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História e literatura clássica: arquétipos


sociais que ensinam

Viviane da Silva Batista Verediana Fernandes Sobradiel Fim


Universidade Estadual de Maringá - UEM Universidade Castelo Branco - UCB

Lilian Fávaro Alegrâncio Iwasse Geovana Morassutti Pereira


Universidade Estadual de Maringá - UEM Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR

'10.37885/220910039
RESUMO

Este artigo objetiva investigar a relevância da história e da literatura clássica para os aspectos
sociais e educacionais contemporâneos. Para tanto, apoia-se na obra francesa Romances
da Távola Redonda, de Chrétien de Troyes (1135-1190), no contexto medieval do sécu-
lo XII e busca evidenciar o ensino social por meio dos arquétipos presentes na obra em
questão. A metodologia adotada foi bibliográfica e, por considerarmos a História como um
conhecimento essencial à memória das civilizações, esse estudo dialoga com a História
Social, sob a perspectiva dos conceitos da Longa Duração e Totalidade, conforme Marc
Bloch (2001) e Fernand Braudel (1992). O desenvolvimento das discussões organiza-se em
três momentos: a) o conceito e importância da medievalidade e o contexto histórico-social do
século XII; b) Chrétien de Troyes e os arquétipos presentes em sua obra; c) romance Eric e
Enide, a pertinência dos clássicos para o homem moderno e sua formação humana, social,
intelectual/acadêmica. A produção clássica e literária estimula a imaginação, desenvolve o
raciocínio, o vocabulário e a criticidade, conduz o leitor à percepção dos modelos e valores
sociais construídos histórica e culturalmente. Desse modo, a necessidade de conservarmos
os clássicos dentro do espaço acadêmico se dá por sua importância histórica e social, já
que configuram-se como registros da história da humanidade, do pensamento e dos anseios
humanos em épocas que antecederam a nossa e que, portanto, nos ajudam a elaborar uma
consciência cultural e histórica mais fundamentada.

Palavras-chave: Clássicos, Literatura, Medievo, Formação Humana, Arquétipos Sociais.


INTRODUÇÃO

Este artigo visa a compreensão da legitimidade histórica dos clássicos, bem como o
ensino social por meio de arquétipos, a partir de uma análise histórica e literária da obra
francesa Romances da Távola Redonda, do original Romans de la Table Ronde, autoria
de Chrétien de Troyes (1135-1190), que compila quatro romances arturianos do século XII,
a saber: Eric e Enide; Cliges ou a que fingiu de morta; Lancelot, o cavaleiro da charrete e
Ivain, o cavaleiro do leão1.
Este estudo se deu pela análise do contexto medieval, mais precisamente do período
em que os romances de cavalaria estavam no auge; a obra selecionada para nos valer como
pano de fundo permite não só a compreensão histórica, mas também comportamental, de
modo que podemos perceber a importância do herói/modelo naquela sociedade e estabe-
lecer uma relação com a educação informal do século XII.
Desse modo, o objeto de análise compreende a relevância da história e da literatura
clássica para a formação integral e tenta associá-las aos arquétipos sociais elaborados por
autores medievais. Portanto, o tema relaciona-se diretamente com a linha histórico-educa-
cional, dado que, em nossa concepção, essas ciências são responsáveis pela perpetuação
dos conhecimentos acumulados pela humanidade.
Assim, esta pesquisa é de natureza histórica, compreendendo como procedimentos
metodológicos a pesquisa bibliográfica (GIL, 2002). Por propor estudar a cultura, educação
e comportamento de uma sociedade, dizemos que é também qualitativa, pois “[...] além de
salientar a necessidade de observar os sujeitos não em situações isoladas, artificiais, senão
na perspectiva de um contexto social, coloca ênfase na idéia dos significados latentes do
comportamento do homem” (TRIVIÑOS, 1987, p. 122). Apoiamo-nos igualmente nos princí-
pios teóricos da Longa Duração e Totalidade (BLOCH, 2001; BRAUDEL, 1992), posto que:

[...] é só porque a história já ocorreu que, hoje, nós somos capazes de acom-
panhar o debate no momento mesmo em que ele se travava e entender o
quanto são os homens que fazem a sua história. Ao ver estes homens lutando
para que as necessidades históricas de sua época fossem atendidas, nós
nos preparamos para entender que as necessidades de nossa época não se
realizarão sem a nossa concorrência (FIGUEIRA, 1995, p. 48).

Ao partir da premissa de que, por compreender a transformação humana ao longo do


tempo, o estudo histórico é essencial à educação, defendemos a ideia de que conhecer os
contextos que precederam o nosso possibilita reflexões mais elaboradas sobre o contexto

1 A data exata dos romances, de acordo com a própria obra Romances da Távola Redonda, é muito incerta, sabe-se apenas que foram
escritos no século XII.

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atual, ou seja, novos olhares à sociedade contemporânea, pois, parafraseando Calvino
(2004), o estudo dos clássicos serve para entendermos quem somos e aonde chegamos.
Logo, estudar a literatura como fonte de conhecimento se torna uma ação necessária ao
meio escolar. Isso porque o cenário educacional público brasileiro tem vivido um momento de
fragmentação do saber, geralmente delegada à frágil fundamentação da formação docente,
bem como às reformas do ensino, que garantem às obras clássicas cada vez menos espaço
dentro das academias – onde não raramente são substituídas por releituras ou por leituras
“facilitadas” sobre o assunto. A necessidade de conservar os clássicos dentro desse espaço
se dá por sua relevância histórica e social, já que tratam-se de registros sobre a história da
humanidade, sobre o pensamento e os anseios humanos em épocas que antecederam a
nossa e que, portanto, nos ajudam a elaborar uma consciência cultural e histórica.
Este estudo busca analisar a importância das leituras históricas clássicas para o contex-
to social e educacional contemporâneo; para tanto, organiza-se em três momentos. O primeiro
resgata o conceito e importância da medievalidade e sintetiza o contexto histórico-social do
século XII; o segundo apresenta autor Chrétien de Troyes e ainda os arquétipos sociais pre-
sentes em sua obra e o terceiro é dedicado à discussão do romance Eric e Enide, além de
elucidar a pertinência dos clássicos para o homem moderno, sua formação humana, social
e intelectual/acadêmica. A literatura é uma fonte histórica, funciona tal qual um registro do
pensar e da concepção social dos homens por entre os tempos, por isso:

[…] tem sido um instrumento poderoso de instrução e educação, entrando nos


currículos, sendo proposta a cada um como equipamento intelectual e afeti-
vo. Os valores que a sociedade preconiza, ou os que considera prejudicais,
estão presentes nas diversas manifestações da ficção, da poesia e da ação
dramática. A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate,
fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas (CAN-
DIDO, 1989, p. 113).

