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Autores
Adriano Dias de Oliveira
Fausto de Oliveira Gomes
Felipe Dias
Jesús Piqueras
Juliana Bueno
Marianne Achiam
Martha Marandino
Vinicius dos Santos
Organizadores
J33 “Janelas para a natureza”: explorando o potencial educativo dos dioramas. / Martha
98 p.
7
Você já ouviu falar de dioramas? Em
uma busca rápida em imagens na rede mesmo tempo, tentar criar sua própria
internacional de computadores, apa- história sobre o sentido que uma dada
recem modelos, maquetes, miniaturas, cena pode revelar.
brinquedos; ou seja, uma série de obje- -
tos que remetem a cenários representa- mente, “ver através” (em grego “dia”
9
Nos primeiros contatos que tivemos O depoimento revela os impactos cog-
com os dioramas, nós, membros do Gru- nitivo e afetivo que esses objetos podem
po de Estudo e Pesquisa em Educação proporcionar. Assim, a partir dos estu-
Não Formal e Divulgação da Ciência/ dos desenvolvidos, das leituras e pesqui-
- sas por nós realizadas, os dioramas pas-
za, a capacidade de capturar a atenção saram de objeto de apreciação e deleite,
e a possibilidade de divulgar informa- para um tema de investigação e, por que
não dizer, uma grande paixão.
apresentam. Um participante de uma de Ao reconhecer a função que os diora-
nossas pesquisas2 sobre a percepção de mas tiveram na ampliação do processo
biodiversidade em dioramas, nos conta de educação e comunicação dos museus
sobre a riqueza de dados, sobre as im- com seus públicos, vislumbramos o po-
pressões e sensações e sobre as indaga- tencial de estudá-los na perspectiva da
ções que esses objetos podem despertar educação em museus. Ao longo de mais
em quem se dispõe a olhar: de dez anos, temos nos dedicado a enten-
der não somente sua relevância históri-
Bom, é ecossistema... paz, ah... ali- ca, mas o processo de elaboração desses
mentação... mata fechada, diver- objetos. Em nossas pesquisas, feitas em
museus nacionais e internacionais, bus-
árvores de tronco grande... uma
camos caracterizar as intenções que es-
meio, os animais estão interagin- tão na sua produção, entender como os
do, menos a onça, a onça parece -
que tá brava com alguém que está nados e mobilizados nos processos de
chegando, será que são os huma- cenarização, quais conhecimentos efeti-
nos?... vamente são divulgados por meio desses
objetos, o que o público compreende e
2 MARANDINO, M. LAURINI, C. A Compreensão da como é sua interação ao observar esses
biodiversidade por meio de dioramas de museus
de zoologia: um estudo com público adulto no cenários.
Brasil e na Dinamarca Ens. Pesqui. Educ. Ciênc.
(Belo Horizonte), v. 20, 2018.
10
-
alcançando certo destaque na pesquisa
o tema era escassa. Na medida em que na área de museologia e educação em
desenvolvemos pesquisas e atividades museus. Contudo, a produção brasileira
educativas com este foco, tivemos con-
tato com uma entusiasmada comunida- Além dos estudos, o aprofundamento
de de educadores e pesquisadores, com sobre os dioramas nos levou a desen-
destaque aos europeus, que comparti- volver várias ações educativas em torno
lham interesses semelhantes aos nossos deste tema. Uma iniciativa importante
em relação a esses objetos e seu poten- foi a produção de um modelo de diorama
cial educativo. Assim, aos poucos, fomos
conhecendo uma série de trabalhos que Caatinga”4, utilizado em várias ativida-
analisam e discutem o papel educativo
dos dioramas, revelando seu potencial Este diorama retrata a história de uma
e os limites que esses objetos possuem espécie de sapo que vive na Caatinga.
para promover processos de ensino e Como desdobramento, desenvolvemos
aprendizagem. Além das pesquisas por -
nós desenvolvidas, no Brasil, foram pu- do a história desse curioso sapo. Esse
blicados, mais recentemente e em âm- material foi publicado no livro “Educa-
bito internacional, dois livros3 reunindo ção em museus e Materiais Educativos”,
textos que abordam aspectos históricos, produzido pelo GEENF e que está dispo-
socioculturais e educativos dos diora- 5
.
mas – dos quais tivemos o enorme pra- Outra ação por nós desenvolvida cor-
zer de participar. Esses exemplos nos
3 São eles: (1)TUNNICLIFFE, S. D.; SCHEERSOI, A. 4 Este modelo de diorama foi produzido com
(Eds). Natural History Dioramas, Springer, 2015,
289p. (2) SCHEERSOI, A. TUNNICLIFFE, S. D. Natural
History Dioramas:
5 Disponível em: <
>
11
cursos de produção de modelos diora- das cenas que contextualizam esses
mas como recurso didático, utilizando objetos. Além disso, a ampliação dos
materiais de baixo custo. Estas ativida- temas tratados nos dioramas, histori-
des, criadas, planejadas e aplicadas pelo camente apoiados na perspectiva natu-
GEENF, estão ganhando o mundo: além
do Brasil, até o momento, já foram rea- ciência, tecnologia, sociedade e am-
lizadas na Dinamarca, na Colômbia e no -
Canadá, com professores, alunos, grupos mas iniciativas neste sentido, que estão
familiares e visitantes de museus. Uma no último bloco deste livro, revelando
o potencial educativo desses objetos,
foi publicada em 2010, em um dos livros contribuindo, dessa forma, no processo
da coleção do GEENF: “Olhares sobre os -
diferentes contextos da biodiversidade: volvido.
pesquisa, divulgação e educação”6. De lá Estamos cientes de que os dioramas
para cá, aprimoramos e ampliamos as não são objetos consensuais dentro dos
atividades realizadas a partir dos diora- museus. Há quem os considere obsole-
mas, o que nos motivou a realizar essa tos, ainda mais com o atual e generali-
nova publicação totalmente voltada ao zado uso das novas tecnologias nesses
tema. espaços, em contraponto à pouca intera-
O trabalho com dioramas pode pro- -
mover, além da aprendizagem de con-
sobre as concepções de ciência que eles
aspectos da natureza da ciência a partir retratam.
da história dos museus e da produção Emblemática, neste sentido, é a histó-
ria da construção do diorama do gorila
6 MARANDINO, M.; MONACO, L. M.; OLIVEIRA,
A. D. Olhares sobre os diferentes contextos da
da montanha, feito por um dos mais im-
biodiversidade portantes produtores de dioramas de to-
12
comum naquela época: foi à África e ma- -
tou um gorila para colocá-lo no diorama cente de um lugar na natureza em escala
do American Museum of Natural History real de tempo e de espaço (Quinn, 2006).
(Quinn, 2006). Existem, contudo, docu- Existem, assim, argumentos que apon-
mentos que referem uma certa crise de tam para a importância histórica desses
consciência de Akeley sobre esse episó- objetos e, ao mesmo tempo, experiên-
dio. Atualmente, os animais taxidermi- cias que revelam que estes objetos não
zados que compõem os dioramas geral-
mente são oriundos de doação ou morte museus, os dioramas estão associados
espontânea em ambientes naturais e zo- a aparatos eletrônicos, tornando-os in-
ológico. terativos. Além disso, as exposições de
- imersão, que oferecem a possibilida-
bre como os dioramas foram sendo de de uma experiência multissensorial
- dos visitantes, podem ser consideradas
tes têm acesso a essas informações e, como uma “nova geração” de dioramas
ainda, como se posicionam ao obser- (Marandino, Achiam, Oliveira, 2015),
varem os dioramas nos museus. Assim, onde os elementos interativos, senso-
para alguns pesquisadores, os museus riais, afetivos e estéticos foram adotados
vivem hoje uma grande dúvida sobre a em articulação com as representações
manutenção ou não desses objetos em
- história desses objetos.
ram também abordadas em alguns dos Para construção deste livro, reunimos
uma equipe de especialistas do GEENF,
que há alguns anos têm se dedicado a es-
ocorrendo, hoje, um movimento de re- tudar e a desenvolver atividades relacio-
torno dos dioramas, provocado pela per- nadas aos dioramas.
cepção dos elaboradores de exposições
do poder desses objetos na promoção Adriano Dias Oliveira, buscando oferecer
de uma experiência única que nenhuma elementos históricos e conceituais sobre
13
- Às organizadoras do livro – Martha
no destaca a relevância desses objetos -
para a educação nos museus. Para apro-
fundar ainda mais a ideia dos dioramas a articulação entre eles.
O livro “Janela para a natureza”: ex-
o texto de Vinicius dos Santos apresenta plorando o potencial educativo dos dio-
os dioramas em museus escolares e dis- ramas é resultado da vontade de contri-
cute seu potencial no processo de ensino buir para que esses objetos se tornem
e aprendizagem de conceitos biológicos. cada vez mais populares dentro das
ações e das pesquisas na área de edu-
compartilha alguns resultados de pes- cação em museus e ensino de ciências
quisas sobre o papel educativo dos dio-
ramas, a partir de uma breve revisão de mais os dioramas forem explorados na
perspectiva educativa, seja nos museus,
apresenta-se o texto de dois importan- por meio das visitas ou de atividades
tes autores da área – Jesús Piqueras, da com o público, seja por meio de produ-
Universidade de Estocolmo, e Marianne ção de modelos educativos em contextos
Achiam, da Universidade de Copenha- -
gen – os quais realizaram uma análise nhecer seu potencial e suas limitações.
