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História do Rio Grande do Norte

Período Pré-Colonial

O Rio Grande do Norte faz parte da região do Nordeste brasileiro, localizado entre o Ceará e
a Paraíba. Tem como limites ao norte e leste o oceano Atlântico, que banha todo o seu litoral,
ao oeste o Estado do Ceará, separado pelo rio Jaguaribe e ao sul o Estado da Paraíba,
separado pela Baia da Traição.

Mesmo sendo um dos menores Estados do Brasil, com seus 53.015 km2, possui grande
quantidade de recursos naturais. No passado seu litoral era repleto de árvores de Pau-brasil,
de grande valor na época do descobrimento, o que levou os franceses a se instalarem na
costa da região, antes mesmo de se formar a Capitania do Rio Grande estabelecendo o tráfico
do Pau-brasil.
As atividades econômicas do Rio Grande do Norte, desde o início de sua colonização, sempre
estiveram ligadas a agricultura e a criação de gado, tendo como destaque na sua produção:
o algodão, sal marinho, sisal, cana de açúcar, milho, feijão, banana, batata doce, etc. É
detentora das maiores salinas do país e de um litoral de cerca de 410 km de extensão.

A sua localização inserida numa região sujeita à periódicas secas, prejudica bastante a sua
população que perde plantações e gado pela falta d’água, e que, muitas vezes precisa fugir
para as cidades em busca de sobrevivência.
Natal, a capital do Rio Grande do Norte, sobressaiu-se bastante por ocasião da II ª Guerra
mundial, quando se tornou centro atenções nacionais e internacionais, não somente pela
construção da base aérea americana, mas, sobretudo pela presença dos soldados dos EEUU,
o que modificou bastante os costumes locais com a introdução de muitos dos seus hábitos
no dia a dia. A população de Natal hoje é de 709.536 habitantes.

No começo deste século, o Rio Grande do Norte conta com um total de cerca de 2.776.782
habitantes (censo IBGE/2000), possui 166 municípios, divididos em dez regiões: Salineira
Norte-rio-grandense, Litoral de São Bento, Açu e Apodi, Sertão de Angicos, Serra Verde.
Natal, Serrana Norte-rio-grandense, Seridó, Borborema Potiguar e Agreste Potiguar.

Historicamente, o Rio Grande do Norte surgiu com a divisão do Brasil em Capitanias


hereditárias, em 1533, e a concessão por D. João III das terras que se estendiam a partir da
Baia da Traição (limite sul) até o rio Jaguaribe , ao cronista João de Barros, além de mais 50
léguas de parceria com Aires da Cunha.

Começava a existir a Capitania do Rio Grande, cuja conquista e colonização, depois de várias
tentativas frustradas, somente foi efetivada já no final do século, em 1598. Por conta da sua
posição geográfica, as terras do Rio Grande foi possivelmente um dos primeiros pontos
visitados no litoral brasileiro, antes mesmo da chegada dos portugueses. A necessidade de
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consolidar o domínio português nas terras que se encontravam abandonadas, com a


presença constante de visitantes estrangeiros no seu litoral, fez o governo português tomar
novas medidas com relação a Capitania do Rio Grande, nessa altura já de posse da Coroa,
que a havia comprado aos filhos de João de Barros.

Dessa forma foram cumpridas as determinações reais aos donatários Mascarenhas Homem,
de Pernambuco e Feliciano Coelho da Paraíba, de conquistar as terras, construção de um
forte para a sua defesa e fundação de uma cidade para ser iniciada a obra da colonização.
Foi construída a fortaleza dos Reis Magos, concluída a 06 de janeiro, cuja planta da autoria
de Frei Gaspar de Samperes, obedecia a característica das construções coloniais portuguesas.
Depois disso foi necessário a pacificação da massa indígena que habitava a região cujos
ataques constantes punham em perigo a vida do homem branco. A presença de Jerônimo de
Albuquerque, de origem mestiça, que viera com a expedição de Mascarenhas Homem, foi de
fundamental importância para a sua realização. Encarregado de estabelecer as pazes com os
chefes Pau Seco e Sorobabe, Jerônimo consolidou com sucesso a sua missão na Paraíba, em
junho de 1599, e tudo indica (pela falta de um documento explicito sobre o assunto) que ao
voltar ao Rio Grande, teria ele, Jerônimo de Albuquerque, completado a última determinação
real, de fundar uma cidade. A 24 de dezembro de 1599, era fundada a cidade de Natal, tendo
como ponto original o local elevado onde hoje se localiza a Pça. André de Albuquerque, Largo
da Matriz. Ai foi erguida uma pequena capela onde foi celebrada missa, capela essa que
através das reformas e do tempo permanece ainda hoje a velha catedral.

A capitania era habitada no litoral pelos índios do grupo dos Tupis, os Potiguares e no interior,
pelos índios do grupo dos Tapuias, os Cariris e Tarairius.

A colonização foi lenta, estabelecendo-se oficialmente em 1611, com a passagem do


Governado do Brasil Diogo de Meneses, que fez as nomeações necessárias para a instituição
da administração. Ao longo dos anos a Capitania do Rio Grande acrescentou o complemento
do Norte, devido existência de uma outra capitania do Rio Grande, a do Sul.

Marcaram o processo histórico do desenvolvimento da capitania a presença dos holandeses,


que tendo invadido e se estabelecido em Pernambuco, conquistaram também o Rio Grande
para apoiar a conquista de Pernambuco, além da Capitania do Rio Grande servir para fornecer
o gado, para consumo das tropas e população em Pernambuco. Natal foi visitada pelo conde
Mauricio de Nassau em 1637.

Os holandeses permaneceram na capitania por mais de vinte anos, mas nada foi realizado
de positivo que marcasse sua presença na região. Natal recebeu o nome de Nova Amsterdã,
estabelecendo-se uma fase que ficou marcada pelo abandono, violência, e rapinagem,
responsável pelo atraso no desenvolvimento local. O domínio invasor ficou conhecido pelas
atrocidades de Cunhaú, Ferreiro Torto e Uruaçu, que eram os núcleos populacionais da época.
História do Rio Grande do Norte

Nestas localidades, no final do domínio holandês, os índios Janduis, liderados por Jacob
Rabbi, judeu alemão que detinha grande influência sobre estes, atacou e massacrou
violentamente suas populações.

Após a saída dos holandeses, quando se tenta voltar à normalidade, inaugura-se uma nova
fase na vida da capitania, que volta a sofrer reveses, desta feita com uma revolta dos índios
tapuias contra o domínio português, um movimento de rebeldia considerado como um dos
maiores da região nordeste, que ficou conhecida como Guerra dos Bárbaros. O movimento,
que persistiu por mais de vinte anos, se estendia pelas áreas das Capitanias do Ceará, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas, sendo que o foco da rebelião estava na
Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Somente foram dominados a partir da atuação mais
enérgica das bandeiras paulistas.

Em 1817, ocorreu o Movimento Republicano no nordeste brasileiro, tendo Pernambuco como


o centro de difusão do pensamento liberal, sob a liderança da elite agrária e religiosa da
região, motivada por interesses econômicos. Esse movimento teve ramificações em Alagoas,
Paraíba e Rio Grande do Norte. No caso do Rio Grande do Norte, cujo governador José Inácio
Borges, ao condenar o movimento, declarando esta separada de Pernambuco, para que fosse
mantida a fidelidade ao rei, concretizou duas antigas aspirações da população norte-rio-
grandense: tornar-se independente da Capitania de Pernambuco e a criação de uma
Alfândega local, que até então não existia.
Mas, mesmo com as providencias tomadas pelo governador Borges, André de Albuquerque
Maranhão, comandante da Divisão do Distrito Sul e senhor de Cunhaú, (o primeiro engenho
do Rio Grande do Norte) através de contatos com os insurretos de Pernambuco, aderiu
assumindo a liderança do movimento e entrou em Natal com suas tropas na tarde de 28 de
março. No dia seguinte, no edifício da Provedoria da Fazenda, André de Albuquerque
Maranhão instalou o governo republicano do Rio Grande do Norte sob sua presidência,
governo esse que durou apenas um mês, quando então foi assassinado e a situação voltou
ao domínio português.

A independência do Brasil em 1822 transformou a capitania, assim como as demais, em


Província, estabelecendo-se nessa fase um crescimento fortalecido pelos poucos engenhos
de cana de açúcar e as fazendas de gado, principalmente.

Ao chegar o movimento pela emancipação dos escravos, em 1888, o Rio Grande do Norte
tinha muito pouco a fazer, uma vez que sempre possuiu um reduzido número de escravos
negros, tendo em vista as terras para essa cultura serem poucas, limitando-se apenas aos
vales do Ceará Mirim e Canguaretama.

A queda da monarquia e estabelecimento da república como regime político transformou as


Províncias em Estados e a situação política local, tal qual a do restante do país, consolidou as
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oligarquias que caracterizaram a República Velha. No Rio Grande do Norte o sistema


oligárquico funcionou com a liderança de Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, cujo
grupo se manteve no poder até a década de vinte, substituído por outro que se manteve no
poder até o movimento de 1930.

Outro fato a se destacar na história do Rio Grande do Norte foi o movimento de 1935,
conhecido como Intentona Comunista, - três insurreições distintas, das unidades militares de
Natal, Recife e Rio de Janeiro -, quando o governo foi interrompido por um movimento
armado que instalou um Comitê Popular Revolucionário, que durou apenas 4 dias.
A ocorrência da IIª Guerra mundial (1939-1945), colocou o rio Grande do Norte,
especificamente Natal como local de destaque no panorama internacional. Com o apoio de
Vargas, presidente do Brasil, aos americanos, foram assinados acordos que incluíam a
construção de bases militar no Brasil e Natal, pela sua posição estratégica de proximidade
com a África, foi escolhida para instalação da defesa em tempo de guerra. Aqui foram
instaladas a Base Naval de Natal em Refoles, no Alecrim, e a Base Aérea de Natal, ao lado da
qual foi construída a Base Aérea Americana, Parnamirim Field, como ficou conhecida, com
grande mobilização técnica e todos os serviços modernos possíveis ao gênio e o dinheiro.

Após o final da guerra surgiram os primeiros cursos universitários, 1947, com a criação das
Faculdades de Farmácia e Odontologia. Seguiram-se as faculdades de Direito, Filosofia,
Serviço Social, Economia e Medicina, todas públicas. Em 1958, no governo de Dinarte de
Medeiros Mariz (1956/1961) foi criada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte,
inicialmente estadual e logo em seguida federalizada, em dezembro de 1960 pelo presidente
JK.
Somente a partir do final dos anos 80, é que surgiram faculdades particulares no Estado.
Atualmente o Rio Grande do Norte conta, além da UFRN, com a UERN (universidade estadual)
a UNP, Universidade Potiguar, FARN, FAL, FACEX E FACULDADE CAMARA CASCUDO.
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Período Pré-colonial, até o século XVI


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Período Colonial: Colonização Europeia, séculos XV XVI


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Fontes:

Extraído de: História do Rio Grande do Norte 1. Disponível em:


https://zdocs.com.br/doc/historia-do-rio-grande-do-norte-xrpq5999kqp2. Acesso em
outubro de 2021.

História do Rio Grande do Norte - Um Resumo. Disponível em:


http://historiarn.blogspot.com/2012/09/historia-do-rio-grande-do-norte-um.html. Acesso
em outubro de 2021.

Materiais complementares:

TRINDADE, S. L. B. História do Rio Grande do Norte. Disponível em:


https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/1011. Acesso em outubro de 2021.
História do Rio Grande do Norte

O Brasil Holandês

O Brasil Pós-Holandês: Insurreição e Restauração Portuguesa

Tradição de Bravura Vai de Pai Para Filho

A simples existência de uma aldeia com o nome de Meratibi, em Pernambuco, não significa
que essa aldeia tenha sido a povoação à qual dom Antônio Felipe Camarão se referiu em seu
testemunho. E mesmo que o historiador pernambucano estivesse certo, a palavra que se
encontras no documento citado é "residia" e, claro, existe uma diferença entre "residir" e
"nascer". Esse documento, portanto, não prova que o chefe potiguar tenha efetivamente
nascido em Pernambuco...Meratibi é o nome de uma aldeia pernambucana com grafia
semelhante à de outra aldeia potiguar chamada de Merebiti ou Meretibi. O escritor Mário
Mello aproveitou essa semelhança para forjar a sua teoria de que Felipe Camarão teria
nascido em Pernambuco.Outro aspecto que se deve destacar: Luís da Câmara Cascudo
provou que existe no Rio Grande do Norte uma tradição popular sobre dom Antônio Felipe
Camarão entre pessoas iletradas, no interior e na época em que ele realizou a pesquisa, na
década de trinta. As mulheres que foram consultadas desconheciam totalmente a
controvérsia sobre Felipe Camarão. Disse Câmara Cascudo: "Essa tradição popular da
naturalidade de Camarão é um ponto de referência de singular força argumentadora.
Nenhum outro Estado disputante de seu berço pode empregar as mesmas armas. Essa
tradição oral só existe no Rio Grande do Norte, onde dom Antônio Felipe Camarão é tido
como conterrâneo". Caso Felipe Camarão tenha morado realmente na Mirituba
pernambucana - Pedro Moura provou que não -, ele já havia nascido e se encontrava na
idade adulta, dirigindo o seu povo. Foi assim que ele deixou o Rio Grande para lutar contra
os holandeses em Pernambuco. Falta ainda comentar outro argumento a favor da tese
pernambucana. Em uma carta, Henrique Dias disse o seguinte: "Meus senhores Olandeses,
meu Camarada o Camarão não está aqui, porém eu respondo por ambos. Vossas Mercês,
saibam que Pernambuco é sua pátria e minha, e que já não podemos sofrer tanta ausência
d'ella! Aqui havemos de deitar vossas mercês fora d'ella".A questão é fácil de explicar. Com a
palavra, novamente, Pedro Moura: "De fato, Camarão nasceu nesta província, isto é, na
circunscrição naquele tempo criada por D. Diogo de Menezes, Capitania do Rio Grande do
Estado do Brasil", sujeita a um só governo geral, como parte integrante de uma província
militar - Pernambuco". "Da mesma maneira frei Calado chamou "índios brasileiros, índios da
terra, índios pernambucanos", os nossos índios, indistintamente, nascido na província limitar
de Pernambuco, fossem eles tabajaras, fossem potyguares, fossem cahetés".Em síntese, a
"pátria pernambucana" não significava apenas Pernambuco, porém uma área bem mais
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ampla que incluía inclusive o Rio Grande. E Antônio Felipe Camarão, ao dizer que lutava pela
pátria pernambucana, estaria também se referindo ao seu pequeno Rio Grande. Henrique
Dias, ao dizer "pátria", não estava se referindo exclusivamente à Capitania de Pernambuco,
porque ele não pretendia expulsar os holandeses apenas de uma capitania, mas de todo o
Nordeste. A conclusão que se extraia de tudo o que foi dito é o seguinte: existiram realmente
dois chefes potiguares, pai e filho, que possuíam o mesmo nome - Poti. O filho foi quem
partiu do Rio Grande para lutar contra os holandeses, em Pernambuco. O que não se
comprova é que ambos nasceram no Rio Grande do Norte. As controvérsias não terminam
aqui. Antes se imaginava que havia só um Poti. Agora, provado que existiam dois, não fica
fácil esclarecer os fatos em que ambos se envolveram. Quem fez tal empreendimento, foi o
pai ou o filho? É preciso realizar, urgentemente, uma investigação séria sobre o problema.
Dom Antônio Felipe Camarão nasceu, provavelmente, na Aldeia Velha, no ano de 1580.Com
relação ao seu batismo, Nestor Lima aponta para o dia 13 de junho de 1612 e parece estar
certo. Naquele dia, ao se tornar cristão, o potiguar tomou o nome de Antônio Felipe Camarão.
O primeiro nome teria sido uma homenagem ao santo do dia, Santo Antônio. O segundo
nome seria uma homenagem a Felipe IV, rei da Espanha. E, finalmente, Camarão, que é
tradução portuguesa do seu nome primitivo em tupi: Poti. No dia seguinte ao do seu
batizado, Felipe cassou com uma de suas mulheres que, na pia batismal, recebeu o nome de
Clara. As solenidades do batizado e do casamento foram realizadas em grande estilo na
Capela de São Miguel de Guajerú. Antonio Soares, no "Dicionário Histórico e Geográfico do
Rio Grande do Norte", transcreve a opinião de D. Domingas do Loreto: "Na guerra da
restauração de Pernambuco, ostentou D. Clara, mulher do governador dos índios. D. Antônio
Felipe Camarão, o seu insigne valor com os mais ilustres realces: porque, armada de espada
e broquel, e montada em um cavalo, foi vista nos conflitos mais arriscados ao lado do seu
marido, com admiração do holandês e aplauso dos nossos".D. Antônio Felipe Camarão, além
de grande guerreiro, foi igualmente hábil estrategista. Sua maior vitória foi contra o general
Arcizewski, que sentiu humilhado ao perder para um chefe nativo. São suas as seguintes
palavras, transcritas por Antônio Soares, no "Dicionário Histórico e Geográfico do Rio Grande
do Norte" : "Há mais de quarenta anos - disse o general - que não milito na Polônia, Alemanha
e Flandres, ocupando sem interrupção postos honrosos, mas só o índio brasileiro Camarão
veio abater-me o orgulho". O valente chefe potiguar, pelo seu desempenho contra os
inimigos, recebeu diversas honrarias: o título de "Dom", dado por Felipe IV; Brasão de Armas;
"Capitão Mor e Governador de Todos os índios do Brasil", e as comendas "Cavaleiro da
Ordem de Cristo" e dos "Moinhos de Saure". Dom Antonio Felipe Camarão morreu, segundo
alguns autores, a 24 de agosto de 1648, sendo sepultado na Várzea, em Pernambuco.
História do Rio Grande do Norte

Um Prenúncio de Forte Tempestade

Após a expulsão dos holandeses, a Capitania do Rio Grande apresentava o seguinte quadro,
descrito por Câmara Cascudo: "a Capitania ficou devastada. A população quase desapareceu.
Plantios, gado, destruídos. Os flamengos tinham incendiado as casas principais, queimando
livros de registro". Antônio Vaz Gondim assumiu o governo, tomando medidas para
reorganizar a capitania, partindo praticamente do nada. Reconstruindo edifícios )Fortaleza e
Matriz), organizando a defesa da cidade, mas, sobretudo, iniciando uma política de
povoamento. Lançou os fundamentos de uma infra-estrutura para que fosse possível
efetivamente governar a capitania. Nuvens negras, contudo, começavam a se acumular no
horizonte, num prenúncio de tempestade...Os colonos que viviam no interior, sem recursos
para a aquisição de escravos africanos, capturavam nativos. Mais do que isso, os sesmeiros
provocavam os naturais da terra para que eles lutassem contra os seus vizinhos, ou, então
contra os brancos, que assim promoveriam a chamada "guerra justa", obtendo maior número
de escravos. As vítimas tinham duas opções: submeter-se, sofrendo todo o tipo de
humilhação, ou recebelar-se. A situação se agravou porque, como disse Tavares de Lyra, os
holandeses voltaram ao Nordeste com um único objetivo: levantar os silvícolas do Rio Grande
do Norte contra os portugueses. Os holandeses que se casaram com as viúvas lusitanas
pleiteavam os bens de suas esposas ...Tavares de Lyra chama a atenção para o fato e
acrescenta: "dada a situação esta consulta faz entrever, é provável que mais tarde, quando
ainda se arrastavam na Europa as negociações para ajustes internacionais, os ex-dominadores
mantivessem insidiosamente as ferramentas de agitação na colônia, para deles tirar partido,
assim como que incitassem a virem para o Brasil fazer causa comum com os revoltados". Os
portugueses cobiçavam as terras dos silvícolas, procurando se apossar delas, através do
extermínio ou empurrando os nativos para o interior. Irritando, dessa maneira, os tapuias e
os potiguares. Tarcísio Medeiros é mais taxativo: "Essa forma de expansão sem respeito aos
bens dos índios, que ainda eram preados para o eito escravo, concorreu para os primeiros
atritos, o correr de sangue de uma guerra que, por espaço de cinqüenta anos, chamada
"Guerra dos Bárbaros", o Rio Grande, mal nascido, só conheceu violências, extorsões,
vilipêndio e rapinagem".

Ambição dos Colonos Revolta os Índios

Não foi uma guerra comum. Os nativos, diante das constantes provocações dos colonos,
revoltaram-se. As tribos às vezes se aliavam e, em outras oportunidades, lutavam sozinhas.
Não houve, entretanto, nenhuma confederação. Muito menos um comando único, ao qual
todos obedecessem. Tratava-se muito mais der uma reação contra as perseguições dos
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brancos que, inclusive, tinham interesse em manter acesso o fogo da revolta: com a
manutenção do conflito, aos poucos, os naturais da terra seriam exterminados. Em 1685, os
janduís já demonstravam descontentamento. Em 1687, a situação se agravou, sendo descrita
por Câmara Cascudo da seguinte maneira: "Os indígenas corriam incendiando, matando o
gado e os vaqueiros e plantadores do sertão (...). Mais de cem homens mortos". O capitão-
mor Pascoal Gonçalves de Carvalho, desesperado, pediu ajuda aos seus colegas de
Pernambuco e Paraíba, além do Senado da Câmara de Olinda. A situação era crítica de fato.
Os silvícolas avançavam rumo à capital. Atingiram Ceará-Mirim, próximo de Natal. Para se
defenderem, os colonos construíram casas-fortes e paliçadas. Alguns reforços foram enviados
para a capitania, como o terço dos paulistas e, posteriormente, Domingos Jorge Velho. Não
conseguiram terminar a guerra, apesar de seus esforços. É que a solução para o conflito
dependia muito mais de visão administrativa, habilidades e espírito de justiça do que força e
armas. O que mantinha a guerra era, sem dúvida, a ambição e a crueldade de determinados
colonos que almejavam a todo preço as terras que pertenciam aos nativos... Mesmo que, para
isso, fosse preciso exterminar os verdadeiros donos das terras! Mas os portugueses e seus
descendentes necessitavam da proteção dos soldados para atingir tais objetivos... Acontece
que, por falta de recursos, os soldados não estavam sendo pagos. Passando fome,
desertavam. E mais, como disse Cascudo, as tropas "estavam obstruídas pela displicência,
indiferença, descaso, ignorância, os pecados dos desinteresse que a distância multiplica". A
guerra, portanto, continuava variando de intensidade. E continuaria sempre, caso não fosse
enviado para o Rio Grande do Norte um líder que desejasse acabar com o conflito, lutando
contra os interesses dos oportunistas e dos aventureiros, devendo se impor pela energia e,
sobretudo, por seu espírito de justiça!

Fim do Conflito e Paz com os Nativos

Em 1695, Bernardo Vieira de Melo assumiu o governo da capitania. Veio com objetivo de
pacificar os nativos. Todo o seu trabalho foi desenvolvido nesse sentido. Fundou o Arraial de
Nossa Senhora dos Prazeres, em 24 de abril de 1696. Permaneceu dois meses na região,
tomando todas as medidas que fossem necessárias para manter a paz entre os colonos e os
nativos. Enfrentou mil e uma dificuldade. Que deveriam ser mantidos pela população local.
Sobre a sua atuação, disse Tarcísio Medeiros: "Bernardo Vieira de Melo, com atitudes firmes
e demonstrações de suas forças, somente usou desses recursos para fazer-se respeitar e, ao
mesmo, atrair e agradar os silvícolas, criando, desta forma, um clima de confiança que
permitiu o diálogo entre as partes e o ajuste de condições capazes de satisfazer a todos".
Diante de sua atuação, o Senado da Câmara de Natal pediu a prorrogação do mandato de
Bernardo Vieira de Melo. A solicitação foi aceita. O capitão-mor, contudo, além de
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enfrentar uma série de vicissitudes, sofreu alguns aborrecimentos com a rebeldia e os


desmandos de Moraes Navarro que, finalmente, foi forçado a entregar os nativos que
estavam presos, sob pena de ser excomungado pelo bispo D. Frei Francisco de Lima. Navarro
teve que se retirar da região, vencendo a causa o capitão-mor do Rio Grande.Bernardo Vieira
de Melo conseguiu mais duas conquistas: que fosse dada "a cada Missão uma légua de terra
em quadrado, medida e demarcada", e que a Capitania do Rio Grande passasse da jurisdição
da Bahia para Pernambuco, fato que ocorreu em 11 de janeiro de 1701.E foi graças ao seu
esforço, energia e persistência que Vieira de Melo conseguiu pacificar os nativos.

