendamos que assista o documentário indi-
cado abaixo.
NOVAS DESCOBERTAS
Entre outras consequências do Imperialismo, Niall Ferguson (2017, p. 376) explica que
“
Sem a propagação do domínio britânico pelo mundo, é difícil
acreditar que as estruturas do capitalismo liberal tivessem se es-
tabelecido com tanto sucesso em tantas economias diferentes pelo
mundo. Os impérios que adotaram modelos alternativos – o russo
e o chinês – impuseram uma miséria incalculável aos povos que fo-
ram seus súditos. Sem a influência do comando imperial britânico,
é difícil acreditar que as instituições da democracia parlamentar
teriam sido adotadas pela maioria dos estados no mundo, como
são hoje. A Índia, a maior democracia do mundo, deve reconhecer
ao comando britânico, mais do que tem feito. Suas escolas de elite,
suas universidades, seu serviço público, seu exército, sua imprensa
e seu sistema parlamentar, todos ainda têm modelos britânicos re-
conhecíveis. Finalmente, há a própria língua inglesa, talvez o artigo
97
UNIDADE 3
Alguma outra
consequência que
devemos analisar
agora? Sim,
mas para isso iremos
nos transportar agora
para 1914 na Europa
Ocidental. Vamos
nessa!
Descrição da Imagem: foto em preto e branco. Nela é possível vermos, aproximadamente, vinte dois
homens em uma linha, apoiados em uma trincheira. O chão é coberto por grama. Ao fundo, mais distante,
uma vegetação alta. Os soldados, na linha de frente, estão apontando os seus fuzis. Os homens usam
bonés, casacos, calças e botas. Cintos de couro e mochilas com seus equipamentos.
98
UNICESUMAR
Nesse momento, os nossos viajantes do tempo são levados para o próximo des-
tino, a França, à beira do Rio Marne, no ano de 1914. Trata-se da região de uma
das maiores batalhas da Primeira Guerra Mundial, a Batalha de Marne. A partir
de agora, juntamente a Dante e seu professor de História, faremos uma análise
historiográfica desse grande acontecimento histórico, a Primeira Guerra Mundial,
com o objetivo de responder algumas perguntas principais:
99
UNIDADE 3
“
[...] não significa dizer que a Alemanha foi a única culpada pela
guerra, afinal o que ela queira (colônias, territórios, hegemonia na
Europa) era simplesmente o que todos os outros Estados europeus
tinham ou ao menos ambicionavam. Não é possível falar de “culpa
alemã” [...] mas talvez de responsabilidade alemã, que desafiou o
status quo e levou a alterações no sistema de alianças europeu e,
por fim, à guerra (BERTONHA, 2011, p. 36-37).
O excerto apresentado reforça a ideia de que a Alemanha não pode ser culpada
pela guerra sozinha, no entanto, fora a única potência com poder suficiente para
questionar o sistema estabelecido na Europa até então.
Desta forma, a “ameaça” alemã agitou o jogo político europeu no período da
Paz Armada. Nesse contexto, alguns elementos já perigosos por si só, tornaram-se
ainda mais prejudiciais quando se fundiram, estamos falando do nacionalismo,
colonialismo e militarismo. Como analisamos anteriormente, o imperialismo como
consequência da Revolução Industrial buscava matérias-primas e mercado con-
100
UNICESUMAR
sumidor nas colônias na África e no Oceano Pacífico. Contudo, mais do que força
econômica, as colônias também se tornaram símbolo de força, prestígio político
e autoafirmação de um povo. Isso colaborou na formação de um nacionalismo
exacerbado, a ideia de superioridade de uma nação frente às outras. A busca pe-
los interesses da “nação” e seu fortalecimento colaborou na formação da Primeira
Guerra Mundial, tendo em vista que, após o imperialismo ter repartido todo o
globo, a única forma de aumentar o território de uma nação, como a Alemanha, que
chegará depois na disputa neocolonial, era diminuindo, tomando de outro país, algo
que gerava uma tensão e em um momento ou outro levaria a um conflito entre essas
potências (BERTONHA, 2011). A corrida imperialista causou uma tensão entre as
potências, gerada principalmente pelo protecionismo. De acordo com Eric Hobs-
bawm (2016, p. 109): “[...] o novo imperialismo foi o subproduto natural de uma
economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias industriais
concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1880”.
Por conseguinte, o período da Paz Armada, além de ser marcado pelo impe-
rialismo e nacionalismo, também teve presente um grande militarismo. Diante
da ameaça eminente de conflito com outra potência europeia, as nações iniciaram
uma mudança na forma de pensar a guerra, de se preparar. Trata-se da formação
de um militarismo exacerbado. Caro(a) estudante, é importante que você tenha em
mente que, para as elites políticas do início do século XX, a guerra possuía uma
conotação completamente diferente da que possuímos hoje. Enquanto possuímos
uma perspectiva negativa, a liderança naquele período via a guerra como mais um
instrumento político, do qual poderiam utilizar-se para alcançar seus interesses.
Com o risco cada vez mais iminente, contudo sem nenhuma previsão de
quando aconteceria, as potências passaram a se preparar. De acordo com Eric
Hobsbawm (2016, p. 467-469):
“
Os gastos militares britânicos permaneceram estáveis nos anos 1870
e 1880, tanto em termos de porcentagem do orçamento total como
per capita em relação à população. Mas passou de 32 milhões em
1887 para 44,1 milhões de libras esterlinas em 1898-1899, e a mais
de 77 milhões em 1913-1914. [...] Em 1885, a Marinha custara ao
Estado 11 milhões de libras - em torno da mesma ordem de gran-
deza que em 1860. Em 1913-1914 custou mais de quatro vezes esse
montante. No mesmo período, os gastos navais alemães aumenta-
101
UNIDADE 3
102
UNICESUMAR
Por conseguinte, o contexto europeu era tão inflamável que uma simples fagulha
podia incendiar o mundo. O estopim para a Grande Guerra – sinônimo de Pri-
meira Guerra Mundial utilizado até hoje – ocorreu em junho de 1914. O príncipe
herdeiro da Áustria-Hungria, Francisco Ferdinando Carlos Luís José Maria, em
uma visita à cidade de Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, foi assassinado por Gra-
103
UNIDADE 3
“
[...] a França ameaçou a Alemanha e as ameaças de mobilização se
sucederam. A partir daí, todas as antigas tensões e medos e todos
os planos de guerra vieram à tona e a máquina da morte se colocou
em movimento. Entre 28 de julho e o início de agosto de 1914, as
declarações de guerra começaram a ser feitas e o conflito se iniciou
efetivamente. Pouco a pouco outros países entraram no conflito. Do
lado das Potências Centrais estavam a Alemanha, a Áustria-Hun-
gria, o império Turco-Otomano e a Bulgária; [...] dos Aliados, a
104
UNICESUMAR
Gravilo Princip não poderia acreditar que o seu atentado teria dado início ao
maior conflito da história da humanidade: a Primeira Guerra Mundial.
Caro estudante, neste momento gostaríamos de apresentar, historiograficamen-
te, o posicionamento de dois historiadores em relação às causas da Primeira Guerra
Mundial. Enquanto Eric Hobsbawm, em seu livro A Era dos Impérios, busca uma
explicação econômica, na qual o capitalismo empurrou o mundo ao imperialismo
e a rivalidade entre os Estados e, consequentemente, à guerra (HOBSBAWM, 2016),
para Arno Mayer (1987), “a Grande Guerra de 1914, [...] foi uma consequência da
remobilização contemporânea dos anciens régimes da Europa. Embora perdendo
terreno para as forças do capitalismo industrial, as forças da antiga ordem ainda
estavam suficientemente dispostas e poderosas para resistir e retardar o curso da
história, se necessário recorrendo à violência. A Grande Guerra foi antes a expressão
da decadência e queda da antiga ordem, lutando para prolongar sua vida, do que do
explosivo crescimento do capitalismo industrial, resolvido a impor sua primazia.
Por toda a Europa, a partir de 1917, as pressões de uma guerra prolongada afinal
abalaram e romperam os alicerces da velha ordem entrincheirada, que havia sido
sua incubadora (MAYER, 1987, p. 13-14). Caro(a) estudante, não se trata de teses
opostas, mas sim complementares que nos ajudam a compreender melhor a for-
mação da Primeira Guerra Mundial e do século XX.
Contudo, o historiador Niall Ferguson, em seu livro A Guerra do Mundo,
possui uma visão distinta das causas da Primeira Guerra Mundial. Ferguson se
contrapõe à ideia de que a Primeira Guerra Mundial foi consequência de um
período crescente e de tensão mundial. Opõe-se à ideia de que a Primeira Guerra
Mundial foi a consequência de uma longa crise, seja ela econômica ou política.
Para ele, a Grande Guerra foi um choque, e justamente por isso as consequências
desse conflito “abalaram tanto as estruturas mundiais. É o imprevisível que causa
os maiores distúrbios, não o esperado” (FERGUSON, 2015, p. 157).
Agora, com as causas explicadas e analisadas, podemos responder à nossa
segunda pergunta sobre o tema: “Como esse conflito se desenvolveu e por que
ficou conhecido como a Grande Guerra?”
105
UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
Caro(a) estudante, é muito importante que você tenha a concepção de que o front Orien-
tal na Primeira Guerra Mundial foi tão importante, violento e mortífero quanto o ociden-
tal. Diversas batalhas foram travadas na Rússia, Itália, na África, nos Balcãs e no Oriente
Médio que deixaram milhões de mortos. Por exemplo, o genocídio armênio, em 1915,
realizado pelo Império Turco-Otomano, no qual mais de 1 milhão de armênios foram as-
sassinados, violentados e seus corpos jogados em rios e valas (FERGUSON, 2015). Outros
grupos foram perseguidos pelos otomanos, incluindo gregos, cristãos assírios, anatólios
e pônticos, somando aproximadamente mais 1 milhão de pessoas. A situação se agrava
ainda mais pelo fato de o governo turco não reconhecer, até os dias atuais, o genocídio
armênio. Em abril de 2021, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu esse
evento histórico como um genocídio.
Vamos à análise das duas etapas da guerra no lado europeu ocidental. O proble-
ma para os alemães era claro, deveriam lutar em duas frentes. A oeste contra os
franceses e britânicos, a leste contra os russos. Devido a isso, nessa primeira fase,
guerra de movimento, os alemães teriam colocado em ação um plano bolado
por um dos principais generais alemães e antigo chefe do Estado Maior entre
os anos de 1891 a 1905, o famoso Plano Schlieffen (plano no qual Hitler teria
se baseado para criar a sua guerra relâmpago, a Blitzkrieg). A ideia principal era
mobilizar rapidamente as suas tropas através do território belga para realizar um
forte impacto na França, com a maior parte de suas tropas, enquanto uma menor
parte, com a ajuda do Império Austro-Húngaro, atacaria os russos na frente orien-
tal. Os alemães queriam derrotar rapidamente os franceses primeiro, para partir
em direção à Rússia czarista que levaria mais tempo para recrutar o seu grande
potencial humano (BERTONHA, 2011; HOBSBAWM, 2011).
Contudo, o plano fracassaria. Os alemães encontraram uma grande resis-
tência no território belga, principalmente na fortaleza situada em Liège. Essa
resistência permitiu que os franceses fizessem sua plena mobilização e que os
106
UNICESUMAR
“
[...] se dividiam em várias linhas, separadas por alguns quilômetros
e, nelas, afundada na terra, ficava a infantaria, pronta a repelir os
avanços inimigos a tiros de fuzil e granadas. A artilharia, na reta-
guarda, também podia dirigir um mortal fogo de canhões e mor-
teiros sobre quaisquer atacantes. Ninhos de metralhadoras, nas
trincheiras e entre elas, completavam o sistema defensivo (BER-
TONHA, 2011, p. 44).
107
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
Título: 1917
Ano: 2020
Sinopse: dois soldados, cabo Schofield e Blake, recebem uma missão
de atravessar o território inimigo para levar informações que podem
salvar mais de 1600 soldados. O filme se passa na Primeira Guerra Mundial.
Descrição da Imagem: foto preto e branco. Um buraco utilizado como trincheira de aproximadamente
um metro e meio de fundura. Nele encontram-se seis soldados alemães mortos, cobertos por moscas.
Três estão mais à frente e os outros mais ao fundo da imagem.
108
UNICESUMAR
“
[...] a Frente Ocidental e avançou de novo sobre Paris. Graças à
inundação de reforços e equipamentos americanos, os aliados se
recuperaram, mas por um instante pareceu por um triz. Contudo,
era o último lance de uma Alemanha exausta, que se sabia perto da
derrota. Assim que os aliados começaram a avançar, no verão de
109
UNIDADE 3
Com a rendição dos alemães, o Kaiser Guilherme II, até então o rei, abdicou de
seu poder, e foi enviado ao exílio, tornando o país uma república. É válido lembrar
que, quando foi realizado o armistício, não havia soldados inimigos dentro do
território alemão. Pelo contrário, os alemães estavam dentro da França. Esse fato
contribuiu para que surgisse o mito da infalibilidade do exército alemão, de que
ele não teria sido derrotado na Primeira Guerra Mundial, acreditavam que teriam
sido traídos pelos seus políticos que se renderam, ou pelos revolucionários e civis
que atuavam dentro do país (BERTONHA, 2011, p. 101).
O presidente dos Estados Unidos da América no período, Woodrow Wilson,
propôs um desfecho diferente para o conflito. Para ele, o acordo de paz “deveria ser
feito para o benefício das nações europeias vistas como Povos e não para qualquer
nação que imponha sua vontade governamental sobre pessoas forasteiras” (WILSON
apud FERGUSON, 2015, p. 242). Em 1917, Woodrow Wilson apresentou os seus 14
pontos. Contudo, países como França e Inglaterra não queriam a negociação, senão
a destruição da Alemanha, apenas 4 dos quatorze foram concretizados. Entre eles, a
criação da Liga das Nações que tinha o objetivo de evitar futuras guerras.
110
UNICESUMAR
111
UNIDADE 3
112
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que
você obteve nessa terceira unidade sobre o Imperialismo, a Primeira Guerra Mun-
dial e as suas consequências para o século XX.
Chegou a hora de descobrirmos o que você conseguiu apreender com esta uni-
dade. Vamos colocar a mão na massa. Para isso, convido você a realizar um Mapa
Mental. É válido lembrar que esse tipo de atividade, além de lhe ajudar a com-
preender as suas ideias acerca do conteúdo, devido à sua capacidade de ilustrar
conteúdos, também lhe permite organizar melhor essas ideias, fazendo com que
o aprendizado seja mais crítico e duradouro.
Sendo assim, crie um mapa mental relacionando à Revolução Industrial com o
Imperialismo e, este último, com a Primeira Guerra Mundial. Você pode realizá-lo
aqui mesmo no livro, ou, ainda, na ferramenta GoConqr - www.goconqr.com.
PRIMEIRA
REVOLUÇÃO GUERRA
INDUSTRIAL IMPERIALISMO
MUNDIAL
$
Busca por mercado Protecionismo
consumidor
4
A Primeira
Metade do
Século XX:
Revolução, Crise e Totalitarismos
Descrição da Imagem: Ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Sua calças são verdes e sapatos pretos. Carregas em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da porta,
por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam
116
UNIDADE 4
- Dante: Com certeza tem a ver com uma das perguntas que realizei
no início de nossa jornada. Estou certo.
Caro (a) estudante, com o conhecimento que você possui neste exato momento
da leitura de seu livro didático, como você responderia a pergunta de Dante? O
117
UNIDADE 4
que aconteceu nos vinte anos seguintes à Primeira Guerra Mundial que ocasio-
nou um conflito ainda pior? Quais acontecimentos e processos históricos ocorre-
ram entre os anos de 1918/19 e 1939 que transformam e geraram consequências
inimagináveis para a civilização humana?
Cara (o) estudante, neste momento, no início de nossa quarta Unidade você
já está consciente acerca da importância de trazer significado do conhecimento
para os nossos alunos, de que um estudante que significa o conhecimento no
seu dia a dia tem muito mais chances de compreender e de guardar aquele co-
nhecimento por muito mais tempo. Sendo assim, como você responderia a um
aluno seu se ele lhe perguntasse: “Qual a importância de se estudar o período
pós Primeira Guerra Mundial? O que isso tem a ver com a minha vida?” Para
lhe ajudar neste momento vamos averiguar qual ser a resposta do nosso viajante
professor de História:
Professor de História: Caro Dante, como analisamos em nossas via-
gens anteriores a História, a partir do conhecimento do passado, nos
ajuda a compreender as questões atuais, o que acontecesse em nosso
dia a dia. Com ela, aprendemos várias lições que nos ajudam a nos
posicionar na sociedade em que vivemos. Em relação ao período
pós Primeira Guerra Mundial, são vários os ensinamentos. A co-
meçar pela primeira revolução de caráter socialista, demonstrando
a existência de um outro tipo de regime fora do capitalismo. A crise
de 1929 nos ajuda a compreender a ciclicidade do capitalismo e
como podem gerar consequências catastróficas para o mundo todo.
Por exemplo, existe um vínculo entre a crise de 1929 e a formação
dos estado Totalitário Nazista na Europa, que terá como uma de
suas principais consequências a Segunda Guerra Mundial. Sendo
assim, caro Dante, o período pós Grande Guerra é essencial para
compreendermos a formação de instituições e processos históricos
que modificaram a História permanentemente e que deixam remi-
niscências até os dias atuais.
Caro (a) estudante, com a ajuda da resposta acima é a sua vez de responder a
dúvida de Dante. Convido você a refletir sobre a questão: Por que o período pós
Primeira Guerra Mundial, não trouxe a paz e a estabilidade, mas na verdade,
predispôs os países para um conflito pior ainda? Antes de iniciarmos o processo
de conceitualização, faça uma lista com as ideias que você conseguiu elencar e
118
UNIDADE 4
119
UNIDADE 4
O ano de 1917 foi marcante e determinante para a história do século XX. Pois,
neste ano aconteceu a denominada Revolução Russa. Para nos ajudar na aná-
lise do desenvolvimento e das consequências deste movimento revolucionário,
elaboramos algumas questões:
■ O que foi a Revolução Russa?
■ Quando começou, quais foram as suas causas e como ela se desenvolveu
nas primeiras décadas do século XX?
De uma forma simples, a Revolução Russa foi um processo histórico que culmi-
nou, em 1917, na queda da monarquia absolutista russa e na instalação do Par-
tido Bolchevique no poder e posteriormente a criação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, o primeiro país de caráter político socialista, pelo menos
até a entrada de Joseph Stalin no poder e a deturpação do regime.
Acerca das suas causas e do seu início, devemos fazer uma análise mais apro-
fundada. Como todo processo histórico, a Revolução Russa, possui suas origens
e causas atreladas a tempos muito mais longínquos do que o ano em que se con-
cretizou. Primeiro, precisamos compreender o regime político predominante no
momento da revolução. A Rússia em 1917 era um dos poucos países a permanecer
como uma monarquia absolutista, liderada por Nicolau II da família Románov.
120
UNIDADE 4
Figura 2: Nicolau II, à esquerda, e seu primo o rei da Inglaterra Jorge V, em 1913.
