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Missão Integral
Agradecimentos
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
Sumário
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
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Introdução – Servir a Deus no Mundo:
Uma Releitura do Pacto de Lausanne
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Esse era o termo para descrever as nações em desenvolvimento na época,
abandonado somente na década passada.
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
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Responsabilidade Social Cristã
O Pacto de Lausanne está dividido em 15 seções, além de um
breve texto introdutório. Como ouvi de Ziel Machado, então, secretário
da Aliança Internacional de Estudantes Evangélicos, no Brasil, Aliança
Bíblica Universitária (ABU), “Missão Integral é uma resposta missiológica
a partir do Reino de Deus”, assim, o pacto é uma proposta de
evangelização que tem como ponto de partida as demandas dos opri-
midos, a partir de uma dada compreensão do Reino de Deus. Vejamos
a quinta seção, “Responsabilidade Social Cristã”, que diz:
Afirmamos que Deus é o Criador e Juiz de todos os
homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse
pela justiça e pela reconciliação em toda a sociedade
humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de
opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem e
semelhança de Deus, toda pessoa, sem distinção de
raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade
possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve
ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui tam-
bém nos arrependemos da nossa negligência e de ter-
mos algumas vezes considerado a evangelização e a
ação social mutuamente excludentes. Embora a recon-
ciliação com o homem não seja reconciliação com Deus,
nem a ação social evangelização, nem a liberação po-
lítica salvação, afirmamos que a evangelização e o
envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso
dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões
de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, do
nosso amor pelo próximo e da nossa obediência a Je-
sus Cristo. A mensagem da salvação implica também
uma mensagem de juízo sobre toda forma de aliena-
ção, de opressão e de discriminação, e não devemos
ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer
que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nas-
cem de novo em seu reino e devem procurar não só
evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em
meio a um mundo. A salvação que alegamos possuir
deve nos transformar na totalidade de nossas respon-
sabilidades pessoal e social. A fé sem obras é morta.
O texto acima ecoa a pregação de João Batista, repetida por
Jesus no início do seu ministério: “Daí por diante, passou Jesus a pre-
gar e a dizer: ‘Arrependei-vos, porque está próximo o reino de Deus”
(Mt 4:17). É preciso fazer uma distinção entre o que João Batista que-
ria dizer com essa frase e o significado que ela ganhou na boca do
Nazareno. Para o primeiro, significava a vinda do Messias e seu reino;
na prédica de Jesus, se referia não apenas à sua própria chegada,
como o enviado de Deus, mas ao surgimento de um novo povo e um
novo reino. Embora sutil, a diferença entre os dois significados tem
conseqüências diversas. João Batista anunciava o arrependimento como
preparação para receber o Reino de Deus. Em Jesus, anunciava-se a
inauguração de um novo tempo e um novo desfecho para a história da
humanidade. O que vem, então, a ser o Reino de Deus? Para os con-
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Ariovaldo Ramos
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temporâneos de Jesus, significava a chegada do Messias prometido
pelos profetas e a libertação de Israel do jugo estrangeiro e o conse-
qüente domínio global da nação de Israel.
O Reino, entretanto, não veio segundo as expectativas vigen-
tes, o Messias não era um general era um sacrifício e o seu Reino, mais
do que uma ação que toca a política, é uma nova consciência, uma
nova maneira de existir como indivíduo e como humanidade. Vamos
dar uma passada d’olhos no texto que, provavelmente, alimentou os
sonhos daquele povo, porém, procurando por outros caminhos de com-
preensão:
O senhor [o rei] teve uma visão na qual viu uma está-
tua enorme, de pé, bem na sua frente. A estátua era
brilhante, mas metia medo. A cabeça era de ouro puro,
o peito e os braços eram de prata, a barriga e os qua-
dris eram de bronze, as pernas eram de ferro, e os
pés eram metade de ferro e metade de barro. Enquan-
to o senhor estava olhando, uma pedra se soltou de
uma montanha, sem que ninguém a tivesse empurra-
do. A pedra caiu em cima dos pés da estátua e os
despedaçou. Imediatamente, o ferro, o barro, o bron-
ze, a prata e o ouro virara pó [...] O vento levou tudo
embora, sem deixar nenhum sinal. Mas a pedra cres-
ceu e se tornou uma grande montanha, que cobriu o
mundo inteiro. (Dn 2:31-35)
Na interpretação mais comum, a estátua representa a suces-
são dos reinos na história, que teve início com o domínio dos babilônios,
que foram sucedidos pelos medo-persas, e estes pelos gregos, até
chegar ao Império Romano. Este se dividiu, por fim, em nações fortes
e fracas. E a pedra? Ela representa o Reino de Deus, cujo poder jamais
se extinguiria:
“No tempo desses reis, o Deus do céu fará aparecer um
reino que nunca será destruído, nem será conquistado
por outro reino. Pelo contrário, esse reino acabará com
todos os outro e durará para sempre” (v. 44).
De que modo podemos entender essa narrativa? É possível ver
na estátua as sucessivas tentativas humanas de resolver as contradi-
ções da história sem levar em conta os desígnios divinos e, na pedra, a
resposta de Deus para a superação dos dilemas humanos.
Parece não haver muita dúvida quanto ao fato de que, a visão
de Nabucodonosor fala de uma sucessão na história. Não só fala dessa
seqüencialidade, como apresenta um conceito progressivo de história,
um certo propósito na mesma, o conceito de que a história caminha
numa espécie de espiral que avança, mais do que numa linearidade
simples, porque o encadeamento apresentado aponta, até a abrupta
chegada da pedra, para mais do mesmo.
A história, entretanto, tem conteúdo, naquele sonho está de-
senhado todo o caminho da humanidade e, mais que mero rodízio de
reinos, numa dança cruel sob o signo da opressão, onde há troca de
pares, mas não de lógica, está contida todas as tentativas da humani-
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dade o nosso dilema, e está contido em duas versões: a da estátua e a
da pedra. A estátua é a versão que ignora Deus na busca de soluções,
e a pedra é a que apresenta Deus a fonte das possíveis soluções.
O nosso dilema pode ser sintetizado nas três perguntas que
têm norteado toda a nossa produção, em todos os campos do conhe-
cimento: Quem somos nós (de onde viemos, por que e para que)? Que
fazemos com a riqueza que retiramos do planeta? Como fazemos para
viver juntos?
Na versão estátua, para responder a primeira pergunta, propu-
semos um sem número de filosofias e criamos a mesma magnitude de
religiões, contudo, não conseguimos nos livrar do vazio existencial, do
desespero e do suicídio. Já, como resposta para a questão sobre a
riqueza, tentamos de tudo, desde o escambo (a simples troca de mer-
cadorias) até a moderna sociedade de consumo, passando por várias
tentativas de socialismo, e não conseguimos nos livrar da fome, da
miséria, da exploração do homem pelo homem, da injustiça social. E,
na busca de solucionar a terceira questão, caminhamos desde o clã
primitivo até as sociedades democráticas mais desenvolvidas, passan-
do por vários modelos de sociedade, e não conseguimos nos livrar da
guerra, da violência urbana, do homicídio.
Na versão pedra, a resposta para a primeira questão afirma
que somos de Deus criaturas, sua imagem, que nele vivemos, que sua
vontade é o padrão de normalidade do universo, e que é nessa pers-
pectiva que devemos viver, tendo a Jesus de Nazaré como exemplo;
esta vida, entretanto, só é possível por meio do reconhecimento do
sacrifício de Cristo, numa aliança com ele, sob a habitação e condução
do Espírito Santo. A segunda questão é respondida pela evocação do
termo solidariedade como responsabilidade pelo outro, que lhe reco-
nhece o mesmo direito à dignidade, o que provoca a partilha, de modo
que ninguém detenha duas túnicas, como disse João Batista, enquan-
to todos não tiverem, pelo menos, uma, de maneira que quem colheu
demais não acumule para esbanjamento, para que, o que colheu de
menos não passe por necessidade, que o trabalhador seja o primeiro a
participar do fruto de seu trabalho, da mesma forma que o boi deve ser
o primeiro a comer do trigo que debulha; enfim, o trabalho e o seu
resultado deve ser de todos e para todos. Como solução para a terceira
questão, o proposto é a fraternidade, tratar o outro como gostaria de
ser tratado, reconhecer a todos como “o próximo”, principalmente,
aquele que mais necessita do outro, reconhecendo na humanidade
uma só família interdependente, de fato, tendo na humanidade uma só
pessoa, de modo que todo e qualquer tipo de segregação e de discri-
minação seja banida do relacionamento humano.
