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SamerAgi
AULA 3 - BLOCO 1
Hoje vamos nos concentrar em dois discursos eminentemente políticos, feitos por
políticos e advogados que você conhece ou, pelo menos, já ouviu falar. As pessoas que
estudam a ciência jurídica, em regra, têm maior facilidade para discursar porque eles
são influenciados ou impelidos a tanto, pois é preciso sustentar oralmente no tribunal,
realizar provas orais em provas da magistratura e do Ministério Público, e defender no
tribunal do júri. Com isso, o sujeito aprende, em grande medida, a discursar. Muitas
vezes, os operadores do direito saem da justiça e entram na política.
Ulysses diz:
“Ecoam nesta sala as reivindicações da rua. A nação quer mudar; a nação deve
mudar; a nação vai mudar. São palavras constantes do discurso de posse como
presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1987. Hoje, 05 de outubro de 1988,
no que tange à Constituição, a nação mudou”.
Querer é poder. Quando ele retorna à origem do sonho de uma nova Constituição,
ele está dizendo nas entrelinhas que valeu à pena ter sonhado. Se você quer trazer um
ponto em comum com seu ouvinte, vá à origem dessa história em comum para que
vocês possam entender como nasceu esse sonho que, agora, pode estar destruído, mas
que pode dar certo, para encontrarem a origem e se desviarem do caminho da
perturbação da destruição.
Aprendo com Ulysses Guimarães que é preciso trazer a verdade com esperança,
na mesma linha de todos os outros que já estudamos. Você tem que ser uma indústria
de esperança baseada na verdade. Ninguém quer que você distorça a realidade, mas
ninguém precisa de uma pessoa que tão somente aponta as falhas do hoje. Queremos
pessoas que apontem a esperança do amanhã, que sabem o que acontece hoje, mas
que tem propostas, soluções e trabalho para o amanhã. Quando você estiver
conversando com uma pessoa ou com o povo, saiba que as pessoas não querem que
você negue a realidade, mas elas querem que a sua realidade venha carregada de
esperança.
Ele diz:
Ele traz a verdade com esperança. Não negamos que 25% da população é
composta por analfabetos. Só há cidadania com a alfabetização. Ele diz que a
Constituição mudou. Nós sabemos o que precisamos e a Constituição diz que nós
temos direito ao que precisamos, pois isso é fundamental. Os direitos aqui consagrados
são direitos fundamentais.
Você percebe no discurso de Ulysses que ele faz uso do que chamamos de
linguagem poética como campo de convencimento. Sempre que você quiser convencer
alguém, valer-se de uma linguagem poética, de um fundo de autoridade, de um
escritor, de um técnico no assunto, de um estudioso do tema, reforça seu discurso e traz
argumento de autoridade. Ele diz “esperamos a Constituição como o vigia espera a
aurora”. Depois de uma longa noite de escuridão, vem a aurora.
Às vezes, as pessoas tomam caminhos errados e elas sabem disso, mas reiteram
em seus caminhos porque não refletem sobre as consequências dos erros passados. A
psicanálise fala muito sobre o sujeito incidir no mesmo erro e fazer sempre a escolha
errada, seja no campo das relações, das profissões ou qualquer outro campo. Ele reitera
no erro porque não aprendeu com o ele. Quando você estiver diante de uma pessoa que
reitera na sua falha, lembre-se das consequências do caminho equivocado que ela vem
trilhando. As consequências destruidoras, imprevisíveis à época, mas agora previsíveis,
provavelmente acontecerão de novo. É previsível porque você vê a história se repetir.
Quem já destruiu um casamento pode destruir o segundo com o mesmo modus
operandi, que combina desrespeito com diversos outros fatores. Se você quer convencer
alguém de que ela está em um caminho equivocado, traga exemplos dela ou de outras
pessoas que trilharam o mesmo caminho e experimentaram idêntica derrocada, ou
experimentará novamente caso persista por aquela trilha.
