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D I R E TO R E S D A S É R I E CO M I T Ê E D I TO R I A L C I E N T Í F I CO
Organizadoras
Nádia Maria Weber Santos
Hilda Jaqueline de Fraga
Vânia de Oliveira
Diagramação: Marcelo A. S. Alves
Capa: Carole Kümmecke - https://www.conceptualeditora.com/
Fotografia / Imagem de Capa: Acervo Sandra Jatahy Pesavento
Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos [recurso eletrônico] /
Nádia Maria Weber Santos; Hilda Jaqueline de Fraga; Vânia de Oliveira (Orgs.) -- Porto Alegre, RS:
Editora Fi, 2022.
180 p.
ISBN: 978-65-5917-437-9
DOI: 10.22350/9786559174379
CDD: 900
Índices para catálogo sistemático:
1. História 900
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 9
Nádia Maria Weber Santos
Hilda Jaqueline de Fraga
Vânia de Oliveira
PARTE I
O ACERVO SANDRA JATAHY PESAVENTO E SUAS FONTES:
OLHARES INTERDISCIPLINARES
1 17
O “OURO PURO” E A CAIXA 48 – COMO FAZER ESCOLHAS NA ORGANIZAÇÃO DE UM
ARQUIVO PESSOAL?
Nádia Maria Weber Santos
2 47
CIDADE, SOCIABILIDADES E GÊNERO NO ACERVO SANDRA JATAHY PESAVENTO
Hilda Jaqueline de Fraga
3 75
A PARIS DE SANDRA: ENTRE REFLEXÕES INTELECTUAIS E CARNETS DE VOYAGE
Luciana Rodrigues Gransotto
PARTE II
ARQUIVOS, DIÁLOGOS E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
4 103
UM PALÁCIO, UM ARQUIVO E A CONSTRUÇÃO SOCIAL DO PATRIMÔNIO
Ana Lúcia Goelzer Meira
5 121
OS ACERVOS PRODUZIDOS NO MUNDO PÓS-PANDEMIA: UMA ANÁLISE DOS
RELATOS NO “OLHO DO FURACÃO”
Beatriz Kushnir
6 140
AS ARQUEOLOGIAS DO SABER DE SANDRA JATAHY PESAVENTO (1946-2009). AS
SENSIBILIDADES NOS PRIMEIROS TRAÇOS DO ESQUECIDO MARXISMO E SUA
ATUALIDADE
Robson Corrêa de Camargo
7 157
A MEMÓRIA E O SENSÍVEL NA CONCRETUDE DO ACERVO SANDRA JATAHY
PESAVENTO
Vânia de Oliveira
1
Os demais produtos deste projeto foram: catalogação da biblioteca do Acervo S. J. P., organização
arquivística e digitalização de documentos, conservação dos objetos por especialista, realização de
eventos acadêmicos, confecção do Guia Comentado do Acervo S. J. P. (digital), produção de artigos e
livros (publicados em revistas acadêmicas e no site do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Sul – IHGRGS, que abriga o Acervo da historiadora). Oportunamente, todo esse material estará
disponível no site do IHGRGS: http://www.ihgrgs.org.br/
10 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
Boa leitura!
PARTE I
1
Este texto é uma contribuição reflexiva para o projeto de pesquisa “O pensamento de Sandra Jatahy
Pesavento e sua importância na historiografia brasileira: da história econômica à História Cultural – um
estudo a partir do arquivo pessoal da historiadora”, findado em 28 de fevereiro de 2022, relativo ao edital
Universal do CNPq (processo 420642/2018-8) que financia o projeto e seus produtos, do qual fui
proponente e coordenadora.
2
Remeto o leitor aos artigos elencados ao final deste texto, meus e de vários outros autores, que têm
como mote, tema ou contexto a vida e obra da historiadora ou o Acervo Sandra Jatahy Pesavento; e,
também, ao meu CV Lattes, onde constam todas as produções até então (março de 2022). Disponível
em: http://lattes.cnpq.br/3929583037339642. Acessado em 6/3/2022. Alguns destes textos já são,
também, produtos do edital citado na nota anterior.
18 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
a ordem que ela mesma dava em sua biblioteca particular, onde guar-
dava todos os seus materiais de pesquisa, aulas e escritos. 3
3
Para exemplificar o material do Acervo S. J. P. do IHGRGS, resumimos, aqui, brevemente os tópicos
temáticos/títulos que se encontram nas 56 caixas: Relatório de Pós DOC; Cidades – Becos; Trabalhos
Alunos; Texto de Estudo em História Cultural; Material pesquisa Indústria Gaúcha + História Econômica;
Textos internacionais de estudo; Exposições Universais A e B e mais gavetas (muitas); Revistas e
Periódicos (mais recortes de jornais); Textos digitados de autoria SJP; Projeto pesquisa vários; Grupos
pesquisa Brasil; Manuscritos sobre POA; Projeto cidadania e exclusão (4 caixas); Grupo Clíope – Varsóvia,
Gilberto Freire, Erico Veríssimo, Unicamp; Textos de estudo SJP; Acordos internacionais; Textos aula SJP
(Ela professora); Textos digitados autoria SJP; Material/Aula Graduação/História do Brasil I – II – III;
Crônicas da cidade de POA (século XIX e XX); Material aula ensino médio/ Colégio Rui Barbosa; Material
pesquisa ano 2000 – CNPQ Polícia civil HPSP (material que originou o livro visões do cárcere – ver
também caixa 29 mesmo assunto); Texto estudo história econômica A-B; Texto de estudos miscelânea;
Planos de aula texto História RG - Sandra prof. (semelhante caixa 31); Caricaturas e imagens; Fontes de
pesquisa 7 pecados da capital + projeto [tem caixa específica sobre Crioula Fausta e pasta suspensa
sobre Joana Eiras); Seminário imaginário urbano; Transcrição pesquisa Santa Casa/HPSP/Processos
crime; Assuntos jurídicos; Textos estudos para aula (Sandra prof) semelhante 25; Trabalhos SJP como
aluna; Estudos de SJP (Manuscritos) por temas e autores A – B (Envelopes/pastas de plástico organizadas
por ela); Nova História Cultural, Nova História Cultural (origens), Micro história, Imaginário,
Representação, Narrativa, Sensibilidades, História e Literatura, Ítalo Calvino, Paul Ricoeur, Carlo Ginzburg,
Robert Darnton, Pierre Bourdieu, Antropologia, Grupo Sensibilidades, Walter Benjamin, Michel Foucault,
Mulheres (Sinara), Estudos autores e obras; Estado da arte sobre História Cultural no Brasil, Cidade e
literatura, Memória, Identidade, Literatura e História, Edward Thompson, The Lady of Shalott, Eduardo
Colombo, Banca tese Nádia, Material variado, Pasta Fronteiras Culturais Cone Sul (miscelânea); Filmes e
disquetes antigos de conteúdos diversos; Prestação de contas (eventos CNPQ – CAPES) A-B; Certificados;
Cursos no Propur (FAC. Arquitetura); Manuscritos variados (textos autorais) de SJP; Textos (matrizes) para
aulas PG (História capitalismo América Latina); Manuscritos SJP – Arguições Bancas, Apresentações em