Fonte: Por Ernst Sandau, Domínio público.
Descrição da Imagem: Na fotografia, em preto e branco, temos dois homens posicionados de pé lado a
lado. A esquerda, está o czar da Rússia Nicolau II. Ele é caucasiano, o cabelo baixo com entradas. Possui
barba e bigode. Veste um uniforme militar escuro com diversos adereços como cordas, medalhas em
formatos de cruz, detalhes nas mangas e nas laterais das calças. Usa luvas brancas. Com a mão direita
segura um chapéu com uma grande pena branca na frente. Ao seu lado direito está o rei da Inglaterra Jorge
V. É muito parecido com Nicolau II. Usa o mesmo estilo de barba e bigode. Também veste um uniforme
militar, contudo o seu é branco e em seu peito encontram-se diversas medalhas em formato de cruz que
representam a sua participação em ordens militares. Também veste luvas brancas. Ao fundo, não se tem
detalhes exceto metade de uma coluna à esquerda.
121
UNIDADE 4
122
UNIDADE 4
medieval, que oficialmente só havia sido abolida em 1861. Outro aspecto, que
devemos levar em consideração foi o desenvolvimento industrial deste país. O
país sofreu uma modernização apenas na segunda metade do século XIX, reali-
zada pelo próprio governo russo de uma forma autoritária. (BERTONHA, 2009).
Um processo de industrialização “importado” tendo em vista que foi feito prin-
cipalmente com o capital e maquinaria de outros países, como os franceses. Esse
desenvolvimento industrial foi acentuado em algumas regiões/cidades, como por
exemplo: São Petersburgo e Moscou. Com o aumento do número de operários,
surgiu na cidade de Minsk em 1898 o Российская социал-демократическая
рабочая партия ou POSDR, Partido Operário Social Democrata Russo. Este
partido, em 1902 recebeu como membro Vladimir Ilyich Ulyanov, popularmente
conhecido como Vladimir Lenin. No ano seguinte, o segundo congresso do
POSDR, ficou famoso por dividir o partido em duas facções: os mencheviques,
palavra que significa minoria, liderados por Julius Martov e do outro lado os
bolcheviques, maioria, sob a liderança de Lênin (THATCHER, 2007, 730).
Com o desenvolvimento industrial, houve um aumento da população urbana
e das ferrovias. Contudo:
“
Tal programa foi conduzido de uma forma totalmente autoritária,
coerente com o caráter do Estado russo de então. O campo foi pe-
nalizado, com os recursos dos impostos sendo canalizados para a
indústria e as cidades. Os trabalhadores, rurais e urbanos foram
submetidos à intensa exploração e verdadeiramente sangrados por
impostos e salários baixos, com todo descontentamento sendo ime-
diatamente reprimido (BERTONHA, 2009, p. 43).
Caro (a) estudante, como você pode perceber, tratava-se de um período con-
turbado. Os trabalhadores sofriam com os altos impostos e os salários baixos,
estando condenados ao frio e à fome. Quando ocorreu a derrota russa contra os
japoneses em 1905, a situação escalou-se rapidamente. E, como consequência,
explodiu um dos principais eventos que antecederam a revolução de 1917, os
trabalhadores da cidade de São Petersburgo, passando fome e frio iniciaram em
1905 uma greve e:
123
UNIDADE 4
“
Incentivados por uma associação de obscuras ligações com a pró-
pria polícia, resolveram então levar queixas e reclamações ao pró-
prio tzar. Em um domingo, 9 de janeiro de 1905, aglomeraram-se
em frente ao Palácio de Inverno, sede e símbolo do poder, e le-
vantando ícones e gravuras — santas e poderosas — expuseram
súplicas: “Se Tu continuas surdo… morreremos aqui mesmo, nesta
praça, diante de Teu palácio…” Morreram mesmo. Centenas? Mi-
lhares? O poder reconheceu 92 mortos. E milhares de feridos. O
tzar nem estava no palácio. Os cossacos e a polícia, surdos, abriram
fogo. Ali estava a resposta do Estado (REIS FILHO, 1997, p. 28).
SUNDAY
BLOODY
SUNDAY
124
UNIDADE 4
125
UNIDADE 4
“
Com o fim do ano de 1916 e o início de 1917, o Exército russo esta-
va realmente começando a entrar em colapso. Nesse momento, os
russos já contabilizavam cerca de 1,8 milhão de mortos, 2,7 milhões
de feridos e 3,6 milhões de prisioneiros de guerra ou desaparecidos
(KENNEDY, 1989, p. 256-257). [...] O moral dos soldados estava
abatido pela disciplina brutal, escassez de comida, roupas e equi-
pamentos, perdas imensas de vidas e um crescente sentimento de
que as batalhas sem fim, e a própria guerra, não tinham sentido.
Também dentro da Rússia, as condições de vida deterioravam-se
rapidamente, com desabastecimento
126
UNIDADE 4
“
“É impressionante!”, exclamou Lenin quando recebeu a notícia em
Zurique. “Mas que surpresa! Imagine só! Precisamos voltar para
casa, mas, como?” O Supremo Comando Alemão respondeu a essa
pergunta, fornecendo-lhe não só a passagem de trem até Petrogra-
do, mas também, com auxílio de dois intermediários suspeitos cha-
mados Parvus e Ganetsky, fundos para subverter o novo governo
(FERGUSON, 2015, p. 224).
127
UNIDADE 4
“
Ao invés de mandá-lo para a cadeia com seus associados como bem
mereciam, o Governo Provisório vacilou. No dia 27 de agosto, ins-
tigado pelos críticos conservadores do novo regime, o comandante
supremo do Exército russo, general Lavr Kornilov, desencadeou um
golpe militar fracassado. O efeito não planejado foi o aumento do
apoio aos bolcheviques nos sovietes, que tinham surgido como um
tipo de governo paralelo não só em Petrogrado (como em 1905),
mas em outras cidades também (FERGUSON, 2015, p. 224).
Ou seja, o fato do governo provisório ter mantido a Rússia na guerra, ter per-
mitido a volta dos revolucionários mais radicais e o golpe de Lavr Kornilov,
fizeram com que o apoio dos bolcheviques, que até então era pequeno, crescesse
cada dia mais.
Um elemento que marcou a volta de Vladimir Lenin a Petrogrado foi a emis-
são das suas famosas Teses de Abril, imortalizadas pela ideia de “Paz, pão e
terra” complementada pelo “poder aos sovietes”. Sendo assim, Lenin se posicio-
nava com a ideia de que era necessário fazer uma revolução socialista de forma
imediata. Afirmando que a revolução de fevereiro teria sido uma primeira etapa,
que entregou o poder à burguesia, e que agora era necessário realizar uma que
entregasse o poder para para os camponeses e operários (CARR, 1987, p. 13).
Desta forma, com o apoio crescente dos sovietes, os bolcheviques começaram
a preparar a tomada de poder. No mês de Outubro, Lenin e o comitê do partido
prepararam o golpe por meio de uma comissão militar revolucionária, da qual,
Leon Trotsky, que também retornou do exílio, desempenhou um importante
papel. No dia 25 de outubro, a chamada Guarda Vermelha ocupou pontos im-
portantes da cidade de Petrogrado e após isso, marcharam em direção à sede
do governo, o Palácio de Inverno. Sem nenhum derramamento de sangue, ou
mesmo uma janela quebrada, o governo provisório esfacelou-se sem nenhum
tipo de resistência, Alexander Kerenski, até então, primeiro-ministro do governo
provisório, fugiu para a Europa ocidetal (CARR, 1987, p. 15). Com isso, concre-
tizava-se a Revolução de Outubro de 1917.
128
UNIDADE 4
“
[...] os bolcheviques tiveram de ceder um terço das terras cultiváveis
do Império Russo do pré-guerra e sua população, mais da metade
de sua indústria e quase 90% de suas minas de carvão. A Polônia, a
Finlândia, a Lituânia e a Ucrânia se tornaram independentes, embo-
ra sob tutela alemã. O dinheiro que eles tinham usado para mandar
Lenin de volta para a Rússia tinha, ao que parecia, rendido bons
juros (FERGUSON, 2015, p. 225).
129
UNIDADE 4
“
Trotsky tinha duas vantagens. Em primeiro lugar, os bolcheviques
controlavam os principais centros das estradas de ferro, a partir dos
quais ele poderia mobilizar forças com rapidez. [...] Em segundo
lugar, embora os bolcheviques não tivessem experiência de guer-
ra, tinham experiência de terrorismo; assim como os nacionalistas
sérvios, eles também tinham usado os assassinatos como tática nos
anos pré-guerra. Foi ao terror, em nome da lei marcial, que Trotsky
então se voltou. Ao chegar a Kazan, [...] trouxe 27 desertores para
as proximidades de Syvashsk, às margens do Volga, e fez com que
fossem baleados. O único modo de garantir que os recrutas do Exér-
cito Vermelho não desertassem ou fugissem, concluíra Trotsky, era
montar metralhadoras na retaguarda deles e atirar em qualquer um
que não conseguisse avançar contra o inimigo. Essa era a escolha
que ele oferecia: a possibilidade da morte no front ou a certeza da
morte na retaguarda. [...] As unidades que se recusassem a lutar
deveriam ser dizimadas (FERGUSON, 2015, p. 229).
130
UNIDADE 4
Todavia, os anos de 1921 e 1922 foram marcados por outro aspecto: a criação da
Nova Política Econômica, ou NEP.
