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O PODER JUDICIÁRIO E A CONSOLIDAÇÃO DO DIREITO À SAÚDE

José Jander Dias Ferreira Junior 1, Ledson


Glauco Monteiro Catelan 2

RESUMO
Com a Constituição Federal de 1988 o Brasil iniciou uma nova fase de proteção social,
confirmou o Estado Democrático de Direito contemplando de forma ampla uma política de
proteção social, sendo a saúde um direito social de cidadania e diretamente ligado a dignidade
da pessoa humana. Um conjunto de leis, portarias, decretos administrativos buscam garantir
desde sua promulgação, o modelo desenhado pelos constituintes originários. Atualmente, a
efetivação do direito à saúde não passa somente pela relação existente entre sociedade, que é a
demandante, e Estado o responsável pela política através do executivo ou resolução de conflitos
por meio do judiciário. As Instituições jurídicas, tem se preocupado cada vez mais sobre as
questões de saúde, entretanto, esta preocupação tem se mostrado como sendo “uma faca de dois
gumes” para o Sistema Único de Saúde – SUS. Enquanto de um lado instituições jurídicas
potencializam e qualificam as deliberações podendo contribuir para intensificar estratégias de
consolidação do direito à saúde, por outro lado, estas mesmas instituições podem suprimir os
mecanismos participativos ou podem abalar a gestão continuada do SUS. Neste contexto, à
medida que o judiciário se fortalece no Brasil assumindo a efetivação do direito à saúde, torna-
se necessário questionar: Será que o SUS realmente estaria sendo efetivado por este Poder? Tal
questionamento revela contradições e problemas não mensurados no âmbito legal do SUS. Com
essa visão a pesquisa realizada discute sobre poder judiciário e a consolidação do direito a saúde
como garantia constitucional.

Palavras-chave: Efetivação a saúde; Direito a saúde; Judiciário e o SUS; Judicialização da


saúde; Dignidade da pessoa humana

1 INTRODUÇÃO

Saúde a despeito de ser um direito fundamental e a sua efetivação decorrer da


dignidade da pessoa humana, quanto direito não é algo facilmente perceptível, correspondendo
a um processo que começa com a saúde constituída no início do século XX como benefício,
com intervenções radicais do Estado, as quais inclusive ensejam a revolta mais famosa
denominada revolta da vacina. (Sevcenko, 2018)

1
Mestrando em Direitos Difusos e Coletivos na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), e-mail:
josejanderdf@gmail.com;
2
Mestrando em Direitos Difusos e Coletivos na Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), e-mail:
ledsoncatelan@gmail.com
Posteriormente, a partir da década de 70 a ideia de saúde é relacionada ao serviço
privado, quando começam os planos de saúde e se intensificam logo nas décadas posteriores,
sendo universalizada por meio da Constituição Federal de 1988, como direto de todos os
cidadãos e dever do Estado, garantindo assim o estado de “bem-estar social”. Logo, ela enseja
uma atitude positiva do Estado para efetivar os direitos dos cidadãos com serviços, exames,
tratamentos, construção de postos de saúde, dentre outros. (COSTA, 2019)
As intervenções judiciais para consolidar o direito à saúde têm-se intensificado nos
últimos anos, por conta principalmente da ineficiência do Estado ao cumprir sua obrigação
constitucional em garantir políticas públicas eficientes assegurando o direito à saúde da
população.
O presente artigo encontrou relativa dificuldade para produção, em função da pouca
bibliografia jurídica que toca sobre princípios constitucionais do Sistema de Saúde relacionando
ao acesso a saúde e as consequências no orçamento principalmente nos municípios que são os
mais próximos da população.
Portanto, a pesquisa bibliográfica buscou relacionar o fenômeno da judicialização da
saúde sob a interpretação dos princípios constitucionais do equilíbrio orçamentário com os
princípios informadores do SUS.

2 O DIREITO A SAÚDE E CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988


Os Estados Democráticos em sua maioria definem em seus textos constitucionais os
direitos fundamentais, sendo assim pelo caráter normativo são direitos com aplicação imediata.
(ABBOUD; CARNIO; OLIVEIRA, 2020. p. 391)
No artigo 6º da constituição não está especificado quem seriam os titulares dos direitos,
portanto entende-se que todos os que precisam obter acesso à saúde são titulares dos direitos,
assim Leonardo Martins e Dimitri Dimoulis seguem a ideia dos direitos fundamentais como
sendo direito que alcança a todos.
Alcançar o direito fundamental à saúde, mencionado nos artigos 6º e 196 da
constituição federal de 1988, está dependente de ações positivas do Estado, sejam normativas
ou materiais, e por ser um direito social carece da tutela Estatal. Deste modo, as sentenças
jurídicas quando se tratar de saúde ou tutela desse direito, se apoiadas no modelo proposto por
Alexy, devem atingir um parâmetro racional de fundamentação. (GANDINI; BARIONE;
SOUZA, 2010.)
Assim a plenitude dos direitos sociais e a garantia da concreção, podem ser atingidas
observando o desenvolvimento histórico da sociedade a evolução e a dimensão
extraconstitucional dos direitos fundamentais. (ABBOUD; CARNIO; OLIVEIRA, 2020. p.
393)