Crise do Período Colonial: economia e revoltas

Ciclos Econômicos e Períodos de Seca

O primeiro ciclo econômico do Rio Grande do Norte, foi, como ocorreu com o Brasil de forma
geral, o do "pau-brasil". Além dos portugueses, outros europeus se beneficiaram da extração
dessa madeira cobiçada. Principalmente os franceses, que entraram em contato com os
nativos e, contando com a amizade dos potiguares, exploraram e contrabandearam o pau-
brasil para a Europa. Expulso o francês, o desenvolvimento se arrastava de maneira muito
lenta. Predominou, no início da colonização portuguesa, o interesse militar: a defesa da região
e a expansão rumo ao Norte. Em 1615, havia apenas o engenho de Cunhaú funcionando. A
capitania apresentava uma situação melhor em 1630: "iniciava-se a produção açucareira e o
ciclo do gado progredia:, ressaltou Câmara Cascudo. Começava o povoamento do sertão,
seguindo-se a expansão da criação de gado rumo aos vales do Açu e Apodi e, igualmente, à
região do Seridó, Istvam Lázio A'rbocz analisa esse processo: "o ciclo do gado promoveu o
desenvolvimento e o povoamento, embora de maneira muito esparsa, de toda a Capitania
do Rio Grande do Norte - condicionada pela própria atividade econômica básica (...) A
atividade agrícola desenvolvia-se mediocremente à sombra dos "currais", voltada para o
abastecimento das populações locais". O ciclo do gado criou uma maneira de viver própria,
ou seja, uma cultura especial caracteriza pelo "individualismo do seu participante", segundo
Câmara Cascudo. Continua o mesmo autor: "Dá-lhe a noção imediata de independência, de
improvisação, de autonomia, de livre arbítrio, de arrojo pessoal". No século XVIII, a economia
se baseava, principalmente, em duas fontes: a agricultura e a indústria pastoril. A cultura da
mandioca chegou a produzir cerca de 56.400 alqueires de farinha. Por outro lado, a indústria
pastoril cresceu bastante. Como lembra Tarcísio, "além de fornecer gado às feiras da Paraiba
e Pernambuco, os criadores de Mossoró ou Açu nas oficinas" exploravam a indústria de carne
seca. Garibaldi Dantas, em um estudo realizado no início do século XX, trata da dependência
da agricultura da "boa ou má distribuição do regime pluviométrico".
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Essa afirmação é perfeitamente válida para os séculos anteriores. Dois fatores, portanto,
influenciavam a produção agrícola: a seca e os açudes. O primeiro fator, a seca, foi definido
por Garibaldi Dantas da seguinte maneira: "As secas são fenômenos climatológicos
caracterizados pela deficiência, a irregularidade ou má distribuição das precipitações
pluviáticas".A seca, ao contrário do que possa imaginar, "vêm de datas antiquíssimas na nossa
cronologia histórica". A primeira que se tem notícia data de 1600, em pleno século XVII. A
seca atinge, e muito, a pecuária, desorganização a criação de gado. No século XVII foram
registradas cerca de quatro secas (1600, 1614, 1691, 1692) e no período seguinte o fenômeno
se repetiu em número bem maior, num total de vinte e uma: 1710, 1711, 1723, 1724, 1726,
1727 etc. Segundo D. José Adelino Dantas, "foi nesse século que se verificou a mais longa e
mais calamitosa de todas as secas do Nordeste, abrangendo cinco anos consecutivos, de
1723 a 1727, inclusive". O gado bovino apresenta semelhança com a raça "Garaneza",
provavelmente introduzida no Estado pelos franceses, e "Cacacú, possivelmente vinda do
Ceará. O fato é que o gado se apresentava com uma grande fecundidade. Como comprova
Garibaldi Dantas: "cinco anos após uma seca, o criador vê recompor-se rebanhos por ela
destruídos".

O Poder Executivo na Fase Colonial

O poder Executivo era exercido pelo capitão-mor (de 1598 até 1821), com exceção de período
sob a dominação holandesa. Como disse Tarcísio Medeiros, "a sua ação exercia-se mais
imediatamente na manutenção da ordem pública, na inspeção das tropas e fortalezas, na
proteção devida às autoridades outras da capitania, às quais podiam representar, ficando
todos os seus atos sujeitos à devassa, quando deixassem o governo". Era nomeado através
de um documento chamado Carta-Patente, menos o primeiro, João Rodrigues Colaço,
designado inicialmente pelo governador geral do Brasil e confirmado no cargo
posteriormente por um Alvará Régio. O cargo recebeu várias denominações "Capitão-Mor
do Rio Grande (até 1739), "Capitão-Mor do Rio Grande do Norte", para diferenciar de outra
capitania, na região meridional do Brasil, Rio Grande do Sul, cuja colonização foi consolidada
pelo Tratado de Madri. Em 1797, mais um nome "Governador e Capitão-Mor do Rio Grande
do Norte" e, finalmente, de 1811 até o último, em 1816, nova mudança para Governador do
Rio Grande do Norte. Além do Executivo, havia o Provedor da Fazenda que recebia os
impostos. A administração municipal estava entregue ao Senado da Câmara, funcionando no
consistório da Matriz de Nossa Senhora da Apresentação. Presidida por um juiz ordinário.
Durante o império, foi transformado em Câmara Municipal (25/03/1824).Até 1770, seis de
seus membros substituíam o capitão-mor, por sua morte ou qualquer outro impedimento. A
partir daquela data, o capitão-mor passou a ser substituído por uma junta, formada pelos
seguintes membros; vereador mais velho, comandante da fortaleza e o juiz ouvidor.
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A capitania tinha apenas um município: Natal. Depois, surgiram São José do Mipibu, Arês,
Vila Flor, Vila do Príncipe, Vila Nova e Vila do Regente.

Estrutura do Poder Judiciário

A autoridade máxima da comarca era o ouvidor. Primeiro, nomeado pelos donatários das
capitanias, e depois, pelo próprio rei. Ivoncísio Meira de Medeiros, entretanto, esclarece o
seguinte: nunca tivemos, nessa fase, um Ouvidor ou um Juiz de fora. Quando se pensou na
nomeação de um Juiz de fora para esta capitania, o Senado da Câmara fez ver ao Conselho
Ultramarino, em Lisboa, a inconveniência dessa Nomeação". (...)"Uma organização judiciária
autônoma somente conquistamos em 18 de março de 1818, quando, por força de alvará de
D. João VI, passamos a constituir uma comarca, com sede em Natal e independente da
Paraíba". Além dessas duas autoridades citadas, havia outras, que eram as seguintes: juiz
ordinário, almotacé (ou almotacel, inspetor encarregado da aplicação exata dos pesos e
medidas e da taxação dos gêneros alimentícios), juiz da vintena e, ainda, alcaides, escrivãs
dos almotacés etc.

O Pelourinho e Seus Significados

Falando sobre o Pelourinho, disse Câmara Cascudo: "Símbolo de sua autonomia e jurisdição
municipal, atesta a presença da justiça permanente e os direitos da população governar-se
por intermédio de seus eleitos". E mais adiante acrescenta o seguinte "O Pelourinho é a
imagem originária da Independência Municipalista, a liberdade administrativa dos conselhos,
a soberania democrática expressa na letra dos forais". Pelourinho é lembrado, por alguns,
como o lugar onde os criminosos eram punidos publicamente, sobretudo, os escravos. Era,
dessa maneira, a deformação do significado do Pelourinho. Câmara Cascudo explica o porquê
dessa mudança: "Depois é que com a predominância dos reis, usurpando pela força as
liberdades do município, o Pelourinho, encimado pela coroa Real, dizia ser uma testemunha
da onipotência arbitrária do monarca". O Pelourinho da cidade ficava na atual praça André
de Albuquerque, em frente ao Senado da Câmara e cadeia, informa Câmara Cascudo. Não se
sabe a data no qual o Pelourinho foi erigido. Em 1695 já se colocava editais ou bandos no
Pelourinho, costume que se tornou tradição até, possivelmente, em 1806.Nas comemorações
da Independência do Brasil, o Pelourinho foi derrubado porque, na opinião dos
manifestantes, certamente representava o símbolo da opressão imperial. Atualmente, depois
de mudar de lugar algumas vezes, o Pelourinho se encontra na sede do Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Norte.
História do Rio Grande do Norte

Movimentos Emancipatórios e a Independência do Brasil

Conjuntura da Época Gera Várias Rebeliões

A existência do "pacto colonial, que desde o descobrimento regulamentava as relações


"colônia-metrópole, vai ser responsável por uma série de rebeliões no período compreendido
entre 1680 e 1817. Estão incluídas as Revoluções de Beckmam (Maranhão/1684), Guerra dos
Emboabas (região da descoberta do ouro/1709), Guerra dos Mascate (Permanbuco/1710),
Revolta de Felipe dos Santos (Vila Rica/1720), Conjuração Mineira (Vila Rica 1789), Conjuração
Baiana (Bahia/1798) e finalmente Revolução Pernambucana (Nordeste/1817).Esses
movimentos representaram no seu conjunto, apesar das particularidades locais de cada um
deles, uma resposta à metrópole que, através do rígido sistema da exclusividade comercial,
sufocava economicamente a colônia. Para o Nordeste brasileiro, o mais significativo desses
movimentos foi a rebelião de 1817 que, tendo se iniciado em Pernambuco, estendeu-se por
quase toda região.

Revolução Pernambucana e o Rio Grande do Norte

Como as demais rebeliões da época, a de 1817 teve entre suas causas principais a rivalidade
entre portugueses e brasileiros. Afirma-se que os brasileiros nunca alcançavam postos
elevados nas milícias, que eram sempre comandadas por portugueses. Mas nesse contexto,
o quadro econômico não pode ser esquecido. Secas constantes, queda no mercado
internacional do preço do açúcar e do algodão levaram a uma recessão econômica de grande
significado. Os abusivos impostos, cobrados pela metrópole para manter a corte portuguesa
que ainda se encontrava no Brasil, completou o panorama do qual a revolução deflagraria.
Informado de que se tramava no Recife um movimento de caráter nativista, e também sobre
o nome dos envolvidos na conspiração, o então governador, capitão-general Caetano Pinto
de Miranda Montenegro, ordenou a prisão de todos os comprometidos. A prisão dos civis
foi efetuada quase sem reação. Porém, ao receber a ordem de prisão, o capitão José Barros
Lima. "O Leão Coroado", reagiu ferindo mortalmente o enviado ao governo que tentava detê-
lo. Iniciou-se, assim, o movimento que tratou de organizar um governo provisório, no qual
havia representantes de quase todos os segmentos da sociedade. Faziam parte do grupo;
Domingos José Martins, o representante do comércio; José Luís Mendonça, pela magistratura;
Domingos Teotônio Jorge, escolhido o comandante em armas pelos militares; o padre João
Ribeiro, pelo clero; Manuel Correia de Araújo, pelos agricultores, e como secretário do interior
foi nomeado o padre Miguelinho.
História do Rio Grande do Norte

Para conselheiros foram escolhidos o ouvidor (autoridade judiciária) Antônio Carlos Ribeiro
de Andrada; o dicionarista Antonio de Morais Silva, e o comerciante Gervásio Pires Ferreira.
Para autoridades eclesiástica, o deão Luís Ferreira.Uma nova "Lei orgânica" foi adotada pelo
governo, que vigoraria até a elaboração de uma Carta Constitucional. Dentre outras
providências, a nova lei determinava: forma republicana de governo; liberdade de imprensa
e religião; manutenção do direito de propriedade e da escravidão. A reação foi organizada
por D. Marcos de Noronha e Brito, que contou com o apoio de comerciantes portugueses do
Recife e de alguns rebeldes mais moderados que temiam o caráter socialista do movimento.
Recife foi bloqueada e, em maio de 1817, já estavam presos os revoltados, depois de violenta
repressão. O fim do movimento não apagou definitivamente a chama revolucionária no
Nordeste. Ela voltaria a aparecer em 1824, na "Confederação do Equador".

Adesão de André de Albuquerque Maranhão

A Capitania do Rio Grande do Norte, à época da revolução, era governada por José Inácio
Borges que, ao ser informado do movimento pernambucano, preparou-se para resistir.
Tratou de entrar em contato com o comandante de Divisão do Sul, André de Albuquerque
Maranhão, que se encontrava em Goianinha. Chegaram a conferenciar por cerca de duas
horas sobre a segurança da capitania frente aos acontecimentos de Pernambuco. No retorno
a Natal, o governador pernoitou no Engenho Belém, próximo à atual cidade de Nísia Floresta.
Ao amanhecer, José Inácio Borges viu que o engenho estava cercado pelas tropas sob o
comando do próprio André de Albuquerque, que aderira ao movimento. Preso, o agora ex-
governador José Inácio Borges foi enviado a Recife. André de Albuquerque Maranhão entra
solenemente em Natal com sua tropa no dia 28 de março, dando início ao governo
revolucionário, cuja sede seria o Edifício das Provedorias da Fazenda ou Real Erário, onde
atualmente funciona o memorial Câmara Cascudo. Da junta governamental faziam parte
Antônio Germano Cavalcanti de Albuquerque , capitão de infantaria; coronel de milícias
Antonio da Rocha Bezerra e o padre Feliciano José Dornelas, vigário de freguesia.

Considerações Sobre a Emancipação do Brasil

O quadro realmente impressiona. A tarde declinava, eram aproximadamente dezesseis horas.


Às margens de um pequeno rio, chamado do "Ipiranga", na província de São Paulo, D. Pedro
empunha a espada e gruta: "Independência ou morte!".O gesto do príncipe, para alguns
estudiosos, sintetiza todo o processo da emancipação política do Brasil. Marcaria o momento
em que D. Pedro decidiu lutar para livrar o Brasil da tutela portuguesa. Naquela data, no
História do Rio Grande do Norte

entanto, o Brasil já se encontrava independente. Existem dois documentos que comprovam


esse fato. O primeiro, tem a data de 4 de agosto de 1822. É um "Manifesto às Nações Amigas",
escrito por José Bonifácio e diz o seguinte: "proclama à face do universo a sua independência
política". Apesar dessa afirmação, o que se pretendia deixar claro perante os outros países é
que o Brasil não se deixaria recolonizar por Portugal. Por essa razão, o mesmo documento
afirma que "o Brasil continuava integrando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algaves". Era
um prenúncio do que estava para acontecer. A verdadeira Declaração da Independência do
Brasil pode ser considerada a circular dirigida às nações amigas, com a data de 14 de agosto
de 1822, que dizia, de maneira clara, o seguinte: "tendo o Brasil que se considera tão livre
como o Reino de Portugal, sacudido o jogo da sujeição e inferioridade com que o Reino
irmão o pretendia escravizar e PASSANDO A PROCLAMAR SOLENEMENTE A SUA
INDEPENDÊNCIA". A afirmação dispensa qualquer comentário. O país assumia, naquele
instante, sua autonomia política. Outra parte do texto diz o seguinte: "O Brasil não reconhece
mais o Congresso de Lisboa, nem as ordens do seu executivo". Ou seja, não reconhecendo o
poder executivo e, igualmente, o legislativo de Portugal, o Brasil se considerava, de fato e de
direito, uma nação independente!

Gesto Simbólico e Contexto Especial

O movimento da separação política no Brasil assume características próprias, principalmente


quando comparado às demais nações sul-americanas. Enquanto países como a Argentina,
Colômbia ou Bolívia celebram heróis populares, no Brasil é o representante da dinastia
reinante que, por circunstâncias especiais, vai participar do processo de emancipação. O Brasil
se torna, após a independência, um império monárquico, diferentemente de seus vizinhos
que se transformaram em repúblicas. Na história dessa separação, há ainda uma forte
tendência para valorizar os acontecimentos do dia 7 de setembro de 1822 como sendo os
mais significativos. Entretanto, uma moderna abordagem mostra que a independência do
Brasil foi um longo processo, elaborado desde os abusos do sistema colonial, que originou
rebeliões, e continuou com a chegada da Corte Portuguesa ao País, fortificando-se com a
resolução do Príncipe regente de permanecer em terras brasileiras. Sabe-se, hoje, que a
independência do Brasil resultou da disputa entre comerciantes portugueses, que vinham
perdendo os seus privilégios fiscais, e brasileiros, que pretendiam para si esses mesmos
privilégios. Nesse contexto, o 7 de setembro deve ser visto como um gesto simbólico.

Repercussões no Rio Grande do Norte

O Rio Grande do Norte, por Alvará Régio de 18 de março de 1818, se libertara legalmente da
dependência da Paraíba. Reassumindo o governo do Rio Grande do Norte, depois dos
acontecimentos de 1817, José Inácio Borges era considerado simpatizante da causa da
História do Rio Grande do Norte

independência. Foi nessa época que o conflito entre separatistas e recolonizadores começou
a ganhar vulto. É bem verdade que essas divergências eram mais dirigidas aos indivíduos do
que às duas ideologias.Com o afastamento de José Inácio Borges do governo, foi formada
uma Junta Constitucional Provisória, composta por sete membros, e eleita no dia 3 de
dezembro de 1821.A citada junta era presidida pelo coronel Joaquim José do Rego Barros,
ligado ao movimento de 1817, ainda sendo os demais membros da lista simpatizantes da
causa separatista. A junta teve que enfrentar todo tipo de dificuldades, inclusive a falta de
material para expediente e cadeiras. Os pedidos de ajuda eram sistematicamente negados,
sob a alegação de que a junta deveria ser composta por cinco membros e não por sete. Sem
outra alternativa, os dois menos votados foram afastados do governo. Um baixo-assinado
com cerca de 50 assinaturas, tendo à frente o capitão Joaquim Torquato Soares Raposo da
Câmara, solicitava a criação de uma nova junta, afirmando que a então governante era ilegal
e insustentável. A reação da junta não se fez esperar, determinou a prisão não só do primeiro
signatário da lista, mas também do ouvidor. Temendo mais agitação, o presidente da Câmara
convocou novas eleições. Foi escolhido um governo temporário, eleito e empossado no
mesmo dia. Finalmente no dia 18 de março, tomou posse a Junta de Governo Provisório, que
permaneceu no poder até 24 de janeiro de 1824. No dia de 2 de dezembro de 1822, chega
ao Rio Grande do Norte a notícia da separação política. A 22 de janeiro de 1823, a junta
promove , com grande pompa, as comemorações que o fato merecia. No entanto, a coroação
do primeiro imperador brasileiro, no dia 01 de dezembro de 1822, não foi comemorada,
permaneceu ignorada pela população local, que passou a integrar o império brasileiro.

Independência e agitações políticas: A Confederação do Equador

D. Pedro I dissolveu, em 1823, a Assembléia Constituinte, que tinha como objetivo elaborar a
primeira Constituição do nascente império brasileiro. A medida provocou descontentamento
em todo o País. Como disse Rocha Pompo, "em Pernambuco, onde eram vivas as tradições
de protesto contra o despotismo, assumiu atitudes de resistência formal pelas armas". O que
fez explodir o movimento em Pernambuco foi, sobretudo, uma questão interna. A junta que
governava, renunciou, sendo eleito um novo governo cujo chefe era Manuel de Carvalho Pais
de Andrade. Mas havia um governante nomeado pelo imperador: o morgado do cabo
Francisco Pais Barreto, futuro marquês do Recife. Houve, então, o impasse. Carvalho Pais de
Andrade não entregou o cargo ao seu sucessor indicado por D. Pedro I. Representante de
algumas municipalidades, reunidos em Recife, apoiaram Carvalho Pais de Andrade. A
guarnição de Recife ficou dividida: uma parte ficou com País de Andrade e a outra, com Pais
Barreto. A facção que defendia o morgado do cabo prendeu Manuel de Carvalho e se retirou
para o sul, com a finalidade de unir-se a um grupo de correligionários. Aproveitando o clima
de antagonismo entre os dois grupos, frei Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca, através
História do Rio Grande do Norte

das páginas do "Tifis Pernambucano", defendeu o separatismo. Uma divisão naval,


comandada por John Taylor, bloqueou Recife, impedindo um conflito armado. Mal Raylor
saiu, Manuel Pais de Andrade, no dia 2 de julho de 1824, lançou uma proclamação rompendo
com o governo imperial. O movimento marchava para a formação de uma nação
independente. São mantidos contatos com outras províncias: Piauí, Ceará, Paraíba, Alagoas e
Rio Grande do Norte. Era o Nordeste que se levantava contra o absolutismo de D. Pedro I e
alguns líderes iam mais adiante, desejando a proclamação de uma república! A bandeira
desenhada pelos rebeldes, que por sinal nunca foi utilizada em combate, trazia quatro
palavras que sintetizavam o pensamento dos: revoltosos religião, independência, união,
liberdade e confederação. A primeira se justifica pela presença dos sacerdotes frei Joaquim
do Amor Divino Rabelo e Caneca, padre João Batista da Fonseca etc. A segunda,
independência, dizia respeito ao governo imperial, portanto, brasileiro. O termo união se
referia aos estados nordestinos e nortistas, que deveriam estar juntos para vencer as tropas
imperiais. Mais do que nunca a coesão era necessária e, uma vez criada a confederação, a
liberdade seria estabelecida em seu território. A última palavra, confederação, significava que
seus membros manteriam autonomia! A Confederação do Equador, contudo, não deu certo.
As tropas imperiais dominaram o movimento. A 01 de dezembro de 1824, jurava-se a
Constituição outorgada de 1824. O levante estava totalmente vencido. E a ordem imperial
restabelecida em todo o Nordeste e Norte do Brasil.

O Entusiasmo de Frei Caneca Pelo Seridó

Para D. José Adelino Dantas, o frade carmelita Joaquim do Amor Divino Rabelo e Caneca era
"uma figura exponencial, no ardor, na combatividade, na eloqüência e na bravura". Frei
Caneca, como era mais conhecido, após a derrota do movimento que explodira em
Pernambuco, segue com um grupo rumo ao Norte, armados inclusive com peças de artilharia.
Seu roteiro até chegar ao Seridó foi o seguinte: Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Conta D. José Adelino Dantas: "nos sítios de Malacacheta e Pedra Lavrada, atingem o Seridó
pelo 'boqueirão da serrota' , o atual boqueirão de Parelhas (...) Calcando as brancas areia do
rio Seridó, os homens de Frei Caneca acamparam, à tardinha do dia 22, na fazenda das almas".
Frei Caneca, entusiasmado com o Seridó, escreveu que "a descida da Serra da Borborema,
ainda nesta estação, é lindíssima. Apresenta golpes de vista dos mais pitorescos, capazes de
encantar os olhos dos viajantes". Seguindo caminho pelo Seridó, os expedicionários, a partir
do sítio de S. João atingiram a Serra de Samanáu e, no dia 26 de outubro de 1824, ao meio
dia, entraram em Caicó. Foram recebidos pelo padre Francisco de Brito Guerra. O povo se
confraternizou com os forasteiros. D. Adelino Dantas, de maneira objetiva, descreveu os
últimos instantes que Frei Caneca passou em Caicó: "A milícia confederada demorou em
Caicó uma semana. Impunha-se descansar a tropa e consertar as peças (...). Sob o belo luar
de 2 de novembro de 1824, levantou acampamento e retorna a marcha, rumo ao Ceará".
História do Rio Grande do Norte

Sem Choque de Armas no RN

Manuel Teixeira Barbosa assumiu o governo no Rio Grande do Norte numa hora difícil.
Inquietação em todo o País. Conta Câmara Cascudo que "Pais de Andrade apoiava-se na
Tradição de 1817, esta polarizava simpatias por todo o Nordeste". "No Rio Grande do Norte,
os homens de 1817 eram queridos e admirados. Mas estavam divididos, uns para o lado do
imperador e outros para a aceitação de um governo popular". Pais de Andrade enviou
Januário Alexandrino para manter contatos na escuna "Maria Zeferina", em março de 1824.

Ele vinha oficialmente, como médico, para divulgar um tipo de vacina. Porém, sua missão real
era divulgar o movimento revolucionário pernambucano. Levava, inclusive, oficiais para o
Ceará e Pará. O clima hostil que havia entre os dois grupos, a favor ou contra o imperador,
crescia num prenúncio de violência. Teixeira Barbosa, inseguro, passou a dar expediente no
Quartel da Tropa de Linha, esperando, ansioso, pelo seu substituto. Tomás de Araújo que,
segundo se dizia, simpatizava com a causa pernambucana, retardava, ao máximo, assumir o
governo. Ambos tinham consciência da tempestade que se aproximava. Tomás de Araújo foi
nomeado presidente da província em 25 de novembro de 1823 e assumiu o governo em 5
de maio de 1824.Na Paraíba, o presidente Felipe Neri Ferreira encontrou uma série de
resistência ao seu nome, sendo Félix Antônio Ferreira de Albuquerque aclamado presidente.