A NEP foi uma política econômica criada para substituir o comunismo de
guerra e recuperar a economia soviética. Na prática era um retorno parcial às
políticas econômicas capitalistas. Entre sua principal característica estava a de
que depois de pagar o imposto em produto o camponês poderia comercializar
livremente no mercado os seus produtos, assim como, as pequenas indústrias
(CARR, 1987, p. 37), no entanto, as indústrias de grande porte continuaram nas
mãos do Estado soviético. De acordo com o historiador britânico Eric Hobs-
bawm: “A NEP na verdade teve um brilhante êxito na restauração da economia
soviética a partir da ruína de 1920. Em 1926, a produção industrial soviética havia
mais ou menos recuperado seu nível pré-guerra, embora isso não significasse
grande coisa” (HOBSBAWM, 2011, p. 370).
No entanto, a NEP incendiava os debates dentro do Partido Comunista da
União Soviética, afinal a NEP mantinha dentro do sistema a propriedade pri-
vada, elementos que queriam abolir de sua sociedade (BERTONHA, 2009, p.
73). A situação se agravou com o adoecimento e morte de Vladimir Lenin em
1924. Iniciou-se uma disputa pelo poder entre Leon Trotsky - que defendia a
propagação da revolução para todo o planeta - e Ioseb Besarionis dze Jughashvili,
conhecido popularmente como Josef Stalin, que defendia a ideia de “socialismo
em um país só”.
A ala de Stalin saiu vencedora desta disputa e, ao assumir o poder, colocaram
em execução: “uma industrialização maciça, a qualquer custo, do país. Esta, con-
solidou seu domínio especialmente a partir de 1929 e, a partir de então, a URSS
entrou num programa maciço de coletivização da terra, industrialização e reforço
ainda maior do poder do Estado (BERTONHA, 2009, p. 73).
EXPLORANDO IDEIAS
131
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
134
UNIDADE 4
“
Para quem foi feliz o suficiente para não participar dela, a Primeira
Guerra Mundial tinha sido um duplo benefício. O desvio temporá-
rio de tanta produção europeia para a indústria da destruição per-
mitira aos produtores asiáticos e norte-americanos uma expansão
considerável, mas eles não tinham condições de compensar comple-
tamente a ruptura causada pela guerra. Era um mercado mundial de
vendedores. Ao mesmo tempo, à medida que os governos emitiam
dinheiro para cobrir seus déficits, o financiamento inflacionário
da guerra empurrou para o alto os preços em todo o mundo [...]
(FERGUSON, 2015, p. 275-276).
Contudo, apesar dos EUA se desenvolveram com toda essa nova demanda, novos
problemas começaram a aparecer no país. Afinal, a demanda presente não era
suficiente para uma expansão duradoura na década de 1920. Logo o que ocorreria
seria uma crise de superprodução.
“
As fundações da prosperidade da década de 1920, como vimos,
eram fracas, mesmo nos EUA, onde a agricultura já se achava pra-
ticamente em depressão, e os salários em dinheiro, ao contrário do
mito da grande era do jazz, não estavam subindo, mas na verdade
estagnaram nos últimos anos loucos do boom (Historical Statistics
of the USA, I, p. 164, tabela D 722-727). O que acontecia, como
muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com
os salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcional-
mente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional.
Mas como a demanda da massa não podia acompanhar a produ-
tividade em rápido crescimento do sistema industrial nos grandes
dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e especulação.
Isso, por sua vez, provocou o colapso (HOBSBAWM, 2011, p. 95).
Em suma, o que aconteceu nos Estado Unidos foi uma crise de superprodução
devido a falta de uma demanda duradoura, uma alta especulação ao entorno do
mercado de ações, uma alta concentração de renda e uma grande crise de cré-
dito. Juntos, esses fatores provocaram uma das maiores crises que o capitalismo
135
UNIDADE 4
“
No dia 29 de outubro de 1929 - a “Quinta-Feira
Negra”, o índice Dow Jones Industrial caiu qua-
se 12%, uma das quedas mais acentuadas em sua
história. O mercado havia, na verdade, começado
a derrapar depois do dia 3 de setembro; no dia
13 de novembro ele caíra quase 50%. Isso signi-
ficou um colapso na confiança de investidores na
lucratividade futura das corporações dos Estados
Unidos, aumentado pela venda causada pelo pâ-
nico pоr parte dos especuladores, que estavam
negociando na margem (na verdade, com dinhei-
ro emprestado). A recuperação subsequente, que
durou até abril de 1930, demonstrou ser ilusória.
Desde então até julho de 1932, o mercado despen-
cou inexoravelmente. Em seu nadir, no dia 8 de
julho de 1932, os preços das ações haviam caído só
11% do seu valor máximo em 1929. Com exceção
de 1914, o mercado de ações nunca testemunhara
tanta volatilidade, e nada remotamente parecido
com isso aconteceu desde então (FERGUSON,
2015, p. 276).
136
UNIDADE 4
Figura 3: Foto que demonstra a incoerência da vida nos EUA e do American Way of Life após
a Crise de 1929. A foto foi tirada após a inundação do rio Ohio em 1937.
Fonte: By Margaret Bourke-White - The American Way of Life, located online in many places,
Public Domain.
Descrição da Imagem: A fotografia é em preto e branco. Ao fundo temos um enorme cartaz, um out-
door, na parte de cima do cartaz está escrito: maior padrão de vida do mundo. No lado direito do cartaz
encontra-se outra frase: “Não há maneira como a maneira americana”. Ao lado esquerdo no cartaz temos
uma família caucasiana dentro de um carro, é possível ver a família pelo parabrisa. O pai dirige o carro
com um grande sorriso, usa um chapéu, terno e gravata. Ao seu lado no passageiro tem uma mulher,
também sorridente usando chapéu. No banco de trás é possível observar duas crianças. Mais à esquerda
um menino sorri olhando para o seu cachorro com a cabeça para fora da janela. Enquanto a menina no
centro do carro olha e sorri para a sua mãe. Na frente deste grande outdoor, temos uma fila de pessoas,
a maioria é negra. Ao todo são dezessete pessoas em fila, que vestem roupas de frio e carregam cestas,
sacos e baldes na espera para pegar alimentos.
137
UNIDADE 4
138
UNIDADE 4
América. Com a crise, o Brasil passou não apenas por conturbações econômicas,
mas também por mudanças políticas, tendo em vista, que a Depressão econômica
colaborou para o fim da república oligárquica no Brasil e na entrada de Getúlio
Vargas no poder pela revolução de 1930 (HOBSBAWM, 2011).
Apenas um país pareceu imune a esta grande crise do capitalismo a:
“
a União Soviética. Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o
capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa in-
dustrialização ultrarrápida e maciça sob seus novos Planos Quin-
quenais. De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou,
no mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manufatura-
dos do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo
período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía de
59% para 52% do total do mundo. E mais, não havia desemprego
(HOBSBAWM, 2011, p. 100)
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UNIDADE 4
■ O que é o fascismo?
■ Como ele chegou ao poder na Itália?
■ Como ele chegou ao poder na Alemanha?
“
[...] monopolização da representação política por parte de um
partido único de massa, hierarquicamente organizado; por uma
ideologia fundada no culto do chefe, na exaltação da coletividade
nacional, no desprezo dos valores do individualismo liberal e no
ideal da colaboração de classes, em oposição frontal ao socialismo
e ao comunismo, dentro de um sistema de tipo corporativo; por
objetivos de expansão imperialista, a alcançar em nome da luta das
nações pobres contra as potências plutocráticas; pela mobilização
das massas e pelo seu enquadramento em organizações tendentes
a uma socialização política planificada, funcional ao regime; pelo
aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do
terror; por um aparelho de propaganda baseado no controle das
informações e dos meios de comunicação de massa; por um cres-
cente dirigismo estatal no âmbito de uma economia que continua
a ser, fundamentalmente, de tipo privado; pela tentativa de integrar
nas estruturas de controle do partido ou do Estado, de acordo com
uma lógica totalitária, a totalidade das relações econômicas, sociais,
políticas e culturais (SACCOMANI, 2010, p. 466).
140
UNIDADE 4
Perceba caro (a) estudante, para atribuirmos alguém ou algo como fascista,
existem uma série de características que devem ser contempladas, como as de-
monstradas no excerto acima. Perceba que além de se enquadrar dentro destas
características o fascismo ou nazismo existiu no período entre-guerras. Sendo
assim, quando analisamos movimentos anteriores ou posteriores a este período
é interessante que utilizemos os prefixos “proto” ou “neo”.
Uma outra característica importante é a de que o fascismo italiano e o nazismo
alemão eram totalitários. Existe um debate historiográfico importante acerca da
utilização deste conceito. Nesta unidade, quando abordamos os feitos de Joseph
Stalin, vimos a discussão acerca de seu governo ter sido totalitário ou não. O con-
ceito de totalitarismo segundo Mario Stoppino (2010), teria surgido na década
de 1920, para dar sentido às características fascistas em contraposição ao Estado
Liberal. A expressão foi usada no verbete “Fascismo”da Enciclopédia Italiana de
1932, quando Benito Mussolini já estava no poder. A ideia era que o partido fas-
cista governaria totalitariamente para a nação (STOPPINO, 2010, p. 1247).
