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Prezados concidadãos:
Depois de muito tempo a favor das cotas para a escola pública e contra as
raciais, mudei de opinião. Já falei sobre os motivos no artigo “As cotas para
negros”, que está disponível em anexo e no meu site. Contudo, sinto-me no
dever de trazer mais alguns elementos para o debate.
APRESENTAÇÃO
Inicialmente, peço licença para dar um resumo de minha vida e experiência
profissional, que acredito serem indicativos do quanto lido com os temas
educação e administração pública, de modo que não sou um “curioso”, mas
alguém que convive diariamente com as realidades das quais vou falar. Lido com
provas e concursos públicos há 29 anos, e todos os dias defendo o sistema do
mérito. Também trago a experiência de 16 anos como juiz federal, função onde
sou premiado por produtividade e tenho trabalhos reconhecidos pelo Conselho da
Justiça Federal (JusQualitas) e no CNJ (Boas práticas gerenciais - “Comunidade
que aprende”). Também sou professor universitário, do Ensino Médio e para
Vestibular. Além de Mestre em Direito pela UGF e Pós-graduado em Políticas
Públicas e Governo pela UFRJ, já falei para mais de 800.000 pessoas no país, sou
autor de mais de 30 livros, com mais de 400.000 exemplares vendidos. Por fim,
sou consultor em diversas editoras (Campus/Elsevier, Ediouro, Thomas Nelson
Brasil e Impetus). Falo em nome da Fundação Educafro, originado na Igreja
Católica, no movimento franciscano, onde sou voluntário. Apesar de ser
evangélico, me uni como professor voluntário na EDUCAFRO por ver os resultados
da organização.
Como disse, mudei de opinião sobre as cotas raciais e tenho certeza que
qualquer um que acompanhar os trabalhos do movimento também mudará de
opinião. Não é possível conhecer a realidade social atual e não querer medidas
vigorosas para corrigir a grave desigualdade social e racial na qual vivemos.
UM PEDIDO DE DESCULPAS
Tenho vários amigos negros, alguns poucos destes são contra as cotas. São a
minoria, mas respeito-os. A maior parte deles se incomoda com o estigma que
pode haver de que o negro “só chegou aqui por causa das cotas”. É um problema,
de fato, pois os racistas (sim, eles são covardes, mas existem) podem dizer isso
mesmo. Contudo, os negros que chegaram ao topo são uma minoria diante do
percentual de negros do país. As estatísticas mostram que estes negros são
verdadeiros heróis que lograram ultrapassar todos os funis e discriminações que o
país ainda possui. Heróis que admiro e aos quais peço desculpas por saber que as
cotas têm algum lado incômodo.
Então, para esses heróis negros, peço minhas desculpas. Eu sei que os incomoda
a classificação racial (afinal, há séculos ela só serve para fazer o mal); eu sei que
o estigma incomoda. Mas finalmente este país vai classificar a raça para suprimir
uma injustiça, ao invés de classificar para praticar uma injustiça.
A verdade é que não podemos exigir o heroísmo de todos. Por isso, os negros bem
sucedidos vão precisar lidar com isso: todos teremos que fazer concessões. Minha
filha tem 7 anos. É uma caucasiana loura e de olhos azuis, que estuda nos
melhores colégios e tem acesso a tudo. Um dia ela fará vestibular e terá que
concorrer com menos vagas, pois metade delas será para pobres, índios e negros.
E eu diria para ela: “Minha filha, querida, desculpe: mas para mudar o país,
teremos que fazer concessões e sacrifícios. Não é justo você ser tratada agora
igualzinho a outras meninas tão importantes quanto você, mas que até agora não
tiveram acesso a tudo o que você tem.”
Este país sofre porque ninguém quer fazer concessões. E, para resolver a questão
racial, todos precisaremos fazer alguma. Isso inclui os negros que não precisam
das cotas, os filhos da classe alta e média, os que têm medo de fazer mudanças
suficientemente radicais para um problema tão radicalmente grande.
Antes da bem sucedida experiência da UERJ com as cotas, que foram renovadas
por mais 5 (cinco) anos recentemente, a minha maior preocupação era o
desempenho dos cotistas influenciar negativamente a qualidade do ensino.
Contudo, vários estudos mostram que os cotistas mantêm notas iguais, ou até
melhores, que os não cotistas. E faltam menos às aulas!
Eles estão conseguindo bons resultados por que demos um pouco. Se dermos um
pouco mais, os resultados serão ainda melhores. E cada cotista que se forma
altera profundamente o meio onde vive, sua comunidade etc.
Ainda nesse ponto: Mais de 80 Instituições de Ensino Superior já adotaram algum
tipo de cota. Não houve nenhuma quebra da qualidade, nem guerra, nem
aumento de racismo. O brasileiro tem índole pacífica e, no fundo, deseja justiça
social. Não houve nenhuma das tragédias que foram profetizadas por quem é
contra as cotas.
A injustiça social nesse país pode ser percebida a olho nu. Como já disse, basta
reparar nos restaurantes, nos colégios, nas empresas etc. Só não verá a realidade
quem não quiser.
NÃO HÁ INCONSTITUCIONALIDADE
TÍTULO I
Dos Princípios Fundamentais
Quanto às cotas nos EUA estarem sendo eliminadas, seria honesto reclamar a
mesma medida aqui no Brasil se nós já tivéssemos cotas desde a década de 60,
como é o caso dos EUA. Depois de 30 anos de cotas nesse país, com
financiamento e apoio para os cotistas, eu também acho que as nossas cotas
deverão ser extintas. Talvez até antes, mas quando as estatísticas mostrarem
uma curva em direção contrária à desigualdade.