3 A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA, A JUDICIALIZAÇÃO E A


(I)LEGITIMIDADE DO JUDICIÁRIO
O reconhecimento inicial da dignidade da pessoa humana como um direito subjetivo
que deve ser compreendido ser a pessoa titular de um direito universal que permite que os
direitos humanos forme, ou deveria formar na atualidade um aspecto jurídico no sentido de
observar necessariamente uma estrutura de poder dever que se submete ao império do
“tratamento de todos os seres humanos como livres, iguais, solidários e dignos” O
desenvolvimento da noção de direitos humanos configura uma história de confrontação e de
luta incessante pelos valores da humanidade, em que o poder imposto aos homens e sua
organização em comunidade, povos e Estados, foi se perdendo nas batalhas sob a ordem da
liberdade, igualdade e solidariedade (fraternidade) dos seres humanos, que se rebelaram
guiados pelas luzes da razão e dos valores e sentimentos compartilhados”. (SILVEIRA,
ROCASOLANO, MENDEZ. 2010. pp.21-2).
Nesse corolário, a questão do acesso à justiça vem sendo tratado como princípio
fundamental relacionado aos direitos humanos e dignidade da pessoa humano.
Contudo, há de se observar que ao longo dos tempos, após a Constituição Federal de
1.988, que instituiu os Três Poderes da República, harmônicos e independentes o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário, vem o Legislativo se posicionando no sentido de restringir os limites
de atuação do Judiciário.
Não obstante, a discussão sobre a legitimidade, ou ilegitimidade dos agentes do
judiciário para dirimir tal atuação sem que tenham passado pela peneira de uma eleição, ou seja,
sem o crivo dos eleitores para dar guarida a um mandato eivado de autoridade da população
para decidir em seu nome por acreditar que tal ou qual magistrado tem o condão da sapiência
para decidir ou agir em nome de uma sociedade.
Logo o que há de mais concreto, é que desde o final da Segunda Guerra Mundial, com
maior frequência os países ocidentais têm avançado no sentido de buscar uma justiça
constitucional frente a política majoritária, que no caso se refere ao âmbito dos Poderes
Legislativo e Poderes Executivos.
Aparentemente, quando se olha de fora, há uma certa harmonia, sem o sentimento
imanente do patriota que vive em um país, sem o sentimento de desejo individual que as
Supremas Cortes decidam a favor ou contra de determinado caso. Mas se o cidadão se sentir
aviltado por determinada decisão, no sentido que tal caminho decisório não reflete seus anseios
particulares e nem que aquele fim reflete o que ele acredita ser o caminho ideal a ser tomado
por seu país, estado ou município.
Porque quando há esse sentimento diante de um processo eleitoral, o sentimento que
fica é que a maioria escolheu aquele determinado político que irá compor por pelo menos 04
(quatro) anos os Poderes Executivos e Legislativos, e que há que esperar um próximo processo
para então buscar que seus valores e anseios sejam atendidos por um outro personagem. Há um
sentimento que deve ser democrática e se sucumbir aos anseios da maioria popular.
Vale dizer que o ativismo judicial está calcado nos aspectos de uma delegação por
parte dos Poderes Legislativo e Executivo, sob a análise de que há necessidade da ação do
judiciário quando tais poderes se mostrarem ineficazes, inaptos, omissos, para resolverem
questões de políticas públicas.

4 CONCLUSÕES
Movido pelas necessidades do ser humano as quais são infindas, o Poder Judiciário
iniciou a jornada como assegurador dos direitos constitucionais, considerando-se que os
Poderes Executivo e Legislativo não obtiveram êxito na efetivação plena do direito à saúde,
seja pela letargia em implementar políticas públicas de saúde preventiva ou decidir sobre a
problemática, seja pela prestação deficitária dos serviços, culminando na judicialização da
saúde.
Todavia, o Poder Judiciário não pode atuar como o ordenador de despesas, atraindo
para si a responsabilidade de distribuir os recursos destinados à saúde, por meio de suas decisões
judiciais, tornando assim impossível o planejamento do orçamento público para gestão do
Estado.
É evidente a função importantíssima que o Judiciário tem para garantir a efetivação
das normas constitucionais suprindo assim as omissões do Estado, porém, importa que essa
atuação seja harmoniosa entre os três poderes, de acordo com a constituição, visando garantir
o direito à saúde a todas as pessoas de forma igual, desta forma os recursos públicos podem ser
destinados com equidade e eficiência, de acordo com as necessidades da população nas diversas
classes sociais e das demandas individuais por meio de ações judicial em busca do
medicamento, cirurgia, leite ou fralda, obtendo o igualdade social e conseguinte efetivação do
direito à saúde.

4 REFERÊNCIAS
ABBOUD, Georges; CARNIO, Henrique Garbellini; OLIVEIRA, Rafael Tomaz de.
Introdução ao Direito: teoria, filosofia e sociologia do direito. 5. ed. São Paulo: Thomson
Reuters Brasil, 2020.

ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. 5. ed. São Paulo: Malheiros, 2015.
Tradução Virgílio Afonso da Silva.o

COSTA, Alexandre Bernardinho. O Direito achado na rua: introdução crítica ao direito à


saúde. Brasília: UNB, 2009. 4 v

DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria Geral dos Direitos Fundamentais. 2ª


Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.

GANDINI, João Agnaldo Donizeti; BARIONE, Samantha Ferreira; SOUZA, André


Evangelista de. Judicialização do direito à saúde: prós e contras. In: BLIACHERIENE,
Ana Carla; SANTOS, José Sebastião do (org). Direito à vida e à saúde: impactos
orçamentário e judicial. São Paulo: Atlas, 2010.

SILVEIRA, Vladmir Oliveira da; ROCASOLANO, María Mendez. Direitos humanos:


conceitos, significados e funções. São Paulo: Saraiva, 2010. pp.21-2

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