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Revista Multitexto vol. 10, nº 01 jan/jul.

de 2022 42

UM LUGAR QUE NÃO ME PERTENCE: O


OLHAR PARA A OUTRA NA CAPOEIRA,
INTERSECCIONALIDADE, AGÊNCIA E RESISTÊNCIA
A PLACE THAT DOESN’T BELONG TO ME: THE LOOK AT THE OTHER IN CAPOEIRA,
INTERSECTIONALITY, AGENCY AND RESISTANCE

ALVES, Marcelo Barbosa1


ROSA, Marcelo Victor da2
SALERNO, Marina Brasiliano3

RESUMO

O trabalho em tela tem por objetivo discutir como diferentes capoeiristas interagem com a ca-
poeira de maneira a produzir novas realidades para a sua prática, buscando o espaço negado a
elas dentro deste universo. Iremos apontar na história de duas mestras, Tisza e Puma Camillê,
evidências de como elas, uma mulher negra e a outra mulher trans e negra, relacionam-se com
o universo da capoeira, de forma a produzir uma realidade favorável para projetar as suas exis-
tências, não somente como capoeiristas, mas também como sujeitos de agência/resistência. As
informações obtidas foram retiradas de um programa chamado “Na identidade do capoeira”, da
plataforma Facebook e em uma entrevista disponível no Portal da Capoeira. A nossa discussão
será pautada na interseccionalidade, tendo o eixo construcionista como caminho para realizar
as nossas análises. Como resultados, podemos apontar que a partir das histórias de lutas das
mestras, há vestígios que a capoeira é uma rica tecnologia social para questionar a ordem social
estabelecida, a qual, ao mesmo tempo que pode reiterar normas e condutas é um espaço para
se produzir agência/resistência por parte dos/as seus/as praticantes.

Palavras-Chaves: Capoeira. Interseccionalidade. Agência/Resistência. Mestra Tisza. Puma Ca-


millê.

ABSTRACT

The work on screen aims to discuss how different capoeiristas interact with capoeira in order to
produce new realities for their practice, seeking the space denied to them within this universe.
We will point out in the history of two master, Tisza and Puma Camillê, evidence of how they, a
black woman, and the other trans and black woman, relate to the universe of capoeira, in order
to produce a favorable reality to project their existences, not only as capoeiristas, but also as
subjects of agency/resistance. The information obtained was taken from a program called “In
the identity of capoeira”, from the Facebook platform and from an interview available on the
Portal da Capoeira. Our discussion will be based on intersectionality, with the constructionist
axis as the way to carry out our analyses. As a result, we can point out that from the stories of
the mestras’ fights, there are traces that capoeira is a rich social technology to question the
established social order, which, while it can reiterate norms and conducts, is a space to produce
agency/resistance by its practitioners.

Keywords: Capoeira. Intersectionality. Agency/Resistance. Master Tisza. Puma Camillê.

1 Mestrando em Estudos Culturais (PPGCult), Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Email: mmbalves.22@gmail.com
2 Doutor em Educação pela UFMS. Professor nos Programas de Pós-Graduação em Estudos Culturais (PPGCult) e Educação (PPGEdu) da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Campo Grande/MS. Email: Marcelo.rosa@ufms.br
3 Doutora em Educação Física pela Universidade Estadual de Campinas. Professora no Programa de Pós-Graduação em Estudos Culturais (PPGCult) da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Aquidauana/MS. Email: marina.brasiliano@ufms.br
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INTRODUÇÃO em constante transformação, não da sua base


constitutiva, mas das interações entre os mo-
Vamos aqui falar da prática em capoeira dos e formas de se pensar e desenvolver a práti-
que é frequentemente caracterizada pela luta, ca, assim, sendo construída a partir de diversos
dança e jogo, mas que nesse trabalho será discu- olhares.