Embora, o dilema humano possa ser resumido nessas três ques-
tões, uma quarta preocupação veio à tona nestes últimos tempos: O
que fazemos para reverter o processo de destruição que deflagramos
no planeta? A versão estátua não está conseguindo encontrar resposta
para essa angustia, principalmente, porque qualquer proposição terá
de passar pela revisão do modelo de progresso adotado desde a revo-
lução industrial do séc. XIX; o Reino, por sua vez, desde tempos perdi-
dos na memória, tem insistido que a administração do planeta,
6 delegada,por Deus, à humanidade, implica na promoção de um jar-
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dim, pois, logo após ter delegado ao ser humano a responsabilidade
para cuidar da Terra, colocou-nos num jardim, dando-nos, assim, o
modelo: deveríamos transformar nosso “habitat” num jardim com tudo
o que essa figura significa: uma beleza comunitária, fruto de sinergia,
uma beleza mais intensa do que a simples soma dos componentes do
jardim, uma beleza solidária, os mesmos nutrientes deveriam ser dis-
tribuídos segundo a necessidade de cada um dos espécimes, uma be-
leza inclusiva, deveria congregar todas as espécies e todos os fenôme-
nos, uma beleza fraterna, todos deveriam se submeter à contenção
para que o sol, a chuva e todos os elementos necessários à sobrevi-
vência com qualidade fossem garantidos a todos. Um jardim onde o
ser humano fosse, simultaneamente, jardineiro e parte do jardim. Se a
proposta da pedra tivesse sido assumida, teríamos uma outra concep-
ção e operacionalização do progresso. Com coragem, talvez, ainda dê
tempo.
Em termos práticos, o Reino de Deus se expressa na solidarie-
dade, na fraternidade e na devoção. Pela devoção, ele responde à
busca humana pelo sentido da vida: Quem somos? Somos de Deus e
para ele devemos viver, o que só conseguimos por meio da rendição
incondicional a Jesus Cristo e da submissão total ao Espírito Santo.
Pela fraternidade, o Reino de Deus supera toda diferença com base na
raça, cor, credo religioso e posição política: fazemos aos outros o que
gostaríamos que fizessem a nós se estivéssemos no lugar deles. Final-
mente, pela solidariedade, o Reino de Deus resolve as desigualdades
sociais e econômicas: “quem tiver duas túnicas, que reparta com o que
não tem, e quem tiver alimentos, que faça da mesma maneira” (Lc
3:11). O Reino de Deus é, portanto, a solução divina para o dilema
humano, que se resume em saber quem somos, o que fazemos com a
riqueza do planeta e como devemos viver em sociedade. A questão
seguinte consiste em saber quem encarna esse projeto?
Na história recente, tivemos o colapso dos estados socialistas
que tentaram transpor o marxismo para a realidade. O fracasso do
comunismo deveu-se, em grande parte, ao fato de que nunca houve
um povo capaz de encarnar com fidelidade os postulados da teoria
marxista. O mesmo teria acontecido com o Reino de Deus se ele não
tivesse encontrado na igreja um povo para lhe dar concretude. Não
basta dizer que o Reino de Deus é uma proposta de solidariedade,
fraternidade e devoção. Isso é um conceito extraordinário. Mas quem
vive isso? Onde encontramos esse ideal de sociedade? A resposta de-
veria ser: na Igreja. A resposta é a igreja.
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reino. A força do seu discurso vem do seu testemunho: ela faz o que
prega e prega o que faz. A igreja torna o Reino de Deus em realidade
histórica, logo concreta e visível.
O desafio proposto por Lausanne consiste precisamente nisto:
a igreja deve ser a comunidade daqueles que partilham com Deus o
desejo por justiça, fraternidade entre os homens e amor e serviço aos
fracos e oprimidos do mundo. A igreja é, portanto, a comunidade dos
homens que lutam ao lado de Deus pela libertação de seus semelhan-
tes de toda forma de opressão, seja econômica, política, cultural ou
religiosa. O Reino de Deus encarna-se nos cristãos, no modo como
vivem, trabalham, amam e servem. Os cristãos são chamados a viver
de tal modo que seu exemplo denuncie e condene a opulência dos que
têm muito, a miséria dos que não têm nada e a indiferença dos primei-
ros pela sorte dos últimos. A igreja proclama o Reino da igualdade –de
condições, possibilidades e perspectivas:
Neste tempo presente, a vossa abundância supra a
falta dos outros, para que também a sua abundância
supra a vossa falta, e haja igualdade, como está escri-
to: “O que colheu não teve de mais; e o que pouco,
não teve de menos.” (2 Co 8:15)
A lógica do Reino de Deus assenta-se no princípio da solidarie-
dade, do amor e do serviço mútuos. Ir contra isso é atentar contra a
vontade de Deus. O egoísmo mina e destrói o que devia nos irmanar, a
saber: o fato de termos sidos criados pelo mesmo e gracioso Deus,
que com amor e justiça a todos acolhe e sustenta. É preciso lembrar,
porém, que o caminho dessa igualdade não é trilhado, de acordo com
a Bíblia, por decreto ou coação, mas por coerência: assim agimos,
porque assim cremos. Em termos práticos, significa: aquele a quem
sobra há de se compadecer – solidária, voluntária e amorosamente –
daquele que nada tem. Para o cristão, significa se exercitar na partilha
dos bens e dons para que o necessitado escape da miséria. Por meio
da ação, do envolvimento e da doação de seus recursos o cristão cria
uma possibilidade e um ambiente novos para que o outro tenha sua
dignidade restituída. O Reino de Deus é uma sociedade onde todos
trabalham para todos, se ocupam com todos e servem a todos:
Da multidão dos que creram era um coração e a alma.
Ninguém considerava sua nem uma das coisas que
possuía; tudo, porém, lhes era comum [...] Pois ne-
nhum necessitado havia entre eles, porquanto os que
possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os
valores correspondentes e depositavam aos pés dos
apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medi-
da que alguém tinha a necessidade. (At 4:32-35)2
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Depois que lhes lavou os pés, e tomou as suas vestes,
e se assentou outra vez à mesa, disse-lhes: “Entendeis
o que vos tenho feito? Vós me chamais Mestre e Se-
nhor e dizeis bem, porque eu sou. Ora, seu, Senhor e
Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os
pés uns dos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para
que, como eu vos fiz, façais vós também’. (Jo 13:12-
15)
É isso que significa “servir a Deus no mundo”: a igreja encarna
um modo novo de viver como gente e de viver com gente. É a nova
humanidade. Ser sal e luz do mundo é anunciar essa nova humanida-
de. Para a igreja, sua forma de viver já é em si mesma uma denúncia
de que existe algo de errado com a “velha humanidade”. Se não há
dignidade, se as leis só valem para os pobres, se a mulher é violentada
em seus direitos, se minorias (étnicas, religiosas e sexuais) são confi-
nadas em “guetos”, se o sistema prisional embrutece e desumaniza,
se os ricos se escondem atrás dos altos muros dos seus condomínios
fechados e se protegem em carros blindados, se a sociedade, como
um todo, infecciona e putrefa, então os cristãos são chamados a rever-
ter esse processo de necrose.
A responsabilidade social3 dos cristãos, para voltar ao Pacto,
não é um ato de caridade. Nem deve servir para apaziguar consciênci-
as insones. O mundo não precisa de nossas esmolas. Ser socialmente
responsável é, em primeiro lugar, termos consciência de que a missão
da igreja é “servir a Deus no mundo”; em segundo lugar, é assumir-
mos nosso papel de sinalizadores do Reino de Deus, encarnando seus
valores: solidariedade, fraternidade e devoção; em terceiro lugar, é
sermos coerentes, isto é, viver a fé do “modo digno da vocação a que
fomos chamados”; por fim, é sabermos que a única recompensa a que
podemos almejar é ouvir do Senhor: “Vinde, benditos de meu Pai,
possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação
do mundo” (Mt 25:34b).
A missão da igreja é, portanto, transformar o conceito de soci-
edade do Reino de Deus em realidade e denunciar aquilo que não
expressa esse conceito. É, também, estender o amor que já é comum
entre nós a todos os homens à nossa volta. A propósito, o imperador
romano Juliano, pós Constantino, inimigo declarado dos cristãos, em
carta a um amigo, dizia destes que “cuidavam bem dos seus pobres, e
que se não bastasse cuidarem bem dos deles, cuidam bem dos nossos
também”. Serviço talvez seja a palavra que melhor traduza essa atitu-
de: serviço a Deus por meio do serviço ao próximo. É óbvio que o
serviço nasce da compaixão, e esta da identificação, ou seja, nos com-
padecemos daqueles com quem nos identificamos. E Jesus se identifi-
cou, acima de tudo, com os pobres e oprimidos deste mundo. Não
devemos, no entanto, limitar nosso conceito de serviço à ajuda imedi-
ata com comida, dinheiro ou outro bem material, o que nunca deve ser
excluído. Serviço, como a teologia da missão integral o entende, é
antes de tudo uma nova forma de viver, de reaprender a ser gente e a
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O termo ganhou na última década um outro sentido, associado às iniciativas
9 das empresas para melhorar a vida das comunidades onde elas estão instaladas e a
projeto mantidos com dinheiro doado às ONGs que os geram.
