Você está na página 1de 45

SENADO FEDERAL

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO

ATA DA 15ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA 1ª


SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 53ª LEGISLATURA, REALIZADA EM 10 DE
MAIO DE 2007.

CICLO DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS


1ª AUDIÊNCIA

Às dez horas e trinta e sete minutos do dia dez de maio de dois mil e sete, na sala de reuniões
da Comissão, Ala Senador Alexandre Costa, sala quinze (15), sob a Presidência do Senador
Cristovam Buarque e com a presença dos Senhores Senadores Flávio Arns, Augusto Botelho,
Paulo Paim, Ideli Salvatti, Inácio Arruda, João Ribeiro, Wellington Salgado de Oliveira,
Gilvam Borges, Mão Santa, Paulo Duque, Geraldo Mesquita Júnior, Edison Lobão, Marco
Maciel, Rosalba Ciarlini, Marconi Perillo, Marisa Serrano, Flexa Ribeiro, Patrícia Saboya
Gomes, Antônio Carlos Valadares, Francisco Dornelles, Marcelo Crivella e Eduardo Azeredo
reúnem-se a Comissão de Educação. Deixam de comparecer os Senhores Senadores Renato
Casagrande, Fátima Cleide, Sérgio Zambiasi, Valdir Raupp, Heráclito Fortes, Maria do Carmo
Alves, Raimundo Colombo e Papaléo Paes. O Senhor Presidente, Senador Cristovam Buarque,
registra a presença, para acompanhar a Audiência Pública, da Ex- Senadora Emília Fernandes,
do Deputado Federal Júlio Delgado (PSB/MG) e Senhor José Augusto Trindade Padilha,
Diretor Executivo da Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior - ABMES.
Havendo número regimental abrem-se os trabalhos. O Senhor Presidente, Senador Cristovam
Buarque, submete à Comissão a dispensa da leitura da Ata da Reunião anterior, que é dada
como aprovada. Prosseguindo, inicia-se a presente reunião, convocada na forma de Audiência
Pública, atendendo ao Requerimento nº 013-CE de 2007, de autoria da Comissão de Educação,
para realizar um Ciclo de Audiência Pública, com o objetivo de debater as "Idéias e
Propostas para a Educação Brasileira" e o Plano de Desenvolvimento da Educação -
PDE, de autoria do Governo Federal. O Senhor Presidente esclarece que o Ciclo, que se inicia
no dia de hoje, e se estende até agosto do corrente ano, visa aprofundar o debate sobre
Educação Brasileira com a sociedade civil e as várias esferas do Estado. Ao fim serão
apresentadas propostas, em forma de proposições, visando sanar as deficiências apontadas e o
aperfeiçoamento da legislação. O Senhor Presidente informa ainda que a Comissão, pretende
publicar todos os debates na integra, e o documento final será entregue ao Excelentíssimo
Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. A Presidência informa, por fim que
no intuito de melhor sistematizar os resultados dos trabalhos das Audiências Públicas designa,
como relatores setoriais, os seguintes Senhores Senadores: Educação Básica: Senadora
Rosalba Ciarlini (PFL/RN) - Educação Infantil, Senador Marconi Perillo (PSDB/GO) - Ensino
Fundamental, Senadora Marisa Serrano (PSDB/MS) - Ensino Médio; Ensino Superior:
Senador Pedro Simon (PMDB/RS) - Ensino/Extensão, Senador Marco Maciel (PFL/PE) -
Pesquisa e Formação; Outras áreas: Senador Flávio Arns (PT/PR) - Educação Especial,
Senador Wellington Salgado (PMDB/MG) - Educação a Distância e Senador Paulo Paim
(PT/RS) - Ensino Técnico e Profissionalizante. Dando início a 1ª Audiência Pública
comparecem: o Senhor Manassés Claudino Fonteles, Ex-Presidente e Membro Efetivo do
Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras - CRUB; Senhor Vincent Defourny,
Representante da UNESCO no Brasil (a.i); Senhor João Roberto Moreira Alves, Presidente da
Associação Brasileira de Tecnologia Educacional - ABT e Senhor José Roberto Cuvac, Fórum
Nacional de Livre Iniciativa na Educação. Finda a exposição, a Presidência franqueia a palavra
aos Senhores Senadores membros da Comissão. Usam da palavra os Senhores Senadores
Flávio Arns, Marisa Serrano, Wellington Salgado, Inácio Arruda, Mão Santa, Marcelo Crivella,
Ex- Senadora Emília Fernandes e o Deputado Federal Júlio Delgado (PSD/MG). O Senhor
Presidente, Senador Cristovam Buarque, agradece a todos pela presença e declara encerrados
os trabalhos desta sessão, determinando que as Notas Taquigráficas sejam anexadas a esta Ata
para a devida publicação. Nada mais havendo a tratar, a Presidência encerra a reunião às treze
e trinta e um minutos, determinando que eu, Júlio Ricardo Borges Linhares, Secretário da
Comissão de Educação, lavrasse a presente Ata, que após lida e aprovada, será assinada pelo
Senhor Presidente e publicada no Diário do Senado Federal.

SENADOR CRISTOVAM BUARQUE


Presidente da Comissão de Educação
SENADO FEDERAL
COMISSÃO DE EDUCAÇÃO - CE

NOTA TAQUIGRÁFICA

15ª REUNIÃO EXTRAORDINÁRIA DA  COMISSÃO DE EDUCAÇÃO DA 1ª SESSÃO


LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA 53ª  LEGISLATURA, REALIZADA NO DIA 10 DE MAIO DE
2007.

CICLO DE AUDIÊNCIAS PÚBLICAS

SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Bom dia a cada


uma e a cada um. Havendo número regimental, declaro aberta a 15ª Reunião Extraordinária
da Comissão de Educação da 1ª Sessão Legislativa Ordinária da 53ª Legislatura. A
presente reunião atende a requerimento aprovado de autoria de toda a Comissão de
Educação Cultura e Esporte para realização desta Audiência Pública, com o objetivo de
debater idéias e propostas para a Educação Brasileira e o Plano de Desenvolvimento da
Educação.
Para dar início eu peço ao nosso Secretário Júlio Linhares, que acompanhe os
convidados para que eles tomem assento à mesa. Nós estamos dando início hoje a um
ciclo que vai durar meses. Temos 39 convidados até aqui, convidados do setor privado,
setor público, da Educação, da indústria, do comércio, da agricultura, políticos, ex-Ministros,
para discutirmos, na verdade, duas coisas e uma é mais importante que a outra.
A primeira é responder uma pergunta: Por quê? Por que a Educação Básica no Brasil
é uma tragédia? Por que quando comparamos o Brasil com outros países, que tem a nossa
renda per capita e que tem o nosso nível de desenvolvimento, nós ficamos tão atrás? E
quando comparamos com os países chamados desenvolvidos, aí, nós ficamos
absolutamente distantes. Por quê? Agora, a pergunta fundamental não é o porquê estamos
assim é: Como vamos sair-se dessa situação? Como dar o salto? Como fazer com que o
Brasil não apenas melhore seus indicadores, mas faça uma revolução no nosso quadro
educacional? Isso em relação a educação de base.
Em relação à universidade é: Como é que ela vai ajudar a darmos o salto científico e
tecnológico, única forma de criar o capital conhecimento, que é a base produtiva do século
XXI. Houve um tempo em que a base produtiva era a terra e, nós produzimos cana e
açúcar, café, ouro, tudo vinha da terra e dos braços de escravos. Depois, o capital passou a
ser as máquinas e, nós, nos industrializamos. Passou esse tempo. Hoje o que gera valor
agregado não é nem a produtividade da terra e nem a produtividade das máquinas: é a
produtividade do cérebro. A criação das técnicas.
O que tem de valor num microfone como esse é muito menos quem fez esse
microfone - que provavelmente foi um robô - de quem desenhou esse microfone, quem
inventou a forma desse microfone. Isso vale até para essa água que vem engarrafada e,
grande parte do valor dela é do desenho da garrafa é da publicidade. Enfim, o capital do
futuro é o conhecimento. E, o Brasil é um país paupérrimo nesse capital. Se formos
escolher um produto visível brasileiro que, de fato, tem a ver com o capital conhecimento
são os novos aviões da Embraer, um produto do conhecimento; não um produto das
máquinas que fabricam, nem mesmo dos operários que ali estão produzindo.
Então, nós queremos saber como o Brasil pode dar o salto para termos uma
Educação que ajude a saltar o atraso, que nós temos economicamente em relação aos
países desenvolvidos, o salto civilizatório que nós temos e que diminua ou elimine a
desigualdade dentro do Brasil, porque aqui também é outras mudanças das últimas
décadas. Até pouco tempo atrás a desigualdade vinha da renda, a desigualdade vinha de
ter ou não ter emprego e emprego era praticamente, para todos com o mínimo de
qualificação técnica. Hoje, não mais.
Hoje emprego só vai existir para aqueles que tenham uma boa formação. Só tem
uma maneira de quebrar a desigualdade: é a escola do pobre ser igual a escola do rico.
Não tem outra. Não é a renda do pobre ser igual a renda do rico, até porque essa igualdade
de renda não vai existir. Agora, a escola pode ser igual, independente da renda dos pais e
da cidade onde mora a criança. Nós queremos discutir como fazer isso. Como construir no
Brasil escola igual para cada brasileiro, única forma de garantir a mesma chance para
todos. Uns vão se desenvolver mais e outros menos, mas por conta do talento, da
persistência, da vocação, não da sorte de ter nascido de um pai ou mãe determinados ou
ter nascido numa cidade determinada. É isso que nós queremos com essas reuniões.
Isso aqui - sem querer assustar os que estão na mesa e os outros - é uma espécie
de CPI do bem. É uma CPI que não visa identificar nenhum culpado individualmente, até
porque nós todos somos responsáveis pelo que acontece na Educação Brasileira. Eu tenho
todas as assinaturas prontas para uma CPI, de verdade, para apurar às causas da nossa
crise educacional. Eu não dei entrada, ainda, porque eu quero ver se tenho mais ainda do
que os 40 que já assinaram, mas também, se de repente, se isso aqui funciona bem, nem
vai precisar uma CPI. A gente bastaria ter audiências nos lugar da CPI.
Por isso, nós convidamos diversos apresentadores de suas opiniões. Elaboramos
uma lista de perguntas para eles - que devem ter recebido às perguntas só para dar início,
mas tem liberdade de falar e responder às perguntas que a gente não colocou ali. Não vou
ler a lista de todos os 39, quase todos já confirmados. Eu vou ler apenas a lista dos que
aqui estão que é o Reitor Manassés Claudino Fonteles, ex-Presidente Efetivo do Conselho
de Reitores das Universidades Brasileiras, Vincent Defourny, que é o Representante da
UNESCO no Brasil, João Roberto Moreira Alves, Presidente da Associação Brasileira de
Tecnologia Educacional e José Roberto Cuvac, do Fórum Nacional de Livre Iniciativa na
Educação.
Vocês vejam que a gente está misturando as pessoas. Nós não estamos fazendo um
dia sindicalistas, vai ter sindicalistas, mas virão juntos com donos de escolas. Virão juntos
com especialistas, tanto da parte tecnológica, como está aqui o João Roberto Moreira Alves,
como da parte geral da Política, como o Vincent Defourny. E eu quero dizer, também, que a
idéia é publicar um livro no final e dividirmos em três áreas, três grupos.
A primeira. Educação Básica, em que colocamos três relatores, um para Educação
Infantil, outro para Ensino Fundamental e outro para Ensino Médio. A Senadora Rosalba
Ciarlini, que aqui está, o Senador Marconi Perillo, que deverá chegar em breve e, a
Senadora Marisa Serrano, respectivamente Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio. Dois para o Ensino Superior, o Senador Pedro Simon, a idéia é Ensino
Extensão e o Senador Marco Maciel, Pesquisa e Formação. E outras áreas, como
Educação Especial, o Senador Flávio Arns. Educação à Distância, o Senador Wellington
Salgado de Oliveira. E, Ensino Técnico e Profissionalizante, o Senador Paulo Paim. Essa é
a idéia. Desses oito, dois ainda não confirmaram, os outros estão confirmados.
Então, eu vou passar a palavra na ordem que eu citei os nomes. Dar 15 minutos para
cada um, depois terão mais tempo para continuar, quando tivermos as perguntas. O Reitor
Manassés é o primeiro a quem eu passo, citando aqui a presença da nossa Senadora que
está aqui presente, Senadora de sempre, Emília Fernandes; do Célio Cunha, que é uma
figura exponencial da Educação no Brasil; do Marcos Formiga, que é um dos nossos
convidados e que está presente e todos vocês.
Eu passo então a palavra ao Professor Manassés Claudino Fonteles, para fazer uso
da palavra, tentando responder essas duas grandes perguntas, mas sobretudo a seguinte:
O que fazer? Professor Manassés.
SR. MANASSÉS CLAUDINO FONTELES: Muito obrigado, Senador Cristovam. Eu
fico muito feliz de estar aqui nesta Comissão representando o Conselho de Reitores,
sobretudo na condição de ex-Presidente da Associação Nacional de Universidades
Estaduais e Municipais, ex-Presidente do Conselho de Reitores, que deixei há alguns
meses e, Membro do Conselho Deliberativo do Conselho de Reitores, na condição de ex-
Presidente.
Primeiro, porque eu admiro muito a sua campanha e a sua luta, inclusive, como
candidato a Presidência da República em favor da criança, da escola e, sobretudo, pelo
nivelamento da escola. E o meu contraponto a esse é exatamente: O que deveríamos fazer
em relação às Universidades? A Universidade de São Paulo foi o grande exemplo de
Universidade que começou correta. Trouxe cem doutores do Exterior e montou na década
de trinta uma Universidade, que é paradigma maior que nós temos no nosso País. Eu não
sei por que se perde tanto tempo, durante cerca de quase 75 anos, para se procurar outros
modelos quando o modelo já existia, o modelo que modelo que a USP criou. Quer dizer,
começar com a competência.
O outro ponto, que depois os paulistas deram uma outra lição - eu estou aprendendo
a ser paulista, porque eu estou lá quase há hora quatro anos - foi exatamente com a
UNICAMP. Queriam se colocar a questão da tecnologia em relevância, novamente a
UNICAMP começa de uma maneira certa, trazendo inúmeros doutores, com os quais
Zeferino Vaz chega a cunhar aquela velha frase: "Como se faz uma universidade com
cérebros, cérebros e cérebros". Então, se esse princípio tivesse sido mantido dentro do
Sistema Federal Brasileiro de Universidades, ou dentro do Sistema Estadual ou dentro do
Sistema Municipal ou dentro do Sistema Comunitário, nós teríamos certamente uma
Universidade hoje, com igualdade nacional.
Na realidade o que nós temos é uma diferença muito grande e pergunto: Por que
com o Ensino Básico no Brasil, realmente, não funciona? Por que a Educação Básica
nossas crianças não aprendem? Não aprendem porque na maioria dos locais aonde não se
aprende, a Universidade também é desigual, a Universidade é frágil. E, fica-se combatendo
outros demônios, combatendo, por exemplo, o ensino privado que é um erro. Combater o
Ensino Comunitário que é outro erro ou combater determinados vícios, que a gente tenta
encontrar nessa sistemática. Na realidade, nós não podemos fazer Universidades que
formem bons professores e bons licenciados, se essas Universidades não têm biblioteca, se
elas não têm computadores, se elas não têm laboratórios e ficam-se criando outras
Universidades, Universidades até desnecessárias.
O Estado de São Paulo tem 25 Universidades. O Presidente da República resolveu
criar Universidade do ABC. Seria muito mais lógico, que ele tivesse pegado uma das
Universidades como por exemplo, a UNIFESP ou a Universidade Federal de São Carlos e
tivesse colocado um braço dessas Universidades ali, para poder desenvolver aquilo que já é
o maior Estado do país em termos de competência, seja de natureza federal, de natureza
estadual, municipal, de natureza particular ou de natureza comunitária, tendo as melhores
praticamente Universidade que se localizam no País. Porque tanto o segmento privado,
como o segmento comunitário, como o segmento estadual, como o federal, estão em alta
qualidade representados naquela Universidade. Eu ao invés de fazer uma Universidade no
ABC, eu resolvi fazer Universidade em regiões remotas do País aonde não temos doutores,
aonde não temos mestres, aonde não temos bibliotecas e etc.
Então, no dia em que essas Universidades fossem semelhantes ao Banco do Brasil
com as suas agências - seguindo aqui o modelo de paradigma que o nosso Senador
defendeu e tem defendido durante muitos anos. Se a gente pegasse essas Universidades, a
gente fosse criar Universidades, que mesmo novas elas acompanhassem aqueles
paradigmas de excelência que nós temos no País, aí sim, eu acredito. Porque eu só
acredito que Universidade funcione com competência, seja ela de qualquer origem. De
qualquer origem. Agora, não há um programa no País para as licenciaturas; não há
Professor de Matemática; não há Professor de Física; não há Professor de Biologia; não há
Professor de Química no País, como é que nós vamos ter um ensino que preste?
A França quando depois da guerra, depois da Linha Maginot, ela percebeu que não
tinha condição de vencer tecnologicamente os alemães, ela começou a fazer uma grande
reforma. E, essa reforma começou pelo ensino das Ciências e, sobretudo, pelo ensino de
Matemática. Então, nos precisamos ter escolas que tenham Professores bem formados nas
sua regiões, já que no próprio Rio de Janeiro, há um ano atrás eu falava com o Secretário
de Ciência e Tecnologia, e ele dia: "O grande problema que nós temos hoje nas escolas do
Rio, é que nós não podemos ter bons Professores de Física, de Química e de Matemática
para ensinar nas escolas". Se a Universidade não forma as escolas não prestam. Se elas
não prestam os alunos não prestam, porque não aprendem. Então, as avaliações não
podem ser melhores, elas têm que ser sempre piores.
Repentinamente, aliás, nos 40 anos do Clube eu lancei esse mote, de como a
UNESCO estava vendo o Ensino Básico no Brasil. E, foi muito boa aquela reunião, mais
pela comemoração dos 40 anos do Clube, como foi pelo verdadeiro debate que se formou
em torno do Ensino Básico e do Ensino Fundamental no nosso País. Nós precisamos ter
crianças com bons Professores; nós precisamos ter crianças em tempo integral; nós
precisamos ter crianças que sejam bem formadas nas áreas, inclusive, da Ética, da
Filosofia, começar cedo. Achar que essas disciplinas, que elas já não são mais
necessárias? Isso é um equívoco. Nós temos que ter a formação humanística dessas
crianças cedo, inclusive, em Música, em Línguas, em Filosofia, em tudo que se imagine,
inclusive, nas Ciências, Matemática, Física, Química e, sobretudo a língua nacional. Porque
se nós não cuidarmos na língua nacional, daqui há pouco nós vamos impor esse português
errado, dessas novelas horrorosas que se passa dentro dos lares nacionais, com todos os
riscos da gente, lentamente, estar fazendo uma verdadeira mutilação da nossa língua.
Então, eu acho que as duas coisas andam juntas. É muito difícil você chegar e dizer
que, perto da Universidade da Harvard tem uma escola de formação infantil de qualidade
inferior, porque não tem. Não tem. Agora, se as Universidades do Brasil. Nós temos 160
Universidades no Brasil que tem uma certa qualidade, dessas nós podemos dizer, que
apenas 60 têm pesquisa de qualidade. Isso inclui algumas Universidades particulares,
várias Universidades Comunitárias, algumas Universidades Estaduais, algumas
Universidades Federais.
Nós temos Universidades que não têm inclusive o número de mestres e doutores
adequadamente, chamados para ensinar nesses locais. Eu tenho que criar incentivos para
pessoas saíram para as regiões remotas para que... Do jeito que a gente trouxe os
cientistas da Europa para fazer a USP, nós precisamos fazer uma migração interna. Pegar
cientista de São Paulo, de Brasília e colocar esses cientistas nas Universidades periféricas
de qualquer natureza. O que importa é a competência, não é a origem da Universidade.
Depois, quantas Universidades nós temos hoje que se destacam do ponto de vista das 500
melhores Universidades do mundo? Cerca de três Universidades no País, inclusive, duas
de São Paulo e uma do Rio de Janeiro. Só entra o UFRJ nesta lista. E, nós temos pelo
menos 10 ou 12 Universidades Federais de ponta, boas, mas não chegam a entrar numa
lista mais distinta de publicações etc.
Então, o mesmo princípio em que nós precisamos nivelar as escolas para cima, fazer
aquilo que se chama hoje no jargão internacional da up grade, nós precisamos fazer com as
Universidade também. Não ainda está criando mais Universidades se nós não estamos
cuidando da qualidade, se o conhecimento não existe, se as patentes não existem. Não
serão geradas patentes. O Brasil ocupa um dos lugares extremamente desfavoráveis em
número de patentes. Melhoramos nas publicações? Melhoramos graças a CAPS, que é
realmente o grande instrumento da pós-graduação no País. Agora, estão corrompendo a
CAPS, porque estão querendo a CAPS para fazer outros programas, para ajudar noutros
aspectos do ensino que não funciona dentro do MEC.
Então, eu até fiquei admirado com a quantidade de portarias que o Ministro lançou
em 2007, relacionados a escola, porque até então o MEC estava dormente. Nós não
estávamos percebendo que essas escolas estavam melhorando. Claro, que melhoramos as
políticas agora com o FUNDEB, já tínhamos o FUNDEF, isso realmente vai ter impacto, mas
não se resolve só com o dinheiro. Se resolver com políticas adequadas, tem que ter gente.
E Zeferino Vaz, cérebros, cérebros, cérebros dentro da escola, dentro do Curso Secundário,
dentro do Curso Superior, dentro dos Mestrados, dentro dos Doutorados. O Brasil não tem
um prêmio Nobel. O Brasil não tem um prêmio Nobel e tem Ciência, poderia ter Ciência
para isso. Publica em boas revistas? Publica sim, mas publicam elite. Publica pouca gente.
Eu posso dizer isso, porque eu publico, sou um dos autores mais citados na minha
área. Poucos são na realidade os atores de grande citação que nós temos no País. São
poucos. Ainda somos poucos. Melhoramos muito? Melhoramos. Ocupamos a 16ª posição
no ranking de publicações das Universidades, mas é muito díspar fica tudo concentrado no
Centro-Sul do País. Nós não temos uma política em que os cérebros pudessem migrar
dentro do País, para levar conhecimento novo. Se estabelecer no Macapá, se estabelecer
no Sul do Ceará, no Carirí, aonde nós temos uma região extremamente rica. E essa região
que difere do semi-árido, luta para fazer um estabelecimento federal lá, juntando a Paraíba,
juntando Piauí que está do outro lado da montanha, o Ceará que está do lado de cá e
Pernambuco que está na outra ponta.
Entretanto, depois de uma luta muito grande, nunca se conseguiu nem fazer nem
uma parceria público/pública. Está se fazendo é parceria público/privada. É importante. Mas
uma Universidade Estadual, não conversa com a Federal, uma Federal não conversa com a
Estadual. Eu quase que fui espancado no Ceará quando fui Reitor, porque propus na
Universidade Federal, que a biblioteca de lá fosse aberta para os nossos estudantes de
pós-graduação na Estadual. E não consegui! Vim conseguir com a UNIFOR, a Universidade
de Fortaleza, que é privada, que cedeu a biblioteca. Então, se não existe parceira. Nem
entre Universidades dentro de um Estado - e eu não vejo essas parcerias sequer no Estado
de São Paulo, aonde as coisas acontecem melhor, porque tem mais dinheiro. Tem a
FAPESP que hoje tem mais dinheiro proporcionamento do que o CNPQ.
Então, se nós não mudarmos essas políticas públicas de competência de formação,
para produzir uma pesquisa que seja uniforme no País, que a gente tenha uma quantidade
bolsas... O Professor se aposenta na USP, se aposenta na UNICAMP, se aposenta na
Universidade Católica do Rio Grande do Sul que é muito boa, oferece a esse Professor uma
bolsa para ele ir morar no Maranhão, no Sul do Maranhão; antes que queiram dividir o
Maranhão em dois Estados por interesse político, antes que se faça essa divisão vamos
colocar uma escola boa lá feito por escolas. Não no ABC. Eu quero é no Sul do Maranhão,
eu quero é no Sul do Ceará, eu quero é no Sul de Pernambuco, aonde a miséria, a
ignorância, as escolas não têm, às vezes, sequer os livros adequados para os alunos
estudarem.
Se a gente não mudar isso não ainda dinheiro, não ainda estar aumentando o
número de instituições se a qualidade não melhora. Essa qualidade passa pelo funcionário,
que tem que se treinado, pelos técnicos, pelos bibliotecários, senão existe biblioteca não
tem bibliotecário. E, às vezes, tem bibliotecário e não tem biblioteca, porque não tem nem o
que o bibliotecário fazer porque a quantidade da livro é diminuta. É preciso a gente fazer,
realmente, eu concordo com o Senador. Isso vale muito mais do que muitas outras CPIs
que foram feitas anteriormente. Qualidade no Ensino Superior, reflete qualidade no Ensino
Básico. Qualidade no Ensino Básico retroalimenta o Ensino Superior. Querem ver um
exemplo?
Um dos maiores programas desse Governo foi o ProUni, que a gente discutiu,
batalhou. Muitos alunos entravam na escola privada de qualidade e não conseguiu terminar,
mas o ProUni, ficou limitado aqueles são tão pobres, que às vezes, não tem dinheiro para ir
pra Universidade. É preciso, então, que a gente redimencione o ProUni, talvez estender um
pouco a lateralidade, ao invés de ser três salários mínimos, talvez, chegar a dez salários
mínimos. O sujeito com dez salários mínimos tem condição de viver nesse País? Tem
condição de botar o filho na Universidade? Ele tem que comprar o livro, tem que assistir
com a bolsa. Então, se esse ProUni, por exemplo, que está sendo feito ele vier a melhor,
para a gente aceitar mais. Nós não temos esses 10% que estão deixando de continuar,
muitas vezes, porque não tem condição de mesmo aceitos, acompanhar os estudos na
Universidade.
Eu acho que eu fico por aqui, porque o meu tempo acabou.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu agradeço ao
Professor Manassés Claudino Fonteles e deixo para debatermos a sua fala, depois da
apresentação dos outros. Eu passo a palavra, agora, ao Doutor Vincent Defourny, que é o
representante da UNESCO no Brasil.
SR. VINCENT DEFOURNY: Muito obrigado, Senador. Muito obrigado, por dar-me
essa oportunidade de falar, de participar dessa audiência dessa ilustre Comissão.
A UNESCO, na realidade, ao longo de sua história tem procurado examinar as
tendências, tendências para antecipar-se mediante apresentação de propostas e o
estabelecimento de grandes consensos em torno de temas considerados fundamentais para
o desenvolvimento humano. A título de exemplo, parece-me oportuno lembrar a Declaração
Mundial de Educação para Todos, de John Kennedy em 1990, também, o Marco da Ação de
Dakar em 2000. Também todos os instrumentos da UNESCO sobre a diversidade, a
diversidade cultural, que é muito importante e muito interessante.
Nesta linha a UNESCO lançou em 2005, um informe mundial sobre sociedade do
conhecimento Towards Knowledge Societies, devido às implicações dessas novas
tendências para a Educação, creio ser oportuno apresentar nessa oportunidade algumas
reflexões, sobre a importância de uma política de qualidade de Educação para a inserção
dentro do Brasil na sociedade do conhecimento. Porque a reflexão sobre a sociedade do
conhecimento, permite rever o próprio conceito de desenvolvimento. O crescimento não
pode ser considerado como um fim em si mesmo. Ao dar ao conhecimento uma
acessibilidade inédita e valorizar o desenvolvimento de capacidades - como o Reitor falou
agora mesmo -, a revolução tecnológica, mas sobretudo a revolução educativa poderão
facilitar a instalação de um novo conceito de desenvolvimento humano. Para AmartiaSen(F),
o pilar central do desenvolvimento humano e ou sustentável, é a busca das liberdades
fundamentais da pessoa. E achamos que na Educação se encontrar chave disso.
O conhecimento é um poderoso instrumento de luta contra a pobreza porque essa
luta não pode ser reduzida, exclusivamente, ao fornecimento de infra-estruturas ou
execução de projetos, que dependam de financiamento externo. O acesso à informação e
ao conhecimento é igualmente importante ou até mesmo fundamental. O êxito alcançado
por alguns países asiáticos na luta contra a pobreza, se explica em grande parte, por
sucessivos investimentos na Educação, na pesquisa, na inovação, no desenvolvimento. O
exemplo desses países asiáticos e, de outros que avançaram nas últimas décadas, devem
ser meditados por muitas nacionais em desenvolvimento, em particular pelo Brasil.
Nessa perspectiva a noção de sociedades do conhecimento, não pode ser reduzida a
um privilégio exclusivo do países do Norte. Devem ser também um novo enfoque do
desenvolvimento para os países do Sul. Não podemos ignorar que o mundo é globalizado.
É certo que o fenômeno da globalização não é novo, não é recente. Grandes navegações,
comércio de escravos são outros momentos da globalização. Todavia, a sociedade de
conhecimento, constitui uma alternativa para evitar o que aconteceu e o que vêm ocorrendo
nos dias atuais, isto é, que há os que globalizam e os que são globalizados.
A brecha cognitiva existente entre os países do Norte e do Sul, representam um dos
maiores desafios para a inserção dos países em desenvolvimento na sociedade do
conhecimento. Vivemos em um tempo em que 20% da população mundial, concentram em
suas mãos 80% dos recursos do planeta. A brecha cognitiva acumula os efeitos das
diferentes brechas, observadas nos principais âmbitos constitutivos do conhecimento;
acesso a informação, a Educação, a ciência, a tecnologia. A informação é potencialmente
uma mercadoria que se compra e se vende no mercado e sua economia é baseada na
escassez. Ao contrário, o conhecimento pertence a qualquer mente capaz de pensar e sua
economia é baseada na multiplicação. Um provérbio africano diz: Que o conhecimento e o
amor são semelhantes. Por quê? Aumentam quando compartilhados, por isso, o
conhecimento não pode ser considerado uma mercadoria como os demais.
O saber, o conhecimento, representam um bem comum que pode e deve ser
compartilhado por todas as pessoas. Nenhuma pessoa deve ser excluída. Uma sociedade
de conhecimento deve integrar cada um de seus membros e promover novas formas de
solidariedade. Por isso, a aplicação e utilização do conhecimento devem ser eticamente
reguladas. As novas tecnologias de informação e da comunicação permitem uma difusão,
com certeza, generalizada do conhecimento. Esta é uma oportunidade única para os países
menos desenvolvidos, recuperarem o tempo perdido e diminuírem a dependência cognitiva.
Nesta direção, a criação de redes e de comunidades de aprendizagem, representam uma
alternativa promissora.
É importante para o futuro da sociedade evitar que a especialização do mundo
conduza a divisões entre as civilizações cognitivas, com base na produção de
conhecimento e nas civilizações consumidoras do conhecimento. É preciso superar a
posição assimétrica entre produtores e usuários de conteúdos cognitivos. A construção uma
economia e de uma sociedade de conhecimento, depende da promoção criativa da
diversidade pela Educação. Depende de uma nova ética do conhecimento ancorada em seu
aproveitamento compartilhado e na cooperação. Uma escola pública de qualidade para
todos, tem o poder de democratizar e compartilhar o conhecimento. O aproveitamento
compartilhado do conhecimento é a pedra de toque das práticas e valores que devemos
estar na medula da sociedade de conhecimento. Por isso, é importante o aproveitamento
compartilhado de todas as formas de aprendizagem de Educação, disponíveis na
Educação.
A idéia de cidades educadoras lançadas pela UNESCO nos anos 70, caminham
nesse sentido. Uma cidade educadora se instaura, quando se consegue gerenciar a riqueza
da diversidade e aproveitá-la no contexto da sociedade do conhecimento. A situação crítica
da Educação Brasileira tem sido amplamente divulgada, tanto pela imprensa, quanto pelas
autoridades do País. As avaliações realizadas pelo SAEB, ENEM, PISA e outros relatórios
de monitoramento mundial da UNESCO, que são divulgados regularmente, revelam a
magnitude do desafio. Um desafio que não poderá ser superado em poucos anos, mas que
se tornou urgente.
A inserção do Brasil numa sociedade mundial do conhecimento, começa pela reforma
da Educação Básica. E nesse sentido, nessa direção, o PDE pode representar um início
promissor, na medida em que ele que consiga mobilizar e fortalecer a crença da sociedade
brasileira, no poder transformador da Educação. Nesse sentido a idéia de um compromisso
amplo, unindo às forças políticas e a sociedade civil num pacto suprapartidário, pode ser
uma alternativa para assegurar a continuidade e a sustentabilidade das políticas. E, o
momento de uma união nacional pela Educação. Na qualidade e na ética, estão os
principais pilares da reforma educacional brasileira. A inclusão sem qualidade dificulta e
pode impossibilitar o País, de inserir-se como instituição no circuito contemporâneo de
mudanças.
Em recente reunião dos Ministros de Educação da América Latina e do Caribe,
realizada em Buenos Aires o mês passado, a UNESCO procurou introduzir um enfoque de
direitos humanos no conceito de qualidade na Educação. Respeito aos direitos, relevância,
pertinência, eqüidade, eficiência e eficácia, são os conceitos maiores desta noção de
qualidade de educação. O direito à Educação, se exerce na medida em que, às pessoas
além de ter um acesso a escola, possam desenvolver-se plenamente e continuar
aprendendo. Isso significa que a Educação terá de ser de qualidade para todos e por toda a
vida. Sob esse aspecto destaca-se a importância da educação infantil e da escola integral.
São condições indispensáveis para a melhoria da qualidade: Uma Educação de qualidade e
a que permite processar, com sucesso, a transição da informação em conhecimento. Em
decorrência é a que permite desenvolver a motivação para uma Educação permanente ao
longo da vida.
As mudanças que estão em curso requerem uma Educação continuada. Todavia, não
será possível dar segmento à política da Educação Básica para todos, sem prosseguir ao
mesmo tempo à luta contra o analfabetismo. A Educação ao longo da vida, pode oferecer
uma resposta à crescente instabilidade do emprego. Muitas pessoas precisam trocar várias
vezes de emprego na sua vida. Ao mesmo tempo que se torna necessário um enfoque para
a Educação aproveitando, inclusive, o potencial das várias tecnologias da informação e
comunicação, não se pode perde der vista a finalidade maior do processo educativo; que é
fazer com que todas às pessoas crianças, adultos aprendam e dominem os códigos
fundamentais requeridos pela sociedade do conhecimento. Por isso é importante reinventar
a Educação e fortalecer seus fundamentos.
Uma sociedade do conhecimento é uma sociedade de aprendizagem. As ferramentas
básicas ler, aprender, compreender, escrever, dialogar, calcular, argumentar, desenvolver
um raciocínio etc. Tem relevância maior para sair do barulho e da confusão, induzida pela
sobreinformação e pela lógica consumista. A clareza, o rigor e o espírito crítico, são chaves
do conhecimento, da inovação e também da cidadania. Por isso, os educadores que têm
uma longa história no desenvolvimento de seus conceitos, que tem também diversas
estratégias para colocar na mente das pessoas esses conceitos, esses educadores
possuem um papel fundamental e central, nesse momento da melhoria da Educação no
Brasil. Muito obrigado.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Agradeço o
pronunciamento do Doutor Vicente. Passo a palavra ao Professor João Roberto Moreira
Alves.
SR. JOÃO ROBERTO MOREIRA ALVES: Em primeiro lugar, nós queríamos
parabenizar a Comissão de Educação e, especialmente ao Senador Cristovam, pela
iniciativa de caminhar em idéias é efetivamente em propostas. Na verdade, ao longo desses
últimos 250 anos de Brasil, nós procuramos analisar e pesquisar muitas idéias. Nós
procuramos até por uma questão de facilitar uma seqüência de interpretação, fazer menção
a alguns antecedentes históricos. Esses antecedentes históricos que são marcados ao
longo de nossa História. Se nós remontarmos a 250 anos atrás, vemos uma frase traçada,
especificada, por Marques de Pombal, na primeira, que poderíamos dizer Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional, onde em seu texto estabelece D. José I, que: "Desejando eu
não só reparar os mesmos estudos, para que não acabem de cair em total ruína a que
estão próximas", então, estabelece como esse fundamento a necessidade de uma
modificação do Sistema Educacional Brasileiro. Implanta-se em 1759, o primeiro processo
de estatização do ensino e a criação de amarras extremamente fortes, para o Sistema
Educacional.
Reportando há alguns anos à frente nós temos um outro pronunciamento de um ex-
senador e Presidente, inclusive, dessa Casa, Visconde de Sinimbu: "A instrução para ser útil
deve ser sólida, não basta oferecer o ensino é preciso realizá-lo e dirigi-lo. O professorado
não é somente uma vocação é também uma carreira. Como poderá a modesta carreira de
Professor, achar candidatos com os requisitos necessários mediante o módico pagamento?"
Ainda, no mesmo século, Princesa Isabel trazia a menção: "A instrução primária deve ser
generalizada por todos os modos". São três pronunciamentos que vêm de 1700 o 1800, que
trazem posições muito semelhantes com o que nós vemos nos dias de hoje.
Mais recentemente, já no século passado no início do século, 1906, há uma frase
colocada por um ex-Ministro da Educação, Ministro Encarregado da Área de Educação, já
que não existia Ministério da Educação: "Que o ensino chegou a um estado de anarquia e
descrédito que, ou faz-se uma reforma radical ou é preciso aboli-lo de vez", ou seja é um
posicionamento radical, que traz no início do século anterior. "Manifesto dos Pioneiros",
retrata em 1932: "Que na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva a
importância e gravidade ao da Educação". Em 45, já um ato Legislativo, dentro dessa fúria
Legislativa estabelecida pelo MEC: "Não será permitido o funcionamento de
estabelecimento que não remunere condignamente os Professores".
Entrando já nessa reta final desse nosso século e já iniciando, agora, temos um
pronunciamento do ex-Presidente, Fernando Collor, hoje Senador: "No Brasil é preciso
reconhecer a ausência de uma política educacional de longo prazo, digna deste nome.
Constitui a maior de todas as nossas dívidas sociais. Em meu Governo, a Educação é e
continuará a ser a prioridade absoluta". E agora dias atrás, o Presidente Lula, reafirma
praticamente os mesmos princípios do início da primeira menção, que é exatamente: "Que
estou mais convencido do que nunca, que nós temos uma enorme dívida com o povo
brasileiro na área da Educação. Então, se os senhores observarem, temos 250 anos de
pronunciamentos bastante semelhantes e que deve exatamente à necessidade de partimos
para mudanças. Essas mudanças que vieram ao longo do tempo, inclusive, dos termos.
O termo "instrução", é um termo do início do século passado, a transição do século
XIX, para o século XX. Mudaram, depois, para "ensino" aos anos 20. A "Educação", aos
anos 30. E hoje, a palavra central é "aprendizagem". A própria Inglaterra, já tem o Ministério
da Aprendizagem e do Conhecimento, aboliu o termo "a Educação". No cenário atual temos
162 mil escolas de Educação Infantil e Fundamental, 23 mil de Ensino Médio e, 2200 de
Ensino Superior, que são onde trabalham os profissionais da Educação, não muito
definidos, quantitativamente de forma correta e 60 milhões de estudantes.
Esse cenário, na realidade, traz como um passo e uma conseqüência, sobre a
grande mudança dos Ministros na Educação. Desde o Primeiro-Ministro, José Bonifácio de
Andrade e Silva 1822, até hoje, em 184 anos tivemos 168 Ministros encarregados da área
da Educação. Ou seja, o prazo médio de validade, considerada de um Ministro: 0,9. E
menos assim, se nós retiramos Gustavo Capanema e Paulo Renato, essa média vem para:
0,8. Nos planos de Governo, se nós observarmos muitos inclusive recentes, que ao invés
de levar a Educação para o século XXI, muitas das vezes levam à realidade e propostas já
absorvidas no século XIX.
Então, nós temos, se nós observamos inclusive o mais recente plano, algumas
observações que são necessárias de se ver. E focamos no Plano de Desenvolvimento da
Educação que, na realidade, são três Projetos de Lei, ou talvez um pouco mais, que
possam ser encaminhados, sete decretos, 13 Portarias e um conjunto de boas intenções.
Na realidade, o grande foco hoje colocado no IDEB, no Índice de Desenvolvimento de
Educação Básica de Avaliação que, nessa última avaliação foi de 0,3 a 6,8, é exatamente
um ponto que mostra a diversidade da Educação Brasileira e o insucesso dos programas
anteriores. É extremamente tímido e nós acreditamos que os Srs. Senadores e os senhores
Parlamentares, possam ajudar a mudar esse quadro e essas perspectivas de metas, que
nós levemos 15 anos para modificar um pouquinho esse cenário.
Na verdade, nós precisamos de ações muito mais agressivas, para que nós não
tenhamos em 2021 como previsto no plano, índices tão baixos e principalmente índices
abaixo de uma linha razoável, de países que hoje estão já considerado ultrapassados em
termos de Educação. Se nós olharmos isso numa projeção pelo avanço tecnológico, avanço
das Ciências, nós teremos um quadro extremamente desfavorável ao Brasil, se atingirmos
essas metas que são metas consideradas razoáveis para boas pelo Executivo Federal hoje.
Bom, o Sistema Educacional Brasileiro, na realidade, ele é centrado ao redor de
escolas e aprendizes com fundamentalmente a ação dos Professores. É aí que nós vamos
nos ater um pouco mais, na necessidade de mudanças e propostas concretas. Os gestores
educacionais são fundamentalmente importantes, a infra-estrutura, não há dúvida que
temos que caminhar e, os conteúdos que temos que também mudar fortemente esse
projeto.
Agora, a formação dos profissionais da Educação, que esse é o ponto central, que
nós entendemos que é o grande problema da Educação Brasileira, ainda é feito nas escolas
normais de nível médio e nos Institutos de Ensino Superior, as Instituições de Ensino
Superior. Tivemos avanços, tivemos a criação por Darcy Ribeiro, dos Institutos Superiores
de Educação, retrocedemos hoje, mas na realidade eles são os responsáveis pela formação
dos Gestores e do Professores. E esse cenário é exatamente onde, principalmente, se
coloca muito. Há uma disfunção do processo educativo brasileiro.
E aí, apresentamos algumas propostas dentro do que nós é colocado, pelo nosso
querido Senador Cristovam. É necessário que a gente observe, que a formação do
Professor em nível superior, não traz reflexos diretos na melhoria dos padrões de qualidade.
Isso hoje é constatado. Na verdade, a formação superior não representa, necessariamente,
pelo que se vê hoje no Brasil, uma melhoria dos padrões de qualidade, especialmente
porque o foco, os conteúdos dos cursos de formação de docentes nas Universidades, ele
está apresentando um enriquecimento do saber. Entretanto, não traz uma praticidade que
permita que mude aquela realidade que é necessário em nosso País. Uma proposta: A
criação de um Programa de Pós-Graduação Média.
Nós temos no Brasil o hábito de falar em pós-graduação só superior. Em outros
países e o próprio Brasil, já tem alguma experiência pequena ainda da pós- graduação de
nível médio, são aquelas que não têm a possibilidade acesso à graduação, mas que
mediante um sistema de continuidade, um sistema de aperfeiçoamento é possível melhorar
o seu conteúdo sem ter a possibilidade do acesso. Óbvio, o acesso é o ideal para todos
nós, mas sabemos que o Brasil, pelas dimensões territoriais que têm e pelas dificuldades
operacionais, demorará muito a ter uma universalização dos Professores com formação
superior. E, essa proposta é uma proposta prática que com formação e serviço, ao invés de
exigir a curto prazo uma formação superior; reduz prazo, melhora a qualidade da Educação
e reduz, também, os custos de formação.
Uma segunda proposta, parte do princípio que o Professor não tem a quem recorrer
em suas dúvidas. A relação se extingue da formatura. Hoje o jovem quando conclui o seu
Curso Superior ou o seu Curso Médio, na área da formação de Professores em todas as
outras áreas, extingue naquele momento essa relação. E acreditamos que ser necessária a
criação de um sistema de apoio ao Professor. Uma linha direta, principalmente, do suporte
do conteúdo de tecnologia. Seria aquilo que nós poderíamos dizer: Uma garantia do
produto, a garantia da formação do seu Professor. E operacionalizado pelas Universidades,
Centros de Estado, Faculdades e todas as Instituições de Ensino Superior.
Dentro dessa linha de propostas um outro fato também fato constatado: É que os
docentes e gestores em serviços, foram formados em cursos desfocados com a
modernidade. Aprendeu-se muita Filosofia, muita base que é importante, mas na verdade,
tem um foco bastante no século passado. Se constata a necessidade da criação de
programas emergenciais para requalificação dos docentes. É aquilo que a indústria poderia
chamar como recall, ou seja, toda vez que um veículo, um carro, sai com uma peça
defeituosa, chama-se e substitui-se essa peça. Isso seria perfeitamente possível, criar um
vínculo com a Instituição de Ensino, manter dentro de uma mesma linha de apoio, que as
instituições pudessem considerar e chamar esses alunos, esses seus ex-alunos para
melhorar, focar novamente nesse processo de uma requalificação profissional.
Uma quarta proposta. Inexiste um sistema que permita a atualização do Professor e
do Gestor. O processo de Educação Continuada, fala-se muito. Nós temos algumas
propostas, inclusive, agora, da Universidade Aberta do Brasil, que na realidade, não é
Universidade e nem é aberta, mas traz características bastante semelhantes a um
consórcio. Não é uma Universidade é um sistema de Universidade, mas que traz na
verdade uma contribuição positiva. E é necessário, entretanto, que exista maior segurança
para o Professor e o Gestor, no seu cotidiano. Então, há um necessidade a curto prazo de
um sistema de Educação continuada.
Uma penúltima proposta, parte de um fato que é um fato constatado e discutido
propriamente nas casas, principalmente legislativas, que os conteúdos pedagógicos dos
Cursos de Formação de Docentes-Gestores, estão defasados e fora do contexto da
modernidade. Nós temos hoje: Ensina-se aquilo não é útil e aquilo que é necessário, [soa a
campainha] fica-se dispensado. A proposta de formar um novo Professor, para um novo
aluno em um novo Brasil. E a última proposta exatamente, parte do princípio, do fato, que
os Professores estão sem as ferramentas da modernidade. E aí, surge a necessidade da
criação dos meios que permitam a aquisição, a manutenção, o acesso, a modernização dos
instrumentos de trabalho, numa escola moderna que seja capaz de proporcionar a formação
plena dos brasileiros.
Nós não podemos continuar esperando 15 anos para que mude um cenário da
Educação. De todas as propostas apresentadas, não há dúvida nenhuma que a mais
importante, no nosso modo de ver é a formação, o aperfeiçoamento do Professor. Assim,
ficam as nossas sugestões, as nossas propostas. E estamos prontos a contribuir nessa
caminhada, Senador, com a certeza do êxito pela sua liderança.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Muito obrigado.
Agradeço ao Professor João Roberto. Passo a palavra ao Professor José Roberto Cuvac.
SR. JOSÉ ROBERTO CUVAC: Em primeiro lugar, parabenizá-lo pela brilhante
iniciativa de trazer esse tema para o Senado. E V. Exª.,iniciou sua fala com uma frase muito
interessante "a necessidade da se fazer uma CPI do bem". E a CPI do bem para a
Educação, sem dúvida alguma é algo extremamente necessário, sobretudo num País tão
carente como o nosso.
O Fórum da Livre Iniciativa na Educação, ele é composta de diversas entidades
representativas de Ensino Superior, a ABMES, a ANACEU, o SEMESP, COFENEM, ABRAF,
ANUP, que são entidades que hoje representam os segmentos universitários, desde
Universidades, Centro Universitário e Faculdades. E dentro inclusive da sua proposta e da
sua indagação: Que fazer? Já preocupado com isto a pouco mais de dois anos essas
entidades se reuniram e criaram o Fórum, exatamente, para traçar e para elaborar
documentos e encaminhar às autoridades e sobretudo, ao Ministro da Educação, em
relação a política públicas de Educação. O ensino particular do Brasil ele tem uma
representação muito grande.
Eu vou dar alguns números aqui para vocês terem uma idéia. Hoje o número de IES
no Brasil, Instituições de Ensino Superior: O total de 2165, 1934 são privadas; das
matrículas, um total de 4453, 3261 privadas--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Milhões.
SR. JOSÉ ROBERTO CUVAC: Milhões, desculpa. Número de concluintes: 522.
Números de funcionários, 359 mil funcionários na iniciativa privada; em relação ao público,
215. A massa salarial hoje por ano, envolvendo o ensino particular é de 11 bilhões por ano.
A participação do PIB, aproximadamente, 1%. A geração de renda indireta, em torno de um
bilhão por ano. As instituições possuem 405 mil computadores; 4100 bibliotecas; 45 milhões
de livros; 12 mil laboratórios; 17 milhões de metros quadrados construídos. Formam por ano
24 mil Professores, nas IES públicas. Em relação a custo/aluno numa escola privada e
pública é um terço. Mas por que nós estamos dando esses números? Porque imaginava-se,
que o tamanho e com a importância do setor, o Ministério da Educação, chamaria também
os segmentos privados para discutir o próprio Plano de Desenvolvimento da Educação.
Entretanto, esse documento nós ficamos sabendo pela imprensa assim como todos
os demais setores. Mas curiosamente, quando a instituição privada ela é chamada ou
precisa-se dela para algum tipo de programa, imediatamente, ela é chamada a colaborar.
Um exemplo típico disso é o Programa Universidade para Todos, o ProUni. O Programa
Universidade para Todos que é o ProUni, ele só existe porque as instituições fizeram
adesão a esse programa, caso contrário, realmente ele não existiria. Houve um enorme
esforço, inclusive, de todas essas entidades representativas, no sentido de que essas
instituições aderissem ao programa. Muito embora, o texto original da própria Medida
Provisória 213, ela sofreu alteração e sobretudo às entidades filantrópicas, as entidades
beneficentes de assistência social, foram extremamente prejudicadas com essas medidas.
Aliás, eu não sei qual é o motivo da fúria fiscalizatória, no que diz respeito às
entidades de assistência social. São entidades que têm um compromisso social muito
grande, de inclusão social fantástica pelos seus programas de assistência e de bolsa de
estudo, mas que vira e mexe elas perderam a sua condição de imunidade. E hoje, até a
própria Medida Provisória 340, que foi convertida em lei, ela deu um prazo de mais um ano
para que se regularizasse a situação. Entretanto, o próprio PL 920, que tramita na Câmara,
ela trouxe como uma novidade da possibilidade das instituições através dos certificados e,
reconhecendo às dívidas existentes, poderem trocar certificados por dívidas, mas com
alguns problemas.
O primeiro, porque aumentou a taxa de risco do FIES, que era de cinco--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Trocar os certificados por dívidas ou por
vagas?
SR. JOSÉ ROBERTO CUVAC: Por vagas. E aí, tem uma questão: Como que o FIES
hoje funciona? O risco das entidades que hoje ingressam, que aderem ao programa do
FIES é de 5%. Pelo Projeto de Lei, passa a ser de 50%, que é um risco realmente muito
grande para instituições em caso não de não pagamento. As instituições só vão poder usar
os certificados, dos débitos fiscais gerados anterior a fevereiro de 2001. De 2001 para
frente, não vão poder utilizar para pagamento dos seus débitos. Então, realmente, isso
acaba criando uma série de problemas em relação ao setor privado. Algumas questões que
os Senador encaminhou para as instituições, nós poderíamos citar e podemos encaminhar
inclusive, Senador, os vários documentos que foram elaborados pela entidades.
Desde 2001, basicamente, o setor privado tem produzido uma série de documentos
em relação à reforma universitária, principalmente, porque iniciou em função disso. Mas
depois disso, em relação a políticas públicas na Educação foram elaboradas uma série de
documentos, que acho que isso pode ser subsidiado no âmbito da Comissão. Essa primeira
questão que foi colocada aqui, é em relação a possibilidade, o que se entende como
necessário ter um Ministério, exclusivo, para Educação básica, a primeira pergunta que foi
colocada para nós.
Nós entendemos que a questão, não é de ter Ministério próprio para Educação
Básica. Isso por si só, não resolveria a questão. Parece que o Vincent colocou algumas
questões que me parecem fundamentais. O compromisso, o senhor colocou muito bem, que
precisa ter um compromisso da sociedade civil junto com todos os setores, para ter uma
política para inclusão e uma política de qualidade para Educação. E isso se faz em parceria
com todas as entidades, desde Sindicatos dos Trabalhadores, como Sindicatos de
Professores, como também entidades representativas, como é o caso da ABMES. E, isto no
Plano de Desenvolvimento Educacional, não foi dada esta oportunidade, para que essas
entidades pudessem se manifestar em relação ao Plano de Desenvolvimento Educacional.
Tem um outro ponto e que a gente tem observado em relação a esta Casa.
Existem hoje 13 Projetos de Lei que tramitam sobre o Fundo de Garantia por Tempo
de Serviço, esses Projetos de Lei estão voltados para quê? Para possibilidade de utilização
do Fundo da Garantia, para pagamento de mensalidades escolares. São 13 projetos de
diversos Partidos, desde à base até da oposição. Isso significa dizer que há uma camada,
realmente da sociedade, que não tem acesso ao Ensino Superior. O Plano Nacional de
Desenvolvimento que estipulou, uma meta de 30% de alunos em Curso Superior na idade
da 24 a 30 anos, se não tivesse hoje a iniciativa privada, nós teríamos apenas 4% nessa
faixa etária. Entretanto, chegamos a 11, mas estamos muito distantes ainda em relação à
necessidade de cumprir as metas do Plano Nacional da Educação.
O Fundo de Garantia pode ser sim, um dos requisitos de financiamento, para que o
aluno possa suportar o pagamento das mensalidades. Porque o Programa Universidade
para Todos, ele tem um problema de origem, porque ele estabelece... O ProUni, o seguinte:
Que o aluno ele só pode fazer parte do programa se ele tiver estudado em escolas privadas
ou pública e, que não tenha gasto nenhum percentual em relação a pagamento de
mensalidades escolares. Entretanto, ele pode ter até pago alguma coisa naquele período e,
hoje, estar numa situação de carência. Então, esses alunos simplesmente, tem condição a
acesso ao Programa Universidade para Todos.
Curiosamente, um dia saindo do Ministério da Educação, tinha uma senhora
esperando o Ministro. E ali, aguardando o Ministro, foi falar com o Ministro, solicitando a
inclusão do seu filho no ProUni. O Ministro, olhando a situação do aluno verificou que não
podia, porque ele pagou 10% de mensalidade no primeiro ano de curso. Entretanto, a
situação dele hoje é uma situação de absoluta carência, assim como os outros. Então,
esses alunos não têm possibilidade de inclusão. Algumas propostas no Fundo de Garantia,
inclusive, atrelam até a condição social também do aluno. Até seis rendas per capitais, a
própria Maria do Rosário, que é uma das Relatoras do Projeto dizia para nós, de que a sua
irmã, ela não teve condições de pagar as mensalidades e teve que fazer um acordo com a
empresa, para resgatar o Fundo de Garantia com o objetivo de pagar as mensalidades
escolares.
E o Governo trabalhou contra, tem trabalhado contra esses Projetos de Leis, mas nós
temos demonstrado que pelos dados do próprio PNAD, quando o aluno sai da
Universidade, ele conclui o seu curso, ele tem um acréscimo de 20% a 30% na sua renda, o
que significa dizer, que vai ter um acréscimo, também, no Fundo de Garantia daqueles que
são empregados. Então, essa é uma outra maneira de inclusão. O próprio Programa
Universidade para Todos, o setor privado insistiu muito que se privilegiasse os Cursos de
Formação de Professores e, não que as vagas fossem colocadas da forma que foram; que
se privilegiasse, realmente, porque faltam Professores.
A Rádio Jovem Pan em São Paulo, que tem um alcance nacional, ela tem feito um
programa no seu jornal da manhã. Ela tem feito uma série de relatos em relação à situação
hoje do aluno da escola pública em São Paulo. E o que tem ocorrido nos relatos? Você
percebe que os alunos não sabem escrever, não sabem ler, o raciocínio lógico,
praticamente não existe. Alunos da 8ª série: 4 + 4, não sabe quanto é. E os pais não
conseguem compreender, como que tiveram o menor número de tempo de instrução em
escola, tem o maior preparo do que seus próprios filhos. Isso tem sistematicamente sido
denunciado na Rádio Jovem Pan, a ponto e realmente, de você ver o relato chega a dar
uma tristeza muito grande, uma depressão de verificar qual é o futuro dessas crianças?
O Senador colocou uma proposta aqui pelo ofício, de que o regime seja integral nas
escolas, uma das indagações é nesse sentido, sem dúvida, que seria o campo do ideal.
Agora, obviamente, que as metodologias também precisam ser diferentes, para que o aluno
possa permanecer na instituição, tem que ter Educação Física, tem que ter Artes. Tem que
ter uma série de atividades, para que ele realmente permaneça na instituição.
Eu morei muito tempo em Ferraz de Vasconcelos, que é um município da grande São
Paulo e, fui fazer uma visita numa região. E, Ferraz de Vasconcelos é um município grande,
250 mil habitantes a 60 quilômetros de São Paulo, da capital. O bairro não tem acesso,
ainda, ao saneamento básico. A escola fica distante. E a pergunta que se faz para o aluno,
para criança, aluno da 8ª série: "Eu te der dez reais, a passagem é dois reais. Quanto
sobra?" Ele não sabia responder. Depois, eu falei: "Então, coloca qualquer número". Ele
colocou: 7, 8. [soa a campainha]. Realmente, a dificuldade é muito grande.
E hoje, como o ensino privado tem dependendo da localidade, 40% de ociosidade
inclusive em relação a espaço físico, grandes parcerias podem ser feitas, em relação ao
Ensino Superior. E, várias propostas foram encaminhadas nesse sentido. O que se pede,
sempre, é que haja vontade política por parte do Estado, mas por outro lado, dê-se
condições para que tenha um diálogo com a atividade privada, para demonstrar quais são
seus problemas e, ao mesmo tempo, quais suas propostas, trabalhar no regime de parceria.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu vou abrir a
palavra aos Senadores. Normalmente, a gente passa a palavra para aquele que fez a
convocação, isso vai ser impossível nessa audiência, porque todos assinaram. Então todos
aqui, estão na mesma situação. Eu vou passar, então, por ordem de inscrição.
Estão inscritos o Senador Flávio Arns, a Senadora Marisa Serrano e o Senador
Wellington, nessa ordem. Senador, Flávio.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Qual o tempo que o senhor vai dar para os
três... Cinco minutos--
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): É difícil para o
Senador determinar tempo para outro Senador, tem que chamar o Senador Renan
Calheiros. Mas obviamente, para que a gente possa ter uma boa dinâmica--
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Acho que seria o mais rápido possível
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Quanto mais
curto melhor.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): É, quanto mais curto melhor. Mas eu quero a
exemplo do que todos já fizeram, enaltecer o esforço de V. Exª., Senador Cristovam
Buarque. V. Exª., diz que todos nós assinamos e de fato assinamos e todos nós achamos
importante. Mas é fundamental destacar a iniciativa, o esforço da Presidência, da Comissão
de Educação, e que se isso seja, um debate da Comissão é muito importante. A gente sabe
assim do dedo de V. Exª., nesse encaminhamento todo.
Quero cumprimentar a todos, também, porque estão participando desse primeiro
evento. E dizer, da satisfação de estarmos debatendo esse tema, dentro do Senado Federal
e na Comissão de Educação. Realmente, são mais considerações, que eu gostaria de fazer
em relação às falas.
A primeira delas é em relação a um aspecto que eu acho não foi abordado
adequadamente assim em termos da abordagem necessária, da ênfase necessária, que é
em termos do financiamento da Educação. Quer dizer, o financiamento da Educação. Em
quê sentido? Se nós achamos que alguma coisa é prioritária em nosso País, eu sempre
digo: "Vamos olhar no orçamento, para ver se é prioritário. Se houver dinheiro para aquilo é
prioritário, se não houver dinheiro não é prioritário, é demagogia". O dinheiro significa a
concretização de uma idéia.
E quando nós pensamos e aprovamos noutro dia, discutimos, pelo menos, o salário-
mínimo, o salário básico para o Professor de 800 reais no Brasil. Eu digo: "Olha, não tem
salvação! 800 reais". Quer dizer, dois salários mínimos, um pouco mais, para uma jornada
de 40 horas por semana, oito horas por dia. Eu digo: "Olha, é impossível. Nós temos que ter
recursos". Quando foi falado em tecnologia, por exemplo, elementos à disposição e tudo,
não é? Materiais. A gente precisa ter, mas precisamos do Professor. O Professor precisa ser
valorizado. Para ser valorizado precisa ser bem pago, senão acabou tudo, não adianta
pensar em escola bem construída, computador e tal. Eu digo: Professor. E Professor, bem
pago, bem remunerado.
Por isso que eu, inclusive, no quadro do Sistema Operacional, eu colocaria sempre
Professor em primeiro lugar. Professor estar lá, conteúdo, infra-estrutura e tal, são outros
elementos fundamentais no processo, mas destacar esta presença do Professor, do
Educador, aí... Porque o Professor é motivado, vai para a Faculdade, se tem dinheiro faz o
curso, paga as contas, não vai ficar pensando em como pagar água, luz, telefone, enquanto
está dando a aula e coisas semelhantes. Eu acho que a gente devia, pelo menos bater mais
da tecla da Educação.
Prefeito quer ajudar, o Governador, muitas vezes quer ajudar, mas o Sistema
Tributário em nosso País é extremamente injusto, porque os Prefeitos e Governadores têm
acesso a distribuição do bolo dos impostos. E nos últimos anos todos, para que não
houvesse essa divisão de impostos com Municípios e com Estados, foi criada a figura da
contribuição, CPMF é contribuição não é imposto. E a contribuição, esta figura da
contribuição, 100% fica com o Governo Federal. E hoje, o Brasil arrecada mais
contribuições do que impostos.
Então, a gente precisa, eu acho que se houvesse uma distribuição... Por exemplo,
discute-se a CPMF: "Vamos distribuir 20%, 30% da CPMF para Estados e Municípios, para
aplicarem na Educação". Por exemplo, isso significaria 10 bilhões, 12 bilhões por ano para
Educação. Então, eu acho que nós temos que pensar... A mesma coisa da criança e do
adolescente.
Nós queremos que a criança [soa a campainha] vá para a escola, a criança de rua, o
menino de rua. Claro, que queremos! Educação é tudo, mas só que a gente vê o apoio que
esse pessoal tem que ter, olhamos no orçamento e o orçamento não prevê coisas para esta
criança e adolescente. Então, não é prioridade. Então, nós temos que fazer
orçamentariamente, o assunto se tornar prioridade. DRU, Desvinculação dos Recursos da
União, tirar 20% da Educação para utilizar em outras coisas. Não pode. Então, assim, uma
decisão política importante.
Mas assim, o Doutor Vicente Defourny, que está aqui, representando a UNESCO,
que é um prazer revê-lo, depois do Dia Mundial da Ciência e Tecnologia para a Construção
da Paz, que nós celebramos o ano passado. Agora, eu pensaria assim, bem rapidamente,
em relação a alguns pontos, quando o Doutor Manassés colocou, cérebros, cérebros e
cérebros. Eu não sei assim, se o Brasil precisa tanto de cérebros, cérebros e cérebros;
precisa, porque eu sou Professor da Universidade, também, lá da Universidade Federal do
Paraná.
Mas eu acho que a gente precisa sim, criar essa mentalidade, nas Instituições de
Ensino Superior de terem o compromisso com a sociedade, que o senhor procurou
enfatizar, em termos de Pesquisa, de Extensão, de Docência. Que a Instituição de Ensino
Superior, esteja bem inserida naquele contexto. Eu não sei o que senhor pensa disto,
descentralizadamente, eu concordo. Por que criar, uma nova Universidade? Se não é
melhor ter um braço daquela Universidade naquele local.
Estudando o IDH, a gente vê que o IDH nas regiões onde existe uma Escola Técnica
Federal, CEFET, ou onde existe uma Instituição de Ensino Superior, o IDH aumenta, quer
dizer, pela simples presença de uma Instituição de Ensino Superior. Então, a gente fica se
questionando: Por que criar Escolas Técnicas ou CEFESTs ou Universidades, em regiões já
desenvolvidas? Como o senhor coloca. Eu acho que esse é um ponto que... Levar isto para
as regiões, assim, deprimidas, economicamente, socialmente, seria interessante.
Só em relação, ao Doutor João Roberto, assim uma apresentação bastante prática,
também, concreta. Só não gostei da palavra "recall" dos Professores. Quer dizer, foi
colocado, eu acho que o Professor se sente, assim o recall é realmente um defeito, um
defeito de fabricação. E eu diria, assim, que esse recall, do Professor--
ORADORA NÃO IDENTIFICADA: [inaudível] Desculpe, incomodar.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Não, porque a gente pensa assim, quando nós
olhamos a formação para modernidade ou para coisas do passado. O que é modernidade?
E o que são coisas do passado? Porque a gente via, quando eu fiz a Faculdade, também.
E, o Professor era valorizado, não é era a informação propriamente que era importante, mas
era a formação. Como fazer com que a pessoa pense de uma determinada maneira, sobre
um determinado assunto. O que distingue uma boa instituição, de uma instituição menos
capaz? É a maneira, a forma como o Professor conduz, na minha opinião, o aluno a pensar
de uma maneira diferente. Aí não precisa ter conteúdo. O próprio conteúdo, quer dizer, a
pessoa é a formação da pessoa. Então, mas eu vejo assim, que são coisas importantes,
aspectos importantes.
Me preocupa, por exemplo, que 90% dos alunos de Pedagogia, numa pesquisa
dizem que: "Não querem dar aulas nas séries iniciais". Então, essa formação profissional da
Educação: Por que não porque dar aula? Porque não conseguem viver, eu diria. Porque se
conseguissem viver o pessoal diria: "Não, eu quero dar aula, porque além de gostar eu
posso viver". Então, 90% dos alunos não querem dar aula, formados em Pedagogia, nas
séries iniciais. E é Professor bom, qualificado.
Então, é uma discussão que se faz: O que fazer para cinco milhões e 600 mil alunos
que estão na 1ª série do Ensino Fundamental, quando a taxa de natalidade é de três
milhões e 600 mil? Tem dois milhões de alunos que estão excessivamente na 1ª série. Por
quê? Porque repetiram, tiveram problemas e tal. E a mesma coisa no Ensino Superior, que
o Doutor José Roberto, colocou. Hoje em dia nós temos mais vagas em Faculdades, do que
alunos se formando no Ensino Médio, uma explosão.
Então, não é necessariamente o caso, de que uma instituição, que custa um terço da
pública, uma privada, seja melhor do que a pública, porque a gente tem que pensar, o
Ensino, a Pesquisa, Extensão, tudo isto. E como existem instituições privadas excelentes e
instituições públicas, também, excelentes e outras com menos. Mas a gente pensar no
ProUni, que foi levantado 11 mil vagas em aberto, no ProUni.
Quer dizer, são 11 mil pessoas que estão deixando de para Universidade, porque as
vagas estão em aberto. Então, nós temos que nos debruçar. Não pode 11 mil, inclusive,
com bolsas integrais, três mil; oito mil com bolsas parciais. Nós temos que cuidar disso
FIES, o FGTS. Até tive ocasião de apresentar um desses projetos, é o meu projeto, mas
não para utilização de FGTS. Para nós criarmos uma carteira educacional, a exemplo do
que existe com a carteira habitacional, para que seja uma coisa rotativa, também, para que
todo mundo tenha acesso à carteira educacional. Não é um projeto só de minha autoria, em
conjunto com o Ministro, hoje Ministro, Valfrido Mares Guia e com o Gastão, Deputado
Gastão, lá do Maranhão, Gastão Vieira. Então, uma carteira.
Mas eu quero só parabenizar, me estendi demais, Sr. Presidente, também, mas dizer
da satisfação da ter o Doutor Vincent Defourny e discutimos muito sobre Ciência,
Tecnologia, o Conhecimento, a Era do Conhecimento: Se vamos nós tornar aí, também,
submissos ao conhecimento acumulado de
outros países? Como é que a gente pode fazer com que tudo isso, se construa a
paz? Então, são considerações só. Mas dizer da satisfação de estar participando desse
evento e de tê-los aqui na Comissão de Educação.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Com palavra a
Senadora, Marisa Serrano.
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Obrigada, Sr. Presidente. Eu quero
também cumprimentá-lo e cumprimentar a Mesa, porque realmente, acredito que esses
ciclos transformados em livro, vai nos dar e, dar a todos os brasileiros, a oportunidade de
ouvir e de ler, também, sobre as questões fundamentais da Educação, que afloram nas
nossas discussões.
Mas eu quero ser mais objetiva nas minhas colocações, agradecer muito a presença
dos nossos convidados, mas colocar algumas questões fundamentais. E depois, vou pedir
licença ao Presidente e aos convidados, para poder ir a outra Comissão que me pediram,
para dar uma possibilidade de ajudá-los lá. Mas eu queria falar um pouquinho. De tudo isso
que foi colocado, há alguns questões que nós podemos, acho que, extrair daqui para a
prática.
Nós vamos votar o FUNDEB, aqui nessa nesta Casa, proximamente. E nos índices
para todas as áreas, não se percebe a prioridade em que área vai ser dada nos próximos
anos. Esses índices são fundamentais. Se a prioridade vai ser dada para a Educação
Infantil, não se pode ficar com 0.8. E não se pode colocar a creche, como sendo ensino de
quatro horas, enfim, educação de quatro horas como as outras foram colocadas, a
educação regular e a escola de tempo integral.
Se nós estamos preocupados com os jovens, com Ensino Médio, com Ensino
Profissional, primeiro emprego, há que se ter também uma diferenciação. Os governadores
fizeram uma pressão muito grande, para que o Ensino Médio tivesse um índice maior,
porque aos Governadores cabe o Ensino Médio, a obrigatoriedade. Mas eu acredito que
mostrar a prioridade através dos índices, já é um rumo para o País. É nisso que nós vamos
apostar nos próximos anos, com recurso maior nessa área, para que a gente possa ter a
consecução do objetivo que nós quisermos. E aí a Educação Infantil, que vai ter uma
demanda muito grande a partir de agora; a Educação Infantil vai ter condições de ser, pelo
menos, oportunizada a mais crianças nesse País.
Quero falar, também, num segundo item. Foi dito aqui muito, e eu concordo que a
formação dos Professores é uma questão básica neste momento e, sempre é, mas neste
momento, para a mudança no cenário nacional da Educação. E aí, se falou em melhorar as
nossas Universidades--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Derrubou o Presidente-_
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Derrubou o Presidente da
Comissão--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Fala que foi o anterior--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Se não é o próprio--
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Se não é o próprio. Pode deixar em
cima da mesa, por favor, depois eles colocam. Melhorar as Universidades. Adequar os
currículos das Universidades. Eu não estou vendo nenhum movimento, para que se
adequem os currículos às necessidades do País e às necessidades, da população
brasileira. E nem pela região.
Quando foi instituído o PAC, eu fui à tribuna para dizer, que eu não acredito em
desenvolvimento que não seja através da Educação. E que não vai ser investindo no PAC,
que nós vamos garantir a regionalização e o crescimento, e o desenvolvimento das regiões
brasileiras. [soa a campainha], não vamos fazer crescer o Norte, o Nordeste, o Centro-
Oeste, que não seja através de específico na Educação. Aí eu ouvi aqui, colocar pessoas,
cérebros, lá no Norte e no Nordeste. Sem incentivo, coloque aqui: Sem incentivo financeiro
ou outro tipo de incentivo, não vai acontecer. Não vão para o seu Interior do Ceará, como
não vão para a minha fronteira com o Paraguai e com a Bolívia, já que eu sou de Mato
Grosso do Sul.
Outra coisa, que eu queria colocar aqui: Inserir a Universidade na comunidade,
melhorar a Extensão. Não é essa Extensão, que nós estamos vendo nas nossas
Universidades, que vai fazer... A UNICAMP, poder estar ali. Vai ter uma favela ao lado e, não
vai ter integração entre UNICAMP e a favela. Nós não temos essa cultura. As Universidades
continuam encasteladas. Falar da CPMF. Eu tinha colocado aqui, e o meu amigo, Flávio
Arns, nós somos muito ligados Flávio, me colocou aqui.
Os Governadores estão fazendo uma proposta e fizeram um acordo com os
Prefeitos: Dos 100% que hoje é para a União, ficariam 70% para a União, 20% para os
Estados e 10%, para os Municípios. Só que esses 20 para os Estados e 10 para os
Municípios, Senador Flávio, seriam para a saúde. Foi a proposta dos Governadores por
escrito. Então, cabe também a nós, desta Comissão discutirmos.
Para haver saúde nesse País, para que o povo busque a saúde, para que o povo
tenha condições de reivindicar, de lutar, de brigar, de ler uma bula de remédio, precisa da
Educação. A Educação vai puxar a Saúde. Então, eu acho que está na hora desta
Comissão, também, antes que os Governadores e o Prefeitos, façam esse fechamento em
torno da Saúde, que a gente tenha obrigação aqui, de que desses 20% e 10% sejam para a
Educação, se é a Educação for prioridade. Para fechar aqui, eu falei que não ia falar tanto e
tão objetivo, mas no PDE, foi colocado oito bilhões, em quatro anos, dois bilhões por ano. É
muito pouco pelas nossas necessidades.
E encerrando, a questão humanística. Eu acho que é fundamental que as nossas
crises desde pequena, discutam e aprendam de uma forma lúdica, claro, esse problema da
ética, dos nossos valores, das nossas liberdades fundamentais, da democracia, da
liberdade. Isso é a formação, principalmente numa América Latina, que me preocupa muito
hoje em dia. Mas também a União Nacional pela Educação, que o Doutor Vincent colocou
aqui. Como fazer a sociedade achar que a Educação é importante? Ela ainda acha que é
mais importante ter uma sacola de alimentos do que lutar pela Educação. Fazer a
sociedade ficar do nosso lado nessa luta é um dos meus questionamentos, também.
Sr. Presidente falei demais, me desculpe, mas quis colocar algo pontual, que me
preocupa muito nessa hora da Educação. Muito obrigada.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): A Senadora não
falou demais, falou bem. Eu só quero dizer, que com relação a uma coisa, esses dois
bilhões do FUNDEB não é dinheiro novo. Só 800 milhões é novo, 400 já estava no
FUNDEF. E, foi reduzido Educação de jovens e adultos e Ensino Fundamental.
Então, dinheiro novo da Educação--
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Só 800.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): E um pouquinho
do Ensino Infantil, inclusive. Dinheiro novo do FUNDEB, são 850 milhões. Isso eu acho mui
grave e não tem passado essa visão para opinião pública. O Governo insiste que está
colocando dois bilhões, na verdade, está colocando 850 bilhões.
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Senador, depois o senhor podia, na
sugestão que o senhor fez, há um levantamento que nós podíamos trazer na terça-feira, de
quando no FUNDEB os Estados entram, os Municípios entram e quanto a União entra.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Nós temos.
SENADORA MARISA SERRANO (PSDB-MS): Então, o FUNDEB é muito mais da
sociedade brasileira do que uma apropriação do Governo. E, muito pouco que o Governo
Federal está investindo.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Passo a palavra
ao Senador Wellington Salgado.
SENADOR WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB-MG): Sr. Presidente,
senhores convidados, Sras. Senadoras e Srs. Senadores. Eu não conheço o Dr. Vincent,
porém, os demais membros da Mesa eu acompanho há muito tempo, desde quando eu era
garotinho. E pode mudar o Ministro que for, eles vão estar sempre trabalhando pela
Educação, sempre lutando, sempre se adequando às normas, que cada vez lá do Ministério
é uma máquina da fazer Portaria, a verdade é essa, mas estão aqui sobreviventes. E a
cada Ministro - eu participo de algumas reuniões e sempre dizem: "Não, vai melhorar". E
quando vêem, aparece uma nova criatividade. A criatividade nova, aí a gente fala: "Mas eu
estava estão feliz com a anterior". Me lembro disso, desde lá do Ministro do Rio Grande do
Sul. Mas eu queria fazer algumas colocações pelos que foram debater, o que foi colocado
pelos expositores.
Eu não vou parabenizar o Presidente, porque já parabenizaram tanto, mais eu vou
parabenizar, também. Então, parabéns pela convocação, para não ficar fora dessa. Mas a
questão do Fundo de Garantia, eu acho muito difícil ser usado para financiar a Educação,
porque eu tive oportunidade de ver aqui, o pessoal da Caixa Econômica vir passar para
uma Comissão, eu não me lembro qual que foi, eu não sei se foi da própria Educação,
como é constituído o Fundo de Garantia, qual conteúdo que tem e, se eu não me engano,
acho que 75% eram depósitos sobre um salário-mínimo. Um salário-mínimo. O bolo era
constituído por 75% de depósitos de salário mínimo. Uma coisa absurda. Eu não acreditei e
eles mostraram corretamente, então, eu acho difícil.
Com relação a Ensino à Distância, concordo plenamente, como colocou o João
Roberto, que a questão a gente... O MEC ainda não definiu bem, que é Educação Aberta o
que é Ensino à Distância. Eu coloquei isso pessoalmente para o Ministro aqui, mas vejo,
também, como um bom começo. Vejo a questão de levar esse recall, que o Senador Flávio
Arns bem colocou e não aceitou essa palavra, mas já que foi colocada aqui pelo Professor
vou repeti-la. Para que possam esses Professores de locais, aonde não possa chegar essa
melhoria da Educação, o Ministro quando cria esse Ensino à Distância, mas, na verdade é
uma maneira de chegar a esses Professores, não têm acesso ao novos conhecimentos e
novas tecnologias. Eu acho que é um bom começo, nesse momento o Ministro Fernando
Haddad está sendo bem feliz.
A questão das filantrópicas. Isso é algo que tem que ser bem explicado. Quando foi
liberado para que se tivesse Instituição de Ensino Superior no País, a legislação obrigava
todas a serem sem fins lucrativos e filantrópicas. Isso era uma obrigatoriedade. E hoje,
chamam-se de "filantrópicas", como foi usado. Quer dizer, obrigam a ser e, depois, que você
monta toda uma estrutura, vem e se começa a fiscalizar. Você tem todos os certificados que
a lei manda. Você faz tudo certo e o INPS vem e te atua, diz que você está devendo e você
tem que ir para Justiça para ganhar, mas enquanto você não ganha você é devedor. Isso é
o que está acontecendo hoje.
Agora, se tirar do todo mundo, tirou de todo mundo! Agora, o que não pode é tirar de
algumas e outras não. Então, você acaba mexendo no mercado. Um mercado que já vem
há anos assim. Então, os que têm o certificado lutam por ter. Alguns mantenedores, não têm
nem conhecimento da legislação, porque de repente, está muito longe da Capital e perdem
o certificado, são autuados e aí são processados, vão ter que responder inquérito na Polícia
Federal e tudo mais. Então, essa questão tem que ser bem resolvida e, o Congresso tem
que olhar com carinho essa situação.
O ProUni. O ProUni, na verdade, eu até falei para o Ministro que, na verdade, nós
não podemos reclamar do ProUni. O ProUni, o Ministro fez um omelete sem ovo, eu digo
isso para ele - o tempo passa rapidinho, impressionante. Uma omelete sem ovo, porque na
verdade, algumas instituições não pagavam impostos, com essa briga aí o Ministro fala
assim: "Tudo bem, então vamos... Porque, na verdade, não pagavam, então, vamos usar
isso para vagas para alunos carentes, que vêm de escola pública". Eu acho que aí ele
restringiu demais aí, houve uma restrição. E o que é pior, Senador Flávio Arns, o meu
questionamento não são esses 100 mil, 11 mil, desculpe, que não conseguiram as vagas.
Eu quero saber: Se quantos entraram, se ainda estão lá? Essa é a caixa preta.
Porque eu não acredito, Senador Cristovam, que simplesmente você dá a vaga para
o aluno, se ele vai conseguir ficar. Ele tem que ter passagem de ônibus; ele tem que ter
dinheiro para livro; ele tem que ter dinheiro para Internet; ele tem que ter alimentação para
se adequar àquela turma que ele está presente. Conseguir ter a cabeça pensando, para
acompanhar o pensamento da turma para não ser reprovado. Agora, isso, eu não nunca
nenhum dado a respeito: "Olha, entraram 100 mil, só ficaram 30". Ninguém tem coragem de
mostrar isso.
Essa CPI que V. Exª., está querendo fazer, uma CPI do bem da Educação, esse seria
um ponto que teria que ser mostrado: Quantos ficaram no sistema? E se saíram, o que o
Governo pode fazer, para que eles não saíssem? O que poderia o Governo fazer? Dar
alimentação, dar o livro, dar um passe, para ele poder usar o ônibus, onde o Governo
pagasse ao final do mês? Eu não sei, isso deveria ser discutido. A questão computadores
em todas as... Colocar computadores em toda as escolas. Outro dia eu vi os dados que não
tem energia elétrica numa série de escolas, quer dizer, nós estamos falando em botar
computador onde não tem energia. O Governador do Pernambuco, o Governador Eduardo
Campos, outro dia fechou, eu não sei se foram 70 ou 700 escolas, porque estava caindo o
teto. Começou a reformar tudo e parou a aula para reformar, isso eu acompanhei nos
jornais.
Uma última colocação, porque o meu tempo... Para dar oportunidade para outros. A
questão de quando o IDH sobe é a famosa teoria do capital humano, quando você melhora
tudo melhora em volta. Outro ponto, importante, que eu digo é o seguinte. Nós precisamos
ver que quem vai gerir uma escola, tem que ser o gestor, realmente. Essa é a grande
questão que está acontecendo hoje na Educação Brasileira.
Antigamente para você ser um Reitor, você tinha que ser Doutor e, de repente, era
um Doutor em Psicologia, em alguma coisa, mas não tinha o conteúdo da gestão. Harvard,
o Reitor é contratado para gerir. E Senador Flávio Arns, a diferença entre uma boa escola -
eu já vou falar uma escola ruim é a procura pela vaga nela. Se existe procura por vaga
naquela escola ela é uma boa, escola senão tem ninguém procurando é porque ela não é
uma boa escola.
Eu quando estava na minha vida acadêmica e de gestor Universidade eu sempre
falava: Qualidade de ensino, para mim é aluno inscrito no vestibular. Se você não tem
qualidade o aluno não vem, não ainda. Não vem, no alto nível de competição. Se eu pego
algumas escolas de aplicação das federais, tem demanda que você não tem como atender.
Tem que fazer prova, reprovar, por quê? Porque são boas escolas de aplicação da
Universidade Federal, do Rio de Janeiro que eu conheço. E, com certeza, lá no Paraná,
também, existe uma boa escola de aplicação da Universidade Federal.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Boas e gratuitas.
SENADOR WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB-MG): Boas e gratuitas,
bem colocado. Então, quer dizer, esses problemas, e essa famosa dicotomia público e
privada tem que acabar. Eu não agüenta mais isso. O que é bom para o Governo Federal?
Todos os países que pagam a escola para o aluno, eles crescem. Quanto custa para o
Governo pagar, de repente, uma escola particular? Não vou discutir se uma é um terço da
mensalidade do outro. Eu não estou discutir, isso, Senador Flávio Arns. Eu quero dizer o
seguinte: O que é bom para a sociedade. Nós não podemos estar preocupados assim:
"Não, porque está fazendo está ganhando dinheiro". O que é bom para a sociedade? O que
vai levar o Brasil a ter o crescimento alto sustentável?
São essas questões que tem que acredito, Sr. Presidente, que vão ser levantadas
aqui, vão ser debatidos aqui. Pelo menos eu venho aqui hoje, eu sou suspeito dos
debatedores porque eu acompanho, com exceção do senhor Vicente, os demais eu
acompanho a história de vida deles. Eu vejo a luta diária, sem perseguição nenhuma
porque inclusive, eles seguem portarias. A verdade é esse. Eu peguei o currículo do
Professor Manassés, aqui, onde o nosso Senador estava falando que os cérebros do
Ceará, o Ceará exporta cérebros, o currículo é realmente invejável. E, no entanto, tê-lo ao
lado hoje como Reitor da Mackenzie, a quem eu admiro, uma grande Universidade que tem
demanda, tem gente procurando vaga, eu me sinto orgulhoso de debater esse assunto com
V. Exª.
Espero, Sr. Presidente, que continue esse Fórum, esse debate nesse conteúdo
maravilhoso que está apresentado aqui. Muito obrigado.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Antes de passar
a palavra ao Senador Arruda, eu quero dizer que o Senador Wellington trouxe em um ponto
importante. Essa dicotomia público e privada, eu tenho tentado reorientar isso. Uma coisa é
a dicotomia pela propriedade a Universidade, estatal e a Universidade particular. A outra é
pelo produto, se é de interesse público ou interesse privado.
Existem cursos em Universidades estatais, que são puramente de interesse privado,
do aluno, do Professor. Existem cursos em Universidades particulares, que são de interesse
público, porque o formado lá sai para servir aos interesses nacionais.
Senador Inácio Arruda.
SENADOR INÁCIO ARRUDA (PC DO B-CE): Sr. Presidente, primeiro temos que dar
os parabéns à Comissão conduzida por V. Exª., pela iniciativa de transformar todas essas
audiências em texto a ser apresentado ao Ministro, especialmente o Ministro Fernando
Haddad, que é o Ministro da Educação, aos demais Ministros que estão ligados à nossa
área da Educação, o Ministro da Ciência e Tecnologia, uma grande responsabilidade. E, os
que têm responsabilidade em garantir os meios para que a Educação consiga alcançar o
patamar de qualidade que nós queremos. E ao Presidente da República, que eu acho tem a
responsabilidade máxima em relação à Educação.
Eu tenho assim uma opinião que é retratada, também, pelo atual Presidente do
Conselho de Educação lá do Estado do Ceará. Um homem simples, às vezes, polêmico
também, Edgar Linhares, um homem já também de idade, mas ele trata do seguinte: Nós
temos que cuidar da Educação de forma muito simples, tratar das coisas simples; tratar de
ensinar a ler, a escrever bem as coisas básicas, para o nosso povo. É aqui que nós temos
que resolver o problema". O que pega da Educação Infantil ao Ensino Fundamental, aqui
nós temos que investir muito com qualidade.
Aqui nós temos que cobrar muito do Estado, dos Governantes, para que eles
ofereçam grande qualidade, nas coisas bem simples. É isso. Vamos ensinar a ler bem.
Vamos ensinar as Ciências básicas, bem. Depois disso, nós teremos milhões de cérebros,
porque nós precisamos de muitos cérebros, mas nós teremos milhões de cérebros, se nós
fizermos isso bem. Depois é a segunda parte: Onde esses cérebros vão conseguir atuar?
Porque nós podemos dizer isso. Hoje, a Região Nordeste do Brasil é uma exportadora de
cérebros. Basicamente, temos podemos dizer, não sei se mais, mas temos dois na mesa,
Senador Cristovam Buarque e Manassés Paulino Fonteles, que são dois cérebros
nordestinos que foram se somando, foram se preparando.
E, quanto nós podemos assinalar, que tiveram que sair dali, às vezes, do Interior,
estudando numa escolinha primária, do Interior do Nordeste Brasileiro, mas que são
pessoas de cérebros privilegiados. E que tiveram oportunidade de aprender a ler, a
Matemática, a Física, as Ciências básicas na forma mais simples. Se nós resolvermos isso
aqui, se nós tratarmos dessa questão, essa questão está ligada com o problema do
Professor. O Professor, ele tem que estar estimulado, permanentemente estimulado,
entendeu? Não é o problema do recall. Não é o problema de recall. É o permanente
estímulo ao Professor, porque é o problema da Educação permanente, do estudo
permanente.
Agora, é muitas vezes difícil você estimular o Professor, com uma situação que nem
piso salarial tinha. Agora, se propôs um piso. Pela primeira vez na história, vai ter um piso
mínimo. Quer dizer, o teto não tem problema, você vai ter prefeituras, que podem
quintuplicar esse valor do piso. Tem umas que são, na verdade, a maioria esmagadora, que
estão aqui no Senado nos procurando. [soa a campainha] ontem, estiveram na sala da
Presidência do Senado, pedindo que a gente tenha o máximo de cuidado, porque é uma
demanda que nós estamos atendendo da Educação, mas estamos criando um problema
gravíssimo para os Municípios brasileiros, do ponto de vista do financiamento, que é o
programa imediato, que é financiamento e gestão.
Então, você tem ensinar com simplicidade; Professor estimulado permanentemente.
E estimular permanentemente, não é só o amor que o Professor dedica à causa da
Educação; não é só ele ter o carinho pela Educação. É ele estar estimulado também com
salário, porque ele precisa sobreviver, ele precisa cuidar da sua família. Ali muitas vezes é a
sua única fonte, também, de sobrevivência. E têm Professores da Educação pública, que
tem dois tetos na Educação pública, ensina em duas escolas, às vezes, em três escolas,
ensina no Município, ensina no Município vizinho, tem mais um teto no Estado. E, ainda,
corre pelo menos com duas escolas privadas, para poder ter essa vocação de ser educador.
Então, quer dizer é quase impossível você garantir que esse Professor esteja
estimulado. Quer dizer, ele chega em casa sem condições de se debruçar, sobre o que for
foram os questionamentos dos alunos, o que foram os questionamentos que a escola
ofereceu durante todo aquele dia. Então, você não tem condições de preparar. Quer dizer
uma boa parte das escolas pelo mundo afora, o Professor já no Ensino Fundamental é de
dedicação exclusiva. O Professor é de dedicação exclusiva, ele só tem aquele contrato. Ele
não pode ensinar, nem mais em escola pública e nem mais em escola privada. O contrato
dele é de dedicação exclusiva.
O funcionário da Petrobras é dedicação exclusiva, ele não poder ter contrato com
outra empresa. Puxa vida, então, o funcionário da Petrobras é dedicação exclusiva; da
Caixa Econômica é dedicação exclusiva, do Banco do Brasil é dedicação exclusiva, mas um
Professor de uma escola de Ensino Fundamental, não pode ter dedicação exclusiva, porque
o salário não é condizente com essa necessidade do Professor. Então, eu acho que aqui é
um problema central e vem a gestão. Quer dizer, esse é um problema caótico no Brasil, que
nós temos que resolver. E é um problema de Governo, entra Prefeito, entra o Governador
do Estado, são muitos problemas correlatos.
Em seguida vem a explosão tecnológica, porque simplesmente fica na loucura da
explosão tecnológica. Então, muitas vezes a gente substitui o ensinar bem, a ler, a escrever
a língua, a Matemática, a Ciência, pela explosão tecnológica. Quer dizer:" Vamos encher
todas as salas de computadores e de laboratórios sofisticados", mas às vezes a gente não
tem nem o recurso para dar manutenção. A gente monta um laboratório espetacular,
belíssimo, está lá uma sala; dois meses depois quebrou metade dos equipamentos, está
certo? Os "ratinhos", os "mousezinhos", os chamados ratinhos quebraram todos, você não
tem recurso para comprar e para substituir aquele equipamento. Quebrou aquele
laboratório, você investiu milhões naquele laboratório de computação e ele já está
desperdiçado.
E, do ponto de vista da velocidade. Em um ano e meio ou dois, todos aqueles
equipamentos estão superados. Então, a gente também em mente essas questões: Como a
gente ter a conexão com esse mundo tecnológico, mas não colocá-los na loucura de
substituir o Professor, de substituir o que é básico no Ensino e na Educação.
E, por último o problema da FUNDEB. Eu acho o seguinte, o FUNDEB é uma
conquista como foi o FUNDEF. O FUNDEF foi é uma conquista e o FUNDEB também.
Agora, como o ProUni e outros, também, eu acho que eles avançam um pouco mais. É uma
tentativa de com o carro em movimento, uma roda soltou, você tem que substituir aquela
roda sem parar o carro. Esse que é o problema que nós vivemos no Brasil, na Educação e
em todos os outros setores. É assim na Saúde, é assim na Segurança Pública. Você não
tem que como parar o carro. Um pneu largou, o outro está careca e, você tem que resolver
o problema com o carro ali circulando, sem poder pará-lo efetivamente. Eu acho que nós
avançamos com o FUNDEB. Ele tem limitações, tem limitações. E nós temos que superar
as limitações do FUNDEB que não são fáceis, porque dizem respeito a repartição do bolo
tributário.
Entra uma outra questão. Repartição do bolo tributário, porque aí, você vai ter
garantia de recursos no Município, mais garantias que hoje você não tem. Nós temos uma
série de contribuições que são oferecidas ao Governo Federal, como por exemplo, a CPMF,
que não é repartida com os Municípios, que não é repartida com o Estado, entre outras.
Então, você passa grandes responsabilidades, mas não oferece os meios. O FUNDEB,
digamos assim, é um instrumento desse. É uma grande conquista, mas ele precisa garantir
meios, para que os Prefeitos e às Prefeituras não corram de volta para cá e cheguem aqui e
digam para nós: "Pelo amor de Deus, pára o FUNDEB" - "Ora, mas nós não estamos numa
grande conquista, nós não podemos pará-lo" Nós podemos resolver o problema seguinte,
que é de garantir o financiamento para as Prefeituras, oferecerem o Ensino e a Educação
de qualidade, efetivamente que é o que nós precisamos.
Obrigado, Sr. Presidente.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu vou passar à
palavra na mesma ordem que falaram, mas eu vou fazer uma pergunta que resume aquelas
que eu enviei. A minha pergunta é muito simples. A minha pergunta é a seguinte: Se o
Presidente da República, chamasse cada um de vocês e dissesse: "Você vai ser meu
Ministro da Educação". O que a gente precisa fazer para que todo Governo se envolva, para
a Educação Brasileira ficar da mas alta qualidade e de igual para todas as crianças? O que
vocês proporiam para o Presidente da República? Não esqueçam, entretanto, as perguntas
dos outros Senadores.
ORADORA NÃO IDENTIFICADA: [inaudível] Eu ia falar que se nós fizéssemos o
nosso trabalho direitinho [inaudível] lá para trás.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Professor
Manassés.
SR. MANASSÉS CLAUDINO FONTELES: Bem, eu estou muito feliz de estar aqui. E
agora, mais feliz ainda com o meu colega de trabalho no Laboratório de Fisiologia, da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Senador Francisco, como eu o
chamo, Mão Santa. Trabalhamos juntos, começamos nossa carreira e ele resolveu tomar
outros rumos. Mas é realmente uma pessoa de grande conhecimento médico, porque eu
posso atestar, porque eu o vi crescer no aprendizado desse conhecimento.
Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer também que estou muito feliz, porque esta
questão está vindo ao debate. Porque eu estava com a idéia de que passadas as eleições
esse debate ia cessar. Evidente, que melhorou muita coisa no País, o FUNDEB é um deles.
Mas se a gente analisar o problema mais crucial não melhorou. Se a gente fizer todo o
investimento necessário, agora, nós só vamos colher frutos - e ele colocou muito bem: é
dentro de 10 a 20 anos. Então, precisamos agir agora, se quisermos que pelo ano 2020 e
2025, o País tenha outros contornos de natureza acadêmica e, de natureza a que o Brasil
venha a ingressar na sociedade do conhecimento.
Eu não tenho dúvida nenhuma de que aonde a Universidade chega, até a conversa
do botequim muda. Eu não tenho dúvida nenhuma, até a conversa do botequim ou do
boteco, muda quando a Universidade chega. A Universidade muda, realmente, mas ela tem
que mudar também a sua maneira. Eu concordo inteiramente com a idéia do currículo. Eu
concordo inteiramente, com a idéia do currículo. Eu concordo inteiramente com a idéia da
formação do Professor, de formar ação do Professor-Gestor. Mas veja bem, o Senador
Inácio Arruda, disse uma grande verdade: A gente pensa que equipar a escola resolve o
grande problema.
Então, eu volto para aquela questão inicial que eu falei, do Zeferino Vaz, é cérebro
mesmo. Mas cérebro não precisa ser nenhum gênio, não. Gênio é pouca gente que é, no
Brasil têm poucos, não tem muito gênios, não. Gênio é pouca gente. Diz-se no Ceará, que
gênio é como a oportunidade, vem um de século em século. Então, vem pouca gente. Essa
percepção é muito importante. Agora, ter cérebro você encontra cérebros lá nas pequenas
comunidades do Paraná, do Ceará, do Piauí. Agora, esses cérebros precisam ser nutridos
do ponto de vista do conhecimento.
E eu concordo, porque eu quando visitei a China a primeira vez, antes das grandes
mudanças em 83, eu encontrei nas escolas da China o pessoal fazendo operações com
ábaco e funcionava. E funcionava. Não há necessariamente... Aliás, a Inglaterra chegou a
essa conclusão, agora, em estudos bem acompanhados, bem feito. Que na realidade você
instrumentaliza o ensino, mas ele necessariamente não melhora, não. Você pode ter ensino
muito bom com pouca coisa, mas o Professor tem que ser bom. Então, sem o Professor de
qualidade aí, é o lado da Universidade. Eu concordo, inteiramente, com o Senador
Cristovam Buarque, ex-Reitor da UNB, de quem eu tenho aprendido muito, lendo seus
ensaios provocativos que, muitas vezes às pessoas não compreendem, porque às vezes às
pessoas estão além da sua época.
Se nós não melhorarmos a situação dos Professores e dos licenciados na
Universidade Brasileira, seja nas Universidades particulares, seja nas Universidades
Confessionais, seja nas Universidades estaduais,, Municipais ou nas Universidades
Federais, nós não vamos mudar. O que é que se vê hoje? Qual é o quadro? Eu fui ser
Reitor na Universidade Estadual do Ceará, tinha um programa de licenciatura, se formavam
quatro Professores por ano. E eu comecei a fazer incentivos. Trouxe bolsa para os
vestibulandos, infelizmente, agora, não estão nem pagando as bolsas. Criamos lá uma série
de incentivos, para que aquelas pessoas ficassem no sistema [soa a campainha]. E o
resultado disso? Eu aumentei de quatro, cinco, para 50, 40, formandos.
É preciso fazer isso nas Universidades Federais, sobretudo nas públicas, mas
também em todas as outras unidades desse País. É preciso fazer esse alocamento de
competências. A gente não pode esquecer que há uma frase fundamental nesse contexto.
Certa vez, perguntaram ao Prêmio Nobel de Medicina, fizeram a seguinte pergunta a ele:
Como se faz um cientista? E a Fritz Lipman respondeu imediatamente:" Trabalhando com
Cientista". Como é que eu posso formar uma criança com qualidade, se o Professor não
tem qualidade? Isso é válido para os Cientistas, é valido para o Pianista, é valido para a
Professora.
Os meus Professores do Liceu, eu ainda hoje me lembro deles, Jamorandi, grande
Professor de Matemática, não tinha regra de cálculo, não tinha computador, não tinha nada,
mas era um excelente Professor de Matemática, formou grandes matemáticos, hoje no
cenário nacional, exportados para o Rio de Janeiro no Instituto de Matemática, São Paulo,
na USP, etc formados lá no Liceu, do Ceará, com quase 200 anos de existência. A resposta
para o Senador perpassa por esse caminho. Eu faria imediatamente, um grande programa
de formação de Professores no País, mas não é esse negócio de formação 5000, não é
formar muito. É esse negócio de muito obrigado, formar 500 mil Professores em todo o
País, Física, Química, Matemática, Biologia e língua nacional.
Então, formava esses Professores, dava bolsas para os Professores, fazia realmente
um Programa ProUni, específico para eles, eu concordo, como bem colocou o Professor
Cuvac. Quer dizer, é preciso haver estímulo, como no ProUni. O ProUni é bom. Nós demos
nos 40 anos do Clube, uma Medalha para o Ministro por causa do ProUni, mas não pode
ser só com três salários mínimos. Porque eu vejo, os alunos não têm condição de voltar
para casa, eu às vezes, dou dinheiro. O aluno não tem condição de voltar para casa. Chega
com fome. Lá na Universidade Estadual do Ceará, eu criei o Sopão do Amor, de noite. A
turma chegava do trabalho ia estudar nas licenciaturas, não tinha o que comer. Então, eu lá
como Reitor de noite sempre--
SENADOR INÁCIO ARRUDA (PC DO B-CE): E depois do sopão o que acontecia?
SR. MANASSÉS CLAUDINO FONTELES: Depois do sopão uma melhora
generalizada, porque os Professores ficavam até dez e meia dando aula.
SENADOR INÁCIO ARRUDA (PC DO B-CE): Fertilidade, criatividade.
SR. MANASSÉS CLAUDINO FONTELES: Exatamente. A pessoa comia. Como é
que eu posso comer e comer mal, poucas calorias e vou entrar, assistir uma aula até dez e
meia da noite? Esse é o quadro dos licenciados do País, que trabalham o dia todo. Então,
melhorar o Professor associando ao FUNDEB, nós vamos melhorar a escola, agora, isso
não vai ser para agora. Agora, eu volto aquele esquema do nosso Senador, a escola tem
que ser a mesma em Piripiri, em Bacabau, em Cabrobó, em qualquer lugar ela tem que ser
a mesma, como também em São Paulo, como em Campinas, como noutro lugar, a escola
tem que ser a mesma. como também em São Paulo, como em Campinas, como no outro
lugar. As escolas têm que ter o básico essencial, não as escolas caindo o teto, a escola sem
banheiro, as escolas muitas vezes, alunos saem para fazer necessidade fisiológicas fora da
escola. Isso eu vi caminhando pelo Interior do Nordeste, semi-árido. E agora com o efeito
estufa, eu acho que por causa disso não esta prestando atenção que nós temos que fazer
esse trabalho.
Então, para melhorar a escola tem que melhorar o Professor para dar às condições
físicas para que todas escola no Brasil, tenha a mesma condição de produzir alunos de
qualidade. Vai melhorar a Universidade, vai melhorar o País, vai melhorar o conhecimento e
vai melhorar tudo. Felizmente, meu tempo está limitado.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Doutor Vincent
Defourny.
SR. VINCENT DEFOURNY: Obrigado. Acho que esse debate é muito importante e
muito interessante. Realmente, gostaria de parabenizar uma vez mais, o Senador Cristovam
por essa iniciativa. Como o Reitor colocou anteriormente, essa idéia de ter um debate, não
só durante a campanha eleitoral, mas também durante o período do Senado; digamos,
depois das eleições é uma idéia muito importante e muito interessante, porque é
fundamental levar e manter esse nível, digamos, esse sentimento de urgência. Acho que há
uma necessidade de manter essa noção de uma crise, de uma crise profunda da sociedade,
de uma crise profunda na forma que funciona no Brasil. E, se essa noção do crise não
passar por debate, se não passar por exposição de diferentes idéias, não se vai manter
essa noção de crise e vai ser um debate a mais ao largo do ano. Mas ao mesmo tempo que
se precisa manter essa noção de crises e de urgência, acho que muito democrático,
também, ter na idéia de que não existe uma resposta simples. Não existe uma receita. Não
existe uma receita simples para um problema tão complexo. O que se necessita
seguramente é um salto e, esse salto não pode ser um pouco mais do mesmo. Um salto
significa, também, realmente priorizar.
E priorizar significa - como colocou o Senador Flávio Arns - é também sinalizar no
orçamento da União, no orçamento dos Municípios e no orçamento dos Estados, o que
significa. E ler no orçamento, é realmente, ler as prioridades de uma comunidade. Então,
acho que esse debate e essa iniciativa de manterem, digamos, quentes a noção essa
importância da Educação, a UNESCO só pode apoiar e acompanhar e realmente, colocar-
se, à disposição para mobilizar e continuar essa mobilização nacional. Uma das idéias
também que foi levantada e que é uma idéia que não nova, mas que é uma idéia muito
interessante, que é a noção de aproveitar dos recursos disponíveis.
Os Senadores que estão aqui, os engenheiros que trabalham nas cidades, a infra-
estrutura que existe na cidade, são oportunidade educativas. E acho que temos que
inventar mecanismos, para aproveitar melhor todas essas possibilidades educativas que
existem. E fazer com que de alguma forma cada um seja mais educador e que as
competências que existem numa cidade, por exemplo, ou as oportunidades de
conhecimento, que sejam museus, que sejam infra-estruturas municipais, que sejam
assembléia municipal ou diferentes órgãos da cidade, sejam elas mesmas oportunidade de
aprendizagem para novos cidadãos, que são cidadãos do mundo, de um País, mas também
cidadãos do mundo de uma sociedade conhecimento.
Então, a UNESCO realmente fica muito satisfeita e, ao mesmo tempo muito
preocupada, porque a UNESCO tem no seu mandato de levar essa idéia da Educação, da
Educação para construir uma cultura da paz, da importância da Educação para construir um
mundo mais justo. E isso ficamos muito feliz que é um debate dessa qualidade seja lançado
nesse Senador e, nessa Comissão em particular, que vai demorar várias semanas, vários
meses e que vai dar um fruto, mas ao mesmo tempo, ficamos muito preocupados pela
situação no Brasil. E realmente o Brasil não merece, digamos, o Sistema Educativo que
temos hoje.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu agradeço ao
Doutor Vincent. E passo a palavra ao meu colega João Roberto Moreira Alves.
SR. JOÃO ROBERTO MOREIRA ALVES: Bom, a primeira indagação do Senador é
exatamente a Educação, ou seja, a função do Ministro. Eu acho que o primeiro passo seria
termos, realmente, um Ministério da Educação Básica. Eu acho que algumas experiências
já bem sucedidas, até de transferência do setor de Ensino Superior, para Secretaria de
Ciência e Tecnologia, que já acontece no Estado do Rio, Janeiro, São Paulo e outros
Estados, eu acho que isso seria um grande avanço. Ou seja, nós temos o Ministério da
Educação voltado para os assuntos da Educação Básica. É Fundamental, os problemas
nacionais e, a gente vê pela quantidade de escolas, por exemplo, das 220 mil escolas, 2200
são voltadas ao Ensino Superior.
Toda a grande massa envolve foco na Educação Básica. Eu creio que seria
fundamental se nós tivéssemos o Brasil, com um Ministério de aprendizagem voltado para a
Educação Básica. E o Ensino Superior poderia, perfeitamente, ser trabalhado de uma forma
bastante diferente integrado com a área de Ciência e Tecnologia. Um outro ponto também
que eu acho fundamental, é o que Ministério que o Governo Brasileiro e, por reflexo nas
Secretarias de Estados de Educação dos Estados e dos Municípios, que reduza a fúria
Legislativa.
Nós vivemos hoje, para nós termos uma idéia, nós temos hoje no Brasil, mais de 110
leis que vigoram leis federais, leis federais, Sra. Ministra. Perdoe, chamar sempre de
Ministra, porque a senhora é a nossa Ministra do coração. Mas essa fúria legislativa. Só o
ano passado foram mais de 2000 portarias ministeriais. É impossível você conviver com
essa realidade dessa fúria legislativa.
O terceiro passo é a simplificação do processo, ou seja, todo o processo hoje no
âmbito da Educação muito complicado e hoje nós Reitores, sofrerem nas ante-salas da
morte ou da vida ali, no Ministério da Educação, em função de uma simples homologação
de um ato. Outro aspecto, que eu acho que esse é fundamental, no momento atual é ouvir
as pessoas.
O Plano de Desenvolvimento na Educação, na realidade, foi lançado pelo Presidente
15 de março, onde conclamava a todos a apresentar idéias, a somar. Mas como? Nós no
dia seguinte, vimos publicados sete decretos, 13 portarias e apenas três Projetos de Lei,
que a discussão é uma discussão na Casa do Congresso, no Congresso Nacional, na Casa
Legislativa. Mas nós temos eu acho. Que ter oportunidade de a sociedade apresentar mais
propostas e, propostas que possam realmente mudar a Educação Brasileira.
Outro ponto fundamental é investir maciçamente na formação, no apoio ao Professor
e o Gestor. Isso está bem colocado e praticamente é posição unânime. Eu acho que tem
que existir um processo de apoio, uma processo de melhoria de toda a formação e o
aperfeiçoamento desses Professores. Aplicar corretamente os recursos. O Senador Flávio
Arns, colocou muito bem o problema do financiamento.
Hoje o problema da Educação não é falta de recursos. Nós temos, por exemplo, foi
criado o FUST, o Fundo que hoje já contempla mais ou quase cinco bilhões de reais, que
estão contingenciados na sua grande parte para ajudar o superávit primário. Em
contrapartida, nós temos uma relação segundo dados até pouco tempo divulgados, de um
computador para 170 alunos na área pública. É um absurdo, nós termos de um lado cinco
bilhões contingenciado, recursos que foram criados para esse fim. E termos, um anúncio
festivo de cem mil computadores que serão lançados e que não vai resolver nada, como foi
colocado pelo Senador Arruda e daqui há dois anos já tornaram-se obsoletos e, muitos não
terão até tomada para ligar. Eu acho que aplicar recursos corretamente é fundamental.
Eu por último, eu acho que função do Ministro, como é função do todos os que
exercem, como os senhores Senadores, é liderar e auxiliar para que a sociedade brasileira
realmente se conscientize - como o representante da UNESCO colocou muito bem, que a
Educação é prioridade nacional. Eu acho que hoje é fundamental, que se caminhe que se
somem esforços nessa direção. Do contrário, nós vamos ter mais planos, mais
pronunciamentos e nós não podemos assistir, passivamente a essas propostas, que são
propostas que daqui a 16 anos vamos melhorar um pouquinho no índice de
desenvolvimento. Nós temos que lutar. Eu venho de uma época de liderança estudantil,
sofremos muito num período negro da nossa sociedade, do nosso Brasil, mas eu me recuso
a resistir a aceitar propostas, que sejam propostas tão tímidas, como são as propostas, hoje
apresentadas, pelo Executivo Brasileiro.
Refletindo: Como se está tudo bem? Quando na realidade, nós estamos no ranking
internacional, num processo de extrema pobreza, numa cenário de Educação em relação a
outros países. Não em Educação de países desenvolvidos, mas Educação de países em
desenvolvimento. Precisamos é ter vontade e coragem de mudar. Parabenizo ao Senador,
por esse essa iniciativa.
E agradeço, mais uma vez, a oportunidade de poder estar nessa Casa.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Muito obrigado,
Professor. Passo ao senhor José Roberto.
SR. JOSÉ ROBERTO CUVAC: Eu vou comentar alguns pontos, até que o Senador
Wellington colocou e que acho que precisam ser ressaltados. O Programa Universidade
para Todos, ele realmente, tem um problema que foi apontado desde a origem, porque é um
programa de acesso, mas que não teve a mesma preocupação em relação a permanência.
E esses dados eles, realmente, não são divulgados e não há muito, mais do que isso, não
há nenhum sistema de avaliação do motivo pelo qual esse aluno está saindo.
Existem alguns dados de instituições que indicam a falta de recurso para transporte,
ou pela compra de livros, ou por outro motivo de ordem financeira, mas o fato é que não
existe um índice, não existem estatísticas e não existem motivações que indiquem o motivo
pelo qual esses alunos saíram. No que diz respeito às entidades filantrópicas, o Senador
Wellington colocou e é importante, realmente ressaltar isso, de que essas entidades elas
surgidas antes de 96, elas não tinham outra possibilidade jurídica de credenciamento. A
única forma, realmente, eram as associações ou fundações de natureza não lucrativa.
E a partir de 96, com a edição da LDB e com possibilidade da transformação,
praticamente naquele momento, passou-se uma régua, como que se as instituições até
então existentes, tivessem que adequar a nova natureza jurídica, pela via fiscalizatória.
Esse que foi o maior problema, ou seja, criou-se mecanismo de autuações, instituições por
exemplo na Região Sul, que são instituições comunitárias, com autuação que giram em
torno de 350, 400, 500 milhões que, na verdade, até do ponto de vista da possibilidade de
pagamento é completamente inviável. Isso precisa realmente ser resgatado. Eu sei, que
aqui no Congresso e também existem vários projetos e várias discussões e sobre esse tipo
de situação. São instituições hoje que estão vivendo numa marginalidade jurídica, pela
condição que foi imposta pelos atos fiscalizatórios.
A Senadora Maria do Rosário, ela fez uma colocação que me parece bastante
interessante e, que talvez, Maria Serrano, que talvez indique alguns caminhos que o
Senador está procurando, ou pelo menos, indagou. Ela fez a seguinte, ela fez a seguinte
colocação: Que deve se estabelecer prioridade, através de necessidades, ou seja: Onde
que precisa? O que precisa? E quais são os dados nesse sentido? Quer ver uma coisa
interessante? O Senador Flávio Arns, estava falando do IDH. Quer dizer, onde tem uma
Instituição de Ensino Superior, o IDH automaticamente melhora.
O Governo, por exemplo, adotou como uma política de expansão da Universidade,
colocar uma Instituição Universitária no grande ABC, cujo índice de IDH é um dos maiores
que tem em São Paulo, do País. Qual foi é? Qual foi? Que política pública, norteou-se pela
decisão de instituir uma instituição, num local em que o IDH é muito alto. Em compensação
em São Paulo, têm regiões absolutamente sem amparo nenhum em relação a acesso a
Universidade. O próprio litoral, Vale do Ribeira, é situação de um apagão educacional lá. E
no entanto, o Governo não indicou caminhos para uma expansão num local tão pobre como
esse.
A outra questão é sobre financiamento e aí, o Senador Flávio, colocou muito bem. A
prioridade política, ela tem que estar vinculada ao orçamento, a dinheiro. Os dados
colocados aqui em relação a contribuição, ela é muito clara. Quer dizer, se de 30%, de 20 e
de 10, não vai ser indicado para a Educação e sim, para a Saúde, isso demonstra que a
Educação, ainda não é prioridade, em termos de política pública. Tem algo ainda que
precisa ser vencido, acho que até melhorou, sem dúvida alguma, o Senador Cristovam
contribuiu muito para isso. Entretanto, a dicotomia entre instituições público e privada, ainda
é muito forte ainda.
E o exemplo disso é o próprio Plano aqui foi colocado. As instituições privadas pela
sua representação, deveriam ser ouvidas e têm contribuições a dar. E não há omissão por
parte das entidades, porque os documentos são produzidos. Mas o que é pior: Não há
sequer resposta. Então, não há o contraditório necessário, para que se entenda às
diferenças existentes e às proposituras necessárias em relação ao ensino, desde a
Educação Básica ao Ensino Superior.
No que diz respeito a questão, ainda, de melhorar o País na Educação, sem dúvida
alguma o que já foi colocado e, na essência é a capacitação realmente dos Professores. E
hoje, com uma grande dificuldade, ainda. Porque os alunos são diferentes do passado. Mal
ou bem, o uso da tecnologia, ela está invadindo as instituições. Ela está invadindo. Hoje a
linguagem do aluno é completamente diferente, do que era éramos há 30, há 20 anos atrás,
ou seja, e a escola continua a mesma.
A Revista Veja, na semana passada, a capa começa exatamente sobre a Educação e
dizia isso: "Se uma pessoa ficar cem anos fora do mundo e voltar para o País, não vai
reconhecer nada, mas a hora que voltar para a sala de aula vai dizer:"Aqui eu reconheço".
Entretanto, as metodologias, a forma de ensinar é completamente diferente hoje. E para
isso, precisa capacitar para quê? Para que tenha retenção do aluno.
Então, esses são as considerações. Mais uma vez parabenizo pela exposição dos
membros da Mesa e ao Senador pelas brilhante iniciativa.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Consulto, se
algum Senador quer fazer uso da palavra? Fico feliz de ver aqui o Deputado Júlio Delgado,
participando aqui de nossa sessão. Senador Mão Santa. Dr. Francisco.
SENADOR MÃO SANTA (PMDB-PI): Professor Cristovam, a satisfação de rever o
Manassés, ele é uma grata recordação. Ele é educador nato. Ele é um ano mais novo do
que eu, eu era monitor, mas ele era melhor do que eu, mais competente. E hoje ele é
Magnífico Reitor em São Paulo, Mackenzie e tudo. Mas eu queria dar uma observação ao
Professor Cristovam e chamá-lo a responsabilidade.
Professor Cristovam, eu sei que V. Exª. sabe tudo ou quase tudo. O Sócrates diz:
"Sei que nada sei", mas para dizer que sei, que sei tudo. Mas eu quero fazer uma V. Exª.,
que aqui está no Senado. V. Exª., sabe quantos Senadores tinha no Primeiro Senado? 42
brasileiros. Vamos ficar só nos brasileiros, 22 eram da Justiça. Eu olhei lá, Senador, que
aqui no gabinete do Senado, do Sarney, tem um quadro. 22 da Justiça. Então, de lá para cá,
eles só fizeram leis boas para eles mesmos. Eu pergunto: Quanto ganha um homem da
Justiça e quanto ganha um médico? Não tem nenhum médico que tenha uma
aposentadoria melhor do que eu, porque eu sou cirurgião do INPS, Federal, mas eu nem
recebo porque dá úlcera de tão pequena, você sabe.
Quer dizer 22, de 42 eram da Justiça. E desde lá, eles fazendo leis boas para eles.
10 militares, Caxias, foi Senador. Sete da igreja, está aí, o papa Bento... Depois, eles, Feijó,
sete. Dois médicos, Manassés e um da agricultura, nenhum Professor. Agora, eu olhei
assim de relance, até pedi ao Júlio que coopera com tudo, mas eu acho que já melhorou.
Não vamos ser... Como Juscelino disse: "É melhor ser otimista", em homenagem ao
Delgado, aqui que é a imagem do mineiro. É melhor ser otimista porque ele pode errar, mas
o pessimista já nasce e continua errado. Então, eu continuo otimista, porque tem mais. Mas
salvo engano, quer dizer, não tinha nenhum Professor no Primeiro Senador.
Agora, eu sei que V. Exª., vale por dez, tem o espírito do João Calmon, do nosso
Darci Ribeiro, mas esse em espírito, gente mesmo... E, não considerando que V. Exª.,
possa valer por 10, que eu acho que vale, mas vamos... Só tem o senhor, a Serys, a
Fátima, a Marisa e a Ideli. Já tem cinco Senadores. Então aí, vem a diferença. Se, para nós
dá úlcera olhar um contracheque de um médico - e eu sou, tenho 40 anos de médico, me
formei em 66, sai em 67. Federal, que não tem mais. Hoje é uma vergonha, o negócio de
médico de família, nem sabe se fica, como vai ficar a viúva, só Deus sabe, não é?
Mas repete-se. Ontem, eu estava em respeito ao Ministro da Saúde, estava lá, mas
eram bem pouquinhos Senadores, para quê? Tinha só três médicos, era bom se tivesse
mais era boquinha. Ia-se nomear um... Cristovam, parecia comício nos corredores e gente...
Eu mesmo para chegar lá cheguei atrasado. Quer dizer, os Professores, tinha dois médicos
no Primeiro Senado, os Professores nenhum. Então, aí é o resultado de tudo. Não tem leis
Professores, é a vergonha salarial. É a vergonha, vocês estão fazendo um trabalho
extraordinário, com todo o respeito, ao Calmon, ao João Calmon, ao Darcy Ribeiro, fizeram
as diretrizes básicas V. Exª., está aperfeiçoando, eu fui o Relator, mas é muito pouco.
Eu só queria dizer o seguinte. O Manassés se dedicou a Universidade, é
extraordinária. Eu estou de acordo com ele. Tem que ser bom. Nós estudamos era uma
Faculdade pobre do Ceará. Se lembra do Centro Cirúrgico lá? Depois, mas têm
Professores, o Viliberto do Porto, os Professores. Então, é o mais importante é o homem
mesmo, não é? É o homem, eu acho que tem na qualificação. Mas eu queria repetir, V. Exª.,
vai repetir mas ele não ouviu. E para o Manassés, eu fui à Alemanha quando era Prefeito da
Parnaíba e tinha um multinacional da Merck, no Piauí, Joborandi, aquele local.
Então, botaram, Professor Barzel Darom(F), mostrar a Alemanha e tudo. Olha, eu
nunca passei tão bem, viu? Ali. Porque a Merck é medicamentos, eu gosto dele. Professor
Wellington Salgado, tudo era fácil. As coisas ficavam difíceis ele dizia: "Professor, Barzel
Darom(F)". Melhor lugar no restaurante, melhor lugar na fila do teatro, era rapaz! Eu fiquei
assim, rapaz! O trânsito todo aperreado e alemão é complicado. Os outros iam na dianteira,
onde não tinha nada e ele: "Professor Barzel Darom(F)". Ochê, estacionamento. Aí nós
fomos lá para aquele do Frankfurt, que eu pensei que estava era bêbado, Manassés,
porque ele rodava, era o restaurante. Olhava aqui, tinha uma vista, tomava, quando eu
olhava era outra; que diabo! Era o restaurante, mas estava no melhor lugar, Professor
Barzel Darom(F).
Mas ele estava, o convidado da Merck, química, médico, medicamentos, quem é
médico sabe forte, Darmstadt. Aí, "Professor vem cá, o senhor não é químico, Diretor da
Merck, ´w dinheiro, é poderoso - eu o tinha visitado - e esse nesse negócio de Professor
Barzel Darom(F)?" Ele disse: "Não. Atentai bem, é o seguinte. Eu antes fui Professor em
Heidelberg, o senhor quer ir lá eu... Fiz um concurso. Dez anos depois, eu entrei na Merck,
fiz concurso e tal. Diretor químico, tinha muito poder, mas o título mais honroso na
Alemanha é o de Professor, por isso que eu uso. Mas tem uma obrigação: Não sou mais,
sou Diretor o poderoso, da Merck, mas quero lhe dizer o seguinte, para eu usar esse título
eu tenho que toda semana dar uma aula da química". E eu fui lá Manassés, lembrando dos
nossos laboratórios, que você matava sapo e cardiograma e tal.
Então, é o seguinte, é isso que está faltando. Eu não sei como os alemães, mas eu
sei que eu estudei, que eu tive Professores bons, apesar dessa pobreza, não é? Eles
tiveram duas guerras se bombardearam e ressurgiram. E eu vi em Heidelberg, que não
soltaram uma bomba em Heidelberg, porque lá que estudou o Einstein, que o mundo
respeita o saber e a Universidade. Eu acho que nós estamos precisando é leis boas e
justas, está muito atrasado desde o primeiro Congresso, está aí, como vivem nossas
Professoras.
Então, essa é a minha linha de contribuição, então V. Exª... Deus escreve certo por
linhas tortas. V. Exª., se tirou lá, ou telefone ou não sei o quê, mas mandou para cá, que
aqui é que você tem que fazer leis boas e justas, como o povo da Justiça fizeram para eles.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Depois, da fala
do Senador Mão Santa, eu devia simplesmente dizer: "Acabou a sessão", porque essa é
uma maneira boa de fechar uma reunião como essa.
Eu só quero lembrar é que não sabia quantos Senadores tinha, 42 com o Juiz, mas
eu sei é que eles eram vitalícios, eu sei é que têm muita de hoje com inveja do tempo deles.
Mas eu quero concluir com o que falou o Professor José Roberto Cuvac. A idéia de que hoje
as escolas continuam tão parecidas com as de antes e, ao redor tudo mudou. Você lembra
como era a venda, a barraca como chama no Nordeste onde você comprova quando a
gente era menino? E um Shopping de hoje? Um banco daquela época e o banco de hoje?
Um consultório médico daquela época e o consultório médico de hoje, sobretudo em
algumas áreas? Tudo mudou radicalmente e a escola no Brasil mudou muito pouco.
Essa é uma das causas do nosso atraso, nós não nos sintonizamos com a realidade
dos tempos de hoje do ponto de vista dos recursos técnicos. Salvo para alguns. Algumas
escolas já estão hoje no Brasil, no mesmo nível daquelas do século 21. Além disso, no caso
do Brasil, tudo que é para as massas a gente abandona. Tudo que é a elite a gente cuida
bem. E a educação das massas ficou abandonada. É uma pena que a deseducação não
pegue como doença pega, porque se analfabetismo pegasse já tínhamos alfabetizado todo
mundo, para evitar que os que aprenderam a ler ficassem analfabetos de novo.
Como analfabetismo e fome não pegam, ficam abandonados. O pior é que a gente
não pega aparentemente, mas na realidade uma pessoa alfabetizada, que vive com uma
pessoa analfabeta o nível dela baixa ao nível do analfabeto. Um povo onde só uma elite é
intelectualizada e a massa não é, baixa, puxa para baixo. Primeiro, porque as exigências
diminuem. Não há concorrência. E segundo, porque você tem que se ajudar à deseducação
para ser entendido. E aí é que eu volto a insistir para terminar a sessão. Fundamental, do
nosso problema não dá na Universidade, está na Educação de Base.
O Professor Manassés, lembrou, que nós estamos em 16º lugar em produção
científica e tecnológica, 16º no mundo. É pouco, não é? É. Mas nós estamos em 60ª ou 70º,
na Educação de Base. Além disso, não vai haver uma boa Universidade, enquanto a
Educação de Base não for boa. A gente fala, tanto contra cotas por aí, mas o Brasil é um
País de cotas. Só um terço da população no Brasil, pode disputar uma vaga na
Universidade, porque terminou o Ensino Médio. Na verdade desse um terço, só 18% tem a
condição de disputar uma vaga na Universidade.
O nosso problema não é aumentar o número de vagas na Universidade, é aumentar
o número de jovens que terminam o Ensino Médio.
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [pronunciamento fora do microfone] Exatamente.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Claro, que
precisa aumentar também o número de vagas, mas isso é um passo que pode esperar um
pouquinho mais, se for preciso. Se puder fazer tudo junto, ótimo. E aliás é preciso, porque
sem uma Universidade, não há uma boa Educação de base, desde que a Universidade se
oriente em parte, não totalmente obviamente, para a Educação de Base. E hoje não está
fazendo isso. Hoje as licenciaturas, não são a parte mais importante das Universidades. E
aí, as Universidades particulares têm dito um papel maior na formação de licenciados, do
que as Universidades estatais.
As Universidades estatais, formam menos Professores para o Ensino Médio do que
as Universidades particulares.
SENADOR MÃO SANTA (PMDB-PI): Professor o senhor permite um aparte?
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Claro, Professor.
SENADOR MÃO SANTA (PMDB-PI): O Manassés ele é Cientista, ele é acima de
todos nós, ele é perto do Einstein. Eu fiquei mais no nível comum.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): De Senador.
SENADOR MÃO SANTA (PMDB-PI): Mas eu sou um cirurgião e fui, por isso
melhorou muito o ensino, por isso você vê a Ciência Médica do Brasil, o avançar. Mas eu
queria dizer que teve um fato de residência médica, que eu reconheço, qualquer coisa. Por
que não tem assim, uma residência docência? Porque eu acho que foi tão importante na
minha vida. E eu quase não ia. Eu quase ia ficar Manassés, ia ficar ganhando um
dinheirinho em Fortaleza. O bico era bom, tinha bico, a mulher do Governador era prima do
Virgílio. Aí, aquele Antero Coelho disse: "Moraes, naquele tempo era... O que é que tu...?
"Eu digo, estou com vontade de ficar aqui, de ficar como assistente na Faculdade". Eu tinha
um DKV, muita cearense bonita, estava disposto a ficar, o bico é bom. Aí, ele disse: "Vá se
embora, você nunca vá". O Antero Coelho, que foi o criador da UNIFOR, um conselho: "Vá
fazer o seu pós-graduado, mestrado". Então, aquilo mudou.
Eu convivi com Christian Barnard, eu acho que devia V. Exª., pensava nisso numa
docência residência, esses Professores conviver nos grandes centros educacionais, como
nós fizemos residência médica.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Senador, Mão
Santa, há um projeto do Senador Marco Maciel nesse sentido, exatamente. Pernambuco e
Piauí, estão se ligando aí. Agora, eu não posso perder a chance, Senador Mão Santa, o
senhor é muito gênero nos elogios. Mas aqui para nós, ninguém merece mais elogio que
um cirurgião, cujo nome é Mão Santa. O seu currículo devia ser só: Médico Mão Santa. Não
precisa mais nada. Esse nome não veio à toa. É fruto, obviamente, de seu trabalho como
médico cirurgião.
Senador Flávio Arns.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Sr. Presidente, antes do senhor terminar essa
Audiência Pública, que foi tão boa, tão interessante, como já foi enfatizada. E nós teremos
outra daqui há duas semanas, vários aspectos foram levantados até para dar este sentido
de urgência, a que o Doutor Defourny se referiu, que nós tivéssemos posicionamentos já
encaminhados pela Comissão de Educação para os Ministérios, particularmente para o
Ministério da Educação, em relação a pontos levantados nessa Audiência Pública.
Por exemplo, coisas que até o Senador Wellington Salgado estava com a lista, que
nós tenhamos essas informações e as providências que estão sendo tomadas. Por
