Você está na página 1de 15

10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés

HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA

ENVIE SEU TEXTO PARA O PORTAL terça-f eira, Maio 5, 2020    


DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria


Gonçalves
21/02/2011 em Artigos e Reflexões 16 min read    0
 

Artigos Re lacion ad os

P re t ar ia Black b ook s – An t ir racis m o p or as s in at u ra



 24/04/2020  55
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 1/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA


P an d e m ia, s e g re g ação racial e as v id as q u e n ão im p or t am

 22/04/2020
DISCRIMINAÇÃO  82
E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

As n ão Bran cas - Id e n t id ad e Racial e Color is m o n o Bras il

 18/04/2020  307

Num extenso e substancial texto a escritora Ana Maria Gonçalves nos revela as


entranhas do pensamento racista de Monteiro Lobato e do seu mais novo herdeiro
Ziraldo, autor da camiseta do Bloco Carnavalesco “Que merda é essa” que des la no bairro
de Ipanema, zona sul carioca, região de alta classe média do Rio de Janeiro. Num vídeo em
que o link (Que merda é essa?) está no texto abaixo, vê-se que o bloco foi fundado por um
grupo com negros frequentadores das praias e bares de Ipanema fazendo exatamente
aquela “mistura racial” em que o negro se vê constrangido a ridicularizar-se para ser aceito
no grupo como normalmente acontece na democracia racial brasileira.

