Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Organizadores
Guilherme Barroso L. De Freitas
Roberta da Silva
2021
2021 by Editora Pasteur
Copyright © Editora Pasteur
Editor Chefe:
Corpo Editorial:
CDD 610
CDU 601/618
PREFÁCIO
CAPÍTULO 02
RELAÇÃO ENTRE CRIMES SEXUAIS E TRANSTORNOS MENTAIS NA
ÓPTICA DA PSIQUIATRIA FORENSE .................................................................. 9
CAPÍTULO 03
LEVANTAMENTO MORFOMÉTRICO DE OSSADAS HUMANAS..................18
CAPÍTULO 04
TRAUMA ANORRETAL EM VÍTIMA DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA DURANTE
A PANDEMIA DA COVID-19: RELATO DE CASO.................................................29
CAPÍTULO 05
A DOAÇÃO DE CORPOS PARA O ENSINO DA ANATOMIA HUMANA:
REVISÃO DE LITERATURA......................................................................................35
CAPÍTULO 06
UTILIZAÇÃO MORFOMETRICA DOS PONTOS NÁSIO, FRONTOZIGOMÁTICO
ORBITAL E FORA-ME INFRAORBITAL PARA DETERMINAÇÃO DO SEXO....40
CAPÍTULO 07
CIÊNCIA FORENSE: IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS DESAPARECIDAS E
OSSADAS ATRAVÉS DE TÉCNICAS MOLECULARES.........................................49
CAPÍTULO 08
PRÁTICAS AVANÇADAS E ENFERMAGEM FORENSE ALIADAS AO
COMBATE À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER.................................58
CAPÍTULO 09
MEDICAMENTOS UTILIZADOS PARA HOMICÍDIO POR ENVENENAMENTO
.......................................................................................................................................72
CAPÍTULO 10
ENFERMAGEM FORENSE NA EMERGÊNCIA HOSPITALAR COM FOCO NA
VIOLÊNCIA DOMÉSTI-CA: UMA REVISÃO NARRATIVA DA LITERATURA..82
CAPÍTULO 11
COCAÍNA: A NECESSIDADE CONTÍNUA DE ESTUDOS DOS TESTES RÁPIDOS
REAGENTES AOS ANALITOS DA DROGA............................................................93
CAPÍTULO 12
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FORENSE FRENTE À VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
.....................................................................................................................................107
CAPÍTULO 13
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FORENSE NA COLETA E PRESERVAÇÃO DE
VESTIGIOS EM VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA SEXUAL..........................................121
CAPÍTULO 14
A MEDICINA LEGAL E A TAFONOMIA FORENSE.............................................130
CAPÍTULO 15
VIOLÊNCIA CONJUGAL ASSOCIADA A TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS:
ANÁLISE DE PRONTUÁ-RIOS................................................................................138
CAPÍTULO 16
EFEITOS DO “BOA NOITE CINDERELA”............................................................. 149
CAPÍTULO 17
CONHECIMENTO DO DIMORFISMO SEXUAL BASEADO EM ESTRUTURAS
ÓSSEAS......................................................................................................................161
CAPÍTULO 18
A UTILIZAÇÃO DE PLATAFORMAS DIGITAIS COMO VEÍCULO DE ENSINO À
ENFERMAGEM FORENSE......................................................................................173
CAPÍTULO 19
O ENSINO DA ENFERMAGEM FORENSE COMO APORTE DE GARANTIA NA
PRESERVAÇÃO DE VESTÍGIOS E COLETAS EM CENAS DE CRIME..............177
CAPÍTULO 01
MASSACRE DE SUZANO –
REVISÃO DE LITERATURA
PELA ÓPTICA DA
MEDICINA LEGAL
1|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
2|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
3|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
4|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
eixo longitudinal do ferimento provocado. A Apesar de não ter sido utilizada, as lesões cau-
orla de escoriação é formada devido ao arran- sadas por ela seriam perfuro-contusas (Figura
camento da epiderme motivado pelo movi- 1.3), devido à forma perfurante da extremi-
mento rotatório do projétil. As bordas inverti- dade das flechas combinado à alta energia
das são devido ao movimento de entrada do com as quais elas são atiradas. Devido à au-
projétil no tecido complacente (FRANÇA, sência de combustão e de todos os elementos
2008). dos projéteis de arma de fogo, a besta é instru-
O halo de enxugo é explicado pelo atrito e mento que causa lesões caracterizadas princi-
contusão dos tecidos na passagem do projétil. palmente por orifício de entrada com bordas
Em geral, é escura e o centro depende do ân- reviradas para dentro, profundidade da lesão e
gulo de incidência. irregularidade das bordas do ferimento
O halo ou zona de tatuagem tem forma (FRANÇA, 2008).
que depende também da incidência do tiro, da
distância e do tipo de munição. É o que per- Figura 1.3 Lesão perfuro-contusa
mite à perícia quanto à posição da vítima e do
agressor.
A zona de esfumaçamento é decorrente do
depósito deixado pela fuligem de pólvora
combusta. A diferenciação entre zona de esfu-
maçamento e a zona de tatuagem é o fato da
primeira ser removível com água no momento
de higienização do corpo (FRANÇA, 2008).
Fonte: ESTUDANDO PERÍCIA, 2016.
Zona de queimadura é consequência da
ação superaquecida dos gases liberados com o
Outras duas armas que os autores porta-
disparo. Em regiões com pelos, há um cha-
vam foram o machado e o arco e flecha
muscamento deixando-os quebradiços. Essa
(RIBEIRO et al., 2019). É um instrumento
reação fala sempre em favor do orifício de en-
corto-contundente, que causa lesões corto-
trada em deflagração à queima-roupa. A aré-
contusas (Figura 1.4).
ola equimótica é superficial e difusa, ocorre
por causa da destruição dos vasos sanguíneos Figura 1.4 Lesão corto-contusa
no entorno da lesão. É vista próxima ao orifí-
cio de entrada do projétil na pele. Por último,
a zona de compressão de gases (presente ape-
nas in vivo) é uma depressão na pele causada
pela ação mecânica da compressão dos gases
Fonte: SUTURA, 2017.
também liberados no disparo do projétil
(FRANÇA, 2008).
Isso porque a foice do machado é
Outra arma presente no episódio do mas-
constituída por uma lâmina com capacidade
sacre foi a besta. Ela também é instrumento
cortante e deslizante, ao mesmo tempo que
pérfuro-contundente, mas tem mecanismo de
sua massa e energia associada no momento da
funcionamento diferente da arma de fogo.
5|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
agressão fazem dela um instrumento de ação grau caracteriza-se por flictenas ou vesículas
contundente. O aspecto da lesão é de forma cheias de líquido amarelo-claro. Quando rom-
diversificada, comumente graves, profundas e pido, deixa a derme desnuda e, por ação do ar,
capazes de provocar fraturas. Nesse tipo de ressecada e com aspecto apergaminhado. O
lesão não há pontes de tecido íntegro entre terceiro grau incide até planos musculares e é
bordas de ferida e nem cauda de escoriação - caracterizada por coagulação necrótica de te-
característico de lesões cortantes (FRANÇA, cidos moles. Passado algum tempo, eles são
2008). substituídos por outros tecidos de granulação
Os autores também portavam um arsenal formados por cicatrizes de segunda intenção.
preparado com coquetel molotov, uma mis- Finalmente, o quarto grau é o mais destrutivo
tura inflamável que pode ser composta por ga- e inclui carbonização de tecido ósseo, po-
solina, álcool, ácido sulfúrico, éter etílico, en- dendo ser locais ou generalizados - o último
tre outros. É armazenado em recipiente de vi- denominado carbonização, que reduz volume
dro com um pavio embebido no líquido, capaz corporal por condensação de tecidos e, no
de gerar pequenas explosões quando é quei- caso de cadáveres, faz com que tomem posi-
mado. Essa arma não foi utilizada, mas es- ção de lutador.
pera-se que cause lesões de queimadura e con- Dados em fontes de livre acesso, utilizadas
tusões, a depender da proximidade do local de na pesquisa para elaboração do presente ar-
explosão devido à alta energia dos gases no tigo, não permitem descrever com exatidão
momento da combustão. quais são as características específicas de cada
As queimaduras são lesões causadas por lesão nas vítimas do Massacre de Suzano, mas
agente físico, no caso o calor direto. Causa de o estudo da traumatologia nos permite descre-
destruição de tecido e são classificadas, na ver o que se espera encontrar de acordo com
medicina legal, de acordo com a profundidade os instrumentos utilizados, os meios lesivos
do tecido lesionado - diferentemente da clas- desses instrumentos e os efeitos comumente
sificação clínica, que leva em consideração a provocados esperados no corpo por cada uma
área corporal afetada. A lesão contusa é pro- delas.
vocada pela alta energia dos gases na explosão
e suas consequências dependem da proximi- 4. CONCLUSÃO
dade entre a vítima e a explosão. Esse tipo de
instrumento age por pressão, explosão - como O Massacre ocorrido na cidade de Suzano,
no caso analisado - deslizamento, compres- em São Paulo, no ano de 2019, protagonizado
são, descompressão, distensão, torção, contra- por 2 ex-alunos, o qual resultou em 10 mortes
golpe ou misto. O aspecto é o mais variado, e alguns feridos, é mais um exemplo da vio-
podendo apresentar escoriação, equimose, he- lência escolar que pode ser desencadeada por
matoma, bossa, luxação, entorse, fraturas ou diversos fatores, dentre eles, o bullying.
rupturas viscerais (FRANÇA, 2008). Os agressores portavam pistolas calibre 38
Seriam classificados de acordo com a clas- mm, as quais, sobre a óptica da Medicina Le-
sificação de Hoffmann, que divide a lesão em gal, causam lesões caracterizadas como per-
quatro graus: o primeiro limita-se a eritemas e furo-contundentes. Também utilizaram um
não são visíveis em cadáveres. O segundo machado, que resulta em lesões corto-contun-
6|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
dentes. Além da besta, que causa uma lesão tas acima, o que permite a confecção do laudo
perfuro-contundente de aspecto diferente da pericial por parte do profissional responsável.
arma de fogo devido ao seu mecanismo, e do Por fim, é de extrema importância a análise
coquetel molotov, que geraria lesões provoca- dos diferentes tipos de lesão, assim como suas
das por meio físico (calor direto), causando características de tamanho, profundidade, en-
queimaduras, e poderia - a depender de diver- tre outros, para avaliação da gravidade e dos
sos fatores - também gerar ferimentos do tipo efeitos de tais objetos no corpo humano pela
contuso, apesar de ambos não terem sido uti- óptica da medicina legal, pois permite a reso-
lizados durante o atentado. lução de aspectos jurídicos de diversos cri-
A análise pericial é feita de acordo com as mes, além de revelar os fatos ocorridos
características de cada lesão, algumas descri- mesmo após a morte da vítima.
7|Página
Capítulo 1
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOTÃO, A.C. et al. O Massacre de Suzano e a Cobertura RABELO, J.P.A.C. A cobertura da tragédia de Su-
Jornalística Nacional: uma Análise Baseada na Teoria da zano: entre humanização e sensacionalismo. 2019.
Espiral do Silêncio. Intercom - Sociedade Brasileira de 175f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em
Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2019. Dis- Jornalismo) - Universidade Federal de Uberlândia, Uber-
ponível em: https://portalintercom.org.br/anais/sul2019 lândia, 2020.
/resumos/R65-0402-1.pdf. Acesso em: 23 out. 2020.
RIBEIRO, R. et al. Assassinos planejaram massacre em
COELHO, M.D. et al. Uma breve reflexão sobre a vio- escola de Suzano por mais de um ano, aponta investiga-
lência nos ambientes escolares sob um olhar interdisci- ção: Polícia investiga possibilidade de Guilherme Mon-
plinar. Revista Transformar, v. 13, p. 1, 2019. teiro e Luiz Castro terem participado de fórum em rede
obscura da internet onde pessoas planejam crimes. Na
ESTUDANDO PERÍCIA. Lesões Causadas por Instru- quarta, eles mataram 8 pessoas e depois se mataram. G1,
mentos Perfuro-Contundentes. 2016a. Disponível em: São Paulo / SP, p. 1, 14 mar. 2019. Disponível em:
https://estudandopericia.wordpress.com/2016/12/20/le- https://g1.globo.com/sp/mogi-das-cruzes-suzano /noticia
soes-causadas-por-instrumentos-pefuro-contundentes/. /2019/03/14/assassinos-planejaram-massacre-em-es-
Acesso em: 23 out. 2020. cola-de-suzano-por-1-ano-e-meio-aponta-investiga-
cao.html. Acesso em: 13 nov. 2020.
EVANGELISTA, J.I.S. Massacre em Suzano: análise
da cobertura jornalística no programa Brasil Ur- RODRIGUES, G.C. O bullying nas escolas e o horror a
gente. 2019. 63f. Trabalho de Conclusão de Curso (Gra- massacres pontuais. Ponto-e-Vírgula: Revista de Ciên-
duação em Jornalismo) – Universidade Federal de Uber- cias Sociais, p. 10, 2012.
lândia, Uberlândia, 2020.
SUTURA. Feridas: tudo o que você precisa saber!. 2017.
FRANÇA, G.V. Medicina Legal. 8ª ed., Rio de Janeiro: Disponível em: <https://sutura.com.br/ feridas-tudo-o-
Guanabara Koogan, 2008. que-você-precisa-saber/>. Acesso em: 23 out. 202
8|Página
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 02
9|Página
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
lecionar a obra com o objeto de estudo do tra- A parafilia é classificada como distúrbio
balho. Nesse sentido, foram criadas tabelas, de desenvolvimento de uma identidade se-
de forma a identificar as obras e ordenar o xual, tendo como principais características o
conteúdo. Posteriormente, realizou-se a revi- impulso de agir para satisfazer seus desejos
são dos estudos já existentes, destacando os sexuais, a preocupação erótica ativa e a dis-
assuntos de maior relevância para a realização função sexual. Um exemplo de parafilia é a
do trabalho. pedofilia, um transtorno no qual um adulto
Nesta revisão integrativa, os critérios de que tem práticas sexuais com uma criança de
exclusão utilizados foram: resumos em even- idade igual ou inferior a 13 anos, incluindo fe-
tos, editoriais, revisões de literatura, artigos tichismo, voyeurismo e masoquismo.
que não cumpriam os critérios de inclusão su- Para diagnóstico desse quadro será neces-
pracitados e artigos duplicados. Os critérios sário, apenas, as fantasias ou desejos sexuais
de inclusão foram: artigos publicados entre em relação a crianças. Vale ressaltar, que o
2015-2021 e que abordam os temas dos des- abusador sexual de crianças não se encaixa
critores já destacados, Tabela 2.1. como pedófilo, pois ele não apresenta pertur-
bação psicótica ou encaixe no quadro clínico.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Geralmente os pedófilos se demonstram como
indivíduos de baixo nível de inteligência, com
A violência sexual apresenta um conceito escolaridade baixa e dependentes, apresen-
multidimensional, sendo o mais aceito o de tando comportamento passivo, mentiroso e ar-
qualquer ato sexual forçado pelo agressor sem giloso para guiar a criança até ele, enquanto
o consentimento da vítima. Esse tipo de vio- que os abusadores apresentam nível de inteli-
lência deixa marcas profundas na saúde física gência normal (considerando a população em
e psicológica da vítima. A maioria dos atos se- geral), escolaridade alta, perturbação de per-
xuais criminosos não apresenta transtornos sonalidade, preferência a isolamento social e
psiquiátricos, mas um número importante de- existência de outros transtornos, como esqui-
les foi diagnosticado com algum tipo de trans- zofrenia, depressão, hipocondria, etc.
torno de personalidade, distúrbios de humor, (VERÓNICO, 2015).
comportamento sexual compulsivo e até Com o aumento da preocupação com as
mesmo abuso de substância. No Brasil foi de- consequências psíquicas da vítima e seus di-
tectada uma precária classificação científica reitos como cidadã, a psiquiatria forense bus-
de quem são esses indivíduos por trás dos cri- cou, nos últimos anos, desenvolver métodos
mes sexuais, sendo uma área dominada pelo eficazes de classificação desse indivíduo. Ela
sensacionalismo da mídia e publicações avul- busca, portanto, classificar a função psicoló-
sas na internet sem aval científico gica e comportamental do agressor, focando
(VALENÇA et al., 2015). no grau de subordinação dele ao transtorno.
11 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
Tabela 2.1 Artigos que abordam a relação entre transtornos mentais e psiquiatria forense
Identificar os fatores de risco para uma possível O estudo foca na avaliação probabilística de agressores
DIAS & Psicologia forense: uma análise teórica
intervenção, para evitar que esse agressor volte sexuais retornarem aos atos criminosos após saída do re-
ROCHA, da avaliação de risco de reincidência
a cometer a agressão em seu retorno à socie- gime carcerário, como forma de evitar a reincidência e
2016 com agressores sexuais
dade. identificar os fatores de risco para isto.
12 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
Conhecer as representações sociais de abuso O estudo proveu buscar a compreensão do olhar do agres-
sexual para o agressor sexual de crianças e ana- sor em relação ao crime cometido, foi realizado em uma
SILVA, O olhar do agressor sexual sobre o abuso
lisar como essas representações influenciam no penitenciária estadual e concluiu que esses indivíduos não
2016 sexual infantil
seu posicionamento em relação ao ato abusivo percebem como ilícito e imoral é o crime que praticaram
cometido. e muitos optam em não assumir o ato.
Pedofilia história de vida e o retorno Investigar a história de vida e o retorno para as O estudo mostrou que muitos homens cumprindo medida
MARAFIGA
para a família por meio de alta progres- famílias, por meio da Alta progressiva, de pa- de segurança em Hospitais de custódia por crimes sexuais
et al., 2017
siva cientes diagnosticados como pedófilos. possuíam o transtorno pedofílico.
13 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
Destaca-se nessa discussão, se a parafilia não volte a cometer crimes. Os testes mais uti-
provoca turvação de consciência ou de noção lizados para estimar o risco são:
da realidade, além de determinar se há auto-
controle ou o impulso já se tornou muito mar- • SVR-20: com 20 itens de scores 0 a 2
cante. É importante, também, buscar nele se em escala, sendo a única avaliação de
há intenção de não praticar o ato, luta interna risco para violência sexual. Uma boa
e respeito à lei e ao outro, como forma de en- pontuação final não é o único quesito
tender melhor como o transtorno se manifesta para a liberação do indivíduo, sendo
nesse indivíduo (JASCKSTET, 2015). usadas apenas como guia do avaliador,
Nessa posição de abusador é comum en- o qual foca nos pontos mais importantes
contrar pacientes com diagnósticos de esqui- de cada caso. Irá avaliar o desvio sexual,
zofrenia e psicose, os quais apresentam altera- vítimas de abuso infantil, psicopatias,
ção na percepção do ambiente em que estão, doenças mentais importantes, proble-
ou se encontram em ambiente violento. É im- mas de relacionamento, problemas com
portante avaliar a existência de fatores como emprego, agressões anteriores violentas
idade, gênero, status socioeconômico, meio- não sexuais, agressões anteriores não vi-
ambiente, criminalidade prévia, assim como olentas, fracasso em supervisão ante-
abuso de substâncias e uso regular de medica- rior, agressão sexuais de alta densidade,
mentos. A grande parte desses pacientes pode tipos de agressão sexuais múltiplas, da-
vir a cometer esses atos violentos devido à au- nos físicos às vítimas, uso de armas ou
sência do tratamento, consequência do ameaças de morte, intensificação de fre-
mesmo, podendo resultar em uma cadeia de quência ou gravidade, minimização ex-
violências, principalmente no âmbito familiar. trema ou negação, atitudes que apoiam
Observa-se que indivíduos diagnosticados ou admitem agressões sexuais, ausência
com esquizofrenia e retardo mental, que sofre- de planos realistas, atitudes negativas
ram experiências negativas precoces, como em relação às intervenções (DIAS &
abuso sexual, podem a vir a mimicar esse ROCHA, 2016).
comportamento na vida adulta. Apesar da • SORAG: é outra abordagem de avalia-
existente relação entre transtornos mentais e ção muito usada para analisar o risco de
atos violentos, a conduta criminosa também agressões sexuais, podendo ser classifi-
está associada a aspectos socioculturais e es- cadas em nove categorias. Irá conter 14
ses indivíduos são mais vulneráveis à essas itens que devem ser examinados, sendo
variantes. Não é necessário, portanto, um tra- eles o Escore do Psychopathy Checklist-
tamento de melhor qualidade para esses trans- Revised (PCL-R); Desadaptação na es-
tornos mentais, mas sim dar atenção para o ato cola elementar; Diagnóstico no DSM-
criminoso e seu contexto como um todo III de transtorno de personalidade; Idade
(JÚNIOR, 2016). quando da agressão; Viveu com ambos
Por fim, é importante avaliar o risco de os pais aos 16 anos; Fracasso na libera-
reincidência, analisando a existência dos fato- ção condicional anterior; Escore de
res de risco ligados ao comportamento crimi- agressão anterior; Escore de agressão
nal, sexualidade e impulsos desviantes. Esse não violenta; Estado civil; Diagnóstico
tipo de avaliação objetiva identificar o risco e no DSM-III de esquizofrenia; Escore de
intervir rapidamente para que esse agressor agressão violenta; História de abuso de
14 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
15 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
manter-se passivo e indiferente para com a si- Atualmente tem-se um vasto número de
tuação, não levando para o seu lado emocio- escalas/instrumentos cientificamente valida-
nal, crenças ou valores. Entretanto, há um dos que possibilitam fazer uma avaliação cau-
peso levado para a saúde mental do próprio es- telosa do risco de diversos tipos de reincidên-
pecialista, ocasionado sentimento de estresse, cia e violência, em vários contextos. Ainda
o trauma vicário, conhecido também como o que obrigatoriamente multidisciplinar, a ava-
“custo de cuidar”. liação de risco de reincidência está sendo me-
Conforme a Revista Brasileira de Direito todologicamente desenvolvida com base nos
Processual Penal, a avaliação clínica forense princípios da psicometria, com intuito de ga-
tem como objetivo observar, analisar e diag- rantir a sua precisão e validade, conforme
nosticar o lado emocional, cognitivo e com- afirma (CARDOSO et al., 2020).
portamental dos pacientes envolvidos em de- Os crimes sexuais vêm se expandindo
litos, com o intuito de tratar o indivíduo, den- principalmente na infância e cada vez mais di-
tro do âmbito legal da constituição: “A saúde fundido, com implicações psicossociais, le-
é direito de todos e dever do Estado” gais e médicas. Entretanto, a violência física e
(CARDOSO et al., 2020). sexual com crianças e adolescentes ainda é um
fator de surpresa em nossa sociedade
4. CONCLUSÃO (FLORES & CAMINHA, 1994 apud
JASCKSTET, 2015). Sugar (1992 apud
A psiquiatria forense pode ser útil no com- JASCKSTET, 2015) aponta para o fato de que
bate aos crimes sexuais contra crianças ao muitas pessoas, inclusive profissionais, têm
identificar padrões de comportamento que es- dificuldade de aceitar que o abuso sexual de
tão na base dos atos que o Direito pune por crianças ocorra com aqueles de variado grau
serem criminosos e lesivos à sociedade. Para de consanguinidade e de proximidade.
tanto, busca-se um aprofundamento nas práti- Dessa forma, a existência de desordens no
cas dos crimes sexuais contra crianças, enfo- comportamento sexual pode levar a casos di-
cando a compreensão a respeito do autor do versos de crimes contra a dignidade sexual.
crime, como também nas consequências sobre Esses são caracterizados, segundo o Código
aquele que sofre a prática delituosa, o que de- Penal Brasileiro, como crimes contra a liber-
manda, por parte do Direito, a busca de su- dade sexual (estupro, violação e assédio) e cri-
porte nos conhecimentos da ótica psiquiátrica mes contra vulnerável (corrupção de menores
(JASCKSTET, 2015). e exploração sexual) (BRASIL. Decreto-Lei
2.848/1984).
16 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARROS, A.J.S. Associações entre reações contra Mental) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
transferenciais desencadeadas por agressores sexuais, Janeiro, 2016.
mecanismos de defesa e trauma vicário em psiquia- MARAFIGA, C.V. et al. Pedofilia: história de vida e o
tras e psicólogos forenses. 2018. 46f. Tese (Doutorado retorno para a família por meio de alta progressiva. Re-
em Psiquiatria) - Faculdade de Medicina, Programa de vista da SPAGESP, v. 18, p. 48, 2017.
Pós- Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comporta- PEREIRA, C.A. Representações sociais sobre o abuso
mento. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sexual infantojuvenil: um estudo com juízes e profissio-
Porto Alegre, 2018. nais psicossociais. Repositório UFPB, 2017. p. 145.
CARDOSO, Á.L. et al. Avaliação psicológica de agres- REIS, D.C. Autores de Agressão Sexual de Crianças e
sores sexuais no contexto brasileiro: instrumentos e pers- Adolescentes: Características Biopsicossociais e Tra-
pectivas. Revista Brasileira de Direito Processual Pe- jetórias de Vida. Pará, 2016. 352p. Tese (Doutorado em
nal, v. 6, p. 247, 2020. Teoria e Pesquisa do Comportamento) - Universidade
Federal do Pará, Belém, 2016.
DIAS, L.G.S. & ROCHA, A.C. Psicologia Forense: Uma
análise teórica da avaliação de risco de reincidência com SILVA, D.A. O olhar do agressor sexual sobre o abuso
agressores sexuais. Revista Uningá, Maringá, v. 50, p. sexual infantil. 2016. 92f. Trabalho de Conclusão de
77, 2016. Curso (Bacharel em Psicologia) - Centro Universitário
Católico de Vitória, Vitória, 2016.
HUSS, M.T. Psicologia Forense: pesquisa, prática clí-
nica e aplicação. Porto Alegre: Artmed, 2011. SILVA, L.P. Aspectos de la distorsión cognitiva de
agresores sexuales de niños reclusos en la cárcel: Bra-
JASCKSTET, P.V. Direito e psiquiatria forense: um sília. 2014-2016. 2017. 213f. Dissertação (Mestrado em
estudo sobre os crimes sexuais praticados contra cri- Ciências Criminais-Forenses) - Universidad de Ciencias
anças. 2015. 70f. Trabalho de Conclusão de Curso (Ba- Empresariales y Sociales, Buenos Aires, 2017.
charelado em Direito) - Universidade de Brasília, Brasí-
lia, 2015. VALENÇA, A.M. et al. A forensic-psychiatric study of
sexual offenders in Rio de Janeiro, Brazil. Journal of Fo-
JÚNIOR, R.J.C.C. Estudo Psiquiátrico-Forense de rensic and Legal Medicine, v. 31, p. 23, 2015.
uma população de indivíduos cumprindo medida de
segurança em hospitais de custódia e tratamento no VERÓNICO, M.S.B. Agressores Sexuais: Caracteriza-
Estado do Rio de Janeiro por comportamento vio- ção de uma amostra portuguesa. 2015. 129f. Disserta-
lento. 65f. Dissertação (Mestrado em Psiquiatria e Saúde ção (Mestrado em Medicina Legal) - Instituto de Ciências
de Abel Salazar. Universidade do Porto, Porto, 2015
.
17 | P á g i n a
Capítulo 2
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 03
LEVANTAMENTO
MORFOMÉTRICO DE
OSSADAS HUMANAS
18 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
19 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
20 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
21 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
trabalho é possível estimar com 95% de Figura 3.2 Demonstração de uso de tábua
precisão a estatura de indivíduos com base em osteométrica
alguns ossos longos. Tendo margem de erro
entre 3,0 e 4,5 centímetros, para mais ou para A
menos.
No seu trabalho BORBOREMA (2007)
desenvolveu equações, levando em B
consideração o gênero e o osso analisado.
Fórmula com utilização do fêmur (F) no
indivíduo masculino:
Legenda: Medida do fêmur (A) e tíbia (B), com tábua
Estatura = 76,67 + 0,2019 F osteométrica, medidas realizadas em centímetros.
Fórmula com utilização do fêmur (F) no
indivíduo feminino: gando a um completo desenvolvimento na fase
Estatura = 62,89 + 0,2385 F adulta (COSTA, 2002), todo esse processo
Fórmula com utilização da tíbia (T) no deixa marcas que podem ser estudadas para de-
indivíduo masculino: terminar a idade aproximada do indivíduo.
Estatura = 102,62 + 0,1807 T A estimativa de idade é uma parte
Fórmula com utilização da tíbia (T) no integrante do perfil biológico empregado por
indivíduo feminino: especialistas para auxiliar na obtenção da
Estatura = 87,44 + 0,2114 T identificação de um indivíduo falecido
Após a identificação do gênero, passamos a desconhecido. Sua estimativa é de suma
estimar a estatura, utilizando a tábua importância e requer atenção especial nos casos
osteométrica para medidas dos ossos longos, em que os corpos são encontrados em estado
fêmur e tíbia (Figura 3.2), seguindo estudos de decomposto e mutilado ou apenas restos
BORBOREMA (2007). Sendo claro que a fragmentários são descobertos (KHANDARE;
estatura pode ser apenas estimada e não precisa, BHISE; SHINDE, 2015).
pois há variáveis como idade, gênero, etnia, Os principais estudos para a determinação
alimentação, condições socioeconômicas e deste quesito são a análise da soldadura das
psicossociais, além de tendências históricas epífises e das suturas cranianas, que são os
pessoais do indivíduo que interferem nessa pontos que mostram uma maior confiabilidade
característica (HERCULES, 2005; CROCE; e diversidade de acordo com a idade. O
CROCE JUNIOR, 2007). processo de ossificação das epífises às diáfises
é o ponto com maior significativa para a
2.3 Estimativa de idade determinação da idade óssea em indivíduos
A idade é um dado que pode ser conside- jovens, pois até a adolescência as diáfises e
rado em diversos pontos como aparência física, epífises estão unidas apenas pela cartilagem
desenvolvimento intelectual, idade civil, idade epifisária e será calcificada totalmente dando
óssea, entre outros. Nesse trabalho a idade que final ao crescimento longitudinal do indivíduo
consideramos é a óssea. Durante a vida o tecido (SPENSE, 1991; HERCULES, 2005; COSTA;
ósseo vai amadurecendo e aumentando de COSTA, 2015).
tamanho e espessura de forma contínua, che-
22 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
Este trabalho focou nas suturas cranianas, Para o gênero feminino, usa-se a fórmula:
para isso consideramos a utilização do crânio
por ser parte do esqueleto geralmente Se tratando de indivíduos do gênero
encontrada em melhor estado de conservação masculino, usa-se a fórmula:
(SHETTY, 2009; KHANDARE; BHISE;
SHINDE, 2015). Silva (2015) propõe a
utilização de equações para estimar a idade de Para esta fórmula considera-se uma taxa de
morte de adultos a partir de sinostose (S) das erro, segundo CROCE e CROCE JÚNIOR
suturas cranianas, determinado pela média dos (2007) de meses na primeira infância, de 1 a 2
graus de obliteração observados em cada anos, quando se trata de jovens de até 21 anos,
segmento das suturas coronal (C1, C2, C3), e de cinco anos após essa idade. Como dito
sagital (S1, S2, S3, S4) e lambdoide (L1, L2, anteriormente para um resultado mais preciso,
L3). é preferível que o gênero já tenha sido
Para classificar a obliteração das suturas, identificado, pois há diferenças no
utilizamos a escala para encerramento de desenvolvimento de acordo com o gênero, já
Almeida e Masset (1982) (apud Lourenço, que indivíduos femininos se desenvolvem mais
2010), sendo: precocemente do que indivíduos masculinos
0 = Sutura completamente aberta. Ainda há (HERCULES, 2005).
pouco espaço entre as bordas dos ossos E por último observou-se e a soldadura das
adjacentes. suturas cranianas (Figura 3.3) específicas para
1 = Sutura com ligeira obliteração. a obtenção aproximada da idade de morte. As
Claramente visível como uma linha contínua suturas coronal, sagital e lambdoide foram
em ziguezague. estudadas aplicando a escala de Almeida e
2 = Sutura medianamente fechada. Linha Masset ectocranialmente (SILVA, 2015). A
mais fina, menos ziguezagues, interrompida obliteração das suturas foi determinada e o grau
pelo fechamento completo. de fechamento foi marcado por 16 partes das
3 = Sutura obliterada em cerca de ¾ da sua suturas cranianas principais, como foi feito por
superfície. Acsadi-Nemeskeri (SHETTY, 2009). A sutura
4 = Sutura completamente fechada, não se coronal foi observada em três partes do lado
notando qualquer vestígio. esquerdo, sutura sagital em quatro partes e
Após essa classificação é possível aplicar a suturas lambdoides em três partes também no
média de fechamento das suturas: lado esquerdo. Posteriormente para estimar a
S=(C1+C2+C3+S1+S2+S3+S4+L1+L2+ possível relação entre o fechamento da sutura e
L3)10 a idade na morte, foi determinada a média dos
Para então calcular a idade de morte graus de obliteração observados em cada
aproximada de cada uma das ossadas levando segmento dessas suturas. Após foi aplicado na
em consideração o gênero do indivíduo. fórmula que lhe compete descrita por SILVA
(2015).
23 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
Legenda: Crânio com suturas coronal e sagital com menor grau de obliteração (esquerda) e crânio com elevado grau
de sinostose (direita).
dva-E 55,3 47,8 55,5 51,1 52,4 54,9 48,2 52,6 49,1 51,1 43,8
dfo-d-c 56,9 49,6 54,5 50,6 52,5 53,5 53,0 46,6 49,5 52,8 46,3
dfo-d-l 35,6 30,4 38,5 29,3 31,5 34,2 33,1 33,1 30,4 35,1 29,6
Feminina 166,83 126,48 169,32 135,32 145,45 158,70 136,90 141,00 130,07 148,46 109,22
Masculina 169,51 125,87 170,58 136,86 147,24 160,95 136,26 141,08 130,05 148,46 106,30
24 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
As medições dos ossos longos fêmur direito As medidas dos quatro ossos medidos
(FD) e esquerdo (FE) e tíbia direita (TD) e foram aplicadas na fórmula de referência para o
esquerda (TE) (Tabela 3.3) foram posteriores à gênero já conhecido, tendo então quatro valores
análise dos ossos da pelve, já que para a de altura aproximada (Tabela 3.4).
estimativa da idade é preferível o conhecimento
prévio do gênero do indivíduo.
A média de estatura obtida dessas ossadas calcular a média de sinostose, foi possível
coincide com a média do Estado de Santa aplicar a fórmula referente ao gênero já
Catarina, de acordo com dados do IBGE (2008- conhecido chegando a uma estimativa idade de
2009). morte dos indivíduos estudados (Tabela 3.5).
Após determinar o grau de fechamento das Chegando à média de 57,8 anos de idade no
suturas cranianas coronal, sagital e lambdoide e momento do falecimento.
Idade 559,73 159,42 553,19 155,65 559,40 158,64 661,21 554,24 162,47 154,57 157,53
26 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
as técnicas observadas na literatura, sem dúvida precisão. Além disso, é um aspecto que sofre
a análise da pelve é a mais aceita e que alta influência externa.
apresenta o maior grau de confiabilidade, sendo As suturas cranianas, mesmo havendo
a análise quantitativa mais precisa que a muita discussão sobre a sua confiabilidade para
qualitativa, mesmo que esta última seja de mais a identificação da idade de morte, pode ser
fácil aplicação. A etnia também é um dado considerada uma das técnicas mais seguras,
muito importante para a identificação humana, apresentando 95% de assertividade em ossadas
mas se tratando da população brasileira, que de indivíduos adultos.
apresenta alto grau de mistura étnica esse dado É visível a necessidade de metodologias que
se torna inviável de ser trabalhando. sejam voltadas à população brasileira, pois a
Para a identificação biotipológica da ossada maioria dos trabalhos de referência são de
é de suma importância que o gênero seja autores estrangeiros que utilizaram para seus
conhecido inicialmente, pois esta característica estudos populações com um grupo étnico
influencia na obtenção dos resultados das homogêneo.
outras características, assim como a etnia e em O tecido ósseo é sem dúvida uma das
alguns casos a idade, que pode aumentar o grau estruturas do corpo humano que mais resistem
de assertividade da técnica. às adversidades do tempo, porém, alguns destes
A estatura é outra característica principal a podem se quebrar ou se perder com facilidade.
ser obtida em uma identificação, para obter a Isso é menos comum de se observar no crânio,
estimativa da estatura de uma ossada deve ser pois este é mais resistente, por geralmente ser
levada em consideração a falta de tecidos moles encontrado no conjunto ósseo, por esse motivo
entre os ossos, portanto deve ser aplicada a é um dos ossos mais envolvidos em técnicas de
fórmula correta, por esse mesmo motivo essa identificação.
característica não pode ser estimada com
27 | P á g i n a
Capítulo 3
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORBOREMA, M. L. Determinação da estatura por ternational Journal of Healthcare & Biomedical Re-
meio da medida de ossos secos dos membros inferio- search. Pune, p. 192. 3 abr. 2015.
res e dos ossos da pelve [dissertação]. Piracicaba: Uni- LOURENÇO, A. M. R. A fiabilidade do método de es-
versidade Estadual de Campinas, 2007. timativa da idade à morte através das suturas crania-
nas em indivíduos adultos de meia-idade e idosos [dis-
BRASIL. IBGE. Antropometria e estado nutricional de sertação]. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2010.
crianças, adolescentes e adultos no Brasil. 2009. Dispo-
nível em: <https://www.ibge.gov.br/home/estatisti- RABBI, R. Determinação do sexo através de medições
ca/populacao/condicaodevi- em ossos da pelve de esqueletos humanos [dissertação].
da/pof/2008_2009_encaa/defaulttabzip_UF.shtm>. Piracicaba: Universidade Estadual de Campinas; 2000.
Acesso em: 29 jul. 2021.
SALZANO, F. M. A Antropologia no Brasil: É a inter-
COSTA, L. R. S. Estimativa da idade através da aná- disciplinaridade possível?. Revista de Antropologia
lise das suturas cranianas: Contribuição para a An- Amazônica, v. 1, p.12, jan. 2009.
tropologia Forense [tese]. Piracicaba: Universidade Es-
tadual de Campinas, 2002. SHETTY, U. Macroscopic study of cranial suture clo-
sure at autopsy for estimation of age [tese]. New Delhi:
COSTA, L. R. S.; COSTA, B. M. A perícia médico-legal: University of Delhi, 2009.
Aplicada à área criminal. 2. ed. Campinas: Millennium,
2015. SILVA, J. T. S. O. Antropoligia Forense e Identifica-
ção Humana [dissertação]. Porto: Universidade Fer-
CROCE, D.; CROCE JUNIOR, D. Manual de Medicina nando Pessoa, 2015.
Legal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
SPENCE, A. P. Anatomia Humana Básica. 2. ed. São
FRANÇA, G. V. Medicina Legal. 9. ed. Rio de Janeiro: Paulo: Manole, 1991.
Guanabara Koogan, 2011.
VANRELL, J. P. Odontologia Legal e Antropologia
GARDNER, E.; GRAY, M. S. D. J.; RAHILLY, M.s. R. Forense. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
Anatomia: Estudo regional do corpo humano. Phyla-
delphia: Guanabara Koogan, 1975. VIRGÍNIO, P. Morfometria da pelve para diagnose se-
xual [TCC]. Vitória de Santo Andão: Universidade Fe-
HERCULES, H. C. Medicina Legal: Texto e Atlas. São deral de Pernambuco, 2013.
Paulo: Atheneu, 2005.