De acordo com esse ponto de vista, a literatura humaniza. E essa humanização só é


possível porque a literatura nos permite vivenciar outras realidades, situações e contextos,
resultando em um conhecimento que, ainda segundo o autor supracitado, desencadeia um:

[…] processo que confirma no homem aqueles traços que reputamos essen-
ciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição
para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar
nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do
mundo e dos seres, o cultivo do humor. A literatura desenvolve em nós a quota
de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e abertos à
natureza, à sociedade e ao semelhante (CANDIDO, 1989, p. 117).

Assim, por retratar a realidade social e os ensinamentos para a formação do indivíduo


por meio de arquétipos que se completam na interação do leitor e da obra, nos debruçamos

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sobre a literatura medievalista na tentativa de identificarmos os arquétipos sociais usados
pelo homem medieval para instruir informalmente sua sociedade, bem como sobre a impor-
tância das obras históricas e clássicas para o homem moderno.
Neste sentido, por se tratar de uma pesquisa de natureza histórica, a pertinência social
desse estudo está justamente nas questões histórico-filosóficas que fundamentam os conhe-
cimentos acumulados pela humanidade, de modo que o mesmo justifica-se por promover
a discussão sobre a educação com foco no comportamento social, o que de fato o torna
interessante à produção científica no campo do ensino e da educação.
Logo, a maior das contribuições que esta pesquisa almeja é a de provocar a reflexão
acerca dos fundamentos históricos que norteiam a educação ao ponto que o leitor com-
preenda que a base histórica é imprescindível para a autonomia intelectual e crítica do
indivíduo moderno.

O ESTUDO DA IDADE MÉDIA

Estudar o medievo não é trabalho simples, a primeira das tarefas é entender que a
Idade Média descrita por Bloch (1886-1944), Duby, (1919-1996), Le Goff (1924-2014), por
exemplo, em muito se difere daquela que, geralmente, nos é simplificada em sala de aula.
No ensino regular, a conceituação da história medieval se resume no modo de vida,
nos feudos, no domínio da Igreja e na inquisição dentro de um período que tem data para
começar e terminar. Pouquíssimo se explica sobre as transformações que a Europa da
época sofreu, os valores culturais, as representações sociais, as técnicas, as descobertas, o
pensamento e a intelectualidade medieval. Com isso o que se elabora na cabeça do aluno,
perpetuando o preconceito iluminista, é pura e simplesmente um estereótipo de momento
atrasado científica e intelectualmente, pois de fato as:

[...] nossas culturas atuais entendem implícita e espontaneamente por Idade


Média um período obscuro durante o qual algumas potências culturais recu-
saram-se a atribuir à razão seu valor autônomo e livre, tempo em que o saber
teria sido submetido à fé e às forças antidemocráticas. Constituiria ele o próprio
tipo de cultura contra o qual se insurgiram os tempos modernos com sua glo-
rificação da razão responsável por suas escolhas e obras. Na verdade, essa
fama foi divulgada após o Renascimento, por autores, que, com o propósito
de salientar a originalidade de suas “luzes”, fizeram caricatura dos tempos que
os tinham precedido. Entre a Idade Média e os tempos modernos a ruptura é
nítida, diziam (GILBERT, 1999, p. 12).

Quando aprendemos a história de maneira equivocada, conforme nos explicou a citação


anterior, o que ocorre é a fragmentação do ensino e praticamente a imposição de um único
ponto de vista: o do professor. Portanto, defendemos o contato e o conhecimento histórico

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que as obras clássicas fornecem, principalmente nos dias atuais, perante as reformas2 que
o sistema de ensino tem sofrido, que a nosso ver, tendem a dificultar cada vez mais o aces-
so ao conhecimento elaborado, conservando as falhas estruturais da formação docente,
mantendo a fragmentação no processo de ensino e de aprendizagem e, consequentemente,
sucateando a educação.
Conforme Gilbert (1999), o termo Idade Média surgiu pelos humanistas nos séculos
XVI e XVII e, desde então, foi adotado para designar o período histórico entre a Antiguidade
clássica e o Renascimento:

O termo “Idade Média” foi cunhado por Christopher Keller (ou Cellarius), pe-
dagogo alemão, justamente para indicar em seu Nucleus historiae inter an-
tiquum et novum mediae, de 1675, o segundo período da história europeia,
que ele dividia em três: a Antiguidade, a Idade Média e os Tempos Modernos
(GILBERT, 1999, p. 12).

Embora saibamos que dentro da história um fenômeno não tem data exata para início
e fim, a periodização funciona como referência temporal, porém é preciso atentar para o fato
de que transformações significativas não decorrem tão pontualmente assim, dependem de
uma série de fatores que não são lineares, portanto:

Seria ingênuo, porém, pensar que a Europa teria adormecido no crepúsculo


da Antiguidade e despertado na alva dos Tempos Modernos, enquanto a noite
teria sido somente um parêntese vazio. Do ponto de vista da duração históri-
ca, tais interrupções são insensatas. Mesmo nas ciências, não há mudanças
tão radicais que não retomem algum elemento dos tempos imediatamente
precedentes. Os progressos históricos são lentos, adaptações subsequentes
às invenções de novos paradigmas aplicados a fatos antigos, recomposições
desses fatos em um novo sistema em torno de um novo núcleo dotado de
sentido (GILBERT, 1999, p. 12).

Gilbert (1999) elucida que a história é promovida por uma série de acontecimentos que
se relacionam socialmente e politicamente e se desdobram em outros, não sendo possível
então determinar a data exata em que os eventos sociais começam ou se finalizam, trata-
-se de um processo complexo em que as antigas ideologias vão perdendo espaço para as
novas e em certo momento coexistem, conceituando o que conhecemos como transição.
Por isso, concordamos com Malavasi, Oliveira e Batista (2021, p. 2) quando afirmam que

2 Apresentada pelo presidente Michel Temer, a Medida Provisória 746, de 22 de Setembro de 2016, estipula o Ensino Médio na mo-
dalidade integral. É notório que tal ação promove alterações na Lei 9394/1996, responsável pelas diretrizes e bases da educação
nacional e na Lei 11494/2007, que regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização
dos Profissionais da Educação (FUNDEB), de modo que dentre os fatores relevantes, a polêmica se concentra na flexibilização do
currículo e ampliação da jornada escolar, que se desdobram em vários agravantes. Para mais informações, visitar o portal do MEC,
disponível em http://portal.mec.gov.br.

