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CONFIGURAÇÕES E ANÁLISES NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Raimundo Dutra de Araújo
Neuton Alves de Araújo
Organização
ESTÁGIO SUPERVISIONADO:
CONFIGURAÇÕES E ANÁLISES NA
FORMAÇÃO DE PROFESSORES
2020
Conselho Editorial
Dr. Clívio Pimentel Júnior - UFOB (BA)
Dra. Edméa Santos - UFRRJ (RJ)
Dr. Valdriano Ferreira do Nascimento - UECE (CE)
Drª. Ana Lúcia Gomes da Silva - UNEB (BA)
Drª. Eliana de Souza Alencar Marques - UFPI (PI)
Dr. Francisco Antonio Machado Araujo – UFDPar (PI)
Drª. Marta Gouveia de Oliveira Rovai – UNIFAL (MG)
Dr. Raimundo Dutra de Araujo – UESPI (PI)
Dr. Raimundo Nonato Moura Oliveira - UEMA (MA)
Dra. Antonia Almeida Silva - UEFS (BA)
ESTÁGIO SUPERVISIONADO:
CONFIGURAÇÕES E ANÁLISES NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
© Raimundo Dutra de Araújo - Neuton Alves de Araújo
1ª edição: 2020
Editoração
Acadêmica Editorial
Diagramação
Danilo Silva
Capa
Acadêmica Editorial
Reprodução e Distribuição
CAJU: Educação, Tecnologia e Editora
Ficha Catalográfica elaborada de acordo com os padrões estabelecidos no
Código de Catalogação Anglo – Americano (AACR2)
ISBN: 978-65-88307-35-5
CDD: 370.71
Bibliotecária Responsável:
Nayla Kedma de Carvalho Santos – CRB 3ª Região/1188
DOI: 10.29327/523736
Link de acesso: https://doi.org/10.29327/523736
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.....................................................................................................
APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 11
ÍNDICE REMISSIVO.
REMISSIVO............................................................................................. 366
11
APRESENTAÇÃO
Tomar o estágio supervisionado na formação docente como objeto
de reflexão pode contribuir para a ampliação do conhecimento sobre as
possibilidades de aprendizagem nos processos formativos, haja vista que o
estágio é compreendido como espaço de aprender a ser professor. Nesse
contexto, esta coletânea traz textos que partem da compreensão de que o
estágio ocupa um lugar importante na formação docente, influenciando de
forma incisiva na prática pedagógica do professor.
Desse modo, o estágio caracteriza-se como um momento fundamental,
pois possibilita ao aluno-futuro professor a vivência de situações de
aprendizagem que favorecem a edificação de uma prática pedagógica dinâmica,
permeada pela relação reflexão-ação-reflexão, buscando atender as demandas
da sociedade moderna, num processo investigativo e produtor de diferentes
saberes.
É nessa perspectiva que esta obra está inserida. No contexto de formação
de um profissional que integre conhecimentos específicos e pedagógicos que
favoreçam a compreensão da ação educativa para a assunção de novas práticas
pedagógicas dentro de uma postura crítica, produzindo uma ciência pedagógica
fundamentada teoricamente.
Assim, os textos aqui apresentados possibilitam a reflexão sobre os
processos de elaboração dos saberes docentes necessários à prática pedagógica
a ser realizada na sociedade contemporânea, possuindo como base a concepção
de que o estágio supervisionado desempenha um importante papel na produção
dos saberes científicos e pedagógicos necessários à atividade docente, numa
compreensão de que as instituições formadoras deverão percebê-lo como um
componente curricular essencial no processo de formação.
Além disso, numa dimensão reflexiva da prática pedagógica, o estágio
supervisionado é concebido como um espaço de múltiplas relações, com a
finalidade de favorecer o conhecimento da realidade profissional, através de
um processo de análise, problematização, reflexão, proposição de alternativas,
intervenção e redimensionamento da ação.
Os autores que participam deste livro convergem para o pensamento de
que o estágio é parte do processo de formação do professor e que envolve a teoria
e a prática concomitantemente, sugerindo uma relação de proximidade entre o
conhecimento construído nos bancos universitários e o lócus da ação docente
em uma visão mais profunda das relações que envolvem a formação docente.
Essa relação de proximidade que busca primeiramente mediar o conhecimento
APRESENTAÇÃO
12
teórico com a prática, não pode ser desvinculada de um debate intenso com os
acadêmicos em formação, os professores universitários e os professores dos
locais de estágio.
E é assim, defendendo a condição de que o professor é produtor e
mobilizador de saberes, e que o estágio é um espaço primordial para essa
construção e mobilização, que esta obra coloca em evidência os pensamentos
dos autores, por meio dos textos que estão organizados em duas partes. Na
parte I, os trabalhos apresentam experiências vivenciadas por supervisores e
estagiários em diversos cursos de formação docente, colocando em evidência
práticas baseadas numa concepção de estágio como pesquisa e situação de
aprendizagem.
Na parte II, os textos proporcionam a reflexão sobre as diversas
concepções de estágio existentes nos processos formativos de professores,
contribuindo para que os leitores possam compreender os modos de ocorrência
das diversas formas de experiência do estágio, instigando análises e
investigações acerca da temática.
Enfim, a presente obra poderá contribuir para a ampliação e o
aprofundamento dos estudos relativos à formação de professores, de forma
mais específica ao Estágio Supervisionado, sendo um instrumento que poderá
colaborar para a elaboração de projetos formativos, avaliação das práticas e
trabalhos existentes, bem como, fomentar uma perspectiva de consideração do
estágio enquanto etapa importante do processo de formação, tomando-o como
oportunidade de construção e mobilização de múltiplos saberes.
É uma leitura imprescindível para formadores de professores, estudantes
das licenciaturas, professores da Educação Básica e da Educação Superior,
gestores educacionais e pesquisadores da área da educação.
PARTE I
Experiências e vivências de estágio com
pesquisa e situações de aprendizagem
14
Introdução
Este artigo nasce do desejo de contribuir com a discussão relativa
ao estágio curricular supervisionado do curso de Pedagogia, em espaços
educativos não escolares e representa um esforço em direção ao nosso processo
formativo, cuja inspiração está em Nóvoa (2002, p.38-39) quando lembra que a
“formação contínua deve implicar em investimento pessoal, um trabalho livre e
criativo sobre os percursos e projetos próprios com vista a construção de uma
identidade”. Eis que a nossa identidade epistemológica e político-pedagógica
vem nutrindo a partilha de um trabalho coletivo.
Há três motivações preponderantes que nos impulsionaram à escrita
deste texto: a primeira é o compromisso que norteia, individual e coletivamente,
a nossa caminhada, mesmo encontrando dificuldades institucionais, temporais
e físicas para o cumprimento de nossas atribuições; a segunda é a curiosidade
epistemológica, na acepção freireana, que desafia a ressignificação da nossa
prática pedagógica, tendo como ponto de partida e de chegada tudo o que é
desenvolvido e vivenciado, tanto no contexto da sala de aula, quanto em cada
espaço não escolar que acolhe os/as estudantes sob a nossa microvisão; a
terceira é a própria exigência que a ação-reflexão-ação nos impõe, no sentido
de não incorrermos no risco da mera repetição das “lições aprendidas” (através
de professores/educadores institucionalizados ou não, que marcaram nossa
vida/profissionalidade), ou de superestimar a nossa postura crítico-reflexiva,
cometendo o equívoco de negar o permanente processo de aprendizagem.
A escrita em relação à temática em foco, inspira-se na vivência dos
últimos 5 (cinco) anos–10 (dez) semestres letivos, sentindo “as dores e as delícias”
enquanto responsáveis pelo acompanhamento dos estudantes regularmente
considerando que “[...] a alegria do estudo está na pura gratuidade, estudar como
quem brinca, estudar como quem ouve música [...]”(ALVES, 2000, p. 167), pois o
espaço da pesquisa e do estudo, embora sério, não é o lugar da sisudez, porque
é onde a vida acontece em suas múltiplas facetas. Também precisa ser o lugar
das possibilidades reais de expressão da criatividade, enquanto potencialidade
humana que pode e deve ser viabilizada, pois “criatividade é precisamente
isto: inventar. Fazer existir coisa que não existia” (ALVES, 2003, p. 119), e que
contribuirá para a ressignificação de pensares e fazeres de quem estagia e de
quem participa direta ou indiretamente do processo de estágio em espaços não
escolares.
Partindo desse pressuposto, é de grande relevância a compreensão
crítica de que “[...] um professor formado nesta perspectiva tem mais condições
de dominar as ferramentas da construção do conhecimento pelo caminho da
pesquisa que outro formado só a partir dos conceitos, isto é, dos produtos da
Ciência” (GHEDIN, 2014, p. 9). Nessa perspectiva, urge o estágio em espaços
não escolares constituir-se, a cada dia: a) como espaço de protagonismo
estudantil; b) como espaço de revisão de conceitos pré-concebidos; c) como
espaço de encontro e de vivência da alegria, mesmo que não o seja para todos/
todas estudantes; d) como espaço, no qual, cada estudante e cada integrante do
público alvo se faça sujeito que se expõe em busca da experienciação crítico-
reflexiva nesse/desse fazer. E o sujeito que se expõe é:
[...] um sujeito “ex-posto”. Do ponto de vista da experiência, o importante
não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a “o-posição”
(nossa maneira de opormos), nem a “pro-posição” (nossa maneira de
propormos), mas a “ex-posição”, nossa maneira de “expormos”, com
tudo o que isto tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é incapaz de
experiência aquele que se põe, ou se opõe, ou se impõe, ou se propõe,
mas não se “ex-põe”. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe
passa,a quem nada lhe acontece, a quem nada lhe sucede, a quem nada
o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem
nada ocorre. (BONDIA, 2002, p. 24-25)
Referências
ALVES, Rubem. Conversas sobre educação. Org. Raissa Castro Oliveira.
Campinas, SP: Verus Editora, 2003, p. 119-124.
LIBÂNEO. J. C. Pedagogia e pedagogos, para que? 12. ed. São Paulo: Cortez,
2010, p. 25-42.
ensino técnico, enfoque que não somente resiste a uma educação mais humana
e global mas também acaba por advogar contra ela, promovendo outro fator de
efetividade produtiva percebida por Taylor, a alienação para o trabalho. Essa
especialização, no entanto, não somente constitui um estreitamento do olhar
para um aprofundamento teórico-prático como também promove a alienação e
a subordinação acadêmica e científica, uma vez que o estudante só encontrará
espaço de pesquisa na área em que o sistema produtivo julgar necessário,
vendo-se refém do redirecionamento educacional caso sua área de estudo se
torne secundária.
Assim, percebe-se que o sistema produtivo introduz teorias e objetivos
da administração empresarial na área educacional, transformando a escola em
uma instituição de formação de mão de obra, em uma perspectiva que promove
a lógica mercadológica como reguladora do sistema social. De maneira geral,
as indústrias têm objetivos diferentes dos da escola: a indústria visa à obtenção
do produto, já a escola tem como objetivo a socialização e a construção do
conhecimento. No entanto, podemos dizer que o conhecimento vira produto a
partir do momento em que a perspectiva da escola se inclina a formar mão de obra
para as indústrias. Talvez possa ser nesse sentido que a gestão educacional se
aproxime tanto da gestão empresarial, pois ambas buscam o aperfeiçoamento e
o controle dos sujeitos, a fim de que estes detenham o conhecimento necessário
para produzir e, por fim, gerar o lucro.
É nesse sentido que o sistema produtivo interfere na educação,
principalmente por meio das políticas públicas do setor, que são revestidas de
ideologias e influências políticas, revelando as concepções que orientam o projeto
societário que o governo pretende conformar. Estas políticas podem se destinar
tanto à transformação social quanto à manutenção do status quo. Mesmo quando
impulsionadas pela pressão dos movimentos populares, seja para atendê-los,
seja para acalmá-los, voltam seus esforços para a readequação dos arranjos
sociais e, por conseguinte, para a adequação ao sistema produtivo capitalista,
ainda que, na perspectiva racional empresarial da gestão educacional, essa
readequação se demonstre ineficaz, dada a impossibilidade de adequação dos
meios à finalidade precípua da educação, qual seja, a formação humana e cidadã
dos educandos para o convívio democrático (PARO, 2012). O exercício docente
eficaz não somente se reveste mas deve consistir na autonomia, já que o modelo
de controle vigente, denominado neotaylorismo por Laval (2004), demonstra-
se inadequado às finalidades educacionais, ainda que consideradas em uma
perspectivas que encontra o sucesso em uma dimensão mais material.
É justamente pela impossibilidade de retirar a autonomia docente que o
controle de qualidade pós-tayloriano propõe o empreendedorismo de si mesmo,
incentivando o individualismo, desmobilizando as organizações e exercendo
assim um controle implícito e ideológico sobre o professor, por meio do qual
busca inculcar nos docentes os valores, os princípios e as ideias necessárias
Deve-se, portanto, elevar a práxis espontânea a uma práxis reflexiva, que não
seja meramente crítica à ordem vigente, mas que promova a autoconsciência e a
consciência da própria racionalidade inerente à utilização racional dos recursos.
Como forma de delinear a persecução dos objetivos, a administração
escolar deve desenvolver planos de ação que envolvam os setores escolares e os
segmentos da sociedade, rompendo com as práticas adotadas pela administração
autoritária, por meio da colaboração, da cooperação, do compartilhamento de
objetivos, da vontade coletiva, da reciprocidade e da solidariedade, de forma
a consolidar o trabalho social com e para a comunidade. Em vista disso, Paro
(2012) assevera que, para que se efetive uma administração escolar democrática
e voltada aos interesses da classe trabalhadora, não basta que todos participem
das tomadas de decisões; as relações têm que ser de mútua colaboração e
reciprocidade, o que não pode ser alcançado de um dia para o outro, pois requer
atitudes construídas dia a dia, initerruptamente.
Protagonismo juvenil na gestão colaborativa
Apesar de o movimento estudantil não ocupar espaço significativo no
cenário da democracia brasileira, sendo ainda recente seu alinhamento a uma
perspectiva de construção democrática de sociedade, Ferreti, Zibas e Tartuce
(2004, p. 411) afirmam que “[...] o discurso da participação ativa dos alunos em
sua aprendizagem data, no Brasil, dos anos 20 e 30 do século passado, quando
o pensamento de Dewey foi adotado por diversos teóricos da educação”. Essa
constatação revela que o protagonismo juvenil está intimamente ligado às
mudanças no âmbito educacional.
De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina
(SANTA CATARINA, 2008), a ideia de participação dos jovens na construção da
sociedade se fez presente em vários períodos históricos do nosso país, desde o
período colonial, quando os estudantes fundaram um clube secreto para lutar
pela independência do Brasil, por meio da publicação de artigos nos jornais da
época. Com o passar dos anos, os jovens estudantes foram sentindo a necessidade
de se organizar. Assim, ano de 1937, foi criada a União Nacional dos Estudantes
(UNE), entidade que representa os estudantes universitários brasileiros; em
1948, foi fundada a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes); e
dois anos após, a União Catarinense dos Estudantes.
No ano de 1964, os estudantes universitários criaram o Centro Popular de
Cultura, o qual produziu várias atividades artísticas, agitando a cultura nacional.
No entanto, neste mesmo ano, o Brasil sofreu um golpe de Estado e passou a ser
governado por uma junta militar, que proibiu as manifestações populacionais
e culturais, bem como perseguiu e reprimiu os estudantes. Embora o Grêmio
Estudantil remonte ao período da Ditadura Militar, contemporâneo à criação dos
Conselhos Escolares, foi somente com os movimentos pela redemocratização do
país, na década de 1990, que diferentes documentos oficiais, em âmbito federal
Se, por um lado, apresenta-se um rol que permite uma atuação estudantil
relativamente ampla, percebe-se, ao mesmo tempo, certa limitação ao poder
estudantil, haja vista a menção ao respeito às autoridades constituídas. Tal
limitação vem acompanhada da referência à parceria, contraditória à perspectiva
hierárquica subentendida pela enunciação à autoridade. Em suma, a palavra
‘respeito’ abrange múltiplos significados, sendo estabelecidos seus sentidos de
formas diferentes por cada indivíduo. A fim de se orientar por uma perspectiva de
respeito mútuo, é importante destacar que a mera discordância de percepções
e os conflitos de valores derivados dessas inter-relações devem ser mediados,
respeitando-se as diferentes culturas e considerando-se cada indivíduo como
sujeito de direitos.
Tal consideração se faz necessária dado o processo histórico-político-
social que marca o protagonismo estudantil brasileiro, cujas reminiscências de
sua subjugação ao autoritarismo estatal e escolar ainda se fazem presentes,
reduzindo-o a uma participação passiva no processo educativo, tomado em
sentido estrito e amplo. Ou seja, por muito tempo o estudante foi reduzido a
um expectador do ensino, processo este entendido como mera transmissão
de conhecimentos pré-definidos conforme o entendimento curricular, e tal
papel refletiu em sua percepção enquanto cidadão. Como processo de ensino-
aprendizagem com vistas à formação humana em sua totalidade, a educação
coloca o estudante como sujeito central desse processo.
De acordo com Ferreti, Zibas e Tartuce (2004), a etimologia do termo
‘protagonismo’ assume o sentido de evidência, remontando à palavra grega
referente ao ator principal de uma peça. Nesse sentido, percebe-se que a noção
de protagonismo vinculada ao estudante tem por objetivo afirmar seu papel
diante do processo educacional. Assim, protagonismo estudantil não se refere
somente à atuação dos estudantes mas também ao reconhecimento do seu
papel como sujeitos de direitos e deveres. Nesse sentido, Barrientos e Lascano
(2000), Costa (2001) e Konterlinik (2003) (apud FERRETI; ZIBAS; TARTUCE,
2004) vinculam o protagonismo juvenil à formação cidadã.
Metodologia
A pesquisa é de abordagem qualitativa bibliográfico-descritiva.
Segundo Chizzotti (2003, p. 96), “[...] a pesquisa qualitativa é aquela pesquisa
que trabalha com interpretações, comparações e resultados que não podem
ser mensuráveis numericamente”. Na acepção de Severino (2007), a pesquisa
bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente
de pesquisas anteriores, em documentos impressos como livros, artigos e teses,
ou seja, utiliza-se de dados ou categorias teóricas já trabalhados por outros
pesquisadores e devidamente registrados.
Para o desenvolvimento da pesquisa, recorreu-se à análise do relatório
de estágio e do projeto de intervenção por meio da técnica de análise de
conteúdo. Para Bardin (2009, p. 30), “[...] a análise de conteúdo é um conjunto de
técnicas de análise das comunicações, a qual não se trata de um instrumento,
mas de um leque de apetrechos [...]”. Dessa forma, para a organização e análise
dos documentos, seguimos os três polos de análise proposto por Bardin (2009),
a saber: i) pré-análise dos documentos selecionados; ii) exploração e leitura dos
documentos; e iii) tratamento e análise dos resultados ou achados da pesquisa.
O relatório de estágio, denominado Protagonismo juvenil em filmes: uma
proposta de gestão, e o projeto de intervenção, intitulado Grêmio Estudantil:
uma oportunidade de aproximação entre gestão escolar e estudantes da Escola
de Educação Básica Professor José Arantes, contemplaram a caracterização
da escola estadual onde o estágio foi desenvolvido, reunindo informações tais
como: i) história, estrutura física, dimensão administrativa, plano de gestão da
equipe de direção, metas e estratégias do plano de gestão contemplados no
Projeto Político-Pedagógico da escola; ii) fundamentação teórica acerca da
gestão democrática; iii) mecanismos da gestão democrática desenvolvidos pela
escola com pais, estudantes, professores e comunidade escolar; iii) concepção
filosófica da unidade escolar; e iv) planejamento do desenvolvimento do projeto
de intervenção no cotidiano escolar.
A partir da inserção propiciada pelo estágio, foram realizados a
observação da atuação da gestão escolar e um diagnóstico da escola EEB
Professor José Arantes, de 11 a 18 de setembro de 2017, totalizando 24 horas.
O projeto de intervenção analisado foi planejado por uma dupla estudantes
do 8º semestre, na disciplina de Estágio Supervisionado em Gestão do Curso
de Licenciatura em Pedagogia do IFC Camboriú, e contemplou a seguinte
organização: tema; problema; objetivo geral e objetivos específicos; justificativa;
metodologia; referencial teórico acerca da temática Grêmio Estudantil;
planejamento detalhado das atividades propostas; cronograma de execução; e
considerações finais.
A orientação e a supervisão do Estágio Supervisionado em Gestão foram
realizadas de forma conjunta entre a professora orientadora do IFC Camboriú,
que acompanhou presencialmente o estágio, e a supervisora da EEB Professor
FORMAÇÃO DEMOCRÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO-APRENDIZAGEM POR MEIO DO ESTÁGIO
SUPERVISIONADO EM GESTÃO
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Documentário desenvolvido entre os anos de 2004 e 2007, que reúne registros pessoais de pessoas
envolvidas com o movimento estudantil. A primeira parte foca na cronologia do movimento estudantil desde
1937, enquanto a segunda parte aborda o processo de constituição do protagonismo juvenil, destacando
atividades culturais como músicas, poesias e peças teatrais.
Fonte: elaborado pelas autoras.
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: introdução crítica. 16. ed. São
Paulo: Cortez, 2010.
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
EM GESTÃO EDUCACIONAL:
POSSIBILIDADES PARA O
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DOS PROFESSORES
Andressa Graziele Brandt
Daniele Wieczorkovski
Vanessa Souza da Silva
DOI: 10.29327/523736.1-3
Introdução
Neste artigo, objetivou-se refletir sobre um programa de formação
continuada acerca das metodologias de ensinagem e suas contribuições para
a diminuição da indisciplina escolar. Em consonância, os objetivos específicos
traçados foram: evidenciar a importância da gestão escolar no processo de
desenvolvimento profissional dos professores; discutir sobre a importância
da formação continuada na profissão docente; refletir sobre as metodologias
de ensinagem; explicitar algumas metodologias de ensinagem; compreender
o que estudiosos discutem sobre a indisciplina e refletir em conjunto com os
estudantes acerca de contribuições e estratégias de ensinagem utilizadas
no cotidiano escolar. Recorre-se a autores, tais como, Zabala (1998), Canário
(2002), Imbernón (2010), Paro (2010, 2012), Anastasiou (2011), Tardif e Lessard
(2011), Libâneo (2004, 2012), Cunha (2013), Vasconcellos(2013), Beraza (2019),
entre outros.