28 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 04
TRAUMA ANORRETAL EM
VÍTIMA DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA DURANTE A
PANDEMIA DA COVID-19:
RELATO DE CASO
1Docente - Departamento Médico-Legal de Porto Alegre / Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul
2Discente - Curso de Medicina – Universidade Luterana do Brasil – Canoas / RS
.1. INTRODUÇÃO 29 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
30 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
anos, sendo os artigos relacionados a pandemia pelo corpo, além da presença de vômitos
da COVID-19 entre 2019 e 2020; que fecalóides no local. O agressor alegou que a
abordavam as temáticas propostas para esta esposa teria saído de casa para um programa de
pesquisa. Os critérios de exclusão foram: prostituição em um outro hotel e quando voltou
artigos disponibilizados somente na forma de estaria ferida, relatando que fora abusada
resumo, que não abordavam diretamente o sexualmente com um pedaço de madeira, e
assunto abordado pelo relato de caso. posteriormente teve um mal-estar, caindo ao
Após os critérios de seleção restaram 8 chão. As investigações indicaram que o hotel
artigos que foram submetidos à leitura relatado pelo suspeito se encontrava fechado
minuciosa para a coleta de dados e devido à pandemia da COVID-19 durante o
embasamento teórico. período referido. No local do crime também
foram encontradas medicações como
3. RELATO DO CASO Escopolamina, Dipirona, Polissulfato de
Mucopolissacarídeo, Finasterida, Testosterona
A vítima do caso é uma mulher, de cor de uso veterinário e Sildenafil.
branca, 38 anos, integrante de um grupo étnico O laudo da autópsia de necropsia da vítima
cultural com características próprias e casada descreve inúmeras lesões em tegumento, em
com um homem, o qual estava devendo um alto sua maioria de aspecto recente e simultâneo
valor de dote para a família da vítima desde o com predomínio das colorações violáceas e
casamento, em virtude das idiossincrasias das azuladas, distribuídas pelo corpo da vítima,
relações pessoais típicas da comunidade em que causadas por instrumento contundente e
o casal se inseria. O marido da vítima, suspeito indicativas de origem em média entre 2 e 4 dias
do crime, utilizava Testosterona de uso prévios à data do exame. As lesões encontradas
veterinário de forma injetável e, à testemunho no períneo da vítima caracterizam elementos
de seu filho, possuía histórico agressivo com indicativos de tortura, com equimoses em todo
episódios de violência contra mulher em outros o períneo, escoriações e presença de secreção
relacionamentos e abuso sexual infantil. O casal sanguinolenta no canal vaginal e lacerações peri
residia em um hotel, onde alguns hóspedes por e intra-anais. Na inspeção da cavidade
vezes escutavam discussões no dialeto do grupo abdominal foi evidenciada extensa peritonite,
cultural que integravam e sons de golpes vindos extensas placas de fibrina aderidas às vísceras e
do quarto do casal. A vítima trabalhava como conteúdo purulento em cavidade, além de
vendedora ambulante e provia sustento à múltiplas aderências intra-abdominais (bridas).
família financeiramente, enquanto o marido O intestino delgado apresentava grau de dano
não trabalhava por alegar “problemas isquêmico e possivelmente síndrome do íleo
cardíacos”, permanecendo à toa no hotel adinâmico devido ao material fecalóide
diariamente. identificado nas narinas e boca da vítima. Essas
A vítima foi encontrada morta no chão do múltiplas lesões produzidas por instrumento
quarto do hotel do casal, pelo Serviço de contundente em região perineal e intra-
Atendimento Médico de Urgência (SAMU) abdominal, associadas à violência sexual,
acionado pelo filho do suspeito, e se provocaram contaminação da cavidade
apresentava fria, com hematomas múltiplos peritoneal com material fecal e desencadearam
31 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
32 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
33 | P á g i n a
Capítulo 4
Estudos em Ciências Forenses
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOND, L. Casos de feminicídio crescem 22% em 12 es- MARQUES, Emanuele Souza, et al. A violência contra
tados durante a pandemia. Agência Brasil, São Paulo, 01 mulheres, crianças e adolescentes em tempos de pande-
jun. 2020. mia pela COVID-19: panorama, motivações e formas de
enfrentamento. Caderno de Saúde Pública, Rio de Ja-
BRASIL. Lei n. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Dispõe neiro, v. 36, n. 4, e00074420, abr. 2020.
sobre mecanismos para coibir a violência doméstica e fa-
miliar contra a mulher. Brasília DF., 2006. Disponível MENEGHEL, S.N. et al. Feminicídios: conceitos, tipos
em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004- e cenários. Ciência & Saúde Coletiva, 22(9):3077-3086,
2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso em 10/06/2021. 2017.
CAMPOS, B. et al. Violência contra a mulher: Vulnera- NUNOO-MENSAH, J.W. et al. COVID-19 and the glo-
bilidade programática em tempos de SARS-CoV- bal impact on colorectal practice and surgery, Clin.
2/Covid-19 em São Paulo. Psicologia & Sociedade. Colorectal Cancer 19 (3) (2020) 178–190.e1.
vol.32 Belo Horizonte 2020 Epub Sep 04, 2020.
ROESCH, E. et al. Violence against women during co-
IBGE. Acesso à internet e à televisão e posse de telefone vid-19 pandemic restrictions. BMJ 2020; 369 :m1712.
móvel celular para uso pessoal PNAD contínua. 2018.
Disponível em: <https://www.ibge.gov.br/estatisticas/ SILVA, V.H. Governo lança app para denúncia de vio-
sociais/populacao/17270-pnadcontinua.html?edicao= lência contra a mulher. Abr. 2020. Disponível em:
27138&t=resultados>. Acesso em: 10/06/2021. <https://tecnoblog.net/332627/governo-lanca-direitos-
humanos-br-denuncia-violencia-contra-mulher/>.
JOHNSON, K. et al. The impact of COVID-19 on servi- Acesso em: 10/06/2021
ces for people affected by sexual and gender-based vio-
lence. International Journal of Gynecology & Obste- STEARNS, Peter N. História das relações de gênero.
trics v. 150, Issue 3 p. 285-287. São Paulo: Contexto, 2007.
KOVELMAN, I. et al. Fatal anorectal trauma in the set- TELLES, L.E.B. et al. Domestic violence in the COVID-
ting of sexual assault: case report and literature survey. 19 pandemic: a forensic psychiatric perspective. Brazi-
American Journal of Forensic Medicine and Patho- lian Journal of Psychiatry 2020
logy. 2010 Sep;31(3):273-7.
.
34 | P á g i n a
CAPÍTULO 05
A DOAÇÃO DE CORPOS
PARA O ENSINO DA
ANATOMIA HUMANA:
REVISÃO DE LITERATURA
ALLANA VICTÓRIA PEREIRA ALVES1
ANA MARIA MESTRE SILVA4
ANDREZZA MARIA SOUZA VIANA BARRETO BORBOREMA1
ANNALICE PINHEIRO PAES2
CAIO VICTOR QUEIROGA BARRETO3
DÉBORAH AMORIM QUESADO3
ELIZANDRA GOMES BEZERRA SOARES3
GABRIELY OLIVEIRA FERNANDES COUTINHO2
INDARA LIMA MOTA3
ISADORA MAYSA DE SOUZA1
ÍTALO BRUNO FEITOSA COUTINHO BRAGA6
JOÃO VITOR DE ALENCAR DUARTE GONÇALVES2
LARA MARIA CARVALHO LEITE2
LAURA DE SOUZA LIMA2
MARIA CECÍLIA ALENCAR DE AMORIM2
SAMARA CAROLINA ALVES DONATO5
(UNICEPLAC).
6 Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
35 | P á g i n a
Capítulo 5
Estudos em Ciências Forenses
36 | P á g i n a
Capítulo 5
Estudos em Ciências Forenses
37 | P á g i n a
Capítulo 5
Estudos em Ciências Forenses
38 | P á g i n a
Capítulo 5
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BEZERRA, PATRÍCIA MELO et al. Ethical and legal experiência do Serviço de Cirurgia Plástica do Hospital
analysis of scientific research on corpses in Brazil. Universitário Professor Edgard Santos da Universidade
Revista Bioética. 2020, v. 28, n. 3, pp. 554-564. Federal da Bahia. Revista Brasileira de Cirurgia
Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1983- Plástica. 2011, v. 26, n. 4, pp. 561-565.
80422020283420>. Acessado em 29 de julho de 2021.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ANATOMIA.
CORDEIRO, ROGÉRIO GUIMARÃES; MENEZES, ENTENDENDO A DOAÇÃO DE CORPOS PARA
RICARDO FERNANDES. Lack of Corpses for FINS DE ENSINO E PESQUISA, 2018. Disponível em:
Teaching and Research. Revista Brasileira de <https://sbanatomia.org.br/doacao-de-corpos/>.
Educação Médica 2019, v. 43, n. 1 suppl 1, pp. 579-587. Acessado em 07 de agosto de 2021.
COSTA, GILLIENE BATISTA FERREIRA da et al. O UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA – UFPB,
cadáver no ensino da anatomia humana: uma visão DEPARTAMENTO DE MORFOLOGIA DO CENTRO
metodológica e bioética. Revista Brasileira de DE CIÊNCIAS DA SAÚDE, 2018. Disponível em:
Educação Médica. 2012, v. 36, n. 3, pp. 369-373. <http://www.ccs.ufpb.br/dmorf/contents/menu/doacao-
de-corpos/>. Acessado em 07 de agosto de 2021.
MELO, ELIZABETH NEVES DE; PINHEIRO, JOSÉ
THADEU. Procedimentos legais e protocolos para UNIVERSIDADE FEDERAL DO PAMPA –
utilização de cadáveres no ensino de anatomia em Unipampa. Existe alguma lei que fundamente a doação?,
Pernambuco. Revista Brasileira de Educação Médica. 2018. Disponível em: <https://sites.unipampa.edu.br/
2010, v. 34, n. 2, pp. 315-323. doacaodecorpos/existe-alguma-lei-que-fundamente-a-
doacao/>. Acessado em 05 de agosto de 2021.
POCHAT, VICTOR DINIZ de et al. Atividades de
dissecção de cadáveres e residência médica: relato da
39 | P á g i n a
CAPÍTULO 06
UTILIZAÇÃO MORFOMETRICA
DOS PONTOS NÁSIO,
FRONTOZIGOMÁTICO
ORBITAL E FORAME
INFRAORBITAL PARA
DETERMINAÇÃO DO SEXO
40 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
41 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
Foram incluídos na pesquisa todos os crânios de 95% de confiança, além de curvas ROC (Recei-
indivíduos com idade acima de 20 anos, e ex- ver Operating Curve) e estimada área abaixo da
cluídos aqueles que apresentavam qualquer tipo curva ROC e seus respectivos intervalos com
de dano, ou variações anatômicas relacionadas 95% de confiança. Foi estimado o efeito com-
à região do estudo. Foram realizadas as medidas binado das medidas por meio de regressão lo-
das distâncias entre os pontos násio e forame in- gística. Foram calculadas correlações de Spear-
fraorbital (FIO); násio e sutura frontozigomá- man para avaliar o poder preditivo das medidas
tica orbital (ZO) e FIO e ZO, a partir das quais do crânio e a idade. O software utilizado foi o
calculou-se uma área triangular (AT) formada R Core Team 2020 (Versão 4.0.4) e o nível de
por esses pontos. Todas as medidas foram obti- significância adotado foi de 5%.
das utilizando um paquímetro digital de preci-
são de 0,05mm. 3. RESULTADOS
A análise estatística foi a seguinte: as variá-
veis contínuas foram descritas por meio de mé- Dos 237 crânios analisados, três foram ex-
dia, mediana, desvio padrão e intervalo inter- cluídos por conta da idade, um possuindo 11
quartil. A hipótese de aderência das variáveis anos, e dois com idade de 18 anos. A partir dos
contínuas e a distribuição normal foi testada por 234 crânios restantes, foram realizadas estatís-
meio do teste de Shapiro-Wilks. Uma vez que ticas descritivas das variáveis, através do cál-
essa não foi verificada, a hipótese de igualdade culo da média, mediana, desvio padrão e inter-
de medianas foi testada por meio do teste de valo interquartil. Os valores de média e medi-
Mann-Whitney. Na análise de acurácia diag- ana foram maiores nos homens do que nas mu-
nóstica, foram estabelecidos pontos de corte por lheres, com exceção da distância do FIO até
meio do índice de Youden, que busca determi- ZO, que apresentou igualdade entre os sexos.
nar pontos com máxima sensibilidade e especi- Concomitantemente, o teste de Mann-Whitney
ficidade. Para caracterizar estes pontos foram indicou que a variável mais distinta entre os se-
estimados: sensibilidade, especificidade, valor xos foi a distância entre o násio e a ZO, sendo p
preditivo positivo e negativo, razão de chances < 0,001 (Tabela 6.1).
diagnósticas e seus respectivos intervalos com
Feminino Masculino
42 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
Figura 6.1 Desempenho das variáveis por meio do gráfico da curva ROC
43 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
Tabela 6.2 Desempenho das variáveis na estimativa do sexo, por meio da AUC, VPP e VPN
Área do
Masculino/Feminino FIO-ZO FIO-Násio ZO-Násio Efeito combinado
Triângulo
Ponto de corte (cm) 37,1 43,0 51,9 796,57 0,651
AUC 0,52 0,63 0,66 0,60 0,67
(IC95%) (0,45-0,60) (0,55-0,70) (0,59-0,73) (0,53-0,67) (0,60-0,74)
Sensibilidade (%) 35,2 64,0 56,8 46,1 56,1
Especificidade (%) 71,6 56,8 71,7 71,6 72,6
VPP (%) 64,5 68,5 74,5 70,3 75,0
VPN (%) 43,0 51,9 53,1 47,5 53,1
RCD 1,37 2,34 3,32 2,15 2,67
(IC95%) (0,78-2,41) (1,37-4,00) (1,90-5,79) (1,23-3,75) (1,54-4,68)
Youden 0,068 0,209 0,284 0,176 0,287
Legenda: AUC – Área abaixo da curva. IC95% – Intervalo com 95% de confiança. VPP – Valor preditivo positivo. VPN – Valor
preditivo negativo. RCD – Razão de Chance Diagnóstica. IC95% - Intervalo com 95% de Confiança.
Visando melhorar o desempenho das variá- Tabela 6.4 Desempenho do efeito combinado
veis na estimativa do sexo, combinou-se o mé- na estimativa do sexo
todo de regressão logística com o cálculo da Masculino/Feminino Efeito combinado
Ponto de corte (cm) 0,651
curva ROC, a partir da construção de uma equa-
AUC 0,67
ção característica, demonstrada na Tabela 6.3. (IC95%) (0,60-0,74)
As medidas foram avaliadas e comparadas com Sensibilidade (%) 56,1
Especificidade (%) 72,6
os pontos de corte. Valores acima do ponto de VPP (%) 75,0
corte combinado, indicam que o crânio é do VPN (%) 53,1
RCD 2,67
sexo masculino. Caso contrário, indica que o
(IC95%) (1,54-4,68)
crânio é do sexo feminino. A análise diagnós- Youden 0,287
tica combinada da variável ZO - násio apresen- Legenda: AUC – Área abaixo da curva. IC95% – Inter-
valo com 95% de confiança. VPP – Valor preditivo positivo.
tou o melhor desempenho, resultando em um VPN – Valor preditivo negativo. RCD – Razão de Chance Di-
valor preditivo positivo de 75% e um valor pre- agnóstica. IC95% - Intervalo com 95% de Confiança.
ditivo negativo de 53,1%, verificando-se uma Além disso, também foi calculada a área
ligeira melhoria do desempenho para crânios abaixo da curva para o efeito combinado, que
masculinos, enquanto que para crânios femini- resultou em uma capacidade preditiva de 67%,
nos não houve diferença, como se vê na Tabela indicando um aumento de 1 ponto percentual,
6.4. como demonstrado na Figura 6.2.
44 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
45 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
46 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
47 | P á g i n a
Capítulo 6
Estudos em Ciências Forenses
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREITAS, B. et al. Utilização dos pontos násio, MOODLEY, M. et al. The Morphometry and
frontozigomático orbital e forame infraorbital na Morphology of the Foramen Magnum In Age And Sex
estimativa do sexo e idade em crânios secos de adultos. Determination Within The South African Black
Anais 2016: 18ª Semana de Pesquisa da Universidade Population Utilizing Computer Tomography (CT) Scans.
Tiradentes. “A prática interdisciplinar alimentado a International Journal of Morphology, vol. 37, n. 1, p.
Ciência”. n. 18, p. 1-4, 2016. [Apresentado no 18ª 251-257, 2019.
Semana de Pesquisa da Universidade Tiradentes; 2016
Out 24-28; Aracaju, BR]. NASCIMENTO, B et al. Investigação do Sexo e Idade
através de Mensurações em Ossos Occipitais de Crânios
JÚNIOR, E. et al. Investigação do sexo através de uma Secos de Adultos. Brazilian Journal of Forensic
área triangular facial formada pela interseção dos pontos: Sciences, Medical Law and Bioethics, vol. 8, n. 4, p.
forame infraorbital direito, esquerdo e o próstio, em 178-187, 2019.
crânios secos de adultos. Revista de Ciências Médicas e
Biológicas, v. 9, Supl 1, p. 8-12, 2010. NIDUGALA, H. et al. Sexual dimorphism of the
craniofacial region in a South Indian population.
JÚNIOR, E. et al. Investigação do sexo e idade por meio Singapore Medical Journal, vol. 54, n. 8, p. 458-462,
de mensurações interforames em crânios secos de 2013.
adultos. Revista de Ciências Médicas e Biológicas, v.
12, n. 1, p. 55-56, 2013. NIJAGUNAPPA, N & BIDARKOTIMATH, S.
Determination of sex using morphometry of foramen
JUNIOR, E. et al. Estimativa do sexo e idade por meio magnum in south indian population. Journal of
de mensurações cranianas. Revista Bahiana de Evidence-Based Healthcare, vol. 3, n. 5, p. 147-149,
Odontologia, vol. 6, n. 2, p. 81-88, 2015. 2016.
LIMA, A, SILVA, R, JÚNIOR, E. Análise entre os SIVAKUMAR, M. et al. Gender determination analysis
pontos zigomáticos orbitais e espinha nasal anterior na using anthropometrical dimensions of 2D:4D, foot index
investigação do sexo e idade em crânios secos de adultos. and mandibular canine index. Journal of oral and Ma-
Revista Brasileira de Ciências Criminais, vol. 5, n. 3, xillofacial Pathology, vol. 24, n. 3, p. 510-516, 2020.
p. 7-13, 2016.
48 | P á g i n a
CAPÍTULO 07
CIÊNCIA FORENSE:
IDENTIFICAÇÃO DE PESSOAS
DESAPARECIDAS E OSSADAS
ATRAVÉS DE TÉCNICAS
MOLECULARES
49 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
1. INTRODUÇÃO 2. MÉTODO
A biologia molecular se baseia nas intera- Trata-se de uma pesquisa exploratória,
ções existentes no Ácido desoxirribonucléico composta por uma revisão narrativa da
(DNA) para a produção de Ácido ribonucléico literatura.
(RNA) e síntese de proteínas. Na busca por in- A revisão integrativa da literatura foi reali-
formações mais exatas, essa ciência se apre- zada no período de janeiro a novembro de 2020,
senta, com base em técnicas de alta sensibili- por meio de pesquisas nas bases de dados Lite-
dade e caráter discriminatório, como uma das ratura Latino-americana e do Caribe em Ciên-
áreas responsáveis no auxílio da justiça e da ci- cias da Saúde (LILACS), Medical Literature
ência forense contribuindo para a resolução de Analysis and Retrieval System Online
crimes a partir de vestígios/material genético, (MEDLINE), Biblioteca Virtual em Saúde
determinação de paternidade e em especial na (BVS), National Center for Biotechnology In-
identificação humana mediante seu perfil gené- formation (NCBI). Foram utilizados os descri-
tico (FRUEHWIRTH et al., 2015). tores: genética forense, identificação humana e
Metodologias moleculares utilizam amos- DNA forense, cadastrados no Descritores em
tras biológicas e fluidos corporais como man- Ciências da Saúde (DeCS). Desta forma, foram
chas de sangue, cabelo, ossos, sêmen, dentes, encontrados 168 artigos, posteriormente sub-
saliva, urina e, juntamente com a genética, pos- metidos aos critérios de seleção.
sibilitam a análise de marcadores moleculares Os critérios de inclusão foram artigos nos
empregados nas distinções entre sequências de idiomas Português, Inglês e Espanhol, publica-
DNA nas populações (FREDERICO, 2015). dos no período de 2005 a 2020 e que abordavam
Através da aplicação de conceitos técnicos as temáticas propostas para esta pesquisa, estu-
e acadêmicos, estudados em Biomedicina, refe- dos do tipo (revisão, meta-análise), disponibili-
rente à biologia molecular e genética, junta- zados na íntegra. Também foram incluídos dis-
mente com a necessidade de informações mais sertações, teses, livros e repositórios da inter-
exatas, baseadas nas técnicas moleculares, para net. Os critérios de exclusão foram: cartas ao
auxílio da ciência forense na resolução de cri- editor, artigos de opinião, artigos publicados
mes e na identificação humana, pretende-se res- sem material completo e artigos que não esta-
ponder o seguinte problema: Quais são as prin- vam de acordo com a questão norteadora e/ou
cipais técnicas de biologia molecular emprega- não se enquadraram nos critérios de inclusão
das na identificação humana? adotados.
Diante destas considerações, o objetivo Após os critérios de seleção restaram de-
deste estudo foi descrever os métodos mais uti- zoito artigos que foram submetidos à leitura mi-
lizados pelos laboratórios forenses e relacionar nuciosa para a coleta de dados, além de quatro
as técnicas de biologia molecular com a resolu- livros, cinco dissertações de mestrado, uma tese
ção de crimes e identificação humana. de doutorado e dois repositórios da internet. Os
resultados foram apresentados de forma descri-
tiva, divididos em categorias temáticas abor-
dando as técnicas moleculares utilizadas na ci-
ência forense.
50 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
51 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
identifica um padrão que se estende por muitas como sangue, saliva, sêmen, dentre outros, em
gerações, por até mais de 500 anos. Desse condição líquida e em pequena quantidade, faz-
modo, um indivíduo masculino apresenta um se necessária à coleta por meio de swab estéril.
padrão de cromossomo Y praticamente idêntico Em grande quantidade, faz-se necessária à co-
a todos os seus ascendentes e descendentes (DA leta com seringa descartável e estéril
SILVA JÚNIOR & SOUZA, 2016). (FRUEHWIRTH et al., 2020).
Outro tipo de marcador utilizado são os po- Caso o fluido se encontre seco e em peque-
limorfismos de nucleotídeo único, do inglês, nos objetos ou peças de vestuário, estes objetos
Single Nucleotide Polymorphism (SNPs). Os devem ser conduzidos para análise. Em grandes
SNPs representam o polimorfismo mais comum objetos, superfícies metálicas, paredes ou mó-
encontrado no genoma. As variações ocorrem veis, necessitam ser retirados com bisturi, espá-
em apenas um nucleotídeo em cada sequência tula ou swab umedecido com água estéril
de DNA, ocorrendo perto de uma vez a cada (FRUEHWIRTH et al., 2020).
1.350 pares de bases (pb) no genoma humano Todo processo de coleta de material bioló-
(DECANINE, 2016). gico para análise deve considerar as normas de
O marcador de DNA Mitocondrial biossegurança padronizadas pela legislação e
(mtDNA) é utilizado quando o material bioló- pelos programas de acreditação laboratorial,
gico está muito danificado ou quando não é pos- tendo em vista a proteção pessoal do perito e
sível extrair DNA genômico nuclear. Para a evitando o que se denomina de erro humano.
análise é realizado o sequenciamento de deter- Em seguida a coleta e acondicionamento apro-
minadas regiões de mtDNA, que variam de uma priado dos materiais, estes devem ser direciona-
pessoa para outra. O mtDNA está presente em dos ao laboratório credenciado e preparado para
todas as células, apresentando assim menor análise (SILVA & GONTIJO, 2010).
risco de degradação em relação ao DNA nu- Com objetivo de isolar o material genético
clear (SANTOS et al., 2005). é necessário realizar a extração de DNA especí-
fica para cada amostra. Após extraídas, as
3.3 Manipulação do material genético amostras de DNA podem ser submetidas a pro-
3.3.1 Coleta, extração e purificação de cessos de concentração e de purificação a fim
DNA para uso forense melhorar sua qualidade (CORRAD, 2017 &
GALLAGHER, 2011).
Para uso forense o material biológico deve A assepsia durante todas as etapas é funda-
ser coletado, preservado e manipulado sobre rí- mental. Desta forma, o uso de luvas é obrigató-
gidos critérios, com o intuito de preservar sua rio no manuseio de amostras, a fim de evitar
estabilidade e possibilitar resultados confiáveis contaminação do material e para que não ocorra
(FRUEHWIRTH et al., 2020). a contaminação do profissional responsável
Amostras como órgãos, pelos com bulbo através do material biológico potencialmente
capilar, tecidos, pele, unha e ossos devem ser infectante. Adicionalmente, o uso de equipa-
documentados através de fotografias ou descri- mento de proteção individual (EPI), auxilia
ções. O equipamento de coleta deve ser estéril para que não aconteça a degradação dos ácidos
e cada amostra armazenada separadamente, se- nucleicos por nucleases, enzimas encontradas
lada e identificada. Para amostras de fluidos
52 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
em fluidos corporais principalmente nas mãos sim, os problemas mais comumente encontra-
(OLIVEIRA, 2007). dos incluem baixo número de cópias e aparên-
A extração e purificação do DNA são etapas cia de partículas que dificultam a cópia do con-
de suma importância, pois uma análise de qua- teúdo (ALVAREZ-CUBERO et al., 2010).
lidade envolve quantidade, qualidade e pureza A reação em cadeia da polimerase (PCR) é
satisfatória de DNA. Um grande desafio é a uma técnica utilizada nas ciências básicas e bi-
falta de protocolo padrão para a extração do ma- omédicas com o objetivo de amplificar uma de-
terial genético de diferentes origens biológicas terminada região do DNA. Pode ser aplicada
e/ou organismos (CARVALHO, 2009; WANG por exemplo, pelos cientistas forenses para cor-
et al., 2011). relacionar o DNA da cena do crime com os sus-
A metodologia fenol/clorofórmio é uma peitos (GHANNAM & VARACALLO, 2020;
técnica utilizada pelos laboratórios forenses, REECE et al., 2011).
esta técnica tem como objetivo a retirada das A PCR compreende três etapas: a primeira
proteínas da solução tornando-as insolúveis na etapa envolve a desnaturação do DNA da amos-
parte aquosa na qual o DNA se encontra, sendo tra, que acontece através do aumento de tempe-
considerada exaustiva e arriscada, pelo fato de ratura, em torno de 95ºC, responsável por rom-
o fenol ser uma substância tóxica (SILVA, per as ligações de hidrogênio possibilitando a
2017). abertura da fita dupla do DNA; a segunda etapa
Outra metodologia utilizada é a extração de ocorre o anelamento de primers específicos na
DNA adicionando-se esferas magnéticas reves- região de interesse; a terceira etapa ocorre a adi-
tidas de sílica, as quais isolam o DNA purifi- ção dos nucleotídeos na nova fita de DNA. Na
cado a um tampão de lise. As esferas magnéti- PCR convencional, as três etapas de ciclagem
cas possuem alta especificação de ligação ao são repetidas em torno de 25 a 35 ciclos, sendo
DNA permitindo eliminar inibidores e alto grau que a cada ciclo de amplificação ocorre um au-
de purificação. Atualmente é uma técnica muito mento exponencial do DNA (OLIVEIRA E
utilizada nos laboratórios forenses e garante FILHO, 2018; HAAS & TORRES, 2016).
uma maior segurança para a saúde do analista A execução da técnica requer os seguintes
por não apresentar toxicidade (BASTOS, insumos e equipamentos:
2018). ● Amostra: amostra biológica. Exemplo:
osso
3.4 Técnicas de identificação ● Primers: iniciadores da reação de ampli-
3.4.1 PCR e sua aplicação em ciências fo- ficação.
renses ● Desoxirribonucleicos Fosfatos
As amostras encontradas em cenas de cri- (dNTPs): responsáveis pela formação da nova
mes na maioria das vezes não estão em bom es- fita de DNA
tado de conservação, por esse motivo existe a ● Taq DNA polimerase: adiciona os
possibilidade de o material genético se encon- dNTPs na fita de DNA nascente
trar degradado. Em situações como essa, o ● Cloreto de Magnésio e Tampão: cofato-
DNA pode estar presente em pequenas quanti- res da enzima Taq DNA-polimerase
dades, danificado, fragmentado ou com modifi- ● Termociclador: equipamento responsá-
cações estruturais na sequência base. Sendo as- vel pela ciclagem de temperatura, possibili-
53 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
54 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
rada a cada ciclo possibilitando a leitura pelo rada à distância que outros fragmentos conheci-
equipamento e informando a quantidade de dos percorrem o mesmo gel (MAGALHÃES et
DNA ligado a sonda utilizada na reação. A PCR al., 2005).
em tempo real pode ser aplicada na ciência fo- A eletroforese capilar é largamente utili-
rense para análise mRNA post-mortem, avali- zada na análise de DNA forense, graças a sua
ando a expressão gênica (PAVANI, 2017). capacidade de permitir que vastas quantidades
de amostras possam ser examinadas de maneira
3.5 Eletroforese automatizada, além de serem necessárias pou-
A eletroforese é uma técnica que permite cas quantidades de amostra. Todavia, mesmo
separar e visualizar moléculas em relação ao sendo uma técnica versátil e de fácil aplicabili-
seu tamanho (massa), forma e compactação. dade, a eletroforese convencional possui a des-
Pela aplicação da molécula de DNA em um gel vantagem de identificar apenas quanto ao tama-
de agarose ou acrilamida e mediante a aplicação nho dos fragmentos e não as sequências que os
de uma corrente elétrica, o DNA irá migrar para formam (OLIVEIRA & FILHO, 2018).
o polo positivo, pois apresenta carga negativa.
Pelo fato de a molécula ser composta por frag- 4. CONCLUSÃO
mentos de tamanhos diferentes, a migração irá
ocorrer em velocidades diferentes. A distância Este estudo demonstra a importância da uti-
percorrida, a partir do ponto de aplicação, é lização de técnicas de biologia molecular apli-
comparada com outros fragmentos já classifica- cadas na ciência forense. A compreensão das
dos. O DNA pode ser visto com a utilização do propriedades do material genético possibilitou
composto brometo de etídio que se liga ao DNA o desenvolvimento de metodologias, as quais
dupla fita e que emite fluorescência quando ex- podem ser aplicadas para a identificação de pes-
posto à luz ultravioleta (KOCH & ANDRADE, soas desaparecidas e ossadas através de análises
2008). em regiões conservadas ao longo da evolução
No procedimento, o gel atua como filtro da espécie e altamente polimórficas. As técni-
molecular, no qual as moléculas de DNA são cas moleculares são cruciais e servem de base
posicionadas em paralelo ao campo elétrico. A para pesquisas, análises e desenvolvimento de
dificuldade de transpassar a matriz do gel em casos. A constante atualização das metodolo-
direção ao polo positivo é inversamente propor- gias representa uma ferramenta poderosa de au-
cional ao tamanho de cada fragmento. As mo- xílio tanto na resolução de crimes, quanto na
léculas menores tendem a migrar com mais fa- identificação de pessoas vítimas de acidentes,
cilidade e agilidade. Dessa forma, quanto maior onde apenas a análise do material genético pos-
for a molécula maior será o tempo de migração, sibilita sua identificação. Desse modo, a cons-
propiciando assim a separação por tamanho ou tante atualização dos métodos e pesquisas são
peso molecular. A distância que os fragmentos imprescindíveis para a ciência forense.
cruzam a partir do ponto de aplicação é equipa-
55 | P á g i n a
Capítulo 7
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVAREZ-CUBERO, M.J. et al. Nuevas aplicaciones en KOCH, A.; ANDRADE, F. M. de. A utilização de técnicas de
identificación genética. Cuadernos de medicina forense, biologia molecular na genética forense: uma revisão. Revista
Málaga, v. 16, n. 1-2, p. 5-18, jun. 2010 Brasileira de Análises Clínicas, v. 40(1), p. 17-23, 2008.
BASTOS, GV. Utilização do Kit DNA IQ™SYSTEM na MACHADO, H. et al. Políticas de identidade: perfil de DNA
Extração de DNA por Lise Diferencial em Amostras e a identidade genético-criminal. Análise Social, Lisboa, n.
Coletadas de Vítimas de Crime Sexual [dissertação]. Paraíba: 196, p. 537-553, 2010.
Universidade Federal da Paraíba; 2018.
MAGALHÃES V. D.; FERREIRA, J. C.; BARELLI, C.;
BERRIEL, Y. G. et al. Mini-curso “Biologia Forense: A DARINI, A. L. C. Eletroforese em campo pulsante em
Ciência Desvendando o Crime”-Discutindo Tecnologia e bacteriologia uma revisão técnica. Revista do Instituto Adolfo
Ciência em Sala de Aula. In: Colloquium Humanarum. p. 53- Lutz, São Paulo, v. 64, n. 2, p.155-161, 2005
58, 2011.
OLIVEIRA, M.C. de S et al. Fundamentos Teórico-Práticos e
BONACCORSO, N. S. Aplicação do Exame de DNA na Protocolos de Extração e de Amplificação de DNA por Meio da
Elucidação de Crimes [dissertação]. São Paulo: Universidade Técnica da Reação em Cadeia da Polimerase. Embrapa,
de São Paulo, 2005 Brasília, 2007.
CÂNDIDO, I. M. et al. DNA extraction from human bone: OLIVEIRA, T.S.; FILHO, A.V.M. Técnicas de Biologia
comparison of magnetic bead and silica column techniques. Molecular Utilizadas para Desvendar Crimes. Saúde & Ciência
Revista Odontológica do Brasil Central, v. 23, n. 66, 2014. em ação. Revista Acadêmica do Instituto de Ciências da
Saúde, v.4, n.01, 2018.
CARVALHO, HG de A. Extração de DNA de ossos hu-
manos, sem pulverização, para uso em identificação forense PAVANI, C. Desenvolvimento e Aplicação da Técnica de
[dissertação]. Pernambuco: Universidade Federal de Nested-RT-PCR para a Detecção e Identificação de
Pernambuco; 2009. Variantes Brasileiras do Vírus da Bronquite Infecciosa
[dissertação]. São Paulo: Universidade estadual Paulista, 2017
CORRADI, L. M. et al. Identificando pessoas desaparecidas: a
contribuição da odontologia forense e do DNA. Revista de PITASSI, C. et al. Fatores que influenciam a adoção de
odontologia UNESP, Araraquara, v. 46, n. 6, p. 313-318, 2017. ferramentas de TIC nos experimentos de bioinformática de
organizações biofarmacêuticas. Ciência & Saúde Coletiva, v.
DA SILVA JÚNIOR, J. R. & SOUSA, V. E. T. Marcadores 19, p. 257-268, 2014.
Moleculares: um enfoque forense. Acta de Ciências e Saúde,
v. 1, n. 1, p. 1-22, 2016. REECE, J. B. Forensic evidence and genetic profiles. 10th ed.,
pp. 430-431. San Francisco, CA: Pearson, 2011.
DECANINE, D. O papel de marcadores moleculares na
genética forense. Revista Brasileira Criminalística, v. 5, n.2, RODOVALHO, R. G. et al. Development of a Polymorphic
p. 18-27, 2016. Short Tandem Repeat Locus Multiplex System for Efficient
Human Identification. Genetics and Molecular Research, 2017.
DOLINSKY, L. C.; PEREIRA, L. M. C. V. DNA forense.
Saúde e ambiente em Revista, v. 2, n. 2, p. 11-22, 2007. SANTOS, Ândrea K. C. R. dos; SANT´ANA, Andrea C.;
ALVES, Alessandra P. P. DNA Mitocondrial. 2005. Disponível
FREDERICO, PRP. Análise de frequências alélicas de 15 em: www.seguranca.mt.gov.br/politec/3c/ arti-
marcadores STR em alunos da Faculdade de Odontologia gos/dna_mitocondrial.doc. Acesso em: 09 maio de 2020
de Bauru [tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 2015.
SILVA, Ana Carolina A.; GONTIJO, Carolina Carvalho.
FRUEHWIRTH, M. et al. Técnicas de Biologia Molecular Acreditação, validação e verificação em práticas forenses 2010.
Aplicadas a Perícia e Ciência Forense. Derecho y Cambio Disponível em: www.cpgls.ucg.br/home/ se-
Social, 2015. cao.asp?id_secao=3148. Acesso em 13 fev. de 2020.
GALLAGHER, S. R. Quantitation of DNA and RNA with SILVA, AO da. Avaliação de Protocolos de Extração e
absorption and fluorescence spectroscopy. Current Protocols Purificação de DNA Alvo da Reação em Cadeia da
in Neuroscience, A.1.K1, 2011. Polimerase na Detecção de Leishmania (Viannia) ssp.
[dissertação]. Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães, Fundação
GALVÃO, C., org. Vetores da doença de chagas no Brasil
Oswaldo Cruz; 2017.
[online]. Curitiba: Sociedade Brasileira de Zoologia, 2014, pp.
241-260. Zoologia: guias e manuais de identificação series. THYSSEN, P. J. et al. The value of PCR-RFLP molecular
ISBN 978-85-98203-09-6. markers for the differentiation of immature stages of two
necrophagous flies (Diptera: Calliphoridae) of potential
GHANNAM, M. G.; VARACALLO, M. REECE Bio-
forensic importance. Neotropical Entomology, v. 34, n. 5, p.
chemistry, Polymerase Chain Reaction. StatPearls [Internet],
777-783, 2005.
2020.
WANG, T. Y. et al. A simplified universal genomic DNA
HAAS, D.J.; TORRES, A.C.D. Aplicação das técnicas de PCR
extraction protocol suitable for PCR. Genetics and Molecular
no diagnóstico de doenças infecciosas dos animais. Revista
Research, v. 10, n. 1, p. 519-25, 2011.
Científica de Medicina Veterinária, Ano XIV, n. 16, 2016.
56 | P á g i n a
CAPÍTULO 08
PRÁTICAS AVANÇADAS E
ENFERMAGEM FORENSE
ALIADAS AO COMBATE À
VIOLÊNCIA SEXUAL
CONTRA A MULHER
Universidade de Brasília.
7Membro do International Association of Forensic Nurses (IAFN).
57 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
58 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
59 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
um importante comunicador entre os diversos Desta forma, pode-se dizer que o NASF consti-
níveis da rede, por ter sua atividade focada na tui uma retaguarda especializada voltada para
resolubilidade de variadas doenças, integração atender às demandas que tiveram como o início
com as ações e programas e, se necessário, pode o atendimento via atenção básica ou pela estra-
dividir o cuidado com outros serviços ou pontos tégia saúde da família (BRASIL, 2014b).
de ação, desenvolvendo um papel regulador de Os atendimentos realizados por esses pro-
acesso (BRASIL, 2014b). fissionais especializados devem ter duas verten-
Cabe citar a Portaria nº 4.279, de 30 de de- tes como base, o clínico-assistencial e a técnica-
zembro de 2010, do Ministério da Saúde, que pedagógica. A primeira traz a ação direta cen-
define a RAS como: trada na doença do indivíduo propriamente
dito; o segundo traz uma visão mais coletiva,
[...] arranjos organizativos de ações e ser- estabelecendo ações voltadas aos riscos, vulne-
viços de saúde, de diferentes densidades rabilidade ou atividades laborais geradoras de
tecnológicas, que integradas por meio de
doenças (BRASIL, 2014b).
sistemas de apoio técnico, logístico e de
gestão, buscam garantir a integralidade Os pontos de atenção secundária e terciária
do cuidado O objetivo da RAS é promo- também fazem parte das RAS, entretanto, de
ver a integração sistêmica, de ações e ser- uma forma mais restrita, impondo certos tipos
viços de saúde com provisão de atenção de divisões técnicas. Os demais componentes
contínua, integral, de qualidade, respon-
da rede, como sistemas de apoio, logísticos e o
sável e humanizada, bem como incre-
mentar o desempenho do Sistema, em sistema de governança, são transversais a todos
termos de acesso, equidade, eficácia clí- os pontos da rede, sendo assim comum a todos
nica e sanitária; e eficiência econômica (VILAÇA, 2015).
