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HISTÓRIA DA MÍDIA

MÍDIA E MODERNIDADE: REVOLUÇÃO E


IMPRENSA

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Saber analisar a relação entre a comunicação de massa e as grandes transformações da era moderna, impactos

e desenvolvimento.

2. Compreender o papel da imprensa na modernidade como elemento de transformação social e como técnica

decisiva alavancada no século XIX.

3. Codificar a mudança rumo a uma imprensa industrializada e voltada já para um mercado através do

barateamento da produção e da relação com a publicidade.

4. Identificar a Imprensa régia e o papel da coroa na estruturação da imprensa colonial, além de entender a

Imprensa no Brasil Imperial.

1 Introdução
O século XIX é de fundamental importância para compreendermos como a mídia se torna decisiva para as

relações humanas.

Século de profundas transformações sociais, políticas, econômicas e culturais. Regido pelos ideais franceses de

liberdade, igualdade e fraternidade, o homem moderno vê nesse período a consolidação do pensamento

científico e da cultura de massa.

Tempos também de revolução industrial e de uma mudança radical da imprensa em termos técnicos. Com os

jornais e a atividade panfletária, o espaço privado e público se reconfiguram como se renova a própria idéia de

Homem.

O Brasil entra em cena de uma forma mais ampla em nossos estudos. Na relação com a coroa instaura-se uma

imprensa que no final das contas era muito mais portuguesa do que brasileira. Veremos que essa relação é mais

profunda que imaginamos ao estudarmos a imprensa no período Imperial, mas que a imprensa também se faz

revolucionária em terras brasileiras.

2 A imprensa e as revoluções
O filósofo alemão Hegel - que já falava dos “excessos da imprensa” em pleno início de século XIX:

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Em outros termos podemos também pensar que o predomínio do saber nos e dos templos ganharia um novo

status com a imprensa moderna. O fim do século XVIII ( onde os anúncios em jornais já existem e já são pagos)

assiste a revolução francesa e nos situa em uma nova era. Dos lemas da revolução, a questão da liberdade logo

será tomada como bandeira por parte da imprensa.

O jornal é a oração matinal do homem moderno.

“Mesmo antes da revolução francesa, as guerras religiosas no país eram tanto de mídia quanto de espada e armas

de fogo – conflitos onde tinham suma importância a panfletagem, a feiúra das imagens, sua destruição e a

comunicação oral”. Fonte: Burke, Peter e Briggs, Asa. Uma história social da mídia. Rio de janeiro: JZE, 2004).

Alguns dados:

1785 - Começa a circular em Londres o The Times com o nome de com o nome de The Daily Universal Register.

1800 – Nos EUA são distribuidos 178 semanários e 24 diários. Islã apresenta resistência.

Após 1800 – Imprensa e movimentos revolucionários se juntam no Oriente médio.

1828 – A palavra tecnologia é introduzida nos EUA.

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Entre 1865 e 1875 – O número de quilômetros de trilhos nos EUA aumenta em 210 mil aproximadamente.

A relação entre imprensa e liberdade é marcada por idas e vindas e até nos dias de hoje pensar tal relação é mais

que um dever. Relaciona-se com um conceito maior, o de liberdade de expressão, que significa que os cidadãos

“são livres para acreditar nas idéias –políticas, religiosas, econômicas – que quiserem para expressá-las, seja

falando, escrevendo, encenando, cantando etc.”

Fortes, Rafael. Da impressão à liberdade de imprensa. In Introdução à História da Comunicação. Rio de Janeiro: E-

papers, 2009, p.36

O filósofo alemão Hegel - que já falava dos “excessos da imprensa” em pleno início de século XIX:

Guerra Civil nos EUA (1860-1865), onde destacamos os primeiros registros de credenciais para cobrir uma

guerra.

A Guerra Franco-prussiana (1870-1871), quando o jornal inglês The Guardian manda correspondentes para os

dois lados para cobrir o episódio.

O espírito científico herdado do século das luzes (do Iluminismo) e a revolução industrial contribuíram

para o rápido avanço da imprensa.

Ter informação torna-se uma ferramenta necessária para participar da vida social.

O público e o privado tornam-se elementos de um mesmo composto.

A vida vira notícia e a notícia vira mercadoria.

