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História

Contemporânea
PROFESSOR
Dr. Augusto João Moretti Junior

ACESSE AQUI O SEU


LIVRO NA VERSÃO
DIGITAL!
EXPEDIENTE

FICHA CATALOGRÁFICA

Coordenador(a) de Conteúdo C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ.


Roney de Carvalho Luiz Núcleo de Educação a Distância. MORETTI JUNIOR, Augusto
João.
Projeto Gráfico e Capa
André Morais, Arthur Cantareli e História Contemporânea. Augusto João Moretti Junior.
Maringá - PR: Unicesumar, 2022. Reimpresso em 2023.
Matheus Silva
Editoração 204 p.
Alexandre Vinicius e Nivaldo Villela ISBN 978-85-459-2306-0
Design Educacional
“Graduação - EaD”.
Giovana Vieira
1. História 2. Atualidades 3. Contemporânea. 4. EaD. I. Título.
Curadoria
Cleber Lopes Lisboa
CDD - 22 ed. 909
Revisão Textual
Érica Fernanda Ortega
Ilustração
André Azevedo Impresso por:
Fotos
Shutterstock Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB- 9-1679

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 | Maringá - Paraná
www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
02511350
Dr. Augusto João Moretti Junior

Olá, caro(a) estudante! Meu nome é Augusto Moretti e sou


o professor responsável pela escrita deste livro de História
Contemporânea. É uma alegria enorme poder colaborar
com o seu processo de aprendizagem em uma área tão
importante como a História.
Com o objetivo de nos aproximar mais, gostaria de
falar um pouquinho sobre a minha trajetória. Possuo
graduação, mestrado e doutorado em História pela Uni-
versidade Estadual de Maringá. Trabalho no ensino a dis-
tância da Unicesumar desde 2016, além de ser professor
do Ensino Básico desde o ano de 2011.
Contudo, agora, gostaria de contar um pouco mais
sobre a minha jornada até me tornar professor. Poucas
pessoas sabem que durante alguns anos, aproximada-
mente três, trabalhei como auxiliar de marceneiro em
uma pequena indústria na cidade de Maringá. Como a
maioria dos estudantes do Brasil, dividia os meus dias en-
tre o trabalho manual e exaustivo com os estudos na área
de História. Confesso que me divertia e gostava muito de
construir móveis para as pessoas, no entanto, quando in-
gressei na sala de aula, sabia que era aquilo que eu gosta-
ria de fazer. Realmente espero que as minhas disciplinas e
livros o ajudem a se encontrar na área e lhe possibilitem
fazer aquilo que amam, assim como eu posso fazer hoje.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/1242626722779768
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA

Olá, caro(a) estudante, seja bem-vindo à disciplina de História Contemporânea. Sa-


bemos que se trata de um período amplo e complexo, tendo em vista que sua baliza
cronológica de início é a Revolução Francesa e permanece até os dias atuais. Trata-se
de um recorte temporal extremamente importante, tendo em vista que os seus acon-
tecimentos, durante este período, determinaram a forma como pensamos, agimos e
vivemos em sociedade. Devido à dificuldade e complexidade dos temas envolvidos,
gostaríamos de propor uma situação hipotética.
Imagine que você pudesse entrar por uma janela temporal e se transportar para
qualquer lugar no tempo e espaço acompanhado por um professor de História. Seria
muito proveitoso, não é mesmo? Por isso, neste livro, ao longo do desenvolvimento
das unidades, seremos acompanhados por dois viajantes: Dante e seu professor de
História. Eles serão responsáveis por trazer as problematizações acerca dos principais
conteúdos da disciplina de História Contemporânea e, mais do que isso, nos ajudarão
a compreender como esses problemas e conhecimentos se relacionam com a nossa
sociedade hoje e até mesmo com a vida do professor de História. O que você acha?
Vamos nessa?
"Se você perguntar para dez historiadores qual a importância da História, existe uma
grande chance de você obter dez respostas diferentes". Foi isso o que o nosso viajante
da História Contemporânea, Dante, ouviu de seu professor de Teorias da História, o su-
ficiente para lhe retirar a tranquilidade e acender a chama da curiosidade. Para resolver
esse dilema, Dante perguntou a todos os seus professores o que significava a História
para eles. Uma das definições mais apreciadas pelo nosso viajante foi obtida de seu
professor de História Contemporânea: "O estudo da ciência histórica nos ajuda a com-
preender a nossa sociedade atual, e consequentemente nos permite agir sobre ela".
Ao descobrir essa definição, buscou de forma incessante a compreensão da socieda-
de em que vive, contudo, apesar de realizar leituras frequentes, pesquisas e consultas
na internet, algumas de suas perguntas permaneceram sem explicações. Entre elas,
Dante selecionou cinco preguntas e levou ao seu professor:
1) "Por que a História Contemporânea inicia no século XVIII e ainda permanece
como nosso período histórico?"
2) "Quais movimentos e ideias foram desenvolvidos no século XIX que alteraram
para sempre a sociedade ocidental?"
3) "Por que o fim do século XIX e as primeiras décadas do século XX demonstraram
que a civilização humana não resolveu todos os seus problemas por meio da tecnologia
industrial, quando, na verdade, alguns acontecimentos demonstraram um retrocesso?"
4) "Por que o período pós-Primeira Guerra Mundial não trouxe a paz e a estabilida-
de, mas, na verdade, predispôs os países para um conflito pior ainda?"
5) "Como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria transformaram a ordem exis-
tente no planeta Terra? Quais as consequências e reminiscências destes conflitos que
atuam em nossa sociedade até hoje?"
Diante da importância e complexidade das questões, o professor de História de
Dante resolveu fazer algo melhor do que simplesmente respondê-las. Convidou seu
aluno para realizar uma grande viagem pela História Contemporânea e seus principais
processos históricos, com paradas estratégicas para responder às perguntas de Dante.
Perceba, caro(a) estudante, que os questionamentos de Dante, além de serem
importantes para o conhecimento de História Contemporânea, também são funda-
mentais para compreender a sociedade que vivemos hoje. Veremos, ao longo de nos-
sa jornada com Dante e seu professor, que para os nossos alunos do ensino básico
é sempre muito importante que eles percebam como aqueles conteúdos que estão
apreendendo lhes ajudam a compreender melhor a sociedade em que fazem parte,
ou seja, possuem significados em suas vidas!
Vamos juntos com nossos viajantes nesta jornada pela História Contemporânea?
RECURSOS DE
IMERSÃO
REALIDADE AUMENTADA PENSANDO JUNTOS

Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA

Professores especialistas e convi-


NOVAS DESCOBERTAS
dados, ampliando as discussões
sobre os temas. Enquanto estuda, você pode aces-
sar conteúdos online que amplia-
ram a discussão sobre os assuntos
de maneira interativa usando a tec-
PÍLULA DE APRENDIZAGEM
nologia a seu favor.
Uma dose extra de conhecimento
é sempre bem-vinda. Posicionando
seu leitor de QRCode sobre o códi- OLHAR CONCEITUAL
go, você terá acesso aos vídeos que
Neste elemento, você encontrará di-
complementam o assunto discutido.
versas informações que serão apre-
sentadas na forma de infográficos,
esquemas e fluxogramas os quais te
ajudarão no entendimento do con-
teúdo de forma rápida e clara

Quando identificar o ícone de QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar


Experience para ter acesso aos conteúdos on-line. O download do
aplicativo está disponível nas plataformas: Google Play App Store
CAMINHOS DE
APRENDIZAGEM

1
9 2
51
O SÉCULO XVIII E O SÉCULO XIX:
AS REVOLUÇÕES: RESISTÊNCIA E
A FORMAÇÃO DESENVOLVIMENTO
DE UMA NOVA
SOCIEDADE

3
79 4 115
A TRANSIÇÃO A PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XIX PARA DO SÉCULO XX:
O XX: O PROGRESSO REVOLUÇÃO, CRISE E
E DESENVOLVIMENTO TOTALITARISMOS
NÃO SALVARAM
A CIVILIZAÇÃO
HUMANA

5
155
A TRANSIÇÃO
E A SEGUNDA
METADE DO
SÉCULO XX:
VELHOS E NOVOS
CONFLITOS
1
O Século XVIII e
as Revoluções:
A Formação de uma
Nova Sociedade

Dr. Augusto João Moretti Junior

Nesta unidade, temos como objetivo analisar os principais aconte-


cimentos do século XVIII, processos históricos que transformaram e
determinaram os séculos XIX-XX e, consequentemente, a forma como
vivemos hoje. Investigaremos a Revolução Industrial, sua conceitua-
lização, causas de seu surgimento no século XVIII na Grã-Bretanha,
desenvolvimento e suas consequências. Em seguida, analisaremos
a Revolução Francesa, suas causas, fases de desenvolvimento e seus
impactos para a sociedade ocidental. Esses dois grandes eventos al-
teraram não apenas os meios de produção, a economia, as leis e a
política, mas a própria forma como a sociedade ocidental pensa e age.
UNIDADE 1

Figura 1 - Dante e seu professor de História viajando na janela temporal


Fonte: o autor

Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma
porta de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o
professor de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa
verde com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro,
veste um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a
porta. Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.

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UNICESUMAR

Vamos imaginar a seguinte situação hipotética com dois personagens, Dante e


seu professor.
Eles viajam no tempo e chegam em seu primeiro destino: o século XVIII.
O lugar é desconhecido para o nosso jovem viajante, sabendo, apenas, que se
encontram em algum lugar da Europa Ocidental. Como sempre está em busca
de respostas, Dante questiona o seu professor a respeito de sua localização. Para
a sua surpresa, recebe a seguinte resposta:

- Professor de História: Esse é o local onde começaremos a responder uma


das suas cinco principais dúvidas, “Por que a História Contemporânea inicia
no século XVIII e ainda permanece como nosso período histórico?”

Caro(a) estudante de História Contemporânea, como você pode perceber, trata-


-se de uma, na verdade, duas perguntas fundamentais acerca da nossa disciplina.
Por que os historiadores definiram o final do século XVIII, 1789, para iniciar o
que denominamos como História Contemporânea? E por que permanecemos
nesse período após mais de duzentos anos? Trata-se de questionamentos que
orientarão o nosso estudo até o final. Antes de analisarmos as respostas para
tais interrogações, gostaria que você tentasse responder a essas perguntas agora.
Como responderia a essas questões de Dante? Qual a relação entre os eventos do
final do século XVIII com o momento histórico que vivemos hoje?
Responder a essas perguntas elementares nos ajudam a compreender e, con-
sequentemente, a transmitir para os nossos estudantes a importância de apreen-
der a História. É comum o professor receber a seguinte pergunta: “- Qual a im-
portância de estudar isso para a minha vida?”. Alguns colegas de trabalho ficam
enfurecidos ao ouvirem esse questionamento. Particularmente, eu adoro receber
essa pergunta, pois me fornece a oportunidade de explicar, de forma incisiva, a
importância daquele conteúdo para as suas vidas.
Sabemos que a aprendizagem ocorre de uma forma muito melhor e maior quan-
do o tema estudado possui um significado para aquele que estuda, quando o estudante
entende a importância daquilo para a sua vida, ele não apenas se comporta em sala,
mas, até mesmo, busca construir um conhecimento adequado junto ao seu professor.
Atenhamo-nos, como exemplo, ao tema desta unidade. A pergunta de nos-
so bravo viajante, Dante: “Por que a História Contemporânea inicia no século

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UNIDADE 1

XVIII e ainda permanece como nosso período histórico?” pode ser facilmente
alterada para: “Por que estudar o século XVIII e o que esse século tem a ver
com a minha vida hoje?” Perceba que se trata de algo essencial para Dante,
compreender por que foi transportado ao século XVIII quando o que ele quer é
compreender a sociedade em que vive.
Sabendo da importância de tal questionamento, eis a resposta de nosso pro-
fessor de História Contemporânea para Dante:
- “Voltamos ao século XVIII, mais precisamente a segunda metade desse
século, pois é nesse período que dois dos maiores eventos de nossa sociedade
humana iniciaram-se. A saber, a Revolução Industrial e a Revolução France-
sa. Investigar esses dois eventos históricos nos ajuda a compreender a forma
como vivemos hoje, pois não é possível compreendermos a sociedade atual e
seu comportamento econômico sem as indústrias, a ampliação da produção,
do consumo e do capital, assim como a Revolução Francesa foi a responsável
por fundamentar a sociedade de direito que vivemos hoje, baseada em leis
igualitárias e democráticas. Perceba, Dante, esses dois eventos são os pilares
basilares da forma como você vive, pois transformaram a nossa sociedade”.
Agora é sua vez! Com base na resposta dada pelo professor a Dante, reflita,
com base em seus conhecimentos prévios, acerca da importância de estudarmos
a Revolução Industrial e a Revolução Francesa. Quais grandes contribuições esses
eventos históricos geraram para a sociedade e a forma na qual vivemos hoje?
Aproveite para fazer uma lista com os aspectos que você consiga elencar. Salve em
uma pasta, desta forma, você já começa a produzir materiais para a sua carreira
como professor de História. Pode acreditar que esses materiais serão extrema-
mente úteis para a sua docência. Os alunos irão adorar.
Agora que você já viu algumas das importâncias das revoluções do século
XVIII para a nossa sociedade atual, desafio você a registrar no Diário de Bordo:
quais dúvidas já surgiram em relação a esse tema? O que você já sabe e quais
principais questões já vieram a sua mente quando o tema é Revolução Industrial?
E a Revolução Francesa? Por último, mas não menos importante, como você uti-
lizaria esses conteúdos para trazer significado para a vida de seus futuros alunos?

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UNICESUMAR

DIÁRIO DE BORDO

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UNIDADE 1

A partir de agora, viajaremos junto com Dante e seu professor para analisarmos me-
lhor o que foi a Revolução Industrial e a Revolução Francesa, para que, assim, possamos
compreender a importância desses eventos e como eles influenciam em nosso dia a dia.

Exatamente,
meu caro
estudante.

Pelo o que
conversamos anteriormente,
nos encontramos na Grã-
Bretanha do século XVIII, Mais precisamente,
durante o processo conhecido estamos na segunda metade do século
como Revolução Industrial. XVIII. Aqui poderemos responder algumas
Estou certo? perguntas como: O que foi a Revolução
Industrial?; Quando começou e quando
terminou?; Quais as causas da
revolução industrial e por que sua
origem é na Grã-Bretanha?
Vamos nessa?

Figura 2 - Dante e seu Professor de História dialogando na Inglaterra da segunda metade do século
XVIII / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: na imagem encontra-se, no canto inferior esquerdo, o busto de Dante conversan-
do com seu professor. No canto inferior direito, encontra-se o busto do professor de história respondendo
à pergunta do Dante. Ele usa óculos, gravata e um colete por cima da camisa. Tem a mão levantada em
um sinal de explicação. Ao fundo da imagem, encontram-se cinco barracões de indústrias, com chaminés,
janelas e duas portas. Logo atrás de nossos personagens principais, situam-se dois trabalhadores. Mais
ao centro, um trabalhador pequeno, parece uma criança, que puxa uma manivela. Usa boné, luvas, cami-
seta e um macacão. Tem a expressão de tédio. Ao seu lado direito, encontra-se um homem forte e alto,
manipulando duas alavancas. Veste um boné, camiseta e luvas. Ao fundo, mas na frente dos barracões,
uma pessoa está caminhando.

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UNICESUMAR

O primeiro destino de nossos viajantes é a Grã-Bretanha da segunda metade


do século XVIII, berço do que denominamos Revolução Industrial. A partir
de agora, os nossos viajantes, juntamente a nós, compreenderão esse importante
evento histórico que perpassa a resposta de algumas importantes questões:

• O que foi a Revolução Industrial?


• Quando começou e quando terminou?
• Quais as causas da Revolução Industrial e por que sua origem é na Grã-
-Bretanha?
• Por que não ocorreu em outros países desenvolvidos como a França?
• Como essa revolução se desenvolveu?
• Quais foram as principais invenções?
• Quais foram as consequências para a sociedade da época e que pos-
suem reminiscência até os dias atuais?

De acordo com o historiador britânico Eric Hobsbawm, a Revolução Industrial


foi o acontecimento mais importante da história do mundo desde que o homem
inventou as cidades e a agricultura (HOBSBAWM, 2016). Provavelmente você
está se questionando como essa afirmação é drástica. De início também o fiz.
Contudo, vamos fazer algumas reflexões. Vamos considerar a existência do homo
sapiens sapiens como algo aproximado a 350.000 anos, sendo que desenvolvemos
a agricultura a apenas 12.000 anos e criamos a escrita há 3.000 anos.
Perceba que da invenção da escrita até o século XVIII os principais desenvol-
vimentos tecnológicos humanos foram a manipulação do metal, o desenvolvi-
mento da filosofia, matemática, história, assim como os progressos na navegação,
medicina e em construções. No entanto, algo deve ficar claro: até a primeira meta-
de do século XVIII, a civilização humana utilizava como força motriz os animais,
assim como meio de transporte. Desta forma, se considerarmos a invenção da
agricultura como um ponto de partida para o nosso desenvolvimento tecnoló-
gico, perceberemos que em quase doze mil anos a tecnologia pouco avançou em
questões de transporte, por exemplo. Em 1780, ano que utilizamos como início
da revolução industrial, o que possuíamos de mais moderno para o transporte
eram as carroças e os navios. Contudo, com esse processo de industrialização o

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UNIDADE 1

avanço foi tão rápido que em menos de 200 anos, em 1969, o homem chegou à
Lua, fato antes inimaginável para nós. Para auxiliar em sua compreensão, analise
o infográfico a seguir.

OLHAR CONCEITUAL

HOMO SAPIENS AGRICULTURA: ESCRITA: REVOLUÇÃO


SAPIENS: surge há há 3.000 anos. INDUSTRIAL:
surge há 12.000 anos. Século XVIII.
350.000 anos.

Figura 3 - Desenvolvimento exponencial da Revolução Industrial


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: o desenho mostra ao dois homens carregando uma taça de madeira. No próximo
desenho, um homem arando a terra com um boi, no próximo há tablete de terra com escrita cuneiforme
e no último desenho um trem em cima de uma ferrovia.

Compreenda, caro(a) estudante, com o início das indústrias, houve um aceleramento


exponencial na forma como produzimos e desenvolvemos novas tecnologias. Desse
ponto de vista, podemos afirmar que, SIM, a revolução industrial foi o acontecimento
mais importante da história humana. Mas o que de fato foi a Revolução Industrial?
Para responder essa complexa pergunta, analisemos a passagem a seguir do
historiador David Landes (2005, p. 43):


No século XVIII, uma série de invenções transformou a indústria
de algodão na Inglaterra e deu origem a um novo modo de pro-
dução - o sistema fabril. Durante esses anos, outros ramos da in-

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UNICESUMAR

dústria realizaram progressos compatíveis e, juntos, apoiando-se


mutuamente, possibilitaram novos benefícios, numa perspectiva
cada vez mais ampla.

Para o historiador, essas inovações podem ser agrupadas em três principais grupos:


[...] a substituição da habilidade e do esforço humano pelas máqui-
nas - rápidas, constantes, precisas e incansáveis; a substituição de
fontes animadas de energia por fontes inanimadas, em especial a
introdução de máquinas para converter calor em trabalho, propor-
cionando ao homem acesso a um suprimento novo e praticamente
ilimitado de energia; e o uso de matérias-primas novas e muito mais
abundantes, sobretudo a substituição de substâncias vegetais ou ani-
mais por minerais (LANDES, 2005, p. 43).

Sendo assim, podemos definir a revolução industrial como a transição do modo


de produção manufatureiro para o fabril, na qual há uma predominância de má-
quinas, ou seja, a maquinofatura. Definida a Revolução Industrial, podemos agora
responder à nossa segunda questão: Quando começou e quando terminou?
Acerca de seu início e fim, podemos afirmar que a resposta é bastante relativa,
afinal, estamos falando de um evento/processo histórico que não pode ser mensu-
rado como a vida de uma pessoa. São diversos os aspectos que devem ser levados
em consideração, sendo assim, “[...] a revolução industrial não foi um episódio
com um princípio e um fim. Não tem sentido perguntar quando se ‘completou’
[...] Ela ainda prossegue” (HOBSBAWM, 2016, p. 60). Cientes da dificuldade de
uma definição temporal para esse episódio, o que podemos realizar é a delimita-
ção de um período no qual as transformações já estavam tão acentuadas que já
haviam alterado as relações econômicas ao produzir uma economia industrializa-
da (HOBSBAWM, 2016). A historiografia delimita esse período como algo entre
1760/1780 a 1820/1840. É nesse período que podemos afirmar o surgimento da
grande indústria moderna, um acontecimento paralelo à Revolução Francesa.

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UNIDADE 1

PENSANDO JUNTOS

Por que atribuímos o conceito de Revolução para essa alteração dos modos de produção
da manufatura para a maquinofatura? O conceito de Revolução Industrial foi tardio, sur-
gindo apenas no final de sua primeira fase, por volta de 1820, quando socialistas ingle-
ses e franceses cunharam essa expressão, sendo provavelmente uma comparação com o
movimento político que havia acontecido na França nas décadas anteriores (HOBSBAWM,
2016, p. 58). Desta forma, o nome de Revolução lhe pode ser atribuído devido às grandes
consequências que gerou na civilização humana.

Diante desses fatos, novas perguntas devem ser realizadas: Quais as causas da revolu-
ção industrial e por que a sua origem é na Grã-Bretanha? O que levou a essa mudança
drástica na forma como produzimos? Por que aconteceu na Grã-Bretanha? A
explicação para essas perguntas é complexa e a realizaremos nas próximas páginas.
Primeiramente, ao contrário do que muitas pessoas pensam, a origem da
revolução industrial na Inglaterra não está vinculada a fatores externos, como
exemplo, elementos vindos de outros países, foram as suas características internas
que possibilitaram a eclosão de tal acontecimento (HOBSBAWM, 2000).
Um primeiro aspecto a ser analisado é que, por mais rápido que a Revolução
Industrial tenha ocorrido, é importante levarmos em consideração que as suas
causas são longínquas (MANTOUX, 1994), sendo necessário analisá-las no longo
prazo para, de fato, compreendermos o que separou a Inglaterra do resto do mun-
do e lhe possibilitou dar início a esse processo. O processo histórico responsável
pelo surgimento da maquinofatura – e a revolução industrial – na Grã-Bretanha
do século XVIII iniciou-se alguns séculos antes. Caro(a) estudante, é importante
que você tenha em mente que os homens e as instituições humanas estão em
contínua transformação, contudo, as mudanças mais profundas, chamadas de
estruturais, precisam de muito tempo para serem formadas, praticadas e aceitas
em uma sociedade. Desta forma, a Inglaterra já desenvolvia características que
resultaram nesse processo histórico por mais de duzentos anos.
O primeiro aspecto que devemos investigar é a base de toda economia, a
agricultura. Não seria possível o desenvolvimento da grande indústria moderna
nas cidades, com seus milhares de trabalhadores, se não houvesse uma produção
suficiente de alimentos e matérias-primas que fossem capazes de abastecer esses

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UNICESUMAR

grandes centros. Para isso, um fator determinante para a Revolução Industrial foi o
denominado “cercamento das terras comunais” ou, ainda, os enclosures. Do século
XII ao XIX, realizou-se um cercamento das terras, no qual as antigas terras comuns
do feudalismo foram entregues à gentry (nobreza) inglesa para a criação de grandes
pastos para as ovelhas. Nos séculos XVI ao XVIII, a Inglaterra, um Estado unificado,
passou a intensificar a eliminação da fragmentação territorial herdada do feudalis-
mo, gerando grandes propriedades e realizando uma grande concentração de terras
nas mãos de poucos indivíduos, que tinham como objetivo tornar esses territórios
mais produtivos. Mais do que apenas a privatização das terras comuns, os enclosu-
res (cercamentos) representaram o fim dos direitos de uso que eram baseados nos
costumes antigos e que garantiam o sustento de muitas pessoas (WOOD, 2000),
uma prévia da mudança da economia moral para a economia monetária que se
concretiza com a revolução das indústrias. Por fim, uma outra consequência desse
processo de cercamentos foi a expropriação dos camponeses de suas terras, que,
de forma progressiva, foram para as cidades, formando a grande massa que seria
utilizada como mão de obra na revolução industrial.
Por conseguinte, a Inglaterra do século XVIII já havia concentrado as suas terras
nas mãos de um número pequeno de proprietários preocupados não com os costu-
mes, mas com o mercado e o comércio. De acordo com Eric Hobsbawm (2016, p. 63),


[...] as atividades agrícolas já estavam predominantemente dirigidas
para o mercado [...] A agricultura já estava preparada para levar a
termo suas três funções fundamentais em uma era de industrializa-
ção: aumentar a produção e a produtividade de modo a alimentar
uma população não agrícola em rápido crescimento; fornecer um
grande e crescente excedente de recrutas em potencial para as ci-
dades e as indústrias; e fornecer um mecanismo para o acúmulo de
capital a ser usado nos setores mais modernos da economia.

Como aponta Hobsbawm, a Grã-Bretanha possuía uma agricultura formada nos


moldes necessários para o processo histórico desencadeado no século XVIII,
além da produção em larga escala, forneceu o excedente demográfico necessário
para o trabalho nas fábricas.

19
UNIDADE 1

Um segundo fator que deve ser levado em consideração: a Inglaterra era


uma superpotência comercial. Contudo, não devemos voltar os nossos olhos
apenas para o comércio externo. O mercado interno foi responsável por escoar
bens e serviços. Este proporcionou uma determinada constância no consumo
dos produtos e, consequentemente, uma segurança para aqueles que produziam.
Provavelmente, não foi a principal causa da Revolução industrial, mas com certe-
za foi responsável pelo crescimento econômico, assim como uma proteção para
quando, o revolucionário, mercado externo apresentasse uma volatilidade muito
negativa (HOBSBAWM, 2000, p. 40-45).
Acerca de seu comércio internacional, com base em sua poderosa frota na-
val, os britânicos foram capazes de estabelecer, quando não dominar, pontos de
comércio e criar colônias nas mais diversas regiões do globo terrestre, como
na América Central e Ásia. O comércio internacional fornecia uma determina-
da dinamicidade à produção daquele país, onde a volatilidade poderia chegar
a cinquenta por cento em um ano: “de modo que o fabricante que fosse capaz
de correr o suficiente para acompanhar as expansões podia ganhar fortunas”
(HOBSBAWM, 2000, p. 45). Desta forma, pode-se afirmar que: “A procura interna
aumentava a uma razão aritmética, mas a externa a uma razão geométrica. Se
havia necessidade de uma centelha, foi daí que ela surgiu” (HOBSBAWM, 2000,
p. 45). Afinal, a expansão do mercado externo não dependia do crescimento po-
pulacional, mas sim da conquista dos mercados e da destruição dos concorrentes.
Ou seja, apesar do mercado interno ter trazido a segurança necessária para o
crescimento econômico, foi o dinâmico mercado externo que forneceu a faísca
que acendeu o estopim da Revolução Industrial Inglesa.
Outro aspecto fundamental, diretamente ligado ao item anterior, é o que de-
nominaremos como uma política orientada para o lucro. De acordo com a
historiografia, a Inglaterra possuía, desde a Revolução Gloriosa em 1688/1689,
um governo liderado pela burguesia, que realizava uma política orientada para
o lucro. Desta forma, diferente de outras localidades, o governo britânico forne-
cia um forte apoio à indústria inglesa ao fornecer um monopólio comercial nas
mais diversas regiões do mundo, pelo uso da sua força militar marítima, que se
utilizava da força para beneficiar as manufaturas e as indústrias. Como aponta
David Landes (2005, p. 54):

20
UNICESUMAR


O país tinha uma sólida tradição marítima e, ao contrário da maio-
ria de seus rivais no continente, não desviou suas energias para a
manutenção de exércitos dispendiosos e para a expansão territorial.
Em vez disso, concentrou-se em garantir privilégios comerciais e
um império colonial, à custa, em grande parte, de seus principais
rivais continentais, a França e os Países Baixos. Essa política, menos
dispendiosa do que no território europeu, a longo prazo foi mais
vantajosa.

O governo inglês estava disposto, quando não motivado, a utilizar de todo seu
poder para subordinar os aspectos políticos do país para conseguir vantagens
comerciais. Como exemplo desses elementos, podemos citar a Guerra do Ópio
na China e a Revolta dos Cipaios na Índia, eventos que nos aprofundaremos
na Unidade 2. Outro fator importante é que, além de conseguir o monopólio
comercial ao redor do mundo, o próprio Estado britânico foi um importante
cliente de produtos, como ferro, e que consequentemente colaborou para eclosão
e desenvolvimento da Revolução Industrial (HOBSBAWM, 2000).

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Prometeu Desacorrentado. Transformação Tecnológica e De-


senvolvimento Industrial na Europa Ocidental, de 1750 até os dias
de hoje
Autor: David S. Landes
Editora: Editora Elsevier
Sinopse: David Landes é um dos principais historiadores do século XX. Em
sua obra Prometeu Desacorrentado, o autor realiza uma análise econômi-
ca desde 1750 até o momento de sua escrita. Seu objetivo é compreender
o nascimento e o desenvolvimento da economia capitalista. Diferente de
outros historiadores, Landes é um defensor da modernização gerada pela
Revolução Industrial. De acordo com o autor, esse processo histórico foi
responsável, por exemplo, pela progressiva melhoria no consumo e, con-
sequentemente, na vida das pessoas, tendo como prova o aumento demo-
gráfico dos países industrializados. Uma visão diferente que vale a pena ser
conhecida por qualquer estudante de história.

21
UNIDADE 1

Acerca das causas de a revolução industrial ser britânica, em um trabalho mais


recente, 2009, o professor Robert C. Allen, em sua obra The British Industrial Re-
volution in Global Perspective, parte de uma explicação global. De acordo com
o historiador, as invenções britânicas que deram origem à revolução foram uma
resposta ao ambiente econômico único da Grã-Bretanha que não poderia ter se
desenvolvido em nenhum outro lugar. Para Allen (2009), o sucesso econômico glo-
bal da Inglaterra lhe proporcionou, em seu país, a combinação de dois importantes
fatores: uma cara mão de obra e energia barata (ALLEN, 2009, p. 137).
Neste momento, caro(a) estudante, você, assim como o nosso viajante Dan-
te, deve estar se perguntando: por que mão de obra cara colabora na revolução
industrial? Não devia ser ao contrário?
Robert Allen explica que o fato de a energia ser barata e a mão de obra cara fez
com que houvesse demanda por novas invenções, incentivando os empresários bri-
tânicos a buscarem tecnologias que pudessem substituir o capital e a energia de um
trabalhador, pelo trabalho da máquina alimentada pela energia do carvão mineral,
abundante neste país (ALLEN, 2009). Um exemplo utilizado pelo autor é a compara-
ção com a China do mesmo período. Ao contrário da Inglaterra, este país possuía uma
mão de obra extremamente barata e a energia era muito cara, logo, por que haveriam
de investir em desenvolvimento tecnológico capaz de substituir os trabalhadores?
Para melhor compreender isso, é preciso que você tenha em mente que para a
grande mudança no sistema produtivo é necessário que existam pessoas motiva-
das a financiar essas transformações. E isso só ocorre se existe a oportunidade de
lucro. Foi a busca pelo lucro privado que levou às inovações tecnológicas. Como
explica David Landes (2005), as transformações tecnológicas não ocorrem de
forma automática, pois ao substituir os métodos existentes gera um prejuízo em
relação ao capital investido anteriormente. Por isso, para os aperfeiçoamentos tec-
nológicos é preciso a combinação de dois fatores que possibilitem essa mudança:


(1) uma oportunidade de aperfeiçoamento em razão da inadequa-
ção das técnicas vigentes, ou uma necessidade de aprimoramento
criada por aumentos autônomos dos custos dos fatores; e (2) uma
superioridade de tal ordem que os novos métodos fossem compen-
satórios para cobrir os custos das mudanças (LANDES, 2005, p. 44).

22
UNICESUMAR

Economicamente falando, podemos, agora, elencar alguns motivos secundários


que apesar de não serem decisivos foram importantes para o processo. Primei-
ramente, o transporte. Na ocasião da “explosão” desse grande evento histórico,
podemos afirmar que a Grã-Bretanha possuía um sistema de transporte mais
eficiente do que outros países, pois desde o começo do século XVIII, os britânicos
aperfeiçoaram a utilização de estradas, canais e rios. A nível de comparação, a uti-
lização dos canais poderia reduzir o custo da produção em até 80%. Sem falar que
qualquer região do país está a menos de 112 km de distância do oceano (HOBS-
BAWM, 2000).

Figura 4 - Canal na Grã-Bretanha

Descrição da Imagem: imagem é uma fotografia de um canal na Grã-Bretanha com alguns barcos. Na
esquerda da foto, tem uma grama que faz uma curva para a esquerda acompanhando o canal de água
à direita. Mais à esquerda da grama há um caminho para pedestres de terra clara, onde há uma pessoa
de pé no fundo da imagem e à esquerda do caminho há uma mata com árvores. Na direita da grama, há
alguns barcos, os da frente nas cores azul, ao fundo na cor verde, estacionados ao longo do canal, com
cordas amarradas em pontos fixos na grama à esquerda. Na direita do canal, há uma vegetação com
grama e alguns arbustos.

23
UNIDADE 1

Outros fatores podem ser indicados como causadores da revolução industrial na


Inglaterra, como exemplos podemos citar: a abundância de carvão mineral, prin-
cipal fonte de energia; a geografia que possibilita um fácil transporte das matérias-
-primas e produtos; o clima; e o fácil acesso ao mar. Contudo, apesar de terem sua
importância, não devem ser motivos que explicam a origem da revolução, tendo
em vista que outros países possuíam essas mesmas características, ou até melhor.
Outra questão a ser debatida é a ideia de que a maquinofatura começou na
Inglaterra devido ao seu grande desenvolvimento científico acima do de outros
países. De acordo com Eric Hobsbawm, a França era um país superior à Grã-Bre-
tanha no campo das ciências, enquanto a educação britânica em comparação
com a da região da atual Alemanha era muito inferior (HOBSBAWM, 2016). Por
conseguinte, o que explica o desenvolvimento tecnológico pioneiro nesta região?
Além do acúmulo de capital e as diversas causas econômicas já apresentadas nesta
unidade, é preciso compreender aspectos mais abstratos.
As primeiras máquinas desenvolvidas eram “engenhocas” bastantes simples
e rudimentares que poderiam ser construídas a um baixo custo, sendo que os
seus problemas tecnológicos eram simples. Dessa forma, o que proporcionou
aos ingleses o pioneirismo nesse desenvolvimento está ligado à falta de controle
corporativo da produção e do aprendizado. Em regiões como Lancashire, o co-
nhecimento teórico dos trabalhadores era impressionante. Esse desenvolvimento
intelectual pode ser vinculado às facilidades educacionais existentes em diversas
regiões da Grã-Bretanha, como Manchester, devido a dissidentes acadêmicos ou
mesmo sociedades cultas e palestras locais (LANDES, 2005). Ou seja, podemos
relacionar o pioneiro desenvolvimento tecnológico da Inglaterra à liberdade de
pensamento e de troca de informações. Enquanto a França mantinha um rígido
controle das publicações científicas e das publicações dela, a Inglaterra possuía
uma distribuição de conhecimentos de forma ampla e livre nesses clubes e pa-
lestras, onde pessoas de diferentes áreas e contextos compartilhavam e refletiam
ideias, fazendo com que as informações chegassem a um maior número de pes-
soas, de uma forma rápida e eficiente.
Em contribuição a essa tese, Robert Allen, apresenta a ideia de Industrial
Enlightenment ou Iluminismo Industrial. De acordo com o historiador, teorica-
mente o Iluminismo Industrial possui quatro importantes elementos. O primeiro

24
UNICESUMAR

está relacionado aos inventores e suas invenções; o segundo está relacionado ao


network no qual os inventores estavam inseridos e que criavam pontes entre os
intelectuais e as pessoas que de fato colocavam em prática as ideias, fosse de forma
formal ou informal, desta forma, mais pessoas estavam envolvidas no processo;
o terceiro é a aplicação do método científico aos estudos e pela contínua expe-
rimentação; por fim, o quarto aspecto seria a sua dimensão de classe. Contudo,
apesar de alguns artífices terem um contato direto com o Iluminismo Industrial,
nem todos os inventores tiveram um contato significativo com esse movimento
científico, dependendo em qual indústrias estavam vinculados (ALLEN, 2009).
Ao longo das últimas páginas, foi apresentado a você, caro(a) estudante, as prin-
cipais causas da Revolução Industrial ter acontecido na Grã-Bretanha do século
XVIII. Agora, iniciamos a nossa jornada para compreender como esse importante
evento histórico desenvolveu-se. Um primeiro aspecto que devemos levar em con-
sideração é que os empresários e investidores só se lançariam à inovação das indús-
trias se ela fornecesse recompensas enormes e rápidas. Nesse contexto, existia uma
área de produção e comércio perfeita, para um rápido e lucrativo desenvolvimento
das indústrias, a saber a área têxtil e o uso do algodão. Foi essa matéria-prima e
a confecção de tecidos a área responsável por fornecer o impulso necessário para
inovação, tendo em vista que muito lucro era obtido em seu mercado.
Foi na cidade de Manchester, entre 1760 a 1830, que foi possível obser-
var o grande desenvolvimento das centenas de fábricas. De acordo com Eric
Hobsbawm (2000, p. 53):


A Revolução industrial britânica não foi apenas algodão, ou Lan-
cashire, ou mesmo tecidos, e o algodão perdeu sua supremacia pas-
sadas umas duas gerações. No entanto, o algodão deu o tom da
mudança industrial e foi o esteio das primeiras regiões que não
teriam existido se não fosse a industrialização e que expressaram
uma nova forma de sociedade, o capitalismo industrial, baseada
numa nova forma de produção, as fábricas.

O algodão tornou-se a centelha desse processo, pois era um subproduto do gran-


de comércio internacional britânico que obrigava as suas regiões de domínio a
produzirem o algodão, proibiam as colônias de produzirem os seus tecidos, pois
o algodão deveria ser levado à Inglaterra, confeccionado em tecido e vendido de

25
UNIDADE 1

volta para as colônias, criando um negócio extremamente lucrativo. Até 1770,


mais de noventa por cento das exportações de algodão eram direcionadas para
os mercados coloniais. Um mercado favorecido pelo monopólio do comércio de
algodão imposto pela marinha britânica (HOBSBAWM, 2000, p. 54-55).
As próprias máquinas, as pioneiras, surgiram das necessidades geradas pelo
algodão. O desequilíbrio entre a eficiência da fiação e da tecelagem levou à busca
de inovações na área. Pois, os teares, anteriores à Revolução, eram mais eficientes
do que as fiadeiras, ocasionando a falta de tecidos para a produção. Principalmente
com o surgimento da “lançadeira volante” – flying shuttle patenteada em 1733 por
John Kay, permitiu a criação de tecidos mais largos, assim como a mecanização da
produção. Em resposta a isso, em 1764, James Hargreaves inventou a spinning Jenny:
uma máquina de fiação múltipla que permitia ao fiador produzir vários carretéis de
uma só vez. Em 1768, Richard Arkwright desenvolveu a water frame, uma máquina
de fiar hidráulica capaz de aumentar ainda mais a produção de fios, assim como a
qualidade do material. Por fim, a spinning mule revolucionou a produção. Inventa-
da em 1779 por Samuel Crompton, foi baseada nas máquinas de James Hargreaves
e Richard Arkwright, era capaz de produzir fios finos e resistentes.

Figura 5 - Na foto tirada em 1909 por Lewis Hine, temos um garoto chamado Raoul Julien, operando
uma spinning mule em Chace Cotton Mill, Burlington, Vermont

26
UNICESUMAR

Para finalizar essa questão de máquinas revolucionárias, não podemos deixar de


mencionar a criação do motor a vapor. Se voltarmos historicamente, percebere-
mos que se trata de algo antigo, sendo que Heron de Alexandria produziu uma
máquina a vapor no século I, a aeolipile. Contudo, a nós interessa as invenções
presentes na revolução industrial. Em 1699, Thomas Savery desenvolveu uma
máquina a vapor destinada a bombear a água de dentro das minas de carvão. Em
1712, o amplo conhecedor da ciência, Thomas Newcomen, inventou a sua máqui-
na a vapor, também para bombear água, que pode ser considerada um elemento
inaugurador da “revolução a vapor”. Contudo, o passo principal aconteceu por
volta de 1775, quando James Watt aprimorou a invenção de Newcomen e criou
uma máquina a vapor mais eficiente, sendo considerada uma das invenções mais
importantes da revolução industrial (ROSEN, 2010).
Foi a partir de sua invenção que os motores a vapor se tornaram mais popu-
lares e ganharam o mundo, principalmente quando foram capazes de adaptá-lo
e de criarem a locomotiva a vapor, invenção que revolucionou o transporte e a
comunicação. Contudo, Robert Allen (2009) nos alerta para o perigo de focarmos
apenas nas macro-inventions, é preciso termos em mente a existência de muitas
micro-inventions que foram responsáveis por todas as melhorias realizadas du-
rante o avanço das grandes invenções e que muitas vezes foram as responsáveis
por perceber as suas possibilidades.
Diante de todas essas causas, desenvolvimento e invenções da Revolução
Industrial, nosso viajante questiona o seu professor:
Dante: – Quais teriam sido as principais consequências dessa revolução?
Como isso impactou a sociedade?
Perceba, caro(a) estudante, trata-se de um importante questionamento,
levando em consideração que essa revolução foi responsável por modificar
os mais diversos aspectos da sociedade humana. Destinamos, agora, a nossa
análise a essas consequências.
Nesta unidade, temos o objetivo de compreender como as revoluções provo-
caram mudanças permanentes na História Contemporânea e consequentemente
na sociedade em que vivemos. Um primeiro aspecto extremamente importante
que surge como consequência da Revolução Industrial e que influencia até os
nossos dias foi a criação e desenvolvimento dos movimentos sociais e trabalhistas.

