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4.

Programas e posições frente a problemas nacionais

Em geral, a campanha eleitoral foi monótona e entediante, com poucas


oportunidades para os cidadãos acessarem informações diversas, além dos anúncios
repetitivos que destacavam as virtudes ou defeitos dos candidatos. Pela primeira vez,
debates entre os principais candidatos foram permitidos pelo Tribunal Supremo de
Eleições, abrindo espaço para uma troca mais aberta de ideias e propostas.
Os partidos políticos buscaram posicionar-se ideologicamente. O Partido
Liberación Nacional (PLN) se apresentou como de centro, enquanto o Partido de Ação
Cidadã (PAC) procurou se posicionar como um herdeiro autêntico da tradição social-
democrata, e o Movimento Libertário tentou migrar para uma posição de centro-direita,
minimizando seu passado extremista.
Os planos de governo foram divulgados a partir de novembro de 2009 e o PAC
foi o primeiro a apresentar um documento de 107 páginas, focado em propostas
concretas sobre políticas públicas e participação cidadã. Em contrapartida, o PLN
apresentou um plano de 44 páginas, enfatizando segurança, bem-estar, emprego,
ciência, ambiente e relações exteriores, com continuidade nas ações do governo
anterior. O Movimento Libertário revelou um plano mais tardio, com ênfase em
segurança, forte contra a criminalidade e ativação de emergência nacional.
O tópico principal foi a segurança cidadã, seguido pela continuidade das
políticas da administração anterior e críticas de autoritarismo e corrupção, isto porque as
pesquisas mostraram um aumento notável na preocupação com a violência entre os
cidadãos.
Além disso, houve influência religiosa na campanha e uma proposta para
reformar a Constituição Política para eliminar referências a Deus foi inicialmente
apoiada por alguns deputados, mas enfrentou resistência da Igreja Católica e,
eventualmente, foi abandonada. A candidata Chinchilla se opôs à reforma,
aproximando-se de setores conservadores e demonstrando uma postura mais
conservadora em relação a direitos sexuais, uniões civis e questões religiosas.
Havia, na época, uma alta confiança na mídia, especialmente nos noticiários de
TV, enquanto um fator para as percepções e preocupações elevadas com a criminalidade
e a segurança.

5. Regras eleitorais e financiamento da campanha


Em 11 de agosto de 2009, um novo Código Eleitoral foi aprovado, tornando-se
efetivo em 2 de setembro. A nova regulamentação introduziu algumas mudanças, mas,
em sua essência, não alterou as regras estabelecidas para a eleição do presidente, vice-
presidentes e deputados. Entre as novidades, destacam-se:
 Garantia de inclusão das mulheres nas listas de candidatos em eleições
populares, através do mecanismo de alternância por gênero nas cédulas,
assegurando a paridade de gênero como um direito político fundamental;
 Habilitação do voto dos cidadãos que residem no exterior;
 Estabelecimento de novos dispositivos para controlar o financiamento dos
partidos, buscando maior transparência na captação e na gestão dos fundos.
Embora tenha sido eliminado o limite de contribuições de cidadãos nacionais, o
aporte de estrangeiros e de pessoas jurídicas (empresas) foi proibido. Manteve-se o
apoio financeiro estatal às campanhas eleitorais, mas foi reduzido de 0,19% para 0,11%
do produto interno bruto, com a possibilidade de um pagamento adiantado de 15% aos
partidos. Individualmente, a aceitação de doações e contribuições a políticos ou
candidatos foi proibida, devendo, doravante, ser canalizada através do tesoureiro do
partido.
Neste contexto, o Tribunal Supremo de Eleições (TSE) viu aumentar suas
competências, estabelecendo novas sanções para as violações ao Código e para os
delitos de natureza eleitoral.
Adicionalmente, o novo Código alterou a data das eleições para a escolha de
prefeitos municipais, vereadores, síndicos e membros dos conselhos distritais e
municipais, com seus respectivos suplentes. A partir de 2014, a eleição dessas
autoridades passou a ocorrer no primeiro domingo de fevereiro, dois anos após a eleição
para presidente, vice-presidentes e deputados da Assembleia Legislativa.
Embora o novo Código tenha sido testado nas eleições de fevereiro de 2010,
foram detectados alguns problemas no que diz respeito ao controle do financiamento
dos partidos. Por um lado, as proibições estabelecidas poderiam ser burladas usando a
emissão de títulos, uma vez que o TSE, em uma resolução posterior, deixou a porta
aberta para que as sociedades anônimas pudessem fazer doações aos partidos ao
permitir a compra de títulos ou "certificados de cessão". Por outro lado, para os partidos
menores, a possibilidade de receber adiantamentos foi reduzida, uma vez que para
acessar esses recursos, deviam apresentar garantias líquidas suficientes que poderiam
ser oferecidas somente a entidades do Sistema Bancário Nacional.
A experiência acumulada nas eleições de 2010 provavelmente levará a
Assembleia Legislativa a revisar o financiamento dos partidos, o controle pelo Tribunal
e os mecanismos de eleição de deputados e autoridades municipais.

