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Pela legitimidade de prever:

Ibope, imprensa e lideranças políticas nas


eleições paulistas de 1953 e 1954
,

Aureo Busetto

'}1 rCJlolução pelo voto" pre,'ista pelo lbope

Tão logo fora restabelecida a eleição direta para o executivo das capitais
dos estados, mediante aprovação da Lei n° 1.720 em outubro de 1952, dois
candidatos se lançaram à disputa pela prefeitura de São Paulo. O secretário
estadual da Saúde Francisco Antonio Cardoso, apoiado pelo governador Lucas
Nogueira Garcez, por ampla coligação situacionista (PSP, PSD, PRP, PR), por
uma ala do PTB e pela UDN, embora esta não integrasse o esquema governista
(Sampaio, 1982: 8 1-3), e o deputado estadual Jânio Quadros, cuja candidatura
fora lançada pelo minúsculo PDC e, logo depois, assumida pelo também peque­
no PSB, porém não sem resistência de alas dos dois partidos (Busetto, 2002:
101-4; Hecker, 1998: 152-5). Em janeiro de 1953, dois outros candidatos entra­
ram na disputa. O comerciante André Nunes Júnior, lançado pelo minúsculo
PTN, partido originário de uma cisão do PTB, e apoiado pelos comunistas, e o

ESllIdos Hisróricos, Rio de Janeiro, nU 31, 2003, p. [27-146.

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estlldos históricos e 2003 - 3J

industrial e proprietário da TV Paulista Ortiz Monteiro, apresentado pelo inex­


pressivo PST.
A campanha de Cardoso era sintetizada na idéia de que sua candidatura
representava a união dos partidos paulistas contra a corrupção e a crise
econômica derivadas da política de Vargas. Jãnio centrou sua campanha no dís­
tico "o tostão contra o milhão1J, embora se apresentasse tambéJTI como contrário
aos esquemas de corrupção, os quais eram identificados à prática das forças lide­
radas por Garcez e Adhemar de Barros, em termos estaduais, e do getulismo e da
aliança PTB/PSD, na política nacional. A candidatura de Cardoso era defendida
pelo O Estado de S. Palllo, pona-voz oficioso da UDN, que, inclusive, publicava o
Boletim Municipal da UDN, cujas ediçôes serviam para divulgar a agenda do
candidato situacionista e justificar o apoio udenista à campanha do candidato
único dirigida por Garcez.! De igual forma procedia o PDC, pois publicava, nas
páginas do Diário de S. Paulo, o seu Boletim, elaborado para divulgar a progra­
mação da campanha janista, apresentar a candidatura de Jânio como popular,
democrática e cristã e combater as demais candidaturas (Buseno, 2002: 105-8). O
PSB, além de publicar artigos favoráveis à candidatura de Jânio na Folha
Socialista, empenhava-se na realização de comícios para o candidato (Hecker,
1998: 156-7).
Na véspera da eleiçüo, a cidade de São Paulo conheceria o resultado de
uma pesquisa de opinião pública que, ao contrário do que anunciava a maioria
das lideranças partidárias c dos órgãos da imprensa, previa a vitória eleitoral de
Jânio com ampla vantagem sobre os demais candidatos. O responsável pelo
prognóstico fora o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope),
então ainda pouco conhecido.
Fundado em maio de 1942, por Auricélio Penteado, o Ibope foi o
primeiro instituto de pesquisa de opinião pública a surgir no Brasil, tendo sido
criado, portanto, num período posterior à emergência de seus congêneres nos
EUA. Nesse país, no final do século XIX, já ocorriam publicações dos resultados
de sondagens sobre a opinião pública realizadas por órgãos da imprensa. Como
proprietário da Rádio Kosmos de São Paulo, Penteado realizou uma pesquisa
para dimensionar o percentual de ouvintes de sua emissora. Para tanto, aplicou
técnicas aprendidas nos EUA com George Gallup. Estatístico e jornalista,
Gallup criara, em 1936, um instituto de opinião pública que, batizado com o seu
nome, realizou na eleição presidencial, ocorrida no mesmo ano, uma pesquisa
sobre a intenção de votos com base numa amostragem de menos de dois mil
entrevistados e pôde prever, com extrema exatidão, o percentual de sufrágios que
daria vitória a Rooselvelt contra a poderosa candidatura de Landon, tida como
vitoriosa pela maioria da imprensa (Ozouf, 1988: 196).
Não demorou e Penteado desistiria da Rádio Kosmos - pois, segundo os
dados da sua investigação, a emissora era a menos ouvida-, mas não antes de se

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Pcla legitimidade de prever

convencer que havia no país uma necessidade de pesquisas de audiência. Noção


que o levou a se ocupar com a organização de um instiru[O de pesquisa de opinião
pública e a buscar parceiros para concretizar sua idéia. Logo surgiram os primei­
ros interessados, como Cícero Leurenroth, fundador da Standan Propaganda,
João Alfredo Souza Ramos, da Agência Panam, Richard Pcnn, da Colgate- Pal­
molive, Bazilio Machado Neto, da Associação Comercial de São Paulo, além de
outros colaboradores com pequenas coras de participação. Com sede na cidade
de São Paulo, o Ibope realizava pesquisas sobre os hábitos, gostos e preferências
do público e esrudos de mercado, e mantinha um serviço de monitoramento dos
ouvinres dUI:anre todas as horas do dia, apurando os índices de audiência de cada
emissora e programa. Em 1950, o comando do instituto passou às mãos dos só­
cios Paulo Tarso Montenegro, José Perigault, Guilherme Torres e Hailton San­
tos. Mais rarde, o lbope seria controlado pela família Montenegro, que o dirige
até hoje.2
Se, durante o Estado Novo, o Ibope, por razões óbvias, não se ocupou em
aferir a opinião pública sobre assuntos políricos, ele não tardaria em realizar as
primeiras investigações sobre a intenção de voto a partir da democratização
nacional, iniciada em 1945. Assim, realizou pesquisas sobre a tendência do voto
dos paulistas em relação às candidaturas presidenciais nos pleitos de 1945 e 1950,
e neste, inclusive, prognosticou, ao contrário do que previam líderes políticos e
órgãos da imprensa, a vitória de Vargas em São Paulo, como de fato as urnas
confirmaram. Fora do âmbito eleitoral, as pesquisas de opinião pública sobre
assuntos políticos eram muito pouco empregadas. Porém, o nome do Ibope fora
lembrado num episódio político do Rio de Janeiro.
O compositor musical, radialista e então vereador da UDN Ary Barroso
rravou, entre 1946 e 1947, uma baralha na Câmara Municipal carioca em prol da
proposta de construir o estádio do Maracanã no terreno do Derby Club, portanto
contra a que preconizava a edificação do estádio na restinga de Jacarepaguá,
defendida pelo udenista Carlos Lacerda. Com o objetivo de obter o apoio da ban­
cada majoritária do PCB, Ary Barroso valeu-se de toda sorte de manobras e, por
fim, pediu, conjuntamente com João Lyra Filho, uma pesquisa ao Ibope para que
os vereadores pudessem ter conhecimento da preferência dos cariocas sobre o
assunto. A pesquisa registrou que 88% da população queriam o Maracanã no
terreno do Derby Club, local que, por votação do legislativo municipal, fora es­
colhido finalmente.3
Familiarizado com o mundo da imprensa, sobretudo o do rádio, e com as
iniciais medições de audiência, Ary Barroso não teve dificuldades em imponar
para o campo político a lógica da aferição das preferências de consumo dos
produtos oferecidos por jornais e rádios. Não é possível afirmar que o notável

