Você está na página 1de 47

 

CEULJI / ULBRA - Centro Universitá


Universitário
rio Luterano de Ji-Paraná
CURSO DE DIREITO
DISCIPLINA: CULTURA RELIGIOSA
PROFESSOR: PAULO

ACADÊMICOS:
ADEMILSON RODRIGUES DOS SANTOS
DAVID SEGOVIA
LEANDRO CORTIJO ALVES
MARCOS COELHO PEDROSO
MIGUEL HOPKA FILHO

SANTO DAIME
 

Ji-Paraná, fevereiro de 2010


 

Santos 
Ademilson Rodrigues dos Santos 
David Segóvia
Leandro Cortijo
Marcos Coelho Pedroso
Miguel Hopka filho

SANTO DAIME

Trabalho apresentado ao Centro


Univ
Un iver
ersi
sitá
tári
rio
o Lu
Lute
tera
rano
no de Ji-P
Ji-Par
aran
aná
á -

ULBRA,
obten
ob çãocomo
tenção requisito
de not
nota
a na dispara
discip avaliação
ciplin
lina
a Cul
Culture
tura
a
Religiosa, sob a orientação do Professor:
Pastor Paulo Rodrigues da Rosa 

Ji-Paraná, fevereiro de 2010


 

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.....................
............................................
..............................................
..............................................
................................................03
.........................03

2 ASPECTOS HISTÓRICOS.......................
HISTÓRICOS..............................................
..............................................
.........................................
...........................05
.........05
2.1 SIGNIFICADO DO NOME SANTO DAIME................
DAIME.......................................
...............................................
...........................05
...05

2.2 O QUE É SANTO DAIME, ONDE E QUANDO COMEÇ


COMEÇOU...................
OU........................................05
.....................05

2.3 FUNDADOR DO SANTO DAIME.....................


DAIME............................................
..........................................................
......................................06
...06

2.4 DESENVOLVIMENTO ATÉ OS DIAS ATUAIS.


ATUAIS........................
.....................................................
...................................07
.....07

3 ASPECTOS DOUTRINÁRIOS DO SANTO DAIME..............


DAIME......................................
.....................................
.............12
12

3.1 DOCUMENTOS SAGRADOS


SAGRADOS DO SANTO DAIME.......................
DAIME.....................................................
...............................12
.12

3.2 PRINCIPAIS COSTUMES


COSTUMES DO SANTO D
DAIME.................
AIME.......................................................
...........................................14
.....14

3.3 PRINCIPAIS DOUTRINAS DO SANTO DAIME............................


DAIME...................................................
...............................33
........33

3.4 INTERPRETAÇÃO DA RELIGIÃO SOBRE QUE


QUEM
M É JE
JESUS
SUS CRISTO..................
CRISTO......................38
....38

3.5 ORIGEM E FIM DO MU


MUNDO
NDO NA VERSÃO DO SANTO DAIME.
DAIME............
........................
..................39
.....39

4 ASPECTOS ORGANI
ORGANIZACIONAIS
ZACIONAIS DO SANTO DAIME....................
DAIME.............................................40
.........................40
4.1 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SANTO
SANTO DAIME................
DAIME.......................................
..........................40
...40

4.2 FORMAÇÃO DOS LÍDERES DO SANTO DAIME


DAIME.......................
............................................
................................
...........41
41

4.3  SISTEMA DE ARRECADAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA......................42

5 CONCLUSÃO..........
CONCLUSÃO.................................
..............................................
..............................................
.............................................................43
......................................43

6 REFERÊNCIAS .......................
..............................................
..............................................
..............................................
............................................
......................44
.44
 

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho pretende discorrer sobre vários aspectos do movimento


religioso denominado
denominado Santo Daime, que está experimentando uma ampla expansão em todo o

território brasileiro e em alguns outros países, como nos Estados Unidos e México.

Inicialmente, discorrer-se-á sobre o significado do nome Santo Daime. Logo

após, investigar-se-á onde e em que época começou tal movimento religioso,


religioso, dando ênfase ao

seu fundador, o Sr. Raimundo Irineu Serra.

 Na história de vida do fundador do movimento religioso em tela, aprofundar-

se-á em todos os seus aspectos, começando pela sua vida em sua terra natal, o nordeste do

 país, onde conviveu e teve influências das religiões daquela região, bem como do catolicismo,

religião esta que foi adotada pela mãe do fundador do Santo Daime.

A história do Santo Daime, contudo, começou no Estado do Acre, quando o

Mestre Irineu começou a difundir a religião, captando os seguidores que foram denominados

daimistas.

Mister discorrer sobre o desenvolvimento do movimento Santo Daime no

tempo. Hoje, a religião está sendo amplamente difundida no país, tendo presença firme,

contínua e crescente em vários estados brasileiros, além de estar conseguindo adeptos em

outros países, como acima já comentado.

Sobre o dese
desenvol
nvolvime
vimento
nto do movi
moviment
mentoo reli
religios
giosoo em ques
questão
tão,, impo
importan
rtante
te

coment
comentar
ar sob
sobre
re os pri
princi
ncipa
pais
is pe
perso
rsona
nagen
genss que fi
fizer
zeram
am e fa
fazem
zem o ref
referi
erido
do mov
movim
iment
entoo

acontecer,
acontecer, como exemplo do Padrinho Sebastião Mota de Melo, a Madrinha Rita Gregório e o

Padrinho Alfredo Gregório de Melo.


 

Dando continuidade, comentar-se-á sobre os seguintes aspectos da religião

Santo Daime: costumes, rituais, doutrinas, posicionamento sobre a figura de Jesus Cristo,

origem e fim do mundo na visão dos daimistas, estrutura e funcionamento da organização,

formação de seus líderes e sistema de arrecadação e administração financeira.

Por fi
fim,
m, con
conclu
cluir-s
ir-se-á
e-á o tra
trabal
balho,
ho, da
dando
ndo um po
posic
sicion
ioname
ament
ntoo sob
sobre
re est
estee

interessa
interessante
nte movi
moviment
mentoo reli
religios
gioso,
o, não pret
pretende
endendo
ndo cons
consider
iderar
ar o tem
temaa como ence
encerrado
rrado,,

solicitando contribuições para o constante melhoramento do presente trabalho.


 

2 ASPECTOS HISTÓRICOS

2.11
2. SIGN
SIGNIF
IFIC
ICAD
ADO
O DO NOM
OME
E SANT
NTO
O DA
DAIM
IME
E

O Mestre Raimundo Irineu, fundador da religião Santo Daime, cristianizou as

tradições caboclas e xamânicas da bebida sacramental ayahuasca, conhecida desde antes dos

incas e rebatizou-a com o nome de Daime, significando, com isso, a invocação espiritual que

deveria ser feito pelo fiel, ao comungar com a bebida: Dai-me amor, Dai-me Luz, etc.

Para melhor entender, discorreremos sobre a origem, descobrindo-se onde e


quando começou esse movimento religioso.

2.2 O QUE É SANTO DAIME, ONDE


ONDE E QUANDO COMEÇOU.

O movi
moviment
mentoo reli
religios
giosoo do Sant
Santoo Daim
Daimee co
começ
meçou
ou no inte
interio
riorr da flores
floresta
ta

amazônica, nas primeiras décadas do século XX, com o neto de escravos Raimundo Irineu

Serra. Foi ele que recebeu a revelação de uma doutrina de cunho cristão, a partir da bebida

Ayahuasca (vinho das almas), por nós denominada Santo Daime.

A bebida, de uso bastante difundido pelos povos indígenas da região, é obtida

 pela cocção de duas plantas, o cipó Jagube (banesteriopsis caapi) e a folha Rainha ( psicotrya
banesteriopsis

viridis) ambas nativas da floresta tropical. Ela tem propriedades enteógenas , isto é, produz
 

uma expansão de consciência responsável pela experiência de contato com a divindade

interior, presente no próprio homem.

Segundo o próprio Mestre Irineu, ele recebeu essa Doutrina através de uma

aparição de Nossa Senhora da Conceição, em uma das primeiras vezes que tomou a bebida, na

região de Basiléia, Acre. Os hinos do Mestre, que ele começou a receber a partir do começo

da década de 30 trouxeram uma forte ênfase nos ensinos cristãos e uma nova leitura dos

Evangelhoss à luz do Santo Daime, para afirmar, nos tempos de hoje, os mesmos princípios de
Evangelho

Amor, Caridade e Fraternidad


Fraternidadee humana.

2.3 FUND
FUNDADOR
ADOR DO SANTO
SANTO DAIME

O fundador da religião Santo Daime foi o Sr. Raimundo Irineu Serra, negro

maranhense, de dois metros de altura, migrante nordestino. O mesmo nasceu em São Vicente

Ferret, no Estado do Maranhão em 1892. No final da primeira década do século, embarcou

 para o então Território do Acre, onde se estabeleceu próximo à cidade de Basiléia, na

fronteira do Peru.

 No Acre, o corpus doutrinário do Santo Daime começa a ser estruturado pelo

Mestre Irineu. O mesmo chegou ao Acre por volta de 1912, no ciclo da borracha. Trabalhou

na Comissão de Limites, com o Marechal Rondon. Foi tesourendo da equipe e dela desligou-

se no posto de cabo, em 1932. Conheceu a bebida através de um conterrâneo seu, chamado

Antônio Costa, e foi iniciado por um xamã cujo nome era Crescêncio Pizango,
Pizango, ainda no Peru,

quando
quando trabal
trabalhav
havaa na dem
demarc
arcaçã
açãoo da fro
fronte
nteira
ira bra
brasil
silei
eira
ra recém-
recém-est
estabe
abele
leci
cida
da dep
depoi
oiss da

aquisição do novo Estado do Acre.


 

Acredita-se que o Mestre Irineu tenha tomado contato em sua terra natal com

os ri
ritu
tuai
aiss de orig
origem
em afri
africa
cana
na,, ai
aind
ndaa no Ma
Mara
ranh
nhão
ão,, o que
que pode
pode se
serr at
ates
esta
tado
do por
por sua
sua

ascendência.
ascendência. Por outro lado, sua mãe era muito religiosa, praticante do catolicismo e não é de

estranhar que muitos elementos introduzidos na doutrina do Santo Daime tenham origem na

formação inicial de Irineu. Desde criança, Irineu já tinha sonhos e visões com uma senhora

que lhe castigava quando cometia algum delito infantil, como relata Saturnino Brito em seu

cordel biográfico sobre o mestre Irineu.

“Aos seis anos de idade nele já despontava os primeiros indícios da missão que o
aguardava era quando em sonho uma senhora a ele disciplinava”.

Acredita-se que de 1912 até o início da década de trinta, Irineu tenha vivido a

sua iniciação, aprendendo a reconhecer as plantas e a preparar o chá à medida que ia

incorporando os elementos que utilizaria na constituição da doutrina. Durante esse tempo,

também foi membro de sociedades secretas como a Ordem Rosa Cruz e o Círculo Esotérico

da Comunhão do Pensamento, onde adquiriu conhecimentos sobre as doutrinas esotéricas

trazidas da Europa. Nesse período funda com Antonio Costa o Círculo de Regeneração e Fé

na cidade de Brasiléia
Brasiléia.. Do contato travado com esse conhecimento
conhecimento foram incorporada
incorporadass preces

e orações que se mantém até os dias de hoje no ritual daimista.


Por esse tempo começou a “receber” os primeiros hinos do seu hinário “O

Cruzeiro” (que conta com cento e trinta e dois hinos) seguindo, portanto, toda uma tradição

oral ligada ao urso da ayahuasca pelos índios, pelos curandeiros e vegetalistas amazônicos.

Dona Percília Matos da Silva, contemporânea do Mestre Irineu, zeladora de seu hinário e

comandante da ala feminina da Igreja, conta que quando o conheceu em 1934, ele só tinha

três hinos e que o ritual resumia-se à ingestão do chá, períodos de concentração intercalados

com o canto desses três hinos e de mais três de outros dois companheiros dele. O ritual só
veio ser estabelecido completamente perto do seu falecimento em 1971.
 