Ulysses diz:
Quando você destrói a liberdade, este é o caminho de quem não pensa como
você. Ele chama esse caminho de “caminho maldito”. “Sabemos do mal que há neste
caminho e não queremos trilhá-lo nem viver essa experiência novamente”. “Não
queremos viver a experiência que João viveu”. Isso porque é normal que você aprenda
com seus erros, mas é sábio que você aprenda com os erros dos outros. Cada um de nós
comete erros ao longo da vida, mas é sábio que nossos erros não sejam os mesmos
erros dos nossos pais, tios e amigos que erraram antes. Quem não observa as
consequências do caminho maldito trilha por ele e colhe idênticos frutos. Se você quer
convencer alguém a mudar de caminho, traga as consequências do caminho que essa
pessoa trilha.
Com Ulysses aprendo que é preciso perder o medo do compromisso. Se você quer
convencer alguém, se você quer criar uma nova atmosfera, uma nova situação, se você
quer inovar, não tenha medo de se comprometer. Sem compromisso e aliança não há
mudança de comportamento. Pessoas sem compromisso não são capazes de uma
oratória criativa. Na hora da adversidade, é o compromisso que te mantém ali.
Ele diz:
Não tenha medo de ampliar seus deveres. Se você quer convencer o outro a
mudar de comportamento, você precisa se comprometer com ele, pois quem te ouve
tem repúdio à preguiça, à negligência, à inépcia, a fazer de qualquer jeito o que tem que
ser feito, a não saber o que faz.
Com Ulysses aprendo que meu discurso tem que ser baseado na verdade; que
tenho que trazer a verdade com esperança; que não posso ter medo de me
comprometer; que preciso lembrar às pessoas do nosso sonho e de como tudo
começou; que preciso lembrar às pessoas das consequências nefastas de um caminho
maldito; que jamais posso abrir mão do que é certo. Regras são negociáveis, mas
princípios não são. O que é correto e moral não é negociável. Ele diz:
Quando você não abre mão do que é certo, e esse pode ser o caminho mais difícil,
isso gera credibilidade. As pessoas acreditam em você. Para você convencer alguém,
você precisa ter credibilidade. Se no momento em que é inconveniente ser honesto e,
ainda assim, você se mantiver honesto, saiba que você terá credibilidade.
Não abrimos mão do que é correto nessa casa, empresa, igreja, grupo ou
parlamento. As negociações têm um núcleo duro e isso é o princípio, a moral, o que é
certo.
Quando você for conversar com alguém e ela lhe disser que ainda não é o
momento, que ela não se sente preparada, que as coisas estão no começo, que as
condições não são ideais, diga a ela, se você estiver convencido de que ela deve agir, que
é caminhando que se faz o caminho. Ninguém espera a perfeição porque o perfeito é o
completo, o acabado, o que não pode melhorar, e o que é humano nunca será perfeito
porque sempre será possível melhorar. Basta ver a tecnologia, a medicina, o direito e a
vida.
Ulysses diz:
Ferir a lei para atingir seu escopo. “Cumprir a lei é ferir a lei, e sempre que cumprir
a lei for ferir o espírito da lei, então eu não a cumprirei”.
“O Estado capitulou na entrega do Acre. A sociedade retomou com as foices, os
machados e os punhos de Plácido de Castro e dos seus seringueiros. O Estado prendeu
e exilou a sociedade com Teotônio Vilela; pela anistia, libertou e repatriou”.
O que ele está dizendo é “nossa história inspira nosso futuro. Nosso passado
inspira nosso futuro. Quando as adversidades se faziam presentes e mesmo quando as
adversidades pareciam gigantescas porque eram ordens de El Rei, era invasão
holandesa, era o Acre que sucumbia, era o Tratado de Tordesilhas, o povo, quando quis,
foi maior.
Nossa história inspira a grandeza do nosso futuro. Quando você tiver que
convencer alguém, lembre dos feitos que caracterizam a história dele, a sua, a de vocês
em comum, a história daquela empresa que começou há 10 anos e passou por
dificuldades. A sua história tem que inspirar seu presente na construção de um futuro
grandioso. É preciso trazer isso para seu discurso. As pessoas sempre vencem, por
maiores que sejam as dificuldades.
Quando uma norma se mostra injusta, é justo que essa norma seja superada e
cumprida a Constituição. Por isso que ferir a lei é cumprir o seu escopo neste caso.
“Desobedecer a El Rei para servir El Rei”.
“Termino com as palavras com que comecei esta fala. A nação quer mudar; a
nação deve mudar; a nação vai mudar”.
AULA 3 - BLOCO 2
Nelson Mandela nasceu em 1918 e morreu em 2013, com 95 anos de vida. Ele entra
para o Congresso Nacional Africano, chamado CNA, em 1944 e, nos próximos 20 anos,
dirige uma campanha contra o governo e contra a política de Apartheid, uma política
segregacionista, em que havia bairros para diferentes castas. Em 1964 ele é condenado à
prisão perpétua por ofensas políticas, incluindo sabotagem e traição. Da sua cela, na
prisão, ele se torna um símbolo internacional de resistência. As medidas liberalizantes
de Klerk, que presidiu a África do Sul de 1989 a 1994, iniciaram o desmantelamento do
Apartheid. De Klerk visitou Mandela na prisão, suspendeu o banimento ao Congresso
Nacional Africano e ordenou a soltura de Mandela em 1990. Foram, aproximadamente,
26 anos de prisão. Em 1991, Nelson Mandela é eleito presidente do Congresso Nacional
Africano; em 1993, Mandela e De Klerk ganham o prêmio Nobel da Paz; em 10 de maio
de 1994, após as primeiras eleições multirraciais na África do Sul, Nelson Mandela toma
posse como primeiro presidente negro do país. Ele ocupou o cargo até 1999.
Ele ficou preso até 10 de fevereiro de 1990. Nesse dia, ele foi posto em liberdade e
as pessoas esperavam seu discurso em 11 de fevereiro de 1990, na Cidade do Cabo, África
do Sul. Em 10 de fevereiro de 1990, De Klerk finalmente decretou a soltura de Mandela.
No dia seguinte, o mundo inteiro assistiu à Mandela sair da prisão, admirado com a
figura nobre e ereta que fora ocultada da vista por tanto tempo. Mais tarde, ele falou em
um comício na praça Grand Parade, na Cidade do Cabo.
Mandela inicia seu discurso com uma tática de união. Ele começa se colocando
como um igual e trazendo essa vertente da igualdade. “Nós queremos nos unir, nós
queremos união”. Quando você começa um discurso se colocando no lugar do outro, ou
se colocando no mesmo nível do outro, deixa de existir toda a resistência que o outro
tinha com você porque via em você uma soberba que o afasta.
Ele diz:
“Estou aqui diante de vocês não como um profeta, e sim como um humilde servo
do povo”.
Ele diz:
Aprendo com Mandela que tenho gratidão, mas nós precisamos ter os nossos
olhos voltados para o futuro. Quando converso com você e quero mudar uma situação,
tenho que levar você a pensar no amanhã. Digo “gostaria de convidá-lo a imaginar a sua
vida daqui a 10 anos. Em que cidade gostaria de morar? Com quem você gostaria de
estar? O que você gostaria de fazer?”.
