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Discurso 2

Meus amigos, minhas amigas deputadas,

Companheiros e companheiras da Câmara, a Casa da


Democracia,

Minhas irmãs e irmãos brasileiros de todo o país

Sei o peso, o tamanho e a dimensão da


responsabilidade que vossas excelências acabam de me
delegar, ao me elegerem para presidir esta Casa pelos
próximos dois anos. Quero antes de tudo agradecer e
assumir o compromisso de corresponder, com a minha
mais absoluta dedicação, humildade e determinação, à
confiança que me foi conferida.

Como já notaram, fiz questão de iniciar esta minha


jornada com um gesto simbólico: estou aqui de pé,
depois de eleito, ao lado da cadeira do presidente,
ainda vazia, fazendo este discurso de posse. De pé, em
homenagem a todos os presentes, de todos os partidos,
aos que votaram e aos que não votaram em mim. É um
gesto de respeito a este plenário, o verdadeiro e único
presidente da Câmara, o plenário, composto por outros
512 senhoras e senhores deputados. Prometo respeitar,
como presidente, as forças vivas desta casa legislativa:
os colegiados, a proporcionalidade e o plenário. A
Câmara, como instituição, deve ser a voz de todos. E
não a voz de um.

Perfilo-me aqui ao lado do símbolo da presidência da


Câmara também para destacar que não me confundo
com esta cadeira e jamais irei me confundir. Sou um
deputado igual a todos. Não sou, e nem serei, a cadeira
que irei ocupar temporariamente nesta legislatura.
Tenho consciência do que sou. Estarei presidente. Toda
glória é efêmera. E na vida pública o essencial não são
as pompas, mas o que deixamos como legado.

Quero servir ao meu país, a esta instituição, ao povo


brasileiro com a minha melhor dedicação, sobretudo
neste momento de enorme angústia e de grande aflição.

A política tem uma dívida com o povo brasileiro.


Temos uma grande chance, juntos, todos, de todas as
tendências, acima das diferenças, de estabelecermos o
que chamo de pauta emergencial e mostrarmos que as
instituições políticas, o Estado, o povo abandonado no
momento de sua maior vulnerabilidade. Tenho certeza
que esta Casa encontrará pontos mínimos comuns
para, juntamente com os demais poderes, ajudar o
povo brasileiro a enfrentar os traumas e as dores da
pandemia.

Peço um momento de silêncio em respeito a todas vidas


ceifadas pela Covid 19 no Brasil e em respeito às suas
famílias.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Aqui, deste ponto de visão, é possível observar a


arquitetura deste plenário. Como sabemos, a
democracia é uma construção política e seu epicentro é
a Câmara dos Deputados. Mas a Câmara é também
uma construção física e seus elementos arquitetônicos
são cheios de significados e simbolismos.

Vejo à minha frente um grande corredor no centro do


plenário. Há no centro como se fosse uma grande
coluna vertebral onde se interligam as fileiras, em
forma de vértebras, da esquerda e da direita.

O corredor do centro, as fileiras da direita e da


esquerda - em todas as suas extensões até seus
extremos - constituem a espinha dorsal da democracia.
A Câmara é e sempre foi a espinha dorsal do regime
democrático.

Aqui ao lado, a cadeira da presidência está postada


bem ao centro da mesa. É para nos lembrar que a
presidência deve ter neutralidade. Deve ser
equidistante. A cadeira é giratória, para que seu
ocupante seja capaz de olhar para o centro, para a
direita, para a esquerda. Tem de olhar e ouvir todos os
lados. Há duas tribunas, uma à esquerda e outra à
direita. Ambas as tribunas estão à mesma altura e
devem ser vistas com o mesmo distanciamento e
ouvidas com a mesma proximidade.

A própria mesa diretora, como destaquei no discurso


anterior, define bem o caráter coletivo e não
individualista que deve inspirar a presidência. Não há
um trono no plenário. Não há, portanto, um soberano.
O presidente não tem uma mesa individual. O
presidente trabalha ao lado dos demais membros da
mesa. A arquitetura desta casa é clara: tudo aqui deve
ser coletivo. A direção deve ser coletiva, a serviço do
plenário, que é o coletivo por natureza.

Não nos esqueçamos de um recado que os idealizadores


deste espaço deixaram para nós e para todos que
venham a ocupa-lo um dia. A mesa diretora está pouco
acima do plenário, assim como as tribunas, onde os
deputados e deputadas exercem o seu mais sagrado
ofício, o de livre manifestação democrática de
pensamento e de debate. Mas acima do plenário e da
mesa, bem acima, muito acima em termos de escala,
estão as galerias, a representação simbólica do povo, a
vontade popular. Ela está acima de todos nós na
democracia, pois todo o poder emana do povo e em seu
nome deve ser exercido.

Minhas senhoras e meus senhores,

O país vive um momento que exigirá de todos nós o


melhor que tivermos para dar e contribuir.

O país atravessa a mais cruel, devastadora e feroz


pandemia do último século, o povo sofre com seus
efeitos e mais do que nunca precisa que os poderes da
República atuem com harmonia e responsabilidade,
sem abrir mão de sua independência, pois a
democracia é um mosaico em que os contrastes
produzem ao final um resultado multifacetado, como é
a nossa sociedade.