eventos, Palestras; Material de pesquisa trabalhadores (com fotos antigas mais história oral) greves/força
e luz/operários/viação férrea (Pasta relíquia); Caderno de História do colégio de SJP (Sandra aluna);
Eventos participados; Textos de professores e pesquisadores UNICAMP; Relatórios técnicos de pesquisa
(CNPQ – FAPERGS – CAPES); Fichamento de artigos Felicíssimo de Azevedo (cousas municipais); Projeto
“PAMPA E cultura” / Martim Fierro ilustrações; “Ouro Puro A” (denominação dada pela curadora) =
Material de Gaveta escrivaninha SJP (ABERTA EM 27.04.17 NOVA DOAÇÃO). Seus últimos estudos –
História urbana, paisagens, imagens, mais cartões de restabelecimento para amigos na época de
hospital; “Ouro Puro B” = Idem - Textos a escrever, Evento Puebla, Programas Goiânia,
Sensibilidades/Imagens – Viajantes, Ruínas, Memória e Patrimônio, Cidade e Ruínas; Gilberto Freire e
paisagens – material organizado por Sandra. Pasta lilás, últimos estudos; Imagens – pasta organizada
por Sandra. Mapas de Porto Alegre, lugares onde passaram os 7 pecados, lâminas de lugares na cidade
(Paris, Rio), pinturas – descrição dela; Crioula Fausta – pasta organizada por Sandra. (Jornais, textos);
Trabalhos apresentados 1998-9. GT de História Cultural. Anpuh. Turma de colegas Nádia/Anelda + GT
gênero, com disquetes dos trabalhos enviados a ela. Material organizado por Sandra; Iconografia/Brésil
Taunay e Denis. Pesquisa Museu Castro maia. Projeto HAARP; História do RGS – Porto Alegre (Carris,
vários documentos); Projeto Mestiçagem – do Rio da Prata à Amazônia (séc. XVI – XX) – UFRGS, EHESS e
processo e negativa do CNPq; Material Pós-doc Paris 1995/1996/1997 – Textos de Chartier (com
dedicatória) e Textos Jacques Leenhardt.
Já as 25 pastas suspensas contêm documentos que a equipe de curadoria considerou especiais na
trajetória da historiadora. São elas: Material de pesquisa com alunos graduação APRS; Paisagens; Origens
históricas de POA (Texto SJP) + Mapas sesmarias; Correspondências e e-mails A-B; Família; Material de
aula Pós-graduação; Assuntos Adm. UFRGS; Textos SJP (Abusos e crianças); Desenhos de SJP;
20 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
Documentos diversos – originais História RS; Textos Jacques Leenhardt; Pasta org. por Sandra XXIV –
ANPU Unisinos - manuscritos Sandra 2007; Crônicas POA – Textos Lit. Cidade – org. de Sandra; Cartazes
de cinemas – Memória Vera Cruz; Imagens de POA – Personagens 7 pecados; Material mestrado PUC –
doutorado USP; Exposição Paris Galerie de l´Arsenal – La ville et ses monuments; Memória, manuscritos
variados, ‘textos esperando publicação – listagem feita por ela. Pasta feita por Sandra (mantida no
original); Manuscritos SJP – Resultado da Pesquisa “A industrialização no Sul do Brasil”. Texto em francês
apresentado em Grenoble – França; Linha do Tempo Intelectual de Sandra Jatahy Pesavento, feita por
ela mesma. 1973-1991; Material Joana Eiras; Manuscritos Palestra no Museu Quai Branli; Manuscritos
Palestra EHESS, Sorbonne – Maison Amérique Latine; Questões administrativas – Pedidos de
afastamento; Dados brutos e imagens (Lâminas) da obra “Visões do Cárcere” + ZH do lançamento do
livro em 2009. Esta listagem, como aparece aqui, foi publicada pela primeira vez no artigo de 2020
(SANTOS; FRAGA, 2020a) na Revista do IHGRGS.
Nádia Maria Weber Santos • 21
4
De forma sucinta, o ASJP é composto, após as doações da família durante estes anos (2014 a 2020) de:
I – Coleção Bibliográfica: a biblioteca da historiadora, estimada em 4 mil obras, que está catalogada
graças ao financiamento do CNPq, pelo edital mencionado na nota 1 deste texto; II – Fundo Documental
(estimado em 60 mil itens): o material de estudo e de pesquisa dos 40 anos de trabalho da professora
da UFRGS e pesquisadora, compreendendo: II/1 – Caixas com material de estudo, pesquisa e sala de
aula de 40 anos; II/2 – Arquivo digital: obras completas de SJP digitalizadas e II/3 – Arquivo especial de
fichas manuscritas: fichário completo, com móvel, pertencente à historiadora, incluindo fichamento de
jornais do século XIX e início do século XX do Rio Grande do Sul; II/4 – Documentos de viagens (Álbuns
com fotografias de viagens; Diários de viagens [cadernetas e pequenos cadernos, desde 1975]); III –
22 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
5
Deixo em nota de rodapé uma informação importante: embora seja um arquivo pessoal e sempre ter
sido tratado como tal, não são constituintes do acervo e-mails e correspondências pessoais, e sim
apenas aquelas trocadas com seus pares e que dizem respeito à vida acadêmica e de pesquisa.
Nádia Maria Weber Santos • 25
6
Na organização inicial, estava na Pasta suspensa número 20. ASJP, IHGRGS. O documento encontra-se
digitalizado na íntegra e consta no link do ASJP, no site do IHGRGS. Disponível em:
http://ihgrgs.org.br/arquivo/inventario_sjp/linha_tempo_sjp.pdf Acessado em 6/3/2022. Sobre este
documento em específico, o analisamos e comentamos em dois artigos, que constam ao final, nas
referências Santos e Fraga (2020a, 2020b) e Santos e Veiga (2021b).
26 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
7
Este texto foi publicado em uma revista francesa: Nouveau Monde, Mondes Nouveaux, on-line, onde não
há paginação, somente parágrafos. Referência ao final deste texto.
8
A descrição sucinta das caixas, de forma esquemática na disposição inicial em que as colocamos, antes
do trabalho de classificação do arquivista, foi realizada pela acadêmica de História, hoje licenciada,
Francielle Garcia. Desta caixa em específico, 48 A e B, a descrição foi realizada em 13 de junho de 2017
e consta em nosso drive do acervo. O material digitalizado será disponibilizado ao público em geral
oportunamente no site do IHGRGS.
Nádia Maria Weber Santos • 31
9
Sobre o Grupo Clíope e a relação de Pesavento com ele, remeto o leitor aos textos Santos (2015), Santos
(2022, prelo) e à tese de doutorado defendida em 2021, por Luciana Gransotto. Referências ao final.
