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Nota: A insanidade das plenárias presenciais e a responsabilidade do Diretório Nacional

Um fantasma real se apossa do PSOL, o fantasma do burocratismo. Quase todas as


forças do Diretório Nacional, em conluio, se unem numa (anti)Sanitária Aliança para conjurar
as bases: o lulismo e o peleguismo; o burocratismo e os que têm medo da luta e das bases
populares. É chegada a hora que todos possam saber quem realmente eles são: burocratas que
ignoram a vida – e idolatram suas práticas golpistas; iluminados, enquanto as bases são todas
ignaras. O que o DN fez tem nome; a proposta de votação exclusivamente presencial é um
completo absurdo. Em sã consciência, quem decide, no turbilhão da Pandemia, fazer processo
de escolha de candidato do Partido Socialismo e Liberdade completamente presencial? A saúde
pública não conta? Processo manchado vale mais que a vida de qualquer militante e de seus
familiares? Como vivem essas pessoas que desconsideram as vidas ao alegarem que assim foi
decidido para que não aconteça “exclusão digital”? Que pesquisa fizeram para saber quem e
quantos seriam, de fato, excluídos digitalmente? Por outro lado, em que momento qualquer
grupo propôs plenárias exclusivamente virtuais? Será que dormem tranquilos aqueles que,
mesmo dizendo-se contra seus desejos, votaram nessa proposta, trocando seis por meia dúzia
ao rifar a proposta de plenárias mistas por uma semana a mais de prazo? Claro que estes, depois
de aprovado, propuseram uma emenda ao texto original. Veremos, porém, o engodo que isso
representa, ainda que pareça razoavelmente pertinente a tentativa.
O Diretório Nacional do PSOL na semana passada aprovou uma resolução1 de como
deveriam ocorrer as plenárias municipais para escolha dos candidatos ao pleito eleitoral nos
respectivos municípios. A proposta diz, claramente, um não à possibilidade de realização de
modo virtual. Ademais, dizem na proposta votada no Diretório Nacional que uma semana antes
da data os diretórios podem suspender a votação por “condições sanitárias”:
Uma semana antes das prévias os Diretórios Municipais devem definir se
há condições sanitárias garantidas para a realização de prévias. [...]. Caso
não seja possível a realização das prévias devido às condições sanitárias, o
respectivo Diretório Municipal deverá definir a pré-candidatura que
representará o PSOL na eleição municipal.

O burocratismo que tem por nome a estação na qual as plantas florescem, mata qualquer
possibilidade de florescimento de um novo PSOL, construído pelas bases, pelos militantes

1
Disponível no site do PSOL: https://psol50.org.br/psol-define-regras-para-realizacao-de-previas-eleitorais-nos-
municipios/.
diversos espalhados pelo Brasil, que não são simples correia de transmissão de aparatos
parlamentares, tampouco massa de manobra.
Como forma e método de se colocarem outros horizontes, setoriais, núcleos e grupos
organizados pautaram a necessidade da consideração das aspirações sociais a partir das bases
do Partido: aqueles que militam nos bairros, nos setores, nos núcleos e etc., que dão o sangue
pelo socialismo – não por corrente A ou B; tampouco por burocracia ruim ou menos pior. Nesse
cenário, há quase um ano grupos viram na figura de Sâmia Bomfim uma possibilidade de outro
PSOL: autônomo e independente, à esquerda do espectro político atual, feito por todos seus
militantes em paridade: parlamentares, assessores e cidadãos sem cargos e desconhecidos, dos
bairros, núcleos e etc., tendo o mesmo peso, considerados pela mesma medida. Mas não
qualquer Sâmia, tampouco que chegasse lá de qualquer forma, por quaisquer métodos.
Trabalhar com as bases populares é difícil. Exige paciência e compreensão quase sem limites,
pelas diversidades e disparidades de tempos de processamentos de cada um, por suas muitas
diferenças específicas. Mas é uma aposta. E, nela, linhas táticas e estratégicas específicas, bem
fundadas, transparentes e inalienáveis.
Nesse sentido, não nos interessa Sâmia como pessoa: antes, é como Ideia, como
propostas de novos ares e rumos para o PSOL, contra a burocratização descabida do partido,
que desconsidera as bases e faz tudo planando sobre nossas cabeças; uma Ideia de renovação,
de um partido com democracia interna radical, sem se fiar somente em figurões parlamentares
e seus aparatos-currais. Nesse instante, em que escolhem “reinar” num voo panorâmico como
Águia, perdem sua real imagem: pousam no topo dos postes de luz como se fossem picos de
montanha e esperam o anoitecer da carne já fria e putrefata para dar o bote.
O lado de lá, os que querem reviver o morto lulismo no PSOL, não passam de canalhas
retrógrados: tanto querem plenárias somente presenciais – em momento super especial de
Pandemia no Brasil em escala ascendente de casos e mortos por COVID – quanto se vitimizam,
gritando que é “elitismo” querer plenárias virtuais. Duas coisas devem ser ditas: como já
mencionado, ninguém propôs plenárias partidárias somente virtuais, a proposta foi de plenárias
mistas – presenciais e virtuais, de livre escolha de cada filiado pelo modo como deseja votar
(garantindo voto e, sobretudo, segurança para a vida como um todo); além disso, quem, em sã
consciência, resolve fazer com que todos os filiados que têm a intenção de participar ativamente
da vida partidária tenham que se deslocar de suas casas para algum canto da cidade, entupindo
um local de votação? Seria menos absurdo se fosse ficção. Todos que votaram por essa proposta
– importa lembrar que não foi somente o campo de lá, composto por Primavera-MTST – dizem
que serão respeitadas condições sanitárias e que o partido garantirá segurança para todos.
Entretanto, por um lado, a burocracia do partido funciona porcamente – é fato conhecido e
notório; não foi dito como se garantirá segurança sanitária. Por outro, levam em conta que as
pessoas precisam se deslocar, às vezes quilômetros na maior cidade do país, para algum lugar
de votação; levam em conta as vidas de quem convive com essas pessoas?; consideram grupos
de risco?; etc.?
Ora, o Brasil está em ascendência nos casos de COVID, que mais eles querem? O nome
disso, claramente: golpe, já que, suspendidas as plenárias, os diretórios definiriam por si. Como
a maioria do Diretório Municipal de SP é composta pela corrente que carrega nas costas o
“Boulula”, já sabemos, de antemão, a decisão. Diz a Proposta de regulamentação das prévias
(grifos nossos):
- A realização de prévias por meio de votação individual em urna, uma vez
que esse é o procedimento com maior nível de confiança e possível de ser
realizado num contexto de pandemia.
- Excluímos método de consulta virtual do processo de prévias, pois, além
de não garantir os princípios de confidencialidade e confiabilidade, apresenta
grande desigualdade de acesso.

Por sua vez, jogando no campo do outro, assumem-se as regras do outro. O MES votou
junto na proposta inicial da Primavera, na expectativa de poder votar uma emenda para que se
incluísse a proposta mista inicial. Porém, duas coisas: primeiro, não houve nenhuma consulta à
base que, em quase um ano, está construindo junto a ideia “Sâmia Prefeita”; segundo, não cabe
a emenda, pois isso acarretaria outro texto de proposta, coisa que seria inviável de antemão.
Nisso, somente um resultado é concreto: desconfiança e confusão.
Para qualquer socialista digno desse nome, essa proposta é o mais completo absurdo.
Quem votou nessa proposta que se responsabilize até o fim. Além disso, que se responsabilize
pela contradição entre suas aparições públicas e suas decisões internas ao Partido: na esfera
pública virtual, todos os dias vociferam pela calamidade sanitária e humana que ocorre no
Brasil, já que presidente, governadores e prefeitos ignoram as vidas humanas, especialmente
dos mais pobres; internamente, votam uma proposta de escolha, em um único final de semana,
completamente presencial. A conta não bate e a hipocrisia sobe ao céu estrelado dos figurões
populistas e demagogos. Cassam os direitos políticos dos filiados.
Por tudo isso, para nós, a vida deve ser digna de ser vivida. Quem desconsidera tal fato,
está passos mais próximo do que há de deplorável na sociabilidade capitalista. A atual
Primavera tem cara de inverno siberiano. Uma renovação pelas bases é não somente a tentativa
de um processo diferente, é essencial para a vida de um Partido que leva Socialismo no nome.
Assinam:

Vinicius Xavier - Núcleo Brás (PSOL)


Renan Siqueira - Núcleo Brás (PSOL)
Bárbara Simonetti - Núcleo Augusta (PSOL)
Roberto Canado Jr - Núcleo Brás (PSOL)
Maycon Prates - Núcleo Brás (PSOL)
Lázaro da Silva Neto - Núcleo Brás (PSOL)
Durvalina Soares - Núcleo Brás (PSOL)
Fabio Luis Rossini - Núcleo Brás (PSOL)
Arilton Soares - Núcleo Brás (PSOL)
Pedro Luiz Caranicolov (Pedro Chapéu) - Núcleo Brás (PSOL)
Junia Carvalho - Núcleo Augusta (PSOL)
Bruna Carvalho - Núcleo Augusta (PSOL)
Maria Renata Morales - Núcleo Augusta (PSOL)
Fernanda Lamesa - Núcleo Augusta (PSOL)
Rachel Taveira - Núcleo Brás (PSOL)
Jairo Mazini - Núcleo Brás (PSOL)
Noemi Rossini - Núcleo Bras (PSOL)
Lucas de Sá - Núcleo Brás (PSOL)
Danilo Bifone - Núcleo Brás (PSOL)
Márcia Nestardo - Núcleo Brás (PSOL)
Patrícia Soares - Núcleo Brás (PSOL)
Luciana Harumi - Núcleo Brás (PSOL)
Gabriel Nestardo – Núcleo Brás (PSOL)
Ana Cláudia Narcizo (PSOL)
Sarah Elisa Nestardo (PSOL)
Rodolfo Antonio - Núcleo Brás (PSOL)
Gabriel Rocha - Núcleo Brás (PSOL)
Maria Orjales - Núcleo Augusta (PSOL)
Mariana Couto - Núcleo Augusta (PSOL)
Ana Paula Coelho - Núcleo Augusta (PSOL)
Natasha Pó - Núcleo Brás (PSOL)
Faud Salomão - Núcleo Brás (PSOL)
Felipe Torres - Núcleo Brás (PSOL)
Juliana Magalhães - Núcleo Brás (PSOL)
Priscila Marques - Núcleo Brás (PSOL)
Rafael Maragni - Núcleo Augusta (PSOL)
Victor de Brito - Núcleo Augusta (PSOL)
Breno Deffanti - Núcleo Augusta (PSOL)

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