Em suma, corroboramos a opinião de Beraza (2019) a respeito da
necessidade de, ao pensar sobre os processos de desenvolvimento profissional
de professores por meio de formação inicial e continuada, observarmos as
seguintes premissas: i) na atualidade, as Instituições de Educação estão
claramente comprometidas com a melhora da qualidade da docência que
oferecem; ii) essa qualidade, mais que a componentes externos (infraestruturas,
recursos financeiros, etc.) está vinculada à qualidade docente do professorado; e
iii) a qualidade docente do professorado somente se obtém através da formação
para a docência.
homem, uma vez que a realização das atividades precisam da combinação dos
objetivos e dos meios. Para a adequação desses meios, tornam-se necessários a
combinação e o uso dos recursos em vista dos objetivos (fins) a serem alcançados,
ou seja, há relações de interdependência entre o homem e a natureza, bem como
entre os homens entre si, para que as finalidades ou propósitos da atividade
administrativa sejam alcançados.
Com o passar do tempo, o homem conquistou o poder de transformar a
natureza em que vive/atua, agindo racionalmente nela e sobre ela, modificando-a,
em suma. Nesse sentido, Paro (2012) acrescenta que o resultado destas relações
recíprocas entre homem e natureza produz um acúmulo de conhecimentos cada
vez mais significativos por parte dos homens, de tal forma que as técnicas por
ele utilizadas vão se sofisticando, até chegar ao seu completo domínio. Tais
conhecimentos sobre a natureza são cada vez maiores. Ou seja, o homem sabe
o que busca, traça seus objetivos e, dessa forma, administra suas ações e os
meios de produção com vistas a alcançar seus propósitos.
Conforme descreve Paro (2012), desde os tempos mais primitivos, os
homens perceberam que, quando agiam coletivamente em busca de objetivos
comuns, suas ações se tornavam mais afetivas e os recursos utilizados para
tal eram melhor aproveitados. Seguindo este raciocínio, podemos dizer que a
configuração e os princípios da administração são semelhantes em diferentes
contextos, ou seja, neste aspecto, podemos perceber muitas semelhanças entre
empresas e escolas, por exemplo.
Ao realizar-se uma breve comparação sobre estas administrações,
a grande questão está no objeto de cada instituição, pois as fábricas fazem,
montam, planejam e criam objetos (variados, que serão posteriormente vendidos
e gerarão lucros para a fábrica), enquanto as escolas socializam conhecimentos e
formam seres humanos. Esta comparação pode nos causar certo estranhamento,
mas basta elencar alguns fatores comuns para percebermos que ambas as
instituições adotam procedimentos administrativos semelhantes.
Nas escolas, o sinal toca quando trocam as disciplinas, assim como
certas empresas utilizam deste recurso para anunciar o início e o fim da jornada
de trabalho. Nas escolas, os alunos têm um horário fixo para realizarem sua
refeição (15 min), de maneira idêntica às empresas, em que os funcionários batem
seu cartão, fazem sua refeição e retornam para o trabalho. Nas escolas, busca-
se produtividade; os professores ensinam, os alunos aprendem e cada minuto
deve ser aproveitado para tal. Nas empresas, da mesma forma, o trabalho gira
em torno de produtividade. Nas escolas, em boa medida, os alunos identificam-
se com uniformes, fato que se observa também nas empresas. Em ambos os
contextos há um ou mais diretores, gerentes, supervisores e outras funções cuja
atribuição é gerir a instituição, as relações e os conflitos que surgirem.
Para comandar essa escola produtora de serviço, Laval (2004) afirmar ser
necessário comandar todas as etapas com rigor e contar com uma “organização
aprendiz”, na qual esse organizador esteja apto a gerir uma “equipe” e possa
ser responsabilizado pela produção de “valor agregado” no local de produção.
Esta mercantilização da educação, que se adapta às necessidades da economia,
acaba fazendo com que a escola assuma a responsabilidade por fornecer mão
de obra para o mercado de trabalho.
Nesse sentido, quando se pensa na reforma do Ensino Médio, por
exemplo, percebe-se que se trata de algo que veio de cima, imposto às escolas,
aos professores, aos alunos e aos pais, mas, ao contrário do que é exposto nas
mídias, retira dos educandos a possibilidade de acessar conhecimentos de todas
as ciências de modo a alcançar uma formação integral.
Dito isso, entende-se que as políticas educacionais têm se constituído
em mecanismos importantes para a conservação do atual sistema produtivo.
Assim, controlar a escola é fundamental tanto para a conservação quanto para
a transformação social. A escola é uma das instituições que podem contribuir
para essa transformação, uma das mais importantes, mas não a única.
Paro (2012) afirma que, para superar esta visão mercantilista, é preciso
uma transformação social no âmbito da educação escolar. Entretanto, o autor
reforça que, para representar e defender os interesses da classe trabalhadora, é
necessário um intelectual que se envolva organicamente com ela. Os intelectuais
orgânicos formam um grupo encarregado de realizar a ligação entre a estrutura
e a superestrutura no contexto das relações sociais globais. O intelectual
orgânico caracteriza-se por sua ligação com a estrutura econômica e pela defesa
dos interesses do operariado (grupo social), proporcionando-lhe consciência da
própria função, afinal, trata-se de uma classe fundamental, pois desempenha
função essencial no mundo da produção e do trabalho.
Neste sentido, de acordo com o autor, o intelectual orgânico não precisa
necessariamente pertencer à classe que defende, pois o que determina este
vínculo é “[...] o caráter orgânico da função que ele desempenha em nível
superestrutural” (PARO, 2012, p. 118). O intelectual ocupa-se de uma posição
importante na superação da condição de classe, que se impõe sobre os sujeitos
antes mesmos que estes possam se dar conta dela. As classes comportam
oprimidos e opressores, que, por sua vez dominam e dirigem os diversos grupos
sociais. Esta condição observa-se também facilmente no âmbito escolar.
Paro (2012) afirma que a superação dessa condição deve acontecer não
através da força de uns sobre os outros, mas numa relação recíproca, em que os
interesses de ambas as classes sejam contemplados. Para isso, deve acontecer
uma revolução “[...] que seja produto da vontade coletiva dos homens e que
promova a transferência radical de toda a ordem social urgente” (PARO, p. 122).
Neste sentido, corrobora-se:
A luta deve constituir-se, pois, não numa “guerra de movimento”, em
que se busca atingir determinado objetivo de forma frontal, fulminante
e decisiva, mas numa “guerra de posições”, na qual são conquistados
espaços sucessivamente mais amplos no interior da sociedade civil.
(PARO, 2010, p. 124).
[...]
o fazer pedagógico, pois “O docente, que muitas vezes teve uma formação
pautada em aulas tradicionais, precisa se adequar ao novo contexto educacional
utilizando metodologias diversificadas, atrativas e criativas para facilitar o
processo de ensino e aprendizagem” (PINTO; CORTINOVE; CARVALHO, 2017, p.
594). Desse modo, pensamos na diversidade de ramos que a Pedagogia tem e no
contexto do presente projeto, uma formação continuada revestida de algumas
das investigações científicas que abordam reflexões sobre a atividade teórico-
prática nas metodologias de ensinagem para diminuição da indisciplina, de tal
modo que possam contribuir para melhorar a relação entre professor e aluno
no cotidiano escolar. Nessa perspectiva, “Sabe-se que o processo de ensino
e aprendizagem é de suma importância para a formação do aluno; assim, fica
evidente que a metodologia e a didática utilizada pelo professor possuem um
papel significativo nesse processo” (PINTO; CORTINOVE; CARVALHO, 2017, p.
594).
Contributos das metodologias de ensinagem no processo de desenvolvimento pro-
fissional de professores
Apesar dos avanços na compreensão dos objetivos dos processos
de formação inicial de professores, muitos ainda cultivam a ideia de que é na
formação inicial do docente que se obtém a ‘receita’ de como dar aula e resolver
as questões e os problemas educacionais enfrentados no cotidiano escolar. Pois,
como afirmam Brandt, Werner e Silva (2019, p. 224), “[...] ao longo da história da
Educação no Brasil, o campo da formação de professores tem papel de destaque
para os avanços da qualidade de educação e emancipação dos sujeitos [...]”.
Como já mencionado, é inerente à profissão docente a necessidade
de continuidade na formação, uma vez que a sociedade vive em constantes
mudanças. Estar ‘atualizado’ sobre o contexto social e educacional se torna
essencial para prática social desenvolvida nas escolas, pois “A compreensão do
que seja ensinar é um elemento fundamental nesse processo [...]”, visto que “[...]
a ação de apreender não é passiva” (ANASTASIOU, 2015, p. 1). Nesse sentido,
a fim de melhorar a prática pedagógica em seu sentido de práxis, a prática
reflexiva e crítica sobre a ação docente se faz necessária, com vista a entender
[...] qual é o sentido de sua aula em face da formação do aluno, que
sabe como sua aula integra e expande a formação desse aluno, que tem
consciência do significado de sua ação, tem uma atuação pedagógica
diferenciada: ele dialoga com a necessidade do aluno, insiste na
aprendizagem, acompanha seu interesse, faz questão de produzir o
aprendizado, acredita que este será importante para o aluno (FRANCO,
2016, p. 541).
Considerações provisórias
Diante do apresentado neste artigo e após dialogar com os autores aqui
supracitados, é possível elencar sobre algumas considerações. Neste sentido,
a partir da relevância da temática, afirma-se que a formação continuada torna-
se elemento essencial na profissão docente, pois a mesma que é envolvida com
a transmissão e construção de saberes e lida diretamente com a formação
humana (LIBÂNEO, 2004). Portanto, tendo em vista que a gestão escolar tem
papel fundamental na oferta de processos que garantam o desenvolvimento
dos professores, faz-se de suma importância nos contextos escolares a oferta
de programas de formação continuada que permitam a constante reflexividade
das práticas pedagógicas desenvolvidas em sala de aula, que promovam o
enfrentamento na sua forma teórica dos desafios e problemas que surgem,
como a indisciplina.
Cabe ressaltar que não há receita pronta para um fazer pedagógico que
alcance todos os objetivos traçados e onde não se tenha nenhum problema a ser
enfrentado, contudo é possível desenvolver uma práxis pedagógica e repensar
as metodologias que se utilizam, pois a educação como ela está configurada
influencia as relações e em geral na sociedade, as famílias mudaram, os
estudantes possuem outros anseios e expectativas, deste modo, faz-se de suma
importância contemplar nos programas de formações as temáticas emergentes
da escola.
Considera-se a importância do entendimento do processo que se efetiva
em via de mão dupla, ressaltado por Anastasiou (2011) como ensinagem, o qual
engloba tanto a ação de ensinar, própria do professor e quanto a de aprender, no
qual seja construído um ensino que provoque aprendizagem, contudo, que não
se remeta, como de costume, à culpabilização do estudante, como se este fosse
o único culpado de todos os problemas que surgem na sala de aula e no contexto
escolar.
Por fim, conforme Vasconcellos (2013), faz-se de suma importância que
o professor saiba lidar com os conflitos em sala de aula desde seu surgimento,
que resolva os conflitos com maturidade, alteridade e diálogo, desenvolvendo um
clima constante de reciprocidade e respeito e que reflita os conflitos por meio
da empiria, num constante movimento de ação – reflexão – ação, desenvolvendo
a práxis no fazer pedagógico, pois o enfrentamento de situações conflito devem
considerar o papel dos estudantes na sua resolução, os quais são, na educação,
os sujeitos principais.
Portanto, os estudantes também devem estar inseridos nas ações da
comunidade escolar, vivenciando e participando de forma ativa, desta forma
caminhando em direção do alcance de uma gestão mais democrática, na qual
todos os sujeitos envolvidos no processo, possam ter suas vozes ouvidas.
Referências
ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos. Ensinar, aprender, apreender e
processos de ensinagem. In: ANASTASIOU, Léa das Graças Camargos; ALVES,
Leonir Pessate (org.). Processo de Ensino da Universidade. 10. ed. Joinville:
Univille, 2015. p. 15-46. Disponível em: https://bit.ly/33oBFfh. Acesso em: 13
out. 2019.
PARO, Vitor Henrique. Transformação social e educação escolar. In: PARO, Vitor
Henrique. Administração escolar: introdução crítica. 16. ed. Cortez, 2010. p.
107-159.
PARO, Vitor Henrique. Administração escolar: uma introdução crítica. 16. ed.
Cortez: 2012.
PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE
UMA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO
DO CAMPO COM HABILITAÇÃO EM
ARTES E MÚSICA A RESPEITO DO
ESTÁGIO CURRICULAR
Claudimara Rodrigues Gomes
Gustavo Cunha de Araújo
DOI: 10.29327/523736.1-4
Introdução
Este capítulo é um recorte de um estudo mais amplo desenvolvido na
Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus universitário de Tocantinópolis,
no curso de Licenciatura em Educação do Campo com habilitação em Artes e
Música (LEDOC). Apresenta como objetivo principal compreender a importância
do Estágio Curricular Supervisionado na formação docente de alunos desse
mesmo curso.
A LEDOC de Tocantinópolis tem 3 turmas formadas e os seus alunos
já tiveram um contato mais amplo com o estágio. Assim, esta pesquisa poderá
proporcionar uma oportunidade de avaliar o estágio do curso a partir do olhar
deles sobre esse componente curricular, como por exemplo, entender o primeiro
contato do discente com essa disciplina, identificar qual o olhar inicial e atual
sobre o estágio pelo estudante, levantar as dificuldades encontradas, os desafios
e outras informações relevantes para a pesquisa, bem como qual a relação
da alternância de tempo universidade (TU) com tempo comunidade (TC)1. Isso
é importante, pois pode ajudar a construir um diagnóstico acerca do Estágio
Curricular Supervisionado em uma Licenciatura em Educação do Campo.
Ao estudar sobre o estágio no Curso de Educação do Campo2, dois
olhares emergiram, na perspectiva de poder observar um lado positivo e outro
negativo no desenvolvimento do estágio na LEDOC de Tocantinópolis: o primeiro
é ver o estágio como um espaço formativo, com reflexões acerca dos quesitos
que formam uma instituição escolar, como a gestão, a organização curricular, as
intencionalidades existentes no currículo e metodologias, na perspectiva de um
ensino reflexivo e crítico sobre temas pertinentes para a área.
O segundo ponto está relacionado à dificuldade em estagiar com as
habilitações (artes e música) que a licenciatura da UFT de Tocantinópolis
oferece aos educandos camponeses, pois constatamos que não há professores
da Educação Básica com formação específica em artes atuando na região
pesquisada (ARAÚJO; OLIVEIRA; ALMEIDA, 2019). Além disso, de acordo com
estudos feitos pelo programa “Todos pela Educação”, 94,6% dos professores que
lecionam a disciplina de Arte no Brasil não tem formação na área (IAVELBERG,
2014). Por isso e, considerando a demanda urgente de profissionais habilitados
em artes na região, foi escolhida como área de habilitação artes e música para
essa licenciatura (MIRANDA; COVER, 2016).
A partir dessas primeiras considerações, o capítulo apresenta a seguinte
estrutura: no primeiro momento, discutimos os procedimentos metodológicos
desta investigação. Em seguida, apresentamos uma breve revisão de literatura
acerca do estágio no local de pesquisa, neste caso, na Universidade Federal do
Tocantins. Na sequência, analisamos os dados coletados neste estudo, a partir
de um recorte das entrevistas realizadas com estudantes da LEDOC estudada,
a respeito do Estágio Curricular Supervisionado. Por fim, tecemos algumas
considerações referentes a esta investigação.
Percurso metodológico da pesquisa
Este estudo é de abordagem qualitativa (FONSECA, 2002) e de natureza
exploratória (PRODANOV; FREITAS, 2013), pois buscou ampliar o entendimento
do estágio curricular na Educação do Campo, importante para analisar esse
objeto de estudo à luz do referencial teórico analisado. Para complementar
a metodologia, baseamos no estudo de caso, uma vez que pesquisamos um
fenômeno da realidade ocorrido no contexto estudado (YIN, 2003), que ajudou a
analisar as ações desenvolvidas pelos participantes da pesquisa a respeito da
formação docente. Por fim, para as análises dos dados, utilizamos a pesquisa
interpretativa (ERICKSON, 1985).
Como instrumento de coleta de dados, utilizamos o questionário
semiestruturado (GIL, 1999), aplicado a alunos e professores da disciplina de
Estágio Curricular Supervisionado desse mesmo curso. Os questionários foram
compostos por perguntas a respeito da importância do estágio para a formação
discente, pontos positivos e negativos do estágio, currículo entre outras questões.
A pesquisa foi realizada na Universidade Federal do Tocantins, campus
universitário de Tocantinópolis, estado do Tocantins, tendo como participantes
deste estudo alunos egressos, formandos e professores da disciplina de Estágio
Curricular Supervisionado do curso de Licenciatura em Educação do Campo
Aluno D: Os pontos positivos se dão pelo ótimo trabalho dos docentes do curso
que busca com as ferramentas que lhe são dadas, orientar os alunos de uma
forma melhor e procurar os melhores meios de se trabalhar e problematizar a
nossa realidade.
Ao analisar as respostas dos alunos, identificamos o quanto é importante
à atuação do professor orientador do estágio para a maioria deles, tanto nas
aulas desenvolvidas na universidade, quanto ao acompanhamento das atividades
apresentadas na escola. Diante disso, o professor da disciplina de Estágio
Curricular Supervisionado do curso de Educação com Campo pode contribuir
de maneira significativa no processo de ensino e aprendizagem do educando,
sendo ele o mediador no contato do aluno estagiário com a escola. De fato,
vivenciar o estágio no curso de Educação do Campo tem suas particularidades,
como bem diz a aluna A, ao relatar a problematização por parte do/a professor/a
orientador/a da disciplina, sobre a realidade de atuação, principalmente em uma
escola do campo.
Essa análise nos conduz a dizer que o estágio é uma boa oportunidade
para que o estudante exerça o aprendizado adquirido no decorrer de sua vida
acadêmica. Esse espaço formativo se torna um momento de decisão, pois ao
se deparar com a realidade do seu futuro ambiente de trabalho, o estudante
pode ou não se identificar com tal realidade, fazendo com que ele questione
os desafios e dificuldades da sua profissão e busque alternativas para melhor
exercê-la em sala de aula.
Na sequência, ao serem indagados sobre os pontos negativos do Estágio
Curricular na LEDOC pesquisada, os alunos responderam o seguinte:
Aluna A: É... Particularmente é ter que ir à instituição (UFT) para conferir se os
dados da documentação do estágio estão corretos, pois na primeira experiência
meus colegas de sala tiraram minhas dúvidas com mais clareza que o responsável
da divisão do estágio.
Aluna B: Pra mim há apenas um detalhe importante que eu acredito que deva ser
importante, que é a não prática de estágio em escolas no campo. Mas isso é devido
não haver nas séries obrigatórias pelo estágio, uma escola que disponibiliza o
estágio. Por exemplo, uma escola no campo, tem até o 2° ano. Então não há como
estagiar assim.
Aluna C: Os pontos negativos são que o curso não oferece o estágio dentro do
sindicato já que possamos atuar, não oferece uma observação dentro da gestão
escolar. Os estágios acontecem nos últimos dois anos do curso, pois poderia
ocorrer bem antes.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA
PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA
DO IFPI CAMPUS SÃO RAIMUNDO
NONATO
Léia Soares da Silva
Geuid Cavalcante da Silva Filho
DOI: 10.29327/523736.1-5
Considerações iniciais
O estágio supervisionado obrigatório consiste em um componente
curricular imprescindível para formação docente nos Cursos de licenciaturas,
visto que estabelece uma relação pedagógica entre um profissional experiente
das instituições de formação superior, das escolas de educação básica e o
estudante de graduação. É reconhecido também como período de aprendizagem
da prática do ofício de ensinar, “no sentido de propiciar ao licenciando o aprender
a ser professor”. (BRASIL, 2001, p. 12).
As instituições de ensino superior incluem nas propostas pedagógicas
uma grande parte da carga horária para este fim. Os alunos são assistidos pelos
professores das escolas, onde ocorrem os estágios e pelos professores da
disciplina, geralmente um docente da área das disciplinas pedagógicas. Esses
profissionais se responsabilizam em dedicar seu tempo ao acompanhamento,
supervisão, orientação e avaliação dos estudantes-estagiários.
Como o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí -IFPI
oferta Cursos de licenciaturas, a pretensão é que o estágio supervisionado seja
uma atividade curricular que contribua para a formação dos futuros professores.
Assim, para o desenvolvimento dessa atividade no Curso de Matemática as “[...]
400 (quatrocentas) horas dedicadas ao estágio supervisionado” (BRASIL, 2015,
p. 21), estão distribuídas em quatro disciplinas, cada uma com 100h, denominadas
de Prática Profissional (PP) I e II, relacionada ao ensino fundamental e a Prática
Profissional (PP) III e IV, relacionadas ao ensino médio.
Nesse sentido, a pesquisa tem como objeto de estudo as percepções
dos estudantes acerca do estágio supervisionado, e parte das seguintes
indagações: como os estudantes em processo de formação inicial perceberam o
Sendo assim, a teoria prepara para o que está por vir no estágio e
consequentemente na atividade de regência. É importante considerar que após
o estudo da teoria começa a prática em sala de aula, quando o aluno-estagiário
precisa relembrar a teoria para que possa consolidar a gestão da sala de aula.
Na verdade, essa teoria necessita também ser abordada no momento da prática,
pois é através dela que o aluno terá conhecimento de como desenvolver a aula.
Além disso, será capaz de fazer suas próprias observações, não levando ao
extremo tudo o que está estabelecido nas teorias, pois cada turma, escola e
cada aluno têm contextos, realidades diferenciadas e próprias.
Aspectos teóricos e metodológicos da pesquisa: resultados e discussões
Neste tópico tratamos dos dados empíricos da pesquisa que realizamos
junto aos alunos-estagiários do curso de Licenciatura em Matemática IFPI
campus São Raimundo Nonato. A pesquisa desenvolvida é uma abordagem
qualitativa, pois “[...] preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais
profundos, descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece
análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de
comportamento etc.” (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 269).
Nesse sentido, essa abordagem detém-se nos significados e sentidos
atribuídos pelos sujeitos investigados ao objeto de estudo, onde descrevemos
a percepção dos estudantes-estagiários com a experiência vivenciada nas
atividades de observação e regência nas escolas campo de estágio. Temos
ainda a pesquisa caracterizada por descritiva, pois “[...] procura analisar fatos e/
ou fenômenos, fazendo uma descrição detalhada da forma como se apresentam
esses fatos e fenômenos, ou, mais precisamente, é uma análise em profundidade
da realidade pesquisada” (OLIVEIRA, 2010, p. 68), sendo assim, o estudo permitiu
que tivéssemos acesso as informações dos sujeitos, suas opiniões, pensamentos
e sensações acerca da temática trabalhada.
Ajuda a perder o medo de atuar em sala de aula, e nos prepara para encarar a
realidade do dia a dia na sala de aula (LAMBDA).
OLIVEIRA, Maria Marly de. Como fazer pesquisa qualitativa. 3. ed. Petrópolis,
RJ: Vozes, 2010.
OS MOVIMENTOS REFLEXIVOS
COLABORATIVOS NO
DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO
CURRICULAR SUPERVISIONADO
EM MATEMÁTICA
Patrícia Sandalo Pereira
Kely Fabrícia Pereira Nogueira
Edinalva da Cruz Teixeira Sakai
Adriane Eidam
DOI: 10.29327/523736.1-6
Introdução
É sabido que a educação é um fenômeno complexo, visto que é um
processo histórico do trabalho dos sujeitos vivos e este possui variáveis que
interagem, as quais nem sempre são eficientemente compreendidas, pois, tudo
tem a tendência e a possibilidade de passar de uma forma a outra. Tudo se
movimenta de uma condição a outra.
Neste movimento, compreendemos que a formação docente pressupõe
uma base de conhecimentos e saberes necessários ao exercício da profissão
docente. Com isso, a formação inicial de professores de Matemática situa-
se como um itinerário organizado pedagogicamente para desenvolver
conhecimentos específicos à área de Matemática e à atividade de ensino, ou
seja, uma formação que contempla tanto o conhecimento disciplinar quanto o
conhecimento pedagógico, ambos concatenados com a realidade circundante,
qual seja, a realidade escolar.
Dessa forma, um importante momento de reconhecimento dessa
realidade, possibilitada pela formação inicial, é o Estágio Curricular
Supervisionado (ECS).
Pimenta e Lima (2017) reconhecem, no Estágio Curricular Supervisionado
(ECS), um campo de conhecimento, cuja finalidade é “integrar o processo de
formação do aluno, futuro profissional, de modo a considerar o campo de atuação
como objeto de análise, de investigação e de interpretação crítica, a partir dos
nexos com as disciplinas do curso” (p. 24).
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
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Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
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Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
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Caminhos Metodológicos
No processo metodológico da investigação, atuamos com a Pesquisa
Colaborativa, pois esta possibilita ao sujeito partícipe refletir, ser pesquisador e
co-construtor da sua prática.
Nossa escolha por essa abordagem baliza-se em uma concepção de
organização e técnicas que coadunam com os princípios que nortearam a
pesquisa, considerando-a mais apropriada à consecução dos objetivos que
propomos atingir.
O conceito de colaboração, segundo Magalhães, (2004, p. 75),
pressupõe que “[...] todos os agentes tenham voz para colocar suas experiências,
compreensões e suas concordâncias e discordâncias em relação aos discursos
de outros participantes e ao seu próprio”.
Neste sentido, destacamos que pesquisar colaborativamente possibilita
criar e manter relações que incluem interesses pessoais e sociais comuns entre
os sujeitos parceiros que juntos reelaboram os conhecimentos.
No entanto, um marco importante que deve ser ressaltado é que “[...]
colaborar não significa que todos devam participar das mesmas tarefas e com a
mesma intensidade, mas que, sobre a base de um projeto comum, cada partícipe
preste sua contribuição específica, isto é, contribua para beneficiar esse projeto”
(IBIAPINA, 2008, p. 31). Dessa forma, as trocas de funções acontecerão de
acordo com as necessidades que forem emergindo no decorrer da pesquisa.
A pesquisa colaborativa efetiva-se no âmbito educacional como
atividade de co-produção de saberes, desencadeando formação, reflexão e
desenvolvimento profissional, de forma colaborativa, visando à transformação
de uma dada realidade.
Para o desenvolvimento deste capítulo, utilizamos as transcrições das
videogravações dos episódios ocorridos nos encontros do curso de Licenciatura
em Matemática da Universidade Federal de mato Grosso do Sul (UFMS), campus
Campo Grande/MS, o qual caracterizamos como eixo de análise “ regência”,
que sinaliza os indícios da unicidade teoria e prática, valorizando o processo de
interação entre os sujeitos em sua formação. Nesse contexto, explicitamos que
essas ações aconteceram em uma das aulas da disciplina de Estágio Obrigatório
III na UFMS, mais precisamente em cinco encontros, em que intitulamos e
conceituamos a concepção sobre planejamento e a articulação teoria e prática
em turmas do 3º ano do Ensino Médio.
Assim, logo, instalaram-se as vozes, que, neste texto, representamos pelo
grupo composto por três futuros-professores (FP), além dos três professores da
educação básica (P) e a professora da disciplina (Pd), a fim de resguardar as
suas identidades, atribuímos as siglas (FP, P e Pd).
A seguir, apresentamos algumas análises referente às ações
compartilhadas no eixo “regência”, com diálogos sobre a concepção de
planejamento e a articulação teoria e prática, com base em turmas do 3º ano
OS MOVIMENTOS REFLEXIVOS COLABORATIVOS NO DESENVOLVIMENTO DO ESTÁGIO CURRICULAR
SUPERVISIONADO EM MATEMÁTICA
92
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
93
Para mim, ele é um norte, a ser seguido pelo professor. Depende da realidade da
comunidade escolar. (FP3)
[...] é uma das tarefas mais importante do trabalho do professor, pois nos ajuda na
previsão das atividades que pretendemos desenvolver em sala. (P1)
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
95
Então, eu falei que seria legal a gente provar, levar a demonstração, simples.
(FP3)
Ainda não sabemos. A relação de Euler está ok, mas a definição de vértice e
aresta ainda está muito naturalizado. Temos que estudar mais. (FP2)
O professor falou que os alunos chegam muito cansados à noite, tipo, não tem
paciência para escrever e tem uns que dormem. Então, seria legal, tipo, como ele
disse: isso aqui é importante para eles aprenderem. Não ficar muito em cima de
não convexo, porque ele não vai ficar muito tempo. Então, o que ele [o professor]
faz: monta um slide para explicar o que é um ponto, uma reta, um plano, definições.
É bem direto e vai mostrando no slide algumas imagens. Pensamos em levar um
slide na parte de definições. (FP1)
E como proposta, diferente do usual feito pelo professor pensamos na: Utilização
do material concreto, as planificações, vai ser o diferencial, e estamos pensando
nessa maneira, pois funciona e levando o material concreto vai ajudar na
visualização deles. (FP1)
(FRAGMENTOS DE TRANSCRIÇÕES)
É perceptível o trabalho com o material concreto, mas precisamos
compreender a sua importância, pois, segundo Miorim e Fiorentini (1990), o
professor nem sempre tem clareza das razões fundamentais pelas quais os
materiais concretos são importantes para o ensino-aprendizagem da matemática
e, normalmente, são necessários, e em que momento devem ser usados. Os
autores enfatizam que:
Geralmente costuma-se justificar a importância desses elementos
apenas pelo caráter ‘motivador’ ou pelo fato de se ter ‘ouvido falar’ que
o ensino da matemática tem de partir do concreto ou, ainda, porque
através deles as aulas ficam mais alegres e os alunos passam a gostar
da matemática (MIORIM; FIORENTINI, 1990, p. 6).
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
97
Referências
BORGES, F. A.; STIRLE, A. R. O papel do estágio supervisionado na formação
do professor de Matemática: com a palavra, os futuros educadores. Criar
Educação, Criciúma, v. 9, n. 2, p. 117 – 142, edição especial 2020.
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
99
Patrícia Sandalo Pereira - Kely Fabrícia Pereira Nogueira - Edinalva da Cruz Teixeira Sakai - Adriane Eidam
101
ESTÁGIO CURRICULAR
SUPERVISIONADO: UM OLHAR SOBRE
O PROTAGONISMO INFANTIL NAS
AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Samara Escobar Martins
Maria Eduarda Tomaz Luiz
Wihanna Cardozo de Castro Franzoni
Alcyane Marinho
DOI: 10.29327/523736.1-7
Samara Escobar Martins - Maria Eduarda Tomaz Luiz - Wihanna Cardozo de Castro Franzoni - Alcyane Marinho
103
1 O estágio em questão foi vivenciado por uma das autoras deste capítulo, portanto, parte do
texto foi desenvolvido por meio dos relatos desta. Contudo, a construção do capítulo se deu em
conjunto com as demais autoras, apresentando, assim, experiências individuais e percepções
coletivas do assunto abordado. Por este motivo, ora será utilizada a primeira pessoa do singular
(quando se tratar da experiência individual vivenciada) e ora será utilizada a terceira pessoa do
plural (quando se tratarem de percepções coletivas de todas as coautoras).
Samara Escobar Martins - Maria Eduarda Tomaz Luiz - Wihanna Cardozo de Castro Franzoni - Alcyane Marinho
105
2 O conceito de “se comportar” era estabelecido pela professora responsável pela turma
e estava, frequentemente, relacionado à desobediência das solicitações da mesma; fazer
barulho na hora em que, teoricamente, não se pode fazer; não seguir a rotina com horários pré
determinados de alimentação, descanso e/ou sono. São algumas das atitudes que a professora
entendia como um mau comportamento.
Samara Escobar Martins - Maria Eduarda Tomaz Luiz - Wihanna Cardozo de Castro Franzoni - Alcyane Marinho
107
Samara Escobar Martins - Maria Eduarda Tomaz Luiz - Wihanna Cardozo de Castro Franzoni - Alcyane Marinho
109
tinha sua vez de virar um par com a ajuda dos colegas e, antes que acabasse
o jogo, deparamo-nos com o grupo vibrando e batendo palmas para cada par
encontrado.
Esta aula, apesar de muito simples, foi muito significativa. Foi um
momento em que as crianças, realmente, tiveram vez e voz durante a aula. Assim,
novamente, tornou-se evidente o protagonismo infantil nas aulas de Educação
Física. Desta forma, além de alunos que participavam e não queriam perder uma
aula sequer de Educação Física, havia também alunos que ensinavam uns aos
outros e, com isso, ensinavam-nos também.
Considerações finais
Durante esta experiência, nesse contexto específico de ECS, foi possível
identificar e refletir sobre o protagonismo infantil nas aulas de Educação Física
e na importância da valorização, por parte do professor, sobre o posicionamento
de cada aluno, mantendo-se atento para possíveis alertas corporais e verbais
das crianças, que podem, ou não, estarem compreendendo e apreciando a aula,
para que, assim, seja possível compor uma prática significativa para e com as
crianças.
Além disso, considera-se a relevância dos professores, que são os meios
pelos quais as propostas pedagógicas serão efetivadas. Destaca-se, ainda,
seu papel fundamental para o sucesso do processo educativo. Dessa forma,
aponta-se a necessidade dos ECS na formação inicial a fim de preparar os
futuros professores para atuar com excelência naquilo que se espera, com ética,
sabedoria e responsabilidade.
A realização do ECS é um dos primeiros desafios dos acadêmicos,
sendo o mesmo de suma importância, pois é neste momento que o aluno precisa
colocar em prática tudo que aprendeu, até então, deixando de se posicionar
como aluno e vislumbrando uma postura docente. Assim, o estágio se configura
como um momento significativo, de construção de conhecimentos coletivos, de
autoconhecimento e de descoberta, como profissional e aprendiz.
Referências
ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: teorias e práticas volume I - reflexões e
fundamentos. São Paulo: Edições Loyola, 2010.
ALVES, R. A alegria de ensinar.3 ed. Rio de Janeiro: ARS Poetica Editora LTDA,
1994.
ASSIS, L. C.; MELLO, A. S.; FERREIRA NETO, A.; SANTOS, W.; SCHNEIDER, O.
Jogo e protagonismo da criança na Educação Infantil. Revista Portuguesa de
Educação, Minho, v. 28, n. 1, p. 95 - 116. 2015.
Samara Escobar Martins - Maria Eduarda Tomaz Luiz - Wihanna Cardozo de Castro Franzoni - Alcyane Marinho
111
DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
DOCENTE E O TDAH: POSSIBILIDADES
POR MEIO DO ESTÁGIO
SUPERVISIONADO1
Andressa Graziele Brandt
Dávila Carolina Inácio de Souza
Isisleine Dias Koehler
André Otávio Saibra Conceição
DOI: 10.29327/523736.1-8
Introdução
No contexto educacional, a qualidade da educação perpassa por uma
gestão escolar democrática e participativa, por isso faz de suma importância a
inclusão de toda a comunidade acadêmica nos processos e decisões escolares.
Em consequência, segundo Demo (2007), as escolas possuem a responsabilidade
de formar cidadãos que saibam pensar, não só para produzir, mas principalmente
para qualificar nossa democracia.
Neste sentido, a formação continuada acerca das temáticas emergentes
no contexto escolar é um fator importante nos processos de desenvolvimento
profissional de todos os profissionais da escola e da comunidade escolar. Para
Demo (2007), ser professor e profissional da educação implica servir também
aos propósitos democráticos, sendo protagonista da cidadania popular, da
produção própria de conhecimento crítico e fazendo preponderar a formação
para inclusão e para a cidadania.
Em decorrência, o objetivo principal desta pesquisa foi evidenciar a
importância da gestão escolar para a formação continuada de professores a
respeito do tema Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
Este texto corresponde a uma proposta de intervenção desenvolvida pelos
pesquisadores de uma Instituição Federal de Ensino Superior de Santa Catarina,
na disciplina de Estágio Curricular Supervisionado em Gestão, na qual se
definiu como objetivos específicos: verificar a perspectiva e o conhecimento da
comunidade escolar interna a respeito dos estudantes com TDAH; proporcionar
à comunidade escolar a compreensão histórica a respeito do TDAH; promover a
Andressa Graziele Brandt - Dávila Carolina Inácio de Souza - Isisleine Dias Koehler - André Otávio Saibra Conceição
113
Isto é, não deve existir distinção na oferta da educação, uma vez que é
papel da escola fazer com que todos os alunos sejam incluídos e tenham suas
necessidades específicas atendidas.
Neste sentido, Campbell (2009, p. 87) define o TDAH como “[...] uma
doença genética que apresenta os seus primeiros sintomas por volta dos sete
anos de idade, atinge em média 6% das crianças e 4,7% dos adultos”, sendo,
atualmente, um dos transtornos mais estudados por autores da educação
especial. Dessa forma, entendemos que isso muda a configuração da sala de
aula, cria novos desafios aos docentes e faz com que a escola busque formações
sobre esta temática, a fim de auxiliar alunos e professores.
Tendo em vista o exposto, com o objetivo de auxiliar os professores
da Educação Básica, foi elaborado um projeto de intervenção com foco no
TDAH para a disciplina de Estágio Curricular em Gestão. Com este projeto de
Andressa Graziele Brandt - Dávila Carolina Inácio de Souza - Isisleine Dias Koehler - André Otávio Saibra Conceição
115
políticos e sociais, para que seja possível dialogar com os meios da formação
crítica, autônoma e transformadora necessários ao desenvolvimento de um bom
profissional.
Por meio da proposição da formação continuada sobre TDAH, promove-
se uma reflexão humanizada, cujo início deve ocorrer já na formação inicial, para
que os docentes possam atender às demandas estabelecidas pelas instituições
de ensino. Nesse sentido, compreende-se que o papel da formação continuada é
importante para a elaboração de novas ideias, estratégias, metas, planejamentos
e outras ações que envolvam toda a comunidade. A esse respeito, Lima (2002, p.
49) declara que:
Compete à universidade não só a transmissão e produção do
conhecimento, mas, sobretudo, a responsabilidade de fazer retornar à
sociedade o conhecimento produzido, quer em nível objetivo imediato,
quer no sentido maior de desenvolvimento social, de melhoria da
qualidade de vida da população na qual ela está inserida.
Andressa Graziele Brandt - Dávila Carolina Inácio de Souza - Isisleine Dias Koehler - André Otávio Saibra Conceição
117
Andressa Graziele Brandt - Dávila Carolina Inácio de Souza - Isisleine Dias Koehler - André Otávio Saibra Conceição
119
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996.
Andressa Graziele Brandt - Dávila Carolina Inácio de Souza - Isisleine Dias Koehler - André Otávio Saibra Conceição
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O ESTÁGIO CURRICULAR
SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES: DIAGNÓSTICO E
ESTUDO DE CASO SOBRE O ENSINO
DE SOCIOLOGIA EM ESCOLA PÚBLICA
DE SALVADOR, BAHIA
Nair Casagrande
Adriana Franco de Queiroz
Maria Madalena dos Santos
DOI: 10.29327/523736.1-9
Médio como disciplina obrigatória. Desse modo, a Sociologia pode ser entendida
como disciplina subversiva por contribuir para a formação política das pessoas,
ao tratar de conhecimentos culturais, históricos e sociais na perspectiva crítica.
A ausência ou a presença dessa disciplina nos currículos escolares apontam
indícios de diferentes posições políticas, por aqueles que direcionam a educação
do país.
O presente trabalho aborda as possibilidades da formação de
professores de Sociologia através da realização dos estágios supervisionados
em escola pública. O objetivo geral é fomentar o debate acerca das realidades
educacionais, que envolvem o ensino da Sociologia no Ensino Médio, refletindo
sobre o diagnóstico escolar produzido por pesquisa discente durante os estágios
curriculares, considerando as contradições da educação brasileira.
Esta pesquisa foi realizada nos componentes curriculares de Metodologia
e Práticas de Ensino, que corresponde aos Estágios Supervisionados do
Curso de Licenciatura em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia
(UFBA). Nesses componentes curriculares de Metodologia e Prática de Ensino
em Ciências Sociais, os estudantes desenvolvem atividades de pesquisa em
escolas públicas de Ensino Médio para traçar um diagnóstico sobre o ensino da
Sociologia visando o planejamento das atividades pedagógicas e a realização
da regência.
A proposta de Estágio Supervisionado alvitrou a realização de
observação da prática pedagógica, co-participação, aplicação de instrumentos
de pesquisa, para levantamento de dados sobre o ensino da Sociologia na escola
pública para subsidiar a regência. As atividades dos estágios docentes envolvem
observação da prática pedagógica e da dinâmica escolar através da pesquisa, a
co-participação nas aulas bem como o exercício da regência. A pesquisa sobre
o ensino se faz necessário para ao bom desempenho docente, sendo orientada
pela etnografia escolar (ANDRÉ, 2012), enquanto metodologia de investigação.
Em síntese, este trabalho apresenta um estudo de caso, em uma escola
pública da rede estadual de ensino em Salvador, sobre a realidade do ensino da
Sociologia, a partir da pesquisa discente, orientada pelo estágio curricular na
formação do futuro professor dessa área do conhecimento. A coleta de dados,
realizada durante o primeiro semestre letivo de 2019, envolveu a observação
participante, registros em caderno de campo, aplicação de questionário com os
educandos do ensino médio, entrevista com a professora regente de Sociologia
e análise de documentos tal como o Projeto político pedagógico (PPP) da escola.
A amostra envolveu 05 turmas de 3º Ano do Ensino Médio, nas quais foram
aplicados 90 questionários.
Neste trabalho, inicialmente debatemos a importância do estágio
curricular com pesquisa na formação de professores (PIMENTA; LIMA, 2012),
como possibilidade de práxis pedagógica e qualificação profissional. Em seguida,
2 O tempo de aula de 50 minutos quase nunca ocorre integralmente devido a diversos fatores,
como as demandas administrativas, deslocamentos entre os pavimentos da escola, a realização
da chamada, solicitação de silêncio, atendimento individualizados, instalação de equipamento
quando possível, etc.
3 Trata-se de um grande colégio estadual, que foi fechado pelo governo do Estado no final
de 2019, a contragosto de estudantes, professores e funcionário. O Colégio Estadual Odorico
Tavares, localizava-se em uma área central, de grande valor imobiliário de Salvador, o Bairro da
Vitória. Existem algumas hipóteses quanto aos motivos do fechamento do colégio, dentre as
quais que os moradores da região não viam com bons olhos a presença dos estudantes de escola
pública, bem como os interesses da especulação imobiliária naquela área.
através de escadas com degraus de baixa altura, mas que não parece permitir
o livre acesso a cadeirantes, conforme pode ser observado nas duas imagens a
seguir.
Figura 1 – Registros Fotográficos de Corredores de Acesso aos Diferentes
Andares da Escola em 2019
Matrículas 1º ano EF 0
Matrículas 2º ano EF 0
Matrículas 3º ano EF 0
Matrículas 4º ano EF 0
Matrículas 5º ano EF 0
Matrículas 6º ano EF 0
Matrículas 7º ano EF 0
Matrículas 8º ano EF 0
Matrículas 9º ano EF 0
Matrículas 1º ano EM 110
Matrículas 2º ano EM 117
Matrículas 3º ano EM 304
professores não têm condições de dar aula devido problemas de saúde mental;
sono; ausência dos estudantes em sala; alguns professores faltam e enrolam
bastante nas aulas.
Acompanhamos a contínua precarização da infra-estrutura da escola,
sem a devida reposição de equipamentos e por falta de manutenção dos espaços
físicos, com a conseqüente eliminação do oferecimento de atividades, como
aulas em laboratórios, a possibilidade de uso das instalações da biblioteca,
de espaços para atividades culturais e esportivas, fatores que certamente
tem impactado direto na qualidade do ensino e da aprendizagem, apesar da
demonstração de confiança que os estudantes tinham pela escola.
