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SamerAgi
AULA 3 - BLOCO 1

Hoje vamos nos concentrar em dois discursos eminentemente políticos, feitos por
políticos e advogados que você conhece ou, pelo menos, já ouviu falar. As pessoas que
estudam a ciência jurídica, em regra, têm maior facilidade para discursar porque eles
são influenciados ou impelidos a tanto, pois é preciso sustentar oralmente no tribunal,
realizar provas orais em provas da magistratura e do Ministério Público, e defender no
tribunal do júri. Com isso, o sujeito aprende, em grande medida, a discursar. Muitas
vezes, os operadores do direito saem da justiça e entram na política.

O Curso de Oratória Criativa pretende demonstrar como há pontos em comum


em todos esses discursos que marcam o mundo, seja no campo da ciência, da política
ou do direito. Os discursos sempre trazem pontos em comum que são impactantes e
que realmente provocam uma mudança. Por isso a oratória é criativa, pois cria uma
situação que não existia antes da palavra. O início era o verbo.

Começaremos hoje com Ulysses Guimarães, um político brasileiro e advogado


formado pelo Largo de São Francisco, pela Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo, que lamentavelmente morreu em um acidente aéreo. Destaco trechos que o
Andrew Burnet traz para que possamos entender o contexto em que discurso foi feito.
Depois, trataremos de Nelson Mandela e do seu discurso no dia da sua libertação.

Existem formas de discursar, mas a melhor forma é sempre trazendo a verdade


que se percebe nos olhos, nas mãos, nos lábios e na postura. O corpo trai o corpo.
Quando a boca cala, o corpo, as palmas e os dedos falam. O dedilhar de dedos sobre a
mesa é nervoso e fala sobre o que sua boca cala. Portanto, o corpo entrega um
sentimento. Se você não tem uma firme convicção do objeto do seu discurso,
dificilmente você vai convencer alguém que ainda não estava convencido.

Andrew Burnet afirma:

“Como primeiro presidente nacional do PMDB, Ulysses Guimarães foi um dos


líderes da derrotada campanha pelas Diretas Já e, em seguida, ele foi um dos
articuladores da eleição indireta de Tancredo Neves. Em 2 de fevereiro de 1987, após
um regime militar de quase 21 anos, Ulysses Guimarães toma posse como presidente
da Assembleia Nacional Constituinte, eleita por voto direto, integrando 559
congressistas que elaborariam a nova Constituição Federal, chamada de Constituição
Cidadã.

Esse discurso de Ulysses Guimarães se dá na sessão de promulgação da


Constituição, em 05 de outubro de 1988, após a vitória sobre o regime ditatorial.
Durante a ditadura, dados levantados pela Comissão Nacional da Verdade dão conta
de que houve a morte de 423 perseguidos políticos, que foram mortos ou
desaparecidos pelo regime; 1,8 mil pessoas torturadas. Entre 5 e 10 mil pessoas foram
forçadas a sair do país porque pensavam diferente. A promulgação da Constituição de
1988 realizada por uma Assembléia Nacional Constituinte eleita por voto direto marca
o fim desse período autoritário da história brasileira”.

Agora daremos início ao discurso de Ulysses Guimarães. A primeira coisa que


aprendo com ele em seu discurso é que as histórias que dão certo e os sonhos que
deram certo precisam ser lembrados, mas é preciso que a gente lembre da origem,
quando aquilo era apenas um sonho. Às vezes, você está em um processo de
reconstrução do seu próprio casamento. Se você volta à origem daquele sonho que deu
certo, pois se tornou casamento, você encontra qual é a base para este fundamento.
Como e sobre o que vocês construíram aquilo? Toda história que deu certo merece ser
lembrada no início. Não é desejável que se esqueça a origem.

Ulysses diz:

“Ecoam nesta sala as reivindicações da rua. A nação quer mudar; a nação deve
mudar; a nação vai mudar. São palavras constantes do discurso de posse como
presidente da Assembleia Nacional Constituinte em 1987. Hoje, 05 de outubro de 1988,
no que tange à Constituição, a nação mudou”.