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est"dos históricos e 2003 - 3 /

compositor tivesse plena consciência da significação de seu ato. Entretanto, é


lícito pensar que a ação do vereador Ary Barroso colocava em suspenso a idéia de
representação parlamentar, ou seja, indicava, ainda que indiretamente, o fato de
os representantes da população não conhecerem ou mesmo não procurarem co­
nhecer a verdadeira vontade de seus representados. Pois, a grande maioria dos
representados, recorrentemente evocada nos discursos dos representantes, era
mantida bem distante dos círculos de produção dos bens políticos, portanto res­
trita ao papel de eleitor/consumidor, devendo escolher os produtos políticos
(problemas, plataformas, manifestos, projetos, candidaturas e campanhas) ela­
borados pelos produtores políticos (partidos, homens de parrido e, na época,
também o jornalismo político), prática comum no campo político de uma demo­
cracia parlamentar representativa, como observa Bourdieu (1989: 173-4).
Mas o nome e a função do Ibope começariam a ganhar maior visibili­
dade no âmbito político-eleitoral com a apuração oficial dos votos depositados
pelos paulistanos nas urnas em 1953. Os resultados oficiais demonstravam a
vitória de Jânio, com 284.922 votos, contra Cardoso, com 115.055, Nunes Júnior,
com minguados 18.663, e Orriz Monteiro, com inexpressivos 3.756, índice que o
posicionava abaixo dos votos brancos (4.374) e nulos (6.350)4 As percentagens
dos sufrágios confirmavam a exatidão da prévia eleitoral divulgada pelo Ibope,
pois Jânio obtivera 65,8% do total de VOIOS, Cardoso, 26,6%, André Nunes, 4,3%,
e Orriz Monteiro, 0,9%.1
Desde meados dos anos 1940 e começo dos 1950, era comum alguns
jornais e rádios divulgarem prévias eleitorais, que, no entanto, eram resultames
de enquetes jornalísticas e não de pesquisas de opinião pública, uma vez que
careciam de metodologia adequada para tanto. O Diário de S. Paulo, de
propriedade de Assis Chateaubriand, destacava-se como um dos órgãos da
imprensa paulista que mais se empenhavam em publicar prévias eleitorais,
revelando sua intenção em disputar com chefes políticos e líderes partidários a
função de prognosticar os resultados eleitorais.6 Com o fim do Estado Novo, a
disputa pela legitimidade de prever resultados eleitorais seria acentuada entre
homens de parrido e imprensa, pois chefes e lideranças partidárias, acostumados
a ser tomados como os legítimos intérpretes da vontade dos seus representados,
não estavam dispostos a compartilhar com os profissionais e órgãos da imprensa
o papel de oráculos contemporâneos da política, cuja função não se limitava a
prever apenas o futuro mais próximo - as tendências e1eitorais-, mas também o
mais longínquo - o destino político.
Embora não fosse percebido pela maioria do eleitorado, o comprometi­
mento de órgãos e profissionais da imprensa com forças políticas e candidaturas
era conhecido por grupos políticos e setores sociais mais instruídos intelectual­
mente, realidade que levava estes a definir as prévias eleitorais da imprensa como

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Pela legitimidade de prever

meras peças de propagandas partidárias ou de candidaturas. Afinal, as técnicas


de propaganda eleitoral, longe de atingir o grau de sofisticação atual, cada vez
mais se revelavam originais e criativas, pois desenvolviam práticas desconheci­
das ou pouco aplicadas durante a Primeira República e o Primeiro Governo V ar­
gas, como a criação dejil1gles,slogans, símbolos de candidaturas, amplo e prepa­
rado material fotográfico sobre campanhas, matérias pagas redigidas e elabora­
das na forma de reportagem jornalística,canas de apoio subscritas por personali­
dades e boletins oficiais de partidos. Deve-se considerar também que as propa­
gandas,tanto comerciais quanto eleitorais, eram criadas, geralmente, por órgãos
ou profissionais da imprensa, uma vez que no período era ainda incipiente a
divisão do trabalho entre imprensa e agências de propaganda, como comenta
Oniz (1991: 84). Foi nesse quadro, portanto,que o prognóstico preciso do Ibope
sobre os resultados da eleição paulistana de 1953 representara um firme passo
para a redenção e qualificação da pesquisa de opinião pública na seara políti­
co-eleitoral.
Se, de um lado, o resultado eleitoral obtido por Jânio fora proclamado,
pelas forças políticas que o apoiaram, como "a revolução de 22 de março", "a re­
volução branca" e "a revolução pelo voto", em alusão à derrota eleitoral imposta
pelo nascente janismo às forças situacionistas do estado, ao ademarismo, geru­
lismo e comunismo,por outro, ele servia também para anunciar aos tradicionais
agentes do campo político nacional- partidos e homens de partido - e aos mais
novatos-a imprensa, sobretudo o jornalismo político-que um novo agente pro­
curava se posicionar firmemente na disputa pela legitimidade de prever as pre­
ferências do eleitorado. Ao prever com exatidão a chamada "revolução pelo vo­
LO", o Ibope dava provas da precisão, em ambos os sentidos que o termo suscita,

do produto político que oferecia.

"Não se desespere, fâl/io "em aí", apesar da falira do !bape

Antes do final de 1953, os partidos de São Paulo já se ocupavam com a


sucessão governamental do ano seguinte. A candidatura de Jânio já era cogitada
no interior tanto do PDC quanto do PSB. Em janeiro de 1954, no entanto,o PDC
rompia com Jânio, pois este não aceitara um democrata cristão para companhei­
ro de chapa (Busetto, 2002: 1 10-2). Em maio de 1954, o PSB homologou a can­
didatura de Jânio, porém sob resistência de sua ala mais ideológica (Hecker,
1998: 169-70). Jânio receberia ainda o apoio do PTN e, mais próximo ao pleito,
de uma ala do PTB, liderada por Ivete Vargas.
Mais outros três candidatos se apresentaram à disputa. O deputado
estadual Wladimir de Toledo Piza, cuja candidatura foi homologada pelo PTB
paulista, que lançara também à vice-governança o vice-prefeito de São Paulo,

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estlldos histúricos. 2003 - 3 J