Considerações finais
Na análise dos dados, constatamos que o conhecimento da Sociologia
naquela escola era abordado através de questões concretas da realidade social
e da vida cotidiana experimentadas pelos professores e articulada na docência
da disciplina. A escola pesquisada apresentava condições limitadíssimas acerca
das condições materiais e equipamentos disponíveis para a realização da prática
pedagógica, certamente por estratégia política para que a degradação fosse um
motivo para o fechamento, oferecendo apenas equipamentos básicos da sala de
aula em más condições ambientais de trabalho.
A prática pedagógica, seja na formação dos professores em Sociologia,
na ação do estudante estagiário ou do professor em atuação na escola, deve
ser tomada como uma prática social que é orientada por objetivos, finalidades
e conhecimentos. Essa prática deve estar relacionada ao contexto social que
pressupõe a relação teoria-prática, que não existe isoladamente, uma não existe
sem a outra, se encontram em indissolúvel unidade, exercendo uma influência
mútua no processo de ensino aprendizagem. Então defendemos uma perspectiva
de formação de professores na perspectiva da indissociabilidade entre teoria e
prática, enquanto práxis, apontando para o desenvolvimento do estágio como
uma atitude investigativa, que envolva a reflexão e a intervenção na vida da
escola, dos professores, dos alunos e da sociedade em geral.
Assim, o estágio, enquanto práxis na formação do sociólogo e futuro
professor de Sociologia, deve ser assumido como horizonte ou utopia a ser
conquistada no projeto dos cursos de formação. Tal como ser de práxis, o ser
humano é sempre um ser da cultura e da história, porque seu mundo não é
apenas a natureza, e sim o mundo das relações humanas. Por isso não há ser
humano que não tenha conhecimentos, ou que “ignore tudo”. A própria práxis
cotidiana é produtora de conhecimentos que concernem à realidade vivida.
Sublinhamos a importância desta experiência a qual pretendemos
seguir na análise da realidade estudada visando aprofundar e ampliar os
estudos acerca desta importante temática que trata do ensino da Sociologia na
educação brasileira e a formação de professores nesta área do conhecimento,
PEREIRA, Luiza Helena. Por uma Sociologia da Sociologia no Ensino Médio. In:
MEIRELES, M. et ali (orgs.). Ensino de Sociologia: trabalho, ciência e cultura.
Porto Alegre: Evangraf/ LAVIECS, p. 159-177, 2013.
PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria Socorro L. Estágio e Docência. 7º ed. São
Paulo: Cortez, 2012.
O Diário de Campo
De um modo geral, o Diário de Campo caracteriza-se por um instrumento
no qual os estudantes registram suas observações e reflexões sobre o processo
de imersão. Contém desde a descrição do cotidiano escolar, até a indicação de
temáticas emergentes de tais observações, que consequentemente poderão ser
foco das discussões nas reuniões de preceptoria que ocorrem semanalmente. A
forma objetiva do diário de campo varia de acordo com as orientações de cada
preceptor podendo ser cadernos físicos, arquivos de editor de texto enviados a
cada dois ou três dias para os preceptores ou em formato de blogs colaborativos.
No caso do instrumento de registro de observações e vivências cotidianas na
escola, que chamamos de “diário de campo on-line”, esse possui o formato de Blog
de acesso restrito e é construído coletivamente pelos preceptores e estudantes
de cada grupo de residentes vinculados a uma escola, por um período específico.
O diário de campo permite ao preceptor acompanhar a aprendizagem dos
estudantes de forma continuada uma vez que visa acompanhá-la em movimento
uma vez que entendemos que “é somente em movimento que um corpo mostra o
que é” (VYGOTSKY, 2002, p.86).
As observações do cotidiano vivenciado pelos residentes na escola são
registradas por meio de narrativas que são editadas em forma de registros,
envios via email ou postagens com frequência mínima de três por semana. Os
estudantes são orientados a omitirem os nomes dos atores envolvidos, tanto de
professores das escolas participantes do programa de residência, quanto de
crianças.
No caso do diário de campo, no formato de caderno físico, há um
combinado entre preceptores e estudantes de que seja disponibilizado ao
preceptor antes da reunião de preceptoria, com tempo viável para a leitura e
preparação do preceptor. Devido a esse dificultador, ao longo dos anos as formas
digitais de diário de campo têm sido priorizadas uma vez que permitem uma
comunicação mais rápida e, no caso dos blogs, uma participação colaborativa
entre estudantes e preceptor.
A cada postagem registrada no diário de campo on-line (blog), os
preceptores e outros alunos do grupo, têm a liberdade e são incentivados
a postarem comentários ou oferecerem subsídios para que o residente
possa construir reflexões sobre suas observações e imersão na escola. Tais
observações registradas pelos residentes não possuem temas específicos e
são decorrentes de suas inquietações a partir de suas vivências e interações
cotidianas na escola. Em geral, nas residências nas modalidades de Educação
Infantil e Ensino Fundamental, a maioria dos registros escritos encontra-se
recorrentemente alicerçada por temáticas que variam desde a discussão sobre
a questão da disciplina na escola, perpassando pela rotina diária das turmas,
brincadeiras e brinquedos, práticas educativas, até a reflexão sobre as relações
entre as famílias e a escola.
Edna Martins - Vanessa Dias Moretti
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Introdução
O Estágio Supervisionado III do curso de Licenciatura em Matemática da
Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB)
tem por objetivo aproximar os estagiários da realidade que se vive no ambiente
escolar, no caso, a instituição de ensino médio, onde realizou-se um diagnóstico
desta, em que se procurou conhecer e analisar o Projeto Político Pedagógico, a
organização e gestão escolar, bem como as relações entre a escola e os sujeitos
educativos, escola e comunidade, além de conhecer os projetos pedagógicos e
ação educativa estabelecida de forma interdisciplinar neste contexto, de modo a
preparar o acadêmico para a iniciação à docência neste espaço (UNILAB, 2016).
A formação inicial na UNILAB busca oportunizar aos licenciandos os
conhecimentos científicos e pedagógicos, proporcionando uma interligação
real com as situações educativas, analisando-as, renovando-as e equilibrando
teoria e prática para que os futuros professores compreendam o seu complexo
papel social, pautado pelo compromisso com a qualidade da educação pública
(UNILAB, 2018).
Neste ensejo, se faz necessário refletir sobre a formação do professor
de matemática, visto que, apesar de ser uma área específica em que se exige
conhecimentos da área, não basta apenas saber matemática, é preciso também
saber ensinar. Albuquerque e Gontijo (2013) ressaltam em suas pesquisas sobre
a formação do professor de matemática, a complexidade que envolve esta
temática, o quanto ainda se encontra deficitária a formação deste professor,
porque muitos currículos ainda privilegiam os conteúdos de matemática
desconectados da Didática. Diante disso, questionamos, de que forma o
reflexão sobre a prática, pois somente com uma “análise crítica, à luz dos saberes
disciplinares, é possível apontar as transformações necessárias no trabalho
docente, nas instituições” (PIMENTA; LIMA, 2017).
Sabendo que esses estágios dificilmente são realizados em uma única
escola em virtude da quantidade dos estagiários, até mesmo porque isso
dependerá das condições necessárias e das parcerias entre universidade e
escolas, além do reconhecimento que cada escola é única, que tem em si “um
jeito especial específico de conduzir o seu cotidiano e sua organização e de se
posicionar diante das questões e desafios que surgem”, (LIMA, 2008, p. 199), o
que torna importante cada relato dos estagiários por trazerem para o campo da
universidade situações diversas que poderão ser a base das reflexões teórico-
críticas na formação do professor.
Deste modo, o estagiário, de acordo com Lima (2008) situa-se em meio
a um caldeirão de culturas e concepções diferentes. Ele se configura como
uma ponte entre a universidade e a escola, onde este se depara com a cultura
universitária, a escolar e sua própria, partindo inicialmente de suas percepções
do que seja a profissão docente, o ambiente escolar e o processo de ensino-
aprendizagem, assim, Martins e Almeida, (2018, p. 3) afirmam que:
A experiência de Estágio nas escolas precisa ser acompanhada de
momentos na Universidade que possam discutir e problematizar
o que foi vivenciado, analisando as possibilidades e dificuldades
daquele momento, oportunizando um diálogo entre o escrito e o
vivido, possibilitando trocas entre os estagiários a partir da partilha
dos diversos depoimentos do que fora vivenciado nas instituições da
educação básica.
EG3 afirma que: “o professor trabalhou em sala é uma base seguro de enfrentar
o estágio IV sem tantos problemas caso utilizemos esses poderosos materiais
que falam das dificuldades, inclusão e processo de ensino e aprendizagem seria
suficiente para atingir a meta no exercício de função”.
Assim, em meio ao trabalho do professor, a sala de aula, se mostra como
esse espaço de conhecimento compartilhado, em que o professsor junto a sua
turma são os protagonistas deste processo de ensino, aprendizagem e reflexão
crítica sobre a prática.
No entanto, Rocha e Fiorentini (2003, p. 11), alertam que o “trabalho
com cada classe demanda um saber-fazer próprio e às vezes exclusivo àquele
contexto. Ou seja, esse saber é sempre provisório e circunstancial, uma vez que
ele é construído e mobilizado pelo professor no seu trabalho diário”, podendo
assim, haver alterações em cada turma que assume, então pode-se dizer, ou
senão afirmar, que o fazer docente é construído ao longo do percurso, cada
experiência se configura como um saber próprio, aliado aos “saberes plurais
vindos das mais diferentes instâncias de aprendizagem do professor” (PIMENTA;
LIMA, 2017, p. 137).
Contudo, podemos afirmar que cada experiência vivenciada na trajetória
formativa torna-se única para aqueles que dela participa e o estágio está entre
essas experiências que são marcantes na vida de um professor, pois este, para
muitos é o primeiro encontro com a sala de aula, o despertar da identidade
docente, o início de uma história de como tornou-se professor.
Conclusões
As análises dos relatórios dos estagiários revelaram que o Estágio
Supervisionado no curso de Licenciatura em Matemática da UNILAB desempenha
um papel fundamental na formação dos futuros docentes. Os diferentes níveis
dos estágios, começando com a observação e regência no ensino fundamental e
médio respectivamente, têm um potencial e um enorme contributo na formação
dos discentes.
O estágio possibilita aos universitários conhecerem o ambiente da
escola, funcionamento da gestão escolar, a realidade das salas de aula e a
aproximação com os alunos, de modo que o mesmo possa se preparar e/ou
decidir se pretende mesmo seguir a carreira como docente.
Neste contexto foi possível perceber o quão importante se faz o papel
do professor orientador do estágio, que planeja, prepara e conduz os encontros
e as orientações de maneira a despertar o desejo de aprender, de investigar
e pesquisar nos acadêmicos, possibilitando a relação teoria-prática em um
movimento de ação-reflexão-ação no percurso do estágio, ressignificando
a prática e fortalecendo a identidade docente dos futuros professores, em
específico, no campo da Matemática, que vem avançando em alguns aspectos,
porém de forma ainda pouco efetiva.
Introdução
Este artigo é um recorte do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de
Pedagogia desenvolvido na Universidade Estadual do Piauí – UESPI, campus de
Parnaíba-PI que trata da relação entre o Estágio Supervisionado e a constituição
da identidade profissional dos acadêmicos do Curso de Pedagogia de uma
faculdade privada da cidade de Parnaíba – PI. Nesse sentido, os objetivos desta
pesquisa foram: Saber o porquê da escolha pelo curso de Pedagogia e verificar
a contribuição do Estágio Supervisionado para a formação profissional das
participantes da pesquisa.
Nesta investigação, optamos pela pesquisa autobiográfica, com
abordagem qualitativa, pois o método (auto) biográfico permite que seja “[...]
concedida uma atenção muito particular e um grande respeito pelos processos
das pessoas que se formam: nisso reside uma das suas principais qualidades,
que o distinguem, aliás, da maior parte das metodologias de investigação em
Ciência Sociais” (NÓVOA; FINGER (2010, p. 23).
A instituição de ensino superior da rede privada onde a pesquisa foi
realizada foi escolhida por ser o local de trabalho de uma das pesquisadoras, o que
nos possibilitou acesso mais fácil aos colaboradores selecionados. Participaram
da pesquisa duas acadêmicas do 8º período do curso de Pedagogia, no horário
noturno, regularmente matriculadas na disciplina de Estágio Supervisionado.
As colaboradoras, que optaram por serem identificadas por seus nomes
verdadeiros, produziram relatos orais por meio da utilização da técnica História
de Vida, utilizada pelos estudiosos que se preocupam em colher dados relativos
à linha histórica da vida dos envolvidos nas situações e fenômenos pesquisados.
Assim, está claro que a formação do pedagogo deve ser ampla a fim de
dar suporte teórico e prático para atuação desse profissional em vários setores
como na gestão, supervisão e coordenação pedagógica no âmbito escolar,
na pesquisa educacional, na definição de políticas públicas educacionais, em
movimentos sociais, em empresas, nos serviços de psicopedagogia e orientação
educacional, nos programas sociais e em outros setores educacionais, culturais
e sociais.
Diante dos vários questionamentos sobre a real função do pedagogo,
Libâneo (2002, p. 60), destaca que a Pedagogia é antes de tudo um campo
científico, não um curso”, evidenciando assim a abrangência profissional do
curso de Pedagogia ao formar “[...] o investigador da educação e o profissional
que realiza tarefas educativas seja ele docente ou não diretamente docente.
Como a educação é o centro das investigações da Pedagogia, ela pode
ocorrer em vários locais e de diversos modos e não apenas no meio escolar, assim
lugares como meio familiar, igrejas, no trabalho, na rua, e comunidade em geral
onde acontecem processos educativos, o pedagogo tem seu campo de atuação
Francisca das Chagas Duarte de Siqueira Souza - Maria Ozita de Araujo Albuquerque
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Francisca das Chagas Duarte de Siqueira Souza - Maria Ozita de Araujo Albuquerque
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Francisca das Chagas Duarte de Siqueira Souza - Maria Ozita de Araujo Albuquerque
171
Os estágios foram de suma importância na minha vida acadêmica porque foi, por
meio deles, que me fiz a pergunta se realmente queria essa profissão. (Daniele)
Constatamos nas duas respostas que o Estágio Supervisionado teve
significativa importância para as participantes da pesquisa, especialmente
para a formação profissional da mesma. Patrícia ressalta que este momento de
sua vida acadêmica lhe proporcionou a aquisição de conhecimentos, fazendo
com que ela pudesse refletir sobre suas futuras ações pedagógicas. Couto et
al. (2016, p. 84) elucidam que o estágio é o “[...] campo de aprimoramento dos
saberes adquiridos durante a graduação, confirmando no discente as habilidades
e aprimorando a sua identidade profissional enquanto professor-educador”.
Daniele, por sua vez, defende a relevância do estágio porque lhe estimulou
a questionar se realmente queria assumir a profissão docente. Isso evidencia
que as experiências vividas durante este período em contato com a realidade
das escolas brasileiras fazem o estagiário questionar e refletir sobre seu futuro,
confirmando a importância de se conhecer os espaços escolares, em especial a
sala de aula, nesta etapa do processo formativo. Sobre esta questão Couto et al.
(2016, p.78), apontam que o estágio é essencial na formação da identidade dos
futuros professores, uma vez que:
[...] permite ao discente edificar em si o desejo do “ser professor”, mesmo
observando situações complexas, levando-o até mesmo ao desejo de
mudança quando de fato estiver inserido na prática pedagógica, ou ter
a clareza de que não se encaixará no exercício da educação.
Francisca das Chagas Duarte de Siqueira Souza - Maria Ozita de Araujo Albuquerque
173
BARROS, José Deomar de Souza; SILVA, Maria de Fátima Pereira da; VÁSQUEZ,
Silvestre Fernández. A prática docente mediada pelo estágio supervisionado.
Revista Atos de pesquisa em educação, v. 6, n. 2, p. 510-520, 2011.
LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez,
2010.
Introdução
Este texto se constitui recorte de uma pesquisa de conclusão de curso
em nível de graduação e que teve como objetivo investigar como estudantes de
Pedagogia da UESPI analisam o desenvolvimento do Estágio Supervisionado
nos anos iniciais do Ensino Fundamental envolvendo a organização do ensino
de Matemática, sob a perspectiva davydoviana. Assim, buscávamos atender o
propósito de responder a seguinte questão: Qual a análise de estudantes de
Pedagogia da UESPI sobre a organização do ensino de Matemática, subsidiada
pela proposta davydoviana, no contexto do Estágio Supervisionado?
Esclarecemos ainda que a escolha pelo objeto de estudo, qual seja: a
organização do ensino de Matemática no Estágio Supervisionado, sob a ótica de
estudantes de Pedagogia, subsidiada pela proposta davydoviana, se deu numa
relação direta com a formação docente, no sexto bloco do curso de Pedagogia,
com a disciplina “Matemática: conteúdo e metodologia”, cursada na Universidade
Estadual do Piauí (UESPI), campus Poeta Torquato Neto. Na ocasião, foi
apresentada pela professora da disciplina o estudo da proposta davydoviana, na
qual em sua essência, defende que a escola deve promover o desenvolvimento
do pensamento teórico dos estudantes por meio da apropriação dos conceitos
científicos (ROSA, 2012).
A consolidação da escolha pelo referido objeto de estudo se deu quando
um grupo de quatro alunas do oitavo bloco do curso propôs desenvolver as
atividades docentes do Estágio Supervisionado nos anos iniciais, em uma escola
da rede pública municipal de Teresina, embasadas pela proposta davydoviana.
autora, fazem parte da realidade social, isso porque o ser humano se difere pela
capacidade de pensar, agir e interpretar seus atos dentro da sociedade na qual
está inserido.
O delineamento do contexto de realização do estudo se deu em
dois cenários: primeiramente envolveu o Centro de Ciências da Educação,
Comunicação e Artes - CCECA da Universidade Estadual do Piauí, Campus Poeta
Torquato Neto, por ser este o contexto formativo das quatro interlocutoras
envolvidas, estudantes do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia. O segundo
cenário em que ocorreu a investigação deu-se em uma escola da Rede Pública
Municipal de Teresina, localizada na zona Norte da capital.
Quanto à opção pela instituição escolar envolvida, o critério fundamental
justificou-se em virtude de ter sido o espaço de desenvolvimento das atividades
docentes propostas na disciplina Estágio Curricular Supervisionado das
interlocutoras. Nela, as quatro estudantes de Pedagogia ministraram aulas de
Matemática, no segundo semestre de 2017, em turmas do segundo ao quinto
ano do Ensino Fundamental. Por princípios éticos, para manter resguardada a
identidade das mesmas, utilizamos nomes fictícios que passaram a figurar no
texto como: Rayanne, Larissa, Vitória e Laura.
No tocante ao procedimento de apreensão dos dados, utilizamos a
entrevista, por considerarmos que essa técnica, de acordo com Minayo (2012,
p. 64): […] é acima de tudo uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores,
realizada por iniciativa do entrevistador. Ela tem o objetivo de construir
informações pertinentes para um objetivo de pesquisa, e abordagem pelo
entrevistador, de temas igualmente pertinentes com vistas a este objetivo. Além
disso, com base em Triviños (2015), entendemos que a entrevista nos possibilitaria
processar os dados e buscar compreender como acontece a organização do
ensino da Matemática nos anos iniciais no Estágio Supervisionado.
Com isso, abordaremos agora a discussão acerca do objeto que nos
propomos, especificamente, neste texto. Conforme já explicitado no decorrer
do nosso estudo, o Estágio Supervisionado é compreendido “como situação
de aprendizagem e como pesquisa” (ARAUJO, 2016). Portanto, é um espaço
onde ocorre o processo de análises e reflexões nas e sobre as práticas e ações
pedagógicas dos futuros professores. Assim, através de ações interventivas,
foi proposto às interlocutoras momentos de estudo e planejamento das aulas
a serem ministradas no Estágio, com a professora da UESPI estudiosa dos
princípios didáticos defendidos por Davídov, qual seja: a Teoria do Ensino
Desenvolvimental. Esse momento consistiu em aprendizagens coletivas e, ao
mesmo tempo, expectativas quanto ao desenvolvimento do ensino previamente
organizado no grupo e que envolveu a proposta davydoviana.
Laura: A expectativa era se iria ter retornos na aprendizagem das crianças, com
essa metodologia que já era bem diferente, no que é aplicado nas escolas.
Esclarecemos que a proposta davydoviana defende que se faz necessário
colocar a criança em ação investigativa, conduzida por meio de perguntas-guia
por parte do professor e, na sequência, que os estudantes elaborem seus próprios
questionamentos (DAMAZIO; ROSA; EUZÉBIO, 2012). Para tanto, os estudantes
são conduzidos a uma situação desencadeadora de aprendizagem através de
questionamentos propostos intencionalmente pelo professor e, em seguida, os
estudantes são orientados a elaborar perguntas inicialmente direcionadas ao
professor, depois aos seus colegas. Porém, mesmo com as leituras e discussões
que foram propostas a esse respeito durante a disciplina Matemática: conteúdo
e metodologia, as interlocutoras Vitória e Laura expressaram dúvida em relação
a viabilidade da utilização das tarefas com base no que propõe os princípios
didáticos davydovianos.
O relato de Laura explicita indícios de incerteza sobre a possibilidade
de os alunos aprenderem, se eles iriam compreender o movimento conceitual
a partir da proposta davydoviana, haja vista que “era bem diferente, no que é
aplicado nas escolas”. Na fala de Vitória, destacamos sua expectativa mais para
atender uma necessidade pessoal, conforme relata no seguinte trecho: “[...] era
eu perceber na prática, porque eu já tinha visto na teoria. Na teoria eu não me
identifiquei tanto [...]”. Podemos concluir que nas falas das interlocutoras citadas,
esse sentimento de dúvida e preocupação com as crianças e, particularmente,
com os próprios graduandos, são desafios a serem enfrentados, pois como
afirma Davydov (1982), as dificuldades dos alunos podem ser resultantes do
que e como se ensina. Entendemos que nisso está implicado, inicialmente, o
processo de apropriação conceitual pelo professor.
Ao refletirmos sobre a realidade da prática docente que envolve o ensino
de Matemática na escola, recorremos às reflexões de Afanasiev (1968, p. 176).