Era o retrato da crise política que reinava no Nordeste. As facções em luta, na Paraíba e em
Pernambuco, procuravam o apoio do Rio Grande do Norte. Pais de Andrade enviou, inclusive,
correspondência para o governante potiguar. Tomás de Araújo agiu com cautela, preocupado
em evitar uma guerra civil em sua província, atitude que não foi compreendida por alguns
historiadores. Enviou, entretanto, uma delegação (padre Francisco da Costa Seixas, José
Joaquim Germiniano de Morais Navarro e José Joaquim Bezerra Carnaúba) que fez algumas
exigências ao vice-presidente da Paraíba, Alexandre de Seixas Machado: "intimar-lhe a eleição
de novos conselhos de governo, posse ao mais votado, anistia e volta aos seus empregos de
todos comprometidos, além das garantias naturais de segurança pessoal e propriedade",
sintetizou Câmara Cascudo. Alexandre de Seixas Machado, como resposta, mandou tropas
para as fronteiras que se limitavam com o Rio Grande do Norte. A delegação potiguar, depois
de visitar a Paraíba, foi para Pernambuco, sendo que José Joaquim Bezerra Caranúba foi
substituído por José Joaquim Fernando Barros. Essa delegação assinou, com o governo
Pernambuco, uma concordata,. Em 3 de agosto de 1824, pela qual as duas províncias se
uniram "numa liga fraternal ofensiva e defensiva", devendo entrar em vigor quando fosse
assinada pelos governantes das duas províncias. Tomás de Araújo, ao que parece, não assinou
o referido documento. Mais uma atitude do presidente entendida como dúbia... Pode ser
compreendida, contudo, como uma prova de que não apoiava o movimento. Tomás de
Araújo enviou tropas para a região sul, sob o comando de Miguel Ferreira Cabral que, pouco
depois, recebeu ordem para regressar. Havia a notícia de que uma força paraibana iria
combater os norte-rio-grandenses.
História do Rio Grande do Norte

A situação ficou muito confusa. Tomás de Araújo mandou o tenente José Domingues Bezerra
de Sá para observar o que estava acontecendo. Na volta, Bezerra de Sá informou que a tropa
de Cabral estava reforçada com voluntários, oriundos de S. José de Mipibu, que eram grandes
entusiastas da Confederação do Equador. Segundo Bezerra de Sá, o objetivo era "levantar a
bandeira republicana em Natal". Os expedicionários, vindo do sul, portanto, eram rebeldes,
adeptos da Confederação do Equador... Diante de um possível confronto, Vicente Ferreira
Nobre e Joaquim José da Costa são designados para defender a cidade do Natal. Câmara
Cascudo narrou os acontecimentos seguintes: "Ferreira Norte e Costa ocupam os arredores
da cidade e não permitem que o emissário do presidente leve carta sua ao alferes. Cabral na
tarde de 5 de setembro. O presidente foi em pessoa suplicar os dois que permitissem a
entrada da força de Cabral. Permitiram, depois de muito rogados, com a condição dos
voluntários acamparem fora da cidade". Uma situação crítica. Ferreira Nobre e Costa,
praticamente, assumem o poder ou, pelo menos, ignoram a autoridade de Tomás de Araújo.
Ao que parece, eles acreditavam que o presidente estava do lado dos rebeldes ou, no mínimo,
simpatizava com a causa da Confederação do Equador...Apesar dessa circunstância, o esforço
de Tomás de Araújo para evitar um conflito armado, nos arredores de Natal, foi imenso e
mesmo sem conseguir que suas determinações fossem aceitas pelos chefes militares,
conseguiu que o pior não acontecesse, como demonstrou Jayme da Nóbrega: "Tomás de
Araújo evitou o choque de armas, às portas de Natal, entre as tropas da guarnição, de 1 e 2
linhas, comandadas respectivamente pelo Capitão Vicente Ferreira Nobre e Sargento-mor
Joaquim José da Costa, de um lado, e uma força de 50 soldados da mesma guarnição que
fora enviada ao litoral sul e voltava engrossada com voluntários rebeldes de São José de
Mipibu (...) sob o comando do Alferes Miguel Ferreira Cabral, de outro lado"." Conseguiu
Tomás de Araújo em pessoa convencer os indisciplinados comandantes Nobre e Costa de
que pacificamente deveria passar pelo posto militar a tropa de Cabral e acampar fora o grupo
de moços voluntários revoltosos. Estes depois fugiram". Os historiadores viram em Tomás de
Araújo um velho fraco, que não estava à altura dos acontecimentos. A verdade, porém, é que
caso Tomás de Araújo tentasse se impor aos militares pela força, teria sido preso ou, então,
morto. E a consequência teria sido a guerra civil! Tomás de Araújo, para evitar o
derramamento de sangue, através de um gesto heróico, preferiu se sacrificar, suportando
humilhações para obter um bem maior: poupar o povo e a cidade das vicissitudes de um
conflito armado. Seu intento se realizou. Esse fato tem que ser reconhecido pela historiografia
potiguar. Tomás de Araújo, pedindo demissão, entregou o governo ao presidente da Câmara,
Lourenço José de Moraes Navarro, que dirigiu os destinos da província até 20 de janeiro de
1825. Navarro, por sua vez, passou o governo ao seu substituto legal, Manuel Teixeira
Barbosa. A conclusão à qual se pode chegar é que, na realidade, o Rio Grande do Norte foi
envolvido pelo movimento revolucionário pernambucano sem sofrer, contudo, maiores
conseqüências.
História do Rio Grande do Norte

Fontes:

Extraído de: História do Rio Grande do Norte 1. Disponível em:


https://zdocs.com.br/doc/historia-do-rio-grande-do-norte-xrpq5999kqp2. Acesso em
outubro de 2021.

História do Rio Grande do Norte - Um Resumo. Disponível em:


http://historiarn.blogspot.com/2012/09/historia-do-rio-grande-do-norte-um.html. Acesso
em outubro de 2021.

Materiais complementares:

TRINDADE, S. L. B. História do Rio Grande do Norte. Disponível em:


https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/1011. Acesso em outubro de 2021.
História do Estado do Rio Grande do Norte

HISTÓRIA DO RIO GRANDE DO NORTE

A Abolição da Escravatura e a Proclamação da República


História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
História do Estado do Rio Grande do Norte
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O Rio Grande do Norte durante a República

Administração Política

Inauguração do Sistema Oligárquico

Durante a Primeira República (1889/1930), a exemplo das demais unidades da Federação do


Rio Grande do Norte conheceu o sistema de oligarquias. Coube ao fundador do Partido
Republicano, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, inaugurar o sistema oligárquico no
Estado. A base econômica dessa primeira oligarquia, caracteriza como "personalista que
evoluiu, mais tarde, para uma oligarquia tribal", segundo Mariz (1980), foi o açúcar.

A marca registrada do governo de Pedro Velho foi manter sempre os interesses da sua
oligarquia, antecedendo aos do partido. Prova dessa tendência foi o empenho do nosso
primeiro oligarca em indicar o seu irmão Augusto Severo de Albuquerque Maranhão para
disputar a sua vaga, na Câmara Federal, aberta quando veio assumir o governo. Apesar da
História do Estado do Rio Grande do Norte

oposição de outros chefes políticos, Augusto Severo foi eleito a 2 de maio de 1892,
Entretanto, essa eleição não foi homologada, sendo posteriormente anulada em todo o País.
Finalmente, no novo pleito realizado a 23 de abril de 1883, onde mais uma vez Pedro Velho
impôs a candidatura do seu irmão, Augusto Severo de Albuquerque Maranhão foi eleito para
a Câmara Federal. Pedro Velho conseguiu ainda nomear seu outro irmão, Alberto Maranhão,
secretário da sua administração.

O substituto de Pedro Velho no governo foi o desembargador Joaquim Ferreira Chaves que,
mesmo não pertencendo à família Albuquerque Maranhão, era ligado por estreitos laços de
amizade aos membros da primeira oligarquia estadual.

Por volta de 1920, o eixo econômico do Estado se desloca do litoral (açúcar e sal) para o
interior (exportação de algodão e pecuária). É nesse contexto que aparece a segunda
oligarquia, liderada por José Augusto Bezerra de Medeiros, com bases políticas no Seridó,
onde predominava a atividade econômica de plantação e exportação do algodão. A segunda
oligarquia é interrompida no governo de Juvenal Lamartine, quando eclode a revolução de 3
de outubro de 1930, que modificou significativamente o panorama do País.

Indústria Incipiente e Sistema Financeiro

No Rio Grande do Norte, o setor industrial era insignificante. Mesmo no contexto regional,
ocupava o sétimo lugar. Em número de indústrias, estávamos apenas acima do Maranhão e
do Piauí. Os setores de alimentação e têxtil predominavam na incipiente atividade industrial.
Quanto ao setor financeiro, o primeiro estabelecimento bancário só apareceu no Rio Grande
do Norte no governo de Augusto Tavares de Lyra, em 1909. Era o Banco de Natal que,
futuramente, daria origem ao Bandern.

Quase todo o Nordeste já possuía agência do Banco do Brasil, mas o Rio Grande do Norte só
foi inaugurar a sua primeira agência no dia 14 de abril de 1917. No setor financeiro ainda
devem ser lembradas as iniciativas de Juvenal Lamartine, responsável pela criação de bancos
rurais e de caixas em algumas cidades do interior, como Acari, Caicó, Macau etc. Ulisses de
Góis e Jovino dos Anjos foram responsáveis pelo aparecimento de cooperativas, com o
objetivo de facilitar o crédito.

A Passagem da Coluna Prestes no Estado

Na República Velha, foram frequentes os protestos de militares e civis contra as fraudes


eleitorais, que a inexistência do voto secreto ensejava. Movimentos como "Os 18 do Forte de
Copacabana", no Rio de Janeiro, em 1922; a rebelião gaúcha de 1923, e a paulista, de 1924,
atestam a insatisfação do povo contra o processo eleitoral vigente. Foi no governo do
História do Estado do Rio Grande do Norte

presidente Artur Bernardes, que praticamente cumpriu o seu mandato sob "Estado de Sítio:,
com as garantias constitucionais suspensas, que se organizou a "Coluna Prestes".

O principal objetivo dos comandados de Luís Carlos Prestes e Miguel Costa era percorrer o
Brasil, levantando o povo contra o que consideravam "autoritarismo do presidente". Os
rebeldes entraram no Estado pela zona Oeste. Governava o Rio Grande do Norte o Dr. José
Augusto Bezerra de Medeiros (1924/1927), que procurou imediatamente se comunicar com
o presidente, recebendo a promessa de que seriam tomadas providências para melhorar a
segurança do Estado. Enquanto isso, o governo mobilizava civis e militares para fazer frente
aos revolucionários.

A 26 de janeiro de 1926, o primeiro contingente da polícia militar, sob o comando do tenente


João Machado, seguiu para a zona oeste. Algumas cidades do Seridó, temendo uma invasão
pelo sul do Estado, colocaram em alerta suas forças policiais. Os combates entre rebeldes e
as forças policiais do Rio Grande do Norte ocorreram quase totalmente na região oeste. Pela
cidade de Luiz Gomes, os integrantes da coluna Prestes seguiram para a Paraíba. Coube ao
governador Juvenal Lamartine recolher as armas que haviam sido distribuídas. A passagem
da Coluna Prestes é o último acontecimento significativo da República Velha no Rio Grande
do Norte.

Duas Administrações de Alberto Maranhão

Alberto Frederico de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, no dia 2 de outubro de


1872, filho de Amaro Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Pedroza de
Albuquerque Maranhão. Os seus estudos iniciais foram realizados, primeiro, em Macaíba e,
depois, em Natal. Mais tarde, foi para Recife, onde se formou em Direito pela Faculdade de
Ciências Jurídicas e Sociais de Pernambuco, no dia 8 de dezembro de 1892, com 20 anos.
Alberto Maranhão se casou com D. Inês Barreto. Teve seis filhos: Paula, Laura, Judite, Juvino,
Cleanto e Caio. Segundo Meira Pires, "sua educação esmerada, sua formação moral, sua
cultura, seu invulgar espírito (...) um largo pendor diplomático pois sabia solucionar, com
finura e habilidade exemplares, as mais difíceis questões".

Participou, com brilhantismo, do "Congresso Literário", que mantinha o jornal "A Tribuna".
Com outros companheiros, fundou o "Grêmio Polymathico". Dirigiu o jornal "A República",
onde, como afirma Meira Pires, "teve o ensejo de reafirmar o seu invencível valor de jornalista
e homem de letras escrevendo, sem assinar, crônicas, tópicos e editoriais". Exerceu a função
de promotor público em Macaíba. Ocupou o cargo de secretário de Estado na administração
de Pedro Velho.

A 14 de junho de 1899, foi eleito governador do Estado, dirigindo os destinos do Rio Grande
do Norte no período de 1900 a 1904.Durante sua administração, aprovou a lei nº 145, de 6
História do Estado do Rio Grande do Norte

de agosto de 1900, pela qual "é o governador autorizado a premiar livros de ciência e
literatura produzidos por filhos domicialiados no Rio Grande do Norte, ou naturais de outros
Estados quando neste tenham fixa e definitiva a sua residência". Essa lei promoveu o
desenvolvimento cultural do Estado, constituindo-se em fato inédito no País.

No dia 24 de março de 1904, o governador inaugurou o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto
Maranhão), com sua renda destinada para ajudar aos flagelados, vítimas da seca, que se
encontravam em Natal. Concluída sua administração, foi eleito deputado federal, e durante
o exercício de seu mandato fez parte da Comissão de Diplomacia. Em 1908 voltava a assumir
o governo do Estado, realizando uma profícua administração: fundou o Conservatório de
Música; o Hospital Juvino Barreto (hoje Onofre Lopes); o Derby Clube (para incentivar o
hipismo), e construiu a Casa de Detenção e o Asilo de Mendicidade. Implantou a luz elétrica
em Natal e, posteriormente, os bondes elétricos. Inaugurou a Escola Normal, em 3 de maio
de 1908. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, que atualmente tem o seu nome, dando-lhe as
feições atuais e que foi entregue ao público no dia 19 de julho de 1912.

Alberto Maranhão estendeu sua ação também ao interior, como mostrar Itamar de Souza:
"em São José de Mipibu, ele mandou as águas de uma fonte natural e permanente para o
abastecimento d’água daquela cidade. Em Macaíba, sua terra natal, construiu o cais de
atracação, melhorando assim o transporte fluvial entre aquela cidade e a capital do Estado.
Em Macau, mandou fazer um aterro, numa extensão de quatro quilômetros, ligando esta
cidade à estrada do sertão, à margem do rio Assu". "Para facilitar o deslocamento de pessoas
e produtos entre o sertão e as cidades portuárias, ele construiu três mil quilômetros de
estradas carroçáveis em direção às cidades de Canguaretama e Natal".

O segundo governo de Alberto Maranhão surpreendeu pelo dinamismo, sendo considerado,


por unanimidade, como a melhor administração durante a República Velha. Nem tudo,
porém, foi positivo na segunda administração do oligarca potiguar que procurou,
abertamente, imortalizar os membros de sua família. O município de Vila Flor teve o seu nome
mudado para "Pedro Velho". Além dessa homenagem, mandou fazer um busto do irmão que
foi colocado na "square Pedro Velho". Fazendo uma crítica ao ilustre político potiguar, disse
Itamar de Souza: "Este segundo governo de Alberto Maranhão teve três características
básicas: primeiro, procurou imortalizar os membros da oligarquia aponto seus nomes em
municípios, repartições públicas, monumentos e praças; segundo, monopolizou importantes
setores da economia estadual, favorecendo, assim, os amigos e correligionários, em
detrimento do erário público; e, terceiro, realizou uma grande e inovadora administração com
o dinheiro tomado emprestado no estrangeiro".

Alberto Maranhão, após deixar o governo, em 31 de dezembro de 1913, foi deputado federal,
representando o seu Estado nessa função, de 1927 até 1929.Abandonado a vida política, saiu
do Rio Grande do Norte e foi morar com a família em Parati, no Rio de Janeiro.Em 1918,
publicou dois trabalhos: "Na Câmara e na Imprensa" e "Quatro discursos históricos".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Faleceu no dia 01 de fevereiro de 1944, em Angra dos Reis, sendo sepultado no outro dia,
em Parati.

As Lutas sem Trégua de José da Penha

José da Penha Alves de Souza nasceu a 13 de maio de 1875, na cidade de Angicos. Foram
seus pais: José Félix Alves de Souza e Maria Inácia Alves de Souza. Em 1880, José da Penha
foi para Fortaleza, onde estudou no Colégio Militar. Depois, seguiu para o Rio de Janeiro,
onde, seguindo Aluízio Alves, fez toda a carreira militar; praça a 2 de agosto de 1890, alferes
a 3 de novembro de 1894, tenente a 8 de outubro de 1898 e capitão a 2 de agosto de 1911".
Desde jovem, participava de polêmicas, conseguindo se destacar mesmo quando seus
adversários eram do nível de um Medeiros e Albuquerque ou de um José Veríssimo.

Nasceu, ao que parece, para debater. Discutir. Liderar. "Seu ardente ideal republicano,
impregnado da proteção de Benjamim Constant, o gosto pelo estudo da História dos Povos,
a vivência jornalística conduzindo-o à análise dos fatos diários, principalmente os de
formação da República emergente, participação militar característica dos primórdios do novo
regime, o espírito polêmico, fariam inevitavelmente do jovem pensador-militar um líder
político", relata Aluízio Alves. Não sabia silenciar diante da injustiça.

Na análise de Câmara Cascudo, "o nome de José da Penha Alves de Souza evoca o movimento
da luta, o choque de idéias, a controvérsia agitação, sonoridade (...). Nasceu armado cavaleiro,
de couraça e elmo, com bandeiras e montante, jurando combater o bom combate. Toda a
sua vida e uma série de guerrilhas, de batalhas, de agonias, de sofrimentos, provocados,
resistidos com altivez, destemor e sobranceria invulgares". José da Penha assistiu, no dia 3 de
janeiro de 1904, atos de violência praticados por policiais na cidade de Fortaleza. Revoltado,
escreveu um artigo, no outro dia, demonstrando seu protesto. Militar, foi preso, sendo
submetido ao Conselho de Guerra. Foi absolvido. Sua esposa Altina Santos, não suportando
o sofrimento, suicidou-se com o revólver do marido.

José da Penha resolveu seguir para o Rio Grande do Norte para lutar contra a oligarquia
Maranhão, que dominava o Estado, como sintetiza Aluízio Alves: "de Pedro Velho o governo
foi para Ferreira Chaves, deste para Alberto Maranhão, irmão de Pedro Velho, indo em
seguida para o genro, Tavares de Lyra, Antonio de Souza preparou a volta de Alberto
Maranhão, que, por sua vez, fez retornar Ferreira Chaves, sucedido, num segundo mandato,
por Antonio de Souza, todos eles, nos intervalos, guindados à representação do Congresso
Nacional, e Tavares de Lyra e Ferreira Chaves a ministérios".

Foi para mudar essa situação que José da Penha investiu contra a liderança de Alberto
Maranhão. Procurou o apoio de um juiz de Caicó, José Augusto, que também combatia a
oligarquia Maranhão. Mas José Augusto também não era favorável ao candidato escolhido
História do Estado do Rio Grande do Norte

pela oposição, argumentado a João da Penha: "se o candidato da oposição fosse o senhor,
nestas circunstâncias, eu o apoiaria (...) O que se pretende é destrui-la para montar uma
oligarquia nacional, com o filho do presidente da República, que nem sequer conhece o Rio
Grande do Norte".

Estava certo o Dr. José Augusto. José da Penha, na realidade, combateu o que poderia ser
uma imposição de uma oligarquia Ferreira Chaves, contra uma imposição do próprio José da
Penha. E o que é pior, ele pretendia impor uma pessoa totalmente estranha ao Rio Grande
do Norte, o tenente Leônidas Hermes da Fonseca, que, por sinal, apresentava apenas uma
qualidade: era filho do presidente da República... O capitão José da Penha teria, sem dúvida,
muito mais chance de vitória caso ele próprio fosse o candidato. Mas é possível que o seu
pensamento fosse realmente o de derrotar a oligarquia Maranhão: "O meu coração tem a
dureza daquelas pedras. E com este rochedo de carne, hei de esmagar a oligarquia
dominante". José da Penha promovia, assim, a primeira campanha popular da história do Rio
Grande do Norte. Sendo também o primeiro a falar diretamente com o povo. Fazendo uma
campanha popular, conclamando a população para derrubar uma oligarquia que possuía
figuras ilustres, de grande valor, como Alberto Maranhão.

Aluízio relata: "a campanha incendiou os ânimos de todo o Estado. não foi um movimento
restrito à capital, sempre mais sensível a rebeliões populares. Não. As cidades do interior
recebiam José da Penha e seus caravaneiros com o povo nas ruas - homens, mulheres,
crianças -,aclamando-os, cantando o hino da campanha, desfraldando bandeiras". A
campanha se desenrolar num clima tenso, propício para que se cometesse violência. Com
ameaça de proibição de comícios da oposição. José da Penha empolgava com sua oratória
que, na opinião de Câmara Cascudo, "era calorosa e acre, irritada, vergostante, panfletária,
satírica:.

No dia 20 de julho de 1913, ocorreu um tiroteio que durou quarenta minutos. A casa em que
José da Penha estava hospedado foi cercada pelo Batalhão de Segurança, desde a véspera.
No tiroteio, D. Leontina, companheira de José da Penha, foi ferida. Os seus adeptos foram
presos e logo depois soltos.

A primeira campanha popular terminaria de maneira melancólica. José da Penha foi


abandonado pelo seu próprio candidato que, na realidade, jamais assumiu a candidatura...
Falando sobre o assunto, Aluízio Alves considera que "a repercussão na imprensa do Rio, as
versões espalhadas de que partira de José da Penha e de seus amigos, o tiroteio, o
incitamento à greve, dias antes, a fábrica de tecidos, fundada por Juvino Barreto, na Ribeira,
foram os últimos atos necessários para desvendar o mistério: a primeira campanha popular
do Rio Grande do Norte não tinha candidato".

Joaquim Ferreira Chaves partiu, então, sozinho para a eleição, que se realizou no dia 14 de
setembro de 1913.E, em 27 de setembro de 1913, José da Penha inicia a sua viagem de volta
História do Estado do Rio Grande do Norte

para o Ceará, via Recife. No Ceará, ele havia sido eleito deputado estadual. Pouco depois,
Franco Rabelo convocou José da Penha para combater os adeptos do padre Cícero. No dia 2
de fevereiro de 1914, partiu com duzentos homens para combater mais de mil guerreiros.
Armados e treinados pelo governo federal. Ao se despedir do povo de Fortaleza, vaticinou:
"Vou porque não posso faltar. É só voltarei vitorioso ou morto".

E foi o que aconteceu. Morreu combatendo. Suas tropas, contudo, venceram os jagunços, na
batalha de Miguel Calmon, no dia 22 de fevereiro de 1914.

Limite e Charqueada Criam problema

No século XVIII, o Ceará e o Rio Grande do Norte ainda não tinham seus limites demarcados.
Mossoró e Açu, quando fundaram as suas primeiras charqueadas, se tornaram rivais das
"oficinas" cearenses. Medidas são tomadas para acabar com as charqueadas do Rio Grande
do Norte, inclusive fechando os portos de Açu e de Mossoró. As carnes secas só poderiam
ser fabricadas no Ceará. Para fabricá-las, porém, era necessários o uso do sal produzido no
Rio Grande do Norte...A Câmara de Aracati sugere estender seus limites, penetrando em
território potiguar. O pedido foi indeferido, com a ressalva de que as vilas limítrofes deveriam
concordar com tal medida, caso contrário, a reivindicação seria levada para a decisão real.
Caso as vilas limítrofes nada obstassem, seria realizada a demarcação.

Aquirás (Ceará) e Açu (RN) protestaram. Contrariando o que ficou determinado, o ouvidor
substituto, Manoel Leocárdio Rademarker, mandou dar posse dos terrenos em litígio à vila
de Aracati, ignorando os protestos. Estava criado o problema. O território limítrofe continuou
sem ser demarcado. O Ceará, porém, não desistiu. Em 1894, volta ao assunto, impetrando
uma ação no Supremo Tribunal, alegando "conflito de jurisdição", que se transformou
posteriormente em "ação de limites".

A 13 de julho de 1901, a Assembléia Estadual do Ceará elevou Grossos à condição de Vila,


em uma área pertencente ao Rio Grande do Norte: Tibau. Grossos etc. Em seguira, o
presidente do Ceará, Pedro Augusto Borges, sancionou aquela resolução...

Rui Barbosa Defende o Rio Grande do Norte

O governador potiguar, Alberto Maranhão, protestou. Os norte-rio-grandenses que moravam


na área disputada, reagiram. Os dois governos (Ceará e Rio Grande do Norte) mandaram
tropas para o local. Prevaleceu, entretanto, o bom sendo e o conflito armado foi evitado...A
controvérsia foi levada para uma decisão através do arbitramento, sendo o resultado
favorável ao Ceará.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Pedro Velho convidou Rui Barbosa para defender a causa do Rio Grande do Norte. Narra
Nestor Lima: "Assumindo o patrocínio por parte do Rio Grande do Norte, ele formulou uma
memória exaustiva do assunto, encarando-o sob todos aspectos, chegando às conclusões
magistrais da obra em que se demonstrou, com a clarividência dos axiomas, a verdade em
favor do bom direito ao Rio Grande do Norte". Foi uma brilhante defesa. Como resultado, o
jurista Augusto Petrônio, através de três acórdãos (30/09/1908, 02/01/1915 e 17/07/1920)
deu ganho de causa ao Rio Grande do Norte, definitivamente.

Tavares de Lyra, uma "Relíquia Nacional"

Augusto Tavares de Lyra se entusiasmou, ficou totalmente empolgado com a defesa da causa
do Rio Grande do Norte, na questão de limites com o Ceará, na chamada 'Questão de
Grossos". Foi, na realidade, incansável. Publicou dois estudos, reunidos em volume, que
forneceram importantes subsídios para que Rui Barbosa elaborasse as suas "Razões Finais".
Augusto Tavares de Lyra nasceu no dia 25/12/1872, em Macaíba. Filho do coronel Feliciano
Pereira e de D. Maria Rosalina.

A respeito desse ilustre filho de Macaíba, Carlos Tavares de Lyra escreveu: "sóbrio no trajar,
de gestos cometidos, palavra fácil, de limite suave; argumentador seguro, de prodigiosa
memória, capaz de citar fatos e episódios com surpreendente precisão de pormenores,
impressionou, certamente, a todos que tiveram a fortuna de ouvi-lo; no Parlamento Nacional,
no plenário do Tribunal de Contas, na cátedra de professor, na tribuna ,de conferencista (...)
Homem raro, raríssimo, pelo saber, pelas virtudes, pela coerência, pela compostura moral,
social, política, de 85 anos lúcidos de vida dedicados à pátria, à cultura, à família (...). Viveu
uma grande e gloriosa vida; uma vida em linha reta, limpa e clara".

