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CONHECIMENTO BÁSICO DE

POLÍTICA
PARA NÃO SER MANIPULADO

MARCOS SERRANO
Apresentação

Se você começou a ler esse livro é porque se


interessa por política e já se viu numa discussão ou
debate com pessoas que usam palavras,
argumentos, fatos ou contextos históricos que você
pode não ter tido clareza para compreender. Pode
ser que tenha assistido algum noticiário ou
entrevista em que foi surpreendido com uma notícia
sobre política que não lhe parecia fazer sentido. Nos
dias de hoje, o viés político está em todos os lugares;
nas ruas, nas conversas de elevador, no trabalho, em
programas de TV, no cinema e até mesmo nos
programas jornalísticos que deveriam prezar pela
imparcialidade. A melhor forma de blindar-se contra
quem tenta empurrar-lhe uma causa ou tese política
é o conhecimento. Não precisamos nos tornar
doutores em política, mas devemos ter um mínimo
de compreensão histórica dos fatos, se possível de
várias fontes, para compreender as narrativas atuais
de políticos e qualquer influenciador de seus ideais
e causas.

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Sobre o autor

Sou músico, professor, tenho mestrado e


acompanho política diariamente desde 1989. Devo
mencionar de antemão o meu viés mais à direita
desde que vi a Alemanha dividida e percebi que era
melhor viver onde havia mais liberdade.. Muitos dos
acontecimentos históricos narrados nesse livro não
são apenas frutos de pesquisas e estudos, mas
vivências pessoais da realidade dos acontecimentos
a partir da década de 80. Como um leitor voraz de
jornais e revistas semanais, sites e canais de política,
buscando sempre os fatos e principalmente as
intenções escondidas por trás dos fatos para
entender a verdade por trás das aparências. Tentei
compilar nessa obra os principais eventos históricos
de forma objetiva, leve e concisa para o bom
entendimento da realidade política que nos cerca.
Boa leitura!

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Capítulos

1. De onde vieram as ideias da esquerda?


2. O que foram o Nazismo e o Fascismo?
3. A Política no Brasil pré-democracia.
4. Década de 1980 e o fim do socialismo.
5. Primeiras eleições democráticas após a ditadura.
6. Implementação do Plano Real.
7. Como Lula venceu as eleições em 2002.
8. O Mensalão.
9. O começo do caos econômico e político.
10. O Petrolão.
11. Impeachment de Dilma Roussef.
12. Prisão de Lula.
13. Eleição de Bolsonaro.
13.1 Início do governo.
13.2 Caso Marielle Franco.
13.3 A facada.
14. Primeiro ano do governo Bolsonaro.
15. Jornal Nacional acusa Bolsonaro.
16. A Pandemia.
17. Saída de Moro.
18. A CPI do Circo.
19. Tensões com o Supremo.
20. Perseguição a influenciadores de direita.
21. Conclusão.

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1. De onde vieram as ideias da esquerda?

É impossível entender uma realidade atual sem


observar o contexto histórico do qual ela é a
consequência. Por isso é necessário termos uma
ideia do que aconteceu no passado para a
compreensão da realidade contemporânea.

Desde meados do século XVIII, por volta de 1750,


teve início na Inglaterra a Revolução Industrial.
Máquinas para a produção em massa assim como a
primeira máquina a vapor foram inventadas! Dando
início a uma nova concepção de produção, de
comércio, de trabalho, que envolvia toda a
sociedade! Mais tarde, essa nova forma de produção
iria provocar a famosa teoria política e social do
alemão Carl Marx. Sim, muita gente ouve falar de
Carl Marx e acha que ele foi um russo, um soviético.
Mas não, Marx era alemão, estudou direito e filosofia
em Berlim e foi o autor do “Manifesto Comunista” de
1948, escrito em conjunto com Friederich Engels.
Marx viveu entre 1818 e 1883, bem antes de ver suas
teorias sendo colocadas em prática pela União
Soviética, em 1922.

Carl Marx viveu num período em que a Revolução


Industrial já tomava quase toda Europa continental.
As precárias e terríveis condições de vida dos
trabalhadores das fábricas daquela época foram a
razão das teorias de Marx. A Revolução Francesa,
que rompeu com a aristocracia e criou as bases dos

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Direitos Humanos, certamente o influenciou. Aliás,
foi na Revolução Francesa que apareceu pela primeira
vez os termos: “Direita e Esquerda”. Os políticos da
França que eram a favor do Rei, sentavam-se à direita.
Já os revolucionários sentavam-se à esquerda.

CARL MARX E FRIEDERICH ENGELS

Marx defendia que as condições desumanas dos


trabalhadores da época necessitavam de uma
revolução, uma luta armada! Marx analisou o
capitalismo e o tornou o verdadeiro vilão que
promovia as injustiças da sociedade. Esse era o
resumo do resumo da teoria de Marx que mais tarde
seria adotada pela Rússia.
A Revolução Russa aconteceu em 1917, o czarismo (a
monarquia russa) acabou e os revolucionários russos
promoveram uma série de revoltas que culminou com
o início da União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas, a URSS, em 1922. Finalmente alguém
colocava as teorias de Carl Marx em prática. Essas
teorias não eram apenas uma cartilha ou um conjunto
de normas, do tipo: todos devem ter o mesmo
salário...
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não há mais propriedade privada... Marx, na verdade,
criou todo um universo, criou a teoria completa,
tentou prever toda a cadeia de produção e as
consequências sociais.

E como ficou a União Soviética sob o domínio do


comunismo de Marx? O líder do país desde 1917 era o
comunista Vladimir Lênin. No seu comando, o país
teve todos os seus bancos e suas indústrias
estatizadas. As terras nos campos foram
redistribuídas, ou seja, adeus propriedade privada.
Mas Lênin morreu ainda em 1924 de “acidente
vascular cerebral”. E quem o sucedeu? Josef Stalin! O
ditador russo que governou até 1953 com mão de
ferro e é considerado por muitos historiadores como
responsável pela morte de milhões de pessoas
contrárias ao regime soviético.

CARTAZ RUSSO COM MARX, ENGELS, LÊNIN E STALIN

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2. O que foram o Nazismo e o Fascismo?

Stalin lutou contra Hitler na Segunda Guerra Mundial,


unindo-se aos aliados contranazifascismo. É muito
comum nos dias de hoje jornalistas, professores e até
intelectuais com viés mais à esquerda fazerem uma
verdadeira confusão com as denominações “fascismo
e extrema-direita”. Hitler foi o ditador do nazismo, que
perseguia judeus, comunistas e “não arianos”. Já o
italiano Benito Mussolini comandou o fascismo e
compartilhava do ódio de Hitler contra os comunistas.
Mas afinal, o que é o nazismo e o fascismo?

MUSSOLINI E HITLER

A palavra nazismo tem origem na denominação


“Nacional Socialismo” e suas características eram:
anticomunistas, racistas, autoritárias,
ultranacionalistas, estatistas e coletivistas. Já o
fascismo vem de do latin “fasces” que significa feixe de
varas amarradas em volta de um machado

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SÍMBOLO DO FASCISMO ITALIANO

Essa ferramenta era um símbolo do poder dos


magistrados romanos de decapitar e flagelar
cidadãos desobedientes. As características do
fascismo são semelhantes as do nazismo: eram
anticomunistas, autoritários, ultranacionalistas,
estatistas e coletivistas! A grande diferença era a
“eugenia”, Hitler considerava-se da “raça” pura
ariana enquanto Mussolini não dava tanta atenção a
genética. Só para você ter uma ideia, uma
informação que muitos professores de História
escondem, eram as máximas de Benito Mussolini, o
líder fascista:

“Tudo no Estado, nada contra o Estado, e nada


fora do Estado”.

Lendo essa frase, ela parece uma frase de alguém


mais a esquerda ou a direita? Muitos consideram o
fascismo como uma expressão da direita pelo
simples fato dos fascistas terem lutado contra os
comunistas e terem sido historicamente chamados
de “extrema-direta”. Uma denominação bastante
controversa, pois quando analisamos as
características do fascismo, identificamos muito

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mais valores do próprio comunismo, como o estatismo
absoluto,o ultranacionalismo e principalmente o
COLETIVISMO, onde o valor do indivíduo fica
subjugado ao direito coletivo.

