Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Reitor
Ricardo Marcelo Fonseca
Vice-Reitora
Graciela Inês Bolzón de Muniz
Pró-Reitor de Extensão e Cultura
Leandro Franklin Gorsdorf
Diretora da Editora UFPR
Suzete de Paula Bornatto
Vice-Diretor da Editora UFPR
Rodrigo Tadeu Gonçalves
Conselho Editorial que aprovou este livro
Claudio José Barros de Carvalho
Cleverson Ribas Carneiro
Cristina Gonçalves de Mendonça
Diomar Augusto de Quadros
Fernando Cerisara Gil
Jane Mendes Ferreira
Márcia Santos de Menezes
Maria Cristina Borba Braga
Sérgio Luiz Meister Berleze
Mauro Lúcio Leitão Condé
Inclui bibliografia
ISBN 978-85·8480-116-9
1. Ciência - Filosofia. 2. Ciência - História. 3. Linguagem e línguas
- Filosofia. 4. Ciência - Historicidade. 1. Universidade Federal do
Paraná. li. Titulo. Ili. Série.
CDD: 501
Bibliotecária: Paula Maschio - CRB 9/921
ISBN 978-85-8480-116-9
Ref. 903
Direitos desta edição reservados à
Editora UFPR
Rua João Negrão, 280, 2° andar - Centro
Tel.: (41) 3360-7489
80010-200 - Curitiba - Paraná - Brasil
www .editora.ufpr.br
editora@ufpr.br
2017
Associação Brasileira
das Editoras Universitárias
Para Elizabete Lara Condé, em nossas bodas de prata.
Uma jornada que nos deu filosofia, história, ciência e
três lindos filhos.
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO/ 11
INTRODUÇÃO
A ciência tem história / 19
CAPÍTULO 1
O filósofo e as máquinas: Koyré, Zilsel e o debate
internalismo versus externalismo / 31
1 Considerações iniciais/ 31
2 O interna/ismo de Koyré / 35
CAPÍTULO 2
O elo perdido: Fleck e a emergência da historicidade
da ciência / 59
1 Considerações iniciais / 59
5 Considerações finais/ 84
CAPÍTULO 3
"Um papel para a história": historicidade versus
relativismo em Thomas Kuhn / 85
1 Considerações iniciais/ 85
2 Romantismo versus iluminismo: o debate entre Kuhn e
Popper/ 93
3 Kuhn versus Bloor: as fraquezas do Programa Forte/ 99
4 Evolução e linguagem: esboço de uma teoria da ciência / 109
5 Considerações finais/ 116
CAPÍTUL04
Wittgenstein e a gramática da ciência: linguagem e
práticas sociais no conhecimento científico/ 119
1 Considerações iniciais/ 119
2 A gramática da ciência/ 123
3 Gramática da ciência e interna/ismo / 128
4 Gramática da ciência e externa/ismo/ 141
5 Considerações finais/ 150
CONCLUSÃO/ 153
REFERÊNCIAS/ 159
ÍNDICE REMISSIVO/ 167
SOBRE O AUTOR/171
PREFÁCIO
1 Of. SBPC-122/Dir. 28 nov. 2014, São Paulo. 4f. Disponível em: <http://www.sbpcnet.eom.br/
site/arquivos/arquivo_402.pdf>. Acesso em: 12 de jan. 2015.
4 A compreensão do fenômeno da historicidade humana é algo muito mais antigo e foi tratado
e matizado, pelo menos, desde a modernidade por diferentes autores (Vico, Herder, Hegel,
Marx etc.) preocupados com uma filosofia da história. Contudo, esse não é o ponto em tela.
Trata-se aqui tão-somente de compreender por historicidade da ciência a influência da dimen-
são histórica no processo do conhecimento dos fenômenos naturais (ciência). Portanto, a
questão da história ou historicidade como algo Intrinsecamente associado ao conhecimento
da natureza compõe o cerne da epistemologia histórica, isto é, a"( ... ) epistemologia histórica
envolve a afirmação de que o sistema de conhecimento científico não é apenas determinado
pelas observações, mas está também sujeito a requisitos epistemológicos que podem mudar no
processo histórico do fazer a pesquisa científica. Como resultado, o sistema de conhecimento
depende do caminho em que sua forma é contingenciada a partir das escolhas epistemológicas
feitas em determinados pontos históricos" (Carrier, 2012, p. 239) No origlnal:."Historical epis-
temology involves the claim that thesystem of sclentific knowledge is not determined by the
observations but is also subject to epistemic requirements that may change in the historical
process of doing research. As a result, the system of knowledge is path-dependent in that its
shape is contingent on epistemlc choices made at certain historlcal points".
5 Para a abordagem da questão da "epistemologia histórica", ver Rheinberger (2010 ), Carrier
(2012); para as abordagens correlatas da "ontologia histórica", ver Hacking (2002); e para a
"epistemologia social", ver Fuller (2002 [1988]).
6 Shapin (1992, p. 333) sugere essa demarcação e não devemos entendê-la de modo muito
rígido. Essas datas não seriam tão precisas, sobretudo, se levarmos em conta o fato de que
importantes trabalhos de Koyré e Zilsel, autores que estarão no epicentro do debate, já ti-
nham sido publicados no final dos anos 1930 e mesmo no período da segunda grande guerra.
Quanto ao fim do debate, a imprecisão é maior. Talvez ele tenha mais se transformado do
que propriamente terminado. O próprio Shapin reconhece que ele ainda apresenta pontos
não resolvidos (Shapin, 1992, p. 334).
7 Certamente, outras redes são possíveis para tratar questões semelhantes às deste livro, seja
com esses e outros autores ou mesmo com autores de outras tradições, como, por exemplo,
a tradição francesa (Canguilhem, Bachelard, Foucault etc.). Em certo aspecto, Koyré seria um
elo entre essas duas redes, embora eu tenha aqui tomado sua obra muito mais na perspectiva
de sua recepção norte-americana que o compreendeu pela ótica do debate intemalismo versus
extemalismo.
8 Para um eventual desdobramento dessa e de outras questões tratadas por essa rede de
autores, cito as publicações na adem em que os autores abordados neste livro aparecem:
Koyré (Condé, 2015); Fleck (Condé, 2010, 2012); Kuhn e Fleck (Condé, 2005); Kuhn e o Progra-
ma Forte (Oliveira, Condé, 2002); Popper, Kuhn e Bloor (Condé, 2012); Wittgenstein e Fleck
(Condé, 2012); Wittgenstein (Condé,1998, 2004); Wittgenstein e Kuhn (Condé, 2013).
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
9 "La science, celle de notre époque, comme celle des Grecs, est essentiellement theoria".
10 "Plebeian craftsmen experiment and invent but lack methodical rational training. About
1600, with the progress of technology, the experimental method is adopted by rationally
trained scholars of the educated upper class. Thus, the two components of sclentific search
are united at last: modem science is bom".
12 "any survey of the field's present state must unfortunately stlll treat the two as virtually
separated enterprises."
13 "though the Internai and the externai approaches to the history of science have a sort of
natural autonomy, they are, in fact, complementary concerns."
20 Supostamente, anos mais tarde, quando Husserl escrevia sua Crise das ciências européias, Koyré
o teria influenciado acerca da presença de Galileu no livro, ver Gutting (1978, p. 45). Contudo,
há quem sustente que isso não seria possível e que, contrariamente, Husserl também teria
influenciado o estudo de Koyré nesse ponto e, na realidade, Cassirer teria sido a principal ins-
piração para Husserl abordar Galileu. Mas, independente de quem tenha exercido a influência,
podemos perceber por esse e outros exemplos a relação teórica entre Koyré e Husserl.
21 "La science, celle de notre époque, comme celle des Grecs, est essentiellement theoria".
22 Nessas diferentes obras, com maior ou menor ênfase, Koyré critica esses e outros autores que
defendem uma abordagem social para a compreensão do surgimento da ciência moderna.