6. Evolução e tendências nas pesquisas de opinião

Ao longo de 2009 e início de 2010, foram realizadas várias pesquisas que, como
era de se esperar, às vezes apresentavam resultados contraditórios, especialmente nas
semanas que antecederam o dia das eleições.
Uma pesquisa conduzida pela empresa UNIMER, entre 9 e 15 de setembro,
pouco antes do início oficial da campanha eleitoral, com uma amostra de 1.220 pessoas,
indicou que a candidata do PLN reunia 55% das preferências entre os eleitores
prováveis. O candidato Ottón Solís contava com 13% de apoio, e o libertário Otto
Guevara, com 11%. Dos entrevistados, 76% eram prováveis eleitores, enquanto 24%
indicavam que possivelmente não votariam. No entanto, essa mesma pesquisa destacou
que apenas 25% dos entrevistados demonstravam estar decididos a votar e tinham
preferência definida (La Nación, 24 de setembro de 2009).
À medida que a campanha se desenrolava, as pesquisas começaram a revelar um
notável aumento na simpatia por Otto Guevara, enquanto a candidata Chinchilla
mantinha-se estável, com uma tendência de queda, e Ottón Solís permanecia muito
abaixo dos outros dois candidatos. A pesquisa realizada pela UNIMER entre 23 e 26 de
novembro mostrou Guevara com um aumento significativo na preferência do eleitorado,
alcançando 34,1%, Chinchilla mantinha-se com 41,9% e Solís continuava em um
patamar inferior (La Nación, 16 de janeiro de 2010). No entanto, conforme as eleições
se aproximavam, a preferência por esses dois últimos candidatos se aproximava dos
percentuais indicados com base nessas pesquisas.

7. Resultados

O Presidente da Costa Rica e os dois vice-presidentes são eleitos por períodos de


quatro anos, pelo sistema de maioria: ganha as eleições o candidato ou candidata que
obtém o maior número de votos, desde que esse número seja igual ou superior a 40%
dos votos válidos emitidos. O voto é direto, e todos os cidadãos devidamente registrados
em todo o país têm direito de votar.
As eleições são organizadas e supervisionadas pelo Tribunal Supremo de
Eleições, uma entidade estatal que desfruta de autonomia em questões eleitorais. A
eleição de deputados é proporcional e realizada pelo método de quociente e
subquociente em sete circunscrições provinciais. Um sistema similar é usado para a
eleição das autoridades municipais: vereadores e síndicos.
Em 7 de fevereiro de 2010, compareceram às 6.617 assembleias de voto
instaladas em todo o país 1.950.847 eleitores. O registro eleitoral era composto por
2.822.491 eleitores, mas somente 69,1% das pessoas com direito de voto efetivamente
votaram. Apesar disso, a participação foi maior do que nas duas eleições anteriores, e a
abstenção situou-se em um nível semelhante ao de 1998, quando, pela primeira vez em
décadas, alcançou um valor muito acima de seu horizonte histórico. Como Ronald
Alfaro (2010:104) aponta, a expectativa da campanha era de uma abstenção em um
nível similar ou maior ao de 2006, mas a realidade foi diferente, sendo esta "a eleição
em que o maior percentual de costarriquenhos exerceu o direito de voto nos últimos 12
anos".
No entanto, é cedo para afirmar, como Alcántara (2009:2), que "a confiança foi
restabelecida e a sangria da abstenção foi interrompida, voltando aos índices de uma
década atrás". Será necessário esperar pelas eleições de 2014 para verificar essa
afirmação. O Quadro 1 apresenta os principais indicadores das últimas quatro eleições
presidenciais.

