Você está na página 1de 5

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

DO RIO GRANDE DO NORTE - CAMPUS CAICÓ

Política de combate a covid-19 durante o governo Bolsonaro

Camille Cibelle De Medeiros


Cecília Sousa De Medeiros
Esterfany Eduarda Silva de Araújo
Manoel Murilo de Medeiros Filho

Caicó - RN
2023
A política é o elemento base do regimento social, pois é através dela que nações são dirigidas
e as mediações entre elas, em âmbito internacional, são precedidas. Sob essas circunstâncias
existem importantes conceitos que explicam as inerentes formas de como o poder político opera. Por
exemplo, forma de governo é a estrutura que define como o poder do Estado será instituído em
determinada sociedade, e segundo Aristóteles existem seis formas, que são chamadas de clássicas
e divididas em duas categorias, legítimas (monarquia, aristocracia e democracia) e ilegítimas (tirania,
oligarquia e demagogia); ou sistema de governo, que são sistemas pelos quais o poder político é
organizado e exercido na sociedade, como, por exemplo, o presidencialismo - o líder do poder
executivo desempenha função tanto chefe político quanto chefe de Estado. Esses conceitos são
determinados e implementados por cada nação de acordo com seu processo histórico, constituindo
assim sua própria forma de organizar a política, ou seja, quais serão seus sistema político e forma de
governo. O Brasil, por exemplo, é uma república democrática presidencialista, que em termos gerais
significa dizer que o poder político está concentrado na mão do povo que o exerce de forma indireta,
e esse exercício é regido pela tripartição do poder, conceito formulado por Montesquieu (1689-1755).

Assim como em outros territórios, a formação política do Brasil foi produto de uma extensa e
complexa construção histórica, sobrevinda da diversidade cultural presente em sua formação social.
Atualmente, o país é uma república democrática presidencialista, isso significa, como já mencionado,
que o poder está concentrado na mão do povo e ele é regido de forma indireta, por representantes
políticos, seguindo a Constituição de 1988. Esse exercício indireto é conduzido pela tripartição -
executivo (presidente, chefe de estado e de governo), legislativo(Congresso Nacional) e judiciário
(órgãos da justiça que regulamentam as leis e obedecem a Constituição) e a hierarquização -
municipal, estadual e federal, sequencialmente - do poder, esses poderes trabalham de forma
independente mas correlacionados, um regulamenta o outro, como constituído no federalismo. A
Constituição funciona como um documento que legitima o Estado democrático de Direito, pois nela
estão instituídos os direitos dos cidadãos, as leis que regem o país e a maneira como esse regimento
deve acontecer.

Nesse contexto, ter um governo negligente perante um estado de emergência em que a


população carece de apoio, representa que teoria e prática não estão alinhadas.

No fim de 2019 foram relatados os primeiros casos do que viria a se tornar, meses depois, a
pandemia do covid-19, um quadro que afetou de maneira abrupta toda a população mundial,
fragilizando não apenas os sistemas de saúde, como também a política e as diretrizes sociais em
cada sociedade afetada pela doença, foram milhões de mortes e sequelas que perpetuam até os dias
atuais.

A logística de tratamento utilizada por cada país apresentaram distinções entre si, no entanto,
todas deveriam seguir os critérios estabelecidos pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e serem
implantadas baseada no contexto do território e de acordo com as particularidades da população,
ainda com o objetivo de amenizar os efeitos da doença enquanto os cientistas e outros profissionais
da saúde trabalhavam em uma possível cura ou retardação. Todos os países afetados trabalharam
dessa forma, exceto o Brasil.

As medidas preventivas anunciadas pela OMS eram: isolamento social, uso de máscara e do
álcool em gel 70%, elas deveriam ser decretadas como medidas de emergência pelos governos e
seguidas à risca a fim de refrear as contaminações, fato esse que não sucedeu no Brasil, pois o
Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, considerava a doença como uma “gripezinha” e
descartou as medidas sanitárias, promovendo uma política negacionista que suscitou não apenas
em um maior número de pessoas infectadas pela covid-19, mas também no aumento exponencial no
número de óbitos.

Ante essa situação, outros representantes de políticos, governadores - representantes


estaduais - e prefeitos - representantes municipais - tiveram que “tomar a frente” na situação e
entraram com uma ação na justiça, requisitando ao poder judiciário a autorização para que fossem
decretadas as medidas sanitárias em estados e municípios. O STF (Supremo Tribunal Federal) -
órgão supremo do judiciário - autorizou as medidas previstas na requisição, então estados e
municípios poderiam decretar o isolamento social. Em virtude de como o poder político funciona no
Brasil, o STF cumpre os artigos da Constituição de 1988, e a partir deles regulariza os poderes
executivo e legislativo. Outro ponto é que, assim como foi autorizado que estados e municípios
poderiam decretar as normas sanitárias, apesar da decisão do executivo, também foi decretado que
o executivo federal acelerasse a vacinação na população, visto que o Brasil, mais uma vez, era um
dos poucos países que não havia garantido o acesso da vacina contra covid-19 à população devido
às medidas procedidas pelo executivo, e o que já era uma conjuntura nocente em todo país, tornou-se
ainda mais agravante para a população indígena.

