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Disciplina: Sociologia da Cultura

Tarefa 4 Por Sandro Fernandes Pimentel (pessoa física)


Sandro Abade Pimentel (nome artístico)

A leitura de trecho do artigo “Ribeirão das Trevas”? O skate dando um ollie


nos algoritmos dominantes sobre a cidade de Ribeirão das Neves -MG,
das Autoras Janaína Damaceno Gomes e Rafaela Goltara Souza, fruto de
pesquisa que durou anos, pelos recortes temporais indicados nas entrevistas e
coleta de dados, e finalizado em 2020, surpreende. Provavelmente trata-se de
um texto, escrito no silêncio reflexivo que trouxe a pandemia do Covid 19,
quando tanta dor havia no ar. E aí se deu o enfrentamento com uma realidade
dura, de desenho triste, construída com valores segregacionistas, a cidade
tornada Ribeirão das Trevas.

Ribeirão das Neves é uma cidade próxima a Belo Horizonte, criada nos
padrões modernos de soluções de confinamento funcional, uma cidade
depósito de gente. Umas literalmente confinadas em presídios, outras em
lugares cuja função é depositar o corpo, morrer temporariamente em um sono
que dê condições de voltar a vida de servir a capital mineira. É impressionante
a constatação das autoras sobre o ambiente urbano criado, pela ordenação do
espaço urbano sem vida, sem dá tempo aos seus moradores de habita-lo.
Claro que tal urbanismo carcerário e de cidade-dormitório, trouxe vazios de
sentidos, tornados conflitos e gerando violência. Fez se das Neves, Trevas. O
assustador é que somos informados que foi oficializado o título.

Mas eis que do tédio imposto aos seus jovens moradores mais permanentes na
cidade, surge uma esperança que desconstroe a aridez das convivências, e
isso só é possível através da cultura. Isso se dá porque cultura é como nos faz
pensar o ebook didático disponibilizado pela disciplina Sociologia da Cultura:
“Você também pode perceber a cultura na forma como a comunidade a qual
pertence se organiza para viver em grupo. Para que as pessoas se mantenham
vivas e seguras são estabelecidas uma série de normas que regem esse
grupo. Por exemplo, o código de linguagem utilizado para que as pessoas se
comuniquem umas com as outras; como as decisões que afetam a vida de
todos são tomadas e por quem (política); as práticas de subsistência e
economia; o cuidado e a defesa do território; as práticas esportivas, de
diversão e de lazer etc.” |1|
Pelos fluxos alternativos, os jovens descobrem as pranchas de skate,
Skateboard, e vão se juntarem, formamando um coletivo, crew, para pratica-lo
como esporte e lazer na Praça de Justinópoles. Isso traz o pertencimento a
uma prática comum, e esse encontro justo, just, e o decodificar de seus
sentidos gera um novo conteúdo, pois como salienta nosso ebook de estudo,
“O importante é entender a cultura como produção de sentidos, para que
também possamos compreender a cultura como o sentido que os fenômenos e
acontecimentos da vida cotidiana têm para um determinado grupo humano.” |
1|. Surgem assim os novos atores culturais da cidade. “Estes agentes ou
mediadores contribuem com a sua ação para a consolidação de uma atividade
social, podendo representar, em um determinado contexto, um importante
potencial democrático.” |1|

Óbvio que esses jovens skatistas tiveram que lidar com conflitos de identidade.
Não poderia ser diferente em uma sociedade que impõe de cima para baixo
normas de condutas, que buscam confirma a hierarquia a ser respeitada. Que
não oferece escolas reflexivas sobre o que somos, pois manipula informações
segundo um ponto de vista da normalidade de existirem as classes sociais
superiores, pois são os destinados a reger, pois é esse o papel do branco
colonizador, tornado nos nossos dias praticantes de uma colonialidade, que
mascara suas práticas racistas, pois jamais foram capazes de uma
“Interculturalidade – processo dinâmico e permanente de relação, comunicação
e aprendizagem entre culturas em condições de respeito, legitimidade mútua,
simetria e igualdade.”|1|. Conflitos de identidades surgem, segundo o texto,
“pois a nossa própria subjetividade já nasceu contaminada pelo conceito de
colonialidade, que impera em todas as formas de organização da nossa
sociedade.” 1
Impressiona sempre o fato recorrente do poder político e econômico seguir
pertencendo sempre aos brancos, mesmo quando a maioria da população de
um determinado lugar, como no caso da cidade estudada, se autodeclara
negra. No material de estudo disponibilizado, com elaboração de Rafaela
Goltara Souza, dá luz a razão deste fato citando Liv Sovik , professora da
escola de Comunicação da UFRJ e autora do livro Aqui ninguém é Branco:
“Liv Sovik (2009) explica que o conceito de branquitude é na verdade um
atributo de pessoas que estão nos lugares mais altos da pirâmide social, que,
na prática cotidiana, coloca a aparência como condição suficiente para
determinar os lugares que serão ocupados pelos atores sociais nessa
dinâmica.”. E mais adiante, [...] O valor da branquitude se realiza na hierarquia
e na desvalorização do ser negro, mesmo quando “raça” não é mencionada. A
linha de fuga pela mestiçagem nega a existência de negros e esconde a
existência de brancos (SOVIK, 2009, p. 50)”. |1|.

Aqui abro um parêntese para dizer o quanto foi bom assistir os dois vídeos
propostos, a da palestra da escritora nigeriana Chimamanda Adichie: Os
Perigos de uma História Única, para entendermos mais sobre o poder das
narrativas nas culturas. E o da palestra da antropóloga Lia Schucman, em que
ela explica mais sobre o conceito de branquitude: A Luta Antirracista. Foi
bom, pois ao intercalar a fala de duas mulheres, uma preta e a outra branca,
fica claro a potência positiva das diferenças, quando colocados por um bem
comum a todos.