10

Com
Com o apar
aparec
ecim
imen
ento
to dos
dos hino
hinos,
s, a dout
doutri
rina
na co
come
meça
ça a se de
dese
senv
nvol
olve
ver 

musicalmente.
musicalmente. Outros contemporâneos do Mestre Irineu também começam a receber hinos e a

compor hinários. Formou-se a primeira bandinha de música dentro da doutrina, capitaneada

 por Daniel Pereira de Matos, que mais tarde fundaria a entidade denominada Barquinha.

A década de trinta até a de sessenta foi de estruturação do corpo doutrinário,

estabelecimento das normas, da farda, do bailado e, é claro, também teve seus balanços. O

trabalho foi suspenso um tempo na década de quarenta por causa da desunião e de intrigas de

alguns, tendo sido aberto novamente em 1946 e assim continuou até a morte do Mestre.

 No coração das florestas da América do Sul, o Mestre Raimundo Irineu Serra

cristianizou as tradições caboclas e xamânicas da bebida sacramental ayahuasca, conhecida

desde antes dos incas e rebatizou-a com o nome de Daime, significando, com isso, a
invocação espiritual
espiritual que deveria ser feito pelo fiel, ao comungar com a bebida: Dai-me amor,

Dai-me Luz, etc.

Depois, foi para a cidade de Rio Branco, onde começou a trabalhar com um

 pequeno círculo de discípulos. Instalou definitivamente


definitivamente sua família e um grupo de seguidores

na localidade denominada Alto Santo, onde trabalhou até fazer sua passagem em 6 de julho de

1971.
 

11

2.4 DESENVOLVIMENTO ATÉ OS DIAS ATUAIS

O discípulo do Mestre Irineu, Sebastião Mota de Melo, nascido no Seringal

Monte Lígia em 1920, desde cedo demonstrou propensão para fazer viagens astrais e ter 

visões dos seres encantados da floresta. Começou sua carreira de curador e rezador nos ermos

do Vale do Juruá. Desenvolveu-se mediunicamente na Doutrina Espírita através de seu

compadre Oswaldo, que era kardecista. Mudou-se para Rio Branco com a família em 1957,

onde levava uma vida de colono e atendia doentes do seu círculo de parentes, compadres e

afilhados. Foi um homem simples, de sólida conviccão espírita e trabalhador incansável

O Sr. Sebastião Mota recebeu do Mestre Irineu o dom de expandir o Culto do


Santo Daime por todo o país e além de suas fronteiras. Em 1974 mandou registrar sua

entidade religiosa e filantrópica, denominada Cefluris – Centro Eclético da Fluente Luz

Universal Raimundo Irineu Serra, sociedade sem fins lucrativos responsável pelo trabalho

espiri
espiritu
tual
al des
desenv
envolv
olvido
ido com
com a beb
bebida
ida sacram
sacrament
ental
al denomi
denominad
nadaa Santo
Santo Dai
Daime.
me. Em 198
19800

transferiu a comunidade, que vivia nos arredores de Rio Branco, para uma área virgem no

interior da floresta, denominada Seringal Rio do Ouro.

Em 1982 fundou o assentamento que hoje vem a ser a Vila Céu do Mapiá,
onde foi um incansável trabalhador, tanto na parte espiritual como material. Gostava de

trabalhar na construção de canoas e fazer grandes caminhadas pela floresta que tanto amava e

conhecia. Nos seus ·últimos anos recebeu carinhosamente os afilhados que chegavam de todas

as partes do mundo. Fez algumas viagens ao sul do país para conhecer as igrejas que tinham

se formado em torno dos seus ensinamentos. Só nesse momento foi que conheceu o mar, o

que muito o emocionou. Faleceu em 20 de janeiro de 1990 no Rio de janeiro, onde se

encontrava para se tratar de uma grave doença cardíaca que o acometera há alguns anos.
 

12

Sebastião Mota de Melo

A Senhora Rita Gregório, viúva do Sr. Sebastião Mota de Melo é Madrinha da

reli
religi
gião
ão,, memb
membra
ra nata
nata e vita
vitalí
líci
ciaa do Co
Cons
nsel
elho
ho Do
Dout
utri
riná
nári
rioo e de
deca
cana
na do Qu
Quad
adro
ro de

Conselheiros.

Segundo informações do site da organização Santo Daime, a senhora Rita


Gregório é “dona de uma grande bondade, humildade e sabedoria nas coisas espirituais,

conforme se vê no seu pequeno e profundo hinário”.

Preside em caráter honorário os trabalhos da Igreja Matriz do Santo Daime,

representando a lembrança do saudoso patrono e fundador, que ela “encarna e simboliza como

ninguém”.

Madrinha Rita Gregório


 

13

O Sr. Sebastião Mota indicou o seu filho Alfredo Gregório de Melo para, ainda

em vida, ser seu sucessor espiritual e principal responsável pela continuação da sua obra.

Aind
Aindaa na déca
década
da de 70,
70, Seba
Sebast
stiã
iãoo Mota
Mota as
assu
sumi
miuu a ad
admi
mini
nist
stra
raçã
çãoo da

Comunidade Cinco Mil, então um grupo de famílias de colonos que se agrupara em torno da

figura carismática do seu pai. Sob a direção de Alfredo, a Colônia Cinco Mil se tornou uma

comunidade muito bem organizada, contando com aproximadamente umas trezentas pessoas.

A partir do começo da década de 80, o Padrinho Alfredo, como é chamado na

comunidade daimista, esteve à testa da implantação da comunidade no Rio do Ouro, onde a

comunidade permaneceu durante dois anos. Foi a partir da sua gestão que se consolidou o

crescimento do movimento daimista por muitas cidades brasileiras e também para o exterior.

O Padrinho Alfredo conta hoje com 50 anos e tem como suas principais
atri
atribu
buiç
içõe
õess in
inst
stit
ituc
ucio
iona
nais
is as de pres
presid
iden
ente
te do Co
Cons
nsel
elho
ho Su
Supe
peri
rior
or Do
Dout
utri
riná
nári
rioo e

superintendente-geral
superintendente-geral do Instituto Social e Ambiental Raimundo Irineu Serra.

Alfredo tem se dedicado ao desenvolvimento dos projetos da Vila Céu do

Mapiá, viagens pelo Brasil e ao exterior e ao projeto de construção de um novo assentamento


assentamento

comunitário ecológico na região do rio Juruá, terra natal de Sebastião Mota.

Alfredo Gregório de Melo


 

14

3 ASPECTOS DO
DOUTRINÁRIOS DO
DO SANTO DAIME

3.1 DOCUMENTOS SAGRADOS DO SANTO DAIME

O “Cruzeiro" é o "Livro Sagrado" da religião daimista. O Santo Daime é um

culto essencialmente
essencialmente musical. Um de seus ritos denomina-se "bailado" porque nele os adeptos

(fardados) bailam em formação quadrilátera organizada por gênero, entoando hinos cujos

compassos são marcados pelo toque dos maracás. Esses instrumentos cumprem, ainda, a

função de "arma espiritual".


espiritual".
O hinário "O Cruzeiro", de Raimundo Irineu Serra, começou a ser "recebido"

do "astral" (região "divinal") quando ele principiava, desde 1912, sua iniciação com o uso

ritual
ritual de ayah
ayahuasc
uasca,
a, cond
conduzid
uzidaa por ayah
ayahuasq
uasqueros
ueros mais expe
experien
rientes,
tes, a partir
partir das trocas

culturais estabelecidas entre índios e seringueiros nas selvas acreanas. Mudando-se para Rio

Branco, em 1930, Irineu organizou uma comunidade agrícola e deu continuidade ao seu

trabalho com a ayahuasca. Ao longo do processo de constituição de sua pessoa como líder 

religioso e "curador" seu hinário foi sendo recebido (até próximo de sua morte, em 1971),
assinalando o seu percurso e constituindo o modelo para os que o acompanhavam e para os

que viriam depois. Deste modo, todos os hinários da religião daimista têm por referência o

"Cruzeiro".

O rece
recebi
bime
ment
ntoo de hino
hinoss inde
indepe
pend
ndee da posi
posiçã
çãoo do ad
adep
epto
to na es
estr
trut
utur
uraa

organizacional
organizacional do culto. Desse modo, é possível que algum líder não seja dono de hinário. Os

hinos
hinos são rec
recebi
ebidos
dos e org
organ
aniza
izados
dos seq
seqüen
üenci
cialm
alment
ente,
e, dizen
dizendo
do res
respei
peito
to à "passa
"passagen
gens"
s"

(acontecimentos)
(acontecimentos) na vida do adepto e da coletividade
coletividade,, podendo ainda referir-se a questões que
 

15

afetam o país, o mundo ou o cosmos. Ao serem recebidos, são avaliados pelo dirigente, que

verifica se ele é oriundo da "linha de trabalho do "Mestre", mestre Irineu,


Ir ineu, "Chefe Império Rei

Juramidã". Na avaliação leva-se em conta a linha temática - a mensagem dos hinos - e a linha

melódica que, deve corresponder a um dos três gêneros musicais: valsa, mazurca ou marcha.

Gêneros que coincidentemente


coincidentemente com o "astral", tinham a preferência do Mestre Irineu.

O "Cruzeiro" é vivenciado pelos adeptos, tanto do ponto de vista teológico

quanto ritual, como terceiro "evangelho" que (junto ao Velho e ao Novo Testamento) dá

continuidade aos ensinamentos do "Pai Eterno", de "Jesus Cristo" e da "Virgem Mãe" na

 pessoa de Juramidã. Ele também é conhecido como "Evangelho da Floresta" (Silva,1996).

Estes dados desenham nossa questão: trata-se de texto sagrado que contém ensinamentos de

conduta moral e ritual. É obra do "produtor de religião", no dizer de Otto (1985), do mestre
fundador de uma escola espiritual. Essa condição é exposta, entre outros, no hino dezesseis,

terceira estrofe, que diz: "Ó minha/ Ó mãe do coração/ eu vivo nesta escola/ para ensinar os

meus irmãos". A dimensão religiosa é vivenciada como espaço de aprendizagem e de ensino.

Considera-se que toda a doutrina está contida nesse hinário, cuja origem é o "astral".

O confronto com o astral proporciona mergulho em realidades ontológicas

 perenes, processo de reencontro com o ser, sua "essência", seu destino, confronto com o

mistério. Através dele é possível auto-examinar ações, estados e sentimentos. De fato, a


importân
importância
cia do "livro
"livro sant
santo"
o" na "prov
"provisão
isão de horm
hormônio
ônioss simb
simbóli
ólicos"
cos" foi assinal
assinalada
ada por 

Durand (1995:45).

O Cruzeiro, constituindo-se em modelo dos processos de descoberta do "ser 

verdadeiro", movimento que inclui identificação e subordinação ao ser divino, contém, de

forma nítida o processo de constituição da identidade e legitimidade do "Mestre Ensinador",

modo de ser "essencial" do Mestre Irineu. Seu hinário, portanto, mostra os desdobramentos e
 

16

os temas principais de seu processo de auto-descoberta e, de legitimação dessa "verdade"

frente ao grupo de adeptos e à sociedade envolvente.

O hino número um, "Lua Branca", é o registro ontológico do "Cruzeiro" e,

consequentemente,
consequentemente, do culto ao Santo Daime. Esse hino permite ver a similitude do culto com

a estrutura recorrente das religiões estudadas de um ponto de vista histórico-comparativo por 

Eliade (1992): trata-se de processo de substituição ou fusão de sacralidades


sacralidades mais distantes
distantes por 

sacralidades próximas. O hino "Lua Branca" registra a hierofania que funda "O Cruzeiro", ao

mesmo tempo que seu simbolismo prolonga hierofanias anteriores onde, a partir da "Lua

Branca",
Branca", desdobra
desdobra-se
-se a epi
epifani
faniaa da "Deu
"Deusa
sa Univ
Universa
ersal",
l", "Noss
"Nossaa Senhora
Senhora da Conceiç
Conceição",
ão",

“Rainha da Floresta".

Esse hinário, como os outros do culto ao Santo Daime, mostram-se heurísticos


se abordados não apenas evolutivamente mas, considerados também, em suas interrelações

temáticas. Durand (1988) também assinalou o "isotopismo" das imagens chamando-o de

"constelações de imagens".