141
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
Contudo, Hannah Arendt foi a filósofa que realizou uma das melhores defini-
ções sobre este conceito em sua obra Origens do totalitarismo: Antissemitismo,
Imperialismo, Totalitarismo. Uma primeira característica apresentada dos regi-
mes totalitários de forma geral é que dependem das massas. Tanto é que após a
derrota dos líderes totalitários como Hitler e Stalin, são rapidamente esquecidos
e substituídos. Isso porque, os totalitarismos só conseguem se manter no poder
“enquanto estiverem em movimento e transmitirem movimento a tudo que os
rodeia” (ARENDT, 1998, p. 356). Em consonância a isso, é importante discutir-
mos uma outra característica que gera polêmica: o grande apoio das massas aos
ditadores totalitários. Veja o que nos apresenta Hannah Arendt:
“
É muito perturbador o fato de o regime totalitário, malgrado o seu
caráter evidentemente criminoso, contar com o apoio das mas-
sas. Embora muitos especialistas neguem-se a aceitar essa situação,
preferindo ver nela o resultado da força da máquina de propaganda
e de lavagem cerebral, a publicação, em 1965, dos relatórios, ori-
ginalmente sigilosos, das pesquisas de opinião pública alemã dos
anos 1939-44, realizadas então pelos serviços secretos da SS [...]
demonstra que a população alemã estava notavelmente bem infor-
mada sobre o que acontecia com os judeus ou sobre a preparação
do ataque contra a Rússia, sem que com isso se reduzisse o apoio
dado ao regime (ARENDT, 1998, p. 339).
142
UNIDADE 4
“
Um outro problema das imagens convencionais do fascismo é que
elas enfocam os momentos mais dramáticos do seu itinerário [...]
e omitem a textura sólida da experiência cotidiana, e também a
cumplicidade das pessoas comuns no estabelecimento e no fun-
cionamento dos regimes fascistas. Eles jamais teriam crescido sem
a ajuda das pessoas comuns, mesmo de pessoas convencionalmen-
te boas. Jamais teriam chegado ao poder sem a aquiescência, ou
mesmo a concordância ativa das elites tradicionais [...] Os excessos
do fascismo no poder exigiam também uma ampla cumplicidade
entre os membros do establishment: magistrados, policiais, oficiais
do exército, homens de negócio. Para entender plenamente como
funcionavam esses regimes, temos que descer ao nível das pessoas
comuns e examinar as escolhas corriqueiras feitas por eles em sua
rotina diária. Fazer essas escolhas significava aceitar o que parecia
ser um mal menor, ou desviar o olhar de alguns excessos que, a
curto prazo, não apreciam tão nocivos, e que, isoladamente, podiam
ser vistos até mesmo como aceitáveis, mas que, cumulativamente
acabaram por se somar em monstruosos resultados finais (PAX-
TON, 2007, p. 34-35).
Perceba caro (a) estudante, o sucesso dos regimes totalitários, e nesse caso de
análise o fascismo, dependeram da participação, apoio ou simplesmente cum-
plicidade das pessoas comuns, dita como boas.
143
UNIDADE 4
EXPLORANDO IDEIAS
Voltando a nossa análise para as características dos regimes fascistas, em sua obra
A Anatomia do Fascismo o historiador Robert Paxton, nos chama a atenção para
a necessidade de analisarmos o fascismo de acordo com as ações seus membros
e não apenas por meio de seus discursos, como é normalmente realizado pela
historiografia (PAXTON, 2007, p. 11). Entre as características que podem ser
apontadas é que apesar da crítica fascista ao capitalismo e burguesia, quando
chegaram ao poder pouco fizeram para cumprir as ameaças que fizeram ao sis-
tema capitalista. Para Paxton: “O fascismo italiano, desse modo, irrompeu na
história por meio de um ato de violência contra não apenas o socialismo como
também contra a legalidade burguesa, em nome de um pretenso bem nacional
maior” (PAXTON, 2007, 19).
Tendo apresentado o que o fascismo, suas principais características e a dis-
cussão acerca do totalitarismo, devemos agora responder a pergunta: como um
sistema ideológico político com essas características chegou ao poder da Itália e
da Alemanha? Iniciamos a nossa análise pela Itália, tendo em vista que é nesse país
que se originou o movimento fascista. Vamos compreender melhor essa discussão.
De acordo com Robert Paxton, o fascismo surgiu oficialmente na cidade
italiana de Milão no dia 23 de março de 1919. Veteranos de guerra, intelectuais,
sindicalistas, entre outros, se reuniram sob a liderança de Benito Mussolini para
declarar guerra ao socialismo, tendo em vista que esta ideologia era contrária ao
nacionalismo. Em princípio, o nome dado ao movimento foi Fasci di Combat-
timento cuja tradução seria algo como “fraternidades de combate” (PAXTON,
2007, p. 16). Robert Paxton ressalta o fato de que esse movimento criado por
Mussolini se inclinava aos atos violentos e desprezava a sociedade que existia.
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
Aosta como substituto da monarquia. A Marcha sobre Roma teria sido um blefe
dos fascistas que acabou por dar certo (PAXTON, 2007, p. 152-155).
Independente dos motivos, é fato que a partir desta data o duce (palavra
italiana para líder) iniciou a sua jornada como líder político da Itália. Em um
primeiro momento como primeiro-ministro buscou manter a estabilidade da
Itália, em seus dois primeiros anos de governo afirmou o poder do estado e
não questionou os poderes da monarquia, sendo que nesses dois primeiros
anos manteve uma política econômica de características liberais (PAXTON,
2007, p. 249-250). Seu governo iniciou um processo de radicalização após o
assassinato do lider socialista Giacomo Matteotti em 1924. Deste ano em diante
o Partido Faxcista não mais tolerava seus adversários políticos, sendo a mídia,
sindicatos e parlamentos mantidos sob o controle da ditadura de Mussolini
(FERGUSON, 2015, p. 316).
À medida que o regime avançava e Mussolini conseguiu o apoio de grupos
como a monarquia, o exército e a Igreja Católica, os jovens fascistas se impacien-
tavam com esse regime. Esta teria sido uma das razões para a guerra e invasão
da Etiópia, na África em 3 de outubro de 1935 (PAXTON, 2007, p. 252), outra
razão para essa guerra seria a vontade do duce de recriar os territórios do antigo
Império Romano (FERGUSON, 2015, p. 366). A Albânia foi invadida e conquista
em abril de 1939, mesmo ano em que os italianos assinaram uma aliança com os
alemães nazistas, o Pacto de Aço.
146
UNIDADE 4
Caro (a) estudante, até o momento respondemos nossas duas perguntas iniciais
sobre o fascismo: O que é o fascismo?; Como ele chegou ao poder na Itália?.
Chegou a hora de respondermos a pergunta: Como o fascismo chegou ao poder
na Alemanha? Um primeiro elemento que devemos compreender é a situação
política instaurada na Alemanha, nos anos anteriores a chegada ao poder de
Adolf Hitler e o Partido Nacional Socialista Alemão, ou Partido Nazista.
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
“
Em 8 de novembro de 1923, durante um comicio nacionalista rea-
lizado numa cervejaria de Munique, o Bürgerbräukeller, Hitler
tentou sequestrar os líderes do governo bávaro e forçá-los a apoiar
um golpe de Estado contra o governo nacional de Berlim. Ele acre-
ditava que caso tomasse o controle de Munique e declarasse um
novo governo nacional, os líderes civis e militares da Bavária seriam
forçados pela opinião pública a apoiá-lo [...]. Hitler subestimou a
fidelidade dos militares à hierarquia de comando. O ministro-presi-
dente da Bavária, o conservador Gustav von Kahr, deu ordem para
que se pusesse fim ao golpe de Hitler, usando a força, se necessário.
Em 9 de novembro, a polícia atirou nos integrantes da marcha de
Hitler, no momento em que se aproximavam de uma praça im-
portante (possivelmente reagindo a um primeiro tiro partindo do
lado de Hitler). Quatorze golpistas e quatro policiais foram mortos.
Hitler foi detido e mandado para a prisão, juntamente com outros
nazistas e simpatizantes [...]. O “Golpe da Cervejaria” de Hitler foi
debelado de forma tão ignominiosa pelos governantes conservado-
res da Bavária que ele decidiu nunca mais tentar chegar ao poder
pela força (PAXTON, 2007, p. 157).
Foi enquanto esteve na prisão em 1924 que Hitler escreveu a obra Mein Kampf
ou Minha Luta, obra onde explicitou suas ideias antissemitas, anticomunistas,
ultranacionalistas e etc. No mesmo ano de 1924 os alemães assinaram o Plano
Dawes, que baseado em empréstimos dos EUA conseguiu estabilizar a economia
e a moeda, pelo menos até 1929 quando aconteceu a grande crise econômica e a
Alemanha foi novamente jogada em uma situação econômica caótica.
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UNIDADE 4
“
Após a recuperação econômica de 1924, o Partido dos Trabalhado-
res Nacional-Socialistas foi reduzido a uma rabeira de 2,5% a 3% do
eleitorado, conseguindo pouco mais da metade do que o pequeno e
civilizado Partido Democrático alemão, pouco mais que um quinto
dos comunistas e muito menos de um décimo dos social-democra-
tas nas eleições de 1928. Contudo, dois anos depois havia subido
para mais de 18% do eleitorado, tornando-se o segundo partido
mais forte na política alemã. Quatro anos depois, no verão de 1932,
era de longe o mais forte, com mais de 37% dos votos totais, embora
não mantivesse esse apoio enquanto duraram as eleições democrá-
ticas (HOBSBAWM, 2011, p. 133).
Fica claro que foi a Grande Depressão que transformou Hitler em um fenômeno
da periferia política no senhor potencial, e finalmente real, do país (HOBSBA-
WM, 2011, p. 133). Perceba caro (a) estudante, que existe uma relação direta entre
a crise de 1929 com a ascensão de Hitler ao poder. Somada à Crise de 1929, no
mesmo ano os políticos alemães assinaram o Plano Young, substituindo o Plano
Dawes, confirmando o seu compromisso de manter o pagamento das reparações
aplicadas pelo Tratado de Versalhes, gerando uma indignação em todo o país. So-
mado a crise econômica, desemprego e a indignacão fez com que a popularidade
do partido Nazista crescesse. Para se ter ideia, nas eleições livres de julho de 1932
os nazistas conseguiram 51% dos votos para o parlamento. Para R. Paxton, Hitler
sabia lidar com as massas, manipulando os medos e ressentimentos da população,
intimidando fisicamente os seus adversários, e com discursos específicos para
cada classe profissional, ainda que fossem contraditórios entre si (PAXTON,
2007, p.158-159; p.116-118).
