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FÉ COM OBRAS: A IGREJA EVANGÉLICA DA AMÉRICA LATINA E O

PACTO DE LAUSANNE

Kelly Barreto Videira Chaves


Universidade Salgado de Oliveira
kvchaves@gmail.com

Resumo

Nosso objeto de estudo é a participação dos teólogos latino-americanos Orlando Costas,


Samuel Escobar e René Padilla no Primeiro Congresso Internacional de Evangelização
Mundial organizado pela Associação Evangelística Billy Graham, na cidade suíça de
Lausanne, em 1974. Um novo fazer missionário que considerasse a salvação não apenas
da alma, mas também do corpo, foi a proposta dos representantes latinos que discutiu a
relevância da justiça social na prática do evangelismo cristão, criticou as formas
americanas de evangelismo que enfatizavam o crescimento numérico de convertidos e
conclamou a igreja evangélica a se posicionar para o enfrentamento das injustiças sociais.
Nosso objetivo é analisar a contribuição efetiva da pauta latino-americana na elaboração
do Pacto de Lausanne. As fontes utilizadas serão o Pacto de Lausanne, os documentos
dos Congressos Latino-Americanos de Evangelização-CLADES II e III e da Fraternidade
Teológica Latino-Americana – FTL.

Introdução

Este artigo é parte de uma pesquisa de doutorado, em fase inicial, que investiga a
compreensão das igrejas evangélicas sobre a conciliação entre fé e as obras. No presente
trabalho o objetivo principal é analisar a participação dos teólogos latino-americanos no
Primeiro Congresso de Evangelização Mundial, realizado na cidade suíça de Lausanne,
em 1974, enquanto colaboradores fundamentais da reflexão sobre o posicionamento
cristão contra as injustiças sociais, tanto através das suas palestras proferidas no evento
quanto na elaboração do compromisso Pacto de Lausanne, que é o documento final do
Congresso.
Iniciaremos esta análise apresentando o Primeiro Congresso de Evangelização
Mundial, o Pacto de Lausanne-PL e o perfil dos teólogos latino-americanos que
proferiram palestras e participaram ativamente da construção do PL. Posteriormente,
analisaremos os Congressos Latino-Americanos de Evangelização-CLADES e a criação
da Fraternidade Teológica latino-americana enquanto locais que enriqueceram a
experiência cristã dos teólogos latino-americanos estudados e por fim concluiremos nossa
análise enfatizando a contribuição da participação deles na construção do documento final
do Congresso, o Pacto de Lausanne.

O referencial teórico-metodológico adotado é materialismo histórico-dialético,


uma vez que nossa pesquisa buscará as contradições, as mediações simbólicas, culturais
e socioeconômicas na implementação dos ideais do Pacto de Lausanne sobre a missão da
igreja. As principais fontes a serem trabalhadas são o Pacto de Lausanne, as palestras
publicadas do congresso de Lausanne, além de livros publicados pelos palestrantes latino-
americanos que participaram.

Primeiro Congresso Mundial de Evangelização e o Pacto de Lausanne

Fé e obras foram os princípios norteadores das discussões das igrejas cristãs


evangélicas que participaram do Primeiro Congresso Internacional de Evangelização
Mundial, realizado de 16 a 24 de julho de 1974, na cidade suíça de Lausanne, sob o lema
principal: O evangelho todo, para o homem todo, pelo mundo todo.

O evento contou com mais de 2400 participantes de mais de 250 países, além de
observadores e inúmeros jornalistas. Em razão da complexa reunião de nacionalidades,
etnias, idades, ocupações e denominações evangélicas representadas, a revista TIME
considerou-o como um "fórum formidável, possivelmente a reunião mais abrangente de
cristãos já realizada" (PADILLA, 2012, p. 6).
A Associação Evangelística Billy Graham foi a idealizadora do Primeiro
Congresso Mundial de Evangelização em Lausanne e já o planejava desde 1966, quando
organizou o Congresso Mundial para a Evangelização em Berlim e percebeu a
necessidade de realizar um novo evento global, mais amplo e diversificado com o objetivo
de reorganizar a missão evangelística num mundo em constantes transformações
políticas, econômicas, intelectuais e religiosas.