MELHORIA DA EDUCAÇÃO
Estamos há 300 anos esperando a educação melhorar, por isso não podemos
esperar mais. Precisamos de instrumentos de aceleração da inclusão social. Este
é o PAC para o estudante;
CLASSIFICAR RAÇAS
Para começar, declaro crer que somos uma só raça, a humana, que tem peles
multicoloridas: branco, negro, amarelo, vermelho. Contudo, essa percepção não
é a social, onde ainda se discrimina o ser humano de pele negra. Seria uma
maldade esquecer que os seres humanos com a pele mais escura estão em
situação de desigualdade e, sob o pretexto de não ser racista, “lavar as mãos”
como fez Pilatos.
Ontem mesmo uma advogada conversava comigo citando que ela, de tez branca,
era “geneticamente mais negra que o Neguinho da Beija-flor, pois ele tem
ancestrais holandeses”. Bem, de fato me incomoda discutir classificação de raça;
esse incômodo é o menor. O fato é que se pessoas honestas e boas têm
dificuldade de estabelecer a raça; os racistas não têm qualquer dificuldade para
tanto. Vou citar um aluno meu, do Educafro: “Professor, quando a Polícia
começa a bater, ela sabe reconhecer direitinho quem é negro”. Não vejam aqui
uma crítica à Polícia, mas apenas aos maus policiais, juízes etc, que discriminam
o negro.
A campanha contra as cotas tem sido desonesta num ponto, qual seja: indicar as
falhas que vêm ocorrendo como motivo para eliminação do sistema. Ora,
ninguém fala de uma fraude do INSS pedindo para acabar com a Previdência;
ninguém fala de uma fraude no Executivo, no Legislativo ou no Judiciário e pede
para acabar com a República; ninguém pega uma falha da Polícia e pede para
acabar com a Polícia.
Por que, então, os erros e falhas no sistema das cotas têm que ter como
resultado o fim do sistema? Todo sistema tem falhas, principalmente os mais
recentes, como é o caso das cotas.
Assim, todas as falhas, que são até pequenas dentro do todo, são corrigíveis.
Martin Luther King Jr. avisava que todos os homens são falhos. Se os ricos, que
têm acesso a tudo, cometem fraudes, haveria de se esperar que os pobres fossem
anjos, e não homens, para que não cometessem também seus deslizes. Mas, volto
a dizer: para os deslizes há solução, fiscalização, punição e aperfeiçoamento do
sistema, mas jamais o uso disto para negar o sistema das cotas. Aliás, como
fazemos com a Previdência, a República etc.
SISTEMA DE MÉRITO
CONCLUSÃO
As cotas sociais são uma unanimidade e não creio que haja, hoje, oposição séria
contra as mesmas. Quanto às cotas raciais, tracei os argumentos mais presentes
no debate para proporcionar uma reflexão e uma contribuição.
Claro que um negro que não quiser usar as cotas poderá fazê-lo. O que não
podemos é negar tais cotas a quem precisa delas para ter uma oportunidade.
As cotas, todas, precisarão de aperfeiçoamentos, como, por exemplo, um
sistema eficaz de financiamento e apoio psicossocial e pedagógico. Mas não é
porque ainda não temos a lei perfeita que podemos abrir mão da lei que já
resolve algumas questões prementes. Afinal, os benefícios que a lei trará já são
maiores que os inconvenientes. E não podemos ter os inconvenientes, pois mexer
de fato com as estruturas sociais não se faz sem eles, mas é para isso que
estamos no Governo, ou na Educação, ou no planeta: para tornar a sociedade
mais justa e igualitária.
Se alguém tiver alguma dúvida sobre a lei, faça o teste: deixem a lei ficar por
alguns poucos anos e vamos olhar os resultados. Se alguém quiser ter certeza da
necessidade das cotas, é simples: visitem a Educafro.
Por fim, sei que alguns Senadores são católicos. Eu não sou católico, sou
evangélico. E juntei-me ao Educafro, que é um movimento franciscano, da igreja
católica, não apenas como cidadão e juiz federal, interessado num país melhor.
Juntei-me também ao EDUCAFRO como cristão, porque Jesus quer que façamos
algo. Este é um país com mais de 90% de cristãos, qualquer que seja sua linha
religiosa. A maioria dos Senadores e dos seus eleitores é composta de cristãos.
Por isso, citarei textos da Bíblia, do Velho Testamento, livro respeitado por
cristãos, católicos, espíritas, judeus, umbandistas etc.
Provérbios 24.11: “Livra os que estão sendo levados para a morte e salva os que
cambaleiam indo para serem mortos”;
Provérbios 31.8,9: “Abre a boca a favor do mudo, pelo direito de todos os que se
acham desamparados. Abre a boca, julga retamente e faze justiça aos pobres e
necessitados”;
Estes textos nos impõem, e impõem aos Srs. Senadores, em nome próprio e no de
seus eleitores, uma atitude compatível com a defesa daqueles que estão
morrendo em suas esperanças e oportunidades. Estou certo que todos já
apelaram a Deus em sua vida, no seu passado, ou que sabem que irão precisar
dEle no futuro. Pois bem, Deus diz que irá livrar, no dia do mal, aqueles que
acodem aos necessitados. Os necessitados de estudo, educação e oportunidade
estão hoje à sua frente. O que fareis deles?
Aos Exmos. Srs. Senadores, cito São Francisco de Assis, que começa sua oração
com a frase: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz”.