Querer é poder. Quando ele retorna à origem do sonho de uma nova Constituição,
ele está dizendo nas entrelinhas que valeu à pena ter sonhado. Se você quer trazer um
ponto em comum com seu ouvinte, vá à origem dessa história em comum para que
vocês possam entender como nasceu esse sonho que, agora, pode estar destruído, mas
que pode dar certo, para encontrarem a origem e se desviarem do caminho da
perturbação da destruição.

Aprendo com Ulysses Guimarães que é preciso trazer a verdade com esperança,
na mesma linha de todos os outros que já estudamos. Você tem que ser uma indústria
de esperança baseada na verdade. Ninguém quer que você distorça a realidade, mas
ninguém precisa de uma pessoa que tão somente aponta as falhas do hoje. Queremos
pessoas que apontem a esperança do amanhã, que sabem o que acontece hoje, mas
que tem propostas, soluções e trabalho para o amanhã. Quando você estiver
conversando com uma pessoa ou com o povo, saiba que as pessoas não querem que
você negue a realidade, mas elas querem que a sua realidade venha carregada de
esperança.

Ele diz:

“A constituição mudou na sua elaboração, mudou na definição dos poderes,


mudou restaurando a Federação, mudou quando quer mudar o homem cidadão, e só
é cidadão quem ganha justo e suficiente salário, lê, escreve, mora, tem hospital e
remédio, lazer quando descansa. Em um país com 30.401.000 analfabetos, afrontosos
25% da população, cabe advertir: a cidadania começa com o alfabeto. E chegamos.
Esperamos a Constituição como o vigia espera a aurora”.

Ele traz a verdade com esperança. Não negamos que 25% da população é
composta por analfabetos. Só há cidadania com a alfabetização. Ele diz que a
Constituição mudou. Nós sabemos o que precisamos e a Constituição diz que nós
temos direito ao que precisamos, pois isso é fundamental. Os direitos aqui consagrados
são direitos fundamentais.

Você percebe no discurso de Ulysses que ele faz uso do que chamamos de
linguagem poética como campo de convencimento. Sempre que você quiser convencer
alguém, valer-se de uma linguagem poética, de um fundo de autoridade, de um
escritor, de um técnico no assunto, de um estudioso do tema, reforça seu discurso e traz
argumento de autoridade. Ele diz “esperamos a Constituição como o vigia espera a
aurora”. Depois de uma longa noite de escuridão, vem a aurora.
Às vezes, as pessoas tomam caminhos errados e elas sabem disso, mas reiteram
em seus caminhos porque não refletem sobre as consequências dos erros passados. A
psicanálise fala muito sobre o sujeito incidir no mesmo erro e fazer sempre a escolha
errada, seja no campo das relações, das profissões ou qualquer outro campo. Ele reitera
no erro porque não aprendeu com o ele. Quando você estiver diante de uma pessoa que
reitera na sua falha, lembre-se das consequências do caminho equivocado que ela vem
trilhando. As consequências destruidoras, imprevisíveis à época, mas agora previsíveis,
provavelmente acontecerão de novo. É previsível porque você vê a história se repetir.
Quem já destruiu um casamento pode destruir o segundo com o mesmo modus
operandi, que combina desrespeito com diversos outros fatores. Se você quer convencer
alguém de que ela está em um caminho equivocado, traga exemplos dela ou de outras
pessoas que trilharam o mesmo caminho e experimentaram idêntica derrocada, ou
experimentará novamente caso persista por aquela trilha.

Ulysses diz:

“Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas do


parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o
cemitério”.

Quando você destrói a liberdade, este é o caminho de quem não pensa como
você. Ele chama esse caminho de “caminho maldito”. “Sabemos do mal que há neste
caminho e não queremos trilhá-lo nem viver essa experiência novamente”. “Não
queremos viver a experiência que João viveu”. Isso porque é normal que você aprenda
com seus erros, mas é sábio que você aprenda com os erros dos outros. Cada um de nós
comete erros ao longo da vida, mas é sábio que nossos erros não sejam os mesmos
erros dos nossos pais, tios e amigos que erraram antes. Quem não observa as
consequências do caminho maldito trilha por ele e colhe idênticos frutos. Se você quer
convencer alguém a mudar de caminho, traga as consequências do caminho que essa
pessoa trilha.

