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Ao completarmos dois anos de exercício neste Tribunal, levamos a

efeito hoje mais um evento como Hora de Atualização, e para tanto


contamos com a honrosa presença, como conferencista, do
professor doutor Paulo Ferreira da Cunha com o tema “Fraternidade
e Humanismo – Novos Paradigmas para o Direito”.

Tomo de empréstimo a Miguel Torga, o grande autor português, a


imagem que fez num dos textos inseridos na obra Novos contos da
montanha; ali se referia à contingência terrena do nascimento
humano, feito do filho o parto pelas “mãos poderosas, humanas, que
acabam de o roubar à escuridão do nada”.

Defender as instituições, a democracia, a sociedade livre, o Estado


Democrático, defender os valores da Constituição, tê-la como
possibilidade, mas especialmente como limite, podem nos auxiliar a
encontrar o equilíbrio que traz temperança, e assim nos afastar da
abismal escuridão do nada.

É nessa quadra que vejo a missão que se coloca diante de nossas


mentes e corações na ambiência do Supremo Tribunal Federal, hoje
sob a exemplar e impecável Presidência da Ministra Cármen Lúcia.

É mais do que hora de refletir, não apenas na comunidade jurídica,


mas em toda a sociedade, sobre fraternidade e humanismo.

Não existimos indiferentemente. Seres humanos somos, nessa


complexidade do ser-no-mundo, sendo com-os-outros. Em busca de
sentidos e fins, no intimorato intento de reconciliar o País com a sua
própria sociedade.

É preciso ter forças que unam as pessoas, e nada mais certo que ter
valores fundamentais em torno dos quais a sociedade há de manter
minimamente coesa.

É hora da redenção constitucional brasileira; é mais que urgente o


tempo de edificar, no espaço da grande política, o tripé mínimo para
a liberdade, a ética e o desenvolvimento. Como bem se assentou na
terra de Nelson Mandela: “para que não se esqueça e para que nunca
mais aconteça”.

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Não se pode demonizar a Política; não será o sistema penal punitivo
a resposta de todos os males. Nos dias correntes, a propósito,
permito-me trazer a lição do eminente Ministro Cesar Peluso, a quem
muito estimo e admiro. “Nenhum juiz verdadeiramente digno de sua
vocação condena ninguém por ódio. Nada constrange mais um
magistrado do que ter que infelizmente condenar um réu em matéria
penal", afirmou Peluso.

Vejamos, a propósito, alguns dados apenas de nosso gabinete sobre


processos criminais:

-117 inquéritos por ora vinculados à operação Lava Jato;

- mais 25 outros inquéritos, o que totaliza, no momento, ainda sem


eventuais redistribuições, a quantidade de 142 inquéritos.

Neste semestre, de fevereiro até esta data, tivemos 576 decisões e


despachos em incidentes processuais derivados de processos penais
originários deste Tribunal, além de ações penais, ações cautelares,
extradições e prisões.

Sim, o sistema está a funcionar, as instituições estão a funcionar, não


há crise institucional no Brasil. Pode orgulhar-se o Brasil da
democracia que tem e que exercita.

Cumpre, contudo, ir além. Avançar na redenção constitucional


brasileira, e nela não está em primeiro plano a atuação hipertrofiada
do magistrado constitucional, embora deva, quando chamado,
responder com firmeza e serenidade. Em primeiro plano está a
espacialidade da política, dos representantes da sociedade e a própria
sociedade, ali como encontro e ambiente apto a propor e formular
soluções histórico-sociais.

É hora, pois, de subir a esse palco, como o fizeram outros países em


momentos similares, ideias, ideais e instrumentos democráticos de
reencontro do Estado com a sociedade, do País com sua própria
história. Resgate e libertação são fundamentais; resgate como ato de
confiança em nossa capacidade humana de fazer uma sociedade
melhor, e libertação como superação do passado.

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O protagonismo de um pacto sob a fraternidade e o humanismo, a
atuação plena dos vetores da democracia representativa, da
sociedade, do Parlamento e dos parlamentares, dos agentes públicos
que, mesmo nos dissensos, constroem consensos. Por isso, dissenso
não é discórdia.

Esse é o nosso registro e o desafio que se coloca para todos nós, e


por isso estamos para colher lições que certamente nos auxiliarão a
pensar o presente e a erguer o futuro.

Com a palavra o ilustre conferencista.

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