3.2 PRINC
PRINCIPAIS
IPAIS COSTUMES
COSTUMES DO SANTO DAIME

Vári
Vários
os são
são os cost
costum
umes
es do Sant
Santoo Da
Daim
ime.
e. No tópi
tópico
co se
segu
guin
inte
te,, onde
onde é

explicitado
explicitado sobre a doutrina desta religião, será conceituado o termo trabalho dentro de várias

concepções, até chegar no conceito de trabalhos daimistas.

Os costumes do Santo Daime podem ser explicados dentro do que chamaremos

de trabalho. Dessa forma, é mister falar sobre alguns tipo de trabalhos realizados pelos
adeptos dessa religião.
 

17

Há uma
uma vari
varied
edad
adee cons
consid
ider
eráv
ável
el de ti
tipo
poss de tr
trab
abal
alho
hoss no Sa
Sant
ntoo Da
Daim
ime,
e,

considerando a natureza ritualística desenvolvida dentro do salão propriamente dito. Alguns

estudiosos já confundiram essa natureza de forma que às vezes trabalhos diferentes são

colocados sob a mesma ótica ou o contrário. Tentarei aqui não fazer o mesmo e descrever 

cada trabalho de acordo com a sua história e com sua função dentro da doutrina do Santo

Daime, lembrando que nem todas as igrejas realizam todos os trabalhos, eles acontecem

 principalmente na matriz, no Céu do Mapiá. Em primeiro lugar, o Mestre Irineu, fundador da

doutrina, depois de cinqüenta anos de estudos com a bebida sagrada que ele mesmo batizou

de Daime, deixou um corpus bem definido do que seriam os principais ritos da nova religião

que surgia da confluência de muitos elementos. Durante esse período, muitas coisas foram se

acomodando, modificando, para que, em 1971, ano do falecimento de Irineu, o trabalho


estivesse estabelecido como hoje o conhecemos. Mas esse corpo litúrgico, antes de chegar a

esse ponto, atravessou muitas fases, como narram os primeiros seguidores do Mestre. De

início, a doutrina possuía um pequeno numero de adeptos e os hinos que a compunham não

 passavam de dez. Então, na falta de um local próprio para a realização dos trabalhos, o Mestre

se reunia com seus primeiros discípulos na casa de algum deles e ali realizavam o trabalho.

Mesmo depois de já possuírem a sede, continuaram ainda fazendo isso. Dona Percília,

contemporânea e zeladora do hinário do Mestre faz essa observação: “No tempo do Mestre,
cada domingo tinha hinário na casa de um dos membros da comunidade. Começava na casa

mais próxima da sede e ia circulando até terminar na sede de novo. Todo domingo, das duas

às quatro. Era chamado o Hinário Rondante. Se não desse pra terminar o hinário num

domingo, ficava pra semana seguinte”.

Esse roteiro se assemelha bastant


bastantee à prática católica da novena que geralmente
geralmente

reveza a casa onde se realiza, fazendo com freqüência uma pequena peregrinação
peregrinação para levar e

trazer a imagem do santo para o qual se está rezando de casa em casa. Não há apontamentos
 

18

sobre o assunto, mas creio poder relacionar esse fato com a herança levada do Nordeste por 

muitos dos seguidores de Irineu e por ele próprio. Em um trabalho, podem ser encontradas

normalmente, as seguintes funções: DIRIGENTE DA SESSÃO: É o comandante geral do

trabalho e designa aqueles que irão assumir as outras funções. Ao lado da sua cadeira, fica

uma cadeira vazia, geralmente maior e enfeitada, que é destinada ao Mestre Irineu, como

Mestre Império Juramidam e comandante real do trabalho do Santo Daime. Perto da sua

 passagem, ele teria transmitido uma instrução a seu Leôncio Gomes, pessoa que o substituiria,

que ele não alterasse e nem mexesse no trabalho dele, que ele ia continuar comandando do

astral. Ainda hoje todos os dirigentes de igreja continuam repetindo e seguindo a instrução.

COMANDANTE DA ALA MASCULINA E COMANDANTA DA ALA

FEMININA: É responsável pelo comando dos fiscais e pela zeladoria do bom andamento do
trabalho (nem todas as igrejas possuem essa função que é geralmente assumida pelo fiscal de

salão).

FISCAIS DE SALÃO (MASCULINO E FEMININO): Organizam o salão, o

 bailado, cuidam das velas, da água e do atendimento aos doentes. Dependendo do movimento

dentro do salão (quantidade de pessoas, duração, quantidade de doentes a serem atendidos)

 pode haver mais de um. Se postam ao lado da porta da igreja, no lado de dentro, o homem à

direita e a mulher à esquerda.


FISCAIS DE TERREIRO (MASCULINO E FEMININO): São os zeladores

desse espaço que é delimitado ao redor da igreja cuidando daqueles que estão em passagens

di
difí
fíce
ceis
is no te
terre
rreir
iroo e cuid
cuidam
am das
das vela
velass dos
dos pont
pontos
os que
que sã
sãoo ab
aber
erto
toss fo
fora
ra da igre
igreja
ja,,

 principalmente o ponto do Cruzeiro. Quando o portão da igreja é distante e fora do círculo de

visão do terreiro, é comum um fiscal específico


específico para lá, que é responsável també
também
m pelo ponto

do seu Tranca-Rua. Nas igrejas menores, geralmente o fiscal de terreiro assume também essa

função. Vale salientar que podem ser abertos outros pontos conforme a natureza do trabalho
 

19

ou orientação da direção. Num trabalho de Iemanjá, pode-se abrir um ponto específico, sob a

responsabilidade da fiscal de terreiro feminina. Num trabalho muito forte, com presença de

espíritos sofredores,
sofredores, a direção pode orientar a colocaçã
colocaçãoo de um ponto para as almas.

DESPAC
DESPACHAN
HANTES
TES:: Servem
Servem o San
Santo
to Dai
Daime.
me. Geral
Geralmen
mente
te são pe
pesso
ssoas
as que

conhecem bem o processo de feitura do chá, seus graus e também conhecem bem as pessoas

da comunidade. Interessante notar que na maior parte das igrejas (salvo nos trabalhos

específicos de mulheres) o despachante é sempre homem, tanto no lado masculino quanto no

feminino.

MÚSICOS: Mais freqüentes no batalhão masculino, são aceitos instrumentos

variados no trabalho do Santo Daime, sendo os mais comuns: violão, cavaquinho, sanfona,

flauta,
flauta, gui
guita
tarra
rra,, baixo,
baixo, tambo
tambor.
r. Podem
Podem ser tocad
tocados
os qua
quaisq
isquer
uer ins
instru
trumen
mentos
tos des
desde
de que
respeitada a harmonia com os outros e com o canto das puxadoras.

PUXADORAS: São responsáveis pelo estudo detalhado do canto para nos

trabalhos “puxarem”, ou seja, cantarem a primeira estrofe do hino, definindo nesse momento

a altura, o tom, o timbre, etc. Espera-se delas que também segurem o canto, pois os trabalhos

 podem demorar várias horas. Geralmente várias delas se revezam nessa função. Lembrando

que o estudo e o canto são responsabilidades de todos os adeptos, pois como temos visto é

importante à boa execução da parte musical.


Ao partir Mestre Irineu deixou regulamentados quatro tipos de trabalho: a

Concentração;
Concentração; o Hinário; a Santa Missa; e o Trabalho de Cruzes. A concentração é, por assim

dizer, o trabalho ordinário da doutrina do Santo Daime. Realiza-se todo dia 15 e 30 de cada

mês, independente de qual dia da semana seja. É, antes de qualquer coisa, o que o próprio

nome indica, um trabalho para exercitar a concentração


concentração e a meditação. Nele canta-se somente

uma pequena quantidade de hinos, sendo o restante do tempo destinado para o adepto se

concentrar. Essas datas são seguidas por todas as igrejas, independente de filiação direta à
 

20

matriz do Mestre ou a algum de seus discípulos e se configura como um momento onde se

estabelece uma grande corrente pelo mundo todo.

Usa-se a farda azul, abre-se o trabalho com as preces seguintes: pelo sinal,

sinal da cruz, três pai nossos e três ave-marias intercalados e a Chave de Harmonia; serve-se o

Daime e entra-se em estado de concentração. Lê-se a Consagração do Aposento e depois o

Decreto de Serviço do Mestre Irineu; ao fim de duas a três horas de concentração, cantam-se

em pé, os últimos hinos do Mestre Irineu, seguidos das preces de encerramento, a saber: três

 pai nossos e três ave-marias intercalados, a Prece de Cáritas, a Salve Rainha e a Chave de

Encerr
Encerrame
ament
ntoo pro
pronun
nunci
ciada
adass pel
peloo dir
dirige
igent
ntee do tra
trabal
balho:
ho: “Em
“Em nom
nomee de Deu
Deuss Pai todo
todo

 poderoso, da Virgem Soberana Mãe, de Jesus Cristo Redentor, do Patriarca São José e de

todos os Seres divinos da corte celestial, com a ordem do nosso Mestre Império Juramidam
está encerrado o nosso trabalho de hoje, meus irmãos e minhas irmãs. Louvado seja Deus nas

altura
alturas”
s”,, ao que tod
todos
os res
respon
pondem
dem:: “pa
“para
ra que sem
sempre
pre seja
seja louvad
louvadaa nossa
nossa Mãe
Mãe,, Maria
Maria

Santíssima,, sobre toda a humanidad


Santíssima humanidade,
e, amém, Jesus, Maria e José”; segue-se ainda o pelo sinal

e o sinal da cruz. Segundo os contemporâneos do Mestre Irineu, a concentração era, antes, um

trabalho com menos hinos e um tempo maior para a meditação:

“Quando nós chegamos aqui, Padrinho Irineu tinha dez hinos. Maria Damião tinha
três. Maria Franco tinha quatro (...). Na concentração, tinha macaxeira insossa,
cantávamos aquele hino da refeição, etc. Quando terminava, tomava Daime de novo
e concentrava. Passava a noite inteira concentrada, fazia pouco hinário”.

Em algumas falas é possível perceber também que a concentração era utilizada

como espaço de cura. Dona Percília conta a seguinte história: “Perto do dia 30 de junho de

1971 perguntei para ele: O senhor não gostaria de uma concentração para melhorar sua

saúde?”. Ainda hoje muitos se referem a “concentração de cura”. Na concentração


concentração oficial das

igrejas ligadas ao CEFLURIS foram introduzidos outros aspectos. Abre-se o trabalho com as
  preces, cantam-se hinos de despacho durante o tempo em que os participantes bebem o
 

21

Daime; canta-se a Oração do padrinho Sebastião; inicia-se a concentração propriamente dita e

durante esta se cantam os hinos de concentração; ao final canta-se o Cruzeirinho do Mestre

Irineu em pé (algumas igrejas às vezes bailam esses hinos). Nesse tipo de concentração

também é comum se abrirem estudos de outros hinários, o que, segundo os contemporâneos

do Mestre, foge um pouco ao trabalho deixado por ele. A concentração do Mestre também

tem horário determinado para acabar, sempre antes da meia-noite, conforme depoimento de

dona Gecila Teixeira Souza, contemporânea do Mestre que visitou o Ceará em 2007 e

estranhou a quantidade de hinos cantados na concentração e em conseqüência o horário de

término desse trabalho. Os Hinários são os trabalhos de festejo. Usa-se a farda de gala,

 branca, com vários detalhes nas roupas, principalmente na das mulheres. Interessante notar 

aqui que as fardas passaram por um processo de evolução, começam a ser institucionalizadas
a partir de 1936 e estabelecidas oficialmente perto da passagem do Mestre:
"As primeiras fardas eram umas túnicas de mescla, uns dólmãs. Tinha um chapéu
 branco na cabeça. Eram duas fardas: fardamento oficial (túnica de mescla e calça
 branca) e fardamento azul (calça de mescla e túnica branca)".

