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Abstract: Criminal Law must play a transformative role in society, for many, it is
important to strive to restore legal security and the balance between crime and
its punishment; it is not an element that can be used as a revenge trail, nor,
however, can it do without the crime, its question rests on balance, as one might
say, “not too much sky, not too much earth”; in this way, it accompanies humanity
with the aim of being an aggregator, of quick response; however, not hasty, to
the point of reaching innocent people and, by extension, promoting the
disapproval of any act that violates the law, demonstrating this effective and
accurate disapproval through sanctions.
Keywords: Death Penalty. Crime. Criminal Law. Punishment. Control.
Introdução
A sociedade passou por um longo período para se estabilizar como um Estado
de Direito quando o respeito à pessoa humana passou a ter consonância e
determinante, considerada avançada. A dignidade do ser humano passou a
assumir o primeiro e mais importante plano na sociedade chamada moderna, a
preocupação em ao menos oferecer condições de justiça igualitária começou por
distinguir-se em todas as camadas sociais tornando possível imaginar uma
mudança brusca no paradigma. O Direito Penal com sua forma de penalização
passou a exercer papel fundamental nesta metamorfose de inovações, as penas
cruéis foram substituídas pela pretensão de penas que pudessem reinserir a
pessoa criminosa na sociedade, havendo com isso uma reintegração e
ressocialização. O caminho até este momento foi árduo, houve muitos erros,
muitos excessos, muita vingança com o nome de justiça, mas se recobrou o
senso crítico e se avançou para um estado de coisas mais razoáveis e
aceitáveis.
O quadro que se avizinha não é dos melhores uma vez projetar uma volta a um
passado que só se deveria visitar para aprender através dos erros praticados.
Este fantasma tem assumido voz, controle e tomado à frente das conquistas até
aqui conseguidas.
A proposta deste trabalho é discutir com uma visão crítica da história a violência
exacerbada usando como pano de fundo a sociedade contemporânea buscando
no filósofo Michel Foucault em especial sua obra Vigiar e Punir, elementos que
contraste o suplício na execução da pena, pela reflexão que esta volta ao
passado transformaria a sociedade. Para tanto se perscrutará esta obra,
trazendo à baila outros escritores que compactuam de forma sensível ao tema,
propondo discussão e conversando com o assunto traçando paralelo com as
ideias prolatadas apresentando o contraponto entre questões de direito,
sociologia e filosofia para então responder as premissas propostas.
A atenção à coluna vertebral do tema será perseguida para tornar o texto límpido
e claro, possibilitando a discussão e a crítica, sempre pronta e aceita para que o
tema não assuma o caráter de “verdade absoluta”.
Há mecanismos que outros países usaram e foram bem sucedidos para mudar
este quadro aterrador sem, contudo, exercer o papel de Tribunal de Justiça
independente. Buscar a todo custo manter o direito, a coerência neste debate é
de suma importância uma vez ser este o caminho sensato e coerente a ser
exercido.
As cores da violência mais cruel podem ser visitadas ao se buscar ler e estudar
sobre a forma como as penas eram aplicadas nos séculos passados. A aplicação
da pena era um espetáculo popular apregoado como forma de inibir e acabar
com a possibilidade da existência do crime na sociedade.
O mais das vezes, apesar da coerência de seus resultados, ela não passa de
uma instrumentação multiforme. Além disso seria impossível localizá-la, quer
num tipo definido de instituição, quer num aparelho do Estado. Estes recorrem a
ela; utilizam-na, valorizam-na ou impõem algumas de suas maneiras de agir.
Mas ela mesma, em seus mecanismos e efeitos, se situa num nível
completamente diferente. Trata-se de alguma maneira de uma microfísica do
poder posta em jogo pelos aparelhos e instituições, mas cujo campo de validade
se coloca de algum modo entre esses grandes funcionamentos e os próprios
corpos com sua materialidade e suas forças. Ora, o estudo desta microfísica
supõe que o poder nela exercido não seja concebido como uma propriedade,
mas como uma estratégia, que seus efeitos de dominação não sejam atribuídos
a uma “apropriação”, mas a disposições, a manobras, a táticas, a técnicas, a
funcionamentos; que se desvende nele antes uma rede de relações sempre
tensas, sempre em atividade, que um privilégio que se pudesse deter; que lhe
seja dado como modelo antes a batalha perpétua que o contrato que faz uma
cessão ou a conquista que se apodera de um domínio. (FOUCAULT: 2008, p.26).