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viver com gente. Daí se poder dizer que a igreja alimenta, cura e
transforma as pessoas: alimenta com a Palavra e o pão, cura com
amor e
aceitação e transforma pelo exemplo, mas, também, trabalha para a
cura da sociedade, pelo serviço fraterno, pela parceria com outros
segmentos na luta por dignidade e justiça social, por democracia
participativa, pelo empoderamento da sociedade civil, pela sustenta-
ção dos direitos humanos.
Embora o texto de Lausanne que estamos comentando diga
que ação social não é evangelização, é aceitável esperar que a esta
tenha como conseqüência natural a outra. Posto de outro modo, agir
socialmente é ser coerente com o que se acredita e prega – a salvação
dos homens. Mas o que significa ser salvo? Um ser humano salvo é
alguém que foi arrancado do inferno e teve o inferno arrancado dele.
Salvação envolve, de uma maneira ou de outra, o resgate da dignidade
das pessoas. Ser salvo significa, portanto, que a pessoa tem seus dons
e talentos desenvolvidos, venceu sobre seus traumas e vícios e teve
suas feridas (físicas e emocionais) curadas. Salvação é, também, a
superação da miséria, do desemprego, da alienação, da marginalidade,
da violência e da indignidade. A questão aqui não é saber se se vai do
homem à suas circunstâncias ou vice-versa. Embora, como diz o Pacto,
insistmos, ação social e evangelização não sejam a mesma coisa, a
primeira é também uma forma válida de começar. Porque se começa-
mos por mudar as circunstâncias do indivíduo, porque, também, há
pecado estrutural, isso vai deixando cada vez mais claro para ele que,
se suas circunstâncias mudam, ele também é chamado a mudar. Se,
por outro lado, fazemos o caminho inverso –indo do indivíduo para as
suas circunstâncias–, outra vez fica claro para ele, indivíduo, que a
mudança que se processa nele deve se estender às suas circunstânci-
as. É claro que, historicamente, a igreja sempre optou por começar
pelo indivíduo, e daí ir para as circunstâncias. Mas isso não inviabiliza
o caminho contrário.
Por último, servir a Deus no mundo pode ser ilustrado com a
história do menino que devolvia águas-vivas ao mar. Alguém passou e
disse a ele: “Olha, garoto, desista porque você não vai conseguir de-
volver ao mar todas as águas-vivas que vieram dar aqui na praia.” O
menino, então, respondeu: “Eu sei que não vou conseguir devolver
todas, mas para os que eu conseguir devolver eu terei feito alguma
diferença.”
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Capítulo 1 – O Movimento ‘Evangelical’:
Teologia na Periferia do Mundo
Os “Evangelicals” e Lausanne 74
“Evangelical” foi a rubrica dada, por falta de nome melhor, aos
que abraçaram o conjunto de propostas apresentadas no congresso
pelos teólogos dos países do terceiro mundo. Na década de setenta, a
corrente conservadora do pensamento protestante encontrava-se na
defensiva. Na esfera geopolítica, havia a preocupação com o desfecho
da Guerra Fria, que se somava ao medo com o avanço do comunismo
nos países terceiromundistas e à novidade da teologia da libertação,
corrente teológica de tintas marxistas. O congresso foi pensado, em
parte, como uma reação a essas tendências. Para os conservadores, a
igreja precisava responder ao que ela identificava como “ameaças” à
fé cristã. Mas aí veio a surpresa. Os teólogos dos países periféricos do
capitalismo – principalmente da África e da América Latina – trouxe-
ram para o congresso uma visão radicalmente nova sobre a missão da
igreja. O sinal amarelo já havia se acendido, como dissemos, quando
as contribuições desses teólogos começaram a chegar às mãos da co-
missão que redigiria o Pacto (o documento final do congresso). De
maioria conservadora, os organizadores mostraram-se intrigados com
as questões que seus colegas do terceiro mundo traziam para o deba-
te. É preciso lembrar que o congresso era patrocinado pela Billy Graham
Association, uma entidade que representava o que havia de mais con-
servador no pensamento teológico protestante naqueles dias. Não que-
remos diminuir a importância do ministério daquele que é reconheci-
damente o maior evangelista do século passado, mas apenas consta-
tar um fato.
Apesar do propósito, inicialmente, conservador, houve o reco-
nhecimento de que os teólogos do “Terceiro Mundo” falavam a partir
de suas experiências em seus próprios países. Era preciso ouvir o que
eles tinham a dizer. Significava que, finalmente, a teologia conservado-
ra reconhecia que, diante de uma realidade que se impunha – não
podiam mais ignorar o que estava acontecendo nos países fora da
Europa e da América do Norte. Significava, também, o reconhecimento
da teologia que se produzia na periferia do mundo capitalista. No cam-
po neo-liberal, a teologia da libertação já havia feito europeus e ame-
ricanos ouvirem um discurso diferente daquele a que estavam acostu-
mados seus ouvidos. Agora, era o bastião conservador do protestan-
tismo que era tomado de assalto. Pode-se dizer, que uma mudança
silenciosa, porém, de importância capital, estava em curso.
No início, o movimento “evangelical” surgiu como uma corren-
te missiológica dentro do protestantismo. Pouco a pouco, ela foi inva-
dindo outras áreas da teologia protestante, mantendo, porém, sua
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vocação missionária. Daí seus formuladores serem até hoje associados
à missão integral. A propósito, Missão Integral é o nome do agora
clássico livro de René Padilha, um dos principais articuladores dessa
forma de pensar a evangelização, uma das mais importantes contribui-
ções para o Congresso de Lausanne. Podemos afirmar que a proposta
da missão integral foi a grande contribuição dada pelos “evangelicals”
ao Congresso de Lausanne, quiçá ao pensamento evangélico como um
todo.
Evangelho e Contexto
O movimento “evangelical” é missiológico porque se concentra
na forma e no alcance da evangelização. Os “evangelicals” dão redo-
brada ênfase ao contexto do evangelizado, o que implica dizer que não
se pode evangelizar uma pessoa sem considerar a realidade que a
cerca. O contexto social, econômico, político, cultural e religioso
condiciona o modo como as pessoas pensam, sentem e agem. Ignorar
essa verdade passou a ser o maior pecado da igreja. Não podemos,
por exemplo, entrar numa favela para evangelizar um morador como
se ele não estivesse naquele lugar. Porque a primeira coisa que o evan-
gelho vai questionar é a submoradia. Ele dirá que ela desumaniza. Dirá
que o Reino de Deus denuncia como pecadora uma sociedade que
empurra os mais pobres para esses depósitos coletivos de gente. Dirá,
ainda, que o cristão não pode aceitar isso passivamente. E dirá, por
fim, que é preciso reagir, lutar para mudar o “contexto” do evangelizado,
acabar, enfim, com a subvida!
Para o evangelical, o evangelho não é um discurso religioso –
Jesus não veio instituir uma nova religião. Veio para mudar o homem
e o contexto em que ele está. O evangelho é o resgate da humanidade
e, com ela, da história, da cultura, da economia, da política e das
relações sociais. O Reino de Deus é ao mesmo tempo o resgate do
homem e a instauração de uma nova sociedade. Portanto, a primeira
coisa que a proposta da missão integral questiona é a subvida. Ela diz:
“Existe algo de errado aqui. Por que um ser humano está vivendo
nessas condições? Deus não criou o homem para viver assim. Está
errado. Temos que mudar isso!” O “evangelical” não fica contente,
apenas, por que o sujeito despossuído se converteu. Ele não diz: “Tudo
bem, ele mora numa submoradia ao lado de um esgoto a céu aberto,
tem bala perdida voando pra tudo quanto é lado, mas pelo menos ele
tem Jesus e vai para o céu. Afinal de contas, seria pior, depois de viver
nesse inferno, continuar nele na eternidade” É impossível não perce-
ber o quanto há de cinismo nesse tipo de discurso – cristãos sinceros
não estão imunes à tentação de optar pela acomodação no lugar de se
comprometer com a mudança. Para o “evangelical”, porém, o homem
não é uma alma aprisionada num corpo que precisa ser salva deste
vale de lágrimas. Jesus veio salvar o homem por inteiro, corpo incluí-
do.
