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Entrevista Carlos Lula

1 – No início do seu mandato, o senhor anunciou que atuaria prioritariamente nos setores de
educação, saúde e primeira infância. Como avalia o alcance dessas áreas este ano?

R: Eu acho que nós conseguimos alcançar o nosso objetivo. De fato, tínhamos tratado esses três
temas como prioridade e nossa atividade legislativa acabou avançando neles. Tanto que temos
projetos aprovados na educação, na saúde e na primeira infância, e esta última não deixa de ser a
interlocução das duas outras coisas. Nós pensamos em desenvolver o Maranhão e isso passa
necessariamente em cuidar da atenção à educação, à saúde e à primeira infância. É isso que pode
permitir que nos próximos 20 anos tenhamos a melhoria dos indicadores sociais do Estado.

2 – Das quase 20 leis de sua autoria já sancionadas, quais são consideradas as mais importantes?

R: Eu acredito que as mais importantes são as leis que estão nesses eixos de prioridade do nosso
mandato, educação, saúde e primeira infância. E eu gostaria de destacar a Lei da Política Estadual
Integrada pela Primeira Infância no Maranhão, um marco muito importante para esse público
carente de políticas públicas. Tivemos leis aprovadas também na saúde, em debilidades nas quais
não tínhamos articulação institucionalizada do Estado enquanto política pública formada em lei. A
exemplo do combate à hanseníase, HPV, defesa da redução da mortalidade materna, além de leis
voltadas para a saúde das mulheres e o Estatuto da Pessoa com Câncer. Também tivemos políticas
públicas voltadas para a articulação da educação, infelizmente uma delas, que trata sobre o ensino
em tempo integral foi vetada pelo governador Carlos Brandão e o veto ainda será analisado pela
casa, mas também tivemos a construção de políticas de atenção psicossocial nas escolas, que é
exatamente um modelo de prevenção, pois acreditamos que criar uma política de atenção pensando
nos pais, alunos e professores é fundamental para a prevenir casos de violência dentro das escolas.

3 – Mesmo não sendo uma bandeira do seu mandato, o senhor defendeu pautas polêmicas na
Assembleia Legislativa, como os episódios de racismo religioso e conflitos agrários. Há falta de
representação para essa parcela da sociedade na Assembleia?

R: Eu acredito que tenhamos um déficit de democracia, no sentido de que a Assembleia poderia ser
mais plural. A Casa tem se pautado historicamente, e destaco que essa questão não se trata desta
legislatura ou destes deputados, e sim de muitos anos, pois a política do Maranhão se pauta
historicamente com bandeiras estabelecidas por quem comanda o Estado há muito tempo. E assa
pequena parcela da sociedade, não tem a defesa do trabalhador rural, muito menos a defesa da
pluralidade de religiões como bandeira. Então, de fato, nosso mandato também tem a intensão de
pautar esses assuntos que foram invisibilizados ao longo do tempo. E discutir sim o racismo religioso
e o massacre dos trabalhadores rurais no Maranhão, problema urgente que o estado tem que
resolver. Nosso mandato é pautado para defender quem mais precisa, por isso defendemos o
trabalhador rural, as religiões de matrizes africanas, as trabalhadoras do sexo, que são pautas que
historicamente a Assembleia busca não debater e que achamos que é necessário dar visibilidade a
elas.
4 – Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa, qual é o balanço
que o senhor faz das proposições apresentadas pelos parlamentares e analisadas pela CCJ neste ano?

R: A CCJ teve uma atividade muito proveitosa, analisamos mais de mil proposições ao longo deste
ano. E por ser a primeira comissão da Casa, a que vai permitir o trabalho das outras comissões, eu
acredito que tivemos um papel relevante ao permitir que tivéssemos a Ordem do Dia, também não
tivemos nenhuma reunião da CCJ encerrada por falta de quórum. E isso só foi permitido porque os
debates aconteceram. Assim como aconteceram também no plenário da Casa, que sempre teve
muitos projetos para apreciar, o que também foi fruto do trabalho da CCJ. E eu quero agradecer a
todos os parlamentares que a compuseram e permitiram que nós chegássemos bem até o fim do
ano.

5 – Durante seis anos, o senhor esteve na cadeira de secretário de Saúde, no executivo. No primeiro
ano de mandato como parlamentar, o senhor percebeu alguma dificuldade de articulação junto ao
Governo do Estado?

R: O que acontece hoje é o que o Governo do Estado tem uma base muito ampla, e quanto mais
ampla, menos espaço para os parlamentares. Pois uma coisa são vinte parlamentares e outra é ter
que contemplar quarenta e dois. E isso, por vezes, impede que o Executivo estabeleça uma parceria
mais sólida. O Governo do Estado tem uma parceria sólida com a Assembleia Legislativa, então, não
podemos dizer que temos dificuldades. Só que o tempo do Legislativa não é necessariamente o
tempo do Executivo. Ao passo que antes eu tomava decisões muitas vezes sozinho, aqui as decisões
são tomadas em conjunto.