27
UNIDADE 1

As consequências e transformações geradas pela Revolução Industrial para


os trabalhadores foram fundamentais, pois não foi apenas uma mudança na sua
atividade produtiva, mas sim em todo o seu estilo de vida. Primeiro, houve uma
separação dos meios de produção, no qual o operário não detém o know how
(conhecimento), ele apenas é um operador de máquinas sem o verdadeiro conhe-
cimento da produção como os artesãos possuíam. Com seu trabalho vinculado
à máquina, e não a seu conhecimento, até o mesmo o ritmo de trabalho muda,
afinal deve seguir o tempo da indústria. Deve seguir os horários fixos das fábricas,
que se tornarão um novo tipo de prisão, e o relógio, um novo tipo de carcereiro
(LANDES, 2005).
Perceba que a nossa própria concepção e relação com o tempo foi alterada.
Antes da Revolução Industrial, apesar da existência dos relógios, as pessoas em
sua maioria seguiam o tempo da natureza relacionado ao dia e à noite, com as fá-
bricas, o tempo do relógio se torna o mais importante, pois agora se deve cumprir
os turnos. Essa é uma consequência que permanece até os dias de hoje, quantas
vezes você se sente escravo do tempo, ou melhor dizendo, do relógio?
Thompson em sua obra A Formação da Classe Operária Inglesa analisa com
profundidade o surgimento dos movimentos trabalhistas e, obviamente, da classe
operária. De acordo com o autor, as indústrias geraram uma nova sociedade: a
capitalista industrial, com novas ações e hábitos. No entanto, o historiador inglês
faz a ressalva de que o surgimento da classe operária não estava vinculado, de
forma automática e espontânea, à criação das indústrias, foi um processo muito
mais complexo. O núcleo do movimento trabalhista foi formado inicialmente por
trabalhadores de pequenas oficinas.: “[...] o verdadeiro núcleo de onde o movi-
mento trabalhista retirou as suas idéias, organização e liderança era constituído
por sapateiros, tecelões, seleiros e fabricantes de arreios, livreiros, impressores,
pedreiros, pequenos comerciantes [...]” (THOMPSON, 1987, p. 16). Ou seja, a
formação da classe trabalhadora começou com esses trabalhadores de fora das
indústrias, sendo que a participação dos operários nesse processo ocorreu de
forma mais tardia. A classe operária entre os anos de 1790 e 1830 se formou
tendo em vista o crescimento da sua consciência de classe e o crescimento da
sua organização política (THOMPSON, 1987).
Acerca da injustiça sofrida pelos trabalhadores, Thompson explica que estão
diretamente ligadas a mudança na forma como o capitalismo explora o trabalha-

28
UNICESUMAR

dor. Com a indústria, surgem “mestres” que diferentemente dos séculos anteriores
não possui qualquer autoridade ou obrigação baseada na tradição, assim como o
trabalhador é reduzido a uma condição de “instrumento”, a um rompimento na
economia familiar tradicional e à criação de uma economia monetária na qual va-
lores e costumes antigos são perdidos. De fato, as principais revoltas e movimentos
operários desse período não foram realizados, apenas, por falta de alimento, mas
sim de uma luta pela preservação de seus valores tradicionais (THOMPSON, 1987).
Essas reivindicações somadas à pobreza e miséria levaram à formação dos
importantes movimentos operários conhecidos como o Ludismo, “destruidores
de máquinas”, no início do século XIX e o, talvez, mais famoso o Cartismo: “[...]
a forma condensada da oposição à burguesia” (ENGELS, 1986, p. 256). Ocorrido
entre as décadas de 1830 e 1840, ficou assim conhecido pela carta escrita por
William Lovett, em 1838, que reivindicava mudanças políticas que pudessem
beneficiar os trabalhadores. Essa carta possuía seis pontos principais: “1) Sufrágio
Universal para todos os homens adultos; 2) Renovação anual do parlamento; 3)
Fixação de uma remuneração parlamentar; 4) Eleições secretas; 5) Representa-
ções equitativas; 6) Abolição da lei que permitia apenas aos proprietários de terra
serem eleitos” (ENGELS, 1986, p. 257). Apesar do movimento cartista a princípio
não ter as suas reivindicações atendidas, o movimento foi muito importante para
os movimentos trabalhistas, pois indicava a nova sociedade que estava por vir.
Por fim, gostaríamos de apresentar uma consequência econômica da Revo-
lução industrial, de acordo com David Landes, os aperfeiçoamentos da indústria:


Geraram um aumento sem precedentes na produtividade e, por
conseguinte, uma elevação substancial da renda per capita. Além
disso, esse crescimento foi auto sustentado, ao passo que em épocas
anteriores, a melhoria das condições de vida, ou seja, de sobrevi-
vência, sempre foram acompanhadas por um crescimento demo-
gráfico que, por fim, consumiu os lucros obtidos. Nesse momento,
pela primeira vez na história, tanto economia como saber evoluíram
com rapidez suficiente para produzir um fluxo contínuo de investi-
mentos em inovações tecnológicas; um fluxo que levou para além
dos limites visíveis o marco das estimativas positivas de Malthus.
Desse modo, a Revolução Industrial inaugurou uma era nova
e promissora. Ainda transformou o equilíbrio de poder dentro das

29
UNIDADE 1

nações, entre elas e as demais civilizações, revolucionou a ordem


social e modificou a maneira de pensar do homem, assim como sua
ação prática (LANDES, 2005, p. 43).

A ideia de um crescimento autossustentável foi reforçada pelo economista, ga-


nhador do prêmio Nobel, Robert E. Lucas em sua obra Lectures on economic
growth. Nela o autor explica que foram apenas nos últimos duzentos anos que
a produção cresceu mais do que a população, desta forma: “Pela primeira vez na
história, os padrões de vida das massas de pessoas comuns começaram a crescer
sustentadamente” (LUCAS, 2002, p. 109).
Desta forma, é necessário que nós enquanto historiadores possamos perceber
que um evento da magnitude da Revolução Industrial trouxe consequências di-
versas, positivas ou negativas, foram mudanças permanentes e que influenciam
nossa forma de agir, viver e pensar até os dias atuais.
- Professor de História: – Caro Dante, espero que tenha percebido como a
revolução industrial modificou drasticamente a forma como a sociedade humana
se comporta e vive: a substituição do trabalho pela máquina, a criação de movi-
mentos e ideologias operárias, o aumento do consumo, da renda per capita, da
densidade demográfica e até mesmo a forma como pensamos e nos comportamos
em relação ao tempo! Perceba que existem aspectos positivos e negativos não
apenas no aspecto econômico, mas também no social.
Reflexivo, Dante responde ao seu professor:

30
UNICESUMAR

Para responder
Consigo a essa questão é preciso nos
compreender com muito transportar para outro local.
mais clareza esses aspectos! Vamos nessa?
Muito Obrigado.

Contudo uma
coisa me perturba, como o
século XVIII foi definitivo para a
formação do estado de direito
individual e da igualdade
entre as pessoas?

Figura 6 - Dante e seu professor na Bastilha do século XVIII


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: na imagem encontra-se, no canto inferior esquerdo, o busto de Dante conver-
sando com seu professor. No canto inferior direito, encontra-se o professor de História respondendo à
pergunta do Dante. Ele usa óculos, gravata e um colete por cima da camisa. Tem a mão levantada em um
sinal de explicação. Ao fundo da imagem, observa-se a fortaleza da Bastilha, um castelo alto que está sendo
ocupado por várias pessoas. Na frente do castelo, dezenas de pessoas, com armas em mãos, invadem
o castelo pela porta da frente. Uma pessoa encontra-se morta no chão. No topo desta fortaleza, alguns
soldados atiram contra a multidão que está no chão. Em baixo no castelo, é possível identificarmos fumaça
advinda do conflito e dos tiros disparados. À esquerda do castelo, encontra-se o telhado de uma casa.

Nesse momento, os nossos viajantes do tempo são levados para o seu segundo
destino, ainda no século XVIII, dessa vez eles são transportados para a França, um
dos países mais desenvolvidos desse contexto e que foi lar de um dos principais
eventos políticos de toda história humana: a Revolução Francesa. A partir de
agora, juntamente a Dante e seu professor de História, faremos uma análise his-
toriográfica desse grande acontecimento histórico com o objetivo de responder
algumas perguntas principais:

31
UNIDADE 1

• O que foi a Revolução Francesa?


• Quando começou e quando terminou?
• Quais as causas da revolução francesa?
• Como essa revolução se desenvolveu?
• Quais foram as consequências para a sociedade da época e que pos-
suem reminiscência até os dias atuais?

Respondendo a nossa primeira pergunta, o historiador inglês Eric Hobsbawm ex-


plica que: “Se a economia do mundo do século XIX foi formada principalmente
sob a influência da revolução industrial britânica, sua política e ideologia foram
formadas fundamentalmente pela Revolução Francesa” (HOBSBAWM, 2016, p. 97).
Diferentemente da Revolução Industrial, existe um consenso acerca da pe-
riodização da revolução francesa, pelo menos acerca de seu início. O evento ini-
ciou-se em 1789 e encerrou-se por volta de 1799. Entretanto, é muito importante,
caro(a) estudante, que você entenda que apesar do movimento ter sua limitação
temporal em 1799, as suas consequências e influências por todo o mundo foram
muito mais profundas e transformadoras. Para você ter uma dimensão desse
impacto, esse evento francês, além de influenciar a Europa e a América, foi um
dos únicos eventos do ocidente cristão que de fato obteve um “efeito real sobre
o mundo islâmico” (HOBSBAWM, 2016, p. 100).

PENSANDO JUNTOS

“Diferentemente da Revolta, a revolução muda o curso da história em um país.”


(Michel Vovelle)

32
UNICESUMAR

A revolução francesa aconteceu em meio a muitas outras revoluções, que ocor-


riam em locais como os Países Baixos, a Bélgica e, principalmente, a Revolução
Americana (1776-1783) (VOVELLE, 2007). Contudo, as suas características, par-
ticulares, fizeram com que fosse considerada pela historiografia como a que teve o
maior impacto. Entre essas características, podemos indicar como o movimento mais
populoso, tendo em vista que 1 em cada 5 europeus eram franceses; foi uma revo-
lução social de massa, extremamente radical. Para se ter uma dimensão desse
radicalismo, Tom Paine, considerado um extremista na Grã-Bretanha e na América,
era considerado alguém entre os mais moderados dos girondinos na França; por fim,
mas não menos importante, a revolução francesa se destacou por suas características
ecumênicas, suas ideias foram disseminadas por todo o mundo, e forneceu um mo-
delo para as revoluções que aconteceram nos anos seguintes (HOBSBAWM, 2016).
A partir da definição, periodização e exposição de suas principais caracterís-
ticas, podemos, agora, analisar as causas desse grande evento histórico. Um pri-
meiro elemento que você deve saber, caro(a) estudante, é que a revolução francesa
foi um movimento que se posicionou contra o Antigo Regime francês e que foi
capaz de derrubá-lo. Entretanto, o que significa Antigo Regime? De acordo com
o historiador, Michel Vovelle, esse conceito surgiu durante a revolução e que de
forma simplificada ele se refere a três temas principais:


‘feudalidade’, como se dizia então, ou ‘feudalismo’, que remete a uma
codificação de inspiração marxista para caracterizar o modo de
produção; ‘sociedade de ordens’, que define uma estrutura global;
e ‘absolutismo’, que caracteriza um sistema político e um modo de
governo. Sem cair na armadilha das palavras, essas são as três refe-
rências que podem nos guiar para compreender o que o povo queria
derrubar (VOVELLE, 2012, p. 5).

Por conseguinte, podemos afirmar que o movimento revolucionário francês


rompeu com as antigas leis e tradições feudais que garantiam os privilégios dos
chamados Primeiro e Segundo Estado. Além disso, queriam derrubar o sistema
político da época caracterizado pelo absolutismo: uma forma de governo cen-
tralizado completamente na figura do rei que possuía seus poderes por direito
divino. A França, nos séculos anteriores à revolução, foi o modelo absolutista,
possuindo reis como Luís XIV que afirmavam serem o próprio Estado.

33
UNIDADE 1

REI

PRIMEIRO Alto clero e baixo clero


ESTADO 120 mil pessoas
Privilégios
tributários
e jurídicos
Nobreza de sangue
e nobreza de espada
SEGUNDO ESTADO 350 mil pessoas

Burguesia e povo
(saint-culottes e camponeses)
TERCEIRO ESTADO Mais de 24 milhões de pessoas

Figura 7 - Estrutura social francesa durante o Antigo Regime


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: a imagem é um desenho de uma pirâmide que ilustra a divisão social da França
por Estados durante o Antigo Regime. Na base e em maior quantidade, estava o Terceiro Estado, forma-
do por camponeses, citadinos e burgueses que sustentavam economicamente a França. Há uma seta
vermelha apontando para um texto à direita: Burguesia e povo (saint-culottes e camponeses), mais de
vinte e quatro milhões de pessoas O Segundo Estado, ao centro da pirâmide, era formado pela nobreza e
isento de qualquer obrigação. Há uma seta azul apontando para um texto à direita: Nobreza de sangue e
nobreza de espada, trezentos e cinquenta mil pessoas. O Primeiro Estado era formado pelo clero também
isento das obrigações fiscais. Há uma seta amarela à direita: Alto Clero e Baixo Clero com cento e vinte
mil pessoas. No topo da pirâmide, ficava o rei absoluto.

Essa estrutura social, muito parecida com a feudal, permaneceu até a eclosão
da revolução. Essa divisão social carregava os privilégios e, consequentemente,
as desigualdades do sistema feudal. Isso é algo que deve ficar claro, não existia
igualdade na França pré-revolucionária. O alto clero era formado cem por cento
pela nobreza e detinha aproximadamente dez por cento das terras. Os aristocra-
tas, o Segundo Estado, eram proprietários de aproximadamente 25% a 30% das
terras e possuíam privilégios fiscais, como, por exemplo, a isenção no pagamento
de impostos. A aristocracia era um resquício do feudalismo da época medieval,

34
UNICESUMAR

quando os senhores de terras comandavam os servos. Contudo, na França do


século XVIII, praticamente não existiam mais servos na França. Os camponeses
eram homens livres e detentores de suas próprias propriedades, possuindo quase
metade do território francês, no entanto, com a manutenção desse sistema feudal,
ficaram apenas as obrigações para os camponeses, como o pagamento de impos-
tos e taxas para a nobreza, reminiscências do direito feudal (VOVELLE, 2007).
Além de um pagamento de impostos em espécie (o censo), eram obrigados a
entregar parte da sua produção (jugada), sem falar em diversas outras taxas como
a de transmissão de propriedade, casamento, herança etc. (VOVELLE, 2012).

Acesse o vídeo e veja a leitura e explicação do texto do


Abade de Sieyes sobre o Terceiro Estado.

Uma outra causa importante está relacionada às ideias. O século XVIII é conhe-
cido como o século das Luzes. É nesse contexto que se propagou um movimento
conhecido como Iluminismo, do qual importantes filósofos e pensadores fran-
ceses fizeram parte, por exemplo: Montesquieu, Voltaire, Rousseau e Diderot.
Esse movimento, de uma forma geral, se posicionou contra o absolutismo, a in-
tolerância religiosa e o sistema “feudal” que a sociedade ainda vivia, defendendo
principalmente a liberdade e uma política em que os indivíduos tivessem parti-
cipação do Estado e fossem protegidos por um documento jurídico, como uma
constituição (VOVELLE, 2007). Sendo assim, suas principais ideias são liberdade,
igualdade e governo representativo, que no contexto de 1789 encontraram um
contexto excepcional para se impor (VOVELLE, 2012).
Esse tipo de ideologia propagou-se principalmente no ambiente urbano, onde
a revolução, assim como no campo, se propagou de uma forma rápida e potente.
De acordo com o Eric Hobsbawm, a revolução:


[...] não foi feita ou liderada por um partido ou movimento orga-
nizado, no sentido moderno, nem por homens que estivessem ten-

35
UNIDADE 1

tando levar a cabo um programa estruturado. Nem mesmo chegou


a ter ‘líderes’ do tipo que as revoluções do século XX nos tem apre-
sentado, até o surgimento da figura pós-revolucionária de Napoleão.
Não obstante, um surpreendente consenso de ideias gerais entre um
grupo social bastante coerente deu ao movimento revolucionário
uma unidade efetiva. O grupo era a ‘burguesia’; suas ideias eram
as do liberalismo clássico, conforme formuladas pelos ‘filósofos’ e
‘economistas’ e difundidas pela maçonaria e associações informais
(HOBSBAWM, 2016, p. 105-106)

Sendo assim, a burguesia seria o grupo detentor das ideias que impulsionaram
a revolução. Contudo, um debate historiográfico se apresenta em relação a isso.
Para Michel Vovelle (2012), trata-se de uma discussão historiográfica, para alguns
historiadores a burguesia na concepção que possuímos hoje não existia. Seria
ilusão acreditar em um bloco homogêneo e monolítico. Temos que levar em
consideração que, na França pré-revolucionária, apenas 15% da população era
urbana, sendo que muitos dos “burgueses” continuavam obtendo a maior parte
de suas rendas de rendas fundiárias e não de empreendimentos urbanos como
podemos ser levados a acreditar. A burguesia no sentido moderno se concentrava
em atividades urbanas ligadas, principalmente, ao comércio marítimo. Por fim,
existiam, ainda, os profissionais liberais (médicos, tabeliães e advogados) que
apesar de viverem do sistema existente possuíam uma ideologia independente
do Antigo regime e colaboraram a travar a revolução (VOVELLE, 2012).

Caro(a) estudante, como você já sabe, existem diversas


formas de apreender! Para ajudar na compreensão desta
unidade, criamos um Podcast para você poder ouvir em
qualquer lugar e apreender mais, de forma auditiva, sobre:
como a Revolução Industrial e a Revolução Francesa colab-
oraram na transformação da civilização ocidental no século
XVIII e deu origem à sociedade em que vivemos hoje. O
podcast lhe ajudará a compreender as principais problema-
tizações desta unidade. Vamos nessa?

Uma outra causa importante para a eclosão da revolução francesa foi a péssima
situação econômica que o país vivia. Com um sistema fiscal, administrativo
e tributário atrasado a economia do país sofria muito tanto por causa dos altos

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UNICESUMAR

gastos da monarquia absolutista; os gastos com a guerra de independência


americana – na qual o rei da França interveio para ajudar os Estados Unidos da
América, com a intenção de derrotar o seu principal rival a Grã-Bretanha – e o
maior problema de todos, a grande dívida existente que consumia aproximada-
mente metade da renda do país (HOBSBAWM, 2016).
Ministro do rei entre os anos de 1774 e 1776, o economista fisiocrata Anne
Robert Jacques Turgot tentou fazer uma reforma econômica: “para equalizar a
carga tributária e reduzir os privilégios da nobreza, e que ele havia sido forçado
a deixar o cargo pelo Parlamento de Paris” (PALMER, 2014, p. 201-202). Perceba,
caro(a) estudante, o poder do primeiro e segundo estado era tão poderoso que
conseguia frear as reformas necessárias para a melhoria da economia francesa.
Ironicamente, um fato que levaria à sua própria derrocada, pois com o agrava-
mento progressivo da situação econômica dos camponeses e citadinos franceses,
assim como a escassez de alimentos, principalmente do trigo, foram os principais
gatilhos para o início do movimento revolucionário que acabaria com todos esses
privilégios, porém, de uma forma muito mais abrupta.
De fato, a estagnação da agricultura e a crise alimentícia podem ser apontadas
como o estopim do movimento. Em 1788, ocorreu uma péssima colheita, que, con-
sequentemente, levou a um aumento feroz do preço dos alimentos. Como resultado,
temos os pequenos camponeses consumindo o trigo que seria destinado ao próximo
plantio e os pobres da cidade tinham o seu custo de vida duplicado, tendo em vista
que o dinheiro que ganhavam com seus trabalhos era suficiente apenas para com-
prar pão e pagar as pesadas taxas governamentais, agora com a subida de preço nem
mesmo para consumir pão. Como resultado, em 1789 ocorreram grandes convulsões
sociais tanto no campo quanto na cidade (VOVELLE, 2012; HOBSBAWM, 2016).
No entanto, antes mesmo de eclodir a revolução popular, é válido analisar-
mos um elemento que nem sempre é apresentado para os estudantes desse tema.
Anterior à revolta popular de 1789, existia um conflito entre parte da nobreza
– segundo estado – e a monarquia absolutista. De acordo com Michel Vovelle,
a disputa entre a nobreza e os senhores de terras colaborou para a instauração
de um clima pré-revolucionário, existindo de fato uma tensão entre a nobreza e
a monarquia absolutista. Para alguns historiadores, existia uma revolução nobi-
liárquica acontecendo entre os anos de 1787 e 1789, uma espécie de movimento
pré-revolucionário (VOVELLE, 2012).

37
UNIDADE 1

OLHAR CONCEITUAL

1789
Abertura dos Estados-gerais em 5 de Maio
Formação da Assembleia Nacional Constituinte pelo
Terceiro Estado Tomada da Bastilha pela
população parisiense em 14 de Julho "O Grande
Medo" se espalha pela França

1791
Fuga do rei Luís XVI Promulgação da
Constituição francesa

1792
Luís XVI preso sob a acusação de ajudar o
movimento contrarrevolucionário Instauração
da "Convenção" a Primeira República da França
Promulgação de uma nova constituição.

1793
Execução de Luís XVI Tomada do poder da
Convenção pelos Jacobinos

1794
Thermidor e queda de Robespierre do poder

1795
Promulgação de uma nova constituição
Tomada do poder pelo Diretório

1799
Golpe 18 Brumário e fim do Diretório
Constituição do Ano VIII e criação do Consulado
sob o poder de Napoleão Bonaparte que duraria
até 1804 quando se tornaria imperador da França

Quadro 1 - Principais Eventos da Revolução Francesa


Fonte: Wikimedia (1789a; 1792; 1794), Bouchot (1799, on-line) Duplessis-Bertaux (1791; 1795, on-line)
Masquelier (1792, on-line) e Sieveking (1793, on-line).

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UNICESUMAR

Nessa crise, entre aristocracia e monarquia, os nobres viram uma “brecha” para
tentar recapturar o estado que estava em mãos absolutistas há vários séculos. Diante
desses diversos elementos, que faziam da França em 1789 um verdadeiro barril de
pólvora, o monarca Luís, XVI, que por sinal não possuía as habilidades necessá-
rias para lidar com tal situação, forneceu a brecha que a nobreza tanto esperava e
convocou a Assembléia dos estados Gerais, que não era convocada desde 1614.
Contudo, essa tentativa da aristocracia de retomar o Estado foi frustrada por duas
questões principais. Primeiramente, não levou em consideração a péssima situação
socioeconômica que a França vivia e, segundo, não deu a devida importância ao
Terceiro Estado que também participaria dessa assembleia (HOBSBAWM, 2016).
De acordo com Robert Palmer (2014, p. 350),


[...] se o povo francês — ou muitos deles — estava em um estado
de espírito radical no início de 1789, eles foram levados a ele por
seus próprios superiores até então aceitos. O próprio rei, e Calon-
ne, haviam lançado as palavras ‘abuso’, ‘privilégio’, ‘aristocracia’. Os
parlamentos lançaram de volta o epíteto de ‘despotismo’. Cada um
havia minado a confiança na boa-fé do outro. Ambos criaram
grandes expectativas. O rei havia falado da necessidade de equaliza-
ção de impostos e de assembleias eleitas com base na representação
igualitária dos proprietários de terras. Os parlamentares haviam
divulgado a necessidade de uma constituição, da participação pú-
blica no governo e da segurança dos direitos individuais. Ambos
tinham dado a impressão de que algo estava radicalmente errado
com o país, que existiam grandes males, e que estes deviam e logo
poderiam ser corrigidos.

Por conseguinte, essa disputa entre aristocracia e monarquia fizeram com que o
próprio povo francês aumentasse as suas reivindicações e radicalismo, tendo em

39
UNIDADE 1

vista que as instituições de poder daquele país estavam atacando uma à outra,
abrindo espaço para a desconfiança e ação da grande massa popular.
Ao somarmos tudo isso, no verão de 1789, pode-se afirmar que ocorreu não
uma, mas, sim, três revoluções: “uma revolução institucional ou parlamentar na
cúpula; uma revolução urbana ou municipal; e uma revolução camponesa” (VO-
VELLE, 2012, p. 20). Pobres ou ricos, os camponeses têm uma conta a acertar com o
sistema feudal – ou aquilo que sobrou dele – e a revolução camponesa irá convergir,
ao menos durante certo tempo, com a dos burgueses da cidade (VOVELLE, 2007).
Reunir a Assembléia dos Estados Gerais era uma forma dos monarcas
absolutistas consultarem os representantes dos três estados. A criação dessa as-
sembleia possibilitou o povo francês de se manifestar. Várias dolências retratando
a situação do povo francês foram levadas até a monarquia por seus representantes
do Terceiro Estado. Este, aproveitando-se da situação, conseguiu, junto ao rei e a
seu ministro, o direito de ter o mesmo número de deputados que os dois outros
estados juntos. A ideia era que os votos fossem realizados individualmente por
cada deputado. Contudo, diante de tamanha representatividade do terceiro Es-
tado, o Primeiro e Segundo Estado juntamente à monarquia recusaram o pedido
de voto por deputado e deliberaram que o voto ocorresse por estado, dando ao
povo apenas 1 ⁄ 3 dos votos e a impossibilidade de vencer. Diante disso, repre-
sentando os trabalhadores pobres das cidades, o campesinato, assim como a
minoria militante instruída das cidades, o Terceiro Estado, após seis semanas, se
recusou a participar desse modelo de Assembléia Geral e deu início à Revolução
ao implementar uma Assembléia Nacional Constituinte com o direito de criar
uma constituição (VOVELLE, 2007; HOBSBAWM, 2016).
Caro(a) estudante, é importante você perceber que ao declarar uma Assembleia
Nacional Constituinte o Terceiro Estado estava declarando o fim do absolutismo,
afinal, o próprio rei estaria submisso a essa constituição. Inicialmente, o rei pareceu
concordar com tal decisão e inclusive mandou os outros dois Estados a se juntarem
a essa assembleia. No entanto, nesse meio tempo, ele reuniu tropas para realizar uma
contrarrevolução e derrotar a revolução. Contudo, o povo estava se mobilizando para
combater o rei e defender a Assembleia Constituinte. Quando o Luís XVI demitiu o
seu ministro Necker no dia 11 de julho, a revolução oficialmente estourou, pois no
dia 14 de julho de 1789 ocorreu um dos principais acontecimentos da Revolução
Francesa: os parisienses realizaram a tomada da Bastilha (VOVELLE, 2007).

40
UNICESUMAR

Figura 8 - Representação da Queda da Bastilha por Jean-Pierre Houël - Bibliothèque nationale de


France / Fonte: Wikimedia (1870, on-line).

Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura que representa a queda da Bastilha em 1789 pela po-
pulação parisiense. Na imagem, é possível observar a população em conflito com o exército e destruindo
a fortaleza ao atear fogo e derrubar seus muros. Na esquerda da imagem, podemos observar uma cons-
trução grande com muros altos e duas torres, uma mais à frente e outra mais ao fundo ao centro. Abaixo
à esquerda, há destroços de um pequeno muro com algumas pessoas com roupas da época com pedras
na mão. No centro da imagem e abaixo, há mais pessoas com baionetas nas mãos, há também alguns
homens com roupas militares azul da época. Na direita da imagem, há mais homens com baionetas,
barris de madeiras deitados e outros em pé. Na direita abaixo e acima da imagem, há muita fumaça cinza.

A queda da Bastilha representa a queda não apenas de uma fortaleza onde o povo
encontrou armas para combater a monarquia, trata-se da tomada de


[...] uma prisão estatal que simbolizava a autoridade real e onde
os revolucionários esperavam encontrar armas. Em tempos de re-
volução nada mais poderoso do que a queda de símbolos. A queda
da Bastilha, que fez do 14 de julho a festa nacional francesa, ratificou
a queda do despotismo e foi saudada em todo o mundo como o
princípio de libertação (HOBSBAWM, 2016, p. 109-110).

A partir desse evento, o rei teve que aceitar a nova situação iminente de proclama-
ção de uma monarquia constitucional, assim como teve que aceitar a nova insígnia

41
UNIDADE 1

tricolor, “um símbolo dos novos tempos” (VOVELLE, 2012, p. 23). Esse evento ob-
teve um forte impacto em outras regiões da França e, também, nos campos. Só por
terem o conhecimento da Queda da Bastilha, iniciaram-se revoltas camponesas. De
acordo com Robert Palmer (2014, p. 357), “em alguns lugares eles foram tomados
por um tempo pelo pânico chamado Grande Medo, acreditando que seus campos
e aldeias estavam prestes a ser assaltados por bandidos a soldo de aristocratas”.
Sendo assim, no fim de julho e início de agosto de 1789, os camponeses de di-
versas regiões como Marselha, Lyon e Rennes deram início a uma série de ataques,
saques e incêndios. Os camponeses também atacaram diversas regiões senhoriais,
fazendo com que muitos aristocratas fugissem de suas terras. Esse evento ficou co-
nhecido como “O Grande Medo” (La Grande Peur) e foi o responsável pela queda do
feudalismo rural francês (HOBSBAWM, 2016, p. 110). Nesse contexto, a Assembléia
Nacional aboliu os privilégios feudais, contudo, fez uma separação entre direitos
irrevogavelmente abolidos e aqueles que poderiam ser resgatados.
Além disso, entre 1789 e 1791, essa mesma As-
sembleia Nacional preparou uma constituição
que pudesse representar e reger a nação france-
sa. Antes mesmo da sua promulgação, em 26 de
agosto foi publicado os Direitos do Homem e
do Cidadão, que já antecipavam as principais ca-
racterísticas que seriam apresentadas na constitui-
ção, a saber: “a liberdade, igualdade, propriedade e
segurança” (VOVELLE, 2012, p. 25). Trata-se da:
“[...] primeira etapa de um gigantesco trabalho
de transformação e renovação da França que essa
Assembleia irá realizar” (VOVELLE, 2007, p. 41).
Figura 9 - Representação dos “Direitos do homem e do
cidadão” (1789) / Fonte: Le Barbier (1789, on-line) e Wikimedia (1789, on-line).

Descrição da Imagem: na imagem é uma pintura em que há os dezessete artigos que compõem o Di-
reito do homem e do cidadão, que está escrito em amarelo com um fundo preto. No topo da imagem à
esquerda, há uma mulher com o joelho esquerdo no chão, ela usa roupa vermelha e um manto azul, ela
está segurando correntes quebradas nas duas mãos. Na direita e no topo da imagem, encontra-se uma
mulher com asas, ela usa roupa branca e um manto rosa; ela segura um pequeno bastão dourado na sua
mão direita que aponta para cima e, no centro da imagem, para um sol em forma de triângulo com um
olho aberto no meio, do sol onde saem raios de luz amarelo. Em volta do sol, há nuvens em um céu azul.

42
UNICESUMAR

Entre 1789, com a Assembleia Nacional, e 1791/1792, houve o desenvolvimento e


fortalecimento do movimento chamado de contrarrevolucionário. Inicialmen-
te, formado pela realeza que fugiu da França, esse movimento, pouco a pouco,
ganhou força com a participação de países como Prússia e a Rússia, que por
serem absolutistas tinham medo que os ideais franceses se espalhassem e que
colaborassem para a revolução em seus países. Portanto, para evitar esse tipo de
evento os países absolutistas da Europa se reuniram para montar um movimento
contrarrevolucionário para “cortar o mal pela raiz”.
Foi de acordo com esse movimento que em junho de 1791 a família real
abandona o palácio das Tulherias e foge. A ideia era se juntar ao movimento
contrarrevolucionário. Contudo, foram reconhecidos, capturados e enviados de
volta para Paris. Um rei que foge é um rei que não merece a fidelidade de seu
povo. Desta forma, o conhecimento da fuga faz com que a população de uma
forma geral fique indignada e sua imagem manchada. A Assembléia Nacional
Constituinte e seus políticos, a princípio, não puniram o monarca e teve que
restabelecê-lo no poder, tendo em vista que precisavam do rei para ratificar o seu
texto constitucional (VOVELLE, 2007).
Em setembro de 1791, a primeira constituição da França foi aprovada,
criando uma monarquia constitucional. Para Eric Hobsbawm, trata-se de uma
vitória da burguesia moderada, tendo em vista que essa constituição afastou a de-
mocracia, ao rejeitar uma república, já exigida por alguns membros da Assembléia,
e ao implantar o voto censitário, no qual apenas os “cidadãos ativos” poderiam votar
(HOBSBAWM, 2016, p. 114). Com a nova constituição, em dezembro de 1791, reú-
ne-se a agora denominada Assembleia Legislativa com a obrigação de formular
as novas leis. Uma decisão se torna crucial nessa proclamação da guerra contra o
movimento contrarrevolucionário ou busca pela paz. Nesse momento, houve uma
cisão dentro da Assembleia, tendo em vista que um grupo, os jacobinos liderados
por Robespierre, queria a paz, contudo, os girondinos, querendo a expansão da
revolução pela Europa, conseguiram a aprovação da guerra em abril de 1792.
Como resultado, os exércitos da Prússia, Rússia e os reis de Piemonte e Espa-
nha invadiram o norte e o leste da França. Ao perceberem que o rei poderia se
utilizar desse movimento, a população se revolta e começa a se posicionar contra
o monarca. As mensagens pedindo a destituição do rei se multiplicam em todo
o país. Como resultado surge a Comuna Insurrecional de Paris, com os sans-

43
UNIDADE 1

-culottes pegando em armas sob a liderança de Marat, Danton e Robespierre. A


comuna invade o palácio de Tulherias e captura a família real. Como resultado,
a Assembleia Legislativa vota a suspensão do rei e de seus poderes e convoca a
Convenção Nacional para governar o país, criando, assim, a Primeira Repú-
blica da França em 21 de setembro de 1792 com a promulgação de uma nova
constituição. Uma nova fase se inicia na Revolução Francesa (VOVELLE, 2012).
A Convenção rapidamente se dividiu em dois grupos rivais e um neutro.
Formou-se os girondinos, uma cisão do antigo Clube dos Jacobinos, liderada
por Brissot , Vergniaud e Guadet, trata-se de uma burguesia proveniente de im-
portantes cidades portuárias. Mais conservadores, foram a favor da revolução a
princípio, mas agora que estavam no poder queriam encerrá-la com medo de
uma radicalização do movimento. Do outro lado, os seus rivais, a montanha ou
os jacobinos, burgueses que acreditavam que a revolução só obteria sucesso se
apoiassem o movimento popular, como o dos sans-culotte. Ficaram conhecidos
por serem mais radicais e também por seus líderes Robespierre, Saint-Just e Ma-
rat. Por fim, o grupo neutro era chamado de Planície, burgueses que não sabiam
ao certo quais decisões tomariam (VOVELLE, 2007).
A princípio, os girondinos eram a maioria e comandavam a Convenção Nacio-
nal. Seguiram com sua campanha política belicosa que a princípio foi aceita pelos
sans-culottes como a única forma de derrotar o movimento contrarrevolucionário.
No entanto, os girondinos com medo da radicalização do movimento não que-
riam a execução do monarca. Contudo, diante do poder e apreço popular que o
grupo radical dos jacobinos detinha, o rei foi executado em 21 de janeiro de 1793
(HOBSBAWM, 2016). Pouco a pouco, os jacobinos se fortaleceram e, com apoio
popular, criaram a jornada revolucionária, na qual sitiaram e tomaram o poder da
Convenção Nacional em 2 de junho de 1793, prenderam os líderes girondinos fato
que posteriormente deu início à República jacobina ou o “período do terror”.
A República Jacobina durou oficialmente de junho de 1793 a julho de 1794 e é
o mais famoso período da revolução, ao menos, é o mais lembrado. Foi elaborada às
pressas uma nova constituição – conhecida como Constituição do ano I – aprovada
pelo povo de julho de 1793. Trata-se de um texto bastante democrático, pois dava di-
reito ao povo o sufrágio universal, o direito de insurreição, trabalho, felicidade de todos
como um objetivo do governo. Além dessas características constitucionais, foi nesse
governo jacobino que ocorreu a abolição dos direitos feudais remanescentes e algum
tempo depois foi abolida a escravidão das colônias francesas (HOBSBAWM, 2016).

44
UNICESUMAR

Apesar desse caráter democrático de suas medidas, pouco dessas medidas


foram realmente aplicadas, tendo em vista que quem comandou a Convenção
nesse período foi o comitê de Salvação Pública, cuja a principal arma para
combater os girondinos e o movimento contrarrevolucionário foi o terror, e en-
tre seus líderes estavam os famosos Robespierre, Danton, Saint-Just, Couthon
e Carnot. Aqueles considerados suspeitos de serem contra a revolução foram
presos e “julgados” pelo Tribunal Revolucionário de Paris. Foram executados
na guilhotina cerca de 16 a 17 mil pessoas. Entre elas estavam a própria rainha
Maria Antonieta, aristocratas, negociantes e padres. Posteriormente, líderes gi-
rondinos acabaram sendo executados também. Contudo, o número de mortes
nesse período foi muito maior, se levarmos em conta o processo de reconquista
de territórios ocupados por contrarrevolucionários como a região da Vendéia,
onde teriam morrido cerca de 130 mil pessoas (VOVELLE, 2007).
O fato é que o governo revolucionário precisava atender as necessidades do
povo francês – como o acesso a alimentos, para isso foi criada a Lei do preço má-
ximo em 1793 que tabelava o preço dos produtos e salários – ao mesmo tempo
que tinha que adotar o terror como instrumento de salvação da Revolução. Além
de enfrentar as forças externas contrarrevolucionárias, o Comitê de Salvação
Pública teve que reprimir as facções de esquerda e direita que surgiam dentro do
próprio movimento revolucionário (VOVELLE, 2012). Contudo, pouco a pouco
o poder do comitê e de Robespierre foi perdendo a força. É preciso compreen-
dermos que, para preservar a Revolução, suas fronteiras e a república o Comitê
de Salvação teve de tomar a ofensiva. Contudo, para realizar isso, foi necessário:


[...] controlar o movimento popular dos sans-culottes, suprimir as
assembléias e afastar seus líderes mais destacados, os hebertistas
[...] foram acusados de conspiração e executados [...] Para conse-
guir isso, Robespierre teve de contar com o apoio dos “Indulgentes”,
um grupo que, ao contrário, considerava que a Revolução tinha ido
longe demais, era preciso pôr fim ao Terror. O mais famoso deles,
Danton, acabará, por sua vez, sendo julgado pelo Tribunal revolu-
cionário e depois executado [...] O mecanismo do terror acelera-se;
a guilhotina faz um número cada vez maior de vítimas, enquanto
muitos desejam o fim da Revolução (VOVELLE, 2007, p. 81-82).

45
UNIDADE 1

Como resultado, o povo passou a distanciar-se de Robespierre, e sem esse apoio


ele seria tirado do poder e executado por seus inimigos políticos. Isso aconteceu
com o chamado golpe do 9 Termidor, no dia 27 de julho de 1794. Em uma
sessão da Convenção, Robespierre, Saint-Just, Couthon e seus aliados são pre-
sos por uma coalizão que queria acabar com a Revolução. A Comuna de Paris,
popular, até tenta libertá-los, porém mal organizada demonstrou que o povo de
Paris já não possuía interesse nesses líderes. Como consequência, Robespierre e
seus aliados são executados na guilhotina no dia 10 termidor (VOVELLE, 2012).
Inicia-se um novo período, conhecido como Conservador ou Diretório que
governou a França entre os anos de 1795 a 1799. Uma retomada do poder pela
classe média que buscava uma estabilidade política e o fim do Terror. Trata-se de
um período de recuperação do poder pela burguesia e a opressão da população
geral que havia ganho força nos anos anteriores. Uma prova dessa característica é
a constituição criada e aprovada pelos termidorianos em 1795, conhecida como
Constituição do ano III: um compromisso burguês, que repudia a inspiração demo-
crática da Constituição de 1793, eles quiseram pôr fim à revolução. Entre suas ca-
racterísticas, estavam a volta do voto censitário, a retomada da escravidão e divisão
do poder executivo entre cinco diretores, o que dará início a essa forma de governo
do Diretório que atuou entre abril de 1795 a outubro de 1799 (VOVELLE, 2012).
O Diretório estava em uma encruzilhada, quase sem apoio político, tendo em
vista que os sans-culotte e a aristocracia monarquista queriam retomar o poder.
Desta forma, esse governo se apoiou em um dos principais frutos da revolução: o
exército. Durante o governo Jacobino, as fronteiras francesas foram libertadas de
seus inimigos e outros países foram invadidos e ocupados pelo exército francês.
Nesse contexto, um jovem General, Napoleão Bonaparte se tornou famoso por
suas campanhas e as brilhantes estratégias de batalhas que levaram a muitas de
suas vitórias. Foi justamente a partir da força militar que o Diretório suprimiu
movimentos como a “Conspiração dos Iguais” de Graco Babeuf, jacobinos demo-
cratas que querem o poder para implantar uma sociedade igualitária. O Diretório
passava por uma situação de impopularidade e desequilíbrio, as resistências ga-
nhavam força na zona rural e o sentimento revolucionário inflamava novamente
no ano de 1799. Nas eleições da Assembleia deste ano, venceu a esquerda, que
expulsou o Diretório do poder. A burguesia com medo de um novo movimento
revolucionário popular passou a buscar medidas de controlar o poder nova-
mente, buscava-se alguém capaz de normalizar essa situação (VOVELLE, 2007).

46
UNICESUMAR

Napoleão Bonaparte volta para a França, após suas campanhas no Oriente, e


é recebido como salvador. Um golpe político foi tramado e executado no dia 18
de Brumário, em 9 de novembro de 1799. Com o auxílio de suas tropas e favo-
recido pelo contexto político e econômico, Napoleão tomou o poder da França e
instaurou um Consulado do qual ele ocupa o cargo de Primeiro Cônsul. Trata-se
do fim da Revolução Francesa e início da era Napoleônica.

Caro Dante, o que você


achou dessa viagem pela
França revolucionária?

Com certeza
algo transformador!

Exatamente! Perceba Dante, a análise que realizamos acima sobre a


Revolução Francesa é um aspecto importante para compreendermos a
sua pergunta realizada no início desta viagem: "Por quê a História
Contemporânea inicia no século XVIII e, ainda, permanece como nosso
período histórico?" A Revolução Francesa foi responsável por derrubar o
Antigo Regime Absolutista e dar voz e direitos para grupos sociais que
não eram ouvidos antes na História. Como vimos, dependendo da fase da
Revolução a população era ouvida mais ou menos. Contudo, o mais
importante é que a partir desse grande evento surge o estado de Direito
do indivíduo e ideias como liberdade e igualdade se tornam presentes nas
discussões filosóficas e políticas dos anos seguintes. A sociedade
democrática de direito como vivemos hoje foi fundamentada nos
princípios desenvolvidos por esse movimento.

Então, podemos concluir que a Revolução Francesa, lançou as bases


para o Estado democrático de direito individual com o homem se
tornando um cidadão, uma divisão de poderes, abolição da sociedade
de ordens, fim dos privilégios feudais, fim do monopólio de comercial,
ampliação de uma economia liberal e, acima de tudo, o poder baseado
na nação e não em uma pessoa. Assim como, a Revolução Industrial
foi a responsável por transformar não apenas os meios de produção,
mas o comportamento da sociedade como um todo. Com a mudança
do comportamento em relação ao tempo, o desenvolvimento de
máquinas que aumentaram exponencialmente a produção, o aumento
do consumo e da qualidade de vida e, principalmente, a formação de
movimentos sociais operários que lutaram pelos direitos dos
trabalhadores. Conseguindo mudanças importantes no ambiente de
trabalho das quais preservamos até os dias atuais.

Perfeito!
A partir dessa compreensã
podemos continuar a nossa
viagem para responder a suas
outras perguntas.

Caro(a) estudante, as descobertas desta unidade serão extremamente importan-


tes para a sua futura profissão docente. Ela dará significado para os seus alunos
compreenderem a importância de aprender tais conteúdos históricos. Sendo
assim, convido você a refletir acerca das principais ideias dessa unidade e de que
forma elas formaram a sociedade que você vive hoje.

47
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que
você obteve nessa primeira unidade sobre a importância das revoluções do século
XVIII para a formação da sociedade que vivemos hoje.
Chegou a hora de colocar a mão na massa e descobrir o que de fato você pode
aprender nesta unidade. Desta forma, convido você a realizar um Mapa mental.
Esse tipo de produção, além de lhe ajudar a compreender as suas ideias acerca
do conteúdo, devido à sua capacidade de ilustrar conteúdos, também lhe permite
organizar melhor essas ideias em sua mente, fazendo com que o aprendizado per-
maneça de uma forma duradoura em sua memória. Por isso, convido-lhe agora a
realizar um mapa mental apresentando cinco causas da Revolução Industrial na
Grã-Bretanha. Você pode realizá-lo aqui mesmo no livro, ou ainda, na ferramenta
GoConqr - www.goconqr.com.
2
O Século XIX:
Resistência e Desenvolvimento

Dr. Augusto João Moretti Junior

Nesta Unidade 2, temos como objetivo investigar os principais acon-


tecimentos europeus do século XIX, responsáveis por alterar a forma
como a sociedade ocidental pensa e se comporta, trazendo sérias
consequências para o século XX. Analisaremos, o breve período napo-
leônico, a expansão das ideias revolucionárias francesas, assim como
perquirimos as revoluções liberais da metade do século XIX, conhe-
cidas como Primavera dos Povos. Em seguida, analisamos a primeira
experiência popular de tomada do poder, a Comuna de Paris.
UNIDADE 2

Nesta Unidade 2, temos como objetivo investigar os principais acontecimen-


tos europeus do século XIX, responsáveis por alterar a forma como a sociedade
ocidental pensa e se comporta, trazendo sérias consequências para o século XX.
Analisaremos, o breve período napoleônico, a expansão das ideias revolucio-
nárias francesas, assim como perquirimos as revoluções liberais da metade do
século XIX, conhecidas como Primavera dos Povos. Em seguida, analisamos a
primeira experiência popular de tomada do poder, a Comuna de Paris.