A proposta da missão integral retoma, assim, a unidade origi-
nal do homem. Ele não é, como acreditam os espiritualistas e mesmo
alguns cristãos, um espírito encarnado, que com a morte desencarna e
ganha a desejada liberdade. Para a missão integral, a morte é a ruptu-
ra do que foi criado como indivisível. Perder o corpo é, para o homem,
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perder a própria humanidade, deixar de ser aquilo para o qual foi cria-
do. Defender a teoria, ademais helenista, da imortalidade da alma não
é cristão. Na tradição judaico-cristã, o homem é uma unidade –corpo e
espírito– indivisível. Como cristãos, professamos a imortalidade do
homem todo, não apenas de sua alma. Fosse o contrário, teríamos que
riscar da Bíblia a ressurreição do corpo.
Os “Evangelicals” no Brasil
No Brasil, o movimento evangelical chegou cerca de oito anos
depois de Lausanne 74. A Visão Mundial e a ABU (Aliança Bíblica
Universitária) e a VINDE (Visão Nacional de Evangelização), ONG fun-
dada e liderada pelo Pr. Caio Fábio D’Araújo Filho, tomaram a iniciativa
de trazer para o país a “visão de Lausanne”. Em pouco tempo, os livros
de John Stott ganhavam tradução para o português, as principais pa-
lestras do congresso eram publicadas e congressos no “espírito de
Lausanne” se multiplicavam Brasil a fora. Nesses eventos, falavam
nomes como Manfredo Grellert (Diretor Executivo da Visão Mundial),
Robison Cavalcante (Pastor Anglicano), Dieter Brepol (Secretário Geral
da ABU) Caio Fábio D’Araújo Filho (Pastor da Igreja Presbiteriana do
Brasil e Presidente da VINDE) e Valdir Steuernagel (Pastor Luterano).
O marco decisivo foi o Congresso Brasileiro de Evangelização, realiza-
do em 1983 na cidade de Belo Horizonte. Até então restrita a uns
poucos iniciados, a missão integral passou ali à agenda da igreja evan-
gélica brasileira.
Para os evangélicos que na época estavam nos bancos dos
seminários e universidades brasileiros, a proposta da missão integral
surgiu como uma terceira via às opções do fundamentalismo das igre-
jas históricas e da teologia da libertação. Tornara-se possível engajar-
se nas lutas sociais sem abrir mão das bases da fé protestante.
A década de oitenta foi a “fase de ouro” da teologia da missão
integral no Brasil, com várias lideranças surgindo em todo país decidi-
das a encarnar o “espírito de Lausanne”. Mas os ventos começaram a
soprar em outra direção e, súbito, a igreja evangélica brasileira foi
invadida pela onda neopentecostal, e a teologia da prosperidade fez
sua estréia triunfante no cenário protestante nacional. A teologia da
missão integral foi aos poucos sendo empurrada para fora do debate e
voltou a ser a voz de uma minoria que “clama no deserto”. Mas se não
conseguiu mudar a teologia da igreja brasileira, essa voz pelo menos
obrigou os evangélicos a abrir os olhos – e, em mais de um sentido, os
bolsos – para as questões sociais. Hoje, muitas igrejas incluem em
suas agendas o cuidado aos necessitados, seja na forma de doação de
cestas básicas, serviços odontológicos, assistência jurídica, alfabetiza-
ção de adultos ou clínicas para dependentes químicos. Não foi a revo-
lução que se esperava. Porém, visto trinta anos depois, o progresso foi
imenso. Isso sem levarmos em conta uma geração inteira de homens e
mulheres que se alimentou da visão dos evangelicals e que hoje está
na liderança da igreja. Esses líderes carregam e preservam o legado de
Lausanne. Neles a proposta da missão integral tem uma voz. Porque
ser “evangelical” é ter uma identidade. Significa crer nas verdades
bíblicas que os pais da igreja nos transmitiram, sem fechar os olhos e
o coração para o sofrimento no mundo, pelo contrário, apresentando-
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se como parte da solução para o mesmo.
Ariovaldo Ramos
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Missão Integral
Capítulo 2 – Passando a Igreja a Limpo:
Um Pouco de História
Missão Integral
Sua teologia foi rotulada apropriadamente com o mesmo título
de seu livro mais famoso. Mas a teologia da libertação não é uma
versão mais radical da teologia da esperança. É verdade que Rubem
Alves também fez uso da teoria marxista, mas as semelhanças param
aí. Da Esperança vai além do caminho trilhado por Moltmann. A teolo-
gia da libertação é uma teologia eminentemente latino-americana. A
realidade de que parte e as conclusões a que chega são muito diferen-
tes da realidade e conclusões do teólogo alemão. A teologia da liberta-
ção tornou-se, com o tempo, uma corrente dentro da igreja católica
romana latino-americana. Entre seus propugnadores, encontram-se,
entre outros, Gustavo Gutierrez, Jon Sobrinho, Juan Luis Segundo, José
Comblin, Enrique Dussel, Arturo Paoli e João Batista Libânio.
A voga libertacionista conheceu seu apogeu nas conferências
de Puebla, México (l980), e San Domingos, República Dominicana (l990).
Embora as linhas gerais do movimento tivessem sido lançadas em
Medelín, Colômbia (1968), foi em Puebla que surgiu a fórmula “opção
preferencial pelo pobre”, que se tornou sinônimo de teologia da liber-
tação. Os teólogos da libertação defendiam que Jesus havia escolhido
os pobres como destinatários das promessas do Reino de Deus. Se ele,
o pobre de Deus, escolheu os pobres deste mundo, sua igreja devia
fazer o mesmo. E não há como negar que a relação entre pobreza e fé
aparece com destaque na pregação e no ministério de Jesus. Não de-
morou, entretanto, para que os teólogos da libertação se tornassem
alvo da Congregação para a Fé e a Doutrina, órgão do Vaticano capita-
neado pelo cardeal Joseph Ratzinger, representante da corrente con-
servadora da igreja católica e principal opositor das idéias
libertacionistas.
O Regime Militar
A despeito de em seu início ter sido formulada por um brasilei-
ro, a teologia da libertação demorou a se popularizar em nosso país. A
explicação para esse atraso está no clima político que se instalou no
Brasil com o golpe militar de 64. Por duas décadas, as liberdades civis
estiveram sob constante ameaça. Líderes da oposição foram presos.
Alguns acabaram mortos; outros, forçados ao exílio. A imprensa era
censurada e todos que ousavam divergir do regime eram forçados ao
silêncio. O argumento dos fuzis podia não ser sutil, mas era infalivel-
mente eficaz. O Brasil se fechou para o mundo e a nação mergulhou
num período de incertezas, angústia e medo. Os anos que se seguiram
ao golpe estão entre os mais tristes da nossa história. Nem mesmo a
breve pseudo bonança experimentada com o “milagre econômico” nos
anos setenta – tida como a maior realização dos militares – diminui o
travo que ainda hoje sentimos ao lembrar aquele período.
No começo da década de oitenta, porém, o regime militar deu
sinais de exaustão e começou a se falar em abertura. Foram os anos
da distensão, termo que designa a volta gradual da democracia ao
país, o que se consumou com a eleição de um presidente civil depois
de vinte anos de militares no poder. Tancredo Neves morreu antes de
assumir o cargo, para o qual foi alçado seu vice, José Sarney. Esse foi
o contexto em que a teologia da libertação começa a se popularizar no
Brasil. Por aqui, o mais destacado teólogo da libertação é o ex-frade
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
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franciscano Leonardo Boff, silenciado duas vezes pelo Vaticano, que
considerava sua teologia “subversiva”. Na mesma época, chegava até
nós também a proposta da missão integral, logo vista pelos evangéli-
cos “engajados” como uma alternativa à corrente libertacionista. Não
houve necessariamente um embate entre as duas correntes, embora
alguns dos defensores da missão integral vissem com desconfiança a
excessiva coloração marxista que adquiriu a teologia da libertação.
Para nossos fins, é suficiente notar que a teologia da missão
integral nunca foi uma versão “evangélica” da teologia da libertação.
