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SUMÁRIO

Introdução: ............................................................................................3
o CONGRESSO NACIONAL...........................................................................4
PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 384, DE 2016..........................................22
O Governo Bolsonaro e as Políticas para o Agrário........................23
Greve Geral...........................................................................................30

ESCRITÓRIO NACIONAL DO MST - BRASÍLIA

Reunião da Direção Nacional do MST


ENFF - São Paulo, julho de 2019

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Fotos: Matheus Coutinho e Guilherme do Stasio / Secretaria de Direitos Humanos do Município de Maricá-RJ
Diagramação: Gustavo Palermo
Introdução:
Jair Bolsonaro chega à metade de seu primeiro ano de governo sem descer do palanque e
já se preparando, de maneira precoce, para a campanha à reeleição. Essa estreia está longe de
ser um sucesso, tanto que a previsão de crescimento da economia é pífia e não existe sequer
um plano claro para investimentos em educação. Mas o discurso da polarização e da luta da
direita contra a esquerda mantém a paixão da militância e o clima eleitoral. É nesse vácuo de
uma liderança política mais efetiva junto aos poderes em Brasília que o Congresso assume o
papel de protagonista na condução das reformas. 
Adepto da estratégia da corda esticada, o que Bolsonaro fez nesses seis meses foi manter
vivas as polêmicas que alimentam os simpatizantes apaixonados nas redes sociais e a divisão
social que o ajudou a chegar ao Palácio do Planalto. O presidente abusou das questões de apelo
popular: regras de trânsito, redução de multas nas estradas, decreto das armas. Questões que
ainda dependem de aprovação do parlamento.
Sem uma reforma ministerial oficial, o presidente já mandou embora quatro ministros.
Dois foram vítimas de intrigas internas (Gustavo Bebianno e o general Santos Cruz), outro
foi afastado por incompetência (Ricardo Vélez) e o general Floriano Peixoto foi transferido
para os Correios, abrindo espaço no Planalto para um aliado de longa data da família
Bolsonaro. Apesar das crises que essas mudanças causaram, o presidente fez questão
de mostrar que não é tutelado por nenhum dos grupos que se engalfinham no coração do
governo. Ele dispensou um general respeitado, um indicado pelo guru Olavo de Carvalho e
um nome do PSL. Blindados, só os filhos e o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de
Segurança Institucional. 
Confusões à parte, o mérito do governo foi ter encaminhado cedo ao Congresso questões
que podem representar mudanças efetivas. A reforma da Previdência tem grande chances de
ser aprovada, já foi aprovada na comissão especial e na próxima terça-feira iniciará o debate
e votação em plenário, com e meta se ser aprovada antes do recesso parlamentar, o programa
de privatizações está andando, o fim do monopólio do gás é um dos retrocessos e o acordo de
livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que vinha sendo discutido há 20 anos, é
um marco importante.

Confira a seguir as principais derrotas e vitórias de Bolsonaro nesses primeiros seis


meses.

Brigada Adão Pretto


Escritório Nacional do MST em Brasília- DF

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o CONGRESSO NACIONAL

PRINCIPAIS DERROTAS:
1) DECRETO DE ARMAS
Pesquisas de opinião mostram que a maioria da população não apoia a flexibilização do
acesso a armas, um indicativo de que uma alteração do Estatuto do Desarmamento sofreria
resistência no Congresso. Grande entusiasta do armamentismo, Bolsonaro não quis nem
tentar essa difícil negociação e optou por editar uma série de decretos com amplas mudanças
na posse e no porte de armas. O primeiro saiu em janeiro, mas foi revogado em maio, com a
edição de outros dois. 
No dia 18 de junho, porém, o Senado rejeitou esses textos, que traziam pontos polêmicos
como brecha para civis comprarem fuzis e ampliação da possibilidade de porte de armas para
22 categorias, incluindo políticos eleitos, advogados, guardas de trânsito, caminhoneiros,
moradores de zonas rurais e jornalistas.
Prevendo a derrota também na Câmara, o que derrubaria as normas, o presidente revogou
os dois decretos e publicou outros quatros e um projeto de lei com urgência constitucional.
Neste 6 meses o Governo editou ao tudo 7 decretos para tratar da liberação das armas. O
movimento também buscou evitar uma derrota no STF, que julgariam ações movidas por
partidos (Rede, PSOL e PSB) questionando a constitucionalidade dos decretos. 
No entanto, tão logo as novas normas foram editadas, parlamentares já se mobilizaram
para rejeitar novamente as medidas no Congresso e freá-las no Supremo. O argumento é que
o presidente pode apenas regulamentar a aplicação do Estatuto do Desarmamento por meio
de decretos, não alterar substancialmente a lei.
Ao mesmo tempo, lideranças do Congresso tentam mostrar que não são 100% contra a
agenda presidencial. O Senado aprovou na semana passada projeto de lei que estende os
limites do direito a posse de arma para toda a propriedade rural (em vez de restringir à sede
da fazenda). A proposta ainda será analisada na Câmara.

2) DECRETO SOBRE INFORMAÇÕES EM SIGILO


Mesmo antes de exaltar os poderes de sua caneta, Bolsonaro já havia levado um cartão
vermelho do Congresso. Um decreto de janeiro, que ampliava o rol de autoridades que poderia
classificar documentos como secretos (15 anos de sigilo) e ultrassecretos (25 anos de sigilo),
acabou rejeitado em fevereiro na Câmara.
Antes que o Senado confirmasse a decisão, Bolsonaro revogou a norma. Para os
parlamentares, a medida reduzia o alcance da Leia de Acesso à Informação.

3) DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS


Outra proposta cara à Bolsonaro que empacou foi a transferência da demarcação de terras
indígenas da Funai para o Ministério da Agricultura.

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A primeira tentativa, por meio da Medida Provisória MP870, foi rejeitada em maio. Na
ocasião, o Congresso determinou que a demarcação retornasse à Funai, e que o órgão voltasse
a estar subordinado ao Ministério da Justiça.
O presidente, então, surpreendeu ao enviar nova MP em junho determinando novamente
que a demarcação fosse submetida à pasta da Agricultura. O fato é que a Constituição impede
que uma medida provisória rejeitada seja reeditada no mesmo ano, e parece que o atual
presidente que passou 28 anos no parlamento, desconhece os procedimentos.
Por causa disso, o ministro do STF Luís Roberto Barroso atendeu pedido de PT, PDT e Rede
e suspendeu o trecho da nova MP que alterava a demarcação, até o plenário da Corte julgar o
caso em agosto. Logo depois, o presidente do Senado, David Alcolumbre, devolveu ao Planalto
a norma.

4) MORO SEM COAF


Quando Bolsonaro oficializou a escolha de Sergio Moro para comandar a pasta da Justiça
e Segurança Pública, anunciou que o então juiz assumiria um “superministério”. A nova
estrutura incluiria a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf)
do Ministério da Economia para a pasta de Moro, com objetivo de dar ao ministro informações
em tempo real para combate à corrupção e ao crime organizado.
Apesar de Moro insistentemente expor seu desejo pelo Coaf, a mudança, incluída também
na MP 870, foi barrada pelo Congresso, numa aliança de parlamentares do Centrão (partidos
de centro e centro-direita) e da oposição.
O governo acabou desistindo de tentar impedir a derrota para manter outra mudança
incluída na MP: a redução do número de ministérios de 29 para 22 pastas.
Outra iniciativa prioritária de Moro, o pacote anticrime com sugestões de alteração na
legislação penal, tem andado lentamente no Congresso. No momento, um Grupo de Trabalho
criado na Câmara por Rodrigo Maia analisa conjuntamente as propostas de Moro e outro
pacote elaborado por uma comissão de juristas sob a coordenação do ministro do STF
Alexandre de Moraes.

5) REFORMA DA PREVIDÊNCIA SEM REGIME DE CAPITALIZAÇÃO


O relator da Reforma da Previdência na Câmara, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP),
deixou de fora do seu parecer para a Comissão Especial que trata do tema proposta considerada
crucial pelo ministro da Economia, Paulo Guedes - a criação do regime de capitalização,
baseado na formação de poupança pelo próprio trabalhador no decorrer da vida ativa, em
uma conta individual para financiar, no futuro, sua aposentadoria.
O governo planeja reintroduzir a proposta de capitalização quando a reforma for à votação,
mas é improvável que seja aprovada. Críticos do modelo dizem que ele reduziria o valor
das aposentadorias, levando a um empobrecimento dos idosos no país. Outro problema é
o alto custo de transição do atual sistema de repartição, em que os trabalhadores da ativa
bancam com suas contribuições os benefícios de quem já está aposentado, para o sistema

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de capitalização, em que os trabalhadores deixariam de contribuir para cobrir as atuais
aposentadorias.

6) MEDIDAS PROVISÓRIAS QUE “CADUCARAM”


Com articulação precária no Congresso, duas medidas provisórias editadas no final do
governo de Michel Temer e de interesse do governo Bolsonaro perderam a validade devido à
lentidão na apreciação das propostas pelos parlamentares.
Medidas provisórias representam grande poder nas mãos do presidente, já que elas têm
efeito imediato de lei e tramitam com prioridade frente outras matérias no Congresso. Porém,
se não forem aprovadas em até 120 dias, perdem a validade e não podem ser reeditadas no
mesmo ano.
Outra MP que perdeu validade foi a MP 868, que atualiza o marco legal do saneamento
básico e abre a possibilidade de privatizar empresas estaduais responsáveis pelo serviço. O
governo decidiu, então, apoiar a tramitação de um projeto de lei sobre o tema.
Também caducou a MP 867, que ampliava o prazo para adesão ao Programa de Regularização
Ambiental (PRA), inicialmente previsto para 31 de dezembro de 2018. A medida é de interesse
da bancada ruralista, principal bancada de apoio ao governo Bolsonaro. O presidente, então,
editou outra MP extinguindo o prazo para os proprietários de terra fazerem o Cadastro
Ambiental Rural (CAR). Com isso, ficou sem data limite também a adesão ao PRA.
No dia 01/03/2019 o Governo, editou a Medida Provisória 873, determinava que qualquer
contribuição estabelecida pelo sindicato — assistencial, confederativa, sindical e até mesmo
a mensalidade — deve ser determinada a partir de autorização prévia, expressa, individual e
por escrito do trabalhador não sindicalizado. E o pagamento só poderá ser feito por meio de
boleto bancário. Isto é, não pode haver desconto em folha. Assim, a partir da MP, as assembleias
sindicais não poderão autorizar nenhum tipo de desconto em folha para os não sindicalizados.
Tanto para os trabalhadores do setor privado (celetistas e profissionais liberais), quanto
para os servidores públicos nos 3 níveis — federal, estaduais e municipais. Era o Governo
trabalhando para terminar com o que resta do movimento sindical. Como a medida não foi
bem aceita por aliados do governo, incluído o Presidente da Câmara ela perdeu a validade no
final de junho, mas o governo já anunciou que irá enviar um projeto de Lei.