Augusto Tavares de Lyra fez o curso de Humanidades, em Recife. Em 1892, era bacharel em
Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Recife. Escolheu advogar em Natal,
onde exerceu mais duas profissões: a de jornalista, sendo redator político do jornal "A
República", e a de professor de História Geral e do Brasil, no Atheneu Norte-rio-grandense,
de 1892 a 1894. A partir dessa data, surgiu no cenário nacional, elegendo-se deputado
federal, cargo que exerceu até o ano de 1904.

Foi nesse período que ele se empolgou com a defesa do seu Estado, na questão de limites
contra o Ceará. Pesquisando, começou a se interessar pela História e Geografia do Brasil e do
Rio Grande do Norte. Em 1902 já tinha publicado "Questão de Limites entre os Estados do
Ceará e do Rio Grande do Norte". Dois anos mais tarde publicou "Apontamentos sobre a
questão de limites entre o Ceará e o Rio Grande do Norte".Em 1904, uma nova experiência:
governador do Estado, fazendo uma grande administração, concluída em 1906.
História do Estado do Rio Grande do Norte

O conselheiro Afonso Pena, impressionado pela inteligência do orador, resolveu convidá-lo


para ser o futuro ministro de Justiça e Interior. Tavares de Lyra aceitou o convite, exercendo
tal função com eficiência até 1909. Lançou, em 1907, "Algumas notas sobre a História do Rio
Grande do Norte". Após a morte do presidente Afonso Pena, Tavares de Lyra abandonou
momentaneamente a vida pública.

Em 1910 foi eleito senador da República, deixando a função em 1914 para assumir o
ministério da Viação e Obras Públicas, até 1918. Foi na presidência de Venceslau Brás que
exerceu por duas vezes, interinamente, a pasta da Fazenda. Nessa época, publicou "Domínio
Holandês no Brasil especialmente no Rio Grande do Norte" (1915). Alguns anos depois, em
1921, lançou "História do Rio Grande do Norte", sua obra mais importante.

No dia 26 de outubro de 1918 foi nomeado ministro do Tribunal de Contas, tomando posse
do cargo em novembro. Em 1940, se aposentou, justamente quando estava na presidência
daquele Tribunal. O decreto de 11 de janeiro de 1952, publicado no Diário Oficial, mandava
"inscrever o nome do ministro Augusto Tavares de Lyra no referido "Livro do Mérito", como
merecedor dessa alta distinção, conforme parecer da competente Comissão".

O presidente Getúlio Vargas considerou Augusto Tavares de Lyra como "uma relíquia
nacional", no discurso que pronunciou no salão de honra do Palácio do Catete, em cerimônia
realizada no dia 15 de agosto de 1953, que oficializou a inscrição do nome do eminente
potiguar no Livro do Mérito. Recebeu congratulações de expressivas instituições de todo o
País.

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro mandou cunhar medalha de ouro, alusiva aos 80
anos de vida do ministro Tavares de Lyra. Esse Instituto dedicou ao ilustre potiguar uma
edição especial de sua revista. O Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
seguiu o exemplo, dedicando o vol. LII de sua revista 1a memória do ministro Augusto
Tavares de Lyra, em 1959.Tavares de Lyra faleceu na capital federal no dia 21 de dezembro
de 1958.

Opções do Sertanejo Abandonado e Pobre

O sertão brasileiro, mais particularmente o interior do Nordeste, passava por uma crise social
sem precedentes durante o final do século XIX e o início do século XX. O sertanejo se sentia
abandonado pelas autoridades, isolado da civilização, e sofria com uma infra-estrutura que
beneficiava os grandes proprietários das fazendas, os "coronéis", que se tornaram os donos
do sertão. A vida girava em torno desses "coronéis". Eles protegiam e perseguiam, mandava
e desmandavam.

Na política, cometiam todo tipo de fraude para beneficiar seus candidatos. Em seus
territórios, dependendo da maior ou menor liderança, nada se fazia sem a sua determinação.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Os humildes, portanto, estavam sob o seu domínio. Os coronéis cometiam arbitrariedades e


suas vítimas não tinham a quem recorrer. "A situação dos pobres do campo no fim do século
XX, e mesmo em pleno século XX, não se diferenciava daquela de 1856. Era mais do que
natural, era legítimo, que esses homens sem terra, sem bens, garantias, buscassem uma
"saída" nos grupos de cangaceiros, beatos e conselheiros, sonhando a conquista de uma vida
melhor. E muitas vezes lutando por ela a seu modo, de armas nas mãos", comentou Rui Facó.
Coronéis, cangaceiros e fanáticos fazem parte de uma mesma realidade.

Os coronéis organizavam grupos armados para, através deles, exercerem o poder. Esses
homens armados antecederam o cangaço. No instante em que se libertaram do jugo dos
coronéis e passaram a fazer justiça pelas próprias mãos, se transformaram em cangaceiros.

Os cangaceiros foram imediatamente classificados de "bandidos", pelas autoridades e pela


elite sertaneja. Na realidade, eles estavam fora da lei, porque não se enquadravam dentro nas
regras vigentes na região: obediência total aos grandes proprietários. Alguns fazendeiros de
menor prestígio, para fugir dos desmandos dos "coronéis", faziam aliança com
cangaceiros...Os coronéis podem cometer todo tipo de violência, tomar terras, cometer
assassinatos, sem problemas, porque representavam a sociedade, uma comunidade
machista, a lei, o poder.

As oligarquias se auto-intitulavam defensores dos bons costumes, contrárias, portanto, à ação


dos "bandidos". O que elas defendiam, na realidade, eram seus bens, uma situação que lhes
dava somente privilégios. Por outro lado, os homens humildes do sertão, rudes, sem
instrução, ofendidos e humilhados, pensando em vingança, não podiam agir de outra
maneira, a não ser através da violência.

O cangaço foi, num certo sentido, um levante contra o absolutismo dos coronéis, e filho da
miséria que reinava numa estrutura latifundiária obsoleta e injusta. O pequeno agricultou, o
trabalhador do campo, sonhava com um mundo diferente, onde não houvesse seca, com rios
perenes e onde, sobretudo, ninguém passasse fome e houvesse o império da justiça... Era o
mundo que os "beatos" e místicos prometiam para seus adeptos. Os trabalhadores rurais
queriam dialogar com Deus, mas não sabiam como agir em busca do caminho que levasse,
todos eles, para o Paraíso. Faltavam, entretanto, sacerdotes.

Na ausência dos padres, homens simples, analfabetos ou não, impressionados com a


realidade em que viviam, apelavam para o sobrenatural, rezavam e chegavam a imaginar a si
próprios enviados de Deus, para livrar o povo do pecado e da miséria, através da oração e de
sacrifícios... Para eles somente assim os nordestinos poderiam atingir a felicidade eterna! Os
dois maiores místicos foram: padre Cícero Romão Batista e Antonio Conselheiro, ambos
cearenses! O primeiro exerceu uma grande influência em todo o Nordeste e ainda hoje
mantém adeptos no Rio Grande do Norte.

Diferente dos demais, o padre Cícero possuía uma grande cultura e era profundo conhecedor
História do Estado do Rio Grande do Norte

do sertão. Acontece que sua fama de "milagreiro" despertou uma reação negativa na própria
Igreja Católica. O padre Cícero é a própria síntese do sertão nordestino: não foi apenas um
fazedor de milagre. Foi muito mais. Com o passar do tempo, cresceu o seu poder, exercendo
grande influência política. Passou a ser um "coronel". Conviveu com cangaceiros.

Teve, inclusive, um encontro com Lampião, dando-lhe a patente de capitão. O que muitos
não podiam compreender era a sua opção pelos pobres, provocando um conflito com a ala
conservadora da Igreja. Sobre ele, ponderou Neri Feitosa: "Propôs-se a si mesmo ou recebeu
de Deus a missão de levantar o ânimo do nordestino humilhado e sofredor, injustificado em
seus direitos, embaraçados na saída do túnel de suas desditas" .Como chefe político, sofreu
também oposição daqueles que seguiram orientação contrária à sua maneira de agir.

O Nordeste, naquela época, era uma região onde predominava a miséria, ignorância e a
violência. Diante desse quadro, é compreensível que o homem rude, não fazendo parte dos
protegidos dos coronéis, optasse pelo cangaço para fugir da prepotência dos policiais ou
procurasse seguir os beatos, para se redimir de seus pecados e conseguir, através da oração
e do sacrifício, atingir a felicidade eterna.

Os cronistas urbanos, quase sempre combatiam a ação dos assaltantes, enquanto os


cantadores, geralmente exaltavam os cangaceiros e também os místicos.

Era Vargas no Rio Grande do Norte

Elogios e Críticas à Era Vargas

Certos depoimentos daqueles que participaram, direta ou indiretamente, dos episódios que
marcaram a Revolução de 1930 no Brasil são marcados pela emoção, pelo grau de simpatia
ou de rejeição. Sobretudo à figura do seu principal líder, Getúlio Vargas. Algumas críticas, por
outro lado, estão marcadas por um forte conteúdo ideológico.

Os elogios e as críticas confirmaram que a Revolução de 1930 se constituiu num marco da


historiografia brasileira. Quando o vendaval de paixões passar - o que parece que já está
ocorrendo -, será possível ter uma ideia mais clara do conjunto de suas realizações, sua
contribuição maior ou menor para o engrandecimento do País.

Enquanto isso, algumas conclusões, a priori, são definitivas. Como a de Boris Fausto de que
"a Revolução de 1930 põe fim à hegemonia da burguesia do café, desenlace inscrito na
própria forma de inserção do Brasil no sistema capitalista (...). No ataque ao predomínio da
burguesia cafeeira, revelando traços específicos, que não podem ser reduzidos simplesmente
ao protesto das classes médias (...) Vitoriosa a revolução, abre-se uma espécie de vazio do
poder, por foça do colapso político da burguesia do café e da incapacidade das demais
História do Estado do Rio Grande do Norte

frações de classe para assumi-lo, em caráter exclusivo.

O Estado de compromisso é a resposta para esta situação. Na descontinuidade de outubro


de 1930, o Brasil começa a trilhar enfim o caminho da maioridade política. Paradoxalmente,
na mesma época em que tanto se insistia nos caminhos originais autenticamente brasileiros
para a solução dos problemas nacionais, iniciava-se o processo de efetiva constituição sobre
a nacionalização do trabalho; salário mínimo; sindicalização", disse Cruz Costa.

Houve, naturalmente, algumas distorções na polícia trabalhista. Mas não se pode negar, por
causa disso, o grande valor da legislação trabalhista, considerada, como todos sabem, "uma
das mais avançadas do mundo". Afirmou ainda Cruz Costa que "a legislação trabalhista de
Vargas antecipou-se no tempo aos conflitos que iriam dar aos operários a consciência política
de seu papel numa sociedade em processo de industrialização".

Vargas pode não ter sido o criador do Estado brasileiro, porém, usou um regime de exceção
para consolidar o Estado Nacional brasileiro. Antes de 37, cada Estado praticamente se
constituía numa unidade autônoma, com um governo federal muito frágil. São Paulo, por
exemplo, tinha sua Força Pública (polícia) um verdadeiro exército que contou, inclusive, "com
uma missão instrutora composta de oficiais franceses", informa Cruz Costa.

O lado negra "Era Vargas" foi, sem dúvida, o caráter fascista de sua administração durante o
período em que agiu como ditador.

Os Tenentes de Juarez Távora no NE

A propagação do ideário de 1930 chegou ao Nordeste quando o coronel Maurício Cardoso


foi nomeado para comandar o 22º BC, sediado na então cidade da Paraíba, capital do Estado
do mesmo nome. Como ele vieram três oficiais: Jurandir Mamede, Agildo Barata Ribeiro e
Juraci Magaljães. Esses homens eram conhecidos como sendo os "tenentes" de Juarez.

Não é possível uma apreciação do movimento de 1930 no Nordeste sem uma referência a
Juarez Távora. Na época, ele estava detido na Fortaleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, por
determinação da polícia de Washington Luís. Conseguindo, mesmo prisioneiro, entrar em
contato com Luís Carlos Prestes, chefe do Partido Comunista, foi incentivado a fugir para
comandar o movimento no Nordeste. Távora fugiu, conseguindo chegar até a Paraíba. A sua
fuga foi considerada quase impossível de se realizar, na ocasião.

A Paraíba que depois tornou-se a cidade de João Pessoa, e a capital pernambucana, Recife,
se tornaram os centros de divulgação no Nordeste. A primeira, por concentrar um grande
contingente militar, e Recife, pela sua importância política e econômica na região
nordestina,A data escolhida para o início da revolução foi 3 de outubro.
História do Estado do Rio Grande do Norte

A hora estabelecida seria 17h30.Contam Antonio Augusto Faria e Edgard Luiz de Barros que
"em Pernambuco, Juarez Távora se atrasou um dia para atacar Recife; mas a população tomou
prédios e depósitos de armas, facilitando a ação dos rebeldes, que logo tomaram também a
Paraíba. Enviando tropas para dominar a Bahia, sob o comando de Juraci Magalhães, e o Pará,
com Landy Salles, Juartez e os "tenentes" em poucos dias controlavam todo o Norte e o
Nordeste".

Aliança Liberal e Dias de Pânico em Natal

Juvenal Lamartine governa o Rio Grande do Norte. Além de uma extrema dependência em
relação ao poder central, o seu governo se caracterizou pela intolerância política para com
os seus adversários. Nesse contexto, João Café Filho fazia oposição. Perseguido, fugiu para a
Paraíba. E se integrou ao movimento promovido pela "Aliança Liberal", que defendia a
candidatura de Getúlio Vargas para presidente da República e João Pessoa para vice.

Os candidatos da oposição ao governo Washington Luís, Getúlio e João Pessoa, foram


derrotados no Rio Grande do Norte. Afirmam os historiadores que a derrota foi causada pelo
apoio dado por Juvenal Lamartine ao paulista Júlio Prestes.

Os adeptos da "Aliança Liberal" no Rio Grande do Norte formavam, na realidade, um pequeno


grupo que recebeu o apoio do coronel Dinarte Mariz no Seridó. Juvenal Lamartine, ao tomar
conhecimento do início da revolução, abandonou o Estado, na noite de 5 de outubro de
1930.O maior Luiz Tavares Guerreiro, à frente do 29º BC, partiu da Paraíba e chegou a Natal
no dia 6, sem encontrar qualquer tipo de resistência. Natal viveu dias de pânico, assim
descritos por Tarcísio Medeiros: "tropas de desocupados, aventureiros, que atemorizaram as
famílias natalenses, obrigando os incautos, nos comícios das praças, ajoelhar quando era
cantado o hino a João Pessoa: "João Pessoa, João Pessoa, bravo filho do sertão. Toda a pátria
espera um dia a sua ressurreição... ' Ai daquele que não obedecesse!".

Para governar o Rio Grande do Norte foi formado um triunvirato composto por Luiz Tavares
Guerreiro, capitão Abelardo Torres da Silva e o tenente Júlio Perouse Pontes.A junta procurou
manter a ordem durante o período que governou, de 6 a 12 de outubro de 1930. Após essa
data, o Estado passou a ser governado pelos dois civis (o primeiro e o último) e três
militares.O Rio Grande do Norte voltaria a ser governado por interventores após a decretação
do Estado Novo, em 1937.4-Os Interventores no Rio Grande do Norte

Com a nomeação dos interventores, começou a fase institucional da Revolução de 30 no Rio


Grande do Norte.Marlene Mariz define o sistema instaurado da seguinte maneira: "Os
interventores eram o próprio instrumento de controle do poder central em cada Estado.
Representam o empenho deliberado de alterar as relações Estado/União, transformação esta
desejada pelos tenentes e, especificamente, por todos os revolucionários nortistas".
História do Estado do Rio Grande do Norte

O Rio Grande do Norte contou com cerca de cinco interventores: Irine Jofily (apoiado por
Café Filho), Aluísio de Andrade Moura, Hercolino Cascardo, Bertino Dutra da Silva e,
finalmente Mário Leopoldo Câmara. Irineu Jofily encontrou dificuldades para implantar os
ideais revolucionários no Estado porque os oligarcas estavam ainda muito fortes.

O sistema oligárquico não permitia que medidas contrárias aos seus interesses fossem
implantadas. Por essa razão, Jofily pediu demissão. Aluísio Moura iniciou a fase de
administradores militares .Juarez Távora, que comandava a Delegacia do Norte, designou
dois militares para "assessorar" o novo interventor: os tenentes Ernesto Geisel, para a
Secretaria Geral e diretor do Departamento de Segurança Pública, e Paulo Cordeiro de Melo,
para o Comando do Regimento Policial. Existe apenas uma explicação para justificar essas
duas nomeações: falta de confiança de Juarez Távora em Aluísio Moura.

Com o objetivo de afastar Café Filho e seus adeptos da administração, os cafeístas foram
acusados, pelo interventor, de comunistas que conspiravam contra o governo. Como
resultado, todos foram presos. Pedro Dias Guimarães, que exercia a função de prefeito de
Natal, e ainda Edgar Siqueira, José Anselmo e Sandoval Wanderley.

Depois, o interventor, alegando que tudo que se dizia dos cafeístas era falso, mandou libertar
a todos...Cresceu o descontentamento dos setores ligados à Revolução de 30, por causa do
apoio dado ao grupo que se encontrava no poder antes de 1930, por essa razão, Aluísio
Moura foi substituído por outro militar: o comandante Hercolino Cascardo.

O Rio Grande do Norte se encontrava nessa época, numa situação difícil. Cascardo, contudo,
procurou desenvolver o Estado, atuando sobre os produtos que sustentavam sua economia:
cultura do algodão e indústria salineira. Outro aspecto importante é que ele procurou
governar sem se envolver nos conflitos locais, escolhendo seus auxiliares entre os mais
capazes. Sentindo-se desprestigiado perante o governo provisório, pediu exoneração do
cargo, apesar do apoio de Café Filho e de seus correligionários. O novo interventor, Bertino
Dutra da Silva, encontra o Rio Grande do Norte numa situação muito dedicada.

As forças políticas tradicionais continuavam sendo um obstáculo para que os ideais


revolucionários se instalassem no Estado. Em 1932 explodiu a Revolução Constitucional,
liderada por São Paulo e que, segundo alguns, possuía um caráter separatista. Foi fundada
no Rio Grande do Norte a "União Democrática Norte-rio-grandense", comandada pelo
monsenhor João da Matha e por Gentil Ferreira de Souza, apoiando o movimento a favor da
constitucionalização do País.

Como afirma Marlene Mariz, "os coronéis potiguares chegaram até enviar seus capangas para
lutar ao lado dos paulistas contra o governo provisório e o regime de exceção". As forças
conservadoras não ficaram apenas nesta ação. Visando a eleição da Constituinte Nacional de
1933, fundaram o "Partido Popular", chefiado por Dr. José Augusto Bezerra de Medeiros, líder
seridoense.
História do Estado do Rio Grande do Norte

O interventor Bertino Dutra reagiu e fundou o 'Partido Social Nacionalista do Rio Grande do
Norte". A campanha se desenvolveu num clima de agitação, com atitudes que caracterizavam
um grande radicalismo. A 3 de maio de 1933, realizou-se a eleição para a Constituinte
Nacional, com a vitória da oposição que conseguiu eleger três candidatos: Alberto Roseli,
Francisco Martins Veras e José Ferreira de Souza, Kerginaldo Cavalcanti de Albuquerque foi
o único eleito pela situação.Café Filho, o homem forte do governo, era o alvo preferido da
oposição, sendo inclusive baleado pelo capitão do exército Everardo Vasconcelos após uma
discussão entre os dois.Derrotado, Bertino Dutra passou o cargo ao seu substituto legal,
tenente Sérgio Marinho.

O novo interventor, Mário Leopoldo da Câmara, foi designado para executar a missão de
pacificar o Rio Grande do Norte, formando uma aliança com o Partido Popular, o mais forte
do Estado. Entretanto, apesar de sua eficiência como administrador, Mário Câmara permitiu
que crescesse o clima de agitação e de violência. João Medeiros Filho, no programa "Memória
Viva", da TV Universitária, traçou o seu perfil: "Mário Câmara era um administrador honesto.
Depois, foi envolvido pelos políticos profissionais, fincando alucinado pelo poder. Daí a
violência que caracterizou o final do seu governo".

Em vez de se unir às forças tradicionais, terminou fazendo uma aliança com Café Filho, com
o fim de derrubar o Partido Popular. O Rio Grande do Norte viveu, então, um clima de
agitação nunca antes experimentado em sua história, incluindo assassinatos, espancamentos
etc.

Em síntese, como administrador, Mário Câmara fez várias obras (construir 43 prédios
escolares, abriu estradas etc.), porém "com esse homem caiu sobre a terra potiguar a
maldição terrível da desunião política, que fez desencadear a mais torpe campanha eleitoral
de 1934", afirma Tarcísio Medeiros.

Como uma consequência desse clima de agitação, se pode apontar a intentona comunista
de 1935.Ao se fazer um balanço sobre a Revolução de 30 no Rio Grande do Norte, cujas
diretrizes deveriam ser executadas pelos interventores, fica muito claro que as oligarquias,
com o seu sistema político consolidado, evitaram que mudanças maiores de operassem no
Estado, gerando um confronto num clima de agitação e violência entre os partidários da
Revolução de 30 e os oligarcas.

João Café Filho se destacou na luta para destruir as velhas estruturas, mas não reunia força
suficiente para conseguir realizar os seus propósitos. Por outro lado, os conservadores
possuíam grandes líderes, alguns detentores de vasto saber, como, por exemplo, José
Augusto de Medeiros, o grande arquiteto da resistência das forças tradicionais.

A massa popular queria mudança, porém, iletrada, não sabia que rumo tomar, praticando, às
vezes, atos de violência como sinal de protesto. Segundo Marlene Mariz, "a Revolução trouxe
efeitos para o Rio Grande do Norte no tocante a mudanças no comportamento do
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operariado, com sindicatos organizados e amparados pelas leis trabalhistras, que vão marcar
o início do populismo", graças à atuação de Café Filho.

João Café Filho: Do Sindicato ao Catete

João Café Filho foi o grande líder da Revolução de 30 no Rio Grande do Norte. Nasceu no dia
3 de fevereiro de 1899, na rua do Triunfo, Ribeira, em Natal. Filho de João Fernandes Campos
Café e de Florência Amélia Campos Café.

Os seus estudos iniciais foram realizados nas escolas de Amália Benevides, Edilbertina Ataíde
e Áurea Magalhães, para um pouco mais tarde ingressar sucessivamente nos seguintes
estabelecimentos de ensino: Colégio Americano, Grupo Escolar Augusto Severo, Escola
Normal e Atheneu Norte-Rio-Grandense.

Mesmo sem concluir curso superior, exerceu a advocacia como provisionado, tendo feito
exames no Tribunal de Justiça em Natal.Na juventude, foi atleta de poucos recursos,
conseguindo, entretanto, jogar na posição de goleiro no Alecrim Futebol Clube, uma das
agremiações esportivas mais tradicionais do Estado. Mas teve uma importante atuação como
integrante da diretoria do próprio Alecrim, e igualmente do Centro Esportivo Natalense.

Muito cedo, com apenas quinze anos, começou a sua vida de jornalista, quando publicou "O
Bonde" e "A Gazeta", ambos manuscritos. Depois fundou e dirigiu o "Jornal de Natal". Nesse
jornal, começou a abordar a questão social do Estado. Adulto, Café se casou com D. Jandira
Carvalho de Oliveira Café.

Em 1923, liderou as primeiras graves que ocorreram no Rio Grande do Norte. Por essa razão,
a polícia cercou o quarteirão onde sua casa se localizava e o jornal que dirigia. Conseguiu
fugir. Depois, partiu para Recife e, logo em seguida para Bezerros, onde foi nomeado
secretário da prefeitura. Fundou o jornal "Correio de Bezerros" e o Clube Social e Esportivo
Palameira. Voltando para Recife, em 1925, dirigiu mais um jornal, "A Noite", quando
entrevistou Antonio Silvino na Penitenciária de Recife. Ainda na capital pernambucana,
redigiu um documento "concitando os subalternos do Exército a desobedecerem as ordens
recebidas" e participar da Coluna Prestes.

Como conseqüência, foi processado e condenado pelo Supremo Tribunal Federal. Fugiu para
Itabuna, na Bahia. Após um certo tempo, regressou a Natal, onde foi preso. Em 1928, foi eleito
vereador. Uma façanha, porque, naquela época, era difícil alguém da oposição vencer. O
"sistema eleitoral" vigente pode ser ilustrado com um exemplo, contado pelo próprio Café
Filho: "A oposição elegeu a maioria da Câmara Municipal. O Governo do Estado, em represália
pela derrota sofrida, mandou queimar as atas eleitorais.

O atentado foi executado pelo chefe político local, seguindo as instruções dos chefes das
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oligarquias.

Destruídas as atas, o situacionismo procedeu a "eleição" dos seus próprios vereadores, a bico
de pena"...A oligarquia não deixava Café Filho em paz. Sendo mais uma vez perseguido, fugiu
novamente para Recife e viajou para o Rio de Janeiro, onde se integrou à campanha política
a favor da Aliança Liberal. Depois foi enviado para a Paraíba com o objetivo de divulgar o
movimento. Recebido por João Pessoa, voltou a atuar como jornalista, reeditando o "Jornal
da Noite". Atuante, percorreu toda a Paraíba fazendo campanha pela Aliança Liberal.

No dia 2 de outubro de 1930, entrou no Rio Grande do Norte em plena efervescência


revolucionária. As tropas paraibanas invadiram o Rio Grande do Norte sem encontrar
resistência. Nas negociações para compor o governo, se pretendia eleger o desembargador
Silvino Bezerra Neto, irmão de José Augusto, líder das oligarquias e, portanto, adversário das
idéias revolucionárias... João Café Filho, sempre vigilante, impediu que tal designação fosse
feita. E o governo provisório foi entregue a uma Junta Militar.