As duas são expressões diferentes e autônomas do fazer teológico
latino-americano. Além do que, jamais pretenderam suplantar uma à
outra. Ao contrário, enriqueceram-se mutuamente por meio do debate
de idéias. A missão integral defende que o serviço aos necessitados é
parte da pregação do evangelho. Advoga, ainda, que o cristão deve
lutar pela dignidade humana, pela justiça social, pela humanização das
relações econômicas e pela moralização na política. Nesse sentido, a
teologia da missão integral serve como um contraponto à teologia da
libertação. De fato, ela se posiciona entre a alienação da teologia
fundamentalista e a postura mais revolucionária da teologia da liberta-
ção, ainda que haja entre os pregadores da missão integral defensores
de algum tipo de revolução social. O grande diferencial da missão inte-
gral é o engajamento nas questões políticas, econômicas e sociais,
sem contudo renegar o legado dos reformadores. Ela mantém-se fiel
às suas origens bíblicas e históricas ao mesmo tempo em que convoca
o crente a “servir a Deus no mundo”.
A Teologia da Prosperidade
Os anos oitenta viram também o aparecimento no Brasil de
uma corrente teológica que magnetizou a mente de uma geração intei-
ra de líderes evangélicos. A teologia da prosperidade surgiu nos Esta-
dos Unidos na época em que os americanos optaram, na guerra fria,
pelo enfrentamento de modelos econômicos. E deu certo. O mundo
assistiu entre atônito e extasiado à desintegração do bloco comunista.
Em 1989, o Muro de Berlim veio abaixo e a economia de mercado
invadiu os países do leste europeu.
Mas o triunfo do capitalismo não significou que o ocidente se
livraria tão cedo do sentimento de culpa que sua opulência despertava
nas consciências mais sensíveis. A teologia da prosperidade resolveu
isso com um malabarismo teológico de fazer inveja aos escolásticos.
Com base numa interpretação enviesada e distorcida da Bíblia, ela
isenta o capitalismo de qualquer culpa diante de Deus. A acumulação
de riquezas tem na teologia da prosperidade uma defesa quase
irrefutável. Na ótica de seus formuladores, Deus premia aqueles que
buscam o enriquecimento material com redobrada tenacidade.
Travestida de verdade revelada, a teologia da prosperidade subverte o
evangelho e põe em xeque nossa herança protestante. Infelizmente,
essa corrente encontrou ampla acolhida no mundo editorial brasileiro.
Com raras exceções, as editoras evangélicas inundaram o mercado
com obras que propagandeiam os “milagres” do Movimento da Fé,
como também é chamada a escola doutrinária iniciada pelo americano
Kenneth Hagin, autor dos best-sellers A autoridade do Crente e Com-
16
preendendo a Unção.
Ariovaldo Ramos
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Restrita no início restrita ao campo neopentecostal da igreja
evangélica brasileira, a teologia da prosperidade se espalhou rapida-
mente entre nós. Entra-se numa igreja e lá está um sujeito pregando
mensagens mais próximas da auto-ajuda do que da teologia dos
reformadores. O que há de errado com isso? Em primeiro lugar, porque
é a instrumentalização do evangelho em defesa do capitalismo. Em
segundo lugar, porque sanciona a ética de Mamon e diz: “Bem-aventu-
rados os que buscam a riqueza, porque Deus estará do lado deles!” Em
terceiro lugar, porque diz, na prática, que não se deve ajudar os po-
bres; fazê-lo seria premiar a falta de fé: se você está na miséria, é
porque não tem fé. Os pobres seriam os piores ateus!
Com o perdão da ironia, essa é a teologia que os capitalistas
pediam a Deus. Uma teologia que dissesse que Deus ama o rico, que
não se deve condenar o amor ao dinheiro como uma coisa suja e que
“investir” em Deus é um grande negócio, porque o retorno é garantido.
A perversão do evangelho pela teologia da prosperidade não parou aí.
“O povo não quer ouvir falar de renúncia e sofrimento pela causa do
Reino”, adverte um pastor. Para os teólogos da prosperidade, a cruz
tornou-se uma vergonha. O crente vai ao templo para ouvir uma pala-
vra positiva, para cima; anela por uma mensagem de refrigério, de
bênção. Falar de arrependimento e conversão, de abnegação e renún-
cia seria trair sua confiança e frustrar sua expectativa, acabam por
pregar nas entrelinhas de suas mensagens.
O mundo editorial não foi, porém, o único a contribuir para a
ascensão da teologia da prosperidade. Da noite para o dia, os canais
de televisão passaram a abrigar em suas grades programas apresenta-
dos por estrelas do movimento. O poder do meio amplificou o efeito, e
não demorou para que a teologia da prosperidade ganhasse status de
“pensamento oficial” da igreja evangélica brasileira, tamanha sua in-
fluência e de seus líderes. Um dos mais destacados representantes da
corrente da prosperidade, R. R. Soares declarou, em recente entrevis-
ta à revista Eclésia, preferir “mil vezes pregar a teologia chamada da
prosperidade do que a teologia do pecado, da mentira, da derrota, do
sofrimento”. O triunfalismo esnobe dos arautos da prosperidade emer-
ge na afirmação: “Não creio (sic) na miséria. Essa história é conversa
de derrotados. São todos um bando de fracassados, cujas igrejas são
um verdadeiro fracasso”. E desafia: “Todo mundo que está na derrota
tem que aprender correndo a tomar posse da benção, senão vai conti-
nuar na derrota e dando péssimo testemunho. Esse negócio de falar
que Deus é bom mas não cura, não liberta, não prospera (sic), que
bondade é essa?”.4 É evidente que os teleavangelistas brasileiros be-
beram na fonte dos popstars evangélicos norte-americanos.
Vista retrospectivamente, a década de oitenta marcou uma di-
visão de águas na igreja evangélica brasileira. Duas correntes teológi-
cas se enfrentaram no Brasil –uma nascida aqui na América Latina,com
nossa cooperação; outra, dos Estados Unidos. A duas se enfrentaram
na luta pela mente dos evangélicos, mas não resta dúvida do para
onde a balança pendeu. Não se pode falar, contudo, de fracasso da
4
“Evangelho de Resultados”, entrevista publicada na edição de Junho de 2001
17 da revista Eclésia., pp. 24 e ss. O missionário R.R.Soares, é fundador e presidente da
Igreja Internacional da Graça.
Ariovaldo Ramos
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Capítulo 3 – Missão Integral I:
Um Itinerário
Missão Integral
examinar os conceitos de pecado e salvação, que para os teólogos da
missão integral tem uma abrangência maior. Tomaremos dois textos
da Bíblia: um se encontra em Gênesis 3:17-19; o outro, em Daniel
2:41. Já tivemos oportunidade de comentar neste trabalho a narrativa
do sonho do rei Nabucodonosor. Vamos recapitular o que dissemos
antes, com a vantagem de que o leitor possui agora mais informações
para lidar com as questões que o texto levanta.
Missão Integral
arrependimento e a conversão pessoais. Antes, é “toda a criação, a um
só tempo, que geme e suporta angústias até agora” (Rm 8:22). Expli-
ca-se desse modo a ênfase neotestamentária no “novo céu e nova
terra”. Trata-se de um resgate cósmico, que não se restringe ao indiví-
duo, mas inclui suas circunstâncias. Se o princípio da morte que a
queda introduziu na criação atua no homem e no universo, é lógico
esperar que a salvação inclua tanto um quanto o outro. O texto de
Romanos é emblemático. Diz:
A ardente expectativa da criação aguarda a revelação
dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaida-
de, não voluntariamente, mas por causa daquele que a
sujeitou, na esperança de que a própria criação será
redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade
da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que a
criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até
agora. (Rm 8:19-22)
Obviamente que não estamos defendendo que o pecado não
seja a quebra de uma lei divina. Claro que é. Nosso ponto é outro. O
pecado, na visão da missão integral, deixa de ser uma coisa meramen-
te moral, a transgressão de regras de comportamento, para se confi-
gurar como uma ruptura radical, cujas conseqüências vão muito além
da corrupção dos costumes. Voltamos a dizer: a queda do homem é a
queda do universo. O moralismo que associa o pecado unicamente a
comportamentos –“não matarás, não furtarás, não cobiçarás”– limita
nossa compressão da queda. O pecado é um princípio que leva o ho-
mem a constantemente transgredir a lei de Deus e estende seus efei-
tos a todo o universo. Esse conceito nos permite inferir que, se a que-
da foi integral (afetou tudo), a salvação também o é (resgata tudo). O
argumento da missão integral a favor de uma evangelização que dê
conta do contexto do homem (suas circunstâncias) sustenta-se
exatamente nessa inferência. Se o pecado tem tal abrangência, a sal-
vação tem, no mínimo, a mesma abrangência. Essa linha de argumen-
tação amplifica nossa visão do evangelho. Para a missão integral, o
anúncio das boas novas do Reino afeta o homem e as suas circunstân-
cias. Portanto, se o pecado é um princípio que atua no homem e nas
suas circunstâncias, o evangelho não pode se limitar ao primeiro e
ignorar as últimas.