(BRASIL, 2010, Anexo).
não se pode afirmar que essa redução foi origi- O estupro pode trazer grandes danos para as
nada pelas campanhas e programas existentes, vítimas, como traumas físicos e psicológicos,
ou se foi pela subnotificação dos casos devido seja imediato, a curto ou longo prazo, depres-
aos isolamentos sociais ocorridos nesse período são, vícios (uso de álcool e drogas), transtornos
pandêmico (BUENO et al., 2021; FBSP, 2021). de ansiedade, transtorno de estresse pós-trau-
Analisando os últimos onze anos, estudos mático, como também outras sequelas mais gra-
realizados indicam que, enquanto os homicí- ves e irreversíveis, dependendo de como foi
dios a mulheres nas residências cresceram praticado o ato, tais como lesões nos órgãos ge-
10,6% entre 2009 e 2019, os assassinatos fora nitais, lacerações, perfurações de órgãos e até
das residências apresentaram redução de 20,6% mesmo tentativas de suicídio e morte por he-
no mesmo período, indicando um provável morragias.
crescimento da violência doméstica Vale mencionar que pode, ainda, ocorrer a
(CERQUEIRA et al., 2021). gravidez indesejada, em casos em que a vítima
As Organizações das Nações Unidas não venha a ser atendida em tempo oportuno
(ONU) definem a violência contra as mulheres para utilizar os métodos contraceptivos de ur-
como “qualquer ato de violência de gênero que gência e as profilaxias para evitar as doenças
resulte ou possa resultar em danos ou sofrimen- sexualmente transmissíveis. O tempo passa a
tos físicos, sexuais ou mentais para as mulheres, ser fator importante na minimização /erradica-
inclusive ameaças de tais atos, coação ou priva- ção desses danos (MASSARO et al., 2019).
ção arbitrária de liberdade, seja em vida pública Atualmente, a violência sexual contra a mu-
ou privada” (OPAS/OMS, [2002], online). lher é um dos temas mais comentados no
A conceituação de violência sexual contra a mundo. A pandemia da Covid-19 contribui para
mulher pode ser definida como qualquer ato se- esse aumento, pois, em razão de medidas como
xual, tentativa de obter um ato sexual, insinua- isolamento social, as vítimas ficaram em maior
ções sexuais não desejadas, atos de tráfico ou contato com seus agressores, ainda mais ex-
dirigidos contra a sexualidade de uma pessoa posta e impedidas de notificar, denunciar e de
usando coerção, por qualquer pessoa, não ne- buscar ajuda nos serviços essenciais disponí-
cessariamente sendo alguém do vínculo de re- veis, devido à interrupção ou adaptação para a
lacionamentos próximos, sem limitar a penetra- forma via telefone ou online desses serviços.
ção da vulva ou ânus com o pênis, ou outra É visível que, para mudar esse quadro que
parte do corpo ou objeto, entretanto essa defini- assola o mundo, medidas que possam servir de
ção pode mudar conforme o país (OMS, 2010). proteção para essas mulheres devem ser toma-
No Brasil, o estupro é o maior crime sexual, das. Uma delas consiste na construção de legis-
sendo definido como “ter conjunção carnal ou lações de proteção a mulher, como é o caso da
praticar outro ato libidinoso com alguém, medi- Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006), que
ante fraude ou outro meio que impeça ou difi- cria mecanismos para coibir a violência domés-
culte a livre manifestação de vontade da vítima tica e familiar contra a mulher.
(BRASIL, 2009, art. 213), conforme descreve a Ainda neste sentido, no momento da pande-
Lei nº 12.015/2009. Sua penalidade é de reclu- mia, cujo registro do número de casos disparou,
são e pode estar no intervalo de 2 a 6 anos. outras normas se fizeram necessárias, tais como
as decorrentes do aumento do número de casos
61 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
de violência; conforme demonstrado, surgiram até que o profissional capacitado venha realizar
legislações brasileiras que regulamentavam a recolha.
essa proteção, reforçando ou complementando
as já existentes. Dentre essas normas, a Portaria 2.3 As Práticas Avançadas de Enferma-
MC nº 86/2020, por meio da aprovação da Nota gem
Técnica nº 25/2020, e a Portaria GM/MS nº Para que o atendimento à mulher vítima de
78/21, que dispõe “sobre as diretrizes para a co- violência seja qualificado e atinja aos objetivos
municação externa dos casos de violência con- de redução dos efeitos do trauma físico e/ou psi-
tra a mulher às autoridades policiais” responsa- cológico e alcance o bem-estar final é evidente
bilizando a unidade de saúde a comunicação à que o atendimento na porta de entrada seja efe-
autoridade policial dos “casos de violência in- tivo.
terpessoal contra a mulher no prazo de 24 horas, No Brasil, a enfermagem vem reconhe-
contados da data da constatação da violência cendo que, em relação à atuação de seus profis-
(BRASIL, 2020, 2021). sionais na APS, não basta apenas um atuar fun-
Entendendo a violência como uma questão damentado na ideia humanista da profissão,
de saúde pública, outro fator que contribui é a mas certificar-se de que há uma oferta qualifi-
existência de profissionais especializados e ca- cada de cuidados de enfermagem efetivo e ade-
pacitados que desenvolvam suas habilidades quado (ANGELO, 1999).
adquiridas durante a sua especialização, onde A APS é o lugar propício para que o profis-
possam aplicar seus conhecimentos na criação sional de enfermagem desenvolva autonomia
e elaboração de protocolos, estratégias, planos, ao realizar o cuidado integral dos indivíduos,
colocando-os em prática, unificando, assim, os das famílias, da coletividade. No entanto, para
atendimentos que serão prestados às víti- alcançar mais autonomia para ampliar a meta de
mas/clientes ao adentrarem a qualquer unidade uma prática avançada de enfermagem, é essen-
de saúde, subsidiado com o apoio do governo e cial superar o modelo médico hegemônico e al-
de entidades judiciais e criminais, nos níveis lo- cançar o modelo centrado no paciente, assim
cal, regional e nacional. como analisar e evoluir as legislações que con-
A APS, por ser porta de entrada ao acesso tribuem na formação profissional e regulação
ao sistema de saúde, é uma das vias onde a mu- da prática de enfermagem, e aprimorar na me-
lher vítima de violência sexual pode ser aco- lhoria das práticas baseadas em evidências e na
lhida, sendo o enfermeiro um dos primeiros educação permanente dos profissionais de sa-
profissionais a prestar assistência. Frente a isto, úde; por fim, alcançar o bem-estar de saúde da
esse profissional deve ser qualificado para iden- população (TOSO et al., 2016b).
tificar situações de violência, realizar ações de A diferença entre uma prática generalista de
prevenção ao trauma e (re)trauma, contribuir uma prática avançada está, dentre outras, no au-
com o tratamento e a readaptação dessas víti- mento da qualidade da assistência prestada e da
mas. Os conhecimentos da Enfermagem Fo- satisfação dos usuários dos serviços de saúde,
rense podem ser relevantes para os profissio- ampliação do acesso e cobertura dos usuários
nais também identificarem e preservarem evi- aos recursos da saúde, redução de custos, prá-
dências que podem contribuir na avaliação da tica autônoma, planejamento, implementação e
dimensão legal da resposta humana ao trauma avaliação de programas /serviços de saúde
62 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
(RIBEIRO et al., 2018). E é com essas vanta- mentares, prescrição de terapias e tratamentos
gens que surge e Enfermagem de Práticas (AGUIRRE et al., 2016; MIRANDA NETO et
Avançadas. al., 2018; TOSO, 2016a).
O Conselho Internacional de Enfermeiros O profissional de uma prática permanente-
(CIE) define o enfermeiro de prática avançada mente interage com a técnica resultante do sa-
como: ber científico, que permite a finalidade de uma
Um enfermeiro que adquiriu a base de racionalidade técnica para o progresso de uma
conhecimentos especializados, habilida- prática clínica autônoma, com a probabilidade
des complexas na tomada de decisão e
de melhorar a capacidade resolutiva da APS, no
competências clínicas para a prática ex-
pandida, cujas características são molda- que se refere a uma cobertura universal e ao
das pelo contexto e/ou país em que está acesso aos serviços, e na presença de profissio-
credenciado para praticar. O Mestrado é nais de saúde com formação especializada ca-
recomendado para o nível de entrada. paz de responderem e assumirem pela melhor
(INTERNATIONAL COUN-CIL OF
decisão e definição terapêutica (PAZ et al.,
NURSING, 2009).
2018).
O COFEN, juntamente com a OPAS, plane- O enfermeiro tem um papel fundamental no
jando implementar na esfera da rede da APS contexto da atenção básica de saúde e utili-
brasileira, tem fomentado a discussão sobre as zando os métodos das práticas avançadas da en-
Práticas Avançadas de Enfermagem. Entre- fermagem fará o atendimento com maior quali-
tanto, essas questões estão baseadas em dois dade, tomará decisões cabíveis e necessárias
modelos: o americano e o canadense, que têm durante a consulta de enfermagem, fazendo
como finalidade expandir a meta prática e a re- uma avaliação integral, prescrevendo cuidados
solutividade do enfermeiro e a cobertura à sa- de enfermagem, medicamentos previstos nos
úde da população, ampliando o acesso. Frente a programas de saúde, solicitando exames neces-
isto, se faz necessária a capacitação desse pro- sários para fechar um diagnóstico de enferma-
fissional, alcançada, preferencialmente, pela re- gem, reavaliando o tratamento prescrito e
sidência ou mestrado profissional (COFEN, acompanhando a mulher até a sua me-
2015). lhora/cura.
Dentro das características essenciais para Um outro ponto que merece destaque é que
implementar a Prática Avançadas na América as práticas avançadas de enfermagem surgem
Latina, encontram-se as políticas relacionadas à no intuito de minimizar a escassez de outros
regulação do exercício profissional, a infraes- profissionais visando solucionar a demanda de
trutura, a educação permanente, a formação em saúde. O que se assemelha a Enfermagem Fo-
graduação e pós-graduação e a certificação rense que supri a coleta de vestígios em ocasi-
(CASSIANI; ZUG, 2014). ões onde há escassez de profissional para suprir
A especialização na EPA é necessária, ou esta demanda.
seja, o enfermeiro desenvolve competências, Em casos de violência sexual; o enfermeiro
habilidades e atitudes clínicas para capacitação qualificado, inclusive com conhecimentos de
de tomada de decisão baseada em evidências Enfermagem Forense, poderá encaminhar ao
nas ocorrências complexas, como na autonomia Enfermeiro Forense que prestará a assistência
do diagnóstico, solicitação de exames comple- necessária e coletará vestígios para que sejam
63 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
64 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
a investigação criminal; coletar, recolher e pre- as áreas de atuação, quais sejam: violência se-
servar vestígios na vítima e no perpetrador, nos xual; sistema prisional; psiquiatria; perícia, as-
diferentes contextos da prática de Enfermagem sistência técnica e consultoria; coleta, recolha e
Forense, em âmbito pré-hospitalar, comunitá- preservação de vestígios; pós-morte; desastre
rio; elaborar protocolos de atendimentos e pla- de massa, missões humanitárias e catástrofes;
nos de cuidados, visando atender às dimensões além de maus-tratos, abuso sexual, traumas e
biopsicossociais e legal da demanda; estabele- outras formas de violências nos diversos ciclos
cer prioridades e definir estratégias de interven- de vida (COFEN, 2017).
ção às vítimas e famílias envolvidas em situa- Observa-se que a presença do enfermeiro
ções de maus-tratos, abuso sexual, traumas e forense pode e deve estar em quaisquer dos ní-
outras formas de violência, colaborando com o veis de atenção à saúde, possuindo-o competên-
sistema judicial na preservação dos vestígios, cia técnico-científica baseada em evidências e
através da cadeia de custódia e prestando depo- sendo capaz de tomada de decisões complexas
imentos em juízo na qualidade de perito, pro- relacionada perfeitamente com o que propõem
movendo a proteção dos direitos humanos e das as práticas avançadas de enfermagem.
garantias legais das vítimas, das suas famílias e Sabe-se que o enfermeiro é o primeiro pro-
dos perpetradores (GOMES, 2014). fissional da saúde que tem contato com as víti-
Os enfermeiros forenses são profissionais mas de violência; quando elas procuram a assis-
especialistas que têm conhecimentos e compe- tência médica, ele as acolhe, presta cuidados, dá
tências suficientes, que além de compreender os assistência e cria medidas que buscam amenizar
sistemas de saúde, enquanto peritos, podem de- aquela dor ou dano momentâneo. É, também,
senvolver a avaliação médico-legal das vítimas, esse profissional, o que atende aos perpetrado-
colaborando, assim, com os sistemas judiciais, res.
os sociais, os legais e as entidades governamen- Nesse contexto, faz se necessária a inserção
tais na investigação e interpretação clínica de do especialista em enfermagem forense em to-
lesões forenses, ou seja, em vida ou morte dos os níveis de atenção à saúde, seja na APS,
(GOMES, 2017). no serviço de emergência ou em qualquer uni-
Cabe ressaltar que, embora tenha uma atua- dade de saúde que presta assistência às vítimas
ção mais dirigida para a prestação de cuidados de violência, ajudando, consequentemente, na
de enfermagem forense voltadas à dimensão le- melhoria da decisão clínica, baseando-se em
gal da demanda de saúde, o enfermeiro forense evidências científicas, definindo diagnósticos
também contribui na identificação, prevenção, de enfermagem e utilizando a SAE no seu pro-
e promoção das situações de violência, po- cesso de trabalho (FONSECA, 2019)
dendo, inclusive, realizar o seu processo de tra- A Associação Internacional de Enferma-
balho por meio da Sistematização da Assistên- gem Forense refere que é de extrema importân-
cia de Enfermagem (SAE). cia que os enfermeiros saibam realizar diagnós-
A enfermagem forense, no Brasil, foi regu- ticos para um melhor direcionamento das práti-
lamentada pela Resolução COFEN nº cas do cuidado às necessidades das pessoas ví-
556/2017, que estabelece desde o princípio a timas de violência, baseadas nas definições e
necessidade de uma formação especializada por classificações do processo de enfermagem que
parte de quem a pratica, trazendo em seu anexo assegura ao enfermeiro a descrição de um plano
65 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
66 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
violência, esta tem sua a temática mais abor- É notório que, no atendimento à mulher ví-
dada ao se falar sobre ela. tima de violência sexual, tende-se a se preocu-
Cabe ressaltar que, conforme aponta par com a dimensão biopsicossocial primeiro,
GOMES (2017), o enfermeiro forense, dentre ou seja, inicialmente, há uma preocupação com
as suas atividades na assistência à mulher as ações que preconizam assegurar um acolhi-
vítima de violência, deve ser capaz de: mento que promova vínculo, um atendimento
identificar fatores de risco para traumas e humanizado, administração de medicamentos
(re)traumas; diferenciar fatos possivelmente para prevenção da gravidez indesejada, solici-
criminosos e não criminosos; reconhecer o tação de sorologias para detecção e prevenção
vestígio e proceder à sua coleta e preservação, de infecções sexualmente transmissíveis, imu-
utilizando técnicas adequadas e assegurando a nizantes pertinentes, administração de antirre-
cadeia de custódia para que possam ser trovirais pós-exposição sexual, acompanha-
consideradas provas periciais; realizar o mento psicológico e clínico.
registro adequado das informações subjetivas e Posteriormente, vem a preocupação com a
objetivas coletas de forma a produzir docu- dimensão legal com a Portaria Ministerial nº
mentação, inclusive fotográfica, legalmente 485/2014 que redefine o funcionamento do Ser-
considerada para uso nos sistemas de Segu- viço de Atenção às Pessoas em Situação de Vi-
rança Pública e Judicial. olência Sexual no âmbito do Sistema Único de
Ademais, LYNCH e DUVAL (2011) Saúde (SUS) (BRASIL, 2014a) e a Norma Téc-
trazem em sua teoria que uma das suas bases nica interministerial de atenção humanizada às
consiste no interacionismo, ou seja, é pessoas em situação de violência sexual com re-
necessário que ocorra uma inter-relação entre gistro de informações e coleta de vestígios
os sistemas de saúde, segurança e justiça, o que (MINISTÉRIO DA SAÚDE; MINISTÉRIO
é corroborado por trabalhos portugueses DA JUSTIÇA, 2015) possibilitou o ensaio de
(GOMES, 2014). Sendo assim, os necessidade de coleta e preservação de vestí-
conhecimentos especializados da enfermagem gios por profissionais de saúde.
forense podem e devem ser usados em qualquer É notório que o advento das práticas avan-
situação de violência sexual contra a mulher, no çadas de enfermagem aliada à enfermagem fo-
entanto, a coleta de vestígios apenas deve ser rense pode contribuir para a melhoria na quali-
realizada se há uma rede intersetorial que dade da assistência à mulher vítima de violên-
reconheça essa ação. cia. Exemplificando na prática, Miranda Neto
Mas não se pode perder de vista que, nas et al. (2018) apontam que o enfermeiro capaci-
práticas avançadas de enfermagem, o enfer- tado para prática avançada é portador de mes-
meiro forense possui mais autonomia e capaci- trado ou residência e pode, dentre outras ativi-
tação para aumentar a resolubilidade em suas dade: prescrever medicamentos que exijam um
ações, ou seja, o atual já especializado poderia fornecedor autorizado; solicitar exames labora-
contribuir para minimizar ou evitar os efeitos toriais e complementares que exijam pedidos
do trauma físico e/ou psicológico da vítima, oficiais; realizar diagnósticos diferenciais, de
agressor ou família em decorrência da violência efeitos colaterais, estadiamento de doenças e
sexual contra a mulher. avaliações avançadas de enfermagem; indicar
tratamentos e terapias; referenciar e contrar-
67 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
referenciar para serviços ou profissionais; ser tífico e legal, ou seja, com tomada de decisão
referência para um conjunto de usuários. baseada em evidências e dentro das normatiza-
Neste sentido, e traçando um paralelo com ções da profissão e da APS aliadas ao papel do
a enfermagem forense, o enfermeiro forense do enfermeiro forense em avaliar a dimensão legal
NASF poderia: prescrever o esquema medica- da situação, contribuem bastante para minimi-
mentoso de pós-exposição sexual, inclusive re- zar os efeitos da situação de trauma e acelerar a
alizando o seu acompanhamento isolado ou em reabilitação da vítima.
conjunto com outros enfermeiros especialistas; Não se pode perder de vista que em ambas
solicitar exames complementares laboratoriais as áreas, embora já tenham as suas importâncias
e de imagem que contribuam não apenas para a no combate à violência sexual contra a mulher
condição clínica, mas, também, para compor demonstradas, há a necessidade do fortaleci-
uma prova pericial; referenciar as vítimas para mento da legislação no intuito de assegurar os
Delegacias de Atendimento à Mulher Vítima de objetivos das práticas avançadas de enferma-
Violência para iniciar; e, por fim, e mais rele- gem e da enfermagem forense com relação à ví-
vante para o sistema judicial, realizar a recolha tima de violência sexual.
e preservação de vestígios, garantindo o início No Brasil, existem normativas que já apon-
da cadeia de custódia. tam a possibilidade dessa concretude e que re-
É evidente que a aliança entre os dois con- gulamentam algumas ações, no entanto, ainda
ceitos beneficia as mulheres vítimas de violên- não há uma implementação concreta destas in-
cia, propiciando uma maior autonomia do en- ter-relações entre os diferentes sistemas e com
fermeiro especialista, proporciona uma maior a participação do Enfermeiro Forense, o que di-
cobertura populacional e possibilita um melhor ficulta a concreta atuação desse profissional.
gerenciamento de casos de mulheres vítimas de Outra fragilidade consiste em regulamenta-
traumas físicos e/ou psicológicos (REWA, ção que insira o enfermeiro forense nos diver-
2018). sos cenários do sistema de saúde e realize a sua
É notório que para que essa prática seja con- inter-relação entre os demais sistemas envolvi-
solidada é necessário investimento na formação dos na violência contra a mulher. A autonomia
especializada de todos os atores, interacionis- se faz necessária para que os objetivos possam
mos dos diferentes sistemas envolvidos com ser atingidos.
entendimento de intersetorialidade e interdisci- Por fim, novos estudos devem ser realiza-
plinaridade, realização de tomada de decisões dos no intuito de reconhecer as atividades de-
baseadas em evidências e ampliação da legisla- sempenhadas pelos especialistas, a difusão dos
ção, não apenas nos sistemas COFEN/COREN, conhecimentos da enfermagem forense, a de-
mas em resoluções e portarias das diversas ins- monstração de evidência de benefícios decor-
tituições de saúde competentes. rentes desta aliança e a identificação de fragili-
dades que podem ser superadas com a enferma-
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS gem forense e as práticas avançadas em enfer-
magem.
No contexto da violência contra a mulher, é
notório que as práticas avançadas de enferma-
gem, baseadas em um arcabouço técnico-cien-
68 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIRRE, F. et al. Reporte Simposio La enfermería de BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 4.279, de 30
práctica avanzada como una estrategia para alcanzar el de dezembro de 2010. Estabelece diretrizes para a orga-
acceso y cobertura universal de salud. Santiago de Chile: nização da Rede de Atenção à Saúde no âmbito do Sis-
Asociación Chilena de Educación en Enfermeria, Uni- tema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da
versidad de Los Andes, 2016. Disponível em: Saúde, 2010.
BRASIL. Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009. Altera BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
o Título VI da Parte Especial do Decreto-Lei nº 2.848, de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Núcleo de
7 de dezembro de 1940 - Código Penal, e o art. 1º da Lei Apoio à saúde da Família - Volume 1: Ferramentas para
no 8.072, de 25 de julho de 1990, que dispõe sobre os a gestão e para o trabalho cotidiano. (Cadernos de Aten-
crimes hediondos, nos termos do inciso XLIII do art. 5º ção Básica, nº 39). Brasília, DF: Ministério da Saúde,
da Constituição Federal e revoga a Lei nº 2.252, de 1º de 2014b.
julho de 1954, que trata de corrupção de menores. Brasí-
lia, DF: Presidência da República, 2009. Disponível em: BUENO, S.; BOHNENBERGER, M.; SOBRAL, I. A vi-
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007- olência contra meninas e mulheres no ano pandêmico. In:
2010/2009/Lei/L12015.htm#art4. Acesso em: 13 set. FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA.
2021. Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 2021. São
Paulo: FBSP, 2021. Disponível em: https://forumsegu-
BRASIL. Ministério da Cidadania. Portaria GM/MS nº ranca.org.br/wp-content/uploads/2021/07/6-a-violencia-
78, de 18 de janeiro de 2021. Altera a Portaria de Con- contra-meninas-e-mulheres-no-ano-pandemico.pdf.
solidação GM/MS nº 4, de 28 de setembro de 2017, para Acesso em: 13 set. 2021.
dispor sobre as diretrizes para a comunicação externa dos
casos de violência contra a mulher às autoridades polici- CASSIANI, S. H. D.; ZUG, K. E. Promovendo o papel
ais, no âmbito da Lei nº 10.778, de 24 de novembro de da prática avançada de enfermagem na América Latina.
2003. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, n. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 67, n.
12, p. 57, 19 jan. 2021. Disponível em: 5, p. 675-676, 2014.
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-86-de-1-
de-junho-de-2020-259638376. Acesso em: 28 ago. 2021 CERQUEIRA, D. et al. (coord.). Atlas da Violência
2021. São Paulo: FBSP, 2021. Disponível em: https://fo-
BRASIL. Ministério da Cidadania. Secretaria Especial rumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2021 /08/atlas-
do Desenvolvimento Social. Secretaria Nacional de As- violencia-2021-v6.pdf. Acesso em: 13 set. 2021.
sistência Social. Portaria nº 86, de 1º de junho de 2020.
Aprova recomendações gerais para o atendimento às mu- CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. COFEN
lheres em situação de violência doméstica e familiar na discute práticas avançadas de Enfermagem na OPAS.
rede socioassistencial do Sistema Único de Assistência Brasília, DF: COFEN, 2015.
Social - SUAS no contexto da Pandemia do novo Coro-
navírus, Covid-19. Diário Oficial da União: seção 1, Bra- CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM. Resolu-
sília, DF, n. 104, p. 8, 6 jun. 2020. ção nº 556, de 23 de agosto de 2017. Aprovar as áreas
de atuação e as competências técnicas do Enfermeiro Fo-
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.436, de 21 rense. Brasília, DF: COFEN, 2017. Disponível em:
de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de http://www.cofen.gov.br/resolucao-cofen-no-
Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes 05562017_54582.html. Acesso em: 13 set. 2021.
para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sis-
tema Único de Saúde (SUS). Brasília, DF: Ministério da CONSELHO REGIONAL DE ENFERMAGEM (Rio de
Saúde, 2017. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br Janeiro). Secretaria Municipal de Saúde e Defesa Civil.
/bvs/saudelegis/gm/2017/prt2436_22_09_2017.html. Coordenação de Saúde da Família. Protocolos de Enfer-
Acesso em: 10 set 2021 magem na atenção primária à saúde. Rio de Janeiro:
69 | P á g i n a
Capítulo 8
Estudos em Ciências Forenses
Prefeitura, 2012. 119 p. Disponível em: Atenção humanizada às pessoas em situação de vio-
https://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/4446958/41119 lência sexual com registro de informações e coleta de
21/enfermagem.pdf. Acesso em: 14 set. 2009. vestígios - Norma Técnica. Brasília, DF: Ministério da
Saúde; Ministério da Justiça, 2015.
FAUSTO, M. C. R.et al. O futuro da Atenção Primária à
Saúde no Brasil. Saúde em Debate [online], v. 42, n. MIRANDA NETO, M. V. et al. Advanced practice nur-
spe1, p. 12-17, 2018. sing: a possibility for Primary Health Care? Revista Bra-
sileira de Enfermagem, Brasília, v. 71, suppl 1, p. 716-
FONSECA, V. A pessoa vítima de violência domés- 721, 2018.
tica: análise do conceito. Contributos para a Enferma-
gem Forense. 2019. Dissertação (Mestrado em Medicina ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Prevenção
Legal) - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo
Universidade do Porto, Porto, Portugal, 2019. Disponível contra a mulher: ação e produção de evidência. Gene-
em: https://repositorioaberto.up.pt/bitstream/10216/1262 bra: OMS, 2010.
64/2/386706.pdf. Acesso em: 8 set. 2021.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE.
FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Ampliação do papel dos enfermeiros na atenção pri-
Anuário Brasileiro de Segurança Pública – 2021. São mária à saúde. Washington, DC: OPAS, 2018.
Paulo: FBSP, 2021. Disponível em: https://forumsegu-
ranca.org.br/wpcontent/uploads/2021/07/anuario-2021- ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE;
completo-v6-bx.pdf. Acesso em: 13 set. 2021. ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Violência
contra as mulheres. Brasília: OPAS/OMS, [2002]. Dis-
GOMES, A. Enfermagem forense. Lidel: Lisboa, 2014. ponível em: https://www.paho.org/pt/topics/violence-
v. 1 e v. 2. against-women. Acesso em: 8 set. 2021.
GOMES, A. Padrões de aptidão do enfermeiro forense. PAZ, E. P. A. et al. Práticas avançadas em enfermagem:
Revista Nursing, São Paulo, 2017. Disponível em: rediscutindo a valorização do enfermeiro na atenção pri-
https://www.researchgate.net/publica- mária à saúde. Enfermagem em Foco, [s. l.], v. 9, n. 1,
tion/317718219_PADROES_DE_APTIDAO_DO_ENF 2018.
ERMEIRO_FORENSE Acesso em: 13 set. 2021.
REWA, T. Competências para práticas avançadas em
http://www.paho.org/chi/index.php?option=com_do- enfermagem na Atenção Primária à saúde no con-
cman&task=doc_download&gid=198&Itemid. Acesso texto brasileiro. 2018. 99 f. Dissertação (Mestrado em
em: 20 ago. 2018. Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
LYNCH, V. A. Enrichment of theory through critique, TOSO, B. R. G. O. et al. Atuação do enfermeiro na Aten-
restructuring, and application. Journal of forensic nur- ção Primária no Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra.
sing, Pitman, NJ, v. 10, n. 3, p. 120-121, 2014. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 69, n.
1, p. 182-191, 2016b.
LYNCH, V. A.; DUVAL, J. B. Forensic nursing sci-
ence. 2nd. ed. St. LoLouis:lsevier Mosby, 2011. TOSO, B. R. G. O. Práticas avançadas de enfermagem
em atenção primária: estratégias para implantação no
MASSARO, L. T. S. et al. Estupros no Brasil e relações Brasil. Enfermagem em Foco, [s. l.], v. 7, n. 3/4, p. 36-
com o consumo de álcool: estimativas baseadas em au- 40, 2016a.
torrelato sigiloso. Cadernos de Saúde Pública, Rio de
Janeiro, v. 35, n. 2, e00022118, 2019. VILAÇA, E. M. As redes de atenção à saúde. Brasília:
CONASS, 2015.
MINISTÉRIO DA SAÚDE (Brasil); MINISTÉRIO DA
JUSTIÇA. Secretaria de Políticas para as Mulheres.
70 | P á g i n a
CAPÍTULO 09
MEDICAMENTOS
UTILIZADOS PARA
HOMICÍDIO POR
ENVENENAMENTO
71 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
72 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
Tabela 9.1 Grupos medicamentosos recorrentes em casos de homicídios, com fármacos representantes de cada classe
Intervalo da dose:
2 vezes por dia;
Não existem antídotos específicos
Quetiapina 750 mg/dia (2) (9)
Dose alvo para primeiro episódio:
300 – 600 mg/dia;
73 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
Depressão:
25-100 mg/dia, fracionado em 1-3 doses.
Depressão:
Amitriptilina (1)
300 mg/dia em doses fracionadas. (7)
Dose de manutenção:
50-100 mg/dia 1 vez/dia. (7)
Depressão:
Iniciar com 25 mg, 1-3 vezes/dia, aumentar a dose em
Glucagon e Bicarbonato de sódio
Antidepressivos 25 mg/dia até atingir 200 mg/dia. (6)
Pânico:
Depressão:
Imipramina (1) Iniciar com 10 mg/dia, aumentar a dose até que seja ob-
300 mg/dia fracionada em 3 doses. (7)
tida a resposta desejada, geralmente 75-200 mg/dia.
Condições dolorosas:
25-300 mg/dia, geralmente 25-75 mg/dia são suficien-
tes. (7)
Fonte: 1. TOMINAGA et al., 2015; 2. FALKAI et al., 2006; 3. MARTINS, 2019; 4. BARREIRA, MAGALDI, 2009; 5. MEDICINA 3, BENEDITO, 2020; 6. GALVÃO et al.,
2013; 7. Guia Farmacêutico, 2015; 8. AMARAL et al., 2010; 9. KENT, 2014.
74 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
diversos danos teciduais, resultando em uma casos de intoxicação por quetiapina resultam
insuficiência multissistêmica e morte. em sedação, hipotensão e taquicardia, mas
A clorpromazina é um antipsicótico usado arritmias, coma e morte já foram registrados.
para tratar principalmente a esquizofrenia, o As concentrações séricas ou plasmáticas de
transtorno afetivo bipolar, transtorno de déficit quetiapina estão geralmente na faixa de 1-10
de atenção e hiperatividade e náuseas e vômi- mg/L em sobreviventes de overdose, enquanto
tos. Essa substância pertence a classe de anti- níveis sanguíneos pós-morte de 10-25 mg/L são
psicóticos típicos. Embora seu mecanismo de geralmente observados em casos fatais. Os
ação não esteja completamente esclarecido, níveis não tóxicos no sangue pós-morte se
postula-se que a sua capacidade de antagonizar estendem a cerca de 0,8 mg/kg, mas os níveis
a dopamina (especialmente os receptores D2) tóxicos no sangue pós-morte podem começar
exerça papel importante na atuação desse com 0,35 mg/kg. Não há um antídoto específico
agente. Ele também apresentou atividades anti- para a quetiapina (NEMEROFF, KINKEAD,
serotoninérgicas e anti-histaminérgicas, que GOLDSTEIN, 2002). Os casos de intoxicação
também parecem exercer papel importante na grave necessitam de procedimentos de suporte
regulação das vias neuronais desses neurotrans- incluindo manutenção de vias aéreas, ventila-
missores (BRUNTON, CHABNER, ção e oxigenação, além de monitorização cardi-
KNOLLMAN, 2010). Na intoxicação aguda ovascular. Nos casos de hipotensão refratária a
por Clorpromazina, os principais sintomas são: superdose de quetiapina deve ser tratada com
depressão do sistema nervoso central, hipoten- medidas adequadas, tais como fluidos
são e sintomas extrapiramidais. Nestes casos, a intravenosos e/ou agentes simpatomiméticos
conduta é lavagem gástrica, administração de (epinefrina e dopamina devem ser evitadas,
antiparkinsonianos para os sintomas extrapira- uma vez que a estimulação beta pode piorar a
midais e estimulantes respiratórios (anfetamina, hipotensão devido ao bloqueio alfa induzido
cafeína com benzoato de sódio), caso haja de- pela quetiapina) (VENTO et al., 2020).
pressão respiratória. Deve-se evitar a indução
de vômito (HAMPTON et al., 2015). 3.2. Tratamento e manejo clínico
A quetiapina é um antipsicótico atípico A abordagem de pacientes envenenados de-
usado no tratamento da esquizofrenia, trans- verá ser complexa e sistêmica com o objetivo
torno depressivo, transtorno afetivo bipolar e a de fornecer o tratamento e manejo mais ade-
psicose da Doença de Parkinson. Já foi apon- quado ao paciente que irá depender de fatores
tado que a quetiapina é um antagonista dopami- toxicocinético e toxicodinâmicos do agente,
nérgico, serotoninérgico e adrenérgico, além de fase de intoxicação bem como a gravidade dos
ser um potente anti-histamínico e possuir algu- sintomas. O tratamento engloba manejos espe-
mas propriedades anticolinérgicas cíficos como: descontaminação tópica, antído-
(BRUNTON, CHABNER, KNOLLMAN, tos, carvão ativado, lavagem gástrica, medidas
2010). Em contraste com a maioria, demais an- de eliminação (BRENT et al., 2017).
tipsicóticos, que costumam ter efeito aversivo A descontaminação visa reduzir a absorção
no paciente, a quetiapina está relacionada com do agente tóxico em diferentes superfícies cor-
potencial de abuso por conta de seus efeitos porais seja tópica, ocular, respiratória ou gas-
hipnóticos, sedativos e seus limitados efeitos trointestinais. A indicação de descontaminação
adversos extrapiramidais. Grande parte dos gastrointestinal irá depender do tipo de substân-
76 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
cia (quantidade e potencial tóxico), tempo rações de liberação prolongada. A ação mais
transcorrido após ingestão (até 1-2 h), fatores de efetiva compreende a primeira hora após a into-
risco (sonolência, torpor), risco x benefício (as- xicação podendo ser utilizado em dose única
piração) e contraindicações (cáusticos, solven- (1g/kg) ou múltiplas doses o que irá depender
tes, risco de perfuração e sangramentos) da gravidade do paciente, não ultrapassando 72
(HOFFMAN et al., 2015). horas. Porém sua utilização apresenta contrain-
A lavagem gástrica em geral antecede a ad- dicações em intoxicações por agentes ácidos,
ministração de carvão ativado devido sua con- álcalis, álcoois, íons simples (cianeto, lítio,
figuração molecular com alto potencial absor- ferro), assim como recém-nascidos e gestante
vente. Geralmente utilizado em intoxicações (THANACOODY et al., 2015).
por múltiplas substâncias, medicamentos sub- A Tabela 9.2 resume os principais métodos
metidos a circulação êntero-hepática (fenobar- de descontaminação que podem ser usados nas
bital, carbamazepina e clorpropamida) e prepa- intoxicações.
Fonte: EDDLESTON et al. 2008; MEADOWS-OLIVER, 2004; VALE & KULIG, 2004.
Os antídotos são substâncias que agem neu- SNC, por meio da inibição competitiva do com-
tralizando ou reduzindo a ação do tóxico. Ape- plexo receptor GABA-BZD. O glucagon au-
sar de serem eficazes, não são a primeira me- menta o AMPc no coração, com efeito crono-
dida de tratamento empregada, visto que são trópico e inotrópico positivo utilizado para ca-
poucos antídotos conhecidos e a maioria das in- sos em que os fármacos têm ação beta-bloque-
toxicações são tratadas com medidas de su- adora. Além disso, encontramos quelantes, ca-
porte. Conforme os antígenos apresentados na tárticos e antagonistas químicos ou fisiológicos.
Tabela 9.1 destaca-se o uso do flumazenil que A Tabela 9.1 apresenta os antígenos conheci-
antagoniza a ação dos benzodiazepínicos dos contra as principais substâncias utilizadas
(BZD), imidazopiridinas (Zolpidem®) e outros no envenenamento e quando necessários devem
toxicantes que atuam nos receptores de BZD do ser fornecidos imediatamente, o que exige um
77 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
78 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALCANTARA, H. R. Toxicologia clínica e forense: di- GALVÃO, T.F. et al. Antídotos e medicamentos utiliza-
agnostico tratamento aspectos forenses dos envenena- dos para tratar intoxicações no Brasil: necessidades, dis-
mentos intoxicações toxicomanias. 2ª ed. São Paulo: Or- ponibilidade e oportunidades. Cadernos de Saúde Pú-
ganização Andrei; 1985. blica, v. 29, p. s167-s177, 2013.
AMARAL, R.A.A. et al. Manejo do paciente com trans- GHANNOUM, M. et al. Tratamento extracorpóreo para
tornos relacionados ao uso de substância psicoativa na intoxicação por teofilina: revisão sistemática e recomen-
emergência psiquiátrica. Revista Brasileira de Psiquia- dações do grupo de trabalho EXTRIP. Clinical Toxico-
tria, vol. 32; 2010. logy, v. 53, n. 4, pág. 215-229, 2015.
79 | P á g i n a
Capítulo 9
Estudos em Ciências Forenses
MEDICINA 3, BENEDITO (org.). Inovação tecnológica TOMINAGA, M. et al. Efficacy of drug screening in fo-
e o domínio das técnicas de investigação na medicina 3. rensic autopsy: Retrospective investigation of routine to-
Ponta Grossa, PR: Atena, 2020. xicological findings, Legal Medicine. Legal Medicine,
[s. l.], v. 17, n. 3, p. 172-176, 2015
NEMEROFF C. B, KINKEAD B, GOLDSTEIN J. Que-
tiapine: preclinical studies, pharmacokinetics, drug inte- VALE, J.A. & KULIG, K. Position paper: gastric lavage.
ractions, and dosing. Journal of Clinical Psychiatry, v. Journal of Toxicology: Clinical Toxicology, v. 42, n.7,
63, n. 13, p.5-11, 2002. p. 933–943, 2004.