Porfírio da Paz. Logo, Jânio e Porfírio passariam a ser proclamados, tanto por
petebistas quanto por janistas, como a "dobradinha perfeita" para o governo.
Não demorou muito e a candidatura de Piza seguiu apoiada por inexpressiva ala
do PTB, comandada por Danton Coelho e pelos comunistas (Benevides, 1989:
53-9). Com a reafirmação de sua liderança no PSP e a expulsão de Garcez das
fileiras pessepisras, Adhemar foi lançado candidato pelo seu partido e recebeu o
apoio de uma pequena ala petebista (Sampaio, 1982: 84). A candidatura do
engenheiro Prestes Maia, nascida no seio das forças ligadas a Garcez, fora
apoiada por grande coligação (PSD, PRP, PL, PR, UDN e PDC) e por uma ala do
PTB comandada por Ataliba Leonel (Benevides, 1989: 54-5).
Em meados de 1954, a sucessão para o governo paulista já se encontrava
polarizada entre as candidaturas de Adhemar e Jânio. Adhemar necessitava da
vitória eleitoral para posicionar-se melhor na disputa pelo poder, pois o
ademarismo se encontrava afastado da prefeitura de São Paulo, após a vitória de
Jânio, e do executivo paulista, devido ao rompimento de seu líder com Garcez.
Sem programa definido, Jânio complementava o seu "tostão contra o milhão"
com a proposta de "varrer ratos, ricos e reacionários da política paulista" e com
um novo lema: "Não se desespere, Jânio vem aí".7 O janismo lutava para crescer,
sobretudo no interior paulista, dado que essa parte do estado era notadamente
um reduto eleitoral de Adhemar. A correlação de forças entre ademarismo e
janismo foi explorada pela campanha de Prestes Maia. Esta investiu numa
propaganda em que atacava constantemente a candidatura de Adhemar e
defendia a idéia de manter, para "o bem de São Paulo", Jânio e Porfírio no
executivo paulisrano, alegando que o eleitor que votasse na chapa janista estaria
ajudando a Adhemar, uma vez que Prestes Maia estava mais bem posicionado
para derrotar o líder do ademarismo do que a liderança máxima do janisl11o.s
A campanha eleitoral paulista de 1954 não foi marcada apenas pela
disputa entre ademarismo e janismo, mas também pela acirrada concorrência
entre a imprensa, institutos de opinião pública e líderes políticos na luta pela
definição do agente que seria mais qualificado para prever as tendências
eleitorais. O ótimo desempenho do lbope na campanha paulistana de 1953
integrava a pauta de preocupações dos homens de partido e profissionais da
imprensa. Os jornais e rádios passariam a se ocupar mais intensamente com a
divulgação dos seus prognósticos eleitorais. De maneira diferente dos dias
atuais, os institutos de opinião pública e a imprensa divulgavam os resultados de
suas sondagens sobre as preferências do eleitorado no período mais próximo à
data dos pIeitos.
Em matéria intitulada "As possibilidades dos três candidatos", publi­
cada na véspera do pleito de J 954, O Estado de S. Paulo, apoiando Prestes Maia,
divulgava os resultados parciais de uma primária prévia eleitoral: "Capital: 10
lugar-PRESTES MAIA-Jânio Quadros; 2" lugar-Adhemar; 3" lugar-(muito

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Pela legitilllidade de prel'er

abaixo) Piza. Estado (Total): l° lugar- PRESTES M AI A; 2° lugar- Adhemar; 3°


lugar- (bem abaixo) Jânio; 4" lugar-(muitíssimo abaixo) Piza". E in formava que
proporcionaria ao público "as cifras finais e precisas" de um levantamento da inten­
ção de voto, embora pudesse adiantar as porcentagens aproximadas deste, uma vez
que, segundo o jornal, os números sofreriam "pequenas alterações de detalhes". Sem
informar a metodologia que fora aplicada à sondagem, a matéria divulga o prog­
nóstico: "No Estado: PRESTES MAIA- 35%; ADHEMAR-31%; Jânio - 25%;
Piza -5%; indefinidos ou hesitantes -4%".9
Ocupado com a sucessão nos II estados que realizariam eleição para o
governo, um artigo da revista O Cl1Izeiro, pertencente a Assis Chateaubriand, ao
tratar do caso de São Paulo, enfatiza a dificuldade de se chegar a um prognóstico
seguro. Sobre Prestes Maia, considera que, "apoiado pelo Governador e pela
mais poderosa concentração de partidos, ganharia certamente se os partidos
tivessem influência definida sobre o eleitorado", e julga que o candidato tinha "a
seu favor ser um nome largamente conhecido e respeitado" e que contra ele
pesava "a campanha mais dinâmica dos seus adversários e a falta de confiança na
sua vitória por parte do PSD". Sobre os dois políticos populistas, comenta:
"Adhemar considera-se vitorioso, baseado no largo prestígio do seu nome nos
meios populares de São Paulo, mas pela primeira vez encontrou ele, na pessoa de
Jânio, um adversário que se socorre das mesmas armas demagógicas para a defesa
de princípios opostoS". E conclui: "Adhemar está assim em face da tendência das
massas para a renovação e essa renovação é traduzida na figura do Prefeito. Jânio
tem contra si a ausência de organização partidária". Apesar dessas
considerações, o artigo exibe, num quadro e com destaque, o nome de Prestes
Maia como o favorito na disputa paulista,10 sem contudo informar qual recurso a
revista teria utilizado para chegar a esse resultado.
Já a Rádio Record, então uma das mais ouvidas em São Paulo, transmitia
pelas suas ondas e publicava nos jornais, em 2 de outubro, O seu prognóstico
eleitoral:

TOTAL GERAL NA CAl'ITAL: (FINAL) TOTAL GERAL NO INTERIOR

Para Governador Votos % Para Governador Votos %

Jãnio Quadros 9.560 47,4 Adhemar de Barros 4.135 35,0

Adhemar de Barros 5.532 27,S Jânio Quadros 3.455 29,0


Prestes Maia 3.990 19,8 Prestes Maia 3.386 28,0

Gal. Leônidas Cardoso 299 1,5 l-Jugo Borghi 349 3,0

Hugo Borgbi 191 0,8 Gal. Lcônidas Cardoso 113 I, I

\YI. Tbledo Piza 98 0,5 W. Tolcdo Viz3 108 1,08


Indecisos 305 1,5 Indecisos 96 0,8

Em Branco 185 1,0 Em Branco11 214 2,1

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estudos históricos. 2003 - 31