Carta Aberta ao Ziraldo

ziraldo_racista
Imagem: Arte de Ziraldo

 
Ana Maria GonçalvesCaro Ziraldo,Olho a triste gura de Monteiro Lobato abraçado a
uma mulata, estampada nas camisetas do bloco carnavalesco carioca “Que merda é essa?”
e vejo que foi obra sua. Fiquei curiosa para saber se você conhece a opinião de Lobato
sobre os mestiços brasileiros e, de verdade, queria que não. Eu te respeitava, Ziraldo.
Esperava que fosse o seu senso de humor falando mais alto do que a ignorância dos fatos,
e por breves momentos até me senti vingada. Vingada contra o racismo do eugenista
Monteiro Lobato que, em carta ao amigo Godofredo Rangel, desabafou: “(…)Dizem que a
mestiçagem liquefaz essa cristalização racial que é o caráter e dá uns produtos instáveis.
Isso no moral – e no físico, que feiúra! Num des le, à tarde, pela horrível Rua Marechal
Floriano, da gente que volta para os subúrbios, que perpassam todas as
degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal. Os
negros da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do
português de maneira mais terrível – amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa
residual que vem dos subúrbios pela manhã e re ui para os subúrbios à tarde. E vão
apinhados como sardinhas e há um desastre por dia, metade não tem braço ou não tem
perna, ou falta-lhes um dedo, ou mostram uma terrível cicatriz na cara. “Que foi?” 
“Desastre na Central.” Como consertar essa gente? Como sermos gente, no concerto dos
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 2/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
povos? Que problema terríveis o pobre negro da África nos criou aqui, na sua inconsciente
vingança!…” (em “A barca de Gleyre”. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1944. p.133).Ironia 
das ironias, Ziraldo, o nome do livro de onde foi tirado o trecho acima é inspirado em um
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
quadro do pintor suíço Charles Gleyre (1808-1874), Ilusões Perdidas. Porque foi isso que
aconteceu. Porque lendo uma matéria sobre o bloco e a sua participação, você assim
o endossa : “Para acabar com a polêmica, coloquei o Monteiro Lobato sambando com uma
mulata. Ele tem um conto sobre uma neguinha que é uma maravilha. Racismo tem ódio.
Racismo sem ódio não é racismo. A ideia é acabar com essa brincadeira de achar que a
gente é racista”. A gente quem, Ziraldo? Para quem você se (auto) justi ca? Quem te disse
que racismo sem ódio, mesmo aquele com o “humor negro” de unir uma mulata a quem
grande ódio teve por ela e pelo que ela representava, não é racismo? Monteiro Lobato,
sempre que se referiu a negros e mulatos, foi com ódio, com desprezo, com a certeza
absoluta da própria superioridade, fazendo uso do dom que lhe foi dado e pelo qual é
admirado e defendido até hoje. Em uma das cartas que iam e vinham na barca de Gleyre
(nem todas estão publicadas no livro, pois a seleção foi feita por Lobato, que as censurou,
claro) com seu amigo Godofredo Rangel, Lobato confessou que sabia que a escrita “é um
processo indireto de fazer eugenia, e os processos indiretos, no Brasil, ‘work’ muito mais
e cientemente”.Lobato estava certo. Certíssimo. Até hoje, muitos dos que o leram não
vêem nada de errado em seu processo de chamar negro de burro aqui, de fedorento ali,
de macaco acolá, de urubu mais além. Porque os processos indiretos, ou seja, sem ódio,
fazendo-se passar por gente boa e amiga das crianças e do Brasil, “work” muito bem.
Lobato cou frustradíssimo quando seu “processo” sem ódio, só na inteligência, não
funcionou com os norte-americanos, quando ele tentou em vão encontrar editora que
publicasse o que considerava ser sua obra prima em favor da eugenia e da eliminação, via
esterilização, de todos os negros. Ele falava do livro “O presidente negro ou O choque das
raças”que, ao contrário do que aconteceu nos Estados Unidos, país daquele povo que
odeia negros, como você diz, Ziraldo, foi publicado no Brasil. Primeiro em capítulos no
jornal carioca A Manhã, do qual Lobato era colaborador, e logo em seguida em edição da
Editora Companhia Nacional, pertencente a Lobato. Tal livro foi dedicado secretamente ao
amigo e médico eugenista Renato Kehl, em meio à vasta e duradoura correspondência
trocada pelos dois:“Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu
Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas
perdoai a este estropeado amigo. (…) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A
humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha”.Impossibilitado de colher os
frutos dessa poda nos EUA, Lobato desabafou com Godofredo Rangel: “Meu romance não
encontra editor. […]. Acham-no ofensivo à dignidade americana, visto admitir que depois
de tantos séculos de progresso moral possa este povo, coletivamente, cometer a sangue
frio o belo crime que sugeri. Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que
eles linchavam os negros.” Tempos depois, voltou a se animar: “Um escândalo literário 
equivale no mínimo a 2.000.000 dólares para o autor (…) Esse ovo de escândalo foi
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 3/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
recusado por cinco editores conservadores e amigos de obras bem comportadas, mas
acaba de encher de entusiasmo um editor judeu que quer que eu o refaça e ponha mais 
matéria de exasperação. Penso como ele e estou com idéias de enxertar um capítulo no
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
qual conte a guerra donde resultou a conquista pelos Estados Unidos do México e toda
essa infecção spanish da América Central. O meu judeu acha que com isso até uma
proibição policial obteremos – o que vale um milhão de dólares. Um livro proibido aqui sai
na Inglaterra e entra boothegued como o whisky e outras implicâncias dos puritanos”.
Lobato percebeu, Ziraldo, que talvez devesse apenas exasperar-se mais, ser mais claro em
suas ideias, explicar melhor seu ódio e seu racismo, não importando a quem atingiria e
nem por quanto tempo perduraria, e nem o quão fundo se instalaria na sociedade
brasileira. Importava o dinheiro, não a exasperação dos ofendidos. 2.000.000 de dólares,
ele pensava, por um ovo de escândalo. Como também foi por dinheiro que o Jeca Tatu,
reabilitado, estampou as propagandas do Biotônico Fontoura.Você sabe que isso dá
dinheiro, Ziraldo, mesmo que o investimento tenha sido a longo prazo, como ironiza Ivan
Lessa: “Ziraldo, o guerrilheiro do traço, está de parabéns. Finalmente o governo brasileiro
tomou vergonha na cara e acabou de pagar o que devia pelo passe de Jeremias, o Bom,
imortal personagem criado por aquele que também é conhecido como “o Lamarca do
nanquim”. Depois do imenso sucesso do calunguinha nas páginas de diversas publicações,
assim como também na venda de diversos produtos farmacêuticos, principalmente
doenças da tireóide, nos idos de 70, Ziraldo, cognominado ainda nos meios esclarecidos
como “o subversivo da caneta Pilot”, houve por bem (como Brutus, Ziraldo é um homem
de bem; são todos uns homens de bem – e de bens também) vender a imagem de
Jeremias para a loteca, ou seja, para a Caixa Econômica Federal (federal como em
República Federativa do Brasil) durante o governo Médici ou Geisel (os déspotas
esclarecidos em muito se assemelham, sendo por isso mesmo intercambiáveis)”.