Por isso a expressão “extrema-direita” não significa


exatamente uma direita mais extrema ou, melhor
ainda, o oposto de extrema esquerda, pois o oposto do
comunismo seria o liberalismo, o livre mercado, o
estado mínimo, o INDIVIDUALISMO. Mas não foi isso
que lhe ensinaram na escola, isso eu aposto.

3. A Política no Brasil pré-democracia

O Partido Comunista Brasileiro (PCB), certamente


influenciado pelo que acontecia na União Soviética,
nasceu em 1922. Cresceu aos poucos e passou por
momentos históricos como a Segunda Guerra Mundial,
a era Vargas e o comunismo de Mao Tse Tung na China
em 1949. Mas foi na década de 1960 que mais entrou
em evidência. Em 1964, os militares deram um Golpe
de Estado e tomaram o poder, sob a justificativa de
que os comunistas ameaçavam tomar o país e assim
teve início a ditadura no Brasil. A ditadura durou 20
anos e as estimativas contam mais de 430 pessoas
desaparecidas ou mortas. Os militares governaram o
país até 1984, com o general João Figueiredo, mas as
eleições democráticas, diretas, só viriam em 1989. O
Partido dos trabalhadores nasceu das greves de
sindicatos do ABC paulista ás vésperas dos 1980, mas
só foi ganhar eleições presidenciais com Lula em 2002.

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Muito se discute sobre a ditadura militar no Brasil.
Realmente aconteceu? Foi necessária? Nunca vamos
saber se foi realmente necessária para evitar que nos
tornássemos um país comunista. Mas a ditadura de
fato aconteceu. Pessoas foram perseguidas,
torturadas, mortas, exiladas, presas... Se
compararmos com as ditaduras de outros países da
América Latina, independentemente de serem
ditaduras de direita ou esquerda, a nossa foi uma
ditadura mais branda, enquanto as outras
ultrapassaram os milhares de mortos, a nossa, como
já disse, ficou nos 430 desaparecidos ou mortos.
Mesmo que isso não justifique os crimes, é um fato a
ser levado em conta.

MOVIMENTO ESTUDANTIL CONTRA A DITADURA

Até aqui, vimos informações que aprendemos


através de leituras, de pesquisas. A partir daqui, a
maior parte eu vivi pessoalmente acompanhando os
noticiários, na TV e nos jornais! Portanto é mais que
um aprendizado, é uma vivência quase orgânica da
história da política do nosso país.

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4. Década de 1980 e o fim do socialismo

A década de 1980 foi um período de grandes


transformações no mundo. Em plena Guerra Fria
entre os EUA e a URSS, víamos o mundo dividido em
superpotências mundiais, Estados Unidos e União
Soviética e três classes de países. O 1º mundo, dos
países desenvolvidos e ricos capitaneados pelos
EUA, o 2º mundo, dos países socialistas, liderado
pela URSS e finalmente o 3º mundo, dos países
subdesenvolvidos, onde estavam a maioria dos
países, os latino-americanos, os africanos e os países
do sudeste asiático.

DIVISÃO DO MUNDO NA GUERRA FRIA

Mesmo antes dos anos 80, ainda em 1976, com a


morte do revolucionário Mao Tse Tung, a China
iniciou profundas reformas econômicas que mudou
profundamente o cenário Chinês. Então a China se
tornou capitalista? Não exatamente, o Partido
Comunista chinês permanece no poder até os dias
atuais. A China é uma ditadura rigorosa, cidadãos são

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vigiados e a internet é controlada pelo governo. Os
líderes comunistas permanecem até hoje no poder.
Mas desde 1978 os mercados chineses se abriram ao
capitalismo o que a transformou na grande potência
econômica que é hoje.

Um dos momentos mais impactantes da China


comunista aconteceu em 1989, quando teve início o
Massacre da Praça da Paz Celestial. As imagens do
estudante enfrentando os tanques chineses pela
democracia do governo comunista chinês marcaram
esse acontecimento:

ESTUDANTE CHINÊS BLOQUEANDO TANQUES

O estudante bloqueava a passagem dos tanques,


os veículos tentavam desviar mas ele voltava a
tomar a frente. Depois ele subiu no tanque e
conversou com o soldado que estava ali, mas outros
manifestantes o afastaram dos tanques. O governo
comunista promoveu o massacre e silenciou os
chineses rebeldes. Estima-se que milhares de civis
morreram, por isso a denominação “massacre”.

Isso aconteceu no ano de 1989, coincidentemente


ou não, o mesmo ano da Queda do Muro de Berlim.

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Provavelmente o episódio mais emblemático do
fim da guerra fria. A Alemanha estava dividida em
duas. A Alemanha Ocidental, capitalista, e a
ocidental, socialista. E a principal cidade alemã,
Berlim, que se localizava no lado oriental, tinha um
muro dividindo-a num lado ocidental e outro
oriental:

DIVISÃO DA ALEMANHA EM 1989

O que podemos aprender com esse acontecimento?


Que o capitalismo é muito melhor para viver do que
o comunismo ou o socialismo (o socialismo é
considerado uma etapa para chegar ao comunismo.
O comunismo define uma sociedade onde não há um
líder, a própria comunidade igualitária se governa, ou
seja, na prática, nunca houve um país comunista,
apenas socialista, já que nenhum país chegou a esse
grau de socialismo).

Vejamos a Alemanha: uma sociedade, um povo,

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uma história, foi dividida em duas, de um lado o
capitalismo, do outro o socialismo. Onde era melhor
viver? Do lado capitalista! Como podemos saber?
Analisando as sociedades. Os cidadãos do lado
capitalista permanecem livres, há mais desigualdade,
sim, muitos problemas, mas ainda melhor do que a
sociedade igualitária criada pelo socialismo. Prova
disso? As fronteiras. O lado capitalista é guardado a
força, vigiado 24 horas por dia. Enquanto o lado
socialista os cidadãos são proibidos de sair. São
presos no seu próprio país.

Ainda nos anos 1980, os países do leste europeu


que eram considerados satélites da União Soviética
começaram a reabertura de seu regime. Esse
processo foi comandado pelo polonês Lech Walesa e
culminaram com processo de redemocratização e
abertura econômica, retornando ao capitalismo.

Já a própria URSS só deixou de existir em 1991,


quando se tornou provisoriamente denominada de
CEI (comunidade dos Estados Independentes). Em
1992, as ex-repúblicas soviéticas disputaram as
olimpíadas sob a bandeira da CEI.

NAS OLIMPIADAS DE 1992, A URSS TORNOU-SE A CEI

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Foi através do exemplo alemão, da URSS e do leste
europeu que muitos intelectuais de esquerda
brasileiros perceberam que o capitalismo, com todos
os seus defeitos, era um caminho mais próspero,
livre e pacífico do que o socialismo. Foi o que
aconteceu com o jornalista Nelson Mota:

“Eu fui um cara de esquerda, como toda a minha


geração, na faculdade, tudo era quase impossível
durante ditadura e eu não seria contra aquilo? Aí
depois que houve a redemocratização, haviam várias
opções para o país. O meu pensamento foi evoluindo
muito porque eu via várias coisas nos jornais. Eu
morei nove anos nos EUA e eu já estava bem
descrente daquilo tudo, depois da Queda do Muro
de Berlim, da Falência da URSS, daquelas
republiquetas europeias falidas do leste europeu eu
pensei: esse negócio deu errado, é óbvio que deu
errado, vamos pensar uma outra coisa. Quando eu
fui morar nos EUA, o Paulo Francis, que tem uma
trajetória parecida, foi trotskista, um ícone da
esquerda brasileira, foi caindo na real e falou pra
mim assim: ‘que ótimo que você vai morar aqui,
agora você vai perder as suas últimas ilusões’, e foi
verdade, eu perdi as minhas últimas ilusões ali
morando nos EUA, no ‘ventre da besta’, no coração
do capitalismo e vi como funciona aquilo, eu vi a
lógica implacável que tem ali, não depende de
‘vontade política’, não depende de ‘mobilização
popular’, não depende de ‘conscientização das
massas’, não depende de ‘justiça social’, que são

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praticamente abstrações. Os EUA são uma máquina
colossal de emprego, de bem-estar, de renda, de
liberdade, de garantias constitucionais, de justiça
rápida, o cara processa e em seis meses está
resolvido tudo. Ali estavam os aspectos admiráveis
do capitalismo: a competitividade, a melhoria dos
produtos, o respeito ao cidadão, o poder do voto,
tudo isso nos EUA é uma grande democracia [...] Eu
sou a favor da liberdade do indivíduo, pra mim o
maior valor é o indivíduo, é a família e tudo. O
Estado, o partido, isso tudo é secundário. Eu não
acho que o ser humano nasceu para ser massa de
manobra de utopia nenhuma. Sou a favor também
do respeito a Lei, do respeito aos contratos, da
igualdade social, de muitas coisas que a esquerda
nega. A esquerda acha que como a causa é nobre,
você pode sair atropelando, matando, roubando...
não é pela causa, não acredito nisso”.