O povo, insatisfeito, pedia medidas radicais. Para acalmar a população, sobretudo a natalense,
Café Filho foi designado chefe de Polícia. Mais tarde, afastado do cargo, voltou a assumir a
Chefia da Polícia durante a administração do interventor federal comandante Bertino Dutra.
Foi nessa segunda gestão que Café Filho criou a Guarda Civil e a Guarda Nortuna.

Em 1933 e anos seguintes exerceu as funções de Inspetor do Trabalho, no Rio de Janeiro. Foi
eleito deputado federal em 1935, porém, não concluiu seu mandato por causa da decretação
do Estado Novo em 1937. Perseguido por fazer oposição ao governo Vargas, conseguiu asilo
na Argentina.Em 1945, de volta ao Brasil, fundou o Partido Social Progressista no Rio Grande
do Norte. A conselho de Adhemar de Barros, registrou o partido com o nome de Partido
Republicano Progressista. Justificativa de Adhemar: "poderia atrair, pela identidade fonética,
os antigos partidários e eleitores do Partido Republicano Paulista, os 'perrepistas' de antes
de 1930". Como não conseguiu os objetivos desejados, posteriormente o partido voltou a ser
chamado pela denominação original.João Café Filho foi eleito novamente deputado federal
em 1945.

Essa foi a sua fase mais dinâmica, segundo ele próprio: "Exerci, em minha atividade
parlamentar, no Palácio Tiradentes, o período de maior vitalidade e energia de minha vida".
Um feito de Café Filho: com um discurso apenas provocou a exoneração de Correia e Castro,
ministro da Fazenda do governo Dutra. Em 1950 Café Filho se elegeu vice-presidente da
República, juntamente com Getúlio Vargas, que assimiu a presidência da República,
juntamente com Getúlio Vargas, que assumiu a presidência do País.

Após o suicídio de Getúlio Vargas, a 24 de agosto de 1954, passou a exercer a função de


presidente do Brasil. De acordo com suas palavras, foi "o único momento que me tocou
verdadeiramente, que me confortou, que foi pleno e sem contrastes em esplendor e
confiança".
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Porém, não chegou a concluir o seu mandato, inicialmente por causa de uma crise
cardiovascular, e depois foi 'impedido', afastado da presidência. Falava-se em "golpe" e em
"contra-golpe".

Nereu Ramos, então, assumiu o governo. A complicação não se resumia ao afastamento de


Café Filho. Havia outro impasse. Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito presidente através do
voto popular, estava ameaçado de não tomar posse...Fora do poder, João Café Filho foi
nomeado ministro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Posteriormente, escreveu suas
memórias sob o título "Do Sindicato ao Catete", em dois volumes. Faleceu no dia 11 de
fevereiro de 1970 no Rio de Janeiro.

O Rio Grande do Norte prestou uma homenagem ao único norte-rio-grandense que chegou
a ser presidente da República, inaugurando a Casa Café Augusto, e onde se encontra
atualmente um grande acervo sobre o ilustre jornalista e político potiguar.

Um Contexto de Agudos Conflitos Sociais

A Intentona Comunista de 1935 não foi um episódio isolado que ocorreu apenas no Rio
Grande do Norte. Ela surgiu dentro de um contexto internacional e, ao mesmo tempo,
brasileiro. Na "História do Povo Brasileiro" se encontra a descrição do cenário no qual a
Intentona se realizou: "Naquela época de agudos conflitos sociais, a democracia clássica se
imobiliza, enleada em impedimentos formais, enquanto os ditadores de esquerda e de direita,
vencidos os empecilhos internos preparavam-se para o inevitável confronto mundial (...) O
Brasil tornou-se, assim, o grande centro de competições entre os idealistas totalitários, na
América Latina, no interregno liberal de 1934 a 1937.

A Constituição de 1934, que havia escolhido Getúlio Vargas para presidente da República por
via indireta, ensejou a formação de partidos políticos. Entre as organizações partidárias
nascidas na ocasião estava a "Aliança Nacional Libertadora", de orientação comunista, cujo
presidente de honra era Luís Carlos prestes, filiado ao PC (Partido Comunista) desde 1928. A
"Aliança Nacional Libertadora' encarregou-se organizar greves e manifestações públicas
onde pediam o cancelamento da dívida imperialista, nacionalização de empresas estrangeiras
e o fim do latifúndio, entre outras reivindicações. Objetivam também: impor o vasto programa
da ANL (Aliança Nacional Libertadora); a queda do governo Vargas; o fim do fascismo; a
defesa da pequena propriedade; jornada de oito horas de trabalho; aposentadoria, e defesa
do salário mínimo.

Foi a ANL que inspirou o movimento comunista que eclodiu em novembro de 1935 na cidade
de Natal e que ficou conhecido como sendo a Intentona Comunista.
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O fato é que, como disse Tarcísio Medeiros, "foi nesse ambiente que o interregno liberal, de
1934 a 1937, foi dominando o Brasil, no qual as correntes democráticas perdiam o controle
das massas e das ruas, envolvidas nas competições pessoais e nas tricas de campanário".

Ação Armada e o Domínio de Natal

As raízes do movimento comunista de 1935 no Rio Grande do Norte possuíram, sem dúvida
alguma, causas locais e que podem ser apontadas como resquícios da campanha eleitoral de
1934, quando predominou um clima de violência.

Mário Leopoldo Pereira da Câmara, apesar do mérito de algumas realizações efetuadas


durante sua administração, foi responsável pela implantação de um clima favorável ao
aparecimento de movimentos armados. O substituto de Mário Câmara, Rafael Fernandes
Gurjão, continuou perseguindo seus adversários políticos, a exemplo de seu antecessor.

Rafael Gurjão contribuiu com o aumento do número dos descontentes, engrossando o grupo
dos revoltosos. Chegou, inclusive, a extinguir a Guarda Civil, um órgão completamente
descomprometido com a política, só porque havia sido criada por Café Filho, inimigo político
do novo governante... Dentro desse contexto, as divergências arrastaram para o movimento
pessoas que desconheciam a ideologia comunista, mas viam na ação armada uma maneira
de derrubar o governo...A Intentona Comunista foi iniciada na noite de 23 de novembro de
1935, ocasião em que no Teatro Carlos Gomes - hoje Alberto Maranhão - estava acontecendo
uma solenidade de colação de grau do Colégio Marista. O governador Rafael Fernandes
Gurjão e o secretário geral do Estado, Aldo Fernandes, abrigaram-se na residência de Xavier
Miranda, nas proximidades do teatro, e depois foram para o Consulado da Itália, sob os
cuidados do cônsul Guilherme Letieri.

O prefeito Gentil Ferreira, também presente à solenidade, foi para o Consulado do Chile, sob
a proteção do cônsul Carlos Lamas. Coube ao maior Luís Júlio, da Polícia Militar e ao coronel
Pinto Soares, do 21º BC, a organização da resistência. Os combates estenderam-se por várias
horas, até acabar a munição, quando as forças legais se renderam. As comunicações
telefônicas foram cortadas, resistindo apenas a estação telegráfica de Macaíba, através da
qual os legalistas pediram socorro à capital federal.

Durante os combates, o quartel da polícia militar resistiu, lutando contra um inimigo "muitas
vezes superior em número", relata João Medeiros Filho. A resistência durou várias horas,
terminando quando os policiais gastaram a última bala. Os legalistas fugiram pelo Rio
Potengi.

Os rebeldes dominaram Natal e, no dia 25 de novembro de 1935, organizaram um Comitê


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popular Revolucionário, composto por Lauro Cortês, ex-diretor da Casa de Detenção, como
ministro de Abastecimento e Quintino de Barros, 3º sargento, músico do 21º BC, como
ministro da Defesa. O comitê se instalou na Vila Cinanto, até então residência oficial do
governador.

Durante a vigência do governo revolucionário, a população da Cidade do Natal atravessou


momento de grandes dificuldades, principalmente para a aquisição de gêneros alimentícios,
uma vez que os rebeldes saquearam muitos armazéns e lojas que abasteciam a cidade. Entre
os estabelecimentos saqueados figuram os seguintes: M. Martins & Cia.m Viana & Cia., M.
Alves Afonso etc. O comércio de diversas cidades do interior também não escapou. Por onde
os rebeldes passavam, implantavam o pânico.

No tempo em que os comunistas estiveram no poder, circulou um jornal intitulado


"Liberdade", que publicou as seguintes palavras, transcritas por João Medeiros Filho: "Enfim,
pelo esforço invencível do povo, legitimamente representado por Soldados, Marinheiros,
Operários e Camponeses, inaugura-se no Brasil a era da Liberdade, sonhada por tantos
mártires, centralizados e corporificados na figura legendária de Luís Carlos Prestes, o
"Cavaleiro da Esperança".

Versões Sobre os Combates no Interior

Ao tomar conhecimento do que estava acontecendo na capital potiguar, Dinarte Mariz entrou
em contato com o governador da Paraíba, Argemiro de Figueiredo que, atendendo ao apelo
do líder seridoense, ordenou que policiais paraibanos penetrassem no Rio Grande do Norte
rumo a Natal.

O primeiro encontro entre comunistas e sertanejos foi em Serra Caiada, com vitória para os
legalistas. Para alguns historiadores, o principal combate entre as duas facções teria ocorrido
na Serra do Doutor, entre as cidade de Santa Cruz e Currais Novos, João Medeiros Filho, por
exemplo, descreve que "os sertanejos que numa ação fulminante rechaçaram o inimigo,
abrindo caminho para Natal onde chegaram no dia 27, já encontrando a cidade ocupada
pelas tropas da polícia paraíba".

Aluízio Alves, entretanto, no depoimento que prestou à TV Universitária, disse que não
ocorreu nenhuma batalha na Serra do Doutor. E justificou, afirmando que quando os
comunistas saíram de Natal já tinham conhecimento do fracasso do movimento no Rio de
Janeiro e em Recife. Estavam, portanto, fugindo. "Essa história de guerra na Serra do Doutor
é uma imagem colorida de uma guerra que não houve", argumenta Aluízio.

O testemunho de Enoch Garcia ao mesmo programa da TV Universitária, "Memória Viva",


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confirma o entrevero, mas não os personagens de outros relatos: "Todo mundo queria que
Dinarte tivesse tomado parte na Serra do Doutor. Ele não tomou parte na Serra do Doutor,
como eu não tomei, como Humberto Gama não tomou. Lá, tomaram parte esses oficiais dos
quais eu já falei: Pedro Siciliano, José Epaminondas, Genésio Cabral, Antônio de Castro... e,
inclusive muitos civis".

Tiroteio e Fuga dos Combatentes

Dinarte Mariz, segundo Enoch Garcia, telefonou para o governador da Paraíba, Argemiro de
Figueiredo, que prometeu e efetivamente enviou tropas paraibanas para o Rio Grande do
Norte para combater os revoltosos da Intentona Comunista.

Enoch recebeu o seguinte telegrama de Florêncio Luciano: "Enoch, eu não sei o que
aconteceu, mas o nosso povo reagiu em cima da Serra, e o esbandalho foi grande. Até agora
está correndo gente deles e gente nossa...". Conclusão: aconteceu realmente um tiroteio,
provocando a debandada de ambas as facções. Entre os revolucionários, muitos eram
reservistas e nada tinham com a ideologia comunista. Na primeira oportunidade, largaram as
armas e fugiram... Os integrantes do outro lado eram sertanejos, em sua maioria homens
simples, pequenos agricultores ou trabalhadores rurais que não estavam dispostos a
participar de conflito algum. Aos primeiros anos, fugiram.

Portanto, houve realmente um confronto na Serra do Doutor, interior do Rio Grande do


Norte,. Porém, sem as dimensões que se pretendeu dar. De qualquer maneira, o fato marcou
o final da Intentona Comunista de 35 no Rio Grande do Norte.

Repressão Violenta e Prisões Injustas

A repressão após a Intentona Comunista foi violenta. O chefe da Polícia do governo Rafael
Fernandes, João Medeiros Filho, reconheceu que houve "excesso"...Segundo Aluízio Alves,
"Rafael Fernandes e Aldo Fernandes se empenharam para não misturar a polícia estadual com
a reação da revolução (...) Houve muitas pressões injustas, na época, apesar de toda a
resistência, sobretudo de Aldo Fernandes, que se incompatibilizou muito com o Partido
Popular, por conta de suas atitudes corretíssima, digníssima, distinguindo as
responsabilidades da revolução, da participação eventual emocional do Marismo e do
Caféismo".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Êxito Momentâneo Não Assegurou Poder

O levante de 35, que explodiu no Rio Grande do Norte, teve um cunho comunista, como
prova a criação de um Comitê Popular Revolucionário e ainda o editorial do órgão oficial da
Intentona, "A Liberdade", exaltando o líder comunista Luís Carlos Prestes, chamado de
"Cavaleiro da Esperança". Outros fatores que contribuíram para o êxito momentâneo do
movimento: muitos funcionários públicos, descontentes com as demissões e perseguições
políticas - incluindo os militares -, se engajaram na luta pensando que se tratava de um
levante contra o governador. Alguns soldados, reservistas, participaram apenas para cumprir
ordens, sem saber ao certo o que estava acontecendo.

Além do mais, faltou um líder que reunisse as massas e, ao mesmo tempo, esclarecesse o
povo para conseguir sua adesão consciente. Resultado: as camadas mais humildes ficaram
desorientadas, praticando desordens. E alguns oportunistas se aproveitaram do momento
para saquear e roubar. Não houve, igualmente, uma maior sintonia entre os chefes militares
e os líderes civis. O que determinou que o movimento acabasse caindo num vazio...

O principal obstáculo a um levante de esquerda não estava na capital e sim no interior. As


oligarquias que dominavam o Estado não aceitariam nenhum governo que contrariasse os
seus interesses, como aconteceu anteriormente com a Revolução de 30.

Os revolucionários contavam com a vitória do movimento no Rio de Janeiro e em Recife.


Como o fracasso do levante nesses dois centros urbanos, eles perderam a confiança,
procurando fugir. Abandonaram a capital sem nenhuma resistência. Na realidade, não tinham
a menor possibilidade de permanecer no poder por um período maior. Além das diversões
internas, qualquer resistência seria esmagada pelas forças paraibanas e pernambucanas, que
certamente seriam enviadas para o Rio Grande do Norte com o objetivo de destruir a rebelião.

História da Aviação e II Guerra Mundial

Os Hidroaviões Aterrissam no Potengi

A localização da Cidade do Natal fez com que seu nome ocupasse uma posição de relevo na
história da aviação mundial. Sobretudo nos tempos iniciais ou, mais precisamente, no período
compreendido entre 1922 e 1937, que se divide em duas fases: a dos hidroaviões e as dos
aviões. Os hidroaviões desciam nas águas do Rio Potengi e, posteriormente, os aviões
pousavam num campo em terra firme. Os portugueses Sacadura Cabral e Gago Continho
inauguraram a primeira fase com o "raid" África-Natal, cobrindo uma distância de 1.890
milhas. Por causa de dificuldades, os lusitanos desceram em Fernando de Noronha, passando
por Natal e indo até Recife
História do Estado do Rio Grande do Norte

.No dia 21 de dezembro de 1922, o brasileiro Euclides Pinto Martins e o norte-americano


Walter Hinton chegava a Natal, fazendo o "Sampaio Correia II" amerissar nas águas do Rio
Potengi. Estavam realizando o "raid" Nova Iorque-Rio de Janeiro.

Após essas façanhas, a capital norte-rio-grandense passou a receber grande número de


aviadores famosos, que com suas aventuras escreviam a história da aviação. Todos eles foram
recebidos como verdadeiros heróis.

Os natalenses acompanharam a ação dos pioneiros com muito interesse. Exemplo: a 24 de


fevereiro de 1927, Natal recebeu com manifestações de júbilo o marquês De Pinedo, italiano
que juntamente com Carlo Del Prete e Victale Zachetti chegaram à cidade viajando no "Santa
Maria". De Pinedo, além de percorrer as principais ruas natalenses em carro aberto, participou
de um almoço em sua homenagem. No discurso de agradecimento, o marquês sentenciou:
"Natal será a mais extraordinária estação da aviação mundial".

No mesmo ano, chegou ao Rio Grande do Norte a esquadrilha do exército norte-americano


- a primeira esquadrilha a baixar no Rio Potengi - sob o comando do major Herbert Dangue
e integrada pelos hidroaviões "Santo Antonio", "São Luís" e "São Francisco". Nessa época, a
França tinha planos de abrir rotas aéreas comerciais estabelecendo uma linha Europa-
América do Sul, que não se concretizou. Mas a partir de 1924, revela Clyde Smith Junior,
"empresas particulares assumiram a tarefa de executar esse projeto".

A Lignes Latéroère procurou estender sua ação até o Brasil. Essa companhia enviou Paul
Vachet a Natal, num Breguet, um biplano que foi forçado a aterrissar na praia da Redinha
porque Natal não contava ainda com um local apropriado. O Breguet pilotado por Paul
Vachet foi, portanto, o primeiro aeroplano - ou seja, avião que pousava em terra e não nas
água, como os anteriores - a aterrissar no Rio Grande do Norte. Iniciando, assim, uma nova
fase na história da aviação em terras potiguares.

Nasce o Aeroporto de Parnamirim

Paul Vachet foi enviado a Natal pela Lignes Latécoère para estabelecer aqui uma base dentro
da rota Brasil-Dakar. E para isso precisava de um campo de pouso. Vachet procurou, então,
um terreno apropriado para construir um aeroporto. Segundo Câmara Cascudo, "um oficial
do Exército, o coronel Luís Tavares levava para Parnamirim o batalhão sob o seu comando
para exercícios militares. Em 1927, indicou-o como campo de pouso para os aviões da
Latércoère. Feita uma limpeza sumária no mato ralo e nivelamento provisório, inaugurando-
o, às 23h45 de 14 de outubro de 1927, o "Numgesser-et-Coli", um monomotor Breguet-19,
pilotado por Dieu Coster e Le Brix, concluindo com êxito o roteiro Saint Louis do Senegal-
Natal. Clyde Smith Junior informa que "esse foi o primeiro vôo transatlântico em sentido
leste-oeste (...) Essa façanha marcou o início do serviço aéreo entre Paris e Buenos Aires".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Juvenal Lamartine e o Aéro Clube

O Rio Grande do Norte não poderia ficar apenas recebendo aviões. Era preciso participar de
uma maneira mais ativa. Juvenal Lamartine, consciente do problema, apresentou um projeto
na Câmara Federal para criar um aviódromo em Natal. A 29 de dezembro de 1928, era
fundado o Aéro Clube. Tarcísio Medeiros descreve o evento: "Participaram das festividades,
numa revoada de Parnamirim a Natal, um "Beu-Vird", pilotado pelo diretor-técnico,
comandante Djalma Petit, trazendo a bordo o Sr. Fernando Pedroza, e um aparelho da
Générale Aéropostale (C.G.A), pilotado por Depecker.

Na ocasião, foi batizado o primeiro aeroplano do "club", com o nome de Natal". A diretoria
do Aéro Clube era formada por Juvenal Lamartine, presidente; Dioclécio Duarte, vice-
presidente, e Adauto Câmara, primeiro secretário. A sede estava situada no bairro do Tirol,
onde ainda hoje se encontra, apesar de ter passado por sérias crises. E de acordo com Tarcísio
Medeiros, possuía um "pequeno campo de pouso ao lado do poente da sede social'".

Esquadrilha Balbo e Coluna Capitolina

No dia 6 de janeiro de 1931, chegava a Natal a esquadrilha da força aérea italiana, comandada
pelo general Ítalo Balbo. Composta inicialmente por doze aviões, apenas dez conseguiram
atingir Natal. Poucos dias antes, ou seja, em 1º de janeiro do mesmo ano, o navio italiano
"Lanzeroto Malocell", sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Alberto Coraggio, trazia
a Coluna Capitolina, doada pelo chefe do governo italiano, Benito Mussolini.

A peça havia sido encontrada nas ruínas de Roma e foi oferecida ao povo natalense para
comemorar o "raid" Roma-Natal, realizado pelos aviadores Del Prete e Ferrarin. Nessa data,
governava o Rio Grande do Norte o interventor federal Irineu Joffily. Participaram da
comissão de recepção o prefeito Dias Guimarães e João Café Filho.

Em uma das faces da Coluna Capitolina há uma mensagem em italiano que foi traduzida para
o português no livro "Aspectos Geopolíticos e Antropológicos da História do Rio Grande do
Norte", de Tarcísio Medeiros: "Trazida de uma só lance sobre asas velozes além de toda
distância tentada por Carlos Del Prete e Arturo Ferrerin, a Itália aqui chegou a 5 de julho de
1928. O oceano não mais divide e sim une as agentes latinas de Itália e Brasil".

A Viagem Inédita de Jean Mermoz

Um dos aviadores que marcou presença em Natal durante essa época foi o francês Jean
Mermoz.No dia 13 de maio de 1930, Jean Mermoz realizou a sua primeira travessia. Partindo
de São Luís do Senegal, chegou a Natal vencendo uma distância de 3.100 quilômetros. Passou
alguns dias na capital potiguar planejando uma viagem de regresso, o que seria um fato
História do Estado do Rio Grande do Norte

inédito. O aviador francês voltou a Natal em abril do ano de 1933, pensando ainda em realizar
o seu sonho: a viagem Natal-Dakar. Fez muitas amizades no Rio Grande do Norte. Um de
seus amigos, Eudes de Carvalho, revelou que o francês "adquiriu, com o tempo, apego à terra
e à gente potiguar e previu o futuro de Parnamirim como base aérea de destaque mundial".
Jean Mermoz, finalmente, conseguiu concretizar sua antiga aspiração. Partindo de Natal num
trimotor, o "Arc-en-Ciel", pousou em Dakar, sendo o primeiro a realizar tal façanha.

O piloto francês participou de outras atividades em ação militar, recebendo as medalhas


"Cruz da Guerra' e "Levante".Tarcísio Medeiros narra outro feito de Mermoz: "bateu, entre 11
e 12 de abril de 1930, o "record" mundial de permanência no ar, em circuito fechado,
cobrindo 4.343 quilômetros em 30 horas e 30 minutos, em Laté-28 com flutuadores, no qual
voou para Natal". Jean Mermoz desapareceu nas águas do Oceano Atlântico a bordo do seu
"Croix-de Sud", em dezembro de 1936.

Concorrência Européia nos Céus Natalenses

Depois da França, a Alemanha entrou em cena. A Lufthansa estendeu sua ação comercial até
Natal durante 1933. No outro ano, informa Clyde Smith Junior, "as linhas aéreas francesas e
alemãs entraram em um acordo que exercia uma cooperação técnica e uma divisão de
itinerário. Em torno de 1937, elas concordaram em associar suas receitas relativas ao trecho
África-Natal e, em 1939, a Air France (antiga Lignes Latécoère) e a Condor (Lufthansa)
tornaram seus bilhetes permutáveis na África do Sul".

A Itália também esteve presente em Natal através da Linee Aeree Transcontinentali Italiane -
Ala Litoria (LATI). A empresa foi organizada pelo governo italiano e, posteriormente, foi
acusada pelos adversários, durante a guerra, de estar a serviço das "Tropas do Eixo".

A Inglaterra e os Estados Unidos não participaram desse esforço inicial, em rotas que
envolveram Natal no processo de desenvolvimento da aviação. Somente durante o início da
Segunda Guerra Mundial é que a companhia norte-americana Pan American manteve uma
rota que passava por Natal.

O Grande Projeto de Augusto Severo

Augusto Severo nasceu na cidade de Macaíba, no dia 11 de janeiro de 1864, filho de Amaro
Barreto de Albuquerque Maranhão e D. Feliciana Maria da Silva de Albuquerque Maranhão.
Entre seus irmãos, os que mais se destacaram foram Pedro Velho e Alberto Maranhão.

O biógrafo Augusto Fernandes traçou em poucas palavras a personalidade de Augusto


Severo: "físico avantajado era o espelho fiel de espírito vigoroso. Figura simpática, sabendo
o que dizia e trazendo-o desembaraçadamente, com os olhos mansos, o sorriso fácil e os
História do Estado do Rio Grande do Norte

gestos aristocratas, conquistava sem dificuldade as pessoas mais esquivas". Iniciou os estudos
na terra onde nasceu, Macaíba, e depois continuou a sua vida de estudante em duas outras
cidades: Natal e Salvador. Fez o curso de humanidades com brilhantismo.

Entrou posteriormente para a Escola Politécnica, no Rio de Janeiro. Quando cursava o


segundo ano, adoeceu e teve que voltar para Natal. Exerceu, então, a função de professor de
Matemática no Ginásio Norte-Riograndense, escola da qual chegou a ser vice-diretor.

Quando o Ginásio fechou, em 1883, foi forçado a se dedicar ao comércio, trabalhando como
guarda-livros da loja "Guararapes". Idealista participou ao lado de Pedro Velho da campanha
abolicionista.Com relação às suas preocupações como homem de ciência, Augusto Severo se
dedicou primeiro em descobrir o modo-contínuo. Depois, abandonou essa pesquisa. Pensou
também em estudar o "mais" pesado que o ar". Desistiu.

Os seus interesses começavam a se voltar para outra direção: "agora, todos os seus estudos
e esforços buscava descobrir um meio para dar estabilidade e segura dirigibilidade aos
balões. Imaginou e desenhou, então, o "Potiguarânis", que não chegou a ser realizado, mas
influiu na construção, mais tarde, do Bartolomeu de Gusmão, realmente o seu primeiro
dirigível".