Pode-se observar que na prévia constam as candidaturas de Hugo


Borghi e do general Leônidas Cardoso, ambas, entretanto, retiradas da disputa
durante a campanha. Apesar de informar o percentual dos indecisos, a matéria
da rádio não comenta se tal categoria era uma alternativa constante num
questionário, se os entrevistados assim se declaravam ou se nesse campo estavam
considerados os que não responderam. A ausência dessa informação permite
especular que a emissora evitou tratar das complicadas "não respostas", pois,
como define Bourdieu (1990: 226), estas são "a chaga, a cruz e a miséria" das
pesquisas de opinião pública, cujos realizadores sempre "tentam por todos os
meios reduzi-las, minimizá-las e mesmo camufiá-las", afinal elas dimensionam
o desinteresse ou a desinformação dos entrevistados sobre assunto julgado
relevante pelos que encomendam a pesquisa.
Em 3 de outubro, a Rádio Record divulgava em sua programação e
publicava noS jornais uma síntese da sua pesquisa, cujos resultados, com base na
média ponderada entre o colégio eleitoral do interior e o da capital, indicavam a
vitória de Jãnio, mas com uma margem bem apertada de votos, ou seja, o janismo
venceria o ademarismo por uma diferença de 18.560 votos. II Embora tal resul­
tado fosse hoje classificado como "empate técnico", naquele período esse termo
não era ainda utilizado, pois a expressão somente seria difundida pelo Ibope
bem mais tarde.
Novos institutos de opinião pública passavam a investigar as intenções
de votos dos paulistas. Em amplo espaço das páginas dos jornais eram publi­
cadas matérias pagas contendo resul tados de prognósticos eleitorais da Empre­
sa Paulista de Informações (Epil) e do Instituto de Pesquisa e Estatística (Ipê).
Ocupada com a divulgação de dados de uma pesquisa de imenção de vo­
tos realizada pela Epil, uma matéria paga, publicada na antevéspera do pleito, di­
vulgava, num terço de página de jornal, uma prévia eleitoral. A chamada da ma­
téria é composta pela frase: "ADHEMAR NA FRENTE-NA CAPITAL E NO
INTERIOR". O restame da folha contém texto e quadros ocupados com dados
sobre o levantamento:

PREVISÃO POLÍTICA

No Interior do Estado - Os dados abaixo se referem a


uma prévia eleitoral de várias zonas do interior do Estado, realizada
pela Epil, desde o dia 25/08, até a presente data, com um total de 5.000
entrevistas, distribuídas de acordo com a técnica de pesquisa do Dr.
Gallup. Embora retificando os já publicados, os índices do interior es­
tão sujeitos a uma pequena margem de erro, motivo não ter sido possí­
vel abreviar o tempo que durou o seu levantamento.

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Pela legitilllidade de prel'er

ÍNDICE
CANDIDATO
TOTAL

Adhemar de Barros 41,00/0

Prestes Maia 33,0%1

Jânio Quadros 18,()I}p

Wladimir To\cdo Pi7.a 2,5%

Não opinaram 5,5%


TOIal 100,0010

Na capital de São Paulo - Os dados abaixo fazem parte


de uma prévia eleitoral feita pela Epil, na Capital, nos dias 27 a 29 de se­
tembro de 1954. Foram entrevistadas 3.000 pessoas de acordo com a téc­
nica exigida pelo sistema de amostragem.

,
ÍNDICE
CANDIDATO
TOTAL
Adhemar de Barros 40,0%

Jânio Quadros 32,()O/Q

Prestes Maia 23,0%

Wladimir Toledo Piza 2,<1'10

Nâo opinaram 3,0%

TOlal 100,0%

Conc1 usões - Considerando-se os contigentes eleitorais


da Capital e do Interior e de acordo com as porcentagens acima encon­
tradas, calculando-se uma abstenção de 40%, teremos os seguintes resul­
tados finais para as eleições de 3 de outubro. Estes dados poderão ser
confirmados ou ligeirameOle modificados por imprevistos de última
l3
hora
Como pode ser observado, a matéria é elaborada de modo a fornecer vá­
rias informações, com O objetivo de definir o levantamento da Epil como cientí­
fico e isento. Pode-se afirmar que o autor da matéria paga buscava salientar, indi­
retamente, a adoção pela Epil dos mesmos procedimentos de pesquisa utilizados
pelo Ibope e distinguir a sua prévia eleitoral das oferecidas pela imprensa. Con­
tudo, a forma da matéria permite ainda considerar que os resultados da sonda­
gem da Epil foram utilizados para compor uma peça da propaganda ademarista,
pois, antes de destacar o nome da empresa de sondagem e a qualidade de sua pré­
via eleitoral, o que se observa é o amplo destaque dado à síntese do resulLado da
pesquisa prevendo a vitória de Adhemar, tanto entre o eleitorado do interior,
identificado nos meios partidários e da imprensa como mais propenso a votar

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estlldos históricos e 2003 - 3 1

naquele candidato, quanto entre o da capital, tomado por políticos e jornalistas


como bem mais receptivo a Jânio.
Matéria paga ocupada com a divulgação dos dados da pesquisa realizada
pelo Ipê difere da ocupada com os resultados da Epil. Publicada na véspera do
pleito e estampada na metade de uma página de jornal, a matéria tem como cha-
-

mada não uma afirmativa, mas uma pergunta: "ADHEMAR, JANIO OU


PRESTES MAIA?". E traz cinco quadros, ocupados em apresentar os resultados
da sondagem sobre as intenções do voto paulista para governador e vice-gover­
nador, tanto no interior quanto na capital, e a variação destas entre junho e
setembro de 1954. De maneira nada usual para a época, fornece outros quadros
contendo dados sobre as preferências partidárias, as candidaturas à presidência
da República e os nomes de políticos, cujos resultados são bastante favoráveis a
Adhemar e ao seu partido.
No preãmbulo da matéria, redigido na forma de reportagem, há infor­
mações sobre as técnicas utilizadas na pesquisa, fornecidas pelo diretor do Ipê,
Roberto Jorge Albano. Ele salienta que a pesquisa fora realizada "segundo mo­
dernos e experimentados métodos empregados com êxito, em diferentes oportu­
nidades, no exterior".
Sobre a metodologia aplicada à sondagem, destaca: "Antes efetuamos
-

duas pesquisas básicas com as finalidades de estabelecer as Areas de Conheci-


mento e Ignorãncia do fato pesquisado - as eleições - e o estudo da Opinião PÚ­
blica em face dos problemas que carecem de solução urgente e os homens que
seriam capazes de resolvê-los". E complementa tal informação: "Somente de­
pois, foram planejados os questionários, levando-se em conta o objetivo não só
de fixar a opinião dos entrevistados, mas também a atitude e o comportamento
dos mesmos nas eleições passadas". Sem se esquecer de enfatizar que os dados
da pesquisa tinham sido obtidos por meio de 28.056 entrevistas pessoais, efe­
tuadas por profissionais especialmente treinados e com o emprego do "Método
-

de Amostragem de Area Representativa, determinada pela fórmula de núme-


ros equiprováveis 'Random Number', sendo o campo de pesquisa, por sua vez
selecionado pelo sistema de 'Clusters' (agrupamentos), técnica que se distin­
gue das demais formuladas pela ausência de julgamento pessoal ou seleção pré­
via" .
Na matéria, porém, nada é divulgado sobre o levantamento prévio dos
problemas que eram definidos como " carentes de soluções urgentes" e dos no­
mes de políticos que teriam sido indicados para resolvê-los. Ausências que de­
notam o fato de a matéria ter publicado apenas parcialmente os resultados da
pesquisa do Ipê. Sobre a preferência dos eleitores para o cargo de governador,
os resultados da pesquisa do Ipê são dispostos primeiramente em dois qua­
dros:

136
Pela legitimidade de prcl/cr

RESUMO INTERlOR PARA GOVERNADOR DO ESTADO­


E CAPITAL CAPITAL
Governador Período PM. ).Q. A.H. Indcc:.