Consideramos que esta publicação é
dos valores divulgados pelos dioramas, a um verdadeiro convite ao deleite e à ob-
partir de uma pesquisa junto ao público. servação dos dioramas, quando é pos-
14
dioramas um dos elementos-chave nes-
se caminho. É um convite para produzir
atividades educativas com base nesses
-
15
Capítulo 1: Aspectos históricos, definições e limites
dos dioramas
Adriano Dias de Oliveira
17
Construir um diorama é uma tarefa multidisciplinar
Rainer Hutterer1
19
- Embora de custo elevado, esse empre-
durou até 1839, quando um incêndio endimento obteve muito sucesso entre o
destruiu o prédio destinado a esse tipo -
de exibição (Almeida, 2012; Kamcke, lo XIX, estando presente nas principais
Hutterer, 2015). Contudo, é importante cidades europeias da época. O sucesso
se deu pela capacidade do panorama
de proporcionar ao público uma experi-
de Daguerre e Bouton, mas pelo (re)sur- ência pessoal, sobretudo, naqueles que
gimento de outros aparatos que naque- -
la época foram cruciais para originar os
dioramas que conhecemos atualmente. com baixa iluminação e ao redor deles
Em 1787, o pintor Robert Barker várias telas eram movimentadas vaga-
(1739-1806), buscando uma manei- rosamente. Assim, a sensação não se
ra de inserir toda grandeza e beleza de restringia à contemplação de uma pai-
um ambiente, por exemplo, um vale ou sagem, mas também de vivenciar uma
montanhas, em uma única tela, criou na experiência sobre locais desconheci-
- dos, mas de uma forma agradável, sem
cido como “panorama”. Palavra também os contratempos que uma longa viagem
derivada do grego, que pode ser tradu- exigiria. Dessa forma, os panoramas pro-
zida como “tudo ver”, os panoramas re- moviam a “substituição” da realidade
tratavam cenas ou objetos de grandes (Kosminsky, 2008).
proporções em um espaço compacto uti- O sucesso dos panoramas foi tamanho
lizando diferentes planos de fundo, que na época que, em pouco tempo, deriva-
poderiam ser inclinados ou não, pinta- ções desses atrativos foram desenvol-
dos em diferentes escalas com o intuito
de proporcionar uma falsa perspectiva
do ambiente real que era representado -
(Kamcke, Hutterer, 2015). do representado (Kosminsky, 2008).
20
Podemos citar, como exemplo, o “ne- promover uma percepção visual, os dio-
orama” – pintura circular no interior de ramas exploravam mais o jogo de ilumi-
um prédio; “georama” – globo gigante nação, juntamente com o movimento de
oco, com desenhos dos continentes, oce- telas para criar ilusão de óptica. O curio-
anos, rios e montanhas no seu interior;
“pleorama” – um tipo de panorama em -
mente no mundo, muito provavelmen-
piscina (Kamcke, Hutterer, 2015); “ci- te por ter alcançado outros territórios,
- como os EUA e até o Brasil. O fato é que
talhas famosas desenhadas nas paredes esses tipos de representações estavam
(Milwaukee Public Museum Education condenados em função do surgimento
Department, 2004); “mareorama” – am- das revistas, dos grandes espetáculos
bientes circulares com uma plataforma teatrais e, sobretudo, do cinema (Kos-
similar a um deque de um transatlântico, minsky, 2008).
com telas que simulavam o movimento Mas, e nos museus de história natural,
desse tipo de navio (Kosminsky, 2008). o que estava acontecendo durante esse
-
culo XIX, os panoramas, e suas deriva- que, antes de haver montagens como os
ções, encontraram nos dioramas um dioramas nos museus, a taxidermia3 já
forte concorrente de atração pública. Os era uma prática recorrente nessas insti-
tuições para expor os animais. De acor-
houve uma queda nos números de visi- do com eles, a partir de meados do sé-
culo XVIII e ao longo do século XIX, essa
que tal situação decorreu do surgimento técnica foi sendo aprimorada de tal for-
dos dioramas de Daguerre e Bouton. O ma que, no decorrer do tempo, as repre-
que podemos dizer é que de fato havia sentações dos animais nas exposições
21
-
– e certamente esse foi um dos fatores gicos”, que são montagens muito simi-
que favoreceu a introdução dos diora- lares aos dioramas de habitat, porém
mas nas exposições. sem uma parede com fundo curvo, tipo
No entanto, levou-se certo tempo para domo, contendo pinturas e um vidro de
que os dioramas ou “dioramas de habi- proteção.
tat” – expressão usada por muitos auto- O que se deve destacar em relação a
res para diferenciar dos dioramas tea- essas montagens, é que nelas já se bus-
trais4 – fossem concebidos nos museus cava representar mais aspectos biológi-
de história natural. Kamcke e Hutterer cos e ecológicos do que apenas a criati-
(2015) determinaram algumas etapas vidade do taxidermista. De acordo com
que nos ajudam a entender a evolução Anderson (2000), o primeiro dioramas
dessas montagens. A primeira delas tem de habitat, ou apenas diorama, foi cons-
origem nos gabinetes de curiosidades
- 1926), no Milwakee Public Museum. A
ciais”, em que diversos organismos eram partir de então, diversos museus de his-
arranjados em um cenário sem um con- tória natural passaram a investir nessas
texto biológico. Outro tipo de montagem montagens.
- Entretanto, o que de fato vem a ser um
mais e plantas eram organizados com diorama e porque foram tão utilizados
intuito de representar um bioma. Como nos museus?
- Segundo Van Praët (1989), dois fato-
va do que de ilusão, esses cenários po- res foram preponderantes para a imple-
deriam ter ou não uma ambientação de mentação dos dioramas nos museus. O
relacionados ao teatro.
22
um diorama de habitat, que, segundo Ka-
mcke e Hutterer (2015), seria um domo
23
porque os museus de história natural No entanto, como qualquer aparato
- -
sidade de transmitir um novo conceito
Segundo Van Praët (1989), pelo fato
se fazer exposições. de serem desenvolvidos exclusivamente
Mais do que representar ambientes para a exposição, a informação contida
- nos dioramas pode estar mais próxima
bolos dos museus de história natural, de quem os elaborou do que a informa-
como, por exemplo, o “Caça aos bisões
autor ainda destaca que fenômenos im-
Museum (Asensio, Pol, 1996), e o “Go- portantes da biologia, como especiação
rilas”, no American Natural History Mu- e adaptação, não são contemplados nes-
seum (Almeida, 2012). Não foi por acaso sas montagens.
que, ao longo do tempo, essas instala- Em um trabalho do Milwaukee Public
ções se tornaram também referências Museum Education Department (2004),
no campo da educação em museus, mais foi abordado o quanto os fatores estéti-
precisamente em temas relacionados à -
ecologia, à conservação da natureza e à cos e que, por conta disso, alguns museus
estariam optando por outras formas
potencial educativo desses dioramas são de representar os ambientes naturais.
das mais diversas, desde estimular ques- Há trabalhos, como de Almeida (2012),
tionamentos sobre a natureza por meio
de observações (Ash, 2004) – sendo que ao quanto os dioramas de fato retratam
Asensio e Pol (1996) consideram essa uma realidade no tempo e no espaço de
um ambiente natural, uma vez que utili-
de interatividade intelectual –, até em fa- zam diversos recursos tridimensionais e
tores como a possibilidade de conectar ópticos (outras pesquisas e análises so-
as pessoas com ambientes reais e muitas -
tulos deste livro).
(Breslof, 2005).
24
Para além de todas as questões que porados nos aparatos culturais da época,
envolvem o papel dos dioramas nos mu- tanto para proporcionar mais formas de
seus de ciência, devemos sempre lem- entreter o público quanto para também
brar que a origem deles não foi um fato
isolado. A sucessão de formas de repre- Os dioramas dos museus de história
sentações dos ambientes que resulta- natural são frutos desse processo que se
ram nos dioramas é fruto dos avanços deu por meio da fusão do uso de tecnolo-
- gias advindas dos dioramas teatrais, dos
derno no qual eles surgiram. Na segun- panoramas e da taxidermia, assim como
da metade do século XIX e na primeira
metade do século XX, várias instituições campo da ecologia. Além disso, os diora-
buscavam se alinhar ao pensamento mo- mas expressaram um momento impor-
dernista e, nos museus, isso era mais tante quando os museus de história na-
forte ainda, uma vez que são instituições tural assumiram de forma mais intensa o
conhecidas como guardiãs da ciência. É papel educativo das exposições.
notório como tais avanços foram incor-
BIBLIOGRAFIA:
ANDERSON, M. Chapter 7: Francis Lee Jaques and the American Museum of Natu-
ral History Bird Halls. In: _______. : the Diorama Art of James Per-
ASENSIO, M.; POL, E. Siguen siendo los dioramas uma alternativa efectiva de monta-
je? , n. 8, p. 11-20, 1996.