361 MAuAo.__LBTÃOCOND<
trabalhado extensivamente o problema da técnica e da interpretação
23
sociológica (Koyré, 1971 [1961], p. 305-362). Koyré reconhece que, ao
longo de toda a história da ciência, a conciliação entre a theoria, de um
lado, e a praxis, de outro, sempre foi uma tarefa extremamente difícil,
ainda que ele deixasse bem nítido o seu entendimento de que a teoria
exerce uma supremacia sobre a prática. Assim, ao ver a ciência essencial-
mente como uma theoria que se fundamenta no realismo matemático e
em bases metafísicas, ele foi interpretado pela historiografia da ciência
como um internalista.
Com efeito, a concepção de história da ciência formulada por
Koyré guardará uma estreita relação com as suas convicções sobre os
fundamentos da matemática enquanto uma ordem a priori que rege
toda possibilidade do conhecimento. A ciência é, para ele, a mathesis
universalis de Descartes, a matemática de Galileu, mas nunca o empirismo
de Bacon. De acordo com Koyré, o empirismo baconiano fundamenta a
ciência no registrar, classificar e colocar em ordem os fatos, mas "Des-
cartes, por sua vez, tira uma conclusão exatamente oposta, a saber, a
de fazer penetrar a teoria na ação, isto é, da possibilidade da conversão
da inteligência teórica ao real, da possibilidade tanto de uma tecnologia
24
quanto de uma física" {Koyré, 1971 [1961], p. 346). Em outras palavras,
da mesma forma que, para ele, há um realismo matemático que funda-
menta a ciência da matemática, também a história da ciência deveria
25 "L'attitude philosophlque qul à la longue s'avere bonne n'est pas celle de l'empirisme posi-
tivlste ou pragmatiste, mais, au contraire, celle du réalisme mathématique. En bref, non pas
celle de Bacon ou de Comte, mais celle de Descartes, Galilée et Platon".
26 Em sua resenha de um livro coletânea de textos de Koyré, Metaphysics and measurement
(Koyré, 1968), Kuhn salienta que a afirmação do primado das ideias sobre a prática susten-
tada por Koyré seria bem diferente se ele tivesse analisado outras ciências como a química
ou outras questões científicas como a eletricidade ou o magnetismo (Kuhn, 1970c, p. 69).
Podemos entender com isso que Koyré pôde ser mais "teórico" por ser um "matemático",
mas se fosse um físico ou um químico ou se analisasse problemas dessas disciplinas, sua
epistemologia forçosamente incorporaria aspectos técnicos, experimentais e práticos de
uma forma mais preponderante.
32 "li y a certafnement du vrai dans ces descriptions et explicatlons; il est clair que la croissance
de la science moderne préssupose celles de villes; il est évldent que le développement des
armes à feu, surtout celul de l'artlllerie, a attiré l'attencion sur les problemes de balistlque;
que la navigatlon, surtout ceife pour l'Amérique et les lndes, favorisa la construction des
montres, etc.; je dois avouer cependent que ses explicatlons ne me paraissent pas satisfa-
saintes. Je ne vois pas ce que la scientio activa a jamais eu à falre avec le développement
du calcul, ni la montée de la bourgeoisie avec l'astronomie copemicienne ou képlérienne.
Quant à l'expérience et à l'expérimentation - deux choses que nous devons non seulement
distinguer mais même opposer l'une à l'autre - je suis convaincu que la montée et la crois-
sance de la science expérimentale n'est pas la source mais, bien au contralre, le résultat de
la nouvelle conception théorique ou plutôt métaphysique de la nature qui forme le contenu
de la révolutlon scientifique du XVII e siêcle, contenu que nous devons comprendre avant de
tenter l'explication (quelle qu'elle soit)de ce fait historique."
33 Como analisarei à frente, nesses artigos Koyré se esforça contra a abordagem sociológica
representada pelas máquinas (Koyré, 1971 [1961], p. 305-339). Os filósofos e as máquinas tam-
bém é o título do livro de Paolo Rossi. Porém, em seu livro, Rossi aprofunda a tese oposta à
de Koyré, isto é, a "tese de Zilsel" (Rossi, 2002 [1962]).
34 "Changement d'attitude métaphysique"
35 "li est incontestableque, même s'il est impossible, comme je le crois, de donner une explica-
tion soclologique à la nalssance de la pensée scientifique, ou à l'apparition de grands génies
qui en révolutionnerent le développement - Syracuse n'explique pas Archlmêde, pas plus
que Padoue ou Florence n'expliquent Galilée".
40 "Human society has not often changed so fundamentally as it did with the transition from
feudalism to capitalism."
41 Tanto Zilsel quanto os demais hist:>riadores de perspectiva social, como Grossmann e Hessen,
sofreram influências do marxismo, ainda que cada um tenha assimilado tais influências, e até
mesmo militância, de forma muito diferente.
42 "1- The emergence of early capitalism (... ), culture ( ...) centered in towns. 2-The end of the
Middle Ages was a period of rapidly progressing technology and technologlcal inventlons.
Machines began to be used bothin production of goods and ln warfare. 3- ln medieval society
the individual was bound to the traditions of the group to which he unalterably belonged. ln
the early capltalism economic success depended on the spirit of enterprise of the individual.
ln the early feudalism economic competition was unknown. (...) The lndivldualism of the
new soclety is a presuppositlon of scientific thinking. ( ... ) The emergence of the quantitative
method, which is virtually non-existent in medieval theories, cannot be separated from the
counting and calculating splrit of capitalistic economy."
43 "ln the period from the end of the Middle Ages until 1600 the university scholars and the
humanistic literati are rationally trained but they do not experimentas they despise manual
labor. Many more or less plebeian craftsmen experiment and invent but lack methodical
rational training. About 1600, with the progress of technology, the experimental method is
adopted by rationallytrained scholars of the educated upper class. Thus, the two components
of scientific search are united at last: modem science is born. The whole progress is embedded
in the advance of early capitalistic economy wich weakens collective-mindedness, magicai
thinking, traditions, and the belief in authority, which furthers mundane, rational and causal
thinking, individualism and rational organlzation."
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
46 "Das Erkennen stellt dle am stãrksten sozlalbedingte Tãtigkeit des Menschen vor und Er·
kenntnls ist das soziale Gebilde katexochen."
47 Para uma pequena biografia de Fleck, ver Schãfer, Schnelle (2010) e Schnelle (1982).
48 Ainda que o conhecimento da obra de Fleck no Brasil não tenha atingido sua plenitude, tem
havido esforços nesse sentido por parte dos pesquisadores brasileiros e já contamos com
artigos, dissertações e teses que trabalham as ideias de Fleck. Em 2012, foi publicado no Brasil
o primeiro livro especificamente dedicado a Fleck, com a contribuição de autores brasileiros
e estrangeiros, ver Condé (2012). Também é demonstração desse esforço de divulgação do
pensamento de Fleck entre nós a tradução para o português, em 2010, de sua obra magna,
Gênese e desenvolvimento de um fato científico (Fleck, 2010 [1935]), transcorridos exatos
três quartos de século desde sua primeira edição no original alemão, na Suíça. Fleck visitou
o Brasil, em 1955, participando do li Congresso Internacional de Alergistas sobre o qual, no
ano seguinte, publica em coautoria um artigo caracterizando, em linhas gerais, o referido
congresso (Fleck; Lille-Szyszkowicz, 1956).
49 Embora tenha sido ignorada por décadas, a obra epistemológica de Fleck tem tido cada vez
mais relevância. Mais que uma aplicação na história e sociologia da ciência, recentemente,
diferentes campos do conhecimento têm revelado grandes possibilidades de uso de seu
pensamento (artes, política, educação científica, administração etc.). Aspectos dessa possi-
bilidade dos diferentes usos da obra de Fleck se mostravam desde o início. Leon Chwistekjá
observara, ao escrever a primeira resenha do livro de Fleck, que o pensamento ali contido
aplicava-se não apenas à ciência, mas também às artes (Chwistek, 2011 [1936], p. 606-611).
Na política, o próprio Fleck, tendo sofrido no campo de concentração as atrocidades do na-
zismo, manifesta sua preocupação com o mau uso da ciência em um artigo de 1960, "Crisis
in science" (Fleck, 1986, [1960], p. 153-158).
