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Tema 3: Igreja dos

pobres - Igreja da
libertação
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Igreja dos pobres - Igreja da libertação

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Curso Teologias da Libertação para os nossos dias – Aula 03 – (Mar…


(Mar…

1- Introdução
Na primeira aula nós clareamos que existem três níveis de teologia, ou seja, três expressões
distintas da fé: a primeira é a que existe no meio do povo mais simples: aquilo que poderíamos
chamar de teologia popular. A segunda à teologia vivida e subjacente às liturgias, pregações dos
padres e pastores, a teologia vivida na catequese da Igreja, nas escolas dominicais das Igrejas
evangélicas. E a terceira, a teologia elaborada como reflexão sistemática. Então, se acreditamos
que uma verdadeira teologia da libertação deva sempre partir da prática, isso é, da vida e do
processo de libertação no meio dos pobres, é bom que a gente comece o estudo das teologias da
libertação pelo tema Igreja dos pobres.
Fonte: Ateliê15.

2- A luta pelo que hoje está se chamando lugar de fala


Desde que surgiu a expressão Igreja dos Pobres foi assunto de polêmica e de tensão dentro das
Igrejas. No mundo antigo, a Igreja era dos pobres e nem precisava afirmar isso. Mas, no mundo
contemporâneo, a expressão surgiu bem no começo dos anos 1960 e quem primeiro a usou foi o
papa João XXIII.

Quando João XXIII convocou os bispos para o Concílio Vaticano II, ele propunha como objetivo
renovar a Igreja. E dizia que isso deveria se fazer a partir de dois princípios: o primeiro era voltar
às fontes da fé, isso é ao evangelho. E o segundo era readequar a Igreja aos dias atuais. Mas,
como fazer isso? Aí ele propunha dois pontos de partida para a renovação eclesial:

No Brasil, as perspectivas são muito duras. A quantidade de gente desempregada, o aumento da


fome e da miséria.

1º - "ler os sinais dos tempos" e

2º - "uma atenção privilegiada ou prioritária aos pobres".

Ler os sinais dos tempos é compreender que temos de ser capazes de dizer uma palavra em
nome de Deus para a realidade nossa. Nestes dias, 152 bispos brasileiros publicaram uma Carta
ao Povo de Deus na qual fazem uma análise profunda e crítica da realidade brasileira,
responsabilizam o governo federal por muitos dos males que está acontecendo no Brasil e
pedem mudanças. Isso é saber ler e interpretar os sinais dos tempos a partir do evangelho.

O outro ponto de partida proposto pelo papa João XXIII foi a atenção prioritária aos pobres do
mundo. Já há um mês antes do Concílio, João XXIII tinha afirmado: "A Igreja quer ser Igreja de
todos, mas especialmente Igreja dos pobres" (Cf. Aquino Júnior, 2016, p. 634). Essa afirmação do
papa possibilitou que na Igreja, bispos e fiéis, preocupados com a questão da pobreza e da
justiça social se movimentassem.

Durante o Concílio, assessorados por teólogos/as e leigos/as do mundo inteiro, alguns bispos
como o cardeal Lercaro, Dom Helder Câmara e vários outros se organizaram como um grupo de
aprofundamento dessa questão. Embora tenha sempre permanecido como um grupo, de certa
forma, marginal durante o Concílio, esse grupo inspirou muitas boas intervenções nas sessões
plenárias do Concílio... Mais de 50 anos depois do Concílio, sem forçar a história, podemos
considerá-lo semente da Teologia da Libertação" (Aquino Júnior, 2016, p. 635).

Na América Latina, o termo Igreja dos pobres foi consagrado pela 2ª conferência do episcopado
latino-americano em Medellín em 1968. Mas, aí a tensão explodiu. Muita gente contesta. Os
argumentos são principalmente dois:

1º - Deus é o Deus de todos, a Igreja deve ser de todos? Falar em Igreja dos pobres exclui e
coloca uns contra os outros.

2º - Para o evangelho, o importante não é ser pobre ou rico. O importante é a pobreza de coração.
E para ajudar os pobres, a Igreja precisa fazer aliança e trabalhar junto com a classe formadora
de opinião. A classe mais rica.