Continuando seus estudos, chegou ao "PAX', considerado pelos técnicos como um


importante avanço na conquista do espaço. Criou também o "tubo motor de reação", que
dizem ter sido usado pela torpedeira "A Turbina", que pertencia à marinha inglesa. Segundo
Augusto Fernandes, a "Turbina" chegou a atingir uma velocidade de 37 milhas.

É ainda Augusto Fernandes que fala sobre outra criação do cientista norte-rio-grandense:
inventou "o sistema de hélice introduzida no interior de um tubo, que atravessa o navio
seguindo o grande eixo, permitindo-lhe marchar avante e a ré". Em 1893, Augusto Severo
substituiu o irmão Pedro Velho no Congresso.

Em 19 de outubro de 1901, Santos Dumont, com o dirigível 'Santos Dumont nº 6", realizou
um grande feito, pelo qual recebeu o prêmio "Deutsc" . Depois de levantar vôo de Saint-
Cloud, para assombro do povo de Paris, contornou a Torre Eiffel.

Anterior a essa data, houve um movimento no Brasil para prestar uma homenagem ao
aeronauta brasileiro. No Congresso Nacional, o deputado federal Bueno de Paiva propôs, no
dia 17 de julho de 1901, um voto de louvor a Santos Dumont, por ter encontrado "a solução
do secular problema" da dirigibilidade e estabilidade. Acontece que Augusto Severo, um
profundo conhecedor da questão, sabia que tal solução não havia sido encontrada e
protestou contra a inverdade. Mas, reconhecendo a importância do aeronauta, propôs que
fosse inserido em ata um voto de louvor a Alberto Santos Dumont e ainda concedido ao
ilustre brasileiro, como prêmio o valor de 100:000$000, importância que ele precisava para
continuar suas experiências.
História do Estado do Rio Grande do Norte

O discurso de Augusto Severo foi simplesmente brilhante. Ao conclui-lo foi, além de muito
aplaudido, abraçado pelos deputados presentes .Augusto Severo, após licenciar-se da
Câmara Federal, partiu para Paris com a finalidade de fazer, igualmente, experiência no
campo da aeronáutica.

Augusto Fernandes, numa síntese, demonstra toda a importância de Severo: "os balcões de
Dumont, como os de seus antecessores, sob o ponto de vista científico, não possuíam as
características necessárias de ESTABILIDADE e, portanto, perfeita NAVEGABILIDADE. Esta
conquista pertence, exclusivamente, a Augusto Severo" .Ele não se tornou, como chegaram a
comentar em Paris, um rival de Santos Dumont, E sim, afirma Augusto Fernandes, "um
concorrente sério, competente, leal, para Dumont. E sim, afirma Augusto Fernandes, "um
concorrente sério, competente, leal, para Dumont ou qualquer outro que tentasse as mesmas
experiências".

Paralelamente às suas experiências, Augusto Severo, com sua simpatia contagiante de


verdadeiro aristocrata, fez sucesso na sociedade parisiense e europeia, conseguindo a
amizade de grandes personalidades da época, como Zola e Paul Rousseau. Chegou inclusive
a receber uma carta da princesa Wiszniewska, presidente d fundadora da "Aliança Universal
das Mulheres pela Paz e pela Educação". Finalmente, o grande projeto de Augusto Severo
estava pronto: o "PAX"! Revistas da França e da Inglaterra abriram suas páginas para falar
sobre a experiência que estava prestes a acontecer. Era a glória!

Na construção do PAX, Severo contou com a importante ajuda do mecânico George


Sachet.Na madrugada do dia 12 de maio de 1902, Augusto Severo e George Sachet
realizavam, para o povo de Paris, o tão almejado vôo. Quando o PAX se encontrava
aproximadamente a 400 metros de altura, um clarão e, depois, uma explosão. Era o fim do
sonho. Morreram ambos, Severo e Sachet.

Um texto e "A Notícia", no jornal do Rio de Janeiro (23/6/1902), narrando o enterro de


Augusto Severo, poetizou: "não acredito haja alguém, lá fora, que possa em pleno dia - um
dia rútilo de sol pelas ruas apinhadas de gente e passando, entretanto, silencioso, recolhido,
sem um rumor, como se as mais vastas praças fossem pequenas câmaras mortuárias, em que
se anda nas pontas dos pés, com um respeito religioso (...). Que dia esplêndido de glória!
Glória triste - mas, apesar de tudo, glória!".

Os Aliados e as Forças do Eixo

Quando Adolf Hitler invadiu a Polônia, alegando que a Alemanha necessitava de "espaço
vital", estava iniciando o Segundo Conflito Mundial. De um lado, estavam os "Aliados": França,
Inglaterra e Estados Unidos.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Do lado oposto, Itália, Alemanha e Japão formavam as "Forças do Eixo". Os dois grupos
lutaram (com a posterior entrada de outras nações, inclusive os Estados Unidos da América)
durante o período entre 1939-1945, levando o mundo a uma devastação que até então
nenhuma outra guerra tinha provocado.

Após a sua entrada no conflito, os norte-americanos procuram uma aproximação com o


Brasil, porque necessitavam instalar ou melhorar as bases aéreas do Nordeste brasileiro. Havia
uma grande preocupação dos norte-americanos em demonstrar aos brasileiros que a sua
presença naquela região do País era apenas para ganhar a guerra. Nada de conquista
territorial.

Em Natal, contudo, havia adeptos das "Forças do Eixo". Em outubro de 1942, ocorreu um fato
tragicômico: a Rádio Educadora de Natal colocou no ar uma marcha militar alemã e, logo em
seguida, o hino nacional alemão. A transmissão provocou protesto de grande parte da
população e a emissora foi fechada, sendo reaberta dois dias depois. Apesar de oficialmente
neutro, o Brasil vai aos poucos se aproximando da causa dos "Aliados", e se afastando das
"Forças do Eixo". Essa situação se reflete em Natal, com a maioria da população torcendo
pela vitória dos "Aliados".

Em dezembro de 1941, chega a Natal o Esquadrão de Patrulhamento da Marinha dos Estados


Unidos, como nove aeronaves e o avião auxiliar "Clemson". Pouco depois, chegavam os
fuzileiros navais. Em 1942 eram duzentos homens.

O almirante Ary parreiras, enviado para construir a Base Naval do Natal, demonstra, na
opinião de Cascudo, "força realizados, obstinação, ditadura da honestidade, mítica do
sacrifício silencioso, discreto e diário". Os norte-americanos, por sua vez, constróem
"Parnamirim Field", uma verdadeira megabase, durante o período de guerra.

Em termos de forças terrestres, desde 12 de junho de 1941, Natal contava com o 16 RI, criado
aproveitando os efetivos do 29 BC e do II BC de Minas Gerais. Segundo Tarcísio Medeiros,
"no dia 11 de outubro, o general Gustavo Cordeiro de Farias assumia o comando da 2ª
Brigada de Infantaria (...) A aviação unificada desde 18 de janeiro com a criação do Ministério
da Aeronáutica, possuindo o campo de Parnamirim, estabeleceu a sede da 2ª Zona Aérea,
cujo comando, confiado ao brigadeiro Eduardo Gomes, impulsionou o primeiro grupo de
aviões que partia, policiando os ares (...) e os comboios marítimos, num serviço assíduo de
cobertura e vigilância".

O Brasil Entra na Guerra

No último dia da Terceira Conferência de Ministros Estrangeiros, em 28 de janeiro de 1941,


realizada no Rio de Janeiro, o Brasil rompeu as relações com as Forças do Eixo. Passando
alguns meses, no dia 22 de agosto de 1942, o Brasil declarou guerra à Alemanha e à Itália.
História do Estado do Rio Grande do Norte

O avanço das "Tropas do Eixo", lideradas por Rommel, no continente africano, colocou em
perigo a navegação do Atlântico, da costa brasileira, como também de todo o continente
americano. Teria sido por causa desse risco que o Brasil cedeu bases militares no litoral do
Nordeste para servir de apoio às operações militares que seriam desenvolvidas na África. E
entrou na guerra.

Natal, por sinal, já vivia um clima de guerra, inclusive com blecautes diários. Contava também
com os serviços da Cruz Vermelha, Legião Brasileira de Assistência, Defesa Civil, e ainda
abrigos antiaéreos familiares e públicos.

Numa síntese, disse Câmara Cascudo: "Ao redor do campo, Natal, tabuleiros e praias, foi
organizada e dispostas a defesa militar, munições, matérias-primas em tonelagem
astronômica. Exército, Marinha, Aeronáutica, ergueram as barreiras defensivas, diárias e
contínuas.

Dois Presidentes na "Conferência de Natal"

Quando o presidente dos Estados Unidos Franklin Delano Roosevelt se encontrava em


Marrocos, solicitou ao almirante Jonas Ingram para marcar um encontro com Getúlio Vargas,
presidente do Brasil, na Cidade do Natal.

Acertada a reunião, todas as providências foram tomadas em sigilo.

O presidente Getúlio Vargas chegou em Natal no dia 27 de janeiro de 1943, acompanhado


de sua comitiva. Ficou alojado no Dstróier Jouett. Na manhã do outro dia, dois aviões
trouxeram o presidente dos Estados Unidos, Roosevelt, e sua comitiva.

As autoridades brasileiras sediadas em Natal não foram informadas das ilustres presenças e
a segurança dos dois americanos, causando um mal-estar.

O governante potiguar Rafael Fernandes foi convidado para comparecer à base sozinho.
Chegando lá é que soube da novidade. Depois, Getúlio Vargas e Roosevelt, acompanhados
de Rafael Fernandes, cumpriram um programa de inspeções: base de hidroaviões, Parnamirim
e os quartéis brasileiros do exército e da aeronáutica.

À noite, Vargas e Roosevelt participaram da "Conferência de Natal" que, segundo Clyde Smith
Junior, "girou em torno de interesses mútuos e laços de amizades entre seus países, a
prevenção de um possível e perigoso ataque dirigido de Dakar para o hemisfério ocidental,
e o apoio do Brasil aos objetivos de guerra de Roosevelt. No dia seguinte, Roosevelt. No dia
seguinte. Roosevelt voou para Trinidad e Vargas voltou ao Rio acompanhado pelo almirante
Ingram e pelo general Wash".

Ao que parece, Roosevelt teria "pedido" ao presidente Vargas, o envio de tropas brasileiras
História do Estado do Rio Grande do Norte

para o "front" na Europa e o estadista gaúcho "concordou". A reunião, portanto, não foi
apenas um encontro cordial de amigos para conversar futilidades. Nela, ficou acertado o
envio de tropas brasileiras para o "front".

Influência Americana e Mudança dos Costumes

A presença norte-americana em Natal mudou os hábitos de uma pequena cidade nordestina.


Lenine Pinto relata que "dos bares vazava a música das Wurlitzers, das lojas o burburinho de
consumidores ávidos e, quando as ruas esvaziavam-se, acendiam-se os salões de bailes,
fluíam fantasias (...) Naquele tempo as festas sucediam-se freneticamente, dançava-se
freneticamente, amava-se freneticamente".

A Cidade do Natal modificou-se de maneira muito significativa com a presença do grande


número de militares estrangeiros aqui sediados. Do entrosamento entre americanos e jovens
natalenses resultaram alguns casamentos.

O drama das jovens, não só natalenses, mas nordestinas que não tiveram os seus romances
com jovens americanos referendados pelo casamento, é descrito pelo poeta Mauro Mota no
seu "Boletim Sentimental da Guerra no Recife", através dos versos: "Meninas, tristes meninas,
de mão em mão hoje andais. Sois autênticas heroínas da guerra, sem ter rivais. Lutastes na
frente interna com bravura e destemor. À vitória aliada destes o sangue do vosso amor.
Ingênuas meninas grávidas, o que é que fôstes fazer? Apertai bem os vestidos pra família não
saber. Que os indiscretos vizinhos vos percam também de vista. Saístes do pediatra para o
ginecologista".

Surgiram associações recreativas como, por exemplo, os "Clubes 50". Tanto o Aéreo Clube
como igualmente o "Clube Hípico", foram alugados com o objetivo de realizar bailes. A
finalidade principal, certamente, era promover uma maior integração dos militares norte-
americanos com a população natalense. Houve, por causa disso, uma invasão de ritmos
estrangeiros: "rumba", "conga", "bolero".

As moças passaram a agir com mais autonomia e, conforme relata Lenine Pinto, "tendo
incorporado modos e modismos americanos, algumas aproveitaram para alongar o passo:
começaram a fumar (por ser o Chesterfield um cigarro "fraquinho", era a desculpa); a
bebericar "Cube Libre" (com a Coca-Cola inocentando a mistura de rum) e a pegar os
primeiros "foguinhos". Natal perdia aos poucos suas características de cidade pequena, com
seus habitantes levando uma vida modesta e tranquila.

Tomando inclusive um aspecto cosmopolita, com a passagem, pela cidade, de pessoas de


outras nacionalidades, com direito a figuras importantes: D. Francis J. Spellman (arcebispo de
História do Estado do Rio Grande do Norte

Nova York), Bernard (príncipe da Holanda), Higinio Morringo (presidente do Paraguai), Sra.
Franklin D. Roosevelt (esposa do presidente dos Estados Unidos), Sr. Noel Cherles
(embaixador do Reino Unido no Brasil) etc. Os preços aumentaram por causa da injeção de
dólares na economia local.

A influência norte-americana se fez sentir também na linguagem, com a introdução de


algumas palavras e expressões inglesas, exemplificadas por Clyde Smith Junior: "change
money" (troque dinheiro), "drink beer" (beba cerveja), "give me a cigarrette" (dê-me um
cigarro), "blackout" (blecaute) etc.Outro fato lembrado pelo mesmos autor: "de uma cidade
pequena e desconhecida, passou a ser conhecida por milhões de americanos e outros
aliados". Durante a guerra. Natal cresceu muito, aumentando consideravelmente a sua
população.

Os Governos Estaduais do Rio Grande do Norte

Oposições Vitoriosas nos Anos 60

Nos anos 60, o Brasil, passava por uma série crise política, agravada pelo conflito ideológico
esquerda versus direita, com radicalismo de ambas as partes. Dentro desse contexto, se
destacava o antagonismo entre as forças nacionais ("comunistas") e as forças conservadoras
("entreguistas"), com a participação ativa de políticos operários e estudantes.

Como conseqüência da crise que abalava o País. Quadros renunciou, entregando o cargo de
presidente da República a João Goulart, em agosto de 1961. Goulart, em agosto de 1961.
Goulart tomou posse em 7 de setembro e governou, em regime parlamentarista, até ser
deposto pelo golpe militar em 1964.As constantes crises políticas vividas pelo País refletiam
e deixavam profundas marcas na região nordestina. Apesar do crescimento de sua produção
industrial, a participação do Nordeste no produto total do País caía para 15,5%, Índice menor
do que o de outras regiões.

Como conseqüência do processo de industrialização, cresceram os centros urbanos, e, ao


mesmo tempo, aumentava o êxodo rural, com o deslocamento de grande número de famílias
para as grandes cidades.

Um dos fatores que contribuíram para o êxito do populismo no Rio Grande do Norte foi a
atuação da Igreja Católica, com a instalação dos sindicatos rurais e com o Movimento de
Educação de Base.

As campanhas de educação popular contribuíram também para acelerar o processo de


politização das camadas mais humildes. Exemplos: a "Campanha de Pé no Chão Também se
Aprende a Ler", em Natal, e ao Movimento de Cultura Popular" em Recife, ambas em 1960.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Foi sobretudo no processo político que o descontentamento popular se refletiu no Nordeste,


com grandes vitórias conquistadas pela oposição durante o período compreendido entre
1956 a 1962. No Rio Grande do Norte, em 1960, Aluízio Alves se elegeu governador e, no
mesmo ano, Djalma Maranhão chegou à prefeitura de Natal, também pela oposição.

A campanha política de 1960 se desenrolou num clima de muita agitação. O governo Dinarte
Maris deixou um testamento político que desorganizou, completamente, as finanças do
Estado. O povo norte-rio-grandense estava asfixiado, aspirava por se livrar daquela situação,
recebendo com entusiasmo a mensagem oposicionistas que prometia reformular os
processos administrativos, dinamizar a administração pública e criar as condições básicas
para iniciar a industrialização, começando, dessa maneira, o desenvolvimento do Estado. Essa
proposta de governo era defendida por um jovem e dinâmico político: Aluízio Alves .

Uma vez candidato, rapidamente assumiu a liderança do seu grupo, organizando uma
coligação partidária com a denominação de "Cruzada da Esperança", formada pelo PSD, PTB,
PCB, PRP, PTN e dissidentes da UDN. Para vice-governador foi indicado o monsenhor
Walfredo Gurgel, uma das mais expressivas lideranças do PSD seridoense. Para a prefeitura
da Cidade do Natal, dois líderes representantes da esquerda: Djalma Maranhão, para titular,
e Luiz Gonzaga, para vice-prefeito.

A nível nacional, a Cruzada da Esperança dividia-se. PSD, PTB e PTN apoiavam o marechal
Lott para presidente da República, um homem honesto, nacionalista, porém, sem nenhuma
aptidão política. Aluízio Alves e a dissidência da UDN apoiavam Jânio Quadros. Para vice-
presidente, os candidatos eram João Goulart, com apoio do PSD, PTB e PTN, e Milton Campos,
apoiado por Aluízio. Djalma Maranhão, um homem da classe média sem nenhuma ligação
com qualquer grupo econômico forte, de mãos limpas, partiu para a sua campanha com
muita garra.

Sua atuação vai se caracterizar, principalmente, por dois aspectos. Primeiro, um caráter
nitidamente ideológico. Nacionalista, desencadeava uma luta aberta contra o imperialismo.
Segundo, a participação direta e espontânea do povo, em seus segmentos mais pobres.

Dentro dessa linha de ação, foram criados os Comitês Nacionalistas, cuja importância foi
salientada por Moacyr de Góes: "a organização da campanha se fez em função dos Comitês
Nacionalistas. A mobilização origina-se do Comitê, para o Comitê e pelo Comitê. Entre janeiro
e fins de setembro, foram organizados e funcionaram 240 Comitês Nacionalistas também
conhecidos como Comitês Populares ou Comitês de Rua. Esse número ganha maior
expressão quando situado numa cidade de 160 mil habitantes, à época, tendo tido um
comparecimento eleitoral de pouco mais de 36 mil votantes".

A mobilização foi, portanto, muito grande. Crescia de importância porque não se fazia apenas
a exaltação da personalidade do candidato Djalma Maranhão, mas ao mesmo tempo eram
discutidos temas locais, regionais e nacionais. Paralelamente à campanha política
História do Estado do Rio Grande do Norte

propriamente dita, se realizava também um verdadeiro trabalho de politização das massas.


Claro, uma vez politizado, o eleitor se integrava na luta nacionalista e antimperialista.

A sua campanha fugia, e muito, das tradicionais campanhas políticas, cuja base era o ataque
pessoal, tão comum no Rio Grande do Norte e no restante do Brasil.

A campanha de Aluízio Alves foi radicalmente diversa da realizada por Djalma Maranhão
quanto à metodologia de ação empregada. Bem mais sofisticada. Utilizando inclusive uma
empresa publicitária. Empregando, de maneira racional e inteligente, os meios de
comunicação de massa (rádio e jornal). Usando slogans, como "Fome ou Libertação?".
"mendicância ou trabalho?", ou ainda "Miséria ou Industrialização?", colocava diante do
eleitor o caos em que se encontrava o Estado, sugerindo uma mudança radical através da
vitória da oposição. Esse triunfo marcaria o início de um processo de desenvolvimento no
Estado do Rio Grande do Norte.

A "Tribuna do Norte", jornal de Aluízio Alves, produzia cerca de 5 mil exemplares diários, uma
tiragem, bem maior do que "A Folha da Tarde", de Djalma Maranhão. Como disse Agnelo
Alves, irmão de Aluízio Alves, e também jornalista, "foi o jornal que sedimentou a imagem de
Aluízio, levando diariamente, durante dez anos, seu nome a todo o Estado".

A 'Tribuna do Norte' serviu para influenciar determinados segmentos da sociedade, como


intelectuais, estudantes e grande parte do funcionalismo público federal, estadual e
municipal. Contribuiu igualmente para a tomada de decisão de muitos indecisos. Com suas
manchetes, notícias, fotos e editoriais, traçava um quadro inteiramente favorável aos
candidatos da Cruzada da Esperança.

A situação caótica em que se encontrava o Estado foi uma importante causa da vitória desta
coligação partidária. A liderança carismática de Aluízio Alves empolgou o povo. Ciente de seu
magnetismo pessoal, ele procurava por todos os meios manter o contato direto e pessoal
com os eleitores. O seus comícios e as suas passeatas impressionavam pelo número de
participantes e pelo entusiasmo. Velhos, moços, crianças, mulheres de todas as idades,
agitando nas mãos bandeiras e ramos verdes, cantando as músicas da campanha e gritando
"Aluízio, Aluízio, Aluízio". Um espetáculo nunca visto no Rio Grande do Norte, suplantando,
portanto, a campanha de José da Penha, o primeiro líder popular da história política do
Estado.

Enfim, Aluízio Alves aparecia como um "homem comum", simples, pobre, de resistência física
extraordinária, passando noites inteiras acordado, em virtude de vigílias, lutando e sofrendo
sempre ao lado do povo. Nesse aspecto, certamente, se aproximavam os dois líderes
populistas: Djalma Maranhão e Aluízio Alves. Ambos se apresentavam como pessoas pobres,
da classe média, sem dinheiro, lutando contra a máquina lubrificada, manipulada pelos
poderosos.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Havia, entretanto, uma grande diferença com relação ao posicionamento ideológico. Um da


esquerda, o outro do centro. Para Djalma Maranhão, "o nacionalismo é ainda um movimento,
uma revolução em marcha, para se transformar, no futuro, no mais poderoso partido de toda
a História do Brasil".

Aluízio Alves definia o seu nacionalismo de outra maneira: "o nosso nacionalismo é, por isso,
pragmático, e se despe de qualquer sentido ideológico de classe. Ele assenta no esforço
capitalista, o esforço público, no esforço misto. Os seus dois objetivos são: primeiro, entregar
a instrumentos brasileiros que representam a iniciativa privada e pública o comando da
economia, estabelecendo mecanismo através do qual o enriquecimento nacional não se
acumula nas mãos de poucos e antes alcance seu legítimo usufrutuário, que é o povo;
segundo, criar no Nordeste parcela significativa e ponderável de um grande mercado interno
que funcione para si e apenas secundariamente para o mercado externo".

"Tal nacionalismo não é anti coisa alguma. Nem anticapitalista nem antisocialista. Ele se situa
fora da área do debate ideológico para inserir-se corretamente na área em que o
nacionalismo deve, por natureza colocar-se para colher o apoio de toda a Nação".

As Prioridades de Djalma Maranhão

O primeiro problema grave enfrentando por Djalma Maranhão foi, sem dúvida, o déficit
orçamentário. O prefeito encarou o problema como sendo um grande desafio para seu
governo. Em primeiro lugar, integridade. Em segundo lugar, tomou medidas para solucionar
a crise: Código Tributário do Município. Cadastro Fiscal da Prefeitura e aumento de alíquota
do imposto de Indústria e Profissões. Conseguiu reverter o quadro e, no lugar de déficit,
apresentou um superávit de Cr$ 19,770.826,00!Djalma Maranhão promoveu uma série de
iniciativas que marcaram o dinamismo de sua administração: Galeria de Arte, Palácio dos
Esportes, Estação Rodoviária, construção de galerias pluvias, etc.

Na área cultural, realizou o "I Seminário de Estudos dos Problemas de Educação e Cultura do
Município de Natal", quando diversos temas forma tratados com objetividade por eminentes
especialistas: Luís da Câmara Cascudo, João Wilson Melo, Pe. Manoel Barbosa, Ivamar
Furtado, Max Cunha Azevedo, Chicuta Nolasco Fernandes, Newton Navarro, entre outros.

Mas o que imortalizou o governo de Djalma Maranhão foi, sem dúvida, a "Campanha de Pé
no Chão Também se Aprende a Ler", coordenada pelo professor Moacyr de Góes, secretário
de Educação.

O objetivo da campanha era a erradicação do analfabetismo na Cidade do Natal. A situação,


nesse setor, impressionava. Segundo Moacyr de Góes, "o índice de analfabetismo na
História do Estado do Rio Grande do Norte

população acima de 14 anos, era o mais alto do Nordeste (59,97%) e, em Natal. O Censo de
1960 revelava a existência de 60.254 adultos".

A campanha nasceu da aspiração popular

Consultando as pessoas residentes nos bairros periféricos, Djalma Maranhão descobriu que
a necessidade número um, reclamada por todos, era uma só "escolas para crianças que, sem
poder adquirir farda ou sapatos, não podiam frequentar os grupos escolares construídos pelo
governo do Estado. As crianças sem estudos, sem divertimentos, sem boa alimentação, sem
roupas, na miséria, eram as futuras prostitutas e os futuros marginais. Elas precisavam,
portanto, aprender a ler e a escrever para, prosseguindo nos estudos, pudessem ascender
socialmente.

A escola deveria, fornece tudo: o professor, a carteira, o material escolar e, inclusive, a


merenda. A educação, portanto, seria o único caminho pelo qual os meninos pobres
poderiam mudar de "status", sair da miséria. Djalma Maranhão, ligado desde suas origens, às
reivindicações populares, compreendeu de imediato a dramaticidade daquela necessidade.
Aceitou o desafio. Designou o professor Moacyr de Góes para planejar, organizar e executar
a campanha para erradicar o analfabetismo em Natal.