50 Uma lista das publicações científicas de Fleck apareceu em Schãfer, Schnelle (1983) e foi
ampliada em Werner, Zittel (2011).
51 Ésignificativo que um dos primeiros artigos publicados por Fleck, "Sobre a crise da realidade"
(1929), decorra exatamente de uma discussão estabelecida inicialmente na Física.
52 Para caracterizar essa produção histórica do conhecimento, Fleck escolheu a história da sífilis.
Procurou mostrar como do século XVI ao XX diferentes fatores sociais, culturais e econômicos
interagiram para a produção do conhecimento que a medicina estabeleceu sobre a sífilis, sua
constituição etiológica, seus testes de diagnósticos e suas práticas de cura.
54 Kuhn (1977, p.122), que talvez não tenha conhecido esse artigo de Fleck, menciona o uso da
expressão "ciência da ciência" feito por Solla Price ( 1966), vinte anos após Fleck, mas em
um sentido muito próximo ao do pensador polonês.
55 Certamente Fleck é um filósofo, mesmo que não em termos de uma filosofia tradicional da
ciência, mas dessa nova posição de compreensão da ciência a partir de sua historicidade,
isto é, de uma epistemologia histórica. Essa estreita associação entre filosofia e história, que
conduziu à ideia de uma epistemologia histórica, atraiu tantos outros grandes pensadores
como Kuhn, Canguilhem, Bachelard, Foucault etc. Se Fleck não foi compreendido como um
filósofo da ciência, muito menos o foi como filósofo estrito senso. Na realidade, a própria
reflexão filosófica sobre a ciência nunca ocupou um lugar central na filosofia. Os grandes
epistemólogos não foram necessariamente considerados os mais influentes filósofos. Ainda
que não tenha sido um filósofo com uma obra muito extensa, Fleck realizou análises filosó-
ficas tão elaboradas quanto um Heidegger ou um Wittgenstein, mas infelizmente Fleck não
continuou sua obra filosófica. A afirmação da condição de Fleck como um filósofo inaugural
é, assim, complexa e indefinida. Mesmo Kuhn, o filósofo da ciência que mais teve a obra
divulgada, comentada e seguida em todos os tempos, não teria atingido para alguns o grau
de complexidade para que pudesse ser chamado de filósofo. No obituário que escreve sobre
Kuhn, Richard Rortysalienta essas questões e afirma que é preciso considerar que Kuhn não
apenas foi um filósofo, mas foi o filósofo de língua inglesa mais influente da segunda metade
do século XX {Rorty, 1996).
56 Como veremos no capítulo três, o próprio Kuhn não conseguiu efetivamente equilibrar essa
relação entre ciência e sociedade frente às posições do Programa Forte de Bloor.
64 Embora Fleck tenha dado a essa expressão uma conceituação filosófica própria, ela teria sido
usada primeiramente por Mannheim, em 1925, verTrenn (1979, xv). Éinteressante ainda notar
que Camap - alvo das críticas de Fleck ao neopositivismo -, no prefácio à primeira edição do
seu livro Der logischeAufbau der Welt (A construção lógica do mundo), em 1928, ao caracterizar
a mudança no modo de se fazer filosofia, trazida pelo Círculo de Viena, utiliza a expressão
Denkstil, tão cara a Fleck. Ao esclarecer o que muda na nova filosofia da ciência, salienta Car-
nap, "essa nova atitude muda não apenas o estilo de pensamento (DenkstiQ, mas também a
tarefa" da filosofia {Carnap, 1961 [1928], xix). Como mencionado no capítulo um, não é menos
interessante a utilização da expressão "estilo de pensamento" por Alexandre Koyré. Em seu
texto de 1930, "La pensée modeme", posteriormente presente em seu livro Étude d'histoire de
la pensée scientifique, Koyré utiliza a expressão "estilo" para caracterizar o que ele chama de
Zeitgeist da modernidade ou o "estilo de nossa época" utilizando, por fim, a própria expressão
"style de pensée" (estilo de pensamento) {Koyré, 1973 [1966], p.18).
65 Para uma aproximação entre Kuhn e Fleck mostrando semelhanças e distanciamentos, ver
Condé (2005).
66 Para uma análise da função da linguagem para o neopositivismo, ver o conhecido artigo de
Carnap "A superação da metafísica através de uma análise lógica da linguagem" (Carnap,
2009 [19321). Para uma análise da crítica de Fleck à concepção de linguagem de Camap, ver
Nogueira (2012).
Pelo que foi abordado até aqui, percebemos que o que carac-
teriza a ideia de historicidade da ciência em Fleck é o fato de, para ele, a
ciência ser um produto social que se dá no tempo, portanto, constitui-
se como um fenômeno histórico. Para caracterizar a historicidade da
ciência, no entanto, ele não usa a expressão "historicidade", mas uma
série de outras expressões ligadas à ideia da produção do conhecimento
científico como um fenômeno histórico. Deste modo, ao longo do livro,
ele faz referências ao conhecimento científico usando expressões tais
como: "história", "histórico", "condicionamento cultural e histórico",
"história do pensamento", "história do saber", "desenvolvimento histó-
rico", "vínculos históricos", "história do conceito", "relações históricas",
"contexto das ideias históricas" etc. Enfim, um conjunto de expressões
para caracterizar que "a experiência especificamente científica decorre
de condições particulares, histórica e socialmente dadas" (Fleck, 2010
[1935], p. 110 ).
67 Essa citação parece ser retirada de um dos capítulos de Aestrutura das revoluções científicas
na qual Kuhn trabalha a ideia de ciência normal/revolução científica. Para Kuhn, como veremos
no próximo capítulo, a ciência normal desenvolve o que foi estabelecido pelo paradigma até
que apareçam anomalias e instaura-se uma crise que conduzirá à mudança de paradigma etc.
(Kuhn, 1970 [1962], esp. capítulos de li a IV).
68 Daston e Galison salientam que, vindo de seus cognatos do latim, com Duns Scotus e Guilher-
me de Ockham, a palavra "objetividade", que surgiu posterionnente dentro deste contexto,
possuía sentido contrário ao que atribuímos hoje. "'Objetividade' referia-se às coisas enquanto
presentes na consciência, ao passo que 'subjetividade' referia-se às coisas nelas mesmas"
(Daston; Galison, 2007, p. 29). Em certo sentido, ao denominar de acoplamento "ativo" o
papel do homem em contraposição ao acoplamento "passivo" do empírico, Fleck retoma o
conceito de objetividade em suas origens.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
69 Para semelhanças e diferenças entre Kuhn e Fleck, ver Condé (2005). Já em A estrutura das
revoluções científicas existiam se11elhanças e divergências entre as direções tomadas pelos
dois autores. Parte considerável das divergências talvez se devesse ao fato de eles serem
provenientes de comunidades de historiadores da ciência muito distintas. As influências de
Fleck (darwinismo, escola polonesa de filosofia da medicina, sociologia do conhecimento,
crítica ao positivismo lógico) demarcam posições bastante diferentes das defendidas pela
comunidade de historiadores da ciência da qual Kuhn é proveniente (A. Koyré, H. Butterfield,
A. R. Hall, 1. B. Cohen etc.). A tradição em que Kuhn se Insere foi marcada pela Ideia de que o
desenvolvimento da ciência se faz por descontinuidade, isto é, através de revoluções cientí~cas.
Fleck passa ao largo dessa ideia e entende, a partir dos conceitos de estilo de pensamento e
coletivo de pensamento, que o desenvolvimento científico deve ser visto como um processo
contínuo em termos darwinistas, assim, a ciência tem uma "evolução" que se processa a
partir de uma "mutação" (Fleck, 2010 [1935], p. 67) e não uma "revolução", como em Kuhn.
Entretanto, em seus últimos textos, ao propor a ideia de "mutações revolucionárias", Kuhn
caminha em direção a Fleck, isto é, as divergências que restaram tendem a se tomar conver-
gências, aproximando ainda mais Kuhn de Fleck.
70 Para uma análise do ambiente histórico e da política científica no contexto de produção das
ideias de Kuhn, ver Wener, Zittel{2013).