No tempo em que linchavam negros, disse Lobato, como se o linchamento ainda não
fosse desse nosso tempo. Lincham-se negros nas ruas, nas portas dos shoppings e
bancos, nas escolas de todos os níveis de ensino, inclusive o superior. O que é até irônico,
porque Lobato nunca poderia imaginar que chegariam lá. Lincham-se negros, sem
violência física, é claro, sem ódio, nos livros, nos artigos de jornais e revistas, nos cartoons
e nas redes sociais, há muitos e muitos carnavais. Racismo não nasce do ódio ou amor,
Ziraldo, sendo talvez a causa e não a consequência da presença daquele ou da ausência
desse. Racismo nasce da relação de poder. De poder ter in uência ou gerência sobre as
vidas de quem é considerado inferior. “Em que estado voltaremos, Rangel,” se pergunta
Lobato, ao se lembrar do quadro para justi car a escolha do nome do livro de cartas
trocadas, “desta nossa aventura de arte pelos mares da vida em fora? Como o velho de
Gleyre? Cansados, rotos? As ilusões daquele homem eram as velas da barca – e não cou
nenhuma. Nossos dois barquinhos estão hoje cheios de velas novas e arrogantes, atadas 
ao mastro da nossa petulância. São as nossas ilusões”. Ah, Ziraldo, quanta ilusão (ou seria
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 4/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
petulância? arrogância; talvez? sensação de poder?) achar que impor à mulata a presença
de Lobato nessa festa tipicamente negra, vá acabar com a polêmica e todos poderemos 
soltar as ancas e cada um que sambe como sabe e pode. Sem censura. Ou com censura,
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
como querem os quemerdenses. Mesmo que nesse do Caçadas de Pedrinho a palavra
censura não corresponda à verdade, servindo como mero pretexto para manifestação de
discordância política, sem se importar com a carnavalização de um tema tão dolorido e
tão caro a milhares de brasileiros. E o que torna tudo ainda mais apelativo é que o bloco
aponta censura onde não existe e se submete, calado, ao pedido da prefeitura para que
não use o próprio nome no des le. Não foi assim? Você não teve que escrever “M*”
porque a palavra “merda” foi censurada? Como é que se explica isso, Ziraldo? Mente-se e
cala-se quando convém? Coerência é uma questão de caráter.

