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À CNN, Lira diz que rever privatização da Eletrobras é preocupante / Em conversa de

Nova York, presidente da Câmara falou sobre intenção do governo de rever


capitalização da companhia, sobre novo marco fiscal e também da relação do
Congresso com o governo – CnnBrasil 7/5

Mariana Janjácomoda CNN*

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse em entrevista à CNN neste
domingo (7), em Nova York, que o projeto que permitiu o processo de capitalização da
Eletrobras, em 2022, foi profundamente debatido no Congresso, traz ganhos para a
empresa e para o país e que questionar processos já realizados de privatização, como
quer o governo em relação à Eletrobras, “preocupa”.

“Essas questões de rever privatização preocupam”, disse Lira. “Você pode não propor
mais nenhuma privatização, mas mudar um quadro que já está jogado e definido, e com
muitos grupos, muitos países investindo, é realmente causa ao Brasil uma preocupação
muito forte.”

A Advocacia-Geral da União (AGU) entrou, na sexta-feira (5), com uma ação direta de
inconstitucionalidade (ADI), no Supremo Tribunal Federal (STF), contestando o
modelo de privatização da Eletrobras.

Na ação, que é subscrita pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a AGU
pede decisão em caráter liminar, com efeitos retroativos, até o julgamento final do
processo pelo STF

A iniciativa foi antecipada pela CNN. O governo questiona dispositivos da Lei


14.182/2021, que trata da desestatização da Eletrobras. A operação foi concluída em
junho de 2022.

“A votação da privatização, ou da capitalização da Eletrobras, foi uma matéria muito


debatida no Congresso. A Eletrobras não tinha capital suficiente para investimentos,
prestava serviços de péssima qualidade”, disse Lira.

“Vamos, então, acompanhar, ver qual será a real intenção em discutir isso no âmbito do
Judiciário. Mas penso que, no âmbito do Legislativo, esse assunto foi bem discutido e
transformado em uma capitalização que está dando sucesso.”

No sábado (6), o presidente Lula, em entrevista coletiva à imprensa em Londres, após


participar das celebrações de coroação do rei Charles III, indicou que pretende
apresentar novos questionamentos sobre a privatização da Eletrobras, após a ação da
AGU no STF.

“Eu não entrei contra a privatização da Eletrobras, eu ainda pretendo entrar”, afirmou.

Agenda do Congresso

Na entrevista, o presidente da Câmara afirmou que os parlamentares devem endurecer


as punições previstas na nova regra fiscal presentada pelo governo, e que espera que a
nova versão da proposta para ser apreciada na Casa deve ser apresentada pelo relator
nesta segunda (8) ou terça-feira (9).

Lira também comentou sobre os desafios do governo Lula em lidar com um Congresso
mais conservador nessa legislatura. “O Brasil elegeu um Congresso bem conservador, e
liberal, e um Executivo mais do campo progressista”, disse. “Essa dualidade é quem vai
fazer com que essas forças tenham que viver harmonicamente.”

*Publicado por Juliana Elias e Pedro Zanatta, em São Paulo.

Congresso deve incluir punições mais duras em nova regra fiscal, diz Lira à CNN /
Projeto apresentado pelo governo abrandou penalidades em caso de
descumprimento de metas; presidente da Câmara dos Deputados falou de Nova York
em entrevista exclusiva à CNN neste domingo (7) – CnnBrasil 7/5

Mariana Janjácomo

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, disse à CNN, neste domingo (7),
que, na tramitação da nova regra de controle de gastos no Congresso, os parlamentares
devem endurecer as regras e incluir punições mais duras para o caso de descumprimento
das metas fiscais anuais estipuladas pela proposta.

O projeto para a legislação que deverá substituir o teto de gastos foi apresentado pelo
governo no final de março e está agora sendo analisado pelo relator, na Câmara dos
Deputados, para ter sua análise e votação iniciada nos próximos dias.

Na proposta, o governo propõe o que chamou de “descriminalização da política fiscal”,


com punições mais brandas para os governantes caso não cumpram a meta de resultado
primário estipulada para o ano, a exemplo do que já acontece com o Banco Central,
quando não cumpre suas metas de inflação.

O afrouxamento foi visto com preocupação por economistas.

“Não posso adiantar, claro, o texto que será feito pelo relator, mas acho que os
‘enforcements’, como falam, deverão vir no texto da Câmara, e não tenho dúvidas de
que o Senado dará também sua contribuição para que isso não fique no limbo”, disse
Lira, que falou em entrevista exclusiva à CNN em Nova York.

“Nós não devemos incluir uma responsabilização à pessoa do agente público, mas o
governo como um todo tem que ter alguma restrição quando não cumprir as metas a que
se propõe no arcabouço fiscal”, acrescentou.

Lira elogiou a proposta apresentada pelo governo – “é um texto com uma espinha dorsal
equilibrada, o Congresso está ali para aprimorar”, disse -, e afirmou que a nova versão,
com as alterações a serem propostas pelo relator do texto e a ser analisada pelos
deputados, deve ser apresentada ainda nesta semana, “entre os dias 8 e 9 [de maio]”.
“A partir de como o texto venha, e de como as alterações serão recebidas, teremos uma
ideia de qual será a facilidade ou a dificuldade da aprovação no Plenário”, afirmou.

*Publicado por Juliana Elias

Galípolo no comando do BC preocupa o mercado / Histórico acadêmico e indicação


pouco usual do atual secretário-executivo da Fazenda são principais inquietações –
Alex Ribeiro – Valor 8/5

O balão de ensaio sobre uma eventual indicação do secretário-executivo do Ministério


da Fazenda, Gabriel Galípolo, para a presidência do Banco Central ganhou força na
semana passada - e disseminou preocupações entre economistas e operadores do
mercado financeiro.

São dois aspectos que causam inquietação, segundo fontes ouvidas pelo Valor.
Primeiro, a ideia pouco usual de indicá-lo para, primeiro, ocupar uma diretoria
colegiada no Banco Central e, depois, ser alçado ao comando, substituindo Roberto
Campos Neto. Também causa aflição o seu histórico acadêmico. Ele assina, por
exemplo, com o economista André Lara Resende, um texto com propostas na linha da
Nova Teoria Monetária (conhecida pela sigla em inglês, MMT). Há apenas dois anos,
defendia em “lives” uma política econômica não ortodoxa.

A eventual nomeação de Galípolo como diretor do Banco Central poderia minar tanto a
presidência de Campos Neto como a sua própria aspiração de ocupar o cargo mais tarde.
Pelo que foi vazado por fontes oficiais, o governo petista, que quer uma baixa imediata
dos juros, comeria o Banco Central pelas bordas. Nomearia os dois primeiros membros
pró-juros baixos agora e outros dois no fim do ano, quando abrem outras vagas. Não
seria a maioria no Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que tem nove
membros, mas chegaria bem próximo disso - e poderia alterar o equilíbrio de forças em
algumas reuniões. No fim de 2024, termina o mandato de Campos Neto, e o governo
petista teria o controle do BC.

Galípolo já tem se movimentado nos bastidores para ganhar terreno no Banco Central.
Quatro dos nomes mais fortes considerados para ocupar uma das vagas no Copom
abertas em fevereiro têm ligações próximas com ele.

Um operador do mercado financeiro pontua que Galípolo se sentaria na cadeira com um


potencial conflito de interesses: agradar o presidente Lula para assegurar a indicação
para o comando do BC. Mas, por outro lado, ele teria que ser sabatinado e aprovado
pelo Senado duas vezes, uma vez como diretor e outra como presidente. Ou seja, teria
que andar numa linha fina para agradar o governo petista sem perder viabilidade no
Senado.

A principal preocupação ouvida pelo Valor no mercado é que suas ideias econômicas,
pelo que tudo indica, são bem diferentes do paradigma em que opera a política
monetária, não só no Brasil, mas também nas economias avançadas.
Desde que entrou no governo, Galípolo tem sido moderado nas críticas ao Banco
Central. Ele reconheceu, por exemplo, o direito do presidente Lula de fazer cobranças
sobre a política monetária. Mas, por outro lado, tem destacado que, no fim, essa é uma
decisão na alçada dos membros do Copom, um gesto de respeito à autonomia do órgão.
Caberia à area econômica criar condições, na política fiscal, para o BC cortar os juros.
Nos seus pronunciamentos, ele tem sido sutil ao ponto de não fazer uma ligação direta e
mecânica entre a política fiscal e monetária. Numa live do UOL, por exemplo, destacou
um canal em que a política fiscal influencia a monetária: os preços de ativos, como o
dólar e a curva de juros.

Os pronunciamentos mais recentes parecem, em muitos aspectos, os de um banqueiro


central, embora ele não seja reconhecido com quem tem as qualificações para ser um
deles, como conhecimento teórico e prático de política monetária ou sobre o
funcionamento do mercado. Mas não seria o primeiro - Henrique Meirelles, que antes
de assumir o BC era um banqueiro, supriu as lacunas cercando-se de técnicos
competentes nessas áreas.

O que preocupa é o que ele disse e escreveu num passado não tão distante. Em 2021, no
podcast “Direito e Economia”, Galípolo faz uma crítica bem elaborada da ortodoxia
econômica. Vale ouvi-lo na íntegra para entender, sem recortes, um pouco da formação
intelectual do candidato a presidente do BC.

Ele faz sérias restrições ao tratamento da economia como uma ciência natural e,
discorre, por exemplo, sobre os modelos de projeção econômica - que são ponto de
partida para qualquer análise feita pelo Copom e pelos BCs modernos. “Os modelos
econômicos são úteis como uma contabilidade do passado”, disse. “Por isso há tantos
vexames nas projeções.”

Os ortodoxos, em geral, também reconhecem as limitações dos modelos. Os BCs


tomam decisões com uma boa dose de julgamento. E não há essa visão ingênua de que
economia é uma ciência natural. Mas, ao fazer terra arrasada das ferramentas analíticas
usadas pelos BCs, Galípolo dissemina receios de que possa se inclinar a fórmulas não
ortodoxas rejeitadas pelo mercado financeiro.

Há menos de um ano, seu nome apareceu na equipe de especialistas do Núcleo


Economia Econômica do Cebri que fez o documento “Diretrizes de Políticas Públicas
para 2023”, coordenado por Lara Resende. Um dos capítulos desse trabalho defende,
basicamente, a adoção de uma política monetária na linha do MMT e do controle da
curva de juros futuros. Se fosse levado adiante, significaria abandonar o regime de
metas de inflação para adotar uma linha monetária alternativa. Não se sabe, ao certo, o
quanto Galípolo compartilha das propostas descritas no documento, que foi feito a
muitas mãos - embora não possa negar a co-autoria de um documento que assinou. O
Valor procurou o secretário, mas não teve resposta.