tida a partir da movimentação de corpos subje- Logo, não nos apegaremos em falar sobre a
tivos4. Aliás, o tratamento direcionado à prática capoeira em si, mas sim, sobre as pessoas que
da capoeira pode estar sendo entendida de for- a praticam, sujeitos de potência que em devi-
ma reducionista e fragmentada, pois, “o que é a das proporções de suas experiências, constroem
capoeira” por vezes é considerada na sua forma a capoeira do presente, ao mesmo tempo que
natural, de produção de uma resistência negra são construídas por ela, numa relação de im-
ao processo de escravidão, remetendo ao passa- bricação, a qual os elementos da prática estão
do e não ao presente. Nossa proposta é pensar a presentes6 e irão interagir com este universo, as
capoeira do presente, é pensar “em quem pra- condutas dos sujeitos, seus códigos morais, suas
tica a capoeira”, desta forma, poderemos dar ideologias e o governo de si, constituindo assim,
ênfase nas relações sociais que a permeia, que os sujeitos capoeiristas.
não necessariamente são questões da capoeira, Os capoeiristas passam por processos de
mas sim, de um contexto mais abrangente. subjetivação que os tornam sujeitos, logo esta-
A capoeira em si representa uma série de mos compreendendo que a capoeira é, um me-
códigos, símbolos e significados construídos his- canismo que contribui para a constituição dos
toricamente. Por mais que pequenas rupturas diferentes sujeitos, assim, tornando para nós o
tenham sido produzidas neste universo, ela ain- sujeito capoeirista.
da é entendida como uma prática que remete à No universo da capoeira, o jogo se movi-
ancestralidade e tradição das pessoas afro-bra- menta de forma fluída, pois na medida em que
sileiras e isso, por si só, tem muita potência, os/as capoeiristas vão imprimindo suas ações
pois carrega história de lutas de povos que cons- e pensamentos na capoeira, ela própria vai se
truíram modos de viver e enxerga o mundo5, transformando e isto acaba por ressignificar as
uma arte de existir. suas práticas dos/as mesmos/as capoeiristas,
Quem pratica a capoeira representa outra modificando a forma de se ver, pensar e agir,
potência, pois aspectos da sua realidade como não somente no universo da capoeira, mas tam-
sujeito social e cultural irão interagir com aqui- bém, em relação ao contexto social e cultural.
lo que a capoeira traz, ou seja, as experiências Pegamos, por exemplo, a passagem da capoei-
do capoeiristas enquanto sujeito estarão em ra dita primitiva para a formulação hegemônica
constante interação com este universo da práti- da capoeira baiana, assim, as bases da capoeira
ca. Por diversas vezes é comum ela ser colocada tida até então foram modificadas à partir das
como uma prática democrática, que pode ser tensões das novas demandas sociais, as quais
praticada por todos/as. Segundo o dossiê pro- produziram não só um novo estilo de se jogar,
duzido em 2007 sobre a salvaguarda da capoei- mas também, um padrão identitário.
ra, ela estava inserida em 150 países (BRASIL, A ação do/a capoeirista dentro deste uni-
2007), denotando um amplo campo de intera- verso não é neutra, visto que, ele/a exerce in-
ção entre diferenças culturais. fluência e é influenciado/a a todo o momento.
Sendo a capoeira uma prática cultural, e Logo, o universo da capoeira é uma extensão
sendo a cultura um movimento instável e dinâ- da vida cotidiana de quem a pratica, na qual
mico, Homi Bhabha (1988) já nos dava indícios estão presentes as tensões política, culturais,
da existência de diferentes culturas que se re- educacionais e sociais. Há quem diga que cada
fletem em diferenças culturais. A capoeira está capoeirista tem a sua forma de jogar capoei-
ra, é como se fosse sua impressão digital, essa
4 Na pós-modernidade as relações entre os sujeitos são cada vez mais
dinâmicas, Foucault (1984), considera os processos de subjetivação impressão digital é resultante da sua ação no
como modos particulares de construir a experiência de si. Essa ex- mundo cultural ao mesmo tempo em que o
periência de si consideramos como subjetividade, que marca o corpo
conforme as experiências vividas pelos sujeitos particulares. Nesse mundo cultural influencia em sua constituição
sentido, o corpo em movimento é um corpo que está tensionando as enquanto sujeito.
relações de poder, produzindo agências/resistência, no processo de
construção das experiências particulares.
5 Achille Mbembe (2001), traz a relação que o africano ou o descen-
dente travou com o novo “mundo”, na tentativa de construir uma au- 6 O jogo, a luta, a dança, o canto, os toques, os movimentos, a poesia, a re-
toimagem, que não negava o seu passado, mas, que produz uma nova ligiosidade, a ancestralidade, a tradição, as vestimentas, a constituição das
realidade a partir da forma de interagir com a realidade que estavam rodas, as relações étnico-raciais isso tudo são os elementos que caracterizam
inseridos, produzindo assim, uma arte de existir. o universo da capoeira. A esse respeito ver BRASIL (2007).