O que o MEC solicita não é censura. É respeito aos Direitos Humanos. Ao direito de uma
criança negra em uma sala de aula do ensino básico e público, não se ver representada
(sim, porque os processos indiretos, como Lobato nos ensinou, “work” muito mais
e cientemente) em personagens chamados de macacos, fedidos, burros, feios e outras
indiretas mais. Você conhece os direitos humanos, inclusive foi o artista escolhido para
ilustrar a Cartilha de Direitos Humanos encomendada pela Presidência da República, pelas
secretarias Especial de Direitos Humanos e de Promoção dos Direitos Humanos, pela
ONU, a UNESCO, pelo MEC e por vários outros órgãos. Muitos dos quais você agora
desrespeita ao querer, com a sua ilustração, acabar de vez com a polêmica causada por
gente que estudou e trabalhou com seriedade as questões de educação e desigualdade
racial no Brasil. A adoção do Caçadas de Pedrinho vai contra a lei de Igualdade Racial e o
Estatuto da Criança e do Adolescente, que você conhece e ilustrou tão bem. Na página 25
da sua Cartilha de Direitos Humanos, está escrito: “O único jeito de uma sociedade
melhorar é caprichar nas suas crianças. Por isso, crianças e adolescentes têm prioridade
em tudo que a sociedade faz para garantir os direitos humanos. Devem ser colocados a
salvo de tudo que é violência e abuso. É como se os direitos humanos formassem um
ninho para as crianças crescerem.” Está lá, Ziraldo, leia de novo: “crianças e adolescentes
têm prioridade”. Em tudo. Principalmente em situações nas quais são desrespeitadas,
como na leitura de um livro com passagens racistas, escrito por um escritor racista com
nalidades racistas. Mas você não vê racismo e chama de patrulhamento do politicamente
correto e censura. Você está pensando nas crianças, Ziraldo? Ou com medo de que, se a
moda pega, a “censura” chegue ao seu direito de continuar brincando com o assunto?
“Acho injusto fazer isso com uma gura da grandeza de Lobato”, você disse em uma
reportagem. E com as crianças, o público-alvo que você divide com Lobato, você acha
justo? Sim, vocês dividem o mesmo público e, inclusive, alguns personagens, como uma
boneca e pano e o Saci, da sua Turma do Pererê. Medo de censura, Ziraldo, talvez aos
deslizes, chamemos assim, que podem ser cometidos apenas porque se acostuma a eles, 
a ponto de pensar que não são, de novo chamemos assim, deslizes.
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 5/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
A gente se acostuma, Ziraldo. Como o seu menino marrom se acostumou com as
sandálias de dedo: “O menino marrom estava tão acostumado com aquelas sandálias que

era capaz de jogar futebol com elas, apostar corridas, saltar obstáculos sem que as
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
sandálias desgrudassem de seus pés. Vai ver, elas já faziam parte dele” (ZIRALDO, 1986,p.
06, em O Menino Marrom). O menino marrom, embora seja a gura simpática e esperta e
bonita que você descreve, estava acostumado e fadado a ser pé-de-chinelo, em
comparação ao seu amigo menino cor-de-rosa, porque “(…) um já está quase formado e o
outro não estuda mais (…). Um já conseguiu um emprego, o outro foi despedido do quinto
que conseguiu. Um passa seus dias lendo (…), um não lê coisa alguma, deixa tudo pra
depois (…). Um pode ser diplomata ou chofer de caminhão. O outro vai ser poeta ou viver
na contramão (…). Um adora um som moderno e o outro – Como é que pode? – se amarra
é num pagode. (…) Um é um cara ótimo e o outro, sem qualquer duvida, é um sujeito
muito bom. Um já não é mais rosado e o outro está mais marrom” (ZIRALDO, 1986, p.31).
O menino marrom, ao crescer, talvez virasse marginal, fado de muito negro, como você
nos mostra aqui: “(…) o menino cor-de-rosa resolveu perguntar: por que você vem todo o
dia ver a velhinha atravessar a rua? E o menino marrom respondeu: Eu quero ver ela ser
atropelada” (ZIRALDO, 1986, p.24), porque a própria professora tinha ensinado para ele a
diferença e a (não) mistura das cores. Então ele pensou que “Ficar sozinho, às vezes, é
bom: você começa a re etir, a pensar muito e consegue descobrir coisas lindas. Nessa de
saber de cor e de luz (…) o menino marrom começou a entender porque é que o branco
dava uma idéia de paz, de pureza e de alegria. E porque razão o preto simbolizava a
angústia, a solidão, a tristeza. Ele pensava: o preto é a escuridão, o olho fechado; você não
vê nada. O branco é o olho aberto, é a luz!” (ZIRALDO, 1986, p.29), e que deveria se
conformar com isso e não se revoltar, não ter ódio nenhum ao ser ensinado que, daquela
beleza, pureza e alegria que havia na cor branca, ele não tinha nada. O seu texto nos
ensina que é assim, sem ódio, que se doma e se educa para que cada um saiba o seu
lugar, com docilidade e resignação: “Meu querido amigo: Eu andava muito triste
ultimamente, pois estava sentindo muito sua falta. Agora estou mais contente porque
acabo de descobrir uma coisa importante: preto é, apenas, aausência do branco”
(ZIRALDO, 1986, p.30).