Alex Ribeiro é repórter especial e escreve quinzenalmente

Nova regra fiscal: relator sinaliza volta de bloqueios obrigatórios, mas sem punição a
gestores / Cláudio Cajado concedeu entrevista à GloboNews. Relator na Câmara
ainda conversará com bancadas e pretende finalizar o texto da proposta na próxima
quarta-feira (10). – Globo 7/5

Por Bianca Lima, Ana Paula Castro e Guilherme Mazui, g1 — Brasília

O relator do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, Cláudio Cajado (PP-BA),


sinalizou neste domingo (7), em entrevista à GloboNews, que pode incluir no texto o
retorno dos bloqueios obrigatórios de despesas do governo, mas sem a previsão de
crime de responsabilidade caso as metas fiscais não sejam alcançadas.

Analistas e políticos ouvidos pelo g1 e pela TV Globo entendem que o fim dos crimes
de responsabilidade para autoridades pelo não atingimento de metas fiscais e o término
do bloqueio obrigatório de gastos públicos para atingir objetivos pré-determinados
fragilizam as regras de controle de despesas.

As mudanças constam na proposta do novo arcabouço fiscal, enviada pelo governo ao


Congresso Nacional para análise em abril, e alterariam a Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). Para ter validade, as regras ainda precisam passar pelo aval da Câmara e do
Senado.

Cajado, que ainda não finalizou o texto que apresentará para análise dos demais
deputados, defende a inclusão de gatilhos para conter as despesas do governo em caso
de não cumprimento das metas.

"O que se desejaria é que se adicionassem gatilhos que contingenciassem algumas


despesas. E nesse sentido, estamos conversando com as demais bancadas, conversando
com os deputados e líderes para convergirmos em uma medida que não haja, em última
consequência, a questão do crime de responsabilidade", disse Cajado.

"Nós estamos construindo um meio termo que possamos fazer com que essas metas
sejam perseguidas e os gestores têm de fato essa viabilidade de atingir esse objetivo,
mas ao mesmo tempo, afastemos essa questão do crime de responsabilidade que em
última análise seria o impeachment do presidente da república", afirmou.

Pelo texto, no lugar dos crimes de reponsabilidade pelo descumprimento das metas, que
consta na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), bastará que o presidente da República
encaminhe uma mensagem ao Congresso Nacional e explique as razões para o
descumprimento das metas de resultado das contas públicas.

A proposta do novo arcabouço fiscal também tornou facultativo ao governo o


contingenciamento (bloqueio) de despesas para cumprimento das metas fiscais. Nos
últimos anos, para cumprir o teto de gastos e as metas fiscais, diferentes governos
tiveram de autorizar bloqueios orçamentários para equilibrar o orçamento.

No caso de descumprimento das metas fiscais, a proposta de arcabouço determina que o


aumento de despesas fique limitado a 50% do aumento da receita. Pela regra normal,
esse crescimento poderia ser maior: em até 70% da alta da arrecadação.

Relatório
Cajado afirmou que sua 'meta' é apresentar o relatório da nova regra fiscal na quarta-
feira (10). Antes, ele terá reuniões com as bancadas do PL, PSDB, PSB e PSD. O
deputado também terá novas conversas com representantes da equipe econômica do
presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Avaliados todos esses cenários com as bancadas que integram a Câmara dos
Deputados, ouvidas as críticas das sugestões que apresentamos ao ministro da Fazenda e
à ministra do Planejamento, eu espero estar com o relatório completamente equacionado
para poder disponibilizar. Se até quarta-feira, ótimo. Essa é a minha meta", disse.

O arcabouço está tramitando inicialmente na Câmara. Se aprovado, ainda precisa passar


pelo Senado.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, solicitou ao presidente da Câmara, Arthur


Lira (PP-AL) que a votação na Câmara fique para a terceira semana de maio.

Arcabouço terá novo nome; veja essa e outras 3 mudanças preparadas pelo relator /
Indicadores que ditarão o ritmo de crescimento das despesas serão blindados de
trocas de governo em texto relatado pelo Cláudio Cajado (PP-BA) – Folha SP 8/5

BRASÍLIA

"Arcabouço remete a ossada, a restos mortais. Vamos fazer uma coisa mais moderna,
né?", afirmou, em entrevista à Folha, o deputado Cláudio Cajado (PP-BA), relator da
proposta que procura equilibrar as contas públicas (para evitar um crescimento
descontrolado da dívida em proporção do PIB).

O novo nome, segundo ele já aprovado em acordo no Congresso, será Regime Fiscal
Sustentável.

Além dessa novidade, veja outros três pontos adiantados pelo relator do novo marco
fiscal em tramitação no Congresso —ele espera apresentar seu texto nesta quarta (10).

PARÂMETROS PARA DESPESA VÃO TER BLINDAGEM CONTRA MUDANÇA DE


GOVERNO

A nova regra fiscal tem indicadores que ditam o ritmo de crescimento das despesas:
prevê que os gastos vão subir de 0,6% a 2,5% acima da inflação por ano, mas essas
referências seriam válidas apenas entre 2024 e 2027.

Depois disso, a escolha dos parâmetros poderia ser feita na LDO (Lei de Diretrizes
Orçamentárias), e aí é que o relator enxerga um problema. A LDO é mais fácil de
mudar: precisa do aval de apenas metade dos presentes na sessão mais um, desde que
compareçam 257 deputados e 41 senadores (maioria simples).

Segundo Cajado, na média a LDO tem sido alterada três vezes por ano.

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O relator pretende fixar esses parâmetros já no texto do projeto de lei complementar, um
texto mais difícil de ser alterado: precisa do aval de ao menos 257 deputados e 41
senadores (maioria absoluta).

Fixá-los no novo marco fiscal dificultaria que fossem alterados a partir de 2028. "Traz
segurança e mais confiabilidade", disse Cajado.

EXIGÊNCIAS PODEM FICAR MAIS DURAS SE REGRA FOR DESCUMPRIDA

O relator cogita tornar mais rígidas as exigências para o cumprimento da regra. Pela
proposta do governo, se a meta fiscal não for cumprida, o ritmo de crescimento real das
despesas cai de 70% para 50% da alta das receitas, e o presidente precisa enviar uma
mensagem ao Congresso citando iniciativas de ajuste.

Entre as mudanças estudadas pelo relator pode vir a obrigação de contingenciar recursos
durante o ano se houver ameaça de que a meta fiscal não será obtida. Na versão do
governo, o bloqueio seria opcional.

"Estamos avaliando o que chamamos de gatilhos. Seriam punições a mais. Sanções pelo
não cumprimento da meta", disse Cajado.

LISTA DE DESPESAS QUE FICAM FORA DO TETO PODE SER SERÁ REVISTA

O relator indicou que estuda modificar a lista de despesas que ficam fora do limite –
segundo ele, houve muitas críticas às excepcionalidades —o governo deixou 13 casos
de fora das amarras da nova regra.

"Tem muita sugestão, para incluir e para tirar [da lista de exceções]. Muito mais para
tirar", disse Cajado, embora tenha evitado explicitamente declarar sua posição a
respeito: "Não quero emitir opinião, porque a discussão pode travar. (...) Estou colhendo
as informações".

Ele indicou, no entanto, que espera mexer em despesas que hoje estão
constitucionalizadas pela PEC da Transição e deixariam de ter a proteção constitucional
com a sanção do arcabouço.

Investimentos do Tesouro em empresas estatais podem ser um dos alvos principais


dessa mudança.

Nova regra fiscal pode liberar R$ 120 bilhões em época eleitoral / Para pesquisadores
do Ibre, cenário serve de estímulo para governo respeitar arcabouço- Valor 7/5

Por Marta Watanabe, Valor — São Paulo

O cumprimento de metas de resultado primário da nova regra fiscal pelo menos até
2025 pode permitir ao governo abrir na segunda metade do atual mandato um espaço
fiscal adicional de R$ 80 bilhões a R$ 120 bilhões em despesas, a preços de hoje. Isso
poderá funcionar como um estímulo político eleitoral para que o novo arcabouço seja
sustentado, mesmo com a eliminação proposta de dispositivos da Lei de
Responsabilidade Fiscal que buscavam garantir o cumprimento de regras fiscais.
O cumprimento da consolidação fiscal sugerida, porém, demanda crescimento de
receitas de 1,2% a 1,7%, como proporção do PIB, até 2026, dependendo do cenário.
Também são necessárias medidas em paralelo, como a mudança na regra de gastos com
saúde e educação e a ampliação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que
deve ser revista em 2024.

A ênfase do ajuste pelo lado das receitas não inviabiliza que o novo arcabouço leve à
esperada redução do nível de endividamento, ainda que depois de 2027, e resulte em
impactos positivos para o PIB no médio prazo. O governo tem sinalizado para aumento
de receitas com agenda da redução de isenções e “jabutis” tributários, o que pode levar a
um ganho de receitas com baixo custo marginal. O caminho exige, porém, apuro
técnico, habilidade e força política.

Essas são algumas das análises sobre o novo arcabouço fiscal, tema de encontro entre
pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV
Ibre) e o Valor. Artigo resultante de debate será veiculado na “Carta do Ibre” de maio.

As metas de primário estipuladas na proposta de regra fiscal do governo federal são


déficit de 0,5% do PIB em 2023, resultado nulo em 2024 e superávits de 0,5% do PIB
em 2025 e 1% do PIB em 2026, com banda de tolerância de 0,25 ponto percentual
acima ou abaixo.

Bráulio Borges, pesquisador associado do Ibre, calcula que o cumprimento das metas de
resultado primário demanda no cenário base aumento de carga tributária equivalente a
1,5% do PIB no acumulado de 2023 a 2026. Para que as metas sejam cumpridas ano a
ano, o aumento de carga no cenário base deve ser, em 2023, 2024, 2025 e 2026,
respectivamente, de 0,49%, 0,24%, 0,58% e 0,2% do PIB.

O cenário-base de Borges pressupõe que o PIB per capita real cresça 1,5% a partir de
2025, com diferença entre o deflator do PIB e o IPCA de 0,9 ponto percentual ao ano. O
crescimento do PIB potencial é de cerca de 2% ao ano. Esse cenário embute
crescimento da produtividade anual do trabalho de 1,5% a partir de 2025, comparado à
média de 0,9% de 1995 a 2022 (Ver cenários no quadro abaixo).

Segundo Borges, a reforma tributária e o aumento do investimento público, prometido


pelo novo arcabouço fiscal, justificam aumento anual de 0,6 p.p. do crescimento da
produtividade.

Nos cenários com aumento de carga tributária, a dívida líquida, pós-2027, se estabiliza e
começa a cair. Entre as premissas, Borges considerou o reconhecimento do “esqueleto
fiscal” dos precatórios, em 2027, e Selic real de 4,5% ao ano no médio prazo.