NESON MOTTA

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O ex-esquerdista Ferreira Gullar, que foi do Partido
Comunista e grande escritor brasileiro, também foi
considerado um dos grandes intelectuais brasileiros
deu a seguinte declaração sobre o comunismo em
Cuba:

“Não posso defender um regime sob o qual eu não


gostaria de viver. Não posso admirar um país do qual
eu não possa sair na hora que quiser. Não dá para
defender um regime em que não se possa publicar
um livro sem pedir permissão ao governo. Apesar
disso, há uma porção de intelectuais brasileiros que
defendem Cuba, mas, obviamente, não querem viver
lá de jeito nenhum. É difícil para as pessoas
reconhecer que estavam erradas, que passaram a
vida toda pregando uma coisa que nunca deu certo”.

FERREIRA GULLAR

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5. Primeiras eleições democráticas após a ditadura

E foi nesse cenário de mudanças, Queda do Muro de


Berlim, Massacre da Praça da Paz Celestial que
aconteceram as primeiras eleições diretas após a
redemocratização do país, em 1989. Ficou conhecida
como a eleição dos presidenciáveis, pois 22
candidatos concorreram para Presidente. No
segundo turno, Fernando Collor representava a
direita enquanto Lula representava a esquerda. Foi
justamente nesse ano que lançaram o jingle “Lula
Lá”. E o mais impressionante dessa história eram as
pautas que Lula defendia, como pareciam as pautas
socialistas, justamente aquelas que como vimos,
afundavam em todo o mundo:

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Nessa época, lembro de ver muita gente fazendo
propaganda pra Lula e eu não entendia como um
candidato que defendia o socialismo, que estava
ruindo no mundo inteiro, poderia ter tanto apoio. Foi
quando percebi que uma grande parcela desses que
o defendia tinham um interesse em comum, eram
funcionários públicos! Temiam perder seus
benefícios num governo mais à direita. Não devemos
julga-los, pense bem, qual a coisa mais importante
para a maioria dos homens? Proteger a si mesmo e a
sua família! Se um governo ameaça acabar, com o
seu emprego, ou seus benefícios, ou até seus
privilégios, que seja, é comum sermos contra esse
governo e preferir alguém que nos garanta o mínimo
de estabilidade. Não é difícil entender a luta dos
funcionários públicos, por mais que não gostamos,
podemos nos identificar. Só fica difícil aceitar
quando eles dizem que votam na esquerda porque é
melhor para os pobres e oprimidos. Aí já estão
apelando.

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Finalmente, apesar de ter crescido muito na
campanha de 1989, Lula perdeu as eleições para
Fernando Collor, que já chegou causando espanto
com o confisco das poupanças dos cidadãos. Em
1992, Collor sofreu impeachment por corrupção. Eu
fui, orgulhosamente um “cara-pintada”,
denominação dada aos estudantes que gritavam o
“Fora Collor”. Foi estranho me ver ao lado de gente
de vermelho, gente do PT, talvez nem tanto, pois a
minha professora de português do Colégio São
Paulo, Magali, sempre levou um broche preso na
camisa durante as suas aulas! Mas eu tenho orgulho
de ter participado do meu primeiro impeachment de
um presidente por corrupção (em 2016 participei de
novo, com mais orgulho ainda).

Em 1994, Lula era considerado o único com reais


chances de subir ao poder nas eleições presidencias
daquele ano. Até a Revista Veja fez uma matéria de
capa com o título: “Lula Sozinho na Estrada”:

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6. Implementação do Plano Real

E foi nesse cenário que aconteceu o que seria uma


tragédia para Lula. O país era governado por Itamar
Franco, que era o vice de Fernando Collor. E Itamar
colocou Fernando Henrique Cardoso como ministro
da economia. FHC coordenou a implementação do
Plano Real. Antes da nova moeda, criaram um índice
econômico atrelado ao dólar, URV (unidade real de
valor). Esse índice, aos poucos, se manteve firme a
conquistou a confiança da população. Depois do
desastre econômico que foi a sucessão de planos
fracassados desde o início dos anos 1980, o Brasil
finalmente domou a inflação e garantiu uma moeda
forte. Esse sucesso do Plano Real, fez com que FHC
vencesse as eleições presidenciais de 1994 e 1998,
ambas em primeiro turno, e deixou o líder petista
falando sozinho contra o Plano Real, que era um
plano eleitoreiro, que privilegiava os ricos e os
empresários, aquela conversa de perdedor...

Podemos lembrar que no segundo mandato de FHC


houve uma mudança no câmbio fixo que se tornou
flutuante. O real se desvalorizou de tal forma que
muitos economistas acreditaram que seria a volta da
hiperinflação dos anos 1980. Mas essa foi uma
medida se mostrou acertada, pois um dos grandes
erros da economia Argentina foi atrelar de maneira
forçada o câmbio ao Dólar... Isso a fez pedir
moratória em 2001 e deu um calote de 102 bilhões
no FMI. Ao tornar o Real uma moeda com câmbio

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flutuante, o governo brasileiro, apesar de
desvalorizar a moeda, a tornou independente do
dólar, com força própria, o que foi fundamental para
o sucesso do Plano Real e para o desenvolvimento
da economia nacional.

7. Como Lula venceu as eleições em 2002?

Depois de perder três eleições seguidas, Lula


estava construindo uma fama que não queria, a fama
de “competente”: compete, compete e não ganha
nada. Foi aí que o seu marqueteiro, Duda Mendonça
descobriu a forma de eleger Lula, tornando um
político moderado, pelo menos em sua imagem. A
população via Lula como um radical de esquerda,
que fazia lembrar a velha URSS, a Alemanha Oriental,
Cuba, e que se fosse eleito, entre outros erros de
governantes socialistas, iria acabar com o bem
sucedido Plano Real. Duda Mendonça tratou de
mudar completamente essa imagem lançando a
campanha: “Lulinha, paz e amor”. Duda mudou a
aparência de sindicalista analfabeto e Lula passou a
se vestir bem e aparar a barba e finalmente lançou
uma “carta ao povo brasileiro” se comprometendo a
manter a política econômica do seu antecessor.
Mesmo tendo falado várias vezes antes que o Plano
Real era um “pesadelo” e só privilegiava as elites.

Dessa forma, Lula conseguiu vencer sua primeira


eleição e praticamente deu seguimento à economia
liberal do seu antecessor. Com o poder nas mãos,

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Lula desagradou a ala mais radical do seu partido e
expulsou do partido figuras como Heloísa Helena,
Babá, João Fontes e Lucina Genro. Essa turma mais
tarde fundaria o PSOL, que em sua sigla une as
palavras “socialismo” e “liberdade”, seja lá o que isso
signifique. O PSOL portanto, nasceu dos integrantes
mais autênticos do PT, que mantinham a sua visão
mais radical ou mais socialista, em contraponto ao
Lulinha, paz e amor neoliberal criado por Duda
Mendonça.. Na minha opinião, essa foi uma das
maiores mentiras de Lula.. Ele criticou tanto o Plano
Real, mas passou a adotá-lo só para chegar ao poder!
Seria a mesma coisa que dizer que estava errado ao
condenar o Real. Mas para chegar ao poder, Lula
mudaria até de ideologia.