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em “[...] tempos de pouca valoração do ensino e de constantes investidas políticas para a
impossibilidade de uma consciência coletiva, discutir acerca da História [...] é antes de um
dever escolar ou acadêmico, uma necessidade humana”.
Apesar das elucidações dos autores supracitados, a educação básica e os livros didá-
ticos continuam reduzindo o medievo a um período estático (sem ou com pouco desenvolvi-
mento), organizado em Alta Idade Média (do século V ao X), com economia de subsistência e
forte predomínio do feudalismo e em Baixa Idade Média (do século XI ao XV), representando,
portanto, a decadência feudalista e a ascensão do capitalismo comercial incentivado pelo
surgimento da burguesia. Para Le Goff (2008), a Idade Média foi “um monstro cronológico”
que influenciou as “luzes” dos homens do século XVI, mas que admitir isso não era interes-
sante para o desenvolvimento iluminista. Portanto, para esse autor:

[...] é preciso esperar o fim do século XVIII para que a ruptura se produza: a
revolução industrial na Inglaterra, depois a Revolução Francesa nos domínios
político, social e mental trancam com chave o fim do período medieval. A Idade
Média se situa entre uma lenta mutação, que judiciosamente de algum tempo
para cá se chama de ‘Antigüidade tardia’, denominação melhor do que Alta
Idade Média (aquela que começa mais tarde, por volta dos séculos de VI a VIII),
e uma revolução no fim do século XVIII. Entretanto, como a história conserva
sempre uma parte de continuidade, fragmentos da Idade Média sobrevivem
durante o século XIX (LE GOFF, 2008, p. 14-15).

Esse debate em torno da questão cronológica é antigo e varia de acordo com os


historiadores e medievalistas, mas não prejudica, por assim dizer, a essência do contexto
medieval – o ponto é que muitas vezes essa essência é apresentada de maneira aligeirada
para os discentes. Nossa proposta é que isso seja feito de uma forma prazerosa e signifi-
cativa, isto é, por meio da literatura, sobretudo a clássica. Dessa forma, as considerações
procuraram até aqui elucidar algumas questões pontuais sobre o medievo. A abordagem
seguinte se concentra então nos séculos XI e XII, adentrando posteriormente no enredo da
obra francesa Romances da Távola Redonda, de Chrétien de Troyes, especialmente no
romance Eric e Enide.

O Renascimento do século XII: breve contextualização histórica, social e educacional

Segundo Duby (2009), os séculos X e XI originaram muitas transformações no âmbito


social, cultural e espiritual que repercutiram coletivamente e desencadearam a forte am-
pliação econômica que se deu no século XII. No século XI a Europa valorizou mais a cultu-
ra. O regime feudal e a fragmentação do poder foram gradativamente enfraquecendo-se e
a religiosidade intensificou-se, de modo que os monastérios multiplicaram-se.

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Assim, o renascimento do interesse cultural vivido no século XI se ampliou no século
XII, trouxe mudanças profundas de natureza econômicas, políticas e religiosas, influenciando
fortemente na organização social, principalmente a partir da intensificação urbana e comercial.
Sobre isso, Bloch (1987) nos ajuda a entender que as cidades cresceram onde antes predo-
minavam os feudos e circundaram castelos, mosteiros, acomodaram centros de artesanato
e comércio, o que levou os homens a certa independência. Durante o feudalismo a cultura
de subsistência era predominante e o senhor feudal era dominante, os espaços sociais eram
murados e funcionavam como fortes, compondo núcleos que eram chamados de burgos,
mas a agricultura prosperou e os burgos não mais acomodaram a crescente população.
Durante o período medieval a base econômica era a agricultura, no entanto, a partir do
século XII, o comércio e as cidades foram se desenvolvendo, geralmente construídos em
torno das terras do senhor feudal. Como atraiam cada vez mais pessoas, as cidades já não
conseguiram absorver as massas, então outras foram organizadas e ficaram conhecidas
como “vilas novas”. De fato, independentemente das origens, as cidades se formaram e se
desenvolveram em virtude do comércio, impulsionado pelas atividades agrícolas, comerciais
e também pela produção de artesanato, prática muito valorizada na época (BLOCH, 1997).
De maneira sintetizada, essas mudanças sociais, políticas e econômicas provieram
do aperfeiçoamento das técnicas e ferramentas necessárias ao cultivo das terras, o que
repercutiu na quantidade e na diversidade dos produtos agrícolas cultivados. Além disso,
houve um crescimento populacional considerável que, somado ao aumento da produtividade,
fortaleceu e intensificou a vida urbana.
Le Goff (2008) elucida que a prática mercantil se expandiu rapidamente e foi interferindo
nas relações e organizações sociais, dado que o comércio configurou-se como a atividade
econômica predominante. Surgindo então um novo grupo social enriquecido pelo comércio,
os burgueses. Transformações como as citadas se desdobraram, de modo que as práticas
de transações financeiras provocaram o reaparecimento da moeda, portanto, a terra deixou
de ser a única riqueza e a figura do mercador ganhou ainda mais destaque.
O desenvolvimento mercantil e urbano propiciou às feiras e às aberturas de rotas ter-
restres e marítimas, que facilitaram o acesso de outros povos para a negociação de produtos
e experiências culturais. O homem desse momento precisava dominar a arte da negociação,
as línguas e os números. Por isso, as mudanças se deram também no âmbito intelectual,
então as escolas ganharam importância.
Assim, na Europa Ocidental, durante o renascimento do século XII, o comércio trouxe
a renovação urbana, o movimento das Cruzadas e o surgimento da burguesia, de modo que
as transformações ocorridas desdobraram-se no renascimento cultural, literário, artístico,
científico e filosófico. De fato, houve nesse período:

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[...] uma decorrência da vitalidade e da contínua expansão (demográfica,
econômica, territorial) dos séculos XI-XIII, o que levara o sistema aos limites
possíveis de seu funcionamento. Logo, a recuperação a partir de meados do
século XV deu-se em novos moldes, estabeleceu novas estruturas, porém
ainda assentadas sobre elementos medievais: o Renascimento (baseado no
Renascimento do século XII), os Descobrimentos (continuadores das viagens
dos normandos e dos italianos), o Protestantismo (sucessor vitorioso das he-
resias), o Absolutismo (consumação da centralização monárquica). Em suma,
o ritmo histórico da Idade Média foi se acelerando, e com ele nossos conhe-
cimentos sobre o período. Sua infância e adolescência cobriram boa parte
de sua vida (séculos IV-X) [...]. Sua maturidade (séculos XI-XIII) e senilidade
(século XIV-XVI) deixaram [...] abundante documentação (FRANCO JUNIOR,
2001, p. 18).

