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Foi nesse período que as idéias de Juan César García, o principal teórico e
grande articulador da medicina social na América Latina, penetraram nos
meios acadêmicos brasileiros. Sua abordagem se contrapunha à "concepção
positivista de uma ciência universal, empírica, atemporal e isenta de valores",
uma abordagem médico-social fundada na percepção do caráter político da
área da saúde (García apud Escorel, 1998: 26).
O Projeto Montes Claros (MOC) foi uma experiência que incorporou na sua
prática os conceitos de regionalização, hierarquização, administração
democrática e eficiente, integralidade da assistência à saúde, atendimento por
auxiliares de saúde e participação popular. Concebendo a prática da medicina
sob a ótica da ação política, o projeto MOC provou que as propostas do
movimento sanitário eram exeqüíveis, inclusive, por sua capacidade de
articulação com diferentes forças sociais. Adotando como estratégia básica
executar o possível, ainda que às custas da diminuição de seu âmbito inicial,
o MOC teve um papel ideológico agregador, constituindo-se em objeto de
estudo para um bom número de pesquisadores dos movimentos sociais
interessados pela articulação 'saúde e organização política' (Escorel, 1999).
José Saraiva Felipe, ao falar da sua experiência no MOC, dez anos depois,
asseverava:
Embora se discuta que o Suds teria significado a interrupção das AIS, deve-se
dizer que a proposta de um sistema unificado e descentralizado tinha a
pretensão de garantir a viabilidade de direcionar os recursos federais para os
municípios, sem que estivesse explicitada uma política de municipalização.
Pode-se dizer que o Suds foi norteado pelo princípio de que os recursos
federais devessem efetivamente realizar o sonhado projeto do movimento
sanitário de real acesso à atenção à saúde, por parte de toda a população. Ao
mesmo tempo, pretendia-se garantir, ao máximo, que os recursos destinados à
saúde não se dispersassem nem fossem apropriados para fins clientelísticos,
eleitorais ou de capitalização de empresas ligadas à área da saúde:
Não foi por acaso que se implantava o Suds, ao mesmo tempo em que se
instalava a Comissão Nacional de Reforma Sanitária (CNRS). O Suds se
constituía numa estratégia-ponte para "a reorientação das políticas de saúde e
para a reorganização dos serviços, enquanto se desenvolvessem os trabalhos
da Constituinte e da elaboração da legislação ordinária para o setor" (Paim
apud Cordeiro, 2004: 13-14). Criada por Portaria Ministerial
MEC/MS/MPAS, n. 2/86, de 22 de agosto de 1986, a Comissão Nacional de
Reforma Sanitária foi considerada, quanto aos seus objetivos e composição,
insatisfatória pelo movimento sanitário.
Referências bibliográficas
AROUCA, S. O Dilema Preventivista: contribuição para a compreensão e
crítica da Medicina Preventiva. São Paulo/Rio de Janeiro: Unesp/Fiocruz,
2003.