Com Ulysses aprendo que é preciso perder o medo do compromisso. Se você quer
convencer alguém, se você quer criar uma nova atmosfera, uma nova situação, se você
quer inovar, não tenha medo de se comprometer. Sem compromisso e aliança não há
mudança de comportamento. Pessoas sem compromisso não são capazes de uma
oratória criativa. Na hora da adversidade, é o compromisso que te mantém ali.

Ele diz:

“Nós, os legisladores, ampliamos nossos deveres. Temos de honrá-los. A nação


repudia a negligência, a preguiça e a inépcia”.

Não tenha medo de ampliar seus deveres. Se você quer convencer o outro a
mudar de comportamento, você precisa se comprometer com ele, pois quem te ouve
tem repúdio à preguiça, à negligência, à inépcia, a fazer de qualquer jeito o que tem que
ser feito, a não saber o que faz.

Com Ulysses aprendo que meu discurso tem que ser baseado na verdade; que
tenho que trazer a verdade com esperança; que não posso ter medo de me
comprometer; que preciso lembrar às pessoas do nosso sonho e de como tudo
começou; que preciso lembrar às pessoas das consequências nefastas de um caminho
maldito; que jamais posso abrir mão do que é certo. Regras são negociáveis, mas
princípios não são. O que é correto e moral não é negociável. Ele diz:

“A moral é o cerne da pátria. A corrupção é o cupim da República. República suja


pela corrupção impune tomba nas mãos dos demagogos que, a pretexto de salvá-la, a
tiranizam. Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro
mandamento da moral pública”.

Quando você não abre mão do que é certo, e esse pode ser o caminho mais difícil,
isso gera credibilidade. As pessoas acreditam em você. Para você convencer alguém,
você precisa ter credibilidade. Se no momento em que é inconveniente ser honesto e,
ainda assim, você se mantiver honesto, saiba que você terá credibilidade.

Não abrimos mão do que é correto nessa casa, empresa, igreja, grupo ou
parlamento. As negociações têm um núcleo duro e isso é o princípio, a moral, o que é
certo.

Não espere o cenário perfeito. Ele diz:


“Não é a Constituição perfeita. Ela própria, com humildade e realismo, admite ser
emendada. Não é a Constituição perfeita, mas será útil, pioneira, desbravadora. Será
luz, ainda que de lamparina, na noite dos desgraçados. É caminhando que se abrem
os caminhos”.

Quando você for conversar com alguém e ela lhe disser que ainda não é o
momento, que ela não se sente preparada, que as coisas estão no começo, que as
condições não são ideais, diga a ela, se você estiver convencido de que ela deve agir, que
é caminhando que se faz o caminho. Ninguém espera a perfeição porque o perfeito é o
completo, o acabado, o que não pode melhorar, e o que é humano nunca será perfeito
porque sempre será possível melhorar. Basta ver a tecnologia, a medicina, o direito e a
vida.

Instigue as pessoas à execução. Pessoas extremamente teóricas desconhecem a


vida como ela é, só conhecem a vida como deve ser, opinam sobre fatos não vividos e
aconselham sobre o que não sabem. Os livros podem ser maravilhosos, mas não
substituem a realidade, o sangue na guerra, o estar no palco, o expor-se. Instigue as
pessoas a agirem. É no caminho que se faz o caminho, que se prepara o guerreiro, que
se faz o vencedor.