25
ASH, D. How families use questions at dioramas: ideas for exhibit design. Curator. v.
47, n. 1, p. 84-100, 2004.
BRESLOF, L.
Natural
- traditional exhibits for current educational themes, Springer,
2019.
His-
-
26
Capítulo 2: O papel educativo dos dioramas nos
museus de ciências
27
DIORAMAS COMO OBJETOS DIDÁTICOS
Os dioramas são objetos didáticos
potencialmente poderosos para a edu-
29
Neste diorama, encontramos um con- direita de quem olha de frente para
junto de conceitos que, apresentados na o diorama) e de cima para baixo
forma de objetos, como animais taxider- (caso dois objetos estejam alinha-
mizados e modelos, revelam o potencial dos verticalmente, iremos des-
crever inicialmente o que estiver
de ensino que esses objetos possuem.
posicionado mais ao alto), sempre
Além do diorama, estamos considerando iniciando do plano posterior (pin-
o seu conjunto expositivo: a vitrina com tura ao fundo e/ou ao lado) para
a legenda localizada abaixo ao diorama, o anterior (...). Os dioramas serão
em um suporte de madeira (Figura 1B), fragmentados em partes menores
e o painel com texto, mapa, esquema e chamadas de quadrantes, onde
faremos pequenas leituras sem-
lado direito do diorama. pre iniciando no sentido do plano
posterior com a pintura para o an-
-
terior nos objetos. A área de cada
cativo do diorama da Floresta Amazôni- quadrante estará sujeita à disposi-
ca, optou-se por uma técnica de leitura ção dos objetos presentes na mon-
em quadrantes desse objeto, desenvol- tagem (Oliveira, 2010, p. 56).
vida por Oliveira (2010), que consta da
elaboração de um roteiro de descrição O resultado pretendido é que o visitan-
que possibilita extrair os elementos de te da exposição perceba vários aspectos
biodiversidade contidos no objeto expo- da biologia, da ecologia e da biogeogra-
sitivo, neste caso, o diorama. O roteiro é
a seguir, apontamos alguns dos concei-
tos presentes no diorama e seu conjunto
cuja descrição deve: expositivo (painel e vitrina).
30
- Potencial de ensino do diorama “Floresta Amazônica”, com os conceitos presentes no diorama
“Floresta Amazônica”, e dos suportes que o acompanham: texto de apoio, painéis e etiquetas.
Suportes - Como o visitante pode
cado visitante realize
Painel - Visualizar a região geográ-
(texto e mapa) América do Sul, a distribui
Amazônica Floresta Amazônica na região
Neotropical. Amazônica.
31
Suportes - Como o visitante pode
cado visitante realize
Vitrina (legen- As relações ecoló- - Reconhecer a Predação.
da); gicas da Floresta - Reconhecer o Herbivorismo. no desenho da legenda,
Diorama Amazônica - Reconhecer o comporta- comparar com os organis-
mento dos animais da Flores- mos que estão expostos no
ta Amazônica. diorama e levantar suposi-
ção sobre causas e efeitos.
Vitrina (legen- A diversidade de - Discriminar a diversidade -
da), Diorama animais na Flores- car, na legenda, os nomes
ta Amazônica
- Discriminar a diversidade organismos.
- Observar, reconhecer,
- Discriminar uma iguana.
- Discriminar uma onça. os organismos que estão
- Discriminar a diversidade taxidermizados e expostos
taxonômica de insetos. no diorama e na vitrina.
- Discriminar a diversidade
- Discriminar a diversidade
taxonômica de crustáceos.
Fonte: Juliana Bueno
32
Quando observamos o cenário e o entre os organismos. Por meio dos dio-
comparamos com o que está descrito na ramas, os visitantes são expostos a no-
- vas experiências de aprendizagem, tais
sentados dois espécimes diferentes de como as descritas por Hooper-Greenhill
sauim de gêneros diferentes. Neste caso, (1994), em seu texto “O Museu e seus
podemos inferir que a ação que envolve visitantes”. Nesse texto, a autora sugere
o visitante é discriminar a diversida- que o modo como a aprendizagem ocor-
Callithrix re quando mediada por imagens, tais
Chrysoleuca e Sauinus Fuscicollis - como as que um diorama propicia ao vi-
lia: Cebidae). Para isso, o visitante deve: sitante, é considerado a “maneira mais
concreta de aprendizagem” (Hooper-
- -Greenhill, 1994, p. 21).
mos; observar, reconhecer, diferenciar e Paddon (2009) acrescenta que esses
- objetos podem fornecer oportunidades
dermizados e expostos no diorama e na valiosas para a educação em museus,
vitrina. pois, além de suas qualidades visuais e
Como parte do conjunto expositivo, da aprendizagem, os dioramas também
temos ainda os organismos conserva- podem oferecer oportunidades para co-
dos que estão apresentados no diorama. nhecer os aspectos históricos dos mu-
Para esses, a tarefa requer, do visitante, seus e de suas coleções e a própria his-
tória da taxidermia. Por exemplo, ao se
- analisar a exposição de um determinado
alizar essa tarefa, o visitante deve: ler o museu, por meio de documentos e entre-
texto; observar o diorama; localizar e di-
ferenciar, no esquema e na foto, os tipos
de ambientes e modelos de vegetação. dos organismos que neles existem, suas
Os dioramas são, portanto, particu-
larmente valiosos para a compreensão os aspectos históricos e a forma com que
dos diferentes habitats e das interações
longo dos anos (Oliveira, 2010).
33
DIORAMAS E PÚBLICO
Como vimos, os dioramas possuem 2015; Oliveira 2010), ou seja, resultam
papel poderoso em auxiliar os visitantes -
de museus a compreender os conceitos tação do conhecimento acadêmico, com
expressos neles por meio dos objetos. -
rentes públicos, promovendo o ensino e
um objeto capaz de “congelar” uma dada a aprendizagem.
cena no tempo e no espaço –, os diora- No processo de transposição didática
mas proporcionam, aos visitantes, a
oportunidade de parar e olhar, observar, e reduções. Agranionih (2001) apon-
- ta que, neste caso, existe também uma
tar suposições e procurar respostas. A
intenção de educar por meio do diorama são realizadas para tornar o conheci-
34
explicitação mais clara de alguns concei- por exemplo, por que algumas relações
tos, quanto às ausências de outros que ecológicas e/ou alguns organismos fo-
poderiam estar presentes. Essas limita-
ções estão relacionadas, na verdade, a questionamentos, e a discussão de suas
qualquer objeto e situação de ensino e, razões com educadores e com a equipe
do museu, podem ajudar a compreen-
(1991) propõe exercer a chamada “vigi- der as limitações das representações e,
lância epistemológica” ou “vigilância di- assim, conhecer melhor os processos
dática”. A literatura referente ao conceito
de vigilância epistemológica tem indica- na produção das exposições dos museus
do que, se por um lado, o conhecimento (Marandino, Achiam, Oliveira, 2015).
ensinado ou divulgado se mantém na re- Outra limitação a considerar, sob o
lação de distância e aproximação com o
saber de referência, por outro lado, ele que Insley (2008) aponta em seus estu-
também deve se adequar a uma dada dos sobre exposições de longa duração.
realidade e contexto e a diversas práti- Segundo a pesquisadora, os dioramas
cas sociais (como, por exemplo, elaborar que permanecem no local por um longo
exposições de museus). Assim, exercer a tempo podem sofrer uma desatualiza-
- ção dos conteúdos conceituais que estão
tanciar-se do objeto de ensino e interro- representando, já que foram concebi-
gar-se constantemente sobre o que está
sendo ensinado, suas potencialidades e a mensagem se torna datada, sendo útil
limitações, contribuindo para que nada substituir os objetos por outros mais
seja deturpado, mas sim transformado e contemporâneos. Esse fato acaba, por-
- tanto, sendo um problema para o museu,
za et al., 2012, p.5). pois gera despesa com a remoção ou a
Assim, ao visitar e observar um diora- reformulação de tais paisagens – gran-
ma, seja sozinho, com familiares ou num des e frágeis.
grupo escolar, é relevante se perguntar,
35
- expostos, e com as impressões estéticas
mas de exposições de longa duração fo- e afetivas do ambiente retratado (Cam-
ram desmanchados, e até mesmo demo- -
lidos, na segunda metade do século XX. cliffe, 2009;). Os resultados das pesqui-
sas desses autores são consistentes com
estamos vivendo o renascimento desses a ideia construtivista de que as pessoas,
objetos e que novos dioramas também ao explorar objetos e conceitos em es-
colas ou em museus, estão envolvidas
- em um processo de aprendizagem que
corresponde às suas experiências e co-
Nesse sentido, em nossa pesquisa nhecimentos prévios (Marandino et al.,
(Bueno, 2015), revela-se que uma das 2012).
maneiras de se potencializar o papel -
-
car as tarefas e ações que o objeto e/ou o aprendizagem únicos e essenciais para
conjunto expositivo possibilita, de forma a educação biológica, pois conseguem
a favorecer a representação de aspectos atingir uma grande audiência e ampliar
que, em alguns momentos, extrapolam o o acesso ao conhecimento biológico.
campo restrito dos conceitos biológicos
e revelam conteúdos conceituais de ou-
tras áreas de conhecimento.
Quando um visitante de museu ob-
serva um diorama que apresenta um
ecossistema, ele constrói uma narrativa
particular que relaciona o elemento que
está observando com seu conhecimento
prévio do ambiente, dos organismos, das
memórias ou das experiências, direta ou
indiretamente relacionadas aos objetos
36
BIBLIOGRAFIA
, Sprin-
ger, v. 10, n. 1, 2015, p. 251-266.
37
______.; CAMPOS, N. F.; LEPORO, N.; CAFFAGNI, C. W.; MAIA, R.; OLIVEIRA, A. A percep-
ção de biodiversidade em visitantes de museus: um estudo no Brasil e na Dinamarca
antes da visita. , n. 188, p. 97-112, 2012
-
... Maresias, SP, p. 1-9. 2012.
-
CLIFFE, S. D.; SCHEERSOI, A. - History, Construction and
Educational Role. Dordrecht: Springer Netherlands, 2015, p. 133-144.
38
Capítulo 3: Dioramas em Museus Escolares
Vinicius Rodrigues dos Santos
39
DIORAMAS, MUSEUS E ESCOLAS de de representar a visão ecocêntrica;
Como vimos, os dioramas surgem na ou seja, destacando as interações entre
primeira metade do século XIX como plantas, animais e clima de um determi-
uma forma de inserir uma perspecti- nado ambiente (Fortin-Debart, 2003).
Não encontramos dioramas somente
existentes na época. Esse procedimento em museus. Nas escolas, esses objetos
era feito por meio de técnicas aplicadas podem ser localizados em espaços co-
sobre imagens opacas e translúcidas em nhecidos como museus escolares, repre-
telas transparentes e em conjunto com sentando cenários de ambientes natu-
a utilização de jogos de luzes (Kamcke,
Hutterer, 2015). Nos museus de história
natural, ao longo dos séculos XIX e XX, geral, os museus escolares abrigam cole-
a presença dos dioramas está relacio- ções de objetos que guardam a memória
nada à relevante mudança de perspecti- da escola e também objetos que estão
va em relação aos estudos das espécies diretamente relacionados às atividades
nas Ciências Naturais, que deixaram de educativas.
enfatizar o organismo em si e isolado e Diante da diversidade de denomina-
passaram a olhar para sua relação com o -
ambiente, prática que veio consolidar o ção, diversidade essa que está sujeita
campo de investigação da ecologia como aos lugares e contextos nos quais esses
espaços estão inseridos, o termo “museu
Essa mudança de perspectiva acabou in- -
-se aos espaços musealizados ou os mu-
eram organizadas, pois, ao invés de se
priorizar o organismo em si, buscam-se presentes em uma determinada escola
novas formas de expor, com foco agora ou instituição de ensino, que tenham
no ambiente natural e nas relações en-
tre os organismos. Dessa forma, os dio- Reis, 2012).
ramas aparecem como uma possibilida-
41
A escolha de uma perspectiva para o sem à disposição dos professores e aces-
termo “museu escolar” tem como objeti-
vo delimitar o ambiente no qual os dio- e painéis, essas coleções eram utilizadas
ramas irão aparecer, ou seja, dentro das como recursos didáticos pelos professo-
instituições escolares. Historicamente, res no ensino de ciências naturais (Vidal,
os museus escolares começaram a cons- 2017).
truir acervos de objetos para serem uti- No Brasil, os museus escolares surgi-
lizados como base de um “novo” método
de ensino, que privilegiava a experiência o ensino intuitivo, e reuniam objetos
através dos sentidos, e isso criou uma com a função de auxiliar o professor no
demanda por espaços para abrigar ob- processo de ensino das diferentes dis-
jetos expositivos – dentre os quais os ciplinas escolares. Os objetos estavam
presentes em coleções mineralógicas,
como “lição das coisas” ou “método in- zoológicas e botânicas, coleções de ins-
- trumentos ou objetos fabricados, dese-
nhos e modelos para o ensino concreto
(Vidal, 1999). O papel dos objetos neste
dos sentidos, contrapondo-se à prática contexto estava marcado pelos debates
de ensino utilizada até então, que valo- sobre a educação e a renovação pedagó-
rizava a memorização e não estimulava gica como meio de romper com as prá-
o educando a entrar em contato com o ticas educacionais realizadas até então
objeto de conhecimento a ser ensinado (Bocchi, 2013). Diante desse cenário, o
(Margotto,1999). método de ensino intuitivo surge como
A difusão do método intuitivo pelo uma possibilidade de renovação.
Valdemarin e Pinto (2010) descrevem
universais, as quais também promove- como esse método foi sintetizado e pas-
ram a disseminação dos museus escola- sou a ter uma sintonia com as ambições
res. A concepção desses espaços era vital da sociedade à época:
para que as coleções dos objetos estives-
42
uso dos sentidos no ensino intuitivo era
epistemológico subjacente ao mé-
todo de ensino intuitivo, foi, poste- -
- lectual (Margotto, 1999). Desse modo,
cada num conjunto de regras que
os museus escolares tiveram o papel de
apresenta uma concepção do pro-
cesso de aprendizagem baseado agregar um conjunto de objetos que ser-
nas percepções dos sentidos que, viriam a professores e alunos como meio
exercitadas e dirigidas pelas ativi- de promover a aprendizagem intuitiva
dades escolares, produziriam no- (Silva, 2015). Para Bocchi (2013), o mu-
vas formas de atuação e compre- seu escolar seria o local onde os objetos
ensão. Além disso, essa matriz foi eram guardados, consultados, observa-
utilizada também para vincular o dos e comparados. Essa pesquisadora,
método de ensino à modernização,
que estudou as transformações ocorri-
- das no Colégio Marista Arquidiocesano
de São Paulo, ressalta como a aquisição
2010, p.166).
escolares foram caracterizando o museu
O método intuitivo pretendia substi- escolar como espaço de ensino e apren-
tuir o caráter abstrato e pouco utilitá- dizagem.
Nesse cenário, os dioramas também
seus pressupostos a ideia de que o “ato passam a fazer parte dos acervos esco-
de conhecer se inicia nas operações dos lares, como podemos constatar no caso
sentidos sobre o mundo exterior, a par-
tir das quais são produzidas sensações -
e percepções sobre fatos e objetos que do em 1867, na cidade de Itu, e mudou
constituem a matéria-prima das ideias” sua sede para a cidade de São Paulo em
(Valdemarin, 2000, p.76). 1917. Nele, encontra-se o Museu de His-
Nesse contexto, os objetos ganharam tória Natural Fernão Cardim do Colégio
espaços nas escolas, na medida que o (MHNFC - CS) com um diorama
43
objetos estavam presentes no colégio já
nas últimas décadas do século XIX (Gou-
lart, 2016).
No livro “Experimentar para apren-
Fonte: Site do Museu Fernão Cardim1 a instituição foi modernizando sua prá-
tica educacional, ao adotar o método de
educação através dos sentidos ou “lição
que reúne 95 animais taxidermizados de das coisas”. A adoção desse método de
diversas1espécies. Esses animais estão ensino era acompanhada da aquisição
de objetos que passam a fazer parte da
ambiente natural. O espaço também con- nova rotina de alunos e professores, o
ta com reprodução do som dos animais que criou uma demanda por espaços
e iluminação produzida para evidenciar adequados para abrigar esses materiais
-
concepção do MHNFC/CS, assim como o las e atividades práticas.
diorama apresentado na Figura 1, teve O exemplo apresentado do diorama
como propósito abrigar a coleção de do Colégio São Luiz revela algumas das
animais taxidermizados que, durante o razões para que esses objetos viessem
século XX, ocupou diferentes espaços do a compor os museus escolares. Outras
escolas também possuem museus com
visitas de alunos e professores. Contudo, dioramas.
a aquisição desses animais taxidermiza- A seguir, apresentaremos parte de um
estudo feito em um dos dioramas do Co-
légio Dante Alighieri, em São Paulo.
1 Disponível em: <
>
44
ANALISANDO DIORAMAS ESCOLARES: tural. Para que o local se concretizasse
O CASO DO MUSEU DE HISTÓRIA como uma instituição museológica, fo-
NATURAL DO COLÉGIO DANTE ram estabelecidos parâmetros que aten-
ALIGHIERI (MHN - CDA) dessem ao Estatuto dos Museus, confor-
Inaugurado em 1911, o Colégio Dante me Lei n° 11.904, de janeiro de 2009.
Alighieri nasceu da necessidade de pre- Os dioramas do Colégio Dante Alighie-
ri estão inseridos na exposição “Biomas
italiana estabelecida em São Paulo, com do Brasil”, composta por três dioramas,
o ideal de unir as duas culturas – a ita- um painel com textos e imagens e um te-
liana e a brasileira. O MHN/CDA possui levisor que projeta imagens sob deman-
mais de 1.000 peças em exposição e no da do uso educacional do museu. A expo-
acervo, composto por animais taxider- sição está disposta em uma sala onde os
mizados, fósseis, réplicas de crânios de dioramas foram montados lado a lado e,
primatas, dioramas, entre outros objetos
(Colégio Dante Alighieri, 2018). os dioramas do Cerrado, da Amazônia e
Ao longo de sua existência, o colégio da Mata Atlântica (Figura 2).
adquiriu, por meio de doações, exempla-
res de fósseis, esqueletos, animais taxi-
dermizados e material biológico conser- - Imagens dos dioramas do bioma Cerrado,
Amazônia e Mata Atlântica.(Fonte: Próprio autor/MHN -
vado. Segundo informações que constam CDA)
Fonte: Vinicius Rodrigues dos Santos
no site da instituição, os professores de
ciências e biologia utilizavam esses ob-
jetos durante as aulas como ferramenta
complementar no processo de ensino e
aprendizagem. Em 2011, foi providen-
ciado um local para armazenar esses
objetos, devido à grande quantidade de
doações recebidas ao longo do tempo,
nascendo assim o Museu de História Na-
45
No âmbito da pesquisa realizada por
Santos (2018) e Santos e Marandino
-
car o potencial educativo do diorama do
Cerrado (Figura 3) e levantar aspectos
sobre a origem dos dioramas do MHA/
CDA, foi realizada uma entrevista com a
supervisora do MHA/CDA.
Segundo a supervisora do MHA/CDA,
parte do acervo que hoje compõe o mu- - Diorama do Cerrado do MHN - CDA (Fonte:
seu era armazenada em laboratórios Próprio autor/MHN - CDA)
Fonte: Vinicius Rodrigues dos Santos
para uso dos professores. Em suas pala-
-
tórios, principalmente nos de biologia. -
Era uma coleção que não era exposta; tatar que este diorama tem um enorme
era uma coleção que era utilizada para potencial para o ensino de conceitos
as aulas de biologia...”.
Nesse contexto, foi providenciado um Antropológica do Didático proposta por
espaço para abrigar e expor o acervo. Os Yves Chevallard e utilizando a praxeolo-
primeiros dioramas do museu, os dos gia como unidade de análise, investiga-
biomas do Cerrado e da Mata Atlântica, mos o potencial educativo do diorama
foram feitos por Emerson Boaventura, do Cerrado do MHN/CDA. Na análise em
-
balhou muitos anos em zoológicos e no ideias e conceitos que potencialmente
Museu de Zoologia da Universidade de podem ser trabalhados por meio do ce-
São Paulo (MZUSP). Junto com outros nário (incluindo objetos e textos), tais
46
versas áreas de conhecimento, os mu-
- seus escolares acumulam objetos com a
-
- zagem. Como vimos, no caso dos museus
- escolares, parte dos objetos que vieram
pica e de relações ecológicas, entre ou- a compor os dioramas era utilizada pela
tros (Santos, 2018; Santos, Marandino, comunidade escolar durante atividades
2019). Dessa forma, revela-se o poten- educativas.
cial que esse diorama possui para o ensi- O diorama do Museu de História Na-
47
levante ampliar as investigações sobre
escolar são as mesmas se comparadas as relações dos dioramas presentes em
com aquelas que ocorrem nos museus de museus escolares e sobre os objetos uti-
história natural. Seria relevante, assim, o lizados nas escolas no âmbito do método
desenvolvimento de estudos sobre o uso intuitivo, principalmente no que se refe-
desses dioramas pelos alunos dos colé- re à utilização desses objetos na cons-
gios, analisando as aproximações e as tituição do acervo desses museus e na
distâncias dessas práticas nas escolas e concepção dos dioramas.
-
BIBLIOGRAFIA
ALVES, V. M. S.; REIS, M. A. G. S. Museus escolares: concepções e evolução de uma
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-
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49
-
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, v. 39, n. 25, p. 163-187, 2010.
50
Capítulo 4: Pesquisas sobre dioramas no ensino e
divulgação de ciências da natureza
Fausto de Oliveira Gomes
51
Os dioramas, como objetos didáticos, por instituições (ou por mediadores vin-
são temas de pesquisas e de investiga- culados a essas instituições) ou os usos
ções na área de educação, em geral, e de previstos durante o seu planejamento e
ensino e divulgação de ciências há algum confecção também foram considerados
nesse levantamento. As interações que
deste livro, o destaque relativo à utiliza- o público estabelece durante a visita a
ção dos dioramas como parte de estra- um diorama, seus diálogos, indicações,
tégias de ensino se dá por diversos mo- comportamentos, considerações e os
tivos que estão, geralmente, vinculados aspectos desse objeto que lhes chamam
atenção fazem parte também do rol de
as interações ecológicas que acontecem
em dado ambiente e que se destacam
nessa forma de exposição (Fortin-De-
bart, 2003) ou a forte analogia com o produção sobre o tema, mas também
ambiente real (Montpetit, 1996) ou, ain- estimular que essas referências sejam
da, o apelo conservacionista que pode consultadas pelos interessados e, em
apresentar-se em sua elaboração, exi- especial, favorecer que novas pesquisas
bindo ambientes que muitas das pessoas sejam feitas sobre esse objeto tão fasci-
provavelmente não teriam acesso a não nante.
ser via a contemplação desses objetos Este levantamento não é exaustivo.
(Ash, 2004; Breslof, 2005; Quinn, 2008), Dada a grande quantidade de trabalhos
entre outras, são exemplos dessas carac- sobre dioramas e educação encontrados,
restringimos a nossa análise àqueles re-
- alizados nas últimas décadas e conside-
- rados relevantes para esta publicação.
quisa em ensino de ciências e biologia Devido à expressiva presença de traba-
que buscaram investigar as potencialida- lhos, tanto dentro quanto fora do Brasil,
des dos dioramas no ensino em ambien- julgamos importante acrescentar essa
tes não formais de educação. Seus usos
53
-
ricos diferentes.
54
-
nos diorama
Museographic trans- Martha Maran- 2010 III Congreso Internacional
position: Discussing congresso dino; -
scholarly knowledge Adriano Dias Oli- celona
of biodiversity in the veira
organisation of mu-
seum exhibitions
Dioramas as Depic- Artigo Michael J. Reiss; 2011
tions of Reality and
Opportunities for
Learning in Biology
Dinosaurs And Diora- Livro Sarah J. Chicone; 2014 Editora Routledge
mas Creating Natural Richard A. Kissel
History Exhibitions
Natural History Dio- Livro 2015 Editora Springer
ramas: History, Cons- Annette Scheersoi
truction and Educa- (Eds.)
tional Role
Objetos que ensinam Dissertação Juliana Bueno 2015 Dissertação. Interunidades
em museus: de Mestrado Ensino de Ciências - USP
Análise do diorama
do Museu de Zoologia
da USP na perspectiva
da Praxeologia
- Martha Maran- 2015 -
ans for Biodiversity livro dino; soi, A. (org.). Natural history
Education Marianne dioramas - History, construc-
Achiam; tion and educational role
Adriano Dias Oli-
veira
55
-
achievement and
science learning skills
- Juliana Bueno; 2017 In K. Hahl, K. Juuti, J. Lam-
livro Martha Maran- piselkä, A. Uitto,; J. Lavonen
Analyze Educational dino (Orgs.), Cognitive and affecti-
Process in Science ve aspects in science educa-
Museums tion research, Contributions
from science education rese-
arch. Springer: International
Publishing.