Precisamos urgentemente amparar os brasileiros que


estão em estado de desespero econômico por causa da
Covid 19 e temos de examinar como fortalecer nossa
rede de proteção social. Temos de vacinar, vacinar,
vacinar o nosso povo. Temos de buscar o equilíbrio de
nossas contas públicas, de dialogar com a sociedade e o
mercado de forma transparente para que haja uma
compreensão do que é possível e não é possível fazer e
daquilo que, de forma previsível, pode ser pactuado ou
não.

Irei propor ao novo presidente do Senado uma ideia


geral que chamo de “Pauta Emergencial”, para
encaminharmos os temas urgentes que exigem decisões
imediatas. O que fará parte dessa pauta? Não serei eu
que irei dizer. Seremos nós, todos nós, todas as
instâncias desta Casa, o Colégio de Líderes, as
bancadas, respeitando a proporcionalidade. E iremos
travar esse debate com os demais poderes. De forma
transparente. E coletiva. Sempre coletiva.

Temos de avançar nas agendas de reformas do Brasil.


Reformas que, posso dizer, vem sendo tentadas por
sucessivos governos, de diferentes orientações. Mas no
contexto atual e no alarmante quadro fiscal em que nos
encontramos, são mais urgentes do que nunca. Qual
reforma fazer, em que profundidade, em que
prioridade? Esta não é uma resposta que cabe ao
presidente da Câmara. Esta é uma pergunta que o
presidente da Câmara deve fazer a todas as senhoras e
senhores parlamentares, ao governo, aos setores da
sociedade civil, aos sindicatos, aos setores produtivos,
ao mercado. Para só então obter uma resposta e dar à
sociedade. O que eu não terei, em relação a ninguém, é
qualquer tipo de preconceito. Diálogo, preconceito e
solução são variáveis que não produzem nenhum
resultado se colocadas na mesma equação. Eu sou uma
pessoa que buscará o diálogo e as soluções. É nessa
equação em que acredito.

Eu, pessoalmente, tenho as minhas opiniões. Mas como


presidente da Câmara, minha opinião deve refletir à da
maioria desta Casa. Nosso regimento é tão sagaz sobre
a neutralidade que deve guardar o ocupante desta
cadeira que define, como também já destaquei, que não
o único deputado que não vota é justamente o
presidente. Ele coordena os trabalhos, ele se esforça na
construção dos consensos, ele escuta, compartilha,
interfere nos debates, pontua. Mas, determina o
regimento, quando um deputado assume o mais alto
posto desta casa ele automaticamente renuncia ao
direito de ter posições, o direito do voto. A neutralidade
deve marcar o exercício da presidência, o respeito aos
ritos, à maioria, à minoria, a cada um.

Durante a campanha, disse inúmeras vezes que


tínhamos de deixar de ser a câmara do EU e sermos a
câmara do NÓS. Isso não é um mero artifício retórico.
É um impositivo da institucionalidade e uma
necessidade do nosso tempo.
A Câmara do EU é uma alegoria que usei para
descrever o excesso de concentração de poder nas mãos
do presidente. Isso não é ruim apenas porque distorce
o princípio de coletividade e colegialidade de uma Casa
legislativa. É ruim, sobretudo em momentos de crise,
porque emite um sinal de falta de previsibilidade para
o país, para os mercados, para a sociedade e para o
mundo.

Quanto mais prezarmos os ritos, dando voz a cada


deputado, como destaquei como mote de minha
campanha, estaremos tornando o processo de decisao
mais participativo, mais democrático e, portanto, mais
transparente e menos sujeito às imprevisibilidades dos
personalismos. Dar voz aos deputados não é uma
concessão. É um autocontrole, uma autocontenção.
Porque esta Casa é quem deve falar e o presidente deve
dizer apenas o que a maioria que esta Casa pensa. E
não apenas o que ele pensa.

Quero agradecer, para encerrar, ao deputado Baleia


Rossi, meu amigo, talentoso e habilidoso líder,
presidente nacional de um partido como o MDB. O
deputado Baleia ajudou com sua candidatura o debate
democrático. Eu gostaria de agradecer ao deputado
Baleia Rossi. Finda a disputa, todos somos nós,
representantes de um só povo, o povo brasileiro.

Quero também registrar a gestão do deputado Rodrigo


Maia. A História irá julgar o seu legado.
P re s i d e n t e R o d r i g o , n e n h u m a d i f e re n ç a o u
discordância de nossa parte nunca será maior do que
os pontos que nos unem e nossas convergências em
torno daquilo que todos desejamos para um Brasil
mais justo e melhor para a nossa gente.

Deputadas e deputados, amigas e amigos, brasileiras e


brasileiros.

Venho de um estado pequeno do Nordeste, minha


querida Alagoas, terra de gente guerreira,
trabalhadora, decente, humilde e que nunca perde a
esperança num futuro melhor.

Quero agradecer a Alagoas e ao meu povo por tudo


que me ensinou, por tudo que sua generosidade e sua
sabedoria me ofereceram.

Chego aqui como um nordestino que nunca esqueceu


as suas origens e tem compromisso em deixar um
Brasil melhor do que encontrou, mais desenvolvido e
mais humanizado.

Chego aqui para sentar nessa cadeira pela primeira


vez e para, enquanto nela estiver, continuar sendo a
mesma pessoa, a mesma pessoa que serei quando sair
daqui e voltar a ser, com muita honra, um entre os 513
deputados da Casa da Democracia do Brasil.

Muito obrigado!

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