Figura 1 - Dante e seu professor de História viajando na janela temporal


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma
porta de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o
professor de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa
verde com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro,
veste um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a
porta. Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.

52
UNIDADE 2

Com o objetivo de compreender o século XIX e seus principais acontecimentos,


daremos prosseguimento à nossa situação hipotética de nossos viajantes, Dante
e seu professor de História. Ambos estavam na França Revolucionária do final
do século XVIII e, uma vez mais, eles passaram pela janela temporal. Contudo,
Dante percebe que eles permanecem no mesmo lugar e apenas algumas coisas
estão diferentes, diante disso o nosso jovem viajante questiona o seu professor:
Professor, posso estar enganado, mas a
impressão que tenho é que ainda estamos
na França Revolucionária.

Você realmente não deixa escapar nenhum


detalhe, deixa? Mas de fato, você está
correto! Passamos por nossa janela temporal,
no entanto, não mudamos o local, apenas
viajamos por alguns anos, saímos de 1799 com
a criação do Consulado por Napoleão
Bonaparte, para o ano de 180
1804, quando se
inicia o famoso Império Nap
Napoleônico.

Posso
perguntar porque permanecemos
na França em nossa viagem pelo
século XIX?

Claro, Dante. Não seria você se não fizesse, não é mesmo?


Escolhi a França do século XIX para responder a segunda das
suas principais dúvidas realizadas no início de nossa viagem:
"Quais movimentos e ideias foram desenvolvidos no século XIX
que alteraram para sempre a sociedade ocidental?"

53
UNIDADE 2

Caro(a) estudante de História Contemporânea, para alguns alunos, o século XIX


é um mistério, tendo em vista que não conseguem compreender o papel desse
século na formação da sociedade ocidental do século XX e XXI. Para resolver esse
mistério, temos que nos atentar à pergunta de nosso jovem viajante: Quais movi-
mentos e ideias foram desenvolvidos no século XIX que alteraram para sempre
a sociedade ocidental? Trata-se de acontecimentos e ideologias tão impactantes
que possuem reminiscências até os dias atuais. Antes de encontrá-las por meio de
nossa análise histórica, gostaria que você tentasse responder essa pergunta agora.
Com o conhecimento que você possui hoje, quais eventos e ideias marcaram o
século XIX e que influenciam os nossos dias até hoje?
Vimos na unidade anterior que a aprendizagem ocorre melhor quando o
tema estudado possui um significado para os alunos. Afinal, só nos empenhamos
em compreender ou fazer algo que tenha um sentido em nossas vidas. Sendo
assim, o que você responderia se um de seus futuros alunos lhe fizesse o questio-
namento do porquê estudar o século XIX? O que isso tem a ver com a minha vida
hoje? Cientes da importância de tais questionamentos, eis a resposta de nosso
professor de História Contemporânea acercar do século XIX:
- Professor de História: Caro Dante, o século XIX, por mais que seja menos
discutido do que o século XVIII e XX, ele foi fundamental para a formação da
nossa sociedade atual. É nesse contexto que as outras sociedades europeias pas-
sam a se emancipar do poder absolutista. As ideias revolucionárias propagadas
pelo Império Napoleônico foram responsáveis pelo desenvolvimento de uma
“Primavera dos Povos” na metade do século XIX. As ideologias mais importantes
do século XX foram desenvolvidas nesse século, como o liberalismo e o socialis-
mo científico. A primeira experiência popular socialista aconteceu, denominada
de Comuna de Paris. Além de todos esses fatos e ideias, foi no século XIX que se
desenvolveu um movimento que foi responsável pela Primeira Guerra Mundial:
o imperialismo. Perceba, Dante, é impossível compreender o século XX, sem as
ideias e acontecimentos do século XIX, afinal, a História é um grande processo, no
qual descobrir as causas é tão importante quanto o desenvolvimento dos eventos.
Chegou a sua hora de responder à pergunta feita por Dante! Com base na
resposta fornecida pelo professor de História e nos seus conhecimentos prévios
acerca do século XIX, convido, agora, você a refletir sobre o século XIX: quais foram
as contribuições do século XIX para a sociedade em que vivemos hoje? Quais são

54
UNIDADE 2

positivas e quais são negativas para o nosso desenvolvimento enquanto civilização?


Lembre-se de fazer uma lista com as ideias que você conseguir elencar e não se es-
queça de armazená-la de forma segura, desta forma, poderá compará-la com uma
lista que você fizer após o estudo desta unidade, pois, assim, será possível comparar
o quanto você conseguiu aprender. Lembre-se, também, que esses materiais pro-
duzidos por você hoje serão extremamente úteis em sua carreira como docente!
Agora que você já fez sua lista e já iniciou o seu processo de aprendizagem
sobre o século XIX, convido você a registrar, no Diário de Bordo: quais são as
suas principais dúvidas acerca do tema? O que você gostaria de perguntar para o
seu professor de História Contemporânea assim que for possível? Por fim, como
você imagina utilizar esses conhecimentos para incrementar a compreensão de
seus alunos acerca da realidade e da sociedade em que vivem? Como isso ajuda
a compreender o mundo em que vivem?

DIÁRIO DE BORDO

55
UNIDADE 2

Como vimos no início desta unidade, os nossos viajantes continuam na França,


contudo, alguns anos depois, mais precisamente em 1804.

o que está
acontecendo nesse momento
que torna tão importante
a nossa permanência
na França?

A Coroação
daquele homem!

Em dezembro de 1804, Napoleão Bonaparte foi coroado Imperador da Fran-


ça. Sei que a princípio parece uma ideia contraditória, como pode, um país que
acabou de derrubar o absolutismo e fazer uma revolução colocar no poder um
imperador? Vamos compreender isso agora.
Vimos na unidade anterior que Napoleão Bonaparte no dia 18 Brumário deu
um golpe no Diretório e estabeleceu o Consulado na França. Fato que deu início
à Era napoleônica e o fim da Revolução Francesa. Em 1799, tornou-se o primei-
ro Cônsul – acima dos outros dois cônsules, Emanuel Syeyès e Roger Ducos –
para depois se tornar Cônsul vitalício (1802) até que de fato em 1804 se tornou
imperador da França, coroado por suas próprias mãos. Para Eric Hobsbawm, é
curioso como a entrada de Napoleão no poder foi capaz de resolver problemas

56
UNIDADE 2

que pareciam insolúveis em períodos anteriores sob o governo do Diretório.


Dentro de poucos anos, conseguiu criar um Código Civil (1804), um Tratado
com a Igreja que restabelecia a Igreja Católica na França (1801) e inclusive um
Banco Nacional, agradando à burguesia (HOBSBAWM, 2016a).

Caro(a) estudante, preparamos para você um vídeo sobre


uma das principais figuras do século XIX, Napoleão Bon-
aparte. Com ele, você conseguirá compreender o porquê
de Napoleão ter entrado para a história como um herói
moderno é um mito secular. Vamos nessa?

Desta forma, a entrada de Napoleão como cônsul foi capaz, a partir de suas gran-
des habilidades, de resolver os principais problemas da França, consequentemen-
te, a partir de articulações políticas, Bonaparte foi capaz de conseguir se eleger
imperador da França em dezembro de 1804.
De acordo com Georges Lefebvre (2011), um dos motivos que colaboraram
para que o povo apoiasse Napoleão como um imperador foi a quebra do Tratado
de Amiens (1801) pelos britânicos por volta de 1803. Esse acordo tinha selado a
paz entre França e Inglaterra e finalizado um conflito que durava anos. Contudo,
as ações de Napoleão a partir de 1799, como Cônsul, e a sua expansão pela Europa
trouxeram as hostilidades de volta. A quebra do acordo permitiu que Napoleão
colocasse a culpa total da guerra nos britânicos, concedendo-lhe a oportunidade
de ser visto pela nação francesa como uma pessoa forte e determinada capaz
de vencer esse conflito. Ou seja, possibilitou-lhe conseguir o título imperial e a
hereditariedade de sucessão (LEFEBVRE, 2011).
Após uma série de articulações políticas, no dia 02 de dezembro de 1804,
com a presença do Papa, na Catedral de Notre Dame, Napoleão recebeu do sumo
pontífice o cetro, no entanto, Bonaparte foi até o altar pegou a coroa e a colocou
sobre a sua própria cabeça, em um ato simbólica de seu poder, de que ele próprio
teria conseguido se tornar imperador com seus próprios méritos. Em seguida,
o agora imperador realizou um juramento de liberdade e igualdade. Sua esposa,
Josephine, também foi coroada pelas mãos do próprio marido.

57
UNIDADE 2

Figura 2 - Napoleão coroa sua esposa, Josephine, como imperatriz da França em 1804
Fonte: David (1807, on-line)

Descrição da Imagem: a imagem é uma pintura, tendo ao fundo a nobreza sentada ou em pé com um
olhar de satisfação. Ao centro e em destaque, temos Napoleão Bonaparte, que é coroado Imperador da
França, vestindo branco e vermelho com detalhes em ouro. Napoleão está com os braços erguidos segu-
rando uma coroa prestes a coroar Josephine. Esta está ajoelhada e vestida nas mesmas cores e modelo
que Napoleão. A imperatriz assume uma posição de oração enquanto espera ser coroada, atrás dela duas
mulheres seguram a ponta de seu grande manto. Atrás de Napoleão, encontra-se o Papa sentado e ao
seu lado membros do clero observam o ato de coroação. À frente da imagem à direita, encontram-se dois
nobres de costas para o observador ricamente vestidos com detalhes em dourado.

Como imperador da França, podemos afirmar que Napoleão acabou com a Re-
volução na França, no entanto, espalhou os seus ideais por toda a Europa. Com
base em seu poderio militar, impôs à Europa continental a ideia de liberdade e
igualdade, pregadas na França revolucionária.
Com o novo conflito com a Inglaterra, várias batalhas e conquistas napoleônicas
se seguiram na Europa continental. O imperador teve que enfrentar diversas coalizões
europeias ao longo de seu governo, formadas por países absolutistas que lutavam
contra as ideias propagadas pela França, entre eles devemos citar a Prússia, Rússia,
Áustria, Suécia e Reino Unido. Em determinados momentos com participações de
países como Portugal e Espanha, que também foram ocupados por Napoleão I.
De acordo com o historiador Eric Hobsbawm (2016a, p. 147):

58
UNIDADE 2


A Áustria foi derrotada em 1805 na batalha de Austerlitz, na Mo-
rávia, e a paz lhe foi imposta. A Prússia, que declarou guerra tarde
e separadamente, foi destruída nas batalhas de Iena e Auerstedt,
em 1806. A Rússia, embora derrotada em Austerlitz, espancada em
Eylau (1807) e derrotada novamente em Friedland (1807), perma-
neceu intacta como potência militar. O Tratado de Tilsit (1807) tra-
tava-a com justificável respeito, embora estabelecendo a hegemonia
francesa sobre o resto do continente.

Muito vinculado à sua família, conforme foi conquistando os países na Europa conti-
nental, Napoleão distribuiu o poder dos países conquistados aos seus irmãos. Por exem-
plo, a José foi dado o reino da Espanha, a Luís, o reino da Holanda e Jerônimo, o reino
da Vestfália. Por volta de 1812, o império Napoleônico atingiu a sua expansão máxima.
Contudo, o sucesso militar do império francês não se reproduziu no mar. Os
franceses, já em 1805, foram derrotados na batalha de Trafalgar, destruindo qual-
quer chance de Napoleão invadir a Grã-Bretanha pelo canal da Mancha. Dian-
te dessa situação, Napoleão buscou derrotar os britânicos por meio de sanções
econômicas e, por isso, em 1806, criou o Bloqueio Continental (HOBSBAWM,
2016a). Conhecido, também, como sistema continental, Napoleão proibiu que os
países da Europa Continental realizassem comércio com a Grã-Bretanha.
No entanto, alguns países, mesmo sob ameaça de serem invadidos, mantiveram
relações comerciais com os britânicos, como foi o caso de Portugal, invadida pelas
tropas napoleônicas em 1807 e da Rússia. A quebra do Tratado de Tilsit pelos
russos levou Napoleão a invadir a Rússia, em 1812, medida que daria início ao fim
do primeiro Império Francês. As dificuldades de manter o seu exército abastecido,
somado ao inverno russo, fizeram que, dos 610 mil homens que invadiram Moscou,
apenas 100 retornassem dessa malograda campanha (HOBSBAWM, 2016a, p. 148).
Nesse momento, diante do enfraquecimento do poder napoleônico, foi for-
mada a colisão final contra os franceses, composta pelos antigos inimigos, prin-
cipalmente as potências absolutistas como Áustria, Prússia e Grã-Bretanha.
Neste momento, caro(a) estudante, você pode estar se perguntando: se a aliança
contra Napoleão era feita por absolutistas, por que a Grã-Bretanha, uma monarquia
liberal, burguesa, desde o final do século XVII, estava lutando ao lado dos países
absolutistas? Por que não estava ajudando Napoleão a propagar os ideais de liber-
dade e igualdade? A resposta é bastante pragmática. A França era a única potência
europeia capaz de concorrer economicamente e militarmente contra os britânicos.

59
UNIDADE 2

Olá, viajante da História! Com o objetivo de facilitar o seu


processo de aprendizagem deste conteúdo, que como
puderam observar é complexo, gravamos um podcast!
Nele você terá acesso às principais problematizações desta
unidade. Vamos falar sobre o período napoleônico, a re-
sistência popular na Primavera dos Povos e, é claro, sobre
o primeiro autogoverno popular da História, a Comuna de
Paris. Vamos nessa?

O exército francês foi derrotado em Leipzig em 1813, depois os aliados continua-


ram avançando até a França. Napoleão foi derrotado em Waterloo em 1814 e Paris
foi ocupada pelas tropas da colisão, fazendo com que o imperador renunciasse
em abril de 1814. Assume o poder Luís XVIII. Napoleão foi exilado na Ilha de
Elba, de onde fugiu no ano seguinte, 1815, para instaurar o conhecido “Governo
de Cem Dias”. Contudo, suas tropas foram novamente vencidas, por ingleses e
prussianos, em uma segunda batalha em Waterloo, na Bélgica. Dessa vez, Bo-
naparte fora exilado em outra ilha, Santa Helena, na qual passaria seis anos antes
de morrer, provavelmente envenenado, em 1821.
Com sua nova queda em 1815, volta ao poder Luís XVIII da família Bourbon.
A chegada desse rei ao poder fazia parte do plano de restauração absolutista da
Santa Aliança e do Congresso de Viena. No entanto, antes de darmos continui-
dade, o que de fato foi o Congresso de Viena?

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Napoleon
Autor: Georges Lefebvre
Editora: Routledge
Sinopse: nesta obra do famoso historiador francês Georges Lefeb-
vre, encontramos um trabalho monumental acerca da vida e trajetória de
um dos principais personagens da história, Napoleão Bonaparte. No livro,
é possível estudarmos desde o seu processo de ascensão como jovem mi-
litar da França revolucionária, passando pela sua chegada ao poder como
primeiro Cônsul da França até o seu governo como imperador nos anos de
1804 a 1815.

60
UNIDADE 2

Em outubro de 1814, o Congresso de Viena foi aberto e se encerraria em junho


de 1815. Ao todo, sete estados participaram: Inglaterra, Rússia, Áustria, Prússia,
Suécia, Portugal e Espanha. Esse Congresso possuía como objetivo principal fa-
zer uma nova regulamentação do território europeu, após a queda do império
napoleônico. Essa instituição possuía três princípios principais: a legitimidade,
a restauração e o equilíbrio. A legitimidade buscava colocar a família Bourbon
de volta no trono da França, assim como recuperar o território francês nos limites
que existiam antes da revolução. Dessa forma, a França, pós-revolução, possuiria
sua legitimidade reconhecida pelos outros países. A restauração se referia ao ab-
solutismo. Países como Áustria, Prússia e Rússia, absolutistas, queriam restaurar
esse ideal político na Europa, inclusive combatendo os ideais e revoltas liberais
que voltassem a acontecer na Europa. Para isso, foi criada a Santa Aliança, uma
coligação militar sob a liderança do czar russo, uniram-se a eles austríacos e
prussianos, que, além de defender o absolutismo, possibilitou aos russos fazer
frente ao agora todo poderoso império inglês. É válido colocar que tal aliança
gostaria de intervir inclusive nos movimentos políticos liberais da América e se-
rão barrados pela criação da Doutrina Monroe pelos Estados Unidos da América.
Por fim, houve o equilíbrio de forças entre as potências da Europa após a grande
instabilidade gerada pelo período napoleônico (CORREIA, 1994).

Só um minuto professor. Não


entendi! A França havia terminado
o seu processo revolucionário
contra a monarquia absolutista a
pouco tempo e novamente está
nas mãos dos monarcas
franceses?

Ótima observação, Dante. Quase isso, a


diferença é que fora instaurado na França
uma Monarquia Constitucional sob o
comando da dinastia Bourbon, na verdade
os irmãos de Luís XVI, que fora
decapitado. Veremos que pouco a pouco,
essa restauração buscará instalar
novamente o Antigo regime.
Vou explicar melhor!

61
UNIDADE 2

Com a restauração do absolutismo na França, em 1814 e 1815, foi colocado no trono


Luís XVIII, da dinastia Bourbon. Esse período foi denominado como Restauração e
possuiu dois monarcas, o já citado Luís XVIII e seu irmão Carlos X. De acordo com
a historiadora Terezinha de Oliveira (2000), o governo de Luís XVIII foi diferente
daqueles do Antigo Regime, tendo em vista que o monarca fora obrigado a reger
com base na Carta de 1814, podendo ser considerado uma monarquia constitucio-
nal, como aponta Eric Hobsbawm (2016a, p. 289): “A Restauração dos Bourbon não
restaurou o velho regime, ou melhor, quando Carlos X tentou fazê-lo, foi deposto.
Desta forma, o governo de Luís XVIII foi um governo bastante moderado
tendo em vista a manutenção de algumas conquistas do processo revolucionário
anterior, assim como a delegação de privilégio para a burguesia.
Contudo, o período da restauração foi visto pela aristocracia como uma opor-
tunidade de restaurar o antigo regime, ou pelo menos, recuperar parte do poder,
assim como restabelecer alguns privilégios (OLIVEIRA, 2000). Esse momento
da restauração também foi marcado pela disputa política entre alguns grupos.
Os doctrinaires (doutrinários), liderados por François Guizot e Pierre Paul Ro-
yer-Collard, de acordo com Robert Alexander (2003), tinham o objetivo de en-
contrar um meio termo entre a soberania da realeza e da nacional, a monarquia
com as conquistas da Revolução Francesa.
Fora criada, também, a facção da extrema direita, que ficou conhecida
como os ultra-realistas ou, ainda, ultra-monarquistas. Formado principal-
mente pela aristocracia, esse grupo:


[...] foi tanto um sentimento quanto um corpo de ideias coerentes.
No entanto, pode ser identificado como o herdeiro da Contra-
-revolução. Em última análise, os ultra-monarquistas eram de-
fensores da soberania real livre de qualquer noção de soberania
nacional. Isso não significava necessariamente que sua devoção
à dinastia Bourbon não tivesse limites; viam na monarquia o
meio de aumentar sua dominação social, cultural e política. De
um modo geral, os ultra-monarquistas estavam dispostos a ver
o Antigo Regime como uma idade de ouro em que a monarquia
dependia dos elementos ‘superiores’ da sociedade (principalmente
a nobreza e o clero) para proporcionar um bom governo basea-

62
UNIDADE 2

do em um sistema de valores hierárquicos em termos sociais e


intimamente ligado ao catolicismo (ALEXANDER, 2003, p. 25).

Com a morte de Luís XVIII, sem deixar herdeiros, os ultra-realistas obtiveram seu
maior sucesso, quando o líder deste grupo, o conde de Artois, irmão de Luís XVIII,
em 1824 se tornou o rei da França, com o nome de Carlos X. O monarca agiu
de acordo com a sua ideologia de defender o Antigo Regime. Junto ao ministro,
também ultra-monarquista, Jean-Baptiste de Villèle, o conde de Villèle, passaram a
recuperar o status da Igreja Católica, perdida ao longo do processo revolucionário,
criou leis para indenizar a nobreza que teve suas terras confiscadas pela revolução,
ou, ainda, a apresentação de um projeto de lei que censurava a imprensa.
Diante dessa busca pelo Antigo Regime, o governo de Carlos X será du-
ramente combatido pela oposição liberal. É válido lembrar que a busca pelo
poder da aristocracia e a busca pelos setores democráticos de derrubar essa
restauração monárquica, vista como uma ameaça à revolução, colocou a bur-
guesia entre essas duas grandes forças (OLIVEIRA, 2000).
Em meio a tudo isso, Carlos X foi derrubado pela segunda onda revolucionária
liberal que assolou a Europa entre 1829 e 1834. No dia 28 de julho de 1830, barricadas
foram levantadas na cidade de Paris e um ataque aconteceu contra a sede do governo,
o Hôtel de Ville. Ao longo de três dias, ocorreu uma luta entre as forças militares reais
e a população. De acordo com Robert Alexander, ao longo dos trois glorieuses (três
gloriosos dias de luta), 800 insurgentes e 200 soldados morreram. Desta forma, em


[...] 2 de agosto, Carlos X decidiu abdicar em favor de seu neto, o
duque de Bordeaux, antes de partir para seu exílio final. Havia pouca
escolha, dada a rapidez com que a França provincial se aliara a um
governo provisório parisiense. Depois disso, um parlamento de 252
deputados e 114 pares rejeitou Bordeaux e estabeleceu uma nova
monarquia constitucional sob o duque de Orleans. Em 9 de agosto,
Louis-Philippe I tornou-se rei dos franceses, estabelecendo assim
o princípio da soberania nacional (ALEXANDER, 2003, p. 287).

Esse evento, conhecido como a Revolução Liberal de Julho de 1830, colocou Luís
Felipe de Orleans para servir ao interesse dos banqueiros, de acordo com Karl

63
UNIDADE 2

Marx, o banqueiro liberal, Jacques Laffitte teria dito “De agora em diante reinarão
os banqueiros” (MARX, 2012, p. 37).

Figura 3 - A Liberdade Guiando o Povo, obra de Eugène Delacroix de 1830


Fonte: Delacroix (1830, on-line).

Descrição da Imagem: ao centro da pintura, em destaque, uma mulher branda uma bandeira da França.
Essa mulher está com os seios de fora e detém uma postura de liderança de uma grande massa que a
segue. Ao seu lado direito, uma criança vestindo um boné, camisa branca, colete escuro, calça marrom
segura duas pistolas em suas mãos. Uma apontada para cima e outra para baixo. À frente, no chão, en-
contram-se três homens mortos, dois, mais à direita, são claramente soldados, outro à esquerda veste
uma camisa branca e está sem as suas calças. Uma pessoa de camisa azul e lenço vinho na cabeça está
de joelho em uma posição de adoração à frente da mulher que segura a bandeira. Ao lado esquerdo da
mulher, de pé, um homem segura a espingarda, ele veste calça marrom, camisa branca, colete e terno
preto e em seu pescoço um lenço preto. Mais ao fundo, encontram-se pessoas bradando armas e espadas
seguindo a mulher com a bandeira. O céu mostra que estão em um local de guerra urbana. No fundo à
direita, construções aparecem em meio a fumaça.

É fácil considerarmos que a partir de 1830 com o governo de Luís Felipe inicia-
va-se um governo da burguesia na França. Contudo, Karl Marx faz uma ressalva
em relação a isso, tendo em vista que:


Quem reinou sob Luís Filipe não foi a burguesia francesa, mas uma
facção dela: os banqueiros, os reis da bolsa, os reis das ferrovias,
os donos das minas de carvão e de ferro e os donos de florestas
em conluio com uma parte da aristocracia proprietária de terras, a

64
UNIDADE 2

assim chamada aristocracia financeira. Ela ocupou o trono, ditou


as leis nas câmaras, distribuiu os cargos públicos desde o ministério
até a agência do tabaco (MARX, 2012, p. 37).

Desta forma, governou a França uma facção da burguesia mais rica com o apoio
de uma aristocracia proprietária de terras, formando uma aristocracia financeira.
Sendo assim, com o passar dos anos, o monarca adotou uma política de endivida-
mento do estado, por interesse do grupo burguês que governava. O grande déficit
público que a França entrou e que a enfraquecia era o mesmo que enriquecia os
burgueses financeiros que a lideravam. A nível de comparação, os gastos públi-
cos na época da Monarquia de Julho foram o dobro dos gastos realizados pelo
imperador Napoleão (MARX, 2012, p. 39).
Politicamente, o governo de Luís Felipe não foi tão flexível quanto deveria, sen-
do que governava, ou mesmo, representava apenas os interesses de uma parcela da
classe média e, como já vimos, uma parcela da burguesia. Os camponeses e a pe-
quena burguesia estavam excluídos do poder político. O povo estava cansado dessa
situação e um forte movimento revolucionário começa a se formar na França, de
uma maneira muito parecida com o que havia acontecido no final do século XVIII
com a Revolução Francesa. As facções não dominantes da burguesia incitavam o
povo a combater a corrupção que a Monarquia de Julho realizava junto à burguesia
financeira e industrial, o povo, por sua vez, começava a pedir o fim deste governo.
A essa situação política insustentável, somou-se uma catástrofe social e eco-
nômica. O início da década de 1840 foi marcada por uma grande depressão em
todo o continente europeu. As colheitas, principalmente de batata, foram um de-
sastre, deixando sociedades inteiras como a da Irlanda a ponto de morrer de fome.
Como consequência, na França houve um aumento no preço dos alimentos. Além
disso, outro fator contribuiu: no mesmo período ocorreu uma grande depressão
na indústria, o que gerou um elevado número de desempregados (HOBSBAWM,
2016a). Percebe, caro(a) estudante, as pessoas estavam perdendo seu emprego,
que já pagava pouco, em um momento em que o preço para sobreviver subiria e
a França passava por um saque das elites financeiras.
Todo esse contexto tornou a Monarquia de Julho insustentável. Aprovei-
tando-se desse contexto, a burguesia que não fora beneficiada por esse governo
passou a realizar banquetes nas ruas e incitava a população a se revoltar em busca
de mudanças políticas e uma reforma eleitoral. O resultado não tardou em chegar.

65
UNIDADE 2

O monarca, Luís Felipe, tentou impedir o acontecimento de um desses ban-


quetes públicos, que havia sido marcado para 22 de fevereiro de 1848, como
resultado, a população esfomeada e politicamente contrária ao governo estabe-
lecido, resistiu e iniciou uma manifestação que se espalhou por toda a cidade
de Paris. Iniciava-se as jornadas revolucionárias de fevereiro de 1848. Dentro
de um par de dias, as famosas barricadas já haviam tomado a capital da França,
sendo que os quartéis militares também foram tomados e ocupados. Os militares
da Guarda Nacional, enviados para combater, uniram-se aos revoltosos. Como
consequência, o rei banqueiro foi obrigado a abdicar o seu trono, colocando fim
à Monarquia de Julho e dando início, no dia 25 de fevereiro de 1848, à Segunda
República da França (1848-1852).

EXPLORANDO IDEIAS

As jornadas de fevereiro de 1848 deram início a uma onda revolucionária contra os regi-
mes autoritários de várias regiões da Europa e que ficaram conhecidas como “Primavera
dos Povos (1848)”. Após a França, o movimento de caráter liberal, nacionalista e socialista
se espalhou rapidamente pelo sudoeste alemão, a Bavária, Viena, Hungria, Milão, e di-
versas regiões europeias. Para Eric Hobsbawm (2016b, p. 32), “[...] em poucas semanas,
nenhum governo ficou de pé em uma área da Europa que hoje é ocupada completa ou
parcialmente por dez Estados”. É válido lembrar que essa foi a primeira revolução global,
influenciando movimentos no Brasil e Colômbia. O autor explica que: “a revolução de
1848 [...] foi, ao mesmo tempo, a mais ampla e a menos bem sucedida revolução desse
tipo. No breve período de seis meses de sua explosão, sua derrota universal era segura-
mente previsível; 18 meses depois, todos os regimes que derrubou, com exceção de um,
foram restaurados” (HOBSBAWM, 2016b, p. 33).

De acordo com Karl Marx, em sua obra As Lutas de Classe na França, após a queda
de Carlos X foi criado um governo provisório, sob a liderança de Jacques-Charles Du-
pont de l’Eure para comandar a França. Contudo, existia um problema. Esse governo
era composto pelas diversas classes sociais e partidos que participaram da jornada,
a burguesia possuía os principais representantes, sendo que a classe operária tinha
apenas dois representantes Louis Blanc e Albert. Entretanto, diferentemente de 1830,
os trabalhadores não permitiriam que os burgueses os utilizassem como massa de
manobra para trocar o poder e colocassem no poder alguém que eles quisessem como
fizeram em 1830. No dia 25 de fevereiro, a república ainda não havia sido proclamada,
todavia, os ministérios já haviam sido distribuídos entre os burgueses, os trabalhadores

66
UNIDADE 2

estavam dispostos a proclamar uma república pela força das armas se necessária. E
foi com essa ideia que um operário Raspail, em nome dos operários de Paris, foi até o
Hôtel de Ville e ordenou que fosse proclamado a república no prazo máximo de duas
horas, caso não fosse realizado, ele voltaria com 200 mil homens e tomaria o poder.
Antes que o tempo acabasse foram proclamados: République français! Liberté, Egalité,
Fraternité! (República francesa! Liberdade, Igualdade, Fraternidade!) (MARX, 2012).
Não se engane, caro(a) estudante, a república criada em 1848 não possuía
caráter operário, mas, sim, burguês. Os poucos direitos que foram conquistados
pelos trabalhadores, a princípio, foram retirados em junho daquele mesmo ano,
1848. Um deles, as Oficinas Nacionais, que empregavam mais de 100 mil operá-
rios, foram fechadas. Diante dessa situação, os operários não tiveram escolha a
não ser iniciar, novamente, um movimento armado contra a república burguesa
instaurada, a estes novos movimentos deram o nome de Jornadas de Junho,


[...] para os insurgentes, as Jornadas de Junho foram diferentes de
todas as revoltas anteriores. Essa batalha não foi travada por uma
confiança montanhesa de que eles carregavam o futuro com eles;
era, antes, uma defesa sem esperança que eles tinham de empreen-
der, a fim de permanecerem homens e não vítimas de outra revo-
lução roubada. Le Tocsin des Travailleurs culpou o governo por
seguir uma política social e econômica mais destrutiva do que a de
Louis-Philippe: une mâle et sombre résignation. Melhor morrer a
tiros, diziam, do que de fome (HARSIN, 2002, p. 295).

Para Karl Marx: “o proletariado parisiense foi forçado à Insurreição de Junho pela
burguesia” (2012, p. 48). Nas Jornadas de Junho, lideradas por Auguste Blanqui,
novas barricadas foram erguidas em Paris, os trabalhadores exigiam uma repúbli-
ca democrática e social. Os revoltosos foram combatidos pelas tropas do general
Louis- Eugène Cavaignac. Com ajuda de forças vindas da província, Cavaignac
esmagou a revolução dos trabalhadores. Durante quatro dias, de mil e quinhentos
a três mil insurgentes foram mortos. Aqueles que não morreram, foram conde-
nados à prisão ou à deportação, cerca de quinze mil foram deportados (MARX,
2011b). Consolidava-se assim, uma república burguesa.

67
UNIDADE 2

A França, desde fevereiro de 1848, estava sendo liderada pela Assembleia


Nacional, após conseguir estabelecer a ordem no país e promulgar em 12 de
novembro uma nova constituição estabelecendo uma república presidencialista
com base no sufrágio universal. As eleições para o maior cargo do poder executi-
vo ocorreriam em dezembro daquele mesmo ano. Destacava-se como candidato
a presidente o próprio general Louis- Eugène Cavaignac, famoso pela sua ação
brutal contra os operários, em junho, e por suas ideias republicanas.
Do outro lado, um novo nome aparecia, Luís Napoleão Bonaparte. Você deve
estar se perguntando se ele era parente de Napoleão Bonaparte. A resposta é
afirmativa. Luís Bonaparte era sobrinho do primeiro imperador da França, e seu
sobrenome lhe trouxe a força necessária para conseguir os votos dos camponeses,
os operários também votaram nele, para evitar que o general Cavaignac vencesse.
Nas eleições no dia 10 de dezembro de 1848, Luís Napoleão Bonaparte
foi eleito presidente da França, principalmente com os votos dos campone-
ses. De acordo com Roger Price, obteve 74,2% dos votos com 5.534.520 votos
(PRICE, 2001). Contudo, a burguesia republicana pouco a pouco será colocada
na marginalidade tendo em vista que uma grande parte da própria burguesia
tinha características monarquistas, sendo assim, pouco a pouco, essa burguesia
não republicana, unificada no “Partido da Ordem”, ganhou força. Por outro lado,
Luís Bonaparte buscou fortalecer o seu poder colocando nos cargos ministros
que não possuíam tendências republicanas, pelo contrário.
Em uma disputa com os republicanos e com a Assembleia Geral, na noite do
dia 01 para o dia 02 de dezembro de 1851, um “novo 18 de brumário” ocorreu.
Luís Bonaparte que não poderia ser reeleito presidente, após minar as instituições
republicanas como a dissolução da Assembléia Nacional Legislativa, realizou um
golpe derrubando a república da França, dissolvendo a Câmara e prendendo seus
inimigos políticos. Houve uma tentativa de resistência nas ruas que foi dissuadida
pelos soldados de Napoleão.
Karl Marx ao expressar esse acontecimento explica que:


[...] Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes
personagens da história mundial são encenados, por assim dizer,
duas vezes. Ele se esqueceu de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa. Caussidière como Danton, Luís

68
UNIDADE 2

Blanc como Robespierre, a Montanha de 1848-51 como a Montanha


de 1793-952, o sobrinho como o tio. E essa mesma caricatura se re-
pete nas circunstâncias que envolvem a reedição do 18 de brumário
(MARX, 2011b, p. 25).

Para Karl Marx, o primeiro golpe 18 de brumário feito por Napoleão Bonaparte
foi uma tragédia para os franceses, contudo, o de seu sobrinho foi uma farsa. Ao
se estabelecer no poder, Napoleão III progressivamente centralizou o poder em
suas mãos, promulgando uma nova constituição em 14 de janeiro de 1852, au-
mentando os poderes do presidente, de forma que pode encaminhar um processo
político que instaurou o Segundo Império Francês no dia 02 de dezembro de
1852. Sob o título de imperador Napoleão III, governou entre 1852 e 1870.
De acordo com o historiador Roger Price, o segundo império da França pro-
moveu mudanças estruturais na economia e na sociedade, assim como inovações
no sistema de governo. Seu governo coincidiu com um desenvolvimento eco-
nômico mundial, sendo que muitas de suas conquistas podem ser consideradas
por muitos como coincidências, todavia, os impactos da economia internacional
foram reforçados pelos fatores internos do governo que buscou aumentar os
investimentos em infraestrutura, como rodovias, ferrovias e telégrafo elétrico,
promovendo na França uma revolução nos transportes (PRICE, 2001).
O segundo império francês durou de 1852 a 1870, quando Napoleão III foi
derrotado na batalha de Sedan contra os prussos liderados por Otto von Bismarck,
na chamada Guerra Franco Prussiana (1870-1871). O colapso desse regime foi
causado justamente devido à incompetência da política externa. Ao ser derrotado e
capturado em Sedan no dia 2 de setembro de 1870, juntamente a cem mil soldados,
as notícias da humilhante derrota francesa se tornaram pública em Paris no dia
seguinte. O império havia perdido todo o crédito e sua derrota destruiria a sua legi-
timidade de poder. Diante disso, na cidade de Paris, deputados republicanos exigem
a troca do governo e o fim do império francês, recebendo o apoio das multidões, em
4 de setembro, invadiram o palácio Bourbon, não houve resistência alguma nem
derramamento de sangue. Os republicanos mais moderados viram a oportunidade
de estabelecer um Governo provisório de Defesa Nacional, sob a liderança de
Adolphe Thiers e Jules Favre, tendo em vista que a França estava sob ataque e a ci-
dade de Paris sitiada (PRICE, 2001). Iniciava-se a Terceira República da França.

69
UNIDADE 2

Diante da ameaça de invasão, a população de Paris foi armada e engajada na


Guarda Nacional, tendo os operários como sua grande maioria. Contudo, a França e
sua capital não resistiram e capitularam em 28 de janeiro de 1871. Apesar da vitória,
os inimigos não invadiram a cidade de Paris para ocupar, desta forma, as forças da
Guarda nacional e seus canhões foram preservados. Adolphe Thiers selou a paz com
a Alemanha com a condição de pagar cinco bilhões de Francos e, também, entregar
as regiões de Lorena e Alsácia para os vencedores do conflito. Com a paz instaura-
da, Thiers percebendo a força dos operários tentou retirar as suas armas e canhões
(MARX, 2011a).
No dia 18 de março, Adolphe Thiers


[...] enviou tropas com ordem de retirar à Guarda Nacional a arti-
lharia que lhe pertencia, pois fora construída e paga por subscrição
pública durante o assédio de Paris. A tentativa não conseguiu êxito.
Paris levantou-se como um só homem, declarando-se a guerra entre
Paris e o governo francês instalado em Versalhes. A 26 de março foi
eleita, e a 28 proclamada, a Comuna de Paris, O Comité Central da
Guarda Nacional, que até então havia exercido o poder, renunciou
em favor da Comuna, depois de decretar a abolição da escandalosa
‘polícia de costumes’ de Paris. A 30, a Comuna suprimiu o serviço
militar obrigatório e o exército permanente, reconhecendo a Guarda
Nacional como a única força armada, à qual deviam pertencer todos
os cidadãos válidos (MARX, 2011a, p. 14-15).

Em março de 1871, surgia o primeiro autogoverno operário da história, a


Comuna de Paris.

70
UNIDADE 2

OLHAR CONCEITUAL

1804 a 1814
Primeiro Império da França sob a liderança
de Napoleão Bonaparte

1814 a 1830
Restauração - Volta do governo monárquico com a dinastia
Bourbon, possuindo Luís XVIII entre 1814 a 1824, com
uma breve interrupção em 1815 com o Governo dos
"Cem Dias" do próprio Napoleão Bonaparte, e posteriormente
o comando de Carlos X de 1824 a 1830.

1830 a 1848
Monarquia de Julho. Início de uma Monarquia
Burguesa com o reinado de Luís Felipe I
de Orléans

1848 - 1852
Segunda República da França

1852 - 1870
Segundo Império da França - Napoleão III

1870 - 1940
Terceira República da França

1871
Comuna de Paris

Fonte: David (1801, on-line), Gerard (1825a; 1825b, on-line), Winterhalter (1841, on-line), Dopter (1849,
on-line), Pyle ([s.d.], on-line) e Richebourg (1871, on-line).

71
UNIDADE 2

Um dos principais acontecimentos do século XIX foi a Comuna de Paris em 1871.


Esse evento histórico ocorreu em forma de uma insurreição popular, que, ao tomar
o poder de Paris, instaurou o primeiro autogoverno de características proletárias e
populares dentro do contexto do capitalismo pós-Revolução Industrial.
O historiador francês, Claude Willard, é um dos principais especialistas mun-
diais nesse assunto, sendo inclusive o presidente da Les Amies et Amis de la
Commune de Paris 1871 entre os anos de 1983 e 2003. Em sua conferência de-
nominada História e Vigência da Comuna de Paris, publicada em forma de texto
no Brasil em 2001, o historiador explica as principais causas, desenvolvimento e
consequências desse movimento para a História contemporânea.
Acerca das causas, pode se elencar três grandes séries. Primeiramente, a pró-
pria riqueza das tradições revolucionárias francesas. Lembre-se, caro(a) estudan-
te, que a população francesa em 1871, já havia participado, ou ainda, herdado das
ideias de movimentos revolucionários como a própria Revolução Francesa de
1789-1799, em 1830 e, também, em 1848. Desses movimentos, diferentes legados
permaneceram na população, como a corrente jacobina que canalizava o movi-
mento popular, a corrente dos sans-culottes, que via na soberania popular a sua
realidade e, por fim, a corrente socialista inspirada nas ideias de Graco Babeuf
em sua Conjuração dos Iguais (WILLARD, 2001).
A segunda causa, para o historiador, foi a grande expansão operária que a França
vivia nessa segunda metade do século XIX, afinal, é o período que a França está pas-
sando por sua própria Revolução Industrial. O final do segundo Império, liderado
por Napoleão III (1852-1870), foi marcado pelas maiores greves da história do país.
Uma terceira série de causas foi a própria falência e traição das elites que governaram
o país. A verdade é que, com a queda de Napoleão III e a proclamação da Terceira Re-
pública da França, o governo proclamado tinha mais medo da sua própria população
do que da própria Prússia que os havia derrotado recentemente (WILLARD, 2001).
Desta forma, com a formação da comuna e os operários no poder, Thiers foge
de Paris e vai para a cidade de Versalhes. Com a Comuna instaurada, várias mu-
danças são realizadas em favor do povo, como exemplo o fim do serviço militar
obrigatório, isenção do pagamento de aluguéis de outubro de 1870 a abril de 1871,
decreto de separação da Igreja do Estado, decretação dos bens da Igreja como bens
nacionais, além de uma série de melhorias para os trabalhadores (MARX, 2011a).

72
UNIDADE 2

Figura 4 - Foto das famosas barricadas da Comuna de Paris. Essa situou-se na Rua Voltaire durante
a Semana Sangrenta em 1871 / Fonte: Braquehais (1871, on-line).

Descrição da Imagem: a imagem é uma foto preto e branco que representa uma barricada em 1871,
construída pela população parisiense durante a Semana Sangrenta da Comuna de Paris. Na foto, é possível
observar dezenas de homens fardados e armados. O uniforme é composto por boné, calças, botas, cintos
e uma espécie de sobretudo. A maioria dos homens usam barba ou bigode. Eles estão em volta de uma
barricada. Trata-se de um muro erguido com paralelepípedos de pedra da própria rua Voltaire. Atrás do
muro, em um buraco, está um canhão apontado e direção de quem vê a foto. Ao fundo é possível vermos
uma construção de esquina com provavelmente quatro andares de arquitetura típica da cidade de Paris
no século dezenove. Ao lado do canhão, encontra-se um jovem erguendo um instrumento responsável
por empurrar as balas de canhão. No extremo canto direito, é possível ver um adolescente posando para
a foto de uma forma que aparenta ser escondida. À frente do muro, é possível ver uma pá que utilizaram
para levantar as pedras das ruas.

As mulheres tiveram uma participação importantíssima na Comuna de Paris.


O lugar ocupado pelas mulheres faz com que esse movimento seja considerado
atual até os dias de hoje. De acordo com Claude Willard (2001), desde o início as
mulheres participaram e se envolveram na Comuna tanto na linha de frente do
combate quanto na criação das oficinas autogeridas. Nesse contexto, criaram o
primeiro movimento feminino de massas, a “União das Mulheres para a defesa de
Paris e cuidado com os feridos” sob a direção de Elizabeth Dmitrieff, com apenas
20 anos. Seu objetivo era lutar por Paris e conseguir a emancipação das mulheres.

73
UNIDADE 2

PENSANDO JUNTOS

Lutando nas linhas de frente e gerindo as oficinas, as mulheres obtiveram um papel fun-
damental na Comuna de Paris. Contudo, isso não impediu que as mulheres sofressem
com o machismo. Dessa forma, as mulheres enfrentaram uma luta dupla. Uma pela Co-
muna e a outra contra o machismo, pois enfrentavam problemas como falta de instrução,
salários menores e a falta de direitos iguais.