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A Capoeira permite que o indivíduo utilize de seu o eixo construcionista, que “destaca sobretudo
corpo e que estabeleça relações com as outras os aspectos dinâmicos e relacionais da identi-
práticas, que também o ressignificam, de tal
modo que tensiona um e vários corpos ao mesmo dade social” (Adriana Piscitelli, 2008, p. 267).
tempo, porque a cada atividade ele é represen- Entendemos que este eixo permite a possibili-
tado diferentemente, o que numa dinâmica radi- dade de se pensar em outras relações que não
cal possibilita várias leituras. Forma-se a corpo-
reidade do indivíduo, que passa ser reformulada somente as de dominação, discriminação e si-
pelas experiências corporais vividas em conjun- lenciamento, assim, a partir das análises inter-
to com as relações da roda de Capoeira, que é seccionais podemos observar o papel da fuga,
causadora de tensões, criadora de problemas a
serem superados, que urge hibridismos: o corpo da resistência e agência dos sujeitos, potencia-
ressignificado, re-pensado e criticizado (LUCAS lizando a práxis numa possibilidade móvel de
DA SILVA; ALEXANDRE FERREIRA, 2012, p. 667). interação e correlações de forças.
Dito isto, objetivamos com este trabalho A interseccionalidade pode ser vista como
analisar como diferentes capoeiristas interagem uma forma de investigação crítica e de prá-
com a capoeira, de maneira a produzir uma rea- xis, precisamente, porque tem sido forjada por
lidade favorável para a sua prática, buscando ideias de políticas emancipatórias de fora das
um espaço negado a elas dentro da capoeira. instituições sociais poderosas, assim como essas
Para tanto, trazemos um pouco da história ideias têm sido retomadas por tais instituições
de vida de duas capoeiristas, uma mulher Cis, (PATRICIA HILL COLLINS, 2017, p. 7).
negra e mestra de capoeira, conhecida como
Mestra Tisza, e outra conhecida no universo da Assim, é nas relações da vida cotidiana, nas
capoeira como Puma Camillê7, mulher trans e tensões produzidas entre os diferentes sujeitos
negra, que mistura a capoeira com o Vogue, que a interseccionalidade ganha sentido para
uma dança que traz traços da identidade negra nós, a partir do intercruzamento dos diversos
e LGBTQIAPN+8. Para realizar o nosso estudo, marcadores sociais das diferenças, dos quais,
utilizamos a pesquisa Netnográfica, na mídia raça e gênero12 terão destaque neste estudo. O
social Facebook e no site Portal da Capoeira9, termo interseccionalidade surge no final da dé-
buscando a história de agência/resistências10. cada de 1980, com Kimberlé Crenshaw, jurista
Para falar um pouco sobre a vivência da americana. Desde então, o conceito e sua apli-
Mestra Tisza na capoeira, vamos ter como base cação vêm sendo utilizado em diversas análises
a sua participação no programa “na Identida- de pesquisas.
de do Capoeira”, transmitido pelo Facebook, no
ano de 2020, no dia 3 de novembro11. Em pou-
co mais de duas horas de programa a mestra A OUTRA NO UNIVERSO DA CAPOEIRA –
discursou sobre a sua história, sobre ser mulher A HISTÓRIA DE DUAS CAPOEIRISTAS
na capoeira e sua formação como capoeirista e
formação geral. O universo da capoeira, por vezes, tem in-
Para a Puma Camillê, utilizamos uma en- visibilizado a mulher capoeirista. Em um livro
trevista dada por ela, disponível no portal da lançado em 2020, ao abordar as suas vivências
capoeira. Para tanto, realizamos nossas consi- e a ancestralidade no jogo da capoeira, Mestre
derações sobre o universo da capoeira e busca- Jogo de Dentro, o qual é um dos mais notórios
mos elementos para potencializar as diferenças mestres, relata que a mulher na capoeira sem-
no processo de construção das identidades das pre esteve presente, mas com um papel secun-
capoeiristas. dário de suporte dos capoeiristas homens.
