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HISTÓRIA DA MÍDIA

MÍDIA E DILEMAS DO SÉCULO XX

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Olá!
Ao final desta aula, você será capaz de:

1. Identificar a imprensa como quarto poder entendendo seu papel decisivo para a sociedade na transição para o

século XX e XXI.

2. Verificar o papel da imprensa em sua relação com as guerras, crises e mudanças de formas de governo como

no caso brasileiro.

3. Compreender os deasafios da democratização da comunicação de massa.

4. Codificar os avanços e a reconfiguração da mídia impressa no século passado.

5. Entender de forma mais íntima a relação entre a imprensa e diversos momentos do Brasil Republicano, nas

ditaduras e na redemocratização, bem como conhecer os momentos de surgimento de importantes veículos no

Brasil.

1 Introdução
Nessa aula estudaremos o papel da imprensa a partir do final do século XIX, tentando, com os olhos de hoje*,

compreender um pouco de suas histórias e, porque não, de sua memória sempre contemporânea.

Buscaremos refletir criticamente sobre as relações entre imprensa* e as grandes guerras, e no caso brasileiro

com a proclamação da República. Compreender essa relação é vital para entender fenômenos como a

democratização da informação. Se no final de nossa última aula lembramos a importância da literatura para

compreender o papel da mídia impressa durante o Império, com essa observação profundamente poética de

Croce, tentamos ilustrar que a imprensa no contemporâneo carrega muito do ficcional. Seja nos folhetins,

sucesso da popularização da imprensa, seja através do discurso da publicidade.

Evidentemente, a objetividade dos fatos na imprensa lado a lado com a democratização - que tanto insistimos -

da informação que o século XX luta a todo tempo para garantir e nunca parece conseguir de fato existir

plenamente são fantasmas que perseguem a história dos meios.

* olhos de hoje: E também do estudioso dos meios para lembrarmos McLuhan.

* imprensa: Tanto através da atividade jornalística como através da Publicidade e Propaganda.

Observa que a história é sempre contemporânea.

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2 A imprensa e o quarto poder
IMPRENSA – QUARTO PODER?

Esse termo envolvendo o poder usado para referir-se à imprensa possui uma razão histórica. Por anos a fio

desde que inventada, a imprensa associa-se a esfera dos outros poderes.

Se como brilhantemente recortou Michel Foucault, o poder se manifesta de diversas formas, mas sempre se

manifesta, na história da imprensa, sua origem deve-se ao historiador Macaulay que referindo-se à galeria de

Imprensa do Parlamento Inglês cunhou-a como quarto poder.

Alguns acreditam que a expressão estaria mais se referindo ao jornal The Times – tido como o “maior jornal

jamais visto no mundo”. A expressão pegou para a imprensa como um todo. A Publicidade e Propaganda se

aproveitam desse “poderio” e nos jornais começa sua trajetória de afirmação na sociedade.

Burke e Briggs

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Na história da Imprensa, cada país tem sua data marcante*.

*data marcante: Os anos que Burke e Bnggs fazem referência sao anos decisivos da Guerra fna, periodo da

bipolaridade entre EUA e URSS.

Os anos que Burke e Bnggs fazem referência são anos decisivos da Guerra fna, período da bipolaridade entre

EUA e URSS.

1881 - Em 1881 de novo a questão da liberdade de expressão na França vem a tona. Uma nova lei de Imprensa

surge e com ela a expressão: La press est Libre (A imprensa é livre).

A imprensa se estabelece a partir do início do século XX como uma “ força social que deveria ser avaliada em

uma democracia futura, tanto quanto havia sido em um passado autoritário” (Id., Ibid).

A imprensa é uma instituição relacionada as demais instituições democráticas.

1900 - Um jornalismo novo antenado com a discussão política e ciente de que é um poder tem em C.A Pearson

um expoente.

Fundador do Daily Express em 1900, Pearson foi o responsável por colocar óleo de eucalipto em um jornal para

tornar seus leitores imunes a gripe. Poder que a imprensa provavelmente jamais terá, mas que nos soa no

mínimo curioso ressaltar nessa brincadeira a pretensão e afirmação de alguns veículos impressos.