Infelizmente, estas tensões revelam opções de vida e posturas emocionais que não mudam com
o diálogo. Nem Jesus conseguiu. De acordo com os evangelhos, um rapaz rico procurou Jesus
pedindo: O que devo fazer para ter a vida eterna? Quando Jesus disse a ele: Se queres ir até o fim
do caminho, vai, vende tudo o que tens, reparte com os pobres e depois vem e me segue. Não
estava falando de pobreza só emocional ou de simplicidade do coração. A ordem foi: vai, vende
tudo o que tens e dá aos pobres... E o rapaz entendeu muito bem, baixou a cabeça e desistiu. Foi
embora. E Jesus ficou triste porque o evangelho diz que tinha gostado muito dele. E diz aos
discípulos: Como é difícil um rico entrar no reino de Deus.

Então, de fato, na Bíblia hebraica, há três termos para dizer pobre. Anaw ou anawin significa o
oprimido. O pobre explorado. No ponto de vista social e político. Ebion é o fraco, o carente. Dal é
o humilde. O pobre no sentido que seria a pessoa que tem coração de pobre.

Nos evangelhos, o termo grego é um só para dizer estes três. Mas a gente pode resumir dizendo
o seguinte: Para o evangelho, a pobreza tem de ser assumida de tal forma que não basta ser
pobre economicamente com cabeça de rico. É preciso ser pobre e fazer parte do povo dos
pobres que sente de Deus o chamado para se libertar. A proposta da teologia da libertação é
Junto com os pobres, no meio dos pobres, contra a pobreza injusta. Portanto, nada de santificar a
pobreza. A pobreza é injusta, deveria ser ilegal e todo mundo tem que se libertar dela. Mas, não a
libertação proposta pela teologia da prosperidade. Reze e seja de Deus e dê dinheiro ao pastor ou
ao padre que Deus te recompensa e você se salva sozinho enquanto os outros afundam. A
teologia da libertação é ou nos salvamos juntos ou ninguém se salva.

3 – O que significa Igreja pobre e dos pobres


Hoje pode significar várias realidades concretas:

1º - Uma paróquia católica pobre ou uma congregação evangélica ou pentecostal em uma


periferia de cidade ou na roça, pensada e organizada por pobres e a partir da cultura e das
necessidades dos pobres.

2º - Uma Igreja que tanto na periferia como nos centros de cidade, tanto em bairro pobre como
em bairro rico dá prioridade aos mais pobres.

3º - Igreja não é prédio, Igreja não é pertença institucional, Igreja é onde dois ou três estão
reunidos no nome de Jesus. Então, a presença em nome de Jesus na luta dos lavradores, dos
índios, dos trabalhadores e dos pobres da rua é Igreja dos pobres. O padre Júlio Lancelotti realiza
a Igreja dos pobres não só quando ele celebra a missa mas quando está organizando e ajudando
a vida e a resistência dos pobres da rua, sem perguntar a nenhum se é de Igreja, se quer ser
batizado e se vai à missa de domingo. Ele realiza a Igreja dos pobres no trabalho dele porque
realiza com os pobres o testemunho claro de que Deus os ama e de que na unidade deles
começa o projeto divino para o mundo.

Então, depois de vermos o que significa Igreja dos pobres hoje, vamos tentar compreender na
história, no começo do Cristianismo.

Quem primeiro usou o termo Igreja para designar uma comunidade de discípulos e discípulas de
Jesus foi Paulo nas suas cartas nos anos 50. Jesus talvez nem conheceu esta palavra. No tempo
de Paulo, nas comunidades do mundo grego, ekklesia era um termo político. Era a assembleia
dos cidadãos com direito a voz e voto. Mesmo sabendo que naquele tempo ainda não havia a
divisão dos poderes (executivo, legislativo e judiciário), de todo modo, podemos dizer que a Igreja
no mundo grego era como as nossas câmaras dos vereadores nos municípios brasileiros. Só que
no mundo grego, só quem era cidadão, portanto quem podia pertencer à Igreja política era
homem, de maior idade, cidadão nascido no pais ou naturalizado e proprietário de terra e de
bens. Ao usar o nome Igreja, Paulo faz uma subversão: diz que da assembleia do reino de Deus
que os discípulos e discípulas de Jesus formam participam os escravos e escravas, os
estrangeiros, as crianças, as mulheres... A Igreja de Jesus era aberta a todos. Mais tarde, a partir
do final do século I, começo do século II, Inácio de Antioquia vai dizer: é católica, isso é aberta a
todos. Portanto, naquela época falar em Igreja dos pobres é redundância, ao dizer Igreja já se
está dizendo que é Igreja dos pobres e que se abre a qualquer pessoa que queira participar.