Manoel Pires, também pesquisador do Ibre, destaca que a regra proposta converge com
as diretrizes do governo, que quer aumentar investimento público e preservar gastos
sociais “Então a válvula de escape para recuperar o resultado primário é focar em
arrecadação. Mas isso não pode subverter ganhos econômicos da reforma tributária,
senão vamos enxugar gelo”, diz, referindo-se ao risco de se perder o efeito da reforma,
que visa tornar o sistema mais racional e consistente com o aumento de eficiência e de
produtividade.
A literatura sobre as experiências internacionais considerando os efeitos das mudanças
tributárias, diz Borges, mostra que há uma diferença importante dos impactos
macroeconômicos de aumentos de carga tributária. Majorações de alíquotas, diz,
resultam em impactos muito negativos e persistentes sobre PIB, aumentando a
probabilidade de ajustes fiscais contraproducentes. Já ampliações de bases tributáveis
geram efeitos negativos menores e mais concentrados no curto prazo.

Para Pires, a literatura mostra paralelo muito grande com o que parece que o governo
quer. “As medidas apresentadas vão no sentido de aumentar arrecadação, reduzindo
distorções do sistema tributário, exatamente para reforçar o efeito da reforma tributária.
É um desafio e se o governo conseguir isso irá melhorar o resultado primário a um
baixo custo marginal em termos de atividade econômica.”

Na busca de receitas, Luiz Guilherme Schymura, pesquisador do Ibre, avalia que saídas
rápidas como Refis não deveriam ser usadas tão cedo. “Isso seria para quando as coisas
estão apertando demais e passa-se a sacrificar o futuro.”

Olhando para despesas, Pires observa que apesar de a regra no nível macro ser mais
flexível, do ponto de vista micro ela enrijece o Orçamento, em razão do piso de
investimentos e da volta de vinculações à receita de gastos de saúde e educação. “Há
risco de se conviver com alguma situação de ‘shutdown’”, diz, referindo-se ao cenário
em que o corte de gastos é tão restritivo que impede o próprio funcionamento da
máquina pública. Para ele, são duas as possibilidades de “shutdown”.

A primeira é a receita ficar baixa por alguns anos e a regra de gastos ser aplicada pelo
piso, num mundo parecido com o teto de gastos, na ausência de reformas. A outra
possibilidade é o governo conseguir muita receita e fazer o Orçamento aplicando teto de
2,5%, mas os gastos vinculados à arrecadação crescerem muito e comprimirem o resto.
“O risco está nos extremos.” Mas Pires ressalta que o cenário mais provável é o governo
conseguir algum ganho de arrecadação, já que há esforço claro nesse sentido.

A regra fiscal proposta estabelece que o crescimento real das despesas é dado pela
variação real de receitas recorrentes em 12 meses terminados em junho do ano anterior.
A variação tem teto de 2,5%. Um piso de alta real de 0,6% é garantido, aplicado quando
não houver crescimento de receitas.

Para Borges, é exatamente a regra de crescimento das despesas que pode criar estímulo
político eleitoral. Ao garantir receitas para cumprir as metas de primário pelo menos até
2025, o governo garante maior espaço fiscal para despesas nos dois últimos anos do
mandato.

Para Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre, o ajuste pode dar certo se o discurso político
do governo for bem-sucedido e o Congresso entregar 1,5% do PIB em receitas líquidas
de repasses obrigatórios a Estados e municípios. Além disso, o Congresso também
precisa entregar, diz, emenda alterando a regra de gastos na saúde e educação.

Apesar de críticas de Lula, reversão da venda da Eletrobras não deve prosperar / De


acordo com especialistas ouvidos pelo Valor, processo de privatização da empresa
foi bem amarrado do ponto de vista jurídico – Valor 7/5
Por Robson Rodrigues, Valor — São Paulo

Em mais uma investida contra a privatização da Eletrobras, o presidente Luiz Inácio


Lula da Silva (PT), em visita a Londres para a coroação do Rei Charles III do Reino
Unido, voltou a criticar, no sábado (6), o processo da empresa e disse que pretende
entrar com uma nova ação questionando a capitalização da antiga estatal.

Especialistas consideram, contudo, que não será fácil reverter a venda da Eletrobras,
uma vez que a capitalização foi feita em bases jurídicas sólidas. A situação cria, porém,
incerteza sobre o futuro da companhia e tem impactos sobre as ações na bolsa. As ações
ordinárias da Eletrobras acumulam queda de 18,85% no ano, enquanto as preferenciais
caem 10,24%.

Na visão de especialistas, as declarações de Lula são ruins para a credibilidade do país e


podem trazer um alerta para os investidores sobre o risco, mesmo que pequeno, de uma
possível reestatização da empresa.

O advogado André Edelstein, sócio do Edelstein Advogados, afirma que a tentativa de


reverter as condições estabelecidas na privatização da Eletrobras atenta contra a
segurança jurídica, o ato jurídico perfeito e o equilíbrio contratual, além de abalar
fortemente a credibilidade e confiança do país.

Fazendo eco às falas de Edelstein, o advogado Rômulo Mariani, do escritório RGMA


Resolução de Disputas, acrescenta que a tentativa não deve ter sucesso, pois o processo
foi juridicamente amarrado.

“A iniciativa não deve prosperar, pois os trâmites necessários foram cumpridos. E a


União não deixa de se beneficiar por ser sócio de uma empresa mais bem gerida e que
tem liberado valores represados na gestão estatal. Mas em termos de imagem, o estrago
já está feito, infelizmente”, diz.

Em conversa com jornalistas, em Londres, o petista disse novamente que não concorda
com os termos colocados à época da operação, que estabelecem valores elevados para
uma reestatização da companhia, e frisou que não considera justas as condições
estabelecidas. "Eu não entrei contra a privatização da Eletrobras, eu ainda pretendo
entrar."

As falas de Lula representam mais um capítulo na tentativa do governo de reestatizar a


empresa. Na sexta (5), a Advocacia-geral da União (AGU) ingressou no Supremo
Tribunal Federal (STF) com uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) que
questiona trechos da privatização da Eletrobras. Na ADI, o governo pede a suspensão,
em caráter liminar, de dispositivos da privatização, com efeitos retroativos até o
julgamento final do processo pelo STF.

Neste mesmo dia, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., disse que não foi
procurado por nenhum enviado do Planalto a respeito de trocas no conselho de
administração ou da diretoria-executiva. Ferreira acrescentou que a empresa está
disposta a compartilhar todas as informações necessárias.
Não é novidade para o mercado a desaprovação do novo governo em relação à
privatização, porém a declaração deixa em alerta os investidores, pois as falas de Lula
contribuem para a queda do preço das ações.

Enquanto as tentativas do governo ainda forem vistas como apenas um ruído, as ações
seguem atrativas. Caso o governo encontre mecanismos que consigam reverter esse
cenário, a desvalorização se torna um fato e certamente afugentará os investidores.

O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, que atuou diretamente na


privatização da Eletrobras, lembra que na ocasião estavam envolvidos diversos agentes
políticos e a situação foi amarrada com o aval deles - do Congresso, Tribunal de Contas
da União (TCU) e Ministério de Minas e Energia (MME). Por isso, a pressão do
governo Lula deve apenas fazer barulho.

Há quem diga que seja jogo de cena de Lula para a militância, já que a venda da Copel
avança com o pragmatismo do governo. Isso porque a publicação de regras para a
renovação de concessões foi vista como um aceno de que a União não vai se intrometer
na privatização da elétrica paranaense.

O mesmo serve para a Cemig, já que o governo mineiro quer seguir o modelo de
corporação da Eletrobras como referência para vender as ações da estatal de energia no
mercado financeiro.

Saque-aniversário: governo quer suspender antecipação das parcelas via empréstimo


bancário / Sem apoio no Congresso para acabar de vez com a retirada anual do FGTS,
ministro vai propor interromper a tomada de crédito com base no saque- Globo 8/5

Por Geralda Doca

O acesso dos trabalhadores aos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço


(FGTS) continua na mira do Ministério do Trabalho. Sem apoio no Congresso para
aprovar medidas que acabem de vez com o saque-aniversário, o ministro da pasta, Luiz
Marinho, quer propor ao Conselho Curador do Fundo que suspenda a antecipação do
saque, medida que funciona como um empréstimo bancário.

Marinho explica que tem recebido reclamações nas redes sociais de trabalhadores que
usaram essas linhas e, como consequência, ficaram impossibilitados de acessar o FGTS
em casos de demissão.

Ainda que a antecipação não seja um saque do Fundo, o valor precisa ser
contingenciado, segundo o Ministério do Trabalho. Por isso, o governo avalia que a
mudança também pode melhorar o resultado líquido das contas do FGTS e impactar
políticas públicas de habitação e saneamento.

Com o saque-aniversário, anualmente o trabalhador pode retirar parte do seu saldo no


Fundo. Mas, ao ser demitido, só tem direito a sacar o valor referente à multa rescisória e
não o valor integral da conta do FGTS, como ocorre no saque-rescisão.

O setor da construção civil, que se beneficia dos recursos do FGTS, apoia a ideia, mas
economistas dizem que o FGTS é a aplicação com o menor rendimento do sistema
financeiro e é preciso fazer o contrário: ampliar as formas para que a população consiga
usar esse dinheiro.

Além disso, a antecipação do saque-aniversário permite que o trabalhador tenha acesso


a crédito com juros mais baixos do que em outras linhas ofertadas pelos bancos.

Pela proposta em estudo por Marinho, quem já tem empréstimo contratado pela
antecipação do saque-aniversário não seria afetado. Mas, a partir da publicação de uma
resolução do Conselho Curador no Diário Oficial da União (DOU), novas operações
não seriam autorizadas.

Apenas o saque-aniversário tradicional, no mês de aniversário do cotista, continuaria


mantido. Ao GLOBO, o ministro disse que a antecipação criou uma “armadilha” para o
trabalhador:

— Ao aderir ao saque-aniversário, os trabalhadores não podem, em caso de demissão,


sacar o seu saldo. Hoje, a maior reclamação que recebo diariamente nas minhas redes
sociais é de trabalhadores pedindo para eu acabar com o saque-aniversário, para que
eles possam voltar a ter o direito de sacar o saldo.

Opção mais barata

No mês passado, Marinho afirmou, em audiência na Comissão de Trabalho da Câmara,


que o modelo “criou a farra do sistema financeiro”.

— O saque-aniversário criou a farra do sistema financeiro com o Fundo de Garantia.


Hoje, dos R$ 504 bilhões depositados na conta-corrente dos correntistas, já temos quase
R$ 100 bilhões alienados pelos bancos em empréstimo consignado do Fundo de
Garantia, a partir do formato do saque-aniversário — disse o ministro na época.

Na antecipação, o trabalhador pode receber, na forma de empréstimo, vários anos do


saque-aniversário, com juros limitados a 2,05% ao mês.