71 Embora, por um lado, A estrutura das revoluções cient{'ficas tenha sido uma grande referência
para o desenvolvimento das abordagens sociais da ciência, por outro lado, também agradou
muito aos cientistas, historiadores da ciência de orientação intemalista e mesmo aos filó-
sofos neopositivistas. Segundo Kuhn, Koyré teria lido A estrutura das revoluções científicas
pouco antes de falecer e enviou-lhe uma carta elogiando o livro e dizendo que Kuhn teria
conseguido aproximar a história interna e a história exterm da ciência que se encontravam
separadas (Kuhn, 2000, p. 345). Camap, talvez a principcl referência do neopositivismo,
ficou entusiasmado com o livro de Kuhn, do qual foi o parecerista, exatamente para uma
publicação organizada pelo movimento neopositivista em solo norte-americano. O Irônico
é que o livro de Kuhn, com concepções nitidamente contrárias ao ideal neoposltivlsta, foi o
segundo volume do projeto neopositivista da enciclopédia da ciência unificada.
72 Kuhn salienta que por razões de espaço não tratou em profundidade as questões filosóficas
em seu livro (Kuhn, 1998 [1962], p.15). Contudo, ainda que a filosofia possa não ser o tema
central - cabendo essa função à história da ciência - o livro de Kuhn está cercado de filosofia
por todas as partes, isto é, pressupõe filosofia e implica filo;ofia.
73 Nos três momentos nos quais se refere a Fleck, Kuhn reconhece sua dívida com ele (Kuhn,
1998 [1962], p.11; 1979, p. vii-xi; 2000, p. 283), mas não precisou a extensão dessa dívida. De
qualquer modo, ao reler o livro de Fleck, já em sua edição norte-americana, ainda se diz muito
impressionado com o que o autor de Gênese e desenvolvimento de um fato cientí'fico já tinha
desenvolvido, em especial com relação à questão dos manuais na ciência (Kuhn, 1979).
74 Essa posição de Kuhn foi vista como imprecisão por alguns ou ainda como falta de demarcação
rígida entre o cientifico e o não científico. Estabelecer "critérios de demarcação" foi um ponto
importante para a epistemologia neopositivista do Círculo de Viena e, posteriormente, para
Popper. Se, por um lado, a obra magna de Kuhn foi um forte impulso para o crescimento das
abordagens extemalistas ou sociais da ciência, por outro, Kuhn declarará nunca terfeito pro-
priamente uma história externa - ainda que se preocupasse com essa discussão intemalismo
versus extemalismo (Kuhn, 2000, p. 288). Mais que mostrar uma ambiguidade, o esforço de
Kuhn é demonstrar o caráter movediço do limite entre o intemalismo e o extemalismo, bem
como a necessidade de considerar os dois lados.
75 Apesar dessa dificuldade, Kuhnsempre procurou o equilíbrio entre a natureza e o social, ainda
que esse não tenha sido o entendimento de muitos de seus seguidores, que radicalizaram
essa dimensão social na compreensão da ciência, conduzindo o conhecimento científico a
um relativismo.
76 Apesar de acentuar a importância de Fleck em diferentes momentos de seus textos, ao
fazer um balanço da epistemologia no século XX, Hacking atribui a Kuhn o ponto da virada
para essa perspectiva histórica que caracterizará a "nova imagem da ciência". Mais que
seus antecessores, Kuhn introduz definitivamente a dimensão da história nas discussões
epistemológicas {Hacking, 1983).
77 Aedição norte-americana conta a introdução como um capítulo. A edição brasileira não conta
a introdução como o primeiro capítulo, sendo assim composta: introdução, doze capítulos e
posfácio.
78 Essa é uma definição de paradigma, mas o próprio Kuhn reconhece que, ao longo do livro,
várias outras são apresentadas, tomando esse conceito polissêmico. Para uma crítica dessa
polissemia, ver Masterman (1970). Em seu posfácio, Kuhn retrabalhará o conceito de para-
digma reduzindo-o a duas categorias principais: (1) sociológica; (2) realizações exemplares
(Kuhn, 1970 [1962], 175). Essa segunda divisão está mais próxima de Fleck. Poderíamos
equiparar o conceito de paradigma kuhniano na sua acepção sociológica à noção de estilo de
pensamento. Fleck reserva a palavra paradigma para algo muito próximo à segunda acepção
de Kuhn, ao entender um experimento como "paradigma de muitas descobertas" (Fleck,
2010 [1935], p. 123). Contudo, Kuhn não ficará satisfeito com a sua noção de paradigma, ainda
que reconsiderada, e gradativamente a substituirá pela noção de léxico.
81 Publicada, em 1935, com o título de Logik der Forschung. Em português, recebeu o título de
A lógica da pesquisa cientifica. Curiosamente, essa obra aparece na referência bibliográfica do
livro de Fleck, Gênese e desenvolv:mento de um fato científico. Entretanto, Popper não é citado
ao longo do livro. Fleck teve muito pouco tempo para analisar a obra popperiana, já que seu
livro foi publicado no mesmo anc. Fleck conheceu Popper no fim dos anos 1950 na Inglaterra,
quando os dois passaram uma ta·de conversando (Schnelle, Klingberg, 2009, p. 21).
82 Segundo Gattei, que além de uma análise teórica reafiza uma descrição detalhada da preparação
do simpósio e das negociações de bastidores para sua realização, Kuhn chegou a desistir de ir,
tendo revisto sua decisão apenas após um telefonema de Popper (Gattel, 2008, p. 37-72).
83 Além dessa publicação, existem diferentes reconstruções teóricas desse debate, por exemplo:
Bloor (1976), Hacking (1983), Fuller (2004), Gattei (2008).
84 "our fntentions are often quite different when we say the sarne thing. ( ... ) That is why I call
what separates usa gestal: switch ratherthan a disagreement".
85 Bloor terá em Wittgenstein una forte referência. Sobre a obra do pensador austríaco, Bloor
escreveu artigos e livros, de qJe destaco Wittgenstein: a social theory of knowledge (1983) e
Wittgenstein: rufes and institutions (1997).
86 De acordo com os princípios do Programa Forte de Bloor, a sociologia do conhecimento científico
deveria ser: 1- Causal - condições que ocasionam as crenças ou estados de conhecimento; 2- lm-
parcial - verdade x falsidade, racionalidade x irracionalidade; 3- Simétrica - os mesmos tipos de
causas deverão explicar crenças falsas e verdadeiras; 4- Reflexiva - aplicáveis à própria sociologia.
87 Nesse sentido, o Programa Forte também se diferencia da "tese de Merton", isto é, a
tradicional "sociologia da ciência" proposta por Merton em seu livro Science, technology
and society in seventeenth-century England {Merton, 2001 [19381), que tinha proposto um
entendimento sociológico da relação entre ciência e tecnologia mostrando como elas se
influenciavam mutuamente. Contudo, esse tipo de abordagem tradicional da sociologia da
ciência centrava-se em macro fatores sociais e, assim, não avançava na compreensão do papel
dos aspectos sociais nos mecanismos de produção do conhecimento. Para uma análise da
tese de Merton, ver Shapin (1988).
88 Uma ilusão de Fleck foi ;,ensar que, em sua época, as demonstrações da sociologia do conheci-
mento já tinham comprovado definitivamente que ela poderia ser aplicada à ciência. A distinção de
Reichenbach que surgiu na mesma época irá relegar ao segundo plano as aspirações da sociologia
do conhecimento. Apenas cerca de três décadas depois, Kuhn trouxe novamente a discussão para
o foco da epistemologia e, na década seguinte, o Programa Forte retoma esse projeto de fazer
da sociologia do conhec·mento também uma sociologia do conhecimento científico.
89 A expressão, segundo Wlttgenstein, refere-se à filosofia de maturidade do filósofo austríaco,
caracterizada, sobretudo, por seu livro Investigações filosóficas, em oposição radical à sua
filosofia presente no Tractatus lógico-philosophicus. Este livro de juventude muito influenciou
o Círculo de Viena.