Destarte, entende-se que o renascimento urbano e comercial acelerou o processo de


urbanização da Europa, originando os preceitos básicos de um novo sistema, que mais tarde
se configurou como o capitalismo e propiciou a industrialização, ou seja, a nossa organização
social teve seu berço justamente na fase histórica de ascensão comercial medieval.
De acordo com Franco Júnior (1948), toda essa prosperidade se deve ao fato de que
a partir do século XI, o término das invasões territoriais e a atenuação bélica contribuíram
para o crescimento populacional, isto significa o aumento de mão-de-obra e também de con-
sumidores, uma vez que os camponeses passaram a migrar para as cidades, abandonando
os feudos, em busca de outras ocupações e melhor condição de vida, com isso houve o
aumento de atividades como o artesanato e o comércio.
Esse século trouxe inúmeras transformações para a Europa medieval, pois o aprimora-
mento de técnicas agrícolas, aperfeiçoamento das ferramentas (como o arado), o aumento
na produção, o rodízio de plantio e a ampliação das áreas de cultivo, fizeram com que a
produção que antes era de subsistência passasse a gerar excedentes, que eram comercia-
lizados. De acordo com Verger (1990), os séculos XI, XII e XIII propiciaram à Europa um
progresso considerável tanto na produção agrícola quanto na evolução das atividades arte-
sanais e mercantis. As atividades comerciais se intensificaram a partir de então, e no século
XII os mercadores já se deslocavam entre as regiões, comercializando seus produtos: eis
a origem das feiras. As principais localizavam-se no território que atualmente corresponde
à França, à Itália e à Bélgica, e funcionavam como um elo entre os continentes europeus,
africano e asiático
Após vários séculos de uma economia atrelada ao aspecto rural, as expansões urba-
nas e comerciais impulsionaram o desenvolvimento europeu e como economia, política e
educação se relacionam, a repercussão desse desenvolvimento refletiu também no campo
educacional, portanto é no século XII que surgem as universidades. A princípio, eram asso-
ciações de mestres e alunos que buscavam certa independência em relação aos domínios

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eclesiásticos, já que a Igreja estava à frente do ensino. Até então, a universidade ocupava-se
em ensinar Teologia, Medicina, Artes e Letras (VERGER, 1990).
A França foi o cenário de muitas transformações advindas da expansão urbana e mer-
cantil, dos desdobramentos de cunho educacional, bem como da constante polêmica entre fé
e razão - questão que fomentava a discussão intelectual e religiosa da época, repercutindo
nos moldes da vida social. É nesse cenário, de efervescência sociopolítica francesa, que
nasceu a obra em análise nesse estudo.

VIDA E OBRA DE CHRÉTIEN DE TROYES

Conforme informações contidas na própria obra Romances da Távola Redonda e


resultado de pesquisas em outras fontes, não há muitos dados sobre Troyes, o que de fato
ocorre com muitos autores medievais. Sabe-se por sua produção literária que ele era da
região de Champagne, que provavelmente tenha nascido em Troyes por volta de 1135 e
que tenha falecido em Flandres, por volta de 1190.3
Troyes escreveu sete romances, sendo que dois não foram terminados e seis deles
foram inspirados na temática arturiana e na Matéria da Bretanha4, o que o consagrou como
um dos primeiros e mais importantes fundadores da literatura arthuriana em francês antigo
e um dos primeiros autores de romances de cavalaria. Suas obras podem ser organizadas
em dois ciclos, o primeiro dedica-se ao amor cortês e ao princípio do código de honra de
cavalaria, enquanto o segundo é tomado por uma essência mais mística e aventureira. Ao pri-
meiro atribui-se os romances Eric e Enide; Cliges ou a que Fingiu de Morta; Lancelot ou o
Cavaleiro da Charrete e Yvain ou o Cavaleiro do Leão, enquanto ao segundo: Perceval ou
o Romance do Graal e Guillaume d’Angleterre. De forma que Lancelot ou o Cavaleiro da
Charrete e Perceval ou o Romance do Graal são inacabados.
De modo geral, a leitura de seus romances evidencia a preocupação com os ideais
culturais e políticos da época e sociedade na qual e para qual ele escreveu, respectivamen-
te. Por meio de arquétipos sociais, Troyes transmite o modelo de sociedade, ao passo que
discute as problemáticas típicas de seu tempo com um tom amoroso e aventureiro, pois o
faz pela ótica do amor cortês, do cavaleiro e das aspirações religiosas que simbolizam o
espírito da época.

3 FOEHR-JANSSENS, Yasmina. Chrétien de Troyes in Dictionnaire du Moyen Âge:literature et philosophique.1999. Encyclopaedia


Universalis Paris.
4 Matéria da Bretanha: nome dado às lendas, em geral de origem celta, relacionadas à história da Bretanha e das Ilhas Britânicas,
normalmente centram-se na figura do rei Artur e seus Cavaleiros da Távola Redonda.

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Os arquétipos sociais, principalmente o do cavaleiro

A inspiração de Troyes paira sobre o ciclo arturiano5 da Matéria da Bretanha e sobre


a corte do Rei Arthur e seus cavaleiros, além disso, tende a uma dimensão cristã princi-
palmente no que tange a busca pelo santo Graal, e admite influência das canções de ges-
ta6 do século XII.
No entanto, ainda que a essência desses poemas épicos e longos fossem os feitos
heroicos, o patriotismo e o código de honra da cavalaria, que aliás são aspectos recorrentes
nos romances de Troyes, a temática predominante acaba por adquirir caráter individualista
a partir do momento em que o autor sucumbe ao amor cortês e passa a discorrer sobre os
obstáculos que o cavaleiro precisava vencer para conquistar a virtude e o amor da dama
cortejada. Assim, enquanto as canções de gesta enfatizam as conquistas coletivas, Troyes
prioriza as experiências amorosas e o comportamento social que encontra-se em xeque
entre a honra e o instinto.
No período feudalista, as guerras territoriais e invasões eram comuns, portanto, a
sociedade medieval precisava ter quem a defendesse de possíveis ataques, desse modo,
organizava-se em Clero, Nobreza e Servos, sendo que eram os nobres os que poderiam
guerrear. Logo, os cavaleiros medievais faziam parte da nobreza, sendo geralmente filhos
de nobres que não tinham direito a herança, que era destinada ao primogênito. Além das
propriedades e da quantidade de servos, a eficácia do exército que protegia o feudo servia
como indicação do poder dos senhores feudais. Posto que a função dos cavaleiros medievais
era defender o território dos perigos e ameaças externas, temos a necessidade de conhecer
um pouco mais sobre o termo cavalaria:

Em sua origem, “cavalaria” (e não ainda “Cavalaria”, como estamento social)


tem sentido puramente militar: indica guerreiros armados, admitidos geralmente
por um senhor de terras, com vistas à proteção de seus domínios, pela qual o
contratante se obriga ao sustento do contratado e este, ao cumprimento fiel de
seu serviço. Os textos latinos chamam milites a esses recrutas que são, antes
de tudo, soldados (mais tarde, a literatura românica os tratará por chevaliers).
Por isso, é impensável falar em “cavaleiros” sem referir implicitamente o exer-
cício das armas e a destreza no manejo do cavalo, pois os milites passaram a
équites (cavaleiros) na composição dos exércitos, conforme também crescia
o poderio dos grandes – ou, seria melhor dizer, dos castelões, dos senhores
feudais (PYLE, 2013, p. 9).

5 Ciclo literário, a parte mais conhecida da “Matéria da Bretanha”, ou seja, da lenda referente a rei Arthur e seus cavaleiros; refere-se
aos contos medievais de Artur e seus cavaleiros, que repletos de temas cristãos, envolvem a busca pela virtude, falhas morais, a
busca de uma importante relíquia cristã e o amor cortês.
6 Do francês ‘’Chansons de geste”: conjunto de poemas épicos da literatura francesa, entre os séculos XI e XII; longo poema épico
narrativo medieval que celebra os feitos de heróis do passado, pensado para ser cantado com acompanhamento musical.

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Segundo Pyle (2013), a cavalaria medieval foi uma instituição feudal formada por cava-
leiros nobres dotados de ideais, coragem, virtude, honra e generosidade. Mas nem tudo era
tão glorioso, para alguns o egresso era obrigatório (os lanças), outros eram indicados pelas
ordens religiosas (escudeiros) e outros eram homens de boa posição financeira, mas sem
titulação nobre. Todos deveriam ser honestos, leais e obedientes ao Código da Cavalaria,
que regia o comportamento dos cavaleiros e determinava que eles precisavam ser fortes,
extremamente disciplinados e dizer apenas a verdade em todas as ocasiões.
Para Flori (2005), a cavalaria é:

[...] resultante da fusão lenta e pogressiva, na sociedade aristocrática e guer-


reira que se implanta entre o fim do século X e o fim do século XI, de muitos
elementos de ordem política, militar, cultural, religiosa, ética e ideológica. Esses
elementos fornecem, pouco a pouco, à entidade essencialmente guerreira na
origem, os traços característicos do que ela se torna aos olhos de todos no
decorrer do século XII: a cavalaria, a nobre corporação de nobres cavaleiros,
com uma ética que lhe é própria e, antes de se tornar uma instituição moral,
uma ideologia e até um mito (FLORI 2005, p. 15).

Partindo do pressuposto de que o conceito de cavalaria se transformou ao longo da


história, Flori (2005) elucida que antes o termo associava-se aos homens que, em defesa
dos feudos e dos bons costumes, preparavam-se, montavam em seus cavalos e defendiam a
moral Cristã. Contudo, mais tarde, com o desenvolvimento da sociedade europeia, os novos
valores trazidos pelo dinheiro e pelo saber intelectual pediam um novo modelo de homem: o
homem intelectual, e não mais o homem bravo, guerreiro. No entanto, o imaginário medie-
val popularizou e transformou a figura do cavaleiro, que no século XII passou a simbolizar,
além dos valores morais, o ideal do amor cortês. Consequentemente, por volta do século
XIV a infantaria assumiu a tarefa militar, ou seja, a ordem dos cavaleiros medievais entrou
em declínio com a introdução de armas de fogo e a criação de exércitos nacionais, de modo
que no século XV a expressão os cavaleiros desvinculou-se das origens militares e passou
a ser um clássico arquétipo de heroísmo.
Não podemos nos esquecer, no entanto, que em seu auge, a cavalaria defendia os
feudos com bravura, o que significa coragem para fazer o que tivesse que ser feito. Por
conta dessa violência, as instituições religiosas, em nome do Cristianismo, estabeleceram
um movimento intitulado como A Paz e a Trégua de Deus, impondo limites aos cavaleiros,
que deveriam promover não só a ordem e a segurança, mas também a paz. Com o tempo,
essas mesmas instituições passaram a defender o conceito de “guerra justa”, ou seja, aque-
las promovidas em defesa da fé, como é o caso das Cruzadas.
A obra analisada, nos ajuda a tecer uma imagem sobre o herói e toda a simbologia
envolvida no enredo nos leva a compor o imaginário e a cultura medieval, revelando o

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comportamento, o pensamento e os sentimentos da época. Isso posto, defendemos que
a literatura permite vislumbrar a História e explicá-la de modo mais significativo porque o
contexto e os marcos contarão com as imagens que a imaginação criou a partir das obras
literárias, servindo de aporte e referência às explicações, exemplificações e discussões.
Unir a Literatura ao ensino de História é permitir “[...] o entendimento da temporalidade, o
estudo do homem, de suas ações no tempo e no espaço. De modo que, por meio das fon-
tes, consigamos entender os processos e os fatos que antecederam nossa sociedade e as
estruturas que a compõe” (MALAVASI; OLIVEIRA; BATISTA, 2021, p. 2).
Dentre os elementos exploradas pelo autor em Romances da Távola Redonda, as
personagens são envolvidas pelo amor cortês, casamento, código de honra, submissão, no-
breza, conflito de valores, ideias da cavalaria, influências do matrimônio à cavalaria etc. São
essas temáticas, comuns ao século XII, que vão nos situando dentro do contexto medieval.
Entre elas, o amor se destaca como tema muito recorrente da época, é um dos aspectos
mais evidentes nas obras de Troyes. Sobre isso, Flori (2005) explica que o amor é visto como
sentimento fundamental e sua essência encontra, na dinâmica social, alguns obstáculos:

É o amor-sentimento, o amor verdadeiro. Ele se choca, na vida cotidiana, [...]


proibições religiosas, tabus morais, barreiras sociais, costumes, casamentos
sócio-institucionais, etc. Esses obstáculos o proíbem, o negam ou o excluem.
Como conciliar no espírito (e, consequentemente, na realidade que eles trans-
formam), esses fatos de sociedade com um amor admitido agora como virtude,
como valor “incontonável”, ligado à nova acepçao da mulher como parceira
“com todos os direitos?” essa é a problemática que colocam inicialmente os
trovadores meridionais, mas também os trovadores do Norte, os poeras e os
romancistas. Trata-se aí de um movimento de fundamento que atinge todo o
Ocidente, de um verdadeiro “fato de sociedade”, revelador de uma profunda
evolução das mentalidades (FLORI, 2005, p. 149).

Ao passo que o amor se choca com as questões sociais, também se aproxima das
virtudes. De fato, discussões como essas, colocaram em foco o papel da mulher e do ma-
trinômio. No entanto, ao passo que amor assume a característica de sentimento nobre e
verdadeiro, o casamento adquire ares de oposição aos ideias cavaleirescos e vice-versa,
dado que um influênciaria negativamente no outro:

[...] amor e casamento, por natureza oposta, são realmente incompatíveis?


Amor e cavalaria são aliados ou inimigos? As maiores obras-primas da literatura
francesa dos séculos XII e XIII nasceram dessas questões, desde os curtos e
deliciosos lais de Marie de France ao enorme Romance da Rosa de Guillaume
de Lorris e Jean de Meung, passando pelo monumental romance em prosa
Lancelot do Lago. Chrétien de Troyes, o primeiro grande romancista francês
da segunda metade do século XII, é seu verdadeiro precursor. Ele constitui um
guia seguro e completo nessa área. Suas obras, levadas adiante pelas obras
de seus seguidores, fizeram surgir o romance arturiano e contribuíram muito
para a elaboração da ética e da ideologia cavalheirescas, para a formação do
mito da cavalaria (FLORI, 2005, p. 153).

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Essas questões fomentaram a literatura francesa do século XII, de modo que, segundo
Flori (2005), a ideia de amor cortês, se difundiu rapidamente pelo Ocidente cristão. Assim, a
cavalaria, que até então era um universo exclusivamente masculino, ganha na figura feminina
a inspiração e intensifica a preocupação com os valores e com a moral. Essas transforma-
ções, advindas antes de qualquer coisa da mudança conceitual do amor e da presença femi-
nina no contexto da cavalaria, configuraram uma nova forma de comportamento social, pois:

A abordagem “cortês” do amor que surge no início do século XII [...] introduz,
em um mundo da cavalaria até então exclusivamente masculino e guerreiro,
uma dimensão nova que faz da mulher uma parceira com todos os direitos
do cavaleiro. Melhor ainda: uma inspiradora, que revela nele novas virtudes e
exalta as antigas (FLORI, 2005, p. 157).

Flori (2005) explica ainda que essas concepções resultam do contexto germânico e
celta, época em que a mulher usufrui de certo status social, bem como de influências menos
enraizada nos valores feudais. E complementa que a “[...] fusão de todos esses elementos no
caldeirão da literatura cavalheiresca, ao longo dos séculos XII e XIII, fez surgir um modelo de
comportamento humano, o do ‘cavalheiro’, com uma ética particular, o ideal cavalheiresco”.
Isso tomou tal proporção que a “[...] cavalaria, então, adquire a dimensão de uma instituição,
de um modelo cultural, de uma ideologia. Esses novos traços perdurarão por toda a Idade
Média e vão se prolongar até os tempos modernos e contemporâneos. O modelo moral do
‘gentleman’ surge daí” (FLORI, 2005, p. 158).
Essa nova consciência cultural, resultante da influência do amor cortês nos preceitos
da cavalaria, concedeu ao cavaleiro um aspecto mais romântico e corajoso, pois além de ser
um “[...] audacioso soldado e um fiel vassalo, ele também deve aumentar seu valor humano
pelo amor de sua dama, por suas virtudes de homem da corte” (FLORI, 2005, p. 163).
Ainda segundo o autor supracitado, se antes o amor não era visto como ameaça às
proezas cavalheirescas, essa renovação cultural, além de estimular os romances de aven-
tura, evidenciou a preocupação nas relações estabelecidas entre o amor e o casamento, o
amor e a cavalaria, bem como da cavalaria com o clero e entre “[...] 1160 e 1185, Chrétien
de Troyes expõe e resume bem esse debate” (FLORI, 2005, p. 163), como podemos evi-
denciar em suas obras.

ROMANCE ERIC E ENIDE E AS QUESTÕES SOCIAIS

Escrito entre 1160 e 1164, Eric e Enide representa o primeiro romance do ciclo artu-
riano e bretão, explora os conflitos entre amor e cavalaria. A figura do cavaleiro honrado,
valoroso e amado é centralizada em Eric enquanto o amor cortês, a inspiração, beleza e
fidelidade são traços de Enide:

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Em terra nenhuma seria possível encontrar mais belo cavaleiro, mais bravo e
amável. Não tinha vinte e cinco anos e jamais homem de sua idade foi de tão
grande coragem. [...] Airoso sobre seu corcel, vestia manto de arminho, cota
nobre de seda jaspeada de Constantinopla, perneiras de seda brocadas. Ereto
sobre os estribos, portava espora de ouro (TROYES, 1998, p. 34).

Eric, que seria capaz de dar a vida pelo rei Artur, parte em uma empreitada pela
honra da rainha Guinevere. Nessa aventura, ganham destaques os torneios, a conduta do
cavaleiro e as armas. Eric conhece Enide, que embora simples, desperta o seu amor: “[...]
vestia uma fina camisa de abas, branca e plissada, por cima de um camisão branco [...] tão
puído que tinha furos nos lados. Pobre era a roupa por fora, mas belo era o corpo por baixo”
(TROYES, 1998, p. 38).
Após ter vingado a honra da rainha, retorna ao reino de Artur e leva consigo Enide.
Casam-se, de modo que “[...] estão tão apaixonados um pelo outro que a felicidade os en-
torpece” (FLORI, 2005, 164). Felicidade que se comprova no seguinte trecho da obra:

Eric com tanto amor a esposa amava que não mais das armas se ocupava
nem em torneiro lutava. De justar já não cuidava, mas apenas de fazer a corte
à sua mulher, que era sua amiga e seu mimo. Todo o coração e o pensar esta-
vam em abraçar e beijar, sem ter prazer em qualquer outra cousa (TROYES,
1998, p. 49).

