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O Vaticano Subversivo

Sínodo da Amazônia discute a partir deste domingo, questões referentes à atuação católica na
região.

Neste domingo (06) foi iniciado o Sínodo da


Amazônia, evento que conta com
aproximadamente 250 participantes, dentre
eles, bispos, líderes de comunidades cristãs,
representantes de interesses da população, e
especialistas. O evento irá seguir até o dia
27/10, e serve como um instrumento de
consulta pelo qual o papa pode ter acesso a
opiniões e colocações de diversos setores, e a
partir disto, elaborar a exortação apostólica,
documento que define diretrizes de atuação ao
clero.
O Sínodo da Amazônia, é uma reunião que
debate sobre temas pertinentes a igreja
católica, sejam eles mais comuns, ou até
considerados subversivos como é o caso do
sínodo em vigor, que pretende discutir sobre a
participação de mulheres nas decisões, a
aceitação de homens casados como sacerdotes, a introdução de costumes e
cultura indígena na igreja católica e no processo de catequização, entre outros.
De acordo com o site G1, a reunião foca no posicionamento da igreja católica,
que por vezes assume a assistência social de populações indígenas, pela falta
de políticas públicas específicas para este grupo.

Neste ano, o Sínodo que foi convocado em outubro de 2017, trás a questão
amazônica como central e urgente, assim como formas de colaboração a
questão de desapropriação de povos indígenas a suas terras, devido aos
últimos acontecimentos de agosto, envolvendo grandes incêndios neste
ecossistema significativo para a cultura, a fauna e a flora brasileira.
Segundo o site da organização WWF - Brasil, em agosto de 2019 na Amazônia
brasileira, foi queimada uma área de aproximadamente 24.994 km², área esta,
que equivale a quatro vezes a área registrada em 2018, que era de
aproximadamente 6.048 km².
A organização, ainda destaca que “Ao longo de 2019, a área total da Amazônia
destruída por incêndios é estimada em cerca de 43.753 km². No mesmo
período, em 2018, foram queimados 17.553 km², o que representa um aumento
de quase 150% neste ano.”

Realizado o documento de exortação católica, o Sínodo pode vir a criar muitas


polêmicas, visto que o governo brasileiro presidido por Jair Messias Bolsonaro,
vem apresentando resistência a reunião e seus propósitos de discussão.
Desde a catástrofe envolvendo os incêndios deste ano, o governo de
Bolsonaro tem mantido uma posição de não aceitação ou aceitação parcial de
auxílio a reconstrução de áreas amazônicas deterioradas pelos incêndios.
Apesar de ser uma reunião de caráter católico, o Sínodo não obtém apoio de
toda a comunidade cristã. Segundo o portal Reuters, alguns conservadores da
igreja católica destacam o Sínodo como “Um reconhecimento implícito de
formas de paganismo e panteísmo praticadas por povos indígenas, como o
culto à natureza.”
Na ultima semana de setembro, um grupo de aproximadamente 200
conservadores se reuniram próximo ao Vaticano, e oraram em silêncio na
intenção de formar um exército contra os “Inimigos de Deus e da Igreja”,
segundo comunicado expedido pelos mesmos.
O cardeal Walter Brandmueller se posicionou escrevendo que “O sínodo
poderia marcar a autodestruição da Igreja ou sua transformação do corpo
místico de Cristo em uma ONG secular com um mandato ecológico-social-
psicológico.”

Já é um fato observável o empenho do governo de Jair Bolsonaro em atacar a


reunião. Em entrevista concedida no Palácio do Planalto nesta segunda-feira
(07), Jair Bolsonaro defendeu que “O fogo na Amazônia é um problema do
mundo”, e ainda salientou “Gente nossa tem conversado com quem vai
participar do sínodo, eles têm o direito de discutir o que bem entendem, mas
que nós a partir do momento que poderia ser uma posição da Igreja católica,
tem que deixar bem claro que pode ser a posição de alguns e não de todos
(sic) ou de toda uma religião.”
Tal afirmação, nos leva ao desentendimento entre Jair Bolsonaro e o
presidente da França Emmanuel Macron, ocorrido este ano após reuniões da
cúpula do G7. As trocas de farpas começaram após Macron demonstrar em
reunião, suas preocupações acerca dos incêndios na região amazônica, e
acusar o presidente Jair Bolsonaro de mentir em seu discursos no G20 de
Osaka, sobre medidas de preservação do meio- ambiente.

Na reunião da Cúpula do Clima da ONU deste ano, a jovem de 16 anos Greta


Thunbgerg, diagnosticada com Síndrome de Asperger, TDAH, transtorno
obsessivo-compulsivo e mutismo seletivo, discursou sobre a questão climática,
emocionando muito dos presentes. Em defesa do meio ambiente, Greta chocou
ao colocar que “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas
palavras vazias”, e que “Para nós autistas, quase tudo é preto e branco.
Normalmente não mentimos e não gostamos de participar de jogos sociais, que
parecem tão atraentes à maioria de vocês.”
Após este acontecimento, o tema tornou-se muito mais popular levantando o
questionamento do quanto a população brasileira e os interesses econômicos
na região amazônica, estão contribuindo para questões climáticas que podem
vir a acelerar o processo de aquecimento global e destruição de ecossistemas
cruciais para o desenvolvimento humano.
Matéria de: Kenia Mattos
Foto: Colagem da artista Mavi Morais

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