Olha que interessante, Ziraldo: nós que sabemos do racismo confesso de Lobato e
conseguimos vê-lo em sua obra, somos acusados por você de “macaquear” (olha o termo
aí) os Estados Unidos, vendo racismo em tudo. “Macaqueando” um pouco mais, será que
eu poderia também acusá-lo de estar “macaqueando” Lobato, em trechos como os citados
acima? Sem saber, é claro, mas como fruto da introjeção de um “processo” que ele provou
que “work” com grande e ciência e ao qual podemos estar todos sujeitos, depois de
sermos submetidos a ele na infância e crescermos em uma sociedade na qual não é
combatido. A nal, há quem diga que não somos racistas. Que quem vê o racismo, na 
maioria os negros, que o sofrem, estão apenas “macaqueando”. Deveriam car calados e
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 6/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
deixar dessa bobagem. Deveriam se inspirar no menino marrom e se resignarem. Como
não fazem muitos meninos e meninas pretos e marrons, aqueles que são a ausência do 
branco, que se chateiam, que se ofendem, que sofrem preconceito nas ruas e nas escolas
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
e cam doídos, pensando nisso o tempo inteiro, pensando tanto nisso que perdem a
vontade de ir à escola, começam a tirar notas baixas porque cam matutando,
ressentindo, a atenção guardadinha lá debaixo da dor. E como chegam à conclusão de que
aquilo não vai mudar, que não vão dar em nada mesmo, que serão sempre pés-de-
chinelo, saem por aí especializando-se na arte de esperar pelo atropelamento de
velhinhas.

Racismo é um dos principais fatores responsáveis pela limitada participação do negro no


sistema escolar, Ziraldo, porque desvia o foco, porque baixa a auto-estima, porque desvia
o foco das atividades, porque a criança ca o tempo todo tendo que pensar em como não
sofrer mais humilhações, e o material didático, em muitos casos, não facilita nada a vida
delas. E quando alguma dessas crianças encontra um jeito de fugir a esse destino, mesmo
que não tenha sido através da educação, ca insuportável e merece o linchamento público
e exemplar, como o sofrido por Wilson Simonal. Como exemplo, temos a sua opinião
sobre ele: “Era tolo, se achava o rei da cocada preta, coitado. E era mesmo. Era metido,
insuportável”. Sabe, Ziraldo, é por causa da perpetuação de estereótipos como esses que
às vezes a gente nem percebe que eles estão ali, reproduzidos a partir de
preconceitos adquiridos na infância, que a SEPPIR pediu que o MEC reavaliasse a adoção
de Caçadas de Pedrinho. Não a censura, mas a reavaliação. Uma nota, talvez, para ser
colocada junto com as outras notas que já estão lá para proteger os direitos das onças de
não serem caçadas e o da ortogra a, de evoluir. Já estão lá no livro essas duas notas e a
SEPPIR pede mais uma apenas, para que as crianças e os adolescentes sejam “colocados a
salvo de tudo que é violência e abuso”, como está na cartilha que você ilustrou. Isso é um
direito delas, como seres humanos. É por isso que tem gente lutando, como você também
já lutou por direitos humanos e por reparação. É isso que a SEPPIR pede: reparação pelos
danos causados pela escravidão e pelo racismo.

