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O PAPEL DO STYLING DE MODA: PRODUÇÕES DE BELÉM DO


PARÁ E SÃO PAULO.

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Furtado, Bruno Sousa; Mestrando; Universidade de São Paulo,


bunofurtado@hotmail.com1
Kanamaru, Antônio Takao; Doutor; Universidade de São Paulo, kanamaru@usp.br
2

Resumo: De que forma o VW\OLQJ produz as imagens de moda nos editoriais de moda?
A curiosidade em entender como a imagem de moda é produzida pela perspectiva do
VW\OLQJ foi a motivação para o desenvolvimento deste trabalho. O objetivo é analisar a
produção da imagem de moda realizada por meio do VW\OLQJ nas cidades de Belém do
Pará e São Paulo. 
Palavra-chave: 6W\OLQJ de moda; SW\OLVW; Moda͘

Abstract: How does styling produce fashion images in fashion editorials? The curiosity
to understand how the fashion image is produced by the styling perspective was the
motivation for the development of this work. The objective is to analyze the production
of the fashion image performed through styling in the cities of Belém do Pará and São
Paulo.

Keywords: Fashion styling; stylist; fashion.


1 Graduado em Moda pela Universidade da Amazônia (UNAMA/2010) e licenciado em Artes Plásticas pela Universidade
Federal do Pará (UFPA/2012) e especialista em Moda, Arte e contemporaneidade pela Universidade Salvador
(UNIFACS/2017).
2
Professor com Licenciatura Plena em Educação Artística-Habilitado em Artes Plásticas pelo Instituto de Artes da
UNESP (1996). Doutor em Arquitetura e Urbanismo (Design) pela FAU/USP (2006). Mestre em Artes pelo IA/UNESP
(2000).
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Introdução
De que forma o VW\OLQJ produz as imagens de moda nos editoriais de
moda? A curiosidade em entender como a imagem de moda é produzida pela
perspectiva do VW\OLQJ foi a motivação para o desenvolvimento deste trabalho. O
objetivo é analisar a produção da imagem de moda realizada por meio do VW\OLQJ
nas cidades de Belém do Pará e São Paulo.
Para tanto, o método de pesquisa é qualitativo, o estudo é descritivo e o
procedimento técnico é mediante o levantamento de dados, como imagens de
moda, por meios digital e impresso.
Decidiu-se por fazer um recorte temporal para coletar imagens veiculadas
entre 2007 e 2010, possibilitando assim a análise de um retrato desse contexto.
Logo, pretende-se (i) identificar as produções de imagens de moda realizadas
por meio do VW\OLQJ, (ii) verificar as imagens de moda produzidas para revistas
especializadas e portfólios dos VW\OLVWV das cidades de Belém do Pará e São
Paulo, e (iii) refletir acerca das discussões pertinentes sobre estilos de vida
mediante o VW\OLQJ da imagem de moda.
Como alicerce teórico, parte-se dos eixos da imagem, da moda e da
sociologia de Durand (1988), Godart (2010) e de Façanha e Mesquita (2012). A
relevância da pesquisa é, portanto, trazer o VW\OLQJ de moda além do eixo
comercial do Rio-São Paulo, uma vez que analisa produções que retratam,
mediante a cultura do consumo, o estilo de vida dos belenenses e paulistas.
No sistema da Moda, o VW\OLVW é o profissional responsável pela
constituição da forma visual do corpo do indivíduo, escolhendo os acessórios e
roupas, advindos de critérios seletivos embasados numa abordagem teórico-
conceitual, que envolve a pesquisa em diversas e plurais referências:

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imagéticas, musicais, arquitetônicas, artísticas, estéticas, políticas, culturais,
dentre outras.

Cenário do Brasil no final dos anos 1980


O relevante na contextualização nacional é a chegada das revistas
especializadas, de que forma a revista se apresentou ao longo do século XX, os
veículos de propagação da imagem de moda, como foi absorvido pela sociedade
e quais os efeitos da informação de moda na população brasileira.
Segundo Durand (1988), as revistas de moda chegaram ao Brasil a partir
de 1874 da França, o nome era “A Estação”, as ilustrações das peças eram feitas
de litogravuras e traziam instruções do molde e as medidas, provavelmente com
padrões de corpo das francesas. Ao longo do século XX, as revistas abriram
espaço para trabalhos feitos por brasileiros e surgiram outras revistas como O
cruzeiro e Manchete.
Geralmente, o conteúdo das revistas de moda discorria sobre a
sociedade, o estilo de vida das famílias da alta sociedade, viagens realizadas,
etiqueta social, os eventos de renome no país, padrões de beleza advindos da
Europa e do Estados Unidos. De acordo com Durand (1988), os colunistas das
revistas descreviam a roupa das pessoas e indicavam a procedência e, às vezes,
o valor pago.
Além da revista, outro meio de propagação de moda e comportamento
nos anos oitenta do século XX é por meio da televisão. Segundo a análise de
Durand (1988):
Em um país onde são fracos os hábitos de leitura e onde a queda dos
salários compromete a vendagem de revistas e de ingressos de
cinema, a televisão acabou assumindo posição dominante entre os
meios de comunicação e os veículos publicitários (DURAND, 1988, p.
96).