O fardamento é um rito de passagem dos mais importantes dentro do Santo

Daime. Segundo muitos informantes, é quando se deixa de ser “passageiro e passa a ser 

tripulante”. Agora o adepto vai ter que remar junto com os outros e isso significa assumir uma

série de obrigações materiais e espirituais, que assim podem ser resumidas: 1 Ŕ pagamento do

dízimo (que nas igrejas do Santo Daime é recolhido geralmente como contribuição
contribuição mensal); 2

Ŕ comparecer aos trabalhos oficiais


oficiais da igreja com a farda completa. 3 Ŕ respeitar os símbolos

da Doutrina; 4 Ŕ participar das atividades que envolvem o estudo do canto, os mutirões,

feitios, etc.

 Não é um momento específico. Cada pessoa de acordo com sua vontade e

obedecendo aos critérios da igreja escolhe a data que quer se fardar. Deve ser durante um

hinário de farda branca. Algumas igrejas estipulam um tempo mínimo de freqüência para
 

22

aceitar o fardamento, geralmente seis meses. Nesse tempo o neófito deve preparar a farda e

comparecer aos diversos tipos de trabalho que existem para poder, ele mesmo, refletir sobre a

condição que deseja assumir perante o grupo. É comum que pessoas freqüentem a igreja

durante muito tempo sem se fardar, como também é comum encontrar pessoas que se fardam

 pouco tempo depois de conhecerem a doutrina. É um momento pessoal, de conhecimento de

si próprio. Acontece também, muitas vezes, do neófito se fardar e depois “correr” (termo que

os da
daim
imis
ista
tass ma
mais
is velh
velhos
os usam
usam para
para desi
design
gnar
ar aq
aque
uele
less que
que ab
aban
ando
dona
nam
m a re
reli
ligi
gião
ão).
). O

fardamento, considerando seu aspecto de passagem, pressupõe um rito particular dentro do

ritual do hinário. Num certo momento (geralmente no começo ou no final), o fardando vai até

a mesa e nessa hora canta-se o hino 65 do padrinho Alfredo Gregório, chamado Graduação, e

então o dirigente ou pessoa escolhida pelo fardando para ser seu padrinho coloca uma estrela
de prata em seu peito, do lado direito se for casado e do esquerdo se for solteiro.
“No ponto em que estou com meu Pai e minha Mãe toda estrela que dou é uma
Graduação nesse caminho que vou uma grande devoção”

 Numa preleção o padrinho Paulo Roberto, da igreja Céu do Mar, no Rio de

Janeiro, no trabalho de São João de 2007, faz esclarecimentos sobre o que é ser um fardado e

quais suas obrigações:

“Nesse
as suas sentido assim
proteções, é muito
saber importante
lutar consigo viver ter
mesmo, dentro da luz,
clareza, ter ter as suas defesas,
inteligência, ter 
pra poder 
discernir o bem do mal, o certo e o errado, poder sempre escolher o bem, escolher a
luz, nas horas das dores, toda hora aparece, seguir o compromisso do Daime dentro
da luz, dentro do amor de Deus. Se fizer 10% do que está escrito nesse hinário aqui
 já dá pra. Muita coisa. É ter essa posição de entender o que o Mestre está falando e
 já cumprir alguma coisa, é um caminho que se faz da escuridão para a luz, se faz da
ignorância
ignorâ ncia para o conhecimen
conhecimento to da verdade,
verdade, na transforma
transformação
ção da própria
própria verdade,
verdade,
do egoísmo pra caridade, pra generosidade, se sai do orgulho e da vaidade pra poder 
chegar na humildade, na simplicidade, na pequenez, você sai da raiva pra poder 
chegar na mansidão, na calma, na paciência, tudo é um trajeto que leva séculos, isso
não é só uma vida não, isso é só um capítulo da eternidade, essa vida agora é só uma
 página do livro da existência das nossas almas. Então até isso o fardado passa a ter 
também, o sentido da vida dele, o sentido da existência dele, você saber o sentido da
vida e você saber o sentido que ele te ataca, e como é que é, conforme é, pra onde é,
  já sabe o sentido então não se perde mais, já pegou sua direção. O segundo
compromisso é com aé Igreja,
tripulação, o fardado é deixar
o soldado, de ser oque
uma pessoa passageiro para passar
serve a Deus, serve aaobra
ser da
de
iluminação cristã, tem sua posição, tem sua responsabilidade, recebeu sua estrela,
cantou o hinário que fala que a estrela que não brilha não pode iluminar, então o
 

23

compromisso é com o trabalho, a primeira coisa mesmo é saber segurar o trabalho.


Tem várias posturas dentro de um trabalho de Daime, tem desde a pessoa que vem
doente mesmo que vem pra receber, mesmo passando mal, tem a postura do pessoal
que fica só sugando a corrente, fica fazendo cera, pra economizar sua energia, tem
um pessoal que dá tudo mesmo,canta mesmo, dá o máximo de si, tem várias
 posturas dentro de um trabalho, então faz parte do compromisso você ter uma
 postura ativa, ser um aparelho que se a força chegar ali ela vai poder ser recebida e
transmitida entende? Isso precisa devoção, dedicação, lealdade, e esse sentido do
dever de servir, vocês estão aqui para servir a Deus, vocês estão aqui servindo a
Deus pra aprender com a palavra de Deus, pra perpetuar a Luz, perpetuar a presença
Divina, pra perpetuar esta ligação do Céu com a Terra e da Terra com o Céu,
 perpetuar essa presença aqui dentro, dentro de cada um, esse é o nosso dever, você
 partilhar com o Fogo Sagrado, que existe aqui dentro e que ilumina cada um que
chega aqui, então esse é que é o compromisso entende? E é um dever de gratidão,
você dar a chance de receber o seu próximo que está chegando, pra isso é preciso
saber fazer, e sempre essa coisa de receber os novos é sempre uma luta, é sempre
uma dificuldade, muitas vezes as pessoas chegam aqui e não se sentem bem tratadas,
elas não se sentem localizadas, as pessoas chegam vem uma troca de lugar bota no
outro, tem sempre um negócio assim que é feito sem certa delicadeza, até o
fenômeno mediúnico tem sido tratado assim com certa brutalidade, quando acontece
alguma coisa já vem a fiscal e dá em cima daquela pobre pessoa, nem sabe o que ela
ta passando ali, nem conhece a mediunidade dela direito. A tolerância é importante
aqui no trabalho de Daime, então pra se qualificar a ser fiscal precisa ter uma certa
delicadeza, uma certa bondade. O Terceiro Compromisso é com a doutrina, é com a
linhaespere
não espiritual do Mestre Irineu,
ser chamado”. o que
Isso é um leram
toque donesses
MestreHinos
Irineuhoje;
para“saindo desta
todos nós, linha,
é muito
importante entender isso, se não tiver na linha mesmo, não tem como conhecer, se
ficar bebendo em poços rasos aqui e acolá, nunca vai saciar a sede, e também não é
só encontrar não porque vocês não vão terminar o ciclo de busca, dizendo : "Quero
me fardar”.

A postura cobrada no trabalho é ao mesmo tempo de firmeza, devoção, ternura

e amor, qualidades imprescindíveis em todos os níveis da vida do daimista para que ele seja

um bom soldado do Mestre e o siga nessa batalha consciente de que suas atitudes pessoais,

individuais dizem respeito também à Doutrina e ao grupo que seguem:


“Quem não cumpre os mandamentos Da Doutrina que segue Não é um bom soldado
Para os trabalhos do Mestre Para ser um bom soldado Tem que ser obediente
Recebendo as ordens Fazendo as diligências Meus irmãos as diligências Podem ser 
feitas em si mesmo Vencendo os inimigos Para se livrar dos erros”.

Portanto, o ato do fardamento é considerado uma “graduação”, uma divisa

mesmo. O Mestre Irineu costumava ir graduando os fardados e acrescentando mais estrelas à

farda, distinguindo
distinguindo postos como num quartel, mas antes de seu falecimento
falecimento resolveu igualar a

todos deixando apenas uma estrela na farda. A partir daí o novo fardado deixa a fila dos não-

fardados e, conforme a sua situação (casado ou solteiro, rapaz ou moça) passa a ocupar um
 

24

outro local dentro do salão. Sobre a obrigatoriedade dos trabalhos o padrinho Wilson Carneiro

de Sousa narrava a seguinte história:


“Um dia eu disse a ele: - Mestre, eu tenho tanto que fazer... É obrigado vir nos
trabalhos? - Não senhor. Eu exijo dos oficiais, que venham nos trabalhos oficiais. -
E quais
quais são os tra
trabal
balhos
hos oficiais?
oficiais? - Da Famíli
Famíliaa Sagra
Sagrada:
da: Nossa
Nossa Sen
Senhor
horaa da
Conceição, a datao de
Santa, Finados, nascimentododeseu
aniversário Jesus Cristo, os
Leôncio... - OSantos Reis;
senhor depois
falou Semana
de todos os
trabalhos oficiais, mas não falou do aniversário do seu nascimento. - Desse dia eu
não sei nada... Ai me veio à compreensão que o aniversário dele, não era ele que
fazia. Eram os discípulos.”

Ainda tinha o São João, que já era feito no tempo dele, e depois o CEFLURIS

incluiu mais o São José (19/03), o Santo Antonio (13/06), o aniversário da madrinha Rita

(25/06), o São Pedro (29/06), a passagem do Mestre (06/07), o Dia das Mães e o Dia dos Pais,

o an
aniv
iver
ersá
sári
rioo (07/
(07/10
10)) e a pass
passag
agem
em (20/
(20/01
01)) do pa
padr
drin
inho
ho Se
Seba
bast
stiã
ião,
o, o An
Anoo No
Novo
vo e o

aniversário do padrinho Alfredo (07/01) e mais recentemente foi incluído no calendário o

aniversário do padrinho Manoel Corrente (29/09). Como podemos ver houve um aumento

considerável na quantidade de trabalhos oficiais que, na prática, só é cumprido realmente na

matriz no Céu do Mapiá e em algumas igrejas maiores, tendo em vista que as igrejas urbanas

têm dificuldade para conciliar as atividade cotidianas com o calendário extenso da doutrina.

Lembrando ainda que cada igreja faz, geralmente, algum trabalho mais particular (como o

aniversário da igreja, ou do patrono, ou do dirigente, etc). Esses trabalhos são chamados de

festa, comemorativos,
comemorativos, são bailados a noite toda e cantam-se os principais
principais hinários da doutrina

nesses dias. Chegam a durar até doze horas. Creio que as observações de CONNERTON são

importantes para pensarmos a constituição desses trabalhos:


“T
“Todo
odoss os rit
ritos
os são repeti
repetitivo
tivoss e a repeti
repetição
ção subent
subentend
endee aut
automa
omatic
ticame
amente
nte,, a
continuidade com o passado, mas existe uma classe distintiva de ritos que têm um
caráter calendarizado explicitamente virado para o passado. (...) Assim, em muitas
culturas, os festivais são realizados como a comemoração de mitos que lhes estão
associados e como a recordação de um acontecimento que se pensa ter ocorrido
numaa dat
num dataa histór
histórica
ica det
determ
ermina
inada,
da, ou num qualqu
qualquer
er passad
passadoo mít
mítico
ico;; exi
existe
stem
m
cerimoniais recorrentes no calendário, como o dia de ano novo e os aniversários; as
festas dos santos cristãos comemoram-se em certos dias do ano (...)”.
 