90 "Wittgenstein has ( •.. ) :aken the basic arithmetlcal process of using a formula and shown
the necessity of embedding it in standardized social practice. The crucial terms are socio-
loglcal: 'the way we always use it', 'the way we are taught to use it'. This means that, from
this perspectlve every instance of the use of a formula is the culmination of a process of
sociallzation. Every communlcation lnvolving a formula stands witness to the existence of a
custom, a particular soáal practice."
041
1 MAURO Wao LET.., COND<
esse processo de construção do conhecimento. Bloor nos pergunta:
"a aceitação de uma teoria por um grupo social a torna verdadeira? A
única resposta a ser dada é 'não"' (Bloor, 2008 (1976], p. 73). Não existe
uma conexão necessária entre a crença de um grupo e a verdade dessa
crença. Podemos acreditar em premissas falsas. Contudo, independente
da verdade ou não desse conhecimento, uma vez que ele se torna uma
crença, para Bloor, ele orienta a visão de mundo do grupo. Continua o
autor de Conhecimento e imaginário social, "a aceitação de uma teoria
a torna o conhecimento de um grupo, ou faz que ela seja a base para
o seu entendimento e a sua adaptação ao mundo? A única resposta a
ser dada é 'sim"' (Bicor, 2008 (1976], p. 73). Enfim, para o Programa
Forte, vemos o mundo radicalmente pela ótica do social, o que torna
qualquer negociação extremamente importante na determinação do
nosso conhecimento sobre ele. Como os conhecimentos do grupo - ou
os paradigmas kuhnianos - são circunscritos às suas próprias regras
institucionais e, para o Programa Forte, tais regras são determinantes
na constituição do conhecimento, em última instância, caracteriza-se
uma perspectiva relativista. 91
A obra escrita a partir da orientação do Programa Forte que
atraiu a crítica de Kuhn foi o livro Leviathan and the Air-Pump: Hobbes,
92
Boyle and the experimental life, de Shapin e Schaffer. Este livro é muito
significativo, não apenas por ser alvo da crítica de Kuhn, mas em especial
devido ao seu extraordinário alcance, tendo se tomado um dos clássicos
da historiografia da ciência. Nele, os autores abordam a querela entre
Hobbes e Boyle sobre a existência ou não do vácuo. Em sua crítica ao
Programa Forte, Kuhn afirma que, a fim de demonstrar a teoria da
negociação na ciência, seus autores não exploram adequadamente os
aspectos metodológicos e experimentais, possíveis naquele momento,
que seriam muito importantes para orientar as discussões entre Hobbes
91 Para uma abordagem do problema de relativismo no Programa Forte, ver Hollls, Luke (1982).
92 Embora os autores definam o livro corno um "exercício de sociologia do conhecimento cien-
tífico" (Shapin, Schaffer, 1985, p. 15), em diferentes passagens eles definem a abordagem do
livro a partir da ideia de "forma de vidê" de Wittgenstein (Shapln, Schaffer, 1985, p. 18, 20, 22).
A própria natureza, seja lá o que for isso, parece não ter papel
algum no desenvolvimento das crenças a seu respeito. Ofalar
de evidências, da racionalidade de asserções extraídas dela e
da verdade ou probabilidade dessas asserções foi visto como
simplesmente a retórica atrás da qual a parte vitoriosa esconde
seu poder. O que passa por conhecimento científico torna-se,
então, apenas a crença dos vitoriosos. Eu estou entre aqueles
que consideram absurdas as afirmações do programa forte: um
exemplo de desconstrução desvairada. E, em minha opinião,
as formulações históricas e sociológicas mais moderadas que
procuram depois substituí-lo dificilmente são mais satisfatórias.
Essas formulações mais recentes reconhecem francamente
que as observações da natureza desempenham, de fato, algum
papel no desenvolvimento científico, mas continuam, na prá·
tica, não dando informação alguma acerca desse papel - isto,
acerca do modo pelo qual a natureza entra nas negociações
que produzem crenças a seu respeito (Kuhn, 2006, p. 139).
061
1 MAUl<O Lolao LETÃO CONO,
construtivistas como a proposta pelo Programa Forte e, em certo sentido,
Kuhn mostra a importância de uma abordagem internalista atenta aos
detalhes técnicos das teorias e experimentos. O pensadornorte-america-
no procura mostrar a.ssim que Boyle, mais que do que uma boa retórica,
tinha muitos motivos "racionais" para defender sua perspectiva contra
Hobbes. Esse tipo de inconsistência, para Kuhn, desacredita várias das
análises da nova historiografia da ciência (Kuhn, 2006, p. 379). É certo
que, para Kuhn, existe "negociação" na ciência em certos casos, mas em
outros ela é apenas uma metáfora e não devemos nunca desconsiderar
o papel da natureza quando fazemos história da ciência, mesmo tendo a
compreensão de que aspectos históricos são essenciais. A partir de sua
crítica, Kuhn não pretende apenas apontar os erros dessas perspectivas
socioconstrutivistas ou descartá-las, mas buscar entender as dificuldades
que elas colocavam para superar tais problemas.
93
Enfim, o que Kuhn está criticando não é a atribuição da
importância do social, mas o excessivo papel da negociação na ciência
94 Exatamente no mesmo ano da morte de Kuhn, 1996, Alan Sokal publicou o seu famoso
pastiche "Transgressing the boundaries: toward a transformative hermeneutics of quantum
gravity" no periódico Social Text(Sokal, 1996), iniciando um acirrado debate sobre os excessos
do relativismo, pós-modernismo, usos e abusos de conceitos científicos nas humanidades.
No ano seguinte, juntamente com Jean Brlcmont, Sokal lançará Imposturas intelectuais, um
livro com mais detalhes de sua crítica, incluindo aí o Programa Forte (Sokal, Bricmont, 2006
[1997]). Esse livro contém uma reedição do artigo de Sokal. Para uma análise da querela que
recebeu o nome de "guerra das ciências", ver Ávila (2013).
97 O irônico é que, ao fazer o parecer de A estrutura das revoluções científicas, Camap perce-
beu - antes do próprio Kuhn - essa possibilidade de estender o modelo da evolução para a
epistemologia, ver Gattei (2008, p.180) e Condé (2012a, p. 314-315).
98 Para uma comparação entre Kuhn e Wittgenstein, ver Condé (2013).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
101 É conhecida a afirmativa de Lacan segundo a qual o inconsciente está estruturado como
uma linguagem (l'inconscient est structuré comme un langage) (Lacan, 1981, p. 187). Não
se trata aqui de fazer comparações com a psicanálise lacaniana, mas, em uma perspectiva
social, como a defendida por Fleck, Kuhn e Wittgenstein, poderíamos dizer que o próprio
inconsciente estruturado como uma linguagem Já seria reflexo do social estruturado como
uma linguagem. O inconsciente reflete as estruturas sociais que são linguísticamente orien·
tadas. Embora tenha um amplo espaço de diferenciação de sua subjetividade, o sujeito é
formado a partir do social, vê e age pelos olhos do coletivo. Certamente, não se trata de
afirmar que o inconsciente tenha o mesmo discurso do social (para a psicanálise ele tem
suas regras próprias), mas apenas enfatizo aqui a similitude da estruturação linguística. Em
última instância, apresentada no social.
102 A influência de Wittgenstein na filosofia da ciência se deu, inicialmente, com o grande im·
pacto do Tractatus logico-philosophicus no Círculo de Viena. Em sua segunda filosofia, suas
contribuições recaem na filosofia da matemática e na filosofia da psicologia.
2 A GRAMÁTICA DA CIÊNCIA
103 "L'attitude philosophlque qui à la longue s'avere bonne n'est pas celle de l'empirisme posi-
tiviste ou pragmatis1e, mais, au contraire, celle du réalisme mathématique".
1341 MAu,aUlao""ÃOCON..
e nem a ciência experimental pode nos fornecer respostas plausíveis,
mas essas seriam sempre respostas pelo "porquê" histórico e não pelo
"como" esses conhecimentos surgiram. Ao desqualificar as respostas
psicossociológicas, Koyré conclui que a Grécia não usou a tecnologia,
mas apenas a técnica, porque para criar a tecnologia era preciso antes
criar a ciência, e essa, apenas os modernos criaram.
