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jeferson miola

análise, opinião

Genocídio documentado

22 DE JANEIRO DE 202122 DE JANEIRO DE 2021 ~ JEFERSON MIOLA


Jeferson Miola

O crime de genocídio cometido por Bolsonaro e seus militares está documentado no estudo
Mapeamento e análise das normas jurídicas de resposta à COVID-19 no Brasil
(https://www.conectas.org/wp/wp-content/uploads/2021/01/Boletim_Direitos-na-
Pandemia_ed_10.pdf), elaborado pelo CEPEDISA [Centro de Pesquisas e Estudos de Direito
Sanitário] da Faculdade de Saúde Pública da USP com a ONG Conectas Direitos Humanos, e
coordenado pela professora da Faculdade de Saúde Pública da USP Deisy Ventura.

Este abrangente trabalho, publicado no Boletim Direitos na Pandemia nº 10


(https://www.conectas.org/wp/wp-content/uploads/2021/01/Boletim_Direitos-na-
Pandemia_ed_10.pdf) do CEPEDISA, catalogou e analisou 3.049 normas concernentes à
pandemia expedidas pelo governo federal entre março de 2020 e janeiro de 2021, assim como
declarações de agentes públicos acerca do tema, sobretudo o presidente Bolsonaro.

Para os autores, esta “inflação normativa reflete o descalabro da resposta brasileira à


pandemia”, e “corrobora a ideia de que onde há o excesso de normas há pouco direito”.

“O que nossa pesquisa revelou é a existência de uma estratégia institucional de propagação do


vírus, promovida pelo governo brasileiro sob a liderança da Presidência da República”,
concluem.

Esta estratégia institucional se materializa com a intervenção do governo Bolsonaro em três


planos: [1º] por meio da enorme profusão [inflação] de atos normativos federais, [2º] através
da sabotagem e “obstrução às respostas dos governos estaduais e municipais à pandemia”, e
[3º] mediante “propaganda contra a saúde pública” com “notícias falsas e informações técnicas
sem comprovação científica, com o propósito de desacreditar as autoridades sanitárias,
enfraquecer a adesão popular às recomendações de saúde baseadas em evidências científicas, e
promover o ativismo político contra as medidas de saúde pública”.

O relatório da pesquisa afirma que “os resultados afastam a persistente interpretação de que
haveria incompetência e negligência da parte do governo federal na gestão da pandemia. Bem ao
contrário, a sistematização de dados, ainda que incompletos em razão da falta de espaço para
tantos eventos, revela o empenho e a eficiência da atuação da União em prol da ampla
disseminação do vírus no território nacional” – ação dolosa, portanto.

A pesquisa fez um inventário da abundância de normas – portarias, resoluções, instruções


normativas, medidas provisórias, decisões, leis, decretos – numa linha cronológica desde o
início da pandemia.

Os atos oficiais deste período, alguns alterados/anulados judicialmente ou pelo Legislativo,


estabelecem o nexo das medidas governamentais com o atentado contra a saúde e a vida
humana, em especial das populações indígenas, quilombolas e demais povos tradicionais.

A denúncia de crime de genocídio, cada vez mais repetida no debate público e inclusive
vocalizada pelo ministro da Suprema Corte Gilmar Mendes, fica consubstanciada com este
estudo do CEPEDISA/Conectas.

O desmanche da excelência técnica e institucional do SUS e a colonização do ministério da


saúde por militares e figuras notoriamente ineptas, incompetentes e irresponsáveis – como o
general-ministro da morte – mantidas nos cargos mesmo com os sinais gritantes de fracasso e
com os efeitos mortíferos da gestão, deixa claro que não há improviso. Trata-se de um plano
metódico do governo para alcançar tais fins.

O estudo recorda que o estágio ridículo da vacinação no Brasil, muito atrasado em relação a
mais de 60 países do planeta, não é obra do acaso, mas consequência das escolhas criminosas
do próprio Bolsonaro.

Em 15 de agosto passado, ele recusou proposta do laboratório Pfizer que previa entregar lotes
de imunizantes a partir de 20 de dezembro. E, em 20 de outubro, Bolsonaro desautorizou a
compra de 46 milhões de doses da Coronavac pelo ministério da saúde.

Embora o Brasil possua 2,7% da população mundial, responde por 10,4% do total de mortes
por COVID de todo o mundo – um verdadeiro morticínio programado, porque dezenas de
milhares destas vidas humanas perdidas poderiam ter sido salvas, se o governo não tivesse a
intenção, com as políticas e decisões criminosas que adotou, de deixá-las morrer.

O genocídio está documentado. Na linha de frente desta guerra de extermínio estão um ex-
capitão e um general ainda vinculado ao serviço ativo do Exército Brasileiro; realidade que
inevitavelmente vincula as Forças Armadas de modo direto ao morticínio.

Para interromper a continuidade desta hecatombe é urgente o impeachment do Bolsonaro e o


imediato retorno dos militares aos quartéis, de onde nunca deveriam ter saído para conspirar
contra a democracia, destruir a soberania nacional e atentar contra a vida do povo brasileiro.
Publicado por jeferson miola

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