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Universidade do Estado de Minas Gerais

Unidade Carangola – MG

Política Social e Serviço Social III

Ano: 2021 - 6º período

Ma. Cynthia Santos Ferrarez

Discente: José Elias da Silva de Souza

Número de matricula: 12-93510

Resumo crítico:

BRAVO, Maria Inês Bravo. Saúde e Serviço Social no Capitalismo: Fundamentos


sócio-históricos. In: BRAVO, Maria Inês Bravo (Org.). Saúde do século XVIII a início
do século XX – Antecedentes da ação estatal. 1ª ed. São Paulo: Cortez, 2013. (p.111-
152)

3 - Saúde e Serviço Social no Brasil: da prática liberal à intervenção do Estado

Neste capitulo a autora Maria Inês Bravo faz uma análise da saúde do Brasil a partir do
século XIII. Segundo Bravo, o nosso país estava sofrendo uma crise sanitária devido a
pestilências e grandes epidemias de doenças como a varíola e febre amarela, e também uma
organização de saúde muito precária. A prática médica se baseava em conhecimentos
tradicionais.

Nesse período a assistência médica era pautada nas formas de filantropia ou na prática
liberal. A metrópole promoveu a criação das Santas Casas de Misericórdia através de acordos,
essas instituições atendiam a população mais pobre, elas eram de natureza religiosa, sem fins
lucrativos. Segundo a autora naquela época houve um aumento no número de alunos brasileiros
matriculados no curso de medicina na Universidade de Coimbra, e também vários médicos
portugueses vieram ao Brasil para exercer a profissão e atividade de pesquisa.
No século XIX ocorrem modificações no âmbito da medicina em relação com a situação
da sociedade. Surgiram duas características relevantes: penetração na sociedade brasileira e
apoio cientifico indispensável ao exercício do poder do Estado. Neste mesmo século as
condições de saúde ainda continuaram péssimas, pois haviam mortalidade elevada e presença
de diversas doenças como: hepatite, lepra, febre amarela e escorbuto. O saneamento era
lastimável, pois não havia rede de esgoto.

Ainda falando da saúde pública, foram estabelecidas normas para vigilância do serviço
profissional e realização de campanhas limitadas. No ano de 1950 surge a Junta de Higiene
Pública, ela era encarregada da conservação da salubridade que incorporava os
estabelecimentos de Inspeção de Saúde dos Portos do Rio de Janeiro e do Instituto Vacínio.

Durante a segunda metade do século XIX surgem as primeiras associações mutuárias,


elas tinham como objetivo ações assistenciais como: serviços médico-farmacêuticos, auxilio
em caso de enfermidade, invalidez, velhice e funerais. Neste mesmo século há profundas
transformações politicas e econômicas, o capitalismo dava modestíssimos passos.

Dando ênfase aos trabalhadores, no período de 1850 a 1920, o movimento operário foi
influenciado por três correntes de pensamento: o trabalhismo, o socialismo reformista e o
anarquismo. A classe trabalhadora reivindicava assistência médica, exigiu que o Estado
construísse hospitais e adotasse medidas previdenciárias para a melhoria da situação de saúde
dos trabalhadores.

Ao perceberem que as péssimas condições sociais era o motivo das doenças que
assolavam os trabalhadores, os anarquistas reivindicaram melhores condições de trabalho e de
vida. Eles se opunham à utilização da força de trabalho infantil nas fábricas e questionavam a
mortalidade precoce dos trabalhadores, os acidentes de trabalho e a falta de segurança de
empregos. Essa ideologia revolucionária também negava o Estado, eles propunham mudanças
profundas no sistema social.

Em relação a saúde aos serviços de saúde, foi instalado uma dualidade administrativa
entre os órgãos federais e estaduais, sem clara definição de atuações e áreas de atuação, essa
dualidade demostrou ineficiência durante a pandemia da peste que assolou o nosso país.

Maria Inês Bravo concorda com Braga (1986) sobre a afirmação que a saúde surge como
“questão social” no Brasil no início do século XX, no bojo da economia capitalista cafeeira,
refletindo o avanço da divisão do trabalho, ou seja, a emergência do trabalho assalariado e
assumindo de forma embrionária a característica de política social.

A “questão social” era considerada “caso polícia”, neste aspecto, ela era tratada com
repressão por parte do Estado. Os governantes e as elites perceberam que essa repressão se torna
insuficiente para atender os problemas colocados pelas classes trabalhadoras, então era
necessário responder as questões “aceitáveis” da movimentação operária, as que não abalavam
à dominação da oligarquia.

Em 1923 foram tomadas algumas medidas em relação as questões de higiene e saúde do


trabalhador, tais medidas se constituíram no embrião do esquema previdenciário brasileiro,
sendo a mais relevante a criação das Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs), a conhecida
Lei Elói Chaves. Os benefícios eram proporcionais às contribuições, foram previstos:
assistência médico-curativa e fornecimento de medicamentos, aposentadoria por tempo de
serviço, velhice e invalidez, pensão para dependentes e auxilio funeral. A maior parte dos
assalariados estava excluída, precisando recorrer, para assistência médica, à precariedade dos
serviços filantrópicos e públicos, aos profissionais liberais ou às formas de medicina popular.

4 - Saúde como objetivo da ação estatal e Serviço Social: 1930 a 1964

Neste capítulo a Bravo aborda as alterações ocorridas na sociedade brasileira a partir da


década de 1930 e as modificações no campo de práticas e valores na Saúde, que ocorrem a
partir dessa época até 1964, e também as determinações para o surgimento e desenvolvimento
do Serviço Social.