32 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
alguma coisa ainda seja inédita. Apenas uma pesquisa mais acurada, co-
tejando os documentos de acervo e toda sua obra, poderá nos dar essa
resposta (e que não é o escopo deste artigo).
Ainda citando o mesmo texto de Pesavento (2005) sobre sensibili-
dades, cabe aqui seu pensamento de que “tais marcas de historicidade –
imagens, palavras, textos, sons, práticas – seriam o que talvez seja pos-
sível nomear como evidências do sensível. Mas, para encontrá-las, é
preciso uma reeducação do olhar. O olhar-detetive do historiador da
cultura interpretará tais sinais, estabelecendo nexos e relações para
tentar chegar ao tal mundo do passado onde os homens, falavam, ama-
vam e morriam por outras razões e sentimentos” (PESAVENTO, 2005,
§36). É Pesavento por ela mesma nos ajudando a pensar seu próprio
acervo...
Nádia Maria Weber Santos • 33
Figura 9 – Caderneta “Piero Della Francesca” – Capa, onde está escrito “Imagem”
10
O CV Lattes da professora ainda está on-line na plataforma e pode ser acessado pelo link
http://lattes.cnpq.br/1760145213009265. A referência citada, X FIEALC, está no item 88 de “Participação
em eventos”.
Nádia Maria Weber Santos • 39
tantas riquezas. E tudo isso numa organização que ela mesma entendia
ser ideal para que fosse encontrado por ela quando precisasse: é o que
demonstram as inúmeras pastas e envelopes em que estavam acondici-
onados os papéis em sua residência. E o que dizer, então, do material
“Ouro puro” da gaveta da escrivaninha?
Como historiadora das sensibilidades, ela deixou suas marcas sen-
síveis também nos itens guardados por ela, em sua prática de arquivar
a própria vida. Além de sua obra historiográfica, já tão importante, te-
mos este arquivo para desvendar outras facetas de Sandra, outros
olhares de Pesavento, que talvez não tenham aparecido nos livros. Por
que não?
REFERÊNCIAS
SANTOS, Nádia Maria Weber; MEIRELES, Maximiano Martins de. Nos rastros da
História Cultural e das Sensibilidades: o acervo Sandra Jatahy Pesavento e sua
produção historiográfica. Revista de História Bilros, v. 5, p. 11-32, 2017. Disponível em:
http://seer.uece.br/?journal=bilros&page=article&op=view&path%5B%5D=2902&pa
th%5B%5D=2344 .
SANTOS, Nádia Maria Weber; MEIRELES, Maximiano Martins de. O arquivo pessoal da
historiadora Sandra Jatahy Pesavento e as Sensibilidades enquanto campo teórico e
método de análise histórica. Artelogie, p. 15-35, 2019. Disponível em:
https://journals.openedition.org/artelogie/3933
SANTOS, Nádia Maria Weber; FRAGA, Hilda Jaqueline de. Acervo, memórias e trajetórias
de pesquisa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Dossiê Sandra Jatahy Pesavento, v. 1, n. 158, p. 1-3, 2020a. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/issue/view/4163
https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/109688/59404
SANTOS, Nádia Maria Weber; FRAGA, Hilda Jaqueline de. Acervo Sandra J. Pesavento:
trajetórias e perspectivas investigativas para a História do Tempo Presente. Revista
46 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
SANTOS, Nádia Maria Weber; VEIGA, Alexandre. Sandra Jatahy Pesavento, 75 anos. Porto
Alegre: IHGRGS, 2021a (E-Book). Disponível em: http://ihgrgs.org.br/arquivo/
AcervoSandraJP-75anos.pdf
SANTOS, Nádia Maria Weber. Sandra Pesavento. In: Diogo Roiz, Rebeca Gontijo, Tânia
Zimmermann (orgs.). As historiadoras e os gêneros na escrita da história I – Pioneiras
nos estudos históricos brasileiros. Campinas: editora Mercado das Letras, 2022. No
prelo.
2
CIDADE, SOCIABILIDADES E GÊNERO NO
ACERVO SANDRA JATAHY PESAVENTO
Hilda Jaqueline de Fraga
INTRODUÇÃO
1
Pesquisa desenvolvida desde 2018 pela Profa. Dra. Hilda Jaqueline de Fraga, pesquisadora e membro
da Equipe de Curadoria do Acervo S. J. P., concentrada nas contribuições da obra da historiadora para
estudos da História Cultural sobre o gênero na cidade.
Hilda Jaqueline de Fraga • 51
2
Ver PESAVENTO, Sandra Jatahy. O espetáculo da rua. Porto Alegre: Ed. Univer./UFRGS, 1992, p. 9.
Hilda Jaqueline de Fraga • 55
3
Ver PESAVENTO, Sandra Jatahy. Crioula Fausta – o Pássaro Negro do Beco do Poço. In: Os Sete pecados
da Capital. Porto Alegre: Hucitec, 2008. Nesta obra, a historiadora discorre sobre as estratégias utilizadas
pela famosa dona do lupanário do Beco do Poço junto às autoridades e pessoas influentes da época
para escapar da vigilância policial e processos-crime relacionados às suas atividades.
72 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
À GUIZA DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz. Tecelão dos tempos: novos ensaios de teoria da
história. São Paulo: Intermeios, 2019. 276 p.
ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval Muniz; VEIGA-NETO, Alfredo; SOUZA FILHO, Alípio de.
Apresentação: uma cartografia das margens. In: ALBUQUERQUE JÚNIOR, Durval
Muniz; VEIGA-NETO, Alfredo; SOUZA FILHO, Alípio de (Org.). Cartografias de
Foucault. 2. Ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 9-12.
BAUMAN, Zygmunt. Vidas desperdiçadas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 170 p.
CERTEAU, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: 2. Morar,
cozinhar. Petrópolis: Vozes, 2003.
CORREIA, José Tavares de Lira. O léxico das divisões e a história da cidade de Recife. In:
BRESCIANI, Maria Stella (Org.). Palavras da cidade. Porto Alegre: Ed. Da
Universidade Federal do RS/UFRGDD, 2001. p. 157-210.
CUNHA, Maria Tereza; ANDRADE, Ana Luisa Santiago de. Falando sobre arquivos
pessoais: Guardados sobre Sandra JatahyPesavento em tempos salteados (décadas
de 1980-2000). In: SANTOS, Nádia Maria Weber; FRAGA, Hilda Jaqueline de (Org.).
Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Dossiê
Sandra Jatahy Pesavento, v. 1, n. 158, p. 85-100, 2020.
FRAGA, Hilda Jaqueline de; SANTOS, Nádia Maria Weber. Acervo Sandra J. Pesavento:
Trajetórias e perspectivas investigativas para a história do tempo presente. Revista
do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Dossiê Sandra
Jatahy Pesavento, v. 1, n. 158, p. 41-66, 2020.
FUNARI, Pedro Paulo A.; CARVALHO, Aline Vieira. Patrimônio e diversidade: algumas
questões para reflexão. In: ENCONTRO DE HISTÓRIA DA ARTE, 4., 2008, Campinas.