Em certo sentido, essa resposta de Koyré está no âmbito da
"gramática da ciência" inspirada em Wittgenstein e com a qual podemos
dizer que existem paralelos entre conhecimento científico e tecnológico,
pois ambos são produtos da mesma gramática. Certamente, a tecnologia
não poderia ser criada antes da ciência. Não podemos compreender ciên-
cia e tecnologia isoladamente, já que o sentido de ambas é peculiar ao
contexto da ciência moderna, na qual se desenvolveram conjuntamente.
A ciência moderna, como postulado pela "tese de Zilsel", é um tipo de
propriedade emergente que surge da somatória destas duas formas
de conhecimento: o saber prático e o saber teórico. Contudo, Zilsel
não desenvolveu os mecanismos linguísticos que mostrassem "como"
esse processo efetivamente se deu. A gramática da ciência moderna
mostra-nos exatamente o modo "como" esses conhecimentos se insti-
tucionalizaram dentro de certo contexto (forma de vida) propício para
tal, ainda que essa gramática tenha pouco a nos dizer sobre o "porquê"
histórico disto ter ocorrido. Neste último ponto, a "tese de Zilsel" tem
muito mais a nos dizer.
Koyré jamais aceitou a resposta sociológica (histórica ou psi-
cossociológica ). Para ele, a partir de uma mera explicação sociológica,
Siracusa jamais poderia conceber Arquimedes, assim como Florença
não conceberia Galileu (Koyré, 1971 (1961], p. 323-324), pois, mesmo
que as condições institucionais "necessárias" para se produzir a ciência
estivessem aí presentes, segundo Koyré, estas ainda não seriam "condi-
ções suficientes" de ordem metafísica. Contudo, contrariamente a essa
posição, na perspectiva da gramática da ciência, essas sociedades - ao
produzirem as estruturas institucionais que possibilitaram a existência
desses pensadores - estabeleceram aí também as "condições suficien-
105 "Descartes, lui, en tire une conclusion exactement opposée, à savoir celle de la possibilité
de faire pénétrer la théorfe dans l'action, c'est-à-dire, de la possibllité de la conversion de
l'lntelligence théorique auréel, de la possibílité à la fois d'une technologie et d'une physlque."
106 "Ce n'est pas du développement spontané des arts industrieis par ceux qui les exercent, c'est
de la converslon de la theorie à la pratique que Descartes attend les progres qui rendront
l'homme 'maitre et possesseuer de la nature'."
107 "li est vrai également que ce nesont pas seulement les instruments de mesure qui manquent,
mais le langage qui aurait pu servir à en exprimer les résultats".
108 "C'est ne pas l'fnsuffisance technique, c'est l'absence de l'idée qui nous foumit l'éxplication".
109 "Quelles que soient les idées para· ou ultra-sclentifiques que aient guidé un Kepler, un
Descartes, un Newton, ou même un Maxwell vers leurs découvertes, elles n'ont, en fin de
compte que peu - ou pas - d'importance. Ce qul compte, c'est la découverte effectlve, la
foi établi, la foi des mouvements planétaire et non l'Harmonie du Monde, la conservation
du mouvement et non l'immLtabilité divine".
110 Para a visão de diferentes críticas ao Programa Forte, além das comentadas por Bloor na
segunda edição de seu livro, ver Haddock (2004) e Sokal, Bricmont (2006 [19971).
111 Shapin e Schaffer salientam que o livro também está ancorado nas pioneiras ideias de Fleck
(Shapin, Schaffer, 1985, p. 16). En:retanto, talvez Fleck não concordasse com a posição
relativista do Programa Forte. Para uma crítica de Bloor a Fleck, ver Bloor (1986).
112 "Hobbes and Boyle specified the rules and conventions of dlffering philosophical forms of life".
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
11
UM PAPEL PARA A HISTÓRIA" 1
O problema da historicidade da ciência 153
objetivo seria compreender as regras da natureza, ainda que a partir do
condicionamento social. A ciência recebe a influência de valores sociais,
mas a referência da natureza é um elemento central nesse processo.
Com o propósito de aprofundar como a ideia de historicidade da ciência
se desenvolveu na historiografia da ciência, analisei alguns dos autores
mais significativos para a compreensão dessa questão.
Inicialmente, abordei as ideias de Koyré e Zilsel no debate
conhecido como interna!ismo versus externalismo na história da ciên-
cia. Vimos que, ao discutir as origens da ciência moderna, essa querela
expandiu as possibilidades de compreensão da história da ciência. A
posição que ficou conhecida como internalismo ampliou a compreensão
do papel das ideias científicas na formação da ciência moderna. Por sua
vez, a concepção conhecida como externalismo, ao abordar os aspec-
tos sociais e tecnológicos na constituição do conhecimento científico,
possibilitou-nos uma melhor compreensão da relação entre ciência e
sociedade. Contudo, ainda que tenha sido muito importante para nosso
entendimento do funcionamento da ciência, esse debate não avançou
a questão da historicidade da ciência. Ele mais definiu parâmetros
metodológicos - internalista e externalista - de abordagem da ciência
do que propriamente estabeleceu uma discussão epistemológica que
aproximasse as duas abordagens.
Longe do debate internalismo versus externalismo, Ludwik
Fleck, embora não tenha usado a expressão "historicidade da ciência",
propôs a ideia de que o resultado final do conhecimento científico sofre
grande influência do contexto social e histórico no qual se realiza, isto
é, ele concebeu a tese da "historicidade da ciência". Fleck constrói uma
perspectiva epistemológica na qual a história e as práticas sociais, além
dos próprios aspectos científicos, tornam-se essenciais para a com-
preensão da produção da ciência. Infelizmente, a obra de Fleck teve uma
recepção dificultada por muitos fatores e parece que ainda temos muito
o que aprender com ele. Contudo, temos que admitir que dificilmente
suas ideias possam atingir o alcance da obra de seu sucessor Thomas
Kuhn. Em um sentido mais amplo, muitas das ideias semelhantes dos
_ _. The role of discoveries insocial science. ln: SHANIN, T. (Ed.). The rules of the
game: cross-disciplinary essays on models in scholarly thought. London, New York:
Tavistock Publications, 1972. p. 276-302. (Republicado pela editora Routledge em 2001.)
_ _. Ludwig Fleck and the Development of the Sociology of Science. ln: GLEI-
CHMAN N, P. R.; GOUDSBLOM, J.; KORTE, H.; ELIAS, N. (Eds.). Human figurations.
Essays for/aufsãtze für Norbert Elias. Amsterdam: Amsterdams Sociologisch Tijds-
chrift, 1977. p.135-156.
_ _. Das exoterische Paradox der Wissenschaftsforschung: Ein Beitrag Wissens-
chaftstheorie Ludwik Flecks. Zeitschri~ für allgemeine Wissenscha~stheorie, v. X, n.
2, p. 213-233, 1979.
BLOOR, D. Wittgenstein and Manheim on the sociology of mathematics. Studies in
History and philosophy of sciences, v. 4, n. 2, 1973.
CARRI ER, M. Historical epistem::>logy: on the diversity and change of epistemic values
in science. Berichte zur Wissenschaftsgeschichte, v. 35, n. 3, p. 239-251, 2012.
CHWISTEK, L. Ein interessantes Buch. ln: WERN ER, S.; ZITTEL, C. ( Org. ). Ludwik F/eck:
Denkstile und Tatsachen. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2011. (Trabalho original
publicado em 1936.)
COHEN, R.; SCHNELLE, T. (Eds.). Cognition and fact: materiais on Ludwik Fleck. Dor-
drecht: Reidel Publish Company, 1986.
_ _• Gattei's Thomas Kuhn's linguistic tum and the legacy of logical empiricism:
incommensurability, rationality and the search for truth. Philosophy of the social
science, v. 42, n. 2, p. 312-320, 2012b.
_ _ (Org.). Ludwik F/eck: estilos de pensamento na ciência. Belo Horizonte: Fino
Traço, 2012c.
FEHR, J.; JAS, N.; LÕWY, 1. (Eds.). Penser avec Fleck- lnvestigating a life studying life
sciences. Zurich: Collegium Helveticum Hefte, 2009.
