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Resumo do capítulo 2 - Costa Rica 2010: Eleições em meio às crises (Manuel Rojas-Bolaños)

1. Contexto Político das eleições de 2010

As eleições de 7 de fevereiro de 2010 na Costa Rica foram um evento regular, tendo em vista que o
processo ocorre a cada quatro anos. Através das eleições, foram eleitos o Presidente, Vice-Presidentes, 57
Deputados da Assembleia Legislativa, 495 vereadores titulares e o mesmo número de vereadores suplentes.
Antes das eleições, o país estava dividido entre os que apoiavam e os que se opunham ao Tratado de
Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos. Assim, a campanha eleitoral foi marcada por dois blocos
distintos: 1) Aqueles que apoiavam o TLC, liderados pelo governo de Oscar Arias; 2) Grupo diversificado de
opositores, incluindo partidos de esquerda, organizações da sociedade civil e igrejas.
Entretanto, apesar das expectativas de uma divisão polarizada, as eleições não seguiram essa previsão, e
os votos se distribuíram entre várias facções, com alguns opositores ao TLC votando nos candidatos do partido
governante. Foram realizadas tentativas de formar uma frente unida de oposição, mas houve uma dispersão de
votos entre várias opções, incluindo o Partido Ação Cidadã (PAC) e outras facções menores.
Ao final, o resultado eleitoral não refletiu uma divisão nítida entre os dois blocos, mostrando uma
distribuição mais ampla e menos definida dos votos. Logo, embora as eleições de 2010 antecipassem uma
divisão clara entre apoiadores e opositores do TLC, resultaram em uma dispersão de votos entre várias facções
políticas, sem a polarização prevista.

2. A seleção de candidatos

No final de maio e início de junho, foram realizadas as convenções do PAC (partidos da ação cidadã) e
do PLN (partidos de libertação nacional), visando a seleção das pessoas que liderariam as respetivas
candidaturas presidenciais nas eleições de 2010. Essa fase da campanha foi notável, pois incluiu duas mulheres,
Epsy Campbell e Laura Chinchilla, com fortes chances de vencer os processos internos de seleção.
Enquanto o PAC enfrentou pela primeira vez tal competição interna, o PLN, como um partido mais
institucionalizado, já realizava essa prática regular a cada quatro anos. Ambos os processos permitiram aos
cidadãos observar a dinâmica interna, a formação de grupos, interesses em jogo e expectativas sobre os
candidatos. No entanto, tal abertura não foi observada em outros partidos, razão pela qual o autor faz uma
análise detalhada focada apenas no PAC e no PLN.

2.1 O PAC e as resistências à mudança

No início de 2009, a ex-deputada Epsy Campbell anunciou suas intenções de concorrer à candidatura
presidencial em oposição ao líder histórico do Partido, Ottón Solís, levando o Partido Ação Cidadã (PAC) a
realizar sua primeira convenção interna. O anúncio provocou reações variadas e o processo interno revelou que
o partido, que estava centrado em torno do fundador Ottón Solís, não estava preparado para uma competição
interna, pois não tinha procedimentos definidos para lidar com várias candidaturas.
Após debates internos, o PAC optou por uma convenção semiaberta, permitindo que apenas aqueles que
aderissem ao partido com antecedência e contribuíssem financeiramente participassem, o que desencorajou a
participação de simpatizantes. Ottón Solís venceu a convenção com 71,5% dos votos.
A liderança do PAC celebrou a vitória de Solís, mas os resultados foram decepcionantes e o estilo de
gestão da convenção desapontou os apoiadores de Campbell, que se afastou do partido. Logo, não resultou no
fortalecimento do partido, já que a liderança não percebeu a necessidade de se adaptar às mudanças no cenário
político, impactando nas eleições seguintes e na capacidade do partido de competir efetivamente.

2.2 A continuidade dentro do PLN

No dia 7 de junho de 2009, ocorreu a convenção do PLN e houve a nomeação de Laura Chinchilla como
a primeira mulher candidata presidencial do partido com reais chances de vencer eleições presidenciais.
Na convenção do PLN, os candidatos foram Laura Chinchilla, Johnny Araya e Fernando Berrocal.
Diferente do PAC, a convenção foi aberta, permitindo que qualquer pessoa que se aproximasse dos centros de
votação e manifestasse intenção pudesse votar pelo PLN.
Ademais, enquanto a campanha do PAC foi moderada, os candidatos do PLN usaram recursos
tradicionais e caros, como jingles, outdoors, anúncios e páginas em jornais. Assim, o PLN buscou conquistar
votos nas eleições presidenciais, e o número de votantes na convenção surpreendeu a muitos, representando
cerca de 18,5% do eleitorado. Isso demonstrou a força da máquina eleitoral do PLN, que havia ganhado
impulso nas eleições de 2006 e se consolidou no referendo de 2007.

3. A campanha eleitoral

A campanha eleitoral ocorreu em meio aos efeitos locais da crise internacional, que o governo
minimizou ao recorrer a empréstimos externos para cobrir despesas correntes. Antes que os efeitos da crise
internacional fossem sentidos com mais intensidade, o cenário político nacional favorecia claramente qualquer
candidatura do Partido Libertação Nacional (PLN), devido à avaliação positiva que a maioria dos cidadãos fazia
da gestão do governo Arias.
Logo, em janeiro de 2009, antes da crise internacional se agravar, a opinião pública local tinha uma
avaliação mais positiva do governo. Entre os fatores mencionados para a boa avaliação estavam a resposta
rápida ao terremoto na área do vulcão Poás em 8 de janeiro, medidas tomadas para enfrentar a crise financeira,
como o plano de capitalização de três bancos estatais, a ratificação do Tratado de Livre Comércio (TLC) e a
abertura de relações com a República Popular da China.
Quatro meses depois, uma nova pesquisa indicou que a situação continuava praticamente a mesma, com
47 de cada 100 pessoas avaliando positivamente o governo. No entanto, 71% dos entrevistados acreditavam que
o governo beneficiava apenas alguns setores, em vez da população em geral.
Em relação ao custo da campanha eleitoral, um relatório do Departamento de Financiamento de Partidos
Políticos do Tribunal Supremo de Eleições (TSE) indicou que os partidos gastaram cerca de US$38.384.000 em
propaganda e organização, enquanto o TSE havia orçamentado cerca de US$33 milhões. O restante dos fundos
foi coberto por contribuições privadas, sujeitas a regulamentações rigorosas.

4. Programas e posições frente a problemas nacionais

Em geral, a campanha eleitoral foi monótona, com poucas oportunidades para os cidadãos acessarem
informações diversas, além dos anúncios repetitivos que destacavam as virtudes ou defeitos dos candidatos.
Havia, na época, uma alta confiança na mídia, especialmente nos noticiários de TV. Entretanto, pela primeira
vez os debates entre os principais candidatos foram permitidos pelo Tribunal Supremo de Eleições, abrindo
espaço para uma troca mais aberta de ideias e propostas.
Os partidos políticos buscaram posicionar-se ideologicamente. O Partido Liberación Nacional (PLN) se
apresentou como de centro, enquanto o Partido de Ação Cidadã (PAC) procurou se posicionar como um
herdeiro autêntico da tradição social-democrata, e o Movimento Libertário tentou migrar para uma posição de
centro-direita, minimizando seu passado extremista.
Os planos de governo foram divulgados a partir de novembro de 2009 e o PAC foi o primeiro a
apresentar um documento de 107 páginas, focado em propostas concretas sobre políticas públicas e participação
cidadã. Em contrapartida, o PLN apresentou um plano de 44 páginas, enfatizando segurança, bem-estar,
emprego, ciência, ambiente e relações exteriores, com continuidade nas ações do governo anterior. O
Movimento Libertário (ML) revelou um plano mais tardio, com ênfase em segurança, forte contra a
criminalidade e ativação de emergência nacional.
O tópico principal dos partidos foi a segurança cidadã, seguido pela continuidade das políticas da
administração anterior e críticas de autoritarismo e corrupção. Além disso, houve influência religiosa na
campanha e uma proposta para reformar a Constituição Política para eliminar referências a Deus foi
inicialmente apoiada por alguns deputados, mas enfrentou resistência da Igreja Católica e, eventualmente, foi
abandonada.
A candidata Chinchilla, do PLN, se opôs à reforma, aproximando-se de setores conservadores e
demonstrando uma postura mais conservadora em relação a direitos sexuais, uniões civis e questões religiosas.