O povo indígena é submetido aos domínios dos homens brancos há mais de 500 anos desde
a colonização do Brasil, ou seja, não é a primeira vez que indígenas adoecem e morrem “aos montes”
por motivos externos à sua comunidade. Os primeiros casos aconteceram quando os colonizadores
trouxeram até então doenças desconhecidas para os nativos, como sarampo e gripe, situação que
culminou em milhares de mortes, pois não se tinha conhecimento de como tratar as doenças. Então,
500 anos depois é presenciada uma conjunção semelhante com os poucos nativos que ainda
sobrevivem no território, milhares de indígenas mortos pela covid-19, devido às condições precárias
de vida, reflexo da negligência do Estado. Durante a pandemia o governo federal não prestou
assistência necessária a esses povos e em face desse cenário a Apib (Articulações dos Povos
Indígenas no Brasil) e alguns partidos da oposição denunciaram o governo federal ao STF , que por
unanimidade de seus ministros partiu com uma ação para que a gestão do governo Bolsonaro “entre
outras medidas de proteção dos indígenas, formasse barreiras sanitárias na entrada de seus
territórios, para garantir o isolamento social, e expulsasse os ocupantes ilegais dessas áreas, por
serem vetores em potencial da covid-19.” (Fonte: Agência Senado).

Outra questão a ser levantada é como o Supremo teve que interferir, novamente, nas políticas
públicas de saúde, uma vez que a vacinação para as crianças estava sendo vetada pelo governo
federal. Além da notória corrupção acometida na compra de vacinas, que teve como consequência a
formação de uma CPI para investigar o caso, houveram as lacunas no pedido dos lotes, isto é, não
foram compradas as quantidades necessárias para uma imunização satisfatória, juntamente com o
fato da política negacionista do governo, já que mesmo após a vacinação se tornar obrigatória para
toda população, decisão decretada também pelo STF, ainda houve apelo quando chegou o momento
de começar a campanha de vacinação das crianças, graças ao barramento do governo federal e
disseminação de discursos sobre falsos efeitos da vacina.

Ao decorrer dos fatos apresentados é evidente a importância da organização política do país


e o papel do poder judiciário, nesse caso, do Supremo Tribunal Federal no regimento da política
interna. O STF tem como função principal cumprir os artigos presentes na Constituição de 1988,
como está previsto no Art. 102o da mesma, e no contexto da pandemia no cenário brasileiro, o
principal garantir que o direito à vida fosse cumprido, como também é previsto no Artigo 5o. O órgão
judiciário agiu em defesa de um direito que estava sendo completamente desrespeitado pelos
discursos de ódio, a política negacionista e a corrupção.
A maioria das ações relapsas acometidas pelo chefe do executivo constam como
inconstitucionais, pois segundo o Art. 85o, na seção III, inciso III: “ São crimes de responsabilidade
os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição Federal e, especialmente,
contra: o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais” e a saúde é um desses direitos,
inclui-do pelo Art. 196o : A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. Essas ações
constam como desvios que os agentes políticos, nesse caso, o agente político comete.

O poder no Estado democrático de Direito tem uma razão para estar disperso em uma
tripartição, é uma forma de impedir qualquer tipo de privilégio ou uso indevido do poder e garantir que
os artigos constitucionais sejam cumpridos, isto é, garantir a cumprição da norma, pois mesmo
quando houverem esses desvios da normalidade, ainda terá os outros dois poderes para regularizar a
situação, uma vez que a lei está a serviço da sociedade para controlar o poder do Estado. O problema
é que boa parte da sociedade não dispõe de um conhecimento satisfatório sobre essas leis, o que
culmina nos diversos desvios que impactam a população continuamente.

Esse contexto de normalidade e seu desvio se adequa a distinção entre normal/norma e


patológico submetida pelo sociólogo Émile Durkheim. Em termos práticos, o Direito é a norma que se
institui, no caso a lei, e o patológico seria o desvio daquela lei, nesse caso os atos inconstitucionais,
decorrentes, geralmente, de fatores como poder e prestígio, e esses abusos de poder são modulados
de diversas formas, como, com a corrupção - a compra de vacinas sendo prolongada por tempo
desnecessário e sendo atribuídas a ela um valor acima do referente, isso consta como uso indevido
do dinheiro público e negligência com a saúde pública advinda de uma política negacionista e um
governo corrupto e “sigiloso”.
REFERÊNCIAS:

https://www12.senado.leg.br/noticias/infomaterias/2020/08/atingidos-pela-pandemia-indigenas-con
tam-seus-mortos-e-acusam-governo-de-omissao

Dimenstein, Gilberto. Rodrigues, Marta. Giansanti, Alvaro. Dez lições de sociologia: para um Brasil
cidadão. Guarulhos - São Paulo. Parque Gráfico da Editora FTD, 2011.

Você também pode gostar