Então, gente, Igreja dos pobres é essencialmente Igreja local. Como eram as Igrejas no tempo de
Paulo. E comunidades eclesiais de base, Cebs não são simples capelas do interior ou da periferia.
Em um de seus livros, Gustavo Gutierrez escrevia: "Nesses anos, aparece, cada vez mais claro
para muitos cristãos que a Igreja, se quiser ser fiel ao Deus de Jesus Cristo, deverá tomar
consciência de si mesma a partir das bases, dos pobres desse mundo, das classes exploradas,
das raças desprezadas, das culturas marginalizadas. Deve descer aos infernos deste mundo e
comungar com a miséria, a injustiça, as lutas e as esperanças dos condenados da terra, porque
neles está o Reino dos céus" (Gutierrez, 1977, p. 54).

4 – Igreja dos pobres é Igreja da Libertação

Fonte: Ateliê15.

Se aceitamos que, de acordo com os evangelhos, o centro da missão de Jesus foi o reinado
divino no mundo e se vemos que o próprio termo Igreja em sua origem remete à cidadania e à
assembleia de pessoas iguais e libertadas, é claro que a libertação é o foco principal da vida
cristã e da missão da Igreja. Na Bíblia, Deus se apresenta como Goel, resgatador do povo
oprimido. É como o parente mais próximo que tem direito a pagar o resgate para libertar a pessoa
que caiu na escravidão por dívidas. É nessa linha que Jesus foi chamado de "redentor", aquele
que nos resgata, nos redime, nos liberta. Então, todo mundo aceita que a Libertação é o eixo
central da fé e da missão. Só que uns pensam que se trata da Libertação interior, libertação do
pecado e assim restringem o projeto divino ao plano individual. Ou a um nível espiritualista que
fazia com que os missionários do século XVI quando colaboravam com a escravidão dos negros
e dos índios acreditavam que estavam libertando-os porque estavam tirando as almas deles do
inferno (eles eram idólatras) e ao escravizarem os seus corpos entregavam suas almas para o
Cristo. Hoje, a gente acha isso absurdo. Mas, a indiferença com a qual padres e pastores, a
sociedade católica e evangélica lidam com o genocídio de jovens negros nas periferias de nossas
cidades, não é tão diferente assim. Só o fato de que a direção de uma universidade católica
possa ser acusada de racista, já nos diz que essa divisão entre realidade e fé continua... Na sua
Carta ao Povo de Deus, publicada há poucos dias, 155 bispos católicos brasileiros deixaram
claro: A evangelização é revelar o reino de Deus presente no mundo, portanto, atuante em todas
as estruturas do mundo, seja no nível das consciências, seja nos ambientes sociais e políticas.
Não se pode privatizar nem mercantilizar a fé, como não se pode privatizar e mercantilizar a vida.

Na aula anterior, propomos para você a leitura do documento 5 das Conclusões de Medellín sobre
Juventude. Ali está escrito:

"Na América Latina, deve-se apresentar cada vez


mais claro o rosto da Igreja autenticamente
pobre, missionária e pascal, desligada de todo
poder temporal e corajosamente comprometida
com a libertação de toda a humanidade e de
cada ser humano em todas as suas dimensões"
(Med. 5, 15) "

Então, Igreja dos pobres não é apenas Igreja que vive a pobreza como estilo de vida simples e em
meio aos pequenos. É muito importante esta "espiritualidade de Nazaré", o testemunho discreto
da presença fraterna e solidária. No entanto, é preciso e cada vez mais urgente irmos além disso.
A proposta é de uma Igreja que vive a pobreza, na comunhão com os pobres e como Igreja
pascal, Igreja do Êxodo, Igreja a caminho da libertação e os nossos bispos disseram de forma
muito clara que esta libertação é interior, é psicológica, é moral, mas é também comunitária,
social e política.

É isso que vamos aprofundar durante todo este curso. E se a missão das Igrejas e de cada
um/uma de nós é esta, é claro que a Teologia tem de ajudar as comunidades a aprofundar esta
vocação divina e espiritual da libertação e é isso que as Teologias da Libertação são chamadas a
fazer.
Alargando horizontes 

Teologias da Libertação hoje #03 - Pe. Júli…


Júli…

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REFERÊNCIAS

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