PAULIN, L.F.R.S et al. Síndrome de descontinuação dos VENTO A. E. et al. Quetiapine Abuse Fourteen Years
antidepressivos. Revista Brasileira de Medicina, p. Later: Where Are We Now? A Systematic Review. Subs-
226-330 2008. tance Use & Misuse, v. 55, n. 2, p. 304, 2020
80 | P á g i n a
CAPÍTULO 10
ENFERMAGEM FORENSE NA
EMERGÊNCIA HOSPITALAR
COM FOCO NA VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA: UMA REVISÃO
NARRATIVA DA LITERATURA
86 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
83 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
necessária uma atenção para as fontes utilizadas, das obras foram obtidos 7 artigos na íntegra, 23
para que assim possa assegurar que seja resumos, 3 livros para embasamento teórico, 9
fidedigno e tenha uma profundidade no tema. A arquivos de outras categorias: 2 cartilhas uma do
coleta do material para a pesquisa foi realizada Ministério da Saúde e a outra da Associação
no período de outubro de 2019 até fevereiro de Brasileira de Enfermagem Forense, 2 Anuários
2021. de Segurança Pública, 1 protocolo de
O levantamento foi realizado em ambiente acolhimento, a própria Constituição Federal para
virtual na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), conhecimento legal e o Conselho Federal de
nas bases: LILACS, LIS (Localizador de Enfermagem (COFEN).
Informação da Saúde), MEDLINE, PubMed, Ao utilizar o descritor inicial, “enfermagem
Google Acadêmico e SciELO e em uma busca forense AND emergência hospitalar” 31 artigos
livre de textos completos atendendo aos critérios foram levantados inicialmente na BVS, 11
do Qualis Capes, como Biblioteca de Teses e atendiam preliminarmente aos critérios do
Dissertações e Periódicos CAPES, incluídos, nos estudo, contudo, os 11 eram pagos, com isso
resultados com os seguintes termos de busca: foram utilizados somente o resumo dos mesmos.
“enfermagem forense AND emergência Ao utilizar o descritor secundário “violência
hospitalar”, “violência AND enfermagem AND enfermagem forense” apresentou poucas
forense”, “emergência hospitalar AND obras referentes ao objeto de estudo, mesmo
violência”. Estes termos foram utilizados de quando somado ao termo emergência hospitalar.
forma conjunta e isolados. Pela quantidade As obras idênticas, repetidas em bases virtuais
escassa de material, em uma segunda pesquisa diferentes, foram eliminadas, considerando-se
foram acrescentados os termos: “enfermagem seu primeiro registro. Já na segunda busca com
hospitalar AND violência” e “enfermagem AND os termos “enfermagem hospitalar AND
violência”. violência” e “enfermagem AND violência”, 95
Foram selecionados para este estudo, artigos foram levantados inicialmente na BVS,
somente artigos que, na leitura demonstraram em ambos os artigos foram encontrados
semelhanças, com o objetivo do trabalho, não duplicados ou repetidos em relação às demais
houve restrição de busca quanto ao ano e idioma pesquisas anteriores, com isso somente fizeram
de publicação dos materiais científicos, somente contribuição preliminarmente para o estudo
à relevância do seu conteúdo para o presente foram 6 obras. Em uma busca livre de textos
artigo. Primeiramente, as obras foram completos atendendo aos critérios do Qualis
armazenadas em computador, para que em Capes, foram selecionados 4 artigos em
seguida fosse realizada uma pré-seleção de concordância com a relevância do tema
acordo com a leitura dos resumos. Nesta fase, abordado.
buscou-se a relação entre o conteúdo, título, Após a construção das fases da elaboração do
resumo, e se atendiam ao objeto do presente estudo, percebeu-se que somente as obras
estudo. encontradas em meio virtual não subsidiaram o
Na fase de seleção, as obras foram lidas na aspecto conceitual básico, visto que abordavam
íntegra, com atenção especial para os resultados de forma generalizada, entretanto além do
e conclusão das obras, os trabalhos que não material encontrado na BVS foi utilizado na
apresentavam qualquer relação com o caráter da pesquisa livros e periódicos da área de saúde, os
pesquisa foram excluídos. Realizada a triagem quais funcionaram como alicerce conceitual.
85 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
Deste ponto em diante foi feita uma busca especialização em enfermagem, sendo assim
nos livros na biblioteca virtual, bases de dados utilizando profissionais somente com nível
do Governo Federal, como a Constituição médio, sem nenhuma carga de conhecimento
Federal, Anuário de Políticas Públicas do científico da enfermagem em si (ASPECON,
Governo de São Paulo, Anuário Brasileiro de 2012).
Segurança Pública, Protocolos de Atendimento e É preciso da ênfase que o Brasil deveria ter
Acolhimento do Governo do Estado do Paraná e como grande referência para essa área, os
Maranhão e Cartilhas do Ministério da Saúde e Estados Unidos e Canadá, onde adotam o
Associação Brasileira de Enfermagem Forense. programa de Sexual Assault Nurse Examiners
Além de anais de eventos sobre anteriores, (SANE), nesse programa a enfermeira é
onde foram selecionadas 12 obras mais recentes especialista na realização do exame forense em
e que mostrassem relação com o caráter do tema. vítimas diversas, onde têm mostrado eficientes
Depois das etapas descritas acima, foram resultados em reduzir o trauma decorrente da
construídos nos resultados itens como os livros agressão sexual na avaliação e tratamento às
Enfermagem Forense: uma especialidade a vítimas de violência sexual (SOUTO, 2021).
conhecer, escrito por Rafaella Queiroga Souto, O Governo do Estado do Paraná, saiu a frente
além da disciplina ministrada pela própria; com a implementação do Protocolo para o
Enfermagem Forense vol, 1 e Enfermagem Atendimento às Pessoas em Situação de
Forense vol. 2, ambos escritos por Albino Violência Sexual, onde apresenta todo o passo a
Gomes, além de resoluções do Conselho Federal passo dessa abordagem multidisciplinar, onde o
de Enfermagem (COFEN). enfermeiro tem um papel fundamental, por ser o
profissional de triagem e de contato
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO direto/imediato com a vítima (GOVERNO DO
ESTADO DO PARANÁ, 2019).
A essência da prática da enfermagem forense Tal protocolo aborda o acolhimento,
assenta na resposta aos problemas de saúde atendimento clínico, recursos humanos,
decorrentes de trauma ou qualquer forma de materiais de coleta como secreções vaginais,
violência, não se limitando somente à prática sangue, digitais, entre outros materiais forenses,
clínica reparadora, mas passando também pelo exames e profilaxias de ists, anticoncepcional
índice de suspeita de lesões sugestivas de emergencial e, claro, a notificação dos casos
traumatismos não acidentais e pela preservação, (GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ,
coleta e recolha de vestígios de relevância 2019).
criminal e manutenção da cena do crime Essa última, precisamos abrir um parêntese
(COFEN, 2017). enorme, pois, entramos em um grande
No Brasil, o enfermeiro forense tem a sua paradigma entre: afastar a vítima da atenção
prática maior no campo de perito judicial ou hospitalar por medo da denúncia compulsória e
assistente técnico, sendo necessário que seja suas consequências para a mesma, enquanto
requisitado um parecer do âmbito pericial para o sofremos com subnotificações. O Governo do
especialista na área. Em alguns estados do país, Estado da Bahia com parceria do Governo de
nos IMLs já se desenvolve há muitos anos São Paulo, publicaram no dia seguinte desta
trabalhos no campo de enfermagem forense, alteração, uma reportagem onde mostra o receio
contudo ainda não vinculado ao título de uma de que o serviço de saúde, antes considerado uma
86 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
porta de entrada das vítimas na rede de isso, é necessário compreender alguns pontos,
atendimento, agora com a mudança feche mais como o fluxo e trajetória do paciente dentro do
essa porta para elas. "Acima de tudo a gente Sistema Único de Saúde.
precisa cada vez mais sensibilizar os Começando na atenção básica, o
profissionais de saúde para que tenham um olhar atendimento segue um ciclo de agendamento ou
para essa mulher que sofre violência doméstica. por demanda espontânea, onde o paciente
Quantos feminicídios nós poderíamos ter evitado comparece naquele dia, é atendimento pelo
com atenção à mulher que chega lá com o olho profissional de enfermagem, avaliando a
roxo na unidade dizendo que caiu da escada e o necessidade individual do paciente. O
profissional com uma escuta um pouco mais atendimento é todo registrado na ficha do
refinada e qualificada conseguiria perceber que paciente no CAD-SUS (sistema de cadastro do
não era exatamente isso?", pontuou nessa mesma Sistema Único de Saúde) e, caso seja necessário,
reportagem, Leila Rocha, enfermeira e pós- após a consulta é realizado o encaminhamento,
graduada em Gestão de Políticas Públicas com seja para o médico da unidade especialista, ou
recorte em gênero e raça pela UFBA, e para a rede hospitalar onde continuará o seu
articuladora do eixo Saúde do Coletivo de Oya – tratamento. A atenção básica é responsável pelo
Mulheres Negras da Periferia. cuidado contínuo para com o paciente, sendo
A fala da enfermeira Rocha só nos mostra o assim responsável pelos exames e tratamentos
que já sabemos: a enfermagem já trabalha com permanentes. Tal unidade é crucial no auxílio
os pacientes que já se enquadram na demanda da para identificação de violências em âmbito
área forense e que necessitamos de profissionais psicológico e físico em graus mais leves,
qualificados para tal. justamente por desenvolver um vínculo maior
SCHMITD, jornalista do G1, publicou que pelo acompanhamento com o mesmo.
no Rio de Janeiro, em um hospital da Baixada Já o nível hospitalar, é destinado a
Fluminense, foi implementado uma sala de atendimento pontuais como urgências que a UBS
acolhimento para as vítimas de violência não consegue comportar, emergências, exames
doméstica, onde ocorre uma abordagem específicos, internações, entre outros. O percurso
multidisciplinar pautada na Lei Maria da Penha, hospitalar acaba sendo bem similar ao da atenção
"Já tínhamos esta preocupação em oferecer algo básica, podendo ser por livre demanda ou agen-
diferenciado para a mulher, que não tem na damento. Ocorre uma consulta com a equipe de
região esse atendimento. Com a nossa entrada na enfermagem, onde ocorre uma triagem e classi-
batalha contra a COVID-19, notamos o ficação de risco que prioriza o atendimento mais
crescimento de casos de violência doméstica e rápido aos que precisam com mais velocidade.
tivemos a necessidade da implantação deste Durante essa consulta é fundamental o olhar
projeto. Teremos uma equipe especializada crítico do enfermeiro para qualquer sinal que
somente para este atendimento. No Hospital aponte algum tipo de violência, sem deixar de
Fluminense a mulher terá essa referência de lado o relato do paciente. Após essa consulta, o
acolhimento e cuidado de sua saúde", disse o paciente será encaminhado para o devido fim,
diretor da unidade Leandro Santoro. seja o exame destinado ou a consulta com
Por ser a Enfermagem Forense a união de médico, sendo destinado após finalizar seu
duas áreas respectivas, esse profissional precisa processo no hospital, para o acompanhamento na
transitar entre ambas: Saúde e Judiciário. Com UBS novamente.
87 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
88 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
baixa renda, esse problema perpassa diversas ca- enfermeiros forenses licenciados e que não tenha
madas sociais. E isso acaba sendo mais doloroso a presença de um perito oficial, podem realizar
quando ocorre dentro das residências, no local essa coleta, para isso é importante avaliar a situ-
onde deveria ser o refúgio para as mazelas que ação do paciente, realizar o procedimento e após,
vivenciamos todos os dias. Na sociedade em que o atendimento do cuidado com essa vítima,
vivemos, nos deparamos vinte e quatro horas por sendo assim o primeiro responsável pela cadeira
dia com a violência e os enfermeiros da linha de de custódia.
frente atuantes em emergências, são os primeiros Porém, algo que já ocorre nas emergências
a ter contato tanto com a vítima quanto com o hospitalares, uma vez que vítimas de violência
agressor. E nem entraremos no mérito da violên- doméstica dão entrada e são imediatamente en-
cia que sofremos nesses ambientes. caminhadas para o cuidado. Nesse caso, com a
Durante todo o estudo e a vivência em setor profilaxia da cirurgia, sem protocolo padroni-
de emergência onde a demanda era livre, foi ní- zado atualmente, se perde amostras importantes
tido observar a necessidade do profissional de para uma investigação futura.
enfermagem atuando com esse público. Levando Então, não que estes profissionais já não es-
em consideração que o caminho normal do paci- tejam realizando uma parte desse trabalho espe-
ente violentado ou agredido no pronto socorro é rado deles, mas muitas vezes é somente mecani-
acolhido por um enfermeiro na triagem, logo zado sem um conhecimento mais teórico judicial
após verificado a gravidade, é direcionado para a e na falta de um protocolo nacional.
equipe médica. Seus cuidados começam no aco- A Associação Brasileira de Enfermagem Fo-
lhimento. O enfermeiro presta o cuidado dos fe- rense já elaborou uma cartilha para melhor didá-
rimentos físicos e começa o acolhimento psico- tica e análise dos pacientes que chegam a esse
lógico, após a consulta com o profissional mé- serviço, contudo não é algo amplamente divul-
dico, é novamente encaminhado para a realiza- gado. Cada instituição segue tendo seu protocolo
ção da profilaxia de doenças como ISTs. individual para atendimento e a cartilha do Mi-
Nós já realizamos esse caminho nas emer- nistério da Saúde de longe supre essa necessi-
gências, a diferença é que não compreendemos a dade. É importante frisar também que por ser
importância dos detalhes, mais propriamente uma especialização nova, é de se esperar pouco
dito: da coleta dos vestígios — tanto físicos conteúdo.
quanto verbais — antes de prestar essa assistên- A prova dessa escassez, junto com o fato da
cia, podendo virar provas que aquela vítima, fu- área ainda estar engatinhando, foi a dificuldade
turamente caso seja de sua vontade, abrir um pro- de encontrar obras que dessem sustentação para
cesso de fato contra o agressor e com isso, se essa pesquisa, ao todo foram realizadas quatro
perde esse material. pesquisas distintas: onde a primeira e a segunda
Atualmente no Brasil a notificação de aten- foram na BVS, com descritores e correlações di-
dimento a vítima agredida é compulsória. Justa- ferentes e a terceira busca foi em eventos da área,
mente por isso, todo profissional de saúde é obri- que mesmo assim, somente em dois tinham anais
gado a realizá-la, contudo a vítima pode optar com resumo e somente um artigo completo en-
por não denunciar na delegacia em si. Além contrado, já na última foi utilizado uma pesquisa
disso, somente quem pode fazer coleta de vestí- livre, encontrando assim livros, cartilhas, proto-
gios e provas são peritos oficiais, contudo, em colos e arcabouços jurídicos que possibilitou me-
hospital e unidades básicas de saúde onde atuam lhor estudo para a escrita . O que mais impressi-
89 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
ona na pesquisa, além da pouca produção, são dentro do âmbito hospitalar para ser responsável
que utilizando os seguintes descritores “enfer- pela cadeia de custódia, caso ocorra denúncia de
magem hospitalar AND violência” e “enferma- fato.
gem AND violência”, a maior parte dos artigos Além de aumentar as notificações de fato e
abordados com esses descritores eram vincula- assim tentar diminuir a quantidade de sub notifi-
dos a violência contra o próprio profissional de cações, para assim, gerar números cada vez mais
saúde dentro do seu âmbito de trabalho, outro fidedignos à realidade, proporcionando assim um
grande problema enfrentado por essa categoria. melhor estudo e inspirar maior produtividade de
Partindo da premissa de Bacon (1597), onde materiais para melhores intervenções clínicas fo-
o mesmo descreve que conhecimento em si é po- renses especiais para esse público em departa-
der. O conhecimento não somente para a vítima, mentos de emergência.
para conseguir identificar as agressões e poder São necessários esforços educacionais para
sair desse ciclo para pedir ajuda, quanto também esses enfermeiros, como a capacitação dos pro-
para os atuais profissionais na linha de frente fissionais já atuantes nesse cenário e a necessi-
desse cuidado, assim conseguir aplicar um aco- dade de durante a graduação terem contato com
lhimento mais eficaz, aconselhar para a denúncia esse viés, já que a atuação, a cada dia, se mostra
de fato e, junto à equipe multidisciplinar, enca- mais precisa. Não esquecendo também de políti-
minhar essa vítima para um desfecho sem negli- cas para todos os grupos de vítimas de violência,
gência todos os aspectos da vivência humana repensando também na inclusão desse atendi-
como físico, emocional/psicóloga, social e judi- mento para os membros da família e às vezes até
cial. mesmo ao possível agressor.
Durante anos o enfermeiro atua nesse campo O presente trabalho se mostrou de imensa re-
e por falta de conhecimento dos detalhes judici- levância social, perante o crescente número de
ais e da importância da sua atuação que vai além denúncias em relação a violência contra a mu-
desse cuidado imediato, perpassando por toda a lher, e não somente contra ela, mas abrangendo
cadeia judicial com coleta de vestígios, notifica- também para as crianças, já que as mesmas são
ção sobre essa violência, as anotações de enfer- um elo indefeso no convívio familiar e domés-
magem e até mesmo depoimentos em julgamen- tico.
tos caso seja requerido. Se apropriar das compe- Mostrou, também, relevância acadêmica, re-
tências, mostrar sua importância e dialogar sobre forçando a baixa produtividade de materiais que
esse conhecimento são os principais meios de abordem essa temática e sugerindo que, com a
conseguirmos começar a ter espaço em novos publicação do mesmo, a possibilidade de ser uti-
campos. lizado como base para futuros estudos e desen-
volvimento de um treinamento voltado tanto
4. CONCLUSÃO para os profissionais atuantes, quanto para as
mulheres vítimas nas unidades de emergência,
O presente estudo possibilitou vivenciar a com ênfase na violência contra as mesmas, sem
grande demanda de vítimas de violência domés- deixar de lado o acolhimento e empoderamento
tica e observar a real necessidade do profissional para não somente se “curar” dos ferimentos físi-
de Enfermagem Forense para agilizar e facilitar cos, mas tentar diminuir um pouco o sofrimento
o atendimento, diminuir constrangimentos e as- psíquico e conseguir sair dessa situação de
sim evitando a revitimização da pessoa fragili- abuso.
zada, além de ser o profissional mais adequado
90 | P á g i n a
Capítulo 10
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABEFORENSE. Regulamento das Competências Técni- GOMES, A. M. Enfermagem forense. Lisboa: Lidel,
cas da Enfermagem Forense, maio, 2015. Disponível em: 2014. v. 1, 376 p.
<http://www.abeforense.org.br/wpcontent/uploads/2016
/06/Compet%C3%AAncias-Tecnicas-da-Enfermagem- GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA. SUS pode dei-
Forense.pdf>. Acesso em: 20 out. 2019. xar de ser porta de saída da violência. Secretaria de Polí-
ticas para as Mulheres, 11 de fevereiro de 2020. Dispo-
ABEn. Associação Brasileira de Enfermagem Nacional. nível em: <http://www.mulheres.ba.gov.br /modu-
Sociedade Brasileira de Enfermagem Forense. Disponí- les/noticias/makepdf.php?storyid=2768>. Acesso em: 20
vel em: <https://www.abennacional.org.br/site /sobef so- set. 2020.
ciedade- brasileira de-enfermagem-forense/>. Acessado
em: 21 out. 2019. GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ. Protocolo
para o atendimento às pessoas em situação de violência
ANUÁRIO BRASILEIRO DE SEGURANÇA sexual. Secretaria de Estado da Saúde do Paraná. Supe-
PÚBLICA. Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ano rintendência de Atenção à Saúde. 2. ed. – Curitiba, 2017.
13. 2019. Disponível em: <https://www.saude.pr.gov.br/si-
tes/default/arquivos_restritos/files/documento/2020-
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM 04/protocolo_apsvs_ultimaversao.pdf>. Acessado em 23
FORENSE. Regulamento das Competências Técnicas da ago. 2020.
Enfermagem Forense. Aracaju, 2015. 18 p.
PREFEITURA DA CIDADE DE SÃO LUÍS. Potocolo
BACON, F. Meditationes sacrae. Ed. Londini.: Excusum de acolhimento com classificação de risco do Sistema
impensis Humfredi Hooper. 1597. Unico de Saúde (SUS). Secretária Municipal de Saúde.
BRASIL. ASPECON. Manual de Procedimentos Perici- Maranhão, 2020)
ais. Goiás, 2012. Disponível em: ROTHER, E. T. Revisão sistemática X revisão narrativa.
<http://crcgo.org.br/novo/wpcontent/uploads/2014/09/Li Acta Paulista de Enfermagem, São Paulo, v. 20, n. 2,
vro_pericia.pdf>. Acessado em 20 out. 2019. abr./jun. 2007.
BRASIL. COFEN. Resolução no 389 de 2017. Revogada RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia para eficiên-
pela Resolução COFEN no 570/2018. Disponível em: cia nos estudos. São Paulo (SP): Atlas, 1992.
<http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-n3892011_
8036.html>. Acesso em: 20 out. 2019. SCHMIDT, L. Hospital do SUS oferece atendimento es-
pecializado para mulheres vítimas de violência no RJ.
BRASIL. COFEN. Resolução no 556, de 23 de agosto de Bom Dia Rio, Globo - G1. 19 ago. 2020. Disponível em:
2017. Regulamenta a atividade do Enfermeiro Forense no <https://g1.globo.com/rj/riodejaneiro/noticia/2020/08/19
Brasil, e dá outras providências. Disponível em: http:// /hospital-fluminense-cria-setormultidisciplinar-para-
www.cofen.gov.br/resolucao-cofenno05562017_54582. atender-mulheres-vitimas-de-violencia-no-rj.html>.
html. Acesso em: 20 out. 2019. Acessado em: 25 set. 2020.
BRASIL. Constituição Federal. Decreto nº 7.958, de SHERIDAN, D. J.; NASH, K. R.; BRESEE, H. A enfer-
março de 2013. Disponível em: <https://www.planalto. magem forense na urgência. In: SHEEHY, S. Enferma-
gov.br/ccivil_03/_ato20112014/2013/decreto/d7958.htm gem de urgência. Da teoria à prática. 6. ed. Loures: Lu-
>. Acesso em 15 fev. 2021. sociência. (2011). p. 189-202.
BRASIL. Constituição Federal. Lei nº 13.964, DE 24 DE SILVA, K. B.; SILVA, R. C. Enfermagem forense: Uma
DEZEMBRO DE 2019. Disponível em: especialidade a conhecer. Cogitare Enfermagem, v. 14,
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20192022/2 n. 3, p. 464-468, 2009.
01 9/lei/L13964.htm>. Acesso em 05 out. 2020.
SOUTO, R. Q. Enfermagem Forense: Uma especialidade
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.393, de 11 a conhecer. Brasil, 2021.
de novembro de 2016. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt
2393_11_11_2016.html>. Acesso em 15 fev. 2021.
91 | P á g i n a
CAPÍTULO 11
COCAÍNA: A NECESSIDADE
CONTÍNUA DE ESTUDOS
DOS TESTES RÁPIDOS
REAGENTES AOS ANALITOS
DA DROGA
1Discente – Pós Graduação em Medicina Legal e Direito Penal pela Minas Congressos. Discente
– Mestrado em Psicologia Forense pela FUNIBER. Bacharel em Farmácia pela Faculdade
Pitágoras/ Campus- Divinópolis/MG. Pós Graduado em Perícia criminal e ciências Forenses
pelo IPOG/Porto Alegre. Membro estudantil da SBTOX.
92 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
1863. Posteriormente no século XIX, utilizadas dido entre as forças militares no mundo todo, os
nos tratamentos nos pacientes de Sigmound testes preliminares de sensibilidades para anali-
Freud. Já no fim do século, surgiram as primei- tos de drogas foram desenvolvidos para serem
ras evidências de surtos psicóticos, dependên- de fácil transporte e manuseio, para obtenção de
cias, danos físicos, e com a cultura emergente maior êxito nas perícias em local, operações po-
na época do proibicionista e puritanismo a uti- liciais e ou barreiras de contenção ao tráfico de
lização dos analitos de coca começaram a de- forma preventiva (como ocorre em aeroportos)
cair. (ROMÃO, 2011).
Atualmente, as formas de consumo da coca- De acordo com o jornal Diário Gaúcho (re-
ína variam de acordo com o diluente e adulte- portagem 09/02/21) a polícia civil juntamente
rantes. A droga se tornou desde 1970 das mais com a receita federal, descobriram um esquema
consumidas em todo o mundo, chegando a de tráfico de drogas no Rio Grande do Sul, onde
aproximadamente 2 milhões de usuários nos foi aprendido cocaína na coloração preta, cha-
EUA de acordo com a publicação da pesquisa mando assim, a atenção da polícia técnico-cien-
nacional do uso drogas (DEA, 2012). tífica. Atualmente, primeira abordagem da po-
Os processos clandestinos utilizam produ- lícia civil para detecções de objetos suspeitos,
tos químicos para o processo de extração dos caracteriza-se pela apresentação e a hipótese da
princípios ativos da cocaína, como exemplo constituição de analitos da cocaína, em segunda
querosene, soda cáustica e gasolina. A partir instância utiliza-se métodos colorimétricos para
deste princípio ativo, são manipuladas outras análise precoce e encaminhar material coletado
formas de apresentação. No popularmente co- ao laboratório de química forense para confir-
nhecido “pó” são adicionados diluentes, como mação.
talco, alguns analgésicos, outros materiais quí- O desenvolvimento de uma cor pode indicar
micos com coloração branca para que a quanti- a presença de uma droga ou de uma determi-
dade de ativo seja rentável nas unidades de me- nada classe de drogas. Uma vez que mais de 01
didas dos processos de vendas e tráficos da co- composto pode dar o mesmo resultado, os testes
caína (SKOOG, 2005). de cor não são específicos e não identificam
Com este elevado número de usuários cres- conclusivamente a presença de um composto
cendo e sendo utilizado diferentes meios de (LINCK, 2008).
transporte para determinadas regiões em todo o No ano de 2006, a revista Época, publicou
planeta, a polícia técnico-científica no uso de uma reportagem sobre erros cometidos e que
suas atribuições, passou a utilizar exames preli- ganharam forte mídia com relação ao padrão de
minares para substâncias químicas naturais ou teste Scott. O então diretor do laboratório de cri-
sintéticas, que podem causar alterações físicas, minalística do Estado de são Paulo, Osvaldo
psicológicas e/ou dependência. Negrini, chegou a declarar “que o teste Blue
A partir destes exames preliminares surgi- (Scott) é de boa qualidade. Mas que sua eficácia
ram os testes rápidos por colorimetria. Os testes depende da “maneira como é utilizado. Qual-
colorimétricos têm como principal funcionali- quer outra substância misturada ao pó, pode al-
dade, otimizar o processo de identificação de terar o resultado”, afirmou em entrevista à re-
uma classe específica de compostos, eliminar vista”.
uma categoria de compostos ou analitos quími- Estas técnicas de identificação de drogas
cos utilizando reagentes. Amplamente difun- são desenvolvidas para que sejam de rápida
94 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
aplicação e facilitem o transporte, elas estão se no que diz respeito à similaridade de seu resul-
tornando cada vez mais necessárias para as tado conclusivo a outras substâncias que não
áreas criminais no Brasil e no mundo, na busca são de interesse forense.
do combate ao tráfico de entorpecentes em suas O desenvolvimento de estudos para especi-
distintas apresentações de fórmulas e formas. ficidade de um teste, mesmo que rápido vem
sendo discutido no meio acadêmico para o uso
Em virtude da crescente criminalidade e da forense. A elucidação da verdade em caráter
necessidade da prova pericial para uma
persecução penal eficaz, mais serviços têm presencial e de pró-análises se faz necessária.
sido demandados dos laboratórios de química Para isso, a constante pesquisa nessa área deve
forense. A imprescindibilidade de realização
desenvolver métodos que possam ser ainda
de todos esses exames, aliados à sua
heterogeneidade e ao limitado tempo para mais específicos a analitos de cocaína
emissão de resultados na forma de laudos (ZENTENO, 2021).
periciais, requer além de outras boas práticas
de laboratório, que os variados procedimentos A aplicação de métodos químicos para es-
metodológicos estejam sistematicamente clarecimentos de casos de crimes é como se de-
descritos e organizados, garantindo o rigor
cientifico e de qualidade das análises. Este fine a química forense. O conhecimento cientí-
trabalho, além de proporcionar uma visão fico vem sendo utilizado no esclarecimento de
acerca de algumas metodologias empregadas
em exames requisitados pelas autoridades
fraudes, infração e assassinatos desde os pri-
competentes, discute o significado dos mórdios da humanidade, ajudando os sistemas
resultados dos fenômenos químicos
judiciais a distinguir inocentes de criminosos. O
decorrentes de tais exames, o que é
fundamental para garantir a clareza ao laudo avanço tecnológico e o desenvolvimento de co-
pericial [...] (COSTA et al., 2020). nhecimentos correlatos auxiliam na expansão
do termo forense, como é conhecido atual-
Entretanto, os testes colorimétricos apre-
mente. Porém, ainda existe muito campo a ser
sentam falso-positivo e falso-negativo em al-
explorado. Assim como aprimoramentos em
guns casos, o que torna necessário a manuten-
muitos técnicos e métodos utilizados, principal-
ção de metodologias existentes e aprofundar
mente no Brasil, onde a área de químico forense
análises em novos métodos científicos como
ainda é carente de trabalhos e pesquisas cienti-
forma de diminuir erros dos testes e criar novas
ficas (MOTTA; D. IVITTA 2012).
metodologias afim de especificar o analito do
Á partir destas premissas, o presente artigo
material analisado excluindo outros compostos
visa trazer uma reflexão da necessidade contí-
do analito procurado. Com isso haveria possibi-
nua de estudos e metodologias analíticas sensí-
lidade de especificar o teste ao analito da coca-
veis para testes rápidos e específicos aos anali-
ína?
tos da cocaína e suporte dos testes rápidos as
Testes que indicam a presença de determi-
forças de segurança que necessita da utilização
nadas substâncias de maneira colorimétrica, são
para em um breve lapso temporal. A crítica pre-
os testes atualmente mais utilizados na química
sente no mesmo é sugestiva para revisões e apli-
forense de forma qualitativa. Estas reações quí-
cabilidade de novas práticas, investimentos em
micas entre as substâncias alvo e as substâncias
ciência químicas para testes mais específicos
utilizadas como métodos de identificação pro-
nas distintas formas de apresentação da droga,
vocam mudança de coloração na substância,
onde independente do excipiente e adulterante
efetuando assim papel de identificação. Porém
utilizado, a química do teste possa estar inte-
estes testes apresentam variações nos resultados
95 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
gralmente ligada ao analito da droga de forma através da análise de matrizes onde envolva
qualitativa. produtos químicos. Esta ciência está associada
a metodologias que visam comprovar e materi-
2. MÉTODO alizar vestígios e evidências, auxiliando nas es-
tratégias para o combate à criminalidade.
Trata-se de uma revisão narrativa realizada Desenvolver estudos sobre caracterização
no período de dezembro/2020 a março/2021, do perfil químico da cocaína é primordial para
por meio de pesquisas nas bases de dados: Sci- o aperfeiçoamento das técnicas e dos testes rá-
ELO, PubMed e Medline. Foram utilizados os pidos de colorimetria e aumentar a sensibili-
descritores: Cocaína, Teste Scott, tiocianato de dade ao analito da droga. O presente artigo, faz
cobalto, testes rápidos, colorimetria e ciências uma revisão bibliográfica a assuntos ligados
forenses. Desta busca foram encontrados 8 arti- aos atuais testes de colorimetria utilizados pelos
gos, posteriormente submetidos aos critérios de departamentos de segurança da União Federa-
seleção. tiva do Brasil.
Os critérios de inclusão foram: artigos nos
Os testes para colorimetria, considerados
idiomas portugueses; publicados no período de testes rápidos para analitos de cocaína, apresen-
2010 a 2021 e que abordavam as temáticas pro- tam resultados falso-positivos e/ ou inconclusi-
postas para esta pesquisa, estudos do tipo revi- vos quando a substância (tiocianato de Cobalto)
são, disponibilizados na íntegra. Os critérios de através de reações colorimétricas químicas, re-
exclusão foram: artigos duplicados, disponibili- age com produtos do perfil químico da droga.
zados na forma de resumo, que não abordavam Estes, considerados adulterantes tem várias
diretamente a proposta estudada e que não aten- funções como, potencializar os efeitos da coca-
diam aos demais critérios de inclusão. ína ou diluir o teor da mesma em determinadas
Após os critérios de seleção restaram 3 arti- porções para ser rentável ao tráfico.
gos que foram submetidos à leitura minuciosa A identificação, qualificação e quantifica-
para a coleta de dados. Os resultados foram ção das cocaínas e dos demais componentes (no
apresentados de forma descritiva, divididos em caso do material apreendido ser oriundo do trá-
categorias temáticas abordando: O emprego da fico ilícito) auxilia também os serviços de inte-
química na atividade forense, a identificação da ligência a repensar nos procedimentos atuais
cocaína por testes qualitativos e quantitativos e utilizados e as probabilidades do uso de alguns
seus principais adulterantes, a mudança “com- adulterantes da cocaína serem inseridos naquele
portamental” do tráfico de cocaína no Brasil material. E ser reavaliado as metodologias dos
nos últimos 10 anos, as características químicas testes rápidos e suas utilizações, onde o que an-
da cocaína, a farmacocinética da cocaína e o teriormente poderia ser um diluente, com o de-
teste Scott com base na âncora National Insti- senvolvimento do perfil químico, estar associ-
tute on Drug Abuse (NDA) e a Agência Nacio- ado a um sistema inteligente para proporcionar
nal de Vigilância Sanitária (ANVISA). resultados inconclusivos ao teste rápido. Onde
mesmo que material seja encaminhado para
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO análises laboratoriais, o tráfico ainda teria uma
chance de escape até a atuação da justiça nos
A química forense, é uma ciência voltada tribunais, como por exemplo mudança de rotas.
para a busca de produção de provas materiais Um exemplo que levou a elaboração deste tra-
96 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
97 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
Com o conhecimento de produtos químicos, de- com que cada planta de coca seja específica em
senvolver testes de relações ácido/base estaria relação a região de plantação, a quantidade en-
muito aquém da metodologia necessária ao sis- contrada de cada substância também pode di-
tema antidrogas. A correlação entre estudos e vergir. Estas características servem tanto para
novos métodos envolvendo a reação onde de- identificação quanto para classificação da
tecta esta amina cíclica possa especificar ainda droga. Sua origem, faz parte dos estudos da cri-
mais resultados dos testes. A relação dos alca- minologia para identificação e combate ao trá-
loides básicos tem em sua maioria produtos de- fico de entorpecentes destas substâncias proibi-
rivados de plantas o que já poderia distinguir de das.
produtos sintéticos ou de origem biológica, A extração de cocaína por métodos naturais
como por exemplo o leite em pó, produto no envolve basicamente o mesmo processo e eta-
qual o teste Scott apresenta falso-positivo. Po- pas podendo alternar-se apenas nas substâncias
rém, aos derivados do ópio obviamente também utilizadas. A metodologia segue: a extração
o teste acusaria para a positividade em caso de com solvente orgânico e reações ácido-base
especificidade dos alcaloides, entretanto a rela- para purificação e obtenção das formas de apre-
ção local, transporte, destino e habilitação téc- sentação da droga. O fluxograma abaixo exem-
nica de manuseio seria forma de rastreio no sis- plifica o processo de extração.
tema de transporte e de cargas como tentativa O Processo de extração envolve os seguin-
de interceptar o tráfico de drogas. Uma caracte- tes subprodutos:
rística das aminas cíclicas são as suas proprie- Maceração e tratamento químico com sol-
dades amargas e alto índice de proporcionar de- ventes pesados e ácidos (pureza de 0,5 % a 2%
pendências físicas e psíquicas. (FOGAÇA, de cocaína nas folhas). Podem ser macerados.
2021) Para pasta coca: tratada com solventes e
Figura 11.2 Imagem representativa da ácido clorídrico (pureza de 20% a 85% de sul-
estrutura da sua forma molecular fato de cocaína). Podem ser fumados.
Crack: subproduto da cocaína, natureza bá-
sica. Podem ser fumados.
Merla: Subproduto da cocaína, natureza bá-
sica. Podem ser fumados.
Cloridrato de cocaína: Produto final do re-
fino em pó (pureza de 30 % a 90% de cloridrato
de cocaína). Podem ser inaladas ou diluídas em
H2O para injetáveis.
Os atuais testes rápidos para detecção da co-
Legenda: Disponível no link http://www.antidrogas. caína, são desenvolvidos para a aplicabilidade
com.br/cocaina.php em qualquer uma das apresentações do analito
da cocaína, observando-se assim, o mesmo pa-
As estruturas químicas dos diferentes alca- drão de acordo com sua forma. Apenas ressal-
loides encontradas na folha da planta, ajudam a tado que os objetivos químicos de forma e fór-
caracterizar a região de cultivo do mesmo. Os mula da cocaína são distintos em relação a me-
alcaloides se diferenciam de acordo com os fa- todologia aplicada.
tores climáticos de cada região, fazendo assim,
98 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
Figura 11.3 Representação da molécula de co- dem se tornar uma importante descoberta para
caína tridimensional análises e metodologias fora do corpo humano.
A seguir na Figura 11.4, dados farmacoci-
néticos da cocaína de acordo com sua via de
acesso. A farmacocinética é uma ciência farma-
cêutica que define o percurso e/ou movimento
que medicamento ou a droga faz no corpo hu-
mano. De acordo com estes dados, ocorre as de-
finições também relacionadas capacidades ao
abuso, toxicidade, hepatotoxicidade e outros
agravantes para produtos químicos relaciona-
dos ao organismo humano conforme destacados
Legenda: Representação tridimensional da molécula de
na Figura 11.5 (GOODMAN, 2005).
Cocaína ou benzoilmetilecgonina ou éster do ácido ben-
zoico. É uma droga alcaloide, derivada do arbusto
Importante destacar que no processo de fu-
Erythroxylum coca Lamarck, estimulante com alto poder mar a cocaína a velocidade pode ser comparada
de causar dependência. Seu uso continuado, pode levar a as vias endovenosas, onde há um grande poten-
dependência, hipertensão arterial e distúrbios psiquiátri- cial de abuso e transmissão de infecções. Atu-
cos. A produção da droga é realizada através de extração,
almente, pelas vias orais são mastigadas as fo-
utilizando como solventes álcalis, ácido sulfúrico, quero-
sene e outros. Nomenclatura IUPAC:3-benzoiloxi-8-
lhas de coca, enquanto a nasal é aspirada o pó,
metil-8-azabiciclo [3.2.1] octano-4-carboxilico. Fórmula já a endovenosa ou intravenosa é diluída e apli-
Molecular: C17H21NO4. Massa Molar: 303,353 g/mol. cada o líquido. A inalada em forma de fumo, se
Fonte: imagem disponível no site química. divide em dois processos, o crack e pasta da
peed.pr.gov.br, acesso em março/2021.
coca (LEITE, 1999).
99 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
Figura 11.5 Esquema de química, sobre a co- 3.3. Teste Scott- Colorimetria
caína As reações químicas ou fenômenos quími-
cos são processos denominados onde ocorrem
uma mudança na matéria. Esta mudança acar-
reta variações a nível molecular, ou seja, a mu-
dança do perfil de estado não acarreta nas vari-
ações a nível estrutural da molécula química. A
partir desta estruturação temos os reagentes que
são os componentes iniciais da reação química
e os produtos que são os resultados após a trans-
formação, ou seja, o que se resulta da equação
química.