Para além, abordamos o trabalho a partir Do meu ponto de vista, a mulher sem-
de uma análise interseccional, tendo como base pre esteve nesse universo da Capoeira,
do lado de grandes capoeiristas. Como
7 Vou chamá-la pelo nome e não usarei mestra, pois, ela mesma não as baianas do acarajé por diversas vezes
se apresenta desta forma. os policiais perseguiam os capoeiristas
8 Sigla que remete a diversidade de gênero/sexualidade (Lésbicas, e as baianas os escondiam debaixo de
Gays, Bissexuais, Transsexuais, Queer, Interssexo, Assexuais, Panse- suas saias para que não fossem presos.
xuais e Não-binário. Nos terreiros de candomblé as mães ou
9 https://portalcapoeira.com/capoeira/capoeira-para-todes-por-puma-
camille/ - acesso em 03/11/2022. zeladoras de Santo sempre cuidaram do
10 Vamos entender aqui a resistência não somente como ato de resis- lado espiritual dos capoeiristas (JORGE
tir, de não aceitar, mas, também, através do ato de modificar a realidade EGÍDIO DOS SANTOS, 2020, p. 33).
para si, assim, produzindo um agenciamento do sujeito em relação a
sua realidade vivida. Sobre agência ver Neiva Furlin, (2013).
1 1 h t t p s : / / w w w. f a c e b o o k . c o m / n a i d e n t i d a d e d o c a p o e i r a / v i - 12 Para maiores aprofundamentos ver Kimberlé Crenshaw (2002), Pa-
deos/991521131327845 tricia Hill Collins (2017) e Gabriela de Moraes Kyrillos (2020).
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O próprio Mestre Jogo de Dentro admite bordinação da mulher perante o homem, “o não
que a mulher vem ganhando espaço dentro do veio porque não quis”, ou que teve pouca von-
universo da capoeira, e que pequenas mudanças tade de participar. É válido enfatizar o aspecto
estão sendo produzidas de modo a ressignificar produtivo desta relação, a partir da imagem do
as práticas e abrir espaço para esse público. Dito outro, que não é um outro passivo no processo
isto, iniciaremos trazendo uma parte da história de construção de subjetividades.
da Mestra Tisza, praticante de capoeira angola, Olhando para a história, questionamos se
que iniciou a sua trajetória com a capoeira ain- até aqui não produzimos uma moralidade a qual
da muito nova, nos inícios dos anos 1980. Mestra coloca a mulher em um outro lugar, em um lu-
Tisza foi aluna, dentre outros mestres, do Mes- gar de “cuidado do lar”, ao mesmo tempo que
tre João Grande, homem angoleiro13, o qual a desconsideramos essa moralidade em nossos
ensinou a arte da capoeira angola e é com esta discursos. Esse fato tende a ser mais abismal
arte que Tisza vem atuando e ressignificando a quando falamos sobre mulheres negras, pois a
sua realidade para poder ser valorizada como essas, muitas vezes é relegado um papel ainda
mestra de capoeira. mais subalterno.
Segundo Ana Beatriz Matilde da Silva (2019)
Entretanto, como no caso da discriminação de
as mulheres sempre estiveram na capoeira, mas gênero, as noções de diferença, também aí, li-
o lugar de destaque foi do homem, sobrando mitam a possível expansão das garantias de di-
para mulher o papel de secretariado e organi- reitos humanos ligados à raça aos contextos em
que a discriminação se pareça mais com a nega-
zação dos grupos, mas, muitas vezes, sem um tiva formal, de jure, dos direitos civis e políticos
papel que lhe desse visibilidade na roda. (CRENSHAW, 2002, p. 172).
É no propósito de afirmar a sua identida-
de como mestra de capoeira, mulher negra e Michel Foucault (1988) quando fala sobre
mãe que Tisza vai interagir durante a entrevis- poder o relaciona como um ato positivo, de
ta. Na abertura do programa, que é apresenta- criação e produção de sujeitos, neste sentido,
do em formato de entrevista, o entrevistador as relações de tensões entre os sujeitos são
expõe que não precisaria trazer outras capoei- positivadas. O outro exerce o poder num cons-
ristas para falar nesse espaço e já se dava por tante jogo de poder e resistência. Diante dessa
satisfeito com a entrevista da Mestra Tisza. Se- relação, apontamos a participação das mulhe-
gundo ele, poucas mulheres aceitam o convite res no universo da capoeira, sujeitos ativos da
para participar do programa. Mestra Tisza, na construção das suas subjetividades.