Adhemar 3 4,4 37,7 01110-6 35,4 28,2 26,3 1,6


Prcstes Maia 16,8 21,3 1l1lS-6 33,0 24,8 26,8 3,0
Jãnio 32,2 17,2 18124-6 32,4 29,8 24,8 1, 2
Outros 1,0 24/30-6 33,6 25,4 26,8 1,4
Em Bran co 30107-7 33,2 30,0 26,3 3,0
Não vowriam 08/15-7 34,0 29,4 24,4 7,2
Indecisos I 15m-7 36,0 23,4 26,4 8,4
23130-7 31,6 22,6 33,8 7,0
01/09-8 22,2 34,8 31,4 3,4
09/21-8 26,9 35,8 26,9 6,2
19125-9 16,8 32,2 34,4 1,6

Logo abaixo, a matéria apresenta duas interpretações sobre os dados. A


primeira considera que "a intensificação da campanha, na pane referente aos
ataques e acusações pessoais, resultara na consolidação ou fortalecimento da
simpatia dos acusados ao mesmo tempo em que crescia a percentagem de indeci­
sos". Os ataques mencionados se referem aos recebidos por Adhemar, cuja can­
didatura era criticada com base em denúncias de corrupção e da polêmica com­
pra de carros, supostamente doados a afiliados e parentes, durante o seu governo.
E a segunda encerra uma arriscada conclusão: "Não obstante o crescimento da
percentagem de indecisos, não há possibilidade de alteração no resul- tado do
pleito. Tal a vantagem que apresenta o candidato AB em relação aos demais.
Essa alteração só seria possível na Capital, onde é sensivelmente reduzida a
margem de preferências de AB em relação a JQ". Um terceiro quadro demons­
tra o desempenho das candidaturas entre o eleitorado de 21 municípios do in-
tenor:

No final da matéria, consta uma conclusão geral, elaborada com vistas a


reafirmar o caráter científico, salientar a isenção política e informar a margem de

PARA GOVERNADOR DO ESTADO


Municipio A.R. P.I"\. ).Q. Município A.R P.M. ).Q.
Araçatuba 40,0 25,6 22,4 Pn:sidcnlc Prudente 50,0 26,5 10,8
Araraqu3ra 48 ,O 12,0 12,7 Ribeirão Preto 30,0 17,0 11,5
Barretos 32,8 17,6 16,0 Santos 37,5 19,7 19,8
Bauru 37,5 17,3 25,1 São Caetano 43,6 24,0 29,2
Bragança Paulista 25,6 32,8 6,4 Santo Andr": 34,0 23,2 11,2
Campinas 25,7 22,7 30,3 S. J. do Rio Prelo 27,5 15,5 10,5
Franca 36,8 16,8 13,6 Sorocaba 47,5 15,5 14,5
JUlldiaí 42,0 30,0 10,7 l:lUbatc 42.4 27,2 18,4
Lins 48,8 21,6 24,0 Tupã 44,8 ,
304 16,0
Marília 48,S 27,0 16,0 Soma/Illlcrior 38,0 21,9 15,2
Mogi das Cruzes 33,3 26,7 18,0 Capi tal 34,4 16,8 32,2
PirJcicaha 37,7 17,3 2-1,0 lillal Geral 37,7 21,3 17,2

/37
estudos históricos - 2003 - 31

erro do prognóstico eleitoral, que não deveria ir "além de 1,7%, a mais ou a me­
nos, em relação ao pleito".14
Embora os resultados da pesquisa do Ipê fossem bastante positivos à
candidatura e à pessoa política de Adhemar, esse dado não é suficiente para
definir a matéria como peça da propaganda ademarista. Entretanto, ao consi­
derar a omissão do conrigente de indecisos no quadro ocupado com a prefe­
rência eleitoral nos municípios do interior, a inexistência nesse quadro de
percentuais de entrevistados que votariam em branco ou nâo votariam, e o
mesmo se repetindo na parte do primeiro quadro ocupado com a capital,
pode-se afirmar que a matéria era fruto da campanha ademarista. Apesar do
supOSto cuidado do autor para evitar que a matéria deixasse vazar qualquer
pista que pudesse identificá-Ia com alguma candidatura específica, a ausência
daqueles dados pode ser interpretada como manipulação dos resultados da
pesquisa do Ipê. Pois, dessa forma, a matéria forjava a idéia de que os eleitores
das principais cidades do interior, tal como os paulistanos, não tinham inten­
ção de votar em branco ou de deixar de votar e, mais ainda, reforçava a noção
de que a maioria dos eleitores interioranos já se tinha decidido pela candida­
tura de Adhemar.
Não sem grande ansiedade, líderes políticos, partidos e imprensa aguar­
davam pela divulgação dos resultados da pesquisa do Ibope. No dia 10 de outu­
bro, os resultados parciais da pesquisa do instituto sobre a preferência eleitoral
dos paulistas eram publicados nas páginas dos jornais A Gazela e O Dia, este
ligado a Adbemar. Correspondentes à intenção de VOlO dos eleitores dos princi­
pais municípios das diferemes regiões do interior paulista, os resultados do
levantamento do Ibope eram apresentados por localidade e apontavam, no côm­
puto geral, a vitória folgada de Adhemar sobre os demais adversários.
Porém, no dia seguinte, quando da divulgação da parte conclusiva da
pesquisa do Ibope contendo a preferência dos eleitores da capital, cujos resulta­
dos, que apomavam a vitória de Adhemar com mais de 90 mil votos sobre Jânio,
eram publicados nos jornais O Dia e Folha da Mallhã,15 a primeira página da
edição de O Estado de S. Paulo anunciava com destaque: "Vendido por 5 milhões
o inquérito do Ibope". Tratava-se de denúncia do radialista e publicitário J.