Uma diretora de Acampamento, ao observar que seus alunos chegavam atrasados às aulas,
teve uma ideia: antes do início das aulas, promovia uma minipartida de futebol. Assim,
diariamente, os meninos jogavam sua partidazinha de futebol. Criando, ao mesmo tempo, o
hábito de acordar cedo para chegar na escola na hora certa.

Em abril de 1961, através de uma carta, Djalma Maranhão mostrava o porquê da campanha:
"Há momentos decisivos na vida dos povos. É a hora em que a História marfa as suas
encruzilhadas. Acreditamos que o povo brasileiro vive um desses momentos. Na sua luta
contra o subdesenvolvimento ele precisa se erguer do solo e ganhar a sua independência de
ação. E só poderá fazer isso se for alfabetizado e tiver uma educação mínima que o faça
afirmativo na sociedade. Acreditamos que chegamos nessa encruzilhada: ou o povo se
alfabetiza ou se escraviza."

Após apresentar dados estatísticos sobre o analfabetismo em Natal, dizia o que estava
fazendo: "o número de 'Escolinhas' já está em 205. Mas são precisas 1.878 para erradicar o
analfabetismo da Cidade. Presentemente estamos ensinando a ler até debaixo de palhas, pois
nas Rocas construímos cinco pavilhões de 8 metros por 30, cobertos de palhas de coqueiros,
com piso de barro batido, onde estudam cerca de 1.200 crianças e 300 adultos. Bem
justificado é o nosso slogan: "DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDER A LER.

Para realizar tal obra, o prefeito solicita ajuda da população: "Por outro lado, a Prefeitura,
sozinha, não está capacitada financeiramente para arcar com todos os ônus da educação
História do Estado do Rio Grande do Norte

popular na cidade. Precisamos, assim, da ajuda de todos. Precisamos da sua ajuda".

Para concluir, afirma Djalma Maranhão: "Queremos ser soldados da campanha de um amanhã
melhor para o povo, através da educação. Nessa mensagem queremos recordar a você. De
Natal subdesenvolvido, no Nordeste subdesenvolvido, clamamos para todo o Brasil:
precisamos nos dar as mãos, numa grande força, para alfabetizar o povo e oferecer-lhe a
educação necessária ao desenvolvimento do País".

A campanha cresceu de maneira extraordinária passando por várias fases. A das "escolinhas
municipais", que funcionavam em salas cedidas por particulares. Depois, os "Acampamentos
Escolares", escolas rústicas com piso de barro batido e cobertas por palhas de coqueiros. Para
os adultos que não queiram estudar nos "acampamentos", o ensino era feita na casa do
analfabeto, onde se reunia um grupo não superior a seis pessoas. Os professores eram
recrutados entre meninos e meninas do Grupo Escola Isabel Gondim, que se apresentavam
para ensinar sem receber salário. Um fato de grande importância foi sem dúvida a construção
do Centro de Formação de Professores, cuja direção, foi entregue à professora Margarida de
Jesus Cortês. O "Centro" passou a ser o cérebro da campanha.

Atendemos a uma necessidade da população mais carente, da periferia da cidade, foi criada
a "Campanha de Pé no Chão Também se Aprende uma Profissão". Simultaneamente, o
governo do Estado adotou o médico Paulo Freire, em iniciativa pioneira de alfabetização em
40 horas.

Três Séculos em Apenas Três Anos

O governo Aluízio Alves pretendia revolucionar a administração pública, inovando,


modernizando através de uma ação dinâmica, construindo as condições básicas para o
desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Aluízio Alves tinha consciência, portanto, da
verdadeira situação em que se encontrava o Estado: uma região atrasada, subdesenvolvida e
totalmente despreparada para construir o seu desenvolvimento industrial. Além dessa
conjuntura geral, o funcionalismo e os fornecedores do governo estavam sem receber
pagamento há sete meses.

O governador procurou melhorar o nível dos funcionários, através de cursos, criando


gratificações e dando promoções aos que participassem desses treinamentos. Essa política
era básica para um governo que tinha pressa. Isso, contudo, não era suficiente para
modernizar o processo administrativo. A máquina burocrática, arcaica e ultrapassada, não
oferecia condições para atender a demanda de tantas iniciativas. Para suplantar tais
obstáculos, o governo não vacilou em criar novas entidades, como a Companhia de Serviços
Elétricos do Rio Grande do Norte (Cosern), Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte
(Telern), Serviço Cooperativo de Educação (Secern) etc.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Para iniciar o processo de desenvolvimento era necessário, sobretudo energia farta e barata.,
facilidade de comunicação com os grandes centros urbanos e boas estradas. Na criação da
Companhia Hidroelétrica de São Francisco (Chesf), para trazer energia elétrica de Paulo
Afonso para o Nordeste, foram excluídos os Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará,
sob a alegação da exploração econômica pela distância superior a 500 quilômetros.
Deputado federal em 1947, Aluízio Alves lutou durante 13 anos para mudar essa situação, só
vindo a conseguir a inserção dos três Estados em 1960.

Em 1963, como governador do RN, criou, pela lei 2.721, de 14 de setembro de 1961, a Cosern
- Companhia de Serviços Elétricos do Rio Grande do Norte, que implantou a energia de Paulo
Afonso no território norte-rio-grandense, iniciando uma grande obra de infra-estrutura para
o desenvolvimento industrial e, mais tarde, agro-industrial.

Resultado: diversas cidades passaram a contar com a energia de Paulo Afonso (Taipu, Currais
Novos, Acari, etc.). O custo total do plano de eletrificação atingiu a cifra de Cr$ 2.283 milhões.
Para que se possa ter uma ideia do significado da obra realizada, é suficiente dizer que, em
1960, 14% da população se beneficiava dos serviços elétricos. Em 1965, 39% da população
recebiam os benefícios da energia elétrica.

No campo das telecomunicações, o governo investiu cerca de Cr$ 1,3 bilhões, devendo
salientar que 90% desse capital saiu dos cofres estaduais e o restante foi completado pelas
prefeituras municipais.

A 3 de setembro de 1963, foi criado a Telern. Era uma iniciativa pioneira, das mais importantes
que, juntamente com o plano de eletrificação e com a construção de estradas (365,6 Km de
estradas construídas de 1961 a 1964, num investimento total de Cr$ 7.476.933.146,00),
criavam aquelas condições mínimas que possibilitariam um desenvolvimento maior do Rio
Grande do Norte.

A educação, contudo, se constituía num dos problemas mais graves do Estado. Por essa razão,
passou a ser uma das prioridades do novo governo. Nessa área, a situação era caótica, como
demonstram os dados divulgados na época: "mais de 65% de analfabetos; podendo-se
afirmar que cerca de 80% da população ativa apenas sabia assinar o nome; das 250.655
crianças em idade escolar, as escolas estaduais só podiam atender a 55 mil, enquanto as
municipais apenas 27 mil e as particulares não abrigavam mais de 28 mil, num total
deprimente de 110 mil matrículas. O déficit de mais de 140 mil crianças sem escola, sem
nenhuma possibilidade de aprender a ler e a escrever, representava mais da metade da
população escolar.

O Estado contava tão somente com 1.020 salas de aula, ocupando 826 prédios, dos quais só
660 portavam diploma, e entre os restantes incluíam-se diaristas sem habilitação para o
magistério e sem estabilidade funcional, reduzindo-se a apenas 2.121 professores".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Para mudar esse quadro, o governo elaborou diversos projetos que, para sua execução,
contou com recursos da Aliança para o Progresso, da Sudene, do MEC e, ainda, do governo
do Estado. Para administrar os recursos recebidos, foi criado um órgão estruturado de
maneira moderna e dinâmica, a Secern, cujo diretor executivo era o secretário de Educação,
o jornalista Calazans Fernandes.

O governo lançou, então, o plano de "FAZER EM 3 ANOS O QUE NÃO SE FEZ EM TRÊS
SÉCULOS".A grande meta "seria" alfabetizar 100 mil pessoas acima da idade escolar primária".
O governo almejava ainda a extensão da escolaridade a todas as crianças do Estado e a
construção de mil salas de aulas. Para educar o maior número de pessoas no menor espaço
de tempo foi lançada a Experiência de Angicos, quando foi adotado o método do professor
Paulo Freire. O resultado da experiência foi considerado altamente positivo: "A batalha durou
40 dias como estava prevista. Encerrou-se a experiência pioneira, como resultados que
despertaram a atenção de todo o Brasil: aproveitamento de 70% na alfabetização e 80% na
conscientização cívica".

Em 1965, cresceu o número de professores, ou seja, 61% a mais do que em 1960!Para atender
a demanda sempre crescente de alunos e acabar com o déficit de edifícios escolares, o
executivo estadual agiu da seguinte maneira) recuperou velhos prédios) construiu novos
edifícios) cursos de 1º grau passaram a funcionar em prédios de grupos escolares.

No ensino de primeiro grau, foram construídas 253 salas de aula em sessenta e sete escolas,
num total superior a 30 mil metros quadrados de área coberta. No ensino secundário, o
governo construiu três edifícios, onde funcionam o Instituto Padre Miguelinho, Instituto
Presidente Kennedy - onde hoje está instalado um Curso de Licentiatura Plena, preparando
professores para o Ensino Fundamental - e o Centro Educacional Winton Churchil.

A capacidade de matrícula, de 1960 até 1965, aumentou cerca de 63%.Nessa área de atuação,
até o final de governo, foi investida uma importância no valor de Cr$ 6.329.654.000,00.No
ensino superior, foi criada a Faculdade de Jornalismo, instalado o Instituto Juvenal Lamartine
de Pesquisas Sociais e, ainda, adquirida a Faculdade de Filosofia. Foi criada também a
Fundação José Augusto, que abrigou em seu seio, além das instituições já citadas, outras
como a Biblioteca Pública, Centro de Estudos Afro-Asiásticos, Centro de Cultural Hispânica e
Escola de Arte Infantil Cândido Portinari, fazendo com que essa fundação se transformasse
numa verdadeira secretaria para assuntos culturais.

Na cultura, o governo aplicou Cr$ 1.201.945.000,00.Aluízio Alves adotou uma política de bem-
estar social da maior importância. Investiu no campo da saúde, assistência social, habitação
popular e abastecimento de água. Ampliou os serviços de abastecimento de água em Natal,
Mossoró e Caicó, implantando o sistema de Angicos e Santana do Matos. Instalou o serviço
de mini abastecimento em 30 municípios. Em Natal, no ano de 1965, com relação ao serviço
de água, os prédios atingidos por esse benefício chegavam à casa dos 100%!
História do Estado do Rio Grande do Norte

O sistema de esgoto, na capital, atingia, em 1960, apenas 10% dos edifícios e em 1965,
quando Aluízio deixou o governo, o índice já alcançava 75% dos edifícios. No interior, a
cidade de Touros, na época, com 2.200 habitantes, foi a primeira cidade do Brasil a ser
totalmente saneada.

A Telern (Companhia Telefônica do Rio Grande do Norte) promoveu a interligação, pelo


sistema interurbano, de várias cidades do Estado (Caicó, Currais Novos, Cerro Corá, Macau,
Mossoró e Areia Branca) com Natal. Ligando, pelo mesmo sistema, o Rio Grande do Norte
com outros Estados do País. No turismo, o Rio Grande do Norte não possuía nenhum hotel
de grande porte. O governo construiu o Hotel Reis Magos, o primeiro de categoria
internacional.

O poder público estadual criou ainda a Codern (Companhia de Desenvolvimento do Rio


Grande do Norte) para planejar o desenvolvimento, orientando os investimentos que
modificaram a estrutura econômica do Rio Grande do Norte. Aluízio Alves construiu durante
o seu governo cerca de 1.300 obras durante 1.825 dias. Por ter criado as condições para que
o Estado pudesse se desenvolver, pela modernização que implantou, o governo de Aluízio
Alves foi considerado por alguns como verdadeiramente revolucionário.

Teve, entretanto, seus críticos. A oposição acusava o governo de perseguir funcionários e não
aceitava a maneira como conduziu o movimento militar de 1964.Aluízio Alves, falando sobre
o assunto, disse: "Lutei. Sofri injustiças. Cometi involuntariamente outras. Despertei amor e
gerei ódios. Conquistei o povo, perdi amigos e ganhei inimigos".

A Precocidade de Aluízio Alves

Aluízio Alves nasceu na cidade de Angicos, no dia 11 de agosto de 1921.Foi um menino


precoce, iniciando sua carreira de jornalista ainda criança. Fundou o jornal "O Clarim", que
era datilografado e possuía apenas um exemplar, passando de casa em casa. O jornal,
segundo Aluízio, era "por mim mesmo desenhado em vermelho, e por mim todo ele escrito:
desde o editorial às notas de aniversários, notícias de festas, entrevistas etc., às vezes,
jornalista e datilógrafo de dois dedos, levada o dia inteiro, até sem almoço, entrava pela noite,
sob o protesto da minha mãe. Tudo era compensado pelas alegrias do domingo: o jornal ia
passando de casa em casa, com os comentários dos vizinhos, leitores de toda a cidade".

Mais adiante, duas outras iniciativas, ambas no campo do jornalismo: o jornal "A Palavra" e a
revista "Potiguarânia". Dirigiu também o jornal "O Estudante". O Partido Popular, quando
criou "A Razão" , designou Aluízio para trabalhar como repórter. O jornal pertencia a Dinarte
Mariz e seu diretor era Eloy de Souza.

Após a vitória do Partido Popular, que consegue eleger três deputados, e a situação apenas
um, Aluízio Alves escreveu um artigo com o título "Três a Um", quando chamou o interventor
História do Estado do Rio Grande do Norte

Bertino Dutra de "apêndice podre da Marinha brasileira", Diante da ofensa, a Marinha


mandou prender Aluízio. Foi criado, então, o impasse: o autor do artigo era menor, contava
apenas 13 anos de idade... Como solução, o jornal foi fechado. Na administração de Mário
Câmara, a publicação voltou a circular.

O jornalista-mirim enfrentou outro problema semelhante. O major Abelardo de Castro deu


uma entrevista criticando a situação que havia no Rio Grande do Norte. Essa entrevista foi
publicada no "Diário de Pernambuco". Como o jornal da oposição se encontrava fechado, a
entrevista foi impressa em forma de boletim. Na noite seguinte, Aluízio, com outras pessoas,
pregavam com grude os boletins nas paredes das casas, edifícios públicos etc. Quando Aluízio
estava colando as folhas atrás da catedral velha, foi preso. Mas não podia ser preso por causa
da idade. O chefe da Polícia, capitão da Marinha, Paulo Mário, chamou o pai do menino,
aconselhou, ameaçou, porém o jovem rebelde foi colocado em liberdade.

Aluízio, repórter de "A Razão", junto à Assembléia Legislativa", viveu momentos difíceis nessa
fase: "lá às seis horas da manhã para "A Razão", escrevia várias matérias. Quinze para as oito
e eu ia para o colégio e ficava até onze horas. Às onze horas voltava para a "A Razão" para
escrever e fazer a revisão da matéria. Uma hora da tarde voltava para o colégio, até aí sem
comer, sem almoçar, ficava no colégio até três e meia da tarde. Quando saía às três e meia
da tarde. Quando saía às três e meia da tarde, eu ia para o jornal, assistia ao final do jornal".

Aluízio Alves começou a se interessar por política no ano de 1932, com onze anos de idade,
quando, após a derrubada do prefeito de Angicos, João Cavalcanti, seu pai, Manoel Alves, foi
eleito prefeito.

Nesse ano, ocorria uma terrível seca e os flagelados da região procuraram seu "Nezinho", que
convocou os comerciantes para colaborar: recebendo e distribuindo gêneros alimentícios,
estava ali presente o menino Aluízio Alves.

Outro acontecimento vai marcar a carreira precoce do político Aluízio Alves: durante a
revolução Constitucional de 32, ele se encontrava em Ceará Mirim. Nessa cidade só havia um
rádio, na casa de Waldemar de Sá. O menino Alves ouvia os discursos dos líderes do
movimento, repetindo para os presentes.

Aluízio, indo para o Ceará, estudou no Ginásio São Luiz. Ocorreu então o seguinte fato: um
motorista de ambulância dirigia em alta velocidade para salvar um doente. A ambulância
virou, o motorista morreu, porém, o doente sobreviveu. O acontecimento emocionou a
cidade de Fortaleza. Aluízio foi escolhido para fazer a oração, durante uma homenagem
prestada pelos estudantes aos familiares da vítima do acidente. Seu discurso emocionou a
todos os presentes. A partir daquele momento passou a ser o orador oficial do ginásio!

Em 1940, em Angicos, a Paróquia organizou a festa de Cristo Rei. Estiveram presentes o


governador Rafael Fernandes e Aldo Fernandes. Na oportunidade, Aluízio pronunciou uma
História do Estado do Rio Grande do Norte

conferência sobre a Paróquia de Angicos. Como resultado, o menino-conferencista foi


convidado por Aldo Fernandes para trabalhar no jornal "A República", quando se tornou
repórter e editor do referido órgão de imprensa, na época, dirigido por Edgar Barbosa.

Em 1942, uma grande seca. Natal foi invadida pelos flagelados. Aldo Fernandes chamou
Aluízio, dizendo que queria fazer uma reunião com as principais autoridades da cidade.
Aluízio, então, escreveu um artigo inti-tulado 'Convocação à família natalense", sendo
designado para organizar o trabalho de assistência aos flagelados. Dentro de três dias. 8 mil
pessoas estava abrigadas. Terminada a seca, Aluízio Alves organizou a volta dos retirantes,
fazendo com que cada um levasse instrumento de trabalho, além de recursos para recomeçar
a vida, inclusive, comida para um mês. Aconteceu que, no final, ficaram 60 menores de ambos
os sexos. Aluízio Alves sugeriu, então, criar um Serviço de Assistência ao Menor. Aprovada a
idéia, Aluízio Alves foi para Recife e, naquela cidade, entrou em contato com as autoridades
que tratavam do problema.

Foi fundado o "Abrigo Melo Matos", com Orígenes Monte assumindo a direção. Incansável,
Aluízio Alves, com ajuda da Legião Brasileira de Assistência, criou o Instituto Padre João Maria
e, com auxílio da prefeitura, organizou o Abrigo Juvino Barreto. Ambos foram inaugurados
no dia 19 de abril de 1943.

Preocupações Sociais, Jornalismo e Política

Depois de criar o Instituto Padre João Maria e organizar o Abrigo Juvino Barreto, em 1943,
Aluízio Alves partiu para uma iniciativa maior: criou a Escola de Serviço Social. Durante a
Segunda Guerra Mundial, o jornalista realizou o grande feito de entrevistar, com ajuda de um
intérprete, Eleanor Roosevelt, que veio a Natal em campanha para eleger seu marido, Delano
Roosevelt, presidente dos Estados Unidos.

Nesse período, Aluízio Alves tinha dois programas radiofônicos. Aos domingos, levava ao ar
"Glórias do Brasil", com o objetivo de mobilizar a opinião pública a favor dos aliados. O outro,
chamado 'Ave Maria', era diário e começava às 6 horas. O Serviço de Proteção ao Menor se
estendeu ao interior e, com a ajuda dos bispos de Caicó e de Mossoró, chegou a reunir mais
de 10.000 menores, em regime de semi-internato.

No governo do interventor general Dantas, Aluízio Alves foi o diretor do SERAS, instituição
por ele organizada. Aos 23 anos, Aluízio foi eleito deputado federal, sendo o mais moço da
Assembléia Nacional Constituinte, em 1946, causando sensação no Rio de Janeiro, por ser
apenas não o mais jovem, mas também o único deputado que era estudante. O artigo da
Constituição de 1946 sobre assistência aos menores e à maternidade é de sua autoria.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Reeleito deputado federal nos anos de 1950, 1954 e 1958, foi o responsável pela criação do
programa de Crédito de Emergência, para o período de seca no Nordeste. E no ano de 1960
foi eleito governador, por maioria absoluta. Deixando o governo, continuou fazendo política,
conseguindo expressivos resultados. Elegeu o seu sucessor, monsenhor Walfredo Gurgel,
com 54% dos votos, e seu irmão, Agnelo Alves, chegava à prefeitura de Natal, com 61% dos
votos.Com o golpe militar de 1964, os partidos (PSD, UDN, etc) foram extintos. Em seu lugar
foram criados dois novos partidos: ARENA e PMDB.

Aluízio Alves voltou à Câmara Federal em 1966, quando obteve 60.000 votos. Em 1969, a
grande frustração: foi cassado pelo Ato Institucional nº 5. Afastado oficialmente da vida
política, reagiu, fazendo com que seus aliados mais fiéis se transferissem para o MDB.

Em 1970, Odilon Ribeiro Coutinho perdeu a eleição para o Senado. O vitorioso foi Dinarte
Mariz. Henrique Alves, filho de Aluízio, foi eleito deputado federal, com grande votação. Um
marco na vida de Aluízio Alves, em sua profissão de jornalista, foi quando fundou, juntamente
com Carlos Lacerda, o jornal "Tribuna da Imprensa", no Rio de Janeiro. Lacerda assumiu a
direção e Aluízio, o cargo de redator-chefe. Quando Carlos Lacerda partiu para o exílio, depois
da eleição de Juscelino Kubistchek, Aluízio assumiu a direção geral do órgão de imprensa.

Outra importante iniciativa nessa área é a fundação, no dia 24 de março de 1950, em Natal,
da "Tribuna do Norte", empresa em que seu fundador exerceu a direção. Posteriormente,
adquiriu a Rádio Cabugi. Surgia, assim, o Sistema Cabugi de Comunicações que, na
atualidade, é formado pela Tribuna do Norte, TV Cabugi, Rádio Cabugi AM, Rádio Difusa de
Mossoró, Rádio Cabugi do Seridó e líder FM, de Parnamirim.

Cassado de seus direitos políticos, Aluízio Alves investiu em sua carreira de empresário,
fundando, no Rio de Janeiro, a Editora Nosso Tempo. É assim que ele resume a sua atuação
como empreendedor: "diretor industrial de um grupo empresarial, construindo no Rio Grande
do Norte a primeira indústria de cartonagem: uma grande indústria de confecções, a Sparta;
a primeira e até agora única fábrica de tecidos, a Seridó, depois, Coteminas; o Hotel Ducal
Palace, na época, entre os três melhores do Nordeste. No Sul, era presidente de indústrias e
de duas grandes empresas comerciais do mesmo grupo, com mais de 100 lojas em São Paulo,
Rio e Minas".

Como escritor, Aluízio Alves publicou alguns livros, entre eles "Angicos" (em 1997 foi lançada
a 2ª edição, pela Fundação José Augusto), "A Primeira Campanha Popular do Rio Grande do
Norte", "Sem ódio e sem medo". A verdade que não é secreta etc.

No dia 16 de agosto de 1992, Aluízio Alves tomou posse na Academia Norte-Rio-Grandense


de Letras, em solenidade realizada após 17 anos de eleição no Salão dos Grandes Atos, da
Fundação José Augusto. Foi saudado pelo acadêmico Mário Moacyr Porto, que encerrou o
seu discurso com as seguintes palavras: "Ingressai nesta casa de homens de letras, senho
acadêmico Aluízio Alves, pela porta larga do talento. Não se aplica à V.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Excia, o apelido de imortal por adulação estatutária, mas de quem alcançará, pelos seus feitos,
um lugar destacado na admiração dos pós-terros. Sede bem-vindo". Aluízio, num longo
discurso, lembrou importantes fases de sua vida na suas diversas facetas: jornalista, político
e escritor. E suas grandes amizades, como, por exemplo, a de Hélio Galvão. Confessou que
"jamais foi minha ambição pessoal chegar à Academia".

Concluido, disse: "E por isso, diante de todos, posso repetir, quando 72 anos tentam
inutilmente reduzir-me o ânimo, e apagar, na noite das vicissitudes, a chama da esperança,
uma palavra que, numa hora difícil se tornou meu apelo e meu caminho: "a luta continua".
Aluízio Alves foi também ministro de Estado por duas vezes: ministro de Administração do
governo de José Sarney e, por sete meses, ocupou como titular o Ministério da Integração
Regional, no governo Itamar Franco, quando elaborou o Projeto de Transposição das águas
do São Francisco, beneficiando os Estados do Ceará, Rio Grande do Norte e da Paraíba.

Deposição de João Goulart

No final de 1963 já se delineava uma crise no Brasil. O governo João Goulart reforçava sua
linha de governo de caráter nacionalista e reformista, fazendo com que as forças
conservadoras se aglutinassem para derrubá-lo. San Tiago Dantas procurou unificar os
grupos esquerdistas numa frente única, sem sucesso. A cada dia que passava, o radicalismo
aumentava.

Um decreto que obteve grande repercussão foi o que autorizava a SUPRA (Superintendência
da Reforma Agrária) "para concluir convênio destinado a delimitar as áreas marginais às
estradas e açudes, com fins de expropriação, para distribuições de terras". O tempo passava
e esquerdistas e direitistas se acusavam, mutuamente, dizendo abertamente que estavam se
preparando para um conflito armado.

Em janeiro de 1964, o deputado federal Leonel Brizola denunciava: "não existe ninguém no
poder do País, neste momento". Era uma verdade. O presidente João Goulart tinha perdido
o comando, não podendo evitar o rumo dos acontecimentos.

Resolveu, então, partir para a extrema esquerda, precipitando os acontecimentos. A situação


se agravou quando da realização de um comício, promovido pelo governo, que se realizou
no dia 13 de março de 1964, na praça Cristiano Otôni, na Guanabara. Como a praça se
localizava na fronteira da Estação D. Pedro II, da Central do Brasil, ficou conhecido como
sendo o "Comício da Central".

O governo pretendia demonstrar força, fazendo com que seus ministros comparecessem.
Alguns governadores se fizeram presentes: Miguel Arraes, de Pernambuco; Seixas Dória, de
Sergipe; Badger Silveira, do Rio de Janeiro. O presidente da República, na ocasião, assinou
dois decretos.
História do Estado do Rio Grande do Norte

Um encampava as refinarias de petróleo particulares e o outro tratava da desapropriação de


terras. O conflito caminhava para o desenlace. Os distúrbios, nas ruas, começavam a surgir. A
disciplina na Marinha foi quebrada. A crise também atingia as forças armadas. Em São Paulo
foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", que contava com um grande
número de senhoras da sociedade, autoridades civis e o apoio do clero. Marinheiros e
fuzileiros se rebelaram e o destacamento destinado a prendê-los aderiu ao movimento.

A essa altura dos acontecimentos, ninguém mais podia evitar. A crise haveria de terminar
num conflito armado. Não poderia vir da esquerda, que estava com o governo. A reação
deveria partir da extrema direita, que pretendia acabar com o "comunismo no Brasil". E
comunista, para as classes conservadoras, era qualquer pessoa que se apresentasse como
sendo de esquerda; defendesse o nacionalismo, combatendo o "entreguismo" contra,
portanto o capitalismo internacional... Por causa desses equívocos, muita injustiça foi
cometida!

No dia 31 de março de 1964 eclodiu o movimento militar para derrubar o governo João
Goulart.Sem condições de resistir ao golpe planejado pelos altos chefes militares, com o
apoio de parcelas da sociedade, em 1º de abril de 1964, o presidente João Goulart partiu de
Brasília para o Rio Grande do Sul e, logo em seguida, viajou para o Uruguai como exilado
político. Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara Federal, foi provisoriamente empossado
presidente da República. O movimento militar de 64 se consolidou com a promulgação do
Ato Institucional e a posse do marechal Humberto de Alencar Castelo Branco como
presidente.

Confronto e Rede de Investigação no RN

A radicalização entre esquerda e direita atingiu também o Rio Grande do Norte. A causa
esquerdista, no Estado era defendida por Djalma Maranhão e seus correligionários e, ainda,
por grande parte dos estudantes e de operários. Essas forças defendiam os ideais do
nacionalismo e lutavam contra a direita.

Quando a crise ideológico-militar explodiu no Sul, o prefeito Djalma Maranhão, de imediato,


ficou solidário com João Goulart. Foi mais além, transformou o prédio da prefeitura como
sendo "o quartel-general da legalidade e da resistência". O governador Aluízio Alves divulgou
uma nota, onde dizia que o governo "pede ao povo que se conserve calmo, evitando atos ou
manifestações que aprofundem as divisões desta hora em que todos os esforços devem ser
feitos para a restauração da paz e preservação da democracia".

Começou, então, a fase de investigações com a Comissão Geral de Investigações instalada


pelos militares e mais duas comissões criadas pelo Ato Institucional nº 2.No dia 1º de abril,
Djalma Maranhão publicou uma nota oficial, do governo municipal do Natal, concluindo com
História do Estado do Rio Grande do Norte

as seguintes palavras: "a legalidade é Jango!".

No dia 2 de abril foram presos, o prefeito Djalma Maranhão e o seu vice. Luís Gonzaga dos
Santos. Foram levados para o QG da Guarnição Militar de Natal. Depois, foi comunicado aos
vereadores que os dois, sendo comunistas, não poderiam exercer os seus mandatos. Como a
comunicação foi verbal, a Mesa da Câmara solicitou ao comando militar que fosse enviado
um ofício, para dar um caráter administrativo à questão. A Câmara Municipal ficou reunida,
esperando a comunicação oficial, que chegou por volta das 22 horas. Os vereadores
declararam o "impeachemet" de Djalma Maranhão e de Luís Gonzaga dos Santos. O vereador
Raimundo Elpídio assumiu, em caráter interino, a função de prefeito. Mais tarde, os
vereadores elegeram, em definitivo, o almirante Tertius César Pires de Lima Rebelo como
prefeito e Raimundo Elpídio, vice-prefeito.

Os vitoriosos consolidaram o movimento no Rio Grande do Norte, porém, deixando


profundas marcas no seio da família potiguar, como demonstra o desabafo da escritora
Mailde Pinto Galvão: "Por uma suspeita absolutamente infundada e sem sentido, invadiam as
residências, prendiam pessoas e expunham as famílias ao vexame das investigações na vida
pessoal e profissional. Perdia-se a privacidade, o direito de defesa e a estabilidade nos
empregos".

Para José Wellington Germano, "na verdade, não foi esboçada nenhuma tentativa concreta
de resistência. As forças principais trataram logo de ocupar, na manhã do dia 1º de abril, os
principais pontos da cidade, cercado alguns sindicatos, e na noite do mesmo dia, intervindo
e dissolvendo uma assembléia de estudantes que se realizava no restaurante universitário da
Av. Deodoro; também foi desfeito o QG da legalidade pelas próprias forças militares que
penetraram no edifício da prefeitura".

O mesmo autor ainda informa que os sindicatos marítimos de Areia Branca e Macau entraram
em greve, a Federação dos Trabalhadores Rurais colocou à disposição do presidente da
República cerca de cinqüenta mil camponeses e a União Estadual de Estudantes lançou um
manifesto. O prefeito Raimundo Elpídio da Silva, no dia 3 de abril de 1964, exonerou o
professor Moacyr de Góes da função de secretário de Educação. A função foi assumida,
posteriormente, pelo capitão-de-corveta Tomaz Edson Goulart do Amarante.

No dia 7 de abril, foi realizada a "Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade", para
comemorar a vitória do golpe militar. O novo governo municipal demitiu vários funcionários,
considerados perigosos: "Omar Pimenta, da diretoria do Ensino Municipal; Mailde Pinto, da
diretoria de Documentação e Cultura; a professora Maria da Conceição Pinto de Góes e,
ainda, o professor Geniberto Campos, respectivamente dos cargos de diretor e vice-diretor
do Ginásio Municipal", narrou José Wellington Germano.

Uma grande preocupação dos novos detentores do poder foi a de eliminar livros que, para
eles, continham ensinamentos de uma ideologia marxista. Para realizar tal missão, invadiram
História do Estado do Rio Grande do Norte

bibliotecas, destruindo muitos volumes.

E como sempre acontece nesses casos, alguns militares, por excesso de zero ou por
ignorância, cometeram arbitrariedade. Exemplo: quando invadiram a casa do professor
Moacyr de Góes, colocaram uma metralhadora na cabeça da mãe do ex-secretário de
Educação, já bastante idosa e que merecia, portanto, maior respeito". Vários inquéritos
militares foram instaurados, dos quais resultaram diversas prisões: Hélio Xavier de
Vasconcelos, Omar Fernandes Pimenta, Moacyr de Góes, Vulpiano Cavalcanti de Araújo, Eider
Toscano de Moura, Danilo Bessa, Marcos José de Castro Guerra, Carlos Alberto de Lima, Luiz
Ignácio Maranhão Filho, etc.

Nas prisões, houve uma série de torturas. Como disse Moacyr de Góes, "é fácil implantar o
terror numa cela. Fácil e covarde. Basta que os carcereiros empreguem a força bruta no
espancamento dos prisioneiros em sucessivos interrogatórios. Ou então que aos mesmos
carcereiros seja permitido criar condições tais de insegurança para os prisioneiros que estes
sintam o real risco de não sair do cárcere com vida".

O Jogo Claro de Djalma Maranhão

Djalma Maranhão nasceu em Natal, no dia 27 de novembro de 1915. Filho de Luís Inácio de
Albuquerque Maranhão e de dona Salomé de Carvalho Maranhão, teve os seguintes filhos:
Lamarck (falecido), Marcos e Ana Maria. Djalma Maranhão foi um homem simples, inteligente
e que sabia exatamente o que queria da vida. Não transigia nas suas idéias.

Amaca os mais humildes e lutava para atender às reivindicações das classes menos
favorecidas. Nacionalista, denunciava, gritava, protestava. Expressava sua ideologia de
maneira clara e inequívoca, acreditando na vitória do socialismo, convicto de que "somente
a dialética marxista-leninista libertará as massas da opressão e da fome através da
socialização dos meios de produção e da entrega da terra aos camponeses".

Como não se acomodava às intrigas políticas, nem concordava ou se adaptava a qualquer


tipo de corrupção, foi expulso de alguns partidos. Militante comunista, quando era cabo do
exército participou da Intentona Comunista de 35, sendo preso. É o próprio Djalma Maranhão
que diz: "Andei pelos presídios políticos e pelos campos de concentração, martirizado pelos
esbirros de Felinto Müller e de Getúlio Vargas".

Em 1946, foi expulso do partido comunista, porque denunciou os diretores do partido como
desonestos. Foi eliminado, quando se encontrava ausente de plenário, sem que pudesse se
defender. A acusação feita por Djalma Maranhão foi escrita.

Era de fato um homem temperamental. Às vezes, contudo, sabia se conter. Exemplo: durante
a campanha de 1960 para prefeito de Natal, Djalma Maranhão entrou irado na sala de
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redação da "Folha da Tarde" com um exemplar na mão. Perguntou, então, quem tinha escrito
a manchete de seu jornal, que dizia o seguinte: "Lott - Jango - Walfredo - Maranhão -
Gonzaga. Vote do primeiro do sexto". Ao saber que o autor da manchete foi Moacyr de Góes,
de conteve e disse: "A manchete está certa. É assim mesmo. Não vamos ficar em cima do
muro. Jogo claro. Honrar as alianças".

Mantinha cordiais relações com a Igreja. Certo dia, uma funcionária criticou as pessoas que
trabalhavam para a Arquidiocese. Djalma Maranhão sorriu e disse: "Deixe o padre fazer o
trabalho dele. E nós faremos o nosso". Na campanha "De Pé no Chão Também se Aprende a
Ler" trabalhavam cristãos (católicos e protestantes), espíritas e marxistas. Por essa razão, o
professor Moacyr de Góes chamou o movimento de uma "frente".

Profundamente humano. Intransigente contra a falsidade e a desonestidade, admitia o erro,


desde que fosse cometido por alguém que desejasse acertar. Para ele, governar era realizar.
Nas suas administrações como prefeito de Natal, procurou deixar uma marca de dinamismo.
Nas eleições de 31/10/1954, foi eleito deputado estadual pelo Partido Social Progressista,
obtendo ótima votação em Natal. Como legislador, teve um grande desempenho, sendo
inclusive autor do projeto que deu autonomia ao município de Natal.

Em 1955, Djalma Maranhão apoiou Dinarte Mariz para governador, na coligação PSP-UND.
Mariz derrotou Jocelyn Vilar, do PSD. Como consequência do acordo dessas eleições, Djalma
Maranhão foi designado prefeito da Cidade do Natal, cuja posse ocorreu no dia 1/2/1956.De
acordo com Moacyr de Góes, "nessa primeira administração de Djalma Maranhão, a
Prefeitura vai implantar o programa municipal de ensino, através das escolinhas de
alfabetização e do Ginásio Municipal de Natal".

No ano de 1959, Djalma Maranhão rompeu com Dinarte Mariz. Suplente, assumiu o cargo de
deputado federal, onde se destacou como membro atuante da Frente Parlamentar
Nacionalista.

Em 1960, se candidatou a prefeito, participando da coligação "Cruzada da Esperança",


juntamente com Aluízio Alves, candidato ao governo do Estado. Vitorioso, no dia 5/11/60
Djalma Maranhão assumiu novamente a Prefeitura de Natal, sendo dessa vez através do voto.
Foi, portanto, o primeiro prefeito natalense eleito diretamente pelo povo, obtendo 66% dos
voto.

Em sua segunda administração, Djalma Maranhão demonstrou toda a sua capacidade de


trabalho e de liderança política. Aos poucos conquistou a confiança e o respeito da classe
média, aumentando seu prestígio junto das classes populares. Djalma Maranhão não foi
apenas um político. Atuou, igualmente, como jornalista. Segundo Leonardo Arruda Câmara,
"a imprensa foi a grande vocação. Revisor, repórter esportivo, repórter político, redator,
secretário de redação, editorialista, diretor e proprietário de jornais, percorreu na carreira de
jornalista todos os postos e funções. Fundou o "Monitor Comercial", o "Diário de Natal" e a
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"Folha da Tarde". "Foi diretor e proprietário do "Jornal de Natal".

Como escritor, publicou "O Brasil e a Luta Anti-Imperialista", pelo Departamento de Imprensa
Nacional, edição da Frente Parlamentar Nacionalista, no Rio de Janeiro, em 1960, e "Cascudo",
Mestre do Folclore Brasileiro", lançado em 1963. Tem também uma obra póstuma: "Carta de
um Exilado".

Com o golpe militar de 1964, Djalma Maranhão foi preso. Libertado, posteriormente, através
de um "habeas corpus", concedido pelo Supremo Tribunal Federal, conseguiu se asilar na
Embaixada do Uruguai, indo morar naquele país, onde veio a faleceu, no dia 30 de julho de
1971.No último livro produzido pelo antropólogo Darcy Ribeiro, "O povo Brasileiro - A
formação e o sentido do Brasil", publicado em 1997, o escrito refere-se à morte e ao apego
de Djalma Maranhão ao Brasil, sem contudo citar seu nome. "Pude sentir, no exílio, como é
difícil para um brasileiro viver fora do Brasil. Nosso país tem tanta seiva de singularidade que
torna extremamente difícil aceitar e desfrutar do convívio com outros povos. O prefeito de
Natal morreu em Montevidéu de pura tristeza. Nunca quis aprender espanhol, nem o
suficiente para comprar uma caixa de fósforo", relata Darcy Ribeiro.

Segundo Leonardo Arruda Câmara, Djalma Maranhão "foi sepultado em Natal no Cemitério
do Alecrim, graças à interferência do senador Dinarte Mariz, acompanhado de grande
multidão no maior enterro já realizado em nossa capital que atestou o quanto ele era amado
e querido por sua gente".

Uma Obra Para o Bem da Coletividade

O processo político no Rio Grande do Norte sempre se caracterizou pelo radicalismo. Houve,
entretanto, um período de paz e tranquilidade na terra potiguar, implantado por um homem
inteligente, justo e honesto: monsenhor Walfredo Gurgel. Ele buscou a paz com tenacidade.
Ao traçar as diretrizes de sua administração, disse: "sou homem que pretende governar com
a simplicidade da minha formação e do meu temperamento. Desejo e espero o convívio
cordial de todos os que me cercam e a todos darei o exemplo de tolerância e de
compreensão".

Deixou bem claro que não aceitaria apoio em troca de benefícios: "não procurarei adversários.
Não buscarei adesões. Não transacionarei apoio. Mas não recusarei ajuda nobre e
espontânea à administração que estou iniciando porque não tenho o direito de repelir
aqueles que se disponham a trabalhar pelo Rio Grande do Norte. Não perseguirei adversários.
Não procurarei ferir ninguém. Numa palavra: desejo que haja respeito ao governo e o
governo respeitará a todos, aliados ou adversários".

Cumpriu com a palavra. Jamais se afastou desses princípios. Outra característica do seu
governo, talvez a maior, foi a austeridade. "Quando aos critérios administrativos, o meu
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governo será de austeridade, de contenção de despesas supérfluas", afirmou. Fugiu sempre


da ostentação. Por essa razão, não admitiu no seu governo que se colocasse nas placas, que
anunciavam as obras públicas, o nome de qualquer autoridade. Como disse Bianor Medeiros,
"o governo para ele não era o seu nome, mas a obra que surgia para o bem da coletividade".

A principal obra do seu governo foi, na realidade, a ponte rodo-ferroviária de Igapó. Procurou
melhorar as rodovias, pensando na circulação das riquezas do Estado. Na área da agricultura,
segundo Bianor Medeiros, "construiu parques, armazéns e atacou o setor através da melhoria
dos rebanhos e forragens". O Hospital Walfredo Gurgel, foi obra da sua administração. E,
ainda, a construção do prédio da Telern, no centro da cidade. Fundou a Biblioteca Câmara
Cascudo, além de diversas escolas.

Não se pode esquecer o grande desenvolvimento que te o Banco do Rio Grande do Norte
durante sua administração, inaugurando diversas agências na capital e em várias cidades do
interior (Caicó, Ceará-Mirim, Mossoró, etc).Mas a grande contribuição do seu governo foi,
sem dívida, a construção de um clima de paz, evitando qualquer tipo de antagonismo que
pudesse gerar ódio, sendo por essa razão respeitado pela posição. Bianor Medeiros declarou
que Monsenhor Walfredo Gurgel "nunca cometeu ou permitiu uma violência, nem a mais
leve injustiça contra os seus mais rancorosos adversários; com estes sempre foi de uma
exemplar generosidade, quando os via em situação difícil".

Exemplos do Monsenhor Walfredo Gurgel

Nasceu no dia 2 de dezembro de 1908, na cidade de Caicó, Rio Grande do Norte. Filho de
Pedro Gurgel do Amaral e Oliveira e dona Joaquina Dantas Gurgel. Perdeu o pai aos dez anos.
Tempos difíceis, e o menino Walfredo, para ajudar a família, vendia banana. Continuou.
Entretanto, seus estudos no Grupo Escolar Senador Guerra, onde fez o curso primário.

Queria ser padre, porém, havia uma dificuldade: sua mãe, viúva e pobre, não podia financiar
sua estadia no seminário. D. José Pereira Alves, bispo diocesano, contornou a situação. E
assim, "em 3 de fevereiro de 1922, ingressava no Seminário de São Pedro o menino caicoense
que, após 4 anos, concluía o curso de Seminário Menor". "Aluno laureado, ao lado do Santo
gênio, padre Monte, foi contemplado com uma bolsa de estudos para, em Roma, cursar
Filosofia e Teologia". Concluindo esses dois cursos, "doutorou-se, a seguir, em Direito
Canônico, pela universidade Gregoriana, ordenando-se padre no dia 15 de outubro de 1931,
na Capela do Pontifício Colégio Pio-Americano".

Voltou ao Brasil no dia 14 de agosto de 1932. Foi recebido com grandes festas, inclusive um
banquete, ao qual compareceram figuras expressivas da região. O ágape foi realizado na
Intendência de sua cidade. O novo sacerdote, inteligente e culto, assumiu o cargo de reitor
do Seminário de São Pedro, além de lecionar algumas disciplinas, como Teologia.
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A exemplo de grande número de intelectuais católicos de sua época, ingressou na Ação


Integralista Brasileira. Mais tarde, foi designado vigário de Acari, Freguesia de Nossa Senhora
da Guia e, depois, vigário de Caicó. Homem dinâmico, participou, ao lado de outros
seridoenses, de luta pela criação da Diocese de Caicó. Essa causa se tornou vitoriosa, com D.
José de Medeiros Delgado nomeado bispo de Caicó. Walfredo Gurgel assumiu a função de
vigário-geral.

Professor e sacerdote, Walfredo Gurgel se preocupou muito com a educação dos jovens do
Seridó. Batalhou então, pela construção de uma escola, a nível de primeiro grau, para os
meninos. Em 1942, o seu sonho se realizava, com a inauguração do Ginásio Diocesano.
Assumiu a sua direção e o ensino de algumas disciplinas. Incansável, fazia praticamente tudo,
como narra o seu biógrafo, Bianor Medeiros: "contador, administrador da obra em
andamento e, ainda, sobrava-lhe tempo para treinar os times de futebol, de vôlei e assistir
aos ensaios da banda de música, que organizava e que tinha, com regente, o querido e
estimado mestre Bedé".

Sendo um líder, era natural que um dia, mais cedo ou mais tarde, ele ingressasse na vida
política. Seguindo o mesmo caminho de um José Augusto de Medeiros e de um Dinarte de
Medeiros Mariz... Convidado por Georgino Avelino, foi para o Partido Social Democrático,
PSD. Dez parte do Diretório Regional do seu partido. Nessa legenda, conseguiu se eleger
deputado federal na Constituinte, ao lado de Dioclécio Duarte, José Varela e Mota Neto na
sua legenda.

Continuando sua carreira política, Walfredo Gurgel conseguiu se eleger vice-governador do


Estado, com Aluízio Alves, governador. Presidiu, nessa função, a Assembléia Legislativa
Estadual. Não chegou a concluir o seu mandato, porque após outra vitória nas urnas, chegou
ao Senado da República, com grande votação.

Sofreu críticas de alguns de seus adversários, que não compreenderam nem perdoavam o
seu êxito. Foi forçado a ir na tribuna do Senado, algumas vezes, para defender seus
correligionários: "Lamento mais uma vez, ser compelido a ocupar a tribuna do Senado para
tratar de assuntos regionais, mas às vezes, somos levados a isso - quando há tantos
problemas de ordem nacional que exigem a nossa palavra, que exigem o nosso esforço e a
nossa inteligência (...) A todos estimo, porque, mesmo sendo adversários políticos, são meu
amigos pessoais, meus companheiros nesta Casa, onde defendemos os interesses do povo e
devemos trabalhar, incessantemente, pela felicidade e grandeza de nossa pátria".Com essa
postura, conseguiu se impor ao respeito de todos.

Definia a política como algo transitório, que não justificava a intriga e o ódio. O importante
era conservar as amizades, porque elas sim deveriam ser duradouras. Disse Bianor Medeiros:
"A cada resposta que dava, a qualquer esclarecimento que prestava, a cada aparte que
recebia, sempre se erguia como verdadeiro estadista, diplomata, sereno e seguro".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Este era o perfil do senador Walfredo Gurgel. Aconteceu, entretanto, que o povo do Rio
Grande do Norte convocou Walfredo Gurgel para mais uma missão: governar o Estado. O seu
vice foi Clóvis Mota. Nessa nova missão, continuou agindo com a mesma serenidade e
honradez.

Após deixar o governo, realizou uma viagem de 45 dias ao continente europeu, visitando
vários países: Portugal, Alemanha, Espanha, Áustria, Inglaterra, etc. No dia 3 de outubro de
1971, foi constatado que Walfredo Gurgel sofria de câncer no pulmão, durante um exame
que fez no Instituto de Radiologia de Natal. Logo a seguir, agravou o seu estado de saúde,
falecendo no dia 3 de novembro de 1971, em Natal.

Sobre o velório e a partida do corpo para Caicó, Bianor Medeiros, seu biógrafo, narrou os
acontecimento da seguinte maneira: "Velado pelo povo o corpo do Monsenhor Walfredo
Gurgel permaneceu na câmara-ardente armada no saguão do primeiro andar do Palácio do
Governo durante toda a noite até às seis horas da manhã de ontem, quando foi transladado
para a Catedral Metropolitana".

"Em fila dupla o povo subiu até o saguão do Palácio para ver o monsenhor pela última vez e
rezar pela sua alma, entregue a Deus. A fila muitas vezes chegava até a Ulisses Caldas, e não
rara vezes dava volta pela praça Sete de Setembro.

"Todos os ex-secretários do governo do monsenhor estavam presentes. Na praça Sete de


Setembro, o povo permanecia silencioso, triste, enquanto algumas pessoas rezavam e outras
choravam (...) Exatamente às 5h50, o caixão fechado (...) A pé, acompanhado por uma
multidão enorme, o corpo é trasladado para a Catedral Metropolitana. Nas calçadas do
próprio Palácio e da Praça André de Albuquerque, o povo se comprime (...) A missa foi
celebrada por doze padres, à frente o arcebispo Dom Nivaldo Monte. Eram exatamente 6h05.
Silêncio profundo na igreja, somente quebrado por soluços de pessoas (muitas) que
choravam".

"Após a missa teve lutar a encomendação do corpo por Dom Nivaldo Monte, coadjuvado por
todos os vigários que concelebravam a missa. Às 7 horas o corpo é levado pelos auxiliares do
monsenhor Walfredo Gurgel até o carro fúnebre, já a esta altura a multidão era muito maior.
O povo chorava nas calçadas. Todos queriam ainda tocar no caixão. Todos queriam ver o
monsenhor pela última vez".

"Dezenas de carros foram acompanhando o cortejo, que foi precedido por um carro da rádio-
patrulha que, de sirena aberta, abria passagem para o féretro. Muitas pessoas foram até
Macaíba, de onde voltaram após o último adeus. E o corpo no monsenhor seguiu para ser
sepultado na sua cidade natal: Caicó".
História do Estado do Rio Grande do Norte

Governos Pós-1964
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Fontes:

Extraído de: CASCUDO, Câmara. História do Rio Grande do Norte. Disponível em:
http://www.ebah.com.br/content/ABAAABOWkAG/historia-rio-grande-norte. Acesso em set.
de 2016.

Extraído de: História do Rio Grande do Norte 1. Disponível em:


https://zdocs.com.br/doc/historia-do-rio-grande-do-norte-xrpq5999kqp2. Acesso em
outubro de 2021.

História do Rio Grande do Norte - Um Resumo. Disponível em:


http://historiarn.blogspot.com/2012/09/historia-do-rio-grande-do-norte-um.html. Acesso
em outubro de 2021.

Materiais complementares:

TRINDADE, S. L. B. História do Rio Grande do Norte. Disponível em:


https://memoria.ifrn.edu.br/handle/1044/1011. Acesso em outubro de 2021.

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