abertura de sua fala, diz que não se deve desis- Foucault (1988, 1998) em seus livros sobre
tir de levar outras mulheres ao programa, pois a história da sexualidade, revisa os códigos e
existem várias que tem muita história e muitas condutas morais, éticas e de governamentalida-
coisas para contar, e que se chamar uma vez e de, e demonstra como os sujeitos são colocados
não aceitar, que continue a convidar, pois, mu- e se colocam em papéis sociais os quais são da-
lheres exercem vários papéis e que ela mesmo dos como formas fixas. Mas, nas relações entre
se desdobra para ser capoeirista e cuidar dos os sujeitos, o próprio Foucault demonstra pos-
seus afazeres enquanto mãe. Assim, enfatiza sibilidades de fugas, de resistências, de deslo-
que pode não ser por falta de vontade que as camentos. Logo, o que Mestra Tisza demonstra
mulheres não participam do programa, mas, por em sua primeira fala que existe um papel do
terem muitas demandas cotidianas. sujeito que resiste, do sujeito que foge da fixi-
Podemos notar nesse começo de entrevis- dez, que se desloca no sentido de formulação
ta, como os diferentes sujeitos se posicionam de uma outra relação, de uma outra produção
perante a vida. O entrevistador, homem e ca- da sua realidade.
poeirista, tenta relacionar o não aceite das mu- A influência que Mestra Tisza teve da músi-
lheres capoeirista para a entrevista como um ca, do samba e da proximidade com elementos
descaso ou uma má vontade de participar. Já a da cultura afro-brasileira a levou para o mundo
mestra Tisza aborda um outro lado que talvez o da capoeira. Em dado momento ela fala sobre o
entrevistador não tivesse percebido. A ideia do seu primeiro Mestre, o qual, segundo ela, nunca
não aceite dos convites para participar do pro- fez distinção de gênero na sua prática da ca-
grama, pode estar baseado em uma ideia de su- poeira e isso deu a ela uma motivação e segu-
13 Na prática da capoeira, angoleiro é a identidade que remete ao ca- rança para percorrer os caminhos na arte.
poeirista jogador do estilo de capoeira angola, este em contraposição a Ábia Lima de França e Elis Souza dos San-
identidade do jogador de capoeira regional. A esse respeito ver Lucas
Machado Goulart (2017). tos (2022) apontam que as relações de violência
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contra as mulheres no universo da capoeira nem são mulheres e que atualmente existe mais de
sempre estão de forma explícita, muitas das ve- 260 mestras de capoeira espalhadas pelo mundo.
zes os diferentes tipos de violências contra a Para este universo pequeno de mulheres que
mulher estão mascaradas em formas de “brinca- gostam de cantar nas rodas de capoeira, Mestra
deiras”, de piadas, de movimentos no jogo, de- Tisza fala da necessidade de manter o tom de
notando assim, uma naturalização da violência voz que mais as agradam, não forçando-a para
contra a mulher na capoeira. reproduzir o padrão grave entonado pela voz dos
A história de Mestra Tisza é uma história de homens, ou então agudo somente para denotar a
busca, em seus relatos, podemos observar que feminilidade, ela aconselha cantar para se sentir
ela sempre foi atrás da capoeira, dos Mestres bem e bem conduzir uma roda.
mais experientes, renomados. Colocar-se nesse Por fim, nos chamou atenção a pergunta
local é construir uma realidade que às vezes não feita por um expectador para a entrevistada,
é possível para muitas outras mulheres capoei- sobre o que ela achava das mulheres da “pá vi-
ristas. rada”. A mestra num primeiro momento tentou
Eliane Glória dos Reis da Silva (2018) dis- entender a pergunta e logo a ressignificou para
cute sobre situações de vida das mulheres no dar a sua resposta, dizendo que entende como
mundo da capoeira, que em seus discursos vi- mulher da “pá virada” as mulheres inteligentes,
sam narrar suas histórias de invisibilidade. Ob- que tem uma chama que carrega, que sabe que
jetivando buscar indícios de como as Mestras não pode apagar, em outras palavras, essa mu-
percebem as relações de poder existentes na lher é uma mulher que busca se inserir nos es-
interação entre mulheres e homens no universo paços, os quais, geralmente ela não é tida como
da capoeira, enfatiza que a capoeira ainda é um protagonista. Entendemos nessa fala que um
lugar de dominação de homens. desses espaços seria a capoeira, sendo a pró-
A história de Mestra Tisza é uma relação pria Mestra Tisza uma mulher da “pá virada”,
ocasionada pelo contato com o capoeirista ho- pois está dentro deste espaço buscando a sua
mem, não estando presente em seus relatos a inserção.