6 - O senhor é um dos poucos parlamentares a conseguir reuniões constantes com diretores e


ministros do presidente Lula. Como se construiu essa relação? Quais os resultados destes encontros?

R: Eu agradeço muito ao presidente Lula, primeiro por estar fazendo um mandato muito bom e por
permitir que a gente tenha acesso aos seus ministros. Essa relação foi construída naturalmente e
surgiu na construção da política. Eu tenho muitos amigos no Governo Federal, o que também acaba
permitindo o acesso, e mais do que isso, políticas públicas voltadas para o estado do Maranhão.
Ajudamos muito o Maranhão este ano e posso falar da ampliação do teto MAC, que são mais R$ 20
milhões por mês a mais para a Secretaria de Estado da Saúde, além de muita ajuda aos municípios
maranhenses. O presidente Lula está fazendo um governo amplo, democrático e que tem voltado o
olhar para o Maranhão de novo. Se não recebemos ministros nos últimos quatro anos, neste ano
recebemos trinta e quatro ministros e isso tem demonstrado por parte do governo do presidente
Lula que ele de fato quer cuidar do estado do Maranhão.

7 - O seu nome foi cogitado para disputar as prefeituras de São Luís e Paço do Lumiar nas eleições do
próximo ano. Inclusive, o senhor promoveu um movimento social chamado 'Juntos pela Ilha'. Como
está esse quadro atualmente?

R: Em São Luís desistimos da candidatura em favor do Duarte Jr, já que não poderia haver dois
candidatos pelo mesmo partido, que no caso é o PSB. E nesse momento, avaliamos que o Duarte
reúne melhores condições para, de fato, permitir a vitória a cidade. Não podemos pensar
individualmente, temos que pensar em quem tem possibilidades reais de ganhar e fazer um bom
mandato. E ele, até por ter sido candidato na eleição passada, tem condições de fazer esse avanço.

Já em Paço do Lumiar ainda não há uma definição do candidato do grupo. Temos que ter paciência,
pois isso ainda não está definido e fazemos parte de um campo amplo que é coordenado pela
prefeita Paula Azevedo e no momento adequado ela fará esse anúncio. Em Paço do Lumiar
continuamos em disputa e mais do que isso, querendo construir a cidade.

8 – Com a iminente saída de Flávio Dino do comando político do estado para ocupar uma cadeira no
Supremo Tribunal de Justiça, como será o futuro do grupo Dino no Maranhão?

R: Eu acho que o primeiro ponto é ter paciência, pois é natural que as peças se movam. Na política o
poder não deixa espaço vazio. E esse vazio, antes ocupado pelo ministro Flávio Dino, que vai deixar a
política, certamente vai ser ocupado naturalmente. O Flávio deixa um legado muito grande para o
estado, inclusive de novas lideranças que foram formadas graças ao governo e a liderança dele. Eu
mesmo posso dizer que não teria o mandato de deputado estadual se não tivesse participado desse
momento do Estado do Maranhão que vem desde 2006, somando dezessete anos e isso não se
destrói. Ao mesmo tempo não temos como prever o que vai acontecer.

Eu acredito que o governador Carlos Brandão vai poder liderar e por ser o governador do estado vai
ter o papel de pacificar, pois é natural que tenhamos alguns conflitos isolados. Mas novas lideranças
irão surgir e mais do que o Flávio Dino o que temos que manter é o legado do que a gente construiu
desde 2006, combatendo pobreza, a fome e a desigualdade no estado do Maranhão. Melhorando
nossas condições de educação, nossas condições sanitárias, o emprego e o investimento, enfim, dar
dignidade para as pessoas. Pois a política só faz sentido se pudermos melhorar a vida de quem mais
precisa e essa tem que ser a disputa de todo dia. E o principal legado deixado pelo dinismo é fazer,
através de ações, com que as pessoas continuem acreditando que é possível melhorar a vida delas
por meio de políticas públicas. E esse legado não se perde da noite para o dia. Pessoas, a gente
discute em outro momento.

9 – O que se deve esperar do deputado Carlos Lula em 2024?

R: A mesma ousadia de não ser uma pessoa que tem um caminho tradicional na política, que não
vem de família tradicional, nem com muitas posses, pelo contrário, eu me considero um
maranhense típico, de família pobre, vinda do interior do estado que chegou até aqui depois de ter
estudado muito. E eu sou agradecido a geração dos meus pais por ter conseguido me permitir
estudar. Mas essa pessoa que aprendeu a caminhar na dificuldade também não abaixa a cabeça.
Então, a última coisa que podem achar é que eu vou me comportar feito “calango”, apenas
balançando a cabeça e dizendo sim. Muitas vezes eu vou me colocar em polêmica, mas esse é o
nosso papel, questionar, questionar sempre e nunca perder o horizonte de que só estamos aqui para
melhorar a vida das pessoas. E quando esse horizonte se perder, não faz mais sentido eu estar na
política. Então é ousadia e alegria.

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