MEDIDAS QUE SOMAM POSITIVO PARA O GOVERNO E QUE ATACAM A SOBERANIA NACIONAL:

1) AVAL PARA DESCUMPRIR REGRA DE OURO


Após uma certa tensão, o governo conseguiu em junho autorização do Congresso
para contrair dívida de quase R$ 249 bilhões, valor necessário para cobrir despesas da
administração pública como aposentadorias do INSS, Bolsa Família e crédito subsidiado a
fazendeiros. A autorização era necessária porque a regra de ouro só permite a União de se
endividar para cobrir despesas de investimento e financeiras.
Sem essa autorização, Bolsonaro teria que suspender despesas fundamentais, o que,

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segundo economistas, agravaria a crise econômica e geraria caos social. Caso não adotasse
essa medida, poderia sofrer um processo de impeachment por descumprir a regra de ouro.

2) AUTORIZAÇÃO PARA PRIVATIZAR SUBSIDIÁRIAS ESTATAIS


Outro avanço do governo foi o aval do STF para o governo privatizar subsidiárias de
estatais (empresas controladas por outras companhias públicas) sem a necessidade de aval
do Congresso.
Por outro lado, o Supremo determinou que a venda de estatais matrizes, como Petrobras,
Eletrobras e Banco do Brasil, dependem de aprovação dos parlamentares.
Apesar dessa restrição, a medida abriu uma ampla janela para Bolsonaro realizar seu plano
de reduzir o tamanho do Estado.
De acordo com o Ministério da Economia, o governo federal tem 134 estatais, das quais 88
são subsidiárias. A Petrobras, por exemplo, tem 36 subsidiárias, como a Transpetro e a BR
Distribuidora; a Eletrobras, 30; e o Banco do Brasil, 16.

3) MP CONTRA FRAUDES DO INSS


A medida provisória 871, com ações para coibir fraudes nos benefícios do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), foi aprovada pelo Congresso no último dia antes de caducar.
Para evitar a queda da MP, o presidente do Senado convocou uma sessão extra em uma
segunda-feira (3 de junho), dia da semana em que o Congresso não costuma funcionar.
A proposta foi anunciada com entusiasmo por Guedes, no intuito de mostrar que o governo
estava adotando outras medidas de equilíbrio dos gastos do INSS, além da reforma da
Previdência.
Bolsonaro usou o Twitter para agradecer a aprovação: “MP 871 APROVADA! Parabéns a
todos os parlamentares que se empenharam na aprovação da Medida Provisória que combate
fraudes no INSS e que gerará ao país economia de 100 bilhões em 10 anos”.

4) ACORDO MERCOSUL - UNIÃO EUROPEIA


Dois dias antes de Bolsonaro completar seis meses de governo, foi anunciado que a União
Europeia e o Mercosul chegaram a um acordo comercial - após 20 anos de negociações. 
Os itens extracomércio do pré-acordo são mais obscuros, mas nem por isso menos
ameaçadores. Os comunicados divulgados até agora fazem menção aos seguintes temas:
“Liberalização” do setor de serviços: É, em todas as economias contemporâneas, o setor
mais importante. Divide-se em centenas de ramos que foram, durante décadas, fortemente
protegidos. Muitas destas proteções perduram. Um grupo estrangeiro não pode hoje, por
exemplo, constituir um escritório de advocacia no Brasil, ou controlar uma empresa de
telecomunicações. As transnacionais lutam para eliminar o que resta destes limites. O
comunicado lançado pelo governo brasileiro afirma: “O acordo garantirá acesso efetivo
em diversos segmentos de serviços, como comunicação, construção, distribuição, turismo,

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transportes e serviços profissionais e financeiros”…
Endurecimento das patentes e ataque aos medicamentos genéricos: Em dezembro de
2017, quando as negociações estavam em curso, dezenas de organizações da sociedade civil,
da Europa e do Mercosul, alertaram pra a construção secreta de regras mais draconianas
de “propriedade intelectual”. Este endurecimento tornou-se comum em acordos de “livre”
comércio. Num tempo de forte crescimento da produção imaterial, as grandes corporações
querem fechar as brechas ao controle tecnológico e simbólico que exercem. A primeira possível
consequência é a ampliação do direito de patentes farmacêuticas, com restrições à produção
de medicamentos genéricos. A nota conjunta emitida em Bruxelas, em 28/6, é extremamente
lacônica – mas afirma que o pré-acordo inclui itens ligados à propriedade intelectual.
Concorrências públicas e compras governamentais: O poder de compra e de contratação
dos Estados é, tradicionalmente, um instrumento de promoção do desenvolvimento. Ao licitar
uma ferrovia ou parque eólico, ou adquirir produtos como medicamentos ou comida para a
merenda escolar, os governos podem favorecer empresas ou cooperativas locais, estimulando
sua existência e expansão. Há décadas, as corporações lutam para anular esta prerrogativa.
Querem impor seu poder e fechar mesmo as pequenas brechas para modelos de produção
não-hegemônicos. O tema foi incluído, desde o início, nas tratativas para o pré-acordo agora
firmado. Embora sem entrar em detalhes, todos os comunicados lançados a respeito do texto,
desde 28/6, sugerem que as transnacionais alcançaram seu objetivo.
“Direitos do investidor” acima dos sociais e ambientais: Os acordos de “livre” comércio
firmados nas últimas décadas incluem, quase sempre, a instituição do “direito do investidor”
e a constituição de estranhos tribunais, denominados “painéis de solução de controvérsias”.
Trata-se de um claro atentado à democracia. O “direito do investidor” significa que as
empresas transnacionais instaladas num país qualquer podem reivindicar indenizações,
sempre que se julgarem prejudicadas por leis que instituem direitos sociais ou ambientais.
Segundo este princípio, uma corporação mineradora pode, por exemplo, alegar que seus
lucros diminuíram, devido à obrigação de construir barragens mais seguras – e que, portanto,
precisa ser ressarcida. Pior: muitos acordos de “livre” comércio estabelecem que, nestes
casos, as disputas não são resolvidas no âmbito dos Estados nacionais, mas por “painéis de
solução de controvérsias” totalmente opacos – não submetidos, portanto, a nenhum controle
democrático.
Os comunicados oficiais pós-28/6 não fazem referência a tais painéis, mas a preocupação
se mantém. Ao longo das duas décadas de negociação do acordo UE-Mercosul, o tema foi
seguidamente suscitado.

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TEMAS DE ACOMPANHAMENTO LEGISLATIVO

REFORMA DA PREVIDÊNCIA
Ruralistas tentam tirar da reforma fim de benefício
Na reta final para a votação da reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara,
a bancada do agronegócio pressiona para evitar o fim do benefício que garante a isenção
previdenciária do exportador rural. Para dar o incentivo ao setor, a União abre mão de R$ 8
bilhões por ano. A costura dos ruralistas passa também pelo perdão da dívida dos agricultores
com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural), que é a contribuição paga
pelos empregadores para ajudar a custear a aposentadoria dos trabalhadores. Segundo
apurou o Estado, o acordo inicial acertado com o presidente Jair Bolsonaro era que o perdão
da dívida fosse concedido. E a compensação da perda de receita – uma exigência da Lei
de Responsabilidade Fiscal (LRF) – seria feita via a oneração das exportações prevista na
proposta original do governo e mantida pelo relator Samuel Moreira (PSDB-SP).
Mas, a pedido dos ruralistas, o relator acabou deixando uma brecha para o perdão da dívida
do Funrural – um estoque estimado em R$ 17 bilhões. O texto original da proposta proibia o
perdão e o parcelamento acima de 60 meses, o chamado Refis. Mas os ruralistas não ficaram
satisfeitos. Querem não só o perdão do passivo da dívida como a manutenção do benefício às
exportações. “É injusta essa cobrança. Se ficar na Constituição nunca mais sai. É um dinheiro
que vai sair da renda do trabalhador”, disse ao Estado o deputado Jeronimo Goergen (PP-RS).
Ele confirmou as negociações e informou que recebeu da equipe da Secretaria Especial de
Fazenda do ministro da Economia, Paulo Guedes, uma sinalização de que uma alternativa para
o perdão da dívida estava sendo preparada. Um compromisso, segundo ele, do presidente Jair
Bolsonaro.
Goergen contou que a solução será apresentada pelo ministro Guedes e equipe na próxima
terça-feira.
O deputado ressaltou ainda que está conversando com o relator para que o fim da isenção
seja retirado do texto. Ele pondera que a retirada não altera o valor da economia prevista na
reforma porque a medida não estava contabilizada no R$ 1,2 trilhão esperado por Guedes.
Fontes do governo garantem, que o dinheiro está contabilizado. Discordâncias. Enquanto o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), busca garantir o acordo para que os partidos
não apresentem destaques na votação da comissão, a pressão aumentou. O afrouxamento
de regras para algumas categorias, devolução de destinação de recursos para o BNDES e
alteração no cálculo das aposentadorias são alguns dos principais pontos de discordância.
Governadores também pressionam por mudanças.
Para apoiar a inclusão dos Estados e municípios no texto, governadores do Nordeste querem
que o aumento da tributação sobre os bancos seja feita por imposto e não pela Contribuição
Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Dessa forma, o aumento das receitas seria distribuído
entre União, Estados e municípios. A arrecadação da CSLL não é repartida com os governos
regionais, engordando somente o caixa da União. “Queremos sobre a forma de imposto (União
e fundos 54% Estados 21,5% e Município 24,5% na regra do Fundo de Participação para onde

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vão os Impostos sobre renda)”, afirmou ao Estado governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
“Se tivermos uma reforma como foi sinalizada, onde seja assegurado que há compromisso
e solução com novas receitas para o déficit da Previdência, devemos dialogar com os
parlamentares de nossos Estados no sentido de garantir o voto necessário para aprovação”,
disse. Na Câmara, há até o momento 69 destaques registrados na comissão que analisa a
reforma. Os partidos podem até o início da votação do voto complementar, retirar ou incluir
novos pedidos de mudanças.

Previdência: comissão retira taxação do agro e libera perdão do passivo do Funrural


Parlamentares aprovaram um pedido feito pelo PP, PTB e MDB de excluir do texto da
reforma pontos que iria taxar o agronegócio.
O agronegócio saiu mais uma vez vitorioso em uma disputa que poderia onerar o produtor
rural em milhões de reais. Isso porque a comissão especial da Câmara dos Deputados que
analisa a reforma da Previdência retirou, por 23 votos a 19, o trecho do texto que criava
uma tributação previdenciária sobre as exportações do agro, a cobrança sobre a exportação
de produtos agrícolas representaria uma arrecadação extra de R$ 8 bilhões por ano para
o governo Outro ponto que caiu era a impossibilidade de perdão do passivo do Fundo de
Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural. Com a derrubada do ponto que impedia o perdão
do passivo do Funrural, os parlamentares vão poder seguir com a tentativa de encontrar uma
solução para o impasse. O setor trabalha pela remissão do valor acumulado entre os anos
2010 e 2017, este passivo pode chegar à R$ 18 bilhões.