influência de uma mestra mulher para a sua for- Como mulher negra, Mestra Tisza busca
mação capoeirística inicial. Não estamos que- projetar as suas experiências de vida, suas his-
rendo dizer que está relação (homem-mulher) é tórias de luta para construir a sua autoimagem
ruim, justamente é esta relação que vai denotar a partir de elementos da cultura negra, princi-
a importância da imagem do outro para a cons- palmente dados pelo samba e pela capoeira e,
trução da autoimagem, ou seja, para a constru- na constante relação com o outro capoeirista,
ção do “eu”. geralmente homem. Logo, notamos que não é
Um dos momentos mais marcantes na en- somente na relação de opressão que emerge a
trevista da Mestra Tisza é quando ela relata so- figura da mestra de capoeira, mas sim, na pro-
bre a cantoria na roda de capoeira. Em sua vida, jeção de uma realidade favorável à sua existên-
a musicalidade e o canto sempre estiveram mui- cia, móvel, dinâmica e produtiva.
to presentes, ela traz como referências de mú- Não podemos deixar de notar, a quantida-
sicas as que a sua mãe escutava e a fazia cantar de de mulheres que comentavam na live que
para aprender a ler, por vezes, letra de samba. estava sendo transmitida, muitas elogiando a
A sua referência para tonalidade de voz é Elza mestra, outras falando que tem orgulho de co-
Soares, Baby Consuelo e entre outros cantores e nhecer e de ser aluna. Isso nos faz lembra de
cantoras. Interessante, que nesse momento ela bell hooks (2019) quando nos fala dos sistemas
fala sobre a sua influência musical e relaciona de representações. Nesse sentido, podemos
com várias mulheres cantoras, diferente da sua falar que existe uma representação da mulher
influência capoeirística que não aparecem mu- construída pela mulher, na entrevista da Mestra
lheres como referências. Tisza. Mas, também que essa representação é
A experiência que denota valor, no univer- ressignificada com o outro capoeirista, que na
so da capoeira, é do homem, assim, as mulheres história da Mestra Tisza é o homem, ele “deten-
por vezes têm que jogar, cantar e tocar instru- tor” do conhecimento ancestral da capoeira14.
mentos performatizando os homens. É a expe- Neste sentido, Mestra Tisza aprende com o
riência masculina que vai ter lugar de destaque outro os modos de ser uma capoeirista e a res-
dentro desta prática. Vale aqui citar um dado
interessante que França e Santos (2022) trazem 14 Carlos Vinicius Frota de Albuquerque (2012), vai apontar que a ca-
poeira é uma prática que ainda os homens heterossexuais são tidos
que apenas 14% dos/as mestres/as de capoeira como os detentores dos saberes.
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significa trazendo outras experiências, outras o qual, pelos movimentos corporais, pela res-
possibilidades, assim construindo a sua própria significação dos padrões se produza a liberdade
identidade a partir da relação com o diferente, de expressar e representar as diferentes subje-
numa relação de poder. E é nessa relação que a tividades.
agência/resistência acontece. Em um universo, que como apontado neste
Outra mulher capoeirista é Puma Camillê, trabalho, é ocupado por homens, Puma Camillê,
com seu estilo próprio de interagir com o uni- na sua expressão corporal e seu posicionamento
verso da capoeira vem buscando espaço para se político, vem tentando ressignificar a capoeira.
projetar enquanto sujeito que resiste às cons- A sua identidade de gênero não deixou que ela
truções, por vezes, estereotipadas da capoeira- ficasse de fora desse universo, pelo contrário,
gem. Artista, coreógrafa, palestrante e capoei- ela trouxe um movimento inovador, elementos
rista, procura nestas atividades, possibilidades da cultura LGBTQIAPN+ para dentro da capoei-
de agenciar a sua própria realidade, trazendo ra.
