Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO: Tendo em vista que o abuso médico contra a mulher permanece à margem da
legislação brasileira e incorre em uma grave violação aos direitos fundamentais à dignidade
humana e indispensáveis à existência da Constituição brasileira, é essencial trazê-lo para o
centro dos debates acadêmicos e jurídicos, a fim de fortalecer o combate a essa cruel
violência. Isso posto, este artigo tem por objetivo compreender a violação aos direitos
fundamentais no contexto do abuso médico-hospitalar à mulher. Para isso, escrutina a
relevância jurídica dos direitos fundamentais, verifica as questões sócio-histórico-culturais
relacionadas à violência contra a mulher e analisa a violência obstétrica e sexual no sistema
de saúde, a partir de consulta a livros doutrinários, artigos e periódicos de caráter científico
sobre o tema.
1 Introdução
1
Graduada em Letras-Língua Portuguesa na Universidade do Estado do Pará. Graduanda do curso
de Direito do Centro Universitário FIBRA. E-mail: anabeatriztorres54@gmail.com.
2
Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário FIBRA. E-mail: rbeca6285@gmail.com.
3
Graduanda do curso de Direito do Centro Universitário FIBRA. E-mail: manusantiagoo@hotmail.com.
4
Mestre em Gestão Organizacional pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Pós
Graduanda em Direito Público pela EBRADI /SP. Advogada 26.214 OAB/PA. Professora e
Pesquisadora de Direito Constitucional na Faculdade Integrada Brasil Amazônia – FIBRA. Advogada
autônoma da Lopes Noronha advocacia e consultoria jurídica. profahelonha@gmail.com.
pós-parto e o abuso sexual refere-se à violação sexual, em que não há o
consentimento válido da outra parte.
O aumento de casos de abusos contra as mulheres, durante o colapso do
sistema de saúde – no pico da pandemia do Coronavírus - expõe o quanto as
liberdade fundamentais foram violadas em um momento de vulnerabilidade das
vítimas, pois quando mais se fez necessário haver suporte médico, mais violências e
abusos ocorreram nas unidades hospitalares – é o que diz o Painel de dados da
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, que, em 2021, constatou 165 casos de
abuso sexual em hospitais, denunciados por mulheres. Em consonância, dados
obtidos pelo O GLOBO no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
mostram que houve, ao menos, 373 abusos sexuais dentro de unidades de saúde,
de 2020 a maio de 2021, denunciados e confirmados por mulheres - sem contar os
subnotificados.
Os dados sobre violência obstétrica não são tão abundantes e a pesquisa
mais recente que se tem sobre o assunto foi realizada em 2012, pela Fundação
Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), a qual revelou que a violência obstétrica atinge cerca de
45% das mulheres que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS) e 30% das que
usam a rede particular. A pesquisa ainda revela que essas vítimas perdem bebês e
ficam com lesões.
Nesse sentido, na legislação atual, percebe-se a ascensão do
reconhecimento da vulnerabilidade da condição da mulher, tornando-a objeto
material de dispositivos legais específicos. Em lei, considera-se violência contra a
mulher em razão da condição do sexo feminino quando o crime envolve violência
doméstica e familiar ou menosprezo ou discriminação à condição da mulher.
Entretanto, embora haja essa crescente preocupação e mobilização legal
sobre a violência contra mulher, um assunto específico dentro dessa área ainda
permanece à margem das discussões acadêmicas e jurisdicionais: a violência
constantemente sofrida por elas dentro do sistema de saúde. Enquanto diversos
países já desenvolveram leis voltadas ao abuso médico contra a mulher,
estabelecendo tipificações e sanções, o Brasil ainda está iniciando esforços nesse
quesito. Há leis definindo os direitos das mulheres no sistema de saúde antes,
durante e após o parto. Porém, essas leis não definem sanções no caso de
descumprimento e, assim, retardam a coibição do abuso médico e a construção de
um sistema de saúde no qual há respeito às mulheres que se encontram em um
momento de hiper vulnerabilidade.
A violência nesse contexto de hiper vulnerabilidade é ainda mais difícil de
denunciar, gerando traumas silenciados e facilitando a continuidade desses crimes.
Desse modo, para um efetivo combate e prevenção ao tratamento desumano e
indigno dispensado às mulheres no contexto do abuso médico, é indispensável que
este tema seja cada vez mais debatido e levado ao centro de discussões jurídicas e,
neste estudo, isso será feito à luz da mais soberana das normas: a Constituição
Federal (CF/88). Levando em consideração que os direitos fundamentais do cidadão
são inerentes à proteção do princípio da dignidade humana e “garantem a
convivência pacífica, digna e igualitária” (BULOS, 2022, p. 529) sem qualquer tipo de
discriminação e que constituem um dos mais importantes pilares da CF/88,
decidimos fazer deles a perspectiva basilar de nosso tema.
Assim, o objetivo geral deste estudo é compreender a violação aos direitos
fundamentais no contexto do abuso médico-hospitalar à mulher, e os objetivos
específicos são: escrutinar a relevância jurídica dos direitos fundamentais, verificar
as questões sócio-histórico-culturais relacionadas à violência contra a mulher e
analisar a violência obstétrica e sexual no sistema de saúde.
2 Fundamentação teórica
3 Metodologia
Dessa forma, num país em que 45% das mulheres que usam o SUS sofrem
violência obstétrica, é preciso lembrar que é dever do Estado dar “um tratamento
condigno de acordo com o estado atual da ciência médica, independentemente de
sua situação econômica.” (SILVA, 2014, p. 311). Esses dispositivos asseguram às
mulheres o direito a um padrão de saúde que lhes garanta assistência qualificada,
digna e respeitosa, livre de qualquer forma de violência dentro do sistema de saúde.
REFERÊNCIAS:
BOBBIO, Noberto. A era dos direitos. 7. ed. atual. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo:
Saraiva Jur, 2022.
SILVA, Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 37. ed. São
Paulo: Malheiros Editores LTDA, 2014.
VIOLÊNCIA obstétrica atinge cerca de 45% das mulheres na rede pública brasileira;
vítimas perdem bebês e ficam com lesões. São Paulo: O globo, 26 dez. 2022.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/violencia-obstetrica-atinge-cerca-de-
45-das-mulheres-na-rede-publica-brasileira-vitimas-perdem-bebes-ficam-com-
lesoes-25332302. Acesso em: 30 set. 2022.