O Daily em 1931, auge da crise finaceira norte-americana, através do responsável pelas manchetes acusa

diversos jornais de objetivarem o poder sem responsabilidade. Está travada umas das várias guerras entre

grandes jornais.

1923 - A primeira edição da revista Time é de 3 de março de 1923 e foi fundada por Briton Hadden e Henry

Luce.

Já a Life criada também por Luce é de 1936: Seu lema nos parece síntese do jornalismo contemporâneo: “Ver a

vida, ver o mundo; testemunhar os grandes eventos; observar as faces dos pobres e os gestos dos orgulhosos...

ver coisas a milhares de quilometros de distância, coisas escondidas atrás de paredes e dentro de salas, coisas

perigosas de se obter... ver e ficar pasmo, ver e aperender”. Uma nova dimensão do público e do privado e a

informação para todos. Já com a propaganda dos regimes autoritários fascistas deter a informação era deter de

fato o poder e não só ver para aprender, era ver para controlar. Sobre esse poder concentrado nas mãos dos

meios vejam o que dizem mais uma vez os historiadores Peter Burke e Asa Briggs:

Sobre esse poder concentrado nas mãos dos meios vejam o que dizem mais uma vez os historiadores Peter

Burke e Asa Briggs:

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“A concentração de poder na mídia no século XX tornou-se uma fonte cada vez maior de preocupação pública

entre 1961 e 1981. Ela embarcou não apenas a maioria das possíveis linhas divisórias entre informação e

entretenimento – com um pouco de educação no meio -, mas também a linha que separa os partidos políticos de

esquerda/direita, e por fim, as diferenças entre as mídias.”

(Id., Ibid., p.216)

3 A imprensa e guerras: a mídia e o campo de batalha.


Esse tal quarto poder teve intíma relação com as guerras mundiais e com uma série de eventos que marcam o

século XX. Mesmo com outros veículos como rádio, telégrafo e, posteriormente o cinema, sendo decisivos para as

lutas do século XX, a mídia impressa é sacudida com as grandes guerras mundiais desse período.

Reparemos atentamente o que diz o importante site do canal da imprensa sobre a primeira Guerra:

"Na Primeira Guerra Mundial, além da dúvida acerca dos jornais e sua veracidade, sucederam-se outros

incidentes relevantes. Os jornalistas, diante de toda a pressão a que foram submetidos graças à classe dominante

e manipuladora da realidade, concluem que a verdade é, tradicionalmente, a primeira vítima da guerra".

No ano do término da Primeira Grande Guerra, 1919, surge o New York Daily News, o primeiro jornal em

formato tablóide. As mudanças nos estilos estavam só começando, porém, como nos observa* Vale “nos anos

que seguem a primeira guerra mundial, o consumo sofreu uma queda considerável em grande parte pela

emergência de outras formas de comunicação massiva.”

* observa: Em introdução à história da comunicação, p. 29.

O período entre guerras é marcado pela reconstrução da imprensa.

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A segunda guerra será responsável por um declínio do poder da imprensa, junto com a vergonha de ser homem,

depois da experiência dos campos de concentração, como nos mostrou Primo Levi.

Sobre a guerra ocasionada pela ascensão dos regimes nazi-fascistas e sua relação com o binômio imprensa

/poder usamos como referência o mesmo site do canal da Imprensa:

“Na segunda Guerra Mundial, a imprensa, obedecendo à Inteligencia Militar, mostra-se fraca ao exibir tragédias

sob ângulos positivos, disfarçando derrotas e forjando estratégia onde havia fracasso. Nos Estados Unidos, os

jornalistas tinham acesso somente a informações previamente analisadas. O departamento de Censura submetia

jornais e emissoras de rádio ao Código de Prática de Tempo de Guerra.”

Outras guerras como a da Coréia* e da Argélia* onde censores decidiam o que publicar e eventos como a

Grande Depressão de 1929* implodem a imprensa, que precisa de novo se reinventar.