Para entender melhor esta época e os atos do poder de governar, vale lembrar:
Como prática governamental há de se entender a forma como o poder
soberano transita dentro da esfera de comando. É importante não perder de
vista o manto sagrado atribuído ao soberano impingindo assim,
características de deus a seu comando, pessoa e função, habilitando-o a
desenvolver sem muita preocupação a extensão de seu domínio. Não é difícil
perceber a ausência de compromisso em não errar, uma vez estar perto da
infalibilidade dos deuses o que permite fatalmente criar as mais diversas
possibilidades de governar, sem o receio de que mesmo errando alguma
consequência recaia sobre seu governo. Foucault afirma, contextualizando
esta questão que “quem governa tem um objetivo ilimitado”. (FOUCAULT. O
nascimento da clínica. 2008. p. 10). (DUARTE: 2014, p. 37).
Contudo, não se tem notícia do fim do crime nestes tempos, nem tampouco que
a violência praticada por criminosos tenham acabado.
O que se via era a troca explícita dos atos delituosos pelo suplício sem que com
isso houvesse se quer o fim dos atos criminosos. O que se percebe na leitura
crítica deste tempo é que à medida que a tortura, suplício, e violência contra o
criminoso crescia, o crime não diminuía, se assim não fosse, por que então se
retirou das sentenças esta forma de punição? Qual foi o resultado desta prática
em termos de fim do crime?
Vejamos o que é dito sobre este tempo:
Vivo em uma época que, por causa de nossas guerras civis, abundam os
exemplos de incrível crueldade. Não vejo na história antiga, nada pior do que
os fatos dessa natureza, que se verificam diariamente e aos quais não me
acostumo. Mal podia eu conceber, antes de o ver, que existissem pessoas
capazes de matar pelo simples prazer de matar; pessoas que esquartejam o
próximo, inventam engenhosos e desconhecidos suplícios e novos gêneros
de assassínios, sem ser movidos nem pelo ódio nem pela cobiça, no intuito
único de assistir ao espetáculo dos gestos, das contrações lamentáveis, dos
gemidos, dos gritos angustiados de um homem que agoniza entre torturas.
(MONTAIGNE: 1996, p. 367)
Para que se possa ainda pensar sobre este fato cumpre lembrar-se de Cesare
Beccaria:
A busca do direito e não de saciar o povo com sangue de vingança deve ser o
grande objetivo do direito. Resguardar o que se chama justiça deve ser o grande
ideal de qualquer Estado que pretenda governar regido pelo senso de equidade
devendo se afastar de promover barbáries em nome de uma pseudojustiça.
Lembrar-se da obra a Luta pelo Direito é salutar, ainda mais em tempos onde se
clama por sangue:
A paz é o fim que o direito tem em vista, a luta é o meio de que se serve para
conseguir. Por muito tempo pois que o direito ainda esteja ameaçado pelos
ataques da injustiça – e assim acontecerá enquanto o mundo for mundo –
nunca ele poderá subtrair-se à violência da luta. A vida do direito é uma luta:
luta pelos povos, do Estado, das classes, dos indivíduos. Todos os direitos
da humanidade foram conquistados na luta; todas as regras importantes do
direito devem ter sido, na sua origem, arrancadas àquelas que a elas se
opunham, e todo direito, direito de um povo ou direito de um particular, faz
presumir que se esteja decidido a mantê-lo com firmeza. O Direito não é uma
pura teoria, mas uma força viva. Por isso a justiça sustenta numa das mãos
a balança em que pesa o direito, e na outra a espada de que se serve para
defender. A espada sem a balança é a força brutal; a balança sem a espada
é a impotência do direito. Uma não pode avançar sem a outra, nem haverá
ordem jurídica perfeita sem que a energia com que a justiça aplica a espada
seja igual à habilidade com que maneja a balança. O direito é um trabalho
incessante, não somente dos poderes públicos mas ainda de uma nação
inteira. (IHERING: 1999, p. 1)
O contexto histórico era favorável a este tratamento ao criminoso por ser uma
sociedade violenta em seu matiz, as guerras eram travadas corpo a corpo e
duravam décadas, espalhando um rastro de sangue e terror, de forma especial
ao velho continente, a Europa em todos os seus rincões. Então presenciar cenas
onde o sangue era um fim em si mesmo era comum, era costume.