AGROTÓXICOS
A barbárie ambiental está cada dia mais presente em nossas vidas. Diariamente novos
agrotóxicos são liberados no Brasil contaminando pessoas, alimentos, águas e solos.
No Brasil os representantes maiores da agressão ambiental que prejudicam as gerações
atuais com alimentos e água contaminados e deixam a opção para as gerações futuras de
morrer de sede ou envenenamento por agrotóxicos, são os ministros do meio ambiente e a
ministra da agricultura do Governo Bolsonaro. O do meio ambiente Ricardo Salles, ligado ao
movimento endireita Brasil, foi candidato a deputado federal derrotado pelo partido Novo
em São Paulo e é réu ação por improbidade administrativa na promotoria de São Paulo. A
ministra da agricultura tem seu passado ligado a setores conservadores e reacionários do
agronegócio, assim como das multinacionais do agrotóxicos. É representante da banca
ruralista do Congresso e tem pautado sua gestão pela liberação desenfreada de agrotóxicos,
num discurso fake news, que os agrotóxicos não fazem mal a saúde e são seguros para o
meio ambiente, assim como os brasileiros podem comer muita manga, certamente com muito
agrotóxicos, para não passar fome.
Alguns números simbolizam a irresponsabilidade da liberação de tanto veneno. Fazendo
uma comparação de períodos anuais recentes, temos a grandeza do estrago que os apoiadores
dos venenos estão fazendo. De 2012 a 2015 foram liberados 565 novos agrotóxicos. De
2016 a 2019, considerando que estamos apenas na metade de 2019, foram liberados 1.371

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agrotóxicos, representando um aumento na liberação de quase 150 % em 3,5 anos. Somente
em 2019, foram 239 agrotóxicos liberados pelo Ministério da Agricultura.
Entre os principais venenos consumidos na nossa mesa temos: glifosato; 2,4-D, acefato,
clórpirifos; metomil; imidacloprido; diuron; mancozebe, atrazina, e paraquate. De 2014 a 2018,
dados parciais em 2018, tivemos a comercialização de 2.443.655 toneladas de Ingredientes
Ativos dos 10 agrotóxicos mais consumidos, destaca-se que mais produtos tóxicos são
lançados ao ambiente, pois temos os estabilizantes, sulfactantes, e outros produtos químicos
nas misturas vendidas no mercado. São exatamente 2.443.665.000 kg de Ingredientes

Ativos de agrotóxicos:

Ingrediente Ativo (I.A) Toxidade Periculosidade Ambiental


Glifosato I – Extremamente tóxico III – Perigoso ao meio ambiente
2,4 D I – Extremamente tóxico III – Perigoso ao meio ambiente
Acefato III – Medianamente tóxico II – Muito Perigo ao meio ambiente
Clórpirifos III – Medianamente tóxico II – Muito Perigo ao meio ambiente
Metomil I – Extremamente tóxico II – Muito Perigo ao meio ambiente
Imidacloprido II – Altamente tóxico III – Perigoso ao meio ambiente
Diuron III – Medianamente tóxico II – Muito Perigo ao meio ambiente
Mancozebe I – Extremamente tóxico III – Perigoso ao meio ambiente
Atrazina III – Medianamente tóxico II – Muito Perigo ao meio ambiente
Dicloreto de Paraquate I – Extremamente tóxico III – Perigoso ao meio ambiente

A tabela demonstra objetivamente que os produtos tóxicos mais vendidos são, em relação a
toxidade, extremamente tóxicos (Classe I) ou altamente tóxicos (II). Em relação ao ambiente
muitos são classificados como muito perigosos (Classe II). Ainda é necessário observar
que o Glifosato e o 2,4 D, ambos extremamente tóxicos, representam 68 % das vendas no
período entre os 10 agrotóxicos listados. A atrazina e acefato foram banidos da Europa e são
comercializadas no Brasil. Estes números demonstram que o discurso fácil e irresponsável da
ministra da agricultura não condiz com a realidade, pois as vendas mais significativas são de
agrotóxicos extremamente tóxicos e muito perigosos ao meio ambiente.

Em relação a contaminação da água por agrotóxicos, é importante destacar que dos 27


produtos analisados pelo VIGIÁGUA do Ministério da Saúde, 14 são produtos autorizados e
comercializados, os 13 demais são produtos proibidos com DDT e Aldrin. Dos 10 produtos
listados na tabela, o acefato, clórpirifos, metomil, imidacloprido e paraquate não são
verificados nas análises da água de consumo, porém são produtos muito vendidos no Brasíl,
o que pode significar que temos uma maior contaminação da água.

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BASE DE ALCÂNTARA
O Brasil e os Estados Unidos assinaram, em 18 de março de 2019, o acordo de Acordo
de Salvaguardas Tecnológicas (AST), que permite o uso comercial da base de Alcântara, no
Maranhão. O acordo foi assinado em Washington na Câmara de Comércio Americana. No dia
05 de junho o Governo enviou ao Congresso Nacional a mensagem 208referente ao acordo
para ser aprovado pelo Parlamento. Entre os pontos polêmicos, o acordo prevê áreas restritas
ára circular exclusiva de pessoas autorizadas pelos americanos e a utilização do recurso que
será recebido pelo aluguel da Base.
Outro ponto importante e a demarcação do território quilombola já que o Relatório
Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) que foi publicado pelo Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) em novembro de 2008, restando apenas a emissão
do título de propriedade, os grupos da faixa litorânea de Alcântara têm vivido os últimos 33
anos na indefinição em relação ao futuro, ou seja, a área de Alcântara é reconhecidamente um
Território Quilombola. No acordo não tem nenhuma citação sobre a questão fundiária.

GOVERNO BOLSONARO E A PAUTA DO CAMPO


Plano safra 2019/2020 – fim da agricultura familiar – “Uma só agricultura alimentando
o Brasil e o Mundo” Slogan do plano safra.
Nos últimos 20 anos, os diversos governos e o Congresso nacional reconheceram, por lutas
dos movimentos sociais, o papel e as especificações da agricultura familiar ao criar leis ,
politicas e programas direcionados aos agricultoras e agricultores familiares, como a Lei
11.326/2006 (lei da agricultora familiar), criação do Pronaf, do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Já no Governo Temer o MDA foi extinto e o orçamento da agricultura familiar
sofreu diversos cortes, programas foram abandonados, políticas para juventude, mulheres e
semiárido entre outros.
Agora no dia 18 de junho o Governo Bolsonaro lançou o plano safra 2019/2020 com o
slogan “ Uma só agricultura alimentando o Brasil e o Mundo”, desconsiderando por completo
as agricultoras e agricultores familiares, o plano divide os agricultores em pequeno, médio
e o grande produtor rural, retornando a classificação da agricultura na década de 60, do
século passado. O valor do plano 2019/2020 é de R$ 225,69 bilhões, sendo que continua em
31.22 bilhões para o credito do Pronaf, com o aumento da taxa de juros. Algumas linhas de
financiamento do Pronaf não aparecem na apresentação, exemplo o Pronaf B, Pronaf Mulher,
Pronaf Jovem, Pronaf Agroecologia, entre outras. Também não foi apresentado o valor que
será destinado a assistência técnica e nem para os programas de compras governamentais, o
PAA nem é citado no lançamento do plano safra.
A Ministra da Agricultura anunciou que o ‘pequeno’ poderá financiar os serviços de ATER
pelo Pronaf, ou seja, a ATER que era pública e gratuita será financiada pelos agricultores
familiares, pois os projetos técnicos necessitaram de ATER. As medidas de impacto do
‘Plano Safra’, certamente foram para os grandes produtores do agronegócio. O incremento
de 127% nos recursos para as subvenções ao prêmio do seguro rural disponibilizado aos
grandes produtores. Será R$ 1bilhão em subvenções para essa finalidade. Assim, o valor

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segurado para os grandes produtores passarão de R$ 18.6 bilhões para R$ 42 bilhões. Os
grandes produtores poderão emitir Cédula do Produtor Rural (CPR) com variação cambial,
para viabilizarem empréstimos em dólar. Também destinou 55 bilhões de reais para as Letras
de Crédito do Agronegócio –LCA. Porém, para os ‘pequenos’, notadamente das regiões mais
pobres do país, como o semi-árido, o ‘Plano Safra’ simplesmente reduz o volume de recursos
segurado, de R$ 726 milhões, para R$ 468 milhões. Na prática os recursos que aumentaram
para o seguro do agronegócio, diminuíram para o seguro dos agricultores familiares. O ‘Plano
Safra’ é omisso sobre instrumentos essenciais para os agricultores familiares referentes aos
mercados institucionais como o PAA e PNAE.
Para a Habitação Rural serão destinados R$ 500 milhões para financiar a construção ou
reformas de moradias dos “pequenos agricultores”, sendo que a necessidade mínima demanda
era de 3 bilhões.
Não existe nenhum anúncio referente a reforma agrária e política para as famílias assentadas,
deixando explícito que o slogan “uma só agricultura” tem lado e este lado é do agronegócio,
portanto mais uma fake da Ministra da Agricultura do Governo Bolsonaro.

DOIS PROJETOS QUE SERÃO PRIORIDADE NO CONGRESSO:


PEC 80/2019 (Senado Federal) - Altera os artigos 182 e 186 da Constituição Federal
para dispor sobre a função social dapropriedade urbana e rural. Tem como autor principal o
Senador Flávio Bolsonaro (PSL/RJ) e a Senadora Juíza Selma como relatora.
PLS 2963/2019 - Regulamenta a aquisição, posse e o cadastro de propriedade rural por
pessoa física ou jurídica estrangeira – Tem como autor Senador Irajá (PSD/TO) (filho da
senadora Kátia Abreu) e o Senador Rodrigo Pacheco como relator

INCRA
Formação de equipe
O presidente conseguiu nomear a equipe da Sede com pouca interferência política partidária.
Aparentemente indicou todos os diretores, à exceção do diretor da diretoria fundiária, que é o
ex-superintendente do Incra MS, apadrinhado e da extrema confiança da ministra TC.
Para a nomeação dos diretores (DAS 5) teve a ajuda de ministros palacianos, especialmente
o Gen. Santos Cruz, o que permitiu “driblar” parcialmente o filtro do ministério, em especial
do SEAF.
Da mesma forma vem nomeando com liberdade os Coordenadores (DAS 4 – escalão
intermediário) da Sede.
Além do presidente, mais 8 militares assumiram postos de gestão (diretor ou coordenador)
ou assessoramento DAS 4. Todos os nomeados são de sua estrita confiança, já tendo com ele
atuado em algum momento de suas trajetórias. Além da presidência, DD, DT, DE e OAN estão
sob o comando dos militares.
Percebe-se um grande (quase absoluto) desconhecimento deles quanto às políticas públicas
do Incra, embora em sua maioria sejam rápidos em compreender as questões. Possuem uma

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curva de aprendizado bastante rápida. Significa que em pouco tempo terão razoável domínio
dos temas e uma menor dependência dos servidores da casa para a compreensão das questões
tomada de decisão.
Diversos servidores, especialmente aqueles que não tiveram oportunidade de ascenção
profissional nos governos anteriores estão aderindo rapidamente à gestão e lhe prestando
serviços, alguns inclusive sendo nomeado para funções relevantes.
Vem enfrentando dificuldades na nomeação dos Superintendentes Regionais. Num primeiro
momento pensou que iria nomear técnicos da autarquia ou pessoas de sua confiança (sem
vinculação político-partidária), tal como fez em MT, contudo tendo que voltar atrás e tornar
sem efeito a nomeação no dia seguinte. Agora, parece que já cedeu à ideia de que os SRs
serão nomeados pelas forças políticas locais e os nomes que tem surgido são de perfil muito
ruim. Mesmo não havendo mais resistência da presidência para esses indicados, não estão se
entendendo na política, vide nomeação em SE, feita num dia e tornada sem efeito no outro.
Nesse caso, o suposto motivo publicizado para a desnomeação foi seria a vinculação do
indicado com o MST.