Diante do ganho de força dos comunardos, Thiers pediu ajuda à Prússia que detinha
uma grande quantidade de soldados franceses como prisioneiros. Com medo do
crescimento dos ideais da comuna, a Prússia liberal dezenas de milhares de sol-
dados franceses que foram utilizados por Thiers para destruir a comuna de Paris.
De acordo com Claude Willard, o processo foi feroz, trinta mil homens, mulheres
e crianças foram mortos, dos 35 mil prisioneiros muitos foram deportados para a
Nova Calcedônia no oceano Pacífico (WILLARD, 2001). Com isso encerrava-se a
Comuna de Paris e entrava em vigor, novamente, a Terceira República da França.

Dante,
conseguiu acompanhar toda
essa discussão? São muitas as
mudanças políticas,
não é mesmo?

Ufa, até perdi o fôlego! Com certeza trata-se


de um dos períodos políticos mais complexos
que já estudei, a linha do tempo realizada foi
fundamental para me ajudar a compreender
tal momento histórico.

Perceba que a participação popular


foi fundamental nos movimentos e
revoluções realizados em 1830 com o
fim da restauração, em 1848 com a
Toda essa análise foi importante Primavera dos Povos e,
para responder a uma das principalmente, em 1871 quando foi
perguntas do início de nossa instaurado pela primeira vez um
jornada: "Quais movimentos e ideias autogoverno de caráter operário e
foram desenvolvidos no século XIX socialista: a Comuna de Paris.
que alteraram para sempre a
sociedade ocidental?" Perceba
Dante, o século XIX na França foi
responsável por espalhar por toda
Europa e por outras regiões do
mundo a força do povo nos
movimentos sociais.

74
UNIDADE 2

- Dante: Entendi. Logo, posso afirmar que o século XIX na França deixou como
legado para a história europeia e mundial que o povo possui a força necessária para
fazer as alterações políticas necessárias em sua sociedade?
- Professor de História: Perfeito, Dante. É isso mesmo. Esses movimentos
populares mostraram ao mundo a força da sociedade civil quando se une em
favor de um ideal. A história que analisaremos em seguida na nossa viagem no
tempo foi marcada por essas ideias populares, podemos afirmar que o mundo
nunca mais foi o mesmo. O receio de uma revolução popular tornou-se frequente
ao longo do século XX. Continuaremos a nossa investigação a seguir!
Caro(a) estudante, uma vez alerto que as descobertas desta unidade serão
extremamente importantes para a sua futura profissão docente. Ensinar os mo-
vimentos políticos populares aos alunos lhe ajudará a mostrar o poder político
que a sociedade civil, principalmente, a classe trabalhadora possui para mudar
a sua condição política. Isso ajuda os alunos a perceberem a importância que a
política possui no dia a dia, consequentemente os ajuda a perceber a importância
de possuírem uma participação política ativa.

75
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que você
obteve nessa segunda unidade sobre a importância das revoluções do século XVIII
para a formação da sociedade que vivemos hoje.

1. Analise o excerto abaixo com atenção:

“[...] Hegel comenta que todos os grandes fatos e todos os grandes personagens da
história mundial são encenados, por assim dizer, duas vezes. Ele se esqueceu de
acrescentar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa. Caussidière
como Danton, Luís Blanc como Robespierre, a Montanha de 1848-51 como a Mon-
tanha de 1793-95, o sobrinho como o tio. E essa mesma caricatura se repete nas
circunstâncias que envolvem a reedição do 18 de brumário”.

MARX, K. O 18 de brumário de Luís Bonaparte. São Paulo: Boitempo, 2011. p. 25.

O trecho pertence ao sociólogo Karl Marx, nele é criticado um fato histórico. Assinale
o fato histórico ao qual o sociólogo se refere.

a) Ao golpe 18 de brumário realizado por Napoleão Bonaparte em 1799, responsá-


vel por instaurar o governo do Diretório.
b) Ao golpe de 1830 realizado pela burguesia e por Luís Felipe de Orleans, criando
na França a Monarquia de Julho.
c) Ao golpe da Comuna de Paris em 1871, que deu início ao primeiro autogoverno
popular da história.
d) Ao golpe 18 de brumário realizado por Luís Napoleão Bonaparte, que enfraque-
cia a segunda república da França e abria as portas para a criação do Segundo
Império Francês.
e) A tomada do poder pelos jacobinos em 1793, instaurando um governo verdadei-
ramente popular na França revolucionária.

2. Com base em sua análise e reflexões acerca das informações acerca do Segundo
Império Francês, avalie as asserções a seguir e a relação proposta entre elas.

O Segundo Império da França foi responsável pelo desenvolvimento da economia


da França, assim como ocorreu um desenvolvimento da infraestrutura relacionada
a transporte como rodovias e ferrovias.

PORQUE

76
Com medo da Comuna de Paris, Napoleão III foi obrigado a desenvolver a economia
do país, para, assim, evitar novas convulsões sociais e tomada de poder como ocorreu
em 1871. Essa proposta fez com que o imperador fizesse um longo reinado de paz.

A respeito dessas asserções, assinale a opção correta.

a) As asserções I e II são proposições verdadeiras, e a II é uma justificativa correta


da I.
b) As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não é uma justificativa
correta da I.
c) A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
d) A asserção I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
e) As asserções I e II são proposições falsas.

3. Analise com atenção o excerto a seguir sobre a Comuna de Paris:

“É possível dizer que a Comuna influenciou todo o movimento operário francês e


internacional. Tal influência começou a se fazer sentir, desde 1873, na Espanha, com
a Comuna de Cartagena. Seguiram-se a Revolução de Outubro, a Revolução Espar-
taquista, a Comuna de Cantão, etc. Ela constitui, pois, um acontecimento histórico
da maior grandeza. A Comuna mantém até nossos dias, como bem o mostra este
colóquio, uma extraordinária atualidade, desde que se cumpra a condição de não
buscar nela um modelo, um livro de receitas.

WILLARD, C. História e vigência da Comuna de Paris. In: A Comuna de Paris na


História. São Paulo: 2001. p. 22.

Cientes desse impacto da Comuna de Paris, precisamos compreender as causas


deste movimento. Sendo assim, produza um texto explicando as três causas princi-
pais da Comuna de Paris.

77
3
A Transição
do Século XIX
Para o XX:
O Progresso e Desenvolvimento Não
Salvaram a Civilização Humana
Dr. Augusto João Moretti Junior

Nesta terceira unidade, temos como objetivo analisar dois grandes


processos históricos, do fim do século XIX e início do século XX, que
mudaram de forma definitiva a história da civilização humana. Inicia-
mos analisando o Imperialismo enquanto um movimento de neoco-
lonização do globo a partir da imposição da força dos países indus-
trializados. Em seguida, perquirimos como o Imperialismo colaborou
na formação da Primeira Guerra Mundial. Analisaremos o desenvol-
vimento deste conflito e as suas consequências.
UNIDADE 3

Figura 1 - Dante e seu professor de História viajando na janela temporal


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Suas calças são verdes e sapatos pretos. Carrega em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam estarem animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da
porta, por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.

Para compreendermos os acontecimentos da transição do século XIX e XX, daremos


prosseguimento à nossa situação hipotética de nossos viajantes. Dante e seu professor
de História seguem a sua jornada pela História Contemporânea. Ao passarem, uma
vez mais pela janela temporal, Dante percebe que eles se encontram em um lugar
completamente diferente do anterior, trata-se de um lugar mais tropical, quente e sem
as grandes cidades e indústrias que estava acostumado a ver em sua jornada.

80
UNICESUMAR

Professor, diferentemente de nossa última


passagem pela janela temporal, dessa vez, Você está
percebo que estamos em uma geografia parcialmente correto,
completamente diferente das que já caro aluno. De fato não
estivemos anteriormente. Não sei bem onde estamos mais na Europa,
estamos, mas pelo clima e vegetação não como você sabiamente
estamos na Europa. Voltamos para o Brasil? observou.

No entanto, não estamos de


volta à nossa amada terra, na
verdade, estamos bem longe,
estamos em algum lugar da
África no final do século XIX ou
ainda, no início do século XX.

Dante,
Posso saber, você sempre me
porque viemos para a África surpreende com
se estamos estudando o suas perguntas
desenvolvimento da Histórica sagazes.
Contemporânea, muito ligada,
ainda, aos países
Europeus.

Viemos para esse local e período


para que você possa responder a terceira
das suas principais dúvidas realizadas no
início da nossa viagem: "Por que o fim do
Verdade! século XIX e as primeiras décadas do
Lembro que essa questão século XX demonstraram que a civilização
surgiu e de fato não consegui humana não resolveu todos os seus
entender essa afirmação problemas por meio da tecnologia
que você realizou durante industrial, quando na verdade, alguns
as aulas. acontecimentos demonstraram um
retrocesso?"

Não se
preocupe, a hora
é agora!

81
UNIDADE 3

Caro(a) estudante de História Contemporânea, a dúvida de nosso viajante é mui-


to importante para a compreensão do século XX. O que o professor de História
quis dizer quando afirmou que a tecnologia industrial não resolveu os proble-
mas da humanidade como se esperava? Na verdade, demonstrou um retrocesso
humano? Antes de adentrarmos a uma análise histórica para compreender essa
dúvida, gostaria que você tentasse responder a essa pergunta agora. Com o conhe-
cimento que você possui neste momento, por que alguns acontecimentos, do final
do século XIX e início do XX, demonstraram um retrocesso para a civilização
humana? Existiram processos em que o povo resistiu à opressão do período?
Já sabemos que o processo de ensino e aprendizagem ocorre de uma forma
mais produtiva quando os alunos estão conscientes de que aquele tema possui um
significado e, até mesmo, uma aplicabilidade em suas vidas. Desta forma, o que
você responderia aos seus alunos se eles lhes perguntassem qual a importância
de se estudar o Imperialismo e a Primeira Guerra Mundial? O que isso tem a ver
com a vida deles hoje? Para ajudar nessa resposta e significação do conteúdo,
vamos verificar o que o nosso professor de História tem a dizer.

Nesse período ocorreu a primeira


Caro Dante, o final do século XIX e o revolução de caráter socialista e que
início do XXo XIX e o início do XX, alterou para sempre o equilíbrio
quando analisados de forma posterior político e econômico do planeta.
aos seus acontecimentos, foi Sendo assim, o conteúdo desta
fundamental para a compreensão da unidade nos ajuda a compreender
sociedade que vivemos hoje. É nesse aspectos atuais de nossa sociedade
contexto, que processos históricos como o racismo, as tecnologias da
terríveis para a nossa sociedade destruição, as crises do capitalismo
ocorreram e das quais apreendemos e o surgimento do confronto político
importantes lições, como a Primeira entre socialismo e capitalismo.
Guerra Mundial.

82
UNICESUMAR

Chegou a sua hora de tentar responder à dúvida de Dante. Com base na resposta
apresentada pelo professor de História e nos seus conhecimentos prévios, convido
você a refletir sobre: por que os processos históricos na transição do século XIX para
o XX demonstraram que as tecnologias industriais não necessariamente levaram
a civilização humana ao progresso? Quais processos históricos demonstram um
possível retrocesso nesse período? E avanço, quais processos históricos foram res-
ponsáveis pela melhoria? Aproveite para fazer uma lista com as ideias que você con-
seguiu refletir e guarde em um lugar de fácil acesso, afinal, pouco a pouco estamos
construindo um material que lhe será útil quando se tornar professor de História.
Agora que você já teve a oportunidade de fazer uma lista e já iniciou o seu processo
de aprendizagem sobre os processos históricos do final do século XIX e início do XX,
convido você a registrar em seu Diário de Bordo: quais são as suas principais dúvidas
acerca desse tema apresentado? O que você já sabe e quais questões vieram à sua mente
acerca do Imperialismo e Primeira Guerra Mundial? Por fim, como esses conhecimen-
tos podem ajudar o seu aluno a compreender melhor o mundo em que vive?

DIÁRIO DE BORDO

83
UNIDADE 3

O conceito de Imperialismo, assim como o processo histórico que recebe esse


nome, é um tema bastante trabalhado pela historiografia, das mais diversas linhas
teóricas. Contudo, visando facilitar o seu processo de aprendizagem, antes mesmo
de compreendermos esse processo histórico, precisamos definir alguns aspectos:
o que significa Imperialismo? De onde surgiu esse conceito?
Enquanto historiadores e estudantes da História, sabemos quão fundamental
são essas definições conceituais. Sendo assim, vamos à definição. Etimologica-
mente falando, a palavra imperialismo vem do termo em latim imperium, que
significa poder soberano ou poder supremo (FARIA, 1975, p. 481). No entanto,
buscando uma definição contemporânea, quando procuramos no dicionário
Michaelis o que é imperialismo, encontramos diversas respostas:


1 Forma de governo em que a nação é um império que tem por di-
rigente um imperador ou uma imperatriz.; 2 Designação que, no Se-
gundo Reinado brasileiro, era dada pelos liberais à ação pessoal de
Dom Pedro II no exercício do poder moderador, espécime de quarto
poder privativo do monarca que lhe assegurava também as atribui-
ções de chefe do Executivo e de primeiro representante da nação.;
3 ECON, POLÍT Expansão ou tendência para a expansão do
poder político e econômico de uma nação ou Estado sobre ou-
tro.;4 ECON, POLÍT Sistema de governo que busca expandir-se
e dominar países mais fracos sob o ponto de vista econômico,
político, administrativo, cultural etc.; expansionismo.; 5 FIG
Influência decisiva exercida por alguém ou algo (p ex, uma teoria,
instituição, doutrina ou concepção); hegemonia, soberania, suprema-
cia: O imperialismo da razão neoliberal. O imperialismo linguístico
constitui séria ameaça à liberdade cultural. O imperialismo dos meios
de comunicação (MICHAELIS, [2022], on-line, grifo nosso).

Como sabemos o termo império é utilizado há milhares de anos pelos povos das
mais diferentes regiões do globo. Contudo, o que utilizamos aqui está vinculado
às definições três e quatro apresentadas pelo dicionário. A partir de agora, uti-
lizaremos o conceito de imperialismo para identificar um conjunto de ações e
ideologias ocorridas no século XIX e XX, no qual alguns países industrializados,
principalmente europeus, realizaram uma expansão e dominação econômica,
política, cultural e territorial sobre outros povos e civilizações.

84
UNICESUMAR

Para responder a origem do conceito que utilizamos hoje, precisamos saber


que este ganhou destaque quando o inglês John Atkins Hobson, em 1902, pu-
blicou o primeiro estudo sistemático acerca deste tema: Imperialism: a Study.
O autor dividiu a sua análise em duas partes principais. Primeiro, realizou um
estudo sobre a economia do imperialismo. Essa primeira parte tornou-se essen-
cial para a ligação entre o imperialismo e os aspectos econômicos da Revolução
Industrial. Na segunda, o autor trabalhou os aspectos políticos do imperialismo
(HOBSON, 1981; 2005). Seu trabalho descreveu os aspectos negativos do impe-
rialismo enquanto um empreendimento econômico de algumas classes sociais,
que não beneficiaram a nação como um todo, mas apenas determinados grupos.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Estudio del imperialismo


Autor: John Atkins Hobson
Editora: Alianza Universidad
Sinopse: essa obra é uma referência histórica, assim como um docu-
mento histórico. Trata-se do primeiro estudo sistematizado, respon-
sável inclusive pela criação do conceito de imperialismo que utiliza-
mos hoje. Essa obra serviu de base para compreendermos como o
imperialismo foi resultado de um movimento econômico criado para
beneficiar alguns grupos econômicos. Acesse pelo QR CODE.

Apenas para você ter uma dimensão, caro(a) estudante, essa obra influenciou
Vladimir Ilyich Ulyanov, popularmente conhecido como Lenin, na escrita, às
vésperas da Revolução Russa, de sua obra Imperialismo: Fase Superior do Ca-
pitalismo (1916). Na obra, Lênin explica o Imperialismo como uma das fases do
capitalismo, mais especificamente: [...] em sua essência econômica o imperialis-
mo é o capitalismo monopolista (LENIN, 1999, p. 119).
Em relação ao seu período e local de acontecimento, de acordo com o histo-
riador britânico, Eric Hobsbawm (2016), a era do imperialismo ocorreu, prin-
cipalmente, entre os anos de 1875/1880 e 1914, em um movimento de divisão
formal do globo pelas potências industriais europeias juntamente ao Japão e
Estados Unidos da América. Com exceção da Europa e da América, o globo fora

85
UNIDADE 3

dividido entre eles e as duas principais regiões que sofreram com isso foram a
África e o Oceano Pacífico como um todo. Em 1914, a África estava inteiramente
dividida entre o império britânico – que se tornará o maior império de toda a
história da humanidade com 35,5 milhões de quilômetros quadrados, aproxima-
damente 23,84% de toda área terrestre do planeta – franceses, alemães, belgas,
portugueses e espanhóis. Apenas a Etiópia conseguiu resistir e se manter indepen-
dente. Já a região do Oceano Pacífico não restou nem um estado independente,
sendo distribuídos, por sua vez, entre britânicos, franceses, alemães, holandeses,
estadunidenses e japoneses (HOBSBAWM, 2016).
A América, de forma geral, não foi dividida entre os países imperialistas. A
esse fato atribui-se como fator o aumento da força e do poder dos Estados Unidos
da América, que impôs o seu domínio econômico, militar e político sobre qua-
se todo continente, contudo, sem uma conquista formal, como estava sendo
realizado na África, por exemplo. Nenhum país europeu desafiou a chamada
Doutrina Monroe – América para os americanos – na qual os estadunidenses
adotaram para si a missão de impedir o domínio europeu aqui no continente.
Esta doutrina fora expressa pelo presidente estadunidense James Monroe
em uma mensagem ao congresso americano no dia dois de dezembro de 1823.
Abaixo traduzimos uma das partes fundamentais deste discurso.


[...] como princípio em que estão envolvidos os direitos e interesses
dos Estados Unidos, que os continentes americanos, por a condição
livre e independente que eles assumiram e mantêm, não devem,
doravante, ser considerados como sujeitos para futura colonização
por quaisquer potências européias [...] Devemos-lhe, pois, à fran-
queza e às relações amigáveis ​​existentes entre os Estados Unidos
e essas potências para declarar que devemos considerar qualquer
tentativa de sua parte de estender seu sistema a qualquer parte deste
hemisfério como perigosa para nossa paz e segurança. Com as colô-
nias ou dependências existentes de qualquer potência européia, não
interferimos e não devemos interferir. Mas com os Governos que
declararam sua independência e a mantêm, e cuja independência
temos, por grande consideração e por princípios justos, reconhe-
cida, não poderíamos ver qualquer interposição com o propósito
de oprimi-los ou controlar de qualquer outra maneira seu destino,

86
UNICESUMAR

por qualquer poder europeu sob qualquer outra luz que não seja
a manifestação de uma disposição hostil em relação aos Estados
Unidos [...] (MONROE, 1823, on-line).

Como podemos analisar no documento histórico mencionado, os Estados Uni-


dos, a partir deste discurso, passaram a considerar a interposição dos países euro-
peus na América, em qualquer região, como uma “disposição hostil em relação aos
Estados Unidos”. Perceba, caro(a) estudante, que se trata de questão de interesses
particulares daquela nação. A imagem a seguir representa bem esta doutrina:

Figura 2 - Charge política de 1896 fazendo referência à Doutrina Monroe


Fonte: Gillam (1896, on-line).

Descrição da Imagem: imagem preta e branca. Nela temos uma paisagem separada em dois planos.
Esses planos são divididos por um rio, que representa o Oceano Atlântico. À direita do rio, encontra-se uma
placa escrita: “Não ultrapassar. América para os americanos. Tio Sam” Atrás dela encontra-se o Tio Sam,
símbolo dos Estados Unidos da América. Ele carrega um rifle com baioneta, usa um boné, com cabelos
compridos e barba. Usa uma roupa militar e uma calça listrada. Ele se posiciona de forma a dar a impressão
que está protegendo três pessoas ao fundo. Dois estão de pé e um ajoelhado, representando os países
Nicarágua e Venezuela. Do outro lado do rio, que seria a Europa, encontram-se cinco figuras europeias,
vestidas a caráter de sua cultura. São elas: Portugal, Espanha, França, Grã-Bretanha e Alemanha. Em baixo
na imagem está escrito: Mantenha distância! A Doutrina Monroe deve ser respeitada.

87
UNIDADE 3

Tendo realizado essas primeiras definições podemos nos perguntar agora: quais
foram as causas do Imperialismo? Se levarmos em consideração a análise dos
já mencionados Hobson (1902) e Lenin (1916), sabemos que o Imperialismo é
uma fase do capitalismo resultante da Revolução Industrial. Isso mesmo, a Re-
volução Industrial, estudada na primeira unidade deste livro, tem uma ligação
direta com o Imperialismo, sendo uma de suas principais causadoras. Mas por
que essa afirmação é correta? Veja, quando analisamos o imperialismo e o porquê
das potências se lançarem e dividirem o globo entre si, perceberemos que pos-
suíam dois objetivos principais: primeiro a busca por matérias-primas e
segundo, mercado consumidor. Com essas informações, a reflexão fica simples.
Quais regiões do planeta eram ricas em recursos naturais ao mesmo tempo que
possuíam uma grande densidade populacional? Isso mesmo, a África como um
todo e os Estados do oceano Pacífico. Lembre-se que a América não fora atingida
devido, principalmente, à Doutrina Monroe.
Com a Revolução Industrial e o aumento da produção, novos problemas ou
oportunidades se apresentaram: para aumentar a produção, é preciso matéria-pri-
ma, assim como do que adianta aumentar a produção se não temos para quem
vender? Percebe, caro(a) estudante, a Revolução Industrial influenciou de forma
determinante na busca por esses dois objetivos, que, por sua vez, colaboraram nesse
processo histórico – bastante negativo, um retrocesso do ponto de vista humano –
que conhecemos como Imperialismo. De acordo com Hobsbawm (2016, p. 102):


Então, o fato maior do século XIX é a criação de uma economia
global única, que atinge progressivamente as mais remotas paragens
do mundo, uma rede cada vez mais densa de transações econômicas,
comunicações e movimentos de bens, dinheiro e pessoas ligando
os países desenvolvidos entre si e ao mundo não desenvolvido. Sem
isso não haveria um motivo especial para que os Estados europeus
tivessem um interesse algo mais que fugaz nas questões, digamos,
da bacia do rio Congo, ou tivessem se empenhado em disputas di-
plomáticas em torno de algum atol do Pacífico. Essa globalização
da economia não era nova, embora tivesse se acelerado considera-
velmente nas décadas centrais do século.

88
UNICESUMAR

Como aponta o historiador, esse movimento do século XIX, o imperialismo,


possuía raízes fortemente econômicas e colaborou na criação de uma economia
global, intensificando o já antigo processo de globalização.
Acerca deste processo de neocolonialismo, como já analisamos anteriormen-
te, o continente Africano foi o mais afetado. Na verdade, ocorreu uma “divisão
formal” deste continente entre as potências europeias imperialistas entre os anos
de 1884 e 1885 que ficou conhecida como Conferência de Berlim, Conferência
do Congo, ou ainda, Conferência da África Ocidental. Para o professor da Uni-
versidade de Londres, Matthew Craven, o objetivo dessa conferência:


[...] era ‘gerenciar’ o processo de colonização em curso na África [...]
para evitar a eclosão do conflito armado entre potências coloniais
rivais. Seu resultado foi a conclusão de um Ato Geral ratificado por
todas as principais potências coloniais, incluindo os EUA. Entre
outras coisas, o Ato Geral estabeleceu as condições sob as quais o
território pode ser adquirido na costa da África; internacionalizou
dois rios (o Congo e o Níger); orquestrou uma nova campanha para
abolir o comércio terrestre de escravos; e declarou como “neutra”
uma vasta faixa da África Central delimitada como a “bacia conven-
cional do Congo”. Um evento paralelo foi o reconhecimento dado
ao incipiente Estado Livre do Congo do rei Leopoldo, que emergiu
misteriosamente das atividades científicas e filantrópicas da Asso-
ciation internationale du Congo (CRAVEN, 2015, p. 32)

Para além da divisão formal do continente, devemos, ainda, analisar dois aspec-
tos principais, presentes na citação apresentada, que são fundamentais para o
movimento imperialista. Primeiramente, o reconhecimento do Estado livre do
Congo como território do rei da Bélgica, Leopoldo II. Com a mentira de que
suas intenções eram científicas e filantrópicas na região, o rei belga “enganou” a
todos, e iniciou no Congo um dos governos mais violentos de todo período im-
perialista. Em busca de explorar seus recursos naturais, estima-se que os belgas
assassinaram entre 5 e 10 milhões de africanos, além de mutilarem, violentarem e
sequestraram outros milhões, principalmente com a decepação de uma das mãos,
como uma punição pela baixa produtividade (HOCHSCHILD, 1999).

89
UNIDADE 3

Figura 3 - Um pai encara a mão e o pé de sua filha de cinco anos, que foi punida por colher pouca
borracha para os belgas no Congo / Fonte: Harris e Harris (1904, on-line).

Descrição da Imagem: imagem é uma fotografia em preto e branco. No plano principal e ao centro da
imagem, temos um homem negro de perfil voltado para a esquerda com apenas uma tanga, sentado
na frente de um jardim contendo quatro palmeiras e dois jovens negros usando apenas tangas, que
estão atrás de uma planta babosa em um vaso à direita, o observam. O homem observado está sentado
apoiando seu braço esquerdo em seu joelho esquerdo. Tem um olhar contemplativo e triste para um pé
e uma mão que estão colocadas na sua frente. Ao fundo, há uma criança negra usando uma tanga atrás
de uma palmeira à direita.

Um segundo ponto importante a ser mencionado é que a Conferência realizada


em Berlim, na Alemanha, também possuía como objetivo colocar os alemães na
corrida imperialista na África. Tanto alemães como italianos estavam “atrasados”
na corrida imperialista, se comparados com as outras nações industrializadas. Isso
se devia pelo tardio processo de unificação destes dois países. A Itália se unificou e
tornou-se uma nação em um movimento, o Risorgimento, entre os anos de 1815 a
1870. Já os alemães se unificaram apenas em 1871, após a guerra franco-prussiana.
Perceba, caro(a) estudante, em 1871 os ingleses já possuíam vastos territórios
e já tinham consolidado boa parte de seu império. Sendo assim, após a unificação
da Itália e da Alemanha, os seus respectivos líderes queriam participar do pro-
cesso imperialista, sendo que a Conferência de Berlim foi uma das tentativas dos
alemães de conseguir territórios nesse continente. Entretanto, as outras potências

90
UNICESUMAR

não estavam dispostas a fornecer grandes concessões, ficando para os alemães e


italianos regiões consideradas menos ricas e produtivas.
Esse fato acabou por gerar uma tensão entre as potências imperialistas euro-
peias, tensão esta que resultou no maior conflito da história humana: a Primeira
Guerra Mundial. Por conseguinte, de antemão podemos afirmar que existe uma
relação direta entre a Primeira Guerra Mundial e o Imperialismo, tendo em vista
que este movimento gerou a inimizade entre os países europeus, o protecionismo
e a tensão necessária para a eclosão do conflito.
Sem sombra de dúvidas duas potências industriais se destacaram nesse processo
imperialista: em segundo lugar, os franceses e, em primeiro lugar, o Império Britânico.
Para você poder dimensionar o que estou escrevendo, o mapa abaixo demonstra todas
as regiões do mundo sob o domínio ou influência britânica na época de seu auge.

Figura 4 - Mapa mundi demonstrando o Império Britânico em seu auge


Fonte: Vadac (2008, on-line).

Descrição da Imagem: na imagem, possuímos um mapa mundi cinza claro. O fundo branco representa os
oceanos e mares. No mapa, está pintado de uma cor vinho todas as regiões que faziam parte do Império
Britânico no seu auge, contendo principalmente a atual região do Canadá, ilhas no Caribe, a Guiana na
América do Sul, todo o extremo sul da África, grande parte da região leste da África, o nordeste e o sul da
península árabe, região continental da Índia, ilhas na Oceania e a Austrália.

Como vimos anteriormente que ela possuía 35,5 milhões de quilômetros quadra-
dos, aproximadamente 23,84% de toda área terrestre do planeta, ¼ da população
mundial estava sob o seu poder.

91
UNIDADE 3

Devido a este grande domínio, os britânicos se envolveram em grandes conflitos


e venceram basicamente todos. Para elucidar, preparamos para vocês uma tabela que
organiza três conflitos nos quais os britânicos se envolveram ao longo do século XIX.

Onde e Potência
Conflito Motivos Desfecho
Envolvida

A proibição da venda
do ópio pelo governo
Os britânicos
chinês em 1839 e a ma-
vencem e obrigam
Guerra do Ásia/China nutenção do comércio
a China a abrir
Ópio Potência envolvi- pelos britânicos fez
os seus portos e
(1839/1842 e da: Grã-Bretanha com que os chineses
a ceder a ilha de
1856-1860) Vs Chineses afundassem navios
Hong-Kong aos
britânicos, fornecendo o
britânicos.
motivo para o início do
conflito.

O governo britânico
se envolveu para
Ásia/Índia
proteger os inte-
Potência envolvi-
Levantes armados con- resses das compa-
Revolta dos da: Grã-Bretanha
tra a ocupação britânica nhias de comércio,
Sipaios e Companhia das
e medidas tomadas pela venceu o Império
(1857) Índias Orientais
Companhia das Índias. Mogol e transfe-
vs Índia/Império
riu o governo da
Mogol
Índia para a Coroa
Britânica.

África/África do Sul
Guerra dos Potência envolvi- O Exército britânico que-
Vitória britânica que
Bôeres da: Grã-Bretanha ria se apossar das minas
passou a controlar
(1880/1881 e vs colonos de de ouro e diamante
esse território.
1899-1902) origem holandesa presentes nesta região.
e francesa (bôeres)

Quadro 1 - Principais conflitos do Imperialismo


Fonte: o autor.

A Guerra do Ópio, como podemos analisar na tabela, na metade do século XIX,


já demonstrava que os imperialistas estavam dispostos a fazer qualquer coisa
para manter intacto os seus interesses. É válido ressaltar que a China nunca foi

92
UNICESUMAR

dominada diretamente, nunca se tornou propriedade particular de uma potência


europeia. Contudo, ela foi dividida pelos imperialistas nas chamadas zonas de
influência. A charge a seguir demonstra bem a ideia que estamos trabalhando.

Figura 5 - Potências imperialistas dividem a China entre si / Fonte: Meyer (1898, on-line).

Descrição da Imagem: charge colorida contendo seis personagens. Ao fundo de pé encontra-se um


senhor com expressão desesperada. Possui longas unhas, um bigode comprido. Usa um chapéu com
pena de pavão. Usa uma roupa vermelha com mangas na cor amarela. Buscava-se caracterizá-lo como
um chinês. Em sua frente, sentando-se em uma mesa encontra-se à esquerda uma senhora com uma
faca na mão, coroa na cabeça, muitas joias, cabelo branco e véu. Ao seu lado, encontra-se um homem,
de bigode e capacete militar com a ponta de uma lança no topo, segura uma faca com duas mãos que
finca em cima de um pedaço redondo de palha onde se encontra escrito: China. No seu lado, encontra-se
um homem de barba e bigode, chapéu branco, roupa verde com vermelho, também segura uma faca
enquanto olha para a China que está sendo dividida. Apoiado em suas costas, uma mulher loira, com as
cores da república francesa, esta olha atenta para a divisão. Por fim, à direita na mesa, encontra-se um
homem, com o cabelo com coque estilo samurai que olha atentamente para esse processo de divisão.
Possui uma catana ao seu lado em cima da mesa.

93
UNIDADE 3

Professor, estou com uma dúvida: se


o imperialismo foi um movimento das
elites políticas e econômicas dos
países imperialistas, e teve um
impacto tão negativo para a
civilização humana, como que as
sociedades europeias permitiram
que seus líderes e empresas
realizassem tal fenômeno?

Esta é uma ótima


pergunta. E para
respondê-la precisamos
considerar alguns
aspectos.

Um primeiro elemento que devemos observar é a questão do imperialismo


social. De acordo com o historiador britânico, Eric Hobsbawm (2016), o impe-
rialismo foi utilizado como uma estratégia para diminuir o descontentamento
da população interna das metrópoles. Esse processo histórico contribuiu para
que as massas se identificassem com os seus países, com a sua nação. Ou seja,
possuir colônias fazia parte do status quo de uma grande potência. Desta
forma, o imperialismo acabava por trazer essa legitimidade aos estados impe-
rialistas dentro de seu próprio território (HOBSBAWM, 2016).
Somado a esse aspecto de status, é fundamental discutirmos neste momento
o fato de que neste período a população europeia, de forma geral, se considerava
superior em relação aos povos das colônias. De acordo com o historiador:


Assim sendo, a sensação de superioridade que uniu os brancos oci-
dentais - ricos, classe média e pobres - não se deveu apenas ao fato
de todos eles desfrutarem de privilégios de governante, sobretudo
quando efetivamente estavam nas colônias. Em Dacar ou Mom-
baça, o mais modesto funcionário era um amo e era aceito como
gentleman por pessoas que nem teriam notado sua existência em
Paris ou Londres; o operário branco era um comandante de negros
(HOBSBAWM, 2016, p. 115).

94
UNICESUMAR

Esta passagem “a sensação de superioridade que uniu os brancos ocidentais” ilus-


tra um dos piores aspectos utilizados no imperialismo para legitimar a ação dos
colonizadores: o racismo. Pior ainda: o racismo defendido na época pelo que hoje
denominamos como pseudociências.
Os europeus acreditavam que eram uma “raça” senhorial, selecionada pelo
divino para governar aqueles que seriam, segundo eles, naturalmente inferiores.
Para compreendermos esta discussão, vamos focar em dois aspectos. Primeiro,
a ideia do “Fardo do homem branco” ou The White Man’s Burden. Em 1899, o
poeta inglês Rudyard Kipling escreveu e publicou um poema denominado “The
White Man’s Burden”. Nele, o poeta exaltava a difícil missão dos países imperia-
listas – Estados Unidos – de levar a “civilização” para as colônias. De acordo com
essa visão, os imperialistas
estavam realizando um fa-
vor, um benefício para os
povos colonizados. Tal ideia
teve como um de seus prin-
cipais objetivos legitimar o
processo de conquista dos
Estados Unidos da América
sobre as ilhas das Filipinas.
A imagem a seguir é uma re-
presentação fiel deste ideal.
Figura 6 - Charge representando o “Fardo do homem branco”
Fonte: Gillam (1899, on-line).

Descrição da Imagem: uma charge colorida. Existe uma montanha composta por diversas pedras gran-
des. No topo da montanha, está uma estátua escrita civilização. As pedras que compõe o caminho pos-
suem palavras escritas como: ignorância, opressão, superstição, canibalismo brutalidade, barbarismo,
escravidão, crueldade. Escalando as pedras, rumo ao topo, encontram-se dois homens. O primeiro, mais
a frente, é um senhor com jaqueta vermelha, calça e camisa branca. Usa uma cartola preta. Apoia-se
na pedra com a ajuda de um cajado. Esse homem carrega em suas costas um cesto de palha com cinco
homens dentro. São homens das colônias da qual é possível ler o nome de 3: China, Zulu, Índia. Atrás,
encontra-se a representação do Tio Sam, símbolo dos EUA. Ele usa uma cartola com listras brancas e
vermelhas, estrelas brancas sobre um fundo azul. Uma jaqueta azul com calça listrada em branco e ver-
melho, sapatos pretos. No braço esquerdo, uma faixa branca com uma cruz vermelha. Em suas costas,
encontra-se um cesto de palha com cinco homens também representando homens das colônias, é possível
ler os nomes Cuba, Hawai, Filipinas.

95
UNIDADE 3

Caro(a) estudante, se refletirmos por um instante, fica evidente que tal ideia, do
fardo do homem branco, é evidentemente racista, tendo em vista que colocava os
europeus e estadunidenses como as únicas nações desenvolvidas que possuíam a
missão e a capacidade de “salvar” os outros povos levando-os até o que denomina-
vam de civilização. Um segundo aspecto que gostaríamos de analisar, em relação
ao racismo, está vinculado ao denominado Darwinismo Social. Essa teoria lhe
ajudará, também, a compreender o “fardo do homem branco”.
Em 24 de novembro de 1859, foi publicado, pela primeira vez, o livro A Ori-
gem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou Preservação das Raças Fa-
vorecidas na Luta pela Vida, do naturalista Charles Darwin. Trata-se de um
livro revolucionário para a civilização humana que, se formos explicar de uma
forma bastante simplista, realizava uma análise do desenvolvimento das espécies
a partir da teoria da evolução. Nesta, as espécimes passaram por um processo
de seleção natural de acordo com a capacidade que os seus indivíduos possuem
de se adequar ao seu ambiente e, consequentemente, sobreviver e se reproduzir.
A partir da obra de Darwin, alguns autores a distorceram a ponto de ela ficar
irreconhecível. De acordo com Niall Ferguson: “pseudocientistas do século XIX
dividiam a humanidade em ‘raças’ com base nas características físicas externas,
ordenando-as segundo diferenças hereditárias não só físicas, mas também de
caráter. Anglo-saxões estavam obviamente no topo, africanos no último lugar”
(FERGUSON, 2017, p. 277). Uma dessas pseudociências foi criada por George
Crombe em seu livro de 1825: Um sistema de frenologia. Nele, Crombe buscava
explicar as diferenças entre as raças a partir de uma análise dos crânios das pes-
soas. A frenologia: “era apenas uma de uma série de falsas disciplinas que tendiam
a legitimar as suposições sobre diferenças raciais que, havia muito tempo, eram
correntes entre colonizadores brancos” (FERGUSON, 2017, p. 278).
Em relação ao chamado darwinismo social, de acordo com Arno Mayer
(1987, p. 276):


Proporcionou um apoio pseudocientífico para as antigas classes domi-
nantes e governantes que vinham se reafirmando. O darwinismo social se
adequava à sua mentalidade elitista, onde a ideia de desigualdade estava
profundamente enraizada. Em sua concepção, os homens eram desiguais
por natureza, e o mesmo ocorria quanto à estrutura da sociedade, para
sempre destinada a ser dirigida pela minoria dos mais aptos a governá-la.

96
UNICESUMAR

Sendo assim, a deturpação das ideias de Charles Darwin, serviram para que os
imperialistas justificassem o processo violento e criminoso que realizavam nas
colônias, tanto na África quanto no oceano pacífico, sob a justificativa de que esta-
vam levando a civilização, fardo do homem branco, ou que eram uma raça superior
destinada, pela natureza, a governar as raças inferiores. Em conclusão, o imperia-
lismo se utilizou de ideias racistas para se beneficiar de seu processo de expansão.
Acerca das ideias racistas, recomendamos que assista o documentário indi-
cado abaixo.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Racismo, uma História


Ano: 2007
Sinopse: neste documentário realizado pela BBC, é apresentado
como o racismo foi se configurando no planeta, com uma análise a
partir do século XV. O documentário é dividido em três episódios, sendo que
o episódio dois, “Impacto Fatal”, explica como o Imperialismo colaborou para
a propagação do racismo e, também, colaborou no genocídio de diversos
povos e culturas pelos países imperialistas europeus.

Entre outras consequências do Imperialismo, Niall Ferguson (2017, p. 376) explica que


Sem a propagação do domínio britânico pelo mundo, é difícil
acreditar que as estruturas do capitalismo liberal tivessem se es-
tabelecido com tanto sucesso em tantas economias diferentes pelo
mundo. Os impérios que adotaram modelos alternativos – o russo
e o chinês – impuseram uma miséria incalculável aos povos que fo-
ram seus súditos. Sem a influência do comando imperial britânico,
é difícil acreditar que as instituições da democracia parlamentar
teriam sido adotadas pela maioria dos estados no mundo, como
são hoje. A Índia, a maior democracia do mundo, deve reconhecer
ao comando britânico, mais do que tem feito. Suas escolas de elite,
suas universidades, seu serviço público, seu exército, sua imprensa
e seu sistema parlamentar, todos ainda têm modelos britânicos re-
conhecíveis. Finalmente, há a própria língua inglesa, talvez o artigo

97
UNIDADE 3

de exportação mais importante dos últimos trezentos anos. Hoje,


350 milhões de pessoas falam inglês como primeira língua e cerca
de 450 milhões como segunda língua.

Segundo o historiador, a propagação britânica foi responsável por expandir as


estruturas do capitalismo e instituições democráticas que resultaram na socie-
dade em que vivemos hoje, na maior parte do globo terrestre, inclusive na forma
como organizamos os nossos processos educativos.

Correto, Dante. O imperialismo nos


ajuda a compreender como o
desenvolvimento tecnológico,
industrial e econômico, não
necessariamente resultam em um
Professor, podemos afirmar, que progresso positivo para a civilização
o Imperialismo foi um movimento humana, tendo em vista que o
negativo para o desenvolvimento imperialismo fora um processo
da civilização humana, tendo em resultante da Revolução Industrial.
vista a violência do processo, o
racismo das pseudociências, a
dominação, o genocídio de
culturas inteiras, etc.

Alguma outra
consequência que
devemos analisar
agora? Sim,
mas para isso iremos
nos transportar agora
para 1914 na Europa
Ocidental. Vamos
nessa!

Figura 7 - Soldados em uma trincheira em 1914


Fonte: Agence Rol (1914, on-line).

Descrição da Imagem: foto em preto e branco. Nela é possível vermos, aproximadamente, vinte dois
homens em uma linha, apoiados em uma trincheira. O chão é coberto por grama. Ao fundo, mais distante,
uma vegetação alta. Os soldados, na linha de frente, estão apontando os seus fuzis. Os homens usam
bonés, casacos, calças e botas. Cintos de couro e mochilas com seus equipamentos.

98
UNICESUMAR

Nesse momento, os nossos viajantes do tempo são levados para o próximo des-
tino, a França, à beira do Rio Marne, no ano de 1914. Trata-se da região de uma
das maiores batalhas da Primeira Guerra Mundial, a Batalha de Marne. A partir
de agora, juntamente a Dante e seu professor de História, faremos uma análise
historiográfica desse grande acontecimento histórico, a Primeira Guerra Mundial,
com o objetivo de responder algumas perguntas principais:

■ Quais foram as principais causas da Primeira Guerra Mundial?


■ Como esse conflito se desenvolveu e por que ficou conhecido como a
Grande Guerra?
■ Qual foi o seu desfecho?
■ O Brasil participou de forma efetiva deste conflito?