Voltando ao coletivo de skatistas negros, a Just CrewSkateboard, agora para


pensa-los como movimento social, como agente transformador de cultura, o
que é ótimo pois esperançoso, luz nas trevas mesmo! E luz feita de atitudes e
práticas cotidianas, alterando o passar das horas, transformando a cena
urbana, e a existência dos ‘nevenses’, como salienta o texto de Janaína
Damaceno e Rafaela Goltara:

“Esse coletivo de skatistas ocupou a praça e a transformou em pista; há 20


anos forma jovens nessa prática esportiva, ensinando-os a construir seus
próprios skates e obstáculos e reconstruir suas identidades por meio da
experiência da amizade, dando um ollie nas narrativas dominantes sobre si
mesmos e sua cidade. Junto com outros coletivos jovens, ocuparam uma
escola abandonada pelo governo na cidade e a transformaram em um centro
de atividades de educação social e formação empresarial, além de aperfeiçoar
o espaço como um centro de treinamento avançado para a crew. Mais
recentemente, eles também reformaram uma antiga pista de skate inacabada
em Neves. Eles se tornaram educadores uns dos outros, da população e da
cidade, ensinando olhares de luz em vez de escuridão, e construindo outras
possibilidades narrativas para Ribeirão das Neves, que não é apenas a única
história oficial.” |1.1|

E isso se dá na nossa urgente contemporaneidade, é a superação dos


estigmas que nos cabe agora realizar, o que pode nos dar sopros de vidas. E o
exemplo dos skatistas não poderia ser mais oportuno, para confirmar um
diálogo entre os estudiosos da cultura e sua realização na dinâmica do dia a
dia. Falo de quanto me parece oportuno para esses nossos dias sistematizados
em algoritmos, o conceito de “Cultura de convergência”, uma nova forma de
distribuição e compartilhamento de conteúdos. Criando uma nova maneira de
compreender os acontecimentos da vida e a construção de conhecimento. Para
a organizadora do material didático da disciplina, segundo Jenkins (2009),
“esse movimento promove uma maior interação interpessoal em que uns
conversam com outros sobre os assuntos midiáticos. Dessa forma, os saberes
são compartilhados e se torna possível unir habilidades e conhecimentos para
propósitos em comum. Essa construção conjunta é o que ele chama de
inteligência coletiva, uma forma de poder midiático alternativo. |1|

Salientando que “Na era da convergência, também surge outro aspecto


relacional: a cultura participativa. Henri Jenkins destaca aqui as possibilidades
de participação que as novas mídias digitais oferecem ao público consumidor”.
|1|. Levando-nos a entender que “participação é mais do que interagir com o
conteúdo pronto disponibilizado pelos canais midiáticos. É tornar-se o próprio
produtor desse conteúdo.” |1|. E assim o faz a Just CrewSkateboard.
Promovendo uma alteração nos dados on-line sobre a cidade. Tarefa nada
fácil, já que segundo o texto de Damaceno e Goltara, “O que fica claro nesses
estudos sobre algoritmos e organização das informações na internet, é que os
mesmos mecanismos de controle e classificação social baseados em princípios
excludentes, racistas e classistas se perpetuam no ambiente virtual. E entrar
em disputa com essas narrativas dominantes é um trabalho de resistência que
exige criatividade e investimento, assim como no ambiente off-line.” |1.1|
Peço desculpa pela redação da tarefa longa, mas mesmo assim coloco mais
um trecho do texto estudado, por fornecer uma percepção imagética do belo
ensaio:

“Eles criam outras histórias. Eles não são mais apenas personagens
identificados com os papéis disponíveis. Eles se tornam autores, produtores de
conhecimento, inventores de seu território e cenário. Eles pulam alto e giram no
ar com seus shapes para que possam ser vistos. Eles dão um ollie nos olhares
que os colocavam em posições sempre abaixo. Esses olhos, agora, se
quiserem vê-los, terão que ser erguidos para cima. O skate faz barulho ao cair
no chão depois do pulo porque eles deram um ollie no silêncio. Eles assumem
o papel de educadores sociais.” |1.1|

O ollie é uma manobra de skate onde o praticante e o skate saltam para o ar,
não sendo intuitivamente óbvia a forma que a decolagem é alcançada,
tornando a manobra visualmente impressionante. Não poderia haver imagem
melhor para pensar a atitude de transformação/transição, que o mundo está
vivendo, onde temos de dar conta de ações, saltos, no campo físico e no
virtual. O salto pós síntese das questões sociais, que a disciplina Sociologia da
Cultura me deu, foi forte, pois ocorre no mês onde estas questões estão sendo
apresentadas, representadas e manipuladas em grau máximo no nosso país.
Sem saber ainda como será a aterrisagem do destino do Brasil, posso ao
menos nutrir minhas esperanças! Os estudos orientados realizados aqui
clareiam minha visão, para elaboração de mais uma etapa na construção de
um instituto, com minha obra e pesquisa sobre o giro que nos dá os eventos
centenários no Brasil. 2022, é o ano de fechamentos das questões do século
moderno, por razão do centenário da Semana de Arte Moderna de São Paulo e
bicentenário da Independência. Mais oportuno nesse momento, esses estudos
aqui realizados, impossível.

|1| SOUZA, Rafaela Goltara (Elaboração). Ebook didático Sociologia da Cultura.


Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração, pós-
graduação da Unyleya.
|1.1| GOMES, J. D.; SOUZA, R. G. RIBEIRÃO DAS TREVAS”? The skateboard giving
an ollie in the dominant algorithms over the city of Ribeirão das Neves– MG. Revista
Observatório, v. 6, n. 4, p. a6en, 1 jul. 2020.

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