Assim você se defendeu de quem o atacou na época em que conseguiu fazer valer os seus
direitos: “(…) Espero apenas que os leitores (que o criticam) não tenham sua casa invadida
e, diante de seus lhos, sejam seqüestrados por componentes do exército brasileiro pelo
fato de exercerem o direito de emitir sua corajosa opinião a meu respeito, eu, uma gura
tão poderosa”. Ziraldo, você tem noção do que aconteceu com os, citando Lobato, “negros
da África, caçados a tiro e trazidos à força para a escravidão”, e do que acontece todos os
dias com seus descendentes em um país que naturalizou e, paradoxalmente, nega o seu
racismo? De quantos já morreram e ainda morrem todos os dias porque tem gente que
não os leva a sério? Por causa do racismo é bem difícil que essa gente fadada a ser pé-de-

chinelo a vida inteira, essas pessoas dos subúrbios, que perpassam todas as
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 7/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
degenerescências, todas as formas e má-formas humanas – todas, menos a normal, –
porque nelas está a ausência do branco, esse povo todo representado pela mulata dócil 
que você faz sorrir nos braços de um dos escritores mais racistas e perversos e
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
interesseiros que o Brasil já teve, aquele que soube como ninguém que um país (racista)
também de faz de homens e livros (racistas), por causa disso tudo, Ziraldo, é que eu ia
dizendo ser quase impossível para essa gente marrom, herdeira dessa gente de cor que
simboliza a angústia, a solidão, a tristeza, gerar pessoas tão importantes quanto você,
dignas da reparação (que nem é nanceira, no caso) que o Brasil também lhes deve:
respeito. Respeito que precisou ser ancorado em lei para que tivesse validade, e cuja
aplicação você chama de censura.