Billy Graham acreditava que a igreja evangélica deveria pregar o Evangelho de


modo contextualizado à sua época e trabalhar para compreender as ideias e valores por
trás das mudanças na sociedade. A Associação Evangelística Billy Graham representava
o fundamentalismo evangélico norte-americano que entendia que a evangelização tinha
por objetivo o crescimento numérico das igrejas.

Billy Graham uniu-se a John Robert Walmsley Stott para a realização e


organização do Congresso Mundial em 1974.

A figura-chave na convocação do congresso foi o evangelista americano Billy


Graham. Ele foi habilmente assistido por John R. W. Stott, um ministro do
evangelho e pensador inglês que já vinha trabalhando por mais de vinte e cinco
anos no fortalecimento do testemunho evangelístico da Igreja Anglicana
(NOLL, 2012, p. 297).

John Stott foi o responsável pela construção do documento final do Congresso em


Lausanne juntamente com um comitê internacional com participantes do evento. O Pacto
de Lausanne-PL consolidou as discussões do Congresso sobre a missão da igreja e passou
a nortear as decisões para evangelização (STOTT, 1984).

O PL prevê que o evangelho deve ser levado para todas as culturas sem
vinculações ideológicas ou políticas entendendo que a evangelização precisa ser neutra
no que diz respeito às diferentes ideologias produzidas pelos diferentes grupos da
sociedade civil.
A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral
ao mundo todo. [...] A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que
uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em
particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias
humanas (STOTT, 1984, p2).

É interessante observarmos que o PL não prevê vinculação da Igreja com


determinados grupos sociais, assumindo uma posição de neutralidade que supostamente
direcionaram suas posições adotadas independentemente de quem seriam os
patrocinadores dos demais congressos organizados para discutir a posição da igreja
protestante em relação à responsabilidade social e à evangelização mundial.

O Pacto de Lausanne-PL é considerado um dos documentos mais significativos


da história moderna da igreja protestante. Nele são anunciadas as novas diretrizes para
que a igreja protestante leve evangelho integral ao mundo todo, com destaque para a
responsabilidade social e a evangelização com vistas a direcionar o envolvimento sócio-
político e o anúncio do evangelho de Cristo, ambos considerados dever de todo o cristão
e expressão das doutrinas sobre Deus e o homem, sobre o amor ao próximo e a obediência
a Jesus Cristo (STOTT, 1984).

Escobar (2019) comenta sobre os embates para a construção da versão final do


Pacto de Lausanne.

Este renovado sentido de urgência leva a propor um novo estilo de vida em


umas linhas do Pacto que foram muito debatidas antes de chegar ao texto
final. “Não podemos esperar atingir esse alvo sem sacrifício. Todos nós
estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e conturbados pelas
injustiças que a provocam”. Vários líderes que tinham acesso ao comitê de
redação do Pacto insistiam para que deixássemos de fora a expressão
“conturbados pelas injustiças que a provocam”. Para eles, era bom que se
falasse da pobreza, mas não que fosse relacionada com a injustiça. O parágrafo
termina com uma proposta de mudança: “Aqueles dentre nós que vivem em
meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida
simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os
necessitados como para a evangelização deles” (ESCOBAR, 2019, página
inicial).
Alguns membros do comitê para a redação do Pacto de Lausanne pressionavam
por um foco exclusivo na evangelização, outros eram a favor de uma abordagem mais
integral e holística. O comitê concordou com o objetivo geral de "promover a missão
global da Igreja, reconhecendo que nesta missão o evangelismo é primário, e que a
preocupação especial deveria ser os então 2,7 bilhões de pessoas não alcançadas do
mundo”. Apesar da evangelização ser considerada prioritária o Pacto registrou
importantes avanços para o posicionamento evangélico sobre as desigualdades sociais.