O teste Scott foi desenvolvido por L.J. Scott
Jr. em 1973. Os testes que visam identificar a
cocaína de forma bruta são comumente utiliza-
Legenda: Esquema demonstrativo da cinética no orga-
nismo. Fonte: Autoria do autor do artigo. dos no padrão colorimétrico. O teste Scott, as-
sim conhecido utiliza o tiocianato de cobalto
A polícia científica federal desenvolve pes- para identificação de cloridrato de cocaína em
quisas para descobrir estes perfis químicos e análises de triagem, seja em campo ou em labo-
dos processos de manipulação/produção dos ratório (HUFFELL; PC-PR).
analitos da droga para elucidar crimes e catego- Esse teste, foi criado em 1973 e posterior-
rizar as drogas conforme mencionado anterior- mente aperfeiçoado por Fasanello e Hinggins
mente. Estas características bem definidas, para que pudesse ser usado para outras apresen-
atuam em um suporte da Polícia Federal, entre- tações da cocaína, como exemplo o Crack.
tanto os métodos de análises de forma rápida Abaixo, segue uma equação da reação ge-
para o campo de atuação ainda estão aquém de rada pelo tiocianato de cobalto em meio ácido,
pesquisas, afim de melhorar este suporte téc- ilustrada pela Figura 11.6.
nico. Estas pesquisas direcionadas a estrutura- A reação negativa (à esquerda) e reação po-
ção química da cocaína e inteligências que vi- sitiva (à direita) para a substância utilizando o
sam mapear a droga pouco acontecem. O ma- tiocianato de cobalto a 0,5% acidificado como
peamento do perfil químico auxilia em distintas reagente.
etapas. A primeira delas, é descobrir a região e Alguns estudos apontam para utilização de
a tipificação da produção, onde setores e servi- técnicas de espectrostrópicas como UV-VIS e
ços de inteligências podem atuar de maneira ATR-FTIR, as soluções colorimétricas para au-
preventiva. A segunda e não menos importante xiliar nos exames de falso-positivo para quanti-
é analisar o destino dessas drogas adulteradas. ficação do teor das amostras. Segundo o artigo
A terceira etapa está correlacionada direta- publicado nas parcerias do Instituto Federal e o
mente aos estudos externos e internos das capa- Departamento de Química com o Laboratório
cidades destas drogas e sua relação com o pa- de Química Legal do Espírito Santo, junta-
drão da caraterização de droga de abuso. mente com a Universidade de Química de Cam-
pinas/ SP (2014), os testes colorimétricos utili-
zando Método Scott apresenta falsa-positivi-
100 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
dade ou inconclusividade para esta metodologia como um metal, suas características são pareci-
de teste rápido para os seguintes ativos: Li- das com a do ferro, conforme a Figura 11.7. Na
docaína (anestésico), leite em pó, prometazina natureza é encontrado disseminado como arsê-
(anti-histamínico) e fermento. O presente artigo nio ou sulfeto em diversos minerais. Sua massa
utilizou como abordagem, a diferenciação da atômica é de 58,93 u, e apresenta propriedades
cocaína dos adulterantes e evidenciar meios que discretamente magnéticas. Foi descoberto em
auxiliem a eficácia das análises para estes mé- 1735, pelo químico sueco Georg Brandt, já
todos de identificação do analito da droga. nome dado foi uma correlação a mitologia ger-
mânica onde “kabalt” é um ser místico (duende)
CO2+4SN + 2B----------→[ C0(SNN)4B2]2- com más intenções, e acreditava-se que o Co-
( Rosa) (Azul) balto era um metal contaminante e sem utili-
dade.
Figura 11.6 Teste colorimétrico de indicação Atualmente, o Cobalto está sendo utilizados
da presença de cocaína em várias áreas da indústria como por exemplo:
em tintas anticorrosivas, radioterapias e radio-
logia (sua capacidade ponte de raios gama), em
produtos de limpeza como bactericidas e etc.
Segue abaixo algumas características quí-
micas importantes do Cobalto: apresenta
Legenda: Esta inclusão do Tiocianato de cobalto em Figura 11.7 Nucleossíntese de elementos quí-
meio ácido, que na presença de cocaína (B), produz com- micos
pleto de cobalto II, produzindo assim uma coloração azul,
conforme a equação acima e ilustrada pelas imagens
abaixo. Fonte: SORDAINI, revista criminalística e me-
dicina legal (CML).
101 | P á g i n a
Capítulo 11
Estudos em Ciências Forenses
Figura 11.8 Requisições de rotina e testes co- forenses, para o uso do judiciário através de in-
lorimétricos empregados em Química Forense: formações e testes com embasamento cientí-
do preparo das soluções à descrição dos fenô- fico, aos longos dos anos, estão sendo de forma
menos químicos. Revista Brasileira de Crimi- unânime bem aceitas e condecoradas com rela-
nalística ção a evolução assertiva e evolução tecnológica
para a produção dos laudos. Sendo assim, se
tornando mais confiáveis e sólidos através dos
métodos de análises de analitos da cocaína. Os
aperfeiçoamentos constantes das técnicas têm
colaborado com esta garantia de qualidade no
chamado sistema de criminalística. Entretanto a
sensibilidade do teste ainda deixa a desejar de-
vido a materiais com produtos químicos não en-
quadrados a classe de entorpecentes e produtos
Legenda: Complexo cocaína tiocianato de cobalto
Fonte: COSTA, Marcus & Brito, Natilene (2020).
proibidos por lei. Justamente essa análise da ex-
clusão de produtos químicos não sendo analitos
A complexidade e a demanda técnica, exi- ainda coloca a fragilidade do teste à tona e en-
gem dos testes rápidos uma maior exatidão e fatiza a falta de estudos e investimentos no de-
qualidade nos resultados. O desconhecimento senvolvimento com mais especificidade para as
do perfil químico do que é atualmente, são co- forças militares, principalmente nas atividades
mercializados de forma ilícita no Brasil e fazem de forma preventiva para inibição do tráfico de
com que processos acumulem em torno de no- cocaína nas fronteiras e aeroportos do país. O
vas análises. papel inibidor da perícia criminal se faz rele-
Os índices considerados altos de falso-posi- vante para os aspectos de segurança pública e
tivo, tornam ainda mais a necessidade de eluci- dos direitos do cidadão local, já que o tráfico
dar as substâncias que compõem o material ana- tem uma correlação com a criminalidade e estão
lisado, afim de colaborar com o processo e com proporcionalmente interligados. Portanto con-
os procedimentos operacionais da perícia crimi- clui-se que, a necessidade de disseminar conhe-
nal. O teste Scott apresenta limitações em rela- cimentos em química forense, investir em estu-
ção a especificidade ao ativo da cocaína dos sobre o tema e ampliar o incentivo no meio
(Benzoilecgonina). acadêmico para produção de trabalhos de
Uma alternativa que vem sendo estudada é campo de iniciação cientifica para a química fo-
capacidade do teste detectar o teor de cocaína rense. O aumento de trabalhos acadêmicos con-
contida no material apreendido. Esta elabora- tribui para o aperfeiçoamento de técnicas e mé-
ção técnica ainda não definida pode se torar au- todos para análises primárias de drogas de
xiliar para os processos que tramitam e solici- abuso, colaborando assim, com a perícia crimi-
tam reanálise no pleito judicial. nal facilitando trabalho de campo dos profissi-
onais e materializando indícios em vestígios de
4. CONCLUSÃO possíveis crimes.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AD. Antidrogas: Cocaína. Blog antidrogas; Disponível LINCK, Daiane de Lima Huffell. Métodos Colorimétricos
em:<http://pcdrogas.blogspot.com/2016/01/cocaina.html>. de Identificação de Drogas de Abuso. Novo Hamburgo,
Acesso em 05/03/2021. 2008.
ANVISA. Portaria n°344/1998. Diário Oficial da União, MOTA, Leandro; DI VITTA, Patrícia Busko. Química
Brasília, 1999. Costa, L. J; Lanaro, R. Química Nova, v. 33, forense: Utilizando métodos analíticos em favor do poder
p. 725-729, 2010. Ferreira, G. M. D. Comportamento de judiciário. Revista Oswaldo Cruz.
partição da cocaína e seus adulterantes em SABs,
Brasília, 2005. NIDA – National Institute on Drug Abuse. Cocaine: Abuse
and Addiction. Research Report. Number 99-4342, 2004.
COSTA, Marcus & Brito, Natilene. Requisições de rotina e
testes colorimétricos empregados em Química Forense: do O’MALLEY, Gerald F. “Manual MSD; versão para
preparo das soluções à descrição dos fenômenos químicos; profissionais da saúde”; Março de 2018; Disponível em
Revista Brasileira de Criminalística. 2020. <https://www.msdmanuals.com/ptpt/profissional/t%C3%B
3picos-especiais/drogas-recreativas-e-intoxican-
DEA. Drug enforcement administration. Drug facts tes/coca%C3%ADna>. Acesso em 08 de abril de 2021.
sheet Marijuana. United States:Department of justice
2012 Disponível em: <http://www.justice.gov/dea/dru- OLIVEIRA, Marcelo Firmino de. Química forense: A
ginfo/drug_data_sheets/Marijuana.pdf>. Acesso em: utilização da Química Pesquisa de Vestígios de Crime.
17/04/2021. Química Nova na Escola, nº 24. 2006. Disponível em:
<http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc24/ccd2.pdf>. Acesso
Estudo do teste de Scott via técnicas espectroscópicas: em 29/03/2021.
um método alternativo para diferenciar cloridrato de
cocaína e seus adulterantes. Disponível em OLIVEIRA, Marcelo Firmino de; Análise do teor de co-
<http://dx.doi.org/10.5935/0100-4042.20140240>. Acesso caína em amostras apreendidas pela polícia utilizando-
em 06/04/2021. se a técnica de cromatografia liquida de alta eficiência
com detector UV-Visivel. 2009.
FERREIRA, P.E.M.; MARTINI, R.K. Cocaína: lendas,
história e abuso. Revista Brasileira de Psiquiatra. DEA. ROMÃO, Wanderson. et al. Química forense: perspec-
Drug enforcement administration. Drug facts sheet tivas sobre novos métodos analíticos aplicados à do-
Cocaine. United States. Department of justice 2012; dis- cumentoscopia, balística e drogas de abuso; São Paulo,
ponível < http://www.justice.gov/dea/druginfo/drug 2011.
_data_sheets/Cocaine.pdf. >. Acesso em 05/03/2021.
SKOOG, Douglas A. et al. Fundamentos de química
FOGAÇA, Jennifer Rocha Vargas. "Alcaloides"; Brasil analítica. Tradução 8 ed. Norteamericana; São Paulo-SP:
Escola. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/ Thomson, 2005. STEFANI, Valter. Ciência que desvenda
química/alcaloides.htm>. Acesso em 08 de abril de 2021. crimes. FAPESP, 2006. Disponível em http://qui-
micaforense.com.br/. Acesso em 08/04/2021.
GOODMAN, L.; GILMAN, A. The pharmacological basis
of therapeutics, 11ª ed, Porto Alegre: Artemed, 2005. SORDAINI, Maria Caligiorne; Pablo Alves Marinho;
Instituto de Criminalística de Minas Gerais; Cocaína: as-
GOVERNO DO PARANÁ. Galeria de imagens: Química pectos históricos, toxicológicos, e analíticos-uma revisão;
sintética. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO PARANÁ; Revista Criminalística e Medicina Legal. Minas Gerais,
Disponível em: <http://www.quimica.seed. 2016.
pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php?foto=1721&evento
=5>. Acesso em 05/03/2021. Tabela Periódica dos elementos químicos. Disponível em:
https://www.tabelaperiodica.org/. Acesso em 05/03/2021.
HUFFELL, de Lima; Daiane; Métodos Colorimétricos de
Identificação de Droga ICP. Instituto de Criminalística do VELHO, J. A.; Bruni, A. T.; Andrade, J. F. Fundamentos
Paraná; disponível em: da Química Forense, Ed. Millennium, 2012.
<http://www.ic.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?
ZENTENO, Gabriela Valdebenito; Química forense;
conteudo=5>. Acesso em 06/03/2021.
química analítica aplicada a criminologia; Disponível em
KREEK, M.J.; LAFORGE, S.; BUTELMAN, E. Phar- <http://br.librosintinta.in/biblioteca/ver-pdf/www.
macoterapy of addictions. Nature Plublishing Group. cienciaahora.cl/Revista19/01QuimicaForense.pdf.htx>.
Volume I: 710-726, 2002. Acesso em 08/04/2021.
103 | P á g i n a
CAPÍTULO 12
ATUAÇÃO DO
ENFERMEIRO FORENSE
FRENTE À VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA
104 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
olência sexual, sistema prisional, psiquiátrica, contribuir com o sistema judicial, identificar e
perícia (tanto técnica como consultoria), coleta reconhecer possíveis situações de violência e
(recolha e preservação de vestígios), pós-morte, maus tratos, promover a proteção dos direitos
desastres em massa (humanitárias e catastrófi- humanos tanto das vítimas quanto dos perpetra-
cas), maus tratos, traumas e outras formas de vi- dores, colaborar com os profissionais da área
olência nos mais variados ciclos de vida jurídica, aplicar processos de enfermagem que
(COFEN, Resolução Nº 556/2017). Outra nor- visam a prevenção de todos os modos de vio-
mativa que vem tornar efetiva a função do en- lência. Promover a saúde física e mental afim
fermeiro forense é a Portaria Nº 276 de 11 de de reintegração na sociedade (ABEFORENSE,
março de 2021 pelo COREN- MG (Conselho Resolução Maio/2015).
Regional de Enfermagem), onde designou cola- A Lei Maria da Penha (LMP) (Brasil, 2006)
boradores que compõem a Área Temática da veio da necessidade de punir com rigor os
Enfermagem Forense da Câmara Técnica. agressores no seio familiar, tendo como tipos de
Entre suas competências estão: traçar pla- agressões a qual as mulheres são submetidas as
nos de cuidados às vítimas em diversas situa- seguintes violências: física, psicológica, sexual,
ções de violência, acolher e avaliar vítimas, patrimonial e moral, Quadro 12.1.
São ações que abalam a vítima emocionalmente causando danos emocional e diminuição da
autoestima. Interferir na crença, comportamento, decisões, cárcere, violação de intimidade,
Psicológica
constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, limitação, bem como qualquer atitude
que possa causar na vítima prejuízo ao seu bem estar psicológico.
São as ações que cause constrangimento em ver ou participar de ato sexual indesejado, uso da
Sexual força que obrigue a comercializar ou usar sua sexualidade, proibição de métodos contraceptivos,
aborto, prostituição, gravidez, forçar matrimônio, seja por suborno, coação ou ameaça.
Compreendida nas ações que configurem subtração, detenção, destruição de bens, valores,
Patrimonial
instrumentos de trabalho, recursos econômicos e documentos.
Moral São ações de calúnia, difamação ou injúria.
O tema violência doméstica e sexual é de o agressor faz parte do convívio das vítimas. Os
grande relevância e um caso de preocupação da crimes de maiores repercussões normalmente
Saúde Coletiva especialmente por sua invisibi- são cometidos por pessoas próximas que podem
lidade e ter muitas faces. Hoje tem se ganhado ser portadores de sofrimento mental, usuários
espaço na mídia, ainda que de modo meio tí- de drogas e álcool.
mido. Embora a visibilidade ainda é pequena Dessa maneira, o presente estudo objetiva
deve-se ressaltar a grande importância da Lei compreender a atuação do enfermeiro forense
Maria da Penha, lei essa que tem dado voz à ví- frente ao atendimento às vítimas de violência
tima, visto que o ambiente familiar deveria pro- doméstica no atendimento de urgência, bem
teger os vulneráveis, pois na maioria das vezes como em unidades de saúde básica.
106 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
setores sociais o ato de identificar essa silenci- Desde os tempos mais remotos já se tem re-
osa violência e também intervir no processo de latos de Aristóteles indicando que a mulher ti-
passível prevenção. Dentre as manifestações de nha um papel diante a família, mesmo sem levar
violências, nos deparamos com a violência do- em conta sua idade seria sempre inferior ao ho-
méstica e sexual, fato frequente em todos os pa- mem. Ao homem dava se o poder de sustento
íses, o que pode acarretar direta ou indireta- da família, enquanto que a mulher numa esfera
mente consequências graves (SANTOS, 2019). privada só restava o ato de obedecer. O homem
Nesse contexto faz-se necessário o desen- partindo do princípio de que ele supria a neces-
volvimento de políticas governamentais, visto sidade a fim de participar da vida como cidadão
que é notório se tratar de um caso de saúde pú- da vida pública. A sociedade patriarcal argu-
blica. Diante disso diversos autores já publica- mentava que a mulher estava impedida de acu-
ram a importância da capacitação perante o en- mular bens, por exemplo, e teria que ficar reser-
frentamento e a abordagem da violência domés- vada às atividades domésticas e a reprodução.
tica e sexual (WANDERBROOCKE; MORÉ, Eram oprimidas e exploradas enquanto que o
2012, SCHRAIBER; D'OLIVEIRA; COUTO, homem exercia o papel de provedor, dono da
2009). No entanto o estudo sobre o caso ainda força física e emocional e acima de tudo com
é lento, o que faz com que a vítima procure re- poder de decisão (PEDRO; GUEDES, 2010).
petidamente a assistência de saúde acarretando De acordo com o IPEA no Atlas de Violên-
num gasto alto aos cofres do Governo já que o cia 2020:
atendimento e prevenção se mostra ineficaz. A (...) somente no ano de 2018 4519 mulheres
foram assassinadas no Brasil, o que representa
assistência às vítimas deve ser baseada nos co- uma taxa de 4,3 homicídios para cada 100 mil
nhecimentos científicos, epidemiológico, tec- mulheres. Levando em consideração que entre
2017 e 2018 essa taxa apresentou uma redução
nológico e por profissionais qualificados para de (9,3%). Dentro desses dados podemos
identificar os mais diversos sinais de violência. certificar que dezenove UFs tiveram reduções
Nesse caso é desejável que o profissional de sa- nos homicídios entre as mulheres. Os estados
de Sergipe, Amapá e Alagoas apresentaram
úde tenha um bom preparo teórico, prático e uma queda expressiva e ficaram com redução
também psicológico. Quanto às Unidades de de (48,8%), (45,3%) e (40,1%) respectiva-
mente. Os estados em que os homicídios
Saúde é imprescindível que a mesma esteja tiveram as menores taxas por 100 mil ha-
equipada e que possua protocolos que permitam bitantes foram São Paulo (2,0), Santa Catarina
(2,6), Piauí (3,1), Minas Gerais (3,3) e Distrito
a atuação do profissional. Cabe aos serviços de Federal (3,4). Essas UFs apresentaram as
saúde, autoridades, os setores de emergência, menores taxas de homicídios em 2018 (IPEA,
Atlas da Violência, 2020).
escolas, bem como a sociedade civil divulgar a
forma que é conduzida o atendimento nesses
Os estados cujas taxas aumentaram no perí-
casos. O profissional de saúde deve ser prepa-
odo, três deles tiveram um aumento superior a
rado também para a notificação de qualquer
20% (Figura 12.1):
suspeita ou confirmação da violência.
Nessa perspectiva, o atendimento a vítima Roraima (93%) Ceará (26,4%) e Tocantins
de violência doméstica e sexual engloba o tra- (21,4%). Além disso, Roraima e Ceará
apresentaram as maiores taxas de homicídio
balho do enfermeiro forense. Partindo desse feminino por 100 mil habitantes no ano de
princípio, o profissional de saúde deve realizar 2018, fato também comprovado nos números
das taxas mais elevadas dos homicídios gerais
uma anamnese detalhada para fins de prova. no país. Entre os anos de 2008 e 2018, o
aumento de homicídios femininos foi de 4,2%
108 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
e em alguns estados a taxa mais que dobrou outro lado, temos as maiores reduções no
em relação ao ano de 2008, onde, por exemplo, Espírito Santo 52,2%, São Paulo 36,3% e no
o Ceará teve um aumento de 278%, Roraima Paraná 35,1% (IPEA, Atlas da Violência,
186,8% e do Acre com taxa de 126,6%. Por 2020).
Fonte: Gerência de Estudos e Análises da Dinâmica Demográfica/IBGE e SIM/MS. Elaboração: Diest/Ipea e FBSP1.
Nos primórdios do ano de 2021 estudos ou parentes abusivos não pareceu ser uma boa
feitos sob a realização do Fórum Brasileiro de ideia (CAMPOS; OLIVEIRA, 2019).
Segurança Pública e Datafolha – Instituto de No Brasil os índices de violência já tinham
Pesquisa o levantamento da violência contra a números elevados antes da pandemia, contudo
mulher diante da pandemia do COVID-19, esses níveis tiveram um acréscimo bem signifi-
onde as mesmas se viram isoladas junto aos cante. De acordo com (MARIANI; YUKARI;
seus agressores. De acordo com o estudo publi- AMÂNCIO, 2020), no Rio de Janeiro e em São
cado pela ONU Mulheres, a quarentena se tor- Paulo mediante confinamento, pode ter aumen-
nou o desafio para todos, porém as mulheres fi- tado em 50%.
caram numa posição de vulnerabilidade trágica. De certa forma o isolamento social dificulta
No Brasil a cada quatro minutos a mulher sobre os registros de ocorrências nas delegacias. Mas
algum tipo de violência e entre esses 43% dos infelizmente esses dados tem se mostrado a ní-
casos é caracterizado pela violência doméstica, vel mundial. A Corte de Direitos Humanos
visto que acontece no seio familiar, ou seja, (CORTE INTERAMERICANA DE
dentro de casa (ONU Mulheres, 2020). DIREITOS HUMANOS, 2020), em abril de
Diante da proposta de distanciamento so- 2020, tornou-se público uma manifestação com
cial, segundo a ciência como proposta de con- o objetivo de atentar aos Estados de suas obri-
tenção do vírus, ficar em casa com parceiros e gações, na qual teve destaque para as medidas
1
Obs.: O número de homicídios de mulheres na UF de residência foi obtido pela soma dos CIDs 10 X85-Y09 e Y35-
Y36, ou seja: óbitos causados por agressão mais intervenção legal.
109 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
de isolamento onde o aumento expressivo da vi- mas. Em vários casos o Estado não contribui
olência contra mulheres em suas casas. É dever nos casos de proteção e ainda se mostra perpe-
de o Estado promover respeito ao direito que as trador da violência. Especialmente em casos de
mulheres têm de viver sem violência, tomando comunidade e bairros de renda abaixo da média.
medidas necessárias a fim de prevenir os casos, No contexto da COVID-19, as medidas adota-
criar meios seguros para denúncia e acima de das na em meio à pandemia vem aumentando à
tudo ter atendimento eficaz em atenção às víti- medida que a doença avança.
Pensando nos últimos 12 meses, desde o início da pandemia de COVID-19, você sofreu algum tipo de violência ou
agressão? Por estado conjugal, Brasil, 2021.
Estado Conjugal
Separada/
Casada Solteira Viúva
Divorciada
FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 16,8 30,7 17,1 35,0
Insulto, humilhação ou xingamento (Ofensa verbal) 13,2 23,0 11,5 28,0
Ameaça de apanhar, empurrar ou chutar 5,5 9,9 7,5 15,6
Amedrontamento ou perseguição 5,1 9,2 8,4 13,5
Batida, empurrão ou chute 4,3 6,7 5,3 12,9
Ofensa sexual ou tentativa forçada de manter relação sexual 2,8 6,6 5,6 11,1
Ameaça com faca ou arma de fogo 2,2 2,5 4,6 8,3
Lesão provocada por algum objeto que lhe foi atirado 1,0 2,8 1,4 9,4
Espancamento ou tentativa de estrangulamento 1,4 2,5 2,4 5,6
Esfaqueamento ou tiro 0,5 1,1 3,8 5,8
Outro tipo 1,2 1,7 1,4 2,1
NÃO FOI VÍTIMA DE VIOLÊNCIA OU AGRESSÃO 82,1 68,3 80,5 65,0
RECUSA 1,1 1,0 2,4
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Instituto DataFolha. Pesquisa Visível e Invisível: a vitimização de mu-
lheres no Brasil, 2021.
3.2. Danos físicos, emocionais e sociais sores por diversas razões. Na maioria dos casos
Dado o contexto crescente e significativo da elas temem pela sua vida e a de seus filhos, pro-
violência doméstica presente nas relações de vocando uma situação cada vez mais letal. Cabe
gênero, pode se dizer que se trata de um pro- ao sistema criar meios de respostas rápidas a
blema de saúde para as mulheres, onde a quali- fim de anular esse sentimento nas vítimas e evi-
dade de vida é afetada e promove uma erosão tar o processo de vitimação.
impactante no social, embora sendo causa de Viver num ambiente onde a vítima é violen-
mortalidade e morbidade, nem sempre é visto tada ou tratada com hostilidade é imensamente
como problema de saúde pública de acordo com ruim, pois provoca danos físicos e psicológicos,
os autores Deslandes, Gomes, Silva (2000). o que acarreta problemas também em relação a
Para Dias (2010), a violência doméstica outros membros da família (SANI, 2008).
afeta pessoas reais, onde as mulheres são mal- As mulheres passam a apresentar níveis al-
tratadas, coagidas e constrangidas que por ve- tíssimos de stress, baixa autoestima, ansiedade,
zes não abandonam ou denunciam seus agres- impotência e culpa, onde suas capacidades físi-
110 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
cas e mentais afetam as responsabilidades pa- agressor e a mulher a vítima. Numa segunda
rentais (GOMES, 2012). concepção, tida como sistêmica, é quando a vi-
A vítima em situação de violência tende a olência é mútua (COLOSSI; FALCKE, 2013).
analisar o estado do agressor (que em sua mai- No entanto essa abordagem não tem como fina-
oria é o próprio companheiro) o porquê de ele lidade culpar a mulher, mas que existe um mo-
apresentar atos violentos. Tal situação afeta o vimento violento circular em relação ao casal
bem estar psicológico da mesma. Outros pro- (PATIAS; BOSSI; DELL'AGLIO, 2014;
blemas de cunho econômico também interfe- COLOSSI; FALCKE, 2013).
rem na forma de como a mãe lida com preocu- Ainda segundo Maldonado e Williams
pações e medos que os filhos enfrentam (2005) o número de crianças que vivenciam
(GONÇALVES, 2013). esse tipo de violência é grande. A criança não
Todo e qualquer ato de violência por parte precisa necessariamente ver para ser afetada.
do parceiro tais como maus tratos e ou espanca- Basta ouvir murmurinhos ou até mesmo sentir
mento vem acompanhado de pressão psicoló- os efeitos devastadores causados na relação dos
gica e pode também ocorrer a violência sexual. pais (BRANCALHONE; FOGO; WILLIAMS,
A violência contra a mulher, de uma forma ge- 2004). Sendo assim o desenvolvimento das cri-
ral difere da violência interpessoal, que pode anças e adolescentes que vivem ou viveram si-
culminar na morte da mulher (DAY et al., tuações de violência poderão ser afetados inclu-
2003). sive no aprendizado (SILVA; OLIVEIRA,
As consequências da agressão afetam a 2012).
saúde física e emocional das mulheres e o bem-
estar de todos os membros da família num 3.3. A enfermagem forense
âmbito econômico e social, seja de modo Ciência forense é a junção técnica e cientí-
imediato ou em longo prazo, de acordo com os fica no âmbito legal, ela atua na investigação de
autores citados. De forma mais específica crimes e violências das mais variadas. O termo
podemos citar quadros de lesões, dor crônica, forense intitula profissionais que agem direta-
problemas gastrointestinais, obesidade, mente na comunicação entre saúde e direito. De
invalidez, consumo excessivo de álcool e acordo com Lynch (2011) essa comunicação já
drogas, morte. Dentre as sequelas estão os era parte das carreiras de odontologia, medicina
problemas de saúde mental, que na maioria das e mais recente a enfermagem.
vezes se apresentam mais graves que os efeitos A Enfermagem Forense é uma das vertentes
físicos e ou econômicos. No sofrimento mental de desenvolvimento do profissional de saúde.
destaca-se a depressão, stress e tendência Essa especialidade passou a ser reconhecida
suicida (DAY et al., 2003). quando em 1992 pela criação da International
Como parte da família, as crianças podem Association of Forensic Nurses (IAFN), onde
ficar diante de agressão direta, ou indireta, ao 72 enfermeiras dos Estados Unidos e Canadá
presenciar cenas violentas entre os pais periciavam vítimas de abuso e estupro.
(MALDONADO; WILLIAMS, 2005). Nesse Ainda segundo Lynch (2011), tais práticas
contexto a violência entre os pais pode ser ca- se deram nas décadas de 70, 80 e 90 no século
racterizada unidirecional, quando há subversão XX nos Estados Unidos da América (EUA),
feminina ao masculino, onde o homem é o onde a medicina legal juntamente com as ciên-
111 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
cias forenses estreitaram ações em contribuição Regionais (BRASIL, 2017). De acordo com a
onde conhecimento e responsabilidade visam Resolução a denominação Enfermagem Fo-
atingir objetivos comuns. rense difere de Perícia e Análise Criminal.
Lynch (2010) define a Enfermagem Fo- Devido ao alto índice de violência, partindo
rense como cuidados da saúde relacionados da necessidade de ter profissionais capacitados,
com investigação na morte e também em trau- visto que é com eles que ocorre o primeiro, foi
mas de vítimas e agressores sejam eles em cri- implantada no Brasil em 2012 por enfermeiras
mes ou eventos traumáticos levando em conta sergipanas e o escritor e Enfermeiro Forense
que os enfermeiros possuem experiências bio- Albino Gomes essa nova vertente da Enferma-
psicossociais. gem (ABEFORENSE, 2015).
Diante do crescimento mundial da violên- No ano de 2015 foi realizado no Brasil o
cia, tornou-se relevante que esse assunto fosse Forensic Nurse Examiner (FNE), onde Virgínia
tratado como questão de saúde pública. O caos Lynch, Albino Gomes e Jamie Ferrel ministra-
instalado faz-se necessário trabalhar em prol de ram um curso em Aracaju – SE. Com o objetivo
levar segurança e cuidado as vítimas, bem como de implantar a Enfermagem Forense no Brasil
conscientizar toda a sociedade de forma efetiva esteve presente órgãos como: COREN – SE,
(GARBIN, 2015). E de acordo com (SILVA, COFEN, Polícia Federal e outras instituições
2009), a enfermagem é uma área que atua como (ABEFORENSE, 2015).
facilitadora no ambiente forense. A adequada preparação dos profissionais
Ainda de acordo com Silva (2009), os EUA, desta área é um caso de emergência da socie-
Canadá, China, Itália e Inglaterra a enfermagem dade atual, devido a isso a Enfermagem Forense
forense já era atuante de forma rotineira, en- vem ganhando espaço e reconhecimento ainda
quanto que no Brasil foi reconhecida pelo Con- que um pouco tímida (COELHO, 2013).
selho Federal de Enfermagem (COFEN) desde A Resolução do COFEN Nº 564, de No-
2011, pela Resolução Nº 389, de 18 de outubro vembro de 2017, aprovou o novo Código de
de 2011 (BRASIL, 2011). Ética de Enfermagem, onde no capítulo I com
No Brasil está em vigor a Resolução N° base nos Direitos do profissional de enferma-
581, de julho de 2018 do Conselho Federal de gem, onde ficou estabelecido o seguinte:
Enfermagem (COFEN), onde é reconhecida
Art. 1º Exercer a Enfermagem com liberdade,
dentre as demais 48 especialidades sob o título segurança técnica, científica e ambiental,
de Enfermagem Forense (BRASIL, 2018). autonomia, e ser tratado sem discriminação de
Mesmo reconhecida pelo COFEN é necessário qualquer natureza, segundo os princípios e
pressupostos legais, éticos e dos direitos
a concretização da carreira no Brasil. humanos.
A Resolução COFEN Nº 556, de agosto de Art. 6º Aprimorar seus conhecimentos técnico-
científicos, ético-políticos, socioeducativos,
2017, regulamenta a especialidade, o Enfer- históricos e culturais que dão sustentação à
meiro Forense, bacharel em enfermagem deve prática profissional. (COFEN, 2017).
portar título de especialização emitido por Ins- Nesse contexto, o conhecimento técnico e
tituição de Ensino Superior reconhecida pelo científico torna-se livre para o exercício das ati-
MEC ou por Sociedades, Associações ou Colé- vidades do enfermeiro. Com isso a Enferma-
gios Especializados, desde que sejam devida- gem Forense passa a ser parte importante na
mente registrados no Sistema Cofen/Conselhos atuação da enfermagem. E os enfermeiros,
112 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
sendo parte de uma equipe multidisciplinar são deve se dar através de investigações além das
os profissionais que prestam assistência às pes- evidências. Ele pode se dispor de perguntas que
soas em situações de violência, portanto tem o possam levar ao entendimento de que a vítima
dever de investigar, colher evidências e prestar está sofrendo de relacionamento abusivo, por
cuidados a essas vítimas com autonomia exemplo: tem sofrido humilhações públicas, foi
(SILVA, 2012). Deste modo, a preparação, ca- afastada de amigos e familiares, tem sofrido
pacitação e conhecimentos são fundamentais agressões físicas e ou psicológicas (Gasligh-
para tal cuidado e assistência (SOARES, 2016). ting), tem agido como se você fosse intelectual-
Segundo o Regulamento das Competências mente incapaz de entender algo (Mansplai-
Técnicas da Enfermagem Forense da Associa- ning), é interrompida na conclusão de uma frase
ção Brasileira de Enfermagem Forense – (Manterrupting), tem roubado sua ideia ou ar-
ABEFORENSE (2015) compete ao profissio- gumento (Bropriating), as ações dele desperta o
nal atuar em casos de várias formas de violên- pior em você. Se a resposta for sim, é certeiro
cia, enfermagem psiquiátrica forense, preserva- que se trata de uma vítima de violência domés-
ção de vestígios, desastres de massa, enferma- tica, mesmo que não tenha evidências de agres-
gem carcerária, investigação de morte, testemu- sões físicas.
nho pericial, maus tratos e abuso sexual. Deve O enfermeiro tem que agir de forma correta
também ter conhecimento necessário sobre o e respeitável tanto para a vítima, familiares ou
sistema legal para fins jurídicos e consultoria às agressores (GOMES, 2014), pois o olhar redu-
autoridades legais. cionista dificulta a relação de confiança entre as
partes, o que impede as vítimas de retornarem à
3.4. Combate à violência unidade em busca de ajuda (GADONI-COSTA
O enfermeiro forense está ligado direta- et al., 2011; SOUZA; SOUZA, 2015).
mente aos cuidados à vítima, familiares e a co-
munidade. O objetivo dessas ações se dá com a 4.CONCLUSÃO
junção de conhecimento técnico e científico a
fim de defender as vítimas em situação de vio- O problema a que se dá essa atuação vem
lência. dos desafios que o profissional de saúde en-
O enfermeiro tem que se atentar aos casos e frenta como: falta de treinamento específico,
situações que aparecem camufladas de doenças falta de segurança e apoio, a inexistência de um
súbitas ou traumas recentes, onde a mulher não protocolo único para o atendimento, a falta de
se sente vítima (GOMES, 2014). Por vezes eles conhecimento das leis que tratam de proteção
relutam por medo de respostas antipáticas, de- às vítimas. Nesse contexto os profissionais tam-
pendência financeira, medo de não serem acre- bém enfrentam o medo e acabam não se sen-
ditadas e também pelo fato de que o profissional tindo seguros para cumprir a lei.
de saúde pode e deve ser procurado diante da Na influência das ideias emerge a questão
necessidade de ajuda. central: “que dimensões da avaliação inicial são
É na triagem dos serviços de emergência identificadas pelos enfermeiros na abordagem à
que o enfermeiro forense que com frequência pessoa vítima de violência doméstica em con-
identifica a presença de lesões ocultas ou não a texto de urgência?” A enfermagem forense se
situação de violência doméstica. O acolhimento apresenta como uma nova área que liga os co-
113 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
nhecimentos científico e técnico sob os princí- Nesse sentido os enfermeiros bem capacita-
pios da clínica forense. dos, dentro das suas competências atuam de
As mulheres geralmente não procuram as forma autônoma a fim de identificar os fatos
delegacias e sim um Hospital ou Unidade de ocultos, indícios e sinais de violência direcio-
Atenção Básica. Normalmente elas se apresen- nada aos outros.
tam com dores crônicas, depressão, lesões que Quando a violência é praticada contra pes-
evidenciam uma violência, contudo elas ten- soas vulneráveis (idosos, crianças e pessoas
dem a omitir os fatos sejam eles por vergonha, com alguma deficiência) é dever de todo cida-
proteção ou constrangimento. dão fazer a denúncia sobre a violência ocorrida
O objetivo do presente estudo é compreen- e existem números de contatos específicos
der a atuação do enfermeiro forense frente ao como o “Disque 180” (Central de Atendimento
atendimento às vítimas de violência doméstica. à mulher), “Disque 100” (Secretaria de Direitos
De que forma os enfermeiros reconhecem Humanos), 190 (Polícia Militar), Delegacia da
uma vítima através de fato oculto, indício, si- Polícia Civil, Delegacia de Defesa da Mulher,
nais ou indicadores. Através do diagnóstico de referente à cidade onde teve o ocorrido.
enfermagem aprofundado é possível traçar o
risco de violência
114 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução COLOSSI, P. M.; FALCKE, D. Gritos do silêncio: A vi-
COFEN N° 581, de 11 de julho de 2018. Atualiza no âm- olência psicológica no casal. Psico, v. 44, n. 3, p. 310-
bito do Sistema Cofen os procedimentos para registro de 318, 2013.
título de Pós-Graduação lato e sensu concedido a enfer-
meiros e lista as especialidades. Diário Oficial da União. COREN - MG Conselho Regional de Enfermagem de
Brasília, 2011. Disponível em: < http://www.co- Minas Gerais. Resolução COREN- MG N° 276, de 11 de
fen.gov.br/ > Acesso em: 27 jun. 2021. março de 2021. Designa os Colaboradores para compo-
rem a Área Temática Enfermagem Forense da Câmara
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Técnica do Coren- MG. Disponível em: < https://sig.co-
COFEN Nº 389, de 18 de outubro de 2011. Atualiza no ren mg.gov.br/siste-
âmbito do Sistema Cofen os procedimentos para registro mas/file/doc/legislacoes/docs/doc_legis_3321.pdf >
de título de Pós-Graduação lato e sensu concedido a en- Acesso em: 27 jun. 2021.
fermeiros e lista as especialidades. Diário Oficial da
União. Brasília, 2011. Disponível em: < http://www.co- CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS
fen.gov.br/ > Acesso em: 27 jun. 2021. HUMANOS. COVID-19 e direitos humanos: os pro-
blemas e desafios devem ser abordados a partir de
BRASIL. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução uma perspectiva de direitos humanos e com respeito
COFEN Nº 556, de 23 de agosto de 2017. Regulamenta às obrigações internacionais. San Pedro: Corte intera-
a atividade do Enfermeiro Forense no Brasil, e dá outras mericana de direitos humanos, 9 abr. 2020. Disponível
providências. Diário Oficial da União. Brasília, 2011. em:<https://www.corteidh.or.cr/tablas/alerta/comunicad
Disponível em: < http://www.cofen.gov.br/ > Acesso em: o/Declaracao_1_20_PORT.pdf >. Acesso em: 21 jun.
27 jun. 2021. 2021
BRASIL. Lei nº 11.340, 7 ago. 2006. Cria mecanismos DAY, V. P.; TELLES, L. E. B.; ZORATTO, P. H.;
para coibir a violência doméstica e familiar contra a mu- AZAMBUJA, M. R. F.; MACHADO, D. A.; SILVEIRA,
lher, nos termos do § 8º do art. 226 da Constituição Fe- M. B.; DEBIAGGI, M.; REIS, M. G.; CARDOSO, R. G.;
deral, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as For- BLANK, P. Violência doméstica e suas diferentes mani-
mas de Discriminação contra as Mulheres e da Conven- festações. Revista de Psiquiatria Clínica., v. 25, supl. 1,
ção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Vi- 2003.
olência contra a Mulher; dispõe sobre a criação dos Jui-
zados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mu- DESLANDES, S. F.; GOMES, R.; SILVA, C. M. F. P.
lher; altera o Código de Processo Penal, o Código Penal Caracterização dos casos de violência doméstica contra a
e a Lei de Execução Penal; e dá outras providências. Di- mulher atendida em dois hospitais públicos do Rio de Ja-
ário Oficial da União. Brasília: Congresso Nacional, neiro. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.16,
2006. n. 1, p. 129-137, 2000.