Antonio D'Avila, o qual informava que, na qualidade de dirigente da campanha


Prestes Maia, fora procurado por um representante do Ibope para a venda, pela
quantia anunciada na manchete, de resultados de pesquisa que teriam sido rea­
lizadas no interior paulista, apontando Prestes Maia como o vencedor indiscutí-

vel na quase totalidade da região. Ainda segundo D'Avila, o representante do


instituto teria fornecido, a título de ilustração, dados sobre a preferência do elei­
torado de Taubaté extremamente favoráveis à candidatura Prestes Maia. Porém,

138
Pela legitimidade de prever

após a recusa do Comitê de Prestes Maia à oferta do Ibope, o que se veria era a

completa inversão da informação recebida por D'Avila. Dado suficiente para o


denunciante julgar que o Ibope manipulara a sua investigação mediante a venda
de seus serviços a Adhemar.16
A Gazela, sob o impacto da denúncia, deixou de publicar o prognóstico
final do Ibope e atacou acidamente as sondagens eleitorais:
Se quisermos conhecer o ponto de vista dos cidadãos
numa fila de ônibus e desejarmos que esse ponto de vista seja favorável a
um determinado candidato, será fácil atingir o objetivo. Basta que para a
fila sejam mandados correligionários seus. Por isso devemos esperar o
veredicto do povo. Só esse não é falível, porque no regime democrático
tem-se a liberdade de opinar. As consultas podem ser feitas ao sabor dos
encarregados de fazê-Ias. São, por isso mesmo, destituídas de qualquer
slgm
. ·fiIcaçao.17
-

Abenas as urnas e apurados os votOS, os resultados oficiais apontavam


Jânio como eleito, entretanto com uma vantagem de menos de 1% sobre os su­
frágios recebidos por Adhemar, pois esses obtiveram, respectivamente, 660.264
VOtos (34,2% do total de votos) e 641.960 (33,3%), contra 492.518 (25,5%)
conquistados por Prestes Maia, 79.783 (4,1 %) recebidos por Piza e 55.206 (2,9%)
votos brancos e nulos.18
As sondagens eleitorais da Epil, do Ibope e do Ipê e as prévias eleitorais
da imprensa falharam - exceto a da Rádio Record - não apenas por terem pre­
visto erroneamente a vitória de Adhemar ou Prestes Maia, mas, sobrerudo, por
fornecerem índices de votação bastante diferentes dos apurados.
Finda a apuração do TRE, a Rádio Record divulgaria propaganda em
que se proclamava como o melhor órgão para realizar sondagens da opinião
pública, reafirmando o seu conhecido prefixo: "Rádio Record - A Maior". 19
Na luta pela legitimidade de prever as tendências eleitorais, os
resultados oficiais do pleito paulista de 1954 davam vitória à imprensa, repre­
sentada pela Rádio Record, e levantavam novamente uma pesada nuvem de
dúvidas sobre a qualidade e seriedade dos institutos de opinião pública. Se, de
um lado, os resultados do pleito não mais desesperavam os eleitores que aposta­
vam na candidatura de Jânio como a melhor alternativa política para o estado, de
outro, eles mantinham em alerta o ademarismo, janismo e Ibope. Adhemar vira a
confirmação da força do janismo. Jânio, embora saísse vitorioso do pleito, tinha
claro que o janismo apenas empatara eleitoralmente com o ademarismo. Mesmo
não tendo sido o único a errar no prognóstico eleitoral de 1954, o Ibope seria
colocado sozinho na berlinda.

139
estlldos históricos. 2003 - 3 /

Elltre alltigos e lIlodemos oráculos: CI call/prllllw cOlltra o [úape

Embora O Estado de S. Paulo tivesse sido o primeiro a denunciar as


supostas manipulação e venda dos resultados da pesquisa do Ibope, o jornal,
posteriormente, se manteria distante da campanha contra o instituto orques­
trada pelo Diário de S. Paulo. O jornal da família Mesquita apenas se dedicaria a
realizar ampla cobertura jornalística sobre a complicada apuração aliciaI dos
votos20
Os principais líderes políticos pareciam ter os seus interesses contrários
aos institutos de opinião pública satisfeitos com a comprovada falha do Ibope,
pois, salvo uma tímida manifestação do Comitê Eleitoral de Prestes Maia sobre o
assunto,21 nenhuma nota partidária fora divulgada contra o instituto.
Na sua ediçao de 6 de outubro, o Diário de S. Paulo retomava as denÚll-

cias de J. Antonio D'Avila contra o Ibope e trazia novos detalhes sobre o assunto.
Numa matéria intitulada "Desacreditado o Ibope para fazer inquéritos", o jornal

fornecia, com base nas declarações de D'Avila, a informação de que o instituto


teria oferecido, ao mesmo tempo, resultados favoráveis a Adhemar, Jânio e Pres­
tes Maia. Em entrevista, o radialista, que tinha sido funcionário dos Diários
Associados, relembra elementos da formação do Ibope e salienta o desvirtua­
mento do instituto,
fundado pelo Sr. Auricélio Penteado, que, desde o
primeiro dia, imprimiu ao instituto uma diretriz de trabalho honesto e
utilidade pública. Quando Fábio Montenegro substituiu Auricélio
Penteado na direção do Ibope, conlirmou e prosseguiu a obra de
seriedade e a serviço dos interesses do país, sempre deu a todas as
pesquisas que o instituto realizou um cunho altamente honesto e verda­
deiro. Perdendo os seus principais animadores, o Ibope deslizou verti­
calmente, perdendo o seu padrão de idoneidade. Mero instrumento de
especulação e "picaretagem", o instituto está desvirtuando as linalida­
des e a importância da consulta à opinião pública.
Sobre a acusação de o Ibope ter tentado vender resultados positivos de

suas pesquisas a três candidatos, D'Avila relata a seguinte versão do fato:


Soubemos que o Ibope teria enviado, há algum tempo,
carta a Jânio comunicando-lhe que a sua situação, no interior do Estado,
era muito boa e que ele poderia ser considerado eleito. Até aí, tudo bem.
Acontece, porém, que anteriormente um emissário do Ibope nos
procurara quando exercíamos a função de direção da propaganda da
candidatura Prestes Maia, informando que dispunha de uma pesquisa
que interessava à campanha. Disse que o Ibope realizara pesquisa no

/ 40
Pela 1C[,;itimid(/(le dc I,,·e,'cr

i nterior e na capital de São Paulo, verificando que Prestes Maia estava à


testa das cotações, figurando como provável vencedor. Este trabalho
custaria à campanha 5 milhões de cruzeiros. Evidentemente, a direção
da campanha não aceitou. E agora o terceiro episódio nessa comédia.
Horas antes do 3 de outubro, surgiu nos jornais um trabalho do I bope
dando como vitorioso nas e.leições Adhemar. Será possível isso? Afina.l,
o que é o I bope? Um instituto para pesquisar a verdade, a realidade, ou
ajustar os resu.ltados da pesquisa de acordo com as conveniências dos
pagadores? Se nos fosse dado usar de uma palavra de gíria diríamos que
o Ibope está avacalhado.
O radialista, entretanto, defende a utilidade e i mportância dos i nstitutos
de opinião pública e ressalta que o Ibope é que caminhava di stante dos
verdadeiros objetivos e sérios critérios necessários a órgãos de sua natureza.
Quanto à notícia da intenção do instituto em tomar medidas legais contra os seus
,