O suplício é uma técnica e não deve ser equiparado aos extremos de uma
raiva sem lei. Uma pena, para ser um suplício, deve obedecer a três critérios
principais: em primeiro lugar, produzir uma certa quantidade de sofrimento
que se possa, se não medir exatamente, ao menos apreciar, comparar e
hierarquizar; a morte é um suplício na medida em que ela não é simplesmente
privação do direito de viver, mas a ocasião e o termo final de uma graduação
calculada de sofrimentos: desde a decapitação —que reduz todos os
sofrimentos a um só gesto e num só instante: o grau zero do suplício — até
o esquartejamento que os leva quase ao infinito, através do enforcamento,
da fogueira e da roda, na qual se agoniza muito tempo; a morte suplício é a
arte de reter a vida no sofrimento, subdividindo-a em “mil mortes” e obtendo,
antes de cessar a existência, the most exquisite agonies.6 O suplício repousa
na arte quantitativa do sofrimento. Mas não é só: esta produção é regulada.
O suplício faz correlacionar o tipo de ferimento físico, a qualidade, a
intensidade, o tempo dos sofrimentos com a gravidade do crime, a pessoa do
criminoso, o nível social de suas vítimas. Há um código jurídico da dor; a
pena, quando é supliciante, não se abate sobre o corpo ao acaso ou em
bloco; ela é calculada de acordo com regras detalhadas: número de golpes
de açoite, localização do ferrete em brasa, tempo de agonia na fogueira ou
na roda (o tribunal decide se é o caso de estrangular o paciente
imediatamente, em vez de deixá-lo morrer, e ao fim de quanto tempo esse
gesto de piedade deve intervir), tipo de mutilação a impor (mão decepada,
lábios ou língua furados). (FOUCAULT: 2008, p.31).
De lições práticas, o abandono dos atos ilícitos praticados, o fim do delito, não
era pensado na época, o que se fazia crer que era sangue por sangue, suplício
por suplício, sofrimento por sofrimento. Cumpre lembrar as palavras de Beccaria:
Tendo este pano de fundo onde os países que praticavam estes “tormentos mais
atrozes” não se livravam dos crimes mais horrendos, verifica-se que o fato de
estarem instituídas estas penalizações brutais não diminuía nem tampouco
arrefecia a criminalidade e prática de crimes. Com isto em mente é fácil perceber
que o castigo imposto não corroborava com a diminuição da violência. Se assim
era, então qual o papel do suplício? Justiça ou vingança? Aplacar a ira dos
populares ou estabelecer a força do Estado Monarca? O que de fato e verdade
havia nesta postura do governante?
Para tanto cumpre construir o que começou a mudar neste conceito mal
compreendido:
Fica evidente que havia diferenças entre alguns seres humanos dentro da
sociedade, alguma inclinação para maldade, para o crime, para o delito. Agora
se precisava chegar à forma como se deveria praticar o que começa a surgir com
muita força: a justiça. O equilíbrio da justiça passava pela maneira como se ia
buscar punir aqueles que se desviassem dos princípios e leis estabelecidas.
Houve com isso apenas uma mudança na forma, não no projeto final de controle
do poder central, mas mesmo assim esta mudança arquitetou algo mais sutil,
mas leve em comparação com os grandes espetáculos proporcionados à época
dos suplícios.
Cumpre notar as palavras que Foucault descerra ao tratar deste momento onde
se repensa esta prática e a substitui por outra mais palatável, menos chocante:
A punição pouco a pouco deixou de ser uma cena. E tudo o que pudesse
implicar de espetáculo desde então terá um cunho negativo; e como as
funções da cerimônia penal deixavam pouco a pouco de ser compreendidas,
ficou a suspeita de que tal rito que dava um “fecho” ao crime mantinha com
ele afinidades espúrias: igualando-o, ou mesmo ultrapassando-o em
selvageria, acostumando os espectadores a uma ferocidade de que todos
queriam vê-los afastados, mostrando-lhes a frequência dos crimes, fazendo
o carrasco se parecer com criminoso, os juízes aos assassinos, invertendo
no último momento os papéis, fazendo do supliciado um objeto de piedade e
de admiração. (FOUCAULT: 2008, P. 12).