Anais..., IFCH/UNICAMP, Campinas, SP. 2008, p. 303-309.
MARCINIAK, Marcia. Diálogos com Sandra Jatahy Pesavento na obra “Os Sete pecados da
Capital”. Texto apresentado no evento alusivo aos 10 anos do falecimento da
Historiadora Sandra Jatahy Pesavento, Porto Alegre, Centro Histórico-Cultural da
Santa Casa de Porto Alegre, 2018, p. 1-3.
PERROT, Michele. Minha História das Mulheres. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2017. p. 16-19.
PERROT, Michele. As mulheres e os silêncios da História. Bauru, SP: EDUSC, 2005. p. 78-91; p.
279-316.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Cidade e Memória: espaços e vivências. Porto Alegre: Ed. da
Universidade/UFRGS, 1991. 133 p.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Muito além do espaço: por uma história cultural do urbano.
Revista Estudos Históricos, v. 8, n. 16, p. 279-290, 1995. [Cultura e História Urbana].
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Os Sete pecados da Capital. Porto Alegre: HUCITEC, 2008.
455 p.
SOUZA, Célia Ferraz. Uma autora em busca das imagens da cidade. In: LEENHARDT,
Jacques; FIALHO, Daniela Marzola; SANTOS, Nádia Maria Weber; MONTEIRO,
Charles; DIMAS, Antonio (Orgs.). História cultural da cidade: homenagem à Sandra
Jatahy Pesavento. Porto Alegre: Marcavisual/PROPUR, 2015. p. 65-75.
3
A PARIS DE SANDRA: ENTRE REFLEXÕES
INTELECTUAIS E CARNETS DE VOYAGE
Luciana Rodrigues Gransotto
1
Parte deste texto foi extraído da minha tese de doutorado, intitulada “As viagens da historiadora:
internacionalização acadêmica e deslocamentos intelectuais de Sandra Jatahy Pesavento (1990/2009)”.
Tese supervisionada pela historiadora Dra Cristina Scheibe Wolff e defendida em julho de 2021.
Doutorado realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), pelo Programa Interdisciplinar
em Ciências Humanas. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/227061
76 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
2
O acervo foi consignado ao IHGRGS pelo esposo e filhos da historiadora em 2014, cinco anos após o
seu falecimento (2009). A equipe curatorial é composta, atualmente, por Nádia Maria Weber Santos,
Luciana Rodrigues Gransotto, Hilda Fraga, Simone Steigleder, Anelda Oliveira, Alexandre Veiga e
Francielle Garcia. Sobre a trajetória de trabalho e de pesquisas relacionadas ao ASJP, sugiro a leitura do
Dossiê Sandra Jatahy Pesavento: acervo, memórias e trajetórias de pesquisa (2020), organizado por
Nádia Maria Weber Santos e Hilda Jaqueline de Fraga, e do artigo “As sensibilidades na pesquisa em
História da Educação: delineamentos a partir do acervo da historiadora Sandra Jatahy Pesavento”, escrito
por Nádia Maria Weber Santos e Maximiliano Martins de Meireles. Referências completas no final do
texto.
78 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
a viagem. Que dados são esses? São cartas, são mapas, são livros, são fotos.
Ao preparar uma viagem, o que eu levaria na minha bagagem de viajante no
espaço? Em primeiro lugar, a atitude com que se depara o outro. Viajar é
encarar a diferença. E, inclusive, se comportar diante da austeridade com
respeito pela diferença. E nessa atitude que encontro a Sandra viajando no
espaço ou viajando na História. Vamos encontrar sempre aquele outro no
tempo. O segundo elemento da minha bagagem de viajante seria a instrução
prévia, a leitura, a preparação da viagem, uma parte extremamente gostosa:
o antes. Onde reúno aquilo que vou adquirir na viagem, a minha expectativa
com a viagem. Vem toda a minha bagagem, a Sandra que consegue saber, lá
naquela igrejinha perdida tem um quadro que também está perdido; ou en-
tão que naquela estradinha, dobrando à direita, ali em algum lugar eu vou
51 encontrar um mosteiro do século doze, talvez tão bonitinho etc. Portanto,
a minha experiência me dita, a minha bagagem própria está presente na
própria bagagem que vou levar (PECHANSKY; TIMM, 2000, p. 95). 3
3
Essa citação acima refere-se a uma fala de Sandra em um encontro em Porto Alegre, no ano de 1999.
A proposta do evento, de certa forma mais informal (para os moldes acadêmicos), era discutir a
criatividade em situações embaraçosas da vida, com senso de humor e, no caso da mesa de debate em
que ela estava, junto a Flávio Dal Mese e Celia Ribeiro, intitulada A Criação da Viagem, tratava-se de
pensar sobre as experiências de viagens.
4
Durante esse período, Sandra também viajou para Londres, permanecendo lá por alguns dias.
5
Além desses Carnets de Voyage, outros materiais da historiadora, relacionados às viagens, foram
recentemente incorporados ao ASJP: coleção de objetos, álbuns com fotografias e diários (cadernetas e
pequenos cadernos, das décadas de 1970, 1980 e início de 1990).
80 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
6
Em 2017 foi publicado um artigo que escrevi, intitulado “Mulheres viajantes: narrativas e sensibilidades
que aproximam estudos feministas e estudos do turismo”, apresentado no VI CONINTER: Epistemologias
não coloniais e os desafios da construção do conhecimento interdisciplinar, realizado em João Pessoa.
Na parte final desse texto, faço uma breve incursão em alguns lugares de Paris sobre os quais Sandra
escreveu nos Carnets de Voyage, propondo, por um lado, uma discussão sobre as narrativas
contemporâneas de experiências de viagens, as quais estão relacionadas às formas de apreensão do
sentido dos lugares e do mundo. De outro lado, inter-relacionar as noções de gênero-mulher – o “ser”
pesquisadora, o “ser” viajante e o “ser” escritora – de forma a aproximar questões vinculadas a
sensibilidades e subjetividades, provocando reflexões sobre o protagonismo das mulheres na
construção do(s) conhecimento(s).
7
Em 2020 estive na França para realizar um estágio de doutorado sanduíche, por seis meses, vinculado
à Université Rennes 2, com supervisão do historiador Luc Capdevila. Durante esse período, viajei para
Paris algumas vezes para realizar entrevistas e pesquisas de campo para minha tese. Entre 2021 e,
atualmente, em 2022, estou em Paris para cumprir o estágio de pós-doutorado, vinculado à Université
Paris 8 e ao Laboratoire des Études de Genre et de Sexualité (LEGS), sob a supervisão do sociólogo Éric
Fassin. Nessas duas ocasiões me propus a percorrer parte dos roteiros de Sandra, mencionados nos
Carnets de Voyage. Além de conhecer a cidade a partir da perspectiva de uma historiadora, tem sido uma
experiência sensorial que me faz ter mais subsídios para escrever e refletir mais profundamente sobre a
sua trajetória e sobre a noção de viagem.
Luciana Rodrigues Gransotto • 81
***
8
Nádia tem estado à frente de eventos em homenagem à historiadora, junto com outros/as parceiros/as
intelectuais de Sandra, do Brasil e do exterior, a citar a I, II, III, IV e V Jornada Sandra Jatahy Pesavento
(nos anos de 2011, 2014, 2017, 2019 e 2021, respectivamente), além de ter escrito diversos textos sobre
a vida e a obra de Sandra e a respeito da constituição do ASJP.
9
Realizei o mestrado no programa Memória Social e Bens Culturais, da Universidade La Salle, Canoas,
entre 2014 e 2016, orientada pela historiadora Dra. Nádia Maria Weber Santos e coorientada pela Dra.
Zilá Bernd, pesquisadora na área das Letras. A dissertação, intitulada “Itinerário histórico-cultural dos
becos de Porto Alegre no final do século XIX”, teve o aporte dos referenciais de Sandra Pesavento,
relacionadas ao espaço urbano, com a história e com os imaginários dos antigos becos de Porto Alegre
no final do século XIX. O trabalho pode ser acessado na sua totalidade no seguinte acesso: http://svr-
net20.unilasalle.edu.br/handle/11690/668
82 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
espaços de Paris são frequentes. A reflexão que ela traz sobre os lugares
demarca os vínculos e as afetividades estabelecidos nessa cidade que foi,
ao mesmo tempo, lugar de flânerie e, sobretudo, de exercício intelectual.
Em 2004, ano em que ela escreveu e enviou as cartas, já se passava mais
de uma década de convivência frequente com Paris. Observando o tre-
cho seguinte, os seus manuscritos de viagem demarcam o seu longo
percurso na história e passam a ter uma dimensão simbólica: ela se
torna tradutora dos conhecimentos adquiridos. A historiadora narra so-
bre o roteiro feito no Marais, uma incursão pelo bairro que guarda
marcas da arquitetura medieval (Figuras 1 e 2).
vinculadas, por exemplo, aos grupos Clíope, Histoire des Sensibilités e aos
núcleos do GT regional e nacional de História Cultural. Nesse sentido,
percebemos que os modos de fazer, de se estabelecer e de produzir vêm
acompanhados das experiências de alteridade. Conforme Ângela de Cas-
tro Gomes (1993, p. 65), há dois sentidos ligados à sociabilidade: o
primeiro “remete às estruturas organizacionais da sociabilidade através
de múltiplas e diferentes formas que se alteram com o tempo, mas que
têm como ponto nodal o fato de se constituírem nos loci de aprendiza-
gem e trocas intelectuais”; o segundo está relacionado “com as redes
que estruturam as relações entre os intelectuais”, ou seja, o espaço é
tanto aquele geográfico como também comporta afetividade, a partir
dos “vínculos de amizade/cumplicidade e de hostilidade/rivalidade”, as-
sim como da “marca de uma certa sensibilidade produzida e cimentada
por evento, personalidade ou grupos especiais”. Sandra tinha habilidade
em colocar em prática a sociabilidade, exercia um papel quase diplomá-
tico, reafirmando o seu compromisso com suas parcerias intelectuais,
da França e do Brasil, assim como com as suas amizades, de dentro ou
fora da academia. O Café Sarah Bernhardt (Figura 3) foi um lugar de en-
contros e um dos espaços estratégicos de engajamento que a
historiadora encontrou para a manutenção desses elos.
Fui ao Musée d’Orsay com o Roberto, para que ele visse a exposição sobre as
origens da abstração [...] nesta expo passam dois curtos filmes dos irmãos
Lumière sobre Loïe Fuller, a dançarina da belle époque que dançava fazendo
evoluções com os panos de seu vestido e sobre o qual se projetavam jogos
de cores, dando a ilusão de ser uma borboleta, uma chama etc. Très interes-
sant. Toulouse Lautrec fez cartazes para as apresentações da moça no
Moulin Rouge (Carnets de Voyage, PESAVENTO, 2004, s.p.).
3 OS PALIMPSESTOS DA CIDADE
Xe. Arrondissement é o bairro mais popular e com uma região habitada, so-
bretudo, por indianos. Há neste canto da cidade algumas passagens, ou
galerias cobertas, um tanto distintas daquelas de que fala Walter Benjamin.
A passagem Brady, por exemplo, dá a impressão de que estamos em Calcutá,
a do Prado, no Cairo! (Carnets de Voyage, PESAVENTO, 2004, s.p.).
10
Embora eu não tenha conhecido Sandra pessoalmente, pude compartilhar um pouco das suas
flâneries e deambulações por Paris, uma vez que os roteiros que a historiadora fazia com suas/seus
estudantes e amigas/os acabaram sendo refeitos e ressignificados por elas/eles após a sua morte. Foi o
que aconteceu em 2014, primeira vez que estive em Paris. A profa. Nádia Maria Weber Santos, que foi
orientanda e amiga da historiadora, apresentou-me as passagens cobertas – lugar que Sandra tanto
apreciava e fazia questão de levar as pessoas para conhecerem a história e o lugar. Esse exercício acabou
se repetindo posteriormente, nos anos de 2020 e 2021/2022, quando pude voltar a percorrer esses
caminhos, compartilhando com outras amigas essa experiência.
96 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
***
REFERÊNCIAS
MASSEY, Doreen. Pelo espaço: uma nova política da espacialidade. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2008.
PALMERO, Elena. Deslocamento. In: Zilá Bernd (org.). Dicionário das mobilidades
culturais: percursos americanos. Porto Alegre: Literalis, 2010. p. 109-127.
PECHANSKY, Clara; TIMM, Liana. A criação da viagem: bagagem para um bom roteiro.
In: PECHANSKY, Clara; TIMM, Liana (orgs.). Artistas da vida, ano 1. Porto Alegre:
Prefeitura Municipal de Porto Alegre, 2000. p. 89-110.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Uma cidade sensível sob o olhar do outro: Jean-Baptiste
Debret e o Rio de Janeiro (1816-1831). Nuevo Mundo Mundos Nuevos [on-line], 2007.
Disponível em: https://journals.openedition.org/nuevomundo/3669
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Images & words: how to be modern & exotic. [Documento]. In:
Brazil in the 19th century universal exhibitions, 2001. Não paginado. Material
Disponível em ASJP, caixa 10.
100 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
PESAVENTO, Sandra Jatahy. Pedido de bolsa à Capes. [documento]. Não paginado. Porto
Alegre, 1989. Material disponível na ASJP, caixa 1.
SANTOS, Nádia Maria Weber; FRAGA, Hilda Jaqueline de. Acervo, memórias e trajetórias
de pesquisa. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre, Dossiê Sandra Jatahy Pesavento, v. 1, n. 158, p. 1-3, 2020. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/issue/view/4163
https://seer.ufrgs.br/revistaihgrgs/article/view/109688/59404
SANTOS, Nádia Maria Weber; VEIGA, Alexandre. Sandra Jatahy Pesavento, 75 anos. Porto
Alegre: IHGRGS, 2021a (E-Book). Disponível em: http://ihgrgs.org.br/arquivo/
AcervoSandraJP-75anos.pdf
PARTE II
ARQUIVOS, DIÁLOGOS E
DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS
4
UM PALÁCIO, UM ARQUIVO E A CONSTRUÇÃO
SOCIAL DO PATRIMÔNIO
Ana Lúcia Goelzer Meira
INTRODUÇÃO
tombado pouco mais de dois anos após a inauguração. Ou seja, era uma
edificação nova, uma construção modernista que não rememorava o
passado, mas sim o que de mais novo existia em termos de arquitetura
em nível mundial.
Não causou surpresa, entre os poucos arquitetos modernos atuan-
tes na época, o seu reconhecimento como Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional. Diz a justificativa, no processo de tombamento, “[...]
tratar-se da primeira edificação monumental destinada a sede de ser-
viços públicos, planejada e executada no mundo, em estrita obediência
aos princípios da arquitetura moderna” (SEGRE, 2013, p. 489).
O vanguardismo arquitetônico consubstanciado no projeto é am-
plamente reconhecido em nível nacional e internacional. Os principais
estudiosos da arquitetura no Brasil devotam-lhe respeito:
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro, Ed. Bertrand Brasil S.A., 1989.
MOTTA, Lia. Qual o preço do Palácio Capanema? In: Urbe CaRioca, Rio de Janeiro, 17 ago.
2021. Disponível em: http://urbecarioca.com.br/palacio-capanema-nas-palavras-
de-lia-motta-e-sonia-rabello/. Acesso em: 3 jan. 2022.
O MEC não pode ser vendido. In: CAURJ, Rio de Janeiro, 13 ago. 2021. Disponível em:
https://www.caurj.gov.br/o-mec-nao-pode-ser-vendido/#:~:text=O%20Pal%C3%A
1cio%20Gustavo%20Capanema%20(originalmente,est%C3%A1%20sob%20amea%C3
%A7a%20de%20privatiza%C3%A7%C3%A3o.&text=O%20MEC%2C%20como%20%C3
%A9%20popularmente,Patrim%C3%B4nio%20Hist%C3%B3rico%20e%20Art%C3%A
Dstico%20Nacional). Acesso em: 20 dez. 2020.
PALÁCIO da Cultura – antiga sede do Ministério de Educação e Saúde (RJ). In: IPHAN,
[Brasília, 2021?]. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/pagina/detalhes/825.
Acesso em: 12 dez. 2021.
http://urbecarioca.com.br/palacio-capanema-nas-palavras-de-lia-motta-e-sonia-
rabello/. Acesso em: 3 jan. 2022.
RESTAURAÇÃO do Palácio Capanema, no Rio de Janeiro (RJ), chega à última etapa. In:
IPHAN, Brasília, 11 fev. 2019. Disponível em: http://portal.iphan.gov.br/rj/
noticias/detalhes/4985/restauracao-do-palacio-gustavo-capanema-no-rio-de-
janeiro-rj-chega-a-ultima-etapa. Acesso em: 10 jan. 2022.
TROITIÑO, Sonia. O que preservar? Por que preservar? Política arquivística e formação
de acervo. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL ARQUIVOS DE MUSEUS E PESQUISA,
5., 2017, São Paulo. Políticas de acervo – coleta, preservação, descarte. São Paulo:
MAC/USP, 2018. p. 93-109.
5
OS ACERVOS PRODUZIDOS NO MUNDO PÓS-
PANDEMIA: UMA ANÁLISE DOS RELATOS NO “OLHO
DO FURACÃO”
Beatriz Kushnir
1
Anacorese ou Efeito anacórico é o fenômeno pelo qual microrganismos circulantes e substâncias
estranhas que circulam no sangue vão se fixando ao redor de uma área de inflamação. Além de bactérias
podem se fixar no local, substâncias como corantes, sais, substâncias metálicas, proteínas, protozoários
e esporos. Os microrganismos chegam rápido ao local inflamado onde os que se fixarem podem
sobreviver em grande número e colaborar com a colonização da região por outras espécies mais
sensíveis, causando infecções mais prolongadas e difíceis de serem tratadas. Assim, pacientes com
doenças inflamatórias (como artrite) ficam mais suscetíveis a infecções por bactérias e protozoários. Isso
é um problema constante para pacientes com doenças inflamatórias crônicas.
122 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
real dos vários momentos vividos. Por outro, as etapas e perfis que os
depoimentos vêm apontando induzem à formação de uma coleção.
Para tal, é oportuno delimitar o que se compreende como coleção.
Ou seja, um “conjunto de documentos com características comuns, reu-
nidos intencionalmente”. Diferenciando-se dos fundos cujo conjunto de
documentos tem “[...] uma mesma proveniência. Termo equivalente a
arquivo” (ARQUIVO NACIONAL, 2005). Neste sentido, como bem ex-
plana o blog “Análise diplomática dos documentos”, a coleção pode
2
Disponível em https://diplomaticabarbara.webnode.com, acessado em 8/2/2022.
Beatriz Kushnir • 123
3
Disponível em http://www.rio.rj.gov.br/web/arquivogeral/testemunhos-do-isolamento, no qual é
possível, também, a inclusão de imagens, vídeos e voz.
124 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
[...] em resumo, trata-se de uma nova disciplina corporal que nos compro-
metemos a instituir, mas sem dispor de tempo para incutir. Que diria
Norbert Elias? Talvez que os países onde as pessoas não têm o hábito de
apertar as mãos ou de se beijar levam vantagem em relação à Covid-19?
[...] Um tempo inédito é instaurado. [...] A Covid-19, invadindo cada vez mais
o espaço midiático, era como uma série, da qual desejávamos ver passarem
todas as temporadas de forma acelerada. [...] Uma vez decretado o confina-
mento, tudo muda. [...] Submetidos ao tempo da pandemia, devemos habitar
o tempo do confinamento: organizar o uso do tempo [...], ritmá-lo [...],
Beatriz Kushnir • 125
preenchê-lo [...]. Confeccionar uma ordem do tempo cada um por sua pró-
pria conta.
[...] Mas existe também um outro confinamento, o de todos aqueles que não
estão conectados. [...] A fratura digital atravessa também o confinamento e
as relações com o tempo que ele induz, incluindo a recusa ou a negação da-
queles que indicamos como os “recalcitrantes” do confinamento (HARTOG,
2020, p. 10, 12, 13).
4
Nossa última conferência dos dados foi no dia 30 de dezembro de 2020, no qual constavam 235
depoimentos, tendo sido o último enviado em 17/12/2020. Após essa data, com o fim do mandato do
então prefeito e o término de nosso período de trabalho no AGCRJ, não demos continuidade à coleta e
à análise dos dados.
126 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
“No início pensei que fosse um problema local e não tão fatal. No entanto, a
evolução foi muito rápida e assustadora.” – Professora, testemunho rece-
bido em 14/7/2020.
5
Ao longo de 2020, o Boletim Sebastião, publicação quinzenal do AGCRJ – naquele momento editado
e revisado por mim e produzido em colaboração com a equipe do Arquivo Geral da Cidade do Rio de
Janeiro – dedicou as quatro edições de maio e junho para falar sobre o acervo do Arquivo no que
tangiam às várias epidemias vividas pelos cariocas: Febre Amarela, Gripe Espanhola, Varíola e a Peste
Bubônica. A publicação em PDF pode ser acessada no site do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro
em: http://www.rio.rj.gov.br/ebooks/informativos_agcrj_2020/index-h5.html#page=1 (último acesso
em 5/8/2021).
Beatriz Kushnir • 129
[...] a pandemia não é cega e possui “alvos privilegiados”, o que induz à busca
de soluções diferentes entre aqueles que possuem capitais sociais distintos.
No entanto, apesar dos diferentes recursos sociais que as populações pos-
suam, a receita do momento é genérica: manutenção do isolamento social,
que implica redução de atividades econômicas e, consequentemente, menor
carga de destruição da natureza (apud SANTOS; CRISTO, 2020, e00108820).
casa para o trabalho, trabalho para casa. A sensação é de que não há nenhum
lugar onde se possa espairecer e respirar. É uma situação inédita. O mundo
não tem mais divisões, é uma grande bolha de isolamento.” – Médica, tes-
temunho recebido em 10/6/2020.
“Há muita instabilidade nesse período. Poderia dizer que vivo uma flutua-
ção entre os bons e os maus momentos. Estou vivenciando dias e semanas
muito produtivas e mentalmente equilibradas que se alternam com curtos
períodos de angústia e tristeza profunda.” – Professor, testemunho rece-
bido em 2/7/2020.
6
Censo do IBGE mostra crescimento no número de brasileiros com ensino superior, maio de 2012:
https://guiadoestudante.abril.com.br/universidades/censo-do-ibge-mostra-crescimento-no-numero-
de-brasileiros-com-ensino-superior/ (último acesso em 15/2/2022).
Beatriz Kushnir • 135
24% na Zona Norte, 16% na Zona Oeste, 12% na Zona Central da cidade e
ainda 18% dos participantes não residiam no Rio de Janeiro. Para um
segundo momento de recolhida de depoimentos, acreditamos que seria
importante encontrar meios de coletar depoimentos de mais indivíduos
em regiões mais afastadas do Centro, com menos acesso à internet e,
também, pessoas em situação de vulnerabilidade social.
As políticas públicas de cunho assistencial foram ineficazes e não
alcançaram os realmente necessitados em massa, obrigando-os às que-
bras das recomendações da OMS. O perfil dos que nos relataram não
espelha este grupo ainda, infelizmente. É comum narrativas que rela-
tam que:
“O período tem sido muito difícil, devido [a] não ter nada que se compare a
esta pandemia. Inicialmente achei que seria algo passageiro e devido a vá-
rias informações desencontradas fiquei confuso. Como exemplo cito o uso
das máscaras que inicialmente falava-se que não tinha nenhum efeito, di-
ante disto, ainda em março, ou seja, no início dos casos da covid, eu não usei
máscara, porém com o passar do tempo o noticiário mudou. A própria im-
prensa escrita, televisiva e radiofônica se mostrou confusa em seus
noticiários o que levou a maioria de nós sem saber o que fazer.” – Professor
aposentado, testemunho recebido em 15/7/2020.
“Meu salário teve redução de 50%, não cobria nem o meu aluguel. Além disso
a inquilina da minha casa que era alugada, cancelou o contrato de aluguel,
então o impacto foi grande demais na minha vida, de maneira negativa.” –
Operadora de turismo, depoimento recebido em 6/5/2020.
7
“Pobreza atinge 1,7 milhão de pessoas no Rio; muitas delas passam fome” In: G1 Cf.
https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2021/03/22/pobreza-atinge-17-milhao-de-pessoas-no-
rio-muitas-delas-passam-fome.ghtml (último acesso em 5/8/2021).
Beatriz Kushnir • 137
Para concluir, acredito ser crucial uma ponderação: relativizar a ideia re-
corrente durante todo o processo pandêmico de que o sofrimento gerado
alteraria as relações sociais para melhor e nos faria aprender e nos transformar
enquanto sociedade. Trata-se de algo que nem o conhecimento das atrocidades
durante a 2ª Guerra, por exemplo, conseguiu produzir. Muito tem se
138 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
a pandemia não vem para ensinar nada. A pandemia vem para devastar as
nossas vidas. Eu não sei de onde vem essa mentalidade branca de que o so-
frimento ensina. Essa ideia, eu não tenho simpatia com ela (KRENAK, 2021).
Lamentável é perceber que esses dois anos pandêmicos, que para muitos
parece mais, é esquecido por alguns quando se instalam relações de trabalho;
por exemplo, é com certo susto hipócrita que mencionam: “mas você fez lock-
down?” Sim, meu caro, ou morreria e colocaria os próximos a mim em risco!
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. “A escrita de si”, Corps écrit, nº. 5: L’autoportrait, fevereiro de 1983,
p. 3-23.
Beatriz Kushnir • 139
SANTOS, Teófanes de Assis; CRISTO, Hélio Souza de. Reflexões contemporâneas à luz da
pandemia do novo coronavírus. Resenha de A cruel pedagogia do vírus. Sousa Santos
B. Coimbra: Almedina; 2020. 32 p. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 36, n. 6,
e00108820, 2020.
6
AS ARQUEOLOGIAS DO SABER DE SANDRA JATAHY
PESAVENTO (1946-2009). AS SENSIBILIDADES NOS
PRIMEIROS TRAÇOS DO ESQUECIDO MARXISMO E
SUA ATUALIDADE
Robson Corrêa de Camargo
Os conhecimentos têm três portas de acesso a nossa alma. Ver, ouvir e tocar
são as três portas.
(Diderot, 2000 [1749], p. 856)
[...] assim, é com a noção de sensibilidade, muito pertinente aos atuais es-
tudos da História Cultural, que quero contemplar este artigo. Para nós,
historiadores da cultura, ela é colocada como uma outra forma de apreensão
do mundo, para além do conhecimento científico. As sensibilidades corres-
ponderiam a este núcleo primário de percepção e tradução da experiência
humana no mundo, que se encontra no âmago da construção de um ima-
ginário social. O conhecimento sensível opera como uma forma de
reconhecimento e tradução do mundo que brota não do racional ou das
construções mentais mais elaboradas, mas dos sentidos, que vêm do íntimo
de cada indivíduo. (REPITO, BROTA DOS SENTIDOS). Às sensibilidades
compete esta espécie de assalto ao mundo cognitivo, pois lidam com as
144 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
Que o homem seja um ser corpóreo, provido de uma força natural, vivo, real,
sensível, objetivo, significa que tem como objeto de seu ser, de suas mani-
festações vitais objetos reais, sensíveis, e que somente sobre objetos reais,
sensíveis, pode manifestar sua vida. Ser objetivo, natural, sensível, é idên-
tico a ter objeto, natureza, sentido fora de si, ou incluso ser objeto, sentido,
natureza para um terceiro. A fome é uma necessidade natural; necessita, pois,
de uma natureza fora de si, de um objeto fora de si, para poder satisfazer-se,
para poder acalmar-se. A fome é a necessidade objetiva que um corpo sente
de um objeto que está fora dele, indispensável para sua integração e a ma-
nifestação de seu ser (MARX, 1978, p. 160, tradução deste autor do espanhol,
editora Pluma).