acusadores, D'Avil. não apenas assume a responsabili dade como desqualifica o


instituto para realizar sondagens da opinião púb.lica, tanto as pesquisas sobre
assuntos do mundo político-eleitoral quanto as sobre outros setores da vida
social e do mercado: "Disse e continuarei a dizer que o Ibope já não consulta
mais os interesses do país, em geral, e, particularmente, os do comércio, da
indústria e da agricultura. Não tem mais capaci dade para realizar, por
ineficiência de meios técnicos ou por falta de idoneidade, i nquéritos de opinião
pública" .Il
Em meados de outubro, o Diário passava a publicar uma longa série de
matérias que, sempre anunciadas sob o mesmo título - "Os dados falam por si ... "
-, objetivava demonstrar, "sem entrar no mérito da idonei dade moral ou
financeira" do Ibope e por meio do "cotejo entre as suas previsões e os resultados
oficiais", O que definia como "total incapacidade técnico-profissional" do
instituto p ara efetuar pesquisas de opinião pública. Assim, o jornal se propunha,
e realizou durante duas semanas, a publicação de "confrontos entre os resultados
do I bope e os oficiais de duas cidades do interior pesquisadas pelo instituto",
uma vez que vários municípios já tinham terminado a apuração oficial dos votos.
Nas matérias, publi cadas com destaque e compostas por quadros, eram
apresentadas e realçadas as diferenças entre os prognósticos eleitorais do I bope e
os dados do TRE, cujas disparidades se revelavam gritantes e podiam ser notadas
facilmente pelo leitorB
Com a aproximação do término da apuração oficial dos votos e a
proclamação dos resultados finais pelo TRE, a campanha contra o I bope
realizada peJoDiário de S. Paulo chegaria ao seu ápice, explicitando a intenção do
jornal em deslegítimar completamente a participação do instituto na disputa
pelo reconhecimento de prever e predizer as preferências da opinião pública. No

14/
estlldos históricos e 2003 - 3 J

dia seguinte à proclamação dos resultados finais pelo TRE, o Diário publicava
uma longa matéria redigida em termos muito próximos aos da matéria de 6 de
outubro. Porém, diferentemeOle dessa, a nova matéria, desde o seu título -"A
pedidos. A desmoralização do Ibope" - até a sua conclusão, revela, de um lado, a
intenção do jornal em forjar um clima de interesse geral pelo assunto e, de outro,
em classificar e julgar a natureza do erro cometido pelo Ibope. Segundo o
"veredicto final" do Diário, o equivocado prognóstico do instituto não era fruto
de falha ou incapacidade técnica e profissional, como cogitado anteriormente, e
sim de ralha moral. De maneira arbitrária, a matéria é assim concluída: "O pleito
iria dizer que as pesquisas do Ibope mereciam fé ou se eram forjadas, torcidas e
capciosas. E disse. Disse-o para a razão dos que acusavam de ser o instituto que se
aluga, que serve a quem mais der, que, acima da consulta franca e leal da opinião
pública, consulta os interesses monetários".
Entre os dias 23 a 28 de outubro, o D iário de S. Paulo publicaria cinco
longas reportagens que, contando com amplas chamadas nas primeiras páginas,
eram ocupadas com trechos da entrevista de Chacarian Sana-Khan, vidente ar­
mênio residente no país desde os anos 1 920. Embora o Diário não vinculasse di­
retamente essa série de reportagens à sua campanha de desmoralização do Ibope,
é lícito afirmar que ela integrava a sua tentativa de desqualificar e deslegitimar o
trabalho do instituto.
Na sua edição de 23 de outubro, o Diário publicava, na primeira página,
um longo resumo do que seria tratado na série de reportagens sobre as previsões
de Sana-Khan e na matéria daquele dia. O olho da matéria contém, entre outras,
as frases: "Sana-Khan profetiza: 'Três estrelas jupiterianas no destino de Jânio
Quadros'. Duas estrelas, que representam poder, já brilharam: falta a terceira. As
previsões estão se confirmando. Catete à vista". Publicada integralmente na
quinta página, a primeira reportagem informa que a entrevista de Sana-Khan
fora concedida durante "a madrugada do dia do pleito de 3 de outubro" ao
jornalista Walter Lobo. Inicialmente, o vidente se posiciona como "fora e acima
da política", discorre sobre a ambígua recepção de suas prev isões, sobretudo na
área política, e sua mestiça visão cósmica do mundo: ''Acredito também que
somos conduzidos pelo determinismo histórico, de acordo com a filosofia dia­
lética, ou, mais positivamente, pelo pré-determinismo cósmico, conforme a filo­
sofia profética".
Ao ser perguntado pelo jornalista se tinha alguma previsão sobre a
candidatura de Jânio, o vidente respondeu que tudo o que vinha ocorrendo na
vida política do candidato teria sido previsto em 1936, pois, nesse ano, lera a mão
de Jânio, então " um jovem e pobre estudante de 18 anos". Na ocasião, previra a
"predestinação política" de Jânio e que ele, apesar de sofrer "vexames policiais
provocados pelas suas idéias", conheceria em 1946 a sua primeira vitória, subiria

1 42
Pela legitimidade de prever

de novo em 1 950, e no ano de 1 953 "galgaria o primeiro dos três degraus jupite­
rianos, enfrentando três poderosos competidores". O jornalista in.., iste com o vi­
dente para saber o que significam os outros dois degraus jupiterianos. Com
linguagem obscura, repleta de alegorias e pouco inteligível, Sana-Khan retoma a
narrativa da visão que tivera ao ler a mão de Jãnio:
Jánio Quadros- montado num ginete cinzento escuro,
de 2 m de allUra e 1 ,5 de comprimenlO, sem apear, pela porta estreita, em
antigo solar de pedra situado no alIO da colina. Nessa ocasião, ostentara
cartola na cabeça, capa escura nas costas; na boca uma piteira de 18 em
de comprimento, dada por Juca PaIO, e, no dedo anular da mão esquerda,
quirologicamente chamado solar, uma chapa de ouro, à guisa de um
anel, bem ajustada, com a gravura das armas do Estado de São Paulo. A
seguir, o mesmo anel passara para o dedo médio (SalUrno) da mão
direi ta, tendo, agora, a gravura das armas do Brasil.
InsatisfeilO com a forma da narrativa, o jornalista pede, novamente,
mais esclarecimenlO ao mago, que responde com uma informação sobre a
natureza das profecias - "No profetismo, não há tempo, mas a visão fatalmente se
realizará" -, e uma tradução das alegorias: "O cavalo da visão era largo,
semelhante a um touro. O touro representa os meses de novembro para
dezembro. Significa também, pelos aSlrOS, o deus Júpiter. E Júpiter simboliza o
poder. Entrar por uma porta baixa e estreita significa a vitória de Jânio". Ato
contínuo, ao mago é perguntado: "Isso significaria que o Jánio vencerá o pleito
para os Campos Elíseos e depois tomará o Catete, forçando a silUação, numa
vitória difícil, pois o cavalo é largo e a pona estreita)". E o vidente responde
laconicamente: "O tempo vai dizer ! " . A reportagem é encerrada com a
afirmativa: "Com estas palavras (a interpretação é autorizada pelo vidente)
Sana-Khan deu-nos a entender queJânio irá para o Catete, depois de passar pelos
Campos Elíseos".24
As quatro outras reportagens do Diário envolvidas com a divulgação das
profecias de Sana-Khan não mais se ocupariam, pelo menos diretamente, com o
destino político de Jânio, mas com previsões sobre outras forças e agentes atuantes
na política e no destino político do país. A segunda reportagem, intitulada
"Crepúsculo da atuação política dos colaboradores de Getúlio", é ocupada com
uma longa descrição da "célebre visão" que Sana-Khan tivera ao ler, em 1 930, a
mão de GetúlioVargas, quando, além de antever vários falOS que se confirmaram
na trajetória política do consulente, previra também O seu "assassinato" durante
uma fulUra gestão presidencial. Visão que, segundo o vidente, nunca tinha sido
divulgada antes. A matéria é concluída com uma profecia sobre o fim do
getulismo: "A era getuliana durará um ciclo saturniano 'nadírico' - 29 anos e 168
dias - para seguir novo ciclo saturniano, porém, áureo ou prometeano. Quer dizer