150
UNIDADE 4
Contudo, assim como Mussolini, Hitler não tomou o poder pela força e nem foi
eleito diretamente. Hitler concorreu às eleições para presidente em 1932, mas
foi derrotado por Paul von Hindenburg. Este, como presidente da Alemanha,
em meio a uma situação de extrema crise, convidou Hitler a se tornar chanceler
(chefe de governo), cargo em que ocupou oficialmente em janeiro de 1933. Pouco
a pouco Hitler tornaria esse regime em uma ditadura.
Durante muito tempo acreditou-se que os nazistas colocaram fogo no Rei-
chstag (parlamento) para culpar os comunistas e poder fechar o partido. Robert
Paxton explica que esse incêndio em fevereiro de 1933, teria sido causado por
um comunista holandês chamado Marinus van der Lubbe. Os nazistas teriam
realmente acreditado que um golpe comunista se iniciara. A verdade é que sendo
os nazistas ou comunistas o incêndio fornece a justificativa necessária para os
nazistas terem a liberdade de agir como queriam. Hindenburg assinou o “De-
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UNIDADE 4
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UNIDADE 4
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Chegou a hora de você colocar em prática os seus conhecimentos adquiridos
nesta unidade do livro de História Contemporânea. Vamos realizar um Mapa de
Empatia. Nele você deve realizar a sua autoavaliação.
Vamos aplicar os conhecimentos desenvolvidos nesta unidade para o nosso pre-
sente.
Em relação aos regimes autoritários ou totalitários, existe algum sistema político
assim hoje?
Qual a sua
atitude em relação a isso?
Por fim, quais problemas esses regimes trazem Quais são as necessidades em relação a este tema
para nossa sociedade e para você? que ajudaria a resolver?
5
A Transição e a
Segunda Metade
Do Século XX:
Velhos e Novos Conflitos
Dr. Augusto João Moretti Junior
Figura 1: Dante e seu professor de História viajando na janela temporal. / Fonte: o autor.
Descrição da Imagem: lustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Sua calças são verdes e sapatos pretos. Carregas em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighiere. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da porta,
por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.
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UNICESUMAR
157
UNIDADE 5
você possui neste exato momento. De uma forma simples procure responder:
Como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria impactaram o século XX e
como ainda hoje somos influenciados por estes processos históricos?
Após essa reflexão chegou a hora de pensarmos acerca da significação deste
conteúdo histórico para os nossos alunos. Afinal, como vimos nas Unidades
anteriores, é o processo de significação que exponencializa a chance de nossos
estudantes compreenderem determinado conteúdo, pois, o fato de saberem o
significado que aquele conhecimento tem para a sua vida aumenta o interesse e,
consequentemente, o aprendizado. Desta forma, como você responderia a um
aluno (a) se ele (a) lhe perguntasse: “Qual a importância de se estudar a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria para a minha vida? Como esses conhecimentos
colaboram para a minha participação em sociedade?”. Para ajudar nessa resposta
e significação vamos analisar qual seria a resposta de nosso professor e viajante
da História Contemporânea:
- Professor de História: Caro Dante, acredito que uma coisa já tenha
ficado clara em nossa viagem. Os acontecimentos e processos his-
tóricos, por mais longínquos ou próximos que estejam, impactam
diretamente na forma como vivemos e pensamos a nossa sociedade
atual. Esse conhecimento histórico que vamos aprimorando deve
ser utilizado em nosso dia a dia para ajudar a nos posicionarmos
em nossa sociedade, podendo assim, ajudar a nós mesmos e aqueles
que nos cercam.
158
UNICESUMAR
vista ainda hoje nos discursos midiáticos, acadêmicos e, entre a própria popu-
lação, não é difícil encontrar na internet jovens debatendo estes assuntos. Países
como China e Coréia do Norte adquiriram suas características políticas neste
contexto de Guerra Fria. Sendo assim, compreender esse processo histórico nos
ajuda a entender melhor a forma como vivemos, os conflitos e as ideologias que
ainda nos cercam.
Chegou a sua vez de responder a dúvida de Dante. Com base na resposta
fornecida pelo professor de História, assim como, os seus próprios conhecimen-
tos prévios, convido você a pesquisar alguns minutos sobre: Como a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria transformaram a ordem existente no planeta
Terra? Quais as consequências e reminiscências destes conflitos que atuam em
nossa sociedade até hoje?. Antes de iniciarmos a nossa análise histórica acerca
destas questões faça uma lista com as ideias que você conseguiu elencar neste
momento acerca desta pergunta. Novamente, te convido a armazenar essa lista
para que possa ser utilizada em sua carreira como docente. Essas reflexões serão
valiosas quando estiver em sala de aula.
Neste momento, no qual você já pode fazer uma lista e já deu início ao seu
processo de aprendizagem acerca dos processos históricos da Segunda Guerra
Mundial e da Guerra Fria, convido você a registrar aqui, no seu Diário de Bordo,
quais são as principais dúvidas que apareceram sobre estes temas? De que forma
você problematizaria e significaria esses conteúdos para os seus alunos e alunas?
Como aplicar esse conhecimento na sociedade que vivemos hoje?
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UNIDADE 5
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UNICESUMAR
“
Em 1935, a Alemanha comunicou sua ruptura com os tratados de
paz e ressurgiu como grande potência militar e naval, reapossan-
do-se (por plebiscito) da região do Saara em sua fronteira ocidental
e desligando-se com desprezo da Liga das Nações. No mesmo ano
Mussolini, com igual desprezo pela opinião pública, invadiu a Etió-
pia, que a Itália passou ocupar como colônia em 1936-7, após o que
o Estado também rasgou sua ficha de membro da Liga. Em 1936,
a Alemanha recuperou a Renânia [...] Em 1937, sem surpreender
ninguém, o Japão invadiu a China e partiu para uma guerra aberta
que só cessou em 1945. Em 1938, a Alemanha também achou que
chegara a hora da conquista. A Áustria foi invadida e anexada em
março, sem resistência militar, e, após várias ameaças, o acordo de
Munique em outubro despedaçou a Tchecoslováquia e transferiu
grandes partes dela para Hitler, mais uma vez pacificamente. O resto
foi ocupado em março de 1939, encorajando a Itália, que não tinha
demonstrado ambições imperiais por alguns meses, a ocupar a Al-
bânia (HOBSBAWM, 2011, p. 147-148).
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UNIDADE 5
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UNICESUMAR
“
Para Stalin, ele tinha o objetivo de recuperar os territórios perdi-
dos do antigo Império russo e obter mais tempo para reforçar as
forças militares nacionais e barganhar com os alemães e os alia-
dos ocidentais a melhor oferta para entrar na guerra. Para Hitler,
ele foi um mero expediente para conquistar a Europa Ocidental
sem maiores problemas. Assim que se tornou claro, com a queda
da França em 1940, que a Europa Ocidental estava sob controle,
ele imediatamente ordenou o início os preparativos para invadir a
URSS (BERTONHA, 2009, p.79).
Figura 2: “Imaginando quanto tempo a Lua de Mel vai durar?”. Cartoon por Clifford Berryman para o
The Washington Star em 1939. Fonte: By Clifford K. Berryman
Descrição da Imagem: Nesta charge em preto e branco, temos Hitler e Stalin de mãos dadas em seu
casamento. Hitler está à esquerda de quem observa a imagem, ele está olhando para Stalin à direita. Veste
um terno de casamento escuro e calças claras. Em seu peito está um símbolo da suástica e logo abaixo
uma medalha também da suástica. Em sua gravata tem um pingente com um símbolo comunista. Stalin,
à direita, usa um vestido e véu de noiva. Em sua mão esquerda carrega um grande buquê de flores. Em
sua cabeça uma espécie de coroa de flores. No pescoço Stalin utiliza uma corrente feita com suásticas.
Atrás da imagem encontram-se algumas folhagens e no canto esquerdo um bolo de casamento no qual
se destacam símbolos da União Soviética e Suásticas.
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UNIDADE 5
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UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
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UNIDADE 5
OLHAR CONCEITUAL
Por motivos didáticos construímos o infográfico a seguir explicando esse processo de
avanço e conquista territorial realizado por Hitler até chegar em sua expansão máxima.
Setembro de 1939
Invasão e tomada da Polônia pelos
Nazistas e Soviéticos
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UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
Título: High Hitler: Como o Uso de Drogas pelo Fuhrer e pelos Nazis-
tas Ditou o Ritmo do Terceiro Reich
Autor: Norman Ohler
Editora: Planeta
Sinopse: Nessa obra, o jornalista Norman Ohler apresenta como o exército
nazista e o próprio líder da Alemnha, Adolf Hitler, utilizavam drogas antes e
durante a Segunda Guerra Mundial. O autor explica como as drogas influen-
ciaram nos destinos da Alemanha. Além disso, é apresentado como a Segun-
da Guerra Mundial também foi uma guerra farmacêutica entre as potências.
167
UNIDADE 5
Figura 3: Máxima expansão dos países do Eixo. / Fonte: Franco e Andrade (1993)
NOVAS DESCOBERTAS
168
UNICESUMAR
fazendo com que o até então neutro Estados Unidos da América entrasse
diretamente no conflito. No dia 8 de dezembro os EUA declararam guerra
ao Japão, sendo que 3 dias depois os Alemães, por sua vez, também declararam
guerra à maior nação industrial daquele período, os EUA.