Esse é o principal atrativo da linha, porque, se bem usado, permite a quem tem dívidas
escapar de outros empréstimos mais caros, como o rotativo do cartão de crédito, que
tem juros médios de 14,92% ao mês, e o cheque especial, com taxa de 7,15%, segundo
dados do Banco Central de março.

De acordo com a Caixa, até março de 2023, 14,5 milhões de trabalhadores contrataram
mais de R$ 90 bilhões em operações de antecipação do saque-aniversário do FGTS. O
banco oferece até cinco anos de antecipação. No Itaú, são até sete anos.

Ao todo, mais de 70 instituições financeiras são habilitadas a oferecer os empréstimos


tendo como garantia recursos do Fundo.

Ainda que os juros sejam baixos, técnicos do governo afirmam que há abusos por parte
de instituições financeiras, como casos de assédio a trabalhadores, que acabam fazendo
a opção pelo saque-aniversário e antecipam os recursos sem ter noção das implicações e
dos juros cobrados.
Essa é a mesma queixa relatada em outras modalidades de empréstimos, como o
consignado de aposentados e pensionistas.

A lei que criou o saque-aniversário transferiu para o Conselho Curador do FGTS a


competência para aprovar uma resolução e permitir a antecipação. Isso aconteceu em
abril de 2020. A expectativa é que a primeira reunião do Conselho neste ano ocorra em
junho. Falta um ato do Ministério do Trabalho indicando os conselheiros que vão
representar o governo no colegiado.

O governo também estuda mexer nos percentuais do saque-aniversário, que variam


entre 5% e 50% do saldo disponível no FGTS. Para isso, não seria necessária a
aprovação de um projeto no Congresso. A legislação permite que o Ministério da
Fazenda ajuste os percentuais uma vez a cada ano para vigorar no seguinte.

Rendimento baixo

O economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, também professor


da PUC-Rio e especialista em mercado de trabalho, critica a ideia de limitar o acesso
aos recursos do Fundo, mesmo que seja pelo fim da antecipação do saque.

Ele diz que o FGTS é uma poupança que pertence aos trabalhadores e tem baixo
rendimento, de 3% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR):

— O governo está tentando se apropriar de um dinheiro que é do trabalhador. É uma


poupança do trabalhador. É exatamente por isso que o saque-aniversário faz todo
sentido. O FGTS rende menos do que qualquer outro investimento que pode ser feito na
economia. No Fundo, usa-se uma poupança do trabalhador para financiar programas
governamentais.

No Supremo Tribunal Federal (STF), há uma ação questionando a baixa rentabilidade


do FGTS. Por dois votos favoráveis, a Corte propõe a substituição da remuneração atual
pela rentabilidade da poupança, hoje em 6,17% ao ano. O julgamento foi suspenso a
pedido do ministro Nunes Marques e deve retornar em breve para a pauta.

José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic),


defende que seja mantido apenas o acesso ao Fundo pelo saque-rescisão, quando o
trabalhador é demitido sem justa causa. Ele diz que os recursos do FGTS ajudam no
financiamento do setor de habitação, que tem enorme déficit de moradias e de obras no
país:

— Defendemos que o FGTS seja usado unicamente com o fim para o qual foi criado.
FGTS é patrimônio. Patrimônio foi feito para ser usado em casos especiais, não como
complemento de renda. O ideal é acabar com o saque-aniversário.

PETROBRAS/PRATES:FPSO ANNA NERY EXTRAI 1º ÓLEO EM MARLIM, PARTE DA


REVITALIZAÇÃO DA BACIA DE CAMPOS – Broadcast 7/5

Por Denise Luna

Rio, 07/05/2023 - A plataforma flutuante Anna Nery produziu o seu primeiro óleo neste
domingo, no campo de Marlim, na bacia de Campos, informou em vídeo o presidente da
Petrobras, Jean Paul Prates. Ele destacou a importância da revitalização do campo de
Marlim, onde será possível extrair mais de 50% do óleo originalmente in situ (no local).

Além da FPSO Anna Nery, embarcação que produz, armazena e transfere petróleo, mais
duas FPSOs serão instaladas no campo para interligar 100 poços nos próximos cinco
anos. A previsão é alcançar, em 2027, um volume de 900 mil barris de óleo equivalente
(boed) na bacia de Campos, com a entrada em produção de três novos sistemas e
investimento em projetos complementares em plataformas existentes. Esse volume
representa cerca de três vezes a produção que a Petrobras atingiria se não tivesse
investido nas novas plataformas e nos sistemas existentes.

O investimento também deve acrescentar um volume de 20 bilhões de barris de óleo


equivalente (boe) às reservas da empresa até 2030, sendo 5 bilhões de boe decorrentes
dos ativos operados pela Petrobras nesta bacia.

"A revitalização da bacia de Campos é um projeto fundamental do Plano Estratégico da


Petrobras, com previsão de investimentos de US$ 18 bilhões nos próximos anos. São
dois novos FPSOs como essa substituindo 10 unidades", disse Prates em vídeo. A
próxima FPSO a ser instalada no campo de Marlim será Anita Garibaldi, que junto com
a FPSO Anna Nery irão produzir 150 mil barris de petróleo por dia, a partir do segundo
semestre deste ano.

As duas plataformas integram o programa da Petrobras de revitalização da bacia de


Campos, maior projeto de revitalização da indústria offshore mundial, segundo a estatal.
A região, descoberta na década de 1980, já foi a principal bacia produtora do País, mas
perdeu espaço para os gigantes reservatórios do pré-sal, cuja descoberta coincidiu com o
início do declínio da produção da bacia.

"A história e o sucesso do campo de Marlim se confundem com a história de sucesso da


Petrobras em águas profundas e ultraprofundas. Uma escola para tudo que veio depois.
Fazer esta revitalização, com as dificuldades que tivemos, é motivo de muito orgulho",
finalizou Prates, que completou 100 dias de gestão na estatal.

Bancos tentam convencer Lula a recomprar Vibra / Intenção é melhorar desempenho


dos papéis da companhia, que acumulam baixa – Painel – S.A- Folha SP 8/5

Banqueiros interessados na valorização da Vibra (ex-BR) afirmam ter falado com o


presidente Lula na semana passada na esperança de convencê-lo a fazer a Petrobras
recomprar a distribuidora de combustíveis Vibra (ex-BR).

Políticos também se colocaram em campo para a mobilização junto ao Planalto e à


presidência da estatal.

A Petrobras era dona da BR Distribuidora que, privatizada em duas etapas na gestão Jair
Bolsonaro, tornou-se Vibra.
A ideia dada por eles a Lula foi a recompra da Vibra. Mas, caso a empresa recuse, a
Petrobras poderia negociar somente a marca BR e partiria para adquirir outra operação
de distribuição, como a da Alesat.

Há alinhamento de interesses mútuos na iniciativa dos bancos, segundo pessoas que


acompanharam essas conversas.

Os bancos querem aumentar o valor das ações da Vibra, que acumula queda nos últimos
doze meses do ano. A Petrobras, com dinheiro em caixa, ampliaria sua atuação no
campo das energias renováveis (a Vibra comprou a Comerc, forte nesse segmento). Para
isso, a estatal tem dinheiro em caixa.

Investidor local reduz pessimismo com ativos brasileiros / Gestores tentam surfar
momento positivo dos juros e do câmbio, mas cautela com o cenário macro e com os
riscos fiscais permanece – Valor 8/5

Por Victor Rezende e Gabriel Roca — De São Paulo

O desempenho dos ativos domésticos, sobretudo nos juros e no câmbio, continua a se


destacar. As taxas futuras estão nos menores níveis desde setembro de 2022 e o dólar
segue testando níveis abaixo da marca simbólica de R$ 5, apoiados por uma visão
menos pessimista do investidor local. Gestores ouvidos pelo Valor alertam que não se
trata de um otimismo estrutural com o mercado brasileiro, mas sim de oportunidades
abertas pela percepção de juros mais baixos no segundo semestre e de um ambiente
global que dialoga com um dólar mais fraco.

Embora a quantidade de incertezas em relação ao cenário fiscal seja, ainda, bastante


relevante, os ativos têm se valido de um ambiente externo mais positivo para mercados
emergentes e de uma diminuição nos riscos domésticos. Como consequência, há alguma
aposta mais positiva em relação ao desempenho dos ativos brasileiros, ao menos no
curtíssimo prazo.

“Temos detectado uma mudança importante no posicionamento técnico, com os fundos


locais ficando gradualmente otimistas com o Brasil. O ‘gap’ entre a visão doméstica,
sempre pessimista, e a visão dos estrangeiros está, finalmente, diminuindo um pouco. E
isso se traduz em uma nova narrativa, com os locais agora minimizando as más notícias,
apenas porque estão correndo riscos, especialmente nos juros”, observa o profissional
da tesouraria de um grande banco.

Os primeiros sinais emitidos pelo governo assustaram o mercado ainda na virada do


ano, o que gerou forte deterioração nos preços dos ativos, destaca Marcelo Ferman,
sócio e gestor da Parcitas Investimentos. “Em alguns momentos, houve uma
precificação de pânico e de expectativas muito ruins para o Brasil, mas, desde então, o
mercado foi devolvendo esses prêmios, até porque estamos vendo as coisas
acontecerem”, nota o profissional, ao ressaltar que o Ministério da Fazenda tem tentado
encaminhar a situação fiscal.

“Estamos com um problema fiscal seríssimo no curto prazo? Talvez não da forma que o
mercado imaginava na virada do ano. Acho que ganhamos mais alguns anos nessa
frente”, diz Ferman. O executivo enfatiza, ainda, que o ambiente internacional contribui
para visões mais construtivas em mercados emergentes, o que tem apoiado os ativos
locais, “principalmente câmbio e juros; na bolsa nem tanto, até porque o governo
precisa puxar a arrecadação de algum lugar e a bolsa acaba afetada”.

A Parcitas, inclusive, mantém uma aposta no aumento da inclinação da curva de juros,


ou seja, espera um aumento da diferença entre os juros curtos e os de longo prazo. “É
uma posição aplicada em juros, mas com uma proteção contra o risco fiscal, e que
costuma andar mais quando o BC começa, de fato, a cortar os juros”, aponta.

É no mercado de juros reais que está a maior aposta em ativos brasileiros da XP Asset
Management no momento, de acordo com Júlio Fernandes, gestor macro da casa. Ele
relata que a XP Asset tem montado posições compradas em NTN-Bs desde março e que
tem preferência por títulos com vencimento entre três e cinco anos.