Ulysses diz:

“A sociedade sempre acaba vencendo, mesmo ante a inércia ou o antagonismo


do Estado. O Estado era Tordesilhas. Rebelada, a sociedade empurrou as fronteiras do
Brasil, criando uma das maiores geografias do mundo. O Estado encarnado na
metrópole resignara-se ante a invasão holandesa no nordeste. A sociedade não. A
sociedade restaurou nossa integridade territorial com a insurreição nativa de Tabocas
e Guararapes, sobre a liderança de André Vidal de Negreiros, Felipe Camarão e João
Fernandes Vieira, que cunhou a frase de preeminência da sociedade sobre o Estado
‘desobedecer a El Rei para servir El Rei'' '.

Ferir a lei para atingir seu escopo. “Cumprir a lei é ferir a lei, e sempre que cumprir
a lei for ferir o espírito da lei, então eu não a cumprirei”.
“O Estado capitulou na entrega do Acre. A sociedade retomou com as foices, os
machados e os punhos de Plácido de Castro e dos seus seringueiros. O Estado prendeu
e exilou a sociedade com Teotônio Vilela; pela anistia, libertou e repatriou”.

O que ele está dizendo é “nossa história inspira nosso futuro. Nosso passado
inspira nosso futuro. Quando as adversidades se faziam presentes e mesmo quando as
adversidades pareciam gigantescas porque eram ordens de El Rei, era invasão
holandesa, era o Acre que sucumbia, era o Tratado de Tordesilhas, o povo, quando quis,
foi maior.

Nossa história inspira a grandeza do nosso futuro. Quando você tiver que
convencer alguém, lembre dos feitos que caracterizam a história dele, a sua, a de vocês
em comum, a história daquela empresa que começou há 10 anos e passou por
dificuldades. A sua história tem que inspirar seu presente na construção de um futuro
grandioso. É preciso trazer isso para seu discurso. As pessoas sempre vencem, por
maiores que sejam as dificuldades.

Quando uma norma se mostra injusta, é justo que essa norma seja superada e
cumprida a Constituição. Por isso que ferir a lei é cumprir o seu escopo neste caso.
“Desobedecer a El Rei para servir El Rei”.

“Termino com as palavras com que comecei esta fala. A nação quer mudar; a
nação deve mudar; a nação vai mudar”.

Querer é poder. Ulysses Guimarães, em seu discurso feito em 05 de outubro de


1988, um dos discursos que marcam o mundo moderno, diz que “é preciso que a gente
se lembre do início de um sonho que deu certo, como as coisas começaram, como a
gente construiu. Portanto, vale a pena lutar por algo. É preciso que a gente traga
verdade porque as pessoas não querem ser enganadas, e elas sabem quando estão
sendo enganadas. É preciso trazer a verdade, mas sempre a verdade com a esperança.

Com Ulysses aprendo que os caminhos malditos produzem consequências


nefastas e, quando as pessoas estão em caminhos malditos, nós precisamos lembrá-las
para que elas nunca mais tomem esse caminho. É sábio aprender com o erro dos
outros, é normal aprender com os próprios erros e é tolo não aprender com os próprios
erros e falhas. Aprendo que é preciso ter coragem de se comprometer, que só convence
quem se compromete, só convence quem não tem medo do compromisso. Só se cria e
muda uma história quem se compromete. Sem aliança não há valor. Aprendo, ainda,
que não podemos abrir mão do que é certo, que existe um ponto duro em que não há
negociação, e que o primeiro mandamento da moral pública é não roubar, não deixar
roubar e pôr na cadeia quem rouba. Aprendo que não se deve esperar o perfeito. É no
caminho que se faz o caminho. Aprendo que é preciso lembrar os feitos da nossa
história que inspirarão o presente na construção de um grande futuro e que no início é
o verbo. A palavra é o querer, mas querer é poder. A nação quer mudar, deve mudar e
vai mudar.

AULA 3 - BLOCO 2

Agora falaremos de Nelson Mandela, mais um advogado que trilha o caminho da


política, e estadista sul-africano. Vou contextualizar com as palavras de Andrew Burnet
para que você possa compreender em que contexto ele faz o discurso no dia da sua
libertação.