De acordo com Max Hastings, Winston Churchill, o primeiro-ministro do
Reino Unido, desde a saída de Chamberlain em 10 de maio de 1940, tinha medo
de ter que enfrentar o Japão no Oceano Pacífico antes mesmo dos EUA entra-
rem diretamente no conflito. Para Hastings, quando Hitler declarou guerra aos
estadunidenses teria sido um ato de loucura, pois com essa declaração, o presi-
dente dos Estados Unidos, F. D. Roosevelt, conseguiu unir o seu país para lutar a
Segunda Guerra Mundial, tanto no Pacífico quanto na Europa, uma verdadeira
vitória para os Aliados (HASTINGS, 2011).
A partir de então, os Estados Unidos travaram importantes batalhas no Ocea-
no pacífico contra os japoneses, como exemplos a Batalha do Mar Coral em maio
de 1942, a Batalha de Midway em junho de 1942, e Guadalcanal em 1943. Os
americanos foram importantes para combater os japoneses em diversos territó-
rios, inclusive na China que sofreu a invasão dos nipônicos em 1937.
Sendo assim, a partir de 1941 a Segunda Guerra se desenvolveu em três conti-
nentes, Europa, África e Ásia. É válido lembrar que a partir de 1942 os britânicos
vão levar a guerra até a Alemanha que teve suas cidades destruídas pelos aviões
ingleses e estadunidenses. Como vimos, a segunda fase do conflito de 1942 e
1943 foi a de equilíbrio entre os países. Foi, também, o período em que Estados
Unidos e União Soviética começaram a lutar diretamente no conflito. Inclusive foi
na União Soviética, mais precisamente na cidade de Stalingrado, que o nazismo
começou a perder a guerra na Europa.
A Batalha de Stalingrado ocorreu de agosto de 1942 até fevereiro de 1943.
Nesta cidade, os nazistas não conseguiram aplicar a sua estratégia de guerra, sen-
do castigados pelo frio de baixíssimas temperaturas e pelas estratégias militares
soviéticas. Proibidos por Hitler de deixar a cidade, os soldados alemães tiveram
que se render. Uma vitória muito importante para os soviéticos, que a partir de
então empurraram o exército nazista de volta para a Alemanha. Os russos que
até 1943 foram invadidos pelos alemães reagiram. Stalin transferiu as milhares
de fábricas para a Ásia distante dos inimigos. O sistema produtivo soviético foi
fundamental para a vitória soviética. Para se ter ideia:
169
UNIDADE 5
“
Tal superioridade material foi menos expressiva, mas já presente,
entre 1941-1943, quando a economia soviética se recuperava da
invasão e das imensas perdas econômicas e militares, mas, entre
1944 e 1945, foi esmagadora. Não surpreende, assim, que, dos 13,6
milhões de alemães mortos, feridos ou aprisionados durante a guer-
ra, 10 milhões o tenham sido na frente oriental. Se, alguma vez, a
imagem do “rolo compressor” russo esteve perto da realidade, foi na
frente oriental, nesses dois anos. Assim, saíram das fábricas russas,
durante a guerra, uns 200 mil canhões e morteiros médios e pesa-
dos, 160 mil aviões e 100 mil tanques [...]. Como eles praticamente
não lutaram nos oceanos, sua produção de navios e submarinos
foi pequena, mas ninguém, entre todos os beligerantes, conseguiu
produzir mais artilharia e blindados. Se examinarmos o conjunto
da produção militar, apenas os Estados Unidos foram capazes de
fabricar mais material militar do que a União Soviética durante a
guerra (BERTONHA, 2009, p. 89).
170
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Durante um conflito o serviço de informações é fundamental. Por isso, a vitória dos Alia-
dos aconteceu em grande parte, pois os britânicos conseguiram desvendar o sistema crip-
tografado dos nazistas da máquina Enigma e os americanos quebraram o código Mágico
dos japoneses. Com a criptografia quebrada, era possível saber o que seu inimigo faria
antes mesmo do acontecimento.
NOVAS DESCOBERTAS
171
UNIDADE 5
Caro (a) estudante, após essas duas grandes operações, cada vez mais os Aliados
se aproximavam da Alemanha e a derrota do Eixo era iminente. A frente oci-
dental, reforçada por tropas vindas do sul da França, chegaram a Paris no final
de agosto de 1944 e no mês seguinte as fronteiras da Alemanha. No final do
ano, a França, Bélgica e parte da Holanda já haviam sido retomadas, apesar da
resistência dos alemães. Já no início de 1945 os soviéticos, no lado oriental, lan-
çavam novas investidas, sendo que no dia 16 de abril de 1945 cercaram a cidade
de Berlim. Metro a metro os soviéticos tomaram a cidade. No dia 30 de abril,
após perder todas as esperanças Hitler, em seu Bunker, atirou contra si mesmo.
A Segunda Guerra Mundial na Europa chegava ao seu fim. No dia 7 de maio é
assinado a rendicão incondicional da Alemanha.
No entanto, apesar da guerra ter se encerrado na Europa ela permanecia no
Oceano Pacífico, o Japão resistia. Mas não por muito tempo. Após a conquista
de Okinawa pelos Estados Unidos em maio de 1945, restavam apenas as ilhas
principais japonesas. Apesar da iminente vitória dos Aliados, o Japão não se
renderia facilmente.
Em 1939, foi escrita a Carta Einstein-Szilárd entregue ao presidente F. D.
Roosevelt alertava para o perigo de criação de um novo tipo de bomba. Diante
disso, o Estados Unidos em parceria com a Inglaterra e o Canadá, deu origem,
em 1941, ao Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento das primei-
ras bombas atômicas de fissão nuclear. Assim, em 1945, diante da certa vitória
contra o Japão, o então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, recebeu
a notícia de que as bombas nucleares estavam prontas. Como explica o historia-
dor Eric Hobsbawm: “O lançamento da bomba atômica sobre Hiroxima e
Nagasaki em 1945 não foi justificado como indispensável para a vitória, então
absolutamente certa, mas como um meio de salvar vidas de soldados americanos”
(HOBSBAWM, 2011, p. 34-35). Sob a justificativa de estar salvando a vida de mi-
lhares de soldados norte-americanos, os Estados Unidos bombardearam o Japão
com duas bombas atômicas. No dia 6 em Hiroshima e no dia 9 em Nagasaki. O
mundo nunca mais seria o mesmo. Como consequência dessas bombas o Japão
não teve outra alternativa em concordar com sua rendição em 14 de agosto que
seria formalizada oficialmente no dia 2 de setembro de 1945. Chegava ao fim a
Segunda Guerra Mundial.
Entre as consequências da Segunda Guerra, gostaríamos de destacar alguns
aspectos principais. Primeiro a quantidade de mortos. Apesar de não ser possí-
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UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
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UNIDADE 5
Caro (a) estudante, agora que analisamos alguns aspectos da Segunda Guerra
Mundial, chegou o momento de estudarmos um outro confronto, que, por sua
vez, alterou as relações políticas, econômicas e culturais de todo o planeta. Es-
tamos falando da Guerra Fria. Assim como em todos os outros temas, vamos
responder a algumas perguntas: o que foi a Guerra Fria? Quais as suas origens?
Como ela se desenvolveu? Como impactou o mundo? Qual foi o seu desfecho?
Guerra Fria é um termo utilizado para conceitualizar uma guerra não
declarada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Um conflito político,
ideológico, econômico, cultural e militar. Acerca de seu início e fim não há um
consenso historiográfico. Para alguns, ela teria se iniciado em 1945, já no final
da Segunda Guerra Mundial, para outros em 1947 com o discurso de Harry
Truman. Acerca de seu fim, há quem afirme que terminou em 1989 com a
queda do Muro de Berlim, para outros, com a desintegração e fim da União
Soviética em dezembro de 1991.
Historiograficamente, existem diversas correntes analíticas acerca desse
confronto. De acordo com Sidnei Munhoz podemos elencar cinco:
“
A ortodoxia estadunidense estruturou-se a partir dos escritos dos
elaboradores da política externa dos EUA. George Frost Kennan,
criador da Doutrina da Contenção, é o maior expoente dessa cor-
rente.[...] Os historiadores ortodoxos estadunidenses responsabili-
zam a União Soviética pela emergência da Guerra Fria e a acusam
de desrespeitar os acordos firmados ao final da II Guerra Mundial e
de apoderar-se militarmente dos territórios localizados no Centro e
no Leste da Europa. [...] A ortodoxia soviética constitui-se o outro
lado da moeda da corrente anterior. Seus expoentes também estão
associados ao serviço diplomático e expressam a visão da política
externa do seu país. Essa corrente interpretativa responsabiliza os
EUA pela emergência do novo conflito global, surgido ao fim da II
Guerra Mundial, como resultado da ação imperialista e do desres-
peito aos tratados firmados em Ialta e em Potsdam (MUNHOZ,
2020, p. 23, grifo nosso).
176
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“
Revisionismo. A crítica revisionista despontou em 1959 e desen-
volveu-se nas décadas seguintes [...] Divergiam da história oficial
que responsabilizava a União Soviética pelo início da Guerra Fria.