_ _. On the crisis of "reality". ln: COHEN, R.; SCHNELLE, T. (Eds.). Cognition and
fact: materiais on Ludwik Fleck. Dordrecht: Reide! Publish Company, 1986a. (Trabalho
original publicado em 1929.)
___• The problems of epistemology. ln: COHEN, R.; SCHNELLE, T. (Eds.). Cogni-
tion and fact: materiais on Ludwik Fleck. Dordrecht: Reide! Publish Company, 1986b.
(Trabalho original publicado em 1936.)
_ _. Crisis in science. ln: COHEN, R.; SCHNELLE, T. (Eds.). Cognition and fact: mate-
riais on Ludwik Fleck. Dordrecht: Reidel Publish Company, 1986d. (Trabalho original
publicado em 1960.)
FREIRE Jr., O. Sobre as raízes sociais e econômicas dos Principia de Newton. Revista
da SBHC, n. 9, p. 51-64, 1993.
FREUDENTHAL, G.; MCLAUGHLIN, P. Classical marxist historiography of science: the
Hessen-Grossman-thesis. ln: FREUNDENTHAL, G.; MACLAUGHLIN, P. (Eds.). Thesocial
and economic roots of the scientific revolution. Berlin: Springer, 2009.
_ _. Kuhn vs. Popper: the struggle for the soul of science. New York: Columbia .
University Press, 2004.
GRAF, E. O. Habent sua fata libelli - le destin des livres. ln: FEHR, J.; JAS, N.; LÕWY, 1.
( Orgs. ). Penser avec Fleck- investigating a life studying life sciences. Zurich: Collegium
Helveticum, 2009.
GROSSMAN, H. Descartes and the social origins of the mechanistic concept of the
world. ln: FREUNDENTHAL, G.; MACLAUGHLIN, P. (Eds.). The social and economic
roots of the scientific revolution. Berlin: Springer, 2009a. (Trabalho original publicado
em 1935.)
HAVEN, D.; KROHN, W. Krohn. Edgar Zilsel: his life and work (1891-1944). ln: ZILSEL,
E. The social origins of modern science. Boston: Kluwer Academic Publishers, 2000.
_ _• The social and economic roots of Newton's Principia. ln: FREUDENTHAL, G.;
MCLAUGHLIN, P. (Eds.). The social and economic roots of the scientific revolution.
Berlin: Springer, 2009. (Trabalho original publicado em 1931.)
HOLLIS, M.; LUKES, S. (Eds.). Rationality and relativism. Cambridge: The MIT press,
1982.
HORWICH, P. (Ed.). World Changes: Thomas Kuhn and the nature of science. Cam-
bridge: MIT Press, 1993.
___. Remarques sur les paradoxes de Zénon. ln: KOYRÉ, A. Étude d'histoire de la
pensée philosophique. Paris: Gallimard, 1971. (Trabalhos originais publicados em 1921
e 1961.)
___• Étude d'histoire de la pensée philosophique. Paris: Gallimard, 1971. (Trabalho
original publicado em 1961.)
_ _. Étude d'histoire de la pensée scientifique. Paris: Gallimard, 1973. (Trabalho
original publicado em 1966.)
___. Metaphysics and measurement. NewYork: Gordon and Breach Science, 1992.
(Trabalho original publicado em 1968.)
_ _. Estudos de história do pensamento filosófico. Trad. M. Ramalho. Rio de Janeiro:
Forense, 2011.
KUHN, T. The structure of scientific revolution. Chicago: The University of Chicago
Press, 1970a. (Trabalho original publicado em 1962.)
_ _. Logic of discovery or psychology of research? ln: LAKATOS, I.; MUSGRAVE,
A. (Eds.). Criticism and the growth of the knowledge. London: Cambridge University,
1970b.
_ _. Alexandre Koyré and the history of science. Encounter, n. 21, p. 67-69, 1970c.
_ _. The history of science. ln: KUHN, T. The essential Tension. Chicago: The Uni-
versity of Chicago Press.1977.
_ _. Foreword. ln: FLECK, L. Genesis and development of a scientific fact. Chicago:
The University of Chicago, 1979.
_ _. The Copernican revolution. Cambridge: Harvard University Press, 1985. (Tra-
balho original publicado em 1957.)
. A estrutura das revoluções científicas. Tradução de Beatriz Boeira e Nelson
Boeira. São Paulo: Perspectiva, 1998. (Trabalho original publicado em 1962.)
_ _• The road since structure. Chicago: The University of Chicago, 2000a .
. The trouble with the historical philosophy of science. ln: The road since structu-
re. Chicago: The University of Chicago, 2000b. [Trabalho original publicado em 1992].
LÕWY, 1. The polish schoo/ of phi/osophy of medicine: from Tytus Chalubinski {1820-
1889) to Ludwik Fleck (1896-1961). Dordrecht: Kluwer, 1990.
MAIA, C. A. Kuhn: ator conservador ou autor revolucionário?. ln: CONDÉ, M. L.; PEN-
NA-FORTE, M. {Orgs.). Thomas Kuhn e a estrutura das revoluções científicas [50 anos].
Belo Horizonte: Fino Traço, 2013.
POPPER, K. Normal sciences and its dangers. ln: LAKATOS, 1.; MUSGRAVE, A. (Eds.).
Criticism and the growth of the knowledge. London: Cambridge University, 1970.
PRICE, D. J.S. The Science of the scientists. Medical opinion and review, 1: 81-97, 1966.
RORTY, R. Um mestre iconoclas~. Folha de São Paulo, São Paulo, 06 out. 1996. Caderno
Mais, Seção autores, p. 05.
ROSSI, P. Os filósofos e as máquinas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. {Trabalho
original publicado em 1962.)
SALOMON, M. Alexandre Koyré: nota sobre sua trajetória intelectual. ln: SALOMON, M.
{Org.).Alexandre Koyré: historiador do pensamento. Goiânia:Almeida & Clement, 2010.
SCHÃFER, L.; SCHNELLE, T. {Eds.). Ludwik F/eck: Erfahrung und Tatsache. Frankfurt
am Main: Suhrkamp, 1983.
SCHLICK, M. Carta de Schlick a Fleck, 16 de março de 1934. ln: WERNER, S.; ZITTEL, C.
(Org.). Ludwik Fleck: Denkstile und Tatsachen. Frankfurt am Main: Suhrkamp, 2011,
p. 562-563.
SCHNELLE, T. Ludwik Fleck - Leben und denken: Zur Entstehung und Entwic~lung
des soziologischen Denkstils in der Wissenschaftsphilosophie. Freiburg: Hochschul
Verlag, 1982.
SCHNELLE, T.; KLINGBERG, M. Reminiscence. ln: FEHR, J.; JAS, N.; LÕWY, 1. (Orgs.).
Penser avec Fleck - investigating a life studying life sciences. Zurich: Collegium Hel-
veticum, 2009.
SHAPI N, S. Zilsel thesis. ln: BYN UM, W. et ai. Dictionary of the history of science. Prin-
ceton: Princeton University Press, 1981.
_ _• Discipline and bounding: The history and sociology of science as seen through
the externalism-internalism debate. History of Science, v. 30, p. 333-369, 1992.
SHAPIN, S.; SCHAFFER, S. Leviathan and the air-pump: Hobbes, Boyle and the experi-
mental life. Princeton: Princeton University Press, 1985.
SOKAL, A.; BRICMONT, J. Imposturas intelectuais. Rio de Janeiro, São Paulo: Record,
2006. (Trabalho original publicado em 1997.)
TREN N, T. Preface. ln: FLECK, L. Genesis and development of a scientific fact. Chicago:
The University of Chicago, 1979.
WERNER, S.; ZITTEL, C. (Orgs.). Ludwik Fleck: Denkstile und Tatsachen. Frankfurt am
Main: Suhrkamp, 2011.
_ _. Investigações filosóficas. Tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cul-
tural, 1979. (Trabalho original publicado em 1953.)
_ _• The social roots of science. ln: ZILSEL, E. The social origins of modem science.
Dordrecht, Boston, London: Kluwer Academic Publishers, 2000. (Trabalho original
publicado em 1939.)