Nelson Mandela nasceu em 1918 e morreu em 2013, com 95 anos de vida. Ele entra
para o Congresso Nacional Africano, chamado CNA, em 1944 e, nos próximos 20 anos,
dirige uma campanha contra o governo e contra a política de Apartheid, uma política
segregacionista, em que havia bairros para diferentes castas. Em 1964 ele é condenado à
prisão perpétua por ofensas políticas, incluindo sabotagem e traição. Da sua cela, na
prisão, ele se torna um símbolo internacional de resistência. As medidas liberalizantes
de Klerk, que presidiu a África do Sul de 1989 a 1994, iniciaram o desmantelamento do
Apartheid. De Klerk visitou Mandela na prisão, suspendeu o banimento ao Congresso
Nacional Africano e ordenou a soltura de Mandela em 1990. Foram, aproximadamente,
26 anos de prisão. Em 1991, Nelson Mandela é eleito presidente do Congresso Nacional
Africano; em 1993, Mandela e De Klerk ganham o prêmio Nobel da Paz; em 10 de maio
de 1994, após as primeiras eleições multirraciais na África do Sul, Nelson Mandela toma
posse como primeiro presidente negro do país. Ele ocupou o cargo até 1999.

Ele ficou preso até 10 de fevereiro de 1990. Nesse dia, ele foi posto em liberdade e
as pessoas esperavam seu discurso em 11 de fevereiro de 1990, na Cidade do Cabo, África
do Sul. Em 10 de fevereiro de 1990, De Klerk finalmente decretou a soltura de Mandela.
No dia seguinte, o mundo inteiro assistiu à Mandela sair da prisão, admirado com a
figura nobre e ereta que fora ocultada da vista por tanto tempo. Mais tarde, ele falou em
um comício na praça Grand Parade, na Cidade do Cabo.

Mandela inicia seu discurso com uma tática de união. Ele começa se colocando
como um igual e trazendo essa vertente da igualdade. “Nós queremos nos unir, nós
queremos união”. Quando você começa um discurso se colocando no lugar do outro, ou
se colocando no mesmo nível do outro, deixa de existir toda a resistência que o outro
tinha com você porque via em você uma soberba que o afasta.

Ele diz:

“Estou aqui diante de vocês não como um profeta, e sim como um humilde servo
do povo”.

“Estou aqui para servir”. Existe um ensinamento bíblico quando os apóstolos


perguntam para Jesus quem é o maior entre eles e sua resposta é que o maior é o que
serve. Há uma ruptura da noção de liderança, em que o líder é servido.

Com Mandela aprendo a importância do reconhecimento, da gratidão e, mais


uma vez, da linguagem poética, que facilita o convencimento do outro. Quando me faço
igual, derrubo as barreiras que existem entre mim e aquela pessoa. O outro que luta,
trabalha, sofre e tenta precisa de reconhecimento. Quem trabalhou por você também
precisa da sua gratidão. Não adianta você chegar diante de uma pessoa com ares de
superioridade, sem gratidão, sem reconhecimento.

Ele diz:

“Seus sacrifícios heroicos e incansáveis tornaram possível eu estar aqui. Eu,


portanto, coloco em suas mãos os anos de vida que me restam. Neste dia da minha
libertação, expresso minha afetuosa e sincera gratidão aos milhões de compatriotas e
àqueles que no mundo todo lutam incansavelmente para que eu fosse libertado”.

Houve um movimento internacional pela libertação de Nelson Mandela. A


gratidão é a memória do coração. O reconhecimento desarma. “Estou aqui para lhe
servir. A minha posição aqui é para lhe ajudar a crescer. Então, meu filho, apesar de ser
seu pai, estou aqui para tentar ajudá-lo a tomar uma decisão correta. Eu reconheço seus
esforços. Sou muito grato porque, durante muitas vezes, eu pude me orgulhar e vibrar
por suas vitórias. Maiores do que as vitórias próprias são as vitórias dos nossos filhos,
pois, com as vitórias dos nossos filhos, nós vencemos muitas vezes. Portanto, quero lhe
agradecer por ter me feito sentir tantas vezes um orgulho tão puro, uma felicidade tão
pura quanto a que sente pelo seu esforço na escola, no trabalho, na graduação, na vida,
e pelas decisões difíceis e corretas que você tomou”. Esse reconhecimento faz com que
os olhos do outro brilhem.