56
-
Switzerland
57
2004; Povis, Crowley, 2015). Esses dois PIBID/CNPq (Programa Institucional de
pontos de vista, apesar de partirem de Bolsas de Iniciação à Docência) que ana-
campos teóricos diferentes, não são ex- lisam potenciais educativos dos diora-
cludentes. mas (Ghilardi-Lopes, 2012), assim como
Nas análises que exploram os poten- no PIBIC/CNPq (Programa Institucional
ciais educativos (Marandino, Achiam,
Laurini, 2018; May, Achiam, 2019) ou analisam as interações do público diante
- de um diorama (Santos, 2018). Há ainda
trução ou atualização dos dioramas grande número de artigos, dissertações
(Chicone, Kissel, 2014), as pesquisas de mestrado e teses de doutorado que
utilizam referenciais e instrumentos de abordam desde a potencialidade edu-
análise pertencentes a ambos os campos cativa dos dioramas (Bueno, 2015; Oli-
de pesquisa. Além disso, ao comparar veira, 2010) até as interações do públi-
as revistas nos quais os artigos citados co com esses espaços expositivos (May,
foram publicados, percebe-se que tanto Achiam, 2019).
aquelas do campo museológico, como a Se, por um lado, os dioramas possuem
Curator: the Museum Journal ou a Natu- um potencial educativo considerável,
ral History Museum Newsletter, quanto por outro, há quem esteja explorando a
as de linha editorial mais voltada para produção de dioramas como estratégia
o ensino de ciências, como a Science de ensino de ciências em sala de aula
Education, a Springer International Pu- (Efe, 2017). Nessa estratégia, o aluno é
blishing ou a Pesquisa em Educação e Ci- estimulado a assumir o papel do pes-
ência, recebem e publicam artigos com a quisador/educador que deve planejar e
temática “dioramas”. construir um diorama, tendo que tomar
É relevante também a presença de decisões quanto aos materiais que uti-
pesquisas sobre a função educativa dos lizará, o cenário que construirá, a cena
- que representará, entre outras. Essa
estratégia vem sendo utilizada em ati-
encontramos trabalhos vinculados ao vidades propostas no Brasil desde pelo
58
menos 2010 (Marandino et al., 2010) e, avançar na discussão acerca dos pro-
neste livro, sugerimos novas atividades cessos educativos que ocorrem nos mu-
que podem ser realizadas tomando-se seus. Nas palavras de Marandino (2005,
por base esse objeto. -
dores de museus investiguem cada vez
CONSIDERAÇÕES FINAIS mais os elementos que compõem essa
Como pode ser visto, entender os dio- cultura, de modo a esclarecer os aspec-
ramas como objetos que têm potencial tos a serem considerados no estudo da
de ensino e divulgação para diferentes produção de saberes nesses espaços”.
públicos é um processo que tem mobi- -
lizado uma série de pesquisadores de cesso de educação nos espaços museais
diferentes áreas de conhecimento, que que utilizam dioramas.
buscam enriquecer a compreensão e
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Construction and Educational Role. Dordrecht: Springer, 2015.
62
Capítulo 5: Falando sobre Evolução com dioramas de
história natural1
Jesús Piqueras e Marianne Achiam
63
Em muitos museus, os dioramas (re-
presentações tridimensionais de cená- dioramas são frequentemente retrata-
rios de paisagens de animais) são com- dos pelo ponto de vista colonialista. Co-
ponentes essenciais das exposições e letivamente, esta pesquisa aponta como,
recentemente receberam maior atenção nas imagens antropológicas, o homem
como recursos para o ensino de ciências branco euro-americano adulto está fre-
(Reiss, 2019). No entanto, um crescente quentemente associado ao progresso e
corpo de pesquisa indica que represen- à superioridade evolucionários (Wiber,
1997).
No presente estudo, examinamos as
seus criadores e não podem simples- mensagens sobre evolução humana
mente ser entendidas como ‘cópias em transmitidas por uma exposição sobre
evolução humana em uma atividade de
2006). Em particular, as representações ensino no Museu Sueco de História Na-
- -
tem noções dominantes sobre o estilo terpretações dos visitantes dos museus
de vida e os padrões de gênero dos se- das cenas exibidas nos dioramas e dis-
cutimos suas implicações para a disse-
Por exemplo, Gifford-Gonzalez (1993) minação da evolução humana nos mu-
constatou que as imagens femininas nas seus. Discutimos, em particular, como os
ilustrações da evolução humana quase
sempre são acompanhadas por colegas para discutir e promover uma compre-
masculinos, embora o contrário não seja ensão mais equitativa da evolução hu-
verdadeiro. mana.
Lutz e Collins (1993) descobriram A exposição “A Jornada Humana no
diferenças sistemáticas no tipo de tra- Museu Sueco de História Natural” segue
- os principais passos da evolução huma-
tados e na cor de sua pele. Finalmente, na, representados por modelos natura-
em um estudo mais recente, Ash (2019) listas dos primeiros ancestrais humanos.
65
Os modelos são colocados em dioramas A VIDA SOCIAL DE NOSSOS
de vidro, em uma linha do tempo, e po- ANCESTRAIS
dem ser observados de todos os lados. Um tema recorrente nas discussões
Para análise, escolhemos três diora- desencadeadas pelos dioramas sobre
mas: 1) uma reconstrução de uma fêmea -
e um macho da espécie Australopithecus
afarensis; 2) a espécie Homo ergaster, foi simplesmente observado, como no
- -
tre os sexos” (Filip, diante do diorama A.
da espécie Homo neanderthalensis. Os afarensis), ou conforme ilustrado na dis-
dados do estudo vêm de uma atividade cussão a seguir diante do diorama do H.
em que as turmas escolares exploram os neanderthalensis:
dioramas em grupos. Durante a ativida- Eva: Esse cara tem uma barba.
de, os textos explicativos dos dioramas Liv: Ela não tem nem a metade de
pelos no corpo que ele tem.
de 2 a 4 alunos (15 a 18 anos) foram gra-
Em algumas pesquisas paleoantropo-
das conversas foram analisadas por meio
da análise denominada epistemologia da
prática (Wickman, 2004) e, posterior- interpretado como uma consequência
mente, segmentadas em temas discursi- do modelo Homem-Caçador (Man-the-
vos (Piqueras, Wickman, Hamza, 2012). -Hunter), no qual os machos se torna-
Fornecemos aqui uma breve seleção de ram maiores para caçar com sucesso,
exemplos de três temas discursivos que, enquanto as fêmeas se tornaram menos
- capazes de se defender (Washburn, De-
bre a evolução dos seres humanos. Vore 1961). Certamente, a noção de Ho-
mem-Caçador está presente nas discus-
sões dos alunos, conforme demonstrado
66
a seguir, na qual dois estudantes estão COR DA PELE E A PROGRESSÃO
comparando os dioramas de H. ergaster EVOLUTIVA
masculino com o de A. afarensis: Outro tema recorrente na discussão
Max: H. ergas- -
ter -
ra. pele gradualmente mais clara, à medida
Filip: É. que se segue a linha do tempo. Durante
Max: Este é um caçador, por assim o estudo dos dioramas, dois estudantes
dizer, aquele estilo que corre notaram essa mudança gradual de cor.
atrás de um animal. Aque- No primeiro diorama do A. afarensis,
A. afarensis eles observam:
de pé rapidamente... como Eva: Eles são negros, basicamen-
quer que seja chamado... eles te, a pele deles é negra.
eram mais passivos. Liv: Sim.
Eva: Eles estão na África, eles ain-
Melanie Wiber (1997), pesquisadora e da estão na África porque an-
dam nus, basicamente.
Homem-Caçador e sua falta de atribui-
ção de papel para a metade feminina Mais tarde, diante do diorama do H.
neanderthalensis, eles voltam a questão:
também é observada no discurso de um Eva: Ok, agora estamos no expo-
aluno diante do diorama H. ergaster, que sitor número três, com dois
apresentava apenas o macho da espécie: adultos e uma criança, e eles
‘Eu gostaria que tivéssemos uma mulher se tornaram brancos.
Liv: Isso me impressionou ime-
(Eva). diatamente.
67
Eva: -
é: quando eles se tornaram
brancos? Acho isso interes- dos designers por trás da exposição.
sante. Eva: O cabelo comprido das mu-
lheres... pode ser algo que
Na ilustração paleoantropológica, não o designer faz para esclare-
cer para nós que essa é uma
progresso: “a cor da pele mais escura é garota e esse é um cara? Ou
frequentemente usada de forma inter- pode ter sido assim desde o
cambiável com a pele com maior presen- começo?
ça de pelos para sugerir primitividade”
(Wiber, 1997, p.113). Esta convenção Embora os alunos não questionem
coloca os africanos na base da escala profundamente as intenções do desig-
humana e os europeus no topo (Lutz, ner, eles mostram que estão cientes de
Collins, 1993). Embora os estudantes que estão olhando para uma reconstru-
observados aqui não interpretem expli- ção resultante em parte das intenções
pedagógicas do designer. As reconstru-
pesquisas mostram que os estudantes
expostos a imagens que utilizam desses exposição do Museu Sueco de História
estereótipos culturais e raciais absor- Natural podem ser reconhecidas como o
vem suas implicações (Wiber, 1997). que Gifford-Gonzalez (1993, p. 28) cha-
ma de “impulso à credibilidade através
A INTENÇÃO DOS DESIGNERS do realismo visual”. Com essa estratégia,
Finalmente, observamos várias ins- os designers contribuem efetivamente
tâncias em que os alunos adotaram uma
-
nos nem sempre consideram as imagens Isso levanta várias questões: “Quais são
apresentadas verdadeiras só pelo que as intenções dos designers e do Museu
parecem ser. Em alguns casos, eles se Sueco de História Natural?”, “Como as
68
reconstruções são interpretadas pelo es- No entanto, em nosso estudo, alguns
pectador?” e “Como essa interpretação alunos se distanciaram criticamente do
que puderam observar nos dioramas,
questionando a motivação dos desig-
respondemos parcialmente à segunda ners. Isso indica que, em vez de usar os
pergunta. Nossos resultados mostram dioramas, aceitando a cena como verda-
que as interpretações dos alunos sobre deira somente pelo que ela mostra, pro-
os dioramas seguem um padrão con- movendo involuntariamente o discurso
sistente com o discurso do Homem-Ca- dominante, os educadores de museus
çador e envolvem estereótipos raciais podem muito bem usar os dioramas
e culturais. Esse discurso é largamente como recursos para ajudar os alunos a
difundido em estudos e imagens paleo- questionarem os discursos dominantes
na ciência e discutir o que constituiria
torno de interesses predeterminados, interpretações mais equitativas dos fa-
com base em suposições profundamen-
te arraigadas sobre o que é ser humano
(Wiber, 1997).