Havia é claro um longo caminho para descobrir o que se fazer para proporcionar
a justiça as penas aos transgressores. Qual a medida certa? Como aplica-la de
forma a servir de exemplo? Qual a dosimetria adequada? Como evitar excesso
e mesmo assim servir de referencial para desestimular a novas práticas?
A experiência mostra que todo homem que tem poder é tentado a abusar
dele. Para que não se possa abusar do poder é preciso que, pela disposição
das coisas, o poder faça parar o poder. Uma Constituição pode ser de tal
modo que ninguém será obrigado a fazer coisas que a lei não obriga, nem
será impedido de fazer as que a lei permite. Para o cidadão, a liberdade
política é esta tranqüilidade de espírito que provêm da opinião que cada um
possui de sua segurança. E, para que se tenha essa liberdade, é preciso que
o governo seja de tal modo que um cidadão não possa temer outro cidadão.
(MONTESQUIEU, 1995, p. 118).
Esta espécie de controle é o mais danoso, pois não tem limites não mostra seus
aspectos tolhendo seus cidadãos, sua aparência é dulcificada, quase inofensiva,
mas por trás de toda esta aparência há um monstro sedento por sangue.
Sobra apenas à possibilidade de sentir seus efeitos, sua sede pela prática do
poder sem limites, sua disciplina exacerbada. Este é sem dúvida o pior dos
mundos.
Foucault apresenta sem sofismas esta questão e como se livrar das algemas
que se impõe neste sistema:
A busca pela informação correta, pela liberdade, por justiça não deve deixar de
fazer parte da história mais cara do homem. Se recuar aceitar imposições
desproporcionais é de suma importância, para tanto, as palavras de Bobbio
reflete bem este espírito empreendedor:
Se faz necessário se dizer que a LEP (Lei de Execução Penal) no seu art. 31,
caput, aqui no Brasil determina que todo preso deve trabalhar, assim reza o texto
legal: “O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na
medida de suas aptidões e capacidade”. (Curiosamente, por motivos
incompreensíveis, os presos aqui no Brasil, em quase sua maioria não
trabalham).
O governo não deixaria sua disposição em controlar tudo e todos, apenas daria
uma pequena abertura como demonstração de evolução, mas mantendo as
rédeas totalmente em suas mãos.
A história comprova isso de forma absoluta, não há quem tenha ocupado o posto
mais alto de um país que em algum momento, ou em todo ele tenha se
comportado como Imperador.
Como se pode ver pelo que o filósofo afirma a mudança era apenas de objetivo,
ou seja, aparente, não visceral, não transformadora nem muito menos redentora.
A figura humana ainda é tratada como objeto, o crime ainda possuía rosto, só
não se faz mais os espetáculos sangrentos, suplícios públicos, estes atuam na
esfera do coração, do intelecto, da vontade, como se escreveu “que o castigo
[...] fira mais a alma do que o corpo”. Desta feita a trajetória deixa de ser
sangrenta e cruenta para ser desmoralizadora aviltante a pessoa, rompendo com
a dignidade de quem sofrerá tal pena, que roube a paz, qualquer possibilidade
de virtude, de equilíbrio, que destrua a dignidade em sua íntima relação com a
mente e o corpo, que não sobre nenhuma faísca de humanidade, que transforme
a pessoa num condenado marcado pela sociedade. Em suma Foucault evoca a
forma como o poder agora atua sobre o corpo:
Ora, diante disso, qual a diferença do suplício público que poderia conduzir a
morte e tal situação aviltante? A morte da pessoa levada ao cárcere é social, não
carnal. E os efeitos desta morte social certamente se estenderia a toda sua
família. Percebe-se que a mudança enfim não trouxe lenitivo? Percebe-se que a
pseudo mudança de padrão não trouxe solução?
O problema continua tão vivo como sempre foi à medida redirecionada não altera
a condição, não consegue estabelecer se quer a possibilidade de uma
transformação social, o que se vê pura e simplesmente é a troca de um castigo
pelo outro, de uma punição por outra, sem ao menos se preocupar em tratar do
problema em si, mas afasta-lo do seio da sociedade, como em todos os tempos
se fez.
Como se pode perceber o que estava em questão era a velha máxima o controle
para ostentar a necessidade de se manter um poder central, um conjunto de
construção arquitetônico onde só se pudesse concentrar toda disciplina regida
por um único centro de comando.