Portanto, envolto pelo matrimônio, Eric se distancia do universo da cavalaria, e sen-


te-se indignado ao descobrir, acidentalmente, por sua esposa (que sentia-se culpada por
ter desvirtuado o melhor dos cavaleiros) que o insultam por deixar as armas e a cavala-
ria pelo casamento:

Eric não freqüenta mais os torneios e sua reputação sofre com isso. O rumor
público não tarda a acusar de “diversionice” (mistura de moleza, de desleixo, de
fraqueza e covardia). Enide dissimula a situação para seu esposo, mas se trai
um dia por conta de um suspiro traduz seus temores e seus remorsos. Por mais
forte que fosse o amor está em perigo em decorrência desse erro; o de Erec é
ter negligenciado a razão pela qual Enide o ama, sua proeza, sua “cavalaria”;
o erro de Enide consiste em ter dado atenção aos rumores públicos, acreditar
neles e ter temido contar a Erec por medo de perdê-lo (FLORI, 2005, p. 164).

Para reverter a situação e restaurar sua honra e glória, Eric retorna às aventuras e leva
consigo a esposa. Nessa jornada em busca de desafios para provar sua bravura e honra,
a lealdade de Enide é posta à prova, mas em todas as ocasiões se mostrou fiel ao esposo
e não contraiu adultério:

Para reestabelecer sua glória, reconquistar o amor de Enide e puni-la ao


mesmo tempo por sua falta de confiança, Erec se lança com ela em uma
busca gratuita de proezas, como cavaleiro errante, pronto a afrontar todos os

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cavaleiros que Enide, colocada em posição de presa a ser conquistada, atrai
de toda parte. Erec lhe proíbe de abrir a boca para avisá-lo de qualquer perigo,
não importa de onde venha. Ele deve triunfar sozinho. Ao termo dessa errância
vitoriosa que estabelece de maneira incontestável sua incomparável bravura,
Erec e Enide reencontram paz e amor (FLORI, 2005, p.164).

O adultério, relacionando amor, honra e traição, acabou sendo discutido em outros


romances, como em Tristão e Isolda, que ganhou aspectos trágicos; porém Enide não traiu
o esposo como Isolda, e isso não se dá pelas questões morais, mas sim porque ela o ama,
o que, de fato, destaca e valoriza ainda mais o amor em sua essência, mostrando que o
mesmo pode ser conciliado à cavalaria e vice-versa:

Desmistificando o romance pessimista de Tristão e Isolda, já muito em voga


(o próprio Chrétien havia escrito um romance, perdido, que tinha esse título),
Erec e Enide conciliavam o amor e o casamento de um lado, o amor e a ca-
valaria de outro. No casamento, a cavalaria que conduz ao amor pode assim
desabrochar se tomarmos cuidado de não opô-los sob o risco de enfraquecê-
-los, mas, ao contrário, de conjugá-los; ambos se reforçam mutuamente. Erec
aparece, então, em parte, como um anti -Tristão (FLORI, 2005, p. 164-165).

Ao longo de Romances da Távola Redonda, Chrétien de Troyes insere arquétipos


sociais e alegorias que simbolizam exemplos comportamentais que se originam e se con-
vergem para a sociedade da época, desse modo, o romance traz ensinamentos sociais para
o homem medieval. Este tipo de ensino não é propriamente sistematizado, mas confere
instruções práticas e relevantes ao bem comum. Por isso, acreditamos que a educação,
formal ou informal, é antes de tudo um processo coletivo, pois se desenvolve por meio da
interação social.
Em Eric e Enide, o arquétipo do cavaleiro revela à sociedade a importância da obediên-
cia à Deus e ao rei, bem como da moral, da nobreza, da honra, da bravura e da virtude, além
disso, simboliza a ascensão social. Já o arquétipo construído pela figura de Enide explora
os aspectos do amor, da beleza e da nobreza de caráter.
Ao passo que Eric e Enide se desvencilham dos obstáculos apresentados no romance,
como os conflitos entre o matrimônio e a cavalaria, as diferenças sociais (cavaleiro valoroso
x donzela pobre), as injurias populares destinadas ao Eric, o adultério, os galanteios sofridos
por Enide quando já estava casada, a alusão à obra Tristão e Isolda e outros, funcionam
como lições, pois ensinam que os conflitos podem ser vencidos com honra, empenho, fi-
delidade e amor.

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A pertinência dos clássicos para o homem moderno

Marc Bloch, em sua obra A Sociedade Feudal (1987), constrói uma afirmação que cabe
ao presente estudo, pois, ao reconhecer que a literatura representa a sociedade, ressalta a
importância literária para os homens, inclusive ao moderno:

Decerto, fora nestes poemas, antes de mais nada, que o grande político apren-
dera a reflectir sobre a história. A bem dizer, a concepção de vida que as gestas
exprimiam, sob muitos pontos de vista, mais não fazia do que reflectir a do seu
público: em toda a literatura, uma sociedade contempla sempre a sua própria
imagem. Todavia, juntamente com a lembrança, por muito mutilada que fosse,
dos acontecimentos antigos, várias tradições, cujos traços encontraremos de
novo repetidas vezes, tinham sido realmente tomadas do passado (BLOCH,
1987, p. 119).

Desse modo, os clássicos, antigos ou modernos, evidenciam um contexto que nos


possibilita assimilar fatos históricos atrelados à linguagem, à cultura e ao comportamento
social próprio da época em que a obra está situada. Assim, do ponto de vista calviniano,
podemos apreender que:

Os clássicos são aqueles livros que chegam até nós trazendo consigo as
marcas das leituras que precederam a nossa e atrás de si os traços que dei-
xaram na cultura ou nas culturas que atravessaram (ou mais simplesmente na
linguagem ou nos costumes). Isso vale tanto para os clássicos antigos quanto
para os modernos (CALVINO, 2004, p. 11).

