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FAMÍLIAS INTER-RACIAIS
SÃO PAULO
2023
Bruna Silva Ferreira - RGM 30951127
Gabriela Furtado Leite Sampaio - RGM 31235051
Gabrielly Gomes de Lima - RGM 31138462
Marcia Santana de Paula Oliveira - RGM 31744508
Marilia Delvagen Rodrigues Oste - RGM 32073372
Sthefanie Sanches Correia - RGM 31450768
Suelen Franco Resende de Paula - RGM 31817262
FAMÍLIAS INTER-RACIAIS
Área de concentração:
Família – Perspectiva Teórica
Orientador:
Ticiane Raymundo
SÃO PAULO
2023
AGRADECIMENTOS
A proposta principal deste trabalho foi desenvolver sobre o tema família inter-racial. Entender
como se relacionam com a sociedade, o tipo de racismos que enfrentam, e como juntas
conseguem superar as dificuldades, além de aprender com elas.
Introdução 6
Conclusão 15
Referências 14
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Introdução
Quando falamos de famílias no Brasil logo nos vem em mente o modelo nuclear, com todas as
suas tradições e conceitos. Em uma provocação fomos levados a pensar e se esse modelo
nuclear tivesse um quesito de inter-racialidade? Será que é possível pensar no conceito de
família quando temos casais de origens étnicas diferentes?
Esse trabalho visa discutir esse tema com base no livro “Famílias Inter Raciais: Tensões Ente
Cor e Amor”, trazemos uma discussão sobre como é lidar com o racismo entre tantos outros
fatores quando os membros da família são tão diferentes e se identificam de maneiras
diferentes, convivendo no mesmo espaço e lidado com o preconceito de maneiras percebidas
totalmente diferentes.
Será que o amor é capaz de traspor as barreiras do racismo e do preconceito? O olhar
empático que é colocado em lugar de intermediação entre os todos os conflitos internos e
externos de maneira que é possível criar uma conexão entre os membros da família.
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A exemplo, o pai Guilherme, comenta em entrevista, que nunca passou por esse tipo
de problema no Brasil simplesmente pelo fato de ter namorado, mulheres de tudo que é
tipo, morena, branca e até japonesa.
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Podemos observar nesse discurso que, parece que havia uma cortina de fumaça
sobre a questão do preconceito no início do relacionamento de Jussara e Guilherme. Porém,
é importante ressaltar que durante a entrevista Dulci a filha, relata que o pai já sofreu sim
com episódios de racismo, que era percebido tanto por ela quanto pela mãe, mas que não
era comentado para o pai, isso acontecia com o propósito de não contraria-lo, afinal, na
idade em que está é melhor para que ele não sofra. Com base nisso é pertinente frisar o que
a autora comenta sobre esse comportamento da família “Naquele momento percebi que o
discurso de Jussara não era realmente o de cegueira racial, mas que ele servia para a
manutenção da harmonia da família ou ao menos para a proteção de Guilherme.”
(SHUCMAN, 2018, p. 116).
É importante ressaltar que mesmo, sofrendo racismos ele não se vê vitima de tal,
direcionando-o assim, para sua autodeclaração como moreno, vemos que diante disso uma
característica defensiva, cujo objetivo é aliviar as suas dores. Contudo observamos um
pressuposto, onde Guilherme não reconhece o racismo sofrido na frente dos filhos a fim de
preservá-los, na dissertação de Marilia Gabriela Leme, ela destaca os autores Franklin e
Kargen acreditam que:
“... o impacto da raça para a criação dos filhos leva os pais a desenvolverem um
esforço significativo para trazer um sentimento de orgulho racial e forte identidade
positiva em seus filhos e normalmente sentem-se convocados a trazer imagens
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[...] Daniel foi o primeiro a mencionar o pai em tom de proteção, mostrando que
as lacunas do dizer racial do pai eram importantes para mantê-lo em um lugar de
provedor de família, mantendo intactos os ideais de masculinidade e paternidade
necessários para sustentar a organização de uma estrutura familiar tradicional [...]
(2018, p.119).
Tal justificativa ocorre, devido á pressão social em que Guilherme vivia na época,
principalmente aqueles vindos do seu próprio sogro, por isso é importante ressaltar que a
negação ou até mesmo o silêncio do racismo sofrido, partiu do pressuposto do “ideal de
democracia racial”.
[...] diferentes funções: a) mantém o pai como autoridade superior à mãe – através
das desigualdades de gênero advindas do machismo e mantendo assim, por sua
vez, a estrutura social vigente das famílias tradicionais heteronormativas; b)
protege o pai psiquicamente de ter que lidar com as mazelas advindas do racismo;
e c) a raça não aparece como um divisou familiar [...] (2018, p.121).