_ _• The origins ofWilliam Gilbert's scientific method. ln: ZILSEL, E. The social origins
of modern science. Dordrecht, Boston, London: Kluwer Academic Publishers, 2000.
(Trabalho original publicado em 1941.) ·
_ _. The sociological roots of science. ln: ZILSEL, E. The social origins of modem
science. Dordrecht, Boston, London: Kluwer Academic PLblishers, 2000. (Trabalho
original publicado em 1942.)
Acoplamento ativo 82-83, 115. Condições suficientes 41, 55, 62, 131-133, 135-136,
Acoplamento passivo 82-83, 115. 138, 140-141.
Conhecer / conhecimento 20-22, 24-25, 27-29,
Arquimedes 43, 135-136.
32-33, 37, 40, 45-49, 51, 53·54, 56-67, 69-70, 73-
Ars49. 75, 77-84, 86-90, 95, 97-100, 102-107, 109, 111,
Arte 47-51, 60, 79, 89, 99,100,102,127, 137, 139-140. 113, 115-116, 119-122, 128, 131-142, 144-146, 148,
Artefato 44, 49, 52, 55, 13), 156. 150-152, 154, 156.
Artesão 26, 31-32, 41-42, 4S·47, 49, 51-52, 55, 58. Contexto de descoberta 89, 94,
Artesão-engenheiro 26, 32, 39-40, 46-47, 49, 58. Contexto de justificativa 89, 94.
Atitude metafísica 25, 3z, 42-44, 129-132, 138, Copérnico 45, 53, 113.
141,150. Cultura 20, 46, 48-49, 72, 85, 89, 93, 104, 108, 112,
Autonomia 33, 129-130, 139, 143. 149,153, 155-156.
Autonomia da ciência 57, 129-130, 138, 151. Da Vinci, Leonardo 39, 46.
Bacon, Francis 37-38, 41, 51, 57, 136. Darwin, Charles 110,149.
Bicor, David 27, 29-30, 64, 68, 86, 97·99, 102-105, Descartes, René 37-39, 41, 57, 136-137, 139.
107-108, 117,122, 127-128, 141-143. Durkheim, Émile 64, 83, 102.
Boyle, Robert 105-107, 117. 142-144, 147-149. Einstein, Albert 36.
Capitalismo 46-48, 58. Engenheiros romanos 26, 57-58, 131, 141.
Carnap, Rudolph 32, 71, 71., 88, 111. Eplsteme 22, 50-53, 134.
Categoria 82, 91, 113-114, 120, 142. Epistemologia 19, 21-23, 27, 38, 61, 64-68, 70,
Ciência 19-29, 31-33, 36-45, 47-58, 60-62, 64-72, 73·75, 79-81, 84, 87, 89-90, 94-95, 97, 103, 109,
74-75, 77-78, 82-97, 99-105, 107-108, 110, 113, 111, 116, 123, 128.
115-117, 119-123, 126-142, 144, 147, 150-151, 153-157. Epistemologia histórica 21-22, 67, 128.
Ciência moderna 25-26, 31-32, 35-36, 38-43, 45-48, Est!lo de pensamento 39, 44, 64, 68-69, 71-73,
50-52, 55, 57-58, 110, 131-133, 135, 151, 154. 75-81, 87, 91, 155.
Ciência normal 78, 92, 110. Especiação 109, 111, 113, 140.
Círculo de Viena 34, 46, 70-71, 73-74, 76, 81, 89, Evolução / evolucionária 75-76, 87, 98, 109-111,
94-95, 97, 103, 120·121, 123. 113-114, 117.
Coisa em si (Ding an sich) 114, 120, 142. Falseabilidade / Falsificação 95-96.
Coletivo de pensamento 62, 69-70, 72-73, 76, Fato 23, 25, 27, 36-37, 39, 42, 59-60, 63-64, 69-71,
79-81, 87, 115. 73-76, 81, 83-84, 88, 94·95, 98, 108, 111, 114, 120,
Condicionamento 62, 67, 74, 76-77, 154. 136, 145-147, 149-151, 156.
Condições necessárias 41.42, 55, 61, 131-133, 136,
138,141.
Gramática 112, 114, 119, 123-127, 129-131, 133-135, Metafísica 37, 42, 44, 58, 74, 114, 127-128, 130, 132,
137-141, 145-152, 156; profunda 125-126; de 134-135, 140-141, 151.
superfície 125. Método 31, 39, 48, 52, 73, 95.
Gramática da ciência 28-29, 119, 122-123, 126, 128, Modernidade 22, 31, 43, 47-48, 50, 52-53, 71, 133.
130-133, 135, 138-141, 145-151, 156-157. Mudança de paradigma 78, 86, 91-92, 111, 155.
Grossmann, Henryk 25, 36, 39-40, 47. Mutações 39, 75, 78, 81, 87, 110, 155.
Hegel, Wilhelm 22, 38. Natureza 22-23, 25, 28, 32, 36, 39-42, 45, 51-52,
Hessen, Boris 25, 36, 40, 47. 56, 60, 68, 72, 82, 82-86, 89-90, 92-93, 99-100,
História da ciência 19-25, 27, 29, 31, 33-38, 40, 44· 102-104, 106·108, 113-114, 116, 118, 121-123, 128, 137,
45, 54, 57-58, 60-61, 65, 67, 78, 84-88, 94, 97, 142, 144, 150-151, 153-156.
102, 107, 116, 118, 144, 154-156. Negociação 23, 96, 100-102, 105-108, 117, 122, 140,
Historicidade da ciência 21-22, 24, 26-29, 32-33, 142, 144-145, 147, 151.
53·54, 56, 58-62, 65-66, 68, 72, 74, 77, 84-88, 90, Neopositivisno 32, 70-71, 74·75, 83-88, 94, 97,
97-98, 116, 118-119, 121, 150, 153-156. 104, 145, 153.
Hobbes, Thomas 105-107, 117, 142-143, 147-149. Newton, Isaac 35-36, 40, 45, 139.
Husserl, Edmund 35-36, 38. Objeto 21, 29, 44, 65, 73, 81-82, 97-98, 103, 114, 119,
Hume, David 95. 138, 145-147, 150-151, 156.
Iluminismo 93, 108, 117. Paradigma 78, 81, 86, 91-93, 97-100, 105, 109-111,
114, 117, 148, 155.
Incomensurabilidade / Incomensurável 77, 81,
92-93, 98, 100, 109, 112, 148, Paradoxo 23, 35, 61.
Individualismo 48,53. Platão 38-39.
lnternalismo / Extemalismo 24-26, 28-29, 31-36, Platonismo 36-39.
44·45, 53-58, 60-62, 68, 84, 87-90, 94, 114, 119, Política 60, 87, 89, 99-100, 102, 127, 132, 134, 140,
122, 128-131, 134,141, 150-151, 154-155. 142,144.
Intersubjetividade/ intersubjetivo 152. Popper, Karl 27, 30, 70, 86, 89, 93-99, 101, 104,
Jogos de linguagem 56, 112, 114, 121, 123-128, 130, 108, 116-117.
137, 145-148, 150-151, 156. Pragmática da linguagem 28, 123, 130-131, 133,
Kepler, Johannes 53, 139. 138, 145, 150.
Koyré, Alexandre 24-26, 29-45, 47, 50-51, 54-58, Pré-ideia 71, 88.
60, 62-63, 71, 80, 87-88, 110, 122, 127-132, 134- Programa Forte 27, 29-30, 68, 83, 86, 99, 102-108,
141, 150-151, 154. 110, 117, 122, 129-130, 140-144, 151.
Kuhn, Thomas 24, 26-28, 30, 32-35, 38, 54, 56-57, Protoldeia 71, 76, 81.
60, 63-64, 66-72, 77-78, 81, 83-94, 96-122, 128-130, Racionalidade 36, 99, 102, 106, 123, 126-127, 148,
140-144, 148, 154-156.
150,156.
Leviothan 105,117,142,147.
Racionalismo crítico 94-95, 117.
Levy-Bruhl 64.
Razão 39, 69, 108, 113, 139.
Léxico 28, 91, 109, 111-114, 120, 139, 142.