Orçamento e preocupação com políticas públicas


Orçamento reduzido. Pouco mais de 320 milhões na LOA, mas autorização para execução
de pouco mais 180. Somente o custeio custa mais de 120 milhões. Menos de 10 milhões para
obtenção.
Ao contrário de outras gestões que faziam “mágica” orçamentária, demonstram muita
preocupação e rigor em respeitar os limites orçamentários postos, ainda que isso signifique
não executar ou “matar” determinadas políticas ou ações.
Não sinalizam muito disponibilidade ou preocupação em buscar novos orçamentos.
Também não tem sido demonstrada muita preocupação com a execução das política
públicas, nem mesmo daquelas de interesse dos ruralistas, como a regularização fundiária e
titulação.
Não há um posicionamento direto de contrariedade às políticas públicas de interesse dos
trabalhadores, como obtenção, desenvolvimento, pronera, demarcação quilombolas, etc. Mas
já há alguns indicativos de discordância com alguns regulamentos internos, sobretudo com
procedimento de regularização quilombola. Contudo, até o momento, justifica-se a paralisia
pela insuficiência orçamentária.
No caso da regularização quilombola um ponto sensível para a gestão são as decisões
judiciais com a determinação de realizações de algumas ações (ex. elaborar e publicar rtid,
portaria, etc), sob pena de multa para os gestores. Isso tem sido objeto de muita preocupação.
Houve adesão à pauta do TCU de irregularidade na RA. Então é necessário fazer revisão
ocupacional, rever o processo de seleção, e acabar com as “favelas ruais”. Nesse sentido, a
ideia de que ao invés de obter novas áreas e criar novos assentamos, é necessário cuidar dos
projetos atuais, começa a ganhar força.
Reforça essa ideia a necessidade de atendimento de pedidos apresentados no varejo de

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rever atos anteriores de desapropriação (desistir de ações e processos de desapropriação),
seja porque as fazenda são produtivas (no dizer de quem vem pedir para desistir), seja pq o
Incra não tem orçamento para desapropriar, na perspectiva dos gestores. Essa é uma linha de
atuação que dá sinais de pode ganhar corpo.

Política
Existe um alinhamento maior do presidente com a ministra. Ambos aparentemente tem
enfrentado dificuldades como o SEAF. Existem episódios que nitidamente colocam em
desalinhamento o presidente e o SEAF. Talvez menos pelo mérito das ações, mas sobretudo
pelas estratégias de ação.
Enorme dificuldade em ligar com a demanda cotidiana dos parlamentares e suas bases, tal
como a relação da palácio com o Congresso.
Existe uma movimentação não muito evidente e de difícil mensuração quanto a onde
pode chegar, já que tratada com muita reserva e em círculos fechados, de apuração de atos
supostamente irregulares de gestões anteriores. Verificações e levantamentos em contratos,
compras, convênios, etc..., com a finalidade de encontrar falhas.

FUNDO AMAZÔNIA
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já afirmou que poderá extinguir o Fundo
Amazônia, criado em 2008 sob o governo Lula para arrecadar recursos de países desenvolvidos
para a prevenir, monitorar e combater o desmatamento. Dois dos maiores doadores do fundo,
Alemanha e Noruega, se queixam de duas manobras anunciadas pelo governo Bolsonaro: a
diminuição de assentos no Comitê Orientador do Fundo, aumentando o peso do governo
federal na gestão, e a ideia de usar dinheiro do fundo para indenizar fazendeiros que possuem
imóveis em áreas de proteção ambiental.
Com o impasse, os doadores ameaçam encerrar as doações, que já trouxeram R$ 3,4
bilhões para o país. Em teoria, o fundo pode acabar. Mas o que nós estamos falando aqui é
de continuidade, diálogo, com mais afinco, mais dedicação e maior sinergia entre os diversos
envolvidos.”, afirmou Salles. O ministro também questiona os projetos financiados - embora
os doadores se digam satisfeitos com o uso da verba por aqui, que permite ao país pesquisar e
preservar a floresta amazônica sem gastar dinheiro próprio para isso. O ministério suspendeu
os desembolsos financeiros para os contratos assinados com as entidades executoras dos
projetos.

SOBERANIA NACIONAL
Inebriados pelo poder, militares avalizam a liquidação do Brasil
O comando militar torna-se o fiador do desmonte da economia e do patrimônio
nacional
No mundo desenvolvido e nas nações medianamente civilizadas, os militares cumprem em
geral um papel de protetores da fronteira. No Brasil, desde a Proclamação da República, as

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Forças Armadas exercem, com mais ou menos intensidade, o protagonismo na vida política.
Fuzis sempre apontados em direção à nuca dos civis, os fardados pairam como uma ameaça,
enquanto fingem ser os garantidores da ordem institucional. Não é diferente agora. Com mais
de 100 representantes aboletados nos ministérios e autarquias, os generais são a força mais
visível a sustentar no poder um presidente desprovido de ideias e pudor. Há uma agravante.
Em troca das sinecuras associadas ao poder, o comando joga na lata de lixo os compromissos
com a defesa da soberania e do patrimônio nacional.
O ministro de Minas e Energia, almirante Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Júnior,
estabeleceu um marco simbólico do novíssimo pensamento militar ao tratar das reservas
de urânio, último minério do território nacional com monopólio da União assegurado pela
Constituição. O Brasil, resume Albuquerque Júnior, deveria abrir mão da exploração exclusiva
do mineral, rara fonte de energia, posição que agrada a muitos dos “parceiros” estrangeiros,
a começar pela China.
A relação esquizofrênica do governo atual com os chineses é um capítulo à parte. O Brasil
só não mergulha em um colapso total por causa da voracidade do “Império do Meio”, cujas
compras de produtos nacionais garantem um superávit anual no comércio entre os países de
30 bilhões de dólares. As Forças Armadas, a exemplo do chanceler Ernesto Araújo, parecem
convencidas, porém, de que a China representa a mesma “ameaça” encarnada pela União
Soviética no século XX e que a única maneira de evitar o avanço do Mal seria uma submissão
aos Estados Unidos, única potência capaz de defender os valores ocidentais e cristãos. Em
nome dessa visão de mundo equivocada, a defesa de um projeto nacional torna-se secundária
e démodé.
A posição de Albuquerque Júnior reflete essa virada de 180 graus no pensamento militar
e nacionalista que levou à criação da Petrobras no segundo governo de Getúlio Vargas 66
anos atrás, passando por proezas como a fundação da Embraer há 50 anos. A adesão à
ideologia neoliberal que não vê problema em ceder o patrimônio mineral, energético e
tecnológico a potências estrangeiras por um almirante antes visto como um defensor dos
interesses pátrios, ex-diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, é
representativo dessa metamorfose. A independência dos militares evidenciada, por exemplo,
no rompimento do acordo militar Brasil-Estados Unidos pelo ditador Ernesto Geisel em 1977
foi substituída por uma postura semelhante à de um síndico diante de um condomínio a ser
administrado, sugerem alguns analistas. A prioridade passou a ser adaptar-se a uma certa
realidade econômica e optar por um modelo muito mais gerencial-contábil do que estratégico.
É o que indica também esta resposta dada pelo próprio Albuquerque Júnior
a CartaCapital em 2017, quando perguntado sobre o risco de a onda de desnacionalização
resultar em interferência econômica prejudicial ao patrimônio do pré-sal: “Eu não vou entrar
nesse aspecto econômico de desnacionalização ou não. O aspecto mais importante não é se é
meu ou se é seu, mas, se está aqui, eu tenho que ter condições de defendê-lo e de protegê-lo”.
A mesma postura de administrador de condomínio ou de empresário de olho apenas na
linha de custos do balanço preponderou também na decisão de abrir a base de Alcântara aos
EUA diante da escassez de recursos locais para o programa espacial.
Dados da Marinha evidenciam a importância do urânio brasileiro no cenário mundial. Entre

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os países com as maiores áreas, populações e PIBs, só os Estados Unidos, a Rússia e o Brasil
possuem o mineral e dominam todas as etapas tecnológicas para o uso pacífico da energia
nuclear. O monopólio do minério é estrategicamente importante à segurança energética e
militar, como combustível do submarino de propulsão nuclear em construção pela Marinha,
arma de grande poder de dissuasão, indispensável à defesa eficaz do pré-sal e demais riquezas
marítimas.
A justificativa do ministro para abrir as minas aos estrangeiros é que “não adianta dizer
que esta riqueza é sua se o Brasil não tem condições de explorá-la e protegê-la”, afirmou o
almirante ao jornal Valor. O argumento é singular, pois a história mostra que essas condições
nunca são dadas, mas conquistadas e construídas pelos países em longos processos políticos
e econômicos.
A exploração das minas de urânio de Caetité (BA) e Santa Quitéria (CE) passará, segundo
o ministro, por parcerias externas. “Durante todo esse período de monopólio houve uma
dificuldade muito grande na extração do urânio. A exploração da mina de Caetité realmente
apresenta muitas dificuldades, mas, em vez de definir uma política para reorganizá-la, o que
o governo faz? Propõe a entrega da exploração. É um equívoco. Se está malfeito, então vamos
corrigir em vez de achar que o problema é não ter capital estrangeiro ou capital privado”,
argumenta o deputado federal Carlos Zarattini, do PT.
Segundo Albuquerque Júnior, a China reafirmou à delegação brasileira chefiada pelo
vice-presidente, general Hamilton Mourão, durante visita recente àquele país, ter grande
interesse em todas as áreas de geração de energia, em especial na nuclear. Em atitude inédita,
o presidente Xi Jinping recebeu pessoalmente o vice Mourão e confirmou a sua vinda ao País,
em novembro, para a cúpula dos BRICS. Abrir mão do monopólio do urânio não é, entretanto,
a única solução. “Os chineses queriam muito fazer um acordo para obtenção de urânio, mas o
Brasil, durante o governo Lula, nunca aceitou”, compara o ex-ministro das Relações Exteriores
e da Defesa Celso Amorim. A recusa visou “preservar essa riqueza para nós, porque é muito
estratégica. É complicado você fazer uma parceria e depois não saber bem onde vão parar
as coisas. Nesse caso é o Estado que tem de incorporar. São coisas básicas e você não pode
entregar para outros”. O grande interesse de Pequim deve-se ao fato de os chineses não terem
urânio suficiente. “Não tenho nada contra o chinês, o americano, eu sou a favor do Brasil, só
isso. E certas coisas têm custo, não há como escapar e o Estado tem de arcar com esse custo”,
sublinha Amorim.
O ministro Albuquerque Júnior apoia inclusive a assinatura do protocolo adicional do
Tratado de Não Proliferação Nuclear, que ampliaria as inspeções internacionais às quais o
Brasil teria de se submeter, desde que sejam negociadas salvaguardas. A hipótese, com ou
sem salvaguardas, é repelida por vários ex-colegas de farda do atual ministro. A questão do
monopólio é tão importante que foi um dos motivos do mencionado rompimento do acordo
militar Brasil-Estados Unidos, assinado em 1952 pelos presidentes Getúlio Vargas e Harry
Truman para a defesa do Hemisfério Ocidental. Não foi a única causa da ruptura porque havia
também a questão dos direitos humanos. O presidente Jimmy Carter era muito crítico das
torturas e assassinatos de presos políticos pela ditadura e ao programa nuclear, ameaçando,
inclusive, com sanções. General mais nacionalista das últimas décadas, Geisel foi também

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o primeiro presidente da República a comandar a Petrobras e teria consolidado aquela
visão à frente da estatal quando percebeu a dimensão estratégica e geopolítica do petróleo.
“Diante da realidade da companhia, ele viu a necessidade do reconhecimento de Angola e
da Organização para a Libertação da Palestina porque um dia poderia precisar do petróleo
angolano e dos países árabes”, analisa um ex-diretor da empresa.
Albuquerque Júnior engrossa o coro dos defensores da venda das refinarias da Petrobras,
na contramão de todas as grandes produtoras mundiais estatais de petróleo. Controlar as
estruturas de refino, transporte e distribuição permite, por exemplo, moderar o impacto
interno das variações da cotação externa do petróleo, mas o atual governo aparenta minimizar
o risco de dolarização do preço pago pelo consumidor nos postos de diesel e gasolina.
“Levaram as refinarias a operar com a metade da capacidade, nós estamos importando
derivados idiotamente e o presidente do conselho de administração da Petrobras, almirante
Eduardo Bacellar Leal Ferreira, deveria estar vendo isso e levantando essas questões. Caso as
refinarias sejam vendidas, ele vai ser responsável também, na proporção da importância do
seu cargo. Mas a gente não vê nenhuma visão estratégica em relação a isso. Hoje os Chicago
Boys dominam a Petrobras e fazem o que bem entendem. Estão esquartejando a empresa e,
principalmente, o setor fundamental das refinarias”, critica Zarattini.
Diante de um governo presidido por um capitão e integrado por mais de cem militares,
empenhado na desverticalização e enfraquecimento da Petrobras, parece inverossímil que
um grupo de generais, entre eles Ciro do Espírito Santo Cardoso, Pedro Aurélio de Góis
Monteiro e Horta Barbosa, alarmado com o problema da segurança energética do País, tenha
sido decisivo para a criação dessa empresa por Getúlio Vargas. Foi, no entanto, precisamente
o que ocorreu, registra a história da companhia.
A questão da Petrobras é chave para o futuro do País e das Forças Armadas, mostra um
estudo da Universidade Federal de São Carlos. Quase 70% do crescimento do valor da
transformação industrial entre 1996 e 2010 deve-se a apenas dois grupos de setores, os
intensivos em recursos naturais e os intensivos em escala e 57% resultam da expansão do
complexo petroleiro. Sem a Petrobras verticalizada no centro da cadeia produtiva de óleo
e gás não há, portanto, indústria e este é um assunto capital para os militares, pois “uma
força armada que não tem indústria vai ficar dependente de forças armadas de países com
indústria”, conforme alertou o professor da Universidade Federal do Ceará Manuel Domingos
Neto em debate no site SOS Brasil Soberano. Nesse aspecto, o Brasil configura um caso exótico,
pois já teve uma indústria que possibilitou a criação e o desenvolvimento de empresas líderes
desenvolvedoras de tecnologia própria como a Petrobras e a Embraer, mas desnacionalizou
a última e esfacela a primeira.

Os militares comportam-se como meros síndicos, sem visão estratégica


A falta de visão estratégica abrangente e a atenção quase exclusiva ao aspecto gerencial
provocou, no caso da Embraer, danos estarrecedores à companhia e ao País quando da venda
do principal negócio, o da aviação comercial, para a estadunidense Boeing, mostra um estudo
do economista Marcos José Barbieri Ferreira, coordenador do Laboratório de Estudos das
Indústrias Aeroespaciais e de Defesa da Unicamp. “A operação com a Embraer, a principal

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empresa estratégica de defesa do Brasil e que tem domínio de tecnologias sensíveis utilizadas
em aeronaves, radares, satélites e sistemas de monitoramento foi claramente comandada
pela Boeing e surgiu de um interesse e de uma necessidade da fabricante estadunidense de
entrar no mercado de aeronaves a jato com capacidade abaixo de 150 assentos, no qual ela
não opera”, dispara Ferreira. O ingresso nesse segmento tornou-se crucial para a companhia
dos EUA desde o momento em que a sua maior competidora, a europeia Airbus, fez uma joint
venture com a canadense Bombardier para a produção de aeronaves comerciais do porte das
fabricadas pela Embraer.
A comparação dos dois negócios revela absurdos da transação com a empresa brasileira,
autorizada pela Força Aérea e pelo governo Bolsonaro. “Em primeiro lugar, para a Bombardier
o negócio da aviação comercial é pouco representativo. Enquanto na Embraer essa área
representa de 58% a 60% da receita (e 90% do lucro), para a Bombardier significa cerca
de 25% da receita. Além disso, o acordo com a Airbus envolveu um projeto específico, o do
avião inicialmente denominado C-Series, que teve muitos problemas financeiros e algumas
dificuldades operacionais. Ao contrário do caso da Embraer, que tem uma família de jatos no
mercado desde 2004 e que são um sucesso mundial, com quase 1,5 mil unidades vendidas e
é líder global na categoria”, detalha Ferreira.
Há outros diferenciais importantes, prossegue o economista. “Para a Bombardier, a aviação
comercial não é importante. Para a Embraer, é o principal negócio. Para a canadense, esse
segmento era deficitário, enquanto para a Embraer é o grande sucesso. A empresa conquistou
60% do mercado mundial nesse segmento, o que não é pouca coisa. Um ponto importante é
como foi feita cada operação. No Canadá criou-se uma joint venture com sede nesse país, na
qual a Bombardier tem 33,55% do capital e o governo de Quebec, 16,44%, enquanto a Airbus
tem 50,01%. Aqui a Boeing tem 80% do capital e a Embraer, 20%. Olha a diferença. E há ainda
a questão mais importante, que é o controle da joint venture. No caso canadense, há quatro
integrantes do conselho de administração indicados pela Airbus, dois pela Bombardier e um
pelo governo de Quebec. Lá há de fato uma joint venture e o controle sobre o que é produzido,
onde e de que forma é compartilhado. Aqui nem o governo federal nem o de São Paulo, este o
homólogo do de Quebec, entrou e a Embraer terá direito a apenas um integrante no conselho,
observador, sem direito a voto.”
A decisão brasileira chega a ser desconcertante. “Mesmo a Embraer numa situação muito
melhor que a Bombardier, por que não se fez um acordo ao menos tão bom quanto o dessa
empresa?”, indaga Ferreira. Claramente, diz, no caso da Bombardier e da Airbus houve a
constituição de uma joint venture e, aqui, uma aquisição dos negócios da aviação comercial da
Embraer e isso fica muito claro no novo nome dado à empresa, Boeing Brasil – Commercial,
que reflete com precisão a operação feita. Ela deixa o negócio da aviação comercial, seu core
business, que passa a ser um pedaço da Boeing. Agora o centro das decisões da Embraer não
é no Brasil, mas nos EUA. O que vai ser produzido, desenvolvido, de que maneira será alocada
a produção, como é que vai ser feito, isso tem a ver com as decisões que vão ser tomadas de
acordo com a estratégia e os interesses da Boeing.
O que restou sob controle brasileiro consiste essencialmente nos negócios de aviação
militar e executiva e representa cerca de 10% do lucro e em torno de 40% da receita, calcula

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Ferreira. A aviação militar poderá beneficiar-se no aspecto mercadológico com a transferência
da produção para os EUA e a associação ao nome Boeing, mas a aviação executiva continuará
a enfrentar as dificuldades de um mercado internacional extremamente disputado. “O maior
problema dessa operação é que vão cindir a empresa, desmontar uma companhia única e
as unidades produtivas, os centros de pesquisa mais avançados vão ficar com a Boeing, não
com a Embraer. Como dividir, por exemplo, o laboratório de realidade virtual? A capacidade
de inovação e desenvolvimento da Embraer que vai sobreviver fora da área comercial ficará
altamente comprometida. Há uma sinergia muito grande entre as várias áreas”, ressalta
Ferreira.
Entre o desmonte acelerado e a desnacionalização da estrutura produtiva e de recursos
minerais do País, a onda de tensões e o aumento da violência estimulados pela ação
governamental desastrosa em todas as frentes multiplicam-se as aparições na mídia do
ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, na lacuna
deixada pelo general Mourão após sucessivos ataques do bolsonarismo, preocupado com a
acolhida do vice-presidente por parcelas do mercado. Autor de tiradas dignas de um Olavo
de Carvalho, a exemplo da comparação da liberação da venda de fuzis à livre comercialização
de geladeiras e televisores, Heleno parece às vezes tão exótico quanto seu chefe, apesar da
patente mais alta. No fim do ano passado, referindo-se ao governo Bolsonaro, disparou outra
pérola: “Se esse troço aí der errado, a única coisa boa da minha geração foi ter visto o Pelé
jogar”.
No Comando Militar da Amazônia entre 2007 e 2009, mostrou uma visão nacionalista a
respeito da necessidade de defesa desse território. Com a decisão do STF, em 2013, favorável à
manutenção da reserva indígena Raposa Serra do Sol homologada antes pelo presidente Lula,
Heleno voltou-se, entretanto, contra o governo por entender que aquela proteção abria espaço
para um ataque aos interesses nacionais ao criar territórios autônomos no País. Na reserva
desde 2011, teve papel ativo no impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Com uma visão de
soberania restrita, ao que tudo indica, à questão territorial, Heleno é um dos responsáveis pela
política governamental de desmanche do Brasil e de omissão no enfrentamento dos graves
problemas da economia e do desemprego, enquanto aposta todas as suas fichas no projeto de
reforma da Previdência que arrisca, entretanto, chegar desidratado à votação pelo Congresso
e, além disso, só resultará em economia daqui a anos. “Embora tenha chegado a general de
quatro estrelas e exerça uma certa liderança na tropa, ele não representa o pensamento mais
equilibrado do Alto-Comando”, analisa um militar que trabalhou com o atual ministro-chefe
do GSI.
No contexto atual de dilapidação acelerada, custa acreditar que a economia brasileira
chegou a ter, no início dos anos 1970, praticamente o mesmo perfil estrutural da indústria
dos países desenvolvidos. A proeza fez parte do chamado “milagre econômico”, período de
crescimento significativo durante a ditadura. O avanço só foi possível porque contava com
a base industrial e as principais instituições do capitalismo brasileiro criadas por Getúlio
Vargas, entre os anos 1940 e 1950, e desenvolvidas por Juscelino Kubitschek, entre a última
década mencionada e o início dos anos 1960. O aço da Companhia Siderúrgica Nacional, o
combustível da Petrobras, o financiamento de longo prazo do então BNDE e a Consolidação