A posição, que tem um tamanho médio, é justificada pela perspectiva de o BC poder


antecipar o início do ciclo de cortes de juros para o terceiro trimestre. “Se houver
definição da meta de inflação e a aprovação do arcabouço fiscal, duas incertezas ficam
para trás. Pode ser que a desancoragem das expectativas do Focus em relação à meta
diminua e isso ajudaria no trabalho do BC de dizer que as expectativas estão voltando a
convergir, e pode ser suficiente para o início do ciclo de cortes”, diz Fernandes.

Outro aspecto citado pelo gestor é a possibilidade de ganhos com a posição no médio
prazo. Na visão da XP Asset, o novo presidente do BC, que deve suceder Roberto
Campos Neto ao fim do mandato, deve demonstrar alguma preferência por níveis de
inflação um pouco mais elevados e juros nominais mais baixos. “A gente acha que a
nova diretoria do BC, e provavelmente o novo presidente, vão querer trabalhar com
juros reais mais baixos. Vão aceitar trabalhar com uma inflação mais elevada que o
centro da meta.”

O ambiente ainda bastante incerto leva a Ibiuna Investimentos a manter posições


relativamente cautelosas no Brasil. Em carta referente a abril, a gestora diz preferir
alguma exposição ao real e aos juros reais de longo prazo, ao mesmo tempo em que não
adota uma exposição mais relevante na bolsa brasileira ou nos juros curtos.

O desempenho do câmbio, inclusive, continua a mostrar uma trajetória positiva à


medida que o dólar testa níveis abaixo de R$ 5. Dados da B3 mostram que o investidor
institucional local aumentou posições vendidas em dólar futuro, cupom cambial (DDI) e
mini dólar em US$ 3,916 bilhões desde a apresentação do arcabouço fiscal.

Os gestores da família Global Dinâmico, da Itaú Asset Management, têm optado por
atuar taticamente no real, ao mesmo tempo em que seguem com posições aplicadas em
juros nominais e compradas em NTN-Bs.

Da mesma forma, os profissionais da Legacy Capital optaram por montar posições


aplicadas em juros de diversos países, inclusive o Brasil. Eles apontam para a
possibilidade de cortes de juros já no terceiro trimestre, caso o marco fiscal seja
aprovado no Congresso; de o ponto central da meta de inflação não ser alterado; e de a
inflação corrente dar sinais claros de melhora.
A Legacy, porém, mantém uma visão bastante cautelosa com o cenário macro mais à
frente, ao afirmar que “a fragilidade das contas públicas deve ser posta à prova à medida
que as condições econômicas globais e locais se tornem mais adversas, provavelmente
no segundo semestre do ano”.

Bolsa é tratada com ‘otimismo cauteloso’ / Ações locais aparecem um degrau abaixo
dos demais mercados domésticos nas discussões recentes de alocação, dado o
elevado patamar dos juros – Valor 8/5

Por Matheus Prado — De São Paulo

A bolsa brasileira aparece um degrau abaixo dos demais mercados domésticos nas
discussões recentes de alocação, dado o elevado patamar dos juros. Mas tem crescido,
nas últimas semanas, um discurso “cautelosamente otimista” em relação à renda
variável, na medida em que agentes buscam antecipar o início do movimento de
reversão do ciclo de aperto monetário do Banco Central.

Mesmo sem apoio de ações ligadas a commodities, que sofreram com temores de
recessão global e a reabertura fraca da indústria na China, o Ibovespa avançou 2,50%
em abril e 0,69% na primeira semana de maio, puxado por ações ligadas à economia
local. Vale observar que investidores estrangeiros sacaram R$ 1,68 bilhão do segmento
secundário da B3 no início deste mês, enquanto os institucionais locais e os individuais
têm saldo positivo de R$ 316,6 milhões e R$ 940,6 milhões, respectivamente.

Ricardo Almeida, diretor de renda variável da ASA Investments, afirma que ficou
levemente mais construtivo durante as últimas semanas. O fundo “long only” (que
aposta na valorização das ações em que investe) da gestora opera sem caixa atualmente
e o “long bias” (que faz arbitragem e calibra o tamanho da exposição em bolsa de
acordo com o cenário) tem posicionamento neutro após rodar mais conservador no
início do ano.

“No exterior, a impressão é que o pior passou. O Federal Reserve (Fed) parou de subir
juros e a crise bancária não parece ser importante o suficiente para dragar a economia”,
diz. “Localmente, existia pessimismo com o arcabouço, e, apesar de o projeto
apresentado não ser como o mercado vislumbrava, afasta a tese de descontrole total nos
gastos. Ademais, o petróleo caiu e o real segue se apreciando, o que reduz a pressão
inflacionária.”

Assim, e com uma reversão no ciclo de aperto monetário parecendo menos distante, o
executivo afirma que a relação risco/retorno das ações ligadas à economia local começa
a ficar atraente. “Temos posição relativa grande em ‘small caps’ e gostamos de setores
como construção civil e shoppings.”

O momento, no entanto, ainda não permite visão consolidada. A XP Asset carregava


apostas vendidas no Ibovespa no início do ano, que foram encerradas quando o índice
alcançou o patamar dos 100 mil pontos. “A bolsa é negociada a preços atrativos, mas,
enquanto o cenário de cortes de juros não for mais claro, deve continuar sofrendo. Além
disso, há uma ‘espada’ nas empresas, porque o governo precisa de arrecadação para
fechar a conta do arcabouço fiscal”, afirma Júlio Fernandes, gestor macro.

Em carta a investidores, a Atmos pondera sobre o impacto negativo de Brasília nos


ativos, mas argumenta que a combinação entre o avanço da reforma tributária e a
aprovação de um arcabouço fiscal crível pode derrubar os juros longos e beneficiar a
renda variável.

“O impacto de uma eventual queda de juros deveria ser significativamente mais alto nas
ações em comparação aos instrumentos de renda fixa, mesmo os atrelados à inflação
com vencimentos longos, pois parte do principal é devolvida ao longo do tempo”, diz o
texto. (Colaborou Gabriel Roca)

Dinâmica das expectativas de inflação expõe divisão / Percepção de que mudanças


no Focus costumam demorar muito mais para acontecer do que os preços dos ativos
já indicam pode estar, novamente, prestes a ser testada – Valor 8/5

Por Victor Rezende e Gabriel Roca — De São Paulo

A percepção de que mudanças no Focus costumam demorar muito mais para acontecer
do que os preços dos ativos já indicam pode estar, novamente, prestes a ser testada,
justamente no momento em que as discussões sobre o nível dos juros tomam os
holofotes e colocam o Banco Central no centro das discussões. O ponto central dos
debates entre os agentes de mercado recentemente está nos rumos da inflação - mais
precisamente, das expectativas de inflação.

Enquanto as expectativas de inflação de 2024, 2025, 2026 e 2027 no Focus se mantêm


acima das metas, na casa dos 4%, há alguns indícios relevantes de desinflação que, até o
momento, têm ficado em segundo plano na análise de economistas em relação ao
desempenho futuro dos preços. Os ativos financeiros, porém, já refletem esses sinais e
têm mostrado uma queda expressiva no nível de inflação precificado à frente, embora
também permaneçam em níveis bem acima das metas, o que indica que o mercado
continua a exigir um prêmio de risco elevado.

O economista-chefe da Truxt Investimentos, Arthur Carvalho, destaca que os preços das


commodities têm rodado em níveis muito baixos nos últimos dias e que os IGPs -
índices gerais de preços - já mostram um alívio relevante. “E ainda temos o câmbio bem
comportado. Não consigo me lembrar de nenhuma vez que os IGPs tenham feito um
movimento tão violento que, posteriormente, não ajudou a mover as expectativas de
inflação”, diz.

Carvalho, inclusive, alerta para o comportamento dos preços de mercado em si, ao


apontar que os ativos financeiros costumam se mover antes das expectativas dos
economistas. Ele, assim, observa que, no mercado, a inflação “implícita” tem cedido de
forma relevante. De fato, a inflação extraída das NTN-Bs de prazos mais curtos (com
vencimento em 2024, 2025 e 2026) se afastou dos níveis próximos a 7% no começo do
ano e testa níveis abaixo de 5,5%. A inflação embutida na NTN-B para 2024, por
exemplo, estava em 5,19%.
“Os IGPs, as implícitas e o câmbio apontam para uma melhora das expectativas, que é
um fator importante para o BC na tomada de decisão. Se a opção do governo for manter
a meta de inflação em 3%, as expectativas do Focus tenderiam a cair mais”, afirma o
economista. E, mesmo que, nesse cenário, o ponto-médio das estimativas não volte a
3%, a autoridade monetária poderia encontrar espaço para começar a flexibilizar o nível
de aperto monetário, na visão de Carvalho. “O BC não vai esperar voltar para 3%, até
porque o mercado vai continuar a exigir algum prêmio.”

O economista-chefe para Brasil do Barclays, Roberto Secemski, concorda que alguns


sinais de desinflação mais relevantes já têm sido vistos nas leituras mais recentes do
IPCA, mas alerta que é cedo para cantar vitória, especialmente em relação aos núcleos.
“Por mais que o câmbio e os IGPs estejam melhorando e que já estejamos vendo esses
canais funcionando, a questão é a inflação de serviços. Os núcleos de inflação ainda não
desenham um cenário tranquilo.”

Na visão de Secemski, é fato que as expectativas de inflação do Focus têm algumas


propriedades não desejáveis, já que tendem a ser sazonais e pró-cíclicas. “Na medida
em que novos números mostrem continuidade na melhora nos segmentos de
alimentação e industriais, podemos ver algum alívio no Focus nos próximos meses, caso
vejamos também uma desaceleração nos preços de serviços”, diz.

O economista alerta, porém, que a potencial discussão sobre as metas de inflação


também atua nas expectativas de médio prazo. “Claramente houve um contágio.
Conforme haja uma decisão até junho sobre a meta, isso certamente terá impacto nas
expectativas”, diz.

Alguns “poréns” têm se acumulado recentemente no debate sobre as metas de inflação,


até mesmo em relação à possível reação das expectativas dos economistas para a
inflação futura. É o que leva o economista-chefe da JGP, Fernando Rocha, a apontar
que, talvez, o episódio em torno de uma mudança no nível da meta pode não fazer muita
diferença em relação à percepção do mercado sobre quando se dará o início dos cortes
na taxa básica de juros.

“Se a meta ficar em 3% e as expectativas caírem, por exemplo, para 3,5%, embora elas
permaneçam um pouco distantes do alvo central, elas terão tirado um risco de
desancoragem e de mudança institucional”, diz Rocha. Ele aponta que algumas
pesquisas têm indicado que, no geral, o mercado acredita que o Copom pode começar a
reduzir a Selic mais cedo se a meta for mantida em 3% e se mais tarde houver um
aumento para 4%.

“Se eu tivesse que optar, não mudaria a meta. Deixaria como está, até porque isso
geraria menos ruído, mas a minha sensação é de que não seria o fim do mundo se
tivesse uma alteração agora. A minha percepção é de que esse assunto já está
parcialmente incorporado.”

A hipótese do Barclays, de início dos cortes de juros em setembro, assume que a


distância entre as expectativas e a meta irá se reduzir. No caso de manutenção da meta
em 3% “e, dependendo da velocidade e da magnitude da melhora, isso poderia abrir a
porta para um corte em agosto”. De forma contrária, Secemski alerta que, no caso de
aumento da meta, o BC pode precisar de mais tempo para observar como esse cenário
irá reverberar nas expectativas, já que pode haver uma desancoragem ainda maior, que
poderia atrasar o início do ciclo.

Com safra recorde e exportação em alta, renda agropecuária será de R$ 1 trilhão em


2023 / Com bom desempenho, setor vai garantir crescimento forte da economia no
primeiro trimestre – Valor 8/5

Por Sergio Lamucci — De São Paulo

Com a safra recorde de grãos esperada para este ano e exportações em alta, a renda
agropecuária no Brasil deve atingir R$ 1 trilhão em 2023. O destaque fica com os R$
647 bilhões do setor agrícola. Já a renda do segmento pecuário tende a ficar um pouco
acima de R$ 350 bilhões. As estimativas, da MB Agro, reiteram a importância do
agronegócio para a economia brasileira, com impacto positivo sobre a indústria e os
serviços.

Os produtos agrícolas e pecuários ainda vão garantir mais um saldo comercial


expressivo. De janeiro a abril, a agropecuária respondeu por um quarto das exportações
totais, fatia recorde para o período, alcançando US$ 25,8 bilhões. Para a MB Agro, as
vendas para o exterior do agronegócio, que incluem bens com transformação industrial,
vão render US$ 172,5 bilhões em 2023, 8% a mais que em 2022.

O total da renda agropecuária neste ano ficará muito próximo ao de 2022 - um pouco de
1% menor que o R$ 1,010 trilhão do ano passado, em valores atualizados a preços de
2023. Enquanto a renda agrícola deve crescer 1,6%, a da pecuária vai recuar 5%, nas
estimativas da MB Agro. Em 2019, a renda somada dos dois setores ficou em R$ 698
bilhões. Desde então, o indicador, calculado levando em conta os preços e as
quantidades produzidas pela agropecuária, saltou mais de 40%.

O economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, diz que a alta dos últimos anos se
deu por causa do forte choque de preços e do câmbio. “Neste ano não temos esse efeito,
mas temos uma safra muito boa, que ajudará a manter a renda elevada”, diz Vale,
ressaltando a da soja e a do milho. No caso da pecuária, ele atribui a queda da renda a
preços mais moderados num ano de evolução normal da produção.

A agropecuária também vai ser responsável por crescimento expressivo do PIB no


primeiro trimestre. O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, estima
expansão de 1,3% da economia de janeiro a março em relação ao trimestre anterior, com
o PIB agropecuário contribuindo com quase 1 ponto percentual.

ESTADÃO: INADIMPLÊNCIA BATE RECORDE, CHEGA A 43% DO PAÍS E TRAVA


CRESCIMENTO – 8/5

Nunca houve tantos brasileiros adultos inadimplentes, especialmente aqueles que vivem
em centros urbanos ligados à indústria e à prestação de serviços, que ainda sentem o
baque da pandemia. Em março, na média do País, 43,4% da população com mais de 18
anos de idade tinha deixado de pagar dívidas. É uma marca recorde da série iniciada em
novembro de 2016 pela Serasa, empresa especializada em informações financeiras.

O calote elevado emperra o crescimento da economia - tanto que o tema foi alvo de
várias promessas de campanha dos candidatos à Presidência da República na última
eleição. O lançamento do Desenrola, programa do governo federal de renegociação de
dívidas das pessoas físicas, está atrasado, à espera de soluções para questões técnicas.

Enquanto isso, a inadimplência avança, ainda em ritmo mais lento em relação ao


passado recente, mas o suficiente para se manter em níveis recordes. Em março, 70,71
milhões de inadimplentes deviam, em média, R$ 4.731,62. As pendências com bancos,
cartões de crédito, lojas e contas de água, luz e serviços de comunicação somavam R$
334,5 bilhões.

Inflação e desemprego em desaceleração, mas ainda em níveis elevados, e a fraqueza da


atividade econômica são o pano de fundo do mapa do calote que ganha contornos
específicos em cada Estado. Isto é, depende da combinação entre o ritmo da atividade
predominante na região, do desemprego, da renda e do volume de auxílios recebidos do
governo pela população.

De acordo com o levantamento da Serasa, em cinco unidades da Federação mais da


metade da população adulta estava negativada em março. Antes da pandemia, em março
de 2020, só um Estado ultrapassava a marca de 50%: o Amazonas, com 55,2%.

Quem liderou o ranking dos Estados mais inadimplentes foi o Rio de Janeiro, com
52,6% da população adulta no vermelho, seguido por Amapá (52,4%), Amazonas
(52,3%), Distrito Federal (51,1%) e Mato Grosso (50,2%). O Ceará, apesar do índice
menor (45%), foi o Estado que mais avançou entre março de 2020 e março de 2023 no
calote: mais de oito pontos porcentuais.

“Estados mais ligados ao setor de serviços, à indústria ou grandes centros urbanos estão
em situação pior”, diz o economista Luiz Rabi, da Serasa. Em março de 2020, o Rio de
Janeiro ocupava a sexta posição no ranking dos mais inadimplentes e hoje está na
liderança.

Além da falta de dinamismo da economia do Rio, sem um setor rural forte ou cadeia
exportadora - exceto o petróleo em alguns municípios -, o Estado depende dos serviços,
especialmente do turismo, que parou na pandemia, diz Rabi. (Márcia de Chiara)

ESTADÃO: RENDA CORROÍDA PELA INFLAÇÃO ELEVA NÚMERO DE 'NEGATIVADOS' –


8/5

A renda é a principal variável que afeta a inadimplência, de acordo com o economista


Luiz Rabi, da Serasa. Foi exatamente a corrosão da renda pelo aumento da inflação,
sobretudo dos preços de produtos e serviços ligados ao carro, que fez Renan Laurentino,
de 35 anos, morador no Rio de Janeiro, ficar inadimplente.

Ele trabalhava como motorista de aplicativo e viu suas despesas com combustíveis e
manutenção do veículo crescerem e as receitas das corridas irem diminuindo. “Comecei
acumular despesas no cartão de crédito, peguei empréstimo no banco para quitar e aí
começou a bola de neve”, conta.

A dívida com o banco, que chegou a R$ 15 mil, Laurentino conseguiu quitar na semana
passada porque voltou a trabalhar com carteira assinada em uma empresa de alarmes.
Estudante de Fisioterapia, agora a sua pendência é com a faculdade, onde acumula
dívida de R$ 8 mil. “Ainda não sentei para conversar com eles, mas pretendo voltar a
estudar em agosto e preciso estar com isso regularizado até lá.”

Michael Burt, economista da LCA Consultores, lembra que desde o início da pandemia
a inadimplência caiu para a mínima histórica porque houve uma grande renegociação de
dívidas e a taxa básica de juros, a Selic, recuou para 2% ao ano. “Houve um
alongamento da curva de dívida das famílias”, afirma.

Mas o calote começou a subir a partir do final de 2021 em razão da disparada da


inflação. A alta de preços prejudicou principalmente as camadas de menor renda, como
uma enfermeira cearense que conversou com a reportagem sob a condição de
anonimato.

Ela, que tem 28 anos e vive em Tauá, a 330 km de Fortaleza, está sem pagar
financiamento estudantil desde novembro. Empregada e com renda de R$ 2,5 mil, ela
deve cerca de R$ 6,5 mil e nunca tinha ido parar na lista do calote.

“O que me levou à inadimplência foi a carestia”, diz a enfermeira. A saída para


conseguir cobrir as despesas básicas, como a do supermercado, onde antes ela gastava
R$ 400 por mês e hoje não sai por menos de R$ 700, foi deixar de pagar o
financiamento estudantil. Por enquanto, ela não vê chance de quitá-lo. “Estou no
limite.”

POLO OPOSTO. Enquanto o Rio está no topo da lista do calote, três Estados estão no
polo oposto. Piauí com 36,7% da população adulta inadimplente, é o último do ranking,
superando Santa Catarina (36,7%) e Maranhão (38,4%).

Rabi aponta que os benefícios sociais, tanto do governo federal como programas
específicos dos Estados, como fator de peso para o bom desempenho da inadimplência.
“Até o ano passado, Piauí e Maranhão eram Estados que porcentualmente mais
recebiam benefícios do Bolsa Família.”

Segundo levantamento da LCA Consultores, a partir de dados do Ministério do


Desenvolvimento Social, em fevereiro deste ano, o Piauí foi a unidade da federação que
mais recebeu Bolsa Família, com uma parcela de 19,4% da população. Maranhão
também figura entre os mais beneficiados, com 17,5%.

Burt, da LCA, acredita que o melhor desempenho da inadimplência do Piauí e do


Maranhão também esteja ligado às maiores facilidades na renegociação de dívidas.
Embora não tenha feito estudo a respeito, ele concorda com Rabi e acredita que o
benefício social deve ter tido impacto na renda da população.

Já os motivos que levaram Santa Catarina a estar bem na foto da inadimplência são a
combinação da forte cadeia exportadora ligada ao agronegócio de carnes e aves, com
renda média alta e uma taxa de desemprego que chega a ser a metade da média
nacional. (Márcia de Chiara)
PetroRio negocia compra de participação em petroleira - Por Lauro Jardim- O Globo
7/5

A PetroRio está negociando a compra da participação do Bradesco e do Santander,


cerca de 28% no total, na petroleira Enauta.

Cade questiona Compass e Mitsui sobre venda de distribuidoras da Gaspetro /


Superintendência Geral do órgão abriu processo para acompanhar o caso.
Informação foi obtida com exclusividade pelo Valor – Valor 7/5

Por Stella Fontes, Valor — São Paulo

O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) está questionando as sócias


Compass e Mitsui Gás e Energia sobre a venda de distribuidoras de gás canalizado do
Nordeste que pertenciam à antiga Gaspetro, hoje Commit Gás. Na semana passada, a
Superintendência Geral do órgão abriu um processo para acompanhar o caso. A
informação foi obtida com exclusividade pelo Valor.

O compromisso de desinvestimento foi proposto pela Compass, empresa do grupo


Cosan, quando da compra da fatia de 51% da Petrobras na Gaspetro, e acabou
garantindo o aval do órgão antitruste ao negócio de R$ 2,1 bilhões, em junho do ano
passado.

Pela proposta, 12 das 18 concessionárias de gás em que a holding tinha participação


devem ser vendidas. Um representante da Compass disse, em apresentação em Sergipe,
que o prazo seria de três anos, mas outra fonte próxima ao processo adianta que não há
informação oficial sobre esse prazo. Num primeiro momento, foram vendidas as
distribuidoras não operacionais e alguns Estados exerceram o direito de preferência
sobre a fatia que era da Gaspetro. Já a venda de outras operações de gás no Nordeste
não avançou, mesmo havendo potenciais compradores.

O questionamento da Superintendência Geral do órgão foi suscitado por uma


manifestação da Infra Gás e Energia, que negocia a compra das distribuidoras de gás em
Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte. Em seu site, a Commit,
joint venture em que a Compass tem 51% de participação e a Mitsui tem 49%, indica
que Cegás (CE), Potigás (RN), Copergás (PE), Algás (AL) e Sergás (SE) seguem em
seu portfólio.

Em sua petição, a Infra destaca que o “desinvestimento tido como premissa para a
aprovação não se concretizou” até o momento e pede que a Compass se manifeste
acerca desse compromisso. No mercado, circulam informações de que Compass e
Mitsui estariam divergindo sobre a cisão dos ativos na região — além da participação
via Commit, a companhia japonesa detém participação direta de 41,5% nas
concessionárias de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Ceará.

Há ainda o receio de que, com a troca de governo e a decisão de excluir estatais do


processo de privatização, negócios envolvendo a antiga Gaspetro possam ser revistos. O
novo presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já sinalizou que compromissos
assumidos pela estatal com o Cade serão questionados.

Nos questionários encaminhados às empresas na semana passada, o Cade solicita


posicionamentos sobre o processo de venda e sobre a manifestação da Infra. Procuradas,
Infra e Compass não comentaram o assunto. A Mitsui Gás e Energia não respondeu ao
pedido de entrevista.

A Mitsui já era acionista da Gaspetro e se tornou sócia da Compass na holding a partir


da compra da fatia da Petrobras pela subsidiária da Cosan. A operação enfrentou a
oposição de diferentes setores, representados pela Associação Brasileira de Grandes
Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Associação das Empresas de Transporte
de Gás Natural por Gasoduto (ATGás) e da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural
e Biocombustíveis (ANP), entre outras, mas acabou aprovada sem restrições pelo Cade.

Além das participações em concessionárias do Nordeste, a Commit é dona de 49% da


MSGás (MS), 24,5% da Compagás (PR), 41% da SCGás (SC), 49% da Sulgás (RS),
100% da Gás Brasiliano (SP) e 37,4% da CEG-Rio (RJ).

Planalto resiste em mudar articulação política mesmo com derrota e pressão do


Congresso / Lula deverá fazer rodada de conversas com bancadas e ministros para
aproximar parlamentares do Executivo – Folha SP 8/5

Victoria Azevedo / Ranier Bragon

O Palácio do Planalto dá sinais de que manterá sua forma de articulação política com o
Congresso Nacional mesmo após a primeira derrota expressiva do governo Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) na Câmara dos Deputados e diante da crescente pressão por
celeridade na liberação de emendas e nomeações de indicações políticas em cargos do
Executivo.

As emendas parlamentares são recursos para deputados e senadores enviarem para obras
e projetos em suas bases, com ganho de capital político eleitoral —e, por isso, são
usadas como moeda de troca nas negociações.

Sob Lula, o Planalto concentrou em suas mãos a liberação desses recursos,


diferentemente do que ocorreu no governo Jair Bolsonaro (PL), quando a gerência ficou
a cargo da cúpula do Congresso e dos líderes das bancadas partidárias.

O próprio presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), além de líderes de partidos que
compõem a base do petista, defendem que o modelo seja mais descentralizado,
permitindo a participação do Legislativo, o que fortalece os líderes e os presidentes da
Câmara e do Senado.

Lula foi eleito presidente contando com uma pequena base de parlamentares de
esquerda no Congresso, cerca de um quarto das cadeiras. Com isso, tem buscado
aproximação e alianças com partidos de centro e de direita, mas há ainda muita
insatisfação e ameaças de rebelião.
Parlamentares criticam, principalmente, a atuação dos ministros Alexandre Padilha
(Secretaria de Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil) na articulação política.

Auxiliares de Lula, no entanto, afirmam que uma reforma ministerial está descartada
neste momento.

O próprio presidente da República sinalizou que não fará mudanças em seu time.
Apesar de ter cobrado Padilha publicamente na quinta (4) durante reunião do
Conselhão, Lula disse neste sábado (6) que "em hipótese alguma" cogita mexer na
equipe.

"O Padilha é o que o país tem de melhor na articulação política", afirmou o presidente
em Londres, onde acompanhou a festa para a coroação de Charles 3º.

"Se tiver desavença em política, tudo se acerta. O mais difícil é ir sempre acertando. São
513 deputados e um só coordenador político. Às vezes pode acontecer um certo
desacordo que vamos acertar. Na política tudo tem jeito. A única coisa impossível é
Deus pecar. O resto, tudo é possível", disse o presidente.

Aliados de Lula afirmam, nos bastidores, que cabe ao Executivo, não aos líderes no
Congresso, a tarefa de formar a sua base política.

Além disso, acrescentam, o petista foi eleito com discurso de dar mais transparência à
negociação envolvendo emendas e cargos, desde sempre o principal procedimento de
negociação entre Executivo e Legislativo.

Um auxiliar do presidente diz que o governo busca um ponto de equilíbrio com


parlamentares, de forma a dar mais agilidade e eficiência à execução orçamentária, mas
sem deixar de haver um acompanhamento criterioso do governo sobre o destino desses
recursos.

Aliados do petista também reforçam que isso se dará por meio de diálogo com os
parlamentares. A partir desta semana, serão realizados encontros com as bancadas
partidárias e os respectivos ministros de cada legenda com o presidente.

Segundo auxiliares de Lula, essas reuniões já estavam previstas e deverão ser realizadas
com frequência numa tentativa de aproximar os parlamentares do Executivo. Nelas, de
acordo com relatos, o presidente irá ouvir as demandas e entender como o governo
poderá dar celeridade a elas, além de reforçar os compromissos que já foram firmados,
mas sem que isso ocorra em tom de cobrança.

Dentro do PT, no entanto, há lideranças que defendem um tom mais incisivo do


presidente para cobrar fidelidade. Segundo eles, partidos com representação na
Esplanada dos Ministérios têm responsabilidade com o governo.

A derrubada de trechos de decretos que alteram o Marco do Saneamento, a primeira


derrota do governo em votação no plenário, se deu por 295 votos a 136, e teve apoio
quase total de partidos como MDB, União Brasil e PSD, com políticos que indicaram
representantes de nove ministérios da Esplanada.
Membros do partido também direcionam críticas ao PSB, legenda do vice-presidente
Geraldo Alckmin, que teve três parlamentares que votaram contra o governo na matéria,
inclusive o seu líder, deputado federal Felipe Carreras (PE).

Nas palavras de um auxiliar de Lula, não se trata de cobrar fidelidade dos partidos, mas
que eles entendam que fazem parte de um projeto de governo e que tem compromisso
com ele.

Ele ressalta ainda que a liberação de emendas está prevista no "cronograma normal",
que já começaram a ser liberadas emendas de exercícios anteriores (inscritas nos
chamados restos a pagar) e que os compromissos assumidos pelo governo ainda na
aprovação da PEC da Transição, em dezembro, serão honrados.

Também está prevista para ocorrer na quarta-feira (10) uma reunião do fórum de
partidos que se definem como progressistas, que reúne presidentes do PT, PV, PC do B,
Rede, PSOL, PDT e PSB, na qual, além de outros temas, serão discutidos a articulação
política e o apoio ao governo.

Como a Folha mostrou, a derrota na última quarta-feira evidenciou, por parte dos
parlamentares, a necessidade de mudança na articulação política no Congresso.

Segundo eles, há uma fila de derrotas a ser aplicada ao Planalto num momento em que
projetos prioritários para o Executivo estão prestes a ser votados, caso das primeiras
MPs (medidas provisórias) do governo e do novo arcabouço fiscal.

Após derrota na Câmara, Lula deixa 'isolamento' e busca diálogo com lideranças
políticas / Até então, o terceiro mandato do presidente estava marcado por uma
rotina de menos encontros, em comparação com seus dois governos anteriores – O
Globo 8/5

Por Sérgio Roxo

Descrito há anos por apoiadores e adversários como “um animal político”, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva tem deixado em segundo plano conversas com lideranças
partidárias e personagens do mundo empresarial, setores com os quais mantinha
contatos permanentes durante seus outros dois mandatos. Para antigos aliados, na
prática, o petista está mais distante da política, e isso se reflete nas dificuldades que o
governo está encontrando para arregimentar uma base sólida no Congresso Nacional.

Em um comportamento já visto durante a campanha eleitoral do ano passado, Lula, de


acordo com auxiliares, tem escutado menos e adotado uma postura de maior isolamento,
na comparação com suas outras passagens pelo Palácio do Planalto. No núcleo duro do
governo, hoje, não há ministros ou auxiliares com liberdade para criticar o presidente,
papel que nos primeiros mandatos era exercido por figuras como os ex-ministros José
Dirceu, Antonio Palocci, Luiz Gushiken e Luiz Dulci e pelo ex-chefe de gabinete
Gilberto Carvalho — contemporâneos do petista e cujas trajetórias se confundem com a
de Lula.

Nas palavras de um parlamentar que tem relações com o atual presidente há mais de
duas décadas, o “Lula 1 e 2, da conversa, simpático, que abraçava, desapareceu”. Antes,
mesmo fora do Planalto, o petista nunca deixou a articulação política de lado. Ele foi a
campo, por exemplo, para tentar evitar o impeachment da então presidente Dilma
Rousseff, em 2016.

Mudança de hábitos

Em sua nova passagem pelo governo, o petista mudou hábitos. Hoje, evita jantares que
avançam até a madrugada. Nos dois governos anteriores, ele ainda tinha uma rotina de
almoços com líderes partidários, momentos em que, em meio a conversas informais,
exercia o poder de persuasão. Para um auxiliar, diferentemente do passado, Lula até
agora optou por exercer a Presidência no campo da institucionalidade.

O mundo empresarial também tem ficado distante do Planalto. Entre 2003 e 2010, o
presidente costumava receber com frequência representantes dos setores financeiro,
como Luiz Trabuco (Bradesco) e Emílio Botín (presidente mundial do Santander);
industrial, caso de Jorge Gerdau; e do varejo, a exemplo de Abílio Diniz e Carlos
Jeireissati; além de executivos de empresas instaladas no Brasil e do setor da construção
civil.

Desses, apenas Abílio teve uma agenda com Lula, em fevereiro, no Planalto. Nem o ex-
ministro Walfrido dos Mares Guia, que nunca se afastou do petista, mesmo durante a
sua prisão, tem vivido uma rotina de conversas com o presidente. Ele diz que passou os
três primeiros meses do ano fora do país. Desde o começo do mandato, encontrou-se
com Lula apenas na reunião do Conselho Econômico e Social (Conselhão) realizada na
quinta-feira, em Brasília.