Vale ressaltar que mesmo diante de tanto negacionismo do pai, os filhos adquiriram
uma consciência do racismo estrutural no país.
Conforme a autora evolui na entrevista ela questiona a mãe sobre o a como ela
adquiriu essa consciência racial, até porque se trata de uma mulher branca com marido e
filhos negros.
Nesse contexto a entrevista descreve como se deu todo o processo, inclusive de que
no início do seu relacionamento com Guilherme, sequer deu conta, do que realmente era o
racismo, a não ser quando sua família comentava algo, porém sempre ignorou, tendo assim
uma “cegueira racial”. Porém na sociedade atual, nas redes sociais vemos o quanto
relacionamentos inter-raciais são alvos de criticas frequentes:
“A gente viu que incomodava. Tudo porque ele é um homem branco e eu uma
mulher preta. Então, as pessoas achavam: ‘Nossa, como esse homem tão lindo está
casado com essa mulher? ’ ou ‘Ele é tão legal por ter casado com você’. Quando
raspei o cabelo, disseram que eu tinha feito ‘trabalho’ para conseguir uma pessoa
como ele”, contou Aline em entrevista ao jornal Extra. (OITOMEIA, 2020)
São exemplos como esse, que afirmam o quanto o racismo está estruturado em
nossa sociedade. Nesse contexto, a autora afirma que: “o racismo presente em nossa
sociedade poderia ser desconstruído por sujeitos brancos através de vivências e afetos
diversos e de forma particularmente intensa no interior de famílias inter-raciais [...]”
(SCHUCMAN, 2018, p.123), e sim essa afirmação se confirma, ao viver o racismo, presenciá-
lo e compreendê-lo, Jussara adquire essa sensibilidade por conta da convivência e
principalmente a preocupação que tinha com seus filhos.
Aline Wirley e Igor Rickli, “Em entrevista ao Extra, os dois disseram que Antônio tentou
brincar com o cachorrinha de uma mulher que estava no mesmo restaurante que eles. A
cliente, que era branca, guardou o seu celular em sua bolsa às pressas quando o menino se
aproximou” (UOL, 2020)
Diante dessa situação o pai da criança que é branco comenta: “Ela teve medo do meu
filho, e aquilo me deu um clique. Ele vai passar por isso muitas vezes ainda na vida, o que é
assustador [...]” (UOL. 2020).
Vemos que diante da segunda imersão na família, com as diversas falas, a consciência
do racismo estrutural e a identidade negra positivada, se tornaram realidades. A mãe que
ensina os filhos desde pequenos a se protegerem das diversas violências, o filho branco José,
demonstra empatia racial. Nesse contexto é válido ressaltar: “[...] embora apresentem
dificuldade e desconforto diante de um problema tão delicado, demonstram, também,
atitudes de resistência e contestação como luta contra o preconceito e a discriminação
racial.” (BRITO 2013, p.88).
No caso, vamos ainda observar uma estrutura patriarcal na família, onde a mãe é a
única responsável pela educação dos filhos. Observamos o relato onde a filha Dulci uma vez
vítima de racismo na escola, para resolver problema a mãe reclama para à diretoria e
menciona à filha: “[...] que ser negra era lindo.” (SCHUCMAN, 2018, p.125), no desfecho do
relato é importante destacar:
Esse exemplo da forma como a mãe educou seus filhos, só demonstra o quanto ela
foi primordial para o processo de empoderamento dos mesmos, podemos observar esse
mesmo contexto de uma maneira um pouco diferente na criação do filho do casal Aline
Wirley e Igor Rickle:
“O Antônio é criado em um ambiente com muito amor e respeito pelo o que ele é.
Antônio, já se vestiu de princesa. Óbvio que pode! A gente precisa ter mais respeito
por elas e entender que eles são indivíduos, por mais que eles não entendam muita
coisa.” (UOL, 2019)
Interessante é observar que todos os cônjuges dos filhos são negros, na entrevista a
autora não entra em detalhes sobre como são esses relacionamentos, mas ela menciona
que, as outras famílias que foram pesquisadas, apresentaram um caminho adverso, ou seja,
passaram pelo processo do embraquecimento, “[...] Silva, Berquó, Alves - que apontam a
teoria do embranquecimento como ideologia que perpassa as escolhas amorosas dos
sujeitos.” (SCHUCMAN, 2018, p.126)
Observamos que nessa família, a educação promovida pela mãe branca, se manteve
numa linha antirracista, até mesmo quando a dúvida de terceiros pairava, essa respondia de
forma bastante enfática, afirmando para os filhos uma consciência racial: “[...] é importante
vocês que saberem que são negros, porque quando as pessoas olham para vocês, nunca
lembram que a mãe tem origem italiana e alemã, mas lembram que são negros.”