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De tal modo, a televisão detinha contribuições favoráveis para se
popularizar, pois foi um meio de entretenimento fácil, rápido de consumir, rico
imageticamente, sortido de programas que atraia o gosto padrão do indivíduo,
poderia ser compartilhado no mesmo espaço (sala, cozinha, barzinhos,
academias e entre outros), possível de ver no mesmo horário que
telespectadores de outras localidades e gerador de conteúdos para debates em
grupos de pessoas.
Ao considerar a novela que era gravada e a produção do figurino
adequada com o momento da apresentação dos capítulos, os figurinistas
seguiam as temporadas de desfiles internacionais, pesquisavam as novidades
de comportamento da alta classe social e hábitos de vida para articularem com
a personalidade dos personagens.
Durand (1988, p.107) diz: “Quem insista em pensar em moda como um
processo linear de imposição de gosto das classes altas para as baixas, e dos
produtores aos consumidores, corre sério risco de anacronismo”. (DURAND,
1988, p. 107). De tal modo, o autor identifica a inversão de valores, considera
relevante o modo das pessoas de classes menos favorecidas e percebe o poder
de escolha do cliente.
Ele observa que ao longo do século XX a moda sofre uma movimentação
que reordenou o sistema. Considera que os países ricos perderam parte de seu
mercado interno, a relação fornecedor e cliente foi alterada, fazendo o
consumidor ter voz ativa na decisão de compra, supermercados abriram espaços
para venda de roupas, concorrendo com lojas de departamentos e houve uma
expansão de consumo, por meio do crescimento geográfico, amplitude da renda
social e profissionalização da mulher (DURAND, 1988).
Nas novas condições sobre o que o autor denomina de “vida moderna”,
ele posiciona a moda para um viés personalizado, o interesse é ordenado mais

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em torno do “eu”, inverteu o papel das tendências serem ditadas pela e para
elite. Constata-se que importante é a realidade de uma dada população, quais
comportamentos são empenhados, os hábitos praticados, como a estética é
criada para atender as necessidades do sujeito e, consequentemente, do corpo
social.
No período dos anos oitenta do século XX, a moda se apresentava pelo
viés de identificação do indivíduo, as relações que o sujeito tem com o meio, os
gostos pessoais comuns entre as pessoas e torna-se possível o
desenvolvimento de novos comportamentos por intermédio de diversas tribos
urbanas desprovidos do poderio financeiro. Durand (1988) analisa que a imagem
de moda:

Antes, fotografava-se a roupa, funcionando a manequim como um


cabide sem importância, resumindo-se o texto à indicação sumária de
cores e formas. Já hoje em dia é preciso associar moda e estilo de vida.
É assim que se põe em evidencia a harmonia entre roupa, acessórios,
penteados, postura corporal e “maneiras de ser” da manequim. Como
resultado, conclui uma jornalista do setor, “o que menos importa numa
foto de moda hoje em dia é o próprio vestido. (DURAND, José Carlos.
1988. P.126)

Em síntese, a fotografia de moda integra as mudanças que ocorreram com


o sistema, pois a associação de pertencimento da moda era concedida se o
sujeito usasse o produto à frente da massificação, fosse inserido no núcleo da
elite social, frequentasse costureiros específicos da alta sociedade, consumisse
o estilo de vida estadunidense e europeu, adquirisse peças com assinaturas de
estilistas exclusivos, reproduzisse o comportamento das classes mais
favorecidas etc.
Porém a moda se apropria de outros valores no período do século XX,
consequência das guerras mundiais, crises econômicas, movimentos sociais,
profissionalização da mulher, avanço da tecnologia, imigração de pessoas e

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velocidade de consumo no mercado. Sendo assim, para um produto se
diferenciar de outro na publicidade, eles tinham que passar um sentido, associar
ao estilo de vida que o público alvo se aproximasse (MIRANDA, 2008) e percebe-
se que o sistema de moda dispõe de profissionais que acompanham as
dinâmicas dos estilos dos indivíduos e procuram passar um olhar novo para o
produto, um deles é o VW\OLVW.

O VW\OLQJ de moda de Belém do Pará


O sW\OLQJdo belenense Vinícius Araújo realiza um trabalho para material
de portfólio, proporciona uma aproximação com o estilo de vida de sujeitos que
vivenciam o espaço da cidade (ver figura 1). Utilizam o ambiente público em seu
cotidiano, como praças, parques, pistas de corridas, VNDWHV e patinação.
Juntamente, absorvem e procriam comportamentos imbricados na dinâmica de
informações recorrentes de centros urbanos.
A produção das roupas e acessórios passam para o leitor uma atmosfera
urbana, de classes antes vistas como inferiores e sem valor estético. Nas cores
preto e cinza, a blusa de manga comprida e a saia JRGrtem uma padronagem
com grafismos que remetem a escritas e símbolos encontrados nos muros das
cidades, pulseiras com taxas pratas com referência ao público SXQN, usa gorro
que geralmente são usados para proteger do frio ou fazer um estilo VWUHHW e o
movimento da modelo que subverte o perfil de mulher reservada e unicamente
do lar.
A luz de Godart (2010), acredita-se que compreender a moda está
diretamente ligada a compreensão social. Desse modo, percebe-se que a
imagem de moda da mulher mudou ao longo do século XX e XXI, mediante a
força do movimento feminista, o ingresso da mulher no mercado de trabalho, a
luta pelos direitos iguais, o prazer em se vestir com a roupa que lhe convém e

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dentro outros. Na figura 1, pelo sW\OLQJde Araújo a modelo desempenha o novo
olhar da mulher na contemporaneidade.
Figura 3: Acervo do VW\OLVW Vinícius Araújo

Fonte: 6W\OLQJ de Vinícius Araújo para o VKRZURRP, 2010

Nesse viés, acredita-se que pensar na estética e articulação de elementos


visuais, vinculados com as aspirações e realidades de um grupo social, conduz
a observar a presença do VW\OLQJ de moda ao longo do trajeto mensurado por
Durand (1988), na produção das ilustrações em litogravuras nas primeiras
revistas de moda; nas equipes das revistas de moda; na criação do figurino para
as novelas televisivas; no olhar aguçado para os movimentos sociais; na
elaboração das tendências e reprodução, por meio das roupas e acessórios e do
estilo de vida do cotidiano.

O VW\OLQJ de moda de São Paulo


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A figura 2 com o VW\OLQJpaulista de Paulo Martinez, a imagem de moda é
produzida para um editorial que aborda o Rio de Janeiro e no geral têm
elementos do carnaval, como esplendores, penas, pedrarias, adornos de cabeça
e dentre outros.
Os elementos presentes na figura 2 são um ERG\e um adorno de cabeça.
Todavia, a ênfase está no ato da modelo, cuspindo água na boca do modelo, a
expressão da mulher com um olhar para o plano abaixo e do homem de prazer
em receber a água.
No contexto de carnaval brasileiro no editorial, percebe-se que o VW\OLQJ
de moda não posiciona a mulher como objeto sexual ou apela a sensualidade,
mas a ressignifica, o vestuário configurasse em uma interpretação de poderio
para mulher e coloca o homem como subalterno.
Figura 2: Editorial de moda “Rio Babilonia” p. 138-171.

Fonte: 6W\OLQJ de Paulo Martinez para revista FFWMag nº 5, 2007.

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De acordo com Godart (2010, p. 35): “a moda progride no espaço onde
as tradições regridem”. De tal modo, repensar o papel social da mulher por meio
da expressão das roupas e acessórios de forma que desvincule da mulher
unicamente a função de cuidar da casa, da família, procriação, servir o marido,
ser um objeto sexual e dentre outros.
Agrega-se a visão de Mesquita (2012), analisando que o profissional de
moda tem um conhecimento do sistema de moda, de comportamento e
comunicação. Nesse contexto, o sW\OLVW, precisa aprofundar a pesquisa no
assunto que será tratado para assim posicionar a roupa e os outros elementos,
a fim de potencializar o seu discurso.
Dessa maneira, o VW\OLVW de moda desenvolve um universo particular
vinculado ao estilo de vida do indivíduo, por meio das referências visuais
colocadas no PRRGERDUG, o veículo para qual está fazendo o trabalho, o assunto
explorado naquela edição em específico, as marcas que realizou a produção e
dentre outros.

Considerações Parciais
Por intermédio da análise de conteúdo no cenário de moda em Belém e
São Paulo, parcialmente, foram investigadas questões como: revistas
especializadas, o cenário do profissional, a presença de produtores, editores e
assistentes e as estéticas produzidas nas imagens de moda concebidas pelos
VW\OLVWVde cada cidade
Nesse viés, São Paulo comporta escritórios de revistas de moda
conhecidos nacionalmente e internacionalmente, um corpo de profissionais no
momento reduzido, devido as crises financeiras, relocação de algumas pessoas
para outras revistas da mesma editora e fechamento de algumas revistas, como
a Estilo em dezembro de 2017. Em Belém é escasso o número de revistas

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especializadas em moda no momento. Dessa forma, os VW\OLVWV desenvolvem
acervos para montar portfólios, divulgam para lojas, estimulando-as em realizar
editoriais de moda, produzem ERRNVde debutante e fazem o VW\OLQJ de cantoras
locais.
Em São Paulo, detectou-se que a equipe de editorial de moda é
organizada, cada profissional sabe o seu papel e as revistas tem nominações
próprias dos profissionais, exemplificando: na Revista Elle quem assina o editorial
é um editor de moda e um VW\OLVW, na revista FFWMag somente o editor de moda
ou, às vezes, um VW\OLVWe as demais revistas apresentam outras formatações.
Os sW\OLVWVde Belém exercem a própria função, além disso realizam cargos
de produção e edição de moda simultaneamente. Dependendo da carga de
trabalho, ele contrata assistentes que realizam tarefas de produção de moda.
Assim sendo, o profissional escolhe uma denominação para o melhor
entendimento do cliente e do público que consumirá a imagem de moda.
Quanto produção da imagem de moda, os sW\OLVWVde São Paulo criam por
meio das observações pessoais e pautas geradas em reuniões por uma equipe
de profissionais de diversos setores da revista. À visto disso, encontra-se uma
multiplicidade de assuntos levantados, assim se concebe um banco de propostas
que ficam guardadas para explorar em uma melhor ocasião. A frente, as pautas
propostas para se tornarem concretizadas precisam passar pela aprovação da
diretoria e saber se relaciona com a edição mensal. Dessa forma, pode-se perder
conteúdos que poderiam ser interessantes para o universo da moda.
Em Belém, os VW\OLVWV reúnem com os profissionais envolvidos, geralmente
fotógrafo, modelo e assistente, e com o cliente, por exemplo o lojista ou estilista
de uma marca de moda. Por consequência, a burocracia para ser aceita a
proposta de editorial de moda é menor, permite maior liberdade para criar e,
paralelamente, tem menos contribuições por via de olhares distintos.

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O sW\OLQJde moda da figura 1 e 2 tratam da mulher na contemporaneidade.
Dessa forma, percebe-se que além do profissional e os veículos de comunicação
de moda se importarem com o consumo dos produtos, eles agregam valores
sociais e culturais que façam o leitor refletir e identificar-se com o que está sendo
tratado.
A pesquisa ainda dispõe de tempo e um cronograma de atividades para
serem seguidos. Enfim, pretende-se realizar mais entrevistas semi-estruturadas,
coletar informações, participar de atividades juntamente com os profissionais nas
fotos para os editoriais de moda, coletar mais imagens advindas dos VW\OLVWVpara
contribuição relevante ao cenário da moda do Brasil, em específico São Paulo e
Belém do Pará, e que novos achados poderão surgir com os encaminhamentos
da pesquisa.

Referências

DURAND, José Carlos. Moda, luxo e economia. São Paulo: Babel Cultural,
1988.

FAÇANHA, Astrid. Projeto laboratorial em criação de imagem. Styling e


criação de imagem de moda. São Paulo. Editora SENAC São Paulo, 2012.

FRANGE, Cristina. Styling: mapeando território. Styling e criação de imagem de


moda. São Paulo. Editora SENAC São Paulo, 2012.

GODART, Frederic. Sociologia da Moda. Trad. Lea P. Zylberlicht. São Paulo.


Editora Senac São Paulo, 2010

MARTINEZ, Paulo.Editorial Rio Babilônia. Revista FFWMag. São Paulo, n. 5, p.


138-171, 2007.

MESQUITA, Cristiane. Para além do design: styling e criação de imagem de


moda. Styling e criação de imagem de moda. São Paulo. Editora SENAC São
Paulo, 2012.
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LEEDY, Paul D. Pratical research: planning and design: a basic text for all
courses in research methodology/. Macmillan publishing company, 1989.

MARTINEZ, Paulo.Rio Babilônia. Revista FFWMag. São Paulo, n. 5, p. 138-171,


2007.

MCASSEY, Jacqueline. Styling de moda. Tradução: Mariana Bandarra. Porto


Alegre: Bookman, 2013.

MIRANDA, Ana Paula de. Consumo de moda: a relação pessoa-objeto. São


Paulo. Estação das Letras e cores, 2008

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