A Revolução de 1930 se originou através da desagregação do sistema oligárquico-


coronelístico que predominou durante a República Velha, apoiada na manipulação do voto
rural. Este acontecimento está atrelado ao inicio da industrialização do Brasil, e este processo
gerou novas frações da burguesia e vastas camadas urbanas excluídas do processo político. A
Revolução marcou uma mudança política, com a ruptura da estrutura de poder da Primeira
República e com a instalação de um Estado com maior autonomia relativa diante às frações das
classes possuidoras.

A conjuntura de 1930, através de suas características econômicas e políticas, facilitou o


surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às questões sociais de forma
orgânica e sistemática. As questões sociais em geral, essencialmente as de saúde, já colocadas
na década de 20, precisavam de ser enfrentadas de forma aprimorada.

A autora ressalta que as políticas sociais elaboradas neste período: legislação trabalhista,
que promoveu a garantia de alguns direitos básicos de classe trabalhadora (lei de férias,
proteção a menores, jornada de trabalho, repouso remunerado, trabalho feminino),
contemplando ainda o sistema previdenciário baseado nos Institutos e o sindicalismo atrelado
ao Estado.

Essas medidas possibilitaram o controle político e econômico da classe trabalhadora, e


também asseguraram a lucratividade do setor industrial e sua capacidade de acumulação, assim
permitindo níveis mínimos de reprodução da força de trabalho e mantendo sob controle a
participação política do operariado. A intervenção do Estado, através das políticas sociais,
pretendia desmobilizar e despolitizar a classe trabalhadora, mediante a um discurso integrador
e paternalista, ocultando a luta de classe.

Os direitos trabalhistas não eram vistos com bons olhos e enfrentaram forte oposição da
burguesia industrial, comercial e financeira. O atrelamento sindical foi conseguido pelo Estado,
apesar das resistências dos trabalhadores, do que resultou, muitas vezes, o desmantelamento de
antigas associações e sua substituição por novas entidades unificadas sob a égide do Estado,
onde a autonomia financeira, o pluralismo ideológico e associativo, a liberdade de negociação
e a representatividade nos locais de trabalho foram abolidos. Neste cenário, as antigas
lideranças operárias foram gradativamente substituídas pela burocracia sindical.

O Estado teve uma conduta incoerente, pois utilizou de mecanismos de centralização


política e administrativa para satisfazer a acumulação capitalista e para adotar medidas de
proteção do trabalhador. As medidas mais relevantes foram: o salário mínimo, década de 40; a
extensão de antigas e limitadas medidas para os vários grupos ocupacionais, adequação de
novos direitos trabalhistas. Essas leis foram renovadas na regulação das relações Capital x
Trabalho.

A partir da década de 1940 houve o surgimento de intelectuais do aparelho


previdenciário, os “novos tecnocratas”, de acordo com Malloy (1976). Eles se constituíam em
grupo de técnicos qualificados assumiram a liderança das instituições previdenciárias sociais
do Brasil devido sua excelente formação estatístico-atuarial.
O movimento operário em 1945/1946 foi marcado por reivindicações, houve o
surgimento de grupos independentes que lutavam pela liberdade, autonomia sindical, direito de
greve e eleições livres. No ano de 1946 ocorreu um intenso número de greves organizadas por
comissões nos locais de trabalho.

O sindicalismo brasileiro foi estruturado sobre duas premissas políticas: as inovações


introduzidas por Goulart na prática populista tradicional e a reorientação dos comunistas, no
sentido de voltar aos sindicatos oficiais e de realizar uma política de alianças com os populistas.
O Estado, especialmente na década de 50, assumiu características próximas do Estado de “Bem-
Estar-Social, houve aumento de gastos estatais na área social.

O Estado enfrentou a questão social através da extensão da educação, ampliação da


previdência social, combate às doenças endêmicas e melhora da habitação popular. Em relação
às políticas sociais, as respostas foram setoriais. Houve o surgimento de instituições de
assistência pública como: SESI, SESC e Fundação Leão XIII em 1946; Fundação Casa Popular
em 1951. Aconteceram melhorias nas condições de vida da classe trabalhadora, mas não houve
grandes avanços.

O governo de Kubitscheck prezou mais a política econômica em prejuízo da política


social. A mudança mais relevante foi em relação à lei Orgânica da Previdência Social e sua
regulamentação.

As condições políticas e econômicas demonstraram interesses e perspectivas


conflitantes entre as diferentes classes sociais, o que originou o golpe militar que implantou no
país o Estado autoritário-burocrático.

No ano de 1953 foi criado o Ministério da Saúde, o novo órgão manteve a mesma
estrutura do extinto Departamento Nacional da Saúde, com a ampliação do atendimento das
enfermidades.

Um aspecto abordado, é em relação à estrutura administrativa. Um determinado número


de sanitaristas defendia que os serviços de saúde deveriam ser municipalizados, ou seja, este
órgão deveria ser comandado pelas comunidades.

A base e modelo que orientaram a Política de Saúde estavam cometidos no pensamento


que dominou na década de 40, esse conceito caracterizava, posteriormente, como um “circulo
vicioso da pobreza e doença”. Essa visão equivocada da realidade considerava que a solução
do problema da doença resolveria automaticamente a pobreza.

A medicina previdenciária passou a ser considerada como um aspecto importante para


o processo de trabalho, pois a massa assalariada tinha péssimas condições de trabalho e baixa
remuneração, sendo a previdência um complemento indispensável à sua renda.

A Lei Orgânica da Previdência Social, que abrangeu todos os assalariados em regime


de CLT, igualou os benefícios no padrão dos melhores institutos. A assistência médica passa a
ser observada como questão essencial e não como algo provisório.

A corporação medica ligada aos interesses capitalistas do setor era, no momento, a mais
organizada e pressionava o financiamento através do Estado, da produção privada, defendendo
claramente a privatização.

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