25

 Nesses trabalhos rememoram-se não só a história, o sentido da data (São José,

São João, Finados, Natal, Ano Novo, etc) extraindo-se a relação de cada adepto com isso e

com cada festejo já vivenciado


vivenciado anteriormente, revivendo-se todos os mitos ligados à origem e

constituição da Doutrina, como se recapitulam a história e o sentido trazido à tona pelo

hinário que irá ser cantado: o do mestre Irineu, o do padrinho Sebastião, o do padrinho

Alfredo, revivendo os ensinamentos neles contidos. A Santa Missa é um trabalho formatado

 pelo Mestre Irineu, é realizada toda primeira segunda-feira de cada mês, nos hinários de

  passagem do Mestre Irineu e do padrinho Sebastião, quando do falecimento de algum

membro da irmandade de corpo presente ou de sétimo dia. Destina-se às almas; abre-se o

trabalho com o terço das almas, são cantados apenas dez hinos (seis do mestre Irineu, dois do

Germano Guilherme, um do João Pereira e um do Joaquim Português), intercalados por três


PaiNossos e três Ave-Marias e fecha-se com a Salve Rainha. Durante o oitavo hino, quatro

membros dos que estão ao redor da mesa se levantam formando uma cruz cada um com uma

vela acesa na mão. Os hinos são cantados compassadamente, em sinal de respeito pelos

desencarnados.
desencarnados. O trabalho de Cruzes é feito muito raramente e em poucas igrejas. É realizado

em três dias seguidos, sempre ao meio-dia e é um ritual de exorcismo realizado em benefício

de um ou mais doentes específicos e com um número reduzido de participantes, que devem

ser aparelhos mediúnicos


mediúnicos aptos a formar uma corrente de cura positiva e forte para travar uma
verdadeira batalha
batalha espiritual. Dura uma hora, é realizado todo em pé e, ao contrário da grande

maioria dos trabalhos do Santo Daime, é um trabalho no qual canta-se apenas dois hinos. O

restante do tempo é dedicado a leitura de um texto no qual são invocados todos os santos, os

anjos e arcanjos pela destruição do mal e, ao mesmo tempo, pela salvação das almas. Boa

 parte desse texto é escrita em latim. Bem, aí estão os trabalhos deixados pelo Mestre Irineu:

Concentração, Hinários, Cruzes e Santa Missa.. No entanto, antes de seu falecimento ele já

autorizara Wilson Carneiro de Souza a receber doentes em sua casa na Colônia 5000 no que
 

26

viria a ser mais tarde o Pronto Socorro de Cura Raimundo Irineu Serra. Padrinho Wilson,

como é chamado, desenvolveu um trabalho de cura chamado Linha de Arrochim, que hoje é

realizado em vários outros Prontos Socorros espalhados por todo o país, constituin
constituindo-se
do-se como

espaç
espaços
os rec
reconh
onhec
ecido
idoss par
paraa a cura.
cura. O padri
padrinho
nho Seb
Sebas
asti
tião
ão Mota
Mota de Melo
Melo ta
també
mbém
m tinha
tinha

autorização
autorização para receber doentes e fazer Daime e em 1971 com a passagem do Mestre Irineu e

os constantes desentendimentos dentro do grupo, ele resolveu inaugurar sua própria igreja

contando para isso com o apoio da numerosa família e de muitos adeptos mais antigos que

abandonaram a antiga sede no Alto Santo e acompanharam Sebastião, primeiro para a Colônia

5000, depois, para o Rio do Ouro e para o Mapiá. O padrinho Sebastião, ele mesmo dono de

um longo hinário, desenvolveu também um trabalho de cura, denominado Trabalho de

Estrela, no qual são cantados hinos voltados para a cura e podem ser realizados atendimentos
ao
aoss do
doen
ente
tess atra
atravé
véss de pess
pessoa
oass para
para isso
isso prep
prepar
arad
adas
as.. Esse
Esse tr
trab
abal
alho
ho poss
possui
ui suas
suas

 particularidades; nele são cobrados, com rigor, a abstinência sexual, alcoólica, etc, nos três

dias que precedem e sucedem o dia do trabalho; toma-se uma dose maior de Daime para que

sua ação possa ser mais forte; são escritos em um papel o nome de pessoas ausentes para as

quais os participantes também estarão fazendo


fazendo uma corrente de cura e no final queima-se esse

 papel; a mesa do trabalho deve ser composta


composta sempre por um número ímpar 5, 7, 9 ou 11. Para

a realização desses trabalhos, foi construído no Mapiá um espaço próprio que chama-se
comumente Casa da Estrela, exemplo que foi seguido por alguns centros; os que não possuem

esse espaço realizam o trabalho na igreja. No começo da década de oitenta, o padrinho

Alfredo começa a “receber” o Trabalho de São Miguel Ŕ Trabalho de Limpeza Espiritual e

Cura. Esse trabalho começa a ser apresentado num momento muito delicado na vida desse

grupo ainda na Colônia 5000. Esse é o momento da mudança da comunidade para a floresta

(medo, dúvida, rebeldia, desobediência,


desobediência, questionament
questionamentos)
os) e de muitas coisas acontecendo nos

rela
relaci
cion
onam
amen
ento
toss pess
pessoa
oais
is.. Tamb
Também
ém come
começa
çaram
ram a ac
acon
onte
tece
cerr co
com
m maio
maiorr fr
freq
eqüê
üênc
ncia
ia
 

27

incorporações, transes prolongados e eventos mediúnicos de uma ordem tal que isso por si já

explicaria o surgimento de um trabalho onde essas coisas pudessem se desenvolver mais

abertamente. Conta-se mesmo que nesse período o padrinho Alfredo passou quase um mês

“atuado” com São Miguel, bebendo Daime e realizando trabalhos diariamente.


diariamente. É um trabalho

de desobsessão que utiliza muitas preces e citações da Doutrina Kardecista, a saber: Prece

 para o começo da reunião; Prece para os médiuns; Prece para afastar os maus espíritos e Prece

  par
paraa o en
ence
cerra
rrame
ment
ntoo da reun
reuniã
ião.
o. É comu
comum
m a inco
incorp
rpor
oraç
ação
ão nos
nos se
seus
us dive
divers
rsos
os níve
níveis
is..

Dependendo do direcionamento que for dado ao trabalho, pode acontecer a atuação de

espíritos sofredores
sofredores à procura de luz e que devem ser doutrinados. No Céu do Mapiá somente

o padrinho Alfredo abre esse trabalho. Durante o canto de determinados hinos, os ocupantes

da mesa devem “se perfilar”, que consiste numa determinada postura na qual o daimista deve
levantar a mão esquerda com os cinco dedos para cima e a direita levantando apenas os dedos

indicador, médio e polegar, em atenção ao “Mestre Jesus Cristo e aos nossos guias espirituais,
espirituais,

São Miguel, São João Batista, etc...”54 Canta-se a “Oração” do padrinho Sebastião, os

“Men
“Mensa
sage
geir
iros
os”” de São
São Mi
Migu
guel
el e os hino
hinoss de Cu
Cura
ra.. Pa
Para
ra o es
estu
tudo
do de
dess
ssee tr
trab
abal
alho
ho,, fo
foii

desen
desenvol
volvid
vidoo out
outro
ro tra
trabal
balho
ho cha
chamad
madoo “Me
“Mesa
sa Bra
Branc
ncaa de Cur
Curaa e Estudo
Estudoss Eso
Esoté
téric
ricos
os e

Mediúnicos Professor Antonio Jorge”. Nesse trabalho, são abertos estudos de mediunidade,

são realizadas leituras do Evangelho do Padrinho Sebastião


Sebastião,, e, mesmo do Evangelho Espírita.
Dependendo do conhecimento que tenham os participantes, podem acontecer manifestações

de psicografia, irradiação, incorporação, etc, além de atendimento aos doentes, caso haja

corpo mediúnico preparado para tal. Segundo a instrução desse trabalho:


“Dependendo da necessidade e dos objetivos gerados pelos estudos do momento, a
 presidência da mesa autoriza a continuação do trabalho. Então, poderá proceder a
chamada de uma ou mais linhas de guias espirituais alinhadas aos princípios da
Mesa Branca: Emmanuel; Orixás; Pretos Velhos; Caboclos; Povo da Rua; Herês;
Linha do Oriente; Leitura de Textos; Estudo de Hinários; Outros”.
 

28

Conforme Caderno do Trabalho de São Miguel impresso em 2006, na Virgínia,

nos Estados Unidos, de acordo com as instruções do padrinho Alfredo Gregório de Melo.

Conforme caderno de Mesa Branca de Cura e Estudos Esotéricos e Mediúnicos Professor 

Antonio Jorge, atualizado pelo Padrinho Alfredo Gregório de Melo em outubro de 2000.

Como podemos perceber, se já há uma variedade significativa de trabalhos, em

alguns desses é possível uma abertura ainda maior para eventos que naturalmente não

ocorrem nos trabalhos de concentração e hinário. De acordo com a abertura para cada uma

dessas linhas, são feitas chamadas específicas e cantados hinos que dizem respeito a elas.

Também aí podem acontecer os atendimentos das entidades aos doentes. Tanto o trabalho de

São Miguel como o de Mesa Branca tem uma ligação muito forte com o kardecismo pois o

 padrinho Sebastião
Sebastião e sua família já trabalhavam na Mesa Branca Espírita antes de conhecerem
o Santo Daime e durante muito tempo o padrinho atendeu com os espíritos do Dr. Bezerra de

Menezes e do Prof. Antonio Jorge Ŕ, havendo também muitos componentes oriundos da

Umbanda. Mas a ligação do Santo Daime com a Umbanda se efetiva realmente no Trabalho

de Gira. Trabalho de terreiro realizado geralmente de madrugada, é um trabalho onde são

chamadas as entidades dessa linha para atuação e doutrinação. Cantam-se hinos do caderno de

UmbanDaime e os pontos dos Orixás, Caboclos, Pretos-Velhos e outros. Utilizam-se com

maior intensidade os tambores e a dança varia de acordo com a entidade. Não se usa farda
(recomenda-se o branco) e há um terreiro especial para esse trabalho. No Mapiá acontecem

várias Giras, a de Oxossi, a de Iemanjá e outras entidades do panteão umbandista. Algumas

igrejas do sudeste como o Reino do Sol, em São Paulo, também realizam Giras. Em todos os

trabalhos descritos aqui, com exceção dos hinários e das giras, usa-se farda azul.

O feitio “Vou colocar a minha mente clara e bem limpinha na boca da fornalha

  para
para o meu Pad
Padrin
rinho
ho Est
Estamo
amoss esp
espera
erando
ndo Ren
Renasc
ascer
er na ap
apura
uração
ção Do div
divino
ino for
fornal
nalhei
heiro
ro

Queimar no seu coração” (Hino 92 – Alex Polari de Alverga) Esse é um dos momentos rituais
 

29

mais representativos da doutrina do Santo Daime, pois aí é preparada a bebida sacramental

que origina o culto e que é considerada, pelos adeptos, como remédio dos deuses. Também é

um momento de reunião dos membros de determinada igreja que vão estar juntos o tempo

todo em regime de cooperação mútua para que cada passo do feitio seja dado com firmeza e

  perfeição. Esses passos são encandeados uns aos outros de modo que exigem dedicação

material e atenção extrema para o participante não se perder no meio do processo, que na sua

simplicidade exibe uma complexidade interna capaz de muitos desdobramentos no plano da

memória. Uma alquimia se realiza. Polari descreve assim um feitio:


“O Feitio é uma cerimônia carregada de grande simbolismo espiritual. É a maior 
 prova e o testemunho mais eloqüente da idoneidade cultural e da pureza ritual da
Doutrina do Santo Daime. É um rito que remonta às origens dos povos indígenas
que ainda hoje habitam a Amazônia Ocidental. É a produção de um sacramento. (...)
 Nele, a busca da perfeição material conduz à realização da perfeição espiritual. A
destreza, a inteligência, a memória e o domínio técnico sobre cada etapa do processo
são capacidades essenciais em cada feitor. (...) Pelo fogo da fornalha são fundidas as
moléculas da bebida sagrada. Da mesma forma, na fornalha do coração. Somos
obrigados a crescer em amor e arte, na procura da máxima perfeição possível, em
tudo. Essa é a própria essência do rito iniciático do Feitio.”

Por isso todo feitio é uma oportunidade para o grupo trabalhar junto e firmar as

relações de amizade e o sentimento de pertença à comunidade, pois a atividade de cada um

depende da do outro. A harmonia do grupo é, pois, pilar de sustentação para que o resultado

final seja alcançado. Podemos afirmar que o Daime que é produzido em um feitio é o reflexo

de tudo que acontece no grupo antes, e principalmente,


principalmente, durante a sua realização, inaugurando

também uma nova e posterior etapa se seguimento das instruções recebidas no feitio. Ainda

nas palavras de POLARI


“Costuma-se dizer que, quando as enormes panelas vão para o fogo, todas as questões, todos os

 problemas estarão sendo cozinhados e apurados dentro delas, com vistas a serem transmutados e resolvidos”.