5. Regras eleitorais e financiamento da campanha

Em 11 de agosto de 2009, um novo Código Eleitoral foi aprovado, entrando em vigor em 2 de setembro,
introduzindo algumas mudanças, mas, em sua essência, não alterou as regras estabelecidas para a eleição do
presidente, vice-presidentes e deputados.
Entre as novidades, destacam-se: a) Garantia de inclusão das mulheres nas listas de candidatos em
eleições populares, através do mecanismo de alternância por gênero nas cédulas, assegurando a paridade de
gênero como um direito político fundamental; b) Habilitação do voto dos cidadãos que residem no exterior; c)
Estabelecimento de novos dispositivos para controlar o financiamento dos partidos, buscando maior
transparência na captação e na gestão dos fundos.
Ademais, embora tenha sido eliminado o limite de contribuições de cidadãos nacionais, o aporte de
estrangeiros e de pessoas jurídicas (empresas) foi proibido. Manteve-se o apoio financeiro estatal às campanhas
eleitorais, mas foi reduzido de 0,19% para 0,11% do produto interno bruto. Individualmente, a aceitação de
doações e contribuições a políticos ou candidatos foi proibida, devendo, doravante, ser canalizada através do
tesoureiro do partido.
Neste contexto, o Tribunal Supremo de Eleições (TSE) viu aumentar suas competências, estabelecendo
novas sanções para as violações ao Código e para os delitos de natureza eleitoral.
Adicionalmente, o novo Código alterou a data das eleições para a escolha de prefeitos municipais,
vereadores, síndicos e membros dos conselhos distritais e municipais, com seus respectivos suplentes. Desse
modo, a partir de 2014, a eleição dessas autoridades passou a ocorrer no primeiro domingo de fevereiro, dois
anos após a eleição para presidente, vice-presidentes e deputados da Assembleia Legislativa.
Embora o novo Código tenha sido testado nas eleições de fevereiro de 2010, foram detectados alguns
problemas no que diz respeito ao controle do financiamento dos partidos, isto porque as proibições
estabelecidas poderiam ser burladas usando a emissão de títulos, uma vez que o TSE, em uma resolução
posterior, deixou a porta aberta para que as sociedades anônimas pudessem fazer doações aos partidos ao
permitir a compra de títulos ou "certificados de cessão" e, ainda, para os partidos menores, a possibilidade de
receber adiantamentos foi reduzida, uma vez que se tornou mais difícil acessar esses recursos.

6. Evolução e tendências nas pesquisas de opinião

Ao longo de 2009 e início de 2010, foram realizadas várias pesquisas que, como era de se esperar, às
vezes apresentavam resultados contraditórios, especialmente nas semanas que antecederam o dia das eleições.
Uma pesquisa conduzida pela empresa UNIMER, entre 9 e 15 de setembro, pouco antes do início oficial
da campanha eleitoral, com uma amostra de 1.220 pessoas, indicou que a candidata do PLN reunia 55% das
preferências entre os eleitores prováveis. O candidato Ottón Solís contava com 13% de apoio, e o libertário
Otto Guevara, com 11%. No entanto, essa mesma pesquisa destacou que apenas 25% dos entrevistados
demonstravam estar decididos a votar e tinham preferência definida (La Nación, 24 de setembro de 2009).
À medida que a campanha se desenrolava, as pesquisas começaram a revelar um notável aumento na
simpatia por Otto Guevara (Movimento Libertário – ML), enquanto a candidata Chinchilla (PLN) mantinha-se
estável, com uma tendência de queda, e Ottón Solís (PAC) permanecia muito abaixo dos outros dois candidatos.
A pesquisa realizada pela UNIMER entre 23 e 26 de novembro mostrou Guevara com um aumento
significativo na preferência do eleitorado, alcançando 34,1%, Chinchilla mantinha-se com 41,9% e Solís
continuava em um patamar inferior (La Nación, 16 de janeiro de 2010).

7. Resultados
O Presidente da Costa Rica e os dois vice-presidentes são eleitos por períodos de quatro anos, pelo
sistema de maioria: ganha as eleições o candidato ou candidata que obtém o maior número de votos, desde que
esse número seja igual ou superior a 40% dos votos válidos emitidos. O voto é direto, e todos os cidadãos
devidamente registrados em todo o país têm direito de votar e as eleições são organizadas e supervisionadas
pelo Tribunal Supremo de Eleições, uma entidade estatal que desfruta de autonomia em questões eleitorais.
A eleição de deputados é proporcional e realizada pelo método de quociente e subquociente em sete
circunscrições provinciais. Um sistema similar é usado para a eleição das autoridades municipais: vereadores e
síndicos.
Em 7 de fevereiro de 2010, compareceram 1.950.847 eleitores. O registro eleitoral era composto por
2.822.491 eleitores, mas somente 69,1% das pessoas com direito de voto efetivamente votaram. Apesar disso, a
participação foi maior do que nas duas eleições anteriores. O Quadro 1 apresenta os principais indicadores das
quatro eleições presidenciais ocorridas entre 1998 e 2010.