Segundo Padilla (2012, p. 10), “Com este pacto os evangélicos se posicionaram


contra um evangelho mutilado e um conceito limitado de missão cristã”. O Pacto de
Lausanne ultrapassou os compromissos evangélicos tradicionais como: a autoridade da
bíblia, a singularidade de Cristo e a necessidade de evangelização, todos confirmados
pelo Congresso, ao associar a responsabilidade social e política como um aspecto
essencial da missão cristã. Segue um importante trecho que foi aprovado sobre a
necessidade do envolvimento político-social do cristão.

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto,


devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a
sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão.
Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção
de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade
intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui
também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes
considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas.
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem
a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que
a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso
dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas
acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa
obediência a Jesus Cristo (STOTT, 1984, p. 4).

Para dar continuidade às discussões e promover de forma global os objetivos do


Pacto de Lausanne foi criada a Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial
denominada Movimento de Lausanne que continua atuante.
Teólogos latino-americanos

O Movimento de Lausanne considera que a participação dos teólogos latino-


americanos Samuel Escobar, Orlando Costas e René Padilla proporcionou maior destaque
para a questão da justiça social nas decisões sobre o planejamento das ações missionárias
e acredita que os teólogos provocaram uma mudança de paradigmas no pensamento
evangélico ao difundir a missão holística ou integral, que considera o evangelho todo,
para todo o homem e o homem todo.

Carlos Caldas Orlando Enrique Costas (1942-1987), mais conhecido como


Orlando Costas, de origem porto-riquenha, viveu até os 45 anos quando foi vítima de um
câncer. A morte precoce deixou inacabado o seu propósito pastoral e teológico. Manteve
um diálogo ecumênico associado à agenda política, social, econômica e religiosa da
América Latina.

Samuel Escobar é peruano, missiólogo batista e fundador da FTL-Fraternidade


Teológica Latino-Americana, mestre em artes e educação pela Universidade de São Marcos,
em Lima e doutor em filosofia (Ph.D.) pela Universidade Complutense de Madri. Foi membro
efetivo do Congresso de Lausanne e palestrante.

René Padilla é um dos teólogos e pensadores protestantes latino-americanos mais


conhecidos em todo o mundo, nascido no Equador e residente na Argentina é fundador
da FTL-Fraternidade Teológica Latino-Americana e da Rede Miqueias, é bacharel em
filosofia, mestre em teologia pelo Wheaton College, EUA, e doutor em Novo Testamento pela
Universidade de Manchester, na Inglaterra.

Samuel Escobar (2019) comenta sobre a sua palestra e a de Padilla como


polêmicas em Lausanne pelos seguintes motivos

Como bem se sabe, em Lausanne 1974, a palestra de René Padilla e a deste


servidor causaram muita polêmica. No caso de René, porque partindo do
próprio conteúdo do evangelho fazia uma crítica severa à equiparação entre
evangelho e cultura estadunidense ou “American way of life” e propunha um
regresso ao conteúdo bíblico da boa nova do evangelho. No meu caso, porque
propunha que no processo evangelizador se levasse a sério a busca humana de
liberdade, justiça e realização (ESCOBAR, 2019, página inicial, grifo do
autor).

Padilla (2012) explica que sua palestra foi uma resposta aos diversos
questionamentos que chegaram a ele de cristãos de diferentes partes do mundo. Segue um
trecho de sua palestra proferida no congresso em Lausanne e publicada posteriormente.

