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MEIOS DE SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS INTERNACIONAIS

Bruno da Silva Almeida

O ordenamento jurídico brasileiro é composto por um sistema de normas que


possuem o objetivo de organizar o Estado, estabelecendo a ordem que o direito deve
seguir em relação às normas estabelecidas. Dentro deste ordenamento estão inseridos
princípios fundamentais inerentes à Constituição Federal que atuam como limitador da
atuação jurídica na aplicação das leis, servindo como base e diretriz para que o
aplicador do direito não atue de forma subjetiva, ou seja, diante do caso concreto é
necessário a observância dos direitos e princípios inerentes ao fato para que não seja
limitado ou cerceado direito de nenhuma das partes em uma relação jurídica.
Os princípios fundamentais guardam relevada importância no âmbito das
relações entre civis na sociedade, visto que, atuam com o objetivo de resguardar o
cidadão na sua vivência cotidiana, além disso, atua como alicerce do ordenamento
jurídico pátrio visando um melhor desenvolvimento humano da sociedade. Nas palavras
de Luís Roberto Barroso (1999, p. 147), princípios, “são o conjunto de normas que
espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins. Dito de forma
sumária, os princípios constitucionais são as normas eleitas pelo constituinte como
fundamentos ou qualificações essenciais da ordem jurídica que institui”.
Dentre estes princípios pode-se citar aquele que garante ao cidadão liberdade de
locomoção, qual seja, o direito constitucional de ir e vir, conforme dispõe o art. 5º, XV:
“é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa,
nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”. Diante disto
depreende que o ser humano possui liberdade para se locomover no território de um
país, desde que este respeite os limites impostos pela lei, sendo que a própria
constituição define no seu art. 5º, LXI, que não pode ocorrer a prisão de outrem senão
diante de prisão em flagrante ou ordem autoridade judiciária competente.
Diante destas considerações muito se tem discutido no decorrer deste ano acerca
do avanço do contágio do novo corona vírus (COVID-19) em todo o mundo, fato é que
além do risco de mortalidade que toda doença apresenta a COVID-19 apresenta ainda
alta de taxa de contágio, o que corrobora ainda mais para que sua proliferação ocorra em
larga escala dentro de um território em curto espaço de tempo, esse poder de contágio
pôde ser observado da pior forma possível nos países em que foram relatados os
primeiros casos, nações como China, Itália, França e Espanha sofreram sobremaneira,
visto que, até que fosse descoberto que diante da ausência de remédios e vacinas que
produzem anticorpos que atacam o vírus no sistema imunológico humano, a maneira
mais eficaz de evitar contágio seria o distanciamento social, no entanto, essa medida
preventiva nos países citados só ocorreram depois de parte da população já ter sido
contaminada, o que incorreu no avanço desenfreado do vírus em várias regiões, e o que
se viu nos dias de pico de contágio da doença foi a crise instaurada no sistema de saúde
dos países afetados gravemente pela doença. Observando o cenário de caos instaurado
nos países citados, as demais nações mundiais passaram a implementar as medidas
preventivas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) diante da
declaração de pandemia em virtude da grande propagação do vírus a nível mundial.
No Brasil não ocorreu de forma diferente, conforme os casos se espalhavam pelo
mundo algumas medidas iniciais foram sendo implementadas com o advento da Lei
13.979, de 6 de Fevereiro de 2020, para evitar a chegada do vírus ao nosso país, no
entanto, essas primeiras medidas de defesa não foram suficientes para conter o contágio,
visto que, nos dias subsequentes da confirmação do primeiro caso várias pessoas
passaram a testar positivo para a COVID-19 nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro,
sendo implementadas medidas mais bruscas para o combate ao corona vírus nos
referidos Estados para conter o avanço da doença e os demais Estados da Federação a
adotar tais medidas de forma preventiva para evitar a confirmação de casos em outras
regiões do país, o hábito do uso de álcool em gel e máscaras de tornou algo frequente
em várias cidade, além da recomendação de quarentena e isolamento social, sendo
necessário em alguns Entes Federativos a implementação da medida de lockdown diante
do grande número de infectados em determinada localidade o que acaba por
sobrecarregar o sistema de saúde e funerário das cidades afetadas.
As medidas citadas acima, que de certa forma restringem a locomoção de parte