Nelson diz:
“Quando coloco os olhos no futuro, meu filho, percebo que essa visão não tem
futuro. Esse modo de vida não é bem-sucedido. É, inclusive, incompatível com a
felicidade, a paz e a prosperidade que você deseja no futuro”. Quando coloco os olhos no
futuro, não é mais o meu presente que dita o futuro, é o meu futuro que dita o meu
presente porque não é que eu não colherei no futuro o que eu plantar hoje e, portanto,
meu presente define meu futuro; é que, como eu sei o que desejo colher no futuro, eu
mudo a semeadura. O meu futuro é determinante no meu presente. É meu futuro que
determina meu comportamento atual. Quando levo o ouvinte para o futuro, digo “tudo
bem, mas você percebe que esse seu comportamento no futuro não produz bons
resultados?”. É uma forma educada de convencer uma pessoa a tomar um caminho
diverso. É uma oratória criativa que muda e cria.
Nelson Mandela vai se valer de Ulysses Guimarães e vai dizer “o caminho maldito
nos traz consequências nefastas. Se nós não queremos viver essas consequências,
precisamos tomar outro caminho”.
Ele diz:
Unir o povo é uma necessidade, e essa necessidade não pode ser promovida,
atendida ou suprida por uma única pessoa. Quem está no poder tem que ter senso de
grupo, de união e de coletividade. Os pais têm o dever de unir os filhos com sabedoria,
prudência e ousadia, assim como o líder, o fundador e o gerente de uma empresa ou
um líder político. Essa união não é concretizada pelo líder, mas é iniciada por ele. Se você
quer provocar mudanças em um grupo que você ama, pregue a união.
Com ele aprendo que se nós não mudarmos, nós nos arrependeremos e o futuro
não nos perdoará. Leve seu ouvinte para o futuro e diga a ele que se nós não mudarmos,
o futuro não nos perdoará.
Ele diz:
“Afrouxar nossos esforços agora seria um erro que as gerações futuras não
seriam capazes de perdoar”.
“Nós lutaremos nos campos, nas colinas, nas ruas”, para lembrar Churchill. Nós
jamais retrocederemos porque o desistir e o afrouxar seria imperdoável. As gerações
futuras não nos perdoariam. Nossos filhos não nos perdoarão se permitirmos que essa
relação degringole, que entre pela porta da casa o vício do álcool, do jogo, da
prostituição, na mentira, da traição. Nossa rebeldia fará com que nossos filhos se
rebelem. Nós não tomaremos este caminho. Leve seu ouvinte para o futuro e mostre as
consequências nefastas do caminho maldito para que ele mude de trajeto.
“É somente por meio da ação disciplinada das massas que nossa vitória pode ser
assegurada”.
Ou teremos disciplina nessa casa ou não teremos esta casa. Ou teremos disciplina
nesse país, ou esse país não saberá o que é progresso. Ou teremos disciplina na nossa
empresa, ou ela não crescerá de forma organizada, e mesmo que cresça, em um
momento ruirá. Não é aprovado quem não tem disciplina, não cresce quem não tem
disciplina. Se você é falho na disciplina, desenvolva-a.
“Nossa marcha pela liberdade é irreversível. Não devemos permitir que o medo se
interponha em nosso caminho”.
Se você quer ter uma oratória que cria, como o discurso de Nelson Mandela,
mostre em seu discurso que estamos no mesmo barco, que somos iguais, que você está
ali para ajudar e servir. Reconheça o que os outros fizeram e tenha gratidão. Faça uso de
uma linguagem poética porque ela favorece o convencimento. Leve seu ouvinte ao
futuro e mostre as consequências nefastas de um caminho maldito. Pregue a união e o
senso de grupo, mostre o quanto eles são importantes para você e o quão necessário
são. Conscientize as pessoas de que o momento de mudar é agora, que os erros de hoje
serão imperdoáveis no futuro porque nós sabemos quais são os erros de hoje e,
portanto, não podemos cometê-los. Só há uma forma de não os cometer que é pela
disciplina. Mostre uma convicção profunda, um senso de missão e uma certeza de
vitória. Nada vai nos parar. Nós temos um ideal pelo qual queremos viver, mas se
necessário for, pelo qual podemos morrer. É isso que aprendo com Nelson Mandela.