7.1 Eleições presidenciais

Nas eleições, a candidata do Partido Libertação Nacional, Laura Chinchilla, saiu


vitoriosa, obtendo surpreendentes 46,9% do total de votos válidos. Estes resultados
deixaram para trás seus concorrentes imediatos, Otón Solís e Otto Guevara, que
alcançaram, respectivamente, 25,1% e 20,9%. O restante dos votos se distribuiu pelos
outros seis partidos com candidatos à presidência, como pode ser observado no gráfico a
seguir.
Conforme demonstrado no quadro seguinte, o PLN venceu nas sete províncias
do país, algo que não ocorria desde as eleições de 1982. Recuperou o centro do país,
perdido nas eleições de 2006, e ganhou novamente nas províncias litorâneas, que
haviam garantido a vitória de Óscar Arias quatro anos antes, mas que votaram contra o
TLC no referendo. Foi uma vitória contundente e incontestável, não esperada nem
mesmo pelos colaboradores mais próximos da Presidente eleita.
O temor aos libertários, que se sentiram encorajados pelos resultados das
pesquisas de opinião, poderia explicar a origem de algumas das fontes de financiamento
para Chinchilla, mas também para Solís, que acabou em segundo lugar. Além disso, os
resultados de uma pesquisa telefônica realizada pelo Centro de Pesquisas e Opinião
sugerem que votantes não ligados ao PLN, nos últimos dias, decidiram votar em
Chinchilla, levando-a a ultrapassar a barreira de 40%. Entretanto, essa quebra do voto
favoreceu candidaturas de deputados de outros partidos.
Assim como na eleição de 2006, a pessoa do candidato ou candidata prevaleceu
sobre o partido. Segundo a pesquisa do CIEP, 59% dos entrevistados indicaram que sua
seleção foi feita considerando a pessoa, enquanto o fator "partido" determinou apenas
21,3% dos votos, conforme se pode observar no gráfico a seguir.
O fato de ser mulher desempenhou um papel importante na votação recebida por
Laura Chinchilla, conforme apontam os resultados da pesquisa mencionada. Vinte e
nove por cento das pessoas que votaram nela o fizeram por seus atributos pessoais,
18,3% por suas propostas de campanha e por ser mulher, 15,7%. Motivos relacionados
ao desempenho do governo e à continuidade das políticas representam apenas 13,8% do
total. Esses dados contradizem a afirmação de Óscar Arias e seus seguidores próximos
nos dias seguintes à eleição, segundo a qual a avaliação altamente positiva que os
eleitores fizeram de seu governo foi o fator determinante na vitória.
Em termos de volatilidade eleitoral, tanto nas eleições presidenciais como nas
legislativas, os resultados indicam uma situação muito diferente de 2006, conforme
pode ser observado no Gráfico 5, e uma semelhança com os de 1998, quando ainda
existia um sistema bipartidário. A partir de 1998, o sistema de partidos mudou,
estabelecendo um sistema multipartidário moderado, uma vez que o número de partidos
participantes nas eleições presidenciais começou a diminuir devido aos resultados fracos
obtidos. Em 1998, treze partidos participaram, em 2002 também treze, em 2006
aumentou para catorze e em 2010 reduziu para nove. Como demonstrado no Quadro 3, a
maioria dos votos tem se concentrado em três partidos. No entanto, nas eleições para
deputados e municipais, o número de partidos é superior, sendo que dez partidos
provinciais e trinta e quatro partidos regionais e locais não se refletem nas eleições
nacionais e têm um impacto limitado, que tem crescido, nos governos municipais.
7.2 Composição do Poder Legislativo