O amor de Deus expresso na cruz precisa tornar-se visível no mundo por meio
da igreja. A evidência da vida eterna não é a mera confissão de Jesus Cristo
como Senhor, mas “a fé que atua pelo amor” (Gl 5.6). Jesus disse: “Nem todo
o que me diz: Senhor! Senhor! Entrará no reino dos céus, mas aquele que faz
a vontade de meu pai que está nos céus” (Mt 7.21). À luz do ensinamento
bíblico não há lugar para uma “ultramundanalidade” que não redunde em um
compromisso do ser humano com seu próximo, enraizado no evangelho. Não
há lugar para a “paralisia escatológica” nem para a “greve social”. Não há lugar
para estatísticas sobre “quantos morrem sem Cristo a cada minuto” - se elas
não considerarem quantos dos que assim morrem são vítimas da fome. Não há
lugar para a evangelização que ao passar junto ao homem que foi assaltado
pelos ladrões enquanto descia pelo caminho de Jerusalém a Jericó, vê nele uma
alma que deve salvar-se mas ignora. “Meus irmãos, qual é o proveito, se
alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé pode
salvá-lo? (PADILLA, 2012, p. 65, grifo do autor).

A luta por um evangelho que conciliasse a fé e a responsabilidade social da igreja


evangélica ficou evidente nas palestras proferidas por René Padilla: “A Evangelização e
o compromisso com o Mundo” e por Samuel Escobar “A Evangelização e a busca de
liberdade, de justiça e de realização pelo homem” e na contribuição deles à redação final
do Pacto de Lausanne sob a direção de John Stott.

Padilla (2012) entende que a missão dos cristãos não pode ser reduzida apenas à
multiplicação de membros e templos, (posição defendida pela organizadora do evento, a
associação Billy Graham), mas que deve se ocupar da preocupação de Deus a favor da
justiça através da evangelização, ação social e política lutando contra toda forma de
alienação, opressão e discriminação.

Nessa mesma linha argumentativa, um grupo de cerca de 500 delegados


pressionaram o comitê internacional que discutia a redação final do Pacto de Lausanne
do Congresso Mundial de 1974 para que constasse no Pacto de Lausanne as proposições
sobre a luta contra as injustiças sociais.

A crítica ao crescimento numérico ficou registrada no Pacto de Lausanne:


“Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico
da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos
crentes. ” (STOTT, 1984, p. 5).

CLADES e a FTL - Fraternidade Teológica Latino-Americana

O primeiro Congresso Latino-Americano de Evangelização-CLADE I, (Bogotá,


1969) foi organizado pela Associação Evangelística Billy Graham e sua principal
discussão foi a prática da fé evangélica com a realidade latino-americana.

Existia o convencimento de que fazia falta um ponto de encontro que


permitisse aos evangélicos pensantes entender melhor o Evangelho e sua
pertinência ante a crítica situação de nossos países. Havia um desejo de unir-
se e ajudar-se mutuamente a escutar com clareza a voz do Espírito Santo para
seu povo na América Latina. Não nos sentíamos representados pela teologia
elaborada na América do Norte e imposta através de seminários e institutos
bíblicos dos evangélicos conservadores, cujos programas e literatura eram
tradução servil e repetitiva, forjada em uma situação totalmente estranha à
nossa. Tampouco nos sentíamos representados pela teologia elitista dos
protestantes ecumênicos, geralmente calcada em moldes europeus e distante
do espírito evangelizador e das convicções fundamentais das igrejas
evangélicas majoritárias do continente americano (ESCOBAR, 1995, p. 16).

No CLADE I foi articulada a criação da FTL - Fraternidade Teológica Latino-


Americana, criada no ano seguinte (Bolívia, 1970) teve por membros fundadores: René
Padilla, Samuel Escobar, Orlando E. Costas, Rolando Gutiérrez Cortés, Sidney Rooy,
entre outros.

Desde o primeiro momento, a FTL procurou ser uma plataforma de encontro e


diálogo teológico da qual participassem pastores, missionários e pensadores
evangélicos, dentro do marco evangélico de uma lealdade comum à autoridade
bíblica e à fé evangélica como base da reflexão e de um compromisso ativo
com o cumprimento da missão cristã (ESCOBAR, 1999, p 20-22).

Os CLADES posteriores foram organizados pela Fraternidade Teológica Latino-


Americana: CLADE II (Lima, 1979), CLADE III (Quito, 1992), CLADE IV (Equador,
2000) e CLADE V (Costa Rica, 2012).

A experiência com o CLADE I e com a FTL antes do Congresso Mundial de 1974


em Lausanne, permitiu aos teólogos latino-americanos amplo conhecimento sobre a
necessária conciliação entre Evangelho e luta contra as injustiças sociais.

O CLADE I e a FTL contribuíram para que Orlando Costas consolidasse o seu


projeto pastoral através de um posicionamento mais crítico a partir de uma visão mais
latino-americana de missão. Costas também se posicionou contra o crescimento numérico
das igrejas e membros e a favor de uma teoria de crescimento integral para a igreja
evangélica latino-americana. Essa reflexão foi registrada nos livros: Hacia una Teologia
de La Evangelizacion e Que significa evangelizar hoy? Ambos escritos em 1970 e
publicados em 1973 (LONGUINI NETO, 2002).

Conclusão

O objetivo deste artigo foi analisar a contribuição dos teólogos latino-americanos


no Primeiro Congresso Mundial de Evangelização organizado pela Associação Billy
Graham, em 1974, na cidade suíça de Lausanne. Identificamos, por um lado, que a
organizadora do evento representava os evangélicos que entendiam que deveriam dar
ênfase ao crescimento numérico de templos e membros das missões evangelísticas. Por
outro lado, percebemos que os teólogos latino-americanos, Orlando Costas, René Padilla
e Samuel Escobar possuíam uma vasta experiência em crescente desenvolvimento,
através de inúmeros espaços de discussões teológicas específicos da América Latina,
como os CLADES e a FTL, de entender a missão integral que considera o evangelho todo,
para todo o homem e o homem todo, ou seja, o ser humano por completo e não apenas o
caráter quantitativo.

Essa divergência de entendimentos sobre a missão da igreja em suas ações


evangelísticas provocou alguns embates conceituais nos espaços de discussões do
Congresso em Lausanne. Samuel Escobar (1984, p. 172) chamou a atenção ao procurar
sensibilizar o público através da palestra A Evangelização e a Busca de Liberdade, de
Justiça e de Realização pelo Homem para a concentração da riqueza nas mãos de uma
minoria privilegiada com amplo acesso à alimentos e a condições sanitárias em
contraposição a uma grande maioria sem acesso aos meios básicos de sobrevivência. A
preocupação de Samuel Escobar com os mais pobres representa a pauta das discussões
evangélicas na América Latina na década de 1970.

As palestras de Padilla e Escobar desencadearam polêmicas num ambiente


complexo como o do congresso mundial, com mais de 2400 participantes de diversos
países e com ideias divergentes sobre quais seriam as preocupações mais importantes da
igreja evangélica ao fazer missões. Os representantes latino-americanos propuseram que
no processo evangelizador a prioridade fosse a busca humana de liberdade e justiça para
aliviar os necessitados, além de evangelizá-los. Criticaram duramente os que defendiam
relacionar o evangelho com o modo americano de viver.

Houve receptividade em Lausanne para a pauta de retorno a dimensão social do


Evangelho contra a ideia de missão para fins de crescimento numérico das igrejas
evangélicas, apesar de toda a pressão dos setores mais conservadores, especialmente
ligados aos norte-americanos.

Consideramos a participação do pensamento dos teólogos latino-americanos em


Lausanne um diferencial na construção do documento final do congresso, o Pacto de
Lausanne, pois participantes mais conservadores até aceitavam falar sobre o pobre desde
que não relacionasse a causa da pobreza com as injustiças que a provocam (ESCOBAR,
2014).
A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda
forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo
de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas
recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só
evidenciar, mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo
injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na
totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é
morta (STOTT, 1984, p. 4).

Isso posto, temos a dizer que no Pacto de Lausanne ficou registrado por influência
latino-americana que o cristão deve denunciar a injustiça que existe no mundo como parte
de sua missão.

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