Para o autor, categorias realidade e possibilidade se apresentam como unidade
dialética. Com isso, esclarece que “[...] a atividade consciente das pessoas,
orientada para um fim determinado, tem uma importância decisiva para que a
possibilidade se realize”. Assim, ao trazer à mostra os relatos referentes a essa
Larissa: [...] com a proposta da escola eles diziam que já sabiam, que isso era
chato e que eles não gostavam. Aquela coisa tradicional de repetição, de livros.
ele aprender, o novo. No entanto, com base nos relatos apresentados, as três das
quatro interlocutoras que explanaram sobre como veem a realidade em que se
encontra a organização do ensino de Matemática no contexto escolar, ressaltam
o desinteresse dos alunos por considerarem a disciplina chata, sobretudo, porque
afirmavam, segundo Larissa, que “já sabiam”. Isso, provavelmente, pode ser um
fator que influencia para o comportamento dos alunos que, conforme Vitória “[...]
os alunos ficavam inquietos [...] era aquela confusão [...]”. Destacamos ainda nos
relatos de duas interlocutoras, a referência ao livro didático, sempre relacionado
a fatores negativos, associado a um ensino tradicional.
Para corroborar o que afirmam os autores supracitados e
compreendermos como as interlocutoras analisam a vivência do estágio com a
proposta davydoviana, vejamos o que relatam seus discursos:
Rayanne: Analiso como algo superpositivo, gostei muito...
Larissa: Foi uma vivência boa, que trouxe muitos conhecimentos, tanto para o
aluno, como para a gente também. Porque a proposta foi apresentada, tivemos
que estudar, para poder aplicar para os alunos e vimos os resultados.
Vitória: Eu adorei o estágio com a proposta, só não foi tão boa, por conta da
professora que ela não abria espaço para gente trabalhar [...] eu acho que se a
gente tivesse tido abertura maior dela, o aproveitamento teria sido bem melhor.
Laura: Foi muito boa, apesar dos obstáculos que encontramos, nós conseguimos
aplicar o que a gente pretendia.
De acordo com o exposto pelas interlocutoras, todas concordaram
que o uso da proposta davydoviana como prática pedagógica trouxe vários
conhecimentos, pois tiveram que realizar uma atividade de estudo orientada pela
professora da disciplina Matemática: conteúdo e metodologia da UESPI e assim,
compreender os princípios didáticos da Teoria do Ensino Desenvolvimental.
E somente depois dos estudos que se caracterizam em se aprofundar dos
conteúdos matemáticos (conceitos, procedimentos e linguagem matemática) é
que foram planejadas as atividades para os alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental com o intuito de subsidiar o desenvolvimento das aulas.
Em seus relatos Vitória e Laura enfatizaram sobre os obstáculos
encontrados. Nesse sentido, apresentaram indícios de que o próprio corpo
docente da instituição em que se realizou o estágio colocou uma verdadeira
“barreira” impedindo a realização das ações pedagógicas de maneira
autônoma. Conforme exposto, entendemos que a prática docente das futuras
pedagogas vivenciada no Estágio Supervisionado, a partir dos princípios
didáticos davydovianos influenciou no desenvolvimento delas enquanto futuras
professoras em processo de formação. Além disso, o modo de organização do
Larissa: Eu vi que com a proposta davydoviana eles tinham mais interesse, eles
queriam participar, eles tinham a ânsia de apren der daquela forma. [...].
PARTE II
Concepções, análises e reflexões acerca
do Estágio Supervisionado na formação
docente
190
CONTEXTUALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO E
PRÁTICA PEDAGÓGICA: UMA ANÁLISE
DE SUAS RELAÇÕES EM TEMPOS DE
PANDEMIA DA COVID 19
Andréa Kochhann
Bruna Batista Galan de Souza
Jessika Inocencio Candido Araujo
Vinícius Fagundes
DOI: 10.29327/523736.1-14
Introdução
O presente texto é reflexo das discussões teóricas e empíricas advindas
do Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, do curso
de Pedagogia, da Universidade Estadual de Goiás – UEG, Câmpus São Luis de
Montes Belos. A abordagem deste trabalho se alicerça na apresentação da
contextualização da educação em momento da pandemia mundial provocada
pela COVID 19. Neste sentido, o objetivo é apresentar a prática pedagógica
em tempos pandêmicos. Dessa forma, os objetivos específicos se definem
em: discutir sobre o papel da coordenação pedagógica, já que se trata de um
profissional docente que realiza as atribuições pedagógicas seja em espaços
escolares ou não escolares, discutir o momento de pandemia do COVID 19, que é
entender as alternativas e/ou meios que a educação passou a desempenhar nesta
situação em que todos os sujeitos se encontram, que é o distanciamento social
e bem como, os desafios que a educação, os estudantes, os pais e responsáveis
dos alunos passaram a enfrentar com esta pandemia e, por fim discutir a prática
pedagógica da realização do projeto de intervenção; as observações e ações
realizadas no movimento do Estágio Supervisionado, que são observações
realizadas nas aulas remotas dos alunos e por meio dos blocos de atividades
(impressas), estas que também são dirigidas nas aulas remotas (tecnologias).
A pesquisa foi de cunho bibliográfico e empírico, tendo como principais
teóricos Silva (2018), Capucho (2020), Catanante; Dias (2017), Santos (2020),
Ramos (2020) e outros, para a empiria foi considerado os momentos de semi-
regência realizados na escola campo em tempos de pandemia. Dessa forma,
primamos por apresentar aos educadores o contexto da educação referente à
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
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realidade que ela enfrenta, tanto antes quanto no momento da pandemia COVID
19 e bem como, algumas expectativas pós-pandemia. De modo, que sejam
ressignificadas às práticas pedagógicas dos professores.
Contextualização da educação: uma análise teórica da coordenação
pedagógica e suas relações
Torna-se interessante ter a compressão do exercício profissional, que
a coordenação pedagógica desempenha no ambiente educacional. Alguns
questionamentos se tornam pertinentes, sobre este profissional. O que é
coordenação pedagógica? Qual a função do(a) coordenador(a) pedagógiWco(a)?
E como ser coordenador(a) pedagógico(a) antes, durante e pós-pandemia COVID
19? Entre outras indagações.
Segundo Silva (2018), a coordenação pedagógica no ambiente
educacional, se encontra voltado também para o Projeto Político Pedagógico
– PPP. Cada escola acompanha a sua construção, para que se alcance uma
educação de qualidade aos alunos. “[...] Pode-se afirmar que é por intermédio da
coordenação pedagógica que as coisas ‘acontecem’ na escola. A coordenação
pedagógica é, em outras palavras o coração da escola, o espaço central em
que a coletividade pode decidir e atuar.”. (SILVA, 2018, p. 21). Pois, realiza toda
atividade pedagógica do ambiente educacional, seja em espaços escolares ou
espaços não escolares.
O(a) coordenador(a) pedagógica(a) é aquele (a) profissional que
coordena o trabalho realizado na escola de forma que este não se torne
individualista e desarticulado com a realidade e as necessidades do(a)
professor(a) e dos(as) estudantes. [...] Este(a) profissional também é
um(a) docente que deve saber da realidade de uma sala de aula, tendo
a obrigação de lutar contra tudo o que desvaloriza a escola e o trabalho
do(a) professor(a), porém, apesar de docente o seu exercício ocorre
em outros espaços que não são exatamente os da sala de aula. [...]. (
CATANANTE; DIAS, 2017, p. 104-105).
seus estudos, leituras e reflexões. [...]”. (CATANANTE; DIAS, 2017, p. 108), pode-
se afirmar que os profissionais da educação, precisam se atualizar e estarem em
busca de novos conhecimentos.
A partir do autor Libâneo (2001) pode-se evidenciar que o ambiente
educacional também é um espaço de formação continuada dos docentes, pois
ele próprio através da visão sociocrítica expõe que o ambiente escolar é um meio
educativo, em que os professores, a coordenação pedagógica, o diretor e os
demais profissionais, apresentam a oportunidade de realizar e tomar decisões
sobre o seu trabalho e conhecerem mais a respeito de suas profissões.
A coordenação pedagógica antes da pandemia desenvolvia suas
atividades na própria instituição de ensino, dentro da escola, envolvendo a
participação dos profissionais da escola, os alunos e seus pais e principalmente
desenvolvia um papel fundamental na atividade pedagógica, como por exemplo,
na hora da elaboração dos planos de ensinos, que eram elaborados por cada
professor acompanhados ou discutidos pelo(a) coordenador(a) pedagógico(a)
de maneira presencial, tendo o intuito uma análise mais profunda sobre as aulas
planejadas e ministradas.
No momento atual, este processo da coordenação pedagógica que se
desenvolvia de modo presencial, dando o suporte aos professores na elaboração
dos seus planos de ensino, teve que passar por um processo de mudança, o qual
foi necessário devido à pandemia COVID 19. Pode-se afirmar que devido a esta
pandemia ocasionou “[...] medidas e recomendações expressa pela Organização
Mundial da Saúde impulsionaram a população a novos hábitos [...]”. (CAPUCHO,
2020, p. s/d), à vista disso, alguns coordenadores pedagógicos precisaram buscar
outros recursos, para que ainda houvesse o apoio pedagógico aos professores.
Vale destacar que cada um destes profissionais, no momento da escrita
desse artigo, se encontra em sua residência, dessa maneira estes profissionais
tiveram que recorrer às mídias, “[...] promovendo o uso das novas tecnologias,
metodologias ativas, gamificação e um amplo leque de soluções para a educação
[...]”. (CAPUCHO, 2020, p. s/d), para que os professores possam desenvolver os
planos de aulas, com suporte dos coordenadores pedagógicos.
O problema não está tão somente na definição do melhor modelo
para mediação didático-pedagógica dos processos de ensino e
aprendizagem, quer seja os que se utilizam de meios e tecnologias
de informação e comunicação, com estudantes e professores
desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos
[...]. (CAPUCHO, 2020, p. s/d).
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
193
Nesse contexto, de acordo com o que Ramos (2020) cita em sua pesquisa,
as instituições de ensino permaneceram fechadas sem poder ministrar suas
aulas presencias por um tempo considerável muito grande, pois de 2 a 3 meses
sem aulas, significa um grande atraso no ensino-aprendizagem, deste modo,
para conseguir suprir esse período em que as escolas estarão fechadas pelo
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
195
Neste contexto, o que podemos afirmar com tudo isso, é que esse momento
está sendo muito difícil e desafiador para os educadores, alunos e familiares,
mas que também encontrar-se sendo um momento de muito aprendizado, tanto
para os alunos como também para os professores, pois, todos estão rompendo
barreiras, buscando aprender o novo que não era esperado, utilizando as
tecnologias para algum muito valioso, que é o ensino-aprendizagem.
E quem sabe quando acabar todo esse momento de distanciamento que
está acontecendo por conta da pandemia, as tecnologias e essas aulas que estão
sendo ministradas através de vídeos, e dentre outras metodologias, possam ser
cada vez mais utilizadas como um meio metodológico visando à aprendizagem.
Já que durante esse processo várias ferramentas estão sendo utilizadas para
auxiliar no ensino dos alunos e umas delas está sendo a elaboração de projetos
de intervenções, para promover o apoio e suporte teórico e prático aos alunos.
Contextualização da prática pedagógica: projeto de intervenção em tempos
de pandemia
O projeto de intervenção foi elaborado durante este processo de
pandemia COVID 19, em que todos os sujeitos do mundo estão vivenciando. Vale
destacar que boa parte dos sujeitos estão se adaptando a estas circunstâncias, de
estarem se cuidando em dentro de suas próprias residências. Foi por intermédio
da adaptação que este projeto foi elaborado, pois contou com a participação da
professora da disciplina de Estágio Supervisionado nos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental, como semi-regência, em que se pode afirmar, que desenvolveu o
papel de coordenadora pedagógica, já que no decorrer da elaboração do “Projeto
de intervenção”, contribui com suas orientações.
A priori, teve que se analisar a estrutura de um projeto e/ou plano de
aula, para que assim, fosse possível dar desenvolvimento aos outros aspectos,
o que desencadeou alguns questionamentos como: qual tema a ser realizado
neste “Projeto de Intervenção”? Este projeto será interdisciplinar? Para quem
ele será direcionado?
A partir destas indagações foi possível pensar e refletir até chegar à
conclusão, de que este projeto seria direcionado aos alunos do 3° ano do Ensino
Fundamental, e após analisar os componentes curriculares do Documento
Curricular Para Goiás – DC-GO, foi possível escolher o componente curricular e o
objetivo por meio da habilidade, em seguida foi definido o tema: “Reciclagem e
Coleta seletiva, Conscientização sobre o Meio Ambiente”.
Vale ressaltar que no momento da elaboração das atividades a serem
desenvolvidas aos alunos, percebeu-se que o Projeto de Intervenção poderia
ser interdisciplinar. Dessa forma, a perspectiva deste projeto de intervenção
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
197
reciclável, mostrando assim que é possível reciclar até mesmo com coisas
simples. Após terem produzido as lixeiras, a partir da solicitação da professora,
cada aluno escolheu um lixo reciclável, o qual os mesmos levaram de casa e
colocaram na devida lixeira, demonstrando se haviam compreendido o conteúdo.
Já para o quarto e último momento foi dado início a terceira atividade.
A mesma foi elaborada de forma a ser executada individualmente. Nesta
foi solicitado para os alunos produzirem um texto dissertativo com intuito de
abordar o conteúdo da aula, no qual deveriam ser abordados o título, introdução,
desenvolvimento e conclusão, sendo que o (a) professor (a) daria uma explicação
sobre a construção do texto.
O projeto de intervenção “Reciclagem e Coleta seletiva, Conscientização
sobre o Meio Ambiente” teve como intuito conscientizar os alunos sobre o
quanto os lixos descartados incorretamente podem prejudicar o meio ambiente
e demonstrar como é fácil descartar os mesmos de forma correta e ajudar a
melhorar a preservação do meio ambiente. Buscando, desta maneira, possibilitar
a formação de futuros adultos conscientes e que preservem o mundo.
Percebeu-se que as atividades do projeto de intervenção, podem ser
realizadas e colocadas em prática com os alunos e tornam um mecanismo de
ensino-aprendizagem pelas aulas remotas, que acontecem via internet. Mas,
torna-se relevante destacar que ainda se encontram desafios, para que todos
os alunos possam de fato participar das atividades que são elaboradas pelos
professores.
Contextualização da prática pedagógica: observações e ações em tempos de
pandemia
O estágio supervisionado tem a característica de contato direto com
a escola, gestores, professores e alunos. Mas, no momento atual que vivemos
– pandemia, esse contato está restrito, por questões de segurança. No novo
modelo de ensino-aprendizagem, mediado por tecnologias fez com que a
orientadora do estágio nas etapas da observação e semi-regência planejasse
atividades remotas que colocasse os estagiários em contato com a escola e com
a realidade escolar de forma remota, com oficinas, palestras, debates, análises
de situações e, inclusive elaboração de um projeto de intervenção usando as
mídias. As atividades primavam por discutir o papel da coordenação pedagógica,
do professor, do aluno e do processo de aprendizagem em tempos normais e de
pandemia.
Apesar da pandemia, o Estágio Supervisionado foi realizado mediante os
cuidados necessários preservando a saúde dos envolvidos. Assim, as estagiárias
foram encaminhadas para as escolas que aceitaram a realização do estágio em
tempos de pandemia, no modelo remoto. No caso das autoras desse trabalho,
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
199
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
201
entendimento o professor utilizou o texto: Você sabe o que é folclore? (Este texto
é em homenagem ao dia do folclore que é dia 22 de agosto). E depois de explicar
as atividades que deveriam ser feitas, a aula foi encerrada.
Ainda no dia 20 de agosto de 2020, no segundo horário das 8:30 às 9:00,
foi iniciada a aula no quinto ano do ensino fundamental. A aula teve início com a
disciplina de história, momento em que o professor explicou sobre: Pluralidade
cultural; Diversidade cultural; Sócio diversidade e A diversidade cultural no
Brasil. Após a explicação de cada um dos temas havia uma atividade no bloco
para ser feita, e todas foram explicadas pelo professor para que os alunos
pudessem realizar depois do término da aula.
Finalizada a disciplina de história, foi dado início a língua portuguesa, na
qual se trabalhou o tema folclore através de textos como: O que é folclore, Saci-
Pererê e também os elementos do folclore. Em cada uma das explicações feitas
na aula havia uma atividade no bloco de atividades para que os alunos fizessem
em casa. O professor explicou como cada atividade deveria ser feita e finalizou
a aula.
No dia 21 de agosto de 2020, participamos da quinta e sexta aula
ministradas via google meet pelo professor Vinícius, sendo que a aula do primeiro
horário 8:00 as 8:30 foi executada no quinto ano do ensino fundamental. Nesta
aula o professor fez a chamada no início. Foi uma aula diferente das demais que
já havíamos assistido até o momento pois, não se trabalhou com os blocos de
atividades. O professor enviou para os alunos uma atividade da disciplina de
língua portuguesa e um livro em pdf no grupo do whatsApp, explicou para eles
como deveriam responder as atividades e que deveriam ser reenviadas através
de fotos para o professor até as 11:00 da manhã do mesmo dia. Também foi
explicado que seria enviado ao grupo do whatsApp uma atividade da disciplina
de língua inglesa e que funcionaria da mesma maneira da primeira, que deveria
ser reenviada através de fotos para o professor até as 11:00 da manhã. E então
após as explicações a aula foi encerrada.
A aula ministrada via google meet pelo professor Vinícius Fagundes, no
segundo horário do dia 21 de agosto de 2020, foi na turma do quarto ano, a qual
foi iniciada com a disciplina de língua-portuguesa, foi solicitado que os alunos
fizessem a leitura de um texto titulado O curupira. Após o professor explicou o
texto as atividades que deveriam ser feitas no bloco de atividades da disciplina
sobre ele. Depois foi explicado que seria encaminhado vídeos a disciplina de
língua-inglesa via whatsApp no grupo da turma. Após todas as explicações
necessárias a aula foi encerrada. Vale ressaltar que em todas as explicações
eram expostos textos, imagens e exemplos na tela do aplicativo google meet,
para as turmas tanto do quarto ano do ensino fundamental como do quinto ano,
para assim facilitar o entendimento de todos.
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
203
Andréa Kochhann - Bruna Batista Galan de Souza - Jessika Inocencio Candido Araujo - Vinícius Fagundes
205
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM
ÉPOCAS DE PANDEMIA: DESAFIOS E
POSSIBILIDADES
Antonia Maria Cardoso e Silva
Dilmar Rodrigues da Silva Júnior
DOI: 10.29327/523736.1-15
Introdução
Atualmente tem se vivenciado um cenário que vem trazendo imensos
desafios para todos os setores, no Brasil e no mundo: a pandemia da Covid-19. No
intuito de diminuir a disseminação do vírus, que se dá de maneira muito rápida,
os governos tem adotado medidas de distanciamento social que atingiram todos
as áreas da sociedade: comércios fechados, espaços de lazer, escolas, entre
outros.
Uma das áreas bastante atingidas foi a Educação, onde instituições
de ensino público e privada tiveram suas portas fechadas e com isso adotou-
se metodologias de ensino a distância para que os estudantes não ficassem
totalmente prejudicados.
Segundo Ademar Pereira, presidente da Federação Nacional das Escolas
Particulares (Fenep), as instituições de ensino da rede particular passaram a
analisar as medidas adotadas pelo Ministério da Educação (MEC). Diante disso,
“felizmente, juntamente com os conselhos nacional, estaduais e municipais
de educação, conseguimos articular a adoção do ensino remoto e isto foi
fundamental para que na rede particular o ano letivo esteja garantido, bem como
o processo ensino-aprendizagem fosse garantido” (CEBRASPE, 2020).
Em relação às instituições públicas de ensino, o Conselho Nacional de
Educação (CNE) juntamente com o Ministério da Educação (MEC), elaboraram
um Parecer que sugere que estados e municípios busquem alternativas para
minimizar a necessidade de reposição presencial de dias letivos, a fim de permitir
que seja mantido um fluxo de atividades escolares aos estudantes enquanto
durar a situação de emergência (BRASIL, 2020).
Nesse quesito, com o intuito de possibilitar o processo de ensino-
aprendizagem, o Brasil tem seguido a tendência mundial de transferir aulas e
outras atividades pedagógicas para formatos à distância.
Resultados e discussões
A seguir encontram-se os resultados obtidos na presente pesquisa.
Ressalta-se que a primeira pergunta se referia ao Termo de Consentimento
de Livre e Esclarecido, onde todos os participantes marcaram este quesito,
aceitando participar da pesquisa.
Na segunda pergunta consta a identificação dos pesquisados, as
mesmas não serão reveladas. Além disso, destaca-se que todos os participantes
são docentes de uma instituição de ensino superior da cidade de Caxias-MA.
Na terceira pergunta, foi questionado se os docentes apresentaram
dificuldades para se adaptar ao modelo de ensino remoto. Os resultados
encontram-se no gráfico 1.
Gráfico 1 – Nível de dificuldade de ensino para se adaptar ao ensino remoto
Além disso, as IES devem também ter uma preocupação com o seu corpo
docente, promovendo meios que viabilizem o uso de ferramentas próprias de
ensino, ou seja, reuniões e treinamentos precisam fazer parte do seu cotidiano
de trabalho (BARBOSA et al., 2017).
Na quarta pergunta, questionou-se sobre a utilização do Google Meet.
Os resultados encontram-se no gráfico 2 a seguir.
Gráfico 2 – Utilização do Google Meet pelos docentes.
CARNEIRO; Farley. O Que É Instagram: Tudo Que Você Deve Saber Sobre a
Rede Social. 2020. Disponível em: https://neilpatel.com/br/blog/instagram-o-
que-e/. Acesso em: 20 Jul. 2020.
DANTAS, Tiago. Youtube. Revista Brasil Escola. 2020. Disponível em: https://
brasilescola.uol.com.br/informatica/youtube.htm. Acesso em 20 Jul. 2020.
PIMENTA, Selma G.; LIMA, Maria Socorro L. Estágio e Docência. São Paulo:
Cortez Editora, 2004.