Junto com outros grandes nomes da literatura infantil brasileira, como Ana Maria
Machado e Ruth Rocha, você assinou uma carta que, em defesa de Lobato e contra a
censura inventada pela imprensa, diz:”Suas criações têm formado, ao longo dos anos,
gerações e gerações dos melhores escritores deste país que, a partir da leitura de suas
obras, viram despertar sua vocação e sentiram-se destinados, cada um a seu modo, a
repetir seu destino. (…) A maravilhosa obra de Monteiro Lobato faz parte do patrimônio
cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores – brasileiros de todos os
credos e raças. Nenhum de nós, nem os mais vividos, têm conhecimento de que os livros
de Lobato nos tenham tornado pessoas desagregadas, intolerantes ou racistas. Pelo
contrário: com ele aprendemos a amar imensamente este país e a alimentar esperança
em seu futuro. Ela inaugura, nos albores do século passado, nossa con ança nos destinos
do Brasil e é um dos pilares das nossas melhores conquistas culturais e sociais.”É isso. Nos
livros de Lobato está o racismo do racista, que ninguém vê, que vocês acham que não é
problema, que é alicerce, que é necessário à formação das nossas futuras gerações, do
nosso futuro. E é exatamente isso. Alicerce de uma sociedade que traz o racismo tão
arraigado em sua formação que não consegue manter a necessária distância do foco, a
necessário distância para enxergá-lo. Perpetuar isso parece ser patriótico, esse racismo
que “faz parte do patrimônio cultural de todos nós – crianças, adultos, alunos, professores
– brasileiros de todos os credos e raças.” Sabe o que Lobato disse em carta ao seu amigo
Poti, nos albores do século passado, em 1905? Ele chamava de patriota o brasileiro que se
casasse com uma italiana ou alemã, para apurar esse povo, para acabar com essa raça
degenerada que você, em sua ilustração, lhe entrega de braços abertos e sorridente.
Perpetuar isso parece alimentar posições de pessoas que, mesmo não sendo ou mesmo
não se achando racistas, não se percebem cometendo a atitude racista que você ilustrou
tão bem: entregar essas crianças negras nos braços de quem nem queria que elas
nascessem. Cada um a seu modo, a repetir seu destino. Quem é poderoso, que cobre,
muito bem cobrado, seus direitos; quem não é, que sorria, entre na roda e aprenda a
sambar. 
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 8/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
Peguei-o para bode expiatório, Ziraldo? Sim, sempre tem que ter algum. E, sem ódio,
espero que você não queira que eu morra por te criticar. Como faziam os racistas nos 
tempos em quem ainda linchavam negros. Esses abusados que não mais se calam e
DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 
apelam para a lei ao serem chamados de “macaco”, “carvão”, “fedorento”, “ladrão”,
“vagabundo”, “coisa”, “burro”, e que agora querem ser tratados como gente, no concerto
dos povos. Esses que, ao denunciarem e quererem se livrar do que lhes dói, tantos
problemas criam aqui, nesse país do futuro. Em uma matéria do Correio Braziliense
você disse que “Os americanos odeiam os negros, mas aqui nunca houve uma organização
como a Ku Klux Klan. No Brasil, onde branco rico entra, preto rico também entra. Pelé
nunca foi alvo de uma manifestação de ódio racial. O racismo brasileiro é de outra
natureza. Nós somos afetuosos”. Se dependesse de Monteiro Lobato, o Brasil teria tido
sua Ku-Klux-Klan, Ziraldo. Leia só o que ele disse em carta ao amigo Arthur Neiva, enviada
de Nova Iorque em 1928, querendo macaquear os brancos norte-americanos: “Diversos
amigos me dizem: Por que não escreve suas impressões? E eu respondo: Porque é inútil e
seria cair no ridículo. Escrever é aparecer no tablado de um circo muito mambembe,
chamado imprensa, e exibir-se diante de uma assistência de moleques feeble-minded e
despidos da menos noção de seriedade. Mulatada, em suma. País de mestiços onde o
branco não tem força para organizar uma Kux-Klan é país perdido para altos destinos.
André Siegfred resume numa frase as duas atitudes. “Nós defendemos o front da raça
branca – diz o sul – e é graças a nós que os Estados Unidos não se tornaram um segundo
Brasil”. Um dia se fará justiça ao Kux-Klan; tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que
mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca –
mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro
destroem (sic) a capacidade construtiva.” Fosse feita a vontade de Lobato, Ziraldo, talvez
não tivéssemos a imprensa carioca, talvez não tivéssemos você. Mas temos, porque, como
você também diz, “o racismo brasileiro é de outra natureza. Nós somos afetuosos.” Como,
para acabar com a polêmica, você nos ilustra com o desenho para o bloco quemerdense.
Olho para o rosto sorridente da mulata nos braços de Monteiro Lobato e quase posso
ouvi-la dizer: “Só dói quando eu rio“.

Com pesar, e em retribuição ao seu afeto,

Ana Maria Gonçalves

Fonte: Atabaque Blog

Tags: Ana Maria Gonçalves Monteiro Lobato Questão Racial ziraldo

Postagem Anterior Próxima Postagem 


HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 9/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
MEC abre inscrições para curso de Mulatas Puro Sangue e a cultura do
formação de gestores negro, por Jamyle Vanessa Brasil 

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

Ar t ig os Re lacion ad os

MULHER NEGRA ARTIGOS E REFLEXÕES QUESTÃO RACIAL

P retaria Black book s – P an demia, segregação racial As n ão Bran cas- Iden tidade

An tirracismo por assin atura e as vidas que n ão Racial e Colorismo n o Brasil

 24/04/2020  55 importam  18/04/2020  307


 22/04/2020  82

QUESTÃO RACIAL ARTIGOS E REFLEXÕES QUESTÃO RACIAL

Racismo atrapalh a combate Ostracismo Fash ion Crise tem cor e gên ero

ef icien te ao coron avírus,  16/04/2020  12  10/04/2020  15


af irma médica

 18/04/2020  50

Comentários sobre o post


HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 10/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
3 comentários Classificar por Mais recentes

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 


Adicione um comentário...