A pergunta: “Quais foram as principais causas da Primeira Guerra Mundial?”,


provavelmente, é uma das mais importantes para compreendermos esse processo
histórico como um todo. Uma primeira causa, que já foi apontada nesta unidade,
é o imperialismo. O fato é que o processo de expansão das potências industriais
imperialistas resultou em uma tensão muito grande entre elas. Vimos anterior-
mente, nesta mesma unidade, que países como Itália e Alemanha, devido à sua
tardia unificação, chegaram tarde na corrida por novas colônias, o que acabou
gerando um descontentamento, que, por sua vez, resultou no maior conflito ar-
mado já vivenciado pela civilização humana.
Esta tensão entre as potências imperialistas perdurou até a Primeira Guerra
Mundial, e ficou conhecida historicamente como Paz Armada. Trata-se de um
período do fim da guerra franco-prussiana, 1871, até 1914, no qual, as potências
europeias viveram um período de paz entre elas, ao mesmo tempo em que au-
mentaram a sua capacidade bélica, seus exércitos e produção de armas. Ou seja,
reinava a paz, mas todos sabiam que era algo momentâneo, que em um momento
ou outro a guerra explodiria. Vamos compreender melhor essa discussão.
De acordo com João Fábio Bertonha, após a Santa Aliança e Congresso de
Viena na primeira metade do século XIX, a Inglaterra tornou-se a maior potência
mundial, com a queda do império napoleônico. Além de possuir a marinha mais
poderosa do planeta Terra e controlar o comércio e a economia, esse país havia
iniciado a sua industrialização, de forma pioneira, na segunda metade do século
XVIII. Contudo, esse país, diferentemente de Napoleão Bonaparte, não tentou

99
UNIDADE 3

controlar diretamente os outros países europeus, o que facilitou o seu domínio


mundial. É interessante ressaltar que a Europa, desde a Idade Média, não permitia
que um país isoladamente dominasse todo continente. Quando algum se desta-
cava, os outros países se uniam para derrotá-lo (BERTONHA, 2011).
A partir de 1885, outras duas grandes potências começam a se destacar no
cenário mundial. A primeira, os Estados Unidos da América que realizava uma
grande transformação industrial que o tornaria o país mais rico do mundo já no
final do século XIX. Contudo, como suas elites não possuíam a intenção de entrar
na disputa europeia nem competir militarmente, permitiu que estabelecesse boas
relações com os países do velho continente. No entanto, a Alemanha após a sua
unificação em janeiro de 1871, de uma forma muito rápida, alcançou um rápido
desenvolvimento científico, industrial, econômico e militar. Ao contrário dos
EUA, possuía uma elite militarista que rapidamente desenvolveu uma grande
força militar para alcançar o seu desejo de redistribuir as riquezas e os poderes
globais (BERTONHA, 2011, p. 21-22). Como vimos anteriormente, os outros
países europeus não gostaram nada disso, e se uniram para combater e destruir
o avanço alemão, tornando o período da Paz Armada extremamente conturbado.
De acordo com o historiador,


[...] não significa dizer que a Alemanha foi a única culpada pela
guerra, afinal o que ela queira (colônias, territórios, hegemonia na
Europa) era simplesmente o que todos os outros Estados europeus
tinham ou ao menos ambicionavam. Não é possível falar de “culpa
alemã” [...] mas talvez de responsabilidade alemã, que desafiou o
status quo e levou a alterações no sistema de alianças europeu e,
por fim, à guerra (BERTONHA, 2011, p. 36-37).

O excerto apresentado reforça a ideia de que a Alemanha não pode ser culpada
pela guerra sozinha, no entanto, fora a única potência com poder suficiente para
questionar o sistema estabelecido na Europa até então.
Desta forma, a “ameaça” alemã agitou o jogo político europeu no período da
Paz Armada. Nesse contexto, alguns elementos já perigosos por si só, tornaram-se
ainda mais prejudiciais quando se fundiram, estamos falando do nacionalismo,
colonialismo e militarismo. Como analisamos anteriormente, o imperialismo como
consequência da Revolução Industrial buscava matérias-primas e mercado con-

100
UNICESUMAR

sumidor nas colônias na África e no Oceano Pacífico. Contudo, mais do que força
econômica, as colônias também se tornaram símbolo de força, prestígio político
e autoafirmação de um povo. Isso colaborou na formação de um nacionalismo
exacerbado, a ideia de superioridade de uma nação frente às outras. A busca pe-
los interesses da “nação” e seu fortalecimento colaborou na formação da Primeira
Guerra Mundial, tendo em vista que, após o imperialismo ter repartido todo o
globo, a única forma de aumentar o território de uma nação, como a Alemanha, que
chegará depois na disputa neocolonial, era diminuindo, tomando de outro país, algo
que gerava uma tensão e em um momento ou outro levaria a um conflito entre essas
potências (BERTONHA, 2011). A corrida imperialista causou uma tensão entre as
potências, gerada principalmente pelo protecionismo. De acordo com Eric Hobs-
bawm (2016, p. 109): “[...] o novo imperialismo foi o subproduto natural de uma
economia internacional baseada na rivalidade entre várias economias industriais
concorrentes, intensificada pela pressão econômica dos anos 1880”.
Por conseguinte, o período da Paz Armada, além de ser marcado pelo impe-
rialismo e nacionalismo, também teve presente um grande militarismo. Diante
da ameaça eminente de conflito com outra potência europeia, as nações iniciaram
uma mudança na forma de pensar a guerra, de se preparar. Trata-se da formação
de um militarismo exacerbado. Caro(a) estudante, é importante que você tenha em
mente que, para as elites políticas do início do século XX, a guerra possuía uma
conotação completamente diferente da que possuímos hoje. Enquanto possuímos
uma perspectiva negativa, a liderança naquele período via a guerra como mais um
instrumento político, do qual poderiam utilizar-se para alcançar seus interesses.
Com o risco cada vez mais iminente, contudo sem nenhuma previsão de
quando aconteceria, as potências passaram a se preparar. De acordo com Eric
Hobsbawm (2016, p. 467-469):


Os gastos militares britânicos permaneceram estáveis nos anos 1870
e 1880, tanto em termos de porcentagem do orçamento total como
per capita em relação à população. Mas passou de 32 milhões em
1887 para 44,1 milhões de libras esterlinas em 1898-1899, e a mais
de 77 milhões em 1913-1914. [...] Em 1885, a Marinha custara ao
Estado 11 milhões de libras - em torno da mesma ordem de gran-
deza que em 1860. Em 1913-1914 custou mais de quatro vezes esse
montante. No mesmo período, os gastos navais alemães aumenta-

101
UNIDADE 3

vam de modo ainda mais acentuado, de 90 milhões de marcos por


ano em meados da década de 1890 para quase 400 milhões [...]
Krupp, na Alemanha, o rei dos canhões, empregava 16.000 pessoas
em 1873, 24.000 em torno de 1890, 45.000 em torno de 1900 e quase
70.000 em 1912, quando 50.000 das famosas armas Krupp saíram
da linha de produção.

Perceba, caro(a) estudante, conforme o militarismo aumentava nos países euro-


peus, crescia também a probabilidade de ocorrer um conflito. Inclusive, o conflito
bélico passou a ser interpretado como uma forma de reafirmar o domínio de cada
país. Lembramos novamente que a guerra era algo comum aos europeus do início
do século XX, servir as forças armadas era parte do processo de transição para a
vida adulta de um homem (BERTONHA, 2011).
Ora, diante dessa mudança de mentalidade, o aumento do nacionalismo, do
imperialismo e do militarismo, ficava evidente que um conflito ocorreria entre as
potências industriais europeias: “[...] a partir de certo ponto do lento escorregar
para o abismo, a guerra pareceu tão inevitável que alguns governos decidiram
que a melhor coisa a fazer seria escolher o momento mais propício, ou menos
desfavorável, para iniciar as hostilidades” (HOBSBAWM, 2016, p. 473).
Diante desse cenário, os países envolvidos ficaram receosos de ficarem sozi-
nhos nessa guerra que se formava. Sendo assim, a solução encontrada por eles
foi a de se unirem em alianças fixas. Dois principais blocos foram formados.
Obviamente franceses e alemães estariam de lados opostos. A derrota france-
sa na guerra franco-prussiana, além de possibilitar a unificação da Alemanha,
sob a liderança do grande estrategista Otto von Bismarck, também permitiu que
os alemães anexassem dois territórios importantes da França, a Alsácia-Lorena.
Essa tomada de território gerou um revanchismo dos franceses em relação aos
alemães. Inclusive esse revanchismo pode ser considerado uma das causas da
Primeira Guerra Mundial. Sendo assim, de um lado estava a Alemanha com a
sua antiga aliada, desde 1866, o Império Austro-Húngaro. Em 1882, formou-se a
Tríplice Aliança, tendo em vista que a Itália se juntou aos alemães e austríacos,
contudo, em meio à Grande Guerra, a Itália mudou de lado e em 1915 se estabe-
leceu no lado antialemão (HOBSBAWM, 2016, p. 475).
O outro grande bloco ficou conhecido como Tríplice Entente. Iniciou-se a partir
de uma aliança entre França e Rússia. Os russos de início oscilaram acerca desta alian-

102
UNICESUMAR

ça, contudo os fatores internacionais se organizaram para tal. Primeiro, os franceses


foram grandes investidores da indústria russa na segunda metade do século XIX.
Segundo, a Rússia disputava com o Império Austro-Húngaro territórios na região
dos Balcãs. Os russos possuíam uma aliança com os povos eslavos balcânicos, como
as nações da Sérvia e Montenegro, regiões de interesse da Áustria-Hungria, aliada dos
alemães. Para a surpresa de todos, entre os anos de 1903-1907 a Grã-Bretanha se uniu
à Entente Cordiale. Os ingleses há muito séculos se posicionavam como inimigos
dos franceses nos conflitos internacionais. Contudo, a aliança dos britânicos com os
franceses teria sido realizada devido ao medo dos ingleses da ameaça alemã. Sendo
assim, ambas alianças teriam sido formadas a partir do receio do crescimento alemão
(HOBSBAWM, 2016, p. 476-477; BERTONHA, 2011, p. 27-29).
Para resumir, às vésperas da guerra, alianças ficaram desta forma: Tríplice
Aliança (Potências Centrais) Alemanha, Império Austro-Húngaro e Itália; do
outro lado, Tríplice Entente com a França, Rússia e Grã-Bretanha.
Com as alianças formadas de forma permanente, novos planos de guerra foram
traçados com a intenção de eliminar o outro bloco. Os países passaram a mobilizar
as suas tropas, inclusive as reservas, e as posicionaram de forma estratégica. Para
Bertonha (2011), quando em julho de 1914, com o aumento das mobilizações, cres-
ceu a tensão ainda mais entre esses países, quando os alemães convocaram todas
as suas reservas, eventualmente o conflito ocorreria (BERTONHA, 2011, p. 31).

Caro(a) estudante essa discussão historiográfica acerca da


guerra é muito interessante e importante, certo? O que
acha de ouvir mais um episódio do nosso podcast explican-
do essas questões? Vamos nessa?

Por conseguinte, o contexto europeu era tão inflamável que uma simples fagulha
podia incendiar o mundo. O estopim para a Grande Guerra – sinônimo de Pri-
meira Guerra Mundial utilizado até hoje – ocorreu em junho de 1914. O príncipe
herdeiro da Áustria-Hungria, Francisco Ferdinando Carlos Luís José Maria, em
uma visita à cidade de Sarajevo, na Bósnia-Herzegovina, foi assassinado por Gra-

103
UNIDADE 3

vilo Princip, um membro de uma organização terrorista pró-sérvia, Mão Negra,


contudo o jovem de apenas 19 anos realizou esse ataque sem o apoio sérvio.
Figura 8 - Foto de Francisco Ferdinando Carlos Luís José Ma-
ria, príncipe do Império Austro-Húngaro
Fonte: Schmutzer (1914, on-line).

Descrição da Imagem: uma foto em preto e branco. O fundo


está desfocado, é possível identificarmos apenas uma porta.
No plano principal, encontra-se um homem caucasiano, olhos
claros, cabelo penteado para trás e um longo bigode curvado
para cima nas pontas. Usa um casaco militar com botões de
metal. Em seu peito, é possível identificarmos sete medalhas.

A morte do príncipe austro-húngaro não teria


maiores consequências se não fosse pelo con-
texto internacional bastante caótico. A Áustria-
-Hungria já possuía uma relação conflituosa com
os sérvios, tendo em vista que via na região da
Península Balcânica uma salvação para o seu império. Já a Sérvia tinha intenções
de criar uma Grande Sérvia, inclusive com os povos que estavam sob o domínio
austro-húngaro e do império turco-otomano, que posteriormente entraria na
guerra ao lado da Tríplice Aliança. A Áustria-Hungria aproveitou-se da opor-
tunidade para culpar a Sérvia pelo ataque e realizou algumas exigências que
não foram cumpridas. O fato é que se os austro-húngaros tivessem invadido de
vez a Sérvia, teria ocorrido, provavelmente, um conflito localizado sem maiores
repercussões, porém a espera pelo apoio alemão fez com que a Sérvia recebesse
o apoio da Rússia. Como resultado, os alemães declararam seu apoio à Áustria
(BERTONHA, 2011, p. 33). Como consequência:


[...] a França ameaçou a Alemanha e as ameaças de mobilização se
sucederam. A partir daí, todas as antigas tensões e medos e todos
os planos de guerra vieram à tona e a máquina da morte se colocou
em movimento. Entre 28 de julho e o início de agosto de 1914, as
declarações de guerra começaram a ser feitas e o conflito se iniciou
efetivamente. Pouco a pouco outros países entraram no conflito. Do
lado das Potências Centrais estavam a Alemanha, a Áustria-Hun-
gria, o império Turco-Otomano e a Bulgária; [...] dos Aliados, a

104
UNICESUMAR

França, a Inglaterra, a Rússia e, posteriormente, a Itália e os Estados


Unidos, [...], a Sérvia, Portugal, a Bélgica e outros (BERTONHA,
2011, p. 34).

Gravilo Princip não poderia acreditar que o seu atentado teria dado início ao
maior conflito da história da humanidade: a Primeira Guerra Mundial.
Caro estudante, neste momento gostaríamos de apresentar, historiograficamen-
te, o posicionamento de dois historiadores em relação às causas da Primeira Guerra
Mundial. Enquanto Eric Hobsbawm, em seu livro A Era dos Impérios, busca uma
explicação econômica, na qual o capitalismo empurrou o mundo ao imperialismo
e a rivalidade entre os Estados e, consequentemente, à guerra (HOBSBAWM, 2016),
para Arno Mayer (1987), “a Grande Guerra de 1914, [...] foi uma consequência da
remobilização contemporânea dos anciens régimes da Europa. Embora perdendo
terreno para as forças do capitalismo industrial, as forças da antiga ordem ainda
estavam suficientemente dispostas e poderosas para resistir e retardar o curso da
história, se necessário recorrendo à violência. A Grande Guerra foi antes a expressão
da decadência e queda da antiga ordem, lutando para prolongar sua vida, do que do
explosivo crescimento do capitalismo industrial, resolvido a impor sua primazia.
Por toda a Europa, a partir de 1917, as pressões de uma guerra prolongada afinal
abalaram e romperam os alicerces da velha ordem entrincheirada, que havia sido
sua incubadora (MAYER, 1987, p. 13-14). Caro(a) estudante, não se trata de teses
opostas, mas sim complementares que nos ajudam a compreender melhor a for-
mação da Primeira Guerra Mundial e do século XX.
Contudo, o historiador Niall Ferguson, em seu livro A Guerra do Mundo,
possui uma visão distinta das causas da Primeira Guerra Mundial. Ferguson se
contrapõe à ideia de que a Primeira Guerra Mundial foi consequência de um
período crescente e de tensão mundial. Opõe-se à ideia de que a Primeira Guerra
Mundial foi a consequência de uma longa crise, seja ela econômica ou política.
Para ele, a Grande Guerra foi um choque, e justamente por isso as consequências
desse conflito “abalaram tanto as estruturas mundiais. É o imprevisível que causa
os maiores distúrbios, não o esperado” (FERGUSON, 2015, p. 157).
Agora, com as causas explicadas e analisadas, podemos responder à nossa
segunda pergunta sobre o tema: “Como esse conflito se desenvolveu e por que
ficou conhecido como a Grande Guerra?”

105
UNIDADE 3

Podemos afirmar que a Primeira Guerra Mundial, no front Ocidental, divi-


diu-se em duas fases principais: 1) uma guerra de movimento, no ano de 1914
e, posteriormente, 2) uma guerra de trincheiras, entre os anos de 1914 a 1917.

EXPLORANDO IDEIAS

Caro(a) estudante, é muito importante que você tenha a concepção de que o front Orien-
tal na Primeira Guerra Mundial foi tão importante, violento e mortífero quanto o ociden-
tal. Diversas batalhas foram travadas na Rússia, Itália, na África, nos Balcãs e no Oriente
Médio que deixaram milhões de mortos. Por exemplo, o genocídio armênio, em 1915,
realizado pelo Império Turco-Otomano, no qual mais de 1 milhão de armênios foram as-
sassinados, violentados e seus corpos jogados em rios e valas (FERGUSON, 2015). Outros
grupos foram perseguidos pelos otomanos, incluindo gregos, cristãos assírios, anatólios
e pônticos, somando aproximadamente mais 1 milhão de pessoas. A situação se agrava
ainda mais pelo fato de o governo turco não reconhecer, até os dias atuais, o genocídio
armênio. Em abril de 2021, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu esse
evento histórico como um genocídio.

Vamos à análise das duas etapas da guerra no lado europeu ocidental. O proble-
ma para os alemães era claro, deveriam lutar em duas frentes. A oeste contra os
franceses e britânicos, a leste contra os russos. Devido a isso, nessa primeira fase,
guerra de movimento, os alemães teriam colocado em ação um plano bolado
por um dos principais generais alemães e antigo chefe do Estado Maior entre
os anos de 1891 a 1905, o famoso Plano Schlieffen (plano no qual Hitler teria
se baseado para criar a sua guerra relâmpago, a Blitzkrieg). A ideia principal era
mobilizar rapidamente as suas tropas através do território belga para realizar um
forte impacto na França, com a maior parte de suas tropas, enquanto uma menor
parte, com a ajuda do Império Austro-Húngaro, atacaria os russos na frente orien-
tal. Os alemães queriam derrotar rapidamente os franceses primeiro, para partir
em direção à Rússia czarista que levaria mais tempo para recrutar o seu grande
potencial humano (BERTONHA, 2011; HOBSBAWM, 2011).
Contudo, o plano fracassaria. Os alemães encontraram uma grande resis-
tência no território belga, principalmente na fortaleza situada em Liège. Essa
resistência permitiu que os franceses fizessem sua plena mobilização e que os

106
UNICESUMAR

britânicos pudessem enviar as suas primeiras tropas. Os franceses, em setembro


de 1914, resistiram no vale do rio Marne, do qual deu origem a primeira batalha
com o nome Batalha de Marne, famosa pelo envolvimento de aproximadamente
2 milhões de soldados alemães e franceses (BERTONHA, 2011). Essa guerra de
movimento no oeste europeu foi uma verdadeira “máquina de massacre” (HOBS-
BAWM, 2011, p. 33). O número de mortos já era altíssimo, em dezembro de 1914,
os alemães já haviam abatido cerca de 265 mil soldados e o número de vítimas
francesas passava dos 385 mil (FERGUSON, 2015).
No entanto, mesmo com essa grande quantidade de mortos franceses, a Alema-
nha se encontrava em um impasse. Sem grandes triunfos e avanços, ambos os lados
passaram a construir trincheiras e fortificações defensivas, como consequência, a
fase de movimento acabava, o Plano Schlieffen fracassava e iniciava-se a guerra de
trincheiras de 1914 a 1917. Durante três anos, praticamente não houve avanço de
nenhum lado, tratava-se de uma guerra estática que beneficiava o defensor.
As trincheiras se estenderam por centenas de quilômetros indo do mar do
Norte até a fronteira com a Suíça. Acerca das trincheiras, elas


[...] se dividiam em várias linhas, separadas por alguns quilômetros
e, nelas, afundada na terra, ficava a infantaria, pronta a repelir os
avanços inimigos a tiros de fuzil e granadas. A artilharia, na reta-
guarda, também podia dirigir um mortal fogo de canhões e mor-
teiros sobre quaisquer atacantes. Ninhos de metralhadoras, nas
trincheiras e entre elas, completavam o sistema defensivo (BER-
TONHA, 2011, p. 44).

Tratava-se de um conflito completamente diferente do que os países europeus


haviam enfrentado até então, tendo em vista que a tecnologia de artilharia e as
metralhadoras poderiam frear facilmente a principal estratégia militar daquele
período, o assalto de infantaria. Infelizmente, os Estados-Maiores entre os anos
de 1915 e 1917 insistiram nesta nos assaltos de infantaria, uma tática que apren-
deram nas academias militares, mas que já se encontrava obsoleta para aquela
guerra (BERTONHA, 2011).

107
UNIDADE 3

NOVAS DESCOBERTAS

Título: 1917
Ano: 2020
Sinopse: dois soldados, cabo Schofield e Blake, recebem uma missão
de atravessar o território inimigo para levar informações que podem
salvar mais de 1600 soldados. O filme se passa na Primeira Guerra Mundial.

A consequência de permanecer nessa tática obsoleta foi a criação de uma má-


quina de moer homens. A batalha de Verdun em 1916 envolveu 2 milhões de
homens, com metade deles sendo mortos (HOBSBAWM, 2011). A batalha de
Somme, no mesmo ano, deixou um rastro de mais de um milhão de mortos entre
franceses, britânicos e alemães, com apenas cinco meses de guerra, em um esforço
que rendeu aos britânicos apenas 12 quilômetros de terra (BERTONHA, 2011).

Figura 9 - Trincheira com soldados alemães mortos na Batalha de Somme em 1916


Fonte: Brooke (1916, on-line).

Descrição da Imagem: foto preto e branco. Um buraco utilizado como trincheira de aproximadamente
um metro e meio de fundura. Nele encontram-se seis soldados alemães mortos, cobertos por moscas.
Três estão mais à frente e os outros mais ao fundo da imagem.

Em 1917, os exércitos europeus no front ocidental, estavam no limite do esgota-


mento, no entanto, dois acontecimentos nesse ano mudaram o curso da história da
Grande Guerra. Um primeiro aspecto, foi o colapso do Império Russo e sua derrota
na guerra para os alemães. A Rússia (como veremos na próxima unidade) estava em

108
UNICESUMAR

meio à Revolução Russa, em novembro com a tomada do poder pelos bolcheviques


liderados por Lênin, estes assinaram o Tratado Brest-Litovsk (1918). A Rússia
entregava para a Alemanha os territórios dos países bálticos, Estônia, Lituânia e
Letônia, além de Polônia, Ucrânia e Finlândia. Apesar desta grande vitória, isso
permitia aos alemães se concentrarem na guerra na Europa Ocidental.
Todavia, em abril de 1917, os Estados Unidos declararam guerra aos alemães,
primeiro devido aos ataques dos submarinos alemães e segundo pela hipótese de os
alemães estarem fazendo uma aliança aos mexicanos para atacarem os EUA (BERTO-
NHA, 2011). Com esses dois fatores, os estadunidenses conseguiram o apoio popular
necessário para adentrar ao conflito de fato. Nesse momento, ter os Estados Unidos ao
seu lado, era como ter acesso a recursos praticamente ilimitados (HOBSBAWM, 2011).
Por conseguinte, a entrada dos EUA no conflito ao lado da Entente foi um
grande impacto para os alemães, mas não apenas financeiramente e militarmente,
mas, também, moralmente. Caro(a) aluno(a), você consegue imaginar os sol-
dados e tropas alemães descobrindo que os EUA acabaram de entrar na guerra
com seus infindáveis recursos e tropas descansadas, é um golpe psicológico em
qualquer inimigo e uma grande motivação para os aliados.
De acordo com Niall Ferguson, três foram os fatores principais para a derrota
dos alemães. No conflito no mar, os alemães estavam em grande desvantagem
numérica. Havia uma superioridade técnica e tecnológica da Alemanha, porém,
a marinha imperial britânica dispunha de maiores recursos e, a partir dessa van-
tagem, foi mais estratégico e cortaram os alemães da economia global. Segundo,
os britânicos se utilizaram da opinião pública mundial. Por fim, mas não menos
importante, os alemães eram mais fracos financeiramente. Os britânicos, falando
de economia global, tinham acesso a mais recursos e de forma mais barata. Ou
seja, somados esses fatores, enquanto um conflito global os alemães nunca tive-
ram a chance de vencer esse conflito (FERGUSON, 2015).
Desta forma, mesmo com a vitória sobre os russos, os alemães não consegui-
ram vencer o conflito. No front ocidental, os alemães romperam:


[...] a Frente Ocidental e avançou de novo sobre Paris. Graças à
inundação de reforços e equipamentos americanos, os aliados se
recuperaram, mas por um instante pareceu por um triz. Contudo,
era o último lance de uma Alemanha exausta, que se sabia perto da
derrota. Assim que os aliados começaram a avançar, no verão de

109
UNIDADE 3

1918, o fim era apenas uma questão de semanas. As Potências Cen-


trais não apenas admitiram a derrota, mas desmoronaram (HOBS-
BAWM, 2011, p. 36).

Diante deste cenário, somado a eclosão de uma revolução bolchevique dentro


da Alemanha e rebelião das unidades militares, os políticos alemães aceitaram as
exigências da Entente e no dia 11 de novembro de 1918, assinou a sua rendição
(BERTONHA, 2011, p. 51).

Caro(a) estudante, preparamos para você um vídeo sobre


a participação do Brasil na Primeira Guerra Mundial. Como
de fato nosso país participou deste conflito? Enviamos
homens para lutar neste combate? Vamos aprofundar mais
um pouco o nosso conhecimento acerca deste tema.

Com a rendição dos alemães, o Kaiser Guilherme II, até então o rei, abdicou de
seu poder, e foi enviado ao exílio, tornando o país uma república. É válido lembrar
que, quando foi realizado o armistício, não havia soldados inimigos dentro do
território alemão. Pelo contrário, os alemães estavam dentro da França. Esse fato
contribuiu para que surgisse o mito da infalibilidade do exército alemão, de que
ele não teria sido derrotado na Primeira Guerra Mundial, acreditavam que teriam
sido traídos pelos seus políticos que se renderam, ou pelos revolucionários e civis
que atuavam dentro do país (BERTONHA, 2011, p. 101).
O presidente dos Estados Unidos da América no período, Woodrow Wilson,
propôs um desfecho diferente para o conflito. Para ele, o acordo de paz “deveria ser
feito para o benefício das nações europeias vistas como Povos e não para qualquer
nação que imponha sua vontade governamental sobre pessoas forasteiras” (WILSON
apud FERGUSON, 2015, p. 242). Em 1917, Woodrow Wilson apresentou os seus 14
pontos. Contudo, países como França e Inglaterra não queriam a negociação, senão
a destruição da Alemanha, apenas 4 dos quatorze foram concretizados. Entre eles, a
criação da Liga das Nações que tinha o objetivo de evitar futuras guerras.

110
UNICESUMAR

Apesar do armistício ter sido assinado em novembro de 1918, o conflito só


obteve uma conclusão oficial com a realização e assinatura do chamado Tratado
de Versalhes em junho de 1919. Para compreendermos este tratado, devemos
nos lembrar das causas da Primeira Guerra Mundial. Os Britânicos lutaram ao
lado da Entente para poder acabar de vez com a ameaça naval alemã que estava
se formando naquele momento, ao mesmo tempo que não poderia destrui-la
completamente, tendo em vista que precisava da Alemanha para contrabalancear
o poder francês no continente. Em relação à França, esta adotou uma postura
completamente revanchista – lembre-se da guerra Franco-Prussiana – com o ob-
jetivo de eliminar os alemães. O tratado, mais do que punir, culpou a Alemanha
por todo o conflito e a humilhou por completo (BERTONHA, 2011).
Apesar dos esforços deste tratado para evitar a todo custo um outro conflito, o
acordo assinado em Versalhes seria um dos motivos que jogaria a Europa em uma
guerra de escala ainda maior, apenas vinte anos depois (HOBSBAWM, 2011). O
ato de humilhar os alemães resultou em uma ideia de revanche ou vingança dos
alemães em relação aos países vencedores. Ideia essa alimentada e utilizada por
Adolf Hitler nas décadas seguintes.
Entre as imposições do Tratado de Versalhes sobre a Alemanha, encontra-
vam-se: a perda de diversos territórios, como exemplo Alsácia-Lorena que foram
devolvidos para os franceses; o pagamento de uma reparação aos países vence-
dores de centenas de bilhões de marcos; redução do exército para no máximo
cem mil homens; proibição da força aérea e a assinatura da famosa cláusula da
culpa de guerra que responsabilizava os alemães como os únicos culpados pelo
conflito, por isso deveriam ser responsabilizados.
Além do Tratado de Versalhes, devemos ressaltar entre as consequências da
guerra a morte de aproximadamente 15 milhões de homens entre militares e
civis e o desmoronamento do Antigo Regime, afinal o antigo e poderoso Impé-
rio Turco-Otomano chegou ao seu fim e deu lugar a diversas nações, o Império
Austro-húngaro também foi dividido em dois países, a Áustria e a Hungria, e
o império Russo acabou com a Revolução de 1917 – tema de nossa próxima
unidade. Como consequência, vários países surgiram como Iugoslávia, Polônia,
Ucrânia, Finlândia e os países bálticos.

111
UNIDADE 3

Dante, o que achou de toda essa discussão até agora? Um


período bastante complicado para a História. Lembre-se que
desenvolvemos toda essa análise para respondermos a uma
das perguntas de nossa jornada inicial: "Por que o fim do século
XIX e as primeiras décadas do século XX demonstraram que a
civilização humana não resolveu todos os seus problemas por
meio da tecnologia industrial, quando na verdade, alguns
acontecimentos demonstraram um retrocesso?".

Perceba Dante, a transição do século XIX e o início do século XX


deixou claro que a indústria, a ciência e o progresso não
resolveram todos os problemas da humanidade. Pelo contrário, os
processos históricos do Imperialismo e da Primeira Guerra Mundial
demonstraram como em pleno século XX as civilizações
continuavam buscando o seus interesses, ainda que a custa de
milhões de vidas.

De fato, trata-se de um período bastante triste de


nossa história, ao invés do progresso que se
esperava, o início do século XX foi marcado pela
violência e pela opressão entre os povos europeus e
também para com os povos de outros continentes.

Isso mesmo. Os processos


históricos que estudamos aqui
demonstram a destruição que os
países são capazes de realizar
quando não levam em consideração
as necessidades e existências dos
outros povos.

Caro(a) estudante, o Imperialismo e a Primeira Guerra são temas fundamentais para


o trabalho de sua futura profissão como docente. Ajudar os seus alunos a compreen-
der esses processos históricos colabora para que entendam o que as civilizações hu-
manas estão dispostas a realizar para atingir os seus objetivos, consequentemente o
seu aluno ou aluna se torna mais capaz de compreender a sociedade em que vive.

112
Caro(a) estudante, agora é sua vez de colocar em prática os conhecimentos que
você obteve nessa terceira unidade sobre o Imperialismo, a Primeira Guerra Mun-
dial e as suas consequências para o século XX.
Chegou a hora de descobrirmos o que você conseguiu apreender com esta uni-
dade. Vamos colocar a mão na massa. Para isso, convido você a realizar um Mapa
Mental. É válido lembrar que esse tipo de atividade, além de lhe ajudar a com-
preender as suas ideias acerca do conteúdo, devido à sua capacidade de ilustrar
conteúdos, também lhe permite organizar melhor essas ideias, fazendo com que
o aprendizado seja mais crítico e duradouro.
Sendo assim, crie um mapa mental relacionando à Revolução Industrial com o
Imperialismo e, este último, com a Primeira Guerra Mundial. Você pode realizá-lo
aqui mesmo no livro, ou, ainda, na ferramenta GoConqr - www.goconqr.com.

Busca por matérias primas Disputa entre as


potências imperialistas

PRIMEIRA
REVOLUÇÃO GUERRA
INDUSTRIAL IMPERIALISMO
MUNDIAL

$
Busca por mercado Protecionismo
consumidor
4
A Primeira
Metade do
Século XX:
Revolução, Crise e Totalitarismos

Dr. Augusto João Moretti Junior

Nesta Unidade IV, investigamos alguns dos principais acontecimentos


da primeira metade do século XX. Processos históricos de profundo
impacto em nossa civilização e que proporcionaram transformações
definitivas. Em um primeiro momento, analisaremos o processo histó-
rico conhecido como Revolução Russa, de base socialista, que influen-
ciou a maior parte dos eventos históricos posteriores. Em seguida,
perquirimos as causas da Crise de 1929 e quais foram as suas conse-
quências para o século XX. Por fim, analisamos a formação dos Estados
Totalitários europeus, buscando compreender o fascismo italiano e
o nazismo alemão, em suas causas, características e consequências.
UNIDADE 4

Figura 1: Dante e seu professor de História viajando na janela temporal.


Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: Ilustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Sua calças são verdes e sapatos pretos. Carregas em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighieri. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da porta,
por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam

116
UNIDADE 4

Para realizarmos a nossa investigação acerca das revoluções, crise e totalitarismo


na primeira metade do século XX, daremos prosseguimento a nossa situação
hipotética de nossos viajantes. O Professor de História e Dante, uma vez mais,
passam pela janela temporal (figura 1). Dante, como de costume muito observa-
dor e crítico, percebe que já não se encontram mais na França da Primeira Guerra
Mundial, trata-se de uma cidade extremamente fria. Diante desse novo cenário
nosso jovem viajante se pronuncia:
- Dante: Professor, que frio! Percebo que já não estamos mais na
França da Primeira Guerra Mundial. Apesar de não saber onde es-
tamos, vejo que se trata de algum lugar que sofreu muito com a
guerra, é possível perceber a indignação da população. Acredito
que desta vez, eu consigo acertar! Estamos na Rússia!

- Professor de História: Bravo, Dante! Como de costume, você se


mostra muito sagaz. De fato, estamos na Rússia no ano de 1917.
Sabe por quê?

- Dante: Com certeza tem a ver com uma das perguntas que realizei
no início de nossa jornada. Estou certo.

- Professor de História: Isso mesmo, viemos à Rússia para dar início


a resposta da seguinte pergunta: “Por que o período pós Primeira
Guerra Mundial, não trouxe a paz e a estabilidade, mas na
verdade, predispôs os países para um conflito pior ainda?”.

- Dante: Fiquei com essa dúvida, pois após um grande conflito,


espera-se a instauração de uma nova ordem e de um período de
estabilidade e desenvolvimento. E após a Primeira Guerra Mundial,
a situação se agravou e colocou o mundo em uma Segunda Guerra
Mundial.

- Professor de História: Para responder a sua dúvida, vamos para


nossa jornada que desta vez, terá diversas paradas!

Caro (a) estudante, com o conhecimento que você possui neste exato momento
da leitura de seu livro didático, como você responderia a pergunta de Dante? O

117
UNIDADE 4

que aconteceu nos vinte anos seguintes à Primeira Guerra Mundial que ocasio-
nou um conflito ainda pior? Quais acontecimentos e processos históricos ocorre-
ram entre os anos de 1918/19 e 1939 que transformam e geraram consequências
inimagináveis para a civilização humana?
Cara (o) estudante, neste momento, no início de nossa quarta Unidade você
já está consciente acerca da importância de trazer significado do conhecimento
para os nossos alunos, de que um estudante que significa o conhecimento no
seu dia a dia tem muito mais chances de compreender e de guardar aquele co-
nhecimento por muito mais tempo. Sendo assim, como você responderia a um
aluno seu se ele lhe perguntasse: “Qual a importância de se estudar o período
pós Primeira Guerra Mundial? O que isso tem a ver com a minha vida?” Para
lhe ajudar neste momento vamos averiguar qual ser a resposta do nosso viajante
professor de História:
Professor de História: Caro Dante, como analisamos em nossas via-
gens anteriores a História, a partir do conhecimento do passado, nos
ajuda a compreender as questões atuais, o que acontecesse em nosso
dia a dia. Com ela, aprendemos várias lições que nos ajudam a nos
posicionar na sociedade em que vivemos. Em relação ao período
pós Primeira Guerra Mundial, são vários os ensinamentos. A co-
meçar pela primeira revolução de caráter socialista, demonstrando
a existência de um outro tipo de regime fora do capitalismo. A crise
de 1929 nos ajuda a compreender a ciclicidade do capitalismo e
como podem gerar consequências catastróficas para o mundo todo.
Por exemplo, existe um vínculo entre a crise de 1929 e a formação
dos estado Totalitário Nazista na Europa, que terá como uma de
suas principais consequências a Segunda Guerra Mundial. Sendo
assim, caro Dante, o período pós Grande Guerra é essencial para
compreendermos a formação de instituições e processos históricos
que modificaram a História permanentemente e que deixam remi-
niscências até os dias atuais.

Caro (a) estudante, com a ajuda da resposta acima é a sua vez de responder a
dúvida de Dante. Convido você a refletir sobre a questão: Por que o período pós
Primeira Guerra Mundial, não trouxe a paz e a estabilidade, mas na verdade,
predispôs os países para um conflito pior ainda? Antes de iniciarmos o processo
de conceitualização, faça uma lista com as ideias que você conseguiu elencar e

118
UNIDADE 4

lembre-se de armazená-la de uma forma que você tenha acesso posteriormen-


te, lembre-se que ao mesmo tempo que estamos estudando este livro, também
estamos construíndo possíveis materiais didáticos para a sua utilização quando
for professor (a) desta maravilhosa disciplina.
Agora que você já realizou a sua lista de respostas respondendo a pergunta
“Por que o período pós Primeira Guerra Mundial, não trouxe a paz e a estabilida-
de, mas na verdade, predispôs os países para um conflito pior ainda?” Aproveite
este momento do Diário de Bordo para apresentar as suas dúvidas iniciais que
surgiram com essas primeiras reflexões acerca da importância de se estudar o
período pós Primeira Guerra Mundial e como ele ajuda a compreender o mo-
mento que vivemos hoje.

119
UNIDADE 4

O ano de 1917 foi marcante e determinante para a história do século XX. Pois,
neste ano aconteceu a denominada Revolução Russa. Para nos ajudar na aná-
lise do desenvolvimento e das consequências deste movimento revolucionário,
elaboramos algumas questões:
■ O que foi a Revolução Russa?
■ Quando começou, quais foram as suas causas e como ela se desenvolveu
nas primeiras décadas do século XX?

De uma forma simples, a Revolução Russa foi um processo histórico que culmi-
nou, em 1917, na queda da monarquia absolutista russa e na instalação do Par-
tido Bolchevique no poder e posteriormente a criação da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, o primeiro país de caráter político socialista, pelo menos
até a entrada de Joseph Stalin no poder e a deturpação do regime.
Acerca das suas causas e do seu início, devemos fazer uma análise mais apro-
fundada. Como todo processo histórico, a Revolução Russa, possui suas origens
e causas atreladas a tempos muito mais longínquos do que o ano em que se con-
cretizou. Primeiro, precisamos compreender o regime político predominante no
momento da revolução. A Rússia em 1917 era um dos poucos países a permanecer
como uma monarquia absolutista, liderada por Nicolau II da família Románov.

120
UNIDADE 4

Figura 2: Nicolau II, à esquerda, e seu primo o rei da Inglaterra Jorge V, em 1913.
Fonte: Por Ernst Sandau, Domínio público.

Descrição da Imagem: Na fotografia, em preto e branco, temos dois homens posicionados de pé lado a
lado. A esquerda, está o czar da Rússia Nicolau II. Ele é caucasiano, o cabelo baixo com entradas. Possui
barba e bigode. Veste um uniforme militar escuro com diversos adereços como cordas, medalhas em
formatos de cruz, detalhes nas mangas e nas laterais das calças. Usa luvas brancas. Com a mão direita
segura um chapéu com uma grande pena branca na frente. Ao seu lado direito está o rei da Inglaterra Jorge
V. É muito parecido com Nicolau II. Usa o mesmo estilo de barba e bigode. Também veste um uniforme
militar, contudo o seu é branco e em seu peito encontram-se diversas medalhas em formato de cruz que
representam a sua participação em ordens militares. Também veste luvas brancas. Ao fundo, não se tem
detalhes exceto metade de uma coluna à esquerda.

121
UNIDADE 4

Tratava-se de um regime político atrasado, um dos poucos restantes na Euro-


pa, antes do início da Primeira Guerra Mundial em 1914. De acordo com Eric
Hobsbawm, a queda do czarismo, como era conhecida a monarquia russa, já era
algo esperado por todos os observadores políticos desde 1870. Seria uma questão
de tempo para que acontecesse uma revolução que derrubaria esse regime. Para
alguns analistas, se não fosse pela Primeira Guerra Mundial e pela revolução
bolchevique, teria em algum momento se tornado uma sociedade liberal-capi-
talista, como outros países haviam se tornado durante os séculos XVIII e XIX
(HOBSBAWM, 2011, p. 63).
O primeiro golpe a este regime, aconteceu em 1905. E, para alguns historiado-
res, pode ser considerada a primeira revolução russa. No ano de 1904 a situação
da sociedade russa era muito difícil. Os trabalhadores das cidades, como São
Petersburgo - então capital do império russo - passavam frio e fome e pouco a
pouco começaram a organizar greves. A situação complicada se agravou quando
o czar e seus ministros, em uma atitude arrogante, deram continuidade a sua
antiga política expansionista em direção ao Oriente. Nesse processo, os russos
não imaginavam que seus interesses se chocariam com o dos, também, imperia-
listas japoneses que queriam o domínio das regiões da China e da Coréia (REIS
FILHO, 1997; BERTONHA, 2009).
Diante do crescimento da força naval russa, os japoneses atacaram as instala-
ções de Port Arthur. Os russos, desorganizados, foram derrotados rapidamente,
tendo vários navios afundados. Em uma tentativa de vencer essa guerra, histo-
ricamente conhecida como guerra russo-japonesa, os russos enviaram as suas
frotas, sediadas no mar báltico para a região do conflito. Todo o esforço de con-
tornar a África e cruzar o Índico, fizeram com que chegasse a região conflituosa
em maio de 1905, contudo, apenas para ser destruída completamente na batalha
de Tsushima, no dia vinte e sete de maio de 1905 (BERTONHA, 2009, p. 37).
Esta derrota do Império russo, além de não ser capaz de restaurar a ordem e
os ânimos internos, a partir da exaltação nacionalistas, agravou ainda mais a pés-
sima situação interna do império russo. Entre os aspectos que faziam da Rússia
um lugar retrógrado e difícil de se viver, podemos apontar o fato de ser um país
semi-feudal ainda no início do século XX, tendo em vista que como a maior parte
da população habitava o campo, viviam em condições próximas a da servidão

122
UNIDADE 4

medieval, que oficialmente só havia sido abolida em 1861. Outro aspecto, que
devemos levar em consideração foi o desenvolvimento industrial deste país. O
país sofreu uma modernização apenas na segunda metade do século XIX, reali-
zada pelo próprio governo russo de uma forma autoritária. (BERTONHA, 2009).
Um processo de industrialização “importado” tendo em vista que foi feito prin-
cipalmente com o capital e maquinaria de outros países, como os franceses. Esse
desenvolvimento industrial foi acentuado em algumas regiões/cidades, como por
exemplo: São Petersburgo e Moscou. Com o aumento do número de operários,
surgiu na cidade de Minsk em 1898 o Российская социал-демократическая
рабочая партия ou POSDR, Partido Operário Social Democrata Russo. Este
partido, em 1902 recebeu como membro Vladimir Ilyich Ulyanov, popularmente
conhecido como Vladimir Lenin. No ano seguinte, o segundo congresso do
POSDR, ficou famoso por dividir o partido em duas facções: os mencheviques,
palavra que significa minoria, liderados por Julius Martov e do outro lado os
bolcheviques, maioria, sob a liderança de Lênin (THATCHER, 2007, 730).
Com o desenvolvimento industrial, houve um aumento da população urbana
e das ferrovias. Contudo:


Tal programa foi conduzido de uma forma totalmente autoritária,
coerente com o caráter do Estado russo de então. O campo foi pe-
nalizado, com os recursos dos impostos sendo canalizados para a
indústria e as cidades. Os trabalhadores, rurais e urbanos foram
submetidos à intensa exploração e verdadeiramente sangrados por
impostos e salários baixos, com todo descontentamento sendo ime-
diatamente reprimido (BERTONHA, 2009, p. 43).