Já aconteceram muitas transformações nos feitios pois a expansão da doutrina

e, conseqüentemente, a escassez das plantas, foi fazendo com que os feitores passassem a

utilizar o material cozinhado mais vezes para um melhor aproveitamento. Nas áreas mais
 

30

urbanas da Amazônia, já não se encontra cipó e folha suficiente para atender à grande

demanda e os mateiros têm que se embrenhar cada vez mais na floresta. Por outro lado, as

igrejas mais urbanas têm se esforçado para vencer as dificuldades de plantio e cada vez mais

assumem a responsabilidade de criarem seus próprios reinados (plantios do cipó jagube e da

folha Rainha utilizados na fabricação do chá). Dificulda


Dificuldades,
des, pois as plantas são nativas de um

determinado tipo de solo e clima e não se adaptam bem em todo lugar. Essa é, portanto, uma

das etapas fundamentais para a escalada espiritual do daimista, ou seja, o conhecimento da

doutrina que segue em sua plenitude. Trabalhar em um feitio é a oportunidade de participar de

um processo artesanal que remonta à ancestralidade da doutrina, dos seus arquétipos, de seus

fundadores, da comunhão mesmo com a divindade no momento em que esta se encarna na

 bebida.
Em um feitio podemos encontrar várias funções, divididas entre o batalhão

feminino e o batalhão masculino. Com exceção da limpeza das folhas, todas as outras

atividades são eminentemente masculinas.

LIMPEZ
LIMPEZA
A DAS FOLHAS
FOLHAS:: Rea
Reali
liza
zada
da geral
geralmen
mente
te pe
pelas
las mulher
mulheres,
es, é um

momento importante do feitio Ŕ adstrita ser a única tarefa feminina; as folhas devem ser 

limpas manualmente, uma a uma, numa atividade de concentração e introspecção, onde são

refletidas a condição de cada uma naquele momento e também a sua purificação. É comum
que se cantem hinos durante a limpeza das folhas e que as mulheres aproveitem esse espaço

 para se conhecerem melhor. Geralmente é realizada na igreja ou em local apropriado longe do

movimento masculino.
masculino. As mulheres menstruadas não podem participar da limpeza das folhas,

fazendo parte da equipe que toma de conta da alimentação e limpeza.

MATEIROS: São aqueles que conhecem melhor a mata e sabem onde procurar 

e reconhecer o cipó em meio à grande variedade que existe na Amazônia. Essa procura pode

du
dura
rarr vári
vários
os dias
dias.. Traz
Trazem
em o cipó
cipó para
para a ca
casa
sa de fe
feit
itio
io co
cort
rtan
ando
do em pe
peda
daço
çoss de
 

31

aproximadamente 30 cm para facilitar a bateção. Nas casas de feitio urbanas, não existe essa

função, pois os plantios já são planejados de forma a facilitar a colheita e também porque

grande parte do Daime que é consumido nessas igrejas é oriundo da Amazônia.

FEITOR: É o cozinheiro do Daime, por assim dizer. Deve conhecer bem as

 plantas (o cipó e a folha) para saber relacionar as quantidades envolvidas na montagem da

 panela e, posteriormente, retirar os cozimentos nos tempos devidos e cozinhar os diversos

tipos de graus de Daime. Muitos daimistas mais antigos afirmam que só se pode fazer Daime

se tiver ligação com o Mestre Irineu. Sempre que uma panela de Daime vai sair do fogo, o

Feit
Feitor
or ba
bate
te co
com
m um gamb
gambit
itoo (ped
(pedaç
açoo de pau
pau usad
usadoo pa
para
ra ve
veri
rifi
fica
caçã
çãoo do volu
volume
me dos
dos

cozimentos) na borda da panela. Faz isso três vezes (em honra ao sol, a lua e as estrelas) para

avisar que deve se retirar uma panela.


Fazer o Daime, portanto, é um ato coletivo, mas que obedece a todo um

sistema que remete ao próprio Mestre Irineu. Como um dos seus contemporâneos afirma: “só

faz Daime, quem tiver ligação com o Mestre, senão faz chá”60. Os feitores são formados

so
some
ment
ntee ao cabo
cabo de long
longoo te
temp
mpoo acom
acompa
panh
nhan
ando
do,, obse
observ
rvan
ando
do e es
estu
tuda
dand
ndoo todo
todoss os

mecanismos; exercitando a memória para não perder de vista um só instante tudo o que

acontece dentro da casa de feitio, sob pena de por um momento de distração, queimar uma

 panela, perder um ponto, etc. É aí que mais se exige atenção do daimista, pois é o momento
que se está preparando o sacramento que vai ser consumido na igreja por vários meses.

Feitores experientes são chamados para dar instrução aos adeptos mais novos nas igrejas que

vão se abrindo pelo país e no exterior, repassando oral e performaticamente o conhecimento

sobre o preparo. A seguir, a montagem de uma panela como é feita pela maioria dos feitores:

1ª camada - cipó
 

32

2ª camada - folha

3ª camada - cipó

4ª camada - folha

5ª camada - cipó

6ª camada folha

Última camada - cipó

Término da montagem

São acrescentados ao material sessenta litros de água e retirados vinte litros de

cozimento que depois são unidos a outros cozimentos. Quando se tem uma certa quantidade

desses cozimentos, monta-se outra panela e coloca-se sessenta litros de cozimento (ao invés

de água) e daí, finalmente se retira vinte litros de Daime. É um processo que exige muita
concentração
concentração de um lado e muito preparo do corpo, de outro.

Esse feitio realizou-se em julho de 2006, no Pronto Socorro Raimundo Irineu

Serra, em Rio Branco e o feitor era o Padrinho Nonato Sousa, assistido pelos seus filhos

(Renato, Robson e Raimundo). Foram produzidos mil litros de Daime, durante doze dias de

feitio, sempre em ritmo intenso de trabalho. RASPADORES DE CIPÓ: são responsáveis por 

limpar e raspar o cipó que vai ser batido. É uma atividade que requer cuidado para não se

raspar muito e extrair a substância do cipó que se concentra na casca.


 

33

BATEDORES DE CIPÓ: são responsáveis por bater o cipó que vai ser usado

no feitio. As bateções são divididas em turnos variáveis que vão de quatro a seis horas. Os

  bat
bated
edor
ores
es po
post
stam
am-s
-see em fren
frente
te aos
aos toco
tocoss de ba
bate
teçã
çãoo e empu
empunh
nhan
ando
do ma
marr
rret
etas
as de

aproximadamente dois quilos vão “batendo” o cipó até transformá-lo numa espécie de bagaço.

 Nessa, mais do que em qualquer outra atividade ligada ao Santo Daime, o esforço físico é

muito grande, além do que todos os batedores obedecem a um ritmo estabelecido por um

 puxador de bateção e devem bater sempre no mesmo momento, criando a impressão de que

estamos ouvindo apenas um som. O daimista acredita que naquele momento está purgando

uma parte de seus pecados e à medida que se esforça fisicamente cumpre uma dupla jornada

de fazer sofrer o corpo para a recompensa do espírito. Seguindo, portanto, o prescrito em um

dos hinos do mestre Irineu que diz


“Havendo força de vontade / nada pra nós é custoso”. “A atitude interior exigida na

 bateção é a de quem já prescrutou suas impurezas, esquadrinhou os vícios de sua

mente, catou cada mau pensamento escondido em seu cérebro. Agora é a hora da

firm
firmez
ezaa e da pe
pers
rsev
ever
eran
ança
ça,, da renú
renúnc
ncia
ia e do sacr
sacrif
ifíc
ício
io,, para
para cons
consag
agra
rarr a

transformação, para ultrapassar a parte mais difícil da jornada. Colocamos em cima

do toco, para ser surrada, toda


t oda a nossa parte negativa sobre a qual meditamos e auto-

analisamos durante a raspação. (...) A matéria foi sacrificada em prol de uma

transmutação. E a quebra do ego foi realizada não de uma forma metafórica como
em outras
outras iniciaçõ
iniciações
es,, mas por meio
meio das marretas
marretas.. Ao peso
peso do seu impac
impacto,
to,

desfibrou-se o nosso ser cipó, em cima do toco”.

A casa de feitio por ser o local destinado a cozinhar o Daime deve ser o mais

higiênico possível. Sua construção obedece a uma série de exigências que vão desde a

observação da entrada do vento para a fornalha até o arredondamento dos cantos para não

 juntar sujeira. Os tocos de bateção devem ser de madeira de lei para suportar o peso das
 batidas das marretas. Recomenda-se que a sala de bateção seja azulejada e nela não se entra
 

34

calçado. As panelas obedecem


obedecem também a um padrão; são usadas geralmente as de aço inox de

120 litros.

PANELEIROS: Depois de macerado (batido) todo o cipó e de montadas as

 panelas, começa o trabalho de retirada dos cozimentos.


cozimentos. De hora em hora (mais ou menos), sai

uma panela que de ser retirada pelos paneleiros e levada até a calha para que escorrer o

Daime. Cada panela pesa em torno de cento e vinte a cento e cinqüenta quilos e os

movimentoss de retirada devem ser sincronizados para não derrubar a panela.


movimento

 No momento em que o Daime está escorrendo pela bica, costumam-se cantar 

hinos específicos
específicos de Feitio que geralmente falam dos componentes do Daime: o cipó, a folha,

a água e o fogo.

“Todo esse mistério Dentro da panela está Esse é um segredo Que somente meu Pai
dá Essa é a ciência Maior do que essa não há Esse é que é o poder E quem quiser 

que venha cá O Mestre mandou eu dizer Que é para todos escutar Poder maior que o

fogo Eu duvido de que há O Daime que eu mandei descer É para todos observar Que

ele é folha, cipó e água Mais o fogo que ali há Toda maravilha Que borbulha no cipó

É graças ao fogo Lá do segundo andar Dentro da fornalha Há um reino subterrâneo

Pedi licença e fui entrando Até dentro da Mãe Divina A Ela eu agradeço Toda essa

lembrança Seu carro vai passar de novo E eu quero estar avante”

FOGUISTAS: são responsáveis pelo acendimento e manutenção da fornalha

sempre no nível exigido pelo feitor bem como por sua limpeza. Deve ter muita atenção, pois

às vezes o feitor pede fogo mais alto ou mais baixo em alguma panela específica. Aí se

queimam além de muitas calorias as falhas, as impurezas do adepto, que deve aproveitar cada

momento para meditar na sua vida. O fogo tem um papel fundamental no Feitio, como numa

forja sagrada aonde se cozinham o aliment


alimentoo dos deuses.

Por fim o Daime é resfriado e posteriormen


posteriormente
te enlitrado e conservado:
conservado:
 

35

É comum se realizarem trabalhos, geralmente os de cura, na boca da fornalha,

ocasião em que é permitida a presença das mulheres na casa de feitio.

O inte
intere
ress
ssee das
das cria
crianç
nças
as pelo
pelo fe
feit
itio
io é óbvi
óbvio.
o. Espa
Espaço
ço priv
privil
ileg
egia
iado
do de

acontecimentos diversos, elas vão se formando e aprendendo desde cedo o valor que o Santo

Daime como sacramento, bebida ritual, possui; ao mesmo tempo em que vão incorporando

conceitoss a respeito das funções, da divisão do trabalho e, principalmente,


conceito principalmente, da necessidade que

é conhecer o processo de fabricação do Daime para compreender melhor a doutrina que ele

 permeia.

3.3 PRINCIPAIS DOUTRINAS


DOUTRINAS DO SANTO DAIME

A doutrina enteógena cristã do Santo Daime tem como fundamento a milenar 

  bebida sacramental, a Ayahuasca, re-batizada pelo Mestre Irineu com o nome da Santo

Daime.