A contundência da vitória do Partido de Libertação Nacional (PLN) não se


refletiu nos resultados da votação para deputados, já que o PLN perdeu um assento em
comparação com o número alcançado quatro anos antes, devido a muitos eleitores terem
quebrado o voto. De acordo com a pesquisa mencionada do Centro de Pesquisas e
Opinião (CIEP), das pessoas que indicaram ter votado na chapa presidencial do PLN,
25% votaram em candidatos a deputados de outros partidos.
Da mesma forma, o fizeram 43,9% dos eleitores de Otón Solís, 43,8% dos que
votaram em Otto Guevara e 17,2% dos que votaram no candidato do PUSC. Segundo o
Tribunal Supremo de Eleições (2010), 24,1% dos eleitores alteraram sua seleção de
partido nas cédulas para presidente e as de deputados, ou seja, votaram de uma forma
para presidente e outra para deputados. Conforme pode ser visto no quadro a seguir, as
pessoas que votaram nos candidatos presidenciais do PLN e do PIN foram as que menos
quebraram o voto, enquanto nos outros partidos esse percentual chegou a 82%, como no
caso de partidos menores, como o Frente Amplio e a Alianza Patriótica.
Os percentuais são semelhantes no caso dos eleitores do PAC e do ML: quase
um quinto dos eleitores de Otón Solís e de Otto Guevara quebraram o voto. Essa troca
de votos resultou em uma Assembleia Legislativa dividida em cinco frações e três
representantes de um número igual de partidos, confirmando a tendência observada nas
últimas três eleições, de consolidação de um multipartidarismo moderado.
O número efetivo de partidos no nível parlamentar aumentou, aproximando-se
de quatro, como mostrado no Quadro 5. O PLN perdeu um assento em relação ao
período anterior e o PAC, seis. O ML aumentou sua presença legislativa e, em menor
escala, o PUSC. A surpresa veio do PASE, que aumentou significativamente sua
presença na Assembleia, de um para quatro deputados.
Trata-se de um partido inscrito pela primeira vez nas eleições anteriores no nível
legislativo, que conseguiu, graças ao controverso, porém eficaz, trabalho parlamentar de
seu líder, Oscar López, captar não apenas o voto de pessoas com capacidades diferentes,
mas também o de outros eleitores no centro do país e nas províncias litorâneas.