[...] os revisionistas afirmavam que a URSS não ameaçava a Euro-
pa ou os EUA. Esses historiadores concluíam que a ação soviéti-
ca era, sobretudo, defensiva. Para eles, na avaliação soviética, os
EUA adotaram, após a morte de Roosevelt, posturas agressivas que
ameaçavam o leste da Europa e a segurança da URSS.[...] Pós-re-
visionismo. Na década de 1980, o historiador John Lewis Gaddis
propôs a superação dos modelos ortodoxo e revisionista para a
análise da Guerra Fria. Para esse autor, com o final daquele confli-
to de dimensões globais, era imprescindível buscar um consenso
pós-revisionista. Nesse percurso, Gaddis defendeu a adoção de uma
perspectiva próxima à neutralidade como caminho para a melhor
compreensão do período da Guerra Fria. [...] o pós-revisionismo,
na prática, corporificou-se como uma antítese revisionista ou em
uma neo-ortodoxia. [...] Corporatismo. Os corporatistas defen-
dem a existência de uma linha de continuidade na Grande Política
dos EUA ao longo do século XX. [...] os EUA buscaram, durante o
século XX, planejar uma ordem mundial referenciada no modelo
corporatista doméstico. [...] A implementação dessas políticas foi
vista pelo Kremlin como uma ameaça. Assim, a União Soviética
adotou posturas que também foram vistas pelos EUA como agres-
sivas (MUNHOZ, 2020, p. 24-25, grifo nosso).
Neste momento e local, não podemos realizar uma análise mais aprofundada
acerca destas questões historiográficas. Contudo, indicamos o seu estudo. Uma
forma de fazer isso é pelo livro indicado abaixo do professor Sidnei Munhoz.
NOVAS DESCOBERTAS
177
UNIDADE 5
“
Roosevelt, Churchill e Stalin sem dúvida ansiavam por esse desfe-
cho e nenhum deles tão cedo queria novos inimigos, depois de ter
vencido aqueles. Mas desde o começo a coalizão fora simulta-
neamente uma forma de cooperação para derrotar o Eixo e
um instrumento pelo qual cada um dos vitoriosos procurava
ter o máximo de influência no mundo de pós-guerra. Nem po-
deria ser doutra forma. Apesar de os “três grandes” declararem que
não se podia pensar em política com a guerra em curso, nenhum
deles acreditava neste princípio ou pensava em obedecê-lo. O que
realmente fizeram - em comunicados e conferências, quase sempre
sem conhecimento público - foi tentar conciliar objetivos políticos
divergentes, tal como se visassem a uma operação militar de inte-
resse comum. Em grande parte fracassaram, e foi este fracasso que
originou a Guerra Fria (GADDIS, 2006, p. 17, grifo nosso).
Por conseguinte, para J. Gaddis foi essa busca pela maior influência mundial
no pós Segunda Guerra que levou o mundo a esse novo conflito. É certo que os
178
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“
[...] Kennan defendia que os EUA passassem a empregar uma políti-
ca externa de longa duração alicerçada em uma paciente, duradoura
e vigilante contenção das possíveis tendências expansionistas sovié-
ticas (KENNAN, 1947; 1969; 1999). O diplomata preconiza que em
um eventual sinal de agressão ou tentativa de expansão soviética os
Estados Unidos deveriam estar prontos para se contraporem à ad-
versária de forma a dissuadi-la do seu intento. O diplomata ressal-
va, contudo, que o conflito direto deveria ser evitado (MUNHOZ,
2020, p. 147).
Com base nesta ideia de conter o avanço comunista, no dia 12 de março de 1947
o então presidente dos EUA, Harry Truman, fez um discurso para o congresso
americano acerca da importância dos Estados Unidos ajudarem a Grécia e a
Turquia que passavam, naquele momento, por agitações sociais. A Grécia por
exemplo, vivia uma Guerra Civil com uma forte participação comunista. Apro-
179
UNIDADE 5
vada a intervenção pelo congresso, este plano de apoio econômico e militar ficou
conhecido como Doutrina Truman (MUNHOZ, 2020; GADDIS, 2006).
Figura 4: Harry Truman discursa para o Congresso Americano. Este discurso daria início à
chamada “Doutrina Truman”. / Fonte: By Harry S. Truman Library & Museum
180
UNICESUMAR
que os países restaurados fizessem parte de uma aliança política e militar contra
os soviéticos (HOBSBAWM, 2011, p. 237).
É importante levarmos em consideração
“
[...] que o Plano Marshall constituiu-se em uma das estratégias de
intervenção objetivando a edificação da nova ordem mundial. Ele
foi antecedido pelo Acordo de Bretton Woods, pela criação do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que instituíram
os mecanismos de regulação e controle da nova ordem econômica
mundial. Além disso, pode-se afirmar que a Doutrina Truman,
o Plano Marshall e a criação da OTAN formavam um conjunto
por meio do qual os EUA procuraram moldar o mundo ociden-
tal do pós-guerra (MUNHOZ, 2004c, p. 547, grifo nosso).
EXPLORANDO IDEIAS
Para combater o comunismo dentro dos Estados Unidos, foi criada uma política de perse-
guição interna que ficou conhecida como Macartismo. De acordo com Lars Schoultz, em
1950, o senador Joseph McCarthy disse: [...] que o Departamento de Estado democrata
“está inteiramente infestado de comunistas. [...] indivíduos que parecem ser membros
de carteirinha ou simpatizantes do Partido Comunista, mas que apesar disso ainda estão
ajudando a moldar nossa política exterior”. A Cortina de Ferro havia fechado a Europa
Central, o Departamento de Estado havia perdido a China, e a crescente maré vermelha
ameaçava varrer toda a oposição. “Hoje, disse McCarthy a seus ouvintes, “estamos empe-
nhados numa batalha total e final entre o comunismo ateu e a cristandade. Os modernos
defensores do comunismo escolheram este como sendo o momento. E, senhoras e se-
nhores, as apostas estão feitas - estão realmente feitas.” A inquisição de quatro anos de
Joseph McCarthy estava a caminho (SCHOULTZ, 2000, p. 371)..
Perceba caro estudante, que de acordo com essa perspectiva histórica apresenta-
da, ao longo das primeiras décadas após a Segunda Guerra Mundial, os Estados
Unidos da América procurou moldar um mundo de acordo com as suas carac-
terísticas. Como apontado no excerto, a Organização do Tratado do Atlânti-
co Norte (OTAN) fez parte deste objetivo. Criada em 1949, essa organização,
existente até os dias atuais, tem por objetivo a criação de uma aliança política e
militar. Segundo o site da própria organização, militarmente falando a OTAN
181
UNIDADE 5
“
[...] está comprometida com a resolução pacífica de disputas. Se
os esforços diplomáticos falharem, ele tem o poder militar para
realizar operações de gerenciamento de crises. Estas são realizadas
ao abrigo da cláusula de defesa colectiva do tratado fundador da
OTAN - artigo 5.º do Tratado de Washington ou sob mandato das
Nações Unidas, isoladamente ou em cooperação com outros paí-
ses e organizações internacionais (NORTH ATLANTIC TREATY
ORGANIZATION, s.d.).
“
O temor de um avanço imperialista objetivando eliminar a influên-
cia soviética no Leste Europeu levou o governo de Moscou a rapida-
mente esmagar as oposições aos regimes instalados na sua esfera de
influência. Nessa mesma direção, a URSS criou, em julho de 1947,
o Birô de Informação Comunista (Kominform) e, em 1949, o Con-
selho de Assistência Econômica Mútua (COMECON) (MUNHOZ,
2004c, p. 547, grifo nosso).
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“
[...] não pretendia, com certeza, eliminar o comunismo da URSS.
Sua pretensão inicial era introduzir certos mecanismos na esclero-
sada sociedade russa que permitissem a ela continuar na posição
de superpotência e, ao mesmo tempo, desse um novo dinamismo à
sua estrutura econômica e ao sistema político (BERTONHA, 2009,
p. 110).
188
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UNIDADE 5
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Após toda essa conceitualização sobre Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria,
chegou a hora de você colocar em prática os conhecimentos que adquiriu.
Vamos nessa?
Como atividade para esta última Unidade pedimos para você estudante a rea-
lização de um último Mapa Mental. Lembre-se que esse tipo de atividade lhe
ajudará a organizar o conhecimento obtido até agora, fazendo com que o seu
aprendizado sobre Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria seja mais duradouro.
Por conseguinte, crie um mapa mental apresentando os principais processos
históricos que ocorreram durante a Guerra Fria. Você também pode colocar
quais foram as instituições, teorias e doutrinas utilizadas por Estados Unidos e
União Soviética. Você pode realizá-lo aqui mesmo no livro, ou ainda, na ferra-
menta GoConqr - www.goconqr.com.
UNIDADE 1
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199
UNIDADE 1
Agricultura -
Cercamento dos Campos
Grã-Bretanha -
Potência Comercial
e Marítima
Causas da $
Transporte
Livre circulação
de conhecimento
UNIDADE 2
1. Espera-se que o aluno tenha a capacidade interpretativa de perceber que Karl Marx
está realizando uma crítica ao golpe 18 de brumário realizado por Luís Bonaparte
em 1851 que abriria as portas para a criação do segundo império da França. Desta
forma, a alternativa correta é: D) ao golpe 18 de brumário realizado por Luís Napoleão
Bonaparte, que enfraquecia a segunda república da França e abria as portas para a
criação do Segundo Império Francês.
200
A segunda causa, para o historiador, foi a grande expansão operária que a França
vivia nessa segunda metade do século XIX, afinal, é o período que a França está pas-
sando por sua própria Revolução Industrial. O final do segundo Império, liderado por
Napoleão III (1852-1870), foi marcado pelas maiores greves da história do país. Uma
terceira série de causas foi a própria falência e traição das elites que governaram o
país. A verdade é que, com a queda de Napoleão III e a proclamação da Terceira Re-
pública da França, o governo proclamado tinha mais medo da sua própria população
do que da própria Prússia que os havia derrotado recentemente.
UNIDADE 3
PRIMEIRA
REVOLUÇÃO GUERRA
INDUSTRIAL IMPERIALISMO
MUNDIAL
$
Busca por mercado Protecionismo
consumidor
UNIDADE 4
1. Nesta atividade, a resposta é muito particular tendo em vista que é uma autoavaliação
dos alunos.
201
UNIDADE 5
202