“Maldita é a terra por tua causa!” Essas palavras ecoam pelos
séculos como a maior tragédia a atingir a raça humana. O mal como
princípio entrou no universo e atua de forma independente da ação
humana. É o mesmo princípio que está por detrás, por exemplo, do
surgimento de vírus e bactérias mortais, doenças como o câncer e a
Aids e da morte física de todos os seres vivos. Ademais, a condenação
veemente do pecado se aplica tanto ao indivíduo quanto à sociedade.
Daí porque a missão integral dirige seu discurso também contra as
estruturas da morte que atacam e corroem o tecido social: a burocra-
cia e a tecnocracia fria, a desfaçatez dos políticos, a corrupção das
polícias, o desmatamento criminoso da Amazônia, as rebeliões nos
presídios e nas febens e o estado paralelo nos morros do Rio são todos
exemplos do processo de necrose desencadeado pela queda. O mote
da teologia da missão integral é “o evangelho todo, para o homem
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Ariovaldo Ramos
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todo e para todos os homens”. Agora podemos acrescentar “em todas
as circunstâncias”. Porque a idéia é resgatar o homem e suas circuns-
tâncias.
Missão Integral
contra o qual tudo é julgado. Nada escapa à sua crítica, seja um mode-
lo social, econômico, político, ético ou religioso. Esse é o cerne do
argumento da missão integral: tudo precisa ser revisto à luz do novo
paradigma. Daí porque se nós mudamos o indivíduo, mas deixamos
intactas suas circunstâncias, perpetuamos o estado de pecado. Se tudo
está maculado, logo tudo está sob suspeição. Entende-se, agora, por-
que o evangelho e o Reino de Deus exigem um transformação radical.
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Ariovaldo Ramos
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Capítulo 4 – Missão Integral II:
O Reino de Deus como Chave Hermenêutica
Até aqui, deve ter ficado claro ao leitor que a missão integral
opera uma mudança radical em nossa definição de pecado: substitui o
conceito moralista da teologia tradicional pelo mais abrangente de tra-
gédia cósmica: a queda atingiu o homem e tudo que estava ligado a
ele. O princípio da morte se apoderou de toda a criação – homem e
universo incluídos. Mas no que isso implica? Vamos supor que um imenso
meteoro atingisse nosso planeta e erradicasse a raça humana da terra,
exatamente como aconteceu com os dinossauros 65 milhões de anos
atrás. Pois bem. Mesmo que nenhum homem tivesse restado, ainda
assim o universo inteiro precisaria de salvação. Se o pecado teve impli-
cações cósmicas, a solução divina para a restauração da humanidade
caída se estende necessariamente a todo o restante da criação.
Missão Integral
O sacrifício do Cristo preexistente explica a manutenção de
nossa existência e a de todo o universo. Por isso, a missão integral não
pode ser reduzida a mera ação social. A proposta “evangelical” recupe-
ra uma dimensão esquecida do evangelho – seu compromisso com o
resgate das circunstâncias do indivíduo – históricas e cósmicas – ao
mesmo tempo em que explica a existência do mal e da morte.
O Reino de Deus é a chave hermenêutica para entender a his-
tória da salvação. Sem essa visão de conjunto – o sacrifício, a criação,
a queda, a chegada do Reino, a redenção, a igreja e a consumação dos
tempos – a compreensão dessa história, numa perspectiva de missão
integral, fica prejudicada.
Missão Integral
E mais: no Reino de Deus, a lógica dos relacionamentos se
inverte. Quando Jesus diz:
Sabeis que os governadores dos povos os dominam e
que os maiorais exercem autoridades sobre eles. Não
é assim entre vós; pelo contrário, quem quiser tornar-
se grande entre vós, será esse que vos sirva; e quem
quiser ser o primeiro entre vós será vosso servo; tal
como o Filho do Homem, que não veio para ser servi-
do, mas para servir e dar a sua vida em resgate de
muitos (Mt 20:25-28),
ele está questionando as relações de poder na sociedade. Ser-
viço é o princípio que deve prevalecer na política. A crítica se estende
também à economia:
Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a cam-
po, até que não haja mais lugar, e ficam como únicos
moradores no meio da terra (Is 5:8),
Desta vez, a condenação se dirige contra a avareza e à opulên-
cia, à posse exclusiva dos bens terrenos e ao acumulo indecente de
riquezas. No Reino de Deus, nossas posses devem servir para reduzir o
sofrimento dos despossuídos deste mundo. Jesus adverte:
Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra,
onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões es-
cavam e roubam; mas ajuntai para vós outros tesou-
ros no céu, onde a traça nem a ferrugem corrói, e onde
ladrões não escavam, nem roubam; porque, onde está
teu tesouro, aí estará também o teu coração (Mt 6:19-
21).
No Reino de Deus, o trabalho também está a serviço do próxi-
mo. Não é para produzir acumulação, mas para socorrer os mais ne-
cessitados:
Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fa-
zendo com as próprias mãos o que é bom, para que
tenha com que acudir ao necessitado. (Ef 4:28)
A ética do Reino de Deus é a ética da partilha:
Então, as multidões o interrogavam, dizendo: “O que
havemos, pois, de fazer?” Respondeu-lhes: “Quem ti-
ver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem
tiver comida, faça o mesmo. (Lc 3:10 e 11)
Por fim, no Reino de Deus o homem se sabe totalmente depen-
dente da Providência:
Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que
haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quan-
to ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o
alimento, e o corpo, mas do que as vestes? Observais
as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajun-
tam em celeiros; contudo, vosso Pai celeste as susten-
ta [...] Considerai como crescem os lírios do campo:
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Ariovaldo Ramos
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eles não trabalham, nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo
que nem Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como
qualquer deles [...] Portanto, não vos inquieteis [...]
pois vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas
[essas coisas]. (Mt 6:25-32)
A Nova Humanidade
O Reino de Deus contém, portanto, a nova humanidade, cujo
modelo é Jesus de Nazaré. Perguntamos: o que é ser gente? Resposta:
é ser como Jesus. A conversão ao Reino de Deus é a conversão a esse
modelo, à nova humanidade. Quando dizemos às pessoas que devem
se arrepender, não estamos pensando numa reforma moral ou de com-
portamento apenas. Conversão é mudança de modelo, adoção de ou-
tra mentalidade:
Não vos conformeis com este século [mentalidade],
mas transformai-vos pela renovação de vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa , agradável e
perfeita vontade de Deus. (Rm 12:1 e 2).
E mais:
E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as
coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo.
(2 Co 5:17)
Finalmente:
Quanto ao trato passado, vos despojeis do velho ho-
mem [a humanidade caída], que se corrompe segundo
as concupiscência [sedução] do engano, e vos revistais
do novo homem [a humanidade restaurada], criado
segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade. (Ef 4:22-24)
Em todos esses textos, a ênfase não está na mudança do com-
portamento moral do indivíduo – muito embora isso também seja uma
conseqüência desejável e esperada da conversão–, mas na nova hu-
manidade, cujo modelo, é Jesus, e que toma forma em nós pela ação
da graça e do Espírito Santo. De fato, na perspectiva da missão inte-
gral, a evangelização está preocupada com o que leva os homens a
serem como são. A ênfase é ontológica, e não moral. Queremos saber
o que está por trás do comportamento, a natureza (essência) dos indi-
víduos. O objetivo não é reformar as pessoas moralmente, mas que
elas nasçam de novo, isto é, que mudem de natureza dominante. Essa
é a condição para entrar no Reino de Deus:
Em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo,
não pode ver o reino de Deus [...] Quem não nascer da
água e do espírito não pode entrar no reino de Deus.