— Não tive a oportunidade de solicitar nenhum contato devido ao exíguo tempo em que
estou aqui e ao meu trabalho em São Paulo e em Belo Horizonte. Mas fiquei com a
melhor impressão ao encontrá-lo. Achei que ele está muito bem e superenergizado —
afirmou o ex-ministro.

Hoje, Lula almoça praticamente todos os dias apenas com a primeira-dama, Rosângela
da Silva, a Janja, no Planalto. Na ausência de ministros com liberdade para contestar as
decisões, a grande influência sobre o presidente é, na avaliação de integrantes do
governo, exercida por ela. Pessoas próximas a Janja, porém, relativizam o grau de
ingerência e lembram que até agora a primeira-dama não conseguiu nem montar uma
estrutura formal para a sua atuação no governo. Ela gostaria de comandar o Gabinete de
Ações Estratégicas em Políticas Públicas, vinculado à Presidência. Janja não seria
remunerada pela função.

De acordo com um integrante da equipe de articulação política, Lula não tem feito
reuniões diretas com parlamentares porque hoje, aos 77 anos, não pode seguir uma
rotina de trabalho tão intensa como a de 20 anos atrás. Ressalta ainda que a interação
com o mundo político se dá com convites para que deputados e senadores o
acompanhem nessas viagens, como aconteceu na visita à China.

Rotina no exterior

Depois de o governo ser derrotado na Câmara na votação que derrubou pontos de um


decreto sobre o marco do saneamento, o que evidenciou a necessidade de apaziguar as
relações com o Congresso, Lula decidiu passar a fazer reuniões com presidentes e
lideranças de partidos da base, como MDB, PSD, União Brasil e PSB. Até então, as
conversas com nomes fora do PT vinham se dando quase exclusivamente com os
presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-
MG).

Auxiliares alegam também que o presidente optou neste início de mandato por priorizar
viagens ao exterior para tentar reconstruir a imagem do país e teve uma dedicação
grande à reorganização de governo por causa da situação deixada por Jair Bolsonaro.
Um outro argumento no entorno de Lula é que não se pode comparar a rotina do
presidente no período de oito anos com a verificada agora em apenas quatro meses.

Alas do governo divergem sobre renegociação do acordo entre União Europeia e


Mercosul / Trecho sobre compras governamentais é alvo de contestação de
ministérios – Folha SP 8/5

Nathalia Garcia /Danielle Brant

O avanço do acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul esbarra tanto
em novas condicionantes pedidas pelos europeus como em divergências internas do
governo Lula sobre a necessidade de renegociar pontos específicos do tratado.

Os entraves colocam em risco a promessa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
de dar um desfecho para as negociações ainda neste ano —desfecho que, na prática, não
depende só de Lula, mas, sim, da aprovação de 31 países membros dos dois blocos.

O próprio chefe do Executivo critica os termos pactuados em 2019 pelo então governo
Jair Bolsonaro (PL). Em janeiro, durante visita do primeiro-ministro da Alemanha, Olaf
Scholz, Lula disse que o texto precisa passar por mudanças. Ele citou as compras
governamentais como ponto central de preocupação, argumentando que elas "fazem
crescer pequenas e médias indústrias brasileiras".

O acordo prevê que, ao assumir compromissos em relação aos mercados de compras


públicas, União Europeia e Mercosul garantam maior concorrência e acesso nas
licitações domésticas. Também estabelece que os fornecedores de bens e serviços de
cada lado serão tratados como se fossem domésticos nas licitações realizadas pela
contraparte.

Esse é um tema visto como crucial para o Brasil por corresponder a uma parcela
significativa do PIB (Produto Interno Bruto) do país e por ser o mecanismo pelo qual o
governo pode exercer suas políticas públicas para cumprir objetivos de
desenvolvimento e redução de desigualdades.

Está em debate por exemplo a dificuldade nos chamados off-services, quando se


colocam especificidades em uma licitação pública, como aquelas que envolvem
transferência de tecnologia.

Segundo interlocutores que acompanham as conversas, o ponto é alvo de contestação do


Ministério da Gestão e da Inovação. Há temor de que as condições acordadas no texto
original engessem as compras públicas e dificultem uma reação rápida do governo em
casos excepcionais, como em uma pandemia.

Procurada, a pasta disse que, no momento, "realiza uma revisão sobre o acordo que
havia sido iniciado na administração passada".

O argumento encontra eco em outras alas políticas do governo Lula, como o grupo
ligado ao ex-chanceler Celso Amorim –hoje chefe da Assessoria Especial do
presidente– e a Casa Civil. O atual teor do acordo nesse dispositivo afetaria áreas como
Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia, que são mais dependentes de políticas
públicas.

Na gestão petista, há o entendimento de que o acordo negociado contém um


"desequilíbrio muito grande" e é desfavorável para o bloco sul-americano –formado por
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Na visão de autoridades brasileiras, a assinatura
do tratado comercial só faz sentido se caminhar na linha de desenvolvimento social e
reindustrialização.

Nesse contexto, o fato de Mercosul e UE estarem negociando atualmente um termo


adicional sobre compromissos ambientais serve de argumento para os que defendem a
renegociação de outras partes do acordo. Na avaliação de um membro do governo
ouvido pela Folha, a inclusão de exigências adicionais que não estavam na proposta
original já configura, na prática, uma reabertura do tratado –ainda que não de maneira
formal.

É o entendimento, por exemplo, da Casa Civil. Procurada, a pasta indicou que a


apresentação do instrumento complementar –chamado de side letter– abre
"necessariamente" uma rodada de estudos, discussões e debates para que se possa firmar
uma posição do Brasil e do Mercosul.

"Adicionalmente, a apresentação de novos termos do acordo no formato da side letter


europeia também enseja, de forma análoga, a elaboração de uma contraproposta", diz,
em nota.

Os negociadores brasileiros, em conjunto com os pares sul-americanos, planejam


espelhar a estratégia europeia e acomodar as preocupações do Mercosul, além de
reforçar alguns pontos de interesse, por meio de um documento adicional que ainda está
sendo trabalhado.

A articulação para aprofundar as negociações em determinados quesitos, contudo,


esbarra no interesse de ministérios ligados à área econômica, como Fazenda;
Planejamento e Orçamento; e Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, além
do Itamaraty –mais inclinados a fechar de vez o acordo de livre comércio.

As alas mais pragmáticas consideram que o tratado, ainda que insatisfatório e aquém do
esperado pelo governo brasileiro mesmo após ter sido negociado nas duas últimas
décadas, traria benefícios para o país, como uma maior diversificação das exportações.
Também acreditam que uma eventual reabertura do acordo poderia implicar um
prolongamento indefinido das discussões.
Na interpretação de interlocutores do governo, há também maneiras de se chegar a
termos mais favoráveis ao Mercosul usando brechas do próprio texto original. No
quesito das compras governamentais, por exemplo, há um artigo que trata
especificamente de modificações e retificações de cobertura, o que viabilizaria uma
revisão de questões mais incômodas.

Nos bastidores, alguns envolvidos têm a percepção de que a deliberação ganhou


contornos mais políticos do que técnicos. Isso seria simbolizado, por exemplo, pela
decisão de realizar reuniões na Casa Civil, em vez de discutir o tema em outros órgãos
do governo.

A Casa Civil, por sua vez, afirma que, "como órgão responsável pela coordenação de
governo, precisa ouvir as observações e análises em construção pelos diversos órgãos
que estão trabalhando no material do acordo, seus termos, anexos, referências e, agora, a
side letter."

De modo geral, os participantes das conversas veem correntes distintas no país atuando
para influenciar o desfecho do acordo. Uma ala avalia que os termos atuais são
incompatíveis com a agenda do governo Lula. Outra vê espaço para negociar as
condições de forma que se alinhem aos interesses da administração petista, enquanto
alguns atores individuais desejam fechar o tratado de qualquer jeito.

Nos dois últimos grupos, a percepção é de que a não conclusão do acordo é


problemática e não convém ao Brasil. Segundo pessoas a par das discussões, outros
sócios do Mercosul —principalmente Uruguai e Paraguai— também estão firmes na
defesa da posição de não reabertura do tratado.

Para a Casa Civil, possíveis divergências entre os ministérios são "naturais e saudáveis".

Na diplomacia brasileira, mais do que um acordo de livre comércio, o acerto com a


União Europeia é visto como um elemento importante de inserção do país na
geopolítica internacional e evidencia a credibilidade negociadora do Mercosul.

O ponto final nas negociações, por outro lado, também passa pela reação dos europeus à
contraproposta do Mercosul. Há ceticismo quanto à ratificação da proposta no
Parlamento europeu em meio à resistência de países como França, Áustria e Irlanda.
Um encontro entre as partes está previsto para o fim de maio, em Buenos Aires.

O governo brasileiro vê uma janela de oportunidade para a conclusão do acordo no


segundo semestre, quando o Brasil assumirá a Presidência rotativa do bloco sul-
americano e a Espanha, que também tem interesse no acerto, presidirá o Conselho da
União Europeia.

No discurso de encerramento do Fórum Empresarial Brasil-Espanha, em Madri em 25


de abril, Lula chamou o contexto de "feliz coincidência" e falou em engajamento no
diálogo com os europeus para que se tenha "boas notícias" ainda neste ano.

Teixeira diz que Lula anunciará R$ 500 milhões para programa de reforma agrária –
Valor 7/5
Por João Valadares e Rafael Walendorff, Valor — Brasília

Às vésperas da instalação da CPI das invasões de terras rurais dominada pela oposição
na Câmara, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que o
governo irá fazer um programa de reforma agrária “dentro da Constituição” e que
respeite o direito de propriedade privada. Segundo ele, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vai anunciar esse programa em maio, com orçamento de R$ 500 milhões, fruto de
remanejamentos de outros ministérios, já que o caixa para a reforma agrária estava
esvaziado. “Eu reitero aqui que o governo vai respeitar a Constituição e vai respeitar a
propriedade privada”, afirmou.

Em relação à CPI, Paulo Teixeira questiona qual seria o fato determinado para embasar
sua instalação. “O fato determinado para a CPI que foi pedida no mês de fevereiro são
irregularidades na relação do MST com o governo, mas nós estamos começando um
governo agora. Não temos nenhum convênio. Então, quais irregularidades que possam
existir nessa relação? Nenhuma.”

O MST retomou o processo de invasão de propriedades produtivas que despertou


grande reação no meio rural no passado. Em abril, foram invadidas fazendas da Suzano
Papel e Celulose e até uma área para experimentos da Embrapa, empresa do governo.

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