7.1 Eleições presidenciais

Nas eleições, a candidata do Partido Libertação Nacional, Laura Chinchilla, saiu vitoriosa, obtendo
46,9% do total de votos válidos. Otón Solís e Otto Guevara, que alcançaram, respectivamente, 25,1% e 20,9%.
O restante dos votos se distribuiu pelos outros seis partidos com candidatos à presidência (gráfico 3).
Conforme demonstrado no quadro 2, o PLN venceu nas sete províncias do país, recuperou o centro do
país, perdido nas eleições de 2006 e ganhou novamente nas províncias litorâneas, que haviam garantido a
vitória de Óscar Arias quatro anos antes, mas que votaram contra o TLC no referendo.
Os resultados de uma pesquisa telefônica realizada pelo Centro de Pesquisas e Opinião sugerem que
votantes não ligados ao PLN, nos últimos dias anteriores à eleição, decidiram votar em Chinchilla, levando-a a
ultrapassar a barreira de 40%. Assim como na eleição de 2006, a pessoa do candidato ou candidata prevaleceu
sobre o partido. Segundo a pesquisa do CIEP, 59% dos entrevistados indicaram que sua seleção foi feita
considerando a pessoa, enquanto o fator "partido" determinou apenas 21,3% dos votos, conforme se pode
observar no gráfico 4.
O fato de ser mulher desempenhou um papel importante na votação recebida por Laura Chinchilla.
Motivos relacionados ao desempenho do governo e à continuidade das políticas representam apenas 13,8% do
total. Desse modo, os dados contradizem a afirmação de Óscar Arias e seus seguidores, segundo a qual a
avaliação altamente positiva que os eleitores fizeram de seu governo foi o fator determinante na vitória.
Em termos de volatilidade eleitoral, tanto nas eleições presidenciais como nas legislativas, os resultados
indicam uma situação muito diferente de 2006, conforme pode ser observado no Gráfico 5, e uma semelhança
com os de 1998, quando ainda existia um sistema bipartidário.
A partir de 1998, o sistema de partidos mudou, estabelecendo um sistema multipartidário moderado,
uma vez que o número de partidos participantes nas eleições presidenciais começou a diminuir devido aos
resultados fracos obtidos. Em 1998, treze partidos participaram, em 2002 também treze, em 2006 aumentou
para catorze e em 2010 reduziu para nove.
Como demonstrado no Quadro 3, a maioria dos votos foi concentrada em três partidos. No entanto, nas
eleições para deputados e municipais, o número de partidos é superior, sendo que 10 partidos provinciais e 34
partidos regionais e locais não se refletem nas eleições nacionais e têm um impacto limitado nos governos
municipais.

7.2 Composição do Poder Legislativo

A contundência da vitória do Partido de Libertação Nacional (PLN) não se refletiu nos resultados da
votação para deputados, já que partido perdeu um assento em comparação com o número alcançado quatro anos
antes, devido a muitos eleitores terem quebrado o voto.
De acordo com a pesquisa mencionada do Centro de Pesquisas e Opinião (CIEP), das pessoas que
indicaram ter votado na chapa presidencial do PLN, 25% votaram em candidatos a deputados de outros
partidos.
Segundo o Tribunal Supremo de Eleições (2010), 24,1% dos eleitores alteraram sua seleção de partido
nas cédulas para presidente e as de deputados, ou seja, votaram de uma forma para presidente e outra para
deputados. Conforme pode ser visto no quadro 4, as pessoas que votaram nos candidatos presidenciais do PLN
e do Partido da Integração Nacional foram as que menos quebraram o voto, enquanto nos outros partidos esse
percentual chegou a 82%, como no caso de partidos menores, como o Frente Amplio e a Alianza Patriótica.
Os percentuais são semelhantes no caso dos eleitores do PAC e do ML: Quase um quinto dos eleitores
de Otón Solís e de Otto Guevara quebraram o voto. Essa troca de votos resultou em uma Assembleia
Legislativa dividida em cinco frações e três representantes de um número igual de partidos, confirmando a
tendência observada nas últimas três eleições, de consolidação de um multipartidarismo moderado.
O número efetivo de partidos no nível parlamentar aumentou, aproximando-se de 4, como mostrado no
Quadro 5. O PLN perdeu um assento em relação ao período anterior e o PAC, seis. O ML aumentou sua
presença legislativa e, em menor escala, o Partido da Unidade Social Cristã. A surpresa veio do Partido da
Acessibilidade Sem Exclusão, que aumentou significativamente sua presença na Assembleia, de um para quatro
deputados.