(Jo 3:3-5)
Se, por um lado, a nova natureza é resultado da ação da graça
e do Espírito Santo, a nova humanidade, por outro, é resultado do agir
dos homens e mulheres que nasceram de novo. A nova sociedade não
se faz por decreto, mas pela oração, pelo serviço ao próximo e pela
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Ariovaldo Ramos
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luta contra as estruturas da morte que dominam o mundo. A igreja de
Cristo é, portanto, a comunidade dos que oram, servem e lutam. O
Reino de Deus é feito de homens, de gente. Daí porque no evangelho
temos uma nova antropologia. Nos perguntamos outra vez: Quem é o
homem? O que e como é ser gente? Novamente a resposta é: ser
gente é ser como Jesus de Nazaré. Ele é o nosso modelo de humanida-
de. Ao seguir o Nazareno aprendemos outra vez como ser gente do
jeito que Deus sonhou que fôssemos quando nos criou. O ethos do
Reino de Deus se funda na liberdade em Cristo e na submissão à von-
tade de Deus. Aqui, liberdade e submissão não são termos excludentes,
mas as duas faces de uma mesma moeda: somos livres para servir –ao
próximo e, por meio do serviço a ele, também a Deus. Como nos ensi-
na o apóstolo João:
Nisto sabemos que estamos nele [Jesus]: aquele que
diz que permanece nele, esse deve também andar [vi-
ver] como ele andou [...] Aquele que diz estar na luz e
odeia [deixa de servir] a seu irmão, até agora está nas
trevas [a velha humanidade]. Aquele que ama a seu
irmão permanece na luz [a nova humanidade], e nele
não há nenhum tropeço (1 Jo 2:5b; 9 e 10). [...] Nisto
são manifestos os filhos de Deus [o novo homem] e os
filhos do diabo [o homem sob o domínio da queda]:
todo aquele não pratica a justiça não procede de Deus,
nem aquele que não ama [serve] a seu irmão (1 Jo
3:10) [...] Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a
sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos ir-
mãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo,
e vir seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o
seu coração, como pode permanecer nele o amor de
Deus? (1 Jo 3:16 e 17)
O dictum de Jesus “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6) expressa os mesmos
princípios que encontramos igualmente nos quatro evangelhos: pri-
meiro, Jesus é o caminho porque é por meio dele que chegamos à
nova humanidade; segundo, é a verdade porque só nele temos o mo-
delo dessa nova humanidade; terceiro, é a vida porque é ele quem nos
comunica o poder para vivemos a nova humanidade; por fim, ir ao Pai
é entrar no Reino dos que comungam com Jesus a mesma filiação –
“Mas a todos quantos o receberam [o Verbo], dei-lhes o poder serem
feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome” (Jo 1:12).
Portanto, quando pregamos o evangelho e omitimos da nossa
pregação a política, a economia, a ética e a antropologia do Reino,
estamos reduzindo as boas-novas da salvação a um catálogo de pre-
ceitos morais –“não matarás, não roubarás, não adulterarás”. Desse
modo, esvaziamos o evangelho do seu conteúdo radical, contestador,
crítico, tornando-o anódino, cujo impacto numa sociedade relativista
será nulo. Se, por outro lado, optamos pelo caminho inverso, então
nossas palavras serão outra vez ouvidas e a ação da igreja no mundo
voltará a fazer a diferença.
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
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Cristo, o homem coletivo
Antes de concluirmos este capítulo, comentaremos, brevemen-
te, um texto da carta do apóstolo Paulo aos Efésios:
Porque ele [Jesus] é a nossa paz, o qual de ambos fez
um; e, tendo derribado a parede de separação que es-
tava no maio, a inimizade, aboliu, na sua carne [huma-
nidade de Jesus], alei dos mandamentos na forma de
ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo,
um novo homem [a nova humanidade], fazendo a paz,
e conciliasse ambos num só corpo com Deus, por inter-
médio da cruz, destruindo por ela a inimizade. (Ef 2:14-
16)
Pois bem. Na encarnação, Cristo assumiu a humanidade por
inteiro. Logo, sua morte na cruz é a morte de toda a humanidade. Do
mesmo modo, é a humanidade toda que ressuscita com Cristo. Assim,
a escolha que as pessoas fazem na conversão é se vão ou não continu-
ar na humanidade. Os mistérios da encarnação do Filho de Deus e da
sua ressurreição permanecem como os dois pilares do cristianismo.
Nisso a fé cristã é única, pois só ela diz que Deus se humanizou e só ela
afirma a ressurreição do corpo. No corpo de Cristo, isto é, na sua
humanidade, a humanidade recuperou a unidade perdida com a que-
da. Em Cristo, a humanidade volta a ser um homem coletivo. Quando
Jesus Cristo retorna para o Pai, ele carrega a humanidade inteira no
seu corpo: o Filho que encarnou volta para o seu lugar na Trindade (Fl
2:5-8). Podemos dizer que a humanidade de Cristo depois da ressur-
reição é maior do que sua humanidade antes dela. Nesse sentido, o
Ressurrecto é maior do que o Encarnado.
No evangelho de João, Jesus ensina:
Em verdade vos digo: se o grão de trigo, cain-
do na terra, não morrer, fica ele só; mas, se
morrer, produz muito fruto. (Jo 12:24)
O resultado da ressurreição é que, com Cristo, todos voltam ao
Pai. E não apenas voltam com ele, mas nele. Na oração sacerdotal de
Jesus, lemos:
É por eles que eu rogo [a nova humanidade personifi-
cada nos discípulos]; não rogo pelo mundo [a humani-
dade caída], mas por aqueles que me deste, porque
são teus; ora, todas as minhas coisas são tuas, e as
tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado
[...] Pai santo, guarda-os no teu nome, que me deste,
para que eles [os discípulos] sejam um, assim como
nós [a Trindade]. (Jo 17:9-11)
Jesus volta para o Pai como homem coletivo – a cabeça e os
membros–, cujas partes se articulam e permanecem coesas. Na metá-
fora da igreja como corpo, Paulo afirma:
Porque assim como num só corpo temos muitos mem-
bros, mas nem todos os membros tem a mesma fun-
ção, assim também nós, conquanto muitos, somos um
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
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só corpo em Cristo e membros uns dos outros (Rm
12:4 e 5) [...] E pôs todas as coisas debaixo dos pés
[de Cristo] e, para ser o cabeça sobre todas as coisas,
o deu à igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude daque-
les que a tudo enche em todas as coisas. (Ef 1:22 e 23)
Daí porque, quando oramos e dizemos “Pai nosso”, não é o
indivíduo que ora - mesmo que a oração seja feita na privacidade do
nosso quarto, quando estamos sozinhos–, mas o corpo de Cristo, isto
é, o homem coletivo, toda a igreja, que se dirige a Deus! Oramos de
dentro de um corpo que é composto por muitos (1 Co 12:12). Por isso,
nunca oramos sozinhos, mas em Cristo e a partir dele e do seu corpo –
a igreja.
Aonde tudo isso nos leva? Em primeiro lugar, a reconhecer que
se anunciamos Jesus como Rei –e ele o é– temos, também, que anun-
ciar seu Reino – e, por conseqüência, sua política, sua economia, sua
ética e o arcabouço de propostas que traz em sua formulação. Em
segundo lugar, a igreja só pode anunciar o Reino se ela mesma já
experimentá-lo na sua vida comunitária (Jo 13:35; Tg 1:22-25). Em
terceiro lugar, os homens precisam ver na igreja a nova humanidade.
Precisamos dizer a eles que é possível, sim, viver como Jesus viveu (1
Jo 2:6) e amar como ele amou (Jo 13:1; 34). Por último, precisamos
chamar os homens a entrar no Reino, fazendo-lhes outra vez o convite
amoroso de Jesus:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobre-
carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de mim que sou manso e humilde de
coração; e acharei descanso para a vossa alma. Por-
que o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve. (Mt
11:28-30)
O que Jesus Cristo faz na igreja e por meio dela é, portanto,
reconstruir a humanidade. Daí porque não podemos ficar indiferentes
à sorte do outro. Temos que ser coerentes e nos importar com os
famintos das cidades e do campo e com os sem-teto que são empurra-
dos para as favelas; temos que nos importar com os encarcerados que
são embrutecidos pelo sistema prisional do país e com os meninos e
meninas que fumam crack na cracolância; temos que nos importar
com os milionários que se tornam reféns da sua própria riqueza e do
medo de perdê-las e com as meninas que engravidam ainda na adoles-
cência; temos, enfim, que nos importar com todos porque Deus se
importa com todos. Se o amor de Deus é inclusivo, o nosso também
tem que ser. Isso é ser coerente. Isso é ser o novo homem. Isso é ser
cristão.
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
Epílogo – O Reino de Deus e a Nova Humanidade
Missão Integral
Segundo a teologia tradicional, somos salvos do pecado e da
danação eterna. Já tivemos oportunidade de mostrar que essa é uma
visão reducionista da salvação, porque parte da idéia de que pecado é
um desvio moral e que se converter é viver de acordo com os preceitos
morais da fé cristã. Para a missão integral, no entanto, salvação envol-
ve muito mais do que livrar os homens do inferno: envolve, acima de
tudo, devolver-lhes sua humanidade. Nosso argumento é que a queda
conspurcou nossa essência. Já não expressamos a imago Dei em sua
pureza original, porque no Éden um elemento antidivino mesclou-se a
ela. A fim de compreendermos o alcance dessa tragédia, vamos exa-
minar o conceito de santidade como ele aparece na Bíblia.