A tecnologia do poder percebe esta questão e trabalha com ela para que dê
muitos frutos, não importando que para isso seja necessário se arquitetar planos
mirabolantes e gastos aos milhões para a manutenção da segurança. O que
realmente importa, o que passa a ser necessário é a falsa sensação de
tranquilidade de se manter este ou aquele governo, afinal, a proposta de manter
a “paz” é o que busca o ser humano desde seus primórdios.
Entende-se que a obrigação dos súditos para com o soberano dura enquanto,
e apenas enquanto, dura também o poder mediante o qual ele é capaz de
protegê-los. Porque o direito que por natureza os homens têm de defender-
se a si mesmos não pode ser abandonado através de pacto algum.” (Hobbes:
1979, p. 135).
Com isto em mente fica mais claro entender o que Foucault queria dizer ao se
referir ao soberano:
Com isto em mente fica claro que toda manutenção deste poder e seu estado de
coisas dependia de certa necessidade premente, ora existindo violência,
havendo descontrole, insegurança, o soberano era mais do que necessário, era
desejado, almejado e uma figura indispensável para que o Estado gozasse de
tranquilidade, demonstrar poder audaz, força na execução de sentenças,
aprisionar as pessoas sob um manto de certeza era todo objetivo deste que
desejava estar no poder.
É salutar apreciar o que Thomas Hobbes aponta como única solução para
defender as pessoas é o estabelecimento de “um tal poder”, que traga segurança
e paz a população. Ele continua dizendo que deve se escolher um homem, que
represente a todos considerando ele como capaz de promover e disseminar a
tão sonhada tranquilidade entre os homens e com palavras quase que
impensadas ainda descreve, como isso deve ser feito: Cedo e transfiro meu
direito de governar-me a mim mesmo a este homem, ou a esta assembleia de
homens, com a condição de transferires a ele teu direito, autorizando de maneira
semelhante todas as suas ações, é uma procuração com plenos poderes para
agir, transigir, coordenar, decidir o que é melhor para a vida de todos. Como ideal
é quase que necessário, porém, o grande problema é o que tal homem faz
quando está de posse desse poder, e não é um simples poder ele é grande
suficiente para desviar a atenção, para se tornar egoísta e imprudente. Por isso
se pergunta, quais são de verdade seus planos e projetos, quais são as medidas
a serem atingidas? Há realmente interesse em buscar o bem comum? Ou aquilo
que realmente interessa ao homem comum? Fará ele àqueles que depositaram
este poder em suas mãos o que desejam ou, será seus projetos pessoais mais
importantes que o coletivo?
Foucault comenta esta transformação vertendo sua visão desta nova prática.
Como se pode observar não é algo novo o fracasso das cadeias, remonta 1820
e se demonstra que nos primórdios não houve melhora do prisioneiro, pelo
contrário há a afirmação taxativa que sempre se produziu dentro das prisões
mais criminosas ao invés de reduzir o surgimento de novos indivíduos com esta
prática.
Violência e poder, não são a mesma coisa. [...] O poder é um saber fazer e
violência é uma ação que está dirigida para suprimir ou destruir o outro. O
poder é:“ uma ação, uma potência, atividade para modificar; um ato
verdadeiramente intersubjetivo, que leva a modificar os sujeitos em relação
com a sua identidade, porque um sujeito impor sua presença19 é inerente.
São movimentos de imposição, recíprocos onde um sujeito deixa sua marca
no outro e o coloca em uma nova subjetividade. E se a marca existe nos força
a fazer algo com ela: recebê-la, modificá-la e modificar a si mesmo.
(BERENSTEIN: 2006, p 4).
Uma simples observação desde tempos do castigo na forma de suplício para o
castigo do tempo mantendo prisioneiro aquele que comete crimes, não resultou
em mudanças para sociedade, o crime continuou campeando por todo tecido
social, e pelo que se pode perceber só aumentou, não diminuiu em momento
algum, nem na época do suplício, nem tão pouco nos tempos atuais, é
peremptório seu crescimento e transformação, hoje existindo uma multiplicidade
de crimes em sua forma, jamais vista antes e passando pelo chamado “crime
organizado”. Para efeito de classificação e compreensão do que vem a ser crime
organizado, há entre os doutrinadores que assim classifica e posiciona esta
questão: “estrutural (número mínimo de pessoas integrantes), finalístico (rol de
crimes a ser considerado como de criminalidade organizada) e temporal
(permanência e reiteração de vínculo associativo)”. (Araújo Silva: 2003, p. 34).