Andressa Freitas Lopes - Michele de Souza Fanfa - Wesllen Martins Lopes - Jaiane de Moraes Boton
225
Andressa Freitas Lopes - Michele de Souza Fanfa - Wesllen Martins Lopes - Jaiane de Moraes Boton
227
Fonte: autores
Andressa Freitas Lopes - Michele de Souza Fanfa - Wesllen Martins Lopes - Jaiane de Moraes Boton
229
Considerações finais
Como demonstramos no corpo desta pesquisa, o ECS é uma fase
importante da formação inicial dos futuros professores, desde 1996 com a
LDB, a qual regulamentou o estágio como uma prática obrigatória nos cursos
de licenciatura, com uma carga horária de 300 horas, cabendo aos sistemas de
ensino criar as normas de realização. Contudo, é a partir de resolução de 2002,
que o estágio se apresenta com maior ênfase, passando a ter sua carga horária
400 horas, suas atividades sendo aceitas somente em instituições escolares
de ensino básico e seu início ocorrendo a partir da segunda metade do curso.
Acreditamos ser importante que o estágio ocorra nessa época, visto que o futuro
professor já tem maior conhecimento de sua profissão, teve boa parte da carga
horária referente às disciplinas específicas da matéria de ensino e disciplinas
pedagógicas, além disso, ainda conta com a PCC, a qual deve ocorrer desde o
início do curso.
Já na resolução de 2015 manteve-se a carga horária de 400 horas, mas
abonou de suas exigências a obrigatoriedade do ECS ser apenas em espaço
escolar, não especificando com clareza o ambiente a ser realizado, deixando
que cada instituição de formação docente interprete o documento normativo e
construa seu PPC, podendo com isso adotar em seus currículos outros espaços
para o estágio, como os espaços de educação não formal imbuídos de estratégias
educacionais. Também não há a especificação de qual período deve ocorrer o
ECS, permitindo, assim, que esse ocorra desde o início do curso, mesmo que o
licenciando não tenha tido experiência ou muito contato com sua formação e
profissão.
As mudanças que aparecem na resolução de 2015 foram apresentadas
às instituições formadoras com prazo de dois anos para que os cursos
regularizassem, após esse tempo o prazo foi sendo postergado dando as
instituições prazos maiores, tendo como limite, o ano de 2019 para estarem com
seu PPC em concordância com as novas diretrizes. Ainda nesta resolução, uma
nova divisão, não vista na resolução anterior, diferencia os cursos de formação
inicial, sendo eles: cursos de graduação de licenciatura; cursos de formação
pedagógica para graduados não licenciados, de caráter emergencial e provisório
e cursos de segunda licenciatura. Dentro destes grupos vemos a importância
desta separação, o qual leva em conta suas experiências anteriores, podendo
assim aproveitar sua formação anterior. Além disso, nas três situações o estágio
se faz presente e obrigatório, sendo uma atividade específica que deve estar
articulada com a prática e com as demais atividades de trabalho acadêmico.
Na sequência das mudanças da formação inicial, percebemos na
Resolução CNE/SE N. 2/2019, Art. 11 (BRASIL, 2020), que a prática pedagógica
é contemplada por 800 horas, divididas entre o ECS e a PCC, deixando claro que
a prática não é restrita somente ao ECS, já que deve ser contemplada também
na PCC, ambos ocorrendo durante todo o período de formação. Proporcionando,
O QUE DIZEM AS RESOLUÇÕES PARA A FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES
REFERENTE AO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO?
230
Andressa Freitas Lopes - Michele de Souza Fanfa - Wesllen Martins Lopes - Jaiane de Moraes Boton
231
MARX, K.; ENGELS, F.. A ideologia alemã (I Feuerbach). Trad. de José Carlos
Bruni e Marco Aurélio Nogueira, 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
Andressa Freitas Lopes - Michele de Souza Fanfa - Wesllen Martins Lopes - Jaiane de Moraes Boton
233
POSSIBILIDADES DE CONSTITUIÇÃO
DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE A
PARTIR DO ESTÁGIO
Lélia de Oliveira Cruz
Celina Amélia da Silva
Lidinalva de Almada Coutinho
DOI: 10.29327/523736.1-17
Introdução
A formação inicial tem constituído a espinha dorsal de diversas pesquisas.
Neste artigo, destacou-se a compreensão dos egressos do Curso de Licenciatura
em Matemática do Centro de Estudos Superiores de Caxias/Universidade
Estadual do Maranhão (CESC/UEMA), quanto à formação inicial do professor de
Matemática e as possibilidades de constituição da profissionalidade docente a
partir do Estágio Supervisionado, investigação que teve como ponto de partida
os estudos e discussões realizadas no Grupo de Estudos em Ciências, Física e
Matemática - GECIFIMA/UEMA.
Entende-se profissionalidade como um processo de construção do ser
professor, que começa no estágio e prossegue ao longo do desenvolvimento
profissional, e o Estágio Supervisionado o lugar no qual o futuro professor
vivencia a realidade da sala de aula. Fundamentado no pressuposto, buscou-
se responder ao questionamento: O estágio supervisionado tem favorecido a
constituição da profissionalidade docente? Para nortear a investigação, elaborou-
se os objetivos: investigar o desenvolvimento de habilidades e competências
docentes no estágio supervisionado; refletir sobre as contribuições do estágio
na constituição da profissionalidade docente.
A discussão fundamenta-se na concepção de teóricos que abordam a
formação inicial, o desenvolvimento, a construção da identidade profissional e
a profissionalização dos professores, como Contreras (2002), Fiorentini (2003,
2016), Nóvoa (2011, 2016), Pimenta e Lima (2012), Ramalho, Nuñez e Gauthier
(2003, 2008), Tardif (2007) e outros que surgiram para compor a arquitetura das
ideias.
Metodologia
Quando uma inquietação, uma dúvida, ou um problema se instala
no percurso de uma atividade acadêmica, se faz necessário buscar um
entendimento e/ou resposta. Na academia a pesquisa é o caminho para desvelar
as dúvidas, responder às inquietações, penetrar nas raízes do problema. Neste
caso específico, o objeto de pesquisa são as possibilidades de constituição da
profissionalidade docente a partir do Estágio Supervisionado.
Com a convicção de que a rigorosidade da pesquisa é basilar para
responder os questionamentos propostos com coerência e verdade, o trabalho
ancorou-se na concepção defendida por Fiorentini e Lorenzato (2009, p.77), ao
afirmarem que “[...] a pesquisa é um estudo metódico e intencionado em torno
de um problema/questão, requerendo, para isso, um planejamento e um relato”.
Para atingir os objetivos desta investigação - investigar o desenvolvimento de
habilidades e competências docentes na fase do estágio supervisionado e
refletir sobre as contribuições do estágio na superação dos desafios do processo
de formação profissional – realizou-se uma pesquisa quanti-qualitativa, por
considerar que a combinação das duas modalidades permite uma interpretação
mais fiel dos fenômenos estudados.
Nesse sentido, a averiguação dos dados foi realizada, a partir de uma
pesquisa de cunho qualitativo apoiada em aspectos quantitativos, pensamento
sustentado na afirmação de Gamboa e Santos (2002, p.106): “as mudanças
qualitativas estão ligadas necessariamente a mudanças quantitativas”. Nesse
viés, as informações/respostas depois de categorizadas foram analisadas à
luz do referencial teórico balizado no método da análise de conteúdo (BARDIN,
2011).
O caminho trilhado no desenvolvimento dessa pesquisa, teve como
cenário o curso de formação de professores de Matemática do CESC/UEMA,
os dados foram coletados, a partir de um questionário de perguntas abertas
e fechadas, enviado por um formulário online, a 30 egressos que retornaram à
instituição formadora para uma formação continuada.
Responderam e devolveram o instrumento de pesquisa 80% dos
colaboradores, destes, 23,4% são do sexo feminino e 56,6% do sexo masculino.
A diferença expressa a preponderância da presença masculina entre os
professores de Matemática dos anos finais do Ensino Fundamental e Ensino
Médio. O predomínio de estudantes oriundos das escolas públicas, nos cursos
de licenciatura do CESC/UEMA é uma característica forte, na investigação, em
epígrafe, 91,7%, dos respondentes provém da escola pública.
O trabalho em tela analisou três, das 18 questões abertas, que compõem
o instrumento de pesquisa. Assente breve descrição do percurso metodológico
e da amostra pesquisada, passa-se à apresentação e discussão dos dados
coletados sobre a constituição da profissionalidade docente a partir do Estágio
Supervisionado.
Lélia de Oliveira Cruz - Celina Amélia da Silva - Lidinalva de Almada Coutinho
239
Categoria – CONCEPÇÃO
SUBCATEGORIAS Unidades de significado %
Muito importante... importante na formação do
professor... relevante, deveria ter uma preparação...
Importância 37,5
momento em que temos a noção da realidade que iremos
encontrar.
Domínio de sala... preparo para lecionar... construir uma
postura particular diante dos desafios... entender e se
Construção 29,2
adequar... aprimoramento das práticas educativas...
aperfeiçoa a teoria e reduz as possibilidades de dúvidas.
Visão do que o espera na profissão... um laboratório... pôr
Vivenciar em prática os conhecimentos... viver de fato à docência. 20,8
uma sala de aula (E10), O estágio é um laboratório onde o futuro docente tem a
oportunidade de pôr em prática seus conhecimentos e até mesmo rever a sua
metodologia de ensino (E18). É um momento que você sai da teoria e colocar
em prática o que aprendeu. É viver de fato à docência (E 20). Ao justificarem
seus posicionamentos, os respondentes grifam a necessidade de aproximar
teoria e prática, promovendo vivências em escolas da Educação Básica, o mais
cedo possível, para que tenham tempo de consolidar os saberes construídos na
graduação.
Conclusão
Os dados discutidos permitem-nos concluir que, desde o princípio da
formação inicial, os formadores devem ter claro o que pensa o acadêmico e
compreender a forma como eles interagem com as suas escolhas. A formação
não reduz ao conhecimento específico da Matemática, mas todo um trabalho
teórico-metodológico, com condições de responder de fato a necessidade de
formar um professor comprometido com a principal função: ensinar matemática.
Neste sentido, os saberes construídos na formação inicial dos licenciados
no curso de Matemática são relevantes para a constituição da profissionalidade e
o desenvolvimento docente dos professores, Contudo, o recém-formado precisa
estar preparado para enfrentar, com autonomia e segurança, os desafios que se
apresentam ao assumir situações reais do exercício profissional.
O Estágio Supervisionado é o lugar no qual o futuro professor vivencia
a realidade da sala de aula. As informações provenientes dos depoimentos,
sugerem que o Curso em tela, deve assegurar que os saberes teóricos e práticos
contribuam para a constituição da profissionalidade docente, a partir do
Estágio Supervisionado. Para tanto, precisa-se investir no desenvolvimento de
habilidades e competências que habilitem o futuro professor, para enfrentar os
conflitos e dilemas, que rodam a docência.
Como se afirmou ao longo do texto, respaldado nos teóricos citados, os
saberes dos professores são variados e provêm de diversas fontes. Destaca-se
aqui a importância dos saberes subjetivos, como alicerce principal no modo de
receber e interpretar as informações e contribuições e nas interferências, a fim
de conferir aos egressos autonomia didática e pedagógica que irão se traduzir
em segurança para enfrentar a realidade de uma sala de aula.
Referências
ALMEIDA, M. I.; PIMENTA, S. G. Estágios supervisionados na formação
docente. São Paulo: Cortez, 2014.
es20de20aprendizagem20no20contexto 20real.pdf.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO
COMO ESPAÇO FORMATIVO E DE
CONSTRUÇÃO DO SABER ENSINAR
Marcos Antônio Ângelo da Silva
Mesaque Silva Correia
DOI: 10.29327/523736.1-18
Introdução
O mundo globalizado em que vivemos exige, de seus profissionais,
competências, habilidades e atitudes comprometidas com um desempenho
profissional coordenado com as demandas da sociedade contemporânea. Na
sociedade da informação e do conhecimento, as comunicações são difundidas
muito rapidamente aos profissionais de todas as áreas, vislumbrando, portanto,
a necessidade de receber e entendê-las no tempo em que elas ocorrem. No
campo da educação não é diferente, as exigências para tornar-se um bom
profissional dizem respeito ao atendimento dinâmico, criativo e competente,
além de acompanhar o ritmo da educação e o processo educativo guiado pela
modernidade.
A formação do professor requer a integração dos conhecimentos, de
forma que o professor responda às demandas educacionais que exigem um
profissional crítico e reflexivo, que pesquise e seja capaz de realizar alterações
necessárias para a sua prática pedagógica. O estágio Supervisionado como
componente curricular tem um importante papel na articulação e produção
dos saberes docentes, intervindo na realidade do ensino e da aprendizagem,
caracterizando-se como um espaço propício para aprender a ensinar. Essa
disciplina configura-se como o eixo básico da articulação teoria/prática e da
construção de saberes para ensinar, oportunizando a troca e o compartilhamento
de experiências entre os sujeitos envolvidos no processo educacional.
Assim sendo, este estudo tem como objetivo investigar como ocorre o
processo de tornar-se professor no Estágio Supervisionado. Além disso também
propomos neste trabalho: analisar a relação entre formação acadêmica e prática
pedagógica; identificar os saberes docentes construídos nessa vivência; analisar
os aspectos que demarcam o tornar-se professor nesse processo de formação; e
identificar as dificuldades da prática pedagógica durante esse estágio.
nos permitiu entender, sob a ótica de cada aluno, o que eles compreenderam e
assimilaram no seu processo de formação e na vivência da prática nas escolas,
campos de estágio, estabelecendo uma conexão entre teoria e prática.
Após a elaboração do roteiro do memorial, selecionamos quatro alunos
da disciplina Prática Pedagógica VI (Estágio). Eles foram orientados a descrever
suas experiências, narrando-as de acordo com as questões propostas no
roteiro de escrita do memorando. A escrita do memorial exige que o informante
apresente, na forma de uma narrativa improvisada, a história de uma área de
interesse da qual ele tenha participado.
Para interpretação dos dados da pesquisa, utilizamos a análise de
conteúdo que consiste em fazer a interpretação das mensagens contidas nas
comunicações descritas no memorial, na tentativa de compreender as referidas
comunicações dos sujeitos da pesquisa, estabelecendo conexões com os
objetivos deste estudo e do referencial teórico. Os dados foram interpretados
conforme a proposta de Bardin (1977), que estabelece as seguintes etapas: 1)
pré análise – que objetiva a organização dos dados a partir da leitura flutuante,
seguida de novas leituras para chegarmos à segunda etapa; 2) exploração
do material – análise dos dados para encaminhamento do tratamento de
interpretação. Essa fase organizacional sistematiza a análise dos dados na
terceira etapa e o tratamento dos resultados obtidos e interpretação – essa fase
a análise dos dados.
Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado: revelações das narrativas
A formação de professores na atualidade exige um profissional crítico,
autônomo e criativo. Nesse contexto, ensinar estabelece que o docente mobilize
e produza saberes específicos da profissão, saberes vinculados à disciplina,
currículo, didática, metodologia, entre outros. Portanto, a formação deve
proporcionar um alicerce teórico-metodológico que permita a compreensão
dos fenômenos educacionais. A prática pedagógica precisa ser entendida
como um espaço que favoreça a pesquisa, a produção de conhecimentos e o
contato com situações reais de trabalho para o professor em formação. O
Estágio Supervisionado oportuniza, ao futuro professor, a atuação de uma
forma reflexiva, crítica e autônoma, a vivência real da prática pedagógica e da
realidade da sala de aula.
Nesse contexto, realizamos um estudo para investigação do processo
de tornar-se professor no Estágio Supervisionado, desenvolvido com alunos
dessa disciplina. Para a produção dos dados da pesquisa, utilizamos a escrita
de um memorial de formação, em que sugerimos aos autores que fizessem uma
análise crítico-reflexiva que contemplasse os diversos aspectos indicados nas
orientações da redação do memorial para análise da relação entre a formação
acadêmica e a prática pedagógica no Estágio Supervisionado, principalmente no
período da regência de classe. A partir da escrita dos memoriais, organizamos os
[...] não serei radical e dizer que os conhecimentos apreendidos na vida acadêmica
não foram importante, pelo contrário, foram sim, mas não o suficiente, pois os
saberes experienciais foram se consolidando dia a dia (Aluno D).
Analisando as falas dos interlocutores, observamos que a instrução
docente proporciona ao futuro professor uma compreensão do ser professor.
Para tanto, essa formação abre espaços para a reflexão sobre aspectos teóricos e
A prática de estágio foi uma experiência marcante, visto que tive de estagiar em
uma turma de EJA e durante todo o curso fomos direcionados ao público infantil
(Aluno D).
As experiências do Estágio Supervisionado possibilitaram uma
interação dos alunos com o campo em que atuaram e se caracterizaram como
um momento indispensável na formação do futuro professor. O Estágio coloca
o aluno-professor em contato com a realidade escolar e a sala de aula, além de
oportunizar o compartilhamento de conhecimentos e experiências profissionais,
2008.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO E A
ARTICULAÇÃO ENTRE A FORMAÇÃO
E PRÁTICA DOCENTE COMO
INSTÂNCIAS FORMADORAS
Maria dos Remédios Mendes Chaves Barreto
DOI: 10.29327/523736.1-19
Introdução
De acordo com Brandão (2007), ninguém está isento da educação.
Independente do lugar ou do modo, todas as pessoas envolvem pedaços da vida
com a educação, tanto para aprender quanto para ensinar, para saber, para fazer,
para ser ou para conviver. Diante dessa premissa, inferimos que a educação
assume um papel de grande relevância na vida Humana.
Considerando a importância da educação, torna-se necessário o
entendimento das dimensões que envolvem o processo educacional, sobretudo
quando nos remetemos a prática docente. Nesse caminhar, Libâneo (2012) nos
afirma que a prática profissional do professor melhora quando ele conhece bem
o funcionamento do sistema escolar, tendo em vista que a prática de ensino para
o autor é vista como o conjunto de atividades que transforma o currículo em
práticas para produzir aprendizagens. A partir dessa premissa, percebemos que
é competência do educador compreender de maneira multifacetada os fatores
que influenciam no processo de aprendizagem sejam escolares ou não. Assim,
compreendemos com base em Libâneo (2012), Pimenta e Lima (2012), que o
estágio supervisionado é um dos componentes fundamentais para a capacitação
dos futuros educadores, visto ser no estágio que os alunos serão estimulados a
analisar, refletir e intervir nos processos educacionais, corroborando com o que
nos diz Piconez (1994), “... O que poderia contribuir mais para a formação de um
educador do que refletir sobre a realidade que observa e depois retornar a essa
mesma realidade para inová-la e transformá-la ... ?” (p.26).
Deste modo, o presente artigo visa refletir sobre algumas questões
que envolvem a formação de professores, o estágio supervisionado e a prática
docente, a saber: qual tratamento deve ser dispensado ao estágio no processo
de formação dos futuros professores? Como ele pode potencializar o trabalho
estudam muita teoria, diversos livros e autores, mas não se sentem aptos e
seguros de que esse conhecimento seja suficiente para dar uma boa aula ou até
mesmo para enfrentar diversas situações que a realidade da sala de aula impõe.
De acordo com a Lei Nº 11.788/2008, o estágio é uma atividade formativa
com acompanhamento pedagógico, planejada entre a Instituição de Ensino
Superior e a Instituição que concede seu ambiente de trabalho, objetivando
à formação do estudante para sua futura inserção no mercado de trabalho. A
título de exemplo, o Estágio Supervisionado no Curso de Pedagogia, entendido
como componente curricular, corresponde a 300 horas que devem ser dedicadas
prioritariamente à Educação Infantil e aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
contemplando também outras áreas em conformidade ao projeto pedagógico
de cada instituição. Assim, o estágio é realizado ao durante o curso, que prevê,
no mínimo, 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, deve assegurar “aos
graduandos experiência de exercício profissional, em ambientes escolares
e não escolares que ampliem e fortaleçam atitudes éticas, conhecimentos e
competências” (BRASIL, 2006).
No entanto, o estágio supervisionado nos cursos de licenciatura é o cerne
de vários estudos e pesquisas, pois nesse processo é imprescindível analisar
algumas dimensões. Com base nessas premissas e em conformidade com nossos
objetivos, dissertaremos sobre alguns pontos. O primeiro ponto, refere-se a
necessidade de uma maior protagonismo que deve ser delimitado ao estágio no
processo de formação docente, pois com base em diálogo com Pimenta (2012)
acreditamos que o estágio deve ser visto de maneira fundamental na formação
inicial e continuada do futuro professor. Com efeito, Freire (1996) nos diz:
O saber que a prática docente espontânea ou quase, “desarmada”,
indiscutivelmente, espontânea produz é um saber de experiência feito,
a que falta a rigorosidade metódica que caracteriza a curiosidade
epistemológica do sujeito. Este não é o saber que a rigorosidade do
saber do pensar certo procura. Por isso, é fundamental que, na prática da
formação docente, o aprendiz de educador assuma que o indispensável
pensar certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de
professores que iluminados intelectuais escrevem desde o centro do
poder, mas, pelo contrário, o pensar certo que supera o ingênuo tem
que ser produzido pelo próprio aprendiz em comunhão com o formador
(FREIRE, 1996, p 4).
Com Tardif (2002) nas discussões que remetem aos saberes docentes,
entendemos que esse saber é compreendido como um conjunto de saberes
que se fundam no ato de ensinar, incluindo também os conhecimentos, as
competências, as habilidades e as atitudes dos docentes, o que torna um saber
plural, heterogêneo, e proveniente de fontes variadas, ou seja, afirmar que os
saberes relacionados ao trabalho demandam um período, um tempo variável
para que sejam construídos gradativamente. Logo, entendemos que a formação
dos discentes nos cursos de licenciatura devem ser construídas com base na
articulação com a realidade de sua profissão, colaborando para o fortalecimento
da responsabilidade social que deve se articular ao fazer docente. Essa formação
é entendida, portanto, em sua dimensão interinstitucional, por meio do diálogo
entre universidade e escola pública, a fim de ampliar a dimensão formativa
através de experiências práticas voltadas à docência e, nesse diálogo também
colaborar na formação continuada dos professores da educação básica e na
qualidade do ensino público.