questionamento de uma ordem que ainda é he- Puma Camillê traz a ideia de que a ca-
teronormativa. Desta maneira, busca projetar poeira, como no passado, é um símbolo de re-
a sua arte de existir em uma realidade diversa, sistência, mas em uma outra perspectiva. Se a
mas ainda tão normativa. capoeira representava a resistência contra as
Aos 27 anos, se define como cidadã de lu- desumanas condições de vidas dadas às pessoas
gar nenhum, a procura de um lugar no mundo. que foram escravizadas, no presente repre-
Nascida no interior de São Paulo conheceu a senta uma possibilidade de desvincular a sua
capoeira aos sete anos de idade. É a pioneira prática de padrões que não representam por
na capoeira ao inserir o universo LGBTQIAPN+ vezes os sujeitos que dela participam, ou seja,
na prática, como ela mesma diz, não consegue a capoeira para Puma Camillê é uma tecnologia
se descrever em nenhuma identidade de gêne- social que pode questionar a constituição dos
ro, mas que, se aproxima da identidade Trans. diferentes sujeitos.
Negra, capoeirista, idealizou um movimento de O sujeito é constituído por um processo de
capoeira chamado Capoeira para “Todes”. Des- reiteração de normas, mas, que nesse processo
de muito pequena, Puma Camillê joga capoeira, as normas não são assimiladas sempre da mes-
e com ela tem uma relação íntima, consideran- ma forma, havendo aí mudanças que podem ser
do-a para muito além dos movimentos estéticos caracterizadas por pequenas rupturas e descon-
e padronizados. tinuidades, constituindo o sujeito performático.
Em uma entrevista concedida ao portal da Isso é dado pela dinâmica do poder, o sujeito
capoeira, ela diz: nessa perspectiva está sempre em construção
no interior das relações de poder.
Quando falo de ética e respeito, na capoeira
isso não tem a ver só comigo exclusivamente. A Ao interagir, nos tornamos sujeitos nas
capoeira é a oportunidade de experienciar você relações de poder travadas no processo de su-
mesmo a partir do outro, de trazer o movimen- jeição e subjetivação do indivíduo, as pessoas
to como cura. Jogar capoeira é você entender o
outro em você. Enxergar o outro como espelho.
tornam-se sujeitos após terem passado por esse
De enxergar a minha ética, de como eu enxergo processo. O sujeito encontra possibilidade de
o mundo a partir do outro. Me enxergar em co- subjetivação a partir dos processos de resistên-
munidade. Ler o outro a partir de mim. Pra além cias construídos para se impor contra as normas
da movimentação que corre em meu corpo, eu
faço os outros corpos se movimentarem a partir sociais que os limitam (FULIN, 2013).
do que existe em mim (PUMA CAMILLÊ, 2021). A constituição do sujeito se dá mediante a
uma submissão primária ao poder, que atravessa
O Projeto Capoeira para Todes, como a pró- os valores e as normas internalizadas desde a in-
pria Puma Camillê falou em entrevista dada ao fância, por meio dos processos de socialização.
Altas Horas15, na rede Globo, é uma iniciativa Podemos entender, assim, que a dinâmica das
que visa resgatar o papel questionador que a relações de poder tensiona a interação entre os
capoeira possui, desvinculando os padrões es- sujeitos potencializando novas possibilidades,
téticos do mundo da capoeira, abrindo espaço daí o papel produtor do poder, logo “poder é si-
para a participação das pessoas marginalizadas, multaneamente externo ao sujeito e é a própria
das minorias sociais. Isso pode significar o res- força que rege o sujeito” (FULIN, 2013, p. 397).