Até esse ponto, Lula ainda carregava a égide de


político honesto, mesmo se tornando relativamente
liberal do ponto de vista econômico, ainda era o
cidadão que veio de baixo, do analfabetismo, da
classe oprimida para devolver o país para o povo.
Até que em junho de 2005, explodiu o escândalo do
“Mensalão”

8. O Mensalão

O Mensalão foi a compra de votos de deputados da


câmara para aprovar projetos do governo. Começou
em 2002 e só foi descoberto em 2005 através de
uma gravação secreta de vídeo com o Chefe de
contratação do governo, Maurício Marinho,

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recebendo três mil reais em nome do deputado
Roberto Jefferson. Logo após o vídeo ser divulgado,
Marinho relatou que o processo não envolvia apenas
os Correios e o PTB de Jefferson, mas o PT e o
PMDB. Ele disse que o PT dava 30.000 reais para
que os deputados aprovassem medidas na câmera a
favor do governo Lula. Segundo Roberto Jefferson,
quem comandava todo o processo era José Dirceu,
então ministro da Casa Civil.

ROBERTO JEFFERSON DENUNCIA O MENSALÃO

O esquema de corrupção do PT era simples. O


empresário Marcos Valério, por meio de contratos de
parceria entre o governo e suas agências de
publicidade, desviava dinheiro público direcionados
aos congressistas cúmplices do esquema e os
projetos petistas eram assim aprovados na câmara.

Segundo o delator do processo, Roberto Jefferson, o


chefe de todo o esquema era José Dirceu, mas
Jefferson isentou Lula de qualquer culpa na época. E
essa se tornou a grande discussão, Lula sabia ou não

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sabia? Era uma faca de dois gumes. Se dissesse que
sabia, seria tão corrupto quanto os seus pares do PT.
Se disse que não sabia, seria no mínimo
incompetente, por não saber o que acontece no seu
próprio partido ocupando o poder. Lula preferiu
dizer que não sabia, obviamente, mas se Lula era
inocente no caso do Mensalão, porque defendeu os
culpados? Porque permaneceu do lado dos caciques
do PT que transformaram o partido e o próprio
presidente num político corrupto como qualquer
outro? E poucos atentaram na época para uma das
maiores vítimas do Mensalão, a Democracia. O
Executivo comprando o Legislativo? Isso era um
ataque direto aos eleitores! A democracia, tão
festejada hoje pela esquerda, foi vilipendiada pela
própria esquerda e muitos fingiram que não viram.

Depois do Mensalão, muitos acreditavam que o PT


seria banido da política e nunca mais venceria uma
eleição presidencial. Mas no ano seguinte, em 2006,
Lula foi reeleito em segundo turno e mostrou ao país
que a polarização política estava além da ética e da
moral. Muitos se perguntaram como um governo
comprovadamente corrupto poderia se reeleger? Há
duas respostas para isso: a primeira é a mais clássica,
“é a economia estúpido” (resposta do marketeiro de
Bill Clinton ao vencer George Bush pai mostrando
que a economia elege ou derruba governo). A
segunda resposta seria a polarização em si, pois se
você tem uma ideologia política, numa polarização,
pode ultrapassar o terreno da razão e se transformar

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em torcida, em paixão ideológica.

O presidente Lula se beneficiou dessas duas


respostas, principalmente a primeira. A economia
mundial em 2006 estava em expansão e o PIB
brasileiro cresceu 2,9% naquele ano. A valorização
das commodities (mercado relacionado a produtos
naturais como agricultura, pecuária, extrativismo...)
já acontecia desde 2003. Mas a partir de 2006, com
a geração de empregos nos setores de serviços e
construção civil, o Brasil acelerou seu crescimento e,
certamente por esse motivo, Lula elegeu sua
sucessora. Esse crescimento foi proporcionado
muito mais por investimento na base da pirâmide, ao
invés de apostar no setor industrial. Em 2010, já com
Dilma como presidente, o Brasil chegou ao seu ápice
na sua economia, crescendo 7,5%.

9. O começo do caos econômico e político

A partir de 2011 começou a descida da economia,


houve a queda do preço das commodities, grande
sustentador das receitas brasileiras e o consequente
aumento do desemprego. Sem dinheiro, o governo
tece que frear fortemente os investimentos públicos
e pedir socorro ao aumento de impostos. Pronto, a
receita do caos estava montada. A insatisfação da
população foi aumentando chegando ao ápice em
2013, com as grandes manifestações daquele ano.

Tudo começou com uma manifestação do

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do Movimento Passe Livre, que protestava contra
um aumento de 20 centavos nas tarifas de ônibus de
São Paulo.

O INÍCIO DAS MANIFESTAÇÕES DE 2013

Mas a repressão violenta da polícia com armas não


letais causa revolta no país e as manifestações se
espalham pelo Brasil. As manifestações não tinham
uma pauta específica, o povo dizia lutar por um país
com mais qualidade de educação, saúde e segurança
e lutava também pelo fim da corrupção. As
manifestações aconteceram em 388 cidades e foram
contados mais de 1 milhão de pessoas ao todo. Nas
manifestações em Brasília, o povo invadiu até o
Congresso Nacional. Não houve quebra-quebra ou
vandalismo, mas a cena marcou as manifestações de
2013.

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INVASÃO DO CONGRESSO EM 2013.

Diante de tais protestos, a presidente Dilma


Roussef faz um pacto nacional, com governadores e
prefeitos prometendo melhorar as áreas de
transporte, educação e saúde. Mas nada teve
resultado tão efetivo como a instituição da aclamada
Delação Premiada, que mais tarde teria um papel
determinante na Operação Lava-Jato, uma operação
que mudaria a história do país culminando na prisão
de um ex-presidente. Depois dessas manifestações,
a população começou a perceber que protestos
dessa magnitude podem dar resultado. Foi o começo
do uso das redes sociais como veículos de
articulação e engajamento para protestos. As táticas
dos grupos black bloc se tornaram conhecidas e
fizeram parte de manifestações a partir de então.

Desde o final de 2013, uma crise econômica já se


anunciava em todo o país, mas foi em 2014 que a

28
Diante de tais protestos, a presidente Dilma
Roussef faz um pacto nacional, com governadores e
prefeitos prometendo melhorar as áreas de
transporte, educação e saúde. Mas nada teve
resultado tão efetivo como a instituição da aclamada
Delação Premiada, que mais tarde teria um papel
determinante na Operação Lava-Jato, uma operação
que mudaria a história do país culminando na prisão
de um ex-presidente. Depois dessas manifestações,
a população começou a perceber que protestos
dessa magnitude podem dar resultado. Foi o começo
do uso das redes sociais como veículos de
articulação e engajamento para protestos. As táticas
dos grupos black bloc se tornaram conhecidas e
fizeram parte de manifestações a partir de então.

Desde o final de 2013, uma crise econômica já se


anunciava em todo o país, mas foi em 2014 que a
crise tomou proporções preocupantes! Começou a
acontecer uma retração do desenvolvimento.
Lembrando que 2014 era ano de eleição, o governo
Dilma tentou esconder o quanto pôde os
verdadeiros números da crise, o que acabou dando
resultado, pois a fez vencer as eleições contra Aécio
Neves. Mas diante da preocupação com o cenário
econômico que se desenrolava, ela se viu obrigada a
tomar medidas duras de contenção de gastos e
colocou Joaquim Levy, um economista muito mais à
direita, o que desagradou a alguns petistas, a
intenção da “presidenta” era trazer mais
credibilidade econômica ao governo na crise.

29
10. O Petrolão

Assim como o Mensalão, o Petrolão envolveu


desvio de dinheiro público, propina,
superfaturamento e lavagem de dinheiro. Mas não
tinha o objetivo de comprar parlamentares, a
intenção era superfaturar empreiteiras em grandes
obras e desviar o dinheiro para os partidos do
esquema. Segundo Paulo Roberto Costa, que era
diretor da Petrobras e entrou com acordo de
delação premiada. O desvio correspondia a 3% do
valor da obra. O dinheiro roubado ia para contas na
Suíça ou na compra de bens e reformas para
políticos. Os casos do Triplex e do Sítio de Atibaia
atribuídos a Lula se enquadram nessa categoria.