115 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
DIAS, I. Violência doméstica e justiça: respostas e desa- MINAS GERAIS. Conselho Regional de Enfermagem de
fios. Sociologia. Revista do Departamento de Sociolo- Minas Gerais. Portaria n. 276 de 11 de março de 2021.
gia da FLUP, v. 20, p. 245-262. 2010. Designa os colaboradores para comparem a área temática
Enfermagem Forense da Câmara Técnica do Coren- MG.
GADONI-COSTA, L. M; ZUCATTI, A. P. N; Belo Horizonte, 2021.
DELL’AGLIOV, D. D. Violência contra a mulher: le-
vantamento dos casos atendidos no setor de psicologia de MINAYO, M. C. A inclusão da violência na agenda da
uma delegacia para a mulher. Estudos de Psicologia, saúde: trajetória histórica. Ciência & Saúde Coletiva,
Campinas, v. 28, n. 2, p. 219-227, abril – junho, 2011. Rio de Janeiro, v. 11, supl. 1, p. 1259-67, 2007.
GARBIN, C. A. S; et al. Desafios do profissional de sa- OMS. Relatório mundial sobre violência e saúde.
úde na notificação da violência: obrigatoriedade, efetiva- OMS, Genebra, 2002.
ção e encaminhamento. Ciência & Saúde Coletiva, v.
20, n. 6 p. 1879-1890, 2015. ONU. Mulheres, Gênero e COVID-19 na América La-
tina e no Caribe: Dimensões de Gênero na resposta. Dis-
GOMES et al. Enfrentamento de mulheres em situação ponível em: <http://www.onumulheres.org.br/wp-
de violência doméstica apões agressão. Revista Baiana content/uploads/2020/03/ONU-MULHERES-
de Enfermagem, v. 28, n. 2, p. 134-144, maio/ago. 2014. COVID19_LAC.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2021.
GOMES, R. M. Mulheres vítimas de violência doméstica PATIAS, N. D.; BOSSI, T. J.; DELL'AGLIO, D. D. Re-
e transtorno de estresse pós-traumático: um enfoque cog- percussões da exposição à violência conjugal nas carac-
nitivo comportamental. Revista de Psicologia da terísticas emocionais dos filhos: revisão sistemática da li-
IMED, v. 4, n. 2, p. 672-680, 2012. teratura. Temas em psicologias. v. 22, n. 4, 2014.
GONÇALVES, T. J. A. Educação dos filhos em famí- PEDRO; Claudia Bragança; GUEDES, Olegna de Souza.
lias monoparentais femininas: o contributo do Educa- As conquistas do movimento feminista como expressão
dor Social no desenvolvimento de competências sociais. do protagonismo social das mulheres. Anais do I Sim-
2013. 158 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Edu- pósio sobre Estudos de Gênero e Políticas Públicas,
cação). Universidade Portucalense. 2013. Universidade Estadual de Londrina, 24 e 25 de junho de
2010.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA
APLICADA. Fórum Brasileiro de Segurança Pública. PORTO, R. T. S.; BISBO JUNIOR, J. P; LIMA, E. C.
Atlas da violência 2019. Brasília: Rio de Janeiro: São Violência doméstica e sexual no âmbito da Estratégia de
Paulo: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada; Fórum Saúde da Família: atuação profissional e barreiras para o
Brasileiro de Segurança Pública, 2019. enfrentamento. Physis Revista de Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 787-807, 2014.
LYNCH, V. Forensic Nursing science: global strategies
in health and justice. Egyptian Journal of Forensic Sci- PRAÇA, FSG. Metodologia da pesquisa científica: orga-
ences, v.1, p. 69-76, 2011. nização estrutural e os desafios para redigir o trabalho de
conclusão. Revista Eletrônica Diálogos Acadêmicos, v.
LYNCH, Virginia Anne, et al. Forensic Nursing Sci- 8, nº 1, p. 72-87, 2015.
ence. 2. ed. Missouri: Elsevier Mosby, 2010.
ROCHA, L. F. A violência contra a mulher e a Lei “Ma-
MALDONADO, D. P. A.; WILLIAMS, L. C. A. O com- ria da Penha”: alguns apontamentos. Revista de Psicolo-
portamento agressivo de crianças do sexo masculino na gia da UNESP, v. 8, n. 1, 97-109, 2009.
escola e sua relação com a violência doméstica.
Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 3, p. 353-362, SANI, A. Mulher e Mãe no Contexto de Violência Do-
2005. méstica. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Fernando Pessoa, n. 18, p. 123-133,
MARIANI, D.; YUKARI, D.; AMÂNCIO, T. Assassina- 2008.
tos de mulheres em casa dobram em SP durante quaren-
tena por coronavírus. Folha de São Paulo, 15 abr. 2020. SANTOS et al. Atuação e Competência do Enfermeiro
Forense na Preservação de Vestígios no Serviço de Ur-
MEDEIROS; Z. C.; MECENAS, T. Violência: identifi- gência e Emergência. International Nursing Congress,
que, notifique, denuncie. ABEFORENSE, 2017. maio, 2017.
Disponível em: < https://www.abeforense.org.br/wp-
content/uploads/2017/11/Cartilha-de-Ori- SANTOS et al. Violência contra a Mulher à Partir das
enta%C3%A7%C3%B5es-da-Enfermagem-Forense- Teorias de Gênero. Revista multidisciplinar e de Psico-
ABEFORENSE.pdf>. Acesso em: 26 jun. 2021. logia, v.13, n. 44, p. 97-117, 2019.
116 | P á g i n a
Capítulo 12
Estudos em Ciências Forenses
SILVA, K.B.; SILVA, R.C., Enfermagem Forense: uma SOUZA, T.M.C; SOUZA, Y.L.R. Políticas públicas e vi-
especialidade a conhecer. Cogitare Enfermagem, Pa- olência contra a mulher: a realidade do sudoeste goiano.
raná, v.14, n.3, p. 564-8, jul./Set, 2009. Revista SPAGESP, v.16, n. 2, Ribeirão Preto, 2015.
SILVA, R. C. Enfermagem Forense: possibilidades para WANDERBROOCKE, A.C.N.S.; MORÉ, C.L.O.O. Sig-
a profissão. Enfermagem Revista, São Paulo, p. 35-37, nificados da violência familiar contra o idoso na perspec-
ago.2012. Disponível em: <http://por- tiva de profissionais da atenção primária à saúde. Ciência
tal.corensp.gov.br/sites/default/files/11-entrevista- & Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 8, p. 2.095-
103, 2012
117 | P á g i n a
CAPÍTULO 13
ATUAÇÃO DO
ENFERMEIRO FORENSE NA
COLETA E PRESERVAÇÃO
DE VESTIGIOS EM VÍTIMAS
DE VIOLÊNCIA SEXUAL
1|Página
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
Para os critérios de busca, foram adotados “AND”. Em seguida, foram feitos os cruzamen-
os descritores da saúde (DECs) indexados “Fo- tos com as palavras-chaves supracitadas para
rensic Nursing” e ‘’Sexual Violence”, bem posterior análises aos critérios de inclusão e ex-
como foram utilizados os chamados Termos Li- clusão. Para os critérios de inclusão foram uti-
vres ‘’Preservation of traces”, combinados em lizados: I) Estudos de caso ou artigos originais
pares com auxílio do operador booleano que estejam na língua inglesa, espanhola ou
123 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
portuguesa; II) Artigos relacionados a enferma- (AAFS) em 1991 (American Academy of Fo-
gem forense; III) Tempo indeterminado; IV) rensic Sciences, 2010) e pela American Nurses
Artigos que relacionem enfermagem forense Association (ANA) em 1995 (American Nurses
com preservação de vestígios e/ou violência se- Association, 2009).
xual; e V) Artigos gratuitos (full text). Os crité- Foi observado que cerca de 50% dos artigos
rios de exclusão dispostos foram: I) Revisões de selecionados mostraram a importância de im-
literatura; II) Artigos repetidos de outro banco plementação de programas, treinamentos, cur-
de dados; III) Artigos que estejam em outras sos ou capacitações envolvendo os enfermeiros,
línguas diferentes daquelas supracitadas; IV) principalmente os que trabalham em emergên-
Artigos que não abordem conteúdos da enfer- cias, indicando que a educação continuada deve
magem forense; e V) Artigos pagos, Figura ser uma prática cada vez mais comum nas roti-
13.1. nas das equipes de enfermagem.
Na análise de outros artigos foi verificado
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO a importância da inclusão de conteúdos foren-
ses na grade curricular das graduações e pós-
Após submeter os artigos aos critérios de in- graduação em Enfermagem. Tendo o conheci-
clusão e exclusão, obtivemos uma amostra de mento adequado acerca da conduta que os en-
22 artigos selecionados dentre as bases de da- fermeiros traçam diante de situações vítimas de
dos supracitadas, publicados entre os anos de violência, a proteção dos direitos do paciente
2002 a 2021 (Quadro 13.1), seguindo uma mé- pode ser mantida. Sabendo que o reconheci-
dia de 1 artigo publicado por ano. Os Estados mento, por profissionais de enfermagem, de le-
Unidos da América aparecem com a maior sões violentas deve, por lei, ser relatados à es-
quantidade de publicações (15), seguidos do fera judicial. Ou seja, os processos judiciais de-
Brasil (2), Reino Unido (1), Itália (1), Índia (1), vem conter evidências médicas e legais adequa-
Canadá (1) e África do Sul (1). A predominân- das para investigar a atividade criminosa. Em
cia de publicações oriundas da região norte outras palavras, esses profissionais são desafia-
americana, se justifica pelo fato de que a espe- dos não apenas para fornecer cuidados adequa-
cialidade da enfermagem forense, recém che- dos aos seus pacientes, mas também para forne-
gada ao Brasil, foi reconhecida formalmente cer cuidado enquanto mantém evidências vitais
pela American Academy of Forensic Sciences para um caso legal.
Quadro 13. 1 Características dos artigos selecionados para a revisão integrativa, Recife, Pernambuco, Brasil,
2021
Autor, ano, país de ori- Periódico
gem, base de dados
Título
124 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
Morgan JA, 2008(20) Comparison of cervical os versus vaginal evidentiary findings du- Journal of emerge-
Estados Unidos ring sexual assault exam ncy Nursing
Immunopharmaco-
The forensic nursing in sexual assaults: the immunochemical diag-
Vitale E, 2011(29) Itália logy and Immu-
nosis and prevention of its adverse effects
notoxi-cology
Ernst EJ et al., 2011(8) Advanced Emergen-
Usefulness: forensic photo documentation after sexual assault
Estados Unidos cy Nursing Journal
Fitzpatrick M et al., Sexual assault forensic examiners' training and assessment using Journal of Emergen-
2012(10) Estados Unidos simulation technology. cy Nursing
We desperately need some help here'--The experience of legal ex-
Annan SL, 2014(1) Rural and Remote
perts with sexual assault and evidence collection in rural communi-
Estados Unidos Health
ties
Juraska A et al., 2014(13) Journal of Forensic
Sexual Assault Services Coverage on Native American Land
Estados Unidos Nursing
Long DC, 2014(15) Nursing for Wome-
Addressing Sexual Violence Through Preventive Nursing Practice
Estados Unidos n's Health
Mirabelli MF et al., Analysis of sexual assault evidence: statistical
Journal of Mass
classification of condoms by ambient
2015(19) Estados Unidos Spectrometry
mass spectrometry
Sween KR et al., 2015(26) Detection of male DNA in the vaginal cavity after digital penetra- Journal of Forensic
Estados Unidos tion using Y-chromosome short tandem repeats Nursing
Dash SK et al., 2016(5) Journal of Forensic
Forensic nursing e global scenario and Indian perspective
Índia and Legal Medicine
Peel M. 2016(24) Opportunities to preserve forensic evidence in emergency de-
Emergency Nurse
Reino Unido partments.
Valentine JL et al., Now We Know: Assessing Sexual Assault Criminal Justice Case
Journal of Forensic
Processing in an Urban Community Using the Sexual Assault
2016(28) Estados Unidos Nursing
Nurse Practitioner Evaluation Toolkit
Filmalter CJ et al., 2018(9) Forensic patients in the emergency department: Who are they and International Emer-
África do Sul how should we care for them? gency Nursing
Delgadillo DC, 2017(6) When There is No Sexual Assault Nurse Examiner: Emergency Journal of Emergen-
Estados Unidos Nursing Care for Female Adult Sexual Assault Patients cy Nursing
Porta CM et al., 2018(25) Male Help-Seeking After Sexual Assault: A Series of Case Studies Journal of Forensic
Estados Unidos Informing Sexual Assault Nurse Examiner Practice Nursing
Payne A, 2018(23) Sexual Assault Nurse Examiner Forensic Examinations for Immi- Journal of Forensic
Estados Unidos grant Victims: A Case Study Nursing
de Oliveira Musse J et al., Preservation of forensic traces by health professionals in a hospital Forensic Science In-
2020(21) Brasil in Northeast Brazil ternational
de Oliveira Musse J et al., Planejamento e implementação do curso Sexual Assault Nurse Exa-
Revista da Escola de
miner para o atendimento às vítimas de violência sexual: relato de
2021(22) Brasil Enfermagem da USP
experiência
Observou-se também uma lacuna no que se agressão, como por exemplo o programa “Se-
diz respeito ao conteúdo forense nos currículos xual Assault Nurse Examiner” (SANE), onde
acadêmicos da enfermagem. A associação enfermeiras devidamente qualificadas prestam
desse conteúdo à atuação do enfermeiro está na assistência psicológica, bem como cuidados à
prevenção e promoção à saúde proposta na as- saúde e cuidados forenses às vítimas de agres-
sistência de enfermagem à população, visto que são sexual. É necessário que esse enfermeiro
este é o profissional que tem o maior contato saiba coletar corretamente as amostras de evi-
com o paciente em âmbito hospitalar. Nos Es- dências, saiba como entrevistar corretamente a
tados Unidas foi implementado alguns progra- vítima e como lidar com as questões jurídicas
mas a fim de melhorar a assistência a vítima pós (DASH,2016).
125 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
O maior objetivo dos cuidados imediatos à ceber atenção e cuidados dobrados da equipe
vítima de agressões é a proteção e preservação sobre ela, para que garanta sua segurança física
da evidência, além de encaminhar essa pessoa e a boa coleta de amostras forense. Essa vítima
para a justiça criminal e posteriormente aos gru- deverá passar por uma triagem feita pelo enfer-
pos de apoio devido aos diversos traumas cau- meiro, onde deverá ser avaliado as vias aéreas
sados, incluindo emocionais e psicológicos. A do paciente, respiração, circulação e hemodinâ-
coleta e documentação dessas evidências de- mica observando a estabilidade desse indiví-
vem ser suficientes no seu objetivo, auxiliando duo, e com este resultado, caso o paciente não
na análise dos casos (FILMALTER, 2018). esteja sofrendo risco de morte, deverá coletar as
Essa documentação dos vestígios deve ser feita evidências forenses antes de qualquer outro
antes de qualquer outro procedimento na ví- procedimento. Quanto mais rápido a vítima for
tima, a não ser que a mesma esteja sofrendo avaliada fisicamente, mais eficaz será a coleta
risco de morte, para que haja a preservação das das evidências forenses (DELGADILLO,
análises coletadas. O grande desafio no Brasil 2017).
encontra-se em vítima que sofreu agressão pro- No processo de relato da agressão às autori-
cura os serviços de segurança pública, a mesma dades, informações como idade da mulher e es-
é encaminhada aos serviços de saúde de emer- tado mental da mesma durante a agressão de-
gência antes de algum procedimento forense, o vem ser registrados, bem como as evidências
que faz com que os serviços de saúde sejam os forenses. Caso o serviço de saúde em que a ví-
primeiros a entrar em contato com essa vítima tima se encontra não apresente material para fo-
e os responsáveis por preservar os vestígios fo- tografias dos ferimentos/lesões, a equipe da
renses, por isso se faz necessário a qualificação agência da aplicação da lei deve ser acionada
para essa assistência (MUSSE, 2020). para que enviem um fotógrafo forense para
Foi observado algumas consequências re- registrar adequadamente as lesões resultantes
sultantes das agressões sexuais com os artigos da agressão (DELGADILLO, 2017).
selecionados, dentre elas, as consequências psi-
cossociais. Uma pessoa que sofreu algum tipo 4. CONCLUSÃO
de agressão normalmente após isso terá episó-
dios de estresse, depressão, dissociação, ansie- É perceptível que os estudos a respeito da
dade, alguns sintomas físicos, entre outros. ciência forense demonstraram fragilidade de
Com isso, a assistência psicossocial prestada a conteúdos disponíveis relacionados a Enfer-
esse indivíduo será de extrema importância para magem nesse contexto, contudo no Brasil essa
a reinserção dele na sociedade quanto para a su- realidade tem sido otimista, o cenário vem
peração do trauma e das consequências supra- sendo modificado e mais estudos tem sido cons-
citadas. Há também as consequências físicas, truído em relação a Enfermagem Forense e o
que vão desde lesões ou algum trauma físico, papel do enfermeiro na preservação de vestígios
gravidez indesejada e/ou alguma IST adquirida em vítimas de violência sexual.
na agressão. E isso deverá ser bem analisado As instituições de ensino superior deveriam
pela equipe de saúde e planejar o adequado tra- implementar disciplinas forenses aos currículos
tamento e qualidade de vida dessa vítima, res- com ajuda de profissionais habilitados para in-
peitando suas limitações. Ao chegar no serviço formar e ensinar como agir diante de situações
de saúde, a mulher vítima de agressão deve re-
126 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
de violência, contando com o cuidado especial munidade, nas escolas e na atenção básica, vi-
no sigilo de informações do paciente. Sendo sando a perspectiva forense para alertar como
ainda fundamental a educação continuada com agir diante dessas situações. Apesar da mu-
os profissionais de saúde que lidam com situa- dança de cenário, ainda há necessidade de mais
ções de violência cotidianamente, qualificando- investimentos em estudos referente a Enferma-
os para identificação de possíveis vítimas e gem Forense devido a sua importância na assis-
agressores, atentos aos sinais para intervir tência ao sistema de justiça na resolução e pre-
adequadamente e prestar uma assistência mais venção de crimes de caráter médico-legal, pois
humanizada, respeitando a individualidade dos se houver qualquer falha na identificação dos
cuidados físicos, emocionais e sociais. sinais, acolhimento à vítima ou preservação de
Deve-se valorizar a atuação do enfermeiro vestígios prejudicará toda a averiguação dos fa-
como educador, possibilitando a construção de tos e deixará lacunas às perguntas necessárias
debates com temas de educação sexual na co- para apuração e justiça social do ocorrido.
127 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANNAN SL. 'We desperately need some help here'--The KRUG, E. G. et al. The world report on violence and
experience of legais experts with sexual assault and health. The lancet, v. 360, n. 9339, p. 1083-1088, 2002.
evidence collection in rural communities. Rural Remote
Health. 2014;14(4):2659. Epub 2014 Oct 28. LONG DC. Addressing sexual violence through pre-
ventive nursing practice. Nursing for Women's Health.
BRASIL. Resolução N° 556/2017. Dispõe a respeito da 2014 Dec;18(6):476-84.
regulamentação da enfermagem forense no brasil. Dis-
ponível em: http://www.cofen.gov.br/ resolucao-cofen- MARINHO, P. A. S; GONÇALVES, H. S. As práticas
no-05562017_54582.html. Acesso em: 29 set. 2021. dos profissionais de saúde em relação à violência de
gênero em uma maternidade no Rio de Janeiro. HU Re-
CACHOEIRA, D. B. C. et al. Enfermagem forense: vista Juiz de Fora, v.42, n.2, p.97-104, jul-ago. 2016.
contexto histórico, atuação do enfermeiro, contribuições
para saúde e segurança pública. 2020. MARKOWITZ JR, STEER S, GARLAND M. Hospital-
based intervention for intimate partner violence victims:
CAMPBELL R. et al. A participatory evaluation project a forensic nursing model. Journal of Emergency
to measure SANE nursing practice and adult sexual Nursing. 2005 Apr;31(2):166-70.
assault patients' psychological well-being. Journal of
Forensic Nursing 2008;4(1):19-28. MARTINS, D. C. Violência: abordagem, atuação e
educação em enfermagem. Caderno de Graduação-Ciên-
DASH SK, PATEL S, CHAVALI K. Forensic nursing - cias Biológicas e da Saúde-UNIT-SERGIPE, v. 4, n. 2, p.
Global scenario and Indian perspective. Journal of Fo- 154, 2017.
rensic and Legal Medicine 2016 Aug; 42:88-91.
MIRABELLI MF. et al. Analysis of sexual assault
DELGADILLO DC. When There is No Sexual Assault evidence: statistical classification of condoms by ambient
Nurse Examiner: Emergency Nursing Care for Female mass spectrometry. Journal of Mass Spectrometry
Adult Sexual Assault Patients. Journal of Emergency 2015 May;50(5):749-55.
Nursing 2017 Jul;43(4):308-315.
MORGAN JA. Comparison of cervical os versus vaginal
DU MONT J, PARNIS D. Forensic nursing in the context evidentiary findings during sexual assault exam. Journal
of sexual assault: comparing the opinions and practices of Emergency Nursing. 2008 Apr;34(2):102-5.
of nurse examiners and nurses. Applied Nursing
Research. 2003 Aug;16(3):173-83. MUSSE, JO. et al. Planejamento e implementação do
curso Sexual Assault Nurse Examiner para o atendimento
ERNST EJ, SPECK PM, FITZPATRICK JJ. Usefulness: às vítimas de violência sexual: relato de experiência. Re-
forensic photo documentation after sexual assault. vista da Escola de Enfermagem da USP [online]. 2021,
Advanced Emergency Nursing Journal. 2011 Jan- v. 55, e03739.
Mar;33(1):29-38.
MUSSE, JO. et al. Preservation of forensic traces by
FILMALTER CJ, HEYNS T, FERREIRA R. Forensic health professionals in a hospital in Northeast Brazil. Fo-
patients in the emergency department: Who are they and rensic Science International, [S.L.], v. 306, p. 110057,
how should we care for them? International Emergency jan. 2020.
Nursing 2018 Sep; 40:33-36.
PAYNE A. Sexual Assault Nurse Examiner Forensic
FITZPATRICK M. et al. Sexual assault forensic exa- Examinations for Immigrant Victims: A Case Study.
miners' training and assessment using simulation techno- Journal of Forensic Nursing 2018 Apr/Jun;14(2):112-
logy. Journal of Emergency Nursing 2012 116.
Jan;38(1):85-90. e6.
PEEL, M. Opportunities to preserve forensic evidence in
FURTADO, B. M. A. S. M. et al. A perícia na enfer- emergency departments. Emergency nurse, v. 24, n. 7,
magem forense: trajetórias e possibilidades de atuação. 2016.
Revista da Escola de Enfermagem da USP, 55. 2021.
PORTA CM, JOHNSON E, FINN C. Male Help-Seeking
HUTSON LA. Development of sexual assault nurse After Sexual Assault: A Series of Case Studies Informing
examiner programs. Nursing Clinics of North America Sexual Assault Nurse Examiner Practice. Journal of
2002 Mar;37(1):79-88, vii. Forensic Nursing 2018 Apr/Jun;14(2):106-111.
JURASKA A. et al. Sexual assault services coverage on SWEEN KR, QUARINO LA, KISHBAUGH JM.
Native American land. Journal of Forensic Nursing. Detection of male DNA in the vaginal cavity after digital
2014 Apr-Jun;10(2):92-7. penetration using Y-chromosome short tandem repeats.
Journal of Forensic Nursing 2015 Jan-Mar;11(1):33-
40.
128 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
TEIXEIRA, E. et al. Integrative literature review step- VITALE E. The forensic nursing in sexual assaults: the
by-step & convergences with other methods of re- immunochemical diagnosis and prevention of its adverse
view/Revisão Integrativa da Literatura passo-a-passo & effects. Immunopharmacology and Immunoto-
convergências com outros métodos de revisão. Revista xicology. 2012 Apr;34(2):232-43.
de Enfermagem da UFPI, v. 2, n. 5, p. 3-7, 2013.
WORLD HEALTH ORGANIZATION - WHO.
VALENTINE JL, SHAW J, LARK A, CAMPBELL R. COVID-19 and violence against women: what the health
Now We Know: Assessing Sexual Assault Criminal sector/system can do, 7 April 2020. World Health Orga-
Justice Case Processing in an Urban Community Using nization, 2020.
the Sexual Assault Nurse Practitioner Evaluation Toolkit.
Journal of Forensic Nursing 2016 Jul-Sep;12(3):133-
40.
.
129 | P á g i n a
Capítulo 13
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 14
A MEDICINA LEGAL
CAPÍTULO 14
E A TAFONOMIA
FORENSE
CAPÍTULO 14
A MEDICINA LEGAL
A MEDICINA
ANA BEATRIZ ARAÚJO DUARTE¹
BEATRIZ LIMEIRA SILVA¹
ELLEN VITÓRIA DE SÁ¹
LEGAL
E A TAFONOMIAE
A TAFONOMIA
FLÁVIA DANIELE DE OLIVEIRA ERVILHA¹
FORENSE
GABRIEL RIBEIRO SCIULI DE CASTRO¹
HELLEN JESUS SANTOS¹
FORENSECAPÍTULO 14
JOSÉ ALVES DA SILVA NETO²
JOSÉ VINÍCIUS LIMA SANTANA¹
A MEDICINA LEGAL
LUCAS HENRIQUE OLIVEIRA SANTOS¹
LUIZ MARCELO SANTANA MENDES²
MALANNY SANTOS ARAÚJO¹
CAPÍTULO 14
E A TAFONOMIA
PAHELMA RAMOS ALVES¹
PEDRO HENRIQUE MEDEIROS BARRETO³
RÔMULO THAYNAN VIANA BARROS¹
SUZANA PAPILE MACIEL4
¹Discente – Medicina na Universidade Tiradentes – Aracaju
FORENSE
CAPÍTULO 14
²Discente – Medicina na UNIFACS – Salvador
³Discente – Medicina na Estácio de Sá- Angra dos Reis
4Docente – Departamento de Odontologia e Medicina da Universidade Tiradentes – Aracaju
ANA BEATRIZ ARAÚJO DUARTE¹
A MEDICINA LEGAL
Universidade Tiradentes – Aracaju
BEATRIZ LIMEIRA SILVA¹
ELLEN VITÓRIA DE SÁ¹
CAPÍTULO 14
FLÁVIA DANIELE DE OLIVEIRA ERVILHA¹
E A TAFONOMIA
Palavras-chave: Tafonomia Forense; Medicina Legal; Fenômenos transformativos.
GABRIEL RIBEIRO SCIULI DE CASTRO¹
HELLEN JESUS SANTOS¹
FORENSE
JOSÉ ALVES DA SILVA NETO²
JOSÉ VINÍCIUSTafonomia
Palavras-chave: LIMA SANTANA¹
Forense; Medicina Legal; Fenômenos transformativos.
A MEDICINA LEGAL E A
138 | P á g i n a
LUCAS HENRIQUE OLIVEIRA SANTOS¹
LUIZ MARCELO SANTANA MENDES²
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
1. INTRODUÇÃO 2. MÉTODO
Tafonomia é um termo que passa a ser inse- Trata-se de uma revisão integrativa reali-
rido no estudo dos fenômenos transformativos zada no período de /agosto a setembro de 2021,
para designar o estudo da transição dos restos por meio de pesquisas nas bases de dados como
biológicos a partir da morte até a fossilização PubMed, SciELO e Google Acadêmico. Foram
(FRANÇA, 2019). Dessa forma, sendo utili- utilizados os descritores: tafonomia, putrefa-
zado para determinar as circunstâncias e o ção, medicina legal e fenômenos transformati-
tempo de morte, assim, podendo ser definida vos. Desta busca foram encontrados cerca de 55
como o estudo dos processos pós-morte que artigos, posteriormente submetidos aos critérios
afetam a conservação, análise e recuperação de seleção.
dos seres mortos, na reformulação da sua biolo- Os critérios de inclusão foram: artigos nos
gia ou ecologia, ou a reconstrução das circuns- idiomas português, inglês e espanhol; publica-
tâncias referente a morte ocorrida. dos no período de 2000 a 2021 e que abordavam
Na história, o termo tafonomia foi utilizado as temáticas propostas para esta pesquisa, em
pela primeira vez no ano de 1940 pelo paleon- todos os tipos de estudos, disponibilizados na
tólogo russo, Efremov, para se referir a disci- íntegra. Os critérios de exclusão foram: artigos
plina que estuda as “leis de enterramento”, quer que não abordavam diretamente a proposta es-
dizer, a transição dos restos de animais desde a tudada e que não atendiam aos demais critérios
biosfera até a litosfera (LLOVERAS, 2016). 23 de inclusão.
anos depois (1963), Müller, fez uso da mesma Após os critérios de seleção restaram 15
terminologia, atualmente diagênese, para expli- fontes para o presente estudo, incluindo livros e
car os processos de fossilização que ocorrem artigos que foram submetidos à leitura minuci-
após o enterro. Desse modo, a tafonomia come- osa para a coleta de dados. Os resultados foram
çou a se dividir em duas fases, pré e pós morte. apresentados de forma descritiva, divididos em
É uma disciplina que integra um conjunto categorias temáticas abordando os fenômenos
de métodos científicos desenvolvidos principal- transformativos destrutivos e estes destrincha-
mente para a paleontologia, arqueologia e ciên- dos pelos eventos de autólise, putrefação e ma-
cias forenses. Dessa forma, os fenômenos trans- ceração, seguidos dos fenômenos transformati-
formativos possuem duas ordens: os destrutivos vos conservativos, formados pela mumificação,
e conservadores. Compreendem os destrutivos calcificação, saponificação, congelação, corifi-
(autólise, putrefação e maceração) e os conser- cação e fossilização.
vadores (mumificação e saponificação). Resul-
tam de alterações somáticas tardias tão intensas 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
que a vida se torna absolutamente impossível.
São, portanto, sinais de certeza da realidade de Ao longo da história, a Tafonomia Forense
morte (JÚNIOR, 2012). O objetivo deste estudo vem ganhando destaque na medicina legal de-
foi elucidar o conceito de Tafonomia Forense, vido as suas contribuições para a resolução de
o que ela abrange e a sua importância para a vários casos. Essa importância acontece por ser
Medicina Legal. um estudo que visa a compreensão das fases
que o ser humano passa após sua morte, seja
131 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
esse fenômeno tendo uma transformação des- Por fim, devemos lembrar que na maioria
trutiva (autólise, maceração e putrefação) ou das vezes a autólise e a putrefação ocorrem em
conservadora (mumificação, calcificação, sapo- conjunto (ERIN, 2020). Esse fenômeno misto
nificação, congelação, corificação e fossiliza- ocorre em maior intensidade em órgãos como o
ção). pâncreas e o estômago devido a presença de
uma rica microbiota natural como também a
3.1. Fenômenos transformativos destruti- presença maior de enzimas específicas nesses
vos órgãos podendo aumentar a velocidade da des-
Os fenômenos transformativos destrutivos truição tecidual.
são caracterizados por processos que são capa- A putrefação é um fenômeno destrutivo ca-
zes de acelerar ou fomentar a destruição do davérico e não apenas acontece com a morte do
corpo e de toda sua composição. Portanto, os cadáver, para que ela ocorra são necessárias
fenômenos destrutivos poderão ser divididos e bactérias, cujas enzimas, em condições favorá-
estruturados em três categorias, sendo definidos veis, produzem a desintegração do material or-
e exemplificados a seguir: gânico. As bactérias que nós temos no interior
A autólise é a decomposição do corpo por do nosso corpo são as principais responsáveis
substâncias endógenas. Ela ocorre por uma sé- pelo processo de putrefação do cadáver. Esse
rie de fenômenos fermentativos anaeróbicos processo transformativo destrutivo, constitui de
que se verifica na intimidade da célula, motiva- 4 períodos e consiste na decomposição fermen-
dos pelas próprias enzimas celulares e que le- tativa da matéria orgânica. A marcha de putre-
vam à destruição do corpo humano logo após a fação, representa ações que seguem uma evolu-
morte. Quando ocorre a parada na circulação e ção de eventos e são divididas em 4 períodos: o
nutrientes não chegam às células, começam a período cromático, o período enfisematoso, o
ocorrer sem nenhuma interferência bacteriana, período coliquativo e o período de esqueletiza-
como se a célula estivesse programada para agir ção. Essas fases podem acontecer concomitan-
desta forma em determinado momento e de temente em um mesmo cadáver.
forma rápida e intensa (FRANÇA, 2019). O primeiro evento é chamado de cromático
Esse ataque pode ser dividido em duas fa- ou de coloração e é marcado pela mancha verde
ses: A fase latente, na qual, as alterações ocor- abdominal. A cor esverdeada, fruto da sulfa-
rem apenas no citoplasma da célula e na fase meta-hemoglobina, que surgiu a partir da de-
necrótica em que ocorre o desaparecimento do gradação da hemoglobina com as lises celulares
núcleo celular. Ao decorrer da autólise o meio que aconteceram após o óbito no corpo. O iní-
que uma vez foi neutro passa a se tornar cada cio da putrefação se dá pelo período da colora-
vez mais ácido. A acidez que resulta da autólise ção, onde ocorre o surgimento de manchas ver-
celular e tissular, e pela velocidade que aparece des na fossa ilíaca direita, devido aos gases pro-
e sua constância, é um importante elemento in- duzidos pelos microrganismos alojados no iní-
dicativo de morte real (PAULETE, 2016). Ao cio do intestino grosso, que posteriormente se
analisar essa acidez podemos encontrar sinais difundem pelo tronco, cabeça e membros
como: Sinal de Labord, Sinal de Brissemoret e (SILVA, 2008).
Ambard, Sinal de Sílvio Rebelo dentre outros A fase gasosa ou enfisematosa é marcada
sinais que através da detecção de uma variação pelo gigantismo do cadáver, os olhos e a língua
do PH podem sinalizar a morte do indivíduo. sofrem protrusão, como ilustração, a presença
132 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
de gases e as flictenas. O período gasoso inicia- por alguns ligamentos articulares. Este último é
se com a produção de gases no interior do cadá- imprescindível para a estimativa do tempo de
ver, que se expandem por todo o corpo, gerando morte. Dependendo de algumas condições am-
bolhas de conteúdo leucocitário hemoglobínico bientais, os ossos podem resistir por dezenas e
na epiderme. O acúmulo desses gases faz com centenas de anos, mas com o passar do tempo,
que o cadáver aumente o seu volume, principal- esses perdem sua estrutura típica, tornando-se
mente na face, no abdómen e nos órgãos geni- friáveis e mais leves (RODRIGUES, 2015).
tais masculinos (SILVA, 2008). O gás sulfí- A maceração consiste no terceiro tipo de fe-
drico, por exemplo, é um dos responsáveis pelo nômeno destrutivo, no qual é possível perceber
odor característico dos cadáveres. Outro marco o achatamento do ventre e o amolecimento dos
dentro dessa fase é a presença de flictenas. A tecidos e órgãos, devido à submersão do cadá-
grande produção de líquidos, que migram para ver em meio líquido. Uma vez amolecidas, tais
a superfície dá origem a bolhas de tamanhos va- estruturas tendem a se soltar dos ossos, for-
riados, nos tegumentos, local onde a epiderme mando as chamadas luvas. Esse processo é mais
vai se destacando deixando a derme exposta, comum na região das mãos, o que coíbe o desa-
chamadas de flictenas putrefativas (NETO, parecimento das impressões digitais de maneira
2009). mais rápida (LEITE, 2019). Por essa razão,
É no terceiro evento, chamado coliquativo torna-se fácil a utilização da datiloscopia para a
ou de liquefação, que o cadáver começa a apre- identificação do corpo.
sentar partes moles e há uma ação dos insetos, Além disso, a maceração pode ser dividida
germes e larvas, trabalhando na destruição do em asséptica e séptica. No primeiro caso, tal fe-
cadáver. O período coliquativo é o período da nômeno ocorre em cadáveres mantidos em
dissolução pútrida do cadáver, devido à desin- meio líquido estático sob a ação de bactérias e
tegração progressiva dos tecidos, no qual as germes, o que é comum em vítimas de afoga-
partes moles diminuem de volume, resultando mento (LEITE, 2019). Já a maceração séptica
em um efluente líquido intermitente, denomi- acontece em casos de óbito intrauterino (com
nado de produto de coliquação, líquido humo- fetos no último trimestre da gestação) e tem
roso ou necrochorume (SILVA, 2008). Estu- como característica marcante o tom averme-
dada pela entomologia forense (EF), o estudo lhado dos tecidos, uma vez que a lise das hemá-
desses insetos e artrópodes são de fundamental cias gera o processo de embebição da hemoglo-
importância para identificar o estágio de putre- bina.
fação e tempo de morte, consequentemente. É Por fim, a maceração pode apresentar al-
uma ferramenta importante em perícia criminal guns sinais como: sinal de Hartley (perda da
que permite determinar características do cadá- configuração da coluna vertebral), sinal de
ver, circunstâncias de sua morte e, principal- Spangler (achatamento da abóbada craniana),
mente, o intervalo pós-morte (IPM), mediante sinal de Horner (assimetria craniana), sinal de
análise da colonização da carcaça pela entomo- Tager (curvatura acentuada da coluna verte-
fauna (OLIVEIRA, 2011). bral), sinal de Robert (presença de gases nos
O período final da putrefação é o de esque- grandes vasos e vísceras), sinal de Brakeman
letização, onde os ossos se soltam por atuação (queda do maxilar inferior – sinal da boca
do meio ambiente e dos elementos de degrada- aberta) (FRANÇA, 2019).