A opinião cede lugar à novidade.

3 A imprensa industrializada
A imprensa torna-se instrumento de transformação social. O abalo nas esferas do público e privado tem nas

manchetes da mídia impressa novas sensações. A técnica jornalística se desenvolve. A liberdade de imprensa que

já aparece na constituição de 1791 dos EUA é do mesmo período em que semanários, mensários e diários se

espalham pelo mundo. A máquina a vapor, instrumento da primeira grande revolução industrial, reinventa a

prensa de tipos móveis gutenberguiana.

A importância da industrialização e de figuras como James Watt (inventor da máquina a vapor) e Richard

Arkwright, o primeiro “ rei das fábricas” nesse quadro é fundamental. Como observa Vale*, “se atividade de

imprensa, nos séculos XVII e XVIII inventou e consolidou a forma-jornal, no século XIX o jornalismo foi

transformado em grande empresa capitalista, impulsionado pela revolução industrial”.

*Vale: Vale, Andréa. A industrialização da imprensa no século

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Figura 1 - James Watt

Figura 2 - Richard Arkwright

Esse impulso se dá de forma literal, ou seja, o uso de novas técnicas de impressão. A principal delas era o fato de

não mais depender da força humana pressionando o papel*.

*não mais depender da força humana pressionando o papel: O conde Charles Mahon Stanhope criou um

mecanismo metálico decisivo para a impressão. A máquina a vapor utilizada na impressão de um jornal data de

1810 e se deu sob a encomenda do editor Bensley ao tipógrafo saxão Frederick Koenig.

O terceiro momento nesse processo de industrialização da imprensa, destacamos também de Vale:

“Entre os anos de 1845 e 1861, a tecnologia de impressão caminhou decisivamente para a invenção da prensa

rotativa, cujo protótipo teria sido pensado e patenteado pelo americano Richard Hoe e utilizado na sede do

Jornal Philadelphia Public Ledger (...) mas foi em 1861 que Hoe conseguiu produzir uma máquina que combinava

uma série de elementos: a impressão através de cilindros com matrizes curvas estereotípicas e papel em bobina.

O resultado foi fundamental para o desenvolvimento da imprensa industrializada: mais páginas seriam

impressas simultaneamente, usando mais a própria máquina, que entrega organizado o produto final.”

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Hoje é fácil imprimir um periódico. Graças a revolução industrial e as rudimentares máquinas vapor chegamos a

esse maravilhoso mundo tecnológico. Para exemplificar o conteúdo abordado, veja o seguinte vídeo:

Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=GpLXGXHw9ok

Curiosidade

Criado em 1884 pelo alemão Ottmar Mergenthaler, olinotipo era uma máquina que compunha tipos (caracteres)

automaticamente.

Era a prensa automatizada!

4 Sensacionalismo e Penny Press


O autor Ben Singer no texto “Modernidade, hiperestímulo e o início do sensacionalismo popular” (In O cinema e

a invenção da vida moderna, São Paulo: Cosac e Naify, 2004), caracteriza a partir dos estudos de Benjamin,

Simmel e kracauer uma quarta dimensão da modernidade, em adição à modernidade como um conceito moral e

político, cognitivo e socioeconômico.

Singer acredita que existe uma disposição neurológica na modernidade.

As revoluções, a industrialização, a experiência essencialmente urbana entre outras coisas levariam o homem a

experimentar novas percepções, novos choques sensoriais. Os meios de comunicação, sobretudo a imprensa,

seriam o marcos decisivos para compreender essa modernidade neurológica.

Fenômenos como o sensacionalismo para as massas, a literatura “acelerada” e sensorial de mestres como Poe e

Baudelaire, a imprensa tornado-se mercadoria com os jornais de um tostão (penny press) ao lado da

mudança no caráter opinativo dos jornais e a consolidação dos anúncios publicitários são nossos temas.

A Uma Passante (Charles Baudelaire)

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A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.

Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,

Uma mulher passou, com sua mão vaidosa

Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.

Eu bebia, como um basbaque extravagante,

No tempestuoso céu do seu olhar distante,

A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade

De um olhar que me fez nascer segunda vez,

Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!

Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,

Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

São causas da chamada “Imprensa de negócios”:


• Barateamento dos custos
• Aumento populacional nos grandes centros urbanos
• Declínio do analfabetismo*
* Declínio do analfabetismo: Em função de melhorias nos sistemas de educação na Europa e nos EUA.

REFLEXÃO

Que tal fazer a sua análise das capas apresentadas aqui?

5 Imprensa Régia e Os jornais na Independência


Quase no fim da primeira década do século XIX, a família real portuguesa fugindo do bloqueio imposto por

Napoleão à Europa se muda para o Brasil.

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Bloqueio Continental – Proibição de acesso aos portos dos países submetidos ao domínio do Império francês.

6 A Imprensa e a independência
A notícia da proclamação aparece em um jornal 13 dias depois do ato, no carioca O Espelho.

Jornais como o do português João Soares Lisboa, Correio do Rio de Janeiro, eram contrários a Independência. A

Independência e a imprensa estão intimamente ligados no Brasil, assim como a República. Mas isso veremos na

próxima aula.

Vamos nos ater ao ano que antecede e ao ano que sucede nossa “independência ou morte”. Anos importantes de

surgimento de jornais e eventos fundamentais na história do Brasil às voltas com o tornar-se Império.

Surgem:

1821 – O Diário do Rio de Janeiro

Precursor dos atuais jornais informativos.

O Conteúdo era voltado para furtos, assassinatos, diversões, espetáculos e anúncios de venda de escravos.

Ficou Conhecido como Diário do Vintém, pelo baixo preço.

1821 – Diário Constitucinal

Jornal baiano, tido como primeiro periódico a defender os interesses do Brasil.

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Ficou conhecido mais tarde como somente o Constitucional.

1823 – O Sentinela da liberdade

Tinha na figura do deputado constituinte, Cipriano Barata, sua principal voz.

Era um defensor de mudanças na independência. Um dos pioneiros da liberdade de imprensa.

Defendia o chamado “jornal de cárcere”.

Em um número de maio do Sentinela da Liberdade da Guarita de Pernambuco, Barata nos emociona.

*número de maio: "A palavras terror público, de que tratamos aqui significa um medo horrível que se apodera de

qualquer povo por meio de procedimentos cruéis e perseguições do governo, seja por meio de continuas

vexações arbitrarias, de pancadas, cadeias, etc., ou seja por meio de devassas, pesquisas por meio de espias,

denuncias, deportações ou segredos, cartas em branco, assassinatos clandestinos. etc. (...) Eis aqui o estado

violento e lastimoso em que se chama Corte do Rio de Janeiro".

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O que vem na próxima aula
• Na próxima aula, avançaremos no nosso estudo sobre a mídia, estabelecendo um paralelismo: mídia -
sujeito e/ou objeto das grandes revoluções da modernidade. E para isso vamos considerar a análise sobre
a comunicação de massa e as grandes transformações da era moderna, impactos e desenvolvimento.
• Nesta aula você aprendeu mais sobre a relação entre a imprensa e a modernidade. Na próxima aula,
avançando em nossa discussão sobre a mídia como sujeito ou objeto das grandes revoluções da
modernidade, faremos a ponte para o século XX, entendendo como a imprensa torna-se o chamado
quarto poder e consolida o exercício das atividades de jornalísticas e publicitárias no contemporâneo.
Veremos como cada vez mais e mais os vínculos entre os meios impressos e a política se aproximam e
que as dimensões do público e do privado se remodelam. Também tentaremos analisar a questão da
democratização dos meios, bem como os avanços tecnológicos no Brasil e no mundo, no que diz respeito
à imprensa. Faremos, por fim, uma incursão na imprensa brasileira do século XX, enfatizando o papel
dessa no configuração do Brasil contemporâneo.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Contextualizou a relação entre imprensa e as revoluções da modernidade.
• Identificou a relação entre imprensa e industrialização.
• Conheceu a origem do sensacionalismo e da penny press conhecendo um pouco mais sobre a imprensa
mundial moderna.
• Visualizou técnicas, inventores e autores importantes para o período que estudamos.

• Conheceu a Imprensa régia e a implantação dos primeiros veículos de informação no Brasil de 1808 ao

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• Conheceu a Imprensa régia e a implantação dos primeiros veículos de informação no Brasil de 1808 ao
Brasil Império, lendo as articulações entre política e imprensa.

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