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A primeira importante vitória do governo Lula no Parlamento se deu antes mesmo de Lula
tomar posse, uma vez que Bolsonaro praticamente abandonou o exercício da Presidência da
República após a derrota eleitoral e deixou um cenário orçamentário de terra arrasada para o
futuro governo.
Naquele momento muitos jogos estavam sendo jogados nos bastidores da política, como a
composição do futuro governo e de sua base de sustentação parlamentar, mas também a
disputa pelo comando da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A decisão da Bancada
do PT na Câmara de apoiar a reeleição de Arthur Lira (PP-AL) para a presidência da Câmara, e
da Bancada do PT no Senado de apoiar a reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD/MG) para a
presidência do Senado, embora passíveis de críticas, tornaram o ambiente mais favorável à
aprovação da PEC da Transição.
Além de abrir espaço fiscal da ordem de R$ 145 bilhões para o exercício financeiro de 2023, a
PEC da Transição estabeleceu que o Presidente da República deveria encaminhar ao Congresso
Nacional, até 31 de agosto de 2023, projeto de lei complementar com o objetivo de instituir
regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade macroeconômica do País e criar as
condições adequadas ao crescimento socioeconômico, prevendo a automática revogação do
Teto de Gastos após a sanção da lei complementar.
Assim sendo, aprovado e sancionado o PLP 93/2023 (regime fiscal sustentável), encaminhado
pela equipe econômica do governo Lula ao Parlamento, restará revogado o Teto de Gastos
instituído no pós-golpe, uma vez que o próprio PLP 93/2023 estabelece um novo tipo de teto
para os gastos públicos, que permite o crescimento dos gastos em momentos de crescimento
da arrecadação e de cumprimento das metas de superávit primário, mas que estabelece uma
série de travas quando as metas não forem cumpridas, de modo que a capacidade do governo
de implementar medidas econômicas anticíclicas em momentos de estagnação econômica
será comprometida.
Outro jogo que estava sendo jogado com bastante vigor pela extrema-direita era a tentativa de
impedir a posse de Lula e desencadear um novo golpe militar no Brasil. Os acampamentos
montados em frente aos quarteis das Forças Armadas pelo Brasil afora, o quebra-quebra
promovido em Brasília quando da diplomação de Lula e a instalação de artefato explosivo em
um caminhão de combustível próximo ao Aeroporto Internacional de Brasília foram os
antecedentes do que viria a ocorrer no dia 08 de janeiro de 2023, com a complacência
criminosa das forças de segurança pública: a invasão e destruição das sedes do Três Poderes
da República. A ausência de reação popular organizada ao movimento golpista tornou a
democracia brasileira refém da institucionalidade.
A PEC da Transição foi aprovada, uma multidão acompanhou a posse de Lula, o movimento
golpista foi temporariamente debelado e o comando das duas casas do Congresso Nacional foi
definido: Arthur Lira e Rodrigo Pacheco foram reeleitos presidentes da Câmara dos Deputados
e do Senado Federal, respectivamente, com o apoio das bancadas do PT.
Em seu relatório, Cajado tornou o regime fiscal proposto pela equipe econômica do governo
Lula mais austero, incluindo a complementação da União ao Fundeb e os recursos destinados
ao pagamento do piso salarial da Enfermagem dentro do teto, a pressionar as despesas com
outras políticas públicas. Na proposição original do governo, a complementação da União ao
Fundeb e os recursos destinados ao pagamento do piso salarial da Enfermagem estavam foram
do teto. Mas de que teto estamos falando, se prometemos a revogação do Teto de Gastos na
campanha eleitoral? De um novo teto, que permite o crescimento das despesas em cenários
econômicos favoráveis, mas que limita essas despesas em caso de descumprimento das metas
fiscais.
A oposição ao governo, por sua vez, busca retirar o foco da agenda governamental através de
comissões parlamentares de inquérito, como a CPMI destinada a investigar os atos de ação e
omissão ocorridos em 8 de janeiro de 2023, quando da invasão e destruição das sedes dos Três
Poderes da República, em Brasília; a CPI do MST na Câmara; e a CPI das ONGs no Senado. O
funcionamento simultâneo de tantas CPIs pode prejudicar a agenda do governo no Parlamento
e revela a fragilidade da base de sustentação parlamentar do governo, embora sempre seja
possível fazer dos limões uma limonada.
O que fica evidente, no entanto, é a necessidade de equilibrar luta institucional e luta política
na sociedade. A depender única e exclusivamente da correlação de forças no Parlamento, a
balança tende a ser sempre desfavorável à classe trabalhadora. Cabe à classe trabalhadora,
através de suas organizações políticas, tentar participar da escrita da história com muita
mobilização e luta.