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70
Capítulo 6: Relato de experiência:
“Biomas do Mundo - Cenas da Vida Natural”,
a construção de dioramas com alunos do 7º ano
como estratégia para o ensino de ciências.
Fausto de Oliveira Gomes
71
O ensino de ciências, sob a perspectiva ências, o projeto “Biomas do mundo: ce-
- nas da vida natural”, realizado em 2017,
- em um colégio particular da cidade de
ticos capazes de compreender o mundo São Paulo, propunha aos alunos a cons-
- trução de dioramas de ambientes natu-
rais, acompanhada de uma narrativa que
e as relações que existem entre ciência,
tecnologia, sociedade e ambiente (Sas- contexto ambiental escolhido. Conteú-
seron e Carvalho, 2011). Essa perspecti- -
va inclui também conseguir imaginar e
do relevo e dos hábitos de vida dos ani-
soluções para os problemas que a socie- mais nativos deveriam ser levados em
dade enfrenta, colaborando assim para o consideração e explorados pelos alunos
incremento e a transformação na quali- durante a elaboração dos dioramas. Esse
dade de vida de todos os cidadãos (Chas- projeto se desenvolveu em quatro eta-
sot, 2001). pas: (1) Caracterização; (2) Construção;
A partir dessa visão de ensino de ci- (3) Apresentação; e (4) Avaliação.
Etapa 1 – Caracterização
A primeira etapa foi realizada indivi- -
dualmente pelos alunos, os quais ela- nidade, com pouca ou nenhuma interfe-
rência do professor. Ao longo das produ-
estudadas e realizaram uma discussão ções, foram feitos registros com fotos e
coletiva com o restante da turma, acom-
do projeto para a comunidade escolar e
de favorecer a explicitação e a articula- para posterior análise do professor em
ção de conhecimentos necessários para relação ao desenvolvimento do projeto,
o desenvolvimento das demais etapas com o objetivo de aprimorá-lo para o
do projeto. A partir deste momento, o ano seguinte.
trabalho realizado pelos alunos foi feito
73
Etapa 2 - Construção
As etapas de construção do diorama tas de ecossistemas presentes em outros
foram realizadas na escola, de forma a
possibilitar ao professor acompanhar o
desenvolvimento do projeto e o proces- Dentre as possibilidades de biomas
so de diálogo, argumentação e decisão sugeridas, nem todas foram contempla-
dos alunos. Nesse processo, o professor das pelas escolhas dos grupos. A seguir,
- apresentaremos algumas produções dos
mento que os alunos possuem sobre os alunos, bem como suas narrativas e re-
conceitos relacionados aos ecossistemas -
que estavam sendo representados, so-
bre as relações ecológicas presentes no
com ou sem a interferência humana.
conceitos relacionados à construção de
AS NARRATIVAS ESCOLHIDAS E AS
função expositiva. REFLEXÕES EXPLICITADAS PELOS
Foram sugeridas, aos alunos, diversas ALUNOS
opções de biomas, incluindo subáreas, Os exemplos apresentados aqui são de
para que, em grupos, pudessem escolher grupos que escolheram um cenário ne-
aquele que seria o referencial de conteú-
dos para seu diorama. a competição entre ursos e lobos, repre-
Foram eles: Pampas gaúchos, Flores- sentado, no diorama 1 (D1); uma caver-
ta de araucárias, Mata Atlântica (Mata na servindo de abrigo para um casal de
Atlântica costeira, Mata Atlântica de en-
costa e Mares de Morros), Cerrado (cer- encontro com algum predador, no diora-
ma 2 (D2); e um barco de pesca em alto-
(raso da Catarina, lençóis maranhenses e -mar com uma rede que capturou, por
-
-
74
Em D1, um urso se aproxima de uma
75
da caverna há um predador à espreita.
Neste diorama, houve a preocupação
com a apresentação do contexto am-
biental em que a cena se passava. Neve
foi adicionada sobre o teto da caverna
para criar esse contexto.
76
Para representar o exterior do diora-
ma, houve a intenção de dar a impressão
de que a cena se passa dentro de uma
montanha ou em um terreno conside-
ravelmente acidentado – como seria em
77
ção dos alunos a respeito dos elementos
e da dinâmica de exposição – que são
-
rede.
Etapa 3 – Apresentação
grande preocupação e envolvimento na
dos dioramas e no registro escrito que criação de uma narrativa que fosse inte-
ressante. Podemos apontar a tensão en-
explicações das cenas, a apropriação tre os ursos e os lobos, em D1, o medo
dos conteúdos pelos alunos. Durante as dos cudos, em D2, e a ação humana so-
- bre a fauna marinha, em D3.
pação deles em elaborar uma narrativa Na apresentação, os alunos também
que contemplasse os conteúdos relacio- explicitaram as estratégias utilizadas
nados à atividade, mas também notou-se para a construção do diorama e a preo-
78
cupação com o observador do diorama. co. Em D2, há a preocupação com a de-
Em D1, vemos que as laterais do diora- coração do exterior da caverna e, em D3,
ma formam ângulos abertos em relação os alunos abriram buracos para que as
ao fundo – isso foi pensado para favore- pessoas pudessem observar o diorama
cer a observação do diorama pelo públi- por ângulos alternativos.
Etapa 4 – Avaliação
A partir dos objetivos didáticos tra- apresentações orais e na análise dos tex-
çados no planejamento da atividade tos produzidos pelos grupos. Os resulta-
(aquisição de conteúdos relacionados dos dessa avaliação também foram co-
aos diversos ecossistemas e biomas da municados aos alunos nessa devolutiva.
79
está acontecendo. Outros grupos, aqui Mesmo atingindo a maioria dos obje-
representados por D3 (Figura 5), opta- tivos de aprendizagem planejados pelo
ram por incluir em seu diorama o que
foi chamado, pelo professor, durante a alternativas de elaboração dessa ativida-
aplicação do projeto na escola, de “fator
humano”. A escolha por incluir o fator as escolhas dos ambientes para que haja
humano no diorama implicava em consi- mais diálogo entre os grupos ou, se for
optado pela escolha livre dos ambientes
ou não, dos comportamentos humanos representados, que uma das restrições
no ambiente natural. da atividade seja elaborar essa aproxi-
Aqueles que optaram por representar mação entre os grupos, facilitando ou
ecossistemas costeiros se preocuparam promovendo as trocas entre grupos e
em apresentar questões ambientais re- não somente dentro do seu próprio gru-
lacionadas à pesca. As escolhas foram po de trabalho.
motivadas pela relação afetiva dos alu- -
nos com os ambientes sugeridos e pelo vel que variações dessa atividade sejam
tipo de materiais disponibilizados – em utilizadas para explorar ecossistemas
especial a oferta de miniaturas de ani- brasileiros ou impactos ambientais em
mais em plástico. diferentes ambientes ou contextos so-
A presença das ações humanas nesses cioeconômicos. Com materiais de baixo
dioramas estava sempre relacionada às custo e, na maioria das vezes, reutilizá-
ações negativas de desmatamento, caça veis, essa atividade se torna uma opção
predatória e pesca ilegal. Quando esse bastante interessante para ser aplica-
- da em diversos contextos, independen-
temente dos recursos da escola ou dos
ideia apareceu rapidamente, porque eles alunos.
ouvem mais falar das relações prejudi-
ciais ao ambiente do que de ações huma-
nas mais conservacionistas.
80
BIBLIOGRAFIA
-
ca. , v. 16, n. 1, p. 59-77, 2011.
81
Capítulo 7: Propostas de atividades
educativas com dioramas
Felipe Dias e Martha Marandino
83
Os dioramas são objetos que podem
ser explorados de diversas formas a representados por meio desses objetos.
partir de diferentes perspectivas pe-
dagógicas. Propostas de construção de possibilidades de explorar os dioramas
modelos de dioramas vêm sendo usadas nos espaços expositivos ou por meio de
como estratégia didática para o ensino e modelos em atividade educativas, a par-
a divulgação de conceitos em ambientes tir de diferentes enfoques pedagógicos e
formais e não formais de educação (Ma- temáticos. A intenção é que essas experi-
randino, Oliveira, Monaco, 2010; Scarpa, ências possam inspirar novas propostas
- educativas com foco nos dioramas.
minar sua história e trabalhar com os
85
dos participantes em grupos, para esco- fósseis e artefatos) e de textos de apoio,
lha do tema a ser trabalhado na produ- planejar e montar os modelos de diora-
ção dos modelos de dioramas a partir da mas, conforme os materiais indicados ao
seguinte pergunta: “Como divulgar ou -
ensinar uma ideia ou conceito no museu
por meio de um diorama?”. Aqui o gru-
po deverá escolher um conteúdo a ser
apresentado e, com apoio de modelos de aprendizagem voltado aos aspectos re-
objetos (como animais, plantas, rochas, lacionados à educação em museus.