ção do corpo, ficando ligados em partes apenas
133 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
3.2. Fenômenos transformativos conser- ais são produzidos através de métodos de em-
vativos balsamentos provisórios, a pedido da família ou
Os fenômenos transformativos conservati- por questões sanitárias”.
vos em cadáveres serão todos os processos que O método de mumificação natural, vai con-
vão retardar ou lentificar o evento de putrefa- sistir na perda fisiológica de alguns componen-
ção, fazendo com que características que acon- tes que influenciam no processo putrefativo,
tecem habitualmente pós morte sejam modifi- sendo o principal deles a perda de água seguida
cadas em ritmo e tempo. Além disso, os proces- de desidratação rápida. Dessa forma, evita que
sos conservativos cadavéricos estarão relacio- sejam iniciados os processos relacionados a
nados com fatores intrínsecos e extrínsecos, ação de microrganismos. Esse fenômeno se
como características do próprio cadáver e inter- dará em cadáveres não sepultados expostos a
ferências ambientais, respectivamente. grande insolação e ao meio externo quente
Nesse cenário, é possível uma avaliação úmido, por isso a frequência desse aconteci-
mais específica desses recursos, já que o estado mento ocorrerá em clima seco e árido, princi-
conservativo pode ser indicador de característi- palmente em regiões desérticas. No Egito an-
cas ambientais da localidade de morte, além de tigo era comum a população mais humilde e
ser mais palpável a avaliação cadavérica pelo sem posses para a elaboração de sarcófagos jo-
fato da estruturação de algumas peças anatômi- garem os corpos envoltos por tecidos no deserto
cas serem encontradas em estado razoável para para a preservação do corpo e como uma possi-
análise forense. Portanto, os fenômenos conser- bilidade de entrar no além vida.
vantes poderão ser divididos e estruturados em Além disso, a mumificação natural também
seis categorias, sendo definidos e exemplifica- pode ocorrer devido à presença de fatores rela-
dos a seguir: cionados ao próprio indivíduo, como idade,
A mumificação é um fenômeno conservante sexo e causa mortis, sendo frequente nos dias
histórico, tendo seu principal reconhecimento atuais em recém-nascidos e mais prevalente no
no Egito Antigo através das famosas múmias sexo feminino, estando relacionados com abor-
postas em catacumbas. Esse processo milenar tos retidos sem contaminação de bactérias ou
era produzido de forma artificial, estando li- outros agentes.
gado a rituais religiosos e na crença e cultura Ademais, a mumificação de causa artificial
egípcia de vida após a morte, necessitando de é incomum na realidade atual, mas pode acon-
um corpo bem preservado e com poucas perdas tecer de forma acidental através de uso de subs-
estruturais (MARTUSEVICZ, 2018). tâncias ou produtos pelo indivíduo ante morte,
A cultura egípcia antiga popularizou tal fe- as quais irão alterar a marcha de putrefação,
nômeno como um processo unicamente artifi- agindo de forma conservativa. Já no Egito An-
cial. tigo a prática era intencional, a qual era feita por
Desse modo, com o avançar dos estudos so- sacerdotes por meio de incisões para retiradas
bre a tanatologia forense e o avançar das práti- dos órgãos e lavagem interna, sendo substituído
cas de análises cadavéricas, foi compreendido por ervas e sais que atuariam na conservação
que a mumificação pode ocorrer de forma natu- (SOUZA, 2018). Os demais órgãos sofreram
ral, artificial e mista, havendo com a presença outros processos para serem mantidos em sua
das duas formas interligadas. Na atualidade, se- estrutura original. Por fim, a mista seria aquela
gundo FRANÇA (2019), “os processos artifici- resultante do conjunto de características tanto
134 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
ambientais como de substâncias químicas, re- lhante à uma cera, que apresentará odor de
sultando num processo final de conservação. queijo rançoso. Por conta da conservação maior
A calcificação é um fenômeno bioquímico do tecido celular subcutâneo, apresenta impor-
caracterizado pela petrificação ou calcificação tante relevância médico-legal, porque permite
de partes do cadáver em virtude da putrefação que certas lesões sejam melhores investigadas,
rápida e assimilação pelo esqueleto de grande como nas feridas produzidas por armas de fogo
quantidade de sais calcários. Ela preserva o ca- ou de arma branca, como também, contribui-
dáver devido a razões externas, como condições ções através de exames toxicológicos e histopa-
do ambiente em que se encontra, mantendo sua tológicos (GALLI, 2014).
estrutura corpórea íntegra por muitos anos A corificação é um dos fenômenos transfor-
(BINA, 2014). É um fenômeno conservativo mativos mais raros, que consiste em uma fase
raro, mas aparece com mais frequência na inicial da putrefação, mas por motivos ainda
morte fetal retida (fetos mortos e mantidos na não explicados tão claramente a continuação do
cavidade uterina), onde o organismo materno processo é interrompida, sucedida posterior-
envolve o feto com cálcio, encapsulando-o, e mente em um processo de mumificação natural,
assim formando um litopédio (chamado popu- ou seja, o corpo é preservado da decomposição.
larmente de “bebê de pedra”). Na forma extra- Os cadáveres encontrados foram encontrados
uterina, esse processo ocorre de forma menos em urnas metálicas hermeticamente fechadas, e
frequente, surgindo quando as partes moles se por isso, a pele fica intacta, porém com aspecto
desintegram rápido pela putrefação e o esque- de couro. Ademais, os órgãos também perma-
leto começa a assimilar uma grande quantidade necem intactos, mas se encontram amolecidos.
de sais de cálcio, fazendo com que essas partes O fenômeno de congelação, por sua vez, há
do corpo passem a apresentar uma aparência uma atenuação da marcha de putrefação em
pétrea. O processo de saponificação se caracte- consequência da diminuição da temperatura.
riza pela reação química da hidrólise de gordura Por intermédio de temperaturas abaixo de –
que ocorre liberação de ácidos graxos, deixando 40°C, tem-se a conservação de materiais orgâ-
o meio ácido. Devido a isso, as bactérias putre- nicos como ossos e tecidos, inclusive de esper-
fativas são inibidas e, consequentemente, a de- matozoides, pois o cadáver se mantém em per-
composição do cadáver é atrasada. Para que feito estado de conservação, o que é de funda-
isso aconteça, é preciso que o corpo seja sepul- mental importância para a medicina legal, faci-
tado em ambiente pantanoso, em que possui ca- litando o método de identificação do indivíduo.
racterísticas típicas como solo argiloso, poroso, Já a fossilização é um dos fenômenos conserva-
impermeável, que ao ser saturado de água es- dores mais raros devido ao tempo prolongado
tagnada ou pouco corrente, irá facilitar esse fe- exigido para a sua ocorrência. Mantém a forma
nômeno, podendo inicia-se entre um ou dois do cadáver, mas não conserva qualquer compo-
meses. Além disso, está sujeito a outros fatores nente de sua estrutura orgânica.
que envolvam idade, sexo, obesidade e doenças
que originam degeneração de gordura 4. CONCLUSÃO
(STANCATI, 2016).
Nesse contexto, é formado sobre o cadáver A morte não é um momento, é um processo
a adipocera, caracterizada por uma massa gradativo até a cessação vital das funções vitais
branca, mole, quebradiça e com aspecto seme-
135 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
do indivíduo ou sua morte encefálica, assim o ver desidrata rapidamente, inibindo a atividade
estudo de todas as fases em que o ser humano bacteriana, consequentemente impedindo ou in-
passa após a sua morte até a fossilização, no in- terrompendo o processo de putrefação, e nestas
teresse forense ou médico legal, é denominado condições, o cadáver se conserva indefinida-
tafonomia forense. As mudanças no corpo ocor- mente. Outrossim, além da mumificação, se en-
rem logo após a morte e os fenômenos desse pe- contram outros sinais transformativos que pos-
ríodo são divididos em fenômenos cadavéricos suem a capacidade de conservação, como a sa-
conservadores e transformativos. ponificação que atua através de uma transfor-
Os fenômenos transformativos, estão os mação gordurosa e calcárea do cadáver, a calci-
destrutivos, em que fazem parte os sinais de au- ficação, que nada mais é do que um fenômeno
tólise, putrefação e maceração e os conservado- transformativo conservador que se caracteriza
res, que são representados pelos fenômenos de pela petrificação ou calcificação do corpo, a co-
mumificação, saponificação, calcificação, cori- rificação, o fenômeno raro, encontrado em ca-
ficação, congelação e fossilização. dáveres que foram acolhidos em urnas metáli-
Á priori, na autólise, fenômeno cadavérico cas fechadas hermeticamente, principalmente
mais precoce, são cessadas as trocas nutritivas, de zinco, sendo preservados da decomposição.
e o meio se acidifica, em seguida entram em A congelação, fenômeno de grande importância
cena a microbiota anaeróbia, que são os produ- para medicina legal, através da conservação do
tores da putrefação gasosa, produzindo gases, corpo em baixas temperaturas, cessa o estágio
por fim, o último estágio dos fenômenos destru- de putrefação preservando ossos e tecidos, en-
tivos depende das condições do meio em que o quanto que na fossilização, mantém a forma do
cadáver se encontra, podendo ser asséptica ou cadáver, mas não conserva os componentes da
séptica, a maceração de forma asséptica ocorre sua estrutura orgânica.
quando o feto morre retido no útero e a forma Por conseguinte, os fenômenos transforma-
séptica, ocorre nos cadáveres mantidos em tivos definem as alterações que o corpo sofre
meio líquido contaminado, como nos afogados. durante a decomposição sendo de extrema im-
À posteriori, nos sinais destrutivos, a mumi- portância para a medicina legal e investigação
ficação é o processo responsável pela maior criminal.
conservação do corpo, acontece quando o cadá-
136 | P á g i n a
Capítulo 14
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BINA, R.A.F. Medicina Legal. 1. Ed. Rio de Janeiro: OLIVEIRA, JC. Entomologia forense: quando os inse-
Elsevier, 2014. tos são vestígios. 3. Ed. Campinas: Millennium; 2011.
ERIN, S. et al. Postmortem Changes. Disponível em: PAULETE, J. Fenômenos Destrutivos do Cadáver. Dis-
https://emedicine.medscape.com/article/1680032-over- ponível em: https://livros-e-revistas.vlex.com.br/vid/ fe-
view Acesso em: 23 set. 2021. nomenos-destrutivos-do-cadaver-694678441/. Acesso
em: 23. set. 2021.
FRANÇA, G.V. Tanatologia médico legal: Fenômenos
transformativos conservadores. In: Medicina Legal. RODRIGUES, MP. Emprego do método eletromagné-
11. Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. tico (em) na investigação e mapeamento de contami-
nações geradas por cemitérios: o caso de Monte
GALLI, L. Sinais abióticos: putrefação, autólise, mace- Alto/SP. 2015. Trabalho de conclusão de curso (Geolo-
ração, fauna cadavérica, mumificação e saponificação. gia) – Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geo-
JUS.com.br, 2014. Disponível em: https://jus.com.br/ar- ciências e Ciências Exatas; Monte Alto – SP, 2015.
tigos/33919/sinais-abioticos/ . Acesso em: 23 set. 2021
SOUZA, P.H.S; et.al. A Tanatognose por Observação
JÚNIOR, D. C. Manual de Medicina Legal. 8. Ed. São dos Fenômenos Cadavéricos. Revista Científica Multi-
Paulo, São Paulo: Saraiva, 2012. disciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 07,
Vol. 06, pp. 28-42, julho de 2018. Disponível em:
LEITE, G, PRADO, F. Sinais abióticos: putrefação, au- https://www.nucleodoconhecimento.com.br/saude/feno
tólise, maceração. Etic – Encontro de Iniciação Cientí- menos-cadavericos/. Acesso em: 23. set. 2021.
fica, São Paulo, v. 15, n. 15, 2019. Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/ STANCATI, GB. Utilização do método eletromagné-
article/view/7892/67648627. Acesso em: 23 set. 2021. tico (EM) no subsídio ao diagnóstico do meio físico, no
cemitério São João Batista, Rio Claro/SP. 2016. Tra-
LLOVERAS, L. et al. Tafonomía forense. Patología y balho de conclusão de curso (Engenharia Ambiental) –
antropología forense de la muerte, p.453-523, Jan, 2016. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Geociências
Disponível em: https://www.researchgate.net/publica e Ciências Exatas; Rio Claro – SP, 2016.
tion/310454877_Tafonomia_Forense/. Acesso em: 24
set. 2021. SILVA, R. W. da C. Aplicação da eletrorresistividade
na investigação e mapeamento da contaminação por
MARTUSEVICZ, HL. A morte e rituais funerários. A cemitérios – o exemplo do cemitério de Vila Rezende
mumificação no Egito Antigo: Elementos históricos e – Piracicaba/SP. 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em
biotecnológicos em práticas e rituais fúnebres e religi- Geociências e Meio Ambiente) – Instituto de Geo-
osos. 2018. TCC ((Técnico em biotecnologia) – Instituto ciências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Pau-
Federal do Paraná, [S. l.], 2018. Disponível lista, Rio Claro, 2008. Disponível em: https://reposito-
em:https://londrina.ifpr.edu.br/wpcontent/uploads/2020/ rio.unesp.br/bitstream/handle/11449/99873/silva_rwc_
03/HELOISA-LIMA-A-mumifica%C3%A7%C3%A3o- me_rcla.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 23
no-Egito-Antigo-elementos-hist%C3%B3ricos-e- set. 2021
biotecnol%C3%B3gicos-em-pr%C3%A1ticas-e-rituais-
f%C3%BAnebres-e.pdf. Acesso em: 23 set. 2021.
137 | P á g i n a
CAPÍTULO 15
VIOLÊNCIA CONJUGAL
ASSOCIADA A TRANSTORNOS
PSIQUIÁTRICOS: ANÁLISE DE
PRONTUÁRIOS
138 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
res de risco seguros para se planejar políticas de Existem estudos epidemiológicos que cor-
controle da violência mais consistentes. Com- roboram com a hipótese de que o transtorno
bater violência com violência gera mais violên- mental impacta de modo especial na violência.
cia, e tampouco erradicar as tendências agressi- Até mesmo em estudos que mostram a grande
vas. A solução certamente só poderá decorrer diferença da violência de gênero em indivíduos
de uma parceria entre justiça social, cultura e sem psicopatologias (mostrando homens como
biologia (CÂMARA, 2018). mais violentos), diminuem a magnitude dessa
Quando um homem se envolve em um rela- diferença quando comparadas aos indivíduos
cionamento violento com uma mulher com com transtornos mentais (VALENÇA et al.,
quem compartilha ou compartilhou voluntaria- 2010).
mente sentimentos de intimidade e um projeto Muitos estudos vêm demonstrado um pa-
de vida com o qual frequentemente tem filhos drão duradouro de rompimento do contato com
em comum, pode-se pensar que sofre algum os serviços que auxiliam a questão da saúde
tipo de transtorno mental ou psicológico mental, enquanto outros estudos, o comporta-
(BRASFIELD, 2014). mento de violência se dá antes mesmo do agres-
Em um estudo feito por SILVA et al. (2012) sor entrar em contato com esses serviços
na cidade do Recife-PE, foi constatado que (MEEHAN et al., 2006).
21,6% das entrevistadas não procuraram ne- É de inegável importância que os serviços
nhum tipo de ajuda, e das que procuraram, 44% de saúde mental se esforcem para evitar a perda
referiram não ter recebido a assistência neces- de contato ou a não aderência ao tratamento,
sária. A violência mostrou-se problema multi- que por muitas vezes antecedem o comporta-
facetado. Há um envolvimento emocional mento violento que é cometido por pessoas pos-
muito presente para com os agressores e muitas suintes de transtornos mentais graves. Para isso,
mulheres não percebem os atos violentos como pode-se lançar mão de pesquisas que auxiliem
violação dos seus direitos, outras sentem-se hu- (fornecendo dados) a identificação dos indiví-
140 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
duos com tais patologias e que correm risco de do tipo antissocial, que aumenta o risco de pe-
exercer um comportamento agressivo, e tam- riculosidade dos pacientes e a evolução do tra-
bém ajudem no tratamento adequado dos mes- tamento. O trabalho de psiquiatras em âmbitos
mos, contribuindo então com a prevenção de re- forenses ou emergências pode propiciar muitas
corrência de sua expressão no meio social. Po- vezes mais de uma vitimização, lesões menores
dem ajudar, da mesma forma, a caracterizar me- geralmente, e por pacientes psicóticos. Os paci-
lhor os grupos e situações de risco, esclarecer entes que portam transtorno de personalidade
motivações da violência e muito mais geralmente apresentam maior prevalência de
(VALENÇA et al., 2010). eventos violentos quando comparados a outros
Dentre as várias condições psicopatológicas diagnósticos, por isso torna-se necessário en-
que envolvem atitudes agressivas, principal- tender a importância da avaliação clínica abran-
mente passional, tem-se a psicopatia, que está gendo todos os aspectos da doença, do apoio fa-
na base de todo comportamento amoroso passi- miliar e de fatores socioambientais. Esta cons-
onal que caracteriza o funcionamento do agres- tatação, reafirma o conhecimento da grande pe-
sor. É entendido por psicopatia, uma situação riculosidade dessa população, até mesmo
especifica psicologia de desarmonia constituci- quando contidas dentro de uma instituição psi-
onal, por imaturidade ou deterioração da perso- quiátrica forense (TELLES; FOLINO;
nalidade, com uma tendência para um compor- TABORDA, 2011).
tamento amoral, ou antissocial e regido pela im- O objetivo geral desse estudo foi analisar a
pulsividade. O paciente psicopata faz a vítima frequência de fatores pessoais e sociais dos
sofrer quando é rejeitado, porque o mesmo agressores que receberam o laudo forense de al-
acaba por viver um conflito interno de tendo um guma psicopatologia. Quanto aos objetivos es-
comportamento de autodestruição (LINO, pecíficos, se pautaram em descrever as relações
2011). dos transtornos psiquiátricos e a violência con-
O comportamento violento e antissocial de jugal no atual cenário da Paraíba e demonstrar
internos nos hospitais psiquiátricos gera conse- a necessidade de novos estudos para entender a
quências que podem ser consideradas graves e correlação de determinadas psicopatologias
acabam por determinar prejuízo ao tratamento com a violência conjugal
do agressor. Atrelado a isso, a falta de conheci-
mento sobre a incidência desses casos além de 2. MÉTODO
suas características acaba por favorecer sua per-
petuação. Já é compreendido pela população 2.1. Caracterização do estudo
médica que a não adesão aos medicamentos psi- Estudo documental exploratório transversal
cofármacos e o abuso de álcool e drogas cons- descritivo quantitativo e qualitativo que se pro-
tituem fatores associados às múltiplas interna- põe a avaliar variáveis relacionados a violência
ções em hospitais psiquiátricos, e nas condutas conjugal e perícias por transtornos psiquiátri-
violentas em portadores de transtornos mentais cos, atendendo as regras e exigências da Reso-
também são causas de hospitalização e influen- lução 466/2012 e ao Estatuto do Idoso, Lei Fe-
ciam muito na evolução e intervenção terapêu- deral de no 10.741.
tica, sendo necessário uma avaliação de riscos
bem-feita. Na ambientação psiquiátrica fo-
rense, além do ato violento, existem as atuações
141 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
2.2. Localização e período do estudo 6.04. Foram realizadas, então, análises de fre-
O estudo foi realizado no período de outu- quência e incidência, que tiveram como utili-
bro a novembro de 2020, tendo como local de dade ter uma visão sobre as distribuições das
coleta a Penitenciária de Psiquiatria Forense da variáveis sociodemográficas, como sexo, faixa
Paraíba. etária, escolaridade; estilo de vida (uso e/ou
abuso de drogas lícitas/ilícitas); antecedentes
2.3. População e amostra do estudo criminais, medidas de segurança, antecedentes
A população desse estudo foi coletada a mórbidos familiares e transtornos psiquiátricos
partir dos prontuários jurídicos dos indivíduos mais comumente vistos nas perícias forenses
periciados na Penitenciária de Psiquiatria Fo- que estão vinculados à violência. Portanto,
rense da Paraíba, sendo coletados mais de 1000 houve a análise descritiva de todas as variáveis,
prontuários. Tendo como amostra os pacientes realizadas no SPSS, versão 22.
que foram diagnosticados com transtorno psi-
quiátrico e cometeram violência conjugal, 2.7. Aspectos éticos
tendo um total de 150 prontuários elencados. O presente estudo foi submetido no Comitê
de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
2.4. Critérios de inclusão de exclusão de João Pessoa – CEP/UNIPÊ e aprovado sob
Foram incluídos pacientes da Penitenciária número de CAAE: 35759020.0.0000.5176. A
de Psiquiatria Forense da Paraíba que comete- pesquisa foi desenvolvida de forma totalmente
ram um crime em relação a sua cônjuge e foram confidencial; atendendo as regras e exigências
diagnosticados com algum transtorno psiquiá- da Resolução 466/2012 do Conselho Nacional
trico prévio associado ao evento. Foram exclu- de Saúde/Ministério da Saúde. Também será
ídos os prontuários dos pacientes que não fize- respeitada todos os critérios que remetem ao
ram parte do perfil de situações criminais en- Estatuto do Idoso, Lei Federal de no 10.741.
volvendo violência conjugal ou que não houve
certeza da associação com uma patologia psi- 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
quiátrica de base.
A pesquisa teve uma amostra de 150 laudos
2.5. Variáveis realizados no Instituto de Psiquiatria Forense da
Idade como variável quantitativa discreta, Paraíba, coletados no mês de novembro, e que
escolaridade, estado civil, naturalidade e proce- abrangeu todos desde janeiro de 2012 à novem-
dência, etnia, religiosidade, relações conjugais, bro de 2020, possuindo todos os periciados al-
patologia associada, qual patologia, nexo causal gum diagnóstico de relevância psiquiátrica fo-
com o crime, medidas de segurança recebidas, rense.
uso de drogas lícitas e ilícitas, quais drogas, an- Sobre a epidemiologia, a época dos laudos
tecedentes mórbidos familiares e qual crime co- forenses, os pacientes do presente estudo apre-
meteu são variáveis qualitativas nominais. sentavam a faixa etária de 18 a 70 anos e a mé-
dia de idade de 38 anos e 6 meses (Tabela
2.6. Análise de dados 15.1), quanto a religiosidade, 80,5% não decla-
A presente pesquisa teve seus dados que di- raram religião, 11,4% se dizem protestantes e
gitados duplamente e então submetidos à vali- 8,1% católicos. João Pessoa e Campina Grande
dação no sub-programa Validate do Epi Info
142 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
foram as cidades em que a procedência e natu- um ato violento criminoso perante a variação
ralidade se mantiveram com maior concentra- cultural na sua percepção e construção
ção de casos de violência contra mulher associ- (MARZUK, 1996; ARBOLEDA-FLOREZ,
ada à transtornos de relevância para psiquiatria 1998).
forense, porém, ao somar as porcentagens, as A pesquisa tomou como parâmetros princi-
outras localidades juntas acabaram por ter pais os tipos de delito (como agressão, ameaça,
maior número de casos (Tabela 15.2). homicídio e estupro) e os associou com as di-
versas variáveis do instrumento de coleta; em
Tabela 15.1 Idade dos pacientes, 2020 relação a incidência dos determinados delitos,
Média 38,51 foram constadas as distribuições de frequência
Erro Desvio 10,89 expressas na Tabela 15.3.
Mínimo 18
Máximo 70
Tabela 15.3 Incidência dos Delitos, 2020
Delito (%)
Tabela 15.2 Procedência dos pacientes, 2020
Cidade (%) Descumprimento de medida restritiva 0,7%
Tentativa de homicídio 12,7%
Campina Grande 22,0%
Agressão física e ameaça 13,3%
João Pessoa 14,7%
Estupro 6,7%
Guarabira 5,3%
Homicídio 4,7%
Bayeux 5,3%
Ameaça 9,3%
Patos 2,7%
Agressão Física 52,7%
Cajazeiras 1,3%
Total 100,0%
Outros 48,7%
143 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
A situação de não ter tido união estável De acordo com VALENÇA e MORAES
atual ou anterior se mostrou a de maior impacto (2006), pessoas que possuem transtornos
na pesquisa, pelo menos no que diz respeito à mentais estão mais propensas as serem
agressão física, com 24,7% dos casos se enqua- condenadas por crimes violentos do que
drando nesta variável. Nos demais, em ordem aquelas sem transtornos mentais. As diferenças
decrescente, 27,3% dos periciados haviam tido nas taxas de prevalência entre aqueles com e
pelo menos um casamento anterior, 21,3% es- sem transtornos mentais foram maiores para
tavam em união estável, 18,7% em um casa- crimes violentos do que para crimes não
mento atual e 8% em união estável atual (Fi- violentos, sendo a associação entre transtornos
gura 15.1). mentais e criminalidade (incluindo crimina-
144 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
lidade violenta) mais importante para as um estabelecimento de apoio à mulher onde ho-
mulheres. Ainda neste estudo, os autores re- mens que cometeram atos violentos são acom-
ferenciam pesquisas que reproduzem a ideia de panhados e tem apoio psicológico; no serviço,
que o maior preditor de comportamento vio- averiguaram que dos 118 entrevistados, 79,8%
lento era a existência de comportamento vio- possuíam pelo menos um transtorno de perso-
lento prévio. Na coleta de dados realizada no nalidade, e os que apareceram com maior fre-
Instituto de Psiquiatria Forense da Paraíba nesta quência foram antissociais, compulsiva, agres-
pesquisa atual, foi visto que 32,7% dos agresso- sivo-sádica, histriônica e narcisista. Os homens
res tinham antecedentes criminais registrados. que tinham dificuldade de permanecer no trata-
Em um estudo de coorte, prospectivo, reali- mento pareciam ter características em comum,
zado no período de maio de 2007 a maio de tais como: história previa de comportamento vi-
2008 no Instituto Psiquiátrico Forense Maurício olento, manter-se em uso rotineiro de consumo
Cardoso, com uma amostra de 137 pacientes de álcool durante o acompanhamento psicoló-
psiquiátricos internados que cometeram 470 gico/psiquiátrico e mostrar sinais de enfermi-
agressões evidenciou que, dentre os violentos, dade mental.
houve maior predomínio de internos esquizo- Estudos epidemiológicos aceitam que pes-
frênicos, com alucinações e que haviam tido soas com esquizofrenia (mesmo que a força
hospitalizações psiquiátricas prévias (TELLES; maior seja de um subgrupo da patologia) tem
FOLINO; TABORDA, 2011). maior probabilidade de serem violentas do que
O uso inveterado de drogas e álcool se ca- a população geral. Todavia, em questão de pro-
racterizam como um mérito de saúde pública, porção da violência social atribuída a esse sub-
uma vez que trazem para o âmbito familiar e grupo é baixíssima, estando por volta de 10%
social diversos problemas de ordem psíquica, (WALSH; BUCHANAN; FAHY, 2002).
física, econômica e laboral. Isto foi melhor des- Pelos dados coletados no IPF, é possível
crito em uma pesquisa de parâmetro nacional averiguar que dentre as patologias psiquiátricas
sobre o padrão de uso de álcool nos brasileiros envolvidas, a esquizofrenia se mostrou a mais
na qual 25% dos entrevistados disseram que prevalente, totalizando 20% de todos os laudos
o(a) companheiro(a) com quem morou ficou ir- selecionados (dentre elas, 2,0% heberfrênica,
ritado(a) com a bebedeira, enquanto 12% disse- 3,3% residual, 6,0% paranoide e 8,7% não es-
ram ter iniciado discussão ou briga com o par- pecificada). É imprescindível, porém, ressaltar
ceiro quando bebiam. É inegável, portanto, que o fato de que a maior porcentagem de agresso-
neste contexto social, as mulheres que são agre- res se enquadra na variável “Abuso de Álcool”,
didas todos os dias estão inseridas em situações com 26,7% de todos os prontuários coletados,
advindas, inclusive dos problemas decorrentes reiterando pesquisas anteriormente citadas nas
do abuso do álcool. Em um estudo que fez as- quais mostram que o álcool é um dos principais
sociações temporais entre o abuso alcoólico e a fatores associados à violência doméstica. Não
violência conjugal mostrou-se que a incidência muito atrás, com 16,7% está o abuso de drogas
das agressões contra as mulheres foram 6,5x ilícitas, e este grupo é o que, aparentemente,
mais altas quando os homens bebiam exagera- mais está relacionado com agressão física con-
damente (VIEIRA et al., 2014). tra mulher, tendo a maior porcentagem, de
SARTO e ESTEBÁN (2010) fizeram uma 8,7%. É importante destacar que, apesar de con-
pesquisa no Serviço Espacio (Espanha), que é ter 6% de todos os delitos, o Transtorno de Per-
145 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
sonalidade Antissocial foi o quadro psiquiátrico aos agressores, como por exemplo o fato de
mais frequentemente associado com casos de que, quanto maior o nível de escolaridade, me-
estupro, com 2,7%. nor foram os casos criminais registrados. Foi
Dentre todos os laudos de relevância à psi- descrito também, uma concentração maior de
quiatria forense, 77,3% demonstraram que exis- casos nos maiores municípios do estado da Pa-
tiu nexo causal entre o quadro o periciando e o raíba, que são João Pessoa e Campina Grande,
delito cometido, e 33,3% possuíam algum ante- porém as diversas situações de relevância
cedente mórbido psiquiátrico na família em pa- psiquiatria forense foram amplamente distri-
rentes de primeiro grau. buídas pela unidade federativa.
Quando levado em conta a utilização de No campo na psiquiatria propriamente dita,
drogas, sendo elas lícitas ou ilícitas, pelos paci- com a amostragem de 150 laudados no IPF, foi
entes do IPF, nota-se novamente a alta preva- possível aferir que existe uma maior prevalên-
lência do consumo de álcool (41,3%), sendo cia da esquizofrenia e alguns de seus subtipos
este consumo abusivo ou não. De maneira ge- (heberfrênica, paranoide, residual e indiferenci-
ral, quando questionados sobre o consumo de ada), somando 20% de todos os prontuários co-
drogas lícitas/ilícitas, aproximadamente 67,3% lhidos. É válido ressaltar, que mesmo não se ca-
afirmou que fazia uso; na coleta foram elenca- racterizando como uma psicopatologia orgâ-
das as drogas mais usadas e sua relação com os nica, o abuso de álcool e drogas somaram - jun-
diversos tipos de crimes cometidos. Destaca-se tos – 43,7% dos crimes de violência conjugal,
que cerca de 10,7% dos entrevistados consu- mostrando o quão influente nas vidas mulheres
miam álcool, maconha, crack ou mais drogas é a adicção a substâncias lícitas e/ou ilícitas.
com regularidade, 5,5% diziam utilizar apenas Vale ressaltar, que mesmo em menor prevalên-
crack e 1,3% apenas maconha. cia, o transtorno de personalidade antissocial
foi o mais vinculado com crimes de estupro.
4. CONCLUSÃO A presente pesquisa demonstra de maneira
explícita a necessidade mais estudos em no que
A violência conjugal é uma situação que as- diz respeito à real correlação entre uma patolo-
sola o cenário cotidiano brasileiro de forma en- gia psiquiátrica e a violência doméstica, através
dêmica ainda nos dias de hoje, provocando im- de testes estatístico para averiguar quais deter-
pacto sociocultural de grande relevância tam- minadas situações apresentam um fator de risco
bém para o meio médico-científico principal- indubitável para a vulnerabilidade feminina em
mente no que tange as patologias que podem ser frente ao atual cenário de agressão conjugal no
associadas às essas situações. nordeste brasileiro e no país como um todo.
No presente estudo, foi possível analisar di-
versas variáveis sociais e pessoais vinculadas
146 | P á g i n a
Capítulo 15
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARBOLEDA-FLOREZ, J. Mental illness and violence: les. Psychiatric Services, Washington DC, v. 257, n. 11,
an epidemiological appraisal of the evidence. The Cana- p. 1648-1651, 2006. Disponível em: https://www.rese-
dian Journal of Psychiatry, v. 43, n. 10, p. 986-996, arch.manchester.ac.uk/portal/en/publications/perpetrator
1998. s-of-homicide-with-schizophrenia-a-national-clinical-
survey-in-england-and-wales (60cd 40 1a-5b74-44f9-
BARROS, J. S. Associações entre reações contratrans- 9a6f-f64c194bda38) html. Acesso em: 05 out. 2019.
ferenciais desencadeadas por agressores sexuais, me-
canismos de defesa e trauma vicário em psiquiatras e MONTEIRO, C. F. S.; SOUZA, I. E. O. Vivência da vi-
psicólogos forenses. Programa de Pós-Graduação em olência conjugal: fatos do cotidiano. Texto contexto -
Psiquiatria e Ciências do Comportamento, Porto Alegre, enfermagem, Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 26-31, mar.
BR-RS, 2018. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/han- 2007.
dle/10183/179706. Acesso em: 24 set. 2019.
SANTOS, I. B. et al. Violência contra a mulher na vida:
BRASFIELD, R. The absence of evidence is not the evi- estudo entre usuárias da Atenção Primária. Ciências sa-
dence of absence: The abusive personality as a disordered úde coletiva, Rio de Janeiro, v. 25, n. 5, p. 1935-1946,
mental state. Aggression and Violent Behavior, v. 19, 2020.
n.5, p. 515–522, 2014.
SARTO, S. B.; ESTEBÁN, P. J. Psicopatología, caracte-
CÂMARA, F. P. Comportamento agressivo. Psychiatry rísticas de la violencia y abandonos en programas para
on line Brasil, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: hombres violentos con la pareja: resultados en un dispo-
https://www.polbr.med.br/2018/03/02/comportamento- sitivode intervención. Psicothema, Zaragoza, v. 22, n. 4,
agressivo/. Acesso em: 15 out. 2019. p. 593-599, 2010.
DAY, V. P. et al. Violência doméstica e suas diferentes SILVA, R. A. et al. Enfrentamento da violência infligida
manifestações. Revista de Psiquiatria do Rio Grande pelo parceiro íntimo por mulheres em área urbana da re-
do Sul, Porto Alegre, v. 25, supl. 1, p. 9-21, Apr. 2000 gião Nordeste do Brasil. Revista de Saúde Pública, Re-
cife, PE-Brasil, v. 46, n. 6, 2012.
GOMES, Nadirlene Pereira et al. Homens e mulheres em
vivência de violência conjugal: características socioeco- TELLES, L. E.; FOLINO, J.; TABORDA, J. Incidência
nômicas. Revista Gaúcha de Enferma-gem, Porto Ale- de conduta violenta e antissocial em população psiquiá-
gre, v. 33, n. 2, p. 109-116, June 2012. trica forense. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do
Sul, v. 33, n. 1, p. 3-7, 2011.
KRUG, E. G. et al. World report on violence and
health. Geneva, World Health Organization, p. 3-22, VALENÇA, A. M. et al. Comportamento violento, gê-
2002. Disponível em: https://www.who.int/violence_ in- nero e psicopatologia. Revista Latinoamericana de Psi-
juryprevention/violence/world_report/en/introduction.p copatologia Fundamental, São Paulo, v. 13, v. 2, p. 238-
df. Acesso em: 03 out. 2019. 252, 2010.
LINO, T. L. A patologia do amor – da paixão à psicopa- VALENCA, A. M.; MORAES, T. M. Relação entre ho-
tologia. Psicologia.pt: O portal dos psicólogos, Lisboa, micídio e transtornos mentais. Revista Brasileira de Psi-
2011. Disponível em: https://www.psicologia. pt/arti- quiatria, São Paulo, v. 28, supl. 2, p. s62-s68, Oct. 2006.
gos/textos/TL0146.pdf. Acesso em: 05 set. 2019.
VIEIRA, L. B. et al. Abuso de álcool e drogas e violência
MARZUK, P. M. Violence, crime, and mental illness. contra as mulheres: denúncias de vividos. Revista Bra-
Arch Gen Psychiatry, v. 53, n. 6, p.481-486, 1996. Dis- sileira de Enfermagem, Brasília, v. 67, n. 3, p. 366-372,
ponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama 2014.
psychiatry/article-abstract/497587. Acesso em: 16 set.
2019. WALSH, E.; BUCHANAN, A.; FAHY, T. Violence and
schizophrenia: examining the evidence. British Journal
MEEHAN, J. et al. Perpetrators of homicide with schi- of Psychiatry, v. 180, n. 6, p. 490-495, 2002..
zophrenia: a national clinical survey in England and Wa-
147 | P á g i n a
CAPÍTULO 16
EFEITOS DO “BOA
NOITE CINDERELA”
UESPI/UECE.
6Docente do Programa de Pós-Graduação em Farmacologia - Universidade Federal do Piauí, Teresina.
148 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
149 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
GABA e vice-versa pela GABA transaminase gestão de doses de GHB abaixo de 10 mg/Kg
e, posteriormente, em GHB novamente. Sua eli- desencadeiam efeitos clínicos leves, como am-
minação é renal, ocorre entre 4 e 6 h e é dose- nésia anterógrada a curto prazo, hipotonia e eu-
dependente, sendo menos de 2% excretado de foria. Doses entre 20-30 mg/Kg provocam so-
forma inalterada (KAMAL et al., 2017; nolência e mioclonia, já doses superiores a 50
PACHECO, 2017; PIPER et al., 2017). mg/Kg podem levar a efeitos clínicos graves
como coma, bradicardia e/ou depressão respira-
3.1.3. Toxicodinâmica tória (PACHECO, 2017).
O GHB possui inicialmente efeitos estimu- Os efeitos mais comuns presentes em casos
lantes e posteriormente uma associação entre de intoxicação estão descritos na Tabela 16.2.
efeitos sedativos e estimulantes à medida que a
sua concentração no sangue aumenta, o que Tabela 16.2 Efeitos mais comuns do GHB em
pode ser explicado pelo fato de que o GHB se casos de intoxicação
liga a receptores GHB e GABA-B nos gânglios Sistema Efeitos clínicos
da base, córtex, hipocampo, mesencéfalo e Desorientação, confusão, aluci-
Sistema Nervoso
substância negra, tendo efeitos dose-depen- nações, tontura, sonolência, am-
Central
nésia, tremor
dente (Tabela 16.1) na liberação de glutamato Bradicardia, hipotensão, taqui-
Cardiovascular
e dopamina. Em baixas doses, o GHB estimula cardia, hipertensão
Depressão respiratória, bradi-
a liberação de dopamina por ativação dos recep- Respiratório pneia, apneia, insuficiência res-
tores GHB. piratória
Gastrointestinal Náusea, vômitos
Tabela 16.1 Efeito dose-dependente do GHB Fonte: KAMAL et al, 2017; PACHECO, 2017.
Dose Efeitos clínicos Estimulação
Amnesia de curto Alguns pacientes apresentam agitação e
Abaixo de
prazo, euforia, ↑ Dopamina
10 mg/Kg agressividade, também podem alternar entre
hipotonia
Entre 20-30 Sonolência,
↓ Dopamina
agitação e sonolência. Os efeitos
mg/Kg mioclonia
cardiovasculares mais presentes são a
Efeitos
Coma, bradicardia e a hipotensão (quando é ingerida
hipnóticos; ↓
Superior a bradicardia e/ou
Noradrenalina e juntamente com outras drogas), em
50 mg/Kg depressão
acetilcolina; ↑
respiratória contrapartida taquicardia e hipertensão também
Serotonina
são reportados, bem como aperto no peito e
Fonte: KAMAL et al., 2017; PACHECO, 2017.
palpitações. O edema pulmonar também é
reportado e bastante comum na autópsia. Po-
Em contrapartida, em altas doses ativas os
dem estar presentes ainda distúrbios metabóli-
receptores inibitórios GABA-B e diminui a
cos, como: hiperglicemia, hipocalemia, hiper-
liberação de dopamina. Ainda, em altas doses a
natremia e aumento da atividade da creatina ci-
sua afinidade por receptores GABA-A e
nase. Outros sintomas como: salivação, dor ab-
GABA-B causa efeitos hipnóticos, acompa-
dominal, incontinência fecal e urinária e diafo-
nhado por liberação endógena de opioides.
rese também podem ocorrer, além de hipoter-
GHB também atua inibindo a liberação de no-
mia. A maioria dos intoxicados por GHB se re-
radrenalina e acetilcolina e provoca aumento
cuperam sem sequelas, desde que recebam su-
leve de serotonina (KAMAL et al., 2017). A in-
151 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
porte adequado, casos fatais são raros e geral- pecífico para intoxicação por GHB, a naloxona
mente ocorrem devido insuficiência respirató- (antagonista dos receptores opioides) não é re-
ria. Estes são mais comuns quando há uso de comendada pois apresenta uma reversão limi-
GHB concomitante com outras drogas depres- tada dos efeitos sedativos, o flumazenil (anta-
soras do SNC, devido ao efeito sinérgico gonista benzodiazepínico) diminui a liberação
(KAMAL et al., 2017; PACHECO, 2017). do hormônio do crescimento induzido por
GHB, mas também não é recomendado. Porém,
3.1.4. Análises toxicológicas ambos os antídotos podem ser úteis em intoxi-
O GHB é incluído nas análises toxicológi- cações em que há coadministração do GHB
cas de rotina apenas quando há suspeita de uso com opioides ou benzodiazepínicos
em casos de agressões sexuais. A metaboliza- (BUSARDÒ & JONES, 2015; KAPOOR et al.,
ção e eliminação do GHB é rápida, diminuindo 2013).
a janela de detecção do mesmo e seus metabó- Dessa forma, o tratamento da intoxicação
litos. Após 4 horas é praticamente indetectável aguda envolve medidas de suporte e monitora-
no sangue, e após 12 horas, praticamente inde- mento dos sinais vitais, os sintomas cardiovas-
tectável na urina, sendo necessária à coleta e culares geralmente não precisam de interven-
análise das amostras o mais rápido possível. No ção, porém em alguns casos de bradicardia pode
entanto, verificou-se um aumento da sua con- ser necessária administração de atropina, nos
centração em amostras de sangue e urina du- casos de hipotensão leve são administrados flu-
rante o armazenamento a -20 °C. A cromatogra- idos endovenosos e caso não haja resposta, são
fia gasosa acoplada a espectrometria de massa administrados agentes vasopressores. Em paci-
(GC/MS) é a técnica mais utilizada hoje em dia. entes inconscientes é geralmente feita entuba-
Ensaios enzimáticos, envolvendo a degradação ção endotraqueal e/ou ventilação assistida para
do GHB em semialdeído succínico também são prevenir a aspiração pulmonar durante o vô-
utilizados (PACHECO, 2017; KAMAL et al., mito. No caso de pacientes com convulsão, oxi-
2017; ON, 2021). genação e ventilação adequada geralmente re-
solvem, mas caso sejam persistentes, pode ser
3.1.5. Desintoxicação necessário o uso de benzodiazepínico como lo-
Os sintomas de intoxicação vão depender da razepam ou diazepam (BUSARDÒ & JONES,
dose, via e tolerância individual à fármacos de- 2015; KAPOOR et al., 2013).
pressores, os sintomas são semelhantes com os
sintomas de intoxicação por drogas com propri- 3.2. Cetamina
edades sedativas e hipnóticas, como etanol, A cetamina é um anestésico geral introdu-
benzodiazepínicos e barbitúricos. Os sintomas zido no mercado em 1970, que produz um es-
iniciam cerca de 15-50 minutos após a ingestão tado de anestesia dissociativa: um estado cata-
e geralmente há recuperação da consciência no léptico com nistagmo onde o paciente perma-
período de 4 a 8 horas. A lavagem gástrica e in- nece com os olhos abertos apesar de não sentir
dução do vômito não são técnicas de desintoxi- dor e não ter consciência do ambiente. Derivado
cação recomendadas, porém a descontaminação da fenciclidina, é composto por uma mistura ra-
com carvão ativado pode ser feita, principal- cêmica de S- e R-cetamina. Além do seu efeito
mente em casos de suspeita de ingestão conco- anestésico, também possui efeito analgésico se-
mitante com outras drogas. Não há antídoto es- melhante aos opioides, mas com menos efeitos
152 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
Figura 16.1 Principais vias metabólicas da cetamina catalisadas pelas enzimas CYP2B6 e CYP3A4
Fonte: ZANOS et al., 2018. Legenda: (R,S)-KET: Cetamina racêmica; (R,S)-norKET: Norcetamina racêmica;
(2R,6R;2S;6S)-HNK: Hidroxinorcetamina gerada pela hidroxilação da norKET na posição seis por CYP2A6;
(2R,4S;2S,4R)-HNK e (2R,4R;2S,4S)-HNK: Hidroxinorcetamina gerada pela hidroxilação da norKET na posição qua-
tro por CYP2A6 ou CYP2B6; (2R,5S;2S,5R)-HNK e (2R,5R;2S,5S)-HNK: Hidroxinorcetamina gerada pela hidroxila-
ção da norKET na posição cinco por CYP2B6; (R,S)-DHNK: Desidronorcetamina.
