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Importante colocar que todos nós, por muito tempo, acreditamos na ideia de
partido que nos foi apresentada. Alguns de nós entramos muito jovens na
organização e construímos nossos ideais ao longo dos dias de militância, outros já
possuíam bases ideológicas bem estruturadas e se encontraram no Partido por um
tempo.
Mesmo que muitos militantes tenham corrido verdadeiro risco de vida para
construção do MLB, hoje não possuímos nenhum trabalho ou núcleo, e
verdadeiramente abandonamos as famílias da Ocupação São Marcos.
Todas essas questões são essenciais a uma análise de conjuntura, mas o fato
de não terem sido abordadas não é pior do que a Resolução não citar um país
latinoamericano sequer. Tantas coisas importantes rumo à redemocratização
aconteceram nos últimos anos nos nossos países vizinhos, que também impactam a
conjuntura do nosso país, para simplesmente serem ignorados pela Unidade
Popular.
Além disso, como foi nos apresentado, a principal pauta da Unidade Popular
para o ano de 2023 é a punição de Bolsonaro.
Claro que uma reivindicação não exclui a outra, mas não vemos sentido de
que a principal reivindicação seja para que o Poder Judiciário puna o ex-presidente
(essa deve ser sim uma bandeira, mas não a principal), considerando que temos um
presidente de esquerda que possui uma base política empobrecida e carente de
políticas públicas.
Vale frisar que, caso a pessoa sucumba a todo esse mal e decida por sair, quem
permanece inicia uma campanha de difamação interna e pública contra o
ex-militante, ignorando toda a contribuição feita durante o tempo que permaneceu
militando. As críticas comumente colocadas são: “não possuía convencimento
político suficiente”; “decidiu viver sua vidinha pequeno-burguesa”; “não estava
disposto a dedicar sua vida ao processo revolucionário”; “tinha práticas liberais".
Fato é que o adoecimento mental vivenciado pelos militantes, para além das
contradições de se viver na periferia do capitalismo e numa conjuntura de ascensão
do fascimo, está atrelado ao comportamento da direção de sobrecarregar os
militantes e os incentivarem a negligenciar todas as outras áreas da vida.
É lógico que os dirigentes percebem que não é saudável, por exemplo, alguém
que tenha menos de 20 anos e entrou no partido há menos de 6 meses dedicar todas
as horas da sua vida ao movimento estudantil. Ou que a pessoa peça demissão para
se candidatar, mesmo sendo filha da classe trabalhadora e não sendo custeada pelo
Partido. Ou que o militante reprove em várias matérias na faculdade pois dedicou
seu semestre a formar comissão de 10 e disputar entidades.
Mas, mesmo percebendo, eles não se preocupam. Até porque, parece difícil
para que o militante profissional (aquele que é pago para militar, com a contribuição
dos que não recebem nem o dinheiro da passagem), entender as contradições das
relações profissionais e dificuldade de inserção dos jovens no mercado de trabalho,
ou entenderem o anseio individual dos outros de ajudarem suas famílias e pagarem
todas as suas contas.
Aqui no Estado de Goiás, desde que o trabalho foi estruturado, existia entre os
dirigentes/fundadores homens que eram constantemente denunciados por assédio,
estupro ou abuso psicológico. Quando a vítima não era organizada na UJR, ela sofria
com os ataques públicos, enquanto a imagem do agressor era preservada e limpa.
Nos casos em que a vítima era militante, ela precisava passar por várias e várias
reuniões (por vezes, fazer a crítica na frente do agressor e passar por verdadeiro
confronto de “versões”), contar a história várias e várias vezes, reviver seu trauma
incontáveis vezes para, no fim: nada acontece, feijoada.
Existe, ainda, um caso em que uma militante foi contar ao seu assistente que
havia sido violentada sexualmente e, no final da conversa, ao invés de oferecer
acolhimento, ele pediu para ficar com ela. Essa mesma militante anos depois teve sua
vida exposta e discutida nos espaços organizativos sem a presença dela, na ocasião a
direção tomou uma decisão sobre o que deveria ser feito em relação ao abusador e
repassou um informe sobre tudo a todos os coletivos da organização sem ao menos
perguntar se a vítima estava confortável com decisão tomada ou com o fato de que
sua história seria contada a vários desconhecidos.
Além disso, uma das principais militantes do Estado tem sido perseguida pelo
seu ex-companheiro, não pode sair de casa que ele vai para onde ela está e a
perturba, não pode flertar com outra pessoa que o perseguidor vai até a pessoa e diz
que eles se amam e vão voltar. Mesmo após recorrentes casos de perseguição (dos
quais o partido sempre teve ciência da situação), a direção a desincentiva a militante
a solicitar uma medida protetiva e diz que “está resolvendo a situação”, no entanto,
o perseguidor sequer foi proibido de se aproximar dela.
Não basta querer ser revolucionário e não ter projeto. Claro, projetos são
insuficientes, não abarcam a opinião de todas as pessoas e mesmo com um projeto
bem consistente as organizações erram, mas maturidade política de uma
organização está atrelada à sua postura perante os seus erros e os erros da sua
corrente política - é isso o centralismo teórico não permite ou pelo menos atrasa
muito.
Isso porque os espaços de “formação” não formam, eles são apenas a direção
tentando convencer a base de algum ponto. Por meio da agitação ou discurso de
moralista, apenas fazem um exercício de fixação de uma retórica útil que já
aprenderam ao longo da sua militância.
A cannabis é legalizada no Brasil para quem tem dinheiro, usuários com acesso
à informação e condição econômica, conseguem facilmente uma autorização para
cultivarem de forma lícita. Enquanto jovens pobres ficam mais de dois anos presos
por portarem poucas gramas da mesma substância. Ter critérios de controle e
qualidade da maconha é, inclusive, uma questão de saúde pública.
CONCLUSÃO: