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Iniciamos a entrevista numa conversa informal com o ex-governador e seu

assessor, que nos receberam muito bem, falando sobre o Eu Ideal e a maneira
como fazemos jornalismo, com uma pauta mais alternativa e mantendo uma
fidelidade as nossas convicções. O assessor nos deu agradecimentos pondo em
evidência a importância do nosso canal de informações na divulgação das ações do
governo, ainda sob o mandato de Confúcio.

Eu Ideal - Hoje, o senhor pode ser considerado um dos grandes pioneiros no


estado de Rondônia. O senhor chegou aqui quando éramos Território Federal do
Guaporé, quando Ariquemes era apenas um povoado. Aqui construiu uma família,
aprofundou raízes, levantou empreendimentos e fez história. O senhor tem um perfil de
sucesso que reflete, de maneira amostral, os sonhos e aspirações de tantos outros
cidadãos brasileiros. Como que o senhor se sente em relação a todas essas conquistas?

Confúcio – Eu não vim pra Rondônia para ser político, eu vim aqui, junto com
minha esposa e duas filhas pequenas, na perspectiva de exercer minha profissão.
Cheguei em Ariquemes quando não havia Ariquemes, existia apenas a Vila de
Ariquemes, que era um distrito de Porto-Velho, não tinha prefeito nem vereadores,
apenas um administrador indicado pelo prefeito de Porto-Velho. Então, toda essa
“epopeia”, essa saga, que aconteceu comigo veio de uma forma muito natural, e foi
acontecendo à medida que as situações iam surgindo. Para mim foi muito
surpreendente, saltos grandiosos em termos de política: primeiramente como candidato
a prefeito, depois deputado federal, por três vezes, prefeito reeleito, governador eleito e
reeleito, e agora estamos postulando uma vaga com essa pré-candidatura ao Senado.
Mas respondendo a sua pergunta: foi tudo maravilhoso e uma evolução muito maior
do que eu esperava.

Eu Ideal - É impossível falar da pessoa do Confúcio Moura e não fazer uma


associação imediata de sua imagem à política.

Num passado recente, um dos assuntos mais em alta foi a notícia da renúncia do
seu mandato, de Chefe Executivo do Governo do Estado de Rondônia, para então
lançar-se candidato na disputa por uma vaga no Senado da República. Quais são seus
objetivos e metas com esse novo pleito?
Confúcio – O prazo de renúncia era até 05/06 de abril, eu afastei no dia 06, e
agora vamos disputar. O Senado, é um poder muito importante dentro da configuração
dos pesos e contrapesos de uma democracia. O senado significa o poder dos mais
velhos, dos de maior conhecimento, sendo exercido como um poder moderador e
revisor, fazendo a execução dessas funções (de revisão das leis aprovadas pela câmara
dos deputados) sem emoções, mas com muita deliberação e debate, numa maior calma,
ou pode, também, ter iniciativas próprias de propor leis ou emendas constitucionais, e
também, agora, com o uso trivial das medidas provisórias, é também um papel muito
importante, mas o lado importante do senado, nessa situação que o Brasil vive, com
muitas sequelas ,muitas problemáticas, é a questão do discurso renovador, o discurso da
virada do brasil, esse discurso persistente, um discurso água mole em pedra dura, junto
com outros parlamentares, pode induzir a mudanças importantes no país, e essas
mudanças passam sem dúvidas por reformas, alteração da constituição federal brasileira,
a defesa do estado de Rondônia e a solução das suas dificuldades, uma delas é a questão
fronteiriça, e assim é o trabalho do Senador, é um trabalho muito grande, mas não como
o Senado americano onde eles detém a chave do orçamento. O presidente quando quer
fugir de alguma coisa que não esteja orçamentado ele deve pedir permissão ao senado,
somente ao Senado. O nosso presidencialismo é muito forte, mas ainda assim o senado,
hoje, pode obstruir muitas das decisões do poder executivo. Eu quero participar com
os outros parlamentares no sentido de ajudar na reconstrução do nosso país.

Eu Ideal –Nesses seus quase 8 anos de mandato, o que o senhor considera como
uma das coisas mais importantes que foram feitas e que vai ficar como uma marca do
seu mandato?

Confúcio – Não existe apenas uma coisa. Se eu tivesse de escolher, eu diria a


saúde, apesar de ser algo sazonal: uma hora está boa e outra ruim. É um paradoxo,
quanto mais boa ela fica, mais rápido ela cai em qualidade, porque quando ela fica
muito boa vem muita gente de outros estados e outras regiões, e não se pode dizer não,
tem que atender, e com isso o gasto aumenta bastante. Então a saúde tem uma tendência
oscilante, de pendular, mas nós melhoramos muito a saúde. A educação também
fizemos mudanças importantes com melhoria dos ambientes de trabalho para o conforto
dos professores e alunos, com estruturas mais bonitas nas escolas, que causam a vaidade
nos alunos, e isso é algo importante. Na questão da Agricultura, nós sempre
estimulamos muito a agricultura familiar, a produção de alimentos, a Rondônia Rural
Show, o apoio a pesquisa científica, que nós investimos muito, hoje 80 % de toda
pesquisa de mestrado e doutorado da universidade de Fio Cruz e da universidade de
Rondônia são financiados pelo estado, através da FAPERO.

Eu Ideal – Nós observamos muito que o senhor teve um olhar mais diferenciado
para esse lado da pesquisa e da promoção de eventos tecnológicos como a Info Party, e
agora a Campus Party, eventos voltados para a juventude. Por que o senhor acha
importante esse tipo de evento?

Confúcio – A inovação! Essa promoção de competições de games é


fundamental para a comunhão de jovens e internautas que manuseiam bem as
ferramentas do mundo digital, porque promovem o despertamento de interesses
adormecidos, e quem sabe ali sejam despertados interesses na juventude rondoniense
para o campo da pesquisa científica, da tecnologia e inclusive para o campo das
Startups. Como o Brasil não tem tradição no financiamento público ou privado das
startups, a gente prepara esses meninos bem curiosos e interessados, para que eles
possam até sair do país, para fazer as suas pesquisas nos EUA ou em outros lugares
onde possam conseguir financiamentos garantidos, e isso já tem dado excelentes
resultados para jovens brasileiros inovadores, e nós precisamos criar essa cultura de
desejo pela inovação e produtividade da juventude.

Eu Ideal – O senhor foi avaliado pelo G1, site da Globo, como o segundo
governador, dentre os estados brasileiros, que mais cumpriram com promessas de
governo ficando apenas atrás do governador do Maranhão. Dentre as suas promessas
não cumpridas temos a criação da Universidade Estadual. O que faltou para o senhor
executar a ideia?

Confúcio – A ideia não era de minha autoria, era do próprio partido, mais
especificamente do Tomás Correia, nosso presidente, que insistiu que colocássemos a
UE como umas das propostas, o que não sou muito favorável devido ao custo
extremamente elevado para manutenção de professores, doutores e instalações prediais
no estado de RO inteiro. Precisamos investir no ensino médio, que hoje é o grande
gargalo e funil estrangulador da juventude, muitos jovens desistem de estudar, se nós
conseguimos melhorar o ensino médio, isso é um grande trabalho para o estado de
Rondônia. Os que terminarem podem saltar para uma faculdade e avançar nos estudos
ou ficar no ensino médio profissional, o que é muito importante, e nós criamos o
Instituto do Desenvolvimento de Educação Profissional do Estado de Rondônia (IDEP),
justamente para oferecer cursos diversos para a juventude rondoniense, inclusive cursos
rápidos de 6 meses, de 1 ano coisas que a pessoa faça e já possa ganhar dinheiro. (Isso
para o ensino médio profissional), criamos uma dessas escolas em Rolim de Moura com
esse objetivo, de inclusão social de índios e quilombolas, já temos 41 alunos estudando
e somente filhos de agricultores, com escolas que formam técnicos com a pedagogia da
alternância.

Eu Ideal – O senhor falou da importância de se fazer investimentos na pesquisa


científica, mas de que adianta fazer esses investimentos no fomento à pesquisa e
desenvolvimento de conhecimento, mas não proporcionar maneiras de que essas
pesquisas e projetos saiam do papel e se concretizem?

Confúcio – A FAPERO foi concebida como uma entidade diferente das demais
fundações de pesquisa no Brasil, voltada para os interesses do estado, como a
piscicultura em Presidente Médici, a bovinocultura de leite.... Então estamos
concentrando as pesquisas encima de interesses do comércio e da indústria local, o que
vai contribuir enormemente para o desenvolvimento do estado.

Eu Ideal - O principal papel do senador é legislar: propor, discutir e deliberar


sobre a estrutura legislativa do país. Um dos pontos mais importantes, e que demandam
a maior parte de seu trabalho, diz respeito às leis orçamentárias, que indicam como e
quanto que o governo gastará do dinheiro público.

O que podemos esperar do Confúcio, enquanto Senador? Quais serão as suas


pautas prioritárias?

Confúcio – É justamente esse papel de legislador, nos debruçando nas leis e


propostas de emendas da constituição, fazendo leis consistentes, a reforma política, a
reforma da previdência social e a reforma tributária. Os deputados constituintes foram
generosos demais, dando direitos demais e deveres de menos. Isso é algo que devemos
mudar, é preciso que todos tenhamos e cumpramos com deveres, tirando essa falta de
consonância na constituição.
Eu Ideal – O senhor decidiu disputar o senado pelo MDB (Antigo PMDB),
partido pelo qual o senhor já disputou nove eleições, das quais em seis foi vitorioso,
além de, é claro, ter desempenhado, e continuar desempenhando grande protagonismo,
tanto no que se refere ao cenário local quanto no nacional.

Com a imagem abalada pelos escândalos de corrupção, o fisiologismo


escancarado e a adoção de medidas impopulares com a chegada de Michel Temer ao
poder, o seu partido decidiu fazer o que os marqueteiros chamam de rebranding, uma
mudança de nome para assumir, aos olhos do público, uma nova identidade. Tendo isso
em vista, escolheu-se adotar a sigla originária MDB, deixando-se o “P”, para trás.

O senhor não tem receio quanto a influência, que a imagem negativa construída
pelo seu partido, em especial nos últimos dois anos, pode ter sobre os resultados nessa
próxima eleição?

Confúcio – Não, o MDB é um partido muito grande, se você fizer um


levantamento das personalidades que estão envolvidas nesses escândalos de corrupção,
você verá que eles não representam o partido. Temos muitos governadores sem nenhum
processo, como Paulo Antunes, do Espírito Santo, e outros por aí a fora. No meu caso,
há alguns inquéritos, mas que não foram acolhidos pela justiça, a maioria cai. É
impossível, hoje, do jeito que está, alguém, independente do partido, que venha ocupar
o governo ou alguma prefeitura, que saia sem nenhuma pendencia no Tribunal de
Contas. Você pode colocar o Papa Francisco aí, pode eleger ele presidente ou
governador de Rondônia, e ele saíra com multas no Tribunal de Contas e vai pegar um
processinho na ação civil pública tranquilamente. Ele vai ter que responder por isso, e
justificar, mesmo que de cara ele já esteja condenado, ele pode tentar fazer a defesa e
ser absolvido ou condenado, se de fato existir dolo. Mas o MDB tem um valor histórico
muito grande para o Brasil, ele não deve ser julgado por esse momento em que vivemos,
a situação que vivemos é resultada de vícios de maus usos e costumes recentes, eu fui
deputado e não tinha isso, não via esses escândalos, se houvesse eram muito bem
camuflados, porque eu nem conhecia a Odebrecht naquela época. Então, estamos
passando por essa fase de ir para o divã para sermos tratados e nos reconstruir deixando
os erros para traz.
Eu Ideal – O senhor já teve experiência na gestão de um município, de um
estado.... Na sua percepção, o que ainda persiste como deficiência no nosso estado? O
que o senhor, como senador, vai fazer para melhorar essas situações?

Confúcio – A queda de receita dos municípios, um certo empobrecimento


justamente por causa da baixa receita municipal para investimentos no campo, os
prefeitos não têm mais capacidade nenhuma de investir em obras, se não fossem por
meio das emendas parlamentares estaduais, federais e municipais, não haveria como
trabalhar. Então precisamos enriquecer os municípios e capacitar muito bem os prefeitos
para usar o dinheiro em projetos prioritários, isto é, não fracionar o recurso em diversos
segmentos e nada dar certo. É para evitar algo como decidir fazer uma viagem para São
Paulo de carro, tendo dinheiro para chegar apenas até Cuiabá. Deve-se pagar a folha de
salário, equilibrar essa folha e o mínimo que sobrar, fazer investimentos para fazer os
trabalhos básicos, mas essenciais nos municípios.

Eu Ideal – E quanto ao saneamento? O senhor falou sobre investimentos na


educação, mas há pesquisas que indicam que o coeficiente de intelectualidade das
crianças e jovens em desenvolvimento pode ser reduzido em até 17% pela falta do
saneamento.

Confúcio – Esse ano vamos colocar 100% de água tratada no município de


Porto-Velho, quanto ao esgotamento sanitário, além de ser muito caro, o governo
federal hoje não dispõe. Aqui já tivemos recurso do PAC desde o governo Cassol, que
ele licitar, mas o Tribunal de Contas mandou suspender e anular, eu licitei, mas fomos
parados. Devolvemos o recurso, porque foram mais de 14 anos sem executar o projeto
por excesso de zelo dos órgãos de controle. Aí contraímos um empréstimo no valor de
117 milhões, que deverá ser usado exclusivamente, pela CAERD, para fazer um trecho
de esgoto na Bacia Norte, próximos ao Hospital de Base, Aeroporto... Zona Norte, que
deve atingir 15% da cidade. O resto da população usará as fossas, como um quebra
galho, o que será suficiente para suprir a necessidade. Mas temos muitos municípios
com o sistema de esgoto e o fornecimento de água em 100% ou algo próximo disso.

Eu Ideal – Tem alguma mensagem em especial que o senhor queira deixar para
os nossos quase dezoito mil leitores?
Confúcio – Busquem o conhecimento, a face oculta da prosperidade. Quanto
mais conhecimento acumulado tiver, mais bem-sucedido será o jovem do futuro. Então
abrace e mergulhe de ponta na quarta revolução industrial, que é o mundo digital.

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