153 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
Em adultos, a cetamina tem uma curta meia- arterial e do débito cardíaco. O controle respi-
vida de eliminação, de 2-4 horas, sendo elimi- ratório é muito pouco afetado, no entanto em
nada principalmente pelos rins com baixos ní- altas doses e em uma administração muito rá-
veis excretados como cetamina (2%), norketa- pida, uma depressão respiratória pode ocorrer.
mina (2%) e DHNK (16%), a maior parte da (GAO, REJAEI, LIU, 2016; MIHALJEVIĆ et
droga, em torno de 80%, é excretada como con- al., 2020; TRIMMEL et al., 2018). Quando
jugados hidroxilados com ácido glucurônico. usada em doses sub-anestésicas, a cetamina
Níveis circulantes de DHNK e (2R,6R;2S,6S) - provoca estados imaginativos, dissociativos e
HNK foram observados por até 3 dias após a sintomas psicóticos semelhantes à esquizofre-
infusão de cetamina em pacientes diagnostica- nia devido à sua ação antagônica ao NMDA,
dos com depressão bipolar ou depressão grave bem como prejudicando severamente a memó-
resistente ao tratamento, na urina cetamina ria semântica e episódica, sendo esses efeitos
pode ser detectada no período de 5 a 11 dias, dose-dependentes (GAO, REJAEI, LIU, 2016;
dehidronorketamina 10 dias e norketamina 6 a NOWACKA, BORCZYK, 2019). Em doses
14 dias (CORKERY et al., 2021; ZANOS et al., elevadas, a cetamina pode causar vômitos, fala
2018). arrastada, amnésia, funções motoras prejudica-
das, taquicardia, palpitações, agitação e delírio
3.2.2. Toxicodinâmica (SHBAIR, ELJABOUR, LHERMITTE, 2010).
Acredita-se que o bloqueio do receptor de Sua dose letal é mediana (LD50), em ani-
glutamato N-metil-D-aspartato (NMDA) está mais é 100 vezes a dose intravenosa média, o
por trás dos efeitos dissociativos anestésicos e que dificulta a morte por overdose. De fato,
amnésicos da cetamina, bem como os efeitos mortes e emergências não fatais atribuídas ao
psicomiméticos e analgésicos induzidos pela uso de cetamina são consideradas muito raras
droga. O glutamato está relacionado com a via (SHBAIR, ELJABOUR, LHERMITTE, 2010).
da dor e excitação no Sistema Nervoso Central A ingestão junto com etanol ou outros medica-
(SNC), utilizando dois tipos de canais: iônicos mentos, tais como metilenodioximetanfetamina
e metabotrópicos. Os canais NMDA são canais (MDMA), GHB e flunitrazepam é que acabam
iônicos, ativados pela ligação de glutamato e aumentando seus efeitos tóxicos (DARKE et
glicina ou D-serina, ativando o influxo de Ca2+. al., 2021). Uma das maiores preocupações em
Além destes, a cetamina também interage com torno do uso agudo de cetamina é que ela reduz
vários outros receptores e canais de íons, inclu- a consciência do ambiente imediato, expondo
indo receptores de dopamina, serotonina, assim o usuário a potenciais danos físicos e
sigma, opioides, colinérgicos, muscarínicos e agressões (SHBAIR, ELJABOUR,
nicotínicos, bem como canais de nucleotídeos LHERMITTE, 2010).
cíclicos ativados por hiperpolarização (HCN),
sendo estes últimos também relacionados com 3.2.3. Análises toxicológicas
o efeito anestésico (PETRENKO et al., 2014; A análise toxicológica de cetamina é um
ZANOS et al., 2018) verdadeiro desafio, pois devido a seus efeitos
Pelo aumento na transmissão colinérgica sedativos e de amnésia, os envolvidos demoram
causada pela cetamina ocorre aumento da secre- a perceber que foram vítimas de um crime, o
ção de muco, já o aumento da atividade simpá- que acarreta em demora na coleta das espéci-
tica a nível central leva ao aumento da pressão mes biológicas necessárias para elucidação do
154 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
mente (WILLIAMS & LUNDAHL, 2019). tral como o álcool. Os sinais e sintomas de over-
dose por flunitrazepam consistem em redução
3.3.1. Toxicocinética da frequência cardíaca, sonolência, coma, am-
O flunitrazepam é amplamente utilizado nésia, depressão respiratória e diminuição dos
com o intuito de crimes sexuais devido às suas reflexos (HIKIJI et al., 2016).
propriedades farmacotécnicas, já que é uma No entanto, esse quadro pode ser revertido
substância insípida, inodora e dissolve-se com por meio da monitorização do paciente e trata-
facilidade em bebidas. Tendo em vista, a ocor- mento sintomático das alterações respiratórias e
rência desses crimes, em alguns países, a for- cardiovasculares, reidratação e lavagem gás-
mulação do flunitrazepam foi alterada com adi- trica, se necessário. Em situações graves de in-
ção de corantes para que quando diluído em be- toxicação por doses elevadas do flunitrazepam,
bidas, ocorra a mudança das características ori- utiliza-se o antagonista dos benzodiazepínicos,
ginais da bebida (CARFORA et al., 2020). o flumazenil, que reverte a ação farmacológica
No que se refere à cinética da droga, ela é dos benzodiazepínicos. Recomenda-se o uso
quase que completamente absorvida quando ad- desse antídoto na dose inicial de 0,3 mg por via
ministrada por via oral, já que apresenta uma endovenosa e com incrementos de 0,3 mg a in-
alta taxa de absorção pelo trato gastrointestinal tervalos de 60 segundos, até reversão do coma.
e os efeitos se iniciam a partir de 30 minutos Ressalta-se que o flumazenil possui sua utiliza-
após a administração. Ela atinge a concentração ção reservada a ambientes hospitalares e deve
máxima dentro de duas horas e os efeitos per- ser administrado apenas por médicos. Acres-
manecem de 8 a 12 horas. É metabolizado pelas centa-se que o flumazenil também pode ser
isoenzimas CYP2C19 e CYP3A4 e excretada usado para diagnóstico em casos de desconhe-
na forma de conjugados de glicuronídeo na cimento a respeito da droga causadora da into-
urina. Os principais metabólitos plasmáticos xicação (PENNINGA et al., 2015).
são o 7-aminofluni-trazepam e o N-desmetil-
flunitrazepam. A meia-vida de eliminação do 3.3.3 Análises Toxicológicas
metabólito ativo N-desmetil-flunitrazepam é de A partir de análises toxicológicas é possível
28 horas (WILLIAMS & LUNDAHL, 2019; determinar a droga utilizada em vítimas de cri-
ALI & EDWARDS, 2016). mes sexuais. As matrizes biológicas mais utili-
zadas para a análise são sangue total, plasma,
3.3.2. Desintoxicação soro e urina. No entanto, algumas matrizes
Diante do exposto, o flunitrazepam é uma apresentam como desvantagem o tempo curto
droga depressora do sistema nervoso central, de detecção como sangue e urina, já que as dro-
que pode causar sintomas de overdose quando gas são rapidamente metabolizadas e, geral-
utilizada acima do recomendado. A dose reco- mente, a vítima presta queixa do ocorrido após
mendada para pacientes adultos é de 0,5 – 1 dias. Por outro lado, os fios de cabelo apresen-
mg/dia. Em casos excepcionais, a dose pode ser tam a possibilidade de detecção do analitos me-
aumentada até 2 mg. A dose máxima não deve ses ou até mesmo anos depois do aconteci-
ser excedida. Além disso, o quadro de overdose mento. No diagnóstico por meio das matrizes
pode ser agravado devido ao uso concomitante soro e urina utiliza-se a técnica de cromatogra-
de outros depressores do sistema nervoso cen- fia em camada delgada, HPLC e imunocroma-
156 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
tografia. Para a utilização dos fios de cabelo o sangue e na urina relativamente curtas, são am-
método de escolha é a cromatografia gasosa plamente utilizadas para cometimento de cri-
acoplada à espectrometria de massas (Ali & mes de abuso sexual. Nesse contexto, fazem- se
Edwards, 2016; CARFORA et al., 2020). necessárias à implementação de técnicas de de-
tecção mais robustas e ágeis, bem como elabo-
4. CONCLUSÃO ração e estudos na busca por antídotos específi-
cos. Ademais, o desenvolvimento de alterações
Devido ao GHB, cetamina e flunitrazepam nas substâncias que permitam identificar sua
possuírem efeitos sedativos e hipnóticos e se- presença em bebidas.
rem substâncias com uma janela de detecção no
157 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALBRIGHT, Jessica A.; STEVENS, Sarah A.; Medical Examiner's Office and Prescriptions. Seishin
BEUSSMAN, Douglas J. Detecting ketamine in beve- Shinkeigaku Zasshi Psychiatria et Neurologia Japo-
rage residues: application in date rape detection. Drug nica, v. 118, n. 1, p 3-13, 2016.
testing and analysis, v. 4, n. 5, p. 337-341, 2012.
KAMAL, R. M. et al. Pharmacological Treatment in γ-
ALI, E. M. A. & EDWARDS, H. G. M. The detection of
flunitrazepam in beverages using portable Raman spec- Hydroxybutyrate (GHB) and γ-Butyrolactone (GBL) De-
troscopy. Drug Testing and Analysis 2016. pendence: detoxification and relapse prevention. Cns
Drugs, v. 31, n. 1, p. 51-64, 2016.
ANDERSON, L.J.; FLYNN, A.; PILGRIM, J.L. A glo-
bal epidemiological perspective on the toxicology of KAPOOR, P. et al. GHB acid: A rage or reprive. Journal
drug facilitated sexual assault: A systematic review. of Advanced Pharmaceutical Technology & Rese-
Journal of Forensic and Legal Medicine, v. 47, p.46–
arch, v.4, p. 173-17, 2013.
54, 2017.
BUSARDÒ, F. P & JONES, A. W. GHB Pharmacology LIU, Yu et al. Ketamine abuse potential and use disorder.
and Toxicology: Acute Intoxication, Concentrations in Brain research bulletin, v. 126, p. 68-73, 2016.
Blood and Urine in Forensic Cases and Treatment of the
Withdrawal Syndrome. Current Neuropharmacology, MIHALJEVIĆ, Slobodan et al. Therapeutic mechanisms
v.13, p. 47–70, 2015. of ketamine. Psychiatria Danubina, v. 32, n. 3-4, p. 325-
333, 2020.
BUSARDÒ, F.P et al. Drug-facilitated sexual assaults
(DFSA): a serious underestimated issue. European Re-
NOWACKA, Agata; BORCZYK, Malgorzata. Ketamine
view for Medical Pharmacological Sciences, v. 23, n.
24, p. 10577-10587, 2019. applications beyond anesthesia–A literature review. Eu-
ropean journal of pharmacology, v. 860, p. 172547,
BOSCH, O. G. et al. Neural underpinnings of prosexual 2019.
effects induced by gamma-hydroxybutyrate in healthy
male humans. European Neuropsychopharmacology, OCHOA-DE LA PAZ, L. D. et al. The role of GABA
v. 27, n. 4, p. 372-382, 2017. neurotransmitter in the human central nervous system,
physiology, and pathophysiology. Rev. mex. neuroci-
CARFORA, A. et al. Long-Term Detection in Hair of
Zolpidem Oxazepam and Flunitrazepam in a Case of enc., Ciudad de México, v. 22, n. 2, p. 67-76, 2021.
Drug-Facilitated Sexual Assault. Journal of Analytical
Toxicology, 2020. ON, S.U. et al. Colorimetric paper sensor for visual de-
tection of date-rape drug γ-hydroxybutyric acid (GHB).
CORKERY, John Martin et al. Recreational ketamine-re- Sensors And Actuators B: Chemical, p. 130598, 2021.
lated deaths notified to the National Programme on Subs-
tance Abuse Deaths, England, 1997–2019. Journal of PACHECO, SFG. Avaliação toxicológica do ácido
psychopharmacology, p. 02698811211021588, 2021. gama-hidroxibutírico em contexto forense. [disserta-
ção]. Porto: Universidade Fernando Pessoa; 2015.
DARKE, Shane et al. Characteristics and circumstances
of death related to the self‐administration of ketamine.
Addiction, v. 116, n. 2, p. 339-345, 2021. PENNINGA, E. I. et al. Adverse Events Associated with
Flumazenil Treatment for theManagement of Suspected
DINIS-OLIVEIRA, Ricardo Jorge. Metabolism and me- Benzodiazepine Intoxication – ASystematic Review with
tabolomics of ketamine: a toxicological approach. Foren- Meta-Analyses of Randomised Trials. Basic & Clinical
sic sciences research, v. 2, n. 1, p. 2-10, 2017. Pharmacology & Toxicology, v.118, p. 37–44, 2015.
GAO, Mei; REJAEI, Damoon; LIU, Hong. Ketamine use
PETRENKO, Andrey B. et al. Defining the role of
in current clinical practice. Acta Pharmacologica Si-
NMDA receptors in anesthesia: are we there yet?. Euro-
nica, v. 37, n. 7, p. 865-872, 2016.
pean journal of pharmacology, v. 723, p. 29-37, 2014.
HIKIJI, W.; OKUMURA, Y.; MATSUMOTO, T. et al.
Identification of Psychotropic Drugs Attributed to Fatal
Overdose--A Case-control Study by data from the Tokyo
158 | P á g i n a
Capítulo 16
Estudos em Ciências Forenses
PIPER, T. et al. Potential of GHB phase-II-metabolites SINGH, Gaurav; SINGH, Pratik; JYOTI, Piyush. Date
to complement current approaches in GHB post adminis- Rape Drugs in Sexual Assaults: A Threat to Indian Soci-
tration detection. Forensic Science International, v. ety. European Journal of Molecular & Clinical Medi-
279, p. 157-164, 2017. cine, v. 7, n. 7, p. 4677-4683, 2020.
Polícia apreende 46 mil comprimidos usados para aplicar ŚWIĄDRO, Magdalena et al. The Double Face of Keta-
o golpe “Boa Noite Cinderela”. Diário do Nordeste. For- mine—The Possibility of Its Identification in Blood and
taleza, 06 jul. 2016. Disponível em: Beverages. Molecules, v. 26, n. 4, p. 813, 2021.
<https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca
TRIMMEL, Helmut et al. S (+) -cetamina. Wiener kli-
/policia-apreende-46-mil-comprimidos-usados-para-
nische Wochenschrift, v. 130, n. 9, p. 356-366, 2018.
aplicar-o-golpe-boa-noite-cinderela-1.1578900>.
Acesso em: 20 set. 2021.
WILLIAMS, J. F. & LUNDAHL, L. H. Focus on Ado-
lescent Use of Club Drugs and “Other” Substances. Pe-
SANDAL, C. et al. Drug-Facilitated Sexual Assault.
diatric Clinics of North America, 2019.
Sage Journals, v. 68, p. 155-155. 2020.
YIU-CHEUNG, Chan. Acute and chronic toxicity pattern
SHBAIR, M. K. S.; ELJABOUR, S.; LHERMITTE, M.
in ketamine abusers in Hong Kong. Journal of medical
Drugs involved in drug-facilitated crimes: part I: alcohol,
toxicology, v. 8, n. 3, p. 267-270, 2012.
sedative-hypnotic drugs, gamma-hydroxybutyrate and
ketamine. A review. In: Annales pharmaceutiques
ZANOS, Panos. et al. Ketamine and ketamine metabolite
francaises. Elsevier Masson, 2010. p. 275-285.
pharmacology: insights into therapeutic mechanisms.
Pharmacological reviews, v. 70, n. 3, p. 621-660, 2018
159 | P á g i n a
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 17
CONHECIMENTO DO
DIMORFISMO SEXUAL
BASEADO EM
ESTRUTURAS ÓSSEAS
160 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
161 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
empregar os estudos com o maior número pos- De acordo com as literaturas, de modo geral,
sível de caracteres de um esqueleto e, não se ba- os acidentes e estruturas ósseas pertencentes ao
sear em apenas em um (AZEVEDO, 2008; gênero masculino se apresentam maiores, mais
GALVÃO, 1998; PEREIRA; ALVIN, 1978). robustas e grosseiras, linhas e inserções muscu-
O objetivo deste estudo foi verificar quais as lares bem-marcadas, em contrapartida, as estru-
estruturas ósseas mais citadas para diferencia- turas no gênero feminino se apresentam mais
ção entre gêneros XX e XY assim como estra- delicadas, suaves e menores (BRUZEK;
tégias de ensino destes durante a graduação. MURAIL, 2006; FRANÇA, 2017; GALVÃO,
1994; PEREIRA; ALVIN, 1978). A seguir, as
2. MÉTODO principais estruturas ósseas utilizadas para di-
morfismo sexual com base em observação.
Trata-se de uma pesquisa de natureza quali-
tativa por levantamento de dados e análise de 3.2. Crânio
conteúdo referente as características ósseas O crânio é composto por ossos que são divi-
possíveis de serem utilizadas para a identifica- didos em duas partes de acordo com componen-
ção do dimorfismo sexual através de inspeção tes funcionais e anatômicos: o neurocrânio e o
visual e descrição de práticas pedagógicas que viscerocrânio. Com o total de oito ossos, o neu-
podem ser utilizadas em sala de aula desenvol- rocrânio é composto pelo teto em forma de cú-
vidas pelas pesquisadoras. pula e pela base do crânio, tem como principal
Os dados foram levantados pela busca em função proteger o sistema nervoso central e
base de dados nas plataformas: Google acadê- suas estruturas adjacentes. O viscerocrânio é
mico, PubMed, Literatura Latino-Americana e formado por quatorze ossos que constituem os
do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e ossos da face, estando associados a visão e ao
Science Research. Os critérios de inclusão fo- início dos sistemas digestório e respiratório
ram: artigos e livros nos idiomas português, in- (GRAY; GROSS, 1988; MOORE et al., 2014).
glês e espanhol, disponibilizados na íntegra. Os Com o total de 28 ossos, o crânio apresenta
critérios de exclusão foram artigos e livros dis- diversos acidentes e estruturas que podem sem
ponibilizados na forma de resumo e que não empregues para estudos antropológicos.
atendiam a proposta estudada.
Os principais ossos utilizados para identifi- 3.2.1. Fronte
cação de gênero através de métodos observaci- O osso frontal está localizado na região an-
onais são os ossos do quadril, seguido de crânio terior do neurocrânio, formando a fronte ou
e mandíbula. A partir da leitura dos artigos re- testa, é um dos maiores e mais robustos ossos
tornados foi realizada uma listagem dos aciden- do crânio (GRAY; GROSS, 1988; WHITE;
tes anatômicos citados como possíveis de serem MICHAEL; FOLKENS, 2000).
utilizados para a identificação do dimorfismo No gênero masculino: a fronte é mais incli-
sexual em crânio, mandíbula e osso do quadril. nada para posterior.
No gênero feminino: a fronte é mais reta.
(COMA, 1991; FEREMBACH et al., 1980;
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
GALDAMES, 2009; GALVÃO, 1998; GRAY;
3.1. Análises de estruturas em ossadas GROSS, 1988; FRANÇA, 2017).
162 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
163 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
164 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
165 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
166 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
167 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
168 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
169 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
170 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AZEVEDO, JMCA. A eficácia dos métodos de diag- GALDAMES, ICS. Indicadores morfológicos de di-
nose sexual em antropologia forense. [Dissertação] morfismo sexual em crânios humanos. [Tese] São
Lisboa: Faculdade de Medicina da Universidade de Lis- Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2009.
boa; 2008.
GALVÃO, LCC. Determinação do sexo através da
BACICH, Lilian; TANZI NETO, Adolfo; TREVISANI, curva frontal e apófise mastoidea [Tese]. São Paulo:
Fernando de Mello. Ensino Híbrido: personalização e Faculdade De Odontologia De Piracicaba – UNICAMP;
tecnologia na educação. Porto Alegre: Penso, 2015. 1998.
BERGMANN, Jonathan; SAMS, Aaron. Sala de Aula in- GALVÃO, LCC. Identificação do sexo através de me-
vertida: uma metodologia ativa de aprendizagem. Rio de didas cranianas [Dissertação]. São Paulo: Universidade
Janeiro: Lct, 2019. Estadual de Campinas; 1994.
BIANCALANA, R.C. et al. Determinação do sexo pelo GOMES, S.L. et al. Dimorfismo sexual por meio da aná-
crânio: etapa fundamental para a identificação humana. lise forense da massa de mandíbulas edêntulas de indiví-
Revista Brasileira de Criminalística, v. 4, p. 38-43, duos brasileiros. Revista Brasileira de Odontologia Le-
2015. gal, v. 7, p.11-21, 2020.
BRUZEK, J. & MURAIL, P. Methodology and reliabi- GRAY, H, GROSS, CM. Anatomia humana. Rio de Ja-
lity of sex diagnosis from the skeleton. Forensic Anthro- neiro: Guanabara Koogan; 1988.
pology and Medicine: Complementary Sciences From
Recovery to Cause of Death. New Jersey: Humana Press; MATTAR, João. Metodologias ativas para a educação
2006, p.225-242. presencial, blended e a distância. São Paulo: Artesanato
educacional, 2017.
BRUZEK, J. A method for visual determination of sex,
using the human hip bone. American Journal of Physi- MOORE, KL et al. Anatomia orientada para a clínica.
cal Anthropology, v.117, p. 157-68, 2002. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2014.
CARVALHO, Cesar Alexandre Fabrega. Utilização de MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos T.;
Metodologia Ativa de Ensino nas Aulas Práticas de Ana- BEHRENS, Marilda Aparecida. Novas tecnologias e me-
tomia. Revista de Graduação USP, São Paulo, v. 2, n.3, diação pedagógica. 21 ed. São Paulo: Papirus, 2013.
p.117-121, dez. 2017. Disponível em: http://www.revis- PEREIRA, CB, ALVIN, MCM. Manual para estudos
tas.usp.br/gradmais/article/view/123866 craniométricos e cranioscópicos. Rio de Janeiro: [s.n.];
COMA, JMR. Antropologia forense. Madrid: Centro de 1978.
Publicacion Secretaria General Técnica, Ministério de PETAROS, A. et al. Evaluating sexual dimorphism in the
Justiça; 1991. human mastoid process: A viewpoint on the methodo-
CUNHA, E. Cálculo de funções discriminantes para a di- logy, Clinical Anatomy, v. 28, p. 593-601, 2015.
agnose sexual do crânio. Centro de Investigação em An- RODRIGUEZ, OFC et al. Odontología legal y forense.
tropologia e Saúde, v. 8, p. 17-37, 1990. Bolivia: Editorial: Edición Digital; 2020.
DIESEL, Aline.; BALDEZ, Alda Leila Santos; RÖSING, F. W. et al. Recommendations for the forensic
MARTINS, Silvana. Neumann. Os princípios das meto- diagnosis of sex and age from skeletons. HOMO— Jour-
dologias ativas de ensino: uma abordagem teórica. nal of Comparative Human Biology, v. 58, p. 75-89,
Thema, v. 14, n. 1, p. 268-288, jan. 2017. Disponível em: 2007.
7w/404. Acesso em: 26 jun. 2020
SALIBA, CA. Contribuição ao estudo do dimorfismo
FAIRBAIRN, D. J. Allometry for Sexual Size Dimor- sexual, através de medidas do crânio. [Tese] São
phism: Pattern and Process in the Coevolution of Body Paulo: Faculdade De Odontologia De Piracicaba –
Size in Menes and Female. Annual Review of Ecology, UNICAMP; 1999.
Evolution, and Systematics, v. 28, p. 659-687, 1997.
WHITE, TD, MICHAEL TB, FOLKENS PA. Human
FEREMBACH, D. et al. Recommendation for age and Osteology. San Diego: Academic Press; 2000.
sex diagnoses of skeletons. Journal of Human Evolu-
tion, v. 9, p. 517-549, 1980.
FRANÇA, GV. Medicina legal. Rio de Janeiro: Guana-
bara Koogan; 2017.
171 | P á g i n a
Capítulo 17
Estudos em Ciências Forenses
.
CAPÍTULO 18
A UTILIZAÇÃO DE
PLATAFORMAS
DIGITAIS COMO
VEÍCULO DE ENSINO À
ENFERMAGEM FORENSE
FRANCISCA GEISA SILVA MARTINIANO1
TATIANY YULLY MARTINS IBIAPINA1
INGRID LARA SANTOS OLIVEIRA1
MARIA ANDRESSA GOMES DE LIMA1
JEORGIA TAVARES CARVALHO1
SAMIA DE SOUZA ALBUQUERQUE RODRIGUES1
LAIANE ESCOSSIO DE AGUIAR1
ALAN CÁSSIO MORAIS PALITOT2
RÍZIA KELLY DA SILVA GUSMÃO3
ELANE CRISTINA FERNANDES LIMA SOUSA4
MARIA JOSE DIAS GONZAGA5
ANAILDA FONTENELE VASCONCELOS4
ZENAIDE CAVALCANTI DE MEDEIROS KERNBEIS6
1. INTRODUÇÃO 2. MÉTODO
173 | P á g i n a
Capítulo 18
Estudos em Ciências Forenses
174 | P á g i n a
Capítulo 18
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENFERMAGEM FORENSE. Materiais forenses. Aracaju, 2015. Disponível em:
<www.abeforense.org.br/> Acesso em: 26 de setembro de 2020.
175 | P á g i n a
Capítulo 18
Estudos em Ciências Forenses
CAPÍTULO 19
O ENSINO DA ENFERMAGEM
FORENSE COMO APORTE DE
GARANTIA NA PRESERVAÇÃO
DE VESTÍGIOS E COLETAS EM
CENAS DE CRIME
1
Discente- Enfermagem pela Faculdade Santa Maria- FSM; Cajazeiras PB.
2
Discente- Enfermagem pela Faculdade São Francisco da Paraíba- FASP; Cajazeiras PB.
3
Discente- Enfermagem pelo Centro Universitário INTA-UNINTA; Sobral CE.
4
Enfermeira- Graduada pelo Centro Universitário INTA- UNINTA Sobral- CE .
5
Enfermeira- Pós Graduanda em Gestão em Saúde Pública pela UNEMAT .
6
Enfermeira- Mestranda em Saúde do Adulto pela Universidade de São Paulo- USP.
7
Enfermeira Forense- Pós-Graduada em Gestão Acadêmica e Docência do Ensino Superior e Presidente
da Associação Brasileira de Enfermagem Forense- ABEFORENSE..
176 | P á g i n a
Palavras-chave: Enfermagem forense; Emergência; Preservação biológica.
Capítulo 19
Estudos em Ciências Forenses
177 | P á g i n a
Capítulo 19
Estudos em Ciências Forenses
expositiva dos resultados obtidos pelas fontes um contato pioneiro e majestoso com as vítimas
literárias, os resultados ganharam conotação de e agressores demonstram fraquejar em suas
forma descritiva, pautando-se assim em toda condutas, pois demonstram ter menos conheci-
uma contextualização de âncora teórica. mento que o esperado para lidar com situações
de crime.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Considerando um estudo realizado nos Es-
tados Unidos que avaliou o nível de conheci-
De acordo com o que foi estabelecido por mento em ciências forenses dos estudantes de
(NORMANDIN, 2020) o conhecimento se pós graduação em emergência, os resultados
torna uma ferramenta poderosa quando se está obtidos demonstraram uma realidade satisfató-
atrelada ao cuidado assistencial da enfermagem ria, onde por meio da aplicabilidade de um
no contexto da emergência, pois todo o legado questionário, os estudantes demonstraram um
de informações adquiridas e provenientes do nível de conhecimentos superior acerca dos
campo forense seja em nível de graduação, pós conceitos e preceitos éticos da enfermagem fo-
ou especializações são a base de sustentação rense, onde se reafirma mais uma vez que
para que os enfermeiros ganhem empodera- quanto mais precoce esses profissionais forem
mento e proatividade em identificar situações lançados ao conjunto de arsenal literário fo-
de violência, vulnerabilidade e omissão de di- rense, poderão cada vez mais estarem respalda-
reitos pessoais, fazendo jus ao que a ciência dos em fundir as correntes teóricas em sua apli-
vasta da enfermagem forense preconiza, fa- cabilidade prática e assistencial, pois ao final
zendo uma via dupla entre o cuidado em saúde deste estudo os índices afirmaram um aumento
a casos de contextualização forense. progressivo na confiança em reconhecer casos
Em uma pesquisa científica realizada na forenses e quais recursos estratégicos poderão
Turquia com enfermeiros atuantes no departa- serem utilizados ao seu favor. Ao término ficou
mento de emergência, (TOPÇU, 2020) conse- esclarecido que os alunos não se interessam so-
guiu agregar parâmetros importantes acerca da mente pela enfermagem forense, mas que en-
análise do nível de conhecimentos desses pro- xergam nessa especialidade a melhor ferra-
fissionais e de suas condutas diante de casos fo- menta para se lidar com situações que envol-
renses naquela localidade. O estudo depois de vam a prática forense das vítimas (DRAKE et
finalizado e analisado criteriosamente exibiu al 2020).
que cerca de 75% dos profissionais não foram Pairando-se sobre o cenário brasileiro, e a
contemplado durante a graduação com algum partir desta, analisando o nível de conhecimen-
tipo de treinamento forense e que 52% de casos tos de enfermeiros atuantes em serviços de
que davam entrada por meio da emergência não pronto atendimento e pré-hospitalar na cidade
passavam por um processo investigativo se pos- de Aracaju SE, acerca de condutas e práticas fo-
suíam alguma raiz de um contexto forense. renses diante de vítimas (SILVA, 2020) tam-
Dessa forma é possível elencar a existência de bém por meio de um questionário concluiu que
lacunas no processo de formação acadêmica os enfermeiros validaram a grande relevância
dos cursos de bacharelados em enfermagem, e em reconhecer, preservar, coletar e documentar
que os profissionais de emergência por terem todo e qualquer tipo de evidência contribuindo
178 | P á g i n a
Capítulo 19
Estudos em Ciências Forenses
assim para o fortalecimento da cadeia de custó- olência e que desponta como uma ciência múl-
dia sejam em vítimas, perpetradores ou em ce- tipla e versátil que possui a capacidade intrín-
nas de crime, já que os mesmo são considerados seca de ir de encontro ao combate da violência,
correntes estruturantes na aplicação do Código seja pelo quadro assistencial e de reconheci-
Penal. Porém esses mesmos profissionais não mento investigativo que a mesma se enquadra,
se sentem seguros e respaldados para realizar como também sendo um elo educador, de ori-
procedimentos desta magnitude. O que ficou entação e vigilância de casos que levantem al-
evidente nesse estudo, é que a etiologia do pro- guma suspeita forense.
blema está anexada mais uma vez, assim como Como foi demonstrado nos resultados vei-
em consonância com os resultados obtidos em culados neste estudo, em diversas realidades
pesquisas anteriores, é que a ausência de educa- nacionais estrangeiras como Turquia, Holanda,
ção em protocolos forenses durante o período Estados Unidos e Egito, a Enfermagem Forense
acadêmico ou até mesmo a falta de especializa- já ganhou conotação real e está sendo aplicada
ção na área fornecida pelas instituições de ser- de modo paulatinado nas realidades dos profis-
viço. sionais de enfermagem, principalmente ao que
Partindo do pressuposto da participação dos compete os setores de urgência e emergência,
enfermeiros na preservação, coleta e recolha de tendo em vista que este setor é privilegiado pelo
vestígios em cenas de crime, é nítido abordar seu pioneirismo com os casos forenses, já que
um corrompimento na elucidação de fatos em são considerados as principais portas de entra-
decorrência do negligenciamento das memórias das de casos. Assim a enfermagem forense rea-
de corpo por parte da equipe de Atendimento firma ainda mais seu valor, garantindo respaldo
Pré- Hospitalar, que por uma carência informa- e proatividade aos enfermeiros em contribuir
cional das ciências forenses durante a gradua- ativamente com os setores jurídicos na aplica-
ção, acabam funcionando como principal eixo ção de condutas penais.
de resistência e desintegração da cadeia de cus- Ao que vai de encontro aos fins literários, a
tódia (CHANDRAMANI 2020). Portanto, con- educação e o conhecimento são a principal
textualizando com as explanações anteriores, arma de que qualquer profissional pode usar a
(VRIES 2019) afirma que se torna necessário seu favor quando se busca elevar o nível da ca-
ressaltar a importância de se fundamentar nas tegoria. As instituições de ensino dos cursos de
diretrizes e princípios das ciências forenses Bacharelado no Brasil infelizmente em sua
ainda no meio acadêmico, permitindo sua apli- grande maioria ainda não adequaram a curricu-
cabilidade de modo eficaz a nível assistencial larização da disciplina de Enfermagem Forense
em cenas de crime. no contexto de estudos dos estudantes, dei-
xando verdadeiras lacunas no processo de en-
4. CONCLUSÃO sino aprendizagem. Assim os estudantes ficam
omissos de conhecimentos legais, se tornam
Fica válido por meio dessa construção lite- uma barreira opositora para a perícia criminal e
rária que a Enfermagem Forense surge dos pri- tribunal do júri, adentram em cenários de crime
mórdios de uma sociedade marcada pelos de forma infeliz, contribuem para a perca de
exemplares de consequências impostas pela vi- provas e se tornam distantes em possuir um
179 | P á g i n a
Capítulo 19
Estudos em Ciências Forenses
olhar clínico e avaliativo de lesões e dessa ente na preservação de provas forenses, sendo
forma acabam negligenciando casos de emba- imprescindível o conhecimento técnico cienti-
samento forense, por não possuírem qualquer fico do enfermeiro na atestação dos fatos médi-
instrução durante a graduação. cos legais, principalmente quando estão exer-
Em suma, conforme o estudo fica válido cendo suas finalidades laborativas em cenários
que a não curricularização é um dos principais de urgência.
fatores que corroboram em um manejo defici-
180 | P á g i n a
Capítulo 19
Estudos em Ciências Forenses
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHANDRAMANI, A. et al. Uma avaliação de necessi- NORMANDIN, P. A. Enfermagem forense e emergen-
dade e intervenção educacional para abordar o atendi- cial. Revista de Enfermagem de Emergência, v.46, p.
mento a pacientes de violência sexual no departamento 268, 2020.
de emergência. Jornal de Enfermagem Forense, v. 16,
p. 73, 2020. SILVA, J. O. M. et a. Preservação de provas forenses por
enfermeiros em um serviço de pronto atendimento pré-
DRAKE, S. A. et al. Avaliação do conhecimento forense hospitalar no Brasil. Revista de Trauma em Enferma-
fundamental e habilidade percebida na educação do en- gem, v. 27, p. 58, 2020.
fermeiro de emergência via simulação forense. Jornal de
Enfermagem Forense, v.16, p. 22, 2020. TOPÇU, E. T.; KAZAN, E. E.; BUKEN, E. Conheci-
mento e gestão do pessoal de saúde de casos forenses en-
FURTADO, B. M. A. S. M. et al. Investigação em enfer- contrados com frequência em departamento de emergên-
magem forense: trajetórias e possibilidades de ação. Re- cia na Turquia. Jornal de Enfermagem Forense, v.16,
vista da Escola de Enfermagem da USP, v. 55, 2021. p. 29, 2020.
MACHADO, B. P.; ARAÚJO, I. M. B.; FIGUEIREDO, VRIES, M. L. et al. Educação e prática em enfermagem
M. C. B. Prática de enfermagem forense: o que os alunos forense na Holanda: onde estamos? Jornal de Enferma-
sabem afinal? Ciência forense internacional: Sinergia, v. gem Forense, v. 15, p. 78, 2019.
2, p. 138, 2020.
181 | P á g i n a
ÍNDICE REMESSIVO
Análise para Determinação do Sexo 40 Identificação humana 49
Anatomia 18, 35 Legislação em Enfermagem 58
Anatomia humana 170 Massacre de Suzano 1
Antropologia forense 18, 40, 161 Medicamento 72
Antropometria forense 18 Medicina Legal 1, 40, 130
Biometria 40 Medida da Idade pelo Esqueleto 40
Cadáver 35 Mídias Sociais 173
Cocaína 93 Pharmacology 149
COVID-19 29 Práticas Avançadas de Enfermagem 58
Crimes Sexuais 9 Preservação biológica 177
Date rape drugs 149 Prova pericial 121
Dimorfismo sexual 161 Psicopatologia 138
DNA forense 49 Psiquiatria Forense 9, 138
Doação de corpos 35 Tafonomia Forense 130
Drogas 93 Toxicology 149
Emergência 177 Transtornos Mentais 9
Enfermagem Forense 58, 82, 107, 121, 173, 177 Trauma 29
Enfermagem em emergência 82 Unidade Básica de Saúde 107
Ensino com Apoio 173 Violência conjugal 138
Envenenamento 72 Violência Doméstica 82, 107
Erythoxylum 93 Violência Escolar 1
Feminicídio 29 Violência sexual 121
Fenômenos transformativos 130 Violência Sexual contra a Mulher 58
Genética forense 49
Homicídio 72
182 | P á g i n a