LULA FAZ PROPAGANDA DA PETROBRAS

A Lava-Jato é o nome da operação da Polícia


Federal que teve início em março de 2014 e
descobriu o esquema do Petrolão. Teve mais de mil
mandados de prisão temporária, prisão preventiva,
busca e apreensão e condução coercitiva. O
principal juiz da Lava-Jato foi Sérgio Moro. Mais de
100 pessoas foram presas. Em 2017 peritos da

30
Polícia Federal declararam que todas as
investigações da Lava-Jato somaram mais de 8
trilhões de reais. A Odebrecht deu um prejuízo de 5,6
bilhões à Petrobras. A operação Lava-Jato terminou
em fevereiro de 2021.

Pela primeira vez a população brasileira viu


empresários e políticos ricos e poderosos serem
presos, por isso a Lava-Jato causou forte comoção
nacional. Como os políticos presos eram nomes
populares com ideologia bem definida num
ambiente polarizado, a população se dividiu diante
da operação! Enormes protestos eram realizados a
favor de Sérgio Moro ao mesmo tempo que os
esquerdistas falavam que Moro promovia uma
perseguição política contra Lula e não respeitava o
“Estado Democrático de Direito”. Dilma Roussef
deve ter se arrependido de ter estabelecido a
Delação Premiada, jamais imaginou que iria provocar
tanto prejuízo a imagem do seu partido. Infelizmente,
mais tarde, a lava-Jato seria enterrada pelo STF. Os
vazamentos de informações sigilosas do Juiz Sérgio
Moro seria usados como um processo ilegal para
liberar da cadeia muitos dos presos da operação.

11. Impeachment de Dilma Roussef

Em 2016, pela quarta vez na história do país, um


Presidente da República sofreu Impeachment.
Depois de Fernando Collor, Café Filho e Carlos Luz
chegou a vez de Dilma Roussef. O processo aceito

31
pelo Presidente da Câmara Eduardo Cunha foi
encaminhado pelo procurador Hélio Bicudo, e pelos
advogados Miguel Reale Jr. e Janaína Paschoal. As
acusações foram “desrespeito a lei orçamentária e a
lei de improbidade administrativa”.

Um impeachment é um processo complicado e


cheio de trâmites. Além das questões legais,
costuma-se dizer que o que para derrubar o
presidente, precisa-se da participação popular na
forma de manifestações pelo impeachment e
principalmente de uma crise econômica. Com esses
três fatores, além da vontade política dos
legisladores e juízes, um presidente certamente
sofrerá impeachment. Pelo menos foi assim que
aconteceu com Dilma. A pá de cal foi o abandono do
seu governo pelo chamado “centrão”, mais
especificamente pelo PMDB. Esse processo de
impeachment foi finalizado em agosto de 2016.
Temer, o seu vice do PMDB, assumiu então a
Presidência da República.

O processo de Impeachment prevê inelegibilidade


do “impichado” por 8 anos, como aconteceu com
Fernando Collor em 1992. Mas numa manobra do
STF muito questionada até hoje, Dilma não sofreu
essa punição de inelegibilidade prevista na lei. Por
manobras como essa, o STF foi se tornando uma das
instituições menos confiáveis do país segundo
pesquisas de opinião.

32
12. Prisão de Lula

Em Julho de 2017, o Juiz Sérgio Moro condenou Lula


a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e
lavagem de dinheiro no caso do Triplex. Em janeiro
de 2018, o TRF-4, que corresponde a segunda
instância, aumentou a pena, por unanimidade, para
12 anos e um mês. Em abril de 2018, após ter um
habeas corpus preventivo rejeitado pelo STF, Lula foi
preso e só seria solto 580 dias depois, em novembro
de 2019, um dia após o STF considerar a prisão após
segunda instância inconstitucional, com direito a
choro de Dias Toffoli (talvez por saber que sua
decisão implicaria na soltura de Lula da prisão). Em
março de 2021, o STF anula a condenação de Lula
por considerar que todo o processo judicial deveria
ter sido feito em Brasília, e não em Curitiba com
Sérgio Moro. Com essa decisão, os crimes de Lula
estavam prescritos e Lula poderia concorrer às
eleições de 2022. Bastante suspeito, não?

Tão suspeito que muitos acreditam que todo esse


processo de soltura em 2019 foi uma decisão
majoritariamente política do STF. Após Bolsonaro
vencer as eleições, agentes do judiciário e do
legislativo perceberam que o presidente do
executivo não cedia às costumeiras trocas de
favores e concluíram que o único nome capaz de
prevenir uma provável reeleição de Bolsonaro era
Lula. Depois de revogar a prisão em segunda
instância que acarretaria a soltura de Lula. O STF,

33
através de uma manobra suspeita, tirava a
competência de Curitiba e considerava que Lula
deveria ter sido julgado em Brasília, simplesmente
anulou todo o processo da Lava-Jato contra o
petista, que acarretou a prescrição dos crimes e
tornou Lula elegível para 2022.

PROTESTO DA ESQUERDA PELA SULTURA DE LULA

13. Eleição de Bolsonaro

13.1 Início do governo

A ideia de Bolsonaro de se candidatar a presidência


da República, começou ainda em 2014. Nessa época,
Dilma Roussef se reelegeu em 2014 por poucos
votos a mais que Aécio Neves, decepcionando a
direita que já estava engolindo quatro eleições
seguidas vencidas pelo PT. E poucos depois dessa
eleição, Bolsonaro decidiu se candidatar para
Presidente da República. Ele disse que algumas
pessoas riram com essa decisão. Segundo Mourão,
seu vice em 2018, Bolsonaro percebeu o recado das

34
urnas que deram a Dilma uma vitória apertada sobre
Aécio Neves.

Bolsonaro cersceu de mais de 120 mil votos em


2010 para mais de 464 mil em 2014. Ele se ofereceu
para ser candidato a presidente pelo PP, que o
ignorou e se uniu a Dilma. Bolsonaro seguiu em
frente e disse: “estou disposto em 2018, seja o que
Deus quiser, a tentar jogar para a direita esse país”.
Mas só no final de 2014 começou a campanha de
fato: percorreu o país fazendo carreatas, dando
palestras, produziu camisetas e adesivos com o seu
nome. Começou a publicar nas redes sociais tudo o
que acontecia com ele. Participando dos inúmeros
protestos contra a corrupção e o PT (que colocou a
economia em frangalhos) em 2015. Seu nome foi
ganhando envergadura e até ganhou o apelido de
“mito”, por causa das respostas diretas que dava em
discussões com esquerdistas, as famosas “mitadas”.

Em 2016, com o impeachment de Dilma, seu nome


ganhou muita notoriedade, mas a homenagem que
ele fez ao coronel Bilhante Ustra, que fez no
momento em que votava pelo impeachment, deixava
muitos eleitores da direita mais liberais do que
nacionalistas, apreensivos com um militar no poder e
foram mais pro lado de João Amoedo, que
representava uma direita muito mais centrada na
questão econômica. Mas Bolsonaro conseguiu
promover o seu nome com muito mais eficiência e
chegou em 2018 como um sério candidato a impedir

35
a quarta vitória seguida do PT nas urnas.

13.2 Caso Marielle Franco

Muitos analistas não levaram a sério a candidatura


de Bolsonaro, afinal ele era quase uma figura
folclórica, como um Enéas. Conseguiria votos, mas
nem de longe seria um sério candidato ao planalto.
No entanto, Bolsonaro promoveu tanto o próprio
nome que começou a assustar a esquerda mais
moderada, aquela que apostava numa vitória do
PSDB, como as grandes emissoras de TV. Isso ficou
evidente com a tragédia ocorrida com Marielle
Franco, vereadora do PSOL, em março de 2018. A
Rede Globo começou a fazer matérias diárias com
cada vez mais minutos de duração. As matérias com
Marielle se passaram por semanas. O público logo
estranhou e questionou. A Globo quer transformar
Marielle numa heroína nacional? Por que tanta
atenção a esse caso? Seria alguma tendência da
emissora? Afinal Marielle era de esquerda, era do
PSOL, tinha os atributos dos discursos identitários
da esquerda, era mulher, era negra, era homossexual,
ou seja, a trinca máxima do esquerdismo que diz
combater o machismo, o racismo e a homofobia.
Temos que lembrar que 2018 era ano de eleição e
Bolsonaro vinha despontando como o grande nome
contra a esquerda.