8. Ganhadores e perdedores
O bloco de forças políticas e econômicas que esteve por trás das transformações
ocorridas na estrutura produtiva, na institucionalidade estatal e no fortalecimento do
mercado foi o verdadeiro vencedor das eleições de 2010. Essas forças, que antes das
eleições de 2006 estavam um tanto dispersas, se expressando politicamente por meio de
partidos como o PUSC e o ML, começaram a se reagrupar sob o guarda-chuva do PLN,
após as acusações de corrupção contra os ex-presidentes Calderón e Rodríguez, mas
principalmente a partir da oficialização da candidatura de Oscar Arias em 2005. Esse
processo continuou na luta para aprovar o TLC e culminou nas eleições de 2010, com a
candidatura de Laura Chinchilla. Seguindo Alcántara (2010), pode-se afirmar que o
PLN se recompos e manteve sua preeminência histórica.
No entanto, falta a consolidação definitiva de grupos recém-chegados dentro do
PLN, e para isso, eles precisam se reunir novamente em torno de uma candidatura bem-
sucedida. Até agora, a única figura que se destaca no cenário liberacionista é, como
indicado, Rodrigo Arias, o irmão do ex-Presidente, que está tentando controlar o partido
para se tornar o próximo candidato presidencial. Como um novo triunfo do PLN em
2014 passa por uma boa gestão governamental neste período, Arias tentou superar a
administração Chinchilla, até agora com pouco sucesso. Suas pretensões são vistas com
desconfiança por outros grupos econômicos e vários setores com influência real dentro
do Partido.
Entre os partidos de oposição, há vencedores e perdedores. Otto Guevara e o
Movimento Libertário saíram vitoriosos, pois, apesar da queda experimentada nas
semanas anteriores à eleição, aumentaram consideravelmente a porcentagem de votos
em relação à eleição anterior: de 8,5% para 20,9%. Embora sua mensagem tenha calado
em uma parcela significativa do eleitorado, insatisfeito com o PLN e o PAC, que não
cedeu ao "medo da propaganda", desta vez não contou com o apoio dos grandes
empresários e teve problemas para financiar sua agressiva campanha contra a candidata
Chinchilla. O ML tentou se posicionar perante o eleitorado como a verdadeira oposição
ao PLN, em relação a um PAC que não assumia totalmente esse papel.
O PAC e Otón Solís perderam, alcançando o pior percentual de votos dos três
processos eleitorais em que participaram, abrindo uma interrogação sobre o futuro do
Partido e sua atuação legislativa. A liderança do PAC cometeu vários erros ao longo da
campanha, começando com a oposição dos setores "otonistas" a uma convenção aberta
e à integração da chapa presidencial, que confundiu muitos eleitores em potencial, e
terminando com a resistência a um acordo com outras forças políticas afins. A liderança
do PAC esperou ao longo do processo que a história de 2006 e 2010 se repetisse,
quando Otón Solis e o partido souberam canalizar o descontentamento de grande parte
da população e representá-lo politicamente. Desta vez, as circunstâncias históricas eram
outras, a sociedade mudou, e não se fez uma leitura correta dessas mudanças. No
entanto, o PAC continua sendo o principal partido de oposição e, portanto, tem uma
base sobre a qual poderia construir uma nova proposta agregadora de forças.
Como mencionado, o avanço alcançado pelo PASE foi uma das surpresas
reveladas por este processo, assim como o número significativo de deputados alcançado
pelo PUSC, o que indica a persistência de uma estrutura na maior parte do país e uma
base de seguidores que permanecem fiéis apesar dos sérios tropeços sofridos por este
Partido. Eles não votaram em Luis Fishman como candidato presidencial, mas votaram
nos candidatos a deputados. Provavelmente, dentro do esquema de multipartidarismo
moderado existente hoje, o PUSC continuará desempenhando um papel como partido
pequeno, embora com uma representação legislativa significativa. No entanto, a
liderança não se resigna a aceitar esse papel e está buscando como se posicionar melhor
como partido de oposição.
Os partidos cristãos mantiveram seus deputados, já que contam com um
eleitorado cativo convenientemente concentrado na Província de San José. São partidos
que desempenham bem suas funções, cuidando de seus interesses particulares e
procurando manter as melhores relações possíveis com o governo em exercício, das
quais dependem para alcançar seus objetivos.