 Nas várias linhas atuais há diversos tipos de trabalhos, sendo considerados

trabalhos oficiais da Doutrina os relativos a datas festivas (como São João, Natal), os

trabalhos de concentração (realizadas nos dias 15 e 30 de cada mês), os trabalhos de cura

como Estrela e São Miguel. Dentro da Linha do Padrinho Sebastião há ainda trabalhos

mediúnicoss como de Mesa Branca ( leia sobre Umbandaime


mediúnico Umbandaime).
).

A liturgia do Santo Daime é essencialment


essencialmentee musical e o cerimonial consiste no

canto de hinos, acompanhado por instrumentos musicais como violões,


violões, tambores
tambores,, flauta
flauta,,
teclados,, e tradicionalmente pelos maracás.
teclados maracás. Os trabalhos de concentração e cura são feitos
 

36

com os participantes sentados em seus lugares (sempre divididos entre homens e mulheres)

em volta da mesa central. Há também os trabalhos de bailado, em que os participantes

executam passos individuais e padronizados durante a execução dos hinos (também sendo

separados os homens das mulheres). São três os ritmos utilizados nas cerimônias Daimistas

tradicionais,
tradicionais, a marcha
marcha,, a valsa e a mazurca.
mazurca. Cada ritmo tem seu próprio toque de maracá e seu

 passo específico. O objetivo é executar os hinos e o bailado com a máxima afinação entre os

 participantes (a corrente), afim de que se possa atingir um estado de elevação de consciência.

Para
Para part
partic
icip
ipar
ar de um
umaa ceri
cerimô
môni
niaa da
daim
imis
ista
ta,, é ne
nece
cess
ssár
ário
io usar
usar roup
roupas
as

 preferencialmente claras, evitando decotes, bermudas e blusas sem manga. Além disso, as

mulheres devem usar saias abaixo dos joelhos. Os Daimistas utilizam um vestuário ritual em

suas cerimônias, chamadas


chamadas "fardas", sendo elas de dois tipos: uma chamada de farda branca e

a outra chamada de farda azul, possuindo variações para homens e mulheres. Todo Daimista

fardado traz na sua farda sobre o peito esquerdo a estrela de Salomão com a águia e a lua 
lua 

crescente, simbolizando
simbolizando uma visão do Mestre Irineu.

Fróes levanta a hipótese de que o movimento Santo Daime se trata de um

exemplo de messianismo.

Gourl
Gourlart
art apr
aprese
esenta
nta uma di
disse
sserta
rtação
ção de me
mestr
strado
ado def
defend
endend
endoo que o San
Santo
to

Daime tem uma formação religiosa caracterizada pelo encontro das tradições vegetalistas da

Amazônia e do catolicismo popular.

Couto aborda em seu trabalho vários aspectos da doutrina, sobre a estrutura

ritualística, e argumenta que diferentemente do xamanismo tradicional, mais individual, o

Santo Daime tenderia mais a ser caracterizado como um xamanismo coletivo, tendo em vista

que todos os participantes do ritual são potenciais xamãs. Aproxima ainda as duas tradições

 pela ligação que o vôo xamânico assume em relação à busca da cura para as doenças, usando
 

37

como narrativa de análise a experiência do padrinho Sebastião quando tomou o Daime pela

 primeira vez.

MacR
MacRac
ac ta
tamb
mbém
ém ab
abor
orda
da o Sa
Sant
ntoo Da
Daim
imee do po
pont
ntoo de vi
vist
staa xa
xamâ
mâni
nico
co,,

corroborando a hipótese de Couto; descreve os trabalhos realizados na doutrina em busca da

compreensão da sua ritualística e analisa o seu desenvolvimento desde os vegetalistas até os

modernos tipos de culto, passando ainda por uma interpretação das concepções de doença e

cura entre as tradições caboclas da Amazônia e sua relação com o Daime. Destaca ainda a

aproximaçãoo do Santo Daime com o Kardecismo através da assimilação de concepções como


aproximaçã

carma, evolução espiritual, reencarnação, doutrinação de espíritos, etc.

Groisman concorda que o Santo Daime é um sistema xamânico e ainda aponta

 para o ecletismo evolutivo como matriz fundadora e importante para a inclusão de outras
matrizes doutrinárias. Aponta a existência de uma memória divida e de uma ritualização do

ambiente físico que projeta o rito também no cotidiano do adepto e na sua visão do Santo

Daime como uma batalha astral. Assinala, ainda, aspectos da cura e da doença.

Alves
Alves Ju
Junio
niorr rea
reali
liza
za uma in
inves
vesti
tigaç
gação
ão ext
extrem
remame
amente
nte per
perti
tinen
nente
te sob
sobre
re as

relação do Santo Daime com a Umbanda e sobre a formação dos trabalhos de São Miguel e

das Giras. Nesse trabalho, o autor faz uma descrição sobre a história da Umbanda e do Santo

Daime para, posteriormente, caracterizar o encontra das duas tradições e a incorporação de

elementoss da Umbanda pelo Santo Daime. Traz, ainda, narrativas sobre como esse contato se
elemento

inicia e quais as conseqüências para a linha guiada por Sebastião Mota e seu filho Alfredo

Gregório, principais responsáveis por essa junção.

Para entender a práxis daimista, mister se faz o esclarecimento da noção de

trabalho. Pordeus Jr., trabando sobre “a representação


representação do trabalho na macumba”, afirma que:
“A categoria trabalho que estamos discutindo é melhor representada nos rituais
designados mágicos,
fenômenos anteriormente
ou em de ritospalavras,
outras de controle que eenglobam
os tabus as práticasasmágicas,
interdições
comoe éoso
caso dos despachos e de todos os demais rituais umbandistas nominados pelo Babá
Ivo. Associam o trabalho à magia e ainda a serviços. A cura é trabalho, um serviço
 

38

espiritual. Na própria linguagem das entidades, o termo trabalho é utilizado. O


 processo de socialização da possessão é trabalho. Tanto as oferendas quanto os
despachos são trabalhos. As giras também são trabalhos”.

Percebe-se que na Umbanda tudo é trabalho e que esse conceito serve de amplo

espaço que comporta particula


particularidades
ridades e universali
universalidades,
dades, o material e o espiritual
espiritual,, constituindo
ainda um complexo não-lugar que varia de acordo com as exigências das entidades (espíritos,
(espíritos,

exus, orixás, caboclos) de um lado, e as necessidades do adepto de outro.

 No Santo Daime, o termo trabalho é também utilizado de forma variada e é

 palavra corrente na fala do adepto para se referir a um sem-número de práticas. O ritual

 propriamente dito é trabalho; uma passagem dentro do ritual é trabalho; o feitio é trabalho; o

trabalho material é trabalho; o transe é trabalho; a concentração é trabalho; a cura é trabalho;

o hinário é trabalho; o canto é trabalho; a prece é trabalho. Enfim, essas são todas variantes
variantes da

mesma matriz que é onde tudo começa: o trabalho no plano astral.

O verbo trabalhar é conjugado de diversas formas nos hinos do Santo Daime,

mas todas remetem à obrigação do daimista à conclusão de tarefas que são imprescindíveis

 para o seu crescimento dentro da doutrina e para a plena realização espiritual. É um chamado

cons
consta
tant
ntee qu
quee de
deve
ve se
serr at
aten
endi
dido
do so
sobb pe
pena
na de qu
quee o ad
adep
epto
to nã
nãoo ga
galg
lgue
ue os de
degr
grau
auss

correspondentes ao seu desenvolvimento.

O trabalho no Santo Daime é o objetivo do adepto, para ele o daimista se

  prepa
prepara,
ra, seg
seguin
uindo
do as ori
orien
entaç
tações
ões,, rec
recome
omenda
ndaçõe
çõess e pro
proibi
ibiçõ
ções
es ex
exigi
igida
dass pa
para
ra que o seu

desenvolvimento
desenvolvimento individual e coletivo sejam melhor aproveitad
aproveitados.
os. É também um veículo para

atingir uma perfeição material e espiritual, é nele que se recebem as instruções, correções,

“peias” que servirão para esse mesmo adiantamento. Esse percurso circular mantém o adepto

sempre na vibração do trabalho, e quanto mais ele estiver ligado nesse circuito, mais ele será

considerado de dentro. A procura da perfeição na vida material implica e conduz a uma


 

39

 perfeição espiritual e vice-versa. Assim, se o trabalho ritual é de suma importância para o

daimista, o trabalho exterior das práticas cotidianas também o é.

O trabalho é a oportunidade que o daimista tem de se redimir das falhas

morais, éticas, cármicas, ao mesmo tempo em que está constantemente dando prova disso
tudo. Não é uma simples compensação capaz de levar a uma restauração de uma ordem

original, mas um exercício eterno em procura da perfeição, que ata cada indivíduo em torno

das concepções estabelecidas e entre si criando uma rede de sentidos que o leva a se integrar 

no sistema como um todo.

Quando um adepto cai dentro do salão (desmaio ou um transe no qual ele esteja

inerte) se costuma dar a seguinte recomendação: “não toque no paciente que ele está em

trabalho”. Querendo dizer com isso que o Daime está se processando no organismo do
indivíduo, curando, ensinando, agindo no ser mesmo da pessoa e que quando isso acontece é

 preciso que não se interrompa o processo.

O trabalho assume ainda características de uma batalha, na qual os adeptos

formam um grande batalhão, comandados pelo dirigente da sessão, em nome do Mestre

Impé
Impéri
rioo Ju
Jura
rami
mida
dam
m – Ra
Raim
imun
undo
do Ir
Irin
ineu
eu Se
Serra
rra.. Ve
Vest
stid
idos
os co
com
m a ar
arma
madu
dura
ra da fa
fard
rdaa e

empunhando na mão o maracá, considerado como a espada do daimista. Nessa concepção, o

trabalho reproduz uma luta entre o bem e o mal, onde o primeiro depende do trabalho de cada

um para vencer o segundo.

 Nesse sentido, a noção de Trabalho não pode ser desvinculada em momento

algum de um eixo que pode ser assim traduzido: trabalho material (cotidiano)  trabalho

material no salão (bailar, cantar, tocar)  trabalho espiritual (transe, miração, incorporação).

 Na compreensão do adepto então, tudo o que acontece no salão depende em grande parte de

como o daimista se apresenta nesse dia, pois aquele momento é o resumo da sua vida e como

tal o trabalho realizado naquele período em que se desenvolve o ritual é um acerto individual
 

40

 bem como da responsabilidade de toda a corrente – pensada como o conjunto de adeptos sob

o efeito da bebida sacramental -, pois que o trabalho depende dela para acontecer.

3.4 INTERPRETAÇÃO DA RELIGIÃO


RELIGIÃO SOBRE QUEM É JESUS
JESUS CRISTO.

O Estatuto da CEFLURIS declara, entre outros pormenores, os seguintes itens,

esclarecendo que a entidade é "fundamentada no Ritual do Ecletismo Evolutivo, ou seja, de

várias correntes religiosas que se interpenetram, tendo como ponto de partida o Cristianismo."

Ao que parece ser, os daimist


daimistas
as acreditam em tudo o que se prega nas religiões

cristãs, como pode corroborar a pergunta e resposta extraída do site da própria organizaçã
organização:
o:
15. O que a Bíblia tem a ver com a Doutrina do Santo Daime?
Tudo, no sentido de alcançarmos seus princípios divinos e colocá-los em prática. E
nada, no sentido de acharmos que, se andarmos com esse livro debaixo do braço,
seremos salvos. O Velho Testamento é a história do povo de Deus. O Novo
Testamento é a História de Deus. E os Hinários são a Nova Era, a bem-aventurança
 prometida por Deus. O Velho Testamento é o Tempo do Pai. O Novo Testamento, o
Tempo do Filho e os Hinários, o Tempo da Mãe. É o segredo da Santíssima
Trindade: Pai, Mãe e Filho, unidos pelo Espírito Santo. É a base da Doutrina, a
Sagrada Família. Portanto, precisamos ter certeza de que estamos na Era de Deus-
Mãe.