No decorrer de 2018, para evitar a eleição de


Bolsonaro a presidência da república, os discursos

36
identitários foram os preferidos da esquerda para
atacá-lo. Afinal essa era a forma mais agressiva de
ataque, dizer que Bolsonaro era machista, racista,
homofóbico, era contra os índios, contra a
preservação do meio ambiente, era a favor da
ditadura, da censura, da tortura... Quem seria a favor
de um candidato com tais atributos tão desumanos?
O problema desse discurso é que era tão agressivo,
tão cruel e sem cabimento, que acabou por revelar o
ódio da esquerda e ajudar na união da direita. Afinal,
onde está alguma condenação judicial de Bolsonaro
sobre esses crimes? Muita gente da direita se
identificou com Bolsonaro nesse momento. Como
que se, pelo simples fato de ser de direita, era-se
automaticamente machista, racista, homofóbico e
tudo de ruim.

13.3 A facada

A esquerda coroou esse discurso agressivo com a


campanha #elenão. Políticos, personalidades,
artistas historicamente de esquerda passaram a
demonizar Bolsonaro pregando que ele
estabeleceria a Ditadura Militar de 1964 no país. E foi
nesse cenário de oposição acirrada que aconteceu a
facada de Adélio Bispo em Bolsonaro. Num ato
público de campanha na cidade de Juiz de Fora em
Minas Gerais, Bolsonaro foi esfaqueado e levado às
pressas para um hospital. O agressor, Adélio Bispo
de Oliveira, de 40 anos foi preso e assumiu o
atentado por “divergências de ideias e pensamentos

37
com ele” e disse ser uma questão pessoal só dele.
Formado em pedagogia, foi filiado ao PSOL entre
2007 a 2014 e foi preso logo após o ato em 6 de
setembro de 2018.

Imediatamente abriu-se a porteira de especulações.


Críticos a Bolsonaro disseram que a facada foi tudo
uma armação para chocar e revoltar a população,
contribuindo para a vitória de Bolsonaro nas
eleições presidenciais um mês depois. Já os
partidários do futuro presidente diziam que Adélio
não agiu sozinho, mas com o apoio de partidos da
esquerda que queriam tirar Bolsonaro do pleito.
Após investigações, concluiu-se que Adélio sofre
Transtorno Delirante Permanente e ficaria recolhido
em manicômio judiciário.

Muito se questionou sobre quem financiava os


advogados de Adélio. A tentativa de quebrar o sigilo
bancário desses advogados foi impedida pela OAB.
Nunca ficou totalmente esclarecida a “visita” de
Adélio nos registros da Câmara dos Deputados. A
polícia Legislativa afirmou que foi um erro um
funcionário da Câmara que acessou o sistema. Em
2023, no início do governo Lula, o delegado
responsável pela investigação do caso Adélio,
Rodrigo Moraes Fernandes, seria promovido a
Diretor de “Inteligência Policial”.

38
MOMENTO DA FACADA DE ADÉLIO BISPO EM BOLSONARO

14. Primeiro ano do governo Bolsonaro

Os primeiros momentos de Bolsonaro no poder


foram um choque de realidade! A esquerda pregava
a volta da ditadura militar, perseguição a mulheres,
negros e homossexuais e essa mentira foi repetida
tantas vezes, sem que nenhum veículo de imprensa
ou autoridade eleitoral considerasse fake news ou
discurso de ódio da esquerda, que muita gente
acreditou que haveria ditadura realmente.

Bolsonaro promoveu suas promessas de campanha,


diminuiu de 29 para 22 ministérios, escolheu
ministros técnicos, quebrando uma herança de
ministros escolhidos por causas políticas (o velho
toma lá da cá). Bolsonaro também estabeleceu as
redes sociais como um canal direto de comunicação.
Todas as noites, às quintas feiras, o presidente
transmitia uma live. Bolsonaro passou a dar muito
mais entrevistas do que os antecessores, eram quase

39
diárias no “cercadinho” do Palácio da Alvorada.

Na economia, Paulo Guedes, ministro da economia,


conseguiu desde o primeiro ano a queda da taxa selic
de 6,5% ao ano para 4,5% ao ano entre janeiro e
dezembro de 2019. Era a menor taxa desde 1999,
quando o regime de metas passou a ser adotado
pelo Banco Central. O desemprego caiu de 12,4%
para 11,6%. Mas a grande conquista nesse primeiro
ano de governo foi a Reforma da Previdência, que fez
o país economizar 855 bilhões de reais. Na
segurança, o Ministro Sérgio Moro reduziu o número
de homicídios no país.

15. Jornal Nacional acusa Bolsonaro

Em outubro de 2019, o Jornal Nacional, de forma


reconhecidamente leviana, acusa o Presidente Jair
Bolsonaro de ter possível participação no
assassinato de vereadora do PSOL Marielle Fraco.
Segundo William Bonner, um porteiro do condomínio
da casa de Bolsonaro no Rio de Janeiro, teria dito
que um ex-policial militar de nome Élcio teria
entrado no condomínio em direção a casa 58, a casa
de Bolsonaro, o que foi desmentido posteriormente
por laudo assinado por 6 peritos da Polícia Civil.

No mesmo dia da reportagem, Bolsonaro fez uma


transmissão ao vivo no Facebook enquanto estava
na Arábia Saudita. Ele fez declarações bastante
duras quanto a postura jornalística duvidosa da

40
Rede Globo, inclusive os chamando de “canalhas” e
“patifes”. Depois de se acalmar, pediu desculpas
pelos xingamentos: “Me desculpem aí a maneira
como estou exaltado, a gente chega no limite, né”.

EM LIVE NA NOITE EM QUE O JORNAL NACIONAL DISSE QUE O ASSASSINO


DE MARIELLE TERIA PASSADO NA SUA CASA NO RIO DE JANEIRO

Foi nesse momento que Bolsonaro fez acusações


contra o governador Wilson Witzel, antigo aliado,
dizendo que Witzel era o responsável por vazar as
investigações do caso Marielle que corria em sigilo
de justiça. Segundo o presidente, Witzel vazou essas
informações porque tinha intenções de se
candidatar a presidência. A partir daí Witzel e
Bolsonaro se tornaram inimigos políticos com trocas
de acusações.

Esse episódio da Globo contra Bolsonaro marcava


uma intenção cada vez mais visível da imprensa em
geral em prejudicar o governo Bolsonaro. Mas nada
comparado as acusações de genocida que viriam a
seguir, com o surgimento de uma pandemia mundial.

41
16. Pandemia

O ano de 2020 foi o ano da pandemia de covid 19.


Apesar de ter sido identificado em 2019, tornou-se
uma pandemia em 2020. O mundo parou diante das
notícias alarmantes de contágios e mortes. A ordem
mundial era um isolamento de tal envergadura que
escolas, postos de trabalho, comércio e qualquer
estabelecimento não essencial deveria ser fechado.
Todas as pessoas deveriam ficar isoladas em casa e
sair apenas em casos de extrema necessidade.
Permaneceriam funcionado apenas padarias,
mercados farmácias e hospitais.

A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS MARCOU O ANO DE 2020

O isolamento poderia salvar vidas enquanto ainda


não houvesse uma vacina, mas o preço desse
isolamento poderia ser igualmente grave para o
mundo segundo a própria OMS (Organização Mundial
de Saúde). Podendo gerar uma recessão econômica
de proporções catastróficas. Imediatamente o
governo brasileiro se colocou cético quanto aos

42
benefícios de um isolamento total, pois isso
significaria que a economia do Brasil em franca
recuperação em 2019, poderia causar a sua
derrocada do governo, pois sabemos que um
fracasso econômico pode causar o fim prematuro de
qualquer governo.

E foi exatamente isso que a oposição ao governo


Bolsonaro tentou se aproveitar. Enquanto Bolsonaro
falava irresponsavelmente em tratamento precoce,
dava toda munição para a esquerda atacá-lo com o
“fique em casa, a economia a gente vê depois”, numa
intenção mal escondida de ver o fracasso econômico
de Bolsonaro. Nesse momento, apareceram a figura
do Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que
foi demitido por Bolsonaro não concordar com a sua
postura na condução da economia. Nesse momento
começa uma briga entre Bolsonaro e Dória, antes
amigos. Dória questionou atitudes de Bolsonaro na
condução da pandemia e até atribuiu ao suposto
“gabinete do ódio” do planalto as ameaças de morte
que recebeu.