Diante desta estrutura se pode chegar ao que se pode considerar como crime
organizado e seus tentáculos na sociedade.
Para melhor entender esta nova fase cumpre verificar o que se conceitua como
“crime organizado”.
A política do poder de punir do Estado não está sendo suficiente e nem eficiente,
há uma falência rudimentar na base da segurança pública, o discurso e a forma
de aplicar a pena aos culpados não surte efeito.
E o caos criado nesta mancha negra da história nacional terminou com um saldo
tremendamente ruim, o Estado se ajoelhou diante da organização e desde então
não conseguiu mais vencê-la.
Os jornais da época relataram o saldo final deste atentado:
Sexta-feira, 12 de maio: anoiteceu em São Paulo. E iniciava-se a maior onda
de violência já promovida no Estado por uma facção criminosa, o PCC
(Primeiro Comando da Capital), conhecido entre os detentos como o
"Partido". Em oito dias, o governo contou 373 ataques. Oficialmente, 154
pessoas morreram, sendo 24 PMs, 11 policiais civis, nove agentes
penitenciários, 110 cidadãos - 79 deles suspeitos de ligação com o PCC.
Tratava-se de uma resposta da facção a uma tentativa da polícia de isolar
seus principais líderes em presídios de segurança máxima no interior do
Estado, num total de 765 presos removidos. Na mesma sexta-feira, oito
detentos - apontados com o núcleo da facção - foram levados à sede do Deic
(Departamento de Investigações sobre Crime Organizado), na capital
paulista. Já na sexta-feira, em todo o Estado ocorreram rebeliões em 24
unidades. Internos da Febem também se rebelam. Articulados, homens
abriram fogo contra bases da Polícia Militar, da Guarda Civil Metropolitana,
viaturas, delegacias, Grande São Paulo e interior. Ocorreram ataques
também a endereços comerciais, agências bancárias, estações de Metrô e
ônibus, incendiados pelo Estado. Outras duas séries aconteceriam em julho
e agosto, ambas com menor intensidade em relação a maio.Durantes as
ações, a população de São Paulo viu o comércio baixar as portas, escolas e
universidades cancelarem aulas, expediente encerrado mais cedo, shoppings
fechados. O comércio registrou queda nas vendas de 90%. A pressa do
paulistano ganhou outros contornos. Havia ansiedade de chegar em casa. A
vida noturna da capital deixou de existir. Tradicionalmente congestionadas,
as principais vias da cidade ficaram intransitáveis bem antes do horário do
"rush". Pessoas espremiam-se ainda mais no metrô e em ônibus, outros alvos
da facção. São Paulo parou... Nas manchetes da imprensa
internacional.(http://noticias.uol.com.br/ultnot/retrospectiva/2006/materias/pc
c.jhtm).
Essa semiotécnica das punições, esse “poder ideológico” é que, pelo menos
em parte, vai ficar suspenso e será substituído por uma nova anatomia
política em que o corpo novamente, mas numa forma inédita, será o
personagem principal. E essa nova anatomia política permitirá recruzar as
duas linhas divergentes de objetivação que vemos formar-se no século XVIII:
a que rejeita o criminoso para “o outro lado” – o lado da natureza; e a que
procura controlar a delinquência por uma anatomia calculada das punições.
Um exame da nova arte de punir mostra bem a substituição da semiotécnica
punitiva por uma nova política do corpo. (FOUCAULT: 2008, p. 86).
Considerações Finais
Diante disso e percebendo hoje países como Suécia, Noruega e Islândia onde a
criminalidade é muito baixa, cumpre o observar o que levou estes países a
conseguirem tal feito.
Não se trata de uma defesa alucinada dos Direitos Humanos, mas de propor algo
funcional ao invés do mecânico e fracassado. Está lançado o grande desafio, de
não empurrar o problema criminal apenas para dentro do castigo (ou rigor nas
penas), mas de enfim perceber o problema como algo pungente e se cercar de
possibilidades melhores para resolvê-lo.
BIBLIOGRAFIA