*Coréia: 1950/ 1953.

*Argélia:1954/ 1962.

*a Grande Depressão de 1929: Com o Crash da bolsa de NY.

A questão agora não pode ser mais só a mercantilização da imprensa e a subsequente trasnsformação dela em

produto, mas a necessidade de democratizar a informação fenômeno que, em nosso século com as novas mídias

e com a afirmação de práticas comunitárias e da sociedade civil.

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4 Novos gêneros, novos meios, novos horrores.
• Mídias: COMO O TELÉGRAFO
• Melhorias nos sistemas de transporte: COMO AS FERROVIAS
• Desenvolvimento dos correios: COMO OS CARTÕES POSTAIS*
* CARTÕES POSTAIS: Os primeiros cartões postais forma enviados na Áustria por volta de 1870.

Esses elementos* foram de suma importância para o final da modernidade e colocaram o homem como um real

produtor e consumidor de informação.

*Esses elementos: Esses fenômenos levaram a imprensa a se metamorfosear novamente.

O caráter sensacionalista continuaria a habitar páginas dos jornais, mas outras formas de contar histórias e

mesmo outras histórias entram em cena.

FOLHETINS

Os folhetins (as chamadas folhas de livro) surgidos em 1836 despontam na segunda metade do século XIX como

material importante para entreter o homem.

No transição para o sec XX são publicado à exaustão, na tentativa de aumentar mais ainda a venda dos jornais.

Apresentavam tramas simples e assuntos sérios sobre a nova identidade do homem que já era por demais

moderno.

DAILY MAIL

O Daily Mail* é um dos primeiros jornais a assumir a posição de unir entretenimento e informação com página

voltada para as mulheres, amantes do gênero folhetim.

* Daily Mail: Londres, 1896.

NO BRASIL

No Brasil, a publicação de folhetins literários fazia enorme sucesso. Em vários casos eram lidos em voz alta nas

casas, mostrando o poder da oralidade em um país onde o analfabetismo era imenso.

Alguns folhetins como “Memórias de um sargento de milícias”, de Manuel Antônio de Almeida, publicado em

jornais como Correio Mercantil* alavancaram ainda mais os jornais no Brasil.

* publicado em jornais como Correio Mercantil: Que publicou também para o público obras de José de Alencar –

O guaranil – e A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo.

5 A transformação da propaganda no século XX.


O uso da propaganda nos regimes nazistas pode ser sintetizado na figura de Joseph Goebbels:

“UMA MENTIRA CEM VEZES DITA, TORNA-SE VERDADE”

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Também pode-se destacar o uso dos cartazes de propaganda do regime Lenista na extinta União Soviética. Estes

fatores mostram o quanto a propaganda pode ser usada para fins políticos duvidosos.

6 Imprensa e república no Brasil.


Muito criticada na Imprensa, a Guerra do Paraguai – 1864/1870 – foi um dos elementos que contribuiu para a

campanha de abolição da escravatura.

Em 1869, por exemplo, surge o jornal liberar A REFORMA defensor de reformas eleitoral e judiciária, e da

abolição da escravidão.

Depois, em 1880, vem O ABOLICIONISTA, de Joaquim Nabuco, que dura menos de um ano, mas abre caminhos

para outros que viriam.

Diversas Províncias – PA, CE, MA, PI, PB – tinham jornais de cunho abolicionista. Esses jornais faziam parte da

chamada imprensa abolicionista fundamental para o fim da escravidão e para o Brasil tornar-se República.

Surgem no Brasil, a partir de meados do século XIX, as primeiras revistas ilustradas:


• Ilustração Brasileira – tida como a primeira de 1854;
• Semana Ilustrada;
• Careta – que usava o bom humor para falar de política, sobretudo em charges e caricaturas – arte que
ajudou a desenvolver o jornalismo brasileiro.

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A primeira etapa da Imprensa operária vai de 1922 a 1930 e é chamada de Anarcosindicalista*.