gaste da capoeira como processo de resistência, A agência é gerada a partir das condições
dadas pelas relações de poder e o sujeito é o
15 https://www.youtube.com/watch?v=RpYcGRoV7Hk – Acesso em
27/11/2022
lugar de agência e ao invés de fonte de agência,
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denotando assim, que não existe um poder so- em um questionamento constante dos códigos
berano e que existem possibilidades de ressigni- morais e de condutas presentes na vida. Se no
ficação, rupturas e descontinuidades por parte passado a capoeira representava a luta contra
do sujeito. A agência sempre ocorre no contexto um sistema perverso, o sistema escravista, hoje
das relações sociais, aos poderes que limitam a ela pode representar a luta pela necessidade de
condição do sujeito. visibilidade dos diversos sujeitos: as mulheres,
Assim, a agência é a própria força de re- os/as/es LGBTQIAPN+, as pessoas com deficiên-
sistir ao subverter a ordem social, política, cul- cias, as pessoas obesas, pessoas negras, ido-
tural, de gênero ou religiosa que impõe limites sos/as, ou seja, a capoeira ainda traz consigo
a ação do sujeito. Nesse contexto, ressignificar possibilidades de um papel questionador muito
a realidade produz outros locais de interação potente. Logo, no espaço da capoeira há dife-
entre os sujeitos, produzindo identidades, sub- rentes marcadores sociais que podem ser explo-
jetividades e ao mesmo tempo que enfatiza as rados e pensados a partir de processos de agên-
diferenças16. cia/resistência.
Ao projetar a sua identidade no universo da Mestra Tisza e Puma Camillê no contexto
capoeira, Puma Camillê entoa para o mundo a da capoeira são sujeitos da agência, são pro-
sua existência, suas experiências e a sua identi- dutoras de resistências e estão tencionando as
dade de gênero. Sua subjetividade é produzida relações de poder. Pensar nas infinitas possibili-
a partir da relação entre a dança, o universo dades que esses sujeitos trazem para o universo
LGBTQIANP+ e a prática na capoeira, a qual pro- da capoeira, nos faz olhar para as relações dinâ-
duziu uma forma de viver a arte em relação com micas que o mundo da capoeira pode oferecer
a sua própria vida. Eis que agência e resistência aos diferentes sujeitos.
estão num processo de interação na produção Desta forma, procuramos analisar, a partir
da sua identidade como capoeirista e sujeito. de um olhar interseccional, o como duas mulhe-
res se relacionam no universo da capoeira, bus-
CONSIDERAÇÕES FINAIS cando produzir uma realidade favorável para si,
a qual possam se projetar enquanto sujeitos de
A capoeira é uma prática que denota a luta agências e resistência, a partir da relação com
histórica contra um sistema de desvalorização o outro diferente.
do/a outro/a que foi escravizado/a. Carrega
consigo seus símbolos, códigos, significados e REFERÊNCIAS
representações. A sua base constitutiva está
consolidada, porém não acabada, havendo lu- ALBUQUERQUE, Carlos Vinicius Frota de. “Tá na
gar para ressignificações e produção de novos água de beber”: culto aos ancestrais na capoei-
espaços. ra. Dissertação (Mestrado em Sociologia) - Pro-
A potência da capoeira no tempo presente grama de Pós-Graduação em Sociologia do De-
poderá ser representada pelos/as seus/as prati- partamento de Ciências Sociais da Universidade
cantes, que são sujeitos que constroem as suas Federal do Ceará, Fortaleza, 2012.
realidades numa fluída relação entre sujeitos.
Influenciada pela dinâmica do poder, a relação BHABHA, Homi K. O local da cultura. Belo Hori-
entre o eu e o outro, o processo de construção zonte: Ed. UFMG, 1988.
da identidade e sua interação com as diferen-
ças são aspectos produtores, os quais acarretam BRASIL. Inventário para Registro e Salvaguarda
produções de subjetividades e identidades cada da Capoeira como Patrimônio Cultural Brasi-
vez mais deslocadas, por meios de processos de leiro. Brasília: IPHAN, 2007.
agência e resistência.
Nesta perspectiva a capoeira representa CARDOSO, Thomas Victor Barreto; LIMA, Maria
o jogo de tensões dos sujeitos sociais, os quais Izabella Souza de. Interseccionalizando o direi-
estão sempre em busca da produção e ressigni- to à educação: quais corpos podem habitar o
ficação das suas realidades e de seus anseios, na conhecimento. Revista Brasileira de Estudos
medida que encontram possibilidades de estar da Homocultura. Cuiabá, v. 03, n. 13, jan. -
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16 Entendemos a diferença como processo que produz a identidade, periodicoscientificos.ufmt.br/.../ind.../rebeh/
ou seja, passamos a existir como outro a partir da relação entre a dife-
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tes para a constituição do sujeito. A esse respeito ver Tomas Tadeu da
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