Missão Integral
sinônimo de ser puro, sem mistura. A presença de treva, por outro
lado, significa exatamente o oposto –isto é, ser misturado, impuro. O
cristão experimenta esse estado de pureza por causa do sangue de
Jesus, que “nos purifica de todo pecado”. Ser sem mistura, isto é, puro,
é resultado da ação do sacrifício de Jesus na cruz. A morte de Jesus
significa, portanto, a possibilidade de sermos outra vez seres sem mis-
tura. A mesma idéia aparece em outro trecho da mesma carta:
Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a
ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato,
somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não
nos conhece, porquanto não o conheceu a ele mesmo.
Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se
manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele,
porque haveremos de vê-lo como ele é. E a si mesmo
se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim
como ele é puro. Todo aquele que pratica o pecado
também transgride a lei, porque o pecado é a trans-
gressão da lei. Sabeis também que ele se manifestou
para tirar os pecado, e nele não existe pecado. Todo
aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu.
(3:1-6)
A idéia de santidade como ausência de mistura aparece aqui
de forma mais elaborada. Primeiro, João diz que nossa filiação divina é
fruto do amor de Deus e que é essa condição que nos opõe ao mundo
(v. 1). Segundo, o apóstolo faz uma distinção entre a nossa condição
atual de filhos de Deus e o que seremos no futuro quando Jesus voltar
(v.2a). Essa tensão entre o agora e o ainda não ressalta a dinâmica do
processo de santificação. Quando este se completar, seremos como
Deus porque “haveremos de vê-lo como ele é” (v. 2b) E como ele é?
Ele é sem mistura. A condição para vê-lo é sermos nós mesmos sem
mistura. Posto de outro modo, significa dizer que, uma vez concluído
o processo da nossa santificação, veremos Deus face a face porque
seremos, nós também, seres sem mistura. Terceiro, João diz que é
essa esperança –ver Deus como ele é– que nos faz avançar rumo ao
estado de pureza (v. 3). Quarto, ele nos lembra que pecado é a trans-
gressão da lei (v. 4). Ora, se a lei, como dissemos antes, também está
a serviço da salvação do homem –devolver a ele seu estado original de
pureza–, então pecar é ir na direção oposta, isto é, ser com mistura. O
apóstolo diz, então, que Jesus “se manifestou para tirar os pecados” –
restaurar em nós o estado original de pureza–, e que “nele [Jesus] não
existe pecado” –Jesus é como Deus, também sem mistura (v. 5). Por
fim, João nos diz que quem “permanece em Jesus”, quem “o viu e o
conheceu” deixa de pecar (v. 6).
Resta-nos, agora, entender a presença do mal na criação. No
evangelho de João, Jesus diz: “Já não falarei muito convosco, porque
aí vem o príncipe do mundo; e ele nada tem em mim. (Jo 14:30).
Sabemos que o “príncipe do mundo” é o diabo. Como podemos, então,
entender a frase de Jesus? A interpretação mais provável é que a ex-
pressão “ele [o diabo] nada tem em mim” signifique “o diabo não
encontrará nenhum ponto de apoio em mim”. Jesus está imune à ação
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
de Satanás porque nele o humano não está misturado. Somente quem
é misturado –todos nós, obviamente– pode dar lugar ao diabo. E mais:
nossa humanidade só será inteiramente restaurada quando deixarmos
de ser seres misturados. Posto de outro modo, seremos verdadeira-
mente homens quando não restar mais nada em nossa natureza que
possa servir de apoio ao maligno. Enquanto isso não acontece, deve-
mos vigiar (Mt 26:41) e resistir (Tg 4:7).
Nossa condição atual é, portanto, de seres híbridos, marcados
pela contradição. Por um lado, possuímos atributos divinos, que nos
foram comunicados por Deus. Por outro, carregamos em nós a semen-
te da rebelião: o divino e o antidivino convivem em nós lado a lado. A
ambivalência dos nossos pensamentos, emoções e atos tem sua ori-
gem no embate entre essas duas tendências.
Porque somos seres com mistura, expressamos mais do que
Deus –fomos criados à sua imagem e semelhança–; expressamos tam-
bém o mal que persiste em nossa natureza caída. Ser santo, portanto,
significa caminhar na direção da humanidade sem mistura, da supera-
ção das nossas contradições, da restauração do estado original de pu-
reza que experimentávamos antes da queda. Salvação é, então, ir na
direção da não-contradição, da santidade, da ausência de mistura. O
desafio do cristão é expressar, ao mesmo tempo, o máximo possível de
Deus e o menos possível do diabo que ele puder. Ser homem é, no
sentido mais próprio da palavra, expressar Deus na inteireza do nosso
ser. Seremos cada vez mais homens à medida que avançamos na direção
do estado original de pureza. Posto de outro modo, sabemos que
estamos recuperando nossa humanidade se a cada dia mais de Deus –
o ser sem mistura por excelência– é visto em nós.
Missão Integral
no processo de santificação que a velha humanidade –o ser híbrido–
dá lugar à nova –o ser sem mistura (Cl 3:5-11; 2 Co 5:17).
Sole Deo gloria
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
Apêndice: O Pacto de Lausanne
Introdução
Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de
150 nações, participantes do Congresso Internacional de
Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua
grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça
dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos
profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias,
movidos ao arrependimento por nossos fracassos e dasafiados pela
tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são
as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça,
decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a
toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Deseja-
mos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar
público o nosso pacto.
1. O propósito de Deus
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
3. A unicidade e a universalidade de Cristo
4. A natureza da evangelização
Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por
nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como
Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom
libertador do Espírito a todos os que se arrependem e crêem. A
nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o
mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com
sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização
propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como
Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele
pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o
convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do
discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e
negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a
sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a
obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço
responsável no mundo.
Missão Integral
imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor,
cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca
em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada.
Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos
algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social
mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não
seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem
a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o
envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão.
Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca
de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa
obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também
uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão
e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a
injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo,
nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar
mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo
injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos
transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e
sociais. A fé sem obras é morta.
6. A Igreja e a evangelização
7. Cooperação na evangelização
Missão Integral
nosso testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por
pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço.
Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na
verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que
se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e
funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o
planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e para o
compartilhamento de recursos e de experiências.
Missão Integral
que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua
desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais
generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a
evangelização deles.
Missão Integral
combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da
oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente
nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em
falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no
lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento
para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós
mesmos não somos imunes ao perigo de capitularmos ao
secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição
pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja,
tanto no sentido numérico como espiritual, às vezes não as temos
utilizado. Por outro lado, por vezes tem acontecido que, na ânsia de
conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa
mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas de
pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as
estatísticas, e até mesmo utilizando-as de forma desonesta. A igreja
tem que estar no mundo; o mundo não tem que estar na igreja.
Missão Integral
tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a
terra ouça a Sua voz.
Conclusão
Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto sole-
ne com Deus, bem como uns com os outros, de orar, planejar e tra-
balhar juntos pela evangelização de todo o mundo. Instamos com
outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua graça
e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!
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Ariovaldo Ramos
UM OLHAR SOBRE A MISSÃO INTEGRAL
São Paulo - 2005
Missão Integral
Bibliografia
Albert NOLAN. 1999. Jesus Antes do Cristianismo. 3a ed. São Paulo:
Paulus Editora
Ariovaldo RAMOS. 2000. Igreja. E eu com isso? – Compreendendo a
igreja para poder vivê-la. São Paulo: Editora Sepal.
C. René PADILHA. 1992. Missão Integral – Ensaios sobre o Reino e a
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Dietriech BONHÖEFFER. 1959. Letter and Papers from the Prision.
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Gehard LOHFINK. 1988. Como Jesus Queria as Comunidades – A
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Reinhold NIEBUHR. 1960. Moral Man and Immoral Society – A Study
in Ethics and Politics. Louisville, Kentuky: Westnister John Knox
Press
Valdir STEUERNAGEL (ed). 1992. A Serviço do Reino – Um Compên-
dio sobre a Missão Integral da Igreja. Belo Horizonte: Missão Edi-
tora
b)
1
Esse era o termo para descrever as nações em desenvolvimento
na época, abandonado somente na década passada.
2
Ver também At 2:42-47.
3
O termo ganhou na última década um outro sentido, associado às
iniciativas das empresas para melhorar a vida das comunidades onde
elas estão instaladas e a projetos mantidos com dinheiro doado às
ONGs que os gerem.
4
“Evangelho de Resultados”, entrevista publicada na edição de Ju-
nho de 2001 da revista Eclésia., pp. 24 e ss. O missionário R. R. Soa-
res, é fundador e presidente da Igreja Internacional da Graça.
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