9. As perspectivas da administração de Chinchilla

Os primeiros meses da nova administração foram marcados pela busca de


fortalecimento do liderança da Presidenta e de um perfil próprio para seu governo,
diferenciando-se da administração anterior. O discurso sobre a continuidade das
políticas do governo de Oscar Arias, sem dúvida, serviu a Chinchilla para apoiar sua
candidatura e vencer as eleições, mas era prudente estabelecer um distanciamento
discreto do seu antecessor. Isso foi tentado em vários aspectos. Por exemplo, a
administração anterior exercia o poder de maneira vertical e fechada para a negociação
com grupos políticos e sociais na oposição, então a Presidenta tentou projetar uma
imagem diferente. Assim que foi eleita, procurou demonstrar uma atitude mais aberta
para a diversidade de grupos políticos e sociais que compõem a realidade
costarriquenha. Iniciou conversas com todos os seus oponentes, grupos empresariais,
sindicatos, cooperativas e outras associações com influência na sociedade civil.
Entretanto, o primeiro ano do governo da Presidenta Chinchilla tem sido
complicado. Ela não conseguiu se livrar dos problemas herdados da administração
anterior nem imprimir um selo distintivo à sua gestão. Problemas herdados que
continuam controlando boa parte da agenda parlamentar do PLN. O primeiro ano de seu
governo foi marcado por conflitos, lutas internas de partido e fortes problemas de
gestão.
O ex-presidente Arias se encarregou de promover uma imagem da Presidenta
como alguém que herdou um caminho pronto. No entanto, a realidade tem sido outra,
principalmente em relação às finanças públicas, cuja situação, nos primeiros meses de
2010, aumentou em 89% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Além
disso, o déficit fiscal atingiu 5,5% do PIB, o mais alto da América Latina. O governo
teve que recorrer ao endividamento externo para cobrir os gastos correntes. Porém, esse
é apenas um dos legados incômodos deixados por Oscar Arias.
As relações com a Assembleia Legislativa não são boas. Poucas semanas após o
início de seu governo, houve a tentativa fracassada de aumentar o salário dos deputados
em mais de 60%, liderada pela maioria da bancada governista, o que provocou uma
reação popular furiosa e enfrentou precocemente e desnecessariamente a Presidenta com
a Assembleia, prejudicando a comunicação com algumas das fraturas. Chinchilla foi
obrigada a anunciar o veto à lei do aumento, apesar de tê-la apoiado inicialmente. Sua
imagem sofreu alguns arranhões, mas as fraturas do PLN, do ML e de outros deputados
que votaram pelo aumento frustrado saíram bastante afetadas. Este incidente afetou a
dinâmica legislativa e a agenda, excluindo as demais bancadas.
Apesar dos percalços, a imagem projetada pela Presidenta se manteve
relativamente positiva. Isso gerou um agrupamento ao seu redor. Mas a situação passou,
e a avaliação sobre a luta contra a insegurança cidadã não foi eficaz, atribuindo-se
lentidão na tomada de decisões políticas econômicas e fiscais. Embora durante a
campanha eleitoral ela tenha rejeitado a ideia de aumentar impostos, acabou enviando
para a Assembleia Legislativa uma proposta que despertou a oposição da maioria dos
empresários e de outros setores.
Além disso, em relação ao ex-presidente Arias e seu irmão, a Presidenta preferiu
não enfrentar abertamente a situação e tentou manter o conflito em um nível baixo. No
entanto, longe de diminuir, o conflito aumentou, e ao final do primeiro ano de seu
governo, a bancada do PLN se dividiu, com um setor muito próximo a Rodrigo Arias, o
que ameaça ainda mais a aprovação das propostas governamentais. Evitar confrontos e
mostrar complacência com os irmãos Arias resultou, então, em uma estratégia pouco
eficaz, pois foi interpretada como um sinal de fraqueza. No entanto, as circunstâncias
não são favoráveis aos irmãos Arias, de acordo com os resultados da última pesquisa da
UNIMER-La Nación, e a Presidenta tem espaço para agir a seu favor nesse embate
dentro do partido.
O final do primeiro ano de gestão parece ser o momento adequado para relançar
o governo, indicar claramente suas metas e assumir, a Presidenta Chinchilla, a liderança
que as pessoas estão exigindo. É a hora também de mostrar que sua administração tem
uma identidade própria e que não é uma mera continuação da anterior. Se não o fizer, a
situação política do governo piorará, com sérias repercussões na governabilidade do
país.

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