– Cronograma da oficina
86
ASPECTOS A SEREM DESTACADOS
por isso, espera-se que as tradições cien-
diretamente a interpretação e o en-
montagens. Criar um diorama, indepen-
Scheersoi, 2015). As experiências e os dentemente do contexto ou da intenção
conhecimentos prévios do público são expositiva, deve suscitar preocupações
indissociáveis à leitura desses aparatos -
expositivos, proporcionando uma vivên- forçando a existência de um processo de
transformação do conhecimento em sua
- produção (Oliveira, 2010).
siderar que o contexto sociocultural dos Ao produzir um modelo de diorama,
os participantes deverão responder a
uma série de questionamentos ineren-
fazem pensar que as escolhas envolvidas tes ao processo de educação e divulga-
na montagem das exposições são fruto ção: “O que comunicar?”, “Para quem co-
- municar?”, “Como comunicar?” e “Quais
- objetos e recursos utilizar?”. São ques-
dizagem de conteúdos pelos visitantes tionamentos importantes que devem ser
durante a visitação. feitos e rememorados quando pensamos
no potencial comunicativo que estes ob-
modelos de dioramas, os participantes jetos de exposição carregam consigo.
também estão sujeitos ao paradigma
Diorama e biodiversidade
DESENVOLVIMENTO DA OFICINA ser humano surge em algum momento
Qual a primeira coisa que nos vem à quando pensamos sobre esse conceito?
mente quando pensamos em “biodiver- -
sidade”? A relação da natureza com o des em transpor as abordagens desta
87
temática para um aparato expositivo, -
como os dioramas, num contexto forma- cipantes sobre o tema biodiversidade e
tivo? É a partir desses questionamentos breve introdução sobre a importância
que propomos, neste item, apresentar e dos museus no estudo e na conservação
discutir alguns aspectos importantes re- da biodiversidade; 2) apresentação dos
dioramas como objetos expositivos, sua
de produção de dioramas sobre biodi-
versidade. participantes em grupos para produção
Esta atividade já foi realizada em vá- dos modelos de dioramas, a partir dos
rios formatos diferentes e recentemente materiais disponibilizados e com base
foi sistematizada por Stock (2019) em nas seguintes perguntas: “Como a bio-
- diversidade pode ser representada por
ferentes tipos de público, de variadas meio de um diorama?” e “Quais aspectos
faixas etárias, seu objetivo é trabalhar, sobre a biodiversidade podem ser retra-
por meio do diorama, as ideias em torno tados neste cenário?”. A partir dos ele-
do conceito de biodiversidade, seja na mentos fornecidos para a montagem do
- modelo do diorama e da discussão sobre
nético, de espécie e de ecossistema, seja as concepções do tema, os participantes
88
– Cronograma da oficina
89
no et al. (2011) propõem sete categorias
de abordagens de biodiversidade, sendo também vêm abordando tais temáticas,
- dando visibilidade e proporcionando
nização 1) de espécie, 2) genética e 3) uma aproximação dessas questões com
ecossistêmica e, as demais, 4) biogeo- a sociedade. Dado esse contexto, os mu-
seus funcionam como um importante
e 7) humana, remetendo às variações de espaço para pesquisa, conservação e di-
organismos e ambientes na dimensão vulgação da biodiversidade, anteceden-
temporal, perda e/ou manutenção da do inclusive a própria criação do termo
biodiversidade, bem como a presença do (Oliveira, 2010). Assim, o potencial didá-
ser humano como parte da biodiversida- tico dos dioramas faz-se relevante para
de, considerando os aspectos sociais e que diferentes tipos de público compre-
culturais. -
Uma pesquisa brasileira1 de percep- dos à biodiversidade e à ecologia, além
ção pública da Ciência, realizada em de aspectos sobre o papel dos museus
na conservação da biodiversidade. Pos-
dos brasileiros demonstra certo interes- to isso, é pertinente pensar a relevância
se pelo tema meio ambiente, declarando de explorar tais aparatos expositivos na
grande preocupação com os assuntos formação de professores e de outros pú-
de conservação, como o desmatamen- blicos.
to da Amazônia e o aquecimento global
90
têm a ver com contação de histórias e lhar o potencial comunicativo e educa-
dioramas? tivo dos dioramas em museus, por meio
O ato de “contar histórias” sempre da contação de histórias e dos registros
esteve presente na humanidade, sendo na forma de desenhos sobre os cenários
inclusive uma importante ferramenta na representados.
-
zada para transmissão de sabedoria, co- dos dioramas” (Figura 3) busca explo-
nhecimento e aspectos culturais de um rar a riqueza dos dioramas a partir da
respectivo grupo social (Joubert et al., produção de histórias sobre os elemen-
2019). No âmbito das ciências, a comu- tos presentes no cenário, indo além das
simples conversas do público em frente
objetivos aproximar as pessoas das rela- aos dioramas. É intenção desta ativida-
ções entre ciência, tecnologia, sociedade de acessar o potencial narrativo desses
- aparatos expositivos e promover um am-
-as a tomarem decisões sobre questões biente lúdico de ensino e aprendizagem
sociotécnicas enraizadas em suas vidas, a partir da construção de narrativas.
mesmo que indiretamente.
No contexto dos dioramas em museus, espaço museal, com a presença de um
- mediador e se dará da seguinte forma:
positivos despertam relações estético- 1) observação dos dioramas nos mu-
-afetivas nos visitantes, provendo um
- os objetos/as cenas neles presentes; 2)
rativas próprias através dos objetos dis- discussão entre os participantes sobre o
que eles observaram, quais foram as ex-
2015; Campos, 2013). Quais impressões periências contemplativas de cada um;
e sensações que os dioramas podem sus- 3) construção de narrativas através da
- contação de histórias oralizadas ou por
de de explorar esses aspectos, propomos meio da elaboração de desenhos; por
- -
91
- Oficina “Contando histórias através dos dioramas”
92
Em outras palavras, tais (re)construções -
de signos despertam o interesse das pes- te de um diorama falando sobre o obje-
soas em querer conhecer sobre um tema to”, complementa.
- -
cisões em suas próprias vidas. rias através dos dioramas” busca apro-
A pesquisa de Joubert et al. (2019) in- ximar o público à uma nova forma de
dica que contar histórias pode ser uma interação com os objetos expostos nos
ferramenta importante para envolver dioramas, promovendo um espaço para
aspectos relacionados à ciência (Dahls- as pessoas criarem conexões entre a ci-
trom, 2014), bem como ajudar os cida- ência e a sociedade, bem como para po-
dãos a entender, processar e recuperar tencializar a criatividade e estimular o
-
Olson (2009, apud Joubert et al., 2019) ticipantes.
aponta que pensar nas histórias como
mecanismos emotivos pode ser um ca- MATERIAIS PARA MONTAGEM DE
minho interessante para criar conexões MODELOS DE DIORAMAS
emocionais entre a ciência e os diferen- Para montagem de modelos de dio-
tes tipos de público – inclusive os que vi- ramas, devem ser usados materiais de
sitam os museus. papelaria em geral, modelos de animais,
Segundo Dunmal (2015), a interlocu- plantas e quaisquer outros organismos
ção entre o expositor, o público e os dio- em plástico, massa de modelar ou outro
ramas, com os seus objetos e cenários, material, além de adereços que possam
propicia a criação de um novo espaço auxiliar na caracterização do ambiente
interpretativo e de compreensão. O mes- ou na situação que se quer representar.
mo autor diz que “as narrativas dentro Listamos aqui alguns desses materiais
do diorama, juntamente com as narrati-
vas trazidas pelo público e por qualquer criatividade e experimentar novos ma-
estrutura fornecida pelos expositores, teriais para tornar as montagens ricas
criam um novo tipo de experiência no
93
que tem sido adotada por nós para mon- altura, largura e profundidade adequa-
tar modelos de diorama é a utilização de das para o cenário, além de possibilitar a
uma caixa de papelão, preferencialmen- perspectiva dos materiais expostos.
te de tamanho médio, por ela garantir
94
BIBLIOGRAFIA
CAMPOS, N. F. : uma análise das
conversas dos visitantes. 2013. Dissertação (Mestrado em Ensino de Biologia) - En-
2013.
-
tion. , v. 18, n. 05, p. 1-5, 2019.
95
OLIVEIRA, A. D. s: um estudo sobre transpo-
-
dades e possibilidades. CARVALHO, A. M. P. :
condições para implementação em sala de aula. São Paulo: Cengange Learning, p.
129-152, 2013.
modelos de diorama
de nov. de 2018.
-
,
Springer: Dordrecht, p. 133-143, 2015
96