8. Ganhadores e perdedores

O bloco de forças políticas e econômicas que esteve por trás das transformações ocorridas na estrutura
produtiva, na institucionalidade estatal e no fortalecimento do mercado foi o verdadeiro vencedor das eleições
de 2010. Essas forças, que antes das eleições de 2006 estavam um tanto dispersas, se expressando politicamente
por meio de partidos como o PUSC e o ML, começaram a se reagrupar sob o guarda-chuva do PLN, após as
acusações de corrupção contra os ex-presidentes e principalmente a partir da oficialização da candidatura de
Oscar Arias em 2005. Esse processo continuou na luta para aprovar o TLC e culminou nas eleições de 2010,
com a candidatura de Laura Chinchilla.
No entanto, falta a consolidação definitiva de grupos recém-chegados dentro do PLN, e para isso, eles
precisam se reunir novamente em torno de uma candidatura bem-sucedida. Até agora, a única figura que se
destaca no cenário liberacionista é, como indicado, Rodrigo Arias, o irmão do ex-Presidente, que está tentando
controlar o partido para se tornar o próximo candidato presidencial. Suas pretensões são vistas com
desconfiança por outros grupos econômicos e vários setores com influência real dentro do Partido.
Entre os partidos de oposição, há vencedores e perdedores. Otto Guevara e o Movimento Libertário
saíram vitoriosos, pois, apesar da queda experimentada nas semanas anteriores à eleição, aumentaram
consideravelmente a porcentagem de votos em relação à eleição anterior: de 8,5% para 20,9%.
O PAC e Otón Solís perderam, alcançando o pior percentual de votos dos três processos eleitorais em
que participaram. A liderança do PAC cometeu vários erros ao longo da campanha, especialmente porque a
sociedade mudou e não fez uma leitura correta dessas mudanças. No entanto, o PAC continua sendo o principal
partido de oposição e, portanto, tem uma base sobre a qual poderia construir uma nova proposta agregadora de
forças.

9. As perspectivas da administração de Chinchilla

Os primeiros meses da nova administração foram marcados pela busca de fortalecimento do liderança da
Presidenta e de um perfil próprio para seu governo, diferenciando-se da administração anterior. Assim que foi
eleita, procurou demonstrar uma atitude mais aberta para a diversidade de grupos políticos e sociais que
compõem a realidade costarriquenha. Iniciou conversas com todos os seus oponentes, grupos empresariais,
sindicatos, cooperativas e outras associações com influência na sociedade civil.
Entretanto, o primeiro ano do governo da Presidenta Chinchilla foi complicado, ela não conseguiu se
livrar dos problemas herdados da administração anterior nem imprimir um selo distintivo à sua gestão. O
primeiro ano foi marcado por conflitos, lutas internas de partido e fortes problemas de gestão.
O ex-presidente Arias se encarregou de promover uma imagem da Presidenta como alguém que herdou
um caminho pronto. No entanto, a realidade tem sido outra, principalmente em relação às finanças públicas,
cuja situação, nos primeiros meses de 2010, aumentou em 89% em comparação ao mesmo período do ano
anterior. Além disso, o déficit fiscal atingiu 5,5% do PIB, o mais alto da América Latina. O governo teve que
recorrer ao endividamento externo para cobrir os gastos correntes.
Poucas semanas após o início de seu governo, houve a tentativa fracassada de aumentar o salário dos
deputados em mais de 60%, liderada pela maioria da bancada governista, o que provocou uma reação popular
furiosa. Chinchilla foi obrigada a anunciar o veto à lei do aumento, apesar de tê-la apoiado inicialmente e sua
imagem sofreu alguns arranhões. Apesar dos percalços, a imagem projetada pela Presidenta se manteve
relativamente positiva.
A avaliação sobre a luta contra a insegurança cidadã não foi eficaz, atribuindo-se lentidão na tomada de
decisões políticas econômicas e fiscais. Em relação ao ex-presidente Arias e seu irmão, o conflito aumentou, e
ao final do primeiro ano de seu governo, a bancada do PLN se dividiu, com um setor muito próximo a Rodrigo
Arias, o que ameaça ainda mais a aprovação das propostas governamentais.

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