Caro (a) estudante, como você pode perceber, tratava-se de um período con-
turbado. Os trabalhadores sofriam com os altos impostos e os salários baixos,
estando condenados ao frio e à fome. Quando ocorreu a derrota russa contra os
japoneses em 1905, a situação escalou-se rapidamente. E, como consequência,
explodiu um dos principais eventos que antecederam a revolução de 1917, os
trabalhadores da cidade de São Petersburgo, passando fome e frio iniciaram em
1905 uma greve e:

123
UNIDADE 4


Incentivados por uma associação de obscuras ligações com a pró-
pria polícia, resolveram então levar queixas e reclamações ao pró-
prio tzar. Em um domingo, 9 de janeiro de 1905, aglomeraram-se
em frente ao Palácio de Inverno, sede e símbolo do poder, e le-
vantando ícones e gravuras — santas e poderosas — expuseram
súplicas: “Se Tu continuas surdo… morreremos aqui mesmo, nesta
praça, diante de Teu palácio…” Morreram mesmo. Centenas? Mi-
lhares? O poder reconheceu 92 mortos. E milhares de feridos. O
tzar nem estava no palácio. Os cossacos e a polícia, surdos, abriram
fogo. Ali estava a resposta do Estado (REIS FILHO, 1997, p. 28).

SUNDAY
BLOODY
SUNDAY

124
UNIDADE 4

A este evento a historiografia denomina como Domingo Sangrento. Este ata-


que cruel à população fez com que a sociedade de São Petersburgo se colocasse
em movimento contra o regime estabelecido em busca de melhores condições.
Como consequência, São Petersburgo foi varrida por greves, motins e mani-
festações. Desta forma, em 1905 aconteceu a primeira Revolução Russa.
Obteve a participação de grupos distintos, como liberais e constitucionalistas
burgueses. Ao mesmo tempo: “foi uma revolta dos trabalhadores, inflamada
pela atrocidade do ‘Domingo Sangrento’ [...] Foi uma revolta generalizada dos
camponeses, espontânea e descoordenada, com frequência muito amarga e vio-
lenta” (CARR, 1981, p. 12).
Essa revolta reverberou em consequências muito mais amplas, além de três
ondas de greves gerais, nas quais, milhões de trabalhadores varreram parte do
império russo, em 1905, na cidade de Ivanovo-Voznesenk, operários criaram
uma forma de organização nova: o soviet, que em português teria a equivalência
de conselho. Os sovietes tinham os seus representantes, deputados, eleitos pelos
próprios operários. O modelo se espalhou rapidamente em diversas cidades
russas, o mais importante instalou-se na capital São Petersburgo - que teria
como líder Liev Davidovich Bronstein, conhecido como Leon Trotsky - que
rapidamente foi dissolvido pela polícia. No campo, também havia pressão dos
camponeses, os mujiques, que também se colocaram em manifestação invadin-
do e reivindicando terras, inclusive formaram a primeira união de camponeses
russos. Até mesmo as próprias elites se movimentaram e reivindicavam uma
Assembleia Constituinte (REIS FILHO, 1997).
Diante de todas pressões, o czar foi obrigado a ceder algumas concessões.
Para Edward Carr, não passaram de: “concessões constitucionais, em grande
parte irreais” (CARR, 1981, p. 12). Em outubro, o czar reconheceu algumas li-
berdades fundamentais e permitiu a criação de um parlamento eleito, a Duma,
que logo seria dissolvida pelo próprio monarca. Apesar das ambiguidades, foi o
suficiente para acalmar as elites que temiam as massas e as revoltas que aumen-
tavam naquele período (REIS FILHO, 1997). Com isso, as greves perderam a
força e pouco a pouco as coisas se acalmaram, apesar de não conseguir grandes
mudanças a revolução de 1905 abriu as portas para algo muito maior doze anos
depois, as revoluções de 1917.

125
UNIDADE 4

Retomamos neste ponto a Primeira Guerra Mundial. Como vimos na Uni-


dade anterior os russos lutaram, ao lado da França e da Inglaterra na Tríplice En-
tente. Contudo, teve que lutar sem a ajuda destes contra a Alemanha e o Império
Austro-Hungaro no leste europeu. Apesar da grande mobilização de homens,
os russos não foram capazes de conter essas forças e, pouco a pouco, o exército
russo entrou em colapso. De acordo com João Fábio Bertonha:


Com o fim do ano de 1916 e o início de 1917, o Exército russo esta-
va realmente começando a entrar em colapso. Nesse momento, os
russos já contabilizavam cerca de 1,8 milhão de mortos, 2,7 milhões
de feridos e 3,6 milhões de prisioneiros de guerra ou desaparecidos
(KENNEDY, 1989, p. 256-257). [...] O moral dos soldados estava
abatido pela disciplina brutal, escassez de comida, roupas e equi-
pamentos, perdas imensas de vidas e um crescente sentimento de
que as batalhas sem fim, e a própria guerra, não tinham sentido.
Também dentro da Rússia, as condições de vida deterioravam-se
rapidamente, com desabastecimento

generalizado de alimentos, remédios e combustíveis, e o desconten-


tamento crescia (BERTONHA, 2009, p. 58- 59).

Sendo assim, no início de 1917, a situação do czar no poder era insustentável. A


moral dos soldados estava baixa e o povo, ainda, passava fome e frio, faltava o bá-
sico para a população. A guerra não fazia sentido nenhum, nem para a população
nem mesmo para as forças armadas. Como resultado eclodiram as jornadas de
fevereiro de 1917, ou a Revolução de Fevereiro de 1917. Durante cinco dias,
liderados por: “[...] operários conscientes e bem temperados e sobretudo os que se
formaram no escola do partido de Lenine” (TROTSKY, 2017a, p. 178) fortes mo-
vimentos sociais atingiram a cidade de São Petersburgo, que no início da guerra
havia alterado seu nome para Petrogrado. Como resultado, ocorreu a queda da
secular monarquia russa, o czar Nicolau II, da família Romanov, renunciou ao
poder. Uma revolução sem a participação dos bolcheviques, de caráter híbrido,
sem partido ou líderes específicos (REIS FILHO, 1997).

126
UNIDADE 4

Com a queda do absolutismo, abriu-se espaço para novos grupos entrarem


no poder. O governo autoritário do czarismo foi substituído por um Governo
Provisório de caráter democrático, tendo como base de seu poder a Duma,
o parlamento. No entanto, ao lado do parlamento que governava a Rússia se
fortalecia na cidade de Petrogrado o Soviete, que havia sido reestruturado aos
moldes de sua criação em 1905. Formava-se assim, uma dualidade de poder
(CARR, 1981, p. 12).
Apesar do governo provisório ambicionar a criação de uma república com
instituições e uma constituição liberal, a sua decisão de manter a Rússia na Pri-
meira Guerra Mundial e de não tomar decisões relacionada a tão pedida reforma
agrária, fez com que o momento fosse propício para os grupo mais radicais toma-
rem o poder (FERGUSON, 2015, p. 224). De acordo o historiador Niall Ferguson,
os próprio bolcheviques, exilados da Rússia com outros revolucionários mais
radicais até então, foram pegos de surpreso pela revolução:


“É impressionante!”, exclamou Lenin quando recebeu a notícia em
Zurique. “Mas que surpresa! Imagine só! Precisamos voltar para
casa, mas, como?” O Supremo Comando Alemão respondeu a essa
pergunta, fornecendo-lhe não só a passagem de trem até Petrogra-
do, mas também, com auxílio de dois intermediários suspeitos cha-
mados Parvus e Ganetsky, fundos para subverter o novo governo
(FERGUSON, 2015, p. 224).

Perceba caro (a) estudante, como a revolução de fevereiro pegou de surpresa a


todos, inclusive os revolucionários mais radicais. Como aponta o historiador, o
próprio governo alemão, que se encontrava como o principal inimigo da Rússia
na guerra - que permanecia entre as nações - ajudou no retorno destes revolu-
cionários para a Rússia. Afinal, se estes revolucionários realizassem a tomada do
poder, retirariam a Rússia da guerra, colaborando de forma determinante para
que a Alemanha pudesse se dedicar ao conflito no front ocidental.
Com a chegada destes revolucionários, o governo provisório:

127
UNIDADE 4


Ao invés de mandá-lo para a cadeia com seus associados como bem
mereciam, o Governo Provisório vacilou. No dia 27 de agosto, ins-
tigado pelos críticos conservadores do novo regime, o comandante
supremo do Exército russo, general Lavr Kornilov, desencadeou um
golpe militar fracassado. O efeito não planejado foi o aumento do
apoio aos bolcheviques nos sovietes, que tinham surgido como um
tipo de governo paralelo não só em Petrogrado (como em 1905),
mas em outras cidades também (FERGUSON, 2015, p. 224).

Ou seja, o fato do governo provisório ter mantido a Rússia na guerra, ter per-
mitido a volta dos revolucionários mais radicais e o golpe de Lavr Kornilov,
fizeram com que o apoio dos bolcheviques, que até então era pequeno, crescesse
cada dia mais.
Um elemento que marcou a volta de Vladimir Lenin a Petrogrado foi a emis-
são das suas famosas Teses de Abril, imortalizadas pela ideia de “Paz, pão e
terra” complementada pelo “poder aos sovietes”. Sendo assim, Lenin se posicio-
nava com a ideia de que era necessário fazer uma revolução socialista de forma
imediata. Afirmando que a revolução de fevereiro teria sido uma primeira etapa,
que entregou o poder à burguesia, e que agora era necessário realizar uma que
entregasse o poder para para os camponeses e operários (CARR, 1987, p. 13).
Desta forma, com o apoio crescente dos sovietes, os bolcheviques começaram
a preparar a tomada de poder. No mês de Outubro, Lenin e o comitê do partido
prepararam o golpe por meio de uma comissão militar revolucionária, da qual,
Leon Trotsky, que também retornou do exílio, desempenhou um importante
papel. No dia 25 de outubro, a chamada Guarda Vermelha ocupou pontos im-
portantes da cidade de Petrogrado e após isso, marcharam em direção à sede
do governo, o Palácio de Inverno. Sem nenhum derramamento de sangue, ou
mesmo uma janela quebrada, o governo provisório esfacelou-se sem nenhum
tipo de resistência, Alexander Kerenski, até então, primeiro-ministro do governo
provisório, fugiu para a Europa ocidetal (CARR, 1987, p. 15). Com isso, concre-
tizava-se a Revolução de Outubro de 1917.

128
UNIDADE 4

Lenin tornou-se chefe do governo russo com o cargo de Presidente do Con-


selho de Comissários do Povo da República Socialista Federativa Soviética da
Rússia. Os bolcheviques chegaram ao poder. A primeira decisão foi a de retirar a
Rússia da guerra a qualquer custo. Trotsky, agora encarregado da política exter-
na com o cargo de Comissário do Povo para os Negócios Estrangeiros, tentava
ganhar tempo, contudo os alemães marcharam e tomaram as regiões do Báltico,
Polônia e Ucrânia. Trotsky, teve que ceder à pressão de Lenin a favor da capitula-
ção. Como consequência, os Comando alemão exigiu concessões gigantescas e:


[...] os bolcheviques tiveram de ceder um terço das terras cultiváveis
do Império Russo do pré-guerra e sua população, mais da metade
de sua indústria e quase 90% de suas minas de carvão. A Polônia, a
Finlândia, a Lituânia e a Ucrânia se tornaram independentes, embo-
ra sob tutela alemã. O dinheiro que eles tinham usado para mandar
Lenin de volta para a Rússia tinha, ao que parecia, rendido bons
juros (FERGUSON, 2015, p. 225).

A saída da Rússia da guerra e as condições a serem cumpridas como conse-


quência de sua derrota foram firmadas no Tratado de Brest-Litovsky no dia 3 de
março de 1918, como vimos na citação de Ferguson, aproximadamente 780 mil
quilômetros quadrados foram perdidos neste tratado.
Contudo, a guerra não se manteve afastada por muito tempo da Rússia, pois,
já em 1918 iniciava-se a chamada Guerra Civil que duraria até outubro de 1922.
Os bolcheviques lutaram contra diversos exércitos antibolcheviques que ficaram
conhecidos como “exército branco”. Inclusive, os “brancos”, em 1918, receberam
ajuda de países estrangeiros para colaborar na derrubada dos bolcheviques do
poder russo. Japoneses, estadunidenses, ingleses, canadenses e franceses foram
enviados para combater, enquanto os alemães forneceram armamentos (BER-
TONHA, 2009, p. 69).

129
UNIDADE 4

Consequentemente, os bolcheviques tiveram sérios problemas para vencer


este longo conflito. Para tal feito, os bolcheviques desenvolveram algumas estra-
tégias, por exemplo, o Comunismo de Guerra. Por meio desta estratégia, Lenin
centralizou todos os recursos no estado bolchevique, confiscando os grãos dos
camponeses, expropriando os negócios privados e nacionalizando as indústrias.
Em suma, trata-se de uma política de controle de todos os recursos para poder di-
recioná-los à guerra civil, sem preocupar-se com as consequências e custos para a
sociedade como um todo (BERTONHA, 2009, p. 70). Uma medida extremamen-
te impopular, mas que ajudou a garantir a vitória dos soviéticos bolcheviques.
Outros aspectos, que colaboraram para a vitória bolchevique neste conflito,
segundo o historiador Niall Ferguson foram:


Trotsky tinha duas vantagens. Em primeiro lugar, os bolcheviques
controlavam os principais centros das estradas de ferro, a partir dos
quais ele poderia mobilizar forças com rapidez. [...] Em segundo
lugar, embora os bolcheviques não tivessem experiência de guer-
ra, tinham experiência de terrorismo; assim como os nacionalistas
sérvios, eles também tinham usado os assassinatos como tática nos
anos pré-guerra. Foi ao terror, em nome da lei marcial, que Trotsky
então se voltou. Ao chegar a Kazan, [...] trouxe 27 desertores para
as proximidades de Syvashsk, às margens do Volga, e fez com que
fossem baleados. O único modo de garantir que os recrutas do Exér-
cito Vermelho não desertassem ou fugissem, concluíra Trotsky, era
montar metralhadoras na retaguarda deles e atirar em qualquer um
que não conseguisse avançar contra o inimigo. Essa era a escolha
que ele oferecia: a possibilidade da morte no front ou a certeza da
morte na retaguarda. [...] As unidades que se recusassem a lutar
deveriam ser dizimadas (FERGUSON, 2015, p. 229).

Desta forma, o uso da força e do terror, na economia, na política e inclusive con-


tra os seus próprios homens garantiram que os vermelhos vencessem a Guerra
Civil, no ano de 1922. Apesar da vitória, o país encontrava-se devastado, mudan-
ças eram necessárias. Um primeiro aspecto foi a criação da Союз Советских
Социалистических Республик (CCCP) ou União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) em 1922, sendo a sua constituição aprovada no ano de 1923 e
ratificada pelo Segundo Congresso dos Sovietes em 1924 (CARR, 1987, p. 44-45).

130
UNIDADE 4

Todavia, os anos de 1921 e 1922 foram marcados por outro aspecto: a criação da
Nova Política Econômica, ou NEP.
A NEP foi uma política econômica criada para substituir o comunismo de
guerra e recuperar a economia soviética. Na prática era um retorno parcial às
políticas econômicas capitalistas. Entre sua principal característica estava a de
que depois de pagar o imposto em produto o camponês poderia comercializar
livremente no mercado os seus produtos, assim como, as pequenas indústrias
(CARR, 1987, p. 37), no entanto, as indústrias de grande porte continuaram nas
mãos do Estado soviético. De acordo com o historiador britânico Eric Hobs-
bawm: “A NEP na verdade teve um brilhante êxito na restauração da economia
soviética a partir da ruína de 1920. Em 1926, a produção industrial soviética havia
mais ou menos recuperado seu nível pré-guerra, embora isso não significasse
grande coisa” (HOBSBAWM, 2011, p. 370).
No entanto, a NEP incendiava os debates dentro do Partido Comunista da
União Soviética, afinal a NEP mantinha dentro do sistema a propriedade pri-
vada, elementos que queriam abolir de sua sociedade (BERTONHA, 2009, p.
73). A situação se agravou com o adoecimento e morte de Vladimir Lenin em
1924. Iniciou-se uma disputa pelo poder entre Leon Trotsky - que defendia a
propagação da revolução para todo o planeta - e Ioseb Besarionis dze Jughashvili,
conhecido popularmente como Josef Stalin, que defendia a ideia de “socialismo
em um país só”.
A ala de Stalin saiu vencedora desta disputa e, ao assumir o poder, colocaram
em execução: “uma industrialização maciça, a qualquer custo, do país. Esta, con-
solidou seu domínio especialmente a partir de 1929 e, a partir de então, a URSS
entrou num programa maciço de coletivização da terra, industrialização e reforço
ainda maior do poder do Estado (BERTONHA, 2009, p. 73).

EXPLORANDO IDEIAS

Acerca do totalitarismo soviético existe uma divergência historiográfica. Para historiado-


res como Eric Hobsbawm, o governo de Stalin, por mais que tenha sido de uma “desu-
manidade sem precedentes” não havia sido totalitário (HOBSBAWM, 2011, p. 380-383). Já
para Niall Ferguson, o regime stalinista se enquadraria dentro das características de um
estado totalitário (FERGUSON, 2015).

131
UNIDADE 4

Durante esse processo, o totalitarismo soviético, iniciado com Lenin, chegou ao


seu ápice, o stalinismo. Stalin era um: “era um autocrata de ferocidade, cruel-
dade e falta de escrúpulos excepcionais, alguns poderiam dizer únicas. Poucos
homens manipularam o terror em escala mais universal” (HOBSBAWM, 2011,
p. 371). Durante seu longo governo de 1924 a 1953, perseguiu seus inimigos
políticos e todos aqueles que ameaçavam seu poder. Inclusive, foi o realizador de
“limpeza étnica” atuando na prisão, deportacão e assassinato de diversos povos
como os poloneses. De acordo com Hannah Arendt, durante o Primeiro Plano
Quinquenal de Stalin, aproximadamente 9 a 12 milhões de pessoas morreram,
5 a 9 milhões foram deportados do país e 3 milhões executados. No entanto,
os números parecem ser ainda maiores devido ao desconhecimento de muitos
destes acontecimentos pelo Ocidente (ARENDT, 1998, p. 344).
Além disso, na década de 1930 foi realizado o Holodomor, uma fome pro-
vocada por Stalin, na qual, não se sabe ao certo o número de ucranianos que
morreram de fome, 3, 5, 7, 10 milhões de mortos. Ainda existem debates acerca
do evento, alguns países consideram como genocídio, outros como um crime in-
ternacional contra a humanidade. Inclusive, em 2010, a Assembleia Parlamentar
do Conselho da Europa fez uma condenação internacional, por meio da Reso-
lução 1723: «Homenagem às vítimas da Grande Fome (Holodomor) na antiga
URSS» (28 de Abril de 2010) (CIESZYŃSKA; FRANCO, 2013).

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Holodomor - A desconhecida tragédia ucraniana (1932-1933)


Autor: Béata Cieszynska e José Eduardo Franco
Editora: Grácio
Sinopse: O livro apresenta diversas perspectivas acerca do Holodo-
mor. Em um primeiro momento faz uma introdução ao tema para em segui-
da apresentar análises históricas, jurídicas, artísticas e até mesmo declara-
ções documentais acerca do acontecimento. O livro é de grande valia para
compreender melhor esse genocídio esquecido por muitos.

132
UNIDADE 4

A entrada de Stalin no poder e o seu totalitarismo teriam deturpado e degene-


rado a história do partido bolchevique. Pouco a pouco, a URSS, que deveria ser
um governo liderado pelos soviéticos, por uma representação operária, pouco
a pouco, evoluiu para a ditadura de um partido único, liderado pelo autoritário
e violento Josef Stalin. A URSS sob o seu controle encontrará um forte desen-
volvimento econômico e tecnológico, a ponto de na Segunda Guerra Mundial,
fazer frente e vencer os nazistas, praticamente sozinhos no leste Europeu. Como
consequência, após a Segunda Guerra Mundial a União Soviética tornou-se um
dos dois pólos principais da Guerra Fria, disputando a hegemonia global por
aproximadamente cinquenta anos contra os Estados Unidos da América. Esse
assunto será melhor abordado na Unidade 5 de nosso livro.
Respondidas as perguntas: O que foi a Revolução Russa? Quando começou, quais
foram as suas causas e como ela se desenvolveu nas primeiras décadas do século XX?
Chegou a hora de nossos viajantes históricos partirem para o seu próximo destino.

133
UNIDADE 4

- Dante: Professor, podemos afirmar que a Revolução Russa pos-


sui fortes impactos sobre toda a civilização humana no século XX,
tendo em vista que seu acontecimento apresentou uma alternativa
ao capitalismo até então dominante.

- Professor de História: Exatamente, Dante. Essa possibilidade de


revoluções desenvolvidas com caráter socialista se espalhou por
toda a Europa, e o medo de determinadas classes em relação a essas
revoluções, combinado com a situação econômica global a partir de
1929 proporcionou o desenvolvimento de uma ideologia totalitária
que tomaria o poder o poder da Itália e da Alemanha e mudaria o
destino do planeta nos anos seguintes.

- Dante: Estamos falando do fascismo?

- Professor de História: Sim, para compreender a formação deste


movimento totalitário responsável pela morte de milhões de pes-
soas na primeira metade do século XX, devemos viajar, neste mo-
mento, para os Estados Unidos da América no ano de 1929.

A crise do sistema econômico capitalista no ano de 1929 e a grande recessão na


década de 1930 é, sem sombra de dúvidas, fundamental para compreendermos
os processos históricos que se seguiram a esta crise. Para Eric Hobsbawm, sem
esse colapso econômico não teria surgido Hitler e provavelmente também não
chegaria ao poder Franklin D. Roosevelt (HOBSBAWM, 2011, p. 91).
Sendo assim, se quisermos, de fato compreendermos o período entre guerra,
1919 a 1939, é preciso respondermos algumas perguntas:
■ O que foi a Crise de 1929 e quais fatores ocasionaram essa grande crise
global?
■ Quais foram as consequências para os Estados Unidos da América e para
os outros países?

Para compreendermos a crise de 1929 é importante voltarmos aos anos após a


Primeira Guerra Mundial. A partir de 1919, o mundo, ou pelo menos grande par-
te dele, “dançava ao som do ritmo norte-americano” (FERGUSON, 2015, p. 273).
Temos de nos lembrar, caro (a) estudante, que com a destruição da europa na
Grande Guerra, os Estados Unidos da América tornou-se a maior potência

134
UNIDADE 4

industrial/econômica do planeta, ficando, inclusive, a economia europeia su-


jeita ao sucesso ou ao fracasso desta economia. De acordo como historiador britânico:


Para quem foi feliz o suficiente para não participar dela, a Primeira
Guerra Mundial tinha sido um duplo benefício. O desvio temporá-
rio de tanta produção europeia para a indústria da destruição per-
mitira aos produtores asiáticos e norte-americanos uma expansão
considerável, mas eles não tinham condições de compensar comple-
tamente a ruptura causada pela guerra. Era um mercado mundial de
vendedores. Ao mesmo tempo, à medida que os governos emitiam
dinheiro para cobrir seus déficits, o financiamento inflacionário
da guerra empurrou para o alto os preços em todo o mundo [...]
(FERGUSON, 2015, p. 275-276).

Contudo, apesar dos EUA se desenvolveram com toda essa nova demanda, novos
problemas começaram a aparecer no país. Afinal, a demanda presente não era
suficiente para uma expansão duradoura na década de 1920. Logo o que ocorreria
seria uma crise de superprodução.


As fundações da prosperidade da década de 1920, como vimos,
eram fracas, mesmo nos EUA, onde a agricultura já se achava pra-
ticamente em depressão, e os salários em dinheiro, ao contrário do
mito da grande era do jazz, não estavam subindo, mas na verdade
estagnaram nos últimos anos loucos do boom (Historical Statistics
of the USA, I, p. 164, tabela D 722-727). O que acontecia, como
muitas vezes acontece nos booms de mercados livres, era que, com
os salários ficando para trás, os lucros cresceram desproporcional-
mente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do bolo nacional.
Mas como a demanda da massa não podia acompanhar a produ-
tividade em rápido crescimento do sistema industrial nos grandes
dias de Henry Ford, o resultado foi superprodução e especulação.
Isso, por sua vez, provocou o colapso (HOBSBAWM, 2011, p. 95).

Em suma, o que aconteceu nos Estado Unidos foi uma crise de superprodução
devido a falta de uma demanda duradoura, uma alta especulação ao entorno do
mercado de ações, uma alta concentração de renda e uma grande crise de cré-
dito. Juntos, esses fatores provocaram uma das maiores crises que o capitalismo

135
UNIDADE 4

vivenciaram até então. Como o grande problema estava na parte


especulativa com as ações, quando a bolha explodiu, as conse-
quências foram terríveis. Para Niall Ferguson


No dia 29 de outubro de 1929 - a “Quinta-Feira
Negra”, o índice Dow Jones Industrial caiu qua-
se 12%, uma das quedas mais acentuadas em sua
história. O mercado havia, na verdade, começado
a derrapar depois do dia 3 de setembro; no dia
13 de novembro ele caíra quase 50%. Isso signi-
ficou um colapso na confiança de investidores na
lucratividade futura das corporações dos Estados
Unidos, aumentado pela venda causada pelo pâ-
nico pоr parte dos especuladores, que estavam
negociando na margem (na verdade, com dinhei-
ro emprestado). A recuperação subsequente, que
durou até abril de 1930, demonstrou ser ilusória.
Desde então até julho de 1932, o mercado despen-
cou inexoravelmente. Em seu nadir, no dia 8 de
julho de 1932, os preços das ações haviam caído só
11% do seu valor máximo em 1929. Com exceção
de 1914, o mercado de ações nunca testemunhara
tanta volatilidade, e nada remotamente parecido
com isso aconteceu desde então (FERGUSON,
2015, p. 276).

Devemos agora responder, quais foram as consequências para os


EUA. A quebra da bolsa iniciou um efeito em cadeia. Após a Cri-
se de 1929 os EUA entrou na chamada Grande Depressão. As
empresas quebraram e declaram falência, colocando milhões de
desempregados nas ruas. De acordo com Eric Hobsbawm, com
a expansão da crise para a Europa, o número de desempregados
era assustador, chegando a 23% na Grã-bretanha, 27% nos EUA
e assustadores 44% na Alemanha (HOBSBAWM, 2011, p. 97). Os
Estados Unidos, oficialmente entraram em uma grande recessão.

136
UNIDADE 4

Figura 3: Foto que demonstra a incoerência da vida nos EUA e do American Way of Life após
a Crise de 1929. A foto foi tirada após a inundação do rio Ohio em 1937.
Fonte: By Margaret Bourke-White - The American Way of Life, located online in many places,
Public Domain.

Descrição da Imagem: A fotografia é em preto e branco. Ao fundo temos um enorme cartaz, um out-
door, na parte de cima do cartaz está escrito: maior padrão de vida do mundo. No lado direito do cartaz
encontra-se outra frase: “Não há maneira como a maneira americana”. Ao lado esquerdo no cartaz temos
uma família caucasiana dentro de um carro, é possível ver a família pelo parabrisa. O pai dirige o carro
com um grande sorriso, usa um chapéu, terno e gravata. Ao seu lado no passageiro tem uma mulher,
também sorridente usando chapéu. No banco de trás é possível observar duas crianças. Mais à esquerda
um menino sorri olhando para o seu cachorro com a cabeça para fora da janela. Enquanto a menina no
centro do carro olha e sorri para a sua mãe. Na frente deste grande outdoor, temos uma fila de pessoas,
a maioria é negra. Ao todo são dezessete pessoas em fila, que vestem roupas de frio e carregam cestas,
sacos e baldes na espera para pegar alimentos.

Com a grande depressão, os americanos perceberam que era necessário mudar


a estratégia política adotada até então. Deixando de lado uma maior liberalismo
econômico, no qual o Estado não interfere nas questões econômicas, a popula-
ção, em 1932, elegeu o famoso presidente democrata Franklin Delano Roosevelt,

137
UNIDADE 4

tirando do poder o republicano Herbert Hoover. Seu plano de governo principal


era a implementação do chamado New Deal, que seria um novo acordo.
De acordo com Ray Allen Billington (1981), quando F. D. Roosevelt assumiu
o poder dos Estados Unidos em 1933, havia em seu país aproximadamente 15
milhões de desempregados. Com o objetivo de recuperar o país, o programa do
New Deal possuía três objetivos principais. Primeiro, gerar um alívio para os tra-
balhadores estadunidenses, tanto do campo quanto da cidade e principalmente
para os que estavam desempregados. Para se ter ideia, em 1932 apenas 28 estados
estadunidenses forneciam um sistema de aposentadoria para pessoas idosas e
apenas dois forneciam um seguro desemprego. O segundo aspecto estava ligado
ao projeto de reconstrução e recuperação da economia do país. Por fim, realizar
reformas que evitassem novos problemas econômicos no futuro (BILLINGTON,
1987, p. 181 e 187).
Um aspecto importante do New Deal de Roosevelt que gostaríamos de des-
tacar foi que juntamente a esta intervenção massiva na economia por parte do
Estado, também foram implementadas medidas de assistencialismo social, inau-
gurando o que após a Segunda Guerra Mundial, ficou conhecido como Welfare
State ou Estado de Bem-estar Social. Trata-se de medidas como sistemas previ-
denciários e leis de seguridade social que garantisse uma melhor qualidade de
vida e segurança para os trabalhadores. O Welfare State foi amplamente utilizado
na Europa, após a Segunda Guerra Mundial, principalmente nos países escandi-
navos (HOBSBAWM, 2011).

Caro (a) estudante, as crises econômicas possuem fortes


impactos nas sociedades. Com o objetivo de compreender-
mos melhor esse processo histórico a partir de 1929, vamos
para mais um episódio do nosso podcast. Vamos nessa?

Acerca das consequências da Crise de 1929 e da grande depressão nos outros


países devemos elencar alguns aspectos. A Crise de 1929 ao “quebrar” a maior
potência econômica do mundo atingiu todo o planeta. A começar pelo Brasil, que
possuía como principal fonte de renda a venda do café para os Estados Unidos da

138
UNIDADE 4

América. Com a crise, o Brasil passou não apenas por conturbações econômicas,
mas também por mudanças políticas, tendo em vista, que a Depressão econômica
colaborou para o fim da república oligárquica no Brasil e na entrada de Getúlio
Vargas no poder pela revolução de 1930 (HOBSBAWM, 2011).
Apenas um país pareceu imune a esta grande crise do capitalismo a:


a União Soviética. Enquanto o resto do mundo, ou pelo menos o
capitalismo liberal ocidental, estagnava, a URSS entrava numa in-
dustrialização ultrarrápida e maciça sob seus novos Planos Quin-
quenais. De 1929 a 1940, a produção industrial soviética triplicou,
no mínimo dos mínimos. Subiu de 5% dos produtos manufatura-
dos do mundo em 1929 para 18% em 1938, enquanto no mesmo
período a fatia conjunta dos EUA, Grã-Bretanha e França caía de
59% para 52% do total do mundo. E mais, não havia desemprego
(HOBSBAWM, 2011, p. 100)

Desta forma, a URSS com os Planos Quinquenais implementados pelo totalitário


Joseph Stalin, impediram aquele país de sofrer com a crise estabelecida. Porém,
o mesmo não pode ser visto nos outros países europeus. Na verdade, a crise de
1929 mostrou-se um verdadeiro desastre para a economia e consequentemente
para a política europeia.
- Professor de História: Dante, para compreendermos melhor os
impactos da Crise de 1929 na Europa, nos transportaremos agora
para a Itália. Local onde iniciou-se uma ideologia totalitária que
resultou em milhões de mortos.

- Dante: Estamos falando do Fascismo, certo?

- Professor de História: Exatamente. Vamos agora compreender


melhor essa ideologia que tomou conta da Itália e da Alemanha
pós guerra e que pode ser considerada a principal causa da Segunda
Guerra Mundial.

Compreender o que é o fascismo e o nazismo é essencial para qualquer pessoa,


ainda mais, para um estudante e profissional da área de ciências humanas. Neste
momento, nosso objetivo é responder três perguntas principais:

139
UNIDADE 4

■ O que é o fascismo?
■ Como ele chegou ao poder na Itália?
■ Como ele chegou ao poder na Alemanha?

Iniciamos a nossa discussão a partir da definição do que é fascismo. De acordo


com a socióloga Edda Saccomani, em seu verbete Fascismo no Dicionário de
Política organizado por Norberto Bobbio, o fascismo possui diversas definições
muitas vezes contraditórias. Tendo em vista a complexidade deste sistema au-
toritário. O termo pode ser utilizado de três formas. Primeiro para identificar
o seu movimento originário, o Fascismo italiano; o segundo está vinculado a
uma característica mais internacional com a chegada do nacional-socialismo
na Alemanha que acabaram por identificá-lo como fascismo; por fim, todo o
movimento que se desenvolveu com determinadas características ideológicas
(SACCOMANI, 2010, p. 466).
De acordo com a socióloga, normalmente entre as características atribuídas
ao fascismo estão a:


[...] monopolização da representação política por parte de um
partido único de massa, hierarquicamente organizado; por uma
ideologia fundada no culto do chefe, na exaltação da coletividade
nacional, no desprezo dos valores do individualismo liberal e no
ideal da colaboração de classes, em oposição frontal ao socialismo
e ao comunismo, dentro de um sistema de tipo corporativo; por
objetivos de expansão imperialista, a alcançar em nome da luta das
nações pobres contra as potências plutocráticas; pela mobilização
das massas e pelo seu enquadramento em organizações tendentes
a uma socialização política planificada, funcional ao regime; pelo
aniquilamento das oposições, mediante o uso da violência e do
terror; por um aparelho de propaganda baseado no controle das
informações e dos meios de comunicação de massa; por um cres-
cente dirigismo estatal no âmbito de uma economia que continua
a ser, fundamentalmente, de tipo privado; pela tentativa de integrar
nas estruturas de controle do partido ou do Estado, de acordo com
uma lógica totalitária, a totalidade das relações econômicas, sociais,
políticas e culturais (SACCOMANI, 2010, p. 466).

140
UNIDADE 4

Perceba caro (a) estudante, para atribuirmos alguém ou algo como fascista,
existem uma série de características que devem ser contempladas, como as de-
monstradas no excerto acima. Perceba que além de se enquadrar dentro destas
características o fascismo ou nazismo existiu no período entre-guerras. Sendo
assim, quando analisamos movimentos anteriores ou posteriores a este período
é interessante que utilizemos os prefixos “proto” ou “neo”.
Uma outra característica importante é a de que o fascismo italiano e o nazismo
alemão eram totalitários. Existe um debate historiográfico importante acerca da
utilização deste conceito. Nesta unidade, quando abordamos os feitos de Joseph
Stalin, vimos a discussão acerca de seu governo ter sido totalitário ou não. O con-
ceito de totalitarismo segundo Mario Stoppino (2010), teria surgido na década
de 1920, para dar sentido às características fascistas em contraposição ao Estado
Liberal. A expressão foi usada no verbete “Fascismo”da Enciclopédia Italiana de
1932, quando Benito Mussolini já estava no poder. A ideia era que o partido fas-
cista governaria totalitariamente para a nação (STOPPINO, 2010, p. 1247).

141
UNIDADE 4

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, to-


talitarismo.
Autor: Hannah Arendt
Editora: Companhia de Bolso
Sinopse: A obra de Hannah Arendt é um clássico para compreender a for-
mação e as características dos Estados Totalitários. Mas, a obra vai além
disso e discute o desenvolvimento do antissemitismo na Europa e as o Im-
perialismo desde da segunda metade do século XIX até o início da Primeira
Guerra Mundial.

Contudo, Hannah Arendt foi a filósofa que realizou uma das melhores defini-
ções sobre este conceito em sua obra Origens do totalitarismo: Antissemitismo,
Imperialismo, Totalitarismo. Uma primeira característica apresentada dos regi-
mes totalitários de forma geral é que dependem das massas. Tanto é que após a
derrota dos líderes totalitários como Hitler e Stalin, são rapidamente esquecidos
e substituídos. Isso porque, os totalitarismos só conseguem se manter no poder
“enquanto estiverem em movimento e transmitirem movimento a tudo que os
rodeia” (ARENDT, 1998, p. 356). Em consonância a isso, é importante discutir-
mos uma outra característica que gera polêmica: o grande apoio das massas aos
ditadores totalitários. Veja o que nos apresenta Hannah Arendt:


É muito perturbador o fato de o regime totalitário, malgrado o seu
caráter evidentemente criminoso, contar com o apoio das mas-
sas. Embora muitos especialistas neguem-se a aceitar essa situação,
preferindo ver nela o resultado da força da máquina de propaganda
e de lavagem cerebral, a publicação, em 1965, dos relatórios, ori-
ginalmente sigilosos, das pesquisas de opinião pública alemã dos
anos 1939-44, realizadas então pelos serviços secretos da SS [...]
demonstra que a população alemã estava notavelmente bem infor-
mada sobre o que acontecia com os judeus ou sobre a preparação
do ataque contra a Rússia, sem que com isso se reduzisse o apoio
dado ao regime (ARENDT, 1998, p. 339).

142
UNIDADE 4

O historiador Robert Paxton (2007), complementa esta ideia ao explicar a


cumplicidade das pessoas comuns com os regime fascistas como um dos ele-
mentos de seu sucesso:


Um outro problema das imagens convencionais do fascismo é que
elas enfocam os momentos mais dramáticos do seu itinerário [...]
e omitem a textura sólida da experiência cotidiana, e também a
cumplicidade das pessoas comuns no estabelecimento e no fun-
cionamento dos regimes fascistas. Eles jamais teriam crescido sem
a ajuda das pessoas comuns, mesmo de pessoas convencionalmen-
te boas. Jamais teriam chegado ao poder sem a aquiescência, ou
mesmo a concordância ativa das elites tradicionais [...] Os excessos
do fascismo no poder exigiam também uma ampla cumplicidade
entre os membros do establishment: magistrados, policiais, oficiais
do exército, homens de negócio. Para entender plenamente como
funcionavam esses regimes, temos que descer ao nível das pessoas
comuns e examinar as escolhas corriqueiras feitas por eles em sua
rotina diária. Fazer essas escolhas significava aceitar o que parecia
ser um mal menor, ou desviar o olhar de alguns excessos que, a
curto prazo, não apreciam tão nocivos, e que, isoladamente, podiam
ser vistos até mesmo como aceitáveis, mas que, cumulativamente
acabaram por se somar em monstruosos resultados finais (PAX-
TON, 2007, p. 34-35).

Perceba caro (a) estudante, o sucesso dos regimes totalitários, e nesse caso de
análise o fascismo, dependeram da participação, apoio ou simplesmente cum-
plicidade das pessoas comuns, dita como boas.

143
UNIDADE 4

EXPLORANDO IDEIAS

Acerca do debate sobre o conceito de Totalitarismo é preciso apresentarmos a ideia de


que esse conceito pode ser impreciso, tendo em vista que mesmo nos estados tidos como
totalitários, existiram movimentos de resistência e nunca obtiveram apoio de 100% da so-
ciedade. A própria filósofa Hannah Arendt explica que nem mesmo o fascismo de Benito
Mussolini, embora usasse a expressão totalitária, tentou implementar um governo com-
pletamente totalitário e que teria “contentado-se com a ditadura unipartidária” (ARENDT,
1998, p. 357-358). Para a filósofa os dois grandes regimes totalitários seria o nazista de
Hitler e o de Joseph Stálin na União Sociética.

Voltando a nossa análise para as características dos regimes fascistas, em sua obra
A Anatomia do Fascismo o historiador Robert Paxton, nos chama a atenção para
a necessidade de analisarmos o fascismo de acordo com as ações seus membros
e não apenas por meio de seus discursos, como é normalmente realizado pela
historiografia (PAXTON, 2007, p. 11). Entre as características que podem ser
apontadas é que apesar da crítica fascista ao capitalismo e burguesia, quando
chegaram ao poder pouco fizeram para cumprir as ameaças que fizeram ao sis-
tema capitalista. Para Paxton: “O fascismo italiano, desse modo, irrompeu na
história por meio de um ato de violência contra não apenas o socialismo como
também contra a legalidade burguesa, em nome de um pretenso bem nacional
maior” (PAXTON, 2007, 19).
Tendo apresentado o que o fascismo, suas principais características e a dis-
cussão acerca do totalitarismo, devemos agora responder a pergunta: como um
sistema ideológico político com essas características chegou ao poder da Itália e
da Alemanha? Iniciamos a nossa análise pela Itália, tendo em vista que é nesse país
que se originou o movimento fascista. Vamos compreender melhor essa discussão.
De acordo com Robert Paxton, o fascismo surgiu oficialmente na cidade
italiana de Milão no dia 23 de março de 1919. Veteranos de guerra, intelectuais,
sindicalistas, entre outros, se reuniram sob a liderança de Benito Mussolini para
declarar guerra ao socialismo, tendo em vista que esta ideologia era contrária ao
nacionalismo. Em princípio, o nome dado ao movimento foi Fasci di Combat-
timento cuja tradução seria algo como “fraternidades de combate” (PAXTON,
2007, p. 16). Robert Paxton ressalta o fato de que esse movimento criado por
Mussolini se inclinava aos atos violentos e desprezava a sociedade que existia.

144
UNIDADE 4

De fato que o próprio movimento surgiu de um ato violento quando os mem-


bros fascistas em 5 de abril de 1919 invadiram e destruíram um jornal socialista
chamada Avanti, do qual o próprio Benito Mussolini havia feito parte entre os
anos de 1912 a 1914 (PAXTON, 2007, p. 19).
Analisemos agora a sua chegada ao poder. Em novembro de 1921, por inicia-
tiva de Benito Mussolini, foi fundado o Partido Nacional Fascista ou PNF. O Fasci
di Combattimento eram oficializado enquanto um partido político. Contudo, um
dos principais instrumentos de ação do fascismo italiano estava nas chamadas
squadristi ou Esquadrismo. Inventada por um dos seguidores de Mussolini da
zona rural italiana setentrional, o squadrismo, que reuniu os homens mais violen-
tos em esquadrões armados, grupos paramilitares que atacavam violentamente
os seus inimigos. Esses esquadrões atuaram em diversas regiões da Itália e apesar
de seu caráter violento receberam apoio, ou pelo menos simpatia, de diversos
grupos sociais da Itália, o que acabou por dar força a este movimento fascista.
Para se ter ideia, os chamados Camisas Negras, membros do esquadrismo e do
fascismo, por meio deste esquadrões chegaram a tomar cidades inteiras, como
por exemplo Ferrara. O sucesso de Mussolini no Vale do Pó foi o que lhe garantiu
o apoio necessário para ações em outras regiões da Itália e para a consequente
chegada ao poder (PAXTON, 2007, p. 106-115).
Muitos acreditam que Mussolini e os fascistas tomaram o poder pelo uso da
força na famosa Marcha sobre Roma em outubro de 1922. Contudo, a realidade
aparentemente foi outra. Como vimos no parágrafo anterior, os squadristi que
realizavam ataques a locais aos socialistas, jornais e residências, passaram a atacar
e tomar cidades inteiras, sem uma resistência de fato do governo. Após ocuparem
cidades como Fiume, Ferrara, Bolonha, Cremona, Ravena, Trento e Bolzano era
inevitável que chegasse a Roma. em 24 de Outubro, benito Mussolini ordenou aos
Camisas Negras que se reunissem em Roma. Contudo, enquanto seus homens
rumavam até Roma o líder fascista ficou em Milão, próximo da Suíça, para caso
precisasse fugir. No dia 28 de outubro, cerca de nove mil fascistas se encontravam
em Roma. Contudo, o que surpreende nesse momento é que o líder político da
Itália, o rei Vittorio Emmanuel III, não decretou a lei marcial para conter os Ca-
misas Negras à força, pelo contrário o rei ofereceu a Benito Mussolini o cargo de
primeiro-ministro. As causas para tal atitude são nebulosas, mas aparentemente
o rei preferiu não combater diretamente por medo dos seus soldados se juntarem
ao movimento fascista, ou ainda, por medo de Mussolini apoiar o Duque de

145
UNIDADE 4

Aosta como substituto da monarquia. A Marcha sobre Roma teria sido um blefe
dos fascistas que acabou por dar certo (PAXTON, 2007, p. 152-155).
Independente dos motivos, é fato que a partir desta data o duce (palavra
italiana para líder) iniciou a sua jornada como líder político da Itália. Em um
primeiro momento como primeiro-ministro buscou manter a estabilidade da
Itália, em seus dois primeiros anos de governo afirmou o poder do estado e
não questionou os poderes da monarquia, sendo que nesses dois primeiros
anos manteve uma política econômica de características liberais (PAXTON,
2007, p. 249-250). Seu governo iniciou um processo de radicalização após o
assassinato do lider socialista Giacomo Matteotti em 1924. Deste ano em diante
o Partido Faxcista não mais tolerava seus adversários políticos, sendo a mídia,
sindicatos e parlamentos mantidos sob o controle da ditadura de Mussolini
(FERGUSON, 2015, p. 316).
À medida que o regime avançava e Mussolini conseguiu o apoio de grupos
como a monarquia, o exército e a Igreja Católica, os jovens fascistas se impacien-
tavam com esse regime. Esta teria sido uma das razões para a guerra e invasão
da Etiópia, na África em 3 de outubro de 1935 (PAXTON, 2007, p. 252), outra
razão para essa guerra seria a vontade do duce de recriar os territórios do antigo
Império Romano (FERGUSON, 2015, p. 366). A Albânia foi invadida e conquista
em abril de 1939, mesmo ano em que os italianos assinaram uma aliança com os
alemães nazistas, o Pacto de Aço.