Re de Souza
Excelente!!!!!!
Curtir · Responder · 41 sem

Cida Montes
Excelente muito elucidativo
Curtir · Responder · 49 sem

Elza Ribeiro
Muito bom!
Curtir · Responder · 1 a

Plugin de comentários do Facebook

Últ im as P os t ag e n s

Morre, aos 95 anos, Dona Neném, baluarte da Portela

 05/05/2020  439

 Em SP, ris co de morte de n egros por cov id-19 é 62% maior em relação aos bran cos

 Comis s ão Futuros da Educação recomen da plan ejamen to para reduz ir des igualdades após COVID-19

 Coron av írus : por que algun s pacien tes já recuperados voltam a ter tes te pos itivo para cov id-19, s egun do OMS

HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA


https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 11/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
 Jus tiça determin a que GDF apres en te es truturação da Secretaria da Mulh er

 Man de n otícias

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

Ar t ig os m ais v is t os (7d ias )

Qu e m e ra San d ra Mar ia, q u e m or re u p orq u e u m h om e m n ão q u e r ia

u s ar m ás cara

 02/05/2020  72.7K

Em con v e r s a com Naom i Cam p b e ll, Se re n a e Ve n u s William s iron iz am

racis m o n os EUA: ‘Tod o o m u n d o t e m q u e s e r am ig o d a v e n ce d ora’

 01/05/2020  4.9K

Fr ib u rg o p e rd e o m ú s ico Ne g o Dé p ara a Cov id -19

 03/05/2020  3.5K

15 s it e s p ara b aix ar liv ros g rat u it am e n t e

 01/12/2014  3.1K

P M af as t a 12 p oliciais p or m or t e d e rap az q u e ag u ard av a e n t re g a d e

lan ch e e m f av e la d e SP

 29/04/2020  2.8K

In s t ag ram


HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 12/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

 SIGA O PORTAL

Twit t e r

Tweets por @geledes


Geledés Instituto da Mulher Negra
@geledes
Em duas semanas, número de negros mortos por coronavírus é cinco vezes maior no
Brasil#Geledes #Coronavírus #Covid19ow.ly/yAUc50zBDZ6


HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 13/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
Face b ook

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 


Geledés Instituto da Mulher…
646.307 curtidas

Curtiu Saiba mais

Você e outros 1.687 amigos curtiram isso

Geledés Instituto da Mulher


Negra
há 11 horas

"Levantamento da Pública mostra que


mortes e hospitalizações de pretos e pardos
sobem mais que em brancos; em São Paulo,
recorde de mortes ocorre onde população
negra é maior"
#Geledes #Coronavírus #Covid19

 FACEBOOK  TWITTER  INSTAGRAM  YOUTUBE

Ge le d é s In s t it u t o d a Mu lh e r Ne g ra

Geledés

Geledés Instituto da Mulher Negra fundada em 30 de abril de 1988. É uma organização da sociedade civil
que se posiciona em defesa de mulheres e negros por entender que esses dois segmentos sociais
padecem de desvantagens e discriminações no acesso às oportunidades sociais em função do racismo e
do sexismo vigentes na sociedade brasileira.

HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA
https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 14/15
10/05/2020 Carta Aberta ao Ziraldo, por Ana Maria Gonçalves - Geledés
HOME GELEDÉS  QUESTÕES DE GÊNERO  QUESTÃO RACIAL  EM PAUTA

DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITOS  ÁFRICA E SUA DIÁSPORA 

Mor re , aos 95 an os , Don a Ne n é m , b alu ar t e d a P or t e la

 05/05/2020

Em SP, r is co d e m or t e d e n e g ros p or cov id -19 é 62 % m aior e m

re lação aos b ran cos

 05/05/2020

Com is s ão Fu t u ros d a Ed u cação re com e n d a p lan e jam e n t o p ara

re d u z ir d e s ig u ald ad e s ap ós COVID-19

 05/05/2020

1997 - 2020 | Portal Geledés


https://www.geledes.org.br/carta-aberta-ao-ziraldo-por-ana-maria-goncalves-2/ 15/15

Você também pode gostar