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das Leis do Trabalho, entre outros requisitos providos no período varguista, colocaram
a economia no rumo da modernidade. Kubitschek levou adiante a tarefa, ao impulsionar a
indústria automobilística e grandes obras públicas multiplicadoras de investimentos e postos
de trabalho. Nesse período, surgiram algumas das grandes construtoras nacionais que seriam
beneficiadas com recursos públicos nos anos 1970, realizadoras de empreendimentos de
porte no Brasil e no resto do mundo. “Em 1973, por exemplo, o peso do valor adicionado pela
manufatura ao PIB foi de 29,8%, superior ao da França, de 22,1% e ao dos Estados Unidos, de
21,9%. A indústria doméstica contribuiu com 39% do PIB e a francesa, com 32,4%. A produção
de máquinas, equipamentos e produtos metalúrgicos no País era superior a 30%, inferior à
dos Estados Unidos, de 49,5%, mas quase igual à da Europa Ocidental”, segundo estudo da
Facamp, de Campinas, que mostra o grande potencial da estrutura econômica doméstica.
O êxito econômico do regime militar não o isenta, é óbvio, da responsabilidade pelo aumento
da corrupção praticada pelas construtoras, que prosseguiu nos governos civis. Assim como o
sucesso na promoção do crescimento não o exime da destinação de dinheiro público a obras
questionáveis como a Rodovia Transamazônica e o “Minhocão” paulistano. Nada justifica
também a violência do período e o mesmo critério deve ser usado para discernir entre a
barbárie do Estado Novo e todos os efeitos positivos da edificação do capitalismo nativo sob
Vargas.
Os feitos econômicos dos períodos nacionalistas dos militares deveriam inspirar o comando
atual do País quando se acumulam indícios de que o “troço”, na designação do general Heleno,
tem tudo para não dar certo.

CARLOS DRUMMOND – Carta Capital, 3 de julho.

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PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 384, DE 2016
Projeto de Lei que altera a Lei da reforma agrária (Lei 8629/1993) para facultar ao Incra
autorizar o beneficiário da reforma agrária a celebrar contratos com terceiros objetivando a
exploração do potencial para produção de energia eólica ou solar nos imóveis rurais.

EMENDA MODIFICATIVA
O Art. 1º do PLS nº 384, de 2016, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 1º...................................................................................
“Art. 21. ................................................................................
§1º. Nos imóveis rurais com potencial para produção de energia renovável, o Incra autorizará
ao beneficiário da reforma agrária a celebração de contratos com terceiros, com prioridade
para as cooperativas ou associações de trabalhadores assentados, para a exploração do
referido potencial.
§2º A construção ou instalação da fonte geradora nos imóveis rurais dos beneficiários
de reforma agrária, bem como das servidões necessárias para o seu pleno funcionamento,
deverão ser autorizadas por cooperativas ou associações dos trabalhadores assentados.” (NR)

JUSTIFICAÇÃO
Sem prejuízo dos propósitos originais da iniciativa do ilustre Senador José Agripino
pretende-se, com a presente Emenda, ampliar o escopo da proposição de modo a abranger
outras formas de energia além da solar e eólica.
De outra parte, levando em conta que a propositura está voltada para a regulação da
exploração de energia exclusivamente nas áreas dos assentamentos da reforma agrária,
julgamos pertinente conferir prioridade ao desenvolvimento dessas atividades às cooperativas
e associações dos próprios trabalhadores assentados, obviamente, desde que enquadradas
nos critérios do órgão regulador.

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O Governo Bolsonaro e as Políticas para o Agrário – Um Resumo
Gerson Teixeira
05/07/2019
Este texto tenta resumir os desmontes já praticados pelo governo Bolsonaro nas políticas
e no aparato institucional que atendem os setores sociais majoritários das áreas rurais do
país. Nada do que já foi praticado por Bolsonaro pode gerar surpresa, ou mesmo indignação,
exceto, quando muito, o tamanho do estrago em prazo tão sumário. Importa dimensionar e
avaliar a intensidade dos retrocessos já consagrados, e das ameaças potenciais para avaliar as
formas de enfrentamento e resistência.
Antes, sem a pretensão da inovação, todavia, à título de alerta, chamo a atenção para um
fenômeno macro, que tende a assumir proporções cada vez mais superlativas no Brasil em
decorrência do projeto brasileiro, não simplesmente de protagonismo, mas de liderança no
mercado mundial de commodities agropecuárias.
Por razões cujas explorações não cabem neste texto, os grandes players desse mercado cada
vez mais recorrem às subvenções públicas para a manutenção da sustentabilidade econômica
das suas fazendas. Os subsídios à agricultura são legítimos pelas funções estratégicas do setor
para a segurança alimentar das Nações. Contudo, os países com maiores portes econômicos,
com tradição agrícola, têm utilizado essa prática em escala que além de provocar distorções
no comércio, punem severamente os países mais pobres que ficam impedidos de alavancarem
as respectivas agriculturas.
Em 2017 a China despendeu US$ 239.3 bilhões em subsídios para a sua agricultura. No
mesmo ano, os EUA gastaram US$ 96.2 bilhões; a União Européia, US$ 104.5 bilhões; os países
da OCDE, US$ 315.5 bilhões e o Brasil, US$ 7 bilhões.
Vejam que os 7 bilhões de dólares com subvenções no Brasil (em torno de 27 bi de Reais) não
são desprezíveis para a realidade brasileira. Mas o são, para o enfrentamento da concorrência
no mercado agrícola internacional, em especial, para quem tem a ambição de liderança nesse
mercado. Uma simulação tecnicamente grosseira, ignorando a ‘concentração’ e outros fatores
aponta que nos EUA os subsídios agrícolas por fazenda (2 milhões de fazendas) equivalem a
cerca de 48 mil dólares, enquanto no Brasil (supondo o mesmo nº de fazendas que nos EUA,
num erro, para menor, contudo, maiorno valor) os subsídios agrícolas equivaleriam a 3.500
dólares por fazenda, ou seja, 14 vezes inferior que nos EUA.
ENTÃO, COMO ENFRENTAR OS CONCORRENTES AMERICANOS? Além da precarização
da mão de obra, ‘inimputabilidade’ por crimes ambientais, e ESSENCIALMENTE, com mais
terra.
Assim, a ‘sede’ por terras pelos ruralistas não traduz apenas um ‘desvio congênito’ mas,
também, impulso de uma racionalidade econômica perversa visando capacidade competitiva:
ganhos de escala/apropriação da renda fundiária. Daí toda a investida dos ruralistas pela
privatização das terras da reforma agrária; redução do status da proteção e redução física
das unidades de conservação; investidas nas terras indígenas e quilombolas. Adicione-se,
ainda, a “necessidade” das subvenções aos agrotóxicos e a necessidade da oferta de genéricos
desses venenos (o que vem sendo feito atualmente em larga escala) para evitar quebras de

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produtividade e baratear o custo dos fazendeiros.
Nesse contexto, é importante frisar que, sem desprezar os ganhos de produtividade ainda
observados em regiões do país, esse fator vem perdendo fôlego em todo o mundo e assim
despotencializando os seus e feitos na competitividade. A figura abaixo mostra que, nos EUA,
a produtividade total dos fatores na agricultura há um bom tempo se mantém em tendência
de estabilidade:

Fonte: USDA – Elaboração: Assessoria Técnica da Lid. do PT na CD

Este projeto estratégico brasileiro (fazendão do mundo) tem o marco zero na década de
1990, e vem ganhando impulsos notáveis, independente do governo. A diferença, por exemplo,
entre os governos do PT e demais (em especial, com o atual) está na decisão, ou não, por
políticas compensatórias e mitigatórias, o que ocorreu de forma importante, no plano social,
notadamente nos governos Lula.
O presente governo certamente promoverá um salto significativo do projeto estratégico
do agronegócio. As principais medidas, para os grandes produtores, foram anunciadas com
pouca visibilidade no último ‘Plano Safra’. Envolvem as áreas do crédito e a do seguro agrícola;
no primeiro caso, constarão de medida legislativa a ser editada proximamente. Sobre o
crédito rural oficial, nas circunstâncias atuais das finanças públicas, chegou ao teto, tanto
a oferta de recursos quanto a capacidade fiscal para sustentar as subvenções, aos grandes.
Como agravante, não há como contornar a extrema concentração do instrumento. A este
respeito, vale assinalar que, segundo o BACEN, atualmente, 0.2% do número de contratos
em operações acima de R$ 3 milhões concentrara o equivalente a 25% dos recursos totais.
Em média, apenas 600 mil agricultores têm acesso ao crédito rural oficial no Brasil para um
universo de mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários. Inclusive, nos últimos
anos, constata-se a trajetória de redução no número de contratos conforme a figura a seguir:

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Fonte: BCB – Elaboração: assessoria da Lid. do PT na CD