Logo, o estudo e o debate das obras clássicas são pertinentes ao homem moderno no
que tange sua formação humana e intelectual, pois amplia o entendimento histórico e social,
dando-lhe condições para o enfrentamento das questões cotidianas, ou seja, os clássicos
auxiliam na compreensão da história enquanto transformação e assim “[...] possibilitam a
reconstrução do passado e das experiências coletivas em suas particularidades, principal-
mente naquelas concernentes à educação” (MELO e BORDIN, 2006, p. 13).
A análise dos clássicos privilegia uma educação mais fundamentada e, portanto, me-
nos fragmentada, capaz de formar sujeitos mais completos, que entendem, nas palavras de
Saviani (2005, p. 13), a educação como o ato de “[...] produzir, direta e intencionalmente,
em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida historicamente e coletivamente
pelo conjunto dos homens”. Para Le Goff (1990), documentos ou obras clássicos são mo-
numentos, produções sociais que nasceram das relações e necessidades humanas, por
isso merecem atenção, precisam ser estudadas. O estudo dos clássicos confere ao sujeito
condições para análise de seu próprio contexto, além disso, corrobora para com a formação
humana à medida que educa pelo exemplo e faz refletir sobre os comportamentos, diferentes
contextos, épocas e culturas.

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Parafraseando Pesavento (2004), as narrativas como um todo partem das represen-
tações reais, projetando em seu enredo e personagens elementos típicos ou comuns à de-
terminada época ou contexto, assim, o texto desempenha o papel de intermediador entre o
pensamento, o contexto e o leitor, transmitindo ou fomentando as reflexões, lições, instruções
comportamentais, ensaios, críticas etc. Somamos às considerações da autora supracitada,
a importância da história, pois:

[...] o objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens.


Mais que o singular, favorável à abstração, o plural, que é o modo gramatical
da relatividade, convém a uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes
vestígios sensíveis da paisagem, [os artefatos ou as máquinas,] por trás dos
escritos aparentemente mais insípidos e as instituições aparentemente mais
desligadas daqueles que as criaram, são os homens que a história quer cap-
turar (BLOCH, 2001, p. 54).

Por meio dessa contribuição acerca da relação homem x história e com base nas
contribuições histórico-sociais dos clássicos, nos convencemos de que a relação literária e
histórica é importante ao ensino, pois a História e a Literatura têm em comum a preocupação
com o homem, uma se atém à compreensão da origem, do passado, da evolução humana
e contribui para um pensar e agir mais eruditos, a outra em divertir, instruir, politizar. Ambas
são feitas pelos homens e para os homens, abordam as transformações sociais e naturais,
explorando, direta ou indiretamente, a realidade em seus aspectos natural, cultural, social,
econômico, político. Paulino e Cosson (2004, p.66) explicam que:

Indiscutivelmente, a literatura é uma parte muito significativa do patrimônio


cultural da humanidade, que precisa ser recuperada e preservada, pois é
uma das formas de manutenção da identidade de uma nação. [...] ela não só
veicula a tradição consagrada como estabelece os vínculos com o que ainda
não ocorreu. É a característica dialógica dessa arte-retrospectiva na medida
em que promove a manutenção da tradição (PAULINO; COSSON, 2004, p. 66).

Sobre essa dialogicidade, Candido (1989) indica que a literatura dialoga com a essência
humana. Isto é, ele corrobora com o pensamento de Paulino e Cosson (2004) ao afirmar
que “[…] a literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob
a pena de mutilar a personalidade, porque pelo fato de dar forma aos sentimentos e à visão
do mundo ela nos organiza, nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza”. Além disso, “[...]
a literatura pode ser um instrumento consciente de desmascaramento, pelo fato de focalizar
as situações de restrição dos direitos, ou de negação deles, como a miséria, a servidão, a
mutilação espiritual” (CANDIDO, 1989, p. 122).
Assim, de acordo com o aporte teórico apresentado, o momento histórico, meio social
e a cultura estão intimamente relacionados à produção literária, por isso quando o homem

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escreve, certamente procura compreender ou expressar elementos relativos à sua exis-
tência, à sua experiência, ao seu entendimento da realidade e às suas problemáticas. É o
que ocorre na obra analisada, Eric e Enide. Troyes (1998) retratou por meio do universo
da cavalaria a organização social, as relações de vassalagem, o amor cortês, os conflitos
morais e sociais, o impasse entre o matrimônio e as armas e, na medida em que apresenta
as personagens, fez delas arquétipos sociais que ensinam pelo comportamento e por lições
implícitas e explicitas advindas das transformações sociais e culturais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo partiu do contexto histórico e literário e vislumbrou nos romances de ca-
valaria um meio para explorar as questões sociais inerentes ao século XII. Muito comum
às cantigas da época, o amor era tema frequente nas narrativas, pois cativava a atenção.
Desse modo, contava-se grandes feitos heroicos, que se dividiam entre as batalhas, torneios,
aventuras cavalheirescas e a luta pela amada, ou seja, aventuras amorosas.
Chrétien de Troyes soube explorar as questões de seu período, transcreveu em seus
romances as temáticas sociais, evidenciando na figura do cavaleiro o exemplo a ser seguido.
Por se tratar de um clássico literário, não se deve negar a presença de elementos ficcionais
no enredo dos Romances da Távola Redonda, no entanto, é perceptível a presença dos
conceitos históricos, como as questões de vassalagem, de religiosidade, do amor cortês,
das batalhas por território e honra e dos símbolos, como a espada e a figura feminina.
A relação entre a história e a literatura, explorada nesse estudo, permite ao leitor com-
preender as questões principais do contexto que permeia a obra, cabendo ao mesmo, uma
análise mais profunda dos assuntos apresentados pelo autor. Ou seja, os clássicos literários
são um ponto de partida para os estudos históricos e medievais, que por sua vez, nos ajudam
a compreender as questões sociais e culturais contemporâneas, dado que originam-se dos
conhecimentos acumulados historicamente pela humanidade – além disso, como bem nos
ensinou Candido (1989), a literatura relaciona-se diretamente com a cultura, de modo que
uma sociedade justa, deve respeitar e garantir os direitos humanos, a fruição da arte e da
literatura a todos como um direito inalienável.
A produção clássica e literária conduz ao hábito da reflexão, estimula a imaginação,
desenvolve o raciocínio, o vocabulário e a criticidade, viabiliza a conquista do saber, con-
duz o leitor à valorização dos valores sociais e morais, à percepção dos modelos e valores
sociais construídos histórica e culturalmente. Do mesmo modo, possibilita ao leitor o melhor
entendimento das emoções e das complexidades humanas. Portanto, a necessidade de
conservarmos os clássicos dentro do espaço acadêmico se dá por sua importância histórica
e social, já que tratam-se de registros sobre a história da humanidade, sobre o pensamento

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e os anseios humanos em épocas que antecederam a nossa e que, por isso, nos ajudam
a elaborar uma consciência cultural e histórica mais erudita, sobretudo menos fragmen-
tada ou alienada.

REFERÊNCIAS
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