Aprendo com Mandela que tenho gratidão, mas nós precisamos ter os nossos
olhos voltados para o futuro. Quando converso com você e quero mudar uma situação,
tenho que levar você a pensar no amanhã. Digo “gostaria de convidá-lo a imaginar a sua
vida daqui a 10 anos. Em que cidade gostaria de morar? Com quem você gostaria de
estar? O que você gostaria de fazer?”.

Nelson diz:

“Hoje, a maioria dos sul-africanos, negros e brancos, reconhece que o Apartheid


não tem futuro”.

“Quando coloco os olhos no futuro, meu filho, percebo que essa visão não tem
futuro. Esse modo de vida não é bem-sucedido. É, inclusive, incompatível com a
felicidade, a paz e a prosperidade que você deseja no futuro”. Quando coloco os olhos no
futuro, não é mais o meu presente que dita o futuro, é o meu futuro que dita o meu
presente porque não é que eu não colherei no futuro o que eu plantar hoje e, portanto,
meu presente define meu futuro; é que, como eu sei o que desejo colher no futuro, eu
mudo a semeadura. O meu futuro é determinante no meu presente. É meu futuro que
determina meu comportamento atual. Quando levo o ouvinte para o futuro, digo “tudo
bem, mas você percebe que esse seu comportamento no futuro não produz bons
resultados?”. É uma forma educada de convencer uma pessoa a tomar um caminho
diverso. É uma oratória criativa que muda e cria.

Nelson Mandela vai se valer de Ulysses Guimarães e vai dizer “o caminho maldito
nos traz consequências nefastas. Se nós não queremos viver essas consequências,
precisamos tomar outro caminho”.

Ele diz:

“A destruição causada pelo Apartheid em nosso subcontinente é incalculável. O


tecido da vida familiar de milhões do meu povo foi destruído. Milhões estão
desabrigados e desempregados. Nossa economia está em ruína e nosso povo está
envolvido em rixas políticas”.

A mensagem é atual. A destruição causada pela segregação é vista a olhos nus


por qualquer um. O caminho da divisão sempre é um mau caminho. “Como um reino
ficará intacto se uma parte dele se levanta contra a outra parte?” (Jesus). O que Nelson
Mandela verifica é que sem união não há salvação nem prosperidade. Essa divisão que
tomou conta da família, empresa, igreja ou país está provocando destruição. Onde
podíamos nos sentir abrigados, estamos nos sentindo desabrigados. O que construímos
está em ruínas e não nos deixamos unir porque estamos carregados de rixas.

Aprendo com Ulysses e Nelson Mandela que só a liberdade e a união produzem


prosperidade. Ronald Reagan também diz isso.

Nelson Mandela diz:

“A necessidade de unir o povo do nosso país é, hoje, uma tarefa importante,


como sempre foi. Nenhum líder individual é capaz de realizar essa tarefa enorme
sozinho”.

Unir o povo é uma necessidade, e essa necessidade não pode ser promovida,
atendida ou suprida por uma única pessoa. Quem está no poder tem que ter senso de
grupo, de união e de coletividade. Os pais têm o dever de unir os filhos com sabedoria,
prudência e ousadia, assim como o líder, o fundador e o gerente de uma empresa ou
um líder político. Essa união não é concretizada pelo líder, mas é iniciada por ele. Se você
quer provocar mudanças em um grupo que você ama, pregue a união.

“Nossa luta chegou a um momento decisivo. Conclamamos nosso povo a


aproveitar este momento para que o processo rumo à democracia seja rápido e
ininterrupto”.