Schon (1998) pontua que somente na prática é possível refletir sobre
o trabalho docente, desenvolvendo o que eles chamam de “epistemologia da
prática” que seria, em palavras simples, o estudo da ação, ou também a reflexão
ou produção de conhecimento sobre a ação. Portanto, para compreender
verdadeiramente a atuação pedagógica, os professores em formação devem estar
no estágio a partir do primeiro momento do curso, pois é por meio dessa vivencia
no estágio, com a experiência os alunos produzem um tipo de conhecimento
tácito, que seria o conhecimento que surge a partir das soluções ou alternativas
que os estagiários encontram para lidar com as tensões, conflitos e desafios no
contexto educacional, assim, esse conhecimento surge com a prática do estágio
supervisionado, e portanto, não a precede.
De igual modo, Sousa (2009) nos traz uma reflexão sobre prática
pedagógica e formação de professores, evidenciando que a formação de
professores da Educação Básica é, sobretudo, resultado da prática pedagógica
de instituições de educação superior, inclusive das universidades, ou das
instituições de nível médio que ainda possuem o curso normal superior. Neste
sentido, o autor esclarece que a formação dos profissionais sobretudo da
educação não é resultado de uma prática decente, mas de uma práxis pedagógica
das várias instituições formadoras. Como o próprio autor diz “[...] um professor
uma professora não se forma por meio da prática de um docente, ainda que um ou
outro tenha sido decisivo neste processo. A formação de um professor também
não provém da ação, ainda que conjunta, de docentes da Educação Superior,
mas da práxis pedagógica de várias instituições formadoras e de muitas outras
experiências formativas que vai vivendo ao longo da vida e de seus ambientes
culturais”. Para além dessa questão, relembramos Freire (1996) quando nos diz
“que não há docência, sem discência”, ou seja, não é possível se tornar professor
sem estar na sala de aula, sem estar no campo, pois conforme esse autor “quem
Introdução
Grandes tem sido os desafios e as possibilidades no século XXI para
formar professores no meio de tantas diversidades sociais. As singularidades
acadêmicas são variadas, o que nos levam a reflexões sobre as significações de
tornar-se professor, sob o olhar da construção de sua identidade docente durante
a universidade. Por estudar essa realidade ao longo do tempo, as universidades,
organizam o currículo dos cursos de formação de professores, dentro do
panorama real a ser trabalhado: o universo sociocultural do acadêmico bem
como as estruturas sociopolíticas que estão inerentes à profissão docente. Outro
aspecto está nas possibilidades de articulação dos conhecimentos teóricos-
epistemológicos que orientarão as práticas pedagógicas dos estagiários.
Diante do exposto acima, convém esclarecer que o objetivo deste
trabalho parte por refletir sobre os desafios e as possibilidades de articulação
dos conhecimentos adquiridos pelos estudantes de Pedagogia do CESC/UEMA
para a sua aplicação na prática do estágio supervisionado. E tempo por problema
cientifico: quais desafios e possibilidades para a articulação do conhecimento
acadêmico na prática do estágio supervisionado? Sem dúvida, são questões que
nos levam a reflexões e a situar o atual contexto panorâmico acerca dos cursos
de formação de professores, analisando as narrativas dos estagiários, diante da
construção identitária do futuro professor. É um estudo que tem a necessidade
de ouvir os estagiários sobre os desafios e possibilidades no campo de atuação,
sendo que eles necessitam cumprir os créditos do currículo mínimo exigido pela
universidade, de modo a concluir o curso.
É um estudo de natureza qualitativa, e utilizamos a entrevista narrativa de
03 (três) estagiários do curso de pedagogia do CESC/UEMA, que desenvolveram
as suas atividades no segundo semestre de 2019, mais precisamente nos
meses de agosto ao início de dezembro do ano supracitado, em escolas da rede
pública municipal de Caxias-Maranhão. Os estagiários estavam no segundo
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acontece desde a fase inicial de sua formação, pelo convívio com os professores
formadores por meio de suas práticas formativas, vai se expandindo com as
oportunidades que surgem no decorrer do exercício da profissão, bem como
pela continuidade da sua formação profissional.
O universo de saberes que o professor constrói em sua formação
contribuirão para a mudança de hábitos, valores e atitudes docente. Há, portanto,
uma (re)construção do vivido, sob influência dos fenômenos sociais: culturais,
políticos, curriculares, entre outros. Enquanto a narrativa descrita por Hortência
sobre o primeiro questionamento, constituiu-se da seguinte forma:
Sabe-se que o ensino médio, etapa final da educação básica, segundo
Brasil (1996), constitui-se um momento de preparação para o desenvolvimento
do aluno a identificar a futura profissão, além de serem trabalhados os
conhecimentos científicos e tecnológicos que presidem à sociedade moderna.
Ao longo da trajetória estudantil, os alunos constroem uma “certa identidade
profissional”, que sofre influência com o passar do tempo, portanto, a escola,
precisa contribuir na formação do pensamento crítico, participativo e criador
desse aluno, de modo a despertar as inúmeras potencialidades, possibilitando a
escolha de uma área de formação, na qual ingressará por meio de curso superior.
Segundo a narrativa descrita por Hortência, fica compreendido a
necessidade de o estudante, ao entrar no curso de licenciatura, manter-se
atento aos diversos conhecimentos que serão transmitidos nesse processo
formativo, visto que, por meio deles, haverá alguma possibilidade de articulação
e reflexão para guia-los na prática, ainda que as intensas dificuldades no campo
profissional lhe influenciam fazer o contrário.
A profissão docente, diante da narrativa de Hortência, mostra-se em
caráter complexo e multifacetado. Nesse sentido, podemos afirmar em Nóvoa
(1995, p.12) afirmando que o professor mesmo diante da conclusão do seu curso
de graduação, e já atuando na sua profissão, vai “construindo sua identidade
social, pois, ele acredita na necessidade de investigar os saberes dos quais é
portador, refletindo acerca deles dos pontos de vista teórico e conceitual”. Esse
processo de construção da profissão docente através da sua formação e prática
pedagógica, são narrados por Margarida, quando:
“Desde muito cedo eu sempre quis ser professora. Acredito que a minha paixão
pelo curso de Pedagogia surgiu quando eu ainda estava no antigo primário, pelas
diversas práticas desenvolvidas por ela: fazer a chamada, elaborar atividades,
explicar o conteúdo na frente da turma, brincar com os alunos, entre outros
aspectos”. (MARGARIDA)
Com os esclarecimentos de Margarida, fica entendido que a
profissão: professor, tem sido, desde muito cedo de grande importância para
a transformação social. A interlocutora atribui na sua narrativa, sentidos e
significados marcantes sobre os aspectos ligados ao saber-fazer na prática
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COMPARTILHANDO CONHECIMENTOS
SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO
EM UMA UNIVERSIDADE
AUSTRALIANA
Alcyane Marinho
Carmel Foley
DOI: 10.29327/523736.1-21
Introdução
Na sociedade brasileira contemporânea existe a expectativa do governo,
da comunidade e da indústria de que os currículos dos cursos de ensino superior
estejam em sintonia com a realidade para a qual o futuro profissional dos alunos
está sendo preparado. Nesse contexto, os estágios são compreendidos como
importante campo de formação, espaços de aprendizagem sobre o ambiente
de trabalho e de aprimoramento de competências profissionais (MARINHO;
SANTOS, 2012; SILVA, 2010, 2003; SILVA JÚNIOR; BOTH; OLIVEIRA, 2018).
Do ponto de vista australiano, podem-se perceber semelhanças,
na medida em que o estágio supervisionado representa uma oportunidade
significativa para os alunos, diferenciando-se dos cenários de aprendizagem
presencial. Os estágios representam uma forma de os alunos identificarem o
futuro profissional desejado, começarem a construir as redes de que precisarão
para o avanço profissional e desenvolverem sua própria identidade profissional.
Estudos australianos atuais estão abordando diferentes perspectivas sobre
estágios supervisionados (JACKSON, 2016; JEWELL et al., 2020; JORRE De ST
JORRE; OLIVER, 2018; VALENCIA-FORRESTER, 2019).
Por exemplo, um estudo recente investigou a importancia das habilidades
de informação em contextos de negócios em que as informações são abundantes
e a seleção, a síntese e o aproveitamento dessas informações na tomada de
decisões fornece a vantagem competitiva (JEWELL et al., 2020). Segundo
os autores, a alfabetização informacional é considerada um dos atributos
mais importantes da graduação, no entanto, as habilidades acadêmicas de
informação podem nao ser compativeis com o contexto empresarial. Para tanto,
Jewell et al. (2020) realizaram entrevistas com empregadores e recém-formados
que trabalham no oeste de Sydney, e identificaram ferramentas, técnicas e
parceria trará benefícios para todas as partes e pode contribuir para avanços na
área de estágio nos contextos brasileiro e australiano. Afinal, as universidades
em todo o mundo exigem colaboração, criatividade e inovação para aprimorar
as metodologias de ensino-aprendizagem para que nossos graduados tenham
sucesso em suas profissões, agregando valor às comunidades e às economias.
Para tanto, o compartilhamento de conhecimentos é essencial e pode ser
transcultural.
Contextualizando a University of Technology Sydney e a UTS Business
School2
Criada em 1988, a UTS é uma das principais universidades públicas da
Austrália, com um modelo de aprendizagem único, desempenho em pesquisa
e uma forte reputação de envolvimento com a indústria e as profissões. A UTS
tem uma vida culturalmente diversa no campus e programas de intercâmbio
internacional de estudo e pesquisa que preparam os graduados para os locais
de trabalho de hoje e de amanhã (UTS, 2020). A UTS é considerada uma das
melhores universidades jovens do mundo, classificada em primeiro lugar na
Austrália e décima primeira no mundo de acordo com o Quacquarelli Symonds
2021 World University Ranking (QS World University Ranking, 2021).
O Plano Estratégico da UTS descreve a visão de ser uma universidade
de tecnologia líder mundial, parte da Rede de Tecnologia Australiana de
Universidades: um grupo de cinco universidades proeminentes comprometidas
em trabalhar com a indústria e o governo para oferecer cursos práticos e
profissionais. Com um total de inscrições de mais de 40.000 alunos, a UTS oferece
inúmeros cursos de graduação e pós-graduação, por meio de suas faculdades
e escolas: Faculdade de Letras e Ciências Sociais; UTS Business School;
Faculdade de Design, Arquitetura e Construção; Faculdade de Engenharia e
Tecnologia da Informação; Escola de Pós-Graduação em Saúde; Faculdade de
Saúde; Faculdade de Direito; Faculdade de Ciências; Faculdade de Inovação
Transdisciplinar (UTS, 2020).
O modelo UTS de aprendizagem apresenta três fundamentos principais
(UTS 2020):
1. Exposição integrada à prática profissional - por meio de modos
dinâmicos e multifacetados de educação orientada para a prática;
2. Prática profissional em um ambiente de trabalho global - com foco na
mobilidade internacional e no engajamento cultural e internacional; e
3. Aprendizagem integrada e inspirada na pesquisa - fornecendo
rigor acadêmico com tecnologia de ponta para preparar os graduados para a
aprendizagem ao longo da vida.
Qantas, Flight Centre) e o setor privado sem fins lucrativos (por exemplo, Tennis
Australia, Sydney Festival, Tropfest Australia, International Ski Federation,
Wheelchair Sports NSW).
As avaliações dos alunos são projetadas para facilitar a reflexão pessoal
e a autoconsciência aprimorada do desenvolvimento da identidade profissional,
bem como resultados previstos e imprevistos em áreas como desenvolvimento
de habilidades pessoais e profissionais, redes profissionais e planos de carreira.
Os alunos às vezes se sentem desanimados no início da disciplina de estágio,
mas, após a conclusão, a grande maioria relata ter ganho um valor significativo
com a experiência, visto que aprenderam muito sobre a cultura e as práticas de
um local de trabalho profissional e seu próprio lugar nele.
A partir deste contexto apresentado e do nosso atual engajamento
em pesquisas a respeito das contribuições, dos avanços e dos desafios das
experiências de estágios para a formação profissional de estudantes no
contexto australiano, acreditamos que tais investigações poderão contribuir
para o avanço do conhecimento e para melhorias na execução dos programas
de estágio. Os resultados de nossos estudos em andamento, quando discutidos,
à luz dos estágios universitários brasileiros, legitimarão exercícios de
colaboração, criatividade e inovação no aprimoramento das metodologias de
ensino-aprendizagem nos dois países. Portanto, a natureza transcultural desta
proposta é promissora.
Considerações finais
Este texto buscou compartilhar experiências, características e
premissas que permeiam os programas de estágio supervisionado em uma
universidade australiana, alimentada por estudos australianos consolidados
na área. Defendemos a importância dos estágios, nos quais os alunos possam
interagir com um contexto real de trabalho, desenvolvendo atividades de
trabalho autênticas como parte de suas experiências de graduação.
Além disso, os estágios oferecem um caminho importante para conectar
funcionários e estudantes universitários com as partes interessadas da
indústria e da comunidade. A indústria, globalmente, está passando por uma
transformação sem precedentes em uma sociedade que enfrenta desafios
sociais, econômicos e ambientais cada vez mais complexos. É crucial que
as universidades conectem seus alunos com a indústria para ampliar seus
conhecimentos e preparar os graduados para enfrentar esses desafios. As
parcerias universidade-indústria estabelecidas por meio de estágios podem
contribuir para parcerias intersetoriais, ajudando a construir comunidades e
economias prósperas, de alto desempenho e mais justas.
Embora este capítulo tenha se concentrado nas experiências de estágio
de graduação, observamos a importância dos estágios nos diferentes setores
da universidade, inclusive, para alunos de pós-graduação e pesquisa de nível
ESTÁGIO SUPERVISIONADO:
PRÁXIS DOCENTE COM BASE
NA LEITURA
Josiele Pirez
DOI: 10.29327/523736.1-22
A palavra ler (do latim legere), que significa conhecer, interpretar por
meio da leitura, ou seja, ler é decodificar, extrair o significado da escrita, por isso
a leitura é vista como processo interativo entre o leitor e o texto, através do qual
o primeiro reconstrói o significado do segundo.
Ler é uma habilidade que faz parte do nosso dia-a-dia, desde o momento
em que começamos a descobrir o mundo, a utilização dessa prática possibilita
decifrar e interpretar os sentidos das coisas que nos cercam proporcionando
meios de percepção do mundo. Ler uma receita, pegar um ônibus ou escrever
um e-mail, bem como relacionar a ficção com a realidade em que vivemos no
contato com os livros que são frutos da leitura. Em todos esses casos de certa
forma, estamos lendo, mesmo que às vezes nem percebamos.
A prática escolar nos mostra que sem a leitura o aluno, recorrentemente,
fica prejudicado no transcorrer de seus estudos. Deste modo as práticas de
leitura contribuem significativamente para a formação de leitores abrindo campo
para novas descobertas, conhecimentos, melhora constante de vocabulário,
possibilita conhecer lugares e outras culturas por exemplo.
Silva (2002), afirma que ler é um direito de todos e, ao mesmo tempo,
um instrumento de combate à alienação e a ignorância. A função da leitura tem
a ver com a liberdade de escolha, seja ela por prazer, para compreender ou se
posicionar a despeito do que foi lido.
É preciso então, que a escola valorize a importância da leitura
apresentando alternativas para que se torne ato de prazer e satisfação aos
educandos. Através dela é possível se transportar para o desconhecido, explorar
e decifrar sentimentos e emoções que cercam cada um de nós.
Assim como nos orientam os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs:
Josiele Pirez
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curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo
nem ensino”. Sendo assim, é importante valorizar a cultura pré-existente no
cotidiano de seu aluno, estimulando-o a ler, seja um livro, um gibi, uma revista
possibilitando que consiga realizar uma leitura de mundo mais abrangente.
O que está em jogo é que o professor possibilite a proximidade do pensar,
por meio da mediação das imagens do cinema e das imagens esmaecidas do
texto que ficaram guardadas na memória do leitor. Não se trata de um ato magico,
mas de promover um movimento continuo que permita entrever as palavras
antes de desvanecer-se. Uma leitura que se perde na memória. Os conceitos
descrevem todo o potencial das imagens esmaecidas enquanto estas imagens
são significadas pelo pensamento.
02 - Quadro: Preferências de leituras
N°
Que tipo de leitura seus alunos preferem realizar?
Professores
Josiele Pirez
305
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez Editora, 2002.
Josiele Pirez
307
SMITH, Frank. Leitura Significativa. Trad. Beatriz Affonso Neves. -3 ed.- Porto
Alegre: Editora Artes Médicas Sul Ltda.1999.
Introdução
A formação de professores é aspecto central ao se pensar uma educação
de qualidade. Nesse sentido, tem figurado nas discussões no âmbito educacional
nos últimos anos, analisada em diferentes etapas — como o chamado período
pré-profissional ou socialização prévia, a formação continuada, o início da
carreira e a formação inicial, essa última tratada nesse artigo. A formação
inicial é o primeiro momento formal de aprendizagem da profissão, no qual
são adquiridos conhecimentos teórico-práticos necessários à prática docente.
Nessa etapa, o estágio supervisionado se constitui espaço de aprendizagens
docentes, pela aproximação e conhecimento dos contextos profissionais, de
maneira supervisionada e pela troca de experiência com os sujeitos envolvidos.
Embora atualmente existam outras situações em que essa aprendizagem em
contexto acontece, a exemplo do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação
à Docência – PIBID, o estágio supervisionado tem suas particularidades e uma
trajetória histórica na formação de professores.
Freitas (1996) afirma que até 1983 o estágio correspondia ao único
momento do curso em que os alunos mantinham contato com os conhecimentos
de didáticas específicas, por meio de uma conexão mais sistematizada com
a realidade das escolas de educação básica e com a realidade do trabalho
pedagógico nelas desenvolvido. Esse fato revela a problemática histórica que
é a questão da relação teoria e prática na formação docente (quando, ao final
do curso, após a apreensão da teoria, se vai para a “parte prática do curso”),
indicando uma concepção mais restrita do processo formativo. A estruturação
curricular nesses moldes revela uma concepção dicotômica e técnica da
formação docente, com a separação entre teoria e prática, pressupondo que
é necessária uma teoria normativa que possa ser aplicada posteriormente na
prática.
ABORDAGENS NA FORMAÇÃO
DE PROFESSORES: INTEGRAÇÃO
ENTRE TEORIA E PRÁTICA NO
ESTÁGIO SUPERVISIONADO DAS
LICENCIATURAS EM ARTES VISUAIS
Osvaldo Augusto de Oliveira
DOI: 10.29327/523736.1-24
Introdução
O Estágio Supervisionado faz parte da grade curricular do curso de
Licenciatura em Artes Visuais e é o ponto de partida para algumas questões
relacionadas à educação formal e à formação de professores no Brasil.
Nos últimos anos, têm sido realizadas algumas reformas no sistema
educacional de nosso país. Essas reformas incluem as licenciaturas, porém, o
currículo para a formação de professores pouco mudou. O currículo prevê uma
duração de 400 horas de prática pedagógica nos Estágios Supervisionados
aliados às disciplinas de “Fundamentos da Educação” e “Didática e Metodologia
do Ensino da Arte”.
Para alcançar os resultados de aprendizagem pretendidos nas disciplinas
pedagógicas e nos Estágios Supervisionados é mais conveniente ministrar as
disciplinas nos semestres que integram a teoria e a prática pedagógica. Os
alunos da licenciatura em Artes Visuais devem visitar as escolas da educação
básica mais tarde, a partir do quarto semestre.
Conhecer os processos formativos e pedagógicos dessas escolas para
criar oportunidades de integração é muito importante já que a fragilidade, as
desigualdades sociais das regiões brasileiras e a maneira igual que o nosso país
é pensado são revelados também para os alunos que estão em formação nas
licenciaturas.
Com base nos Estágios Supervisionados dos acadêmicos do curso de
Artes Visuais realizados em escolas públicas estaduais de Porto Velho-RO e nos
relatórios feitos por eles, constata-se que o ensino de artes continua inexpressivo
em lugares distintos do Brasil. Os professores que lecionam a disciplina de artes
não têm formação acadêmica na área.
Além de nos deixar claro que o conhecimento “[...] não consiste, com
efeito, em copiar o real, mas em agir sobre ele e transformá-lo (na aparência
ou na realidade), de maneira a compreendê-lo em função dos sistemas de
transformação aos quais estão ligadas estas ações” (PIAGET, 2003, p. 15). E
isso não é diferente quanto ao ensino de artes, pois a interação do sujeito com
o objeto artístico o fará transformar sua realidade e não meramente copiá-la.
Também é um grande desafio tanto para o aluno como para o docente, pois faz
sair da zona de conforto em que ambos estão inseridos. E, nesse caso, o docente
deve estar preparado para tal.
O discurso se alinha e destaca que, para alcançar a “alfabetização
estética”, os professores podem sair da sua zona de conforto e incentivar os
seus alunos a ver as coisas de forma diferentes. O docente que sai da sua zona
de conforto desperta o interesse e a exploração da prática criativa em grande
parte do conteúdo já existente e propõe novas formas de mediação. Como nos
diz Becker (2008, p. 53):
Pouco se pode esperar em termos de transformações profundas no
trabalho escolar, especificamente no ensino, pois a compreensão do
processo de aprendizagem e de formação dos conhecimentos – além
de problemas correlatos como as condições prévias para dominar um
conhecimento novo, o avanço em complexidade dos conhecimentos,
o lugar da motivação, do interesse, da afetividade e da emoção, a
memória – da parte dos docentes pouco ou quase nada se distancia do
senso comum. Os poucos avanços que se encontram não apresentam
sustentação, pois aparecem desconectados entre si, não aparecendo
articulados num corpo teórico. No fundo de todas as noções de
aprendizagem aparece a convicção de que o conhecimento não passa
de uma acumulação de aprendizagens, compreendidas como cópias;
daí, a onipresença da estimulação como explicação das aprendizagens,
independentes da atividade do sujeito.
REGISTROS DO OLHAR:
AS EXPERIÊNCIAS DOCENTES
DURANTE A DISCIPLINA ESTÁGIO
SUPERVISIONADO 1
Jakson dos Santos Ribeiro
DOI: 10.29327/523736.1-25
Introdução
O presente texto nasce da minha experiência inicial como Professor
da Disciplina de Estágio Supervisionado do Ensino Médio, ministrada para os
alunos do Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, Campus
– Caxias. O período de abrangência da disciplina foi entre o dia 17 de abril de
2015 a 30 de junho de 2015. A disciplina é obrigatória, pertencente a grande
curricular do curso de História e tem como intuito aproximar o aluno e futuro
professor da realidade escolar.