Para enfrentar este sério obstáculo ao projeto estratégico, notadamente num momento onde
também ocorre a retração nas operações de ‘barter’ (crédito das tradings aos produtores)
e enquanto se aguarda as condições macroeconômicas que viabilizem taxas de juros
compatíveis com as atividades nas fazendas, para a privatização plena e direta do crédito
aos grandes, o governo anunciou a flexibilização/ampliação de instrumentos como a emissão
dos títulos CRA (Certificado de Recebíveis do Agronegócio) e CDCA (Certificado de Crédito
do Agronegócio) em moeda estrangeira. Por suposto, o Tesouro bancará os riscos cambiais.
Não sei como irão fazer, mas pretendem a contratação do crédito no exterior a taxas locais,
insignificativas como ocorre na maior parte das grandes economias. Anunciaram, também, o
Fundo de Aval Fraterno permitindo que os produtores rurais se reúnam em pequenos grupos,
formando um fundo financeiro como forma de garantia para novos créditos junto à rede
bancária. O sistema de aval cruzado teria grupos de 10 a 12 produtores que se avalizariam
entre si. Além do produtor, indústria, banco e tesouro também participariam, já que estes
últimos têm a intenção de mitigar os riscos de não pagamento por parte dos credores. E,
ainda, o Congresso está em fase final de aprovação do PL sobre o chamado “patrimônio de
afetação” - que permitirá que produtores deem como garantia frações do imóvel. Junto com
essas mudanças no crédito, o governo anunciou R$ 1 bilhão para a subvenção do seguro rural,
o que significará um incremento vultoso; na safra passada foram 440 milhões de Reais. Note-
se que para viabilizar essa medida o governo anunciou a redução em quase 300 milhões dos
recursos programados para o Seguro Safra da Ag. Familiar.
As considerações preliminares acima têm o propósito de chamar a atenção para a
necessidade urgente de debates pelas entidades e setores da academia do campo progressista
sobre esses fenômenos estruturais, de modo que permitam a compreensão do novo momento

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histórico no qual está inserida a grande exploração agropecuária com toda a complexidade
das suas relações globais e efeitos sistêmicos para a economia e a sociedade brasileira.
Os comentários seguintes sobre as principais ações do governo Bolsonaro mostram-se em
sintonia fina com o projeto estratégico acima mencionado.
1. A desconstituição do aparato institucional e das políticas para a reforma agrária e
agricultura familiar teve início com o golpe de 2016. O governo Temer extinguiu o MDA e
editou a MPV 759 (Lei nº 13.465, de 2017) que estabeleceu as condições para a privatização
das terras dos assentados, e para a legitimação das terras da União (inclusive ‘grilos’) sem as
condicionalidades socioambientais antes requeridas;
2. Já neste contexto, a política de desconstrução do governo Bolsonaro na temática agrária
tem início no 1º dia do seu governo.
3. Por meio da Medida Provisória nº 870 de 1º de janeiro (Lei nº 13.844, de 2019) Bolsonaro
extinguiu a Secretaria Especial de Agricultura Familiar vinculada à PR, e transferiu as suas
atribuições na reforma agrária, agricultura familiar, e na regularização das terras indígenas e
quilombolas, justamente ao MAPA. Isto, com o agravante de o Ministério ter como autoridades
máximas, a ex-deputada Tereza Cristina, liderança das mais dogmáticas entre os ruralistas, e
o ex-presidente da UDR;
4. Objetivamente as medidas traduziram a decisão de confinar, nos limites da cerca dos
ruralistas, todas as competências sobre essas áreas que confrontam os interesses do
agronegócio. Em outros termos, foi decretada a paralisação e mesmo a reversão de medidas
nas temáticas indígena, quilombola e da reforma agrária, e assegurada a inserção plena da
‘agricultura familiar’ na lógica do agronegócio;
5. Com essa configuração institucional, Bolsonaro sacramentou a promessa de campanha de
demarcação zero de terras indígenas e quilombolas. Na reforma agrária, a reversão está em
curso. O general do Incra assegurou que ‘titulará na marra’ todos os assentamentos!
6. Junto com essas mudanças, a citada Medida Provisória efetivou a migração, do MMA
também para o MAPA, do Sistema Florestal Brasileiro, para fixar o controle do CAR pelos
ruralistas. Para deixar o propósito bem claro, designou Valdir Colatto para a condução do
órgão;
7. Da mesma forma, no 1º dia de governo, a Ministra da Agricultura passou a implementar o
ritmo sem paralel0 na liberação de agrotóxicos. A figura a seguir retrata o número de venenos
liberados no período de 1º de janeiro a 24 de junho, de 2005 a 2019, e demonstra que desde
o golpe a liberação dos agrotóxicos passou a disparar no Brasil:

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8. Esse ‘pacote’ institucional, somado à absoluta flexibilização nos agrotóxicos, e à busca
incessante do acesso ao mercado externo tem sido a encomenda entregue pela Ministra
da Agricultura ao agronegócio, na impossibilidade de viabilizar o patamar das subvenções
demandada pelo setor;
9. Com a MPV 871, de 18 de janeiro (Lei nº 13.846, de 2019) o governo deu início à reforma
da previdência pelos trabalhadores rurais e segurados especiais. Excluiu de forma absoluta os
sindicatos dos segurados especiais e as colônias de pescadores de qualquer participação do
processo, criando o CNIS - Cadastro Nacional de Informações Sociais, como único instrumento
de comprovação da condição e do exercício da atividade rural do segurado especial que passa
a funcionar a partir de 2023. Com isto, centenas de milhares de trabalhadores habilitados
ao acesso aos benefícios da seguridade graças à capilaridade e ao papel exercido pelos
sindicatos serão excluídos do sistema. Combinado com a PEC 06, que desconstitucionaliza
os direitos dos trabalhadores rurais, mantém as pensões abaixo do salário mínimo quando
o pensionista tiver outra renda, e nova redução quando houver cumulação de benefícios, o
governo Bolsonaro promove processo de subtração de direitos desses segmentos sociais do
campo;
10. A propósito, em cima da hora a bancada ruralista obteve uma dupla vitória na definição
do texto da PEC da previdência aprovado na Comissão Especial. Suprimiram o dispositivo
que criava uma tributação previdenciária sobre as exportações do agro, e excluíram outro
dispositivo que determinava a impossibilidade de perdão do passivo do Funrural, o que
significa que em breve será editada MPV dispondo sobre a remissão desse passivo como já
havia sido prometido por Bolsonaro;
11. O quadro a seguir, com dados oficiais da execução orçamentária de 02 de julho, resume os
seis meses do governo Bolsonaro nos temas anteriormente tratados:

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12. Para a agricultura familiar, especificamente, o mais grave ainda estava por vir. E ocorreu
em 18 de junho com o lançamento do Plano Safra 2019/2020. Com o Plano, a Ministra da
Agricultura consagrou a abolição da categoria “agricultura familiar” conforme já havia
antecipado na solenidade de posse da diretoria da ANATER;
13. O pretexto para a decisão: a existência de uma ‘única agricultura’ no Brasil;

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14. Na realidade, um ardil político que representou o marco para o restabelecimento de
uma realidade em grande parte já superada pelas lutas populares, de exclusão do acesso às
políticas públicas por parte dos trabalhadores e trabalhadoras rurais do país;
15. A extinção do ‘Plano Safra da Agricultura familiar’ resultou no tratamento a este segmento
na periferia das políticas para a agricultura do agronegócio;
16. A partir do novo Plano Safra, o ‘ex-agricultor familiar’, agora identificado por uma elástica
renda anual de até R$ 415 mil, passará a ser substituído no acesso aos recursos do Pronaf por
agricultores de maiores portes (a CNA agradece);
17. o Plano manteve os recursos anteriores, e aumentou as taxas de juros para os ‘pequenos’.
Enquanto isso, o governo manteve inalteradas as taxas para os médios, e conforme dito,
antes, vem adotando as medidas para o acesso dos grandes agricultores a fontes de mercado,
inclusive, em moda estrangeira;
18. Como um Robin Hood às avessas, Bolsonaro anunciou 1 bilhão de Reais a título de
subvenções para o seguro agrícola aos agricultores mais abastados. Em contrapartida,
anunciou a redução em quase 300 milhões de Reais, das dotações previstas ao programa
garantia safra, que socorre os agricultores familiares economicamente mais vulneráveis nos
casos de sinistros climáticos;
19. Após defender na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados que sem assistência
técnica restaria a pobreza para os ‘pequenos agricultores’, a Ministra da Agricultura cortou
praticamente 100% dos recursos do orçamento da União destinados a essa atividade. Com o
‘Plano Safra’ a Ministra inovou ao incluir a atividade entre os itens financiáveis pelo Pronaf
numa ofensa direta ao que dispõe o art. 17 da Lei Agrícola Nacional que obriga a assistência
técnica pública e gratuita aos agricultores familiares.
20. Em suma: o governo Bolsonaro já promoveu o ‘isolamento’ das políticas para os setores
que constituem óbices para o agronegócio. Ao mesmo tempo está viabilizando oferta ilimitada,
de baixíssimo custo, de recursos para o crédito aos grandes produtores, além da expansão
significativa do seguro rural com elevados subsídios. Tudo isto, afora outras circunstâncias
tecnológicas e institucionais favoráveis , em particular, num contexto de permissividades
na apropriação da terra, tem como resultante a configuração das condições para o grande
salto do agronegócio brasileiro no mercado externo. Não é à toa, a meta estabelecida
pelo governo de o Brasil dominar 10% do mercado agrícola internacional até o fim do atual
mandato de Bolsonaro.

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Greve Geral
MST REALIZA MAIS DE 50 TRANCAMENTOS DE BRS DURANTE A GREVE GERAL

Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) até às


13h, a estimava que 45 milhões de trabalhadores tenham
participado de atos ou paralisações

14 de junho 2019

Da Página do MST 

 A Greve Geral contra a reforma da Previdência proposta pelo governo de Jair Bolsonaro
(PSL) parou o Brasil nessa sexta-feira (14). Mobilizações das mais diversas aconteceram em
todos os 26 estados do país.
A greve, organizada por movimentos populares, movimento estudantil, centrais sindicais e
diversas categorias profissionais, também acontece contra os cortes em programas em áreas
vitais para o desenvolvimento do país, como a educação.
 Segundo a Central Única dos Trabalhadores (CUT) até às 13h, a estimava que 45 milhões
de trabalhadores tenham participado de atos ou paralisações.
 O MST esteve presente em grande parte delas realizando trancamentos de rodovias,
ocupações de órgãos públicos e latifúndios, manifestações e atos em geral. 

Abaixo acompanhe as ações feitas pelo MST:  

RIO DE JANEIRO
Em Campos dos Goytacazes, movimentos populares, movimento estudantil e trabalhadores
sindicais trancaram a BR-101 para, junto com todo o Brasil, dizer Não à Reforma da Previdência
e os cortes da educação. Além disso, um grande ato na Candelária reuniu mais de 50 mil
pessoas, entre eles integrantes do MST.  

RIO GRANDE DO NORTE


Manifestantes trancaram o acesso ao Pólo Industrial de Natal. Além disso, a BR-406
foi trancada em três pontos: João Câmara, Ceará Mirim e Massaranduba. Na BR-101 os
trancamentos foram feitos no sentido Touros e litoral norte. Manifestações também foram
realizadas na BR-222 e 226 em Tangará, e na BR-304, em Mossoró no sentido Fortaleza.

