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“Do patriarcado da miséria à escrevivência”: o pensamento de

Sueli Carneiro e Conceição Evaristo.

Claudia Kathyuscia
Claudinha.ciso@gmail.com
Conteúdo:
 As origens interseccionais de Conceição Evaristo e Sueli Carneiro;
 Do patriarcado da miséria à escrevivência;
 A importância histórica das matriarcas negras brasileiras;
As origens interseccionais de Conceição Evaristo e Sueli Carneiro

 “A discriminação racial nos alcança nos lugares e momentos mais improváveis e, por mais
que tenhamos criado uma espécie de couraça para segurar essa violência, descobrimos
nossa fragilidade e que nunca estamos preparados” (Thereza Santos, 2008)
 Trajetórias marcadas por caminhos solitários e do silêncio
• Ser “audaciosa” - Bell Hooks;
• “A liberdade é uma luta constante” – A. Davis;
 O lugar de fala de Sueli Carneiro e Conceição Evaristo;
• “minha consciência da luta feminista foi estimulada pela circunstância social” (Bell Hooks,
1981);
• Ambiência da Oralidade;
• O cotidiano vivido como força motriz de produção epistêmica;
Sueli Carneiro, nossa Geledés
( "nossas mães“ - awon iya wa)

Fonte: Pinterest (2020)


 70 anos. Doutora em educação pela USP. Filósofa e educadora.
 Porta-voz do movimento institucional de mulheres negras com a fundação do Instituto da
Mulher Negra – Geledés – em 1988;
 “(...) Diria que ocuparmos esses espaços é revolucionário. Poderia ser qualquer uma de
nós. O faço, então, pelas mulheres negras” (Sueli Carneiro, in: entrevista a Revista
Cult/maio-2017);
 O papel de enegrecer o movimento feminista – Sueli Carneiro
• “nós, mulheres negras, somos a vanguarda do movimento feminista nesse país”;
• Outras narrativas feministas a partir da nossa história;
• Prenúncio da interseccionalidade;
• A militância antirracista como um propósito de vida
O pensamento teórico de Sueli Carneiro*
 “Carneiro pergunta: seria a identidade feminina, historicamente constituída, a mesma
para todas as mulheres? A pergunta visa interpelar a realidade de parte das mulheres
negras, que não se reconhece nos estereótipos associados à feminilidade. Ao contrário dos
supostos seres frágeis e confinados ao espaço doméstico, as mulheres negras fazem parte
de um contingente escravizado, que trabalhou nas lavouras e nas ruas como vendedoras,
quituteiras, prostitutas, empregadas domésticas”
 “A noção de “feminismo negro” é desenvolvida em trabalhos como Organização
Nacional das Mulheres Negras: Desafios e Perspectivas (1988), Construindo
Cumplicidades (2001), além de Enegrecer o Feminismo: a situação da mulher negra na
América Latina a partir de uma perspectiva de gênero (2003)”
 “Sua produção intelectual inspira-se em conceitos de Michel Foucault (1926-1984),
sobretudo os de “dispositivo” e de “biopoder”, para tematizar como políticas públicas,
instituições e discursos científicos corroboram e reiteram a condição subalternizada das
mulheres negras no Brasil; particularmente, desenvolve a ideia de “dispositivo de
racialidade”, que opera pela naturalização papéis sociais.”

* BARTHOLOMEU, Juliana S. S. 2019. "Sueli Carneiro". In: Enciclopédia de Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo,
Departamento de Antropologia.
Conceição Evaristo e a posse da palavra

Fonte: Pinterest (2020)


A escrevivência enquanto filosofia de vida poética

Contextualizar a vida e a obra da fundadora da palavra: a escritora negra Conceição


Evaristo*
 A autora nasceu na periferia de Belo Horizonte, negra e de origem pobre, mudou-se para o
Rio de Janeiro em busca de trabalho. No Rio de Janeiro, formou-se em Letras, e alguns
anos mais tarde, fez Mestrado e Doutorado na área de Literatura.
 Apesar de escrever desde a juventude, Evaristo só começou a publicar aos 44 anos, em
1990, numa série de antologias de Cadernos Negros da editora Quilombhoje. Seu primeiro
romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado em 2003. Posteriormente, foram publicados
Becos da memória (2006) – esse romance levou 20 anos de espera para ser publicado.
Além de Poemas da recordação e outros movimentos (2008), Insubmissas lágrimas de
mulheres (2011), Olhos d’água (2014) e Histórias de leves enganos e parecenças (2016).
 Suas principais temáticas, geralmente, englobam a memória, a condição do negro, em
especial, da mulher negra, a luta e a resistência, o legado histórico e os reflexos da
escravidão.

*NotaTerapia (2019). Disponível em: http://notaterapia.com.br/2019/11/05/confira-os-10-melhores-poemas-de-conceicao-evaristo/


O pensamento teórico de Conceição Evaristo
 A escrita que nasce do cotidiano, das lembranças, da experiência de vida da própria pessoa que
escreve, é a definição de Escrevivência para a Conceição Evaristo (2007; 2011).
 Palavra poética é um modo de narração do mundo. Pela palavra poética inscreve-se, então, o
que o mundo poderia ser (EVARISTO, 2011).
 “Todo indivíduo e toda coletividade têm direito ao seu auto pronunciamento, têm direito de
contar/cantar a sua própria história”(EVARISTO, 2011, p. 09).
 Para quem sempre esteve à margem e no crivo do epistemicídio, a escrita acadêmica torna-se
um lugar de transgressão (“trânsfuga de classe”).
 “para não redigir seu cotidiano, mas, sobretudo, possibilitar a criação poética (...) outra
interpretação da história a um relato que, anteriormente, só trazia o selo do colonizador”
”(EVARISTO, 2011, p. 90).
 Gramática do cotidiano: “minha escrita só toca porque ela tem o sabor da vida” – Conceição
Evaristo, in: Ocupação Itaú Cultural (2017).
 Papel de sermos intelectuais negras diaspóricas (sentido de vida ou “cuidado de si”).
Considerações finais ou o legado das nossas mais velhas

Atravessar o epistemicídio:
escrevivência/palavra
poética/ gramática do
Cuidado de si – sentido cotidiano/ tornar-se
ancestral da vida – intelectual negra diaspórica
r.existência
Patriarcado da miséria
(dispositivo da
racialidade/biopoder)
Referência bibliográfica
 BARTHOLOMEU, Juliana S. S. 2019. "Sueli Carneiro". In: Enciclopédia de
Antropologia. São Paulo: Universidade de São Paulo, Departamento de Antropologia.
Disponível em: <http://ea.fflch.usp.br/autor/sueli-carneiro>
 CARNEIRO, Aparecida Sueli; FISCHMANN, Roseli. A construção do outro como não-ser
como fundamento do ser. 2005.Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005 (tese de
doutorado).
 EVARISTO, Conceição. Da grafia-desenho de minha mãe, um dos lugares de nascimento
de minha escrita. In: Alexandre, Marcos A. (org.) Representações performáticas brasileiras:
teorias, práticas e suas interfaces. Belo Horizonte: Mazza Edições, p. 16-21, 2007.
 _____. Cadernos Negros, São Paulo, v. 18, 1995.
 _____. Poemas malungos: cânticos irmãos. 172 p. Tese (Doutorado em Literatura
Comparada) – UFF, Niterói, RJ, 2011.
 OCUPAÇÃO CONCEIÇÃO EVARISTO. São Paulo: Itaú Cultural, 2017.
 SANTOS, T. Malunga Thereza Santos: a história de vida de uma guerreira. São Carlos
EdUFSCAR, 2008.

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