146
UNIDADE 4

Figura 4: Benito Mussolini e Adolf Hitler em 1940.


Fonte: Unidentified photographer Domínio público.

Descrição da Imagem: Na fotografia em preto e branco, apresenta-se Mussolini a esquerda e Hitler a


direita. Os dois estão de pé. Mussolini é careca e esboça um sorriso. Veste um uniforme militar, com
camisa preta. Possui algumas medalhas no peito no lado esquerdo. Um cinto com detalhes em dourado.
Calças com listras laterais, uma adaga no seu lado esquerdo, veste botas pretas que sobem por toda a sua
canela. Hitler possui cabelos penteados para o lado e um pequeno bigode. Veste um uniforme militar com
camisa branca e gravata. Possui uma medalha também no peito esquerdo e no braço esquerdo a suástica
nazista. Veste botas pretas que sobem até o joelho. Os dois estão em cima de um tapete claro. Ao fundo,
embaçado, é possível notar uma lareira com um quadro em cima com moldura dourada.

Caro (a) estudante, até o momento respondemos nossas duas perguntas iniciais
sobre o fascismo: O que é o fascismo?; Como ele chegou ao poder na Itália?.
Chegou a hora de respondermos a pergunta: Como o fascismo chegou ao poder
na Alemanha? Um primeiro elemento que devemos compreender é a situação
política instaurada na Alemanha, nos anos anteriores a chegada ao poder de
Adolf Hitler e o Partido Nacional Socialista Alemão, ou Partido Nazista.

147
UNIDADE 4

Após a Primeira Guerra Mundial a Alemanha saiu derrotada e como já vimos


em unidades anteriores, foi obrigada a assinar o Tratado de Versalhes que colo-
cava a culpa de toda a guerra sobre ela e lhe forçou pesadas punições inclusive
econômicas. As consequências dessas punições foram devastadoras para o país.
Antes mesmo da assinatura do tratado, o monarca alemão, Guilherme II abdicou
de seu poder, deixando a Alemanha sem um governo. Nesse contexto, o país pas-
sou por uma tentativa de revolução socialista, o recém criado Partido Comunista
alemão, era liderado pela teórica socialista Rosa Luxemburgo e por seu esposo
Karl Liebknecht, criadores do movimento Espartaquista que busca fazer uma
revolução de forma semelhante a realizada pelos bolcheviques (HOBSBAWM,
2011, p. 74-75).
Com a derrota dos comunistas, fundou-se na Alemanha, em 1919, a Re-
pública de Weimar, que cairia na ascensão de Hitler ao poder em 1933. Uma
república com características democráticas, sendo o sistema político representa-
tivo semi-presidencial, no qual o poder executivo era ocupado por um chanceler
escolhido pelo presidente da república. Uma nova constituição foi promulgada
em 1919 e possuía 165 artigos e ficou marcada pela aquantidade de direitos fun-
damentais e sociais como o direito à igualdade, igualdade cívica entre homens e
mulheres, direito das minorias de língua estrangeira, liberdade de manifestação
do pensamento, igualdade jurídica entre os cônjuges, direito a voto secreto, etc.
(PINHEIRO, 2006, p. 116).
Essa república tentou conciliar o impossível, pagar as dívidas e penalidades
impostas pelo Tratado de Versalhes, ao mesmo tempo tentou criar um Estado de
Bem Estar social. Contudo, os anos que se seguiram, na década de 1920, foram
de um caos econômico. Para se ter ideia, em 1923 aconteceu a chamada hiperin-
flação alemã, na qual: “a unidade monetária foi reduzida a um milionésimo de
milhão de seu valor em 1913, ou seja, na prática o valor da moeda foi reduzido
a zero” (HOBSBAWM, 2011, p. 94). Essas crises colaboraram para a queda da
legitimidade do regime que de forma anual sofreu golpes da extrema esquerda
e da extrema direita entre os anos de 1919 e 1923 (FERGUSON, 2015, p. 323).

148
UNIDADE 4

É nesse contexto turbulento que surgiu o “Partido Nacional-Socialista dos Tra-


balhadores Alemães” ou Partido Nazista no ano de 1920. Em 1923 Adolf Hitler,
iludido pela Marcha sobre roma realizada por Mussolini, tentou realizar o mesmo
na cidade de Munique.


Em 8 de novembro de 1923, durante um comicio nacionalista rea-
lizado numa cervejaria de Munique, o Bürgerbräukeller, Hitler
tentou sequestrar os líderes do governo bávaro e forçá-los a apoiar
um golpe de Estado contra o governo nacional de Berlim. Ele acre-
ditava que caso tomasse o controle de Munique e declarasse um
novo governo nacional, os líderes civis e militares da Bavária seriam
forçados pela opinião pública a apoiá-lo [...]. Hitler subestimou a
fidelidade dos militares à hierarquia de comando. O ministro-presi-
dente da Bavária, o conservador Gustav von Kahr, deu ordem para
que se pusesse fim ao golpe de Hitler, usando a força, se necessário.
Em 9 de novembro, a polícia atirou nos integrantes da marcha de
Hitler, no momento em que se aproximavam de uma praça im-
portante (possivelmente reagindo a um primeiro tiro partindo do
lado de Hitler). Quatorze golpistas e quatro policiais foram mortos.
Hitler foi detido e mandado para a prisão, juntamente com outros
nazistas e simpatizantes [...]. O “Golpe da Cervejaria” de Hitler foi
debelado de forma tão ignominiosa pelos governantes conservado-
res da Bavária que ele decidiu nunca mais tentar chegar ao poder
pela força (PAXTON, 2007, p. 157).

Foi enquanto esteve na prisão em 1924 que Hitler escreveu a obra Mein Kampf
ou Minha Luta, obra onde explicitou suas ideias antissemitas, anticomunistas,
ultranacionalistas e etc. No mesmo ano de 1924 os alemães assinaram o Plano
Dawes, que baseado em empréstimos dos EUA conseguiu estabilizar a economia
e a moeda, pelo menos até 1929 quando aconteceu a grande crise econômica e a
Alemanha foi novamente jogada em uma situação econômica caótica.

149
UNIDADE 4

Enquanto o Plano Dawes trouxe estabilidade para a economia alemã o par-


tido nazista quase não possuia representatividade. Contudo, a crise de 1929 e a
Grande Depressão de 1930 forneceram a oportunidade necessária para o sucesso
dos nazistas no âmbito eleitoral. É nesse momento que conectamos o conteúdo
de fascismo com a Crise de 1929 e Grande Depressão. Pois, para Eric Hobsbawm:


Após a recuperação econômica de 1924, o Partido dos Trabalhado-
res Nacional-Socialistas foi reduzido a uma rabeira de 2,5% a 3% do
eleitorado, conseguindo pouco mais da metade do que o pequeno e
civilizado Partido Democrático alemão, pouco mais que um quinto
dos comunistas e muito menos de um décimo dos social-democra-
tas nas eleições de 1928. Contudo, dois anos depois havia subido
para mais de 18% do eleitorado, tornando-se o segundo partido
mais forte na política alemã. Quatro anos depois, no verão de 1932,
era de longe o mais forte, com mais de 37% dos votos totais, embora
não mantivesse esse apoio enquanto duraram as eleições democrá-
ticas (HOBSBAWM, 2011, p. 133).

Fica claro que foi a Grande Depressão que transformou Hitler em um fenômeno
da periferia política no senhor potencial, e finalmente real, do país (HOBSBA-
WM, 2011, p. 133). Perceba caro (a) estudante, que existe uma relação direta entre
a crise de 1929 com a ascensão de Hitler ao poder. Somada à Crise de 1929, no
mesmo ano os políticos alemães assinaram o Plano Young, substituindo o Plano
Dawes, confirmando o seu compromisso de manter o pagamento das reparações
aplicadas pelo Tratado de Versalhes, gerando uma indignação em todo o país. So-
mado a crise econômica, desemprego e a indignacão fez com que a popularidade
do partido Nazista crescesse. Para se ter ideia, nas eleições livres de julho de 1932
os nazistas conseguiram 51% dos votos para o parlamento. Para R. Paxton, Hitler
sabia lidar com as massas, manipulando os medos e ressentimentos da população,
intimidando fisicamente os seus adversários, e com discursos específicos para
cada classe profissional, ainda que fossem contraditórios entre si (PAXTON,
2007, p.158-159; p.116-118).

150
UNIDADE 4

Contudo, assim como Mussolini, Hitler não tomou o poder pela força e nem foi
eleito diretamente. Hitler concorreu às eleições para presidente em 1932, mas
foi derrotado por Paul von Hindenburg. Este, como presidente da Alemanha,
em meio a uma situação de extrema crise, convidou Hitler a se tornar chanceler
(chefe de governo), cargo em que ocupou oficialmente em janeiro de 1933. Pouco
a pouco Hitler tornaria esse regime em uma ditadura.
Durante muito tempo acreditou-se que os nazistas colocaram fogo no Rei-
chstag (parlamento) para culpar os comunistas e poder fechar o partido. Robert
Paxton explica que esse incêndio em fevereiro de 1933, teria sido causado por
um comunista holandês chamado Marinus van der Lubbe. Os nazistas teriam
realmente acreditado que um golpe comunista se iniciara. A verdade é que sendo
os nazistas ou comunistas o incêndio fornece a justificativa necessária para os
nazistas terem a liberdade de agir como queriam. Hindenburg assinou o “De-

151
UNIDADE 4

creto do Reichstag” suspendendo diversas liberdades individuais e jurídicas da


população, dando mais poder ao chanceler, que por sua vez, em março de 1933
conseguiu aprovar a Lei Capacitadora que permitia a Hitler governar a Alema-
nha sem responder ao parlamento nem ao presidente. Ou seja, ele ficava livre para
governar a partir de uma ditadura de partido único dissolvendo os partidos
políticos. A Lei Capacitadora foi renovada em 1937 e em 1942, encobrindo a sua
ditadura com leis (PAXTON, 2007, p.179-182).
O próximo passo foi eliminar os seus adversários políticos o que realizou, em
grande parte, na Noite das facas longas no qual aproximadamente 150 a 200
pessoas foram mortas, o líder da Tropas de Assalto nazista a Sturmabteilung ou
SA, Ernst Rohm foi assassinado junto com outros líderes da SA, conservadores,
e outros adversários politicos que tinham se colocado no caminho de Hitler
(PAXTON, 2007, p.182). Em agosto de 1934 Paul Hindenburg faleceu e Hitler
tornou-se líder e chanceler da Alemanha sob o título de fuhrer. A partir de então
as suas atitudes antissemitas, totalitárias e imperialistas de expansão territorial
conduziram a Alemanha e o resto do mundo ao pior conflito já visto na história
da humanidade, a Segunda Guerra Mundial.
- Professor de História: Dante, acredito que com a nossa viagem até
aqui já seja possível responder a quarta pergunta da nossa jornada
inicial: “Por que o período pós Primeira Guerra Mundial, não trou-
xe a paz e a estabilidade, mas na verdade, predispôs os países para
um conflito pior ainda?”. Perceba meu caro estudante, que o período
pós Primeira Guerra Mundial não trouxe a estabilidade, na verdade,
o que pudemos observar é que foi um período de revoluções, crise
econômica e formação de regimes totalitários

- Dante: Concordo, foi um período muito conturbado da nossa


história e ao invés da formação de governos e sistemas econômicos
que prevenisse um novo confronto, o que surgiu foram regimes po-
líticos autoritários que justificavam o seu poder no antissemetismo,
na crise econômica capitalista liberal e na crítica aos movimentos
socialistas.

- Professor de História: Exato. As dificuldades criadas pela Pri-


meira Guerra Mundial acabaram por criar os Estados fascistas que
por sua vez empurraram o mundo para um conflito de proporções
nunca vistas antes.

152
UNIDADE 4

Caro (a) estudante, o domínio de conteúdos como a Revolução Russa, a Crise de


1929 e a formação dos Estados com viés totalitário, são importantes para a sua
profissão como docente, tendo em vista que foram responsáveis por processos
históricos que mudaram para sempre a História da civilização humana. Ajudar os
nossos alunos a compreender esse conteúdos históricos e ajudá-los a compreen-
der melhor a sociedade em que vivemos e principalmente alertá-los para os mo-
mentos de crise, nos quais, sistemas políticos autoritários costumam se formar.

153
Chegou a hora de você colocar em prática os seus conhecimentos adquiridos
nesta unidade do livro de História Contemporânea. Vamos realizar um Mapa de
Empatia. Nele você deve realizar a sua autoavaliação.
Vamos aplicar os conhecimentos desenvolvidos nesta unidade para o nosso pre-
sente.
Em relação aos regimes autoritários ou totalitários, existe algum sistema político
assim hoje?

O que você pensa acerca


deste assunto?

O que pode ser visto


O que você ouve
atualmente acerca
falar sobre isso?
destes movimentos?

Qual a sua
atitude em relação a isso?

Por fim, quais problemas esses regimes trazem Quais são as necessidades em relação a este tema
para nossa sociedade e para você? que ajudaria a resolver?
5
A Transição e a
Segunda Metade
Do Século XX:
Velhos e Novos Conflitos
Dr. Augusto João Moretti Junior

Nesta Unidade V, analisamos dois dos principais processos históricos


do século XX, que alteraram de forma definitiva a nossa civilização.
Primeiramente, investigaremos a Segunda Guerra Mundial, suas cau-
sas, fases de desenvolvimento, desfecho e as suas relações com a for-
mação de nosso segundo tema de pesquisa nesta unidade, a Guerra
Fria. Nosso objetivo é demonstrar a formação desse conflito de longa
duração, como ele se desenvolveu nos Estados Unidos da América e
na União Soviética. Com essas informações poderemos apurar quais
foram as suas consequências para os outros países do mundo. Por fim,
explicar o processo de desagregação e derrota da URSS nesse conflito.
UNIDADE 5

Com o objetivo de compreendermos as causas, o desenvolvimento, o desfecho e


as consequências da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria, daremos pros-
seguimento a nossa situação hipotética de nossos viajantes. Dante e seu profes-
sor de História após suas últimas viagens pela Rússia, Estados Unidos, Itália e
Alemanha, novamente, passam pela janela temporal (Figura 1). Está na hora de
investigar novos processos históricos.

Figura 1: Dante e seu professor de História viajando na janela temporal. / Fonte: o autor.

Descrição da Imagem: lustração com um fundo amarelo contendo duas pessoas atravessando uma porta
de cor cinza escuro com uma maçaneta dourada. Na frente à esquerda, guiando, encontra-se o professor
de História. Um homem de cabelo e barba grisalha, olhos castanhos e óculos. Veste uma camisa verde
com um colete marrom. Sua calças são verdes e sapatos pretos. Carregas em suas mãos um livro, veste
um relógio no braço esquerdo. Seguindo o professor encontra-se Dante, à direita, atravessando a porta.
Dante é um rapaz jovem com cabelo marrom coberto por um boné vermelho com ramos de oliveira,
em referência a Dante Alighiere. Usa uma camiseta roxa, shorts jeans azul e sapatos verdes. Ambos os
personagens aparentam animados e felizes com a viagem pelo portal. Atrás de Dante, dentro da porta,
por onde estão saindo, é possível vermos o espaço/tempo por onde viajam.

156
UNICESUMAR

Após a realização dessa nova viagem, os nossos investigadores da História Con-


temporânea se encontram em um novo local e período. Como de costume, Dante
logo começa a questionar o seu professor:
- Dante: Professor, percebo que o cenário que estamos não mudou
muito. Aparentemente, continuamos em alguma cidade da Europa.
Mas, por quê?

- Professor de História: Dante, chegou a hora de analisarmos um


dos momentos mais sombrios de nossa história: o maior conflito
já vivido por nossa civilização. Responsável pela morte de dezenas
de milhões de soldados e civis.

- Dante: Com essa descrição trata-se da Segunda Guerra Mundial.


Estou certo?

- Professor de História: Exatamente! Estamos em alguma região da


França no ano de 1940, para responder à primeira parte de uma
das suas indagações iniciais: Como a Segunda Guerra Mundial
e a Guerra Fria transformaram a ordem existente no planeta
Terra? Quais as consequências e reminiscências destes confli-
tos que atuam em nossa sociedade até hoje?

- Dante: Estou lembrado. Em nossas aulas fomos convidados a refle-


tir acerca dos impactos e reminiscências da Segunda Guerra Mun-
dial e, posteriormente, da Guerra Fria em nossa sociedade atual.
Foi uma atividade importante para percebermos como os processos
históricos nos ajudam a compreender a nossa realidade atual.

- Professor de História: É isso que queremos compreender melhor


a partir de agora e nossas fases finais de nossa viagem pela História
Contemporânea. Vamos nessa?

Estimado estudante de História Contemporânea, o questionamento de Dante


é muito pertinente para a nossa compreensão do século XX e do século XXI.
Apesar de parecer óbvio gostaria que neste momento você refletisse acerca da
pergunta “Como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria transformaram a
ordem existente no planeta Terra? Quais as consequências e reminiscências des-
tes conflitos que atuam em nossa sociedade até hoje?” Antes de respondermos
nesta Unidade, tente respondê-la neste momento com os conhecimentos que

157
UNIDADE 5

você possui neste exato momento. De uma forma simples procure responder:
Como a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria impactaram o século XX e
como ainda hoje somos influenciados por estes processos históricos?
Após essa reflexão chegou a hora de pensarmos acerca da significação deste
conteúdo histórico para os nossos alunos. Afinal, como vimos nas Unidades
anteriores, é o processo de significação que exponencializa a chance de nossos
estudantes compreenderem determinado conteúdo, pois, o fato de saberem o
significado que aquele conhecimento tem para a sua vida aumenta o interesse e,
consequentemente, o aprendizado. Desta forma, como você responderia a um
aluno (a) se ele (a) lhe perguntasse: “Qual a importância de se estudar a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria para a minha vida? Como esses conhecimentos
colaboram para a minha participação em sociedade?”. Para ajudar nessa resposta
e significação vamos analisar qual seria a resposta de nosso professor e viajante
da História Contemporânea:
- Professor de História: Caro Dante, acredito que uma coisa já tenha
ficado clara em nossa viagem. Os acontecimentos e processos his-
tóricos, por mais longínquos ou próximos que estejam, impactam
diretamente na forma como vivemos e pensamos a nossa sociedade
atual. Esse conhecimento histórico que vamos aprimorando deve
ser utilizado em nosso dia a dia para ajudar a nos posicionarmos
em nossa sociedade, podendo assim, ajudar a nós mesmos e aqueles
que nos cercam.

Em relação à Segunda Mundial são diversos os aprendizados que poderíamos


expor aqui. A princípio, os perigos dos movimentos fascistas e totalitários. Vere-
mos que a Itália fascista e a Alemanha Nazista foram as principais culpadas pelo
início do conflito mais mortal de toda a história humana. Sendo assim, estudar a
Segunda Guerra Mundial nos ajuda a compreender como esses discursos e ações
de governos fascistas e totalitários são extremamente prejudiciais para a nossa
sociedade e como as outras nações precisam fazer um esforço conjunto para
derrotar tais ideias. Que, infelizmente, permanecem em nossa sociedade. Assim
quais são os discursos com essas caraterísticas que existem em nossas vidas hoje?
Acerca do porquê estudar a Guerra Fria, a resposta é mais pragmática. Afinal,
as consequências deste conflito permanecem até os dias atuais. A bipolarização
do mundo entre os governos de característica comunistas e capitalistas pode ser

158
UNICESUMAR

vista ainda hoje nos discursos midiáticos, acadêmicos e, entre a própria popu-
lação, não é difícil encontrar na internet jovens debatendo estes assuntos. Países
como China e Coréia do Norte adquiriram suas características políticas neste
contexto de Guerra Fria. Sendo assim, compreender esse processo histórico nos
ajuda a entender melhor a forma como vivemos, os conflitos e as ideologias que
ainda nos cercam.
Chegou a sua vez de responder a dúvida de Dante. Com base na resposta
fornecida pelo professor de História, assim como, os seus próprios conhecimen-
tos prévios, convido você a pesquisar alguns minutos sobre: Como a Segunda
Guerra Mundial e a Guerra Fria transformaram a ordem existente no planeta
Terra? Quais as consequências e reminiscências destes conflitos que atuam em
nossa sociedade até hoje?. Antes de iniciarmos a nossa análise histórica acerca
destas questões faça uma lista com as ideias que você conseguiu elencar neste
momento acerca desta pergunta. Novamente, te convido a armazenar essa lista
para que possa ser utilizada em sua carreira como docente. Essas reflexões serão
valiosas quando estiver em sala de aula.
Neste momento, no qual você já pode fazer uma lista e já deu início ao seu
processo de aprendizagem acerca dos processos históricos da Segunda Guerra
Mundial e da Guerra Fria, convido você a registrar aqui, no seu Diário de Bordo,
quais são as principais dúvidas que apareceram sobre estes temas? De que forma
você problematizaria e significaria esses conteúdos para os seus alunos e alunas?
Como aplicar esse conhecimento na sociedade que vivemos hoje?

159
UNIDADE 5

A Segunda Guerra Mundial é um dos processos históricos mais estudado em


toda a historiografia. Como é um processo complexo existem análises das mais
diversas perspectivas. Para facilitar o seu processo de aprendizagem, resolvemos
organizar essa análise da seguinte forma: um primeiro momento explicando as
principais causas e o estopim da guerra; em seguida, analisaremos o desenvolvi-
mento deste conflito e, por fim, focamos nossa investigação no desfecho da guerra
na Europa e no Oceano Pacífico. Para que em um outro momento, possamos
aprofundar nossa pesquisa em Guerra Fria.
Por conseguinte, iniciamos nossa conceitualização a partir do seguinte ques-
tionamento: Quais foram as principais causas da Segunda Guerra Mundial?
Diferentemente da Primeira Guerra Mundial, na qual podemos elencar várias
causas como o Imperialismo, nacionalismo, Paz Armada, problemas nos Bal-
cãs, militarismo, et cetera., as causas da Segunda Guerra Mundial podem ser
resumidas como uma consequência das agressões da Alemanha, Itália e Japão,
enquanto os outros países fizeram tudo o que podiam para que o conflito não
acontecesse. Para Eric Hobsbawm: [...] a pergunta sobre quem ou o que causou
a Segunda Guerra Mundial pode ser respondida em duas palavras: Adolf Hitler
(HOBSBAWM, 2011, p. 43).
Após criar mecanismo para se tornar führer da Alemanha, Hitler iniciou o
processo de fortalecimento econômico-militar de seu país, para em seguida ini-
ciar os processos de anexação. Em 1936, Adolf Hitler apresentou o memorando
de inauguração do Plano Quadrienal, que se tornou uma evidência clara da
vontade de Hitler de iniciar um conflito. De acordo com este memorando as for-
ças armadas alemãs e a sua economia de forma geral, deveriam estar preparadas
para entrar em guerra dentro de quatro anos. O governo alemão direcionaria o
país para o conflito. A causa principal, em teoria, era a busca pelo Lebensraum
ou Espaço Vital. Desenvolvido por Friedrich Ratzel na década de 1890 chegou
até o conhecimento de Hitler, provavelmente na década de 1920. Criou-se um
projeto de dominação territorial para conseguir os recursos necessários para a
Alemanha (FERGUSON, 2015, p. 369-370).
Para o cumprimento de seu plano, Hitler realizou algumas alianças que de-
vem ser mencionadas aqui e que fazem parte das causas da guerra. Em novem-
bro de 1936 foi criado o “Eixo Roma-Berlim” criando um tratado entre italia-
nos e alemães. No mesmo momento, a Alemanha assinou com o Japão o Pacto
Anti-Comintern, no qual, ambas nações se comprometeram a atacar a União

160
UNICESUMAR

Soviética caso fosse necessário. Em sua essência, tratava-se de um acordo anti-


-comunistas. O acordo com o Japão criou o Eixo Roma-Berlim-Tóquio como
uma das principais alianças na pré-guerra. A aliança se tornaria também militar,
quando em 1939 foi assinado o “Pacto de Amizade e Aliança entre Alemanha e
Itália” ou Pacto de Aço que formalizou a aliança militar entre alemães e italianos
(FERGUSON, 2015, p. 400).
Pouco a pouco os alemães, italianos e japoneses iniciaram as suas investidas
militares contra os outros países. De acordo com Eric Hobsbawm:


Em 1935, a Alemanha comunicou sua ruptura com os tratados de
paz e ressurgiu como grande potência militar e naval, reapossan-
do-se (por plebiscito) da região do Saara em sua fronteira ocidental
e desligando-se com desprezo da Liga das Nações. No mesmo ano
Mussolini, com igual desprezo pela opinião pública, invadiu a Etió-
pia, que a Itália passou ocupar como colônia em 1936-7, após o que
o Estado também rasgou sua ficha de membro da Liga. Em 1936,
a Alemanha recuperou a Renânia [...] Em 1937, sem surpreender
ninguém, o Japão invadiu a China e partiu para uma guerra aberta
que só cessou em 1945. Em 1938, a Alemanha também achou que
chegara a hora da conquista. A Áustria foi invadida e anexada em
março, sem resistência militar, e, após várias ameaças, o acordo de
Munique em outubro despedaçou a Tchecoslováquia e transferiu
grandes partes dela para Hitler, mais uma vez pacificamente. O resto
foi ocupado em março de 1939, encorajando a Itália, que não tinha
demonstrado ambições imperiais por alguns meses, a ocupar a Al-
bânia (HOBSBAWM, 2011, p. 147-148).

Como podemos observar, foram diversos os avanços territoriais realizados pelas


potências que posteriormente ficariam conhecidas como o “Eixo”. No caso da
Alemanha, após a invasão e domínio da Áustria no início de 1938, Adolf Hitler
continuou a ameaçar a Europa dizendo que milhões de alemães habitavam a re-
gião dos sudetos da recém criada Tchecoslováquia. Devido a essa reivindicação
territorial reuniram-se na cidade de Munique em setembro de 1938, Adolf Hitler,
Benito Mussolini, o Primeiro-ministro do Reino Unido, Arthur Chamberlain e o
Primeiro-Ministro da França, Édouard Daladier, em um evento que entrou para
História como o Acordo de Munique.

161
UNIDADE 5

Por esse acordo ficou decidido que Hitler, com a anuência


de França e Inglaterra, poderia anexar os Sudetos da Tche-
coslováquia em outubro de 1938 e até mesmo toda a Tche-
coslováquia, desde que Hitler não realizasse mais nenhum
reivindicação por território. Arthur Chamberlain voltou
para a Inglaterra, como se tivesse realizado uma grande vi-
tória: “[...] com uma euforia injustificada em seu retorno a
Downing Street, descreveu como significado ‘paz em nossa
época’” (FERGUSON, 2015, p. 454). Na verdade, poucos
realmente entenderam que o Acordo de Munique não traria
paz para a Europa, foi apenas uma forma que Hitler conse-
guiu de ganhar tempo e território. Na verdade, o discurso
pacifista de Chamberlain atrapalhou a Inglaterra a mobi-
lizar recursos para as forças armadas. Winston Churchill
que no início da Segunda Guerra substituiria Chamberlain,
disse que este último no Acordo de Munique “Entre a de-
sonra e a guerra, escolheste a desonra, e terás a guerra”. Ele
estava certo!
Adolf Hitler não parou na Tchecoslováquia. Seu próxi-
mo objetivo era invadir a Polônia, no entanto, havia ficado
claro que Inglaterra e França não aceitariam novas anexa-
ções, inclusive a Grã-Bretanha havia feito algumas garan-
tias de proteger a Polônia. Hitler, como já vimos, queria
o conflito e se preparava para tal. Sabendo que a invasão
da Polônia provocaria um conflito na Europa Ocidental, a
Alemanha não queria cometer o mesmo erro da Primeira
Guerra Mundial, na qual combateu em duas frentes, no oci-
dente contra França e Inglaterra e no oriente com os Russos.
Buscando ganhar tempo, Hitler buscou um acordo com a
União Soviética. Tanto Joseph Stalin quanto Adolf Hitler
sabiam que não podiam confiar um no outro, afinal, o na-
zismo declarava abertamente a sua ideia de acabar com os
soviéticos e bolcheviques russos, haja visto, por exemplo, o
Pacto Anti-Comintern. Todavia, ambos os lados possuíam
seus próprios interesses.

162
UNICESUMAR

De acordo com João Fábio Bertonha (2009):


Para Stalin, ele tinha o objetivo de recuperar os territórios perdi-
dos do antigo Império russo e obter mais tempo para reforçar as
forças militares nacionais e barganhar com os alemães e os alia-
dos ocidentais a melhor oferta para entrar na guerra. Para Hitler,
ele foi um mero expediente para conquistar a Europa Ocidental
sem maiores problemas. Assim que se tornou claro, com a queda
da França em 1940, que a Europa Ocidental estava sob controle,
ele imediatamente ordenou o início os preparativos para invadir a
URSS (BERTONHA, 2009, p.79).

Figura 2: “Imaginando quanto tempo a Lua de Mel vai durar?”. Cartoon por Clifford Berryman para o
The Washington Star em 1939. Fonte: By Clifford K. Berryman

Descrição da Imagem: Nesta charge em preto e branco, temos Hitler e Stalin de mãos dadas em seu
casamento. Hitler está à esquerda de quem observa a imagem, ele está olhando para Stalin à direita. Veste
um terno de casamento escuro e calças claras. Em seu peito está um símbolo da suástica e logo abaixo
uma medalha também da suástica. Em sua gravata tem um pingente com um símbolo comunista. Stalin,
à direita, usa um vestido e véu de noiva. Em sua mão esquerda carrega um grande buquê de flores. Em
sua cabeça uma espécie de coroa de flores. No pescoço Stalin utiliza uma corrente feita com suásticas.
Atrás da imagem encontram-se algumas folhagens e no canto esquerdo um bolo de casamento no qual
se destacam símbolos da União Soviética e Suásticas.

163
UNIDADE 5

Como apresentado, a Alemanha precisava ganhar tempo para dominar a frente


ocidental antes de invadir a União Soviética. Pelo outro lado, Stalin sabia que
negar um acordo com Hitler poderia jogá-lo em uma guerra sozinho contra a
Alemanha, o que seria fatal, tendo em vista a superioridade bélica nazista em
1939. A URSS esperou até o último minuto por um acordo com França e Inglater-
ra, contudo não foi formalizado uma proposta a tempo. Diante da ameaça de ser
destruída pelos nazistas, os soviéticos assinaram um acordo em agosto de 1939,
o Pacto de Não Agressão Germano–Soviético ou Pacto Molotov-Ribbentrop.
Por esse pacto, as duas potências comprometeram-se a não realizarem ataques
umas às outras, além disso, dividiram entre si o território da Polônia. Pelo acordo
os soviéticos também poderiam invadir a Finlândia e os países Bálticos. Com
a notícia da assinatura do acordo, Hitler teria dito “Agora a Europa é minha!”
(FERGUSON, 2015, p. 474).
Com o acordo em mãos e com a certeza de que Inglaterra e França não po-
deriam fazer nada, Hitler ordenou no dia 01 de setembro de 1939 a invasão da
Polônia. Esse foi o gatilho ou estopim final para explodir o conflito. No dia 03
de setembro de 1939 França e Inglaterra declaram guerra a Alemanha nazista.
Iniciava-se assim a Segunda Guerra Mundial.
Agora que compreendemos algumas causas e o estopim do conflito, podemos
agora dedicar a nossa investigação ao desenvolvimento do conflito. Para fins
didáticos dividimos esse conteúdo em três fases principais. Uma primeira fase
de 1939 a 1941 quando as potências do Eixo basicamente dominaram a Europa
e conseguiram sucessivas vitórias; a segunda de 1942 a 1943 quando ocorre um
equilíbrio das forças entre o Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e os Aliados (Grã-
-Bretanha, França, Estados Unidos a partir de 1941 e URSS a partir de 1941);
por fim, a última fase foi o período de vitória do grupo dos Aliados entre os anos
de 1944 e 1945).
Na primeira fase deste conflito em seu processo de expansão iniciado na Polô-
nia a estratégia utilizada pelos alemães foi a Blitzkrieg (veja o explorando idéias).

164
UNICESUMAR

EXPLORANDO IDEIAS

Blitzkrieg ou Guerra-relâmpago foi a principal estratégia utilizada pelos nazistas, prin-


cipalmente no início da Segunda Guerra Mundial. A seguir o historiador Martin Gilbert
explica essa estratégia no ataque a Polônia: “A Blitzkrieg veio inicialmente do céu, depois
chegou por terra; primeiro, em ondas sucessivas de infantaria motorizada, de tanques
ligeiros e de autometralhadoras que avançaram tão longe quanto possível. Em seguida,
tanques pesados penetraram nas zonas rurais mais remotas, flanqueando as cidades e os
pontos fortificados. Por fim, depois de tantos estragos e de tanto território percorrido, a
infantaria – soldados que avançavam a pé –, fortemente apoiada pela artilharia, avançou
para ocupar as áreas já invadidas, para debelar as resistências que subsistissem e para
fazer a ligação com as unidades motorizadas do assalto inicial (GILBERT, 2014).

Ou seja, a Blitzkrieg consistia de um ataque muito rápido que coordenava o


ataque aéreo da Luftwaffe com a seguinte invasão das principais máquinas de
guerra nazistas, os seus tanques blindados Panzers. Com essa estratégia Hitler
foi capaz de vencer os seus inimigos rapidamente.

165
UNIDADE 5

OLHAR CONCEITUAL
Por motivos didáticos construímos o infográfico a seguir explicando esse processo de
avanço e conquista territorial realizado por Hitler até chegar em sua expansão máxima.

Setembro de 1939
Invasão e tomada da Polônia pelos
Nazistas e Soviéticos

9 de abril a 9 de julho de 1940


Operação Weserübung: Alemanha invade
e domina a Dinamarca e a Noruega
Hitler no desfile da vitória em Varsóvia, Polônia
Fonte: Wikimedia Commons (1939, on-line).

10 de maio a 22 de junho de 1940


A Alemanha iniciou os ataques ao Ocidente
Europeu. Ataques à França, Bélgica, Holanda Panzers alemães na cidade de Aabenraa na Dinamarca
e Luxemburgo. A conquista foi muito rápida. Fonte: Wikimedia Commons (1940a, on-line).
Luxemburgo foi conquistada no dia 10 de maio,
Holanda em 14 de maio e Bélgica em 28 de
maio. Esperava-se uma resistência muito maior
na França, mas no dia 22 de junho, menos de 10 de julho a 31 de outubro de 1940
dois meses de campanha, os franceses assinaram Os ingleses são bombardeados constantemente
um armistício concedendo uma ocupação direta pela força aérea nazista. Aproximadamente
dos alemães no norte do país. No sul da França, 40 mil ingleses foram mortos. Durante esse
foi criado um regime colaboracionista: a França período, a Inglaterra resistiu bravamente por meio
de Vichy sob a liderança do General Philippe da Royal Air Force (RAF). Graças aos pilotos
Pétain. O líder da resistência francesa, reconhecida ingleses a Alemanha não conseguiu invadir a
pelos aliados, foi o General Charles de Gaulle Inglaterra por terra. Esse episódio ficou conhecido
como Batalha da Grã-Bretanha.

Bombardeiros nazistas Heinkel He 111 durante a


Hitler, Speer e Breker em Paris no dia 23 de junho de 1940 Batalha da Grã-Bretanha.
Fonte: Wikimedia Commons (1940b, on-line). Imperial War Museums (collection no. 4700-05)
Fonte: Wikimedia Commons (1940c, on-line).

166
UNICESUMAR

Devido a resistência inglesa, Adolf Hitler desistiu de seus ataques à Inglaterra, a


Europa ocidental já estava praticamente dominada por ele. As atenções da Ale-
manha se voltaram para o Leste europeu. Sendo assim, no final de 1940 e início
de 1941 os nazistas junto com os italianos conseguiram o apoio da Hungria,
Romênia, Eslováquia, Bulgária e invadem a Iugoslávia. A Grécia, a Albânia e o
norte da África também foram tomados pelas forças do Eixo.
O rápido sucesso pode ser explicado pelo uso de metanfetaminas pelo exérci-
to alemão. Sob o efeito da droga os soldados conseguiam passar dias sem dormir,
podendo acelerar o avanço (OHLER, 2017).

NOVAS DESCOBERTAS

Título: High Hitler: Como o Uso de Drogas pelo Fuhrer e pelos Nazis-
tas Ditou o Ritmo do Terceiro Reich
Autor: Norman Ohler
Editora: Planeta
Sinopse: Nessa obra, o jornalista Norman Ohler apresenta como o exército
nazista e o próprio líder da Alemnha, Adolf Hitler, utilizavam drogas antes e
durante a Segunda Guerra Mundial. O autor explica como as drogas influen-
ciaram nos destinos da Alemanha. Além disso, é apresentado como a Segun-
da Guerra Mundial também foi uma guerra farmacêutica entre as potências.

Com o ocidente europeu basicamente dominado, com exceção da Grã-Bretanha,


e a região dos Balcãs, Adolf Hitler deu início ao seu plano de dominar a União
Soviética, fato que alteraria o destino da guerra. A Alemanha rompeu o Pacto
nazi-soviético e iniciou a Operação Barbarossa em 22 de junho de 1941. De
acordo com Martin Gilbert, os bombardeiros da Alemanha destruíram 66 ae-
ródromos da URSS e várias cidades foram bombardeadas neste dia. Os nazistas
adentraram nos dias seguintes aproximadamente 1500 quilômetros (GILBERTO,
2014). Essa expansão nazista dentro de território soviético persistiu até 1942,
tendo dominado os países bâlticos, Ucrânia e até mesmo importantes cidades
como Leningrado, Moscou e Stalingrado. A União Soviética entrou na Segunda
Guerra ao lado dos Aliados.
Abaixo um mapa representando a expansão máxima das potências do eixo
durante a Segunda Guerra Mundial.

167
UNIDADE 5

Figura 3: Máxima expansão dos países do Eixo. / Fonte: Franco e Andrade (1993)

NOVAS DESCOBERTAS

Caro (a) estudante, a seguir selecionamos para você um vídeo que


demonstra o processo de movimentação e as batalhas na Segunda
Guerra Mundial. Com certeza é importante você dar uma conferida.
Vamos nessa?

No final de 1941, um outro evento modificou o rumo da guerra. Em 7 de dezem-


bro de 1941 os japoneses realizaram um ataque à base naval de Pearl Harbor,

168
UNICESUMAR

fazendo com que o até então neutro Estados Unidos da América entrasse
diretamente no conflito. No dia 8 de dezembro os EUA declararam guerra
ao Japão, sendo que 3 dias depois os Alemães, por sua vez, também declararam
guerra à maior nação industrial daquele período, os EUA.
De acordo com Max Hastings, Winston Churchill, o primeiro-ministro do
Reino Unido, desde a saída de Chamberlain em 10 de maio de 1940, tinha medo
de ter que enfrentar o Japão no Oceano Pacífico antes mesmo dos EUA entra-
rem diretamente no conflito. Para Hastings, quando Hitler declarou guerra aos
estadunidenses teria sido um ato de loucura, pois com essa declaração, o presi-
dente dos Estados Unidos, F. D. Roosevelt, conseguiu unir o seu país para lutar a
Segunda Guerra Mundial, tanto no Pacífico quanto na Europa, uma verdadeira
vitória para os Aliados (HASTINGS, 2011).
A partir de então, os Estados Unidos travaram importantes batalhas no Ocea-
no pacífico contra os japoneses, como exemplos a Batalha do Mar Coral em maio
de 1942, a Batalha de Midway em junho de 1942, e Guadalcanal em 1943. Os
americanos foram importantes para combater os japoneses em diversos territó-
rios, inclusive na China que sofreu a invasão dos nipônicos em 1937.
Sendo assim, a partir de 1941 a Segunda Guerra se desenvolveu em três conti-
nentes, Europa, África e Ásia. É válido lembrar que a partir de 1942 os britânicos
vão levar a guerra até a Alemanha que teve suas cidades destruídas pelos aviões
ingleses e estadunidenses. Como vimos, a segunda fase do conflito de 1942 e
1943 foi a de equilíbrio entre os países. Foi, também, o período em que Estados
Unidos e União Soviética começaram a lutar diretamente no conflito. Inclusive foi
na União Soviética, mais precisamente na cidade de Stalingrado, que o nazismo
começou a perder a guerra na Europa.
A Batalha de Stalingrado ocorreu de agosto de 1942 até fevereiro de 1943.
Nesta cidade, os nazistas não conseguiram aplicar a sua estratégia de guerra, sen-
do castigados pelo frio de baixíssimas temperaturas e pelas estratégias militares
soviéticas. Proibidos por Hitler de deixar a cidade, os soldados alemães tiveram
que se render. Uma vitória muito importante para os soviéticos, que a partir de
então empurraram o exército nazista de volta para a Alemanha. Os russos que
até 1943 foram invadidos pelos alemães reagiram. Stalin transferiu as milhares
de fábricas para a Ásia distante dos inimigos. O sistema produtivo soviético foi
fundamental para a vitória soviética. Para se ter ideia:

169
UNIDADE 5


Tal superioridade material foi menos expressiva, mas já presente,
entre 1941-1943, quando a economia soviética se recuperava da
invasão e das imensas perdas econômicas e militares, mas, entre
1944 e 1945, foi esmagadora. Não surpreende, assim, que, dos 13,6
milhões de alemães mortos, feridos ou aprisionados durante a guer-
ra, 10 milhões o tenham sido na frente oriental. Se, alguma vez, a
imagem do “rolo compressor” russo esteve perto da realidade, foi na
frente oriental, nesses dois anos. Assim, saíram das fábricas russas,
durante a guerra, uns 200 mil canhões e morteiros médios e pesa-
dos, 160 mil aviões e 100 mil tanques [...]. Como eles praticamente
não lutaram nos oceanos, sua produção de navios e submarinos
foi pequena, mas ninguém, entre todos os beligerantes, conseguiu
produzir mais artilharia e blindados. Se examinarmos o conjunto
da produção militar, apenas os Estados Unidos foram capazes de
fabricar mais material militar do que a União Soviética durante a
guerra (BERTONHA, 2009, p. 89).