Confesso que inicialmente fiquei apreensivo, quando a chefe de
departamento apresentou a disciplina. O porquê da apreensão, justamente, por
que encarava e encaro a disciplina como um momento importante para formação
do aluno enquanto docente. Mas mesmo com receio, diante da responsabilidade
que deveria ter, e aqui não apenas com esta disciplina, mas como todas que
tive que ministrar encarei o desafio, visto ser uma oportunidade para que eu
pudesse pensar juntamente com os alunos os desafios da sala de aula e mais
ainda do ensino de História. Corroborando com essa questão temos que pensar
que, a “[...] sala de aula não é apenas um espaço onde se transmite informações,
mas onde uma relação de interlocutores constroem sentidos [...]. (SCHMIDT, In:
BITTENCOURT, 1997, p. 57).
Nesse intuito, este trabalho tem como objetivo apresentar as
problemáticas dentro da disciplina Estágio Supervisionado em especial, as
minhas observações realizadas durante as visitas nas escolas que foram
escolhidas para que os discentes do curso de História pudessem desenvolver o
período de estágio.
1 O presente texto foi escrito a partir da minha primeira experiência como Professor da
Disciplina de Estágio Supervisionado no Ensino Médio, pertencente a grade curricular do Curso
de História do Centro de Estudos Superiores de Caxias- CESC/UEMA. A disciplina foi ministrada
para os alunos que estavam matriculados no 8º Período no ano 2015.
Dessa forma, pedi aos alunos que durante as micro aulas, realizadas
na universidade, como também durante a vivência deles na escola campo
buscassem sair daquela rotina da qual os alunos do ensino médio estavam já
agraciados todos os dias. E que o livro didático não fosse único instrumento de
apoio para ensino da história em sala de aula.6 Assim Bittencourt, aponta:
“Dar aula” é uma ação complexa que exige o domínio de vários saberes
característicos e heterogêneos. De acordo com o canadense Maurice
Tardif, e a brasileira Ana Maria Monteiro, os professores mobilizam
em seu oficio os saberes das disciplinas, os saberes curriculares,
os saberes da formação profissional e os saberes da experiência. A
pluralidade desses saberes corresponde a um trabalho profissional
que se define como “saber docente”.7
6 O livro didático é um elemento da aula que deve contribuir para o processo ensino
aprendizagem. Sabe-se, que ele é, muitas vezes, o principal recurso de que professore dispõem,
mas, o livro didático não é (e não deve ser tomado como) uma coletânea de aulas prontas a
ser aplicadas. RIBEIRO, Jonatas Roque Ribeiro. História e ensino de História: perspectivas e
abordagens. Educação em Foco, Edição nº: 07, Mês / Ano: 09/2013, pp: 1-7, p. 4.
7 BITTENCOURT, Circe M. F. Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez,
2004, p.51.
8 Acredita-se que o desinteresse dos alunos está, muitas vezes, ligado ao distanciamento
da escola com as modificações sociais ocorridas atualmente, e ao modo como a disciplina de
História ainda é entendida em muitas escolas brasileiras, como um conhecimento estático do
passado e centrado na memorização de conteúdos. DEROCINA, Sosa; TAVARES, Luana Ciciliano.
Ensino de história e novas tecnologias. Revista Latino-Americana de História Vol. 2, nº. 6 – Edição
Especial – Agosto de 2013, p. 825.
9 SCHMIDT, M. A. A formação do professor de história e o cotidiano da sala de aula. In:
BITTENCOURT, Circe. O saber histórico na sala de aula. 9.ed. São Paulo: Contexto, 2004, p.57
Notamos também isso muito a partir das falas dos estagiários, que
alicerce teórico metodológico que a graduação proporciona ao aluno, essa
não é um aspecto determinante na vida dos futuros professores, mas é apenas
uma base, muito tímida diante dos desafios existentes na sala de aula. Nesse
compasso, a educação e mais ainda os cursos de formação de professores devem
manter um diálogo sobre a dinâmica da realidade e assim pensar estratégias
para os desafios do cotidiano escolar.
Referências
BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de
ensino: elemento articulador da formação do professor. IN: BARREIRO, Iraíde
Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio
supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
BEHAR, Regina. Para que serve o professor de História? In: BEHAR, Regina;
FLORES, Elio Chaves (org.). A Formação do Historiador. João Pessoa: Editora
Universitária, 2004.
ESTÁGIO SUPERVISIONADO
NA EDUCAÇÃO INFANTIL E
APRENDIZAGENS DA DOCÊNCIA
Zilda Tizziana Santos Araújo
Francisca Maria da Cunha de Sousa
Jerffeson Miguel de Oliveira
DOI: 10.29327/523736.1-26
Introdução
Amplos debates e normatizações sobre a formação de professores para
atuarem na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental surgem
como uma agenda propositiva no que se refere à promoção de ressignificá-la,
concebendo os cursos como articuladores das demandas escolares a partir do
paradigma social emergente e suas implicações no campo educacional.
A aproximação entre escola e universidade, cada vez mais necessária,
tem como mote reduzir o descompasso entre teoria e prática, já que o resultado
desta formação reflete diretamente na qualidade do ensino ofertado. Porquanto,
um novo papel foi atribuído a estes espaços na perspectiva de superar a
justaposição de etapas fragmentadas tornando imperativa a mudança nas
formas de organização institucional com vistas a abertura de diálogo entre
ambas, proporcionando ao futuro professor um diálogo com o seu contexto real
de atuação (ARAÚJO, 2016).
Entretanto, o exercício dialético da unidade teoria e prática (PIMENTA,
2011), por vezes, acontece de forma tímida e desarticulada no cotidiano da
graduação, evidenciando que esta articulação ainda encontra entraves para
sua efetivação. Sendo necessário superar tal dissociação entre os diferentes
saberes: da formação profissional, os disciplinares, os curriculares e os
experienciais (TARDIF, 2002). Sendo assim, a associação da universidade com
o chão da escola um tempo-espaço de investigação, observação, intervenção,
análise e reflexão dos dilemas vivenciados no cotidiano escolar.
Situado nesse contexto está o Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia,
considerando-se sua importância e prestígio, haja vista sua função formadora
dos professores que atuarão no alicerce da Educação Básica. Para tanto, oferta
componentes curriculares teórico-práticos, tais como o Estágio Supervisionado
que se torna um dos eixos norteadores desse processo formativo.
Zilda Tizziana Santos Araújo - Francisca Maria da Cunha de Sousa - Jerffeson Miguel de Oliveira
339
Neste pressuposto, reside a razão desta pesquisa, que traz como objeto
de estudo as aprendizagens da docência durante o Estágio Supervisionado
na Educação Infantil, por considerar que as especificidades dessa etapa
da Educação Básica requer um olhar atencioso e uma preparação rigorosa
dos futuros professores e em razão de ser o primeiro campo de estágio dos
licenciandos.
Tais pretensões e inquietações desencadearam o problema desta
proposta de pesquisa, que busca saber como o Estágio Supervisionado na
Educação Infantil contribui para a aquisição de aprendizagens da docência? Essa
indagação ensejou o objetivo geral: compreender como o Estágio Supervisionado
na Educação Infantil contribui para a aquisição de aprendizagens da docência.
Assim, acreditamos que esta pesquisa se torna relevante por contribuir
para o aprofundamento de questões já pesquisadas (LIMA, 2012; ARAÚJO, 2016).
Dessa maneira, este estudo traz a possibilidade de referendar novos olhares à
temática em questão, somando-se àqueles que têm empreendido esforços para
a efetivação do Estágio Supervisionado enquanto eixo articulador do saber e do
fazer docente.
Revisão de Literatura
Vivemos a sociedade da informação e do conhecimento, o que nos
impele ao aprimoramento do nosso saber e fazer (BEHRENS, 2005). E estamos
inseridos em um contexto onde as organizações, as culturas e a própria história
são produto da ação e existência do homem. Isso implica, consequentemente,
no aperfeiçoamento deste homem, não cabendo mais pensar e agir de forma
fragmentada e desarticulada.
Convém destacar que a formação humana é um processo contínuo e
evolutivo que, segundo Araújo (2019, p. 55), pode ser entendida como “a ação
humanizadora, sistemática e ininterrupta de busca pelo conhecimento, que
é praticada intencionalmente por seres inacabados e reflexivos.” Isto posto,
entendemos que a aprendizagem acontece em diferentes tempos e espaços,
podendo ser mediada e intersubjetiva.
Nessa perspectiva insere-se a formação inicial de professores que, em
virtude das demandas que a escola contemporânea vem recebendo, provoca,
consequentemente, nas Instituições de Educação Superior (IES) um repensar de
seus processos formativos para que promovam, cada vez mais, a aproximação
entre esses dois campos de aprendizagem da docência, com vista à compreensão
do fazer docente a partir da teorização da prática (PIMENTA, 2011).
Os debates que envolvem a práxis docente concorrem para superação
da dicotomia entre teoria e prática. Logo, tais discussões assentam-se na
perspectiva da reflexividade (ZEICHNER, 1992), evidenciando que a Formação
Inicial traz em sua essência o potencial de aprimorar a capacidade reflexiva
dos futuros docentes. Por isso, a concepção de formação a ser adotada nas
IES precisa ancorar-se na visão integradora de saberes e práticas e promover
aprendizagens efetivamente significativas (PIMENTA, 2011).
Embasada nessas considerações, a discussão amplia-se para o Estágio
Supervisionado enquanto eixo estrutural no processo de formação (PIMENTA;
LIMA 2011). Ratificando tal posicionamento, Araújo (2016, p. 75) destaca que
“vale a pena ressaltar que o estágio não deve ser situado como a parte prática
do curso, mas o momento em que ocorre uma aproximação ao contexto real
de trabalho, baseado nas teorias construídas durante o curso”, assumindo-se,
portanto, como práxis ao possibilitar reflexões sobre o contexto da sala de aula,
da escola e da prática docente.
O Estágio Supervisionado na Educação Infantil, no Curso de Pedagogia,
constitui-se um momento importante na formação acadêmica e profissional
dos futuros docentes, uma vez que essa vivência contribui para o processo
de tornar-se professor, oportunizando aprendizagens sobre a docência na
Educação Infantil, tais como: o planejamento, organização da rotina e do tempo,
uso de atividades lúdicas para ensinar, o equilíbrio entre o brincar e o cuidar,
a maneira mais apropriada de se relacionar com os alunos, o conhecimento e
operacionalização dos campos de experiências na prática, e outros. Assim, o
Estágio Supervisionado na Educação Infantil se consolida como uma fecunda
oportunidade de articulação, teoria e prática, por meio das vivências no cotidiano
da escola, o que leva a aprendizagens significativas.
Para Lima (2008), é imprescindível que o estagiário, ao encontrar-se na
escola, perceba-se dentro dela para, a partir deste sentimento de pertencimento,
ter condições de observação da prática docente, tornando-se um momento
de participar, interagir e aprender sobre a profissão docente. Assim, Zeichner
(1992) considera que o momento dos estágios é um practicum em que pode
ocorrer aprendizagem sobre a docência se bem acompanhado, orientado e
refletido, ampliando, assim a compreensão dos estagiários sobre o sentido da
ação docente.
Articulado a essa concepção, está o posicionamento de Pimenta e
Lima (2011), ao destacarem que Estágio Supervisionado, quando pensado na
perspectiva dialógica, torna-se uma rica experiência para o estagiário ampliar
sua visão crítica acerca dos problemas sociais e das adversidades educativas
oriundas dos espaços escolares.
Nesse sentido, a superação da dicotomia entre teoria e prática no
revés de modelo reprodutivo, busca, sobretudo, redefinir o papel do Estágio
Supervisionado no processo de formação inicial de professores, postulando
assim um modelo de prática reflexiva pautado na consciência transformadora.
Sendo a formação inicial o momento de preparação do acadêmico em um
profissional prático e reflexivo, enquanto futuro professor, apto a enfrentar os
Zilda Tizziana Santos Araújo - Francisca Maria da Cunha de Sousa - Jerffeson Miguel de Oliveira
341
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343
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345
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347
PIMENTA, S. G.; LIMA, M.S.L. O Estágio e Docência. 6. Ed. São Paulo: Cortez,
2012
Zilda Tizziana Santos Araújo - Francisca Maria da Cunha de Sousa - Jerffeson Miguel de Oliveira
349
SOBRE OS ORGANIZADORES E
AUTORE(A)S
Nair Casagrande
Pós-Doutorado (2016) na School of Sport, Exercise and Health Sciences, da
Loughborough University, Inglaterra, como bolsista do CNPq/Programa Ciência
Sem Fronteiras (CsF). Doutorado (2007) pelo Programa de Pós-graduação em
Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestrado (2001)
em Serviço Social pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Especialização
(2000) em Administração Escolar e Gerenciamento Educacional pela Faculdade
de Educação da UFPE. Concluiu sua graduação em Educação Física (1997), na
Escola de Educação Física (ESEF), da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS). Graduou-se também no Curso de Licenciatura em Ciências Sociais
(2019) pela UFBA. É professora Associada na Faculdade de Educação (FACED), da
Universidade Federal da Bahia (UFBA), desde 2005.
Osvaldo Augusto de Oliveira
Doutor em Educação pela Universidad Del Mar do Chile (reconhecido pela
Universidade Federal do Amazonas). Mestre em Bens Culturais pelo Centro
de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC)
- Fundação Getulio Vargas-RJ. Especialista em Arte terapia na educação pela
UCAM-RJ. Possui graduação em Educação Artística pela Universidade Salgado
de Oliveira-Niterói-RJ. É Professor do curso de Licenciatura em Artes Visuais da
Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Atua nos seguintes temas: Formação de
professores, Estágio Supervisionado, Práticas Pedagógicas, Didática do Ensino da
Arte, Metodologias do Ensino-aprendizagem.
Patrícia Sandalo Pereira
Doutora em Educação Matemática pela UNESP – Rio Claro/SP. Diretora do Instituto
de Matemática – INMA e Docente no curso de Licenciatura em Matemática, do
Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática (Mestrado e Doutorado)
e do Doutorado em Ensino de Ciências da Universidade Federal de Mato Grosso
do Sul - UFMS. Líder do Grupo de Pesquisa Formação e Educação Matemática -
FORMEM. Desenvolve estudos e pesquisas nas áreas de Educação Matemática e
Ensino de Ciências com base nos princípios do Materialismo Histórico Dialético e
da Pesquisa Colaborativa, atuando principalmente com Formação de Professores.
Railane Bento Vieira Sabóia
Mestranda em Educação Pela Universidade Estadual do Ceará - UECE (Linha:
Formação, Didática e Trabalho Docente; Núcleo: Didática, Saberes e Práticas
Pedagógicas). Especialista em Psicopedagogia Institucional, Clínica e Hospitalar
(2014), graduada em PEDAGOGIA (2012). Professora substituta docursode Pedagogia
UVA (2013-2019); Atual Professora/Orientadora no Programa de Formação de
Professores - PARFOR (2014-2020). Possui experiência em Coordenação Escolar,
Docência em Educação Infantil e Anos Iniciais do Ens. Fundamental. Foi bolsista
nas seguintes áreas: Projeto de pesquisa sobre Pedagogia universitária (CNPQ)
(2009-2010); foi bolsista da Pesquisa “Políticas públicas e a ‘democratização’ da
SOBRE OS ORGANIZADORES E AUTORE(A)S
363
ÍNDICE REMISSIVO
O ESTÁGIO COM PESQUISA NO CURSO DE PEDAGOGIA EM ESPAÇOS NÃO
ESCOLARES: REFLEXÕES SOBRE UMA PRÁTICA QUE SE RESSIGNIFICA
Espaços (educativos) não escolares (16, 17, 18, 19, 20, 21)
Estagiário/s (13, 14, 19, 20, 21.)
Estágio com pesquisa (15, 16, 17, 18, 19, 20, 22.)
Estágio curricular supervisionado (13, 14, 15,16, 18, 19.)
Formação docente (12, 15, 18, 20, 21,22)
Microvisão (12, 13.)
Organização trabalho pedagógico (19,20)
Pedagogo/a ( 14, 15, 18, 19, 21.)
Pesquisa (17, 18, 20, 21.)
Práxis (13,14)
FORMAÇÃO DEMOCRÁTICA E PRÁTICA DE ENSINO-APRENDIZAGEM POR
MEIO DO ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO
Andressa Graziele Brandt
Helen Parnes Miranda
Thamires Marx
ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM GESTÃO EDUCACIONAL: POSSIBILIDADES
PARA O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
Andressa Graziele Brandt
Daniele Wieczorkovski
Vanessa Souza da Silva
PERCEPÇÕES DE ESTUDANTES DE UMA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO DO
CAMPO COM HABILITAÇÃO EM ARTES E MÚSICA A RESPEITO DO ESTÁGIO
CURRICULAR
Artes (58, 59, 60, 61, 62, 63, 66, 67)
Educação do Campo (58, 59, 60, 61, 63, 64, 65, 66, 67, 68)
Estágio Curricular (58, 59, 60, 61, 62, 63, 64, 65, 66, 67, 68)
ÍNDICE REMISSIVO
367
LEDOC (58, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 67, 68)
Questionário (59, 60, 63)
Tempo Comunidade (58, 62, 66)
Tempo Universidade (58)
Tocantinópolis (58, 59, 60, 61, 62, 63, 67)
Tocantins (58, 59, 60, 62, 63)
Universidade Federal do Tocantins (58, 59, 60, 62, 63)
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA PERCEPÇÃO DOS ESTUDANTES DE
LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO IFPI CAMPUS SÃO RAIMUNDO
NONATO
Aprendizagem (71, 72, 73, 79, 81)
Atividade profissional (72, 76, 79)
Disciplinas pedagógicas (71, 81)
Docência (72, 75, 79)
Estágio (71, 72, 73, 74, 75, 76, 77, 78, 79, 80, 81)
Formação inicial (71, 72, 73, 75, 78, 79, 81)
Identidade (72, 78, 81)
Matemática (71, 72, 73, 74, 75, 81)
Percepções (71, 72, 75)
Práxis docente (75, 81)
OS MOVIMENTOS REFLEXIVOS COLABORATIVOS NO
DESENVOLVIMENTODO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO EM
MATEMÁTICA
Atividade (84, 85, 86, 87, 89, 90, 91, 92, 95, 98)
Conhecimento (84, 85, 86, 87, 89, 90, 92, 94, 95, 96)
Estágio (84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 95, 96, 97, 98)
Formação (84, 85, 86, 87, 89, 90, 92, 95, 96, 97, 98)
Matemática (84, 85, 86, 89, 90, 94, 95, 96, 97, 98)
Possibilidade (84, 85, 87, 91, 96, 98)
Prática (84, 85, 86, 87, 88, 89, 90, 92, 93, 95, 96, 97, 98)
Professores (84, 85, 86, 87, 89, 90, 92, 95, 96, 97, 98)
Realidade (84, 85, 86, 87, 89, 90, 91, 93, 94)
Reflexão (84, 85, 86, 87, 88, 89, 94, 95, 96, 97)
ÍNDICE REMISSIVO
368
ÍNDICE REMISSIVO
369
ÍNDICE REMISSIVO
370
ÍNDICE REMISSIVO
371
Prática (221,222,224,226,227,228)
Resolução (225,226,227,228)
Teoria (221,222,224)
POSSIBILIDADES DE CONSTITUIÇÃO DA PROFISSIONALIDADE DOCENTE A
PARTIR DO ESTÁGIO
Constituição da profissionalidade (231, 232, 233, 234, 236, 240)
Desenvolvimento profissional (231, 232, 234, 235,
Egressos (231, 232, 236, 237, 238, 239, 240)
Estágio Supervisionado (231, 232, 233, 234, 236, 237, 238, 239, 240, 241, 242)
Formação do professor (232, 233, 234, 239, 242)
Formação inicial (231, 234, 240, 241)
Professor de matemática (231, 232, 234, 235, 236, 238, 239, 242)
Profissionalidade (231, 232, 233, 234, 236, 240)
Profissionalização (231, 232, 234)
Saberes (232, 233, 234, 235, 238, 239, 240, 242, 243)
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO FORMATIVO E DE
CONSTRUÇÃO DO SABER ENSINAR
Docência (245, 246, 248, 249, 250, 253, 255, 256, 258)
Escola (45, 246, 247, 248, 249, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257)
Estágio supervisionado (244, 245, 248, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257,
258)
Formação (244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257,
258)
Prática (244, 245, 246, 247, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 255)
Prática pedagógica (244, 248, 249, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256)
Reflexão (246, 245, 247, 248, 249, 250, 252, 254, 255, 256)
Saberes (244, 245, 246, 247, 248, 249, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258)
Sala de aula (245, 246, 248, 251, 254, 255, 256, 257)
Teoria (244, 245, 246, 247, 248, 250, 251, 252, 253, 254, 255, 256, 257, 258)
ÍNDICE REMISSIVO
372
ÍNDICE REMISSIVO
REGISTROS DO OLHAR: AS EXPERIÊNCIAS DOCENTES DURANTE A
DISCIPLINA ESTÁGIO SUPERVISIONADO
Educação – 3, 4, 6, 9.
Ensino – 1, 2, 3, 5, 7, 8, 10.
Escola – 2, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12.
Estagio - 1, 2, 3, 5, 6, 7, 8, 9, 10.
Formação – 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 10.
Prática - 2, 3, 4, 9, 11, 12.
Supervisionado – 1, 8.
ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E APRENDIZAGENS
DA DOCÊNCIA
Aprendizagens Docentes (337, 338, 339, 340, 341, 344, 345)
Educação Infantil (337, 338, 342, 343, 344, 345)
Estágio Supervisionado (336, 337, 338, 339, 340, 341, 342, 343, 345)
Experiências Profissionais (338, 340, 341, 342, 345)
Formação de Professores (336, 337, 338, 341, 342)
Formação Inicial e Continuada (337, 338, 339, 340, 343, 344)
Prática Reflexiva (336, 337, 338, 341, 342, 343)
Práxis Docente (337, 338, 342, 343)
Saberes Docentes (336, 337, 340, 345)
Unidade Teoria e Prática (336, 337, 338, 342, 343)