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O Centrão é a meretriz da Nova República

A vitória esmagadora de Arthur Lira nas eleições para presidente da Câmara dos
Deputados jogou água na cerveja de Rodrigo Maia e frustrou seus planos de aglutinar
setores da direita liberal para o exercício de uma oposição acomodada ao Governo
Bolsonaro.
Os 302 votos recebidos pelo candidato do planalto mostraram que o Centrão está no
jogo e, como sempre, veio para ganhar. Maia denunciou que a conta chegará a 20
bilhões de reais. É 1 colosso! Esta eleição no Congresso Nacional foi mais uma
demonstração cabal do fisiologismo político que estrutura o sistema político e constitui
as bases que fundaram a Nova República.
O surgimento do bloco parlamentar ocorreu durante a Assembleia Nacional
Constituinte (ANC), em 1987. À época, os militares eram considerados a “direita”,
então esse bloco se autodenominou “Centrão” na tentativa de marcar uma diferença
política que, na prática, não existia.
Durante os trabalhos da ANC, os progressistas utilizaram suas trincheiras políticas nas
relatorias e na Comissão de Sistematização para avançar com agendas que
contrariavam os interesses da maioria conservadora do plenário.
Naquele contexto que anunciava uma constituição progressista e detalhada, o
Centrão, formado por parlamentares pertencentes aos partidos estreitamente ligados
aos militares, se rebelou e propôs a mudança no regimento interno. As disputas
passaram a ser definidas em votação no plenário e não mais pela Comissão de
Sistematização. A manobra permitiu o giro da chave ideológica da ANC que saiu da
centro-esquerda para a centro-direita.
A manutenção do sistema presidencialista, a fixação do mandato presidencial em cinco
anos para Sarney, a reprovação da proposta de estabilidade de emprego após 90 dias
de contratação, a fixação da jornada de trabalho em 44H semanais e a rejeição da
desapropriação de propriedades produtivas para fins de reforma agrária são algumas
medidas que só foram aprovadas graças a ação do Centrão.
A influência do Governo Sarney foi decisiva. Hoje é pública e notória a atuação do seu
ministro das Comunicações, Antônio Carlos Magalhães, comprando deputados e
distribuindo emendas, cargos e concessões de canais de radiodifusão em troca de
votos a favor das pautas de interesse do governo e de grandes empresários, como
Roberto Marinho. Foi a prática vulgar do fisiologismo político que maculou a
redemocratização e até hoje cobra suas consequências.
O Centrão atua como meretriz dos interesses mais escusos que contaminam a
República. Não possui ideologias ou convicções políticas, mas interesses e objetivos.
Nesse momento está com Bolsonaro, pois a aliança servirá às suas aspirações de
poder: os postos no governo, os ministérios com orçamentos bilionários e inúmeros
cargos para distribuir entre os seus.
Bolsonaro comemora vitória e supõe garantido que não haverá impeachment ou CPIs
que eventualmente poderiam complicar a situação de seu governo, cuja aprovação
segue derretendo. A depender do clamor da população e do crescimento da onda Fora
Bolsonaro, o mesmo Centrão que hoje se vende, poderá se colocar ao lado das ruas.
Não há parlamentar que efetivamente se volte contra o povo. Basta ver a unanimidade
que pautas como FUNDEB e Auxílio Emergencial alcançaram no Congresso Nacional.

Carla Teixeira – Doutoranda em História na UFMG

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