Com sua grande produção industrial e com um contingente de milhões de ho-


mens, os soviéticos de forma gradual, após a vitória na Batalha de Stalingrado
e Kursk (a maior batalha de blindados da história), empurraram os nazistas de
volta para a Alemanha retomando as cidades ocupadas ou bloqueadas e aden-
trando no território alemão nos anos seguintes. Os soviéticos venceram os na-
zistas sozinhos no leste europeu, no total entre civis e militares a URSS perdeu
mais de 20 milhões de vidas. Durante muito tempo a historiografia falou da
importância do Dia D ou Operação Overlord como o início da derrota nazista,
no entanto, foi em Stalingrado que a Alemanha começou a perder a guerra. A
vitória em Stalingrado deu esperança aos povos que estavam cativos (GILBERT,
2014), além de transformar a moral do exército soviético (HASTINGS, 2011).
Foi também nesse ano de 1943 que Benito Mussolini perdeu o poder na Itália,
que oficialmente se rendeu aos Aliados. Em resposta, os nazistas tiveram que
libertar Mussolini da prisão e criar um novo Estado para ele no norte da Itália.
A situação se tornava cada vez mais favorável aos Aliados.

170
UNICESUMAR

PENSANDO JUNTOS

Durante um conflito o serviço de informações é fundamental. Por isso, a vitória dos Alia-
dos aconteceu em grande parte, pois os britânicos conseguiram desvendar o sistema crip-
tografado dos nazistas da máquina Enigma e os americanos quebraram o código Mágico
dos japoneses. Com a criptografia quebrada, era possível saber o que seu inimigo faria
antes mesmo do acontecimento.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: O Jogo da Imitação


Ano: 2014
Sinopse: O filme jogo da imitação representa a história de Alan Tu-
ring. Um matemático e cientista da computação que desenvolveu
uma máquina (um dos primeiros modelos de computador) capaz de quebrar
as mensagens codificadas dos alemães pela máquina Enigma. Seu trabalho
foi fundamental e acredita-se que a sua descoberta fez com que dezenas de
milhões de vidas fossem salvas.

A partir de 1944 iniciou-se a fase de vitória dos Aliados e derrota do Eixo. Em


particular, o mês de junho foi extremamente importante. Enquanto os soviéticos
avançaram contra os nazistas pelo lado oriental, uma “segunda frente” foi aberta
no ocidente no dia 06 de junho de 1944. Essa operação ficou conhecida como
Dia D ou Operação Overlord que por muito tempo foi considerado o momento
decisivo para a derrota do Eixo na Europa.
Na madrugada do dia 06 cerca de 18 mil paraquedistas americanos e britâ-
nicos saltaram sobre as praias ao norte da França, na Normandia. Em seguida
tropas americanas desembarcaram nas praias de Utah, em seguida os britânicos
chegaram em outras praias da região, em seguida soldados canadenses também
participaram. Quando foi meia-noite aproximadamente 155 mil homens já ha-
viam desembarcado na região (GILBERT, 2014). No mesmo mês de junho, a
União Soviética deu início a Operação Bagration que tinha por objetivo derrotar
os nazistas na região da Bielorússia.

171
UNIDADE 5

Caro (a) estudante, após essas duas grandes operações, cada vez mais os Aliados
se aproximavam da Alemanha e a derrota do Eixo era iminente. A frente oci-
dental, reforçada por tropas vindas do sul da França, chegaram a Paris no final
de agosto de 1944 e no mês seguinte as fronteiras da Alemanha. No final do
ano, a França, Bélgica e parte da Holanda já haviam sido retomadas, apesar da
resistência dos alemães. Já no início de 1945 os soviéticos, no lado oriental, lan-
çavam novas investidas, sendo que no dia 16 de abril de 1945 cercaram a cidade
de Berlim. Metro a metro os soviéticos tomaram a cidade. No dia 30 de abril,
após perder todas as esperanças Hitler, em seu Bunker, atirou contra si mesmo.
A Segunda Guerra Mundial na Europa chegava ao seu fim. No dia 7 de maio é
assinado a rendicão incondicional da Alemanha.
No entanto, apesar da guerra ter se encerrado na Europa ela permanecia no
Oceano Pacífico, o Japão resistia. Mas não por muito tempo. Após a conquista
de Okinawa pelos Estados Unidos em maio de 1945, restavam apenas as ilhas
principais japonesas. Apesar da iminente vitória dos Aliados, o Japão não se
renderia facilmente.
Em 1939, foi escrita a Carta Einstein-Szilárd entregue ao presidente F. D.
Roosevelt alertava para o perigo de criação de um novo tipo de bomba. Diante
disso, o Estados Unidos em parceria com a Inglaterra e o Canadá, deu origem,
em 1941, ao Projeto Manhattan, responsável pelo desenvolvimento das primei-
ras bombas atômicas de fissão nuclear. Assim, em 1945, diante da certa vitória
contra o Japão, o então presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, recebeu
a notícia de que as bombas nucleares estavam prontas. Como explica o historia-
dor Eric Hobsbawm: “O lançamento da bomba atômica sobre Hiroxima e
Nagasaki em 1945 não foi justificado como indispensável para a vitória, então
absolutamente certa, mas como um meio de salvar vidas de soldados americanos”
(HOBSBAWM, 2011, p. 34-35). Sob a justificativa de estar salvando a vida de mi-
lhares de soldados norte-americanos, os Estados Unidos bombardearam o Japão
com duas bombas atômicas. No dia 6 em Hiroshima e no dia 9 em Nagasaki. O
mundo nunca mais seria o mesmo. Como consequência dessas bombas o Japão
não teve outra alternativa em concordar com sua rendição em 14 de agosto que
seria formalizada oficialmente no dia 2 de setembro de 1945. Chegava ao fim a
Segunda Guerra Mundial.
Entre as consequências da Segunda Guerra, gostaríamos de destacar alguns
aspectos principais. Primeiro a quantidade de mortos. Apesar de não ser possí-

172
UNICESUMAR

vel termos certeza quanto aos números, aproximadamente 60 a 70 milhões de


pessoas morreram neste conflito. Em segundo lugar, relacionado ao primeiro,
devemos falar sobre um dos maiores genocídios da história, o Holocausto. Que
não foi apenas uma consequência da Segunda Guerra Mundial mas das próprias
ideias defendidas pelo nazismo.
Após a chegada do nazismo ao poder da Alemanha, Hitler iniciou um pro-
cesso de perseguição a grupos que eram considerados uma “ameaça à nação
germânica”, entre esses grupos estavam os judeus. Acerca da perseguicão dos
judeus na Europa, mesmo antes da Alemanha Nazista, existem diversas obras. O
próprio anti semitismo já estava presente na Europa a muito tempo. E no século
XIX havia se intensificado. Em sua obra, A Guerra do Mundo: a Era do ódio
na História, Niall Ferguson retrata o antissemetismo na Europa no século XIX
e principalmente no XX, de como os judeus foram perseguidos pelos nazistas,
mas antes disso por outros povos como os russos e os pogroms do século XIX.
Em relação ao Nazismo, Hitler possuía uma política racial. Desde de sua obra,
Mein Kampf já tinha deixado claro a sua política de matar ou expulsar o que ele
denominava como “raças inferiores” (FERGUSON, 2015, p.494). Já em março de
1933 Hitler criou um campo de concentração o Dachau, no qual, judeus, ciganos
e outros grupos começaram a ser aprisionados. Em abril do mesmo ano foram
aprovadas as primeiras leis anti judaicas. Em 1935 foram emitidas as leis raciais em
Nuremberg, que buscavam propagar a ideia de que os “arianos eram superiores”.
Em novembro de 1938 ocorreu a Kristallnacht ou Noite dos Vidros Quebrados.
Uma onda de ataques que saquearam e queimaram lojas e sinagogas judaicas.
Com o início da guerra a perseguição se intensificou. Primeiro os judeus
foram obrigados a usar braçadeiras que os distinguem do resto da população,
sendo obrigados a viverem nos guetos em um processo de segregação cada vez
mais forte. Como exemplo o gueto de Varsóvia que aprisionou mais de 400 mil ju-
deus. Contudo, foi em 1942, na reunião em Wannsee que os nazistas prepararam
a denominada “Solução Final”. Nesse momento milhões de judeus já haviam
sido assassinados pelos nazistas e seus aliados. (TIMELINE, web). De acordo
com Hannah Arendt, no verão de 1942, Hitler ainda “falava” em expulsar os ju-
deus da Europa fosse para África ou Sibéria, no entanto, no ano anterior já havia
ordenado a construção de câmaras de gás, sendo que: “Na primavera de 1941,
Himmler já sabia que “os judeus [devem ser] exterminados [pois] este é o desejo
e ordem inequívoca do Führer” (Dossiê Kersten no Centre de Documentation

173
UNIDADE 5

Juive)” (ARENDT, 1998, p. 392, n.4). Ao todo, aproximadamente seis milhões de


judeus foram assassinados durante o regime nazista, principalmente nos campos
de concentração como Chelmo, Belzec ou Auschwitz-Birkenau.

NOVAS DESCOBERTAS

O Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos possuí um


website que tem por objetivo inspirar cidadãos e líderes a confrontar
o ódio, prevenir genocidios e promover a dignidadade humana. Nele
é possível ter acesso a incontaveis número de informações sobre o
Holocausto. Inclusive, fornece materiais para professores utilizarem
em suas aulas.

Para finalizarmos nossa análise de algumas consequências da Segunda Guerra


Mundial, devemos falar sobre as origens da Guerra Fria. Nos meses finais da
guerra, um antagonismo cada vez maior se formava entre os Estados Unidos e a
União Soviética. Vimos que a partir de 1943 os soviéticos empurraram os nazistas
de volta para a Alemanha. Ao longo do território de combate contra os alemães,
Stalin começou a impor o seu poder. Sendo assim, no final da Segunda Guerra
Mundial os soviéticos dominaram, praticamente, todo o leste Europeu. E mesmo
antes do conflito terminar, os líderes ocidentais começaram a se preocupar com
o crescente poder soviético. Deste contexto, surgiu um conflito que determinou
a história da segunda metade do século XX, a Guerra Fria.
Agora que analisamos os primeiros pontos que nos propomos: as principais
causas e o estopim da guerra; o desenvolvimento deste conflito e, por fim, o
desfecho da guerra na Europa e no Oceano Pacífico. Chegou a hora de nossos
viajantes históricos viajarem para um outro momento da História.
- Dante: Professor, podemos afirmar que a Segunda Guerra Mun-
dial alterou diretamente a sociedade, tendo em vista que a muito
custo derrotou os regimes fascistas Europeus que possuíam como
características o totalitarismo, o racismo, etc.

174
UNICESUMAR

- Professor de História: Exato, Dante. perceba como um sistema


ideológico como o fascismo italiano e o nazismo levaram a uma
guerra na qual milhões de pessoas se envolveram e foram mortas. A
ideologia fascista uma vez que chegou ao poder só pode ser freada
pelo uso da guerra direta.

- Dante: Isso nos mostra o perigo destas ideologias totalitárias e de


como os discursos de superioridade são extremamente perigosos
para a nossa sociedade.

- Professor de História: Esta é uma lição importante. Agora, vamos


para outro local, para compreender a formação e desenvolvimento
da Guerra Fria. Os Estados Unidos no final da década de 1940 e
década de 1950.

175
UNIDADE 5

Caro (a) estudante, agora que analisamos alguns aspectos da Segunda Guerra
Mundial, chegou o momento de estudarmos um outro confronto, que, por sua
vez, alterou as relações políticas, econômicas e culturais de todo o planeta. Es-
tamos falando da Guerra Fria. Assim como em todos os outros temas, vamos
responder a algumas perguntas: o que foi a Guerra Fria? Quais as suas origens?
Como ela se desenvolveu? Como impactou o mundo? Qual foi o seu desfecho?
Guerra Fria é um termo utilizado para conceitualizar uma guerra não
declarada entre os Estados Unidos e a União Soviética. Um conflito político,
ideológico, econômico, cultural e militar. Acerca de seu início e fim não há um
consenso historiográfico. Para alguns, ela teria se iniciado em 1945, já no final
da Segunda Guerra Mundial, para outros em 1947 com o discurso de Harry
Truman. Acerca de seu fim, há quem afirme que terminou em 1989 com a
queda do Muro de Berlim, para outros, com a desintegração e fim da União
Soviética em dezembro de 1991.
Historiograficamente, existem diversas correntes analíticas acerca desse
confronto. De acordo com Sidnei Munhoz podemos elencar cinco:


A ortodoxia estadunidense estruturou-se a partir dos escritos dos
elaboradores da política externa dos EUA. George Frost Kennan,
criador da Doutrina da Contenção, é o maior expoente dessa cor-
rente.[...] Os historiadores ortodoxos estadunidenses responsabili-
zam a União Soviética pela emergência da Guerra Fria e a acusam
de desrespeitar os acordos firmados ao final da II Guerra Mundial e
de apoderar-se militarmente dos territórios localizados no Centro e
no Leste da Europa. [...] A ortodoxia soviética constitui-se o outro
lado da moeda da corrente anterior. Seus expoentes também estão
associados ao serviço diplomático e expressam a visão da política
externa do seu país. Essa corrente interpretativa responsabiliza os
EUA pela emergência do novo conflito global, surgido ao fim da II
Guerra Mundial, como resultado da ação imperialista e do desres-
peito aos tratados firmados em Ialta e em Potsdam (MUNHOZ,
2020, p. 23, grifo nosso).

Após a explicação destas teorias mais ortodoxas, o historiador prossegue expli-


cando as outras linhas de análise:

176
UNICESUMAR


Revisionismo. A crítica revisionista despontou em 1959 e desen-
volveu-se nas décadas seguintes [...] Divergiam da história oficial
que responsabilizava a União Soviética pelo início da Guerra Fria.
[...] os revisionistas afirmavam que a URSS não ameaçava a Euro-
pa ou os EUA. Esses historiadores concluíam que a ação soviéti-
ca era, sobretudo, defensiva. Para eles, na avaliação soviética, os
EUA adotaram, após a morte de Roosevelt, posturas agressivas que
ameaçavam o leste da Europa e a segurança da URSS.[...] Pós-re-
visionismo. Na década de 1980, o historiador John Lewis Gaddis
propôs a superação dos modelos ortodoxo e revisionista para a
análise da Guerra Fria. Para esse autor, com o final daquele confli-
to de dimensões globais, era imprescindível buscar um consenso
pós-revisionista. Nesse percurso, Gaddis defendeu a adoção de uma
perspectiva próxima à neutralidade como caminho para a melhor
compreensão do período da Guerra Fria. [...] o pós-revisionismo,
na prática, corporificou-se como uma antítese revisionista ou em
uma neo-ortodoxia. [...] Corporatismo. Os corporatistas defen-
dem a existência de uma linha de continuidade na Grande Política
dos EUA ao longo do século XX. [...] os EUA buscaram, durante o
século XX, planejar uma ordem mundial referenciada no modelo
corporatista doméstico. [...] A implementação dessas políticas foi
vista pelo Kremlin como uma ameaça. Assim, a União Soviética
adotou posturas que também foram vistas pelos EUA como agres-
sivas (MUNHOZ, 2020, p. 24-25, grifo nosso).

Neste momento e local, não podemos realizar uma análise mais aprofundada
acerca destas questões historiográficas. Contudo, indicamos o seu estudo. Uma
forma de fazer isso é pelo livro indicado abaixo do professor Sidnei Munhoz.

NOVAS DESCOBERTAS

Título: Guerra Fria: História e Historiografia


Autor: Sidnei J. Munhoz
Editora: Editora Appris
Sinopse: Nesta obra, o historiador especialista em Guerra Fria, Sidnei J.
Munhoz além de apresentar as diversas correntes analíticas acerca da Guerra
Fria, faz uma análise aprofundada das origens deste conflito, a sua emergên-
cia de forma global, as disputas de poder e a crise do sistema soviético.

177
UNIDADE 5

Apresentada essas questões introdutórias, continuamos a nossa investigação a


partir do questionamento, quais as origens da Guerra Fria?. Um primeiro aspecto
que devemos compreender, é que este conflito tem as suas origens já na Segunda
Guerra Mundial. Como vimos em alguns parágrafos anteriores, no fim da Se-
gunda Guerra Mundial, líderes como Harry Trumans e Winston Churchill já se
preocupavam com a ampliação da influência do poder soviético. De acordo com
John Gaddis, [...] venceu a guerra uma coalizão cujos membros mais importantes
já estavam em guerra - ideológica e geopoliticamente, se não militarmente - entre
si (GADDIS, 2006, p. 6).
Para o historiador, quando Estados Unidos e União Soviética venceram o
conflito contra os nazistas eles já estariam em guerra entre si. As esferas de in-
fluência destas duas nações começaram a ser traçadas na fase final da Segunda
Guerra. Os acordos de guerra em Teerã em 1943, em Yalta em 1945 e em Pot-
sdam, no mesmo ano, confirmam isso. Em Yalta, Stalin, Churchill e Roosevelt
iniciaram o processo de divisão de zonas de influência entre o leste e oeste, bus-
cando uma paz e equilíbrio após o conflito. Contudo, apesar desta coalizão entre
Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética não alcançou a paz almejada. De
acordo com John Gaddis


Roosevelt, Churchill e Stalin sem dúvida ansiavam por esse desfe-
cho e nenhum deles tão cedo queria novos inimigos, depois de ter
vencido aqueles. Mas desde o começo a coalizão fora simulta-
neamente uma forma de cooperação para derrotar o Eixo e
um instrumento pelo qual cada um dos vitoriosos procurava
ter o máximo de influência no mundo de pós-guerra. Nem po-
deria ser doutra forma. Apesar de os “três grandes” declararem que
não se podia pensar em política com a guerra em curso, nenhum
deles acreditava neste princípio ou pensava em obedecê-lo. O que
realmente fizeram - em comunicados e conferências, quase sempre
sem conhecimento público - foi tentar conciliar objetivos políticos
divergentes, tal como se visassem a uma operação militar de inte-
resse comum. Em grande parte fracassaram, e foi este fracasso que
originou a Guerra Fria (GADDIS, 2006, p. 17, grifo nosso).

Por conseguinte, para J. Gaddis foi essa busca pela maior influência mundial
no pós Segunda Guerra que levou o mundo a esse novo conflito. É certo que os

178
UNICESUMAR

primeiros passos de interferência na política internacional no pós guerra foram


realizados pelos Estados Unidos. É fato que os estadunidenses, após a guerra,
eram a maior potência econômica e militar do planeta, enquanto a URSS se es-
forçava para se recuperar dos prejuízos das guerras, como por exemplo, os mais
de 20 milhões de mortos e diversas cidades destruídas.
No entanto, os soviéticos conseguiram nas negociações em Ialta, um vasto
território de influência no leste europeu. Com a morte de Roosevelt e a entrada
de Harry Truman o posicionamento contra este poder soviético cresceu nos
EUA. Além disso, a destruição na Europa, a fome, a falta de energia e as péssimas
condições aumentavam o medo de uma onda revolucionária na Europa. Foi
nesse contexto que os Estados Unidos iniciou uma estratégia para combater o
avanço do comunismo e da União Soviética. George Frost Kennan, diplomata
estadunidense especialista nas questões soviéticas, propôs em 1946 uma estra-
tégia capaz de frear a expansão da URSS. Kennan em fevereiro de 1946 enviou
de Moscou o famoso “Longo Telegrama” que apresentava orientações de como
conter o avanço sovietico. Ele aprofundou essas ideias em 1947 em um artigo
publicado na Foreign Affairs, com essas ideias foi criada a Doutrina da Con-
tenção (MUNHOZ, 2004a). De acordo com Sidnei Munhoz:


[...] Kennan defendia que os EUA passassem a empregar uma políti-
ca externa de longa duração alicerçada em uma paciente, duradoura
e vigilante contenção das possíveis tendências expansionistas sovié-
ticas (KENNAN, 1947; 1969; 1999). O diplomata preconiza que em
um eventual sinal de agressão ou tentativa de expansão soviética os
Estados Unidos deveriam estar prontos para se contraporem à ad-
versária de forma a dissuadi-la do seu intento. O diplomata ressal-
va, contudo, que o conflito direto deveria ser evitado (MUNHOZ,
2020, p. 147).

Com base nesta ideia de conter o avanço comunista, no dia 12 de março de 1947
o então presidente dos EUA, Harry Truman, fez um discurso para o congresso
americano acerca da importância dos Estados Unidos ajudarem a Grécia e a
Turquia que passavam, naquele momento, por agitações sociais. A Grécia por
exemplo, vivia uma Guerra Civil com uma forte participação comunista. Apro-

179
UNIDADE 5

vada a intervenção pelo congresso, este plano de apoio econômico e militar ficou
conhecido como Doutrina Truman (MUNHOZ, 2020; GADDIS, 2006).

Figura 4: Harry Truman discursa para o Congresso Americano. Este discurso daria início à
chamada “Doutrina Truman”. / Fonte: By Harry S. Truman Library & Museum

Descrição da Imagem: Na fotografia, em preto e branco encontra-se ao centro da imagem um homem,


o presidente Harry Truman, discursando. É um homem caucasiano com o cabelo para o lado. Usa óculos
e detém uma expressão agressiva. Está vestindo um blazer com camisa branca e gravata. Relógio no
pulso esquerdo e um anel em seu dedinho. Há um púlpito em sua frente no qual estão instalados quatro
microfones. No fundo, desfocado, é possível notar uma parede de mármore.

Dentro dessa política de contenção do comunismo e da URSS, Truman na lide-


rança dos Estados Unidos desenvolveu estratégias e áreas distintas. Por exemplo,
o Plano Marshall. Um plano de recuperação econômica da Europa, criado em
junho de 1947. Entre os anos de 1948 e 1951 foram investidos cerca de 13 bi-
lhões de dólares. O plano originalmente incluía os países da Europa oriental, no
entanto, a URSS proibiu esses países de receber ajuda deste plano (MUNHOZ,
2004c). Afinal, o Plano Marshall, de forma indireta tinha o objetivo de fazer com

180
UNICESUMAR

que os países restaurados fizessem parte de uma aliança política e militar contra
os soviéticos (HOBSBAWM, 2011, p. 237).
É importante levarmos em consideração


[...] que o Plano Marshall constituiu-se em uma das estratégias de
intervenção objetivando a edificação da nova ordem mundial. Ele
foi antecedido pelo Acordo de Bretton Woods, pela criação do Banco
Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI), que instituíram
os mecanismos de regulação e controle da nova ordem econômica
mundial. Além disso, pode-se afirmar que a Doutrina Truman,
o Plano Marshall e a criação da OTAN formavam um conjunto
por meio do qual os EUA procuraram moldar o mundo ociden-
tal do pós-guerra (MUNHOZ, 2004c, p. 547, grifo nosso).

EXPLORANDO IDEIAS

Para combater o comunismo dentro dos Estados Unidos, foi criada uma política de perse-
guição interna que ficou conhecida como Macartismo. De acordo com Lars Schoultz, em
1950, o senador Joseph McCarthy disse: [...] que o Departamento de Estado democrata
“está inteiramente infestado de comunistas. [...] indivíduos que parecem ser membros
de carteirinha ou simpatizantes do Partido Comunista, mas que apesar disso ainda estão
ajudando a moldar nossa política exterior”. A Cortina de Ferro havia fechado a Europa
Central, o Departamento de Estado havia perdido a China, e a crescente maré vermelha
ameaçava varrer toda a oposição. “Hoje, disse McCarthy a seus ouvintes, “estamos empe-
nhados numa batalha total e final entre o comunismo ateu e a cristandade. Os modernos
defensores do comunismo escolheram este como sendo o momento. E, senhoras e se-
nhores, as apostas estão feitas - estão realmente feitas.” A inquisição de quatro anos de
Joseph McCarthy estava a caminho (SCHOULTZ, 2000, p. 371)..

Perceba caro estudante, que de acordo com essa perspectiva histórica apresenta-
da, ao longo das primeiras décadas após a Segunda Guerra Mundial, os Estados
Unidos da América procurou moldar um mundo de acordo com as suas carac-
terísticas. Como apontado no excerto, a Organização do Tratado do Atlânti-
co Norte (OTAN) fez parte deste objetivo. Criada em 1949, essa organização,
existente até os dias atuais, tem por objetivo a criação de uma aliança política e
militar. Segundo o site da própria organização, militarmente falando a OTAN

181
UNIDADE 5


[...] está comprometida com a resolução pacífica de disputas. Se
os esforços diplomáticos falharem, ele tem o poder militar para
realizar operações de gerenciamento de crises. Estas são realizadas
ao abrigo da cláusula de defesa colectiva do tratado fundador da
OTAN - artigo 5.º do Tratado de Washington ou sob mandato das
Nações Unidas, isoladamente ou em cooperação com outros paí-
ses e organizações internacionais (NORTH ATLANTIC TREATY
ORGANIZATION, s.d.).

Ou seja, a agressão a um país da OTAN será respondida por todos os outros


membros. Uma forma de controle político importante durante a Guerra Fria.
Todos esses movimentos de contenção por parte dos EUA fizeram com que os
soviéticos reagissem sendo que


O temor de um avanço imperialista objetivando eliminar a influên-
cia soviética no Leste Europeu levou o governo de Moscou a rapida-
mente esmagar as oposições aos regimes instalados na sua esfera de
influência. Nessa mesma direção, a URSS criou, em julho de 1947,
o Birô de Informação Comunista (Kominform) e, em 1949, o Con-
selho de Assistência Econômica Mútua (COMECON) (MUNHOZ,
2004c, p. 547, grifo nosso).

Uma outra reação da União Soviética foi a criação do Pacto de Varsóvia em


maio de 1955. Sua criação foi uma resposta direta à OTAN, tendo em vista que
também era uma aliança militar entre a União Soviética e países do leste euro-
peu como Albânia, Bulgária, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Hungria,
Romênia e Polônia.

Como ficou imortalizada a frase de Winston Churchill: “De Estetino (Po-


lónia), no [mar] Báltico, até Trieste (Itália), no Adriático, uma cortina de
ferro desceu sobre o continente” A Europa estava dividida pela disputa
entre os Estados Unidos e o Ocidente capitalista versus a União soviética e
o socialismo. Essa divisão ficou ainda mais clara na divisão oficial e criação
das duas Alemanhas em 1949. O plano de desnazificação e volta à demo-
cracia já havia sido planejado na Conferência de Potsdam em 1945 (que

182
UNICESUMAR

abordamos anteriormente). No fim do conflito o país foi dividido em zonas


de influência entre Estados Unidos, França, Reino Unido e União Soviética.

Em 1948, as três zonas ocidentais capitalistas se tornaram uma só e em


1949 foi criada oficialmente a República Federal da Alemanha (RFA). Os so-
viéticos, por sua vez, criaram, também em 1949, a República Democrática
Alemã (RDA). A Alemanha permaneceria dividida por aproximadamente 41
anos. Os anos de maior tensão do conflito ocorreram após a criação desta
Cortina de Ferro, entre a década de 1950 e 1960, período em que EUA e
URSS buscaram criar zonas de influência em todo o planeta, realizaram
uma corrida espacial e a corrida armamentista e que quase desem-
bocou em uma Terceira Guerra Mundial, desta vez com armas atômicas.

Mas não apenas a Alemanha ou a Europa foram divididas nesse conflito. Um


aspecto importante acerca da Guerra Fria é como ela atingiu os países da Ásia,
América e África, ou, como parte da historiografia denomina, a Guerra Fria no
Terceiro Mundo. O historiador Niall Ferguson explica que os conflitos “quentes”
da Guerra Fria foram transferidos para o terceiro mundo, por alguns motivos
principais. Primeiramente, os conflitos étnicos europeus que desembocaram nas
guerras da primeira metade do século XX diminuíram muito com as guerras
mundiais e com a divisão gerada pela Cortina de Ferro. O segundo motivo para
a transferência do conflito para o Terceiro Mundo, foi por questões econômicas.
A grande volatilidade econômica empurrou os países para revoluções e conflitos.
Por fim, um terceiro motivo é que durante a Guerra Fria concluiu-se a queda de
alguns impérios seculares como o britânico e o francês (FERGUSON, 2015).

Caro estudante, um dos principais processos históricos que


ocorreram durante a Guerra Fria foi o processo de Inde-
pendência da África e da Ásia em relação aos países impe-
rialistas que os dominavam desde o século XIX. Para ajudar
na compreensão deste processo histórico preparamos mais
um episódio do nosso podcast. Vamos nessa? .

183
UNIDADE 5

Por conseguinte, a segunda metade do século XX foi um período de Descolonização da


África e da Ásia, de guerras e revoluções no Terceiro Mundo, possuindo, geralmente, o
envolvimento dos EUA e da URSS. Em alguns momentos da Guerra Fria, os Estados Uni-
dos se intrometeu em conflitos que, aparentemente, não possuíam relações diretas com ele.
Uma das razões para a sua participação em conflitos como na Coréia e no Vietnã, pode ser
explicada pela Teoria dos Dominós. Esta teoria originou-se ligada à Doutrina Truman de
conter o avanço soviético e é baseada na ideia de que de um país, principalmente no leste
asiático fosse dominado pelo comunismo, acarretaria em um efeito dominó, no qual, outros
países também caíram sobre a esfera soviética (AGOSTINO, 2004). Essa teoria foi utilizada
por presidentes como Dwight Eisenhower e John Kennedy para a intervenção estadunidense
no leste asiático e em conflitos como a Guerra do Vietnã.
Caro (a) estudante, acerca das Revoluções e Guerras no “Terceiro Mundo” durante a
Guerra Fria, organizamos esta tabela a seguir com as principais informações sobre cada um
desses processos históricos:

A Revolução Chinesa colocou no poder


Mao Tsé-Tung e o Partido Comunista
Chinês (PCC). No poder criaram a Repú-
blica Popular da China de caráter socilais-
ta. A China, a partir de então, tornou-se
uma aliada importante da URSS durante
a Guerra Fria, pelo menos até o rompi-
mento entre as duas potências no final
1949 Revolução Chinesa
da década de 1950 e início de 1960. No
poder Mao Tsé-Tung realizou o "Grande
Salto em Frente" que, ao falhar, deixou
entre 20 a 60 milhões de chineses mortos.
Para fortalecer seu poder, o PCC, em 1966,
iniciou a chamada "Revolução Cultural" que
consolidou o comunismo como sistema de
governo na China.

184
UNICESUMAR

Após a Segunda Guerra Mundial a Coréia


- que estava sob ocupação japonesa até
então - foi dividida no Paralelo 38. O norte
ficou sob influência soviética e chinesa,
enquanto o sul, capitalista, de influência
capitalista. Em junho de 1950 os norte
coreanos, com auxílio dos chineses, invadi-
1950-
Guerra da Coréia ram a Coréia do Sul. Com base na Doutrina
1953
da Contenção e na Teoria dos Dominós os
estadunidenses intervieram de forma efe-
tiva. O conflito se estendeu até o armistício
em 1953, no entanto, não foi assinado um
tratado de paz. Fazendo com que as fron-
teiras das Coreias, permaneçam como uma
das regiões mais militarizadas do planeta.

A Revolução Cubana concretizou-se com


a queda de Fulgêncio Batista do poder,
devido à luta de um movimento guerrilhei-
ro liderado por Fidel Castro, Raul Castro e
Ernesto "Che" Guevara, conhecido como
Movimento 26 de Julho. Após assumirem o
poder, na figura de Fidel Castro, os Estados
Unidos, que mantinha até então um con-
trole de Cuba, tentou restaurar o antigo po-
der no país. Quanto não conseguiu, decre-
tou um embargo econômico a Cuba. Diante
dessa situação, os cubanos passaram a
1959 Revolução Cubana negociar com os soviéticos que aceitaram
ajudar os cubanos, desde que pudessem
instalar mísseis nucleares na ilha. O que foi
permitido. Quando os EUA descobriram,
iniciou o momento de maior tensão da
Guerra Fria e que quase culminou na Ter-
ceira Guerra Mundial, a Crise dos Mísseis
de 1962. A beira de um conflito nuclear, o
presidente dos EUA, Kennedy e o líder da
URSS Kruschev entraram em um acordo e
a paz foi novamente estabelecida, dando
início a um período de maior relaxamento
das tensões,a Détente.

185
UNIDADE 5

A Guerra do Vietnã é muito simbólica para


o período da Guerra Fria. Pode ser dividida
em diversas fases. Inicialmente o conflito
era entre o Vietnã liderado por Ho Chi Minh
e o Partido Comunista Vietnamita contra os
franceses que dominavam a região desde
o século XIX. Auxiliado por soviéticos e chi-
neses, Ho Chi Minh derrotou os franceses.
No entanto, devido a Teoria dos Dominós,
os Estados Unidos, de forma gradual,
1955- passaram a intervir cada vez mais. O Vietnã,
Guerra do Vietnã
1975 assim como a Coréia, também foi dividido
em norte e sul, sendo o norte comunista e
o sul capitalista. Os EUA que inicialmente
ajudaram o sul com armamentos e supri-
mentos em 1964 entraram diretamente no
conflito. Trata-se da derrota mais humilhan-
te da história dos EUA, que tiveram que se
retirar do combate em 1973. Entre 1973 a
1976 o Vietnã continuou em guerra civil até
que em 1976 o Vietnã foi reunificado sob a
bandeira comunista.

186
UNICESUMAR

Assim como os EUA obteve uma derrota


vergonhosa na Guerra Fria, a URSS tam-
bém sofreu. o "Vietnã" dos soviéticos foi a
Guerra do Afeganistão. A URSS enviou seus
soldados para ocupar o país e ajudar o
1979- Guerra do Afega- governo instalado, de caráter marxista. En-
1989 nistão frentaram durante dez anos os guerrilhei-
ros mujahidins, que por sua vez, recebiam
apoio dos EUA e do Reino Unido. Os custos
para a URSS foram grandiosos e pode ser
considerado um dos motivos da crise sovié-
tica na década de 1980.

Apesar da Guerra do Afeganistão ter colaborado para a crise da URSS na década


de 1980, ela não foi sua única causa. Para Angelo Segrillo, ainda em 1985 não era
possível prever que uma das maiores potências do planeta entraria em colapso
em menos de dez anos. Contudo, a União Soviética vivia um grande período de
estagnação na década de 1980 e entre seus principais problemas estava os gastos
militares, inclusive com a Guerra do Afeganistão, uma burocratização que travava
o funcionamento das instituições e questões de nacionalidades diferentes que
poderiam levar a conflitos internos. O fato é que os soviéticos na década de 1980
viviam um atraso científico e tecnológico gigantesco em relação aos seus princi-
pais inimigos do período, os Estados Unidos da América. O próprio desenvolvi-
mento de novos métodos de produção como o Toyotismo e a flexibilidade destes
modelos no Ocidente alteraram o jogo de forma definitiva (SEGRILLO, 2004).
Com a chegada da Terceira Revolução Industrial, do microchip, dos computa-
dores e da informática, a distância entre o Ocidente e a URSS aumentou muito.
Outros elementos podem ser elencados que colaboraram para tal crise, como
por exemplo o acidente nuclear de Chernobyl em 1986. Esse desastre: [...] mu-
dou Gorbachev. Revelou “como nosso sistema está enfermo (...) ocultação e
disfarce de acidentes e outras más notícias, irresponsabilidades e negligências,
obras malfeitas e embriaguez por toda parte.” (GADDIS, 2006, p. 223-224). Para
resolver essa questão, o recém eleito secretário geral do Partido Comunista da
União Soviética, Mikhail Gorbachev deu início, em 1985, a reformas que pudes-
sem acelerar novamente o crescimento de seu país. Para isso, em uma primeira

187
UNIDADE 5

fase foi criada a Perestroika. Com o objetivo de “reestruturar a economia”, esse


projeto teve como objetivo descentralizar a economia e acabar com toda aquela
burocracia que minava o desenvolvimento da iniciativa privada. Logo após a
Perestroika, Gorbachev insistiu na necessidade de implementação da Glasnost,
ou seja, de transparência nas questões e relações políticas do Estado com seus
indivíduos, possibilitando um diálogo, acabando com a censura e fornecendo
maior liberdade para as pessoas se expressarem (SEGRILLO, 2004). É importante
frisarmos que Gorbachev:


[...] não pretendia, com certeza, eliminar o comunismo da URSS.
Sua pretensão inicial era introduzir certos mecanismos na esclero-
sada sociedade russa que permitissem a ela continuar na posição
de superpotência e, ao mesmo tempo, desse um novo dinamismo à
sua estrutura econômica e ao sistema político (BERTONHA, 2009,
p. 110).

No entanto, apesar de tentar salvar o comunismo na URSS, o efeito das refor-


mas acabou sendo o contrário. Ao trazer mais liberdade de expressão ao mesmo
tempo que a economia soviética não reagia levou a uma série de problemas. De
acordo com Eric Hobsbawm, as reformas atingiram a única coisa que fazia o país
funcionar a séculos, o poder centralizado. A população russa estava acostumada
a viver com as reformas e decisões “vindas de cima”, mesmo antes da Revolução
Russa, era com essa forma política que os russos estavam acostumados (HOBS-
BAWM, 2011, p. 465). Por conseguinte, a URSS, após as reformas, não se rees-
truturou como o planejado, mas acentuou o processo de crise.
Com uma crise econômica cada vez maior, uma abertura para a “economia
de mercado” e a entrada no poder de políticos mais simpatizantes à democracia
como Boris Yeltsin na Rússia, aceleram o conflitos interétnicos e consequente-
mente o desenvolvimento do processo de desintegração da URSS. Sendo que
diversas repúblicas soviéticas declaram a sua independência. Percebendo esse
processo de desintegração, Gorbachev em agosto de 1991 tentou dar um golpe
de Estado, que foi um fracasso (SEGRILLO, 2004).
Nesse mesmo ano, uma república socialista após a outra foram se declaran-
do independentes, até que em dezembro de 1991 a União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, que disputou a hegemonia global durante meia década

188
UNICESUMAR

com os Estados Unidos da América, foi oficialmente extinta. Nesse ano, as


15 repúblicas soviéticas tornaram-se países independentes. São eles: Armênia,
Azerbaijão, Bielorrússia, Estônia, Geórgia, Cazaquistão, Quirguistão, Letônia,
Lituânia, Moldávia, Rússia, Tajiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.
Os Estados Unidos da América e o capitalismo desenvolveram a estratégia que
o fizeram saírem vencedores da Guerra Fria.
- Professor de História: Dante! Que viagem. Acredito que nesse mo-
mento já seja possível respondermos, de forma adequada, a quinta e
última pergunta de nossa jornada: Como a Segunda Guerra Mun-
dial e a Guerra Fria transformaram a ordem existente no planeta
Terra? Quais as consequências e reminiscências destes conflitos que
atuam em nossa sociedade até hoje? Caro Dante, durante a viagem
que fizemos pela Segunda Guerra Mundial, pudemos perceber
como o desenvolvimento de ideias totalitárias são extremamente
perigosas para a nossa sociedade. E que depois de se desenvolverem
e ganharem força elas só podem ser paradas a um custo muito alto
de vidas. Esse tipo de processo histórico nos ajuda a refletir sobre
o cuidado que devemos ter para com os políticas e ideologias que
estamos cercados cotidianamente. Você não acha?

- Dante: Concordo, professor. Esses tipos de ideologias marcaram o


século XX e podemos encontrar vestígios até os dias atuais. Mas em
relação à Guerra Fria, qual a relação com a nossa sociedade atual?

- Professor de História: Hoje o mundo não é mais bipolarizado,


existem diversos polos de poder. No entanto, muitos desses pólos se
desenvolveram justamente durante a segunda metade do século XX.
Por exemplo, China e Estados Unidos, exercem poder e influência
sobre o mundo de hoje? Lembre-se, Dante que a China, enquanto
superpotência atual, formou-se com as características atuais a partir
da Revolução Chinesa em 1949 e se desenvolveu dentro da Guerra
Fria. Eu te pergunto: é possível compreender o mundo de hoje sem
a China? E os Estados Unidos? E a Rússia?

- Dante: Compreendo, a sociedade que vivemos hoje possui cone-


xões profundas com as políticas realizadas ao longo da Guerra Fria.

189
UNIDADE 5

- Professor de História: Saiba que para alguns historiadores nesse


exato momento o mundo estaria vivendo uma Segunda Guerra Fria,
desta vez entre Estados Unidos e China, ambos disputam a hege-
monia global política e econômica.

Mas isso é assunto para uma outra viagem!


Caro (a) estudante, o domínio de conteúdos como Segunda Guerra Mundial
e Guerra Fria, são importantes para sua profissão enquanto docente, tendo em
vista que nos ajudam a compreender aspectos importantes da sociedade em que
vivemos hoje. Ajudar os nossos alunos a compreenderem esses processos históri-
cos é ajudá-los a compreender como as políticas mundiais são realizadas e como
isso impacta diretamente na forma como vivemos.

190
Após toda essa conceitualização sobre Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria,
chegou a hora de você colocar em prática os conhecimentos que adquiriu.
Vamos nessa?
Como atividade para esta última Unidade pedimos para você estudante a rea-
lização de um último Mapa Mental. Lembre-se que esse tipo de atividade lhe
ajudará a organizar o conhecimento obtido até agora, fazendo com que o seu
aprendizado sobre Segunda Guerra Mundial e Guerra Fria seja mais duradouro.
Por conseguinte, crie um mapa mental apresentando os principais processos
históricos que ocorreram durante a Guerra Fria. Você também pode colocar
quais foram as instituições, teorias e doutrinas utilizadas por Estados Unidos e
União Soviética. Você pode realizá-lo aqui mesmo no livro, ou ainda, na ferra-
menta GoConqr - www.goconqr.com.
UNIDADE 1

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199
UNIDADE 1

Agricultura -
Cercamento dos Campos

Grã-Bretanha -
Potência Comercial
e Marítima
Causas da $

Revolução Política orientada


para o lucro
Industrial

Transporte

Livre circulação
de conhecimento

UNIDADE 2

1. Espera-se que o aluno tenha a capacidade interpretativa de perceber que Karl Marx
está realizando uma crítica ao golpe 18 de brumário realizado por Luís Bonaparte
em 1851 que abriria as portas para a criação do segundo império da França. Desta
forma, a alternativa correta é: D) ao golpe 18 de brumário realizado por Luís Napoleão
Bonaparte, que enfraquecia a segunda república da França e abria as portas para a
criação do Segundo Império Francês.

2. C. A asserção I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa. A segunda


asserção é incorreta, pois a Comuna de Paris ocorreu após a queda do Segundo Impé-
rio da França, consequentemente não poderia ter motivado Napoleão III a melhorar
a economia para evitar uma convulsão social popular.

3. Primeiramente, a própria riqueza das tradições revolucionárias francesas. A população


francesa em 1871, já havia participado, ou ainda, herdado das ideias de movimentos
revolucionários como a própria Revolução Francesa de 1789-1799, em 1830 e também
em 1848. Desses movimentos, diferentes legados permaneceram na população, como
a corrente jacobina que canalizava o movimento popular, a corrente dos sans-culottes,
que via na soberania popular a sua realidade e, por fim, a corrente socialista inspirada
nas ideias de Graco Babeuf em sua Conjuração dos Iguais (WILLARD, 2001, p. 15).

200
A segunda causa, para o historiador, foi a grande expansão operária que a França
vivia nessa segunda metade do século XIX, afinal, é o período que a França está pas-
sando por sua própria Revolução Industrial. O final do segundo Império, liderado por
Napoleão III (1852-1870), foi marcado pelas maiores greves da história do país. Uma
terceira série de causas foi a própria falência e traição das elites que governaram o
país. A verdade é que, com a queda de Napoleão III e a proclamação da Terceira Re-
pública da França, o governo proclamado tinha mais medo da sua própria população
do que da própria Prússia que os havia derrotado recentemente.

UNIDADE 3

Busca por matérias primas Disputa entre as


potências imperialistas

PRIMEIRA
REVOLUÇÃO GUERRA
INDUSTRIAL IMPERIALISMO
MUNDIAL

$
Busca por mercado Protecionismo
consumidor

UNIDADE 4

1. Nesta atividade, a resposta é muito particular tendo em vista que é uma autoavaliação
dos alunos.

201
UNIDADE 5

202

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