É preciso conscientizar as pessoas de que o momento de mudar é agora. O que


aprendo com Ulysses Guimarães é “não espere o perfeito, vá e faça”. O que aprendo com
Nelson Mandela é “a hora é agora, vá e faça”. Quem quer convencer tem que estar
disposto a mudanças, a iniciar a execução do projeto, e não somente a projetar. Quando
Jeff Bezos chega em uma sala de reunião na Amazon, e ele entende ser desnecessária
uma televisão ali, ele pede para tirá-la por ser um gasto desnecessário. Ele deixa a base
da televisão exposta para que as pessoas sempre se lembrem dessa filosofia. A atitude
dele foi imediata. Não adianta pregar pacto de mudança se ela está agendada para a
próxima oportunidade. É preciso mudar de comportamento agora.

Com ele aprendo que se nós não mudarmos, nós nos arrependeremos e o futuro
não nos perdoará. Leve seu ouvinte para o futuro e diga a ele que se nós não mudarmos,
o futuro não nos perdoará.

Ele diz:

“Afrouxar nossos esforços agora seria um erro que as gerações futuras não
seriam capazes de perdoar”.

“Nós lutaremos nos campos, nas colinas, nas ruas”, para lembrar Churchill. Nós
jamais retrocederemos porque o desistir e o afrouxar seria imperdoável. As gerações
futuras não nos perdoariam. Nossos filhos não nos perdoarão se permitirmos que essa
relação degringole, que entre pela porta da casa o vício do álcool, do jogo, da
prostituição, na mentira, da traição. Nossa rebeldia fará com que nossos filhos se
rebelem. Nós não tomaremos este caminho. Leve seu ouvinte para o futuro e mostre as
consequências nefastas do caminho maldito para que ele mude de trajeto.

Aprendemos sobre disciplina com Franklin Roosevelt e com Margaret Thatcher.


Sem disciplina o sujeito não progride.
Ele diz:

“É somente por meio da ação disciplinada das massas que nossa vitória pode ser
assegurada”.

Ou teremos disciplina nessa casa ou não teremos esta casa. Ou teremos disciplina
nesse país, ou esse país não saberá o que é progresso. Ou teremos disciplina na nossa
empresa, ou ela não crescerá de forma organizada, e mesmo que cresça, em um
momento ruirá. Não é aprovado quem não tem disciplina, não cresce quem não tem
disciplina. Se você é falho na disciplina, desenvolva-a.

“Nossa marcha pela liberdade é irreversível. Não devemos permitir que o medo se
interponha em nosso caminho”.

“A única coisa que devemos temer é o próprio medo” (Franklin Roosevelt). É


preciso ter esse senso, pois o senso de missão muda tudo.

Na parte final ele diz:

“Para concluir desejo citar as minhas próprias palavras durante o meu


julgamento em 1964. Elas são tão verdadeiras hoje quanto eram na época. Eu lutei
contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Nutri o ideal de uma
sociedade livre e democrática em que todas as pessoas vivam juntas em harmonia e
com iguais oportunidades. É um ideal pelo qual espero viver e o qual espero alcançar.
Mas se necessário for, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer”.

Se você quer ter uma oratória que cria, como o discurso de Nelson Mandela,
mostre em seu discurso que estamos no mesmo barco, que somos iguais, que você está
ali para ajudar e servir. Reconheça o que os outros fizeram e tenha gratidão. Faça uso de
uma linguagem poética porque ela favorece o convencimento. Leve seu ouvinte ao
futuro e mostre as consequências nefastas de um caminho maldito. Pregue a união e o
senso de grupo, mostre o quanto eles são importantes para você e o quão necessário
são. Conscientize as pessoas de que o momento de mudar é agora, que os erros de hoje
serão imperdoáveis no futuro porque nós sabemos quais são os erros de hoje e,
portanto, não podemos cometê-los. Só há uma forma de não os cometer que é pela
disciplina. Mostre uma convicção profunda, um senso de missão e uma certeza de
vitória. Nada vai nos parar. Nós temos um ideal pelo qual queremos viver, mas se
necessário for, pelo qual podemos morrer. É isso que aprendo com Nelson Mandela.

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