(SCHUCMAN,2018, p.126)
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A empatia também é algo muito presente nessa familia, José o filho branco relata um
caso em que seu pai é hostilizado pelos colegas de futebol: “[...] Eu sempre vou com ele
porque também jogo e já ouvi várias vezes quando ele erra alguma coisa os colegas fazerem
piadinhas do tipo ‘preto quando não caga na entrada caga na saída’[...] (SCHUCMAN,2018,
p.127)
É importante frisar que, essa empatia vem de situações racistas que foram
vivenciadas pelo pai e irmãos e não com ele próprio, dando a ele uma conciência racista que
do qual era negada pelo seu pai.
Nesse contexto, é importante observar que tanto a mãe quanto José, sabe muito
bem que o fato de serem branco lhes proporcionam privilégios, mas ambos desconstróem o
racismo, suas vivências contribuíram inteiramente para isso.
Nesse contexto Igor, frisa muito a questão do patriarcado e da luta femina, mas
podemos identificar, que na fala dele, há sim a consciência racial, inclusive é válido destacar
outra fala do ator sobre isso: “[...] Talvez se ela não fosse minha companheira, eu tivesse
passado mais batido por isso e não sentiiria como estou sentindo. Me sinto muito honrado
de ela ser minha mulher.” (EXTRA, 2020)
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Não é só reconhecer que todos são iguais, mas sim reconhecer o outro, identificando
as diferentes vivências em função do racismo.
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Conclusão
Sendo assim concluímos que, em uma sociedade não letrada racialmente cujo as características de
miscigenação são tão recorrentes, vivemos em um contexto totalmente negligenciado dentro da
estrutura dessas famílias.
O não dito por eles grita como um pedido de ajuda para aliviar o sofrimento. Pais e filhos sentem o
preconceito na pele, seja por internalização da situação ou por presenciar discursos que afetam
diretamente algum membro da família.
Não é sem razão que as situações de preconceitos ocorrem o tempo todo em diversos ambientes,
seja no modelo tradicional de família popular ou em uma família “pop star” como o texto apresenta.
O que devemos entender é que a sociedade que vivemos ainda alimenta e fortalece o racismo
estrutural, a conscientização e o letramento ainda são soluções práticas que podemos aplicar no
nosso dia a dia a fim de combater essas estruturas. Uma vez que a sociedade reflete diretamente nas
famílias e em seus comportamentos vivemos esse “looping” comportamental.
Ainda sim devemos substituir cada vez mais esse silencio (não dito), em um posicionamento ativo e
discursivo, ate que o silencio seja quebrado a ponto de não gerar mais dor e sofrimento quando o
tema for preconceito. Devemos criar ambientes seguros para essa discussão até gerar o devido
impacto nas falas da sociedade.
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Referências bibliográficas
PRIORI, Mary, Del. 1952 Histórias e conversas de mulher. 2ª edição – São Paulo: Planeta,
2014.
PRIORI, Mary, Del. Histórias da gente brasileira: volume I: colônia – São Paulo: Le Ya, 2016.
BRITO de, Angela Ernestina Cardoso, Lares negros olhares negros: identidade e socialização
em famílias negras e inter-raciais, v.15, n.2, p. 74-102, Londrina, Jan./Jun. 2013.
LEME, Gabriela Marilia, Despertar Racial: Como as famílias monorraciais negras e/ou inter-
raciais preparam ou não, ensinam ou não os seus filhos a se protegerem contra o racismo,
2021. 172 P. Monografia – Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2021.
UOL, 2019. Aline Wirley revela racismo no começo do namoro com Igor Rickli. Disponível
em: https://www.uol.com.br/universa/noticias/redacao/2019/11/01/aline-wirley-revela-
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Oitomeia, 2020. Aline Wirley, ex-rouge diz que casamento com Igor Rickli incomoda por ela
ser preta. Disponível em:
https://www.oitomeia.com.br/entretenimento/famosos/2020/11/24/aline-wirley-ex-rouge-
diz-que-casamento-com-igor-rickli-incomoda-por-ela-ser-preta/
Tv e famosos UOL, 2020. Aline Wirley e Igor Rickli contam que filho sofreu racismo em
restaurante. Disponível em:
https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2020/06/06/aline-wirley-e-igor-rickli-
contam-que-filho-sofreu-racismo-assustador.htm
Extra Globo, 22/11/2020. Igor Rickli vive a plenitude com Aline Wirley e o filho, apesar dos
ataques racistas que o casal enfrenta há dez anos. Disponível em:
https://extra.globo.com/tv-e-lazer/igor-rickli-vive-plenitude-com-aline-wirley-o-filho-apesar-
dos-ataques-racistas-que-casal-enfrenta-ha-dez-anos-24756688.html