17. Saída de Moro

Em abril de 2020, em plena pandemia mundial,


Aconteceu o que seria o maior golpe no governo de
Bolsonaro foi a saída de Sérgio Moro do ministério
da justiça. Moro simbolizava uma das maiores
bandeiras da população que é a luta pela corrupção.
Segundo Moro, sua saída deveu-se a suposta

43
tentativa de Bolsonaro interferir na direção da
Polícia Federal para proteger a própria família de
investigação. Moro considerou uma decisão
equivocada do presidente e decidiu deixar o
ministério. Líderes do governo, como Carla Zambelli
que tinha uma relação pessoal com Moro, tentaram
convencê-lo a não abandonar o posto. Mas moro se
mostrou irredutível e não voltou atrás.

BOLSONARO E MORO AINDA JUNTOS NO GOVERNO

Nesse momento, muitos dos apoiadores do


presidente Bolsonaro decidiram, junto com Moro,
desembarcar do governo. Movimentos que já vinham
fazendo fortes críticas ao governo, como MBL e
outros influenciadores, apoiaram a saída de Moro.
Era como se fosse uma separação conjugal, os dois
gigantes da popularidade, Bolsonaro e Moro, se
separando e a população, os seus filhos, tendo que
escolher um lado, pois os dois não moravam mais
juntos.

44
Quem estava com a razão? Bolsonaro ou Moro? A
interferência na Polícia Federal é uma prerrogativa
do presidente, que não faz nada contra a lei. Mas
Moro se sentiu traído e até ameaçou fazer
revelações bombásticas. A esquerda e a imprensa
parcial ficou em polvorosa com essa ameaça que
mais tarde se mostrou inócua, contribuindo para as
críticas a Moro pelos apoiadores de Bolsonaro. No
entanto, o interesse por uma terceira via para 2022
aumentou bastante e muitos buscaram Moro para a
formação dessa “nova direita”. No final das contas,
essa cisão entre os que apoiavam Moro e os que
apoiavam Bolsonaro beneficiou principalmente a
oposição ao presidente, fortalecendo
principalmente a esquerda que se unia cada vez mais
contra a direita no país. Nas vésperas das eleições de
2022, Moro declararia seu apoio a Bolsonaro e até
apareceriam juntos nos debates. Apesar das
diferenças, ambos sempre foram fortes opositores
da esquerda e dos seus antigos esquemas de
corrupção comprovados em juízo.

18. A CPI do Circo

A pandemia afetou a economia mundial, causou


inflação, desemprego e recessão econômica. O Brasil
surpreendentemente foi menos atingido que do que
os países mais desenvolvidos. A política social
econômica de Paulo Guedes garantiu um auxílio
emergencial aos mais afetados pela política do
“fique em casa” estabelecida pelos governadores a

45
mando do STF e garantiu a confiança no mercado
com a implementação de medidas de austeridade.

Invariavelmente, as mortes do Brasil por conta da


pandemia, figuraram entre as mais altas do mundo e
a oposição culpou Bolsonaro diretamente pelas
mortes. Em 2021 foi criada a CPI da Pandemia
comandada por grandes desafetos de Bolsonaro:
Randolfe Rodrigues, Omar Aziz e Renan Calheiros.
Quando integrantes da CPI excluíram da investigação
os governadores, ficou bastante evidente que a
intenção da comissão era desgastar apenas o
governo federal. Tanto que o desfecho da CPI não
teve nenhum tipo de condenação ao presidente
Bolsonaro, até mesmo a palavra “genocida” repetida
incessantemente pelos autores da CPI e que tanto
serviu para a oposição para atacar o presidente, foi
aconselhado por juristas que fosse retirada relatório
final, por não ter base legal para sustentá-la. A CPI
terminou em outubro de 2021 sem ter encontrado
crimes efetivos por parte do Governo Federale
deixando claro que a intenção era desgastar o
presidente, recebendo o apelido de “CPI do Circo”.

19. Tensões com o Supremo

Ainda em março de 2021, o comentarista político


Caio Coppolla criou um abaixo-assinado contra o
ministro do STF Alexandre de Moraes. Esse abaixo-
assinado foi assinado por milhões de cidadãos, mas
foi convenientemente barrado pelas lideranças do

46
senado. Vamos relembrar a escalada de
autoritarismo de Alexandre no ano anterior:

CAIO COPPOLLA E ALEXANDRE DE MORAES

- Ainda em abril de 2020, Moraes deu prazo para a


Polícia Federal ouvir Abraham Weintraub, então
ministro da Educação, pela fala sobre “os
vagabundos do STF”.
- Em maio de 2020, Moraes autoriza mandados de
busca e apreensão contra aliados de Bolsonaro.
- Em julho de 2020, Moraes mandou o twitter
desativar 17 contas de perfis de apoiadores de Jair
Bolsonaro.

Desde 2020, Moraes já lançava a sua veia


autoritária contra os políticos e apoiadores da
direita.

A oposição do Supremo Tribunal Federal contra o


Presidente e seus apoiadores marcou o ano de 2021
e culminou no dia 7 de setembro. Ainda no dia 1º de
agosto, uma manifestação popular a favor do voto
impresso, auditável, da transparência das eleições,
foi realizada em várias cidades do país:

47
MANIFESTAÇÃO PELO VOTO AUTITÁVEL

O que gerou essa desconfiança da população?


Integrantes da esquerda semearam a versão que
Bolsonaro estaria preparando terreno para não
aceitar o resultado das urnas e dar um “golpe”. Mas
essa versão coloca a população como uma entidade
impensante e desinstruída do que acontece na
política do país, o que contradiz os dados de
pesquisa de intenção de voto que colocam os
eleitores de Bolsonaro como os mais instruídos.

Mas então o que fez os eleitores de Bolsonaro,


incluindo o próprio presidente, desconfiarem das
urnas? Foi uma sequência de fatos. O fato de que
nenhuma outra democracia reconhecida no mundo
utiliza urnas como as nossas em seus processos
eleitorais. A libertação suspeita pelo STF que tornou
elegível o talvez, único nome capaz de derrotar
Bolsonaro nas urnas. E finalmente o fator mais
estranho: a ida do Ministro do Supremo, Luís
Roberto Barroso, ao Congresso Nacional para fazer

48
lobby contra o voto auditável. Sendo que a maioria
do Congresso era a favor de aperfeiçoar a auditar as
urnas e mudou de opinião após a visita de Barroso. E
para aumentar ainda mais a desconfiança, o Ministro
Barroso produziu “fake news” em declarações
posteriores para explicar a sua opção por não
auditar os votos, dizendo que o que a Direita queria
era retroceder aos votos de papel, uma mentira
básica demais que não condiz com um cargo de alta
confiança e inteligência o qual ele ocupa.

BARROSO MENTIU NUMA PALESTRA EM OXFORD AO


DIZER QUE A DIREITA QUER O "VOTO EM PAPEL"

Mas nenhuma manifestação no país se iguala às


manifestações do dia 7 de setembro de 2021. A
grande maioria dos eleitores de direita via em
Bolsonaro como o nome a seguir para evitar que a
esquerda e os ministros do STF passassem a dominar
o cenário político. Essa manifestação foi orgânica e
se multiplicava nas redes sociais muito antes do dia 7
de setembro, foi aguardada com muita expectativa
pela população e milhões de pessoas foram às ruas

49
expressar apoio ao presidente da Direita do país.
Surpreendeu até a esquerda que acompanhava o
engajamento nas redes e já previa algo grande. A
noite, como já era de se esperar, os programas
jornalísticos, chamaram o movimento de
“antidemocrático”, num verdadeiro ato de rebeldia à
realidade e posicionamento ideológico contrário aos
manifestantes que em sua ampla maioria eram
absolutamente favoráveis à democracia.