exemplo, escolas sem energia elétrica, quer dizer: Quantas são? Aonde que estão? O que
está sendo feito?
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): São 22 mil.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): E o que está sendo feito?
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): O Programa de
Desenvolvimento da Educação, do Presidente, colocou que vai resolver esse assunto. Eu
acho que essa uma tema mostra tanta pobreza, que isso o Presidente deveria ter sido feito
discretamente. O Presidente deveria ascender as luzes aos pouquinhos, porque quando
descobrir que foi no século 21, que se colocou luz e, que isso é um item do Programa de
Desenvolvimento de Educação do século 21, eu acho que faz é vergonha para a gente.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): Não, mas eu acho que até reconhecermos essa
vergonha--
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): É verdade.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): É o primeiro passo para acharmos essa
solução. Agora, foi colocado também em relação ao ProUni, por exemplo, até o dado
levantado pelo Senador Wellington, quantos que permaneceram? Ou que está sendo feito
para as regras serem alteradas? Ou o que está sendo feito em termos de alunos
permanecerem na Instituição de Ensino Superior?
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] As vagas que sobram e que nós não
podemos aproveitar a gente que está numa outra faixa. Por exemplo, entre quatro e nove
salários mínimos, são pobres.
SENADOR FLÁVIO ARNS (PT-PR): São pobres. Hoje em dia, quem recebe quatro
mil reais, cinco mil reais que é um bom salário no Brasil, muito bom, não tem condições de
manter um filho numa Instituição de Ensino Superior Privado.
Então, o que eu quero dizer, que surgiram assim muitas indicações de problemas,
que se solucionados ou encaminhados, podem também ir melhorando esta máquina. Que
tem que ir, o carro tem que ir andando como foi dito pela figura e, a roda tem que ir sendo
trocada ao mesmo tempo. A mesma coisa em termos de financiamento. Quer dizer, como é
o que Governo Federal está pensando em termos das contribuições para que Estados e
Municípios, tenham mais recursos para fazer uma Educação de melhor qualidade, a partir
do recebimento de parte desse bolo das contribuições.
Eu só queria dizer, Sr. Presidente, que eu acho que nós vamos ter o livro ao final, o
material ao final, mas que a gente organize esses problemas que foram identificados,
encaminhe-os para os órgãos próprios e que encaminhemos como Comissão Educação,
uma resposta e uma solução, principalmente urgente, para essas coisas que foram
levantadas. Eu acho que aí a gente vai trabalhando e, vai vendo o sentido concreto prático
e aí mobilizando a sociedade também para dizer: Olha, vamos ser se essa coisa está certa
e está boa". Porque é importante que aconteça.
Mas só um comentário, assim em termos de encaminhamento, porque foi muito bom
hoje e as outras certamente vão ser boas, também. Mas talvez informações de hoje, sejam
repetidas nas outras e aí, nós já vamos ter feito o encaminhamento para saber o que está
sendo feito? O que deve ser feito? FGTS, por exemplo.
O próprio Ministro Valfrido dos Mares Guia, que foi Secretário de Educação de Minas
Gerais, é uma pessoa competente, capaz, ele tem uma idéia, que nós nos sentamos
naquela época, em termos de uma carteira educacional. Quer dizer é o recurso do FGTS,
que é impossível de ser utilizado, difícil, pelo menos, como o Senador Wellington colocou,
mas que se for pensado de uma outra maneira, vamos dizer, acha-se uma solução, não é
verdade?
Então, só como sugestão, Sr. Presidente, para nós chegarmos ao final e dizermos,
colocarmos, sistematizarmos e já termos mandado os documentos, esperado às respostas
e feito o acompanhamento.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Muito bem. Eu
aceito a sugestão. E quero dizer o que senhor que é um relatores desse trabalho final, nós
temos a equipe a sua disposição aqui, para o Júlio dar as respostas a tudo que for preciso.
Mas mais uma vez tudo dá gancho para gente mostrar que o problema está na
Educação de Base. Veja bem, a adimplência nas Universidades particulares. Eu tenho
certeza que deve ser muito raro, Professor Manassés, um filho de um doutor, ficar
inadimplente. É muito raro o filho de alguém que teve uma formação, não poder pagar a
Faculdade de seu filho. O problema está em que os pais não foram educados. Agora, eles
estão aí, a solução é o ProUni. E a solução essa sua, também, as vagas não derem para os
que tem menos de três salários mínimos, acrescentar aos que chegam até dez. Eu acho
que se até dez não der, até 15, até vinte. A gente não pode é deixar de aproveitar essas
vagas que estão ociosas, mas tudo isso são pequenas aspirinas, não resolvem o problema.
A mesma coisa os jornais. Eu tenho falado com donos de jornais, eles estão brigando
uns com os outros para ver quem tem mais leitor. Um dá jornal de graça já tem, outro dá
CD, outro dá enciclopédia. Eles multiplicariam por seis o número de leitores, se todo mundo
terminasse o Ensino Médio com qualidade. Porque três vezes é o número de todos
terminando. Multiplique por dois, se for com qualidade, seis vezes, mas eles não se unem
para erradicar o analfabetismo e melhorar a Educação da Base.
Eu também, não vejo, os proprietários, os responsáveis pelas Universidades
particulares, em nome até das próprias instituições fazer uma campanha radical. Se todos
os meninos terminarem o Ensino Médio, meninos e meninas terminaram o Ensino Médio,
vocês inclusive gastariam menos dinheiro no corpo docente de vocês, porque eles já
chegariam prontos para estudar. Hoje vocês têm que fazer recuperação.
Eu ouvi num desses dias, que o Seminário Maior dos Franciscanos - vou até
confirmar - que não tinha Seminário Menor, desde há muitos anos como tinha no meu
tempo, agora, vão colocar o Seminário Menor, outra vez. Porque os alunos que vêm para o
Seminário Maior, não chegam com condições de acompanhar os estudos. E como hoje,
quem procura a Igreja em geral é a população mais pobres, eles vêm de escola pública sem
qualidade. Eles vão ter que formar os alunos que vão entrar no Seminário, como era há 50
anos atrás.
Então, o problema todo está na Educação de Base. Não basta. Sem grandes Centros
de Ciência e Tecnologia, esse País não dá salto. Por isso eu digo, boas Universidades, mas
o problema chave fundamental para romper essas amarras, é todo mundo terminar a
Educação de Base com qualidade e a mesma qualidade em todas as escolas. Professor
Wellington.
SENADOR WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB-MG): Senador
Cristovam, eu queria fazer uma colocação, já que nós estamos falando de experiência em
situações de Ensino. Mas têm uma... Claro, que chegar ao Senado Federal é uma honra é
um grande momento na minha vida, mas eu já tive um grande momento na minha que eu
não esqueci e eu lembrei, agora aqui, nesse debate.
Quando eu tive oportunidade de minha mãe começar com um Jardim de Infância e ir
galgando, galgando até chegar a uma Universidade, hoje, a nível nacional. E minha mãe me
colocou para trabalhar muito cedo, como Diretor Financeiro, lá com 16 anos, carimbei
caderneta tudo, trabalhando com ela. E chega um momento que você tem um pai à sua
frente, querendo que o filho estude e não ter o dinheiro para pagar. Isso é uma coisa
incrível. E eu tenho na minha cabeça guardado, um pai que tinha filhos gêmeos, dois filhos.
E ele chegava no final do ano ele devendo tudo. E ele pegava, para ir resolver o problema,
ele tomava uma cachacinha para poder chegar lá, sentar na minha frente e poder
renegociar, que acabava não renegociando.
Então, ele chegou. Eu cheguei a falar o seguinte: "Olha, o senhor quer saber de uma
coisa? Seus filhos estão isentos até - a gente já tinha a Faculdade - até a Faculdade. O
senhor não vai mais pagar, tem condições aqui de colocar, seus filhos vão terminar o
segundo grau e vão entrar na Faculdade os dois". E tomei aquela decisão e botei lá no
computador e tal. E esqueci aquilo, fiz aquilo e acabou.
E qual não foi minha surpresa, quando você recebi o convite de formatura e aquele
pai estava lá, eu já fico até arrepiado, porque é algo que você pratica uma boa ação e
esquece, mas aquele que recebeu não esquece. Ele mandou o convite, eu fui à formatura e
você olhar; só aquele olhar já valeu a pena. É o que eu digo, quando eu digo aqui, o próprio
João Roberto Alves, que a gente conhecia como JR Alves--
ORADOR NÃO IDENTIFICADO: [inaudível] Deve ter tomado uma cachacinha eu
mantinha--
SENADOR WELLINGTON SALGADO DE OLIVEIRA (PMDB-MG): Mas eu digo que
esses momentos, a gente na escola privada mesmo, esse momento dá aquele prazer de ter
ajudado alguém, naquela confusão financeira que muitas vezes é, a verdade é essa, para
você sobreviver e ajeitar e aquele momento ali é maravilhoso.
Quer dizer, o Governo tem vários momentos iguais a esse, porque ele dá Educação
gratuita. Então, se ele trabalhar bem, ele vai ter um pai orgulhoso daquele Governo, que
deu aquela oportunidade pra ele e que é o objetivo dele. Aqui foi colocado que nós temos,
que não estar preocupado com a barriga e, sim, com a Educação, eu concordo, mas quem
não está alimentado não consegue estudar. Não consegue V. Exª., sabe disso. E V. Exª.,
está sempre lutando, para que tenha o horário integral, para que o aluno estude de manhã,
encha a barriguinha e depois, pratique o esporte, faça uma outra atividade e vá para casa. A
comida na barriga é importante, sim, é importante. Se ele não conseguir ter energia para
andar, para chegar lá, ele não vai aprender nunca.
Eu acho que nesse ponto, o Presidente Lula, fez um trabalho. Pegou renda distribuiu,
botou a comidinha na barriga. Agora, ele tem que fazer a segunda parte. Eu espero
que cobre do Ministro isso e está cobrando, porque é o Ministério, hoje, que tem mais
moral no Ministério. Sem dúvida, o Ministro Fernando Haddad, é o que tem mais moral no
Ministério, goza do carinho do Presidente, eu já vi isso, pessoalmente. Agora, ele tem que
mostrar trabalho, vai ter que mostrar, porque o Presidente sabe cobrar. Com aquele jeitinho
dele, quando está de porta fechada, ele soca a mesa e fala até algumas palavras que não
podemos falar aqui.
Então, vamos aguardar isso do Ministro, que ele possa acompanhar o Presidente.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu só quero
aproveitar, Senador Wellington e dar uma sugestão, para o senhor ficar mais alegre, ainda.
Por que não baixa uma norma na Faculdade, que eu conheço da sua mãe, que é uma
grande figura e não diz: "Irmão gêmeo, só um paga". Faça para todos. Ah, já tem.
Eu passo a palavra ao Senador Crivella.
SENADOR MARCELO CRIVELLA (PRB-RJ): Sr. Presidente, eu quero lamentar,
profundamente, ter estado ocupado em outras Comissões e não ter podido, me embevedar
do conhecimento desses ilustres convidados que V. Exª., trouxe hoje a nossa Comissão. O
assunto é da maior relevância do nosso País.
Eu tenho uma experiência particular, que foram os dois anos que morei lá em Irecê,
na Bahia, com uma pré-escola para crianças muito pobres. E vi a diferença, quando elas
tiveram alimentação e acesso à Educação, da mesma maneira como V. Exª., eu estou
convencido de que esse é o objetivo que temos de perseguir todo o tempo.
Infelizmente, nós temos tantas Comissões aqui no Senado e tantas obrigações, que
nós não podemos estar em todas, mas não poderia deixar de saudar e parabenizar e dizer
a V. Exª., que estamos no rumo. Temos uma série de audiências públicas, vamos acumular
conhecimentos e, com certeza ao final, numa sessão solene, no Plenário do Senado
Federal, com a presença dos Ministros, entregaremos pelas mãos de V. Exª., o trabalho
dessa Comissão para o aperfeiçoamento do ensino em nosso País.
Presidente, mais uma vez parabéns. E muito obrigado pelos senhores terem vindo e
desculpe não ter podido estar aqui desde o princípio.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Obrigado,
Senador. Eu quero quebrar o Regimento e passar a palavra aos dois visitantes que estão
aqui, o Deputado Delgado e à Senadora. Os dois querem usar a palavra? Se quiser fazer
algum comentário, Senadora Emília.
SRA. EMÍLIA FERNANDES: Eu até fico profundamente lisonjeada e agradecida,
porque estar aqui no Senado Federal, além do nosso mandato que tivemos, estar
particularmente nessa Comissão, Sr. Presidente, o nosso grande Ministro e Senador
Cristovam, principalmente educador desse País e do mundo. Voltar a esta Comissão, onde
nós nos integramos durante oito anos de mandato e fui vice-Presidente, inclusive, mas
retomar sempre e constantemente o tema Educação, que é a minha vida.
Eu estive Senadora, sou Professora durante toda a minha vida e até hoje, embora já
esteja aposentada, mas Educação se faz a todo momento, é para nós um compromisso de
vida. E estamos aqui, para ouvir as ilustres pessoas que aqui participaram, os Senadores, a
cobrança de que esta Casa Legislativa, que representa o Brasil nos seus diferentes
Estados, deve olhar com um olhar atento para confecção, para o aperfeiçoamento da
Educação neste País. Se isto já tivesse sido feito com mais determinação, se a vontade
política muitas vezes presta, Srs.Senadores, nos debates, nas campanhas eleitorais, nos
programas partidários, tivesse tornado realidade, eu tenho certeza que nós, a categoria dos
Professores teríamos a nossa auto-estima, muito mais elevada.
O respeito, o valor, às condições econômicas que nós precisamos para sobreviver,
chegar numa sala de aula e enfrentar nossas crianças e os nossos jovens, dizendo que
Educação vale a pena e que um País, somente dará a volta por cima no seu
desenvolvimento econômico, buscando a Justiça Social, se olhar com respeito para nossas
crianças, para os nossos jovens e com a valorização aos profissionais trabalhadores na
Educação, nós teríamos um outro País, um outro momento. Então, para mim é um
momento sempre de emoção.
Eu estou aqui como uma cidadã, como uma Professora, como uma mulher que
acredita realmente, que pela Educação nós faremos a transformação para este País, que
nós defendemos e que queremos com Justiça Social e igualdade.
Muito obrigada, Presidente Cristovam, porque V. Exª., sempre como democrata que
é, concede a uma humilde ex-Senadora, ex-Vereadora, porque tive doze anos de Vereança,
portanto, conheço a realidade local dos Municípios deste País que clamam por maior
igualdade, Justiça, distribuição, não apenas de responsabilidade, mas também de recursos,
para que a gente possa fazer essa grande jornada pela Educação.
Eu diria ao ilustre representante da UNESCO, que tem realmente conseguido
demonstrar para o Brasil, a importância da luta pela criança no projeto que faz da Criança
Esperança, junto com a grande rede de televisão, que nós deveríamos, Sr. Presidente,
primeiro chamar urgentemente os meios de comunicação, para esta grande campanha de
união nacional, de unidade nacional, pela Educação. E a UNESCO tem e pode fazer muito
forte e muito qualificado esse trabalho.
Que aqui, também, se pudesse cada vez mais dizer para o Brasil, que a Comissão de
Educação do Senado, com um homem ilustre como é, um gênio, é um homem, um
pensador, mas é um homem que tem a alma e a sensibilidade do povo e das massas nesse
País, pode e vai fazer e vai ajudar nessa transformação. Então, com todo o sentimento e a
minha simplicidade, os agradecimentos e o meu orgulho, de que esta Comissão de
Educação chama o Brasil e o mundo, para fazer o que a Educação já poderia ter feito a
mais de 50 anos nesse Brasil. Muito obrigada.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Muito obrigada,
Senadora. Eu quero lembrar, que a senhora durante todo o seu mandato fez parte dessa
Comissão.
Deputado Júlio Delgado.
DEPUTADO JÚLIO DELGADO (PSB-MG): Que o furo regimental seja bastante
breve, por condescendência de V. Exª., Senador e Presidente Cristovam. Só fazer uma
saudação a todos ilustres Senadores.
Eu em todo o período que exercício o mandato também Parlamentar na Câmara dos
Deputados, apesar da minha formação ser na área do Direito e fazer parte da Comissão de
Constituição e Justiça, sempre tive o interesse e me indicando para que pudesse estar na
Comissão de Educação, daquela Casa. Mas saudando e dizendo que nas caminhadas de V.
Exª., na campanha presidencial, tivemos oportunidade de estar com o senhor em Juiz de
Fora, nossa terra natal e discutimos essa questão paradoxal que é no Brasil que, muitas
vezes nossas demandas como Parlamentares, Deputados ou Senadores, as nossas
solicitações que temos, são justamente de quem tratar da laje. E o próprio ensinamento de
Engenharia, diz que a gente tem que começar - e foi o senhor quem me ensinou isso -
trabalhando na base, invés de construir a laje.
As nossas grandes demandas e o que é paradoxal é o Ensino Superior, enquanto o
nosso grande problema para ter esse acesso deveria ser a base e o alicerce, que é o início
de qualquer construção, principalmente educacional. E desses grandes problemas eu hoje,
estou com duas demandas grandes. Já levei ao conhecimento do atual Ministro, do hoje
colega Parlamentar, ex-Ministro Paulo Renato e de V. Exª., sobre a questão do Ensino
Público, paradoxal, que é que todas as nossas Universidades Públicas no Brasil, que nós
defendemos têm os carros estacionados nos estacionamentos, porque todos aqueles que
estão na Universidade gratuita, teriam condição de pagar, isso que o senhor sugeriu...
E aqueles que tem que fazer um esforço e um grande sacrifício para pode estudar,
têm que trabalhar de dia e pagar para estudar à noite, que não é dado o acesso aqueles
que mais necessitam. Isso é que é paradoxal. E quando concluem, entraram em sistemas,
que eu espero que dessa forma seja feita pela proposta que foi apresentada pelo Ministro
Haddad, quando do lançamento do Programa de Educação, de estudantes que tiveram que
entrar nessas Faculdades - só em Juiz de Fora, hoje, nós temos mais de mil - muitos deles
ingressaram no FIES e, hoje devem mais do que deveriam ser custeado para poder ter um
Curso Superior. E saem do Sistema Educacional do Governo, do Ministério de Educação,
de algum comprometimento e passam a ser devedores do sistema financeiro, que são as
instituições bancárias.
Isso que é paradoxal não dá para admitir. E eu recebo hoje demanda de pessoas que
estão devendo 35, 40, mil reais por terem feito um curso. E outro dia, eu recebi uma
menina, que me foi levando uma lista, Senador Flávio Arns, que a sua família falou assim:
"Eu tenho como avalista do meu Curso Superior, o meu sogro. Eu perco o marido, se eu
não consegui pagar". Eu falei assim pra ela: "Como é nós vamos fazer? Nós temos que
tentar resolver". Mas isso é a laje, nós temos que cuidar desse alicerce e essa preocupação
V. Exª., sempre manifestou.
E a minha presença aqui e, em tantas outras da programação que foram
apresentadas para audiência do Senado, me terá presente por lutar, justamente, por essa
Educação de Base fundamental, que é defendida por muitos dos que aqui hoje expuseram,
que eu tive condição de acompanhar e na colocação dos nobres Senadores. Muito
obrigado, pela oportunidade.
SR. PRESIDENTE SENADOR CRISTOVAM BUARQUE (PDT-DF): Eu agradeço ao
Deputado. Eu quero dizer que a base está na Educação da Base, mas a gente tem que se
preocupar, eu estou de acordo, com todos esses jovens, que conseguem entrar na
Faculdade e não conseguem concluir.
É muito duro um jovem não passar no vestibular e, ainda mais, entrar e por falta de
dinheiro ter que trancar a matrícula. Hoje há jovens se prostituindo para pagar as
Faculdades e não são poucos. E há taxistas, eu cito taxistas, porque é uma categoria com a
qual eu convivo usando, que estão morrendo de trabalhar para poder pagar a Faculdade
dos filhos, morrendo de tanto trabalhar. Então, o ProUni, nesse sentido é um grande projeto,
não há dúvida nenhuma. Talvez, precise até ser completado com uma pequena bolsa, para
pagar o transporte, para pagar a alimentação.
Eu quero agradecer presença de todos, dizer que essa é a primeira audiência de
uma ciclo muito longo. E que ao final, a gente espera ter dado uma contribuição do Senado
e ao Brasil, por meio obviamente do Governo. E eu quero dizer aqui que isso está dentro do
espírito do Presidente Renan Calheiros, quando na campanha, ele disse que queria fazer
uma agenda do Senado para o Brasil e, não ter o Senado dependendo da agenda que vem
do Poder Executivo.
Muito obrigado a cada um e a cada uma e está encerrada essa sessão.
Sessão encerrada às 13h31.

Você também pode gostar