/43
eswdos históricos. 2003 - 3 1

que os homens que colaboraram no governo de GetúlioVargas conrinuarão a aLUar


na vida nacional até 1959- 1 960". E acresce mais uma: "O sucessor do presidenre
Café Filho, que será o quarto presidenre da 3' República, estará ainda cercado pela
influência dos mesmos homens que colaboraram comV argas e que terão o seu fim
no cenário político nacional, em 59-60".25
Já na terceira reportagem, cujo título era um trecho da profecia de
Sana-K han - "De São Paulo, em próximo lustro, sairá um presidente da Repú­
blica" -, é apresenrada mais uma previsão que, além de novamenre vaticinar o
fim do getulismo, profetizava o nascimento de uma nova fase da República
brasileira, característica do agente realizador da mudança e da eleição de um
político de São Paulo ao poder cenrral: "Será um gaúcho militar, levado,
pacificamenre, ã suprema chefia da nação pela Nova República - a república das
Abelhas, das Formigas e dos Tarus, a 4' República. Até lá, São Paulo dará, ainda,
um presidente, num próximo lustro" 26 Apesar da forma da previsão, o leitor não
necessitaria de nenhum poder sobrenatural para saber que a parte final da
profecia se referia a Jânio, afinal esta já tinha sido revelada na primeira reporta­
gem da série.
A quarta e a quinta reportagens lratam, respectivamente, da descrição
das previsões sobre a influência do famoso "Crime da Rua Toneleiros" no futuro
político nacional e a ocorrência de um fenõmeno místico e revelador no Brasil.
Ambas guardam em comum o rei aro de profecias bem mais soturnas, inclusive
envoltas em associações de nomes e faros ligados a Getúlio Vargas com a "Besta
do Apocalipse". Conrudo, são concluídas com revelações sobre o "fim da era
getuliana", que aliás nem era mais expresso pelo mago como uma previsão, mas
como um faro: "Sarurno, Marte, Lilith unidos nas trevas interplanetárias tra­
maram, para o Brasil, contra Getúlio Vargas e continuarão a tramar, até 1960,
contra todos aqueles que contribuíram, direta e indiretamente, na formação da
era getuJiana" 27
Pode-se afirmar que, com essa série de reportagens, o Diário de S. Paulo
procurava reforçar o senso comum de que em se tratando de prever o futuro nada
poderia substituir as profecias escudadas em manifestações do mundo
mágico-místico-religioso. A mensagem subliminar contida na série buscava
reafirmar que os oráculos tradicionais podiam expressar mensagens enigmáti­
cas, alegóricas e confusas; entrelanto, por serem da ordem do sobrenatural, eram
mais poderosos, estavam acima do bem e do mal e jamais erravam em suas
previsões, as quais sempre se concretizavam, ainda que sem data marcada previa­
mente. Logo, as formas tradicionais de prever o fururo eram bem mais eficazes
do que a previsão dos institutos de opinião pública, em termos gerais, e do Ibope,
em particular.
Pode-se cogitar que o alaque ao gerulismo e a previsão positiva sobre o
destino político de Jânio, apresenrados nas profecias noticiadas, talvez favore-

/ 44
Pela legitimidade de l'I"evel"

cessem os interesses políticos imediatos do proprietário do Diário de S. Paulo,


uma vez que os órgãos de imprensa de Assis Chateaubriand eram amplamente
utilizados a serviço dos propósitos políticos de seu proprietário. Porém, pode-se
afirmar que a campanha do Diário contra o Ibope atendia também aos interesses
econômicos e comerciais de seu proprietário, pois este não estaria disposto a ver
o crescimento e a consolidação de um instituto que mediria científica e constan­
temente as preferências dos consumidores sobre produtos oferecidos pelas em­
presas de comunicação em geral e, sobremaneira, pelas de seu amplo condomí­
nio empresarial na área. Sem dúvida, Chateaubriand tinha consciência do papel
que os institutos de opinião pública desempenhavam nos EUA e na Europa oci­
dental ou, ainda, tinha clareza do poder que as empresas de sondagens poderiam
adquirir no mundo dos meios de comunicação de massa. Assim, não por acaso, o
Diário concentrou toda a sua munição contra o maior, mais organizado e conhe­
cido dos três institutos de opinião pública atuantes na campanha eleitoral de
1954, ou seja, o Ibope, que, ademais, iniciara, em abril daquele ano, pesquisas
sobre a audiência da televisão.

Notas J/. Diário de S. Palllo, 02/1 0/1954.


/2. Diário de S. Palllo, 03/ 1 0/1954.
/3. Diário de S. Palllo, 1 "/1 0/1954.
/. O Estado de S. Palllo, 1 5/01 a /4. Diário de S. Palllo, 02110/1954.
22/03/1953.
/5. A Gazeta, 1"/10/1954; O Dia, 1 " C
2. Informações divulgadas na página 02/10/1954; Folha da Mallhã, 02/10/1954.
eletrônica do Ibope.
/6. O Estado de S. Palllo, 02 e 03/10/1954.
3. "Samba, fu tebol c um exaltado amor 17. A Gazeta, 02110/1954.
pelo Brasil", em Barroso (1982: 5).
/8. O Estado de S. Palllo, 22110/1954.
4. Diário de S. Palllo, 28/03/1953.
/9. Diário de S. Palllo, 27/10/1954.
5. Diário de S. Palllo, 28/03/1953 e
22/10/1954. 20. O Estado de S. Palllo, 06 a 22/10/1954.
6. Diário de S. Palllo, 0 1/03/1953. 2/. O Estado de S. Palllo, 1 5/10/1954.
7. Segundo peças de propaganda e 22. Diário de S. Pa lllo, 06/10/1954.
matérias políticas publicadas no D iário de
23. Diário de S. Pa lllo, 15 a 21/10/1954.
S. Paulo entre maio e outubro de 1954.
24. Diário de S. Pa lllo, 23/10/1954.
8. O Estado de S. POli lo, 1°/10/1954; 25/09
a 03/10/1954. 25. Diário de S. Palllo, 24/1 0/1954.
9. O Estado de S. Palllo, 02/10/1954. 26. Diário de S. Pa ulo, 26/1 0/1954.
/0. O emz';ro, 16/09/1954. 27. Diário de S. Palllo, 27 e 28/10/1954.

145
estllnos históricos e 2003 - 3 1

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