Em sua maioria esses operários eram imigrantes e tentaram se organizar para formar jornais que lutassem pelos

direitos dos trabalhadores. Tinham por finalidade organizar, informar, mas também politizar as classes

trabalhadoras. Repletos por dificuldades financeiras, periodicidades irregulares, a imprensa operária tem sua

principal atividade em São Paulo.

*Anarcosindicalista: Ver FORTES, Os Imprensos Brasileiros de 1808 a 1930, In Introdução à História da

Comunicação, p. 54.

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7 Popularização da imprensa.
A Imprensa populariza-se e profissionaliza-se no Brasil com a república, novos conflitos se desenham. Os

primeiros governos republicanos fecham jornais mesmo com a liberdade de imprensa garantida com a

constituição de 1891. De 1890 a 1920 surgem mais de 300 jornais anarquistas – como O proletário, A voz do

povo, O patriota.

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No Brasil, nos anos 10 do século XX, aparece a primeira agência de Publicidade brasileira: a Eclética. Na década

de 20 a agência norte-americana Thompson se instala no País.

Embora a criatividade de rótulos, como o famoso “Se é Bayer, é bom”, de Bastos Tigre, date de um século

antes.

Também na década de 20, surgem o jornal O Globo (!925, fundado por Irineu Marinho) e a revista O Cruzeiro

(1928), que pertencia à Assis Chateubriand – criador dos diários associados (em 1924) – famosa por seu

refinado editorial e pelos nomes que escreviam e ilustravam-na, entre eles: Vinícius de Morais, Érico Veríssimo,

Anita Malfati. Vale, por fim, ressaltar uma das maiores dobradinhas de repórter e fotógrafo da história da

imprensa brasileira que faziam parte do brilhante time de O Cruzeiro: David Nasser e Jean Manzon, com suas

grandes reportagens e imagens sobre assuntos que iam da fauna brasileira aos outros meios de comunicação,

como teatro e cinema, passando pelas colunas sociais.

8 Do Estado Novo ao Golpe de 64 e os anos de chumbo.


Datas:

1850 - Victor Civita funda a editora Abril.

1952 - Surge a revista Manchete, de Adolpho Bloch.

1960 - Surge o Zero Hora, no Rio Grande do Sul.

1964 - A Folha de São Paulo surge da fusão entre Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da Noite.

Para saber mais informações, leia agora o texto Golpe de 64 e anos de chumbo.

O que vem na próxima aula


Nesta aula você aprendeu mais sobre a mídia e os dilemas do século XX.

Agora chegamos ao fim de nossa segunda unidade. Este é o momento de sua prova, estude, releia as aulas, tire

suas dúvidas. Depois da AV1, entraremos no terceiro e mais longo momento de nosso curso. Veremos a história

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de outras mídias, refletidas pelo que Benjamin classificou como a reprodutibilidade técnica dos meios e a sua

instantaneidade. Será tempo de rádio, fotografia, cinema, televisão e das novas tecnologias da informação e da

comunicação.

Na próxima aula, especificamente, entraremos na era dos meios audiovisuais de comunicação de massa. A

produção técnica das imagens será estudada, priorizando a fotografia e sua relação com o cinema. Contaremos

um pouco a história do meio fotográfico e sua relação direta com a representação da realidade. Você verá que a

invenção patenteada pelo governo francês possui curiosa relação com o Brasil. Tentaremos detalhar essa técnica

do olhar em nosso país, explorando alguns momentos para o jornalismo e a publicidade.

Até lá!

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• Identificou a relação entre a imprensa e as guerras entendendo como o quarto poder se relaciona com o
século XX.
• Analisou as relações entre publicidade e propaganda entendendo-as como elementos desse quarto
poder.
• Compreendeu um pouco mais a importante idéia de pensar a democratização dos meios de comunicação.
• Conheceu as relações entre a tranformação do Brasil em República e a imprensa.
• Aprofundou num outro momento as principais características da imprensa brasileira no século XX.
• Registrou datas de importantes acontecimentos da história da imprensa no século passado, lendo-as em
função de momentos históricos diveros.

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