da população acabaram sendo alvo de discussões e críticas, em virtude de que muitas
pessoas citaram o direito constitucional de ir e vir para não respeitar as determinações
de quarentena, outra discussão que se levantou foi se os governadores e prefeitos
detinham competência para estabelecer as medidas preventivas que preveem
quarentena, isolamento social ou lockdown, no entanto, esse último questionamento
caiu por terra a partir do momento que o STF decidiu a União, Distrito Federal, Estados
e Municípios possuem competência concorrente para determinar medidas que preveem
isolamento social e até mesmo fechamento do comércio, permanecendo em
funcionamento apenas atividades essenciais. Outro dispositivo que atua em favor da
observância das recomendações da OMS é a Lei 13.979/2020, que dispõe as medidas da
emergência de saúde pública par enfrentamento do corona vírus, e leciona em seu art.
3º, I, II, sobre a possibilidade de adoção de medidas, se necessário for de isolamento e
quarentena, para o combate à COVID-19.
No que diz respeito aos questionamentos sobre violação ou não do direito de ir e
vir, no contexto atual em que se encontra o Brasil e o mundo, deve se observar e sopesar
todos os princípios e direitos que visam o bem da população de determinado Estado-
nação, é inegável que a observância e respeito aos princípios contribui para formação de
uma sociedade igualitária e justa, porém, se a execução do direito de um indivíduo trás
riscos à coletividade, deve se ponderar se esse ato pode ser praticado ou não, no caso da
pandemia e as determinações estabelecidas em razão da mesma, é possível perceber um
conflito de princípios, visto que, a Constituição prevê a liberdade de locomoção, no
entanto, a Carta Magna também dispõe ao cidadão o direito à saúde, que está disposto
no art. 196, CF, e dispõe que: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo
mediantes políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação”.
Uma forma de sanar possíveis conflitos de direitos é mediante a aplicação do
princípio da proporcionalidade, em que se observa três requisitos, quais sejam:
adequação, necessidade e proporcionalidade, este princípio atua com o objetivo de
equilibrar os direitos individuais de acordo com a necessidade da sociedade. Na
comparação entre os princípios citados acima, pode se perceber com a observância dos
requisitos do princípio da proporcionalidade que o direito à saúde, em virtude da
situação sanitária do país, se sobrepõe ao direito de ir e vir, visto que a não limitação de
tal direito põe em risco parcela da população diante do iminente risco de contágio, logo,
não resta dúvidas de que é possível ocorrer a limitação de direitos individuais, pois,
apesar de ser direito constitucional não se trata de um direito absoluto, devendo este
conviver harmoniosamente com os demais princípios inerentes à Constituição.
É fato que o direito de ir e vir fora afetado diante das implementações de
medidas que visam reduzir a circulação populacional para diminuir a curva de contágio
do vírus, as discussões sobre o assunto se mostram válidas, pois, esclarecem que o fato
de um direito ser considerado cláusula pétrea não impede este de sofrer flexibilização,
portanto, mesmo com estas limitações não há de se falar em violação à direito
fundamental, visto que, não ocorre a extinção do direito, mas sim uma pequena
limitação, e destaca-se que tal limitação ocorre em razão de se alcançar o objetivo de
oferecer atendimento médico e saúde para a população. O uso do termo flexibilização se
dá não em virtude de facilitar a prática de um ato, mas sim em razão da possibilidade de
malear direito fundamental que, em tese, não pode ser restringido. A maleabilidade
deste direito se torna plenamente capaz e aceitável em razão da questão de saúde
pública que se instaurou em todo território mundial, tais atos não estão sendo
implementados de forma deliberada pelos governantes, com o simples intuito de manter
a população em casa, visto que essas medidas afetam diretamente a economia local e
mundial, é neste ponto que se observa a importância do respeito às referidas medidas,
pois, por mais que ocorra impactos negativos em outras áreas da sociedade, a vida ainda
é maior e mais precioso bem do ser humano, de forma que esta deva ser preservada,
respeitada e, principalmente, resguardada pelos governantes de forma que atuem a
garantir qualidade de vida para a sociedade, e é justamente com esse intuito que as
autoridades mundiais, todos com o objetivo precípuo de se obter o controle da COVID-
19 e garantir o direito à saúde a todos.

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