Aliás, desde o impeachment de Dilma em 2016, a


palavra “democracia” tem sido a tônica dos
integrantes de esquerda. Diziam que Bolsonaro
implantaria a ditadura no país, sendo que ele foi
eleito democraticamente! Diziam que a luta pelo
voto impresso era o prenúncio de um golpe, o que
nunca se concretizou. Até assinaram a tal “Carta pela
Democracia”, tudo isso pelo quê? Pelos 10 ou 20
indivíduos nas ruas com faixas pedindo a volta da
ditadura? Muito estranha essa obsessão da esquerda
pela democracia, a esquerda que sempre admirou as
“democracias” de Cuba e Venezuela.

Mas nada supera a tentativa de colocar na direita o


adjetivo de “fascista”, pois isso contradiz o próprio
conceito histórico do fascismo. O fascismo tem em
sua raiz o apego ao poder centralizado no Estado.
Como disse Mussolini: “Tudo para o Estado, nada
contra o Estado e nada fora do Estado”. Como a
Direita e o liberalismo econômico podem ser
fascistas? Quem estudou fascismo, mesmo na época

50
da escola, sabe que a principal característica do
fascismo é a mesma do socialismo, é o COLETIVISMO
a comando do Estado. A direita é justamente o
oposto, privilegia o indivíduo e a descentralização do
poder.

20. Perseguição a influenciadores de direita

Durante as conduções coercitivas a prisões da


Lava-Jato, o Supremo Tribunal Federal ganhou uma
fama de “laxante”, pois “relaxava” punições a
criminosos poderosos. Muitos eram críticos dessa
postura do Supremo, ainda mais no país reconhecido
por sua impunidade. Mas logo puderam perceber
que essa postura correspondia a ideologia política,
pois quando os punidos eram de Direita, as punições
não eram apenas mais duras, eram criticadas por não
serem amparadas pela própria constituição que
deveria ser o norte do STF.

Essa versão punitiva do STF começou desde 2020


comandada pelo Ministro Alexandre de Moraes,
como já vimos antes e se intensificou em agosto de
2021, quando desmonetizou canais dos
influenciadores mais proeminentes da direita. Entre
os mais conhecidos estão os canais “Terça Livre”, do
jornalista Allan dos Santos e “Te Atualizei” da dona
de casa Bárbara Destefani. Allan dos Santos já havia
saído do país desde 2020 e em 2021 foi decretada
sua prisão preventiva pelo STF sob a acusação de:
“existência de uma estratégia de milícia digital para

51
atacar a democracia e as instituições”. Algo nunca
sequer provado até hoje. Segundo o próprio Allan
dos Santos, seus advogados americanos têm
dificuldade de entender o seu processo, tamanho
absurdo que são as acusações e a tramitação do
processo. Já Bárbara do canal te “Atualizei”, diz que
sempre utilizou em seu canal notícias de veículos de
informações tradicionais e pediu para seus
acusadores apontarem quais foram as “fake news”
que ela divulgou, nunca tendo uma resposta.

Não é difícil perceber um ativismo político nesses


casos pelo STF, basta ver os motivos para essas
pessoas serem punidas: “ataque a democracia”,
“divulgação de fake news”, “ataque as instituições”.
Acusações totalmente abstratas sem um fato
jurídico propriamente dito. Os advogados de Bárbara
pedem sem sucesso acesso aos autos, o que a deixa
sem saber exatamente onde errou. Em depoimento
ao Senado, Bárbara pede que seja outorgado a ela o
mesmo tratamento que se dá a traficantes de
drogas, o direito a defesa e a prerrogativa de
inocência. Durante o ano de 2022, ambos os casos
permanecem sem solução. Allan dos Santos
permanece como “foragido da justiça” exilado nos
EUA e Bárbara Destefani permanece com o seu canal
do youtube desmonetizado por ordem judicial.

52
ALLAN DO SANTOS E BÁRBARA DESTEFANI

Em 2022, a perseguição aos comentaristas e


influenciadores de direita foi muito maior devido a
ser um ano de eleição presidencial. Muitos desses
comentaristas eram fortes críticos ao ativismo
político do STF, foram contra ao passaporte sanitário
(obrigação coletivista das vacinas para entrar em
determinados recintos), contra a determinação do
voto sem auditagem e nas vésperas das eleições, a
única rede de TV que tem maioria de comunicadores
de direita e de esquerda para debater diversos
pontos de vista, na verdade, a única rede de TV que
tem pelo menos um comentarista de direita, a Jovem
Pan, foi fortemente atingida pela censura do STF.
Comentaristas foram primeiros censurados, não
podiam falar certas palavras no ar para que o canal
não fosse punido com multas. Essa pressão do STF
contra a Jovem Pan chegou num ponto em que
vários comentaristas foram demitidos e mesmo seus
canais individuais nas redes sociais foram
derrubados. Sempre com a mesma justificativa
abstrata, vazia e sem fato, o “ataque a democracia e
às instituições”.

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A própria Ministra do STF Carmen Lúcia,
reconhecendo tratar-se de censura, aprovou esse
Estado “policialesco” até o dia 30 de outubro de
2022, enquanto durasse as eleições. Mas essa
perseguição continuou muito além desse dia, mesmo
com a vitória de Luís Inácio nas eleições
presidenciais.

21. Conclusão

Como explicar a vitória de Lula em 2022? Todos


sabem que ele é ladrão, que ele mente, que ele é
como um político da velha guarda, do toma lá dá cá.
O que Lula tem que a direita não tem, ou pelo menos
não tinha? O NOME

Lula se transformou num nome sinônimo da


esquerda, um nome conhecido e reconhecido
nocional e internacionalmente. Por exemplo, o que
faz um artista ser melhor do que outro? Por que um
desenhista pobre das ruas do Brasil pode ser um
desenhista muito melhor do que rico artista do
bairro do Soho em Nova York? A resposta é o NOME,
um artista que faz contatos, faz uma trajetória, que
vende o seu nome, pode deixar o talento e a
habilidade em segundo plano.

Na política acontece da mesma forma. Lula


construiu o seu nome no decorrer das décadas e se
firmou como o nome aglutinador da esquerda.
Depois de ser preso, muita gente, inclusive o próprio

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STF, acreditou que Lula estava acabado. Mas depois
que Haddad perdeu as eleições presidenciais para
Bolsonaro, eles viram que único capaz de colocar a
esquerda novamente no poder era Lula.

A direita nunca teve um NOME forte. Desde as


duas vitórias de FHC em primeiro turno, acreditaram
que o PSDB era a melhor escolha para derrotar o
petista. Tentaram de tudo: José Serra, Geraldo
Alckmin, Aécio Neves... Mas nada fazia páreo para o
nome de Lula, mesmo quando ele emprestava seu
nome a Dilma. Até que apareceu Bolsonaro e, com a
ajuda das redes sociais e a lambança do PT na
economia, começou a se tornar o NOME da direita.

A esquerda começou a reconhecer que nascia um


nome perigoso e lançou mão de seus ataques mais
sórdidos. Antes nos chamavam de “aristocratas”,
“elite”, “casa-grande”... Agora o ataque era mais
baixo: “racista”, “machista”, “homofóbico”, “fascista”
e até “nazista”. A campanha do “elenão” mas
vésperas das eleições de 2018 simbolizou o
reconhecimento da esquerda de que a direita agora
tinha um NOME.

Muitos eram admiradores fanáticos de Bolsonaro,


o chamavam de mito. Outros o queriam apenas
como o nome capaz de encerrar 16 anos de vitórias
petistas, uma alternativa no poder. Mas a esquerda
tinha que reconhecer que agora não apenas eles
tinham um grande nome, mas a direita conseguiu o

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feito com Bolsonaro, que passou ser o alvo de todos
os ferozes ataques da esquerda, inclusive da
imprensa tradicional. A esquerda logo tratou de
libertar Lula e torna-lo novamente um político para
enfrentar a direita no poder.

Não importa o passado de Lula, não importa o que


ele fez, se ele roubou, corrompeu, matou, não
importa se ele ama as ditaduras de esquerda, o que
importa é que ele é o NOME da esquerda. O único
capaz de vencer o novo “mito” que surgiu na direita.
Dessa forma, não importa o que Bolsonaro faça,
Bolsonaro pode fugir, chorar, pode fazer qualquer
coisa, mas continuará sendo o nome da Direita, pois
tão difícil quanto fazer um nome é se desfazer dele.

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