1
Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1845/tesfeuer.htm Acesso em 14/7/2021
148 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
com a realidade. Dizia Pesavento (2007b, p. 16): “temos uma herança que
pode ser definida como clássica: a realidade é apreendida pelos sentidos,
como postulam Epicuro e Lucrécio, ou pela mente, como argumentam
Platão e Aristóteles”. E, em mais detalhes, notemos sua conclusão:
IX:
REFERÊNCIAS
CAMARGO, Robson Corrêa de. E que a nossa emoção sobreviva... Brecht, Marx e o tratado
védico Natyasastra. Moringa: artes do espetáculo, João Pessoa, v. 1, n. 2, p. 35-43,
jul./dez. 2010.
DIDEROT. Lettre sur les aveugles a l’usage de ceux que voient [carta aos cegos para o uso
de quem pode ver]. Paris Gallimard, 2000 [1749], p. 856.
156 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
LANGER, Susanne K. Filosofia em Nova Chave. São Paulo: Perspectiva, 1971b [1942].
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História e História Cultural. 3. ed. (2003, primeira edição).
Autêntica, 2007a.
TURNER, Victor. From Ritual to Theatre: The Human Seriousness of Play Performance
studies series. New York: Performing Arts Journal, 1982.
7
A MEMÓRIA E O SENSÍVEL NA CONCRETUDE DO
ACERVO SANDRA JATAHY PESAVENTO
Vânia de Oliveira
INTRODUÇÃO
1
Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=PfHNI_CVyrs>. Acesso em 28/2/2022.
Vânia de Oliveira • 159
2
Para aprofundar o tema, Cf. Cristina Ortega e Marilda Lara (2010), que fazem uma importante
sistematização do conceito de documento desde Paul Otlet, e uma resenha das diversas correntes
teóricas da Documentação.
160 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
1 A COLECIONADORA
3
Cf. texto de Célia Oliveira (2017), que traz um competente apanhado desse caminho percorrido pelo
ato de colecionar.
162 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
2 A COLEÇÃO
que, a despeito de amar as viagens, tinha profundo apego a seu lar. Ine-
vitável trazer Gaston Bachelard para essa conversa. Em sua Introdução
à obra A poética do Espaço, em texto que é pura poesia, citando J. H. Van
den Berg, o filósofo escreve que “as coisas nos ‘falam’ e que por isso
mesmo, se damos pleno valor a essa linguagem, temos um contato com
as coisas” (BACHELARD, 2000, p. 191), tal qual ocorre em relação aos ob-
jetos de museus. É a partir dessa “fala” dos objetos casinhas, que se
consegue captar, que se constrói esta discussão, o que não significa que
todas as conjecturas serão acertadas; são muito maiores as probabilida-
des de erros. Já de partida, é preciso fazer uso da licença poética, pois,
como se sabe, em documentação, os objetos portam informações, mas
não falam. Torna-se necessário ter acesso e domínio sobre determina-
dos códigos para decifrar o que eles “falam”, ou seja, é preciso saber ler
– como aliás afirmou Sandra Pesavento na citação feita anteriormente.
Melhor ficar com o poético, por ora.
De volta à casa de Bachelard que, em seu “corpo de doutrinas que
[designou] sob o nome de topoanálise” – análise a partir ou sobre os lu-
gares –, admite que “parece que a imagem da casa se transforma na
topografia de nosso ser íntimo” (BACHELARD, 2000, p. 196). Não ignoro
que o filósofo, após explicitar o problema central que investiga, adverte
que “para resolvê-lo, não basta considerar a casa como um ‘objeto’ sobre
o qual pudéssemos fazer reagir julgamentos e devaneios” (BACHELARD,
2000, p. 199). Vamos imaginar a casa em que morou e viveu Sandra Pe-
savento, olhando para tais objetos nessa exposição imaginária como
metáforas dessa casa para ela e, como diria Bachelard, como projeções
de aspectos de seu próprio eu.
Vânia de Oliveira • 169
“Sete Pecados da Capital” (sua última obra escrita) [...] pois ela congrega
alguns dos temas mais caros à sua trajetória como pesquisadora: o
mundo dos excluídos, a cidade, as imagens e as sensibilidades”
(SANTOS, 2015, p. 290).
Figura 4 – A seleção
REFERÊNCIAS
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. Trad. Antonio de Pádua Danese. São Paulo:
Martins Fontes, 2000.
DELOCHE, Bernard. Le musée virtuel: vers un éthique des nouvelles images. Paris :
Presses Universitaires de France, 2001. p. 261. (Questions actuelles).
FERREZ, Helena Dodd. Documentação museológica: teoria para uma boa prática. Estudos
de Museologia. Rio de Janeiro: Ministério da Cultura/Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), 1994. p. 65-74. (Cadernos de Ensaios, n. 2).
4
Quando do lançamento deste livro, talvez alguns desses depoimentos já tenham sido colhidos.
176 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
NAMER, Gerard. Les instituitions de mémoire culturelle. In: Mémoire et sociétè. Paris:
Meridien, 1987. p. 159-185. (Collection Société).
ORTEGA, Cristina Dotta; LARA, Marilda Lopes Ginez de. A noção de documento: de Otlet
aos dias de hoje. DataGramaZero – Revista de Ciência da Informação. v. 11, n. 2 p.
A03, abr./2010. Disponível em <https://brapci.inf.br/index.php/res/v/7087>
PESAVENTO, Sandra Jatahy. História & História Cultural. Belo Horizonte: Autêntica,
2003.
POMIAN, Krzysztof. Coleção. In: ROMANO, Rugiero (Dir.). Enciclopédia Einaudi: Memória
e História, vol. I. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984. p. 51-86.
Robson Corrêa de Camargo (RJ, 1952) é diretor de teatro, ator e professor aposentado
do curso de teatro da Universidade Federal de Goiás UFG, e doutor em teatro pela ECA
USP. Trabalhou na Folha de S. Paulo, como crítico teatral, entre 1984 e 1987, e no Jornal
Movimento (1974-1977). É idealizador e um dos fundadores do curso de Artes Cênicas da
Universidade Federal de Uberlândia, um dos iniciadores do curso de Teatro da
Universidade Federal de Goiás, também foi coordenador (2011-2016) e um dos
fundadores do primeiro programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Performances
180 • Entre o Sensível e o Concreto: reflexões entre memória, patrimônio e arquivos
www.editorafi.org
contato@editorafi.org