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RIO GRANDE DO SUL
A garagem Medianeira Transportes Urbanos de Ijuí, na região Noroeste do RS amanheceu
bloqueada por manifestantes sexta-feira. Na região Metropolitana de Porto Alegre, o trancaço
foi realizado em Eldorado do Sul. A garagem da Anversa e Stadtbus, em Bagé, na Campanha
gaúcha também foi paralisada, além disso, acontece na região o trancaço da BR-293, em
Candiota.
Logo no início da manhã, um piquete na garagem Coleurb de Passo Fundo, foi feito por
militantes. Trancamentos também foram registrados em Manoel Viana, na RS-377, na BR-386
em Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre (RS).
Na BR-285 em Bossoroca, na região das Missões do RS, na ERS-285 em Lagoa Vermelha, em
Piratini, na BR-239, no trevo de acesso a São Gabriel e na esquina Boa Vista da RS-468, que
liga Santo Augusto a Três Passos. Também foram realizadas ações em Viamão, Encruzilhada
do Sul, Santana do Livramento, Pelotas e Sarandi. 

BAHIA
Em Juazeiro, logo no início do dia foram realizados trancamentos na BR-235, na BR-101
nos trechos de Eunápolis e   no município de Wenceslau Guimarães, além disso,   a Ponte
Presidente Dutra foi trancada com cerca de 5000 militantes.
Mobilizações também foram registradas em Porto, Itabela, Itamaraju, Teixeira de Freitas
e  Mucuri. Já no nordeste do estado, o trancamento foi feito em Abaré, na BR-116. Na região sul
o bloqueio foi realizado na BR-101, em Arataca.
Ações também foram realizadas em conjunto com a Frente Brasil Popular em Itabuna, na
Chapada Diamantina, Iramaia, Valença, Birataia, Vitória da Conquista, Alagoinhas, Feira de
Santana.
Em Salvador aconteceu uma caminhada na Bonocô, São Francisco, Cariranha, Bom Jesus da
Lapa e Malhada.
Fechamentos também foram registrados na BR-407.  Já em Porto Seguro mais de 1500
pessoas caminharam em protesto pelas ruas da cidade. 

PARÁ
A BR-155 foi bloqueada em Eldorado do Carajás em denuncia contra a decisão do juiz da
Vara Agrária de Marabá, Amarildo José Mazuti, que ordenou o despejo das famílias Sem Terra
do acampamento Dalcidio Jurandir de Daniel Dantas).
Já em Belém mais de 12 mil trabalhadores e trabalhadoras realizaram uma marcha ruas
denunciando os cortes na educação pública e contra a Reforma da Previdência.
 
PARANÁ
Em Maringá, trabalhadores paralisam o transporte público desde às 5h da manhã no
terminal rodoviário. Em Cascavel, aproximadamente cinco mil pessoas do campo e da cidade

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estão mobilizados no centro da cidade em um ato unificado, contra o desmonte da Previdência
e contra os cortes públicos, a ação é organizada pelo Comitê Unificado pela Luta contra a
Reforma da Previdência, que reúne pastorais, entidades sindicais, movimentos sociais e
partidos.
Em Londrina, maior cidade do norte paranaense, uma mobilização em adesão à Greve Geral
paralisou diversas categorias, as mobilizações contaram com forte participação do MST. A
Praça Raposo Tavares, no Centro de Maringá (PR), ficou lotada com a mobilização da Greve
Geral. Cerca de 10 mil pessoas participam da ação.
“Hoje a cidade está parada mobilizada contra essa reforma que prevê destruir com a
aposentadoria dos trabalhadores brasileiros. Nós do MST estamos aqui em maringá nos
somando a essa luta, para que a gente possa construir uma nação mais soberana e justa, a
partir da luta unitária dos trabalhadores”, garante João Flávio, dirigente estadual do MST-PR.
No centro de Curitiba, militantes do MST, de sindicatos e partidos fizeram uma limpeza
simbólica no Ministério Público Federal. 
Em Rio Bonito do Iguaçu, região centro do Paraná, também foram para as ruas contra a
reforma da previdência e os cortes na Educação. 
O ato aconteceu nesta manhã, na praça Santo Antônio Rio, com grande participação das
famílias integrantes do Acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio e da Escola Itinerante
da comunicação, chamada Herdeiros do Saber. 
 
SANTA CATARINA 
Uma grande marcha pela Orla de Florianópolis reuniu mais de 20 mil de pessoas ao final
do dia.Em Dionísio Cerqueira, uma caminhada reuniu trabalhadores do campo e da cidade,
movimentos populares e sindicatos em caminhada pelo centro da cidade. Já no Planalto
Serrano Catarinense, mais de 500 pessoas fizeram um ato no trevo entre as BR-116 e BR-470,
em São Cristóvão do Sul. 
 
PERNAMBUCO
Os trancamentos aconteceram nas BR-232 em Jaboatão (acesso do Recife e sentido
agreste), Gravatá (sentido Caruaru e sentido Recife), São Caetano (sentido Caruaru e sentido
Pesqueira) Pesqueira (sentido Arcoverde). BR-101 em Escada (acesso Recife e sentido mata
norte), Igarassu, Metalúrgicos – Sindmetal, Goiana (sentido Recife e sentido João Pessoa), BR-
104 (sentido Caruaru e sentido Campina Grande), PE-71 em Amaragi (Amaragi até Gravatá),
PE-120 na cidade de Bonito no trevo que liga Palmares e Caruaru. BR-316 em Petrolândia, na
Ponte que liga Petrolina a Juazeiro. Também foi realizada uma ocupação na fazenda Riacho
Fundo com 250 famílias em Lagoa Grande no sertão do Rio São Francisco. Em Ouricuri, no
sertão do estado, uma manifestação tomou grande parte das ruas do município.

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SÃO PAULO 
São Paulo
Na capital foi realizado um bloqueio total na avenida 23 de Maio, na altura da Praça das
Bandeiras. Além disso, um grande ato unificado reuniu 50 mil pessoas  em frente à sede da
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Campinas
Foram feitos dois pontos de bloqueio na Rodovia Anhanguera. Um na entrada da cidade
pela Lins da Cunha e outro no Trevo da Bosh (km 97).
 
Vinhedo
200 pessoas participam da mobilização que bloqueia a entrada da fábrica Saint-Gobain.
 
Bauru
Em Bauru, centrais sindicais e movimentos populares dialogaram com condutores do
transporte coletivo do município. Desde às 5h da manhã de hoje, as duas garagens da cidade
estão paralisadas. Em frente à Câmara Municipal de Bauru, cerca de cinco mil pessoas
participaram do ato unificado contra a Reforma da Previdência.
 
Itapeva
Empresas de transporte estão todas paralisadas no município. Os ônibus das empresas
Jundiá, Transpen e Jodi estão nas garagens. A empresa Benfica amanheceu paralisada, mas
foi liberada pela polícia. Além dessas, a Transportadora Loureiro (terceirizada da Coca Cola)
também está com os trabalhos parados. Ao final do dia, cerca de 350 pessoas realizaram uma
marcha pela centro da cidade.
 
Sorocaba
Dezenas de pessoas, entre motoristas da linha municipal de Sorocaba, movimentos
populares e apoiadores realizaram um ato no centro da cidade.
 
São José do Rio Preto
Em São José de Rio Preto mais de 500 pessoas participaram da marcha na cidade Os
manifestantes caminharam da sede do INSS até o centro da cidade.
 
Presidente Prudente
Centrais e movimentos paralisam todo o transporte coletivo de Presidente Prudente.
 
Marília 
Durante toda a semana foi realizada panfletagem em diversos bairros do município.
Hoje, aconteceu uma marcha que terminou com ato político no centro da cidade. A atividade
reuniu em torno de 1500 pessoas.

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CEARÁ
No Ceará 57 municípios aderiram à greve Geral. Foram realizados trancamentos na BR-116,
no município de Barro, BR-020, em Canindé e na BR-020 trancada no Município de Madalena.
Na capital cearense um ato unificado reuniu 100 mil pessoas nas ruas do centro. Além disso,
o MST participou de ocupações em agências do INSS e trancamento de garagens.
 O MST também ocupou a área da mineradora Globest, que é uma mineradora que explora
minério de ferro no município de Quiterianópolis, na serra do Besouro, desde 2010. A empresa
foi autuada 12 vezes pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e duas vezes
pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama) por uma
série de crimes ambientais que teriam sido cometidos próximos ao longo do Rio Poti.

VITÓRIA
Na manhã dessa sexta (14), dezenas de militantes paralisaram a BR-101 em São Mateus. Os
portões da UFES e do IFES também estão fechados. Ações unificadas entre MST, MPA, MAB, as
centrais sindicais e sindicatos também estão sendo realizadas em todo estado. Uma ocupação
em uma área do governo abandonada pela Petrobrás em Linhares, no norte capixaba também
foi realizada no início dessa manhã por cerca de 100 famílias 
 
MINAS GERAIS
Paralisações fora feitas no Anel Rodoviário, km 538, também houve protesto na MG-050,
altura do km 90, em Juatuba, fechado nos dois sentidos. Em Congonhas, na Região Central,
manifestantes interditaram o km 611 da BR-040 nos dois sentidos.
Também houve protesto na BR-381, em Betim. A Avenida Antônio Carlos foi fechada
por manifestantes no sentido Centro, tanto na mista quanto na pista do Move na altura do
campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os Sem Terra também
participaram de atos em Juiz de Fora e na capital Belo Horizonte. 

ALAGOAS
Bloqueios foram realizados na BR-316, na cidade de Satuba, na AL-424, na cidade de Pilar, na
BR 101, na cidade de Teotônio Vilela, BR-104, em União dos Palmares. A paralisação também
acontece no CEPA, maior complexo educacional de Alagoas e na Universidade Federal de
Alagoas (UFAL), em Maceió. Atos também foram realizados em Benedito Bentes e na cidade
de Delmiro Gouveia, no Alto Sertão de Alagoas.
 
GOIÁS
Em Goiás juntamente com sindicatos e movimentos populares, o MST participou de ações
nas cidades de Rio Verde, Formosa, Crixás, Jataí, Catalão e Goiânia.

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MATO GROSSO DO SUL
Um ato em Dourados reuniu centenas de pessoas contra a Reforma da Previdência. Os
manifestantes seguiram em caminhada pelas ruas da cidade durante toda a manhã.
 
MARANHÃO
Em Imperatriz, os estudantes do curso de agronomia realizaram atos no município, já na
BR-135 um trancaço foi feito durante toda a manhã no trecho de acesso à São Luís e na BR-
222 em Itapicuru Mirim.
 
TOCANTINS
Em Ouro Preto D’ Oeste um grande foi realizado um ato em conjunto com centrais sindicais
e a Frente Brasil Popular na capital do estado. Manifestações também foram registradas na
cidade de Augustinópolis, região do  Bico do Papagaio. 
 
RONDÔNIA
Integrantes do MST e de organizações populares realizaram atos em Rolim de Moura
contra a Reforma da Previdência. Grande parte do município aderiu as paralisações
desta sexta-feira.  Em Jaru trabalhadores e trabalhadoras organizados pela Frente Brasil
Popular concentraram-se na rodoviária dos Colonos para uma aula pública sobre a reforma
de Previdência.

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