Porém, para a doutrina do Santo Daime, Jesus Cristo trabalhou e deixou seu

legado no seu tempo, sendo que o que foi deixado por ele não é adequado para a sociedade

contemporânea.
contemporânea. Isto pode ser corroborado pela pergunta e resposta abaixo, extraída do site da

organização:

78. Qual a diferença entre os 10 mandamentos de Moisés, os 2 mandamentos de


Jesus Cristo e o hinário do Mestre Irineu?
Os 10 mand
mandam
amen
ento
toss fo
fora
ram
m para
para um povo
povo que
que prec
precis
isav
avaa de le
lei.
i. Os dois
dois
mandamentos foram para um povo que conhecia a lei mas desconhecia o amor. O
hinário do Mestre Irineu é para um povo que conhece o amor e precisa vivenciá-lo.
 Na realidade, o Mestre, de forma simples, nos ensinou como praticar o amor, usando
suas palavras: "o amor de quem quer bem é a saúde e o bem-estar", nos lembrando
que o amor tem muitas manifestações sendo que a maior delas é a caridade.
 

41

3.5 ORIGEM E FIM DO MUNDO NA VERSÃO DO SANTO


SANTO DAIME

Segundo os daimistas, existem grandes poderes que estão concentrados em

  Nomes secretos, Nomes-chaves, fórmulas rituais, e os detentores desses poderes são os

feiticeiros e os magos. É através deles que a Palavra se torna Verbo e, para o bem ou para o

mal, comanda as coisas, as forças ou os espíritos que nomeia. Compreende-se que as grandes

mitologias genésicas tenham dotado as Palavras-chaves de poderes supremos e que, na origem

do mundo, tenha sido um Verbo divino a criar todas as coisas e todos os seres proferindo o
seu Nome, a começar pela luz.

Quando ainda vivo o Mestre Irineu, além do eixo religioso, a comunidade

daimista também enfrentou


enfrentou um grande desafio. Este povo que o Mestre Irineu reuniu no meio

da floresta amazônica para levar em frente uma vida espiritual, por mais simples e natural que

fosse, também tinha que dar conta, além da sua sobrevivência material, de um modelo de

comunidade solidária e auto-sustentável.

A importância que Irineu dava para o termo auto-sustentável,


auto-sustentável, hoje tão em voga,

era bem radical. Isto por que ele nos alertava para os anúncios escatológicos e messiânicos

dos antigos profetas e afirmava que o Daime confirmava, em suas visões espirituais, muitas

destas profecias, o que era motivo suficiente para que todos devessem ficar alertas mas sem

nunca deixar de plantar muita macaxeira e se preparar para o futuro. Pois ainda segundo ele,

 podia ser que este fim do mundo anunciado não fosse tão fim do mundo assim mas sim o fim

de muitas coisas ruins que precisavam se acabar para que o novo mundo, nova vida e novo

sistema pudessem chegar.


 

42

 Na pergunta e resposta abaixo, retirado do  site da organização, fala-se do final

dos tempos na versão daimista.

51. O que é o final dos tempos?


Deus cria, conserva e depois transforma em algo que considere melhor. São tempos
melhores que virão, porém sofridos para quem não se preparou materialmente,
  psicologicamente e espiritualmente. É um movimento cíclico necessário que já
ocorreu várias vezes.

Depreende-se que a origem do mundo foi decorrente de uma “palavra secreta”,

que tornou-se em “Verbo divino”, que originou todas as coisas.

Já o fim do mundo parece ter uma ampla ligação com a destruição da natureza,

sendo que os daimistas travam uma guerra espiritual e de sobrevivência sempre preocupada

com a preservação da natureza, dos costumes e rituais da religião. Assim, o fim do mundo é

anunciado quando da destruição destes aspectos.


 

43

4 ASP
ASPECT
ECTOS
OS ORG
ORGANI
ANIZAC
ZACION
IONAIS
AIS DO SAN
SANTO
TO DAI
DAIME
ME

4.1 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO


FUNCIONAMENTO DO SANTO
SANTO DAIME

  No San
Santo
to Dai
Daime
me ex
exist
istee to
toda
da uma est
estrut
rutura
ura hi
hierá
erárqu
rquic
icaa de pod
poder,
er, que se

fundamentaa basicamente no dom carismático de seus principai


fundament principaiss líderes. Segundo Max Weber 

(2004), o carisma pode ser considerado um dom pura e simplesmente vinculado ao objeto ou
à pessoa que por natureza o possui e que por nada pode ser adquirido. Entretanto, esta

qualidade permanecerá oculta se não for estimulado seu desenvolvimento.

A liderança carismática do padrinhos do Santo Daime está presente desde o

início da história desta linha religiosa. Mestre Irineu – homem negro, de cerca de dois metros

de altura – atraiu em torno de si seguidores, que percebiam nele as qualidades de um grande

curador, de professor, e de comandante.

Sebastiãoo Mota de Melo também exercia uma expressiva liderança


Sebastiã liderança carismáti
carismática
ca

no interior do grupo, sendo reconhecido por seus seguidores como uma pessoa simples,

humilde, mas dona de um conhecimento espiritual relevante. Mesmo antes de conhecer o

Santo
Santo Dai
Daime,
me, já at
atend
endia
ia pes
pessoa
soass doe
doent
ntes,
es, poi
poiss de
desen
senvol
volve
vera
ra a me
mediu
diunid
nidade
ade e era um

respeitado curador espírita.

A org
organi
aniza
zação
ção do CEF
CEFLUR
LURIS
IS es
está
tá ce
centr
ntrali
aliza
zada
da na fi
figur
guraa do
doss pri
princi
ncipai
paiss

dirigentes nacionais e mundiais da religião, e, há também o Conselho Doutrinário que rege a

 padronização
 padronização e aprimorament
aprimoramentoo dos trabalhos espirituais.
 

44

Hoje, os principais dirigentes do CEFLURIS são:

Padrinho Alfredo Gregório de Melo – Presidente do CEFLURIS;

Padrinho Alex Polari de Alverga – Vice-Presidente do CEFLURIS e membro

do Conselho Doutrinário e Ritual;


Padrinho Valdete Mota de Melo – Presidente do Conselho Doutrinário e Ritual.

Vale ressaltar que só ao Conselho Doutrinário cabe mudar os padrões de um

ritual ou aceitar uma nova modalidade de trabalho espiritual.

4.22
4. FOR
ORMA
MAÇ
ÇÃO DOS LÍD
ÍDE
ERE
RES
S DO
DO SAN
SANT
TO DAI
DAIME
ME

Para que um adepto torne-se padrinho, comande uma Igreja, deve cumprir 

alguns requisitos básicos. Primeiro, necessita ter aceitação da comunidade, ou seja, sua

liderança implica
implica em consenso do grupo como um todo. Em segundo lugar, o provável futuro

comandante deve possuir um desenvolvimento espiritual, um sinal do mundo astral que o

legitime como líder. A linha de hereditariedade pode se tornar um caminho para o sujeito
alcançar o posto de padrinho.

A iniciação de um novo padrinho também pode se dar por meio da relação

mestre e discípulo, como no caso de Mestre Irineu – o fundador das Santas Doutrinas – e de

Sebastião Mota de Melo, que seguiu de forma dedicada os seus caminhos e ensinamentos

espirituais.

Da mesma forma, um padrinho pode ser designado por outro padrinho, com

mais experiência e tempo de direção de uma igreja.


 

45

O padrinho deve também ser um profundo conhecedor das propriedades da

  bebi
bebida
da en
ente
teóge
ógena
na con
consum
sumida
ida pel
pelos
os ad
adept
eptos,
os, con
conhec
hecend
endoo pro
profun
fundam
damen
ente
te seu rit
ritual
ual e,

 principalmente, o processo de produção da bebida. Assim, o padrinho assume a posição de

 feitor  do Daime.

4.3 SISTEMA DE ARRECADAÇÃO


ARRECADAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO FINANCEIRA
FINANCEIRA DO
SANTO DAIME.

A Igr
Igrej
ejaa San
Santo
to Dai
Daime
me bus
busca
ca sua su
suste
stenta
ntabi
bilid
lidad
adee e exp
expans
ansão
ão pau
pauta
tado
do na
 promoção de eventos com a participação de todos os membros para a arrecadação de recursos.

Esta é uma característica marcante dos daimistas: agir de forma coletiva, realizar mutirões,

tudo calcado em uma sociabilidade que Walter Dias Junior (1994) define como uma “União

Mística” – pois ela é gerada pela crença em um mundo astral que os fiéis visitam em suas

mirações.

Há também a venda da bebida Santo Daime, que pode ser respondida pelo  site

da própria organizaçã
organização:
o:
08. Cobra-se para se tomar o Santo Daime?
Ele é gratuito, entretanto, aceitamos quem queira colaborar de bom coração. O que
deve ficar claro é que esse tipo de contribuição é voluntária, respeitando-se a
 possibilidade ou impossibilidade de cada um.
09. Quanto custa o litro do Santo Daime?
O Daime não tem preço, porque é uma dádiva de Deus. O que ele tem é um custo
 para ser feito. Só as Igrejas filiadas recebem Daime para uso específico ritualístico.

Por fim, os daimistas pagam os dízimos, que são contribuições mensais feitas à

Igreja, para a manutenção da mesma.


 

46

5 CONCLUSÃO

Tarefa difícil dar um parecer conclusivo sobre o que significa o movimento

religioso Santo Daime. O mesmo faz um mix de várias vertentes religiosas, colhendo um

 pouco da cultura de cada religião a qual o fundador, Mestre Irineu, manteve contato.
contato.

Percebe-se que a religião Santo Daime contém elementos do catolicismo, do

xamani
xamanismo
smo,, da umb
umband
anda,
a, do kar
kardec
decism
ismo,
o, do esp
espiri
iriti
tismo
smo,, de tra
tradiç
dições
ões ve
veget
getal
alist
istas,
as, de

fenômenos mágicos, etc.

Dessa forma, percebemos que a religião em estudo é bastante eclética, pelo que

concordamos com o termo “ecletismo evolutivo”, o que melhor caracteriza o Santo Daime.

Apes
Apesar
ar do
doss da
daim
imis
ista
tass ac
acre
redi
dita
tare
rem
m em De
Deuus e em Je
Jesu
suss Cr
Cris
isto
to,, nã
nãoo

consideramos o Santo Daime uma religião cristã, mesmo porque, para que uma religião seja

considerada como cristã, a mesma deve ter a percepção de que um único ser supremo e todo

 poderoso seja o criador de tudo o que existe. Assim, o ecletismo do Santo Daime contraria as

 premissas das religiões cristãs.

Acreditamos que essa é uma das várias religiões que surgem e continuarão a
surgir no decorrer dos tempos, visto as necessidades e mudanças da sociedade, que busca cada

vez mais um conforto espiritual para amenizar os percalços do mundo moderno.


 

47

REFERÊNCIAS

FRÓES, Vera.1986.
SUFRAMA, Santo Daime. Cultura Amazônica – História do povo Juramidam. Manaus:

GOULART, Sandra. As raízes culturais do Santo Daime. São Paulo: Dissertação de Mestrado
em Antropologia – USP, 1996.

OLIVEIRA, José Erivan Bezerra de, Santo Daime: O Professor dos Professores: a
transmissão do conhecimento através dos hinos. Disponível em:
http://www.scribd.com/
http://www.scribd.com/doc/1712667
doc/17126679/Santo-Daime
9/Santo-Daime-O-Professor-dos-
-O-Professor-dos-
ProfessoresTeseUFCE2008.. Acesso em: 14 de março de 2010.
ProfessoresTeseUFCE2008

Rina
Rinald
ldi,
i, Pr
Pr.. Nata
Natana
nael
el.. Santo Daime – o culto do cipó. Di Disp
spon
onív
ível
el em
em::
http://www.cacp.org.br/seitasdiversas/artigo.aspx?lng=PT-
BR&article=416&menu=8&submenu=1. Acesso em: 14 de março de 2010.

Cemin, Arneide Bandeira, O "livro sagrado" do Santo Daime. Disponível em:


http://br.monografias.
http://br.monografias.com/trabalho
com/trabalhos903/livro-sagra
s903/livro-sagrado-santo-dai
do-santo-daime/livro-sagrado-sa
me/livro-sagrado-santo-
nto